CORTI

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  • 1Jovens na alfabetizao:para alm das palavras,

    decifrar mundos

  • 2Ao Educativa

    RedaoAna Paula Corti

    Claudia Lemos Vvio

    CoordenaoAna Paula Corti

    ColaboradorasEliane Ribeiro Andrade

    Francisca Izabel PereiraMaciel

    Mrcia Regina de OliveiraAndrade

    Marinaide Lima de QueirozFreitas

    Tania Maria de Melo Moura

    Reviso de textoCarlos Eduardo Silveira Matos

    AgradecimentosFrancisco Lopes

    Maria Cirlene Pontes

    Maria Virgnia de Freitas

    Milena Carmo

    Observatrio Social

    Raquel Souza

    Roberto Giansanti

    Vera Masago Ribeiro

    Projeto grfico e diagramaoSM&A Design

    IlustraesVicente Mendona

    Catalogao - Brasil. Centro de Documentao e Informao de Ao Educativa

    Jovens na Alfabetizao: para alm das palavras, decifrar mundos [autores] Ana Paula Corti eClaudia Lemos Vvio. - Braslia: Ministrio da Educao / Ao Educativa, 2007.

    84p.

    ISBN

    1. Educao de jovens e adultos 2. Juventude 3. Formao de professores I. CORTI, AnaPaula. II. VVIO, Claudia Lemos. III. Ministrio da Educao. IV. Ao Educativa. V. Ttulo

    CDD 374

  • 3Sumrio

    05

    07

    09

    23

    39

    53

    69

    83

    Captulo1

    Captulo2

    Captulo3

    Captulo4

    Captulo5

    O desafio da alfabetizao

    Um olhar sobre os jovens

    Sempre tempo de aprender

    Alfabetizao de jovens:para alm das letras

    O ambiente educativo:sujeitos, tempos e espaos

    Para saber mais

    Apresentao

    Introduo

  • Ricardo HenriquesRicardo HenriquesRicardo HenriquesRicardo HenriquesRicardo HenriquesSecretrio de Educao Continuada, Alfabetizaoe Diversidadedo Ministrio da EducaoBeto CuryBeto CuryBeto CuryBeto CuryBeto CurySecretrio Nacional de Juventudeda Secretaria Geral da Presidncia da Repblica

    ApresentaoOMinistriodaEducao,pormeiodaSecretariadeEducaoContinuada,Alfabetizao

    eDiversidade(SECAD),eaSecretariaNacionaldeJuventude(SNJ)daSecretaria-GeraldaPresidnciadaRepblica,somaramesforosparaenfrentaraexclusodos sistemasdeeducaoquemarcaos jovensno-alfabetizadosemnossopas,criandoem2006oFocoJuventudenombitodoProgramaBrasilAlfabetizado.Busca-se,assim,atenuaradvidahistricadoBrasilparacomessaparcelada juventude, respondendoaumdosdesafiosdaPolticaNacionaldeJuventude.

    OProgramaBrasilAlfabetizadofoilanadopeloGovernoFederalem2003comoumadasestratgiasparaenfrentaradesigualdadeeaexclusoacumuladaspelopasaolongodesuahistria,equetemumadesuasexpressessociaisnoanalfabetismo.OProgramavisainclusoeducacionaleaofortalecimentodeumacidadaniaparticipativacomoalicercedeumademocraciaativaepopular.

    Nessaperspectiva,fundamentalqueosalfabetizadoresealfabetizadorasdoProgramaBrasilAlfabetizadoconheamasespecificidadesdasjuventudesnoBrasilesaibamtrabalharcomessepblico,utilizandometodologiaseprticaspedaggicascapazesderespeitarevalorizarsuassingularidadesenecessidadeseducativas.Entendemosqueumolharfocadonojovemcomosujeitodeseuprprioprocessoeducativo,equetrazparaasaladealfabetizaoumconhecimentoricoediferenciado,podecontribuirefetivamenteparasuapermanncianoprocessodealfabetizaoeoxitodesuaaprendizagem.

    Apesardeaalfabetizaodejovensserumaatividadecomcaractersticasprprias,sorarososcursosdeformaodealfabetizadoresealfabetizadoraserarasasuniversidadesque oferecem formao especfica aos que queiram trabalhar ou j trabalhamnarea.Esse vcuo na formao agravado pela falta de subsdios escritos que respondam snecessidadespedaggicasdosalfabetizadoresealfabetizadorasqueatuamnaalfabetizaodejovens.Paraapoiaresseseducadoreseeducadoras,aSECADeaSNJapresentamapublicaoJovensnaalfabetizao:paraalmdaspalavras,decifrarmundos.Estevolumetratadesituaesconcretas,familiaresaosalfabetizadoresealfabetizadoras,sugereatividadesquepermitiroaoalfabetizadorealfabetizadoraconhecerasespecificidadesdojovemnoprocessodealfabetizaoetornarassalasdeaulatambmumespaoparaajuventude.Essapublicaosesomaaoesforodemobilizaoparaaumentaronmerodejovensno-alfabetizadosnassalasdealfabetizao,emespecial,noProgramaBrasilAlfabetizado.

    AocolocaraalfabetizaodejovenscomoprioridadenaagendaeducacionaldoPas,oProgramaBrasilAlfabetizadorefleteumaconcepodepolticapblicaquereafirmaodeverdoEstadodegarantiraeducaoemtodososnveiscomodireitodetodos.RessaltaaindaaimportnciadesomaresforosdaUnio,Estados,Municpiosesociedadeorganizadanalutapelauniversalizaodaalfabetizao,queconsistenoprimeiropassoparaaconquistadaescolaridadebsica,direitodetodososbrasileiros.BoaLeitura!

  • EstelivrofoielaboradoemconvniocomoMinistriodaEducao,comoobjetivodesubsidiaros/as educadores/asdoProgramaBrasilAlfabetizado comuma reflexo acercados jovensqueestonas salasde aula.

    Diantedessa tarefa,nsnosdeparamoscomdoisdesafios.Oprimeiroqueoconhecimentoa respeito dos jovens na alfabetizao permanece escasso e se configura como um campo deestudosede intervenoaindapoucoexplorado.Osegundoest relacionadoaombitonacionaldomaterial. Sabemosdasnumerosasvariaes regionais edadiversidade cultural existentenopas,que,certamente,serefletemnaformadeconstituiodasvrias juventudesedesuasrelaescomaeducao.

    Diantedetaisdesafios,adotamoscomoestratgiaaorganizaodeumseminrio inicial, comespecialistasemjuventudeeemalfabetizao, representantesdoMECedaAoEducativa,paradiscutiroseixosquedeveriamnortearolivro.Posteriormente,quatrodaquelesespecialistasfizeramaleituracrticaeatentadecadaumdoscaptuloseajudaramaconsolidarsuaverso final.Foiumprocessodedilogobastante ricoe intensoat chegaraoresultadoaquiapresentado.

    O livroestdivididoemcincocaptulos: apresentaodaproblemticadoanalfabetismonoBrasil; discusso sobre os sujeitos jovens, seus perfis, caractersticas, experincias e demandaseducativas; anlise doprocessode aprendizado comoalgo contnuoque se estendepor toda avida; anlise doprocessode alfabetizaode jovens comoalgoquevai almdadecifraodasletrasedizrespeitoconquistadenovos lugaressociais;organizaodas turmasdealfabetizao:funcionamento, composioeatividades.

    H tambm,no final, o itemPara sabermais, emqueesto reunidas algumas indicaesbibliogrficas e de sites que abordam os assuntos analisados. O livro traz tambm dicas deatividades no itemMonamassa, como intuitode ajudar os/as educadores/as a concretizaralgumas aes depesquisa e levantamento quepossamaproxim-los/as da realidadede seuseducandosesubsidiaroseu trabalho.

    Ainclusoeducacionaldos jovensconstituiumenormedesafio,queenvolvediferentesgrausderesponsabilidade, investimentoseaes,quecertamentenoseesgotamneste livro.Comele,pretendemos contribuirparao reconhecimentodapresena juvenil nas salasdealfabetizaoeparaa construodeumtrabalho sintonizadocomsuasnecessidades educativas, oque implicanosperseguiroxitoemseuprocessodealfabetizao,mastambmpossibilitaracontinuidadedeseusestudoseagarantiade seusdireitos educacionais.

    Introduo

  • 8

  • 9O desafioda alfabetizao

    Captulo 1

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    este captulovamosnos aproximardarealidadedo analfabetismonoBrasil,verificando suas causas e seu perfil.

    Vamos tambm lanar um olhar especial situao dos jovens no-alfabetizados: quemso e onde esto; analisar a importncia dapalavraescritanumasociedade letradacomoanossae,porfim, falarumpoucodasituaodosjovensdentrodoProgramaBrasilAlfabetizado.

    AConstituio brasileira de 1988 declaraque a educao um direito de toda pessoa,qualquerquesejaogruposocialaquepertena,isto,semdistinodeidade,raa/etnia,religio,local de moradia ou situao econmica.Nesse sentido, oArtigo 208 determina:

    Mas, no Brasil, h uma enorme distnciaentre o que est previsto nas leis e a suaaplicaona realidade.Milhesdebrasileirosno tiveram oportunidades de estudar ouencontraram grandes dificuldades parapermanecer na escola durante a infncia e aadolescncia. Os motivos para isso so osmais variados.

    N

    Nossa histria

    Muitos foram os motivos que fizeram com que a gente no estudasse:-transferncia do pai de um lugar para o outro, estava sempre se mudando, em algunslugares no tinha escola, era interior;-ter que trabalhar com o pai na roa como peo;-problemade sadequenodeixava aprender, tive queme tratar.Meuspais adotivos noquiseramme botar na escola, eles eram muito ruins, desde pequena eles me colocaram no trabalho;-meus pais me registraram s com 12 anos, por isso entrei na escola com essa idade, damais tarde eu tive que estudar noite pra trabalhar;-meu pai me tirou do colgio quando era pequeno, porque dizia que eu era burro;-vim estudar noite porque eu tinha muita dificuldade de aprender e j tinha mais idade eno sabia ler, a os professores acharam melhor eu vir estudar noite.(Atividade coletiva realizada por estudantes da EJA, EMEFChicoMendes, Porto Alegre. Fonte: Palavra de Trabalhador, p. 59)

    Art. 208. O dever do Estado coma educao ser efetivado mediante agarantia de:I - ensino fundamental, obrigatrio egratuito, assegurada, inclusive, suaofertagratuita para todos os que a ele notiveram acesso na idade prpria;

    Necessidade de trabalhar para ajudar nasobrevivncia da famlia,mudanas do lugardeorigemoudemoradiaembuscademelhorescondies de vida e trabalho, problemas desade, faltadeescolas edeprofessoresno localdemoradiae faltadeapoio familiar: soalgunsdos motivos apontados por muitos jovens eadultosquenoseescolarizaram.

    Portrsdemotivosqueparecemindividuais,h na verdade inmeras barreiras de ordemsocial, econmica, poltica e educacional.Afinal, escolarizar-se no algo quedependasimplesmente de disposio individual, deum simples desejo oudo esforo de cada um.Trata-sedeumdireito constitucional quedeveser garantido pelo poder pblico, e que exigeuma rede de apoio social bastante ampla.

    Se essas pessoas e suas famlias tivessemcondiesdignasdevidaassistnciamdica,condies adequadas de trabalho emoradia,oferta de escolas no local onde residem ,certamente poderiam ter a oportunidade deestudar. Esses aspectos apontam para adimensosocialdoproblemadoanalfabetismo,e indicam uma relao direta entredesvantagens escolares e origemsocial.

    AConstituio brasileira garante o direitode retomar os estudos s pessoas que nopuderam estudar na idade consideradaapropriada.Noentanto,dadosde2000 mostramque, desse enormecontingente, apenas 1,24%daspessoascomatumanodeestudoestavammatriculadasemcursosdealfabetizao

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    Dentro do grupominoritrio que conseguechegar aosprogramasde alfabetizao,muitossaemsemaomenos ter consolidadooprocessoinicial da leitura e da escrita. Por isso, necessrio tambmolharde formaatentaparaaqualidade da alfabetizao que vem sendooferecida.

    Para enfrentar esse enorme desafio, fundamentalqueseconheaquemsoeondeestoos jovensno-alfabetizados.Tambmsedeve terplena conscincia da importncia da palavraescritanumasociedadeletradacomoanossa.

    Para cada 100 pessoas sem instruoou comapenasumanodeestudo, apenas1 freqenta programas de alfabetizaoFonte:CensoDemogrfico2000/IBGE,SinposeEstatstica2000/INEP

    Quantas so e quem so aspessoas no-alfabetizadas?

    OsdadosdoCenso2000mostramquehmaisde16milhesdepessoasemsituaodeanalfabetismo no Brasil. Com o total dessaspessoas poderamos lotar o estdio doMaracan,omaiordopas,por160 jogos.EssenmeroaindamaiordoquetodaapopulaodoChile,outropasdaAmricadoSul.

    A conclusodas quatro sries iniciais doensino fundamental (1 4 srie) umindicador importante de que as pessoaspossuem algum domnio da leitura e daescrita. No entanto, o Censo 2000 registraque 39 milhes de jovens e adultosbrasileiros no atingiram esse nvel deescolaridade.

    Censo = conjunto dos dadosestatsticos doshabitantes deumacidade, estado ou pas. No Brasilos Censos demogrficos trazemdados de toda a populaobrasileira e so realizados peloIBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatstica).

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    Somandoosno-alfabetizadoscomaquelesquenocompletaram4anosdeestudo, temos55 milhes de pessoas. Voc sabe o que issosignifica?Queumemcada trsbrasileirosnoalcanou as habilidades bsicas de leitura,escrita e clculo.

    Esse enorme contingente est emdesvantagemdiante daqueles que passarampelaescolaedominamaescrita.Emais, sofreoestigmaeopreconceitoatribudossocialmenteaosqueno sabem ler e escrever. Seus saberesnosoreconhecidos,porqueforamconstrudosde outrasmaneiras, diferente do que ocorreucomaspessoas escolarizadas.

    As pessoas no-alfabetizadas soreconhecidas como inferiores em relao aoutros brasileiros: so vistas a partir do quelhes falta, daquilo que no sabem.

    A viso profundamente preconceituosaconstruda em torno desses sujeitos ganhoudimenses tograndiosasemnossasociedade,que durante mais de um sculo eles foramconsiderados incapazespara exercer odireitodemocrticodovoto.

    A situao do analfabetismo est muitoassociadapobrezaesdesigualdadessociais.Boapartedaspessoasno-alfabetizadasmoranas regiesmaispobresdopas, nasperiferiasdoscentrosurbanos,emalgumaslocalidadesdocampoouemestados emunicpios combaixodesenvolvimentoeconmico.Pertencemagrupossociais excludos do acesso a outros direitossociaisbsicos,comosadeemoradia.

    importanteressaltarqueaspessoasnosopobresporque soanalfabetas, ouseja, noofatodenosaberlereescreverqueastornapobres.Aocontrrio, asituaodepobrezaque levaexcluso social e educacional.Naverdade, aspessoas soanalfabetasporquesopobres.

    Os jovens no-alfabetizados

    No Brasil, quando o assunto analfa-betismo,pensamos logonosadultos.Essa temsidouma tendncia histrica que permaneceforte no mbito da Educao de Jovens eAdultos (EJA). A partir de meados dos anos1980, a matrcula dos jovens ampliou-sesignificativamente, impulsionada no spelas excluses internas do ensino regular,mas tambm pelo processo migratrio epela insero, cada vezmais cedo, nomundodo trabalho. Mesmo assim, os jovenspermanecem meio invisveis dentro da EJAedosProgramasdeAlfabetizao.

    Mas no conjunto da populao no-

    Foto:Duducavalcanti

    Analfabetos no podiam votar

    Os analfabetos foram proibidos devotar pela Lei Saraiva de 1881. Esteimpedimento foimantidodurantequase100 anos, e somente naConstituio de1988 os analfabetos conquistaram odireito de votar, caso queiram.

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    alfabetizada os jovens aparecem como umsegmento especfico que chama a ateno.Estamosfalandodeumtotaldequase3milhesdepessoas entre 15 e 29 anosdistribudas portodoopas(IBGE,Censo2000).Issocorrespondea todaapopulaodoEstadodoAmazonas.

    Mais dametadedesses jovens encontra-senoNordeste.Decada100,63estonessaregio.Issomostraaexistnciadefortesdesigualdadesregionais na distribuio do analfabetismo,inclusive juvenil.

    Tambmhumagrandediferena entre onmero de jovens no-alfabetizados quevivem no campo e nas cidades. Vejamos:enquanto 16 em cada 100 jovens quemoramemreas rurais so analfabetos, isso acontececom 7 em cada 100 jovens residentes nascidades (IBGE,Censo 2000).

    Aschancesdeumjovemdacidadeteracessoalfabetizaosomuitomaioresdoqueasdeum jovemquemoranocampo. Issoporqueascondies da vida no contexto rural colocammuitosdesafiosparaos jovensseescolarizarem.Nemsemprehescolasprximasdamoradiaefaltatransporteparaconduzi-losaoslocaisondeexistemescolas.Algunslugaresnodispemdeenergiaeltrica.Aspolticaspblicassociaissoescassas ou inexistem. Alm disso, o ritmo doplantio eda colheitamuitas vezes exige que seconcentreotrabalhonumadeterminadapocadoano,easescolas,porsuavez,tmumcalendriorgido, que no atende s necessidades locais.Aliadoaosfatoresexternos,ograndeesforofsiconecessrioaotrabalhonocampotambmpodeserumobstculoparaos jovens enfrentaremasaladeaula,muitasvezesdissociadadointeressedo aluno-trabalhador. Tudo isso dificulta afreqncia escola e provoca a evaso e,

    conseqentemente, o fracasso escolar.

    Jovem = 15 a 29 anos

    a definio da Secretaria Nacionalde Juventude e do Programa BrasilAlfabetizado. Sempre que falarmos dosjovens daqui em diante, estaremos nosreferindo a essa faixa etria.

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    Masnopodemosesquecerqueas cidadestambmapresentamprofundasdesigualdadesdentro delas, e h muitos jovens no-alfabetizadosnoscontextosurbanos.Ascidadessoorganizadasde tal formaque concentramem algumas zonas ou nos bairros centrais ariqueza e a oferta de servios pblicos, eempurramapopulaomais pobrepara asreasmais afastadas, chamadasperiferias, emqueesses serviosgeralmentenochegam,ousoprecriose insuficientes.

    Na cidadede SoPaulo, consideradaumadasmais ricasdopas, hmais de 1milhode

    pessoas que residem em reas denominadasfavelas, o que representa 11% do total dosmoradores.Osdadosmostramoquanto estarna favela, imerso numa situao de pobreza,influenciaoacessoeducao: 15 emcada100pessoas que vivem em favelas no soalfabetizadas, enquanto esse nmero cai parasete em cada 100 pessoas, considerando oconjuntodosmoradoresdacapitalpaulista.

    Ou seja, as cidades, mesmo aquelasconsideradasmais ricas, soespaosmarcadospor fortes desigualdades sociais, pois soumretrato do modelo econmico excludente,predominantenopas.Essemodelotemimpactodiretonas condies educacionais, e os jovensno-alfabetizados esto concentradosexatamentenasregiesmaispobreseperifricas.

    As desigualdades educacionais tambmaparecememrelao ao sexo e aos diferentesgrupos tnicos/raciais.Aspessoasnegras e osrapazessomaiorianoconjuntode jovensno-alfabetizados.

    Trabalhodesdeos6anosajudandomeupaino roado. J entrei e sai da escola umas quatrovezes, comeo e no consigo progredir. Quandoacho que vou aprender, tenho que largar. Faltomuitoporcondiodotrabalho.VamosversenoBrasil Alfabetizado eu consigo acabar.( Jos Artrio, Alto Longa, Piau)Fonte: Relatrio de Avaliao Programa Brasil Alfabetizado.Rio de Janeiro, Unesco/MEC-SECAD, 2005.

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    Um homem na estrada

    Um homem na estrada recomea sua vida.Sua finalidade: a sua liberdade.Que foi perdida, subtrada; e quer provar a si mesmo que realmente mudou, que serecuperou e quer viver em paz, no olhar para trs, dizer ao crime: nunca mais!Pois sua infncia no foi um mar de rosas, no.Na Febem, lembranas dolorosas, ento.Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim.Muitos morreram sim, sonhando alto assim, me digam quem feliz, quem no sedesespera, vendo nascer seu filho no bero da misria.Um lugar onde s tinham como atrao, o bar, e o candombl pra se tomar a beno.Esse o palco da histria que por mim ser contada. ...um homem na estrada.Equilibrado num barranco um cmodo, mal acabado e sujo, porm, seu nico lar, seubem e seu refgio.Um cheiro horrvel de esgoto no quintal, por cima ou por baixo, se chover ser fatal.Um pedao do inferno, aqui onde eu estou.At o IBGE passou aqui e nunca mais voltou. Numerou os barracos, fez uma p deperguntas.Logo depois esqueceram, filhos da puta!Acharam uma mina morta e estuprada, deviam estar com muita raiva.Mano, quanta paulada!.Estava irreconhecvel, o rosto desfigurado.Deu meia noite e o corpo ainda estava l, coberto com lenol, ressecado pelo sol,jogado.O IML estava s dez horas atrasado.Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim, quero que meu filho nem se lembre daqui, tenhauma vida segura.No quero que ele cresa com um oito na cintura e uma PT na cabea.(Mano Brown Racionais MC)

    Muitos desses jovens esto privados deliberdade,encarceradosoucumprindomedidassocioeducativas.Nessegrupo,asdesigualdadessoaindamaisprofundas.

    A realidade das periferias urbanas e dos

    Existiam no Brasil 10 mil jovens em privaode liberdade, em 2001. Destes:90% eram do sexo masculino;76% estavam na faixa etria de 16 a 18 anos;60% eram da raa negra;51% no freqentavam a escola no momentoem que cometeram o ato infracional.Fonte: SILVA, Enid R. e GUERESI, Simone.Adolescentes em Conflito com a Lei:Situao do Atendimento Institucional no Brasil. IPEA, Texto para Discusso n.979, 2003.

    RAP=abreviatura do ingls Rhythm andPoetry, que significa ritmo e poesia. um tipo de msica que tem uma batidarpidae aceleradae a letra vememformadediscurso. Geralmente as letras falam dasdificuldades vividas pelos moradores dasperiferias das grandes cidades.

    jovensnegrosretratadapormuitosgruposderap que, em suas msicas, denunciam aviolncia,oracismoeafaltadecondiesdevidadignasdessapopulao.

    Ahistriadevidadosjovensno-alfabetizados,

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    Leila, 19 anos

    Minha professora, na primeira srie,que absurdo! Ela pegava um livro assim,muito grosso e batia com ele assim... p!Eu tava normal, n, minha idade eraaquela, eu tava certinha. Eu fiqueiapavorada, aquilo no era pramim,minhame no batia em mim. Eu nem falavaem aula. Nem ai eu falava. Eu falei praminhame que eu no queriamais ir paraa aula. E no fui mais para a aula.Fonte: BRUNEL, Carmen. Jovens cada vezmais jovens naeducao de jovens e adultos. Porto Alegre: Mediao, 2004.

    diferentedadosadultos, revelaqueamaioria jpassoupelaescola.Elesgeralmentedispemdealgumarefernciaescolar,mesmoquesvezestal referncia sejavagae longnqua.

    O depoimento de Leilamostra o quanto aatitudededesrespeitodaprofessorafoimarcanteedecisivaparaqueelaabandonasseosestudos.

    Sentir-se humilhado em funo de suascaractersticas pessoais ou em razo dedificuldades de aprendizagem, sentir-sedesmotivadopelotipodeensinooferecido,sofrermuitasreprovaes,noteracessoalaboratrios,bibliotecas,banheiroslimposeequipamentosdaescolaeatmesmonoconseguirseenquadrarnas regras rgidasda instituiotodasessasquestes que influenciam o abandono dosestudosestoligadasaofuncionamentointernoda escola. Isso mostra que a prpria vivnciaescolar,sefornegativa,podeatuarcomofatordeexcluso. Nesse sentido, a escola reproduz adiscriminaosocial.

    Por que tornar-sealfabetizado hoje em dia?

    Emsociedadescomoanossa, a escrita umdosprincipaismeiosutilizadosparaestabelecerrelaes entre as pessoas, para produzir eregistrar conhecimentos e informaes,promoveroacessoea interaocomacultura,entretantasoutrasfunes.Issoporquevivemos

    1) Quantas vezes num dia voc se depara com letras e nmeros?Experimente relacionar todas as atividades que voc fez no dia de ontem,nas quais teve que ler, ouvir um texto escrito ou escrever algo. Quantasatividades foram relacionadas em sua lista? Quais foram os contextos emque as atividades aconteceram (em casa, no mercado, no banco etc.)?As pessoas que no sabem ler e escrever e que fazem parte dessa

    mesma sociedade letrada precisam utilizar estratgias para se relacionardentro dela.2) Converse com um jovem e com um adulto no-alfabetizado da sua

    turma. Descubra quais so as atividades de seu cotidiano nas quais a escritase faz presente e como cada um deles faz para lidar com elas. Tome notasdos depoimentos, verifique se h diferenas entre o jovem e o adulto eescreva suas concluses sobre como as pessoas sem escolaridade vivem emsociedades letradas.

    Mo na Massa

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    numa sociedade letrada e no nosso dia-a-dia, tanto emcasa, quanto no trabalho, narua,nosespaosdelazer,nasprticassociaismais variadas (fazer compras, pegar umnibus, telefonar), nos deparamos com anecessidade de ler e de escrever. Estamoscercadose imersospelapalavraescrita.

    Durante um longoperododa histriabrasileira, a palavra escrita no estavapresente no dia-a-dia da grandemaioriadas pessoas. Elas construam sua vida,trabalhavam, participavam de partidospolticos, aprendiam, ensinavamos filhos,se comunicavame trocavam informaesde outras maneiras. Para muitas dessaspessoas, os conhecimentos e asinformaes, assimcomoas competnciasligadas ao trabalho, eram aprendidosatravs da comunicao oral e do contatoprtico comas atividades produtivas.Ouseja, na sociedadebrasileira dopassado, aoralidade era central.

    Hoje emdia,porm,a situaomudou.A leituraeaescritaocupamumlugar cadavezmais importante emnossa sociedadeatual. Esta ficou cada vezmais complexa,pela difuso dosmeios de comunicao,dosmeios de transporte que passaram aaproximar lugares e pessoas, pelas novastecnologias, pelaburocratizao (precisotirar documentos, abrir contas embancos,por exemplo), pela industrializao. OBrasil tornou-se um pas cada vez maisurbano, e os modos de vida das cidadespassaram, tambm,a influenciar avidanocampo.

    Por isso, o valor que nossa sociedadeatribui escrita diferente do passado.Anecessidade da leitura e da escrita umarealidade para todos, independente deidade, sexo, raa/etnia, grupo social. Essadimenso foi reconhecidapelaDeclaraodeHamburgosobreEducaodeAdultos,em encontro promovido em 1997 pelaUnesco -OrganizaodasNaesUnidaspara a Educao, a Cincia e a Cultura.

    NairBenedicto

    RicardoAzoury/Olhar

    Imagem

    MoissMoraes

    Juca

    Martins/Olhar

    Imagem

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    Considerando a centralidade que a escritaocupa na sociedade atual, chama a ateno agrandequantidadedebrasileirosde15anosoumaisqueaindanodominamesse instrumentotoimportante.Transformarestarealidadeexigegrandeesforodogoverno,na implantaodepolticas pblicas sociais e em uma aoarticulada para promover uma educao dequalidade, que chegue a todos os brasileiros.Requer tambm um conjunto de aes decombate pobreza e sdesigualdades sociaisque soasprincipais causasdoanalfabetismo.

    Hoje em dia todo mundo concorda quealfabetizar-se umdireito eumanecessidadebsica para incluir-se na vida social comocidadopleno, embora issonoseja suficiente.A aprendizagem inicial da leitura eda escritaconstitui apenas uma etapa indispensveldeumprocesso que temcontinuidadeno ensinofundamental e mdio, em outros cursos eprocessos educativos dos quais as pessoaspodemparticipar.

    Alfabetizar todos os brasileiros , semdvida, um dever do Estado para com oscidados. Mas isso s o comeo,constitucionalmente todos tm direito aoensino fundamental.

    A Conferncia Internacional deEducao de Adultos (CONFINTEA) convocada pelaUnesco -Organizao dasNaesUnidas para a Educao, a Cinciae a Cultura. uma ocasio em que sediscutem os problemas educacionais queafetam a vida de pessoas em todo omundo e na qual os pases presentesadotam concepes, estabelecemcondutas e uma agenda de ao,comprometendo-se a concretiz-la. A VCONFINTEA foi realizada emHamburgo,na Alemanha, em julho de 1997, contandocom representaes de 170 pases. Nessaocasio foram elaborados doisdocumentos, dos quais o Brasil signatrio: a Declarao de Hamburgosobre Educao de Adultos e a Agenda

    para o Futuro da Educao deAdultos, quetratam do direito educao ao longo davida.

    DeclaraodeHamburgoA educao de adultos torna-se mais que

    um direito: a chave para o sculo XXI; tanto conseqncia do exerccio da cidadaniacomo condio para uma plena participaona sociedade. Alm do mais, um poderosoargumento em favor do desenvolvimentoecolgico sustentvel, da democracia, dajustia, da igualdade entre os sexos, dodesenvolvimento socioeconmico e cientfico,alm de um requisito fundamental para aconstruo de um mundo onde a violnciacede lugar ao dilogo e cultura de pazbaseada na justia.

    Poroutro lado,vale lembrarqueaeducaosozinha no garante a incluso social plena.Issodepende tambmdeoutros fatores sociais.Alm da educao, necessrio garantir odireitoaoemprego/trabalhoerenda, eoacessoaos bens sociais como sade,moradia, terra elazer,dentreoutros.

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    Os jovens e o Programa BrasilAlfabetizado

    OProgramaBrasil Alfabetizado foi lanadoem 2003 pelo governo federal, visando incluso educacional, atravs da efetivaalfabetizaode jovens e adultos com15anosoumais que no tiveram acesso leitura e escrita.realizadopelaSecretariadeEducaoContinuada, Alfabetizao eDiversidadeSECAD,doMinistriodaEducaoMEC,eopera atravs de parcerias com estados emunicpios e de convnios firmados comentidadesda sociedade civil.

    O tempo para a alfabetizao varia deacordo com a proposta pedaggica dainstituio alfabetizadora, mas o finan-ciamento oferecido varia de 6 a 8 meses,dependendodoProjeto.As instituiespodemapresentar o mtodo de alfabetizao quejulgarem mais adequado realidade dascomunidades atendidas, com a garantia deefetivamente promover nos educandos acapacidade de ler, escrever, compreender einterpretar textos e realizar as operaesmatemticas bsicas. A carga horria totaldeve ter, nomnimo, 200horas-aulapor curso.

    Os jovens so umaparcela importante nointerior do Programa Brasil Alfabetizado. Em2005, eles somavammais de 491 000 pessoasentre15e29anosdistribudasemsalasdeaulade todoopas.

    No entanto, notou-se uma diminuio dapresenajuvenilentreosanosde2003e2005.

    Art. 12 As turmas de alfabetizaode jovens e adultos devero serformadas por, no mnimo, 05alfabetizandos em cada turma, quandoocorrerem na rea rural, e 10 em cadaturma, quando ocorrerem na reaurbana; e, nomximo, 25 alfabetizandospor sala de aula em qualquer dos casos,sendoque turmas commenosde13nopodero coexistir em mesmo local ehorrio de funcionamento.Fonte: Programa Brasil Alfabetizado. Resoluo/CD/FNDE n22, 20 de abril de 2006. Disponvel em : http://portal.mec.gov.br/secad/

    Uma parte significativa dos jovens no-alfabetizadosviveemlocaisafastadosdoscentrosurbanos,taiscomoascomunidadesquilombolas,os ncleos de pescadores, populaesextrativistas e agrcolas. H uma dificuldademaior para formar turmas nesses contextos,porque as pessoas encontram-se dispersasgeograficamente,eporquemuitasvezesfaltamprofessoresparaassumirasturmas.

    Em funo disso, o Programa estabeleceque, na zona rural, as turmas podem sermenores (no mnimo 5 pessoas) do que nazona urbana (10 pessoas nomnimo), comomostra oquadro abaixo:

    Mobilizarosjovensno-alfabetizadosparaosprogramasdealfabetizaoe, especificamente,para oBrasil Alfabetizado consiste numgrandedesafio.umatarefaquedeveenvolverparceriaentre ogoverno federal, estados,municpios eentidadesdasociedadecivil.

    fundamental que cadamunicpio possamapear os dados sobre a populao no-alfabetizada:Quemso?Ondeesto?Quaisos

  • 20

    O caso da cidade de Feij, no Estado do Acre

    No trs meses de vero muitos moradores da cidade de Feij se deslocam paraa zona rural em busca de trabalho. Este o nico perodo em que possvel utilizara estrada para ir a outras cidades, inclusive para a capital, Rio Branco. Isso provocauma grande flutuao da populao da zona urbana para a zona rural e para outrascidades, j que esse deslocamento muito difcil em outras pocas do ano. Comoconseqncia, diminui muito a freqncia dos educandos nas salas de alfabetizao.

    Eles evademmuito nesse perodo de vero da cidade, eles vo trabalhar l nas colnias.Ento muito crtico esse perodo, porque alm de ir pra zona rural trabalhar, o perodoem que a gente tem acesso capital Rio Branco, porque s tem estrada aqui, pra ir praRio Branco nesse perodo de seca do vero, julho, agosto e setembro. Ento os alunosficam mudando esse tempo todo: vai para a colnia, vai para o seringal, e s vezes pracapital tambm. E as salas ficam vazias, no s na alfabetizao de jovens e adultos,mas tambm no ensino fundamental.(educadora do Programa Alfa 100, cidade de Feij/AC)

    AdivulgaodosProgramaseas formasdeabordarosjovenssofatoresimportantes.Muitoseducadores relatam que os jovens sentem-seenvergonhadosemprocurarsalasdeeducaodejovenseadultospoisissoimplica,porumlado,assumirpublicamenteacondiodepessoano-alfabetizadaeseralvodepreconceitos.Poroutrolado, os jovenspodemse sentirdeslocadosemsalas com predomnio de pessoas adultas eidosas,comoutroperfil,outrosinteresses,outrosvaloreseformasdesociabilidade.

    Almdoesforopara trazer os jovensparaos programas de alfabetizao, h tambmoutros dois desafios centrais: possibilitar suapermanncianasaladeaulaaolongodoperododealfabetizao, eestimularoprosseguimentodeseusestudosnoensino fundamental.

    Essas tarefas envolvem diretamente oeducador,quedesempenhaumpapelestratgicoemuito importante. comelequeos jovens se

    Os dados de analfabetismo emcada um dos municpios brasileirospodem ser encontrados no site doPrograma Brasil Alfabetizado:http://portal.mec.gov.br/secad, noitem Indicadores educacionais pormunicpio

    Voc tem que convencer ele pra elese matricular. Eu acho que o jovem seacha inferior, por no ter tido aoportunidade de estudar quando erapequeno. Ele pensa: pxa, eu, um rapazmais novo, uma moa mais nova, juntocom pessoasmais idosas... Ento eu achoque eles tm vergonha, se sentem comoum peixe fora dgua.(educadora do Programa Alfa 100, cidade de Feij/AC)

    relacionam no dia-a-dia e criam vnculos erelaesdeconfiana. elequemfarvalerjuntoaos jovens, na prtica, seu direito educao.Ao fazer isso, estar envolvido ativamente nademocratizao das oportunidades educa-cionais, sem a qual a sociedade brasileirajamais poder tornar-se justa, igualitriaeverdadeiramentedemocrtica.

    motivosqueas impediramdeestudar?Qualaoferta de alfabetizao de jovens e adultos nomunicpio?

    Com esses dados possvel organizarestratgiasparachegarataspessoas, conhecersuarealidadeeofereceralternativasparaqueseincluamnosprogramasdealfabetizao.

  • 21

    Como mobilizar os jovens para o Programa Brasil Alfabetizado?

    Uma ao importante no Programa Brasil Alfabetizado identificar eenvolver os jovens no-alfabetizados. Para isso, uma boa estratgia entrar em contato com pessoas, grupos e organizaes que tenhamcontato direto com jovens na comunidade. Sugerimos que voc planejealgumas visitas levando consigo um caderno para tomar notas. Nessasvisitas:1) Identifique as pessoas da comunidade que podem colaborar com

    a mobilizao dos jovens para que iniciem ou retomem os estudos. Paratanto, entre em contato com:- Lideranas de movimentos sociais, centros religiosos (igreja, pastorais,

    grupos de jovem), associaes comunitrias, grupos de hip- hop, cooperativas,times de futebol, sindicatos, partidos polticos, organizaes no-governamentais.Ver i f ique se esses grupos e pessoas conhecem jovens no-

    alfabetizados e se poderiam ajudar na divulgao e mobilizao delespara o Programa. Ressalte a relevncia social dessa iniciativa e aimportncia do envolvimento de todos para o enfrentamento do desafioda alfabetizao.2) Organize um calendrio e um conjunto de aes com essas

    pessoas e organizaes da comunidade, decidindo sobre a melhor formade chamar a ateno dos jovens para o Programa de Alfabetizao.Vocs podem identificar os locais e situaes propcias para realizar adivulgao, tais como:- Festas religiosas e culturais, feiras livres, missas e cultos, jogos

    esportivos, reunies comunitrias, reunies de sindicatos entre outros.Nestes eventos, possvel dar avisos, colocar cartazes ou distribuir

    folhetos sobre as turmas de alfabetizao (onde esto localizadas,quando iniciam as aulas, quem pode tomar parte, a quem devemprocurar etc.) e organizar reunies.Enfim, junto com a comunidade voc poder encontrar solues para

    motivar os jovens no-alfabetizados a iniciarem ou retomarem seusestudos.

    Mo na Massa

    Mas sozinhos os educadores no podemfazer milagres: o Estado e seus diferentesrepresentantes tambmtmresponsabilidadesemrelaoaisso. Poressemotivo,matricularos

    jovens,possibilitarsuapermannciaaolongodocurso e, posteriormente, mobiliz-los eencaminh-losparaoprosseguimentodeseusestudos umaresponsabilidadede todos.

  • 22

    Bibliografia

    BRASIL.CongressoNacional.ConstituiodaRepblicaFederativadoBrasil.Braslia, 1988.

    BRASIL.ProgramaBrasilAlfabetizado.Resoluo/CD/FNDEn22,20deabrilde2006.Disponvelem:.Acessoem:11set. 2006.

    BRASLIA/UNESCO. Declarao de Hamburgo: agenda para o futuro. Braslia/UNESCO,1999.Disponvelem:Acessoem:18 set. 2006.

    BRUNEL,Carmen. Jovenscadavezmais jovensnaeducaodejovenseadultos.PortoAlegre:Mediao, 2004.

    IBGE.CensoDemogrfico2000. In: InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica IBGE.Disponvelem:.

    INEP. SinopseEstatsticadaEducaoBsica (Brasil,RegieseUnidadesdaFederao) 2000.In: InstitutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionaisAnsioTeixeira INEP.Disponvelem:Acessoem:25set.2006.

    PORTOALEGRE.SecretariaMunicipaldeEducaodePortoAlegre.PalavradeTrabalhador11. PortoAlegre,nov. 2002.

    UNESCO/MEC-SECAD.RelatriodeAvaliaoProgramaBrasilAlfabetizado.RiodeJaneiro,Unesco/MEC-SECAD,2005.

    SILVA,EnidR.;GUERESI,Simone.AdolescentesemConflitocomaLei: SituaodoAtendimento InstitucionalnoBrasil. IPEA,TextoparaDiscusson. 979, 2003.

    Sites

    http://portal.mec.gov.br/secadhttp://racionais-mcs.letras.terra.com.br/letras/63446/

  • 23

    Um olharsobre os jovens

    Captulo 2

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    ovem?Adulto?Trabalhador?Moradordocampo? Morador da cidade? Negro?Branco?Mulher?Homem?Afinal, quem

    soos seus educandos?Neste captulo convidamos voc a refletir

    sobre os jovens que esto nas salas dealfabetizao.Para isso, vamosanalisaroquea juventude e o que significa ser jovemnumasociedadecomoanossa,e tambmquemsoosjovensno-alfabetizados.

    Vamos discutir ainda as imagens que asociedadeensmesmostemossobreos jovens,que muitas vezes nos levam a rotul-los e anosafastar.

    Sevoc tivessequedizercomosoos jovensdehoje, comofaria?

    Quaisinformaesapoiariamoquevaidizersobreeles?Vocsebaseariaemsuaexperinciacomojovem,adquiridahalgunsanos?NomodocomoelessoretratadosnosprogramasdeTV?Nasua convivncia com jovens, comomeoupai,comocolegadetrabalho,amigo,vizinho?

    Os educadores queatuam junto aos jovenstrazem para a relao educativa suasrepresentaes a respeito da juventude.Veremos, no quadro a seguir, como algunsprofessores de escolas pblicas expressaramessasrepresentaes.

    Respostas de 14 educadores de escolas pblicas para a pergunta:Como so os jovens hoje?

    Fonte:CORTI,AnaPaula; FREITAS,MariaVirgnia; SPOSITO,Marilia.Oencontrodas culturas juvenis comaescola. SoPaulo:AoEducativa, 2001.

    Aspectos negativosAspectos positivos

    menos dependentesmais informadossabem o que querempossuem mais habilidades artsticas quea gerao anterior

    sem limites, desiludidos, apticos, semvalores, sem responsabilidade, semobjetivos claros quanto realizao desuas potencialidades, rebeldes, petulantes,atrevidos, acomodados, carentes,irreverentes, no respeitam regras evalores, vivem sob a lei do mais forte,preguiosos, no se preocupam com oestudo, imediatistas, desmotivados,despreocupados, desesperanosos, semperspectiva de vida, no tm noo decerto e errado, banalizam a violncia,prendem-se a imagens, no aproveitamoportunidades, carentes, insatisfeitos,sem rumo, sem utopias, sem sonhos,arrogantes, individualistas, semesperanas,sem autocontrole, sem f na vida, novem a escola como transmissora deconhecimentos, usam violncia gratuita,tm agressividade reprimida, sreproduzem o que recebem (alunos donoturno), so incapazes de compreenderas situaes, no acatam a autoridade,sem parmetros.

    J

    As pessoas me olhavam de um jeitodiferente. Porque no conheciam apessoa que sou.Cristiano da Silva Gutterres, 26 anos, educando doMOVA no Rio Grandedo Sul. Fonte: Palavra de Trabalhador 11, 2002, p. 117.

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    Como vemos no quadro, os aspectosnegativospredominam.Muitoemboraalgumasdessas opinies possam estar baseadas emexperincias concretas, boapartedelaspodemser consideradas rtulos e preconceitosatribudos aos jovens.Quandoos educadoresfundamentam sua ao educativa nesse tipode viso, tendema no apostar no desenvol-vimento dos rapazes e moas sob os seuscuidadoseaduvidardesuascapacidades.

    assimque os jovens vema simesmos?O quadro abaixo traz depoimentos de

    jovens que do a sua viso a respeito dajuventude. Vamos observar as semelhanase as diferenas existentes entre os trsdepoimentos.

    O que ser jovem?

    Alexandre :Ser jovem simplesmente ainda estar na parte da vida de construo de valores, deideologias, sabemos no que acreditamos, mas ainda podemos absorver muito, construire mudar-nos. Ainda ser portador de um grande sentimento de mudana. Isso serjovem, no estar to infectado pelas prticas e vcios do dia-a-dia e ainda ter muitasexperincias que viro a somar com a nossa vida.

    Elisngela:Ser jovem viver a vida sim, seja com responsabilidade ou no, mas sempre com muitaintensidade, criatividade e vontade de mudar o que no est legal. O que nos incomoda,o que injusto, alguns de formas bem radicais, outros de formas delicadas, mas sempree na maioria das vezes atravs da linguagem ldica. Ser jovem ter arte de mudar, deinventar...

    Daniela:Ser jovem superar os medos, enfrentar os obstculos da vida sem a proteo maternal,mas com o conselho familiar. Encarar a realidade de forma positiva e saber que o jovemtem o poder de influenciar, provocar mudanas e tomar decises responsveis.Ser jovem iniciar a vida participativa junto a escola onde estuda, a comunidade ondevive e se posicionar na sociedade de forma que venha a somar para o crescimento detoda uma nao.Retirado de: http://www.projetojuventude.org.br/forum/viewtopicdc8c.html

    OsdepoimentosdeAlexandre, ElisngelaeDanielamostramuma avaliao bemmaispositiva do que a apresentada peloseducadores.Os trsenfatizamalgunsaspectosricos e dinmicos da juventude, numa viso

    emharmonia comos dados de umapesquisarealizada com jovens entre 15 e 24 anos emtodooBrasil (INSTITUTOCIDADANIA,2003).

    Na pesquisa, foi feita a seguinte perguntaa eles: Hmais coisas boas ou ruins em serjovem hoje? A grande maioria respondeuque h mais coisas boas em ser jovem (74em cada 100 jovens deram essa resposta). Osmelhores aspectos da juventude apontadosforam: no ter tantas preocupaes eresponsabilidades, aproveitar a vida e vivercom alegria, envolver-se em atividades delazer, estudar e adquirir conhecimentos edesfrutar demaior liberdade.

    Mas claro que nem tudo so flores. Napesquisa, eles tambm afirmaram que ser

    jovem, na sociedade em que vivemos,significa estar mais exposto violncia, insegurana, ao desemprego, s drogas e apoucas oportunidades educacionais.

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    Alberto, 24 anosNa adolescncia mudoumuito aminhacabea, bastante. Eu comecei atrabalhar com 14 anos, porque a famliapobre, aquela coisa toda. Meupai bebia,ana funodequererajudaremcasa, sabe,eu j no tive essa adolescncia direitoassim, como eu conheo gente assim quecurte a adolescncia de um jeito, eu achoque a minha foi diferente, eu acho quepassou muito rpido, fiquei adulto muitorpido.Fonte: BRUNEL, Carmen. Jovens cada vez mais jovens naeducao de jovens e adultos. Porto Alegre:Mediao, 2004.

    Muitas juventudes

    Todasasetapasdavidadeumapessoasonicas, ricas e complexas. Envolvemmuitaspossibilidades de crescimento e dedesenvolvimento, e tambm numerososconflitos e dificuldades.A fase da juventudenofogeregra.Assimcomoemoutrasetapasda vida, ser jovem significa experimentarum conjunto de novas possibilidades e denovos desafios.

    No se trata apenas de passar por umasriede transformaesnoprprio corpo, oude ter umadeterminada idade. Isso tambmfaz parte, mas ser jovem vai muito alm doaspectobiolgicoedizrespeitosrelaesque

    as pessoas estabelecemdentro da sociedadeemquevivem.

    Geralmentea juventudevista comoafaseintermediriaentrea infnciaea idadeadulta. um momento em que se rompegradativamentecomarelaodedependnciada famlia de origem, em que se ampliamrelaesdeamizadeedepertencimentoapartirdas afinidades e escolhasde cadaum, emquese estabelecem relaes afetivas e amorosas,comseusencontros edesencontros.Os jovensvo se lanando de forma mais autnoma eativa em diferentes contextos sociais,construindo posicionamentos prprios e

    Muitas vezes, as condies de vida atmesmo impedem uma vivncia mais plenada juventude. Isso ocorre commuitos jovensdo campo, que precisam trabalhar desdecedo, seja nas atividades agrcolas, seja nastarefas domsticas, incluindo o cuidado comos irmosmais novos. Tal situao os atrelaprecocemente a responsabilidades adultas elimita suas possibilidades de aproveitar otempo livre, a sociabilidade comos amigos eatmesmodemanter-se na escola.

    Na sua sala de aula, voc pode repetir a pergunta aos educandos jovens eadultos: o que ser jovem?Anote as respostas, compare as respostas dos alunos jovens com a dos

    alunos adultos. H semelhanas nas respostas? H diferenas?Faa um breve relato escrito contando: Como os educandos adultos vem

    a juventude? Como os educandos jovens vem a juventude? O que aparececommais freqncia como caractersticas do ser jovem na fala dos educandos?Voc concorda com essa viso?

    Mo na Massa

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    valoresque iroorientaroseuestarnomundo.Mas a juventude no apenas a transio

    entrea infncia e o estadoadulto. Se olharmospara ela apenas dessa forma, vamos acharque ser jovem se resume preparao para avida adulta. Na realidade, a juventude no somenteumdeverservoltadoparao futuro,mas simumpoder ser situadonopresente.

    um momento rico em que se amplia aredederelacionamentos,osgruposdeamigos,no interior dos quais so trocadasexperincias, idias e compartilhadas asdvidas e incertezas desse novo perodo. Asrelaes estabelecidas com outros jovenspassama sermuito importantes.At ento, areferncia dos familiares ou de seussubstitutos era central, e tambmadosoutrosadultos da comunidade. A relao com osmais velhos ou adultos no deixa de serimportante para os jovens, apenas perde suacentralidade.

    O contato intenso compessoas damesmaidade implica dominar certas maneiras eformasdese relacionar,de conversar edeagir,pois se trata de compartilhar com outrosjovens certos jeitos de ser.Osgostosmusicais,a forma de se vestir, os desejos de consumo,

    as grias, os programas preferidos, asatividades de lazer, tudo isso se constri nocontato com outros jovens. E tambm nocontato comosapelosdenossa sociedade,dosmeios de comunicao, e a partir dascondies sociais e econmicas de cada um.

    RobertoLoffel/Kino

    RicardoAzoury/Olhar

    Imagens

    FabianaFigueiredo

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    Aomesmotempoemqueestoampliandoseu contato com outros espaos e pessoas,alargando seu raio social, num esforo de seintegrar nesse mundo, os jovens tambmproduzemummovimentodeestranhamentoedequestionamentodealgunsdeseusaspectos.Porqueh tantapobreza?Porqueno tenhoodinheiropracomprarotnisdesejado?Porquetenhoqueseguir essaprofisso?Porque tenhosemprequeagradarosoutros?Porqueosadultosreclamamtantodaspessoasdaminhaidade?

    Dessemodo,moaserapazesvoampliandosua capacidade crtica em relao ao contextosocial em que vivem, colocando questes equestionando aquilo que est dado. Esseprocesso de suma importncia, pois atravsdeleojovemexercita sua capacidade reflexiva.Tal habilidade o ajudar a fazer escolhaspessoais, traar caminhos, ter papel ativo nosespaos que ocupar, seja no trabalho, nafamlia, na comunidade e nas prticasreligiosas, entreoutros.

    Esse processo gradativo de conquista deautonomia vai ampliando a capacidade deanalisar situaes, hierarquizarproblemas efazer julgamentos. Trata-se de ummovimento de emancipao, que passa a

    rejeitar a tutela dosadultos.Asociedadegeralmentevessacaracterstica

    como algo negativo: os jovens so rebeldes,bagunceiros, arruaceiros, no acatam aautoridadeetc.Masissoumgrandeequvoco.Temosqueolharparaesseprocessocomopartede um desenvolvimento rico e complexo, deconquistagradativadeautonomiaedevisocrticaporpartedosjovens.

    Se quisermos formar cidados ativos ecapazesde seposicionarna sociedade, vamoster de valorizar esse movimento e, comoeducadores,nasaladeaula,ajud-losaelaborarsuas reflexes, registr-las, compartilh-las econfront-las comoutrospontosdevista.

    Tutela= relao de dependncia,em que se est sujeito ao poder deoutros.

    Mo na Massa

    Pesquise junto aos jovens de sua sala de aula:1) Vocs convivem com outros jovens?2) O que costumam fazer juntos?3) Quais lugares costumam freqentar?4) Essa convivncia importante para vocs? Por qu?Anote as respostas dos alunos e verifique o que h de comum nas respostas e

    o que h de diferente. Escreva um breve relato analisando a presena ou ausnciada convivncia dos seus educandos com outros jovens, e a importncia dessaconvivncia para eles.Caso haja educandos que dizem no conviver com outros jovens, pergunte

    a eles a razo. Reflita com eles sobre os motivos apresentados: por exemplo,falta de tempo, necessidade de cuidar dos filhos e da casa etc. Aponte aimportncia desses momentos de convivncia e sugira que os jovens pesquisemas possibilidades de lazer, esporte e cultura existentes na comunidade e na cidade.

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    Jovem, teu nome desafio

    Sempre querendo mais...O novo, para ele, j pareceultrapassado.O grande, no passa de normal.Tudo em volta est ao seu alcanceEsenoest,elegrita,corre, lutaeconsegue.Aquele menino levado,Agora um ser de dvidas,Mas tambm um ser de certezas. incompreendido em algunsmomentosE exaltado em outros.Que desafio , ser jovem!ZenaideAlves deOliveiraSantaMaria doCambuc - PEFonte: http://www.mundojovem.pucrs.br/poema-juventude-3.php.

    Asmaneiras de viver a juventude variammuito de pessoa para pessoa, entre os vriosgrupos sociais, entre moas e rapazes,brancos, negros, indgenas, moradores docampo e das cidades.

    Seperguntarmosparaum jovemmoradordeumacidadegrandeoquesignificaser jovem,provavelmente ele vai dizer coisas diferentesdoquediriaumjovemmoradordazonarural.Isso porque no h uma juventude, nica ehomognea, e simvrias juventudes.

    Asociedadeeasdiversas instituiessociais

    como famlia, escola,meios de comunicao,religio, tambmconstroemsuasvisessobreojovem.Nateleviso,porexemplo,comumveros jovens emalgumas situaes especficas esempre repetidas. Nos noticirios, elesaparecem quando o assunto so as rebeliesdaspenitencirias,osdadossobreassassinatose crimes e o envolvimento com o trfico dedrogas. Nesse caso, a imprensa focaliza umaminoria, nos induzindoapensar que todososjovenspobresestonessacondio.Amdianosleva a associar diretamente a situao depobreza dos jovens com a entrada nadelinqncia.Epior, comoemgeral trata-sedejovensnegros,algunstendemanaturalizaressedado, associando a condio racial a umainclinaomaioraocrime.

    Oqueelesnomostram?Que a entrada no mundo do crime no

    apenas umaopo individual do jovem,masresultadeumasituaodeexcluso social queempurramuitosparaessadurarealidade.Nomostram que a grande maioria dos jovensbrasileirosestbuscandotrabalho,eumapartesignificativadelesnoencontraemprego.Nomostram que muitos jovens no tmoportunidades de estudar e muitos queestudamo fazememcondies precrias, emprdios degradados, sujos e sem materialdidtico.Nomostramumaparte expressivada juventude que participa ativamente paramelhorar a realidade social, seja atravs doenvolvimento ativo em suas escolas, sejaatravs das prticas religiosas, dos gruposculturais, promovendo aes voluntrias oudebatendo a situaopoltica dopas.

    Os jovens e o trabalho

    Nas regiesmetropolitanas doBrasil, para cada 100desempregados, 45 so jovens entre 16 e 24 anos.Em cada 100 jovens brasileiros, 33 comearam a

    trabalhar na faixa etria de 5 a 13 anos.Apenas 25 em cada 100 jovens iniciam a atividade

    produtiva aps 18 anos. bom lembrar que, no nossopas, o trabalho proibido por lei para os menores de16 anos.Fontes:ABRAMO,Helena;BRANCO,Pedro PauloMartoni (orgs). Retratos da juventudebrasileira:Anlises de uma pesquisa nacional. So Paulo: Fundao PerseuAbramo, 2005.DIEESE. A ocupao dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanos In:Departamento Intersindical de Estatsticas e Estudos Socioeconmicos DIEESE 2006.Estudos e Pesquisas. Ano 3 N 24 set 2006.

    Os jovens tambm esto presentes comfreqncia nos comerciais e propagandas daTV para os mais variados produtos. Nessecaso, os jovens brancos so maioria. Elesaparecem bonitos, saudveis, magros, bem-sucedidos, sedutores, corajosos, caractersticasemprestadas da condio juvenil paravalorizar os produtos venda. Dessa vez ojovem no apresentado como algumperigoso, maldoso ou criminoso, mas como

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    umaimagembonitaquetodosgostariamdeter.De fato, nossa sociedade produz vises

    ambguas da juventude, que expressam ascondies de desigualdade em que osjovens vivem: ora so imagens muitonegativas (o jovem perigoso e ameaador),ora positivas (o jovem corajoso, beloedestemido).

    Umaspecto importante que tais imagensacabaminfluenciandoavisoqueosprpriosjovens vo construir sobre si mesmos. Domesmo jeito quea formacomoa sociedadeve trata certas profisses, por exemplo, delixeiro ou demdico, vai influenciar a visoque o prprio lixeiro oumdico tem de si, eassim por diante. Se a sociedade valoriza aprofissodemdico, aoescolher eexercer essaatividade terei ameu favorummaior respeitoe receptividade do que se atuasse em outrasprofisses, podendo construir uma auto-imagempositiva.

    Ser que as moas e os rapazes negrosconseguem construir uma auto-imagempositiva assistindo a programas na TV, emque se deparam com jovens como eles emsituaes sempre degradantes e negativas?

    Como ns todos estamos imersos nasociedade, tambmparticipamosde todaessaconstruode imagenssobreos jovens.Porsuavez, as representaes que os educadores

    fazem dos educandos de forma geral, e dosjovens em especial, acabam influenciando oprocesso educativo. Se tivermosuma imagemnegativados jovens, vamos trat-los combasenessa imagem. Por exemplo, quem acha queeles so indisciplinados e rebeldes, tende logode incio a tentar control-los e impedir certostiposdecomportamento. Seos considerarmosmuito agressivos, a tendncia ser nosafastarmos e isol-los do grupo. Finalmente,se os julgarmos incapazes, vamos organizarnossasaulas comumabaixaexpectativa,oquesemdvida limitar suas chancesde ser bem-sucedidosnos seus aprendizados.

    Na maioria das vezes, quando nosaproximamos dos nossos jovens educandos,percebemos que contrariam algumas dessascaractersticas estereotipadas que lhes soatribudas: a irresponsabilidade, a impe-tuosidadedesmedida, aviolncia, odesapegoaos valores familiares. Ao contrrio, muitosdelesexibemumcarterconstrudoapartirdasnecessidades que regem seu dia-a-dia, umcotidiano que lhes impe assumir imensasresponsabilidades e tarefas. Mais ainda,demonstramumesforoenormeemretornarescola e nela permanecer. Por tudo isso, fundamental que possamos construirestratgias capazes de sustentar sua inclusoeducacional.

    Quando o sistema educacional olha paraos jovens com respeito, est lhes dando aconvico de que tm algum valor,reconhecendonelesprprios, pelo espelhodoolhar do outro, o valor que antes lhes pareciainexistente. A potencialidade da relaoeducativa pode ser umelodesencadeador demudanas, medidaqueatingeo serhumanonaquilo que lhe fundamental: a importnciade sentir-se reconhecidopelooutro.

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    Diferentes sociedades,diferentes juventudes

    Cada sociedade tem seu jeito prprio defuncionar e de organizar as relaes entre aspessoas, por isso, o que ser jovemvaria entreos vrios tipos de sociedade. Ser jovemnumacomunidade indgena no o mesmo, por

    exemplo, que ser jovemnum centro urbanoounumncleoquilombola.

    Nas sociedades indgenas, a passagemdainfncia idade adulta realizada pormeiode rituais de iniciao. Nessas sociedadesgeralmente no h as fases da adolescncia eda juventude, tais comoas conhecemos.

    RicardoAzoury/Olhar

    Imagem

    SergioVignes/ObservatrioSocial

    AtielySantos

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    A Festa da moa-novaOs tucuna consideram a puberdade um perodo perigoso e cercam a menina-

    moa de cuidados rituais, a fim de proteg-la das influncias malficas de certosespritos demonacos da floresta.O ritual de iniciao comea pela separao da menina do convvio com a

    comunidade. Assim que ocorre a primeira menstruao, a menina introduzida nocompartimento superior de sua casa: uma plataforma situada bem abaixo do teto,com vedao de esteiras ou cortinado de pano. A ficar durante trs meses emrecluso, invisvel e silenciosa, estabelecendo contato apenas com a me e com a tiapaterna e saindo raramente, quando nenhum homem estiver na casa.Os trs meses de recluso constituem a fase da margem (ou de transio) do ritual.

    Durante esse perodo, a jovem deve dedicar-se ao aprendizado dos afazeres femininos,comoa fiaodoalgodoeopreparodas cestas, redeseesteiras.Deve tambmaprendero comportamento que, segundo os tucuna, prprio das mulheres adultas.A fase de integrao damenina-moa na categoria dasmulheres adultas realizada

    durante uma grande festa, da qual participa toda a comunidade, alm de convidadosde aldeias vizinhas.Inicia-se a fase crucial da cerimnia: dois parentes enfeitados com os adornos

    especiais das meninas reclusas cantam e danam juntamente com os convidados,que fingem proteg-los como se fossem as iniciandas.Depois de um momento de grande tenso quando, expostas aos maiores

    perigos, as meninas, completamente ornamentadas, so retiradas da recluso eaparecem publicamente com os olhos vendados pela coroa de penas desenrola-se ao anoitecer, fora da casa, o ato simblico de libertao dos demnios: o xamentrega-lhes um tio aceso e elas o atiram com fora contra uma rvore quesimboliza o mal, tornando-se, assim, imunes aos maus espritos.O ritual de iniciao encerra-se com a depilao da moa-nova, que simboliza a

    sua passagem da infncia para a idade adulta. A jovem agora pode casar-se e tornar-se membro ativo da comunidade.Fonte: http://www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/mae/mae-riftem.html*OpovoTucuna, tambmchamadodeTicuna ouMaguta, vive noEstado doAmazonas, na regio doRio Solimes, e em1998 tinha umapopulao de32 613 indivduos.

    Nanossa sociedadediferente.Nohumritual claramente associado iniciao nacondio adulta. Existem, por outro lado,eventos organizados e mais ou menosritualizados emdeterminadosgrupos sociais.Ocasamentopode ser consideradoumdesses

    rituais, quemarca apassagemda condiodesolteiro,mais ligadadependnciaemrelao famliadeorigem,paraa condiodepessoacasada,queirconstituirnovafamliaeassumirumoutropapel social.

    Nas reas rurais, o casamento costumaindicar uma mudana de status social e detransio para a idade adulta de forma maiscontundente do que nos contextos muitourbanizados.

    Em pesquisa feita em uma vila rural,Juliana Smith (2002) observa que:quandopediaparaquemeapresentassemjovens,

    orientavam-menamaiorpartedo tempopara jovenssolteirosadolescentes.Umamulhercasada,de20anos

    Puberdade= conjuntode transformaes fsicase psicolgicas que marcam o incio daadolescncia, comoporexemplo, amenstruaonasmeninas, e amudanana vozdosmeninos.

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    com trs filhos, o que era bastante freqente, no considerada pelos informantes como podendomeinteressar. Eu deduzi que estes indivduos no somais consideradospela sociedadecomo fazendoparteda juventude, apesarde sua jovemidade.Adistinoentre casado e no casado est na base dasrepresentaessociaisda juventude.

    Nas grandes cidades, os ritos que dis-tinguema juventude da fase adulta somaisvariados e flexveis, e nem sempre possuemsignificados totalmentepartilhadospor todaasociedade. Por isso, so muito diferentesdaqueles realizadosnos contextos rurais enassociedades indgenas.

    Almdisso,o fortedinamismodasgrandescidades temprovocadomudanas constantesnas definies etrias da juventude. Quatrodcadasatrs, seriadifcil concordar comumadefinio de jovem que fosse at os 29 anos.Mashojeissoumarealidade,poisnoProgramaBrasil Alfabetizado, por exemplo, aqueles quetmentre 15e29anos so tidos como jovens.

    Essa nova faixa etria fruto dastransformaes que atingem a sociedadebrasileira: aumentoda expectativadevidadapopulao, ampliaodo tempoqueos jovenspassamnaescola,desempregoestrutural,entreoutras. Tais mudanas apontam para umaampliaodo tempoda juventude, que exigerespostas do Estado brasileiro no sentido degarantir a inclusosocialdesse segmento.

    Quem so os jovens no-alfabetizados?

    Tendemos aver omundo comas lentes denossa experincia. Para conseguirmos ver onovo, temos que trocar nossas lentes, acharestranhoaquiloqueparecefamiliar.Seos jovensno formam um grupo homogneo, comhistrias, interesses e comportamentosidnticos, entopreciso conhec-losdepertopara no generalizar aquilo que singular.Tentardescobrirapessoaqueestemprocessodeconstruoemcada jovemeducandocomoqual nos relacionamos nas turmas dealfabetizaoumgrandedesafio.

    Agrandemaioria dos jovens que esto emnossas salas de aula j passou, em algummomento da vida, por uma escola, na zonarural ou urbana, mas no permaneceu nela.Isso resultou de variadosmotivos de ordemeconmica, cultural, poltica ou pedaggica.Vejamos algunsdeles:Entrada precoce nomercado de trabalho; o

    cansao e as distncias que precisam serpercorridas at chegar escola soobstculosparanelapermanecer.Mudana do local demoradia das famlias

    atrs demelhores oportunidades de vida, ouporque foramexpulsas de suas propriedadesem razo das dvidas e da expanso doslatifndios.Faltade incentivodospaise familiares.Falta de escolas e professores no local de

    moradia, situao mais freqente emcontextos rurais.Falta de transporte escolar que possibilite a

    chegadana escola, em regies comdispersogeogrfica enasquais as casas ficamdistantesumasdasoutras.

    Horrio das aulas incompatvel com ohorriode trabalho.Sentir-se humilhado edesrespeitadodentro

    daescolapelosprofessores.Ser reprovadodiversas vezes na escola.Ensinodemqualidade, incapazdemotivaroseducandosapermanecernaescola.Contedos escolares e abordagens

    pedaggicas queno se conectam realidadedaspopulaes quevivemno campo.Falta de ateno s dificuldades de

    aprendizagemdoseducandos.Rotulaodos educandos comoincapazesde aprender, o que acaba por convenc-losdisso, levando-os concluso de que nonascerampara estudar.Dificuldades e conflitos pessoais com

    alguns professores.Outros.

  • 34

    Silvnia

    Eu tive dificuldade pra estudarporque desde a idade dos dez anosminhaprofisso era trabalhar, porque ns eradez irmos e meu pai sempre foi doente,ento muita coisa que eu fiz na vida foitrabalhar demais at hoje, era difcil irna escola, foi mais por causa disso, nopodia tambm, tinha que trabalhar prapr as coisas em casa.Fonte:Relatrio deAvaliao ProgramaBrasil Alfabetizado.Rio de Janeiro, Unesco/MEC-SECAD, 2005.

    Os jovens no-alfabetizados, pertencentesaos grupos sociais mais empobrecidos,enfrentaram as mais variadas dificuldadespara chegar escola e tantas outras para nelapermanecer. Podemosdizerque soageraoqueest sofrendomaisdiretamenteos reflexosde umnovo tipo de excluso, produzida noapenas pela falta de acesso escola, massobretudo pelas suas pssimas condies defuncionamento. Formao inadequada ebaixos salrios dos professores, muitoseducandos na sala de aula, falta dematerialdidtico, prdios mal-conservados,precariedade de bibliotecas, altas taxas dereprovao e de evaso esto entre osmuitosfatores dessa m qualidade da escola, e queacabamprovocandoumaexclusopordentro,

    ou seja, uma excluso gerada pela prpriaescola.Oseducandosnoconseguemaprender,sentem-se fracassados, so levados a seconsiderar incapazes e terminampordesistirdosestudos.

    Hsituaesemqueaexclusoproduzidacombaseempreconceitosdaescolaemrelaoadeterminados grupos sociais, comoo casodaspessoas quevivememacampamentos ouassentamentos da reforma agrria, ligadosa grupos como o MST (Movimento dosTrabalhadoresRuraisSemTerra).

    Lcia

    Eu tive problema comumaprofessorana 4 srie. uma coisa que eu no vouesquecer, eu tenho 22 anos, eu noconsegui tirar isso da cabea. Porque eutinha mania de quando eu ia ler eucomeava a ler ao contrrio, e ela gritou eme disse: No! No assim, tu tem quefazer assim! E eu continuei fazendo e elaveioassim(apertouobrao).Eununcavouesquecer essa cena, nunca! Eu fico atnervosa quando eu falo. horrvel.Fonte:BRUNEL,Carmen.Jovenscadavezmaisjovensnaeducaode jovens eadultos. PortoAlegre:Mediao, 2004.

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    Ento, elas chamavam as crianas do barraco, e as crianas eram assimmarginalizadas perto de outras crianas, no tinham roupa pra ir pra escola. Elas iamcom roupinha humilde, descalo. Voc pode perceber que ainda hoje vai criana descalapra escola... porque tem criana que no tem sapato pra ir pra escola e chegavam l e adiretora da escola, marginalizava eles por causa disso. Dizia pra eles No pode vir praescola descalo! Mas professora, eu no tenho sapato, Ento, no venha pra escola.Depoimento deme, integrante doMSTFonte: ANDRADE, Mrcia R.O destino incerto da educao entre os assentados rurais do Estado de So Paulo.Dissertao, Campinas,Unicamp, FE, 1993.

    Pesquise a histria escolar de seus educandos.1) Com qual idade entrou na escola?2) Em qual lugar?3) Com qual idade abandonou a escola?4) Por que abandonou a escola?5) Com qual idade est agora, neste momento de retomada dos estudos?6) Qual sua principal motivao para voltar a estudar?7) Voc pretende continuar estudando para concluir o ensino fundamental?Para realizar a atividade, voc pode reunir os educandos empequenos grupos,

    apresentar algumas perguntas, e pedir que conversem. Depois eles devemapresentar as respostas para toda a sala, referindo-se histria de cada um.Depois de conhecer os motivos que os fizeram abandonar os estudos,

    retome o texto da pgina 33, verifique se os motivos se repetem em relaoao que foi apresentado, e complete a lista se for necessrio.Voc pode elaborar um quadro na lousa, ou num papel pardo grande, com

    duas colunas com qual idade comeou a estudar (coluna 1), com qual idadeparou de estudar (coluna 2), e ir preenchendo com as respostas doseducandos. Pode verificar se h idades repetidas, quantas vezes elas aparecem,calcular os anos em que ficaram sem estudar. Pode tambm calcular a mdiade idade em que comearam a estudar. Para isso, some todas as idades dacoluna 1 (por exemplo, 8 anos, 9 anos, 12 anos, 7 anos = 36 anos) e dividapelo nmero de educandos que responderam (36 dividido por 4 = 9 anos).No exemplo, a mdia de idade em que os educandos comearam a estudarnessa sala foi de 9 anos. Este mesmo exerccio pode ser repetido com asperguntas 3 e 5.Ressalte a importncia de relembrar nossa histria, retomar os

    acontecimentos e analisar nosso percurso, para que possamos refletir sobreeste novo momento de retomada dos estudos e realizar nossos projetos paracontinuar na escola em outros nveis de ensino. Afirme que um dos objetivosdo Programa Brasil Alfabetizado encaminh-los para o prosseguimento noensino fundamental, e que voc est disposto a ajud-los nessa tarefa.

    Mo na Massa

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    Essabagagemcultural sermobilizadapelojovememseuprocessodeaprendizadodaquipara diante. A partir dela, ele vai se lanar aquisiodenovosconhecimentosehabilidades.Ns aprendemos quando encontramosconexespossveis e estimulantes entre oquej sabemos e vivemos, e o que ainda nosabemos, e porque conseguimos enxergarsentido e significado naquilo que estamosaprendendo.

    Hoje sabemos que aprender tarefa paratodaavida.Nesse sentido,paraos jovensno-alfabetizados, no se trata apenas de ter umasegunda oportunidade,mas de ampliar seushorizontes para as mltiplas e diversasoportunidadesdeeducaoedeaprendizadoque tmpela frente, e que no se resumem alfabetizao e escola,masprecisam ir alm,em outros nveis de ensino e outros espaossociais.

    A condio juvenil das moas e dosrapazes que esto nas salas de alfabetizao variada. Muitas vezes precisam conciliarsua juventude com um conjunto de tarefasadultas bastante complexas, como trabalhar,cuidardos filhos, cuidardos irmos, ajudarnosustentodafamlia.Os jovensdegrupossociaismaisfavorecidos,aocontrrio,podemsededicar escola, a cursos e atividades de lazer, edesfrutamdemais tempoemelhorescondiesmateriais para se preparar para o mundo dotrabalho.

    Considerandoqueviveraprpria juventudetambmumdireito,vemosquemuitostmessedireitocerceado,ouenfrentammaislimitesparavivenci-lo.

    Mas, no enfrentamento das adversidades,esses jovenselaboraramestratgiasparaviver,convivere trabalhar. Jpossuemumabagagemcultural que foram adquirindo nos vriosespaossociais,comdiferentespessoasegruposcomosquaisconviveram.

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    Nesta atividade vamos conversar com os educandos a respeito de seucotidiano. Divida os educandos em pequenos grupos e pea que conversemrespondendo as questes abaixo:1) O que voc faz em seu dia-a-dia?2) Qual o principal problema que voc enfrenta no seu dia-a-dia?3) Quais so seus planos para o futuro?4) Quais obstculos existem hoje para que voc concretize seus planos?Depois de um tempo, cada pessoa dever responder as questes para a sala

    toda.Voc pode escrever a palavra NS no centro da lousa, e ir preenchendo o

    quadro com as respostas dos educandos. Depois de formado o quadro, oeducador deve abrir o debate com eles identificando respostas comuns,agrupando-as, bem como observando as respostas diferenciadas. importanteanalisar e destacar as falas de jovens e de adultos, suas semelhanas e diferenas,e possibilitar a troca de experincias entre eles.Para cada uma das questes voc pode trabalhar algumas reflexes e

    debates.Questo 1. Reforce oralmente as atividades realizadas por eles em seu dia-

    a-dia. Pea que identifiquem aquelas que eles mais gostam de fazer, e as queno gostam. Pergunte em que situaes do seu cotidiano se deparam com apalavra escrita. Pea que descrevam as situaes e as estratgias que utilizamfrente a elas.Questo 2. As respostas dadas pelos educandos a esta questo podem ser

    uma boa maneira de identificar temas a serem trabalhados em sala de aula, outemas de pesquisa, tais como: desemprego, falta de creches na cidade etc.Questes 3 e 4. Converse a respeito dos planos dos educandos, estimule

    que troquem idias entre si, observe se a continuidade dos estudos aparecee se eles apontam obstculos para concretiz-la. Verifique se eles prpriostm idias ou sugestes para contornar os obstculos identificados, e seposicione sugerindo formas de superao, ou a necessidade de buscaremapoio e ajuda de outras pessoas e grupos da comunidade para discutir estasquestes.Voc pode dividir esta atividade em partes, realizando uma pergunta por

    aula, registrando e debatendo as respostas de forma mais focalizada.

    Bibliografia

    ABRAMO,Helena; BRANCO,PedroPauloMartoni (orgs). Retratos da juventudebrasileira:Anlisesdeumapesquisanacional.SoPaulo: FundaoPerseuAbramo,2005.

    ANDRADE,MrciaO.Odestino incertodaeducaoentreosassentados ruraisdoEstadodeSoPaulo.Dissertao(MestradoemEducao).FaculdadedeEducao,UniversidadeEstadualdeCampinas.Campinas, 1993.

    Mo na Massa

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    BRUNEL,Carmen.Jovenscadavezmaisnaeducaodejovenseadultos.PortoAlegre:Mediao,2004.

    CORTI,AnaPaula;FREITAS,MariaVirgnia;SPOSITO,Marilia.Oencontrodasculturas juveniscomaescola. SoPaulo:AoEducativa, 2001.

    DIEESE.Aocupaodos jovensnosmercadosde trabalhometropolitanos In:DepartamentoIntersindicaldeEstatsticaseEstudosSocioeconmicosDIEESE2006. EstudosePesquisas.Ano3N24set 2006.Disponvelem:.Acessoem:10out.2006.

    PORTOALEGRE.SecretariaMunicipaldeEducaodePortoAlegre.PalavradeTrabalhador11. PortoAlegre,nov. 2002.p.117.

    SMITH, Juliana.Entre la rechercheet laction:tudeprliminairesur la jeunesseruralede ltatdePernambuco au Brsil. Paris: IEDES, 2002. 80 p. In: WANDERLEY, Maria de Nazareth B.;MUTZENBERG,Remo.(orgs.)JuventudeRural:VidanoCampoeProjetosparaoFuturo.RelatrioFinal,UniversidadeFederaldePernambuco.Recife,maio2006.

    Sites:

    http://www.projetojuventude.org.br/forum/viewtopicdc8c.htmlhttp://www.mundojovem.pucrs.br/poema-juventude-3.phphttp://www.bibvirt.futuro.usp.br/especiais/mae/mae-riftem.html

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    Sempre tempode aprender

    Captulo 3

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    processo de aprender algo tocorriqueiroepermanentequemalnosdamos conta de todas as apren-

    dizagens que realizamos e pouco refletimossobrecomoaconteceram.Muitagenteacreditaque o aprendizado ocorre apenas durante ainfnciaouafaseescolar,masnobemassim.Nohuma idadeapropriadapara aprender,e simmltiplaspossibilidadesdeaprendizadoao longode toda a vida.

    Em cada momento de nosso desen-volvimento fsico, psquico e social, contamoscomumaparato quenospossibilita construiraprendizados. Talvez seja por isso quepessoas pertencentes a um mesmo grupoetrio, como os jovens, tenham uma formapeculiar de aprender.

    OMuitoseducadores costumamdizerqueos

    jovenssorpidos, entusiasmados,dispostosemaisagitadosemsituaesdesaladeaula.Elesparecem realizar de forma acelerada aspropostas,desafiandooprevisveleoplanejadonas aes educativas. Alguns educadoresapontam ainda que eles tm ritmos,desempenhosedisposiesprprios,diferentesdaquelesdas crianasoudosadultos.

    Esse comportamento que os distingue deoutros grupos etrios est relacionado fasedavidaemqueseencontram,aos significadosculturais que essa etapa encerra e ao tempode experincia deles na cultura de que fazemparte. Tambm tem a ver com a motivaocom a prpria aprendizagem, com a auto-estima, com o grau de insero social, seusinteresses e projetos de futuro.

    medida que completamosnossodesenvolvimentobiolgico,queparticipamosdeatividades enos relacionamos com outraspessoas, nos transformamos pormeio da aprendizagem eseguimosaprendendo.Conhecercomo se aprende uma questofundamental no processo dealfabetizao.

    Neste captulo vamos tratardo processo de aprendizagem,que tem incio desde omomentoemquenascemoseseestendeportoda a nossa existncia. Vamosdiscutir sobre o modo como osjovens aprendem, nos maisvariados mbitos de con-vivncia, e quais elementosesto envolvidos no ato deaprender. Essas so questesfundamentais para introduziros educandos no estudo dalinguagem escrita, na leitura,na produo de textos e nosclculos matemticos.

    Salomon

    Cytrynowicz/

    Olhar

    Imagem

    Ricardo

    Azoury/Olhar

    Imagem

    AoEducativa

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    Pense em duas aprendizagens importantes que voc tenha feito em suavida, que tenham provocado mudanas em seu comportamento, no modocomo v e percebe o mundo, em seus sentimentos ou modo de agir.Escolha uma que tenha sido realizada na escola, enquanto estudava, e outraque tenha acontecido fora da escola, em qualquer outro mbito.Lembrou?Agora, divida uma folha de caderno ao meio.De um lado, escreva um breve relato contando como se deu a

    aprendizagem que voc realizou na escola e, do outro, como se deu aaprendizagem que realizou fora da escola. Descreva o que aprendeu, porque, como, onde e quem estava envolvido em cada um desses processos.Depois, compare suas histrias com o texto que vai ler neste captulo.

    Veja se suas experincias como aprendiz reafirmam as informaes sobrea aprendizagem que esto no texto.

    Mo na Massa

    O que est envolvido naaprendizagem?

    Diariamente, realizamososmais diferentesaprendizados,quesedonumfluxotocontnuoque tendemosa tom-loscomoalgonaturalounemospercebemos.Essasaprendizagensestodiretamenterelacionadasscondies,aoslimitese s possibilidades do momento que estamosvivendo. Muitas vezes, no notamos que noprocesso de aprender esto envolvidos oselementos mais variados, de ordem pessoal esocial.Soessasexperinciasquenosconstituemcomo sujeitos nicos, capazes de refletir, tomardecises, agir e gerir a vida com autonomia,projetarofuturoedesempenharpapissociais.

    Umelementomarcante da aprendizagemso os recursos e asmais variadas inveneshumanas que temos disposio e que estoacessveis ou no a todos para agir e paraaprender. Nascemos num mundo em que apalavraescritaestevesemprepresente,por issoimaginar nosso dia-a-dia sem a escrita podeparecer um tanto estranho. Mas, j houvetemposelugaresemqueaescritasequerexistia.

    Comoaspessoas se comunicavamdistnciaantesda invenodaescrita?

    Uma das possibilidades era solicitar a ummensageiro quememorizasse o que se queriacomunicar e fizesse chegar o recado at osouvidos do destinatrio. Com a inveno daescrita, dos servios de correio e a difuso dohbito de escrever cartas, essa forma decomunicao mudou. E ao aprender a usar aescrita para essa finalidade, modificamostambm nosso comportamento. Podemosescrever uma carta ou um recado, usar ummensageiro ou nos dirigir a uma agncia docorreio.Comosavanostecnolgicos,podemosainda usar o computador para enviar umamensagemeletrnicaeatocelular.Portanto,nossaaonomundoestsustentadapor invenes humanas, como a escrita, e asaprendizagensquerealizamosestorelacionadass oportunidades que temos ou no paraaprendereparafazerusodessasinvenes.Semter aprendido a usar a escrita, a estratgia deenviarmensagensescritasparaoutrapessoaqueestdistantenoseencontraemnossasmos.

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    Outro elemento fundamental na apren-dizagemapresenadeumaoumaispessoasexperientes emnossa cultura. Soelasquenosapiam e nos conduzem nas aes querealizamos ao aprender. Tais pessoas maisexperientesdaculturaservemderefernciapara

    que cada um possa realizar as mais diversasaprendizagens.Exemplosnofaltam,desdeumarendeiraensinandoseuofcioaumafilha,ouumcolega mostrando a outro como usar acalculadora,atumacrianaqueensinaoamigoaescreverseunome.

    Fotos:MoissMoraes

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    Com esses outros aprendemos emmeio aobjetos,movimentos,olhares, sons,gestos, fala,escrita etc. um processo que exige vontade,disposio, ateno, observao, comparao,imitao,atrocadepalavras(oralouporescrito),entretantasoutrasaes.

    Aprendemos em atividade. Nossa ao,aquilo que fazemosdurante a aprendizagem, outro fator importante. Asmltiplas aesquerealizamosaoaprenderpodemservisveisparaoutrapessoaquenosobservaouorienta,como quando imitamos a ao que o outroacabou de fazer. Tambm podem serinvisveis, quandoapenas observamos a aodooutroepensamossobreela.Lanamosmodeoperaesmentais,usandoa linguagemeo

    NesterelatoJosefacontaoquemovesuaaprendizagemecomoaprende.Ah, eu acho que sempre fui curiosa sabe?Desde pequena, eu sempre fui assim, eu queria saber tudo. Aminhamenodeixavaeu ver umacoisa, euolhavapeloburacodaporta. Eu souumapessoaqueconversomuito comaspessoas, soumuitoaberta.Omeu jeito de ser meajudoumuitoa ver o outro ladodomundo,aevoluir.Euvoucrescer, euquero teroqueeuquero tereeuestoubatalhandopara isso.Euachoque issomeajudoumuito a evoluir, a aprender comas pessoas. Eu prestomuita ateno no que os outros falam, naopiniodeles, nomododeles falarem. Eu penso assim: Eu vou observar porque eu quero aprender,sabe? Ento, eu sempre observo as outras pessoas, eu quero saber a opinio delas, o que elasacham, como o modo de vida de cada um. Eu sei que a cada dia eu aprendo um pouquinho.Fonte: VVIO, Claudia Lemos. Textos narrativos orais e escritos produzidos por jovens e adultos em processo deescolarizao. Dissertao (Mestrado em Educao), Faculdade de Educao da USP. So Paulo, 1999, 237p.

    pensamento, e de aes concretas que seapiamno pensamento e na linguagem. Porexemplo, aoaprendera tocarviolo,podemosmanipular o instrumento, observar o efeitosonoroquandoascordasvibram,acompanharasdemonstraesdapessoaquenosguianessaaprendizagem,perguntar sobre oque e comofazer, imitar as aes dessa pessoa, consultarummanual de instrues, pensar sobre o quefizemos, e assimpordiante.

    Aquilo que podemos ser e fazer no estdado nomomento em que nascemos, mas produzido e transformado pelas atividadesdas quais participamos e das relaes sociaisque estabelecemos.

    No processo de aprender tambmh outroelementoimportante:alinguagem.pormeiodelaque interagimos com o outro enquantoaprendemos, damos significado e atribumossentidoaonovo,aoquefoiouestsendoaprendido.Usamosalinguagemparaagircomooutro,paraexplicar,paracomunicar,paranosposicionar,parademonstrar, e tambm para falar sobre o queaprendemos, como se deu esse processo e paraensinarosoutros.

    Ento,asaesquerealizamosaoaprenderestosempreapoiadaseminstrumentos.Podemenvolverinstrumentosqueauxiliamnossofazer,comoummartelo, uma calculadora, um lpis ou umcomputador. E envolvem instrumentos queauxiliamonossopensamento,comoalinguagem,

    sejaelaoralouescrita.Todosos instrumentosquetemosdisposiosoprodueshumanas,soheranasquerecebemosecomasquaispodemoscontaraotomarpartededeterminadacultura.

    Alm das aes, no ato de aprender estenvolvidoaquiloquejsabemos.Paraaprenderusamos tudo aquilo que j construmos eaprendemos:noeseconceitos,representaes,procedimentos, valores e conhecimentosadquiridos em experincias anteriores.

    Aaprendizagemnopartedozero,humahistria anterior, que tanto nos mobiliza pararealizar novas aprendizagens comoopontodepartidaparaqueelasocorram.apartirdessahistria que a aprendizagemseopera.Aquiloque sabemos faz parte de um patrimnio

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    pessoal, decorrente de outras tantasaprendizagensquejrealizamos.Essabagagemcultural,construdaaolongodavida, influencianamaneiracomovamosaprenderenosmodoscomo vamos utilizar os aprendizadosadquiridos.

    Novamente, Josefa quem nosconta sobre como aprendeu a ler e oque j sabia para realizar estaaprendizagem to desejada por ela.Quando eu comecei a ler, eu j gostavade ler. Lia uma linha, soletrava letra porletra, e eu tentava ler, assim. Eu sempregostei de ler, eu queria saber tudo o queestava escrito ali. Ento, quando eucomecei a ler, as minhas primeiraspalavras, eu j queria saber, comear asoletrar letra por letra e acabava lendo.Eu sempre tive aquela vontade imensade saber ler assim, ter aquela sabedoriaassim dos livros.Fonte:VVIO,Claudia Lemos.Textosnarrativosorais eescritosproduzidos por jovens e adultos em processo deescolarizao.Dissertao (Mestrado emEducao), Faculdadede Educao da USP. So Paulo, 1999, 237p.

    NodepoimentodeJosefa,podemospercebercomo as experincias que teve com a leituraantes mesmo de saber ler influenciaram seudesejo de aprender, seu gosto, suadisposioparaenfrentaressedesafio.Paraaprendera ler,ela no partiu do zero, tinha uma histriaanterior com a leitura, sabia algunsprocedimentos que devia seguir para ler aspalavras, e, mais importante, tinha umavontade imensaqueamovia.

    Adisposioparaaprenderoutroelementoimportante na aprendizagem. Trata-se damaneirapelaqual apessoasevnoprocessodeaprendizagem,percebeoquevaiaprenderecomosesentediantedessedesafio.

    A disposio tambm construda nasexperincias vividas, tanto pode ser

    conseqncia de uma necessidade, uminteresse ouumdesejo pessoal, comodeumamotivao ou estmulo vindo de outraspessoas. Se h uma disposio positiva paraaprender a ler, como no caso de Josefa, esseprocessopode sermais fcil.Masnemsempre assim. Muitos jovens que tiveram brevespassagens pela escola podem ter construdodisposiesnegativasemfacedoaprendizado.O desafio nesse caso consiste em ajud-los aconstruirnovasdisposiesemotivaesparaaprender. Isso pode ser feito fomentando atrocade experincias entre os educandos, quemostre outros sentidos para o aprender e asvantagensdesseprocesso.

    A finalidadedaaprendizagemest ligadadisposioparaaprender.Ningumaprendesemter um para qu. Para Josefa, o aprendizadodaleitura tinhaumarazo: ter aquela sabedoriadoslivros.Umjovempodequereraprenderalerparadominar a letradeumamsica, para tirar suacartademotorista,parausarocomputador,entreoutrosobjetivos.Afinalidadefuncionacomoummotor, comoalgoquenosmobilizaaenfrentaresse percurso, a dar os primeiros passos, acolocar em jogo aquilo que sabemos.

    Vimos que so vrios os elementos, deordemsocial, pessoal, emocional, envolvidosna aprendizagem. A seguir, vamos discutircomo as pessoas aprendem. So muitos osmodosdeorganizar e realizar aprendizagens.

    observando comoaspessoasparticipamdasprticas cotidianasquepodemosperceberos modos de aprender, de ensinar, de seapropriar e transformar essasprticasque sohistoricamente construdas.

    Como se aprende?

    Aprenderenvolveaaoentrepessoas, isto, a interao comooutromais experiente dacultura.Esseoutroqueorientaaaprendizagemconheceesupeoqueosujeitomenosexperientej sabe e capazdeaprender e realizar. E cadaumna interaoocupaumdeterminado lugar,por exemplo, o do aprendiz e o do educador.

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    Cadaqualcomumasriederesponsabilidades,expectativas edisposiespara enfrentar essaatividade.

    Quando uma pessoa se depara com umanova aprendizagem, lanamo da bagagemculturalquecarregaconsigo, suasdisposies,selecionaeagejuntocomooutro.Essabagagemoferece as chavesde leitura ede interpretaoque permitem novas aprendizagens. Nelatambm se encontram as habilidades quepodemserutilizadasparaaprender.

    Aprendemos estabelecendo relaes entreo que j sabemos e o novo que se apresenta.Testamos e comparamos o que j sabemos e,a partir das novas experincias de apren-dizagem, verificamos a necessidade demodificar, aprimorar ou substituir nossosconhecimentos e saberes.

    Alm de permitir o contato inicial com onovo,abagagemcultural constituiabasesobrea qual novos significados e sentidos soconstrudos. Assim, se queremos ensinaralgumaescreveronome,precisosaberoqueele ou ela traz sobre esse assunto em suabagagem. Por exemplo, se a pessoa desejaaprenderaescreverseunome,pode-sepesquisarporquetemessavontade,sesabeparaqueserveregistrar onome,quais letrasdoalfabeto ela jconhece,sejviuseunomeporescritoemalgumlugar, se j passoupor algumaexperincia na

    qual teve que grafar seu nome, entre tantasoutras coisas.

    Dificilmente,umjovemnosabealgosobreas letras e a escrita de seu nome, ou no temidia da funo que a escrita dos nomes depessoas tem em nossa sociedade. Esse saberconstrudo em experincias anteriores, nasquais teveque lidar comaescrita, trouxeumasrie de conseqncias para ele.Ao aprenderalgo novo, a escrita de seunome, ele percorreum caminho a partir daquilo que sabe, emdireo quilo quequer saber.

    Nessepercurso,necessitamos,numprimeiromomento, da maior ajuda e intervenodaquelesmaisexperientes.Primeirorealizamoscomoauxlio, coletivamente, comooutro,paradepois faz-lo sozinhos.

    Voltando escrita do nome, dificilmentealgumconseguir, numaprimeira tentativa,saber as letras e a seqnciadelaspara formarseu nome. So aes que aos poucos e comauxliodooutro,pormeiodarealizaodevriasatividades, ele poder assumir sozinho, maisadiante.Almdeagir, ele terquerefletir sobresuaao,perceberoqueconseguefazersozinho,oqueaindaprecisaaprendereassimpordiante.Osujeitomais experientequemcriavariadasoportunidades tantoparaauxili-locomoparatorn-loautnomo,paraqueoaprendizconsigarealizarsozinho.

    MoissMoraes

    Roberto conta as conseqncias deaprender a escrever seu nome.

    A felicidademaior pramim foi aprendera escrever meu nome, meu nome que eunosabia. Hojeemdiaeuselecionoosmeusdocumentos, o que importante eu guardo.Eu pego a bblia para ler, que paraaprender a ler melhor. Eu pego livro sobrecoisas de comrcio, sobre coisas financeiras,leio muitas reportagens, o jornal, que issoajuda bastante no meu trabalho.Fonte:VVIO,ClaudiaLemos.Textosnarrativosorais eescritosproduzidos por jovens e adultos em processo deescolarizao.Dissertao (Mestrado emEducao), Faculdadede Educao da USP. So Paulo, 1999, 237p.

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    Aoaprenderapessoapassapormudanas,deordempessoal e social. Primeiro, ela conseguerealizaralgoqueantesnoconseguia fazer.Elapodeentoparticipardeatividadesdeoutraforma,ocuparlugaresqueantes,pelofatodenosaber,nopoderia.Emnossoexemplo,quemaprendea

    escrever o nome pode assinar e mudar seusdocumentos,eissotemconseqnciastantoparasua auto-imagem comopara a imagemque osoutrostmdela.Almdisso,elaagorasabenovascoisasepodeaprenderoutrastantas.

    Tipos de aprendizagem

    Existem variadas formas de aprender, todas so vlidas e necessrias paraadquirir conhecimentos e procedimentos, desenvolver habilidades e atitudes,entre tantas outras coisas. No quadro que segue h trs tipos deaprendizagemdescritos. Tais tipos de aprendizagemno so estanques, podemacontecer de modo associado ou no, de acordo com o que se estaprendendo.Leia cada um dos tipos, pense em situaes em que voc realizouaprendizagens dessas maneiras e crie um exemplo para cada um deles.

    A pessoa aprende exercendo uma ao eobservando o resultado que obteve daquelaao. Caso sua ao no d certo, e no consigaresolver o problema em que est envolvida, elacorrige algum aspecto e tenta novamente. Aaprendizagem resulta de uma ao individual.

    A pessoa tenta realizar a mesma ao que ooutro que ele observa esteja fazendo ou tenhafeito. Implica a observao do comportamento,a relao comooutro em razo de umproblemaque se quer resolver. O outro tanto pode ajudaraquele que est querendo aprender, corrigindosua ao, para aperfeio-la, como pode noperceber que o outro est imitando.

    A pessoa que aprende conta com a aointencional, organizada por um outro maisexperiente. Pode acontecer por meio dedemonstraes, pela oferta de pistas, deexplicaes, de indicaes de como proceder,entre outras formas. Tambm conta commateriais e atividades seqenciadas queorganizam a apropriao de um conhecimento,a aquisio de uma habilidade, de umprocedimento etc.

    Portentativa

    eerro

    Porimitao

    Pelaao

    intencional

    dealgum

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    A ao intencional eorganizada do alfabetizador

    Dificilmente, umapessoa aprende a ler e aescrever sozinha, semalgumque organize eoriente sua aprendizagem. O processo dealfabetizao um tipode aprendizagemqueexige um outro mais experiente na culturaescrita, que domine o objeto que vai seraprendido e que tenhaumpapel consciente eativo sobreoprocessoqueestabelece, tantonasua organizao e progresso, como nasaprendizagensaquesequer chegar.

    Porisso,opapeldoalfabetizadornoprocessodeaprendizagemdaescritacrucial.elequem,comumasriededecises sobreoque, comoequando ensinar, cria situaes para que osjovensaprendam.elequemvaiorganizarumagama variada de atividades e vivncias,oferecendopistas, explicaes, indicaes decomoproceder, sistematizandoconhecimentosrecm-adquiridos, entre tantas outrasoportunidades. Tambm vai selecionarmateriaisquecolaboramparaaapropriaodaescrita, odesenvolvimentode competncias ehabilidades,deprocedimentos eatitudesparaque os sujeitos possam ler e escrever comautonomia. responsvel ainda por fazerintervenesnoprocessodeaprendizagemdecadaumedocoletivo,propondoproblemasparaosquaisoseducandosprecisambuscarsolues,motivando, descobrindo interesses e desejos,

    Depois de ter lido este trecho do captulo, reflita sobre a seguinte questo:H semelhanas e diferenas entre omodo como jovens e adultos aprendem?Se sua resposta for sim, indique quais so essas semelhanas e diferenas e

    justifique sua resposta.Se for no, explique suas razes.Depois de ter registrado sua resposta, faa uma pequena enquete com os

    colegas e outros educadores. Descubra como eles percebem que os jovensaprendeme se h algo emcomumentre sua opinio e a deles sobre essa questo.

    negociandocom elesosrumosquevoseguireaondevochegar,estabelecendocoletivamenteobjetivose regrasdeconvivncia.

    Portanto, o alfabetizador o outro queassume um papel imprescindvel naaprendizagemdeseu