Coutinho Etal 2013

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  • 7/26/2019 Coutinho Etal 2013

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    http://dx.doi.org/10.4322/floram.2013.043ISSN 1415-0980 (impresso)

    ISSN 2179-8087 (online)

    Usos da Terra e reas de Preservao Permanente (APP)na Bacia do Rio da Prata, Castelo-ES

    Luciano Melo Coutinho1, Sidney Sra Zanetti2, Roberto Avelino Ceclio2,Giovanni de Oliveira Garcia3, Alexandre Cndido Xavier3

    1Curso de Cincias Biolgicas, Centro Universitrio So Camilo-ES, Cachoeiro de Itapemirim/ES, Brasil2

    Departamento de Cincias Florestais e da Madeira, Universidade Federal do Esprito Santo UFES,Jernimo Monteiro/ES, Brasil3Departamento de Engenharia Rural, Universidade Federal do Esprito Santo UFES, Alegre/ES, Brasil

    RESUMOEste trabalho avaliou o uso da terra e identificou reas de Preservao Permanente (APPs)na Bacia Hidrogrfica do Rio da Prata (BRP), municpio de Castelo-ES, via tcnicas degeoprocessamento. A BRP marcada pela supresso de vegetao nativa, para expanso dafronteira agropecuria. As classes de uso da terra foram vetorizadas por fotointerpretao deaerofotos ortorretificadas. A delimitao das APPs foi realizada a partir de dados de hidrografiae altimetria de cartas topogrficas digitais, com respeito s determinaes do Cdigo FlorestalBrasileiro. A principal forma de uso da terra a agropecuria (60,84% da rea total), compostapela agricultura (30,21%) e pela pecuria (30,63%), sendo que a rea preservada com florestanativa de 36,85%. As APPs representam 55,48% da rea total e sua maior parte (50,40%) utilizada para fins socioeconmicos, enquanto a cobertura florestal representa apenas 49,60%.

    Palavras-chave:manejo de bacias hidrogrficas, uso e ocupao do solo, reas deProteo Ambiental (APP), Bacia do Rio da Prata (ES).

    Land Use and Permanent Preservation Areas (PPA)in the Watershed of Rio da Prata, Brazil

    ABSTRACTIn this study, we evaluated the use of land and identified the Permanent Preservation Areas(PPA) in the watershed of Rio da Prata (RPW) in the municipality of Castelo, Espirito Santostate, using geoprocessing techniques. RPW is marked by the removal of native vegetationfor the expansion of the agricultural frontier. The classes of land use were vectored byphotointerpretation of orthorectified aerial photographs. The delimitation of the PPAs wascarried out based on hydrography and altimetry data from digital topographic maps accordingto the determinations of the Brazilian Forest Code. The main forms of land use are agriculture(30.21%) and livestock (30.63%), totaling 60.84% of the area, and the preserved area of nativeforest occupies 36.85% of the total area. The PPAs represent 55.48% of the total area, with mostof it (50.40%) being used for socioeconomic purposes, while the forestry cover represents only49.60%.

    Keywords:watershed management, land use and occupancy, EnvironmentalProtection Areas (EPA), Rio da Prata watershed.

    Floresta e Ambiente 2013 out./dez.; 20(4):425-434

    Artigo Original

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    Coutinho LM, Zanetti SS, Ceclio RA, Garcia GO, Xavier AC

    1. INTRODUO

    No Brasil, o processo histrico de ocupao do

    territrio consistiu na substituio da coberturaflorestal nativa por atividades agropecurias,

    frequentemente baseando-se na explorao

    excessiva dos recursos naturais, desconsiderando

    sua importncia ambiental e a sustentabilidade. Tal

    processo foi responsvel por diversos problemas

    ambientais, destacando-se a significativa reduo

    da qualidade dos solos e a intensificao da eroso

    hdrica, associados diminuio da disponibilidade

    quantitativa e qualitativa dos recursos hdricos.A supresso da vegetao nativa para a expanso

    da fronteira agropecuria ou a sua substituio por

    outros tipos de uso da terra tem agravado o processo

    da fragmentao florestal e provocado consequncias

    negativas nos diferentes compartimentos da

    natureza, afetando, consequentemente, muitas

    espcies da fauna e da flora (Soares et al., 2011), alm

    de afetar, tambm, o prprio homem.

    Processos hidrolgicos dinmicos em baciaspodem sofrer modificaes significativas em

    decorrncia de atividades antrpicas, como

    modificaes na ocupao das terras, desmatamento,

    expanso da agropecuria e urbanizao intensiva.

    Estas atividades modificam a dinmica hidrolgica

    em razo das alteraes nas caractersticas de

    cobertura e perfil do solo, podendo ocasionar

    prejuzos diversos, como eroso, assoreamento e

    enchentes. Portanto, o uso da terra, com alterao da

    cobertura vegetal, constitui-se num dos fatores mais

    importantes que afetam a produo de gua em reas

    rurais (Lima, 2008), e considerado, dessa forma,

    um importante foco de atuao do manejo de bacias

    hidrogrficas.

    A caracterizao do meio fsico da bacia

    hidrogrfica, com o intuito de levantar todas as reas

    crticas do ponto de vista da manuteno da gua,

    condio bsica para um planejamento bem sucedido

    de conservao e produo de gua. SegundoLima (2008), a conservao da gua no pode ser

    conseguida independentemente da conservao dos

    outros recursos naturais, pois o comportamento da

    fase terrestre do ciclo hidrolgico reflete diretamente

    as condies e os tipos de uso dos terrenos.

    Com o intuito de disciplinar e limitar as

    interferncias antrpicas negativas sobre o meio

    ambiente, o Cdigo Florestal Brasileiro Lei n. 4.771,

    de 15 de setembro de 1965 (Brasil, 1965), contemploua criao das reas de Preservao Permanente

    (APPs). Nessas reas, se preconiza a manuteno

    da cobertura florestal nativa, a fim de que esta

    desempenhe importantes funes ambientais, como

    a preservao dos recursos hdricos, da paisagem, da

    estabilidade geolgica, da biodiversidade e do fluxo

    gnico de fauna e flora, alm de proteger o solo contra

    a ao do processo erosivo e assegurar o bem-estar

    das populaes humanas. A Resoluo n. 303, do

    Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

    (Brasil, 2002), estabeleceu os parmetros, definies

    e limites referentes s APPs, e adotou, ainda que

    implicitamente, a bacia hidrogrfica como unidade

    de sua aplicao (Ribeiro et al., 2005).

    O mapeamento das APPs importante para

    o planejamento territorial, a fiscalizao e as

    aes de campo nos mbitos local, regional ou

    nacional, facilitando as fiscalizaes que visam ao

    cumprimento da legislao ambiental (Hott et al.,2004; Eugenio et al., 2011). Segundo Ribeiro et al.

    (2005), a inexistncia de demarcao oficial das

    reas das APPs um dos fatores que facilitam o

    descumprimento da legislao que as criou, levando

    ocupao e utilizao ilegal dessas reas.

    Nos ltimos anos, segundo Soares et al. (2011),

    as geotecnologias tm sido amplamente utilizadas

    no mapeamento e no monitoramento dos recursos

    naturais terrestres, se destacando como umaalternativa mais vivel e que permite agilizar estes

    processos (Eugenio et al., 2011). Prova disso, a

    existncia, na literatura cientfica brasileira, de

    diversos artigos recentes que citam a utilizao de

    geotecnologias para o mapeamento automtico

    de APPs, como Eugenio et al. (2011), Soares et al.

    (2011), Vieira et al. (2011), Louzada et al. (2009),

    Nascimento et al. (2005), Pinto et al. (2005),

    Ribeiro et al. (2005) e Hott et al. (2004).

    A partir do exposto, o presente trabalho tevecomo objetivos avaliar o uso da terra e identificar

    APPs na sub-bacia hidrogrfica do Rio da Prata,

    Municpio de Castelo-ES, utilizando tcnicas de

    sensoriamento remoto e geoprocessamento em

    ambiente de Sistemas de Informaes Geogrficas

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    (SIG). Espera-se que tais procedimentos e resultados

    venham contribuir na gerao de dados a serem

    aplicados na gesto da rea e fornecer subsdios

    s tomadas de deciso, tendo em vista que, naatualidade, faz-se necessrio adotar medidas que

    garantam a preservao dos recursos naturais.

    2. MATERIAL E MTODOS

    A rea de estudo consistiu na sub-bacia

    hidrogrfica do Rio da Prata (BRP), contida na Bacia

    Hidrogrfica do Rio Itapemirim. A BRP possui rea

    total de 132,28 km e localiza-se no municpio de

    Castelo, Macrorregio Sul do Estado do Esprito

    Santo (Figura 1). A precipitao anual na regio

    varia entre 1.500 e 2.000 mm, sendo o clima do tipo

    quente e mido, com chuvas de vero (Aw), pela

    classificao de Kppen.

    De acordo com RADAMBRASIL (Brasil, 1983), os

    principais solos da regio so Argissolo, Chernossolo,

    Cambissolo lico e Latossolo Vermelho-Amarelo

    lico. Silva (1993) e Castro Jnior et al. (2007)

    classificaram o relevo regional em: Faixa de

    Agradao Cachoeiro de Itapemirim Castelo(altitude entre 80 e 100 m; superfcies suaves, vales

    abertos e interflvios abaulados; ao intemprica

    e raros afloramentos rochosos), Feies de Mar

    de Morros (altitude entre 200 e 900 m; tipos mais

    resistentes ao intemperismo) e Remanescentes do

    Ciclo Sul-Americano (altitudes em torno de 900 m;

    rea de solos espessos, com processos erosivos em

    franco desenvolvimento).

    A BRP representa satisfatoriamente as condies

    ambientais da Macrorregio Sul do Estado do

    Esprito Santo, sendo composta por diversidade

    paisagstica natural e pela diversidade de atividades

    humanas, incluindo pecuria, silvicultura, culturas

    agrcolas permanentes e temporrias, muitas vezes

    em reas que deveriam ser destinadas preservao

    permanente. As principais atividades econmicas

    Figura 1.Localizao da sub-bacia hidrogrfica do rio da Prata: A) diviso poltica do estado do Esprito Santo; B)no municpio de Castelo.Figure 1.Location of Prata river watershed: A) Esprito Santo state policy division, Brazil; B) at Castelo county.

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    so a minerao, a agropecuria e o turismo

    (Vicente et al., 2005). Essa sub-bacia um exemplo

    de rea rural que passou pelo processo histrico

    e ocupacional marcado pela imigrao europeia,como ocorreu em grande parte do Brasil.

    As classes de uso e cobertura do solo na BRP

    foram identificadas e delimitadas a partir de

    fotointerpretao, utilizando fotografias areas

    ortorretificadas, com vetorizao manual na tela do

    computador (digitalizao de linhas), pela edio

    de um arquivo Shapefile com formato de polgono.

    As fotografias areas, de junho/2007, foram

    disponibilizadas pelo Instituto de Meio Ambientee Recursos Hdricos do Estado do Esprito Santo

    (IEMA) e possuem escala de 1:35.000, referente

    ao aerolevantamento, e de 1:15.000, referente ao

    ortofotomosaico, composto por imagens digitais

    no formato GeoTIFF, com resoluo espacial de

    um metro. O padro de exatido cartogrfica das

    imagens considerado alto (classe A), com erro de

    posicionamento mximo de 7,5 m.

    Para a delimitao das APPs, utilizaram-se

    dados cartogrficos advindos das cartas digitais dealtimetria (curvas de nvel) e de hidrografia, oriundas

    do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    (IBGE), folha SF-24-V-A-V-2, em escala de 1:50.000.

    O Modelo Digital de Elevao (MDE) do terreno, em

    formato matricial (raster), com resoluo espacial

    de 10 m, foi elaborado a partir da interpolao das

    curvas de nvel utilizando o interpolador Topo To

    Raster, do programa computacional ArcGIS, com

    suporte da hidrografia digitalizada orientada nadireo do escoamento (Stream), conforme indicado

    por Pires et al. (2005). O ps-processamento

    consistiu da eliminao de esprias do MDE por

    filtragem (Fill), obtendo-se o Modelo Digital de

    Elevao Hidrologicamente Consistente (MDEHC)

    da BRP. Posteriormente, foi aplicada a metodologia

    de delimitao automtica de bacias hidrogrficas

    descrita por Santos (2007) e Medeiros et al. (2009).

    Com base nos critrios determinados na

    legislao pertinente, as APPs foram delimitadas,em ambiente de SIG, a partir das representaes

    cartogrficas de hidrografia e do relevo, sendo este

    representado pelo MDEHC. Adotou-se a seguinte

    sequncia de procedimentos para delimitao das

    reas de preservao da BRP:

    Nos topos de morros e montanhas: as APPs foramdemarcadas a partir do MDEHC, utilizando-se o programa SPRING (MNT - Extrao de

    Topos), pela categoria numrica ativa e pelaindicao de uma categoria temtica para geraoda delimitao. Adotou-se o modelo grade,indicando os valores de cota mais alto e maisbaixo da elevao, sendo a delimitao referenteao tero superior dos referidos topos, geradaautomaticamente pelo sistema (Cmara et al.,1996);

    Nas encostas com declividade superior a 45: apartir do MDEHC, gerou-se o mapa de declividadeda bacia no ArcGIS, em graus, e selecionaram-se

    as referidas reas utilizando a ferramenta RasterCalculator; Nas margens dos cursos dgua: gerou-se no

    ArcGIS um Buffera partir do arquivo vetorial comos cursos dgua da BRP. Considerando-se quetodos os cursos dgua da bacia possuem largurainferior a 10 m, adotou-se a largura de 30 m parao Buffer, para cada lado;

    Ao redor de nascentes: as APPs foram delimitadasa partir da criao de um arquivo vetorialde pontos, o qual foi editado utilizando-se a

    ferramenta Edit, com auxlio da opo Snapping,visando a selecionar as extremidades das linhas dehidrografia com cotas mais elevadas, nas quais selocalizam as nascentes. A partir da identificaopontual das nascentes, gerou-se um Bufferde 50m de raio para todos os pontos (Santos, 2007);

    APP total: determinada a partir da juno detodos os polgonos, obtidos pelos diferentescritrios anteriormente descritos, utilizando orecurso Dissolve do ArcGIS. Tal procedimentopossibilitou a delimitao e a mensurao de toda

    a rea prevista para preservao, com exclusodas eventuais sobreposies espaciais de APPsna sub-bacia.

    A partir dos arquivos vetoriais obtidos com o

    mapeamento das APPs e das classes de uso da terra

    na sub-bacia, procedeu-se ao cruzamento de tais

    informaes (mapas temticos) no ArcGIS, visando a

    avaliar a situao das APPs, com relao s possveis

    ocorrncias de conflito de uso dessas reas.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Na Figura 2, apresenta-se a distribuio espacial

    dos tipos de uso da terra na sub-bacia hidrogrfica

    do Rio da Prata, obtida a partir da digitalizao

    das feies identificadas nas fotografias areas

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    Usos da Terra e reas de Preservao Permanente...

    (fotointerpretao). A situao atual do uso da terra

    na sub-bacia, conforme apresentado na Figura 2,resultou do desmatamento da Mata Atlntica para

    expanso da fronteira agropecuria, muitas vezes em

    reas que, sob o ponto de vista ambiental, deveriam

    ser destinadas preservao.

    Entretanto, ressalta-se que grande parte dos

    desmatamentos ocorreu antes da aprovao do

    Cdigo Florestal de 1965. De acordo com Campos

    Jnior (1996), as lavouras de caf cresceram

    significativamente at 1897; mas, em funo da

    crise do caf (1910-1964), foram gradativamentesubstitudas por pastagens. Coutinho e Sampaio

    (2007) avaliaram a situao da vegetao na Bacia do

    Rio Itapemirim entre os anos de 1977 e 2006, a partir

    do tratamento de imagens orbitais, concluindo que

    61% da vegetao nativa da rea havia sido suprimida

    at o auge da crise do caf (1964) e que 20,81% foram

    suprimidos durante o perodo analisado, via imagensorbitais.

    Adicionalmente, na Tabela 1, encontram-se os

    valores de rea e a porcentagem das classes de uso

    da terra na BRP. Observa-se que h predominncia

    de uso da terra com pastagens (30,63%), incluindo as

    reas limpas e sujas, seguidas de atividades agrcolas

    (30,21%), incluindo as culturas permanentes e

    temporrias. Margens de rios, que deveriam ser

    destinas preservao, encontram-se ocupadas poragropecuria. Os remanescentes de vegetao nativa

    (floresta e vegetao rupestre) se encontram em reas

    de difcil acesso ou de solos rasos. Pode-se observar,

    ainda, certo equilbrio entre as reas utilizadas com

    atividades agrcolas e pecurias na sub-bacia.

    Figura 2.Distribuio espacial dos tipos de uso da terra na sub-bacia hidrogrfica do Rio da Prata, municpio deCastelo, Estado do Esprito Santo.Figure 2.Spatial distribution of the types of land use at Prata River watershed, Castelo county, Esprito Santo state,Brazil.

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    As classes referentes a afloramento rochoso, reaurbana (edificaes) e solo exposto foram as queapresentaram as menores reas de ocupao na BRP,em ordem decrescente, totalizando apenas 2,31% desua rea total.

    Louzada et al. (2009), avaliando uma sub-baciahidrogrfica vizinha, referente ao Ribeiro Estrelado Norte, localizada nos municpios de Castelo

    e Cachoeiro de Itapemirim- ES, verificaram que33,10% da rea total era utilizada com pastagem e12,40%, com culturas agrcolas. J Nascimento et al.(2005), avaliando a sub-bacia do Rio Alegre, emAlegre-ES, localizada na mesma macrorregio desteestado, constataram que 68,52% da rea era ocupadapor pastagens, incluindo pastagem suja, e que 11,52%eram utilizados com atividades agrcolas, incluindoas reas com cafeicultura. Pode-se observar, portanto,que as reas utilizadas com agricultura e pecuria

    podem apresentar diferenas expressivas, mesmo emmunicpios prximos, devidas s aptides e tradiesde uso da terra, dentre outros fatores.

    A Macrorregio Sul do Estado do Esprito Santopassou pelo processo de supresso da vegetaonatural pelas atividades antrpicas, motivo pelo qualh predominncia de uso e ocupao do solo comatividades agropecurias, representado cerca de 60%da rea total da BRP. Entretanto, esta proporo podeapresentar variaes expressivas como, por exemplo,

    nas sub-bacias estudadas por Louzada et al. (2009)e Nascimento et al. (2005), com aproximadamente45% e 80% de suas reas ocupadas pela agropecuria,respectivamente.

    Com relao cobertura florestal nativa, aBRP apresenta 36,85% de sua rea preservada,

    incluindo vegetao rupestre. Louzada et al. (2009)e Nascimento et al. (2005), nos estudos supracitados,verificaram que 41,17% e 16,16% da cobertura

    florestal das sub-bacias avaliadas encontra-sepreservada, incluindo as vegetaes denominadas deintermediria e capoeira, respectivamente.

    A partir de procedimentos automatizados,utilizando tcnicas de SIG, foram delimitadas equantificadas as APPs na BRP. Na Figura 3, ilustra-se a distribuio espacial de todas as APPs, obtidaspela fuso das diferentes categorias consideradas nopresente estudo.

    De forma complementar, as reas de cada tipo

    de APP com eventuais sobreposies de diferentes

    tipos de APP na mesma rea e o total geral so

    apresentados na Tabela 2. Pode-se observar que a

    APP predominante refere-se s reas com declividade

    superior a 45, seguidas dos topos de morros e

    montanhas, margens dos cursos dgua e ao redor

    de nascentes. Louzada et al. (2009) e Eugenio et al.

    (2011), estes analisando as APPs de todo o municpio

    de Alegre-ES, obtiveram maior proporo de APPs

    na categoria topos de morro (23,53% e 30,69%,respectivamente), seguidos de margens de cursos

    dgua (15,93% e 12,30%, respectivamente). No

    presente estudo, obteve-se maior proporo de APPs

    em encostas com declividade superior a 45 devido

    ao fato de a BRP possuir relevo mais montanhoso.

    Coutinho (2010) simulou as perdas de solo por

    eroso hdrica (ton/ha/ano) na BRP a partir da

    adequao da Equao Universal de Perdas de Solo

    (EUPS), em ambiente de SIG. Foram identificados

    valores de mdia (85,43) e mxima (3.817,55),

    em condies de uso real do solo e com respeito

    s APPs (mdia: 27,50 e mxima: 996,86). Tais

    dados expressam a importncia das APPs e de sua

    respectiva vegetao, para a qualidade dos solos e a

    produo de gua em bacias hidrogrficas.

    Como se pode observar, 55,48% da rea total

    da BRP considerada APP, de acordo com os

    critrios estabelecidos no Cdigo Florestal vigente.

    Esta proporo ligeiramente superior aos valoresencontrados por Louzada et al. (2009) e Eugenio et al.

    (2011), de 41,12% e 43,5%, respectivamente. A

    quantidade total de APPs em uma regio, bem

    como a distribuio de seus diversos tipos, depende,

    alm do relevo, da disponibilidade de mananciais

    Tabela 1. Uso da terra na sub-bacia hidrogrfica dorio da Prata, municpio de Castelo, Estado do EspritoSanto.Table 1. Land use at Prata river watershed, Castelocounty, Esprito Santo state, Brazil.

    Classe rea (km) rea (%)

    Afloramento rochoso 1,55 1,18

    Cultura permanente 36,05 27,26

    Cultura temporria 3,84 2,95

    rea urbana 0,86 0,61

    Floresta 32,60 24,68

    Pastagem limpa 31,66 24,01

    Pastagem suja 8,80 6,62

    Solo exposto 0,72 0,52

    Vegetao rupestre 16,20 12,17

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    Usos da Terra e reas de Preservao Permanente...

    hdricos existentes, como cursos dgua e nascentes.

    A combinao destes fatores favoreceu a ocorrnciade uma maior proporo de APPs na BRP.

    Somando-se as APPs com a rea mnima

    obrigatria da Reserva Legal nesta regio do Pas

    (20%), chega-se expressiva proporo de 75,58%

    da rea total da BRP que deve ser preservada com

    a manuteno da cobertura florestal. Assim, a rea

    passvel de utilizao para execuo de atividades

    produtivas expressivamente reduzida, sendo

    inferior a 25% da rea total da sub-bacia. Este fatopode dificultar o cumprimento das funes social e

    econmica das propriedades rurais, no contexto do

    desenvolvimento sustentvel.

    A partir do cruzamento das informaescontidas nas Figuras 2 e 3, referentes distribuio

    espacial das classes de uso da terra e das APPs naBRP, respectivamente, obteve-se o mapa temticoapresentado na Figura 4. Por meio desta anliseespacial, constatou-se que apenas 49,60% das

    Figura 3.Distribuio espacial das reas de Preservao Permanente (APPs) na sub-bacia hidrogrfica do RioPrata, municpio de Castelo, Estado do Esprito Santo.Figure 3.Spatial distribution of the Permanent Preservation Areas (APPs) in the Prata river watershed, Castelocounty, Esprito Santo state, Brazil.

    Tabela 2.reas de Preservao Permanentes (APPs) da

    sub-bacia hidrogrfica do Rio da Prata, municpio deCastelo, Estado do Esprito Santo.Table 2.Permanent Preservation Areas (APPs) in thePrata river watershed, Castelo county, Esprito Santostate, Brazil.

    APPs rea total

    (km)rea total

    (%)

    Ao redor de nascentes 1,65 1,25

    Margens de cursos dgua 16,95 12,81

    Topos de morro e montanhas 21,65 16,37

    reas com declividade > 45 49,06 37,09

    APP total (sem sobreposies) 73,39 55,48

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    Coutinho LM, Zanetti SS, Ceclio RA, Garcia GO, Xavier AC

    APPs esto sendo realmente preservadas com amanuteno da cobertura florestal nativa ou com

    superfcie rochosa. Ou seja, 50,40% das APPs da sub-bacia esto sendo utilizadas para fins econmicos ouocupacionais, contrariando a legislao ambiental.Destas, as atividades agrcolas permanentese temporrias ocupam 27,07%, seguidas daspastagens limpas e sujas , com ocupao de22,52%. As reas de solo exposto e zona urbanapossuem as menores taxas de ocupao, em ordemdecrescente.

    De acordo com a Resoluo n. 303 do CONAMA

    (Brasil, 2002), as APPs integram o desenvolvimentosustentvel, objetivo das presentes e futuras geraes,sendo instrumentos de relevante interesse ambiental.Nesse contexto, a utilizao de aproximadamentemetade das APPs com atividades agropecurias naBRP, conforme apresentado na Figura 4, pode serum fator de comprometimento do uso sustentvel

    da gua e do solo, principalmente ao se considerar

    a dependncia da agropecuria pela disponibilidade

    quantitativa e qualitativa destes recursos.De acordo com Silva (2006), parte das

    dificuldades existentes sobre a real preservao

    das APPs se deve ao fato de a legislao ambientalutilizar os mesmos critrios para todo o Pas, quando

    se sabe que os ecossistemas brasileiros so muito

    diferentes, variando de regio para regio, inclusivecom variaes expressivas no relevo. Alm disso, a

    legislao no faz nenhuma distino das APPs emrelao rea urbana e ao meio rural, que, tambm,

    constituem realidades e usos diferentes. Por isso,tais reas devem ser tratadas de forma diferente,sob pena de continuarmos assistindo degradao

    ambiental em detrimento de uma lei que no seaplica concretamente, pois diverge dos fatos e da

    realidade nacional.

    Figura 4.Uso da terra nas reas de Preservao Permanentes (APPs) da sub-bacia hidrogrfica do Rio da Prata,municpio de Castelo, Estado do Esprito Santo.Figure 4.Land use in the Permanent Preservation Areas (APPs) of Prata river watershed, Castelo county, EspritoSanto state, Brazil.

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    Usos da Terra e reas de Preservao Permanente...

    4. CONCLUSES

    A principal forma de uso da terra na BRP

    refere-se agropecuria, ocupando 60,84% da

    rea total, sendo composta pela agricultura, com

    ocupao de 30,21%, e pela pecuria, com 30,63%.

    A rea preservada com Mata Atlntica nativa de

    36,85%. Os demais tipos de uso apresentaram reas

    relativamente inexpressivas.

    As APPs representam 55,48% da rea total da BRP,

    de acordo com os critrios estabelecidos no Cdigo

    Florestal vigente. As categorias predominantes nasub-bacia, em ordem decrescente, so as reas com

    declividade superior a 45, seguidas dos topos de

    morros e montanhas, das margens dos cursos dgua

    e ao redor de nascentes.

    A maior parte das APPs da BRP (50,40%) est

    sendo utilizada com finalidades econmicas ou

    ocupacionais. Nesse aspecto, as atividades agrcolas

    so as mais expressivas, utilizando 27,07% das APPs,

    seguidas da pecuria, com ocupao de 22,52%.

    Com base na legislao ambiental vigente, a

    maior parcela das APPs da Bacia do Rio da Prata

    utilizada de forma indevida. Faz-se necessria a

    adoo de medidas reguladoras das atuais formas de

    uso e ocupao da terra, pois a falta de preservao

    dessas reas pode surtir efeitos negativos sobre os

    recursos naturais. Espera-se que os procedimentos

    de delimitao e avaliao de APPs, em ambiente deSIG, possam nortear as demais formas de aplicao.

    STATUS DA SUBMISSO

    Recebido: 23/07/2012Aceito: 09/10/2013Publicado: 31/12/2013

    AUTORES PARA CORRESPONDNCIA

    Luciano Melo CoutinhoCurso de Cincias Biolgicas, CentroUniversitrio So Camilo-ES, CEP 29304-910,Cachoeiro de Itapemirim, ES, Brasile-mail: [email protected]

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