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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO SARA MARTHA DICK AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SECUNDÁRIO NA BAHIA O LICEU PROVINCIAL 1860-1890 SALVADOR 2001

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAO DOUTORADO EM EDUCAO

    SARA MARTHA DICK

    AS POLTICAS PBLICAS PARA O ENSINO SECUNDRIO NA BAHIA

    O LICEU PROVINCIAL

    1860-1890

    SALVADOR

    2001

  • 2

    SARA MARTHA DICK

    AS POLTICAS PBLICAS PARA O ENSINO SECUNDRIO NA BAHIA

    LICEU PROVINCIAL 1860 - 1890

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia , como requisito parcial para obteno do grau de Doutor em Educao.

    ORIENTADOR : Prof. Dr. EDIVALDO MACHADO BOAVENTURA.

    Salvador 2001

  • 3

    Biblioteca Ansio Teixeira Faculdade de Educao - UFBA D547 Dick, Sara Martha

    As polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia: o Liceu Provincial : 1860-1890 / Sara Martha

    Dick. Salvador: S.M.Dick, 2001. .... f.

    Orientador: Edvaldo M. Boaventura Tese (doutorado) Universidade Federal da Bahia 1. Histria da educao - Bahia. 2. Ensino secundrio - 1860-1890. 3. Polticas pblicas.4. Liceu Provincial da Bahia. I. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educao. II. Ttulo. CDD 370.981 CDU -

  • 4

    COMPOSIO DA BANCA:

    Prof.Dr. Edivaldo Machado Boaventura Orientador

    Prof.Dr. LUis Henrique Dias Tavares

    Prof.Dr Marli Geralda Teixeira

    Prof. Luis Felippe Perret Serpa

    Prof Jacy Mesezes

  • 5

    Pra as duas pessoas que mais amo.

    Paulo, companheiro e amigo de todos momentos e Helena, filha querida, que ilumina e alegra nossas vidas. Em memria a meus pais, que lutaram para minha formao. A meus irmos, sempre presentes, mesmo distantes no espao.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Este trabalho produto de um conjunto de foras e estmulos para que as

    barreiras encontradas no percurso fossem ultrapassadas e superadas at a

    sua concluso.

    Em especial, meu agradecimento e admirao ao Professor Edivaldo

    Machado Boaventura, orientador do trabalho , que com sua disponibilidade

    no atendimento , incentivou, , acompanhou e apontou para os caminhos

    possveis a serem trilhados, no medindo esforos para a concluso da

    pesquisa.

    Aos professores do Programa de Ps-graduao , particularmente no

    desenvolvimento da atividade Projeto de Tese , que participaram auxiliando

    nas discusses em diversos momentos da produo , contribuindo tambm

    para o entendimento deste processo de conhecimento.

    Para as estagirias, poca alunas, Adriana Costa e Vera Lcia

    Genipapeiro da Silva, meu reconhecimento pela aplicao com que

    ajudaram na coleta dos dados e nas discusses decorrentes de tais leituras.

    Aos colegas do Departamento de Educao I da Faculdade de Educao da

    Universidade Federal da Bahia , pela compreenso durante o perodo de

    elaborao desta tese.

  • 7

    Em especial a amizade da Professora Antonia Cal , compreendendo e

    comentando os diversos momentos da elaborao do trabalho; a Professora

    Dora Leal Rosa pelos esclarecimentos , sempre pertinentes , aos procedimentos

    para a composio do texto ; a Professora Izabel Maria Villela Costa , que se

    disps gentilmente a ler a primeira verso desta tese, com valiosas

    contribuies.

    Muitos foram os funcionrios de Instituies que colaboraram decisivamente na

    coleta dos dados . A todos do Arquivo Pblico do Estado da Bahia , que sempre

    gentis cooperaram para que a coleta de dados fosse realizada . Particularmente

    a todos do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, onde os mais raros e

    valiosos documentos puderam ser localizados , sempre com presteza e

    simpatia.

    Por fim, mas no menos importante , a valiosa contribuio da Professora Dilza

    Atta que desde o Mestrado contribuiu com doao de material importante para o

    desenvolvimento do trabalho, alm de efetuar a reviso do presente texto.

  • 8

    S existir democracia no Brasil no dia em que se montar no pas

    a mquina que prepara as democracias. Essa mquina a escola pblica.

    Ansio Teixeira

  • 9

    SUMRIO I. Introduo 15 1. O Tema - problema 2. Justificativa 3. Objetivos 4. Organizao do Trabalho II. Fundamentos Tericos Metodolgicos 30 1 - A Concepo de Histria 2 - A Anlise Histrica 3 - Procedimentos Metodolgicos

    III. Tentativa de sistematizao da Educao Baiana :

    O Regulamento Orgnico 67 1. Condies Histricas do perodo

    2. O ensino secundrio em discusso e o Regulamento Orgnico 3. Crticas ao Regulamento e o ensino particular 4. Divergncias na Conduo das polticas e nova reforma

    IV. A desagregao do Imprio e as conseqncias para o ensino secundrio baiano 91 1. Reforma de 1870 Crticas ao Regulamento Orgnico 2. Caractersticas da Reforma 3. A Reforma de 1870 e os Exames Preparatrios 4. A preparao e Reforma de 1873 5. O funcionamento de escolas particulares na Reforma de 1873 6. O carter centralizador do Regulamento de 1875 7. Primeira Conferncia Pedaggica Baiana 8. Principais temas para os mesmos problemas

  • 10

    V. O final do Imprio e o ensino secundrio baiano 158

    1. Caractersticas gerais do perodo 2. Reforma Lencio Carvalho - influncias na provncia 3. Novo Regulamento do Ensino 1881 4. Ensino pblico, gratuito e obrigatrio e a fuga para o ensino

    particular 5. O Liceu , o ensino profissional e o ensino feminino 6. A inconstncia poltica , dificuldades financeiras e o ensino

    secundrio 7. Exames preparatrios na provncia 8. A legislao de 1888 e a Instruo pblica

    9. Reforma de 1890: entra em cena o Instituto Official de Ensino

    Secundrio

    VI. Consideraes Finais 229 Anexos 250 Fontes Impressas 267

    Referncias Bibliogrficas 268

  • 11

    RESUMO

    Este trabalho visa estudar o desenvolvimento das polticas publicas para o

    ensino secundrio durante o sculo XIX , na Provncia Bahia, compreendendo

    as trs ltimas dcadas do Imprio , tendo como referencial as aes

    empreendidas no Liceu Provincial da Bahia , que at o perodo Republicano ,

    foi a nica instituio para esta modalidade de ensino.

    O marco inicial da pesquisa foi o Regulamento Orgnico de 1860 , disciplinado

    em 1862, a primeira tentativa de organizao do ensino secundrio baiano. O

    perodo considerado como aquele em que o Estado brasileiro est em

    processo de consolidao, o que explicaria as iniciativas em relao a

    polticas publicas para o ensino secundrio na provncia.

    A partir da referncia do Regulamento Orgnico de 1860/1862, passamos a

    compreender o estudo em trs momentos, sendo o primeiro relativo aos anos

    60, que consideramos como perodo de tentativa de sistematizao das

    polticas pblicas para o ensino secundrio baiano. O segundo momento ,

    relativo ao incio do perodo considerado como de desagregao do Estado

    Monrquico e, para o ensino secundrio implicando em sucessivas reformas,

    que antes mesmo de implantadas j eram substitudas, tendo em vista a

    instabilidade poltica , provocando a mudana constante dos dirigentes da

    provncia. O terceiro momento , diz respeito aos anos finais do imprio, com as

    inquietaes prprias do perodo como a abolio da escravatura, o ensino

    pblico, gratuito, obrigatrio e misto , que interferiram diretamente na

    conduo das polticas para o ensino na provncia.

  • 12

    A anlise partiu basicamente de fontes primrias, obtidas a partir das Falas

    dos presidentes da provncia, dos Relatrios de Diretores do Liceu Provincial e

    Diretor Geral de Estudos.

    Analisando polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo

    XIX , tendo como expresso de tais aes pblicas o Liceu Provincial ,

    consideramos como envolvendo a prpria consolidao do Estado brasileiro

    na segunda metade do sculo , sua poltica para a educao e as posies

    assumidas pela Bahia, assim como o processo de desagregao da

    Monarquia. Entretanto , ao buscar no Liceu Provincial, em Salvador, a

    expresso destas polticas , no assumimos a postura de uma anlise da

    histria daquele estabelecimento de ensino , mas sim, a compreenso de

    como tais polticas se evidenciaram na prtica , combinando a discusso de

    caminhos metodolgicos concepo de Histria adotada como processual ,

    dinmica em constante movimento.

  • 13

    ABSTRAT

    This paper aims to present an extensive study on the public procedures

    development of High Schools, during the 19th Century in the "Provincia da

    Bahia" (Bahia's County). Our research will particularly focus on the "Liceu

    Provincial da Bahia", covering the activities and measures of this institution

    over the last three decades of the Empire, taking in account that this was the

    first and only organization for that sort of teaching, that took place until the

    Republican period.

    This study grants special attention to the educational reform of 1860, (actually

    taken in effect in 1862), as the first action to organize the teaching system for

    High Schools in Bahia. We should bear in mind, that during this period, Brazil

    was facing a consolidation process in several other internal political matters,

    which were later responsible for the High Schools public procedures

    improvements. Starting with the Educational Reform of 1860/1862, the

    research was divided in three different periods of time: The first one being the

    60's, that we consider as the one in which several actions were taken in order

    to organize the teaching system in Bahia; the second relates to the "falling

    apart" of the Monarchy regime, when several reforms were intended for the

    teaching methods, but none were actually effected, due to the political

    instability and the continuous changing of the authorities in the county, and

    finally, the third as being the last years of the Empire involving all the changes

    and typical issues that concerned that particular time, such as the slavery

    abolition, the right to have a good and free educational system for all society,

    the policies of mandatory class attendance in mixed schools (male and

    female), that definitely had a great impact on how those teaching policies

    were conducted.

  • 14

    The research used basically primary sources of information, such as

    speeches of the County's Presidents, reports from the Principals of the "Liceu

    Provincial" and from the Education General Director.

    Analyzing public policies for the high school system in the 19th century in

    Bahia, mainly through the "Liceu Provincial" as our main source, we took into

    consideration the consolidation process of the Brazilian State in the second

    half of the century, its Educational policies, as well as, the "falling apart"

    process of the Monarchy. Nevertheless, in choosing the "Liceu Provincial" in

    Salvador as the expression of those educational policies, we were not

    interested in the history of that particular institution, but in understanding how

    those educational ideas were brought into reality, discussing methodological

    ways along with the concept of History as a dynamic process in continuous

    movement.

  • 15

    I - INTRODUO Esta pesquisa busca o estudo das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia. O interesse pelo tema desenvolveu-se a partir do

    estudo realizado durante a elaborao da Dissertao de Mestrado, que

    analisou a origem dessas polticas formuladas no sculo XIX.

    O tema passou a representar um desafio maior , ao constatarmos a imensa

    lacuna existente , tanto na Histria da Educao brasileira como, em

    particular, na Histria da Educao baiana , quanto aos estudos do sculo

    XIX.

    Para o ensino secundrio, esse estudo fundamental, pois foi no sculo XIX

    que as polticas pblicas tiveram origem e se desenvolveram.

    Decidimos, assim, enfrentar o desafio para tentar deslindar as condies em

    que tais polticas foram geradas.

    Cabe destacar que a grande questo colocada durante todo o Imprio (e,

    qui, contemporaneamente), era o que se pretendia com tal ensino:

    profissionalizar ou preparar para o ensino superior?

  • 16

    1 - O TEMA - PROBLEMA

    A origem das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, j

    trabalhadas em pesquisa anterior, est inserida em um processo conturbado

    do ponto de vista poltico, econmico e social, durante o perodo regencial.

    Assim, est imersa no processo de formao do Estado brasileiro, carregado

    de caractersticas que se agravam com a crise econmica, as tenses

    sociais e revoltas do perodo, sempre em um clima de instabilidade poltica e

    econmica, fome, misria e epidemias como a febre amarela e o clera.

    No curso desse processo de anlise, de que resultou a elaborao da

    Dissertao de Mestrado, podemos distinguir duas fases distintas, a seguir

    caracterizadas.

    A fase inicial corresponde primeira metade do sculo XIX, sendo aquela

    em que as tenses sociais so aguadas, em decorrncia da crise

    econmica, alm da agitao social prpria do processo de formao do

    Estado brasileiro.

    Nesse primeiro momento, encontramos as elites dominantes divididas entre

    brasileiros e portugueses. Por outro lado, estas mesmas elites opem-se s

    camadas dominadas. Durante todo esse perodo, em que , inclusive, nos

    deparamos com a instalao do Liceu Provincial da Bahia em 1836, o

    ensino secundrio encontrava-se desorganizado, podendo ser considerada

    essa fase como a da origem das polticas pblicas para o ensino secundrio.

  • 17

    O Liceu Provincial, que foi institudo para reunir as chamadas cadeiras

    maiores, dispersas por toda a provncia, centralizando,assim, em uma

    nica instituio, o ensino secundrio, no chegou a atingir esse objetivo.

    No s continuaram existindo as cadeiras isoladas, assim como o aluno

    poderia matricular-se por disciplina, estando desobrigado de cursar as 13

    cadeiras oferecidas.

    O momento seguinte corresponde parte da segunda metade do sculo,

    mais precisamente entre os anos 50 e 60. Ento, os problemas econmicos

    no foram resolvidos, pelo contrrio, at se agravaram, mas com uma

    recomposio das camadas dominantes, que passaram a exercer uma

    represso maior contra os movimentos populares, ocasionando uma reduo

    das revoltas, sem que, no entanto, desaparecessem os conflitos.

    Esse perodo expressa uma maior sistematizao da poltica pblica para o

    ensino secundrio ou, pelo menos, uma tentativa de sistematizao,

    resultando no primeiro Regulamento Orgnico para o ensino, editado em

    1860 , porm disciplinado em 1862.

    No ensino secundrio, a expresso de tal situao foi o esvaziamento do

    Liceu com a fuga dos alunos para o ensino particular, que credenciava para

    o ingresso s Academias, o que no ocorria com os estudos no Liceu.

    Durante essa fase, as discusses presentes nas Falas presidenciais e

    Relatrios sobre a instruo pblica do conta de preocupaes como

    centralizar ou descentralizar a administrao do ensino, com vitria das idias

    centralizadoras e a criao do cargo de Diretor Geral de Estudos, que

    substituiu o Conselho de Instruo Pblica existente anteriormente; ensino

    pblico gratuito ou ensino pago, para selecionar mais o tipo de pessoas a

    freqentarem o Liceu; ensino propedutico ou um ensino mais prtico

  • 18

    como preparao para a vida e, at mesmo , idias que j pregavam a

    necessidade de nacionalizao do ensino.

    Em relao ao Liceu Provincial, podemos dizer que, segundo seus objetivos,

    deveria conferir um ensino secundrio, at certo ponto terminal, isto ,

    habilitando as camadas intermedirias a ingressarem diretamente no

    mercado de trabalho, na maioria das vezes, em funes pblicas, Todavia,

    acabava sendo um curso pretensamente preparatrio para o ensino superior,

    sem, no entanto, habilitar para o seu ingresso. Nessa contradio,

    percebemos que o Liceu Provincial , procurando ter um curso para

    profissionalizar, a fim de atender formao de uma burocracia estatal, tem

    um currculo propedutico, no conseguindo ser nem uma coisa nem outra.

    Da o porqu da fuga de matrculas para o ensino particular, que era

    claramente propedutico e habilitava para o ingresso no ensino superior,

    enquanto o Liceu sequer conseguia que seus poucos alunos fossem

    absorvidos pelo mercado de trabalho.

    Ao continuarmos nossa pesquisa, agora complementando e analisando os

    dados referentes s dcadas de 60 a 90, do sculo XIX, podemos distinguir

    uma terceira fase para o estudo das polticas pblicas para o ensino

    secundrio na Bahia.

    Assim, passamos a considerar essa terceira fase correspondente s

    dcadas finais do Imprio , abrangendo os anos 60 a 90 esse ltimo j

    republicano, persistindo os problemas polticos e agravando-se a crise

    econmica no Nordeste. Do ponto de vista educacional, essa situao se

    expressa nas diversas reformas educacionais e na proliferao das escolas

    particulares.

  • 19

    A partir do Regulamento Orgnico de 1860/62 at a Reforma de 1870 , as

    discusses sobre o ensino secundrio na Bahia continuam sendo em torno de

    questes como : a evaso para o ensino particular, incrementada com a

    criao e afirmao de escolas particulares de peso como o Ginsio Baiano -

    dirigido pelo ex-Diretor Geral de Estudos Ablio Csar Borges; as possveis

    distores da Reforma de 1860 e a necessidade de reformular o ensino na

    Provncia; a permanncia do no credenciamento dos alunos do Liceu ao

    ingresso nas Academias e a importncia de serem realizados e aceitos os

    exames preparatrios na provncia baiana; e at a proposta de extino do

    Liceu Provincial da Bahia.

    Os anos de 1860 a 1870 indicam, tambm, a derrocada do Imprio,

    marcada por uma instabilidade poltica e econmica, sobretudo em relao

    ao Nordeste, considerado por Ktia Mattoso como o perodo da

    desagregao da Monarquia. Na educao baiana dos anos 60, h uma

    tnue tentativa de sistematizao, com o Regulamento Orgnico de 1860/62,

    mas que no foi concretizada na prtica.

    Na dcada de 70, intensificou-se o deslocamento do eixo econmico do

    Nordeste aucareiro decadente para o Centro-Sul cafeicultor, promissor com

    certo surto industrial. Subjacentemente , esto os enfrentamentos questo

    da escravido e introduo da mo- de - obra imigrante na lavoura cafeeira

    no Centro - Sul do pas; as novas tendncias polticas, com destaque para

    o positivismo de Comte e as idias republicanas, representadas pelo

    movimento poltico de It.

  • 20

    Durante esse perodo, afirmam-se as influncias das idias importadas

    como o liberalismo , do qual o Manifesto Liberal de 1868 uma expresso e

    cuja crena bsica residia no sentido de elevar o Brasil s transformaes

    que vinham ocorrendo, principalmente na Europa , no final do sculo XIX , ou

    mesmo a criao do Partido Republicano em 1870. Tal postura implicou na

    proposta de reformas das instituies existentes, em todos os sentidos,

    sempre a partir de modelos importados e no com base na realidade

    brasileira.

    Essa ebulio poltica e econmica era expressa na educao brasileira,

    atravs de uma srie de reformas ocorridas fundamentalmente a partir da

    Crte (como a reforma de Lencio Carvalho), com repercusso em todo o

    pas, indicando a nova face que ia assumindo, aos poucos, o Estado

    brasileiro, com imensas disparidades regionais.

    Para a educao baiana, especialmente no que diz respeito s polticas

    pblicas para o ensino secundrio, tal situao se expressava nas propostas

    de reforma do ensino que, efetivamente, passaram a ocorrer a partir de

    1870, seguida de reformulaes e regulamentaes em 1873 , 1875 e

    1881 , at a Reforma de 1890 , j no Brasil Republicano.

    Podemos considerar esse perodo como uma terceira fase para a

    compreenso das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do

    sculo XIX que, a partir do advento da Repblica. assumiu caractersticas

    especficas.

  • 21

    De tais caractersticas, uma, que deve ser destacada dos levantamentos

    realizados , diz respeito ao fato de que, tanto a Reforma de 1860 quanto a de

    1870 passaram a ser discutidas e criticadas mesmo antes que os seus

    dispositivos fossem aplicados ou at mesmo regulamentados , sendo

    superados no tempo. No entanto, apesar de incompletas na sua aplicao,

    buscaram-se novas reformulaes, implicando em uma instabilidade de

    aes, dificultando qualquer anlise sobre seus resultados.

    Pretendemos, assim, atravs desta pesquisa, aprofundar os estudos

    para melhor compreenso das polticas pblicas para o ensino secundrio

    na Bahia, durante o Imprio, acrescentando s duas fases j analisadas

    na dissertao de Mestrado, uma terceira fase que, acreditamos, compe

    a periodizao da histria da educao na Bahia, aprofundando a

    concepo terica de uma anlise que possa contribuir para a composio

    do quadro historiogrfico - to lacunar - da educao baiana do

    perodo. Ao mesmo tempo, consideramos de fundamental importncia

    superar as vises que analisam a educao apenas com base na

    histria poltica do pas, passando a construir e a adotar uma

    periodizao prpria para a histria da educao baiana.

    Buscamos compreender as polticas pblicas para o ensino secundrio na

    provncia baiana , durante o Imprio. Acreditamos que o perodo delimitado

    1860 a 1890 compe uma nova fase para o ensino secundrio da Bahia,

    que denominamos de terceira fase , uma vez que os perodos que a

    precedem , j foram analisados em pesquisa anterior.

  • 22

    Nossa proposta no visa discutir a histria do Liceu Provincial , ou discutir

    dentro de uma cronologia , os acontecimentos naquele estabelecimento de

    ensino. Entretanto, foi o Liceu, desde a sua instalao , em 1836 , at as

    primeiras dcadas da Repblica, a nica instituio pblica de ensino

    secundrio . Assim , qualquer ao dos poderes pblicos em relao a essa

    modalidade de ensino, teria que recair necessariamente sobre o Liceu

    Provincial da Bahia , que passou a ser nosso referencial na busca da

    compreenso de como os poderes pblicos constitudos pretendiam conduzir

    os estudos denominados secundrios.

  • 23

    2 JUSTIFICATIVA

    Procurando dar continuidade a pesquisa j realizada anteriormente,

    buscamos a anlise das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia,

    na segunda metade do sculo XIX.

    Na pesquisa j desenvolvida , estudamos o processo histrico que gerou e

    desenvolveu o conjunto de aes pblicas para a educao na Bahia, no

    sculo XIX. Nosso objetivo, naquele momento , era a anlise da origem das

    polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, sendo o Liceu

    Provincial a instituio que expressava a concretizao de tais polticas

    pblicas.

    A poltica pblica para o ensino secundrio na Bahia, no sculo XIX, era

    expressa no Liceu Provincial (que em 1890 passou a denominar-se Instituto

    Oficial de Ensino Secundrio; em 1895 , Ginsio da Bahia e, em 1942,

    Colgio da Bahia), e que, por muito tempo, foi a nica instituio oficial para o

    ensino secundrio na Bahia.

    Para atingirmos nosso objetivo central na elaborao da dissertao de

    mestrado , delimitamos o perodo da pesquisa entre o ano da criao do

    Liceu Provincial - 1836 e o ano da edio do primeiro Regulamento Orgnico

    para a educao na Bahia - 1860. As iniciativas pblicas quanto educao

    no Brasil datam da mesma poca, como o caso do Colgio Pedro II no Rio

    de Janeiro, vrios Liceus no Nordeste, como o Liceu Provincial da Bahia, fruto

    da pretensa descentralizao proporcionada pelo Ato Adicional de 1834.

  • 24

    No desenvolvimento da pesquisa, na realidade, partimos do processo de

    emancipao poltica do Brasil, levando em conta as caractersticas de

    formao do Estado brasileiro e sua expresso nas polticas pblicas para a

    educao, sobretudo no que diz respeito ao patrimonialismo, patriarcalismo e

    s influncias externas, como o liberalismo.

    Para a compreenso do movimento histrico que gerou e desenvolveu as

    polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo XIX,

    procuramos traar um quadro da economia da poca, bem como delinear a

    matriz social.

    No processo de formao do Estado brasileiro, com a anlise econmica e

    social do perodo, discutimos a educao como expresso deste quadro, a

    partir das Leis, Falas e Relatrios da poca , como principais fontes.

    Na anlise realizada, compreendemos que o perodo delimitado - 1836 a

    1860 - encerrava um momento especfico para a origem das polticas

    pblicas para o ensino secundrio na Bahia, assim como a sua afirmao

    com o Regulamento Orgnico de 1860. A partir desse perodo, as polticas

    para a educao na Bahia, como no Brasil, assumiram novas caractersticas.

    A prpria Reforma realizada na Bahia, com o Regulamento de 1860, teve

    dificuldades na sua implantao e uma vida de dez anos, apenas, pois em

    1870 uma nova Reforma veio substitu-la.

    Dos anos 60 do sculo XIX at a Proclamao da Repblica, muitas

    mudanas aconteceram no pas, com fortes interferncias na vida do

    Nordeste brasileiro, com a intensificao da lavoura de caf no Sul e Sudeste

    do pas, ao mesmo tempo em que o Nordeste, j com problemas com a

    lavoura de cana de acar, aprofunda uma crise econmica e social da qual

    no consegue levantar-se impune.

  • 25

    Assim , compreendemos que, para o estudo das polticas pblicas para o

    ensino secundrio na Bahia do sculo XIX, da maior importncia a anlise

    do perodo entre 1860 e 1890, que estamos considerando como uma outra

    fase para o ensino secundrio na Bahia

  • 26

    3 - OBJETIVOS

    GERAL

    Analisar o movimento histrico de desenvolvimento das polticas

    pblicas do ensino secundrio na Bahia , durante o final da

    Monarquia brasileira , a partir do Regulamento Orgnico de

    1860 at a Reforma na Instruo Pblica ocorrida em 1890.

    ESPECFICOS

    1 - Reconstituir a dinmica das polticas pblicas do ensino

    secundrio na Provncia da Bahia, a partir das fontes primrias

    , constitudas fundamentalmente pelas Leis , Regulamentos e

    Falas

    2 - Caracterizar o processo social do perodo em estudo, em

    especial os aspectos que dizem respeito ao Estado brasileiro em

    afirmao, expressas nas polticas pblicas do ensino secundrio

    na provncia baiana , a partir das fontes secundrias .

    3 - Desenvolver uma anlise terica em relao questo

    do processo social (totalidade) e polticas pblicas para a

    educao na provncia (parte), a partir de um referencial terico

    cujas premissas fundamentais residem na no linearidade do

    processo histrico mas na concepo da Histria como substrato para o entendimento de todo o processo.

  • 27

    4 - ORGANIZAO DO TRABALHO Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, buscamos as fontes

    primrias que pudessem dar as indicaes a respeito das polticas pblicas

    para o ensino secundrio, desenvolvidas durante o perodo de 1860 a 1890 .

    Tais fontes foram localizadas, fundamentalmente, no Arquivo Pblico do

    Estado da Bahia e no Instituto Histrico e Geogrfico da Bahia.

    A primeira etapa foi de organizao do material coletado Falas, Leis e

    Relatrios - e sua seleo; partirmos, ento, para a anlise, ao lado de

    bibliografia que trata do tema.

    A diretriz que norteou a pesquisa est explicitada no captulo 2,

    Fundamentao Terica e Metodolgica, onde discutimos a concepo de

    Histria, a partir da qual elaboramos todo o trabalho , alm de fazermos uma

    exposio a respeito da anlise histrica e suas varias faces. Nesse captulo

    tambm explicamos quais os procedimentos metodolgicos utilizados na

    pesquisa , concluindo com quadros explicativos desses procedimentos.

  • 28

    O terceiro captulo busca analisar as condies histricas do perodo

    estudado na Bahia - 1860 a 1890, destacando a dcada de 60, quando

    ocorreu uma certa tentativa de sistematizao para o ensino pblico, com o

    Regulamento Orgnico. Nesse captulo, enfocamos no s o contedo do

    Regulamento Orgnico de 1860, como tambm a legislao que definiu o seu

    funcionamento, as diversas crticas , a reivindicao de um ensino mais

    prtico. Paralelamente, tratamos da proliferao do ensino particular em face

    das deficincia do ensino pblico. E ainda nesse captulo, abordamos toda a

    discusso sobre o ensino secundrio, destacando as diversas posies

    quanto conduo das polticas pblicas, inclusive sobre a preparao de

    uma nova reforma.

    No quarto captulo, a discusso fica por conta das condies da provncia

    baiana durante o perodo de desagregao do Imprio. So anos agitados

    com as questes que abalaram esse momento histrico. Para a educao, a

    expresso da instabilidade poltica a instabilidade de aes , resultando

    disso a ocorrncia de trs reformas, a de 1870 ,a de 1873 e a de 1875. No

    final dos anos 70, vrios foram os aspectos discutidos com relao

    educao, destacando-se a liberdade de ensino, o ensino obrigatrio e o

    ensino misto.

    O quinto captulo trata dos anos finais do Imprio , marcados por grandes

    discusses, a exemplo da libertao dos escravos e da chegada ao pas da

    mo de obra imigrante, alm do desenvolvimento, cada vez maior, da

    regio Sudeste, em detrimento do Nordeste. Os anos 80 do sculo XIX so

    marcados, tambm, por questes como a gratuidade e a obrigatoriedade do

    ensino , ao mesmo tempo em que avana cada vez mais a solidificao e

    organizao do ensino particular, para onde fogem os alunos que tm

    condies de sustentar tal ensino. no final desta dcada (1890) que o

    Liceu transformado em Instituto Oficial de Ensino Secundrio da Bahia.

  • 29

    Finalmente, no sexto captulo, procuramos expressar nossas consideraes

    finais diante da documentao analisada sobre o desenvolvimento de

    polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, na segunda metade do

    sculo XIX , bem como apontar para possveis desdobramentos e

    observaes sob outros ngulos no abordados na presente pesquisa.

  • 30

    II FUNDAMENTAO TERICA METODOLGICA

    1 - A Concepo de Histria e Histria da Educao

    O desenvolvimento da pesquisa realizada parte de alguns pressupostos

    tericos bsicos , no que diz respeito concepo de Histria. H

    uma vasta discusso sobre conceitos de Histria que demandam

    explicitao, indicando os caminhos seguidos na presente pesquisa.

    As discusses em termos do significado da Histria tm um longo

    percurso e podemos, ainda na atualidade, afirmar, concordando

    com Jacques Le Goff, assim como com Ciro Flamarion, que a

    Histria sendo um processo de mudana , em constante

    transformao , poderia ser definida como uma cincia em

    construo.

    Em linhas gerais , o panorama de posies existentes at a

    formulao de tal enunciado pode ser apresentado, a partir dos

    significados que a palavra histria adquire atravs dos tempos.

    Para Hegel , o termo histria implicaria em dois sentidos: de um

    lado, histria rerum gestarum , isto , o lado subjetivo, a narrao das coisas feitas (fatos) e, de outro, o objetivo, res gestae., Isto , as coisas feitas . Esta posio implica em produes diferentes,

    com concepes opostas na Histria, a saber, o positivismo e o

    idealismo.

  • 31

    Adam Schaff (1987), buscando a anlise e o tratamento dado ao

    fato histrico, nas diferentes concepes de Histria , tipifica trs

    modelos. Ao discutir tais modelos, analisa o primeiro no qual o

    objeto do conhecimento - os fatos - atua sobre o sujeito , que

    passivo. Dentro dessa compreenso , os fatos histricos existiriam

    como uma estrutura j dada. Nesse caso, falariam por si s,

    sendo considerados como coisas feitas ( a concepo da Histria res gestae ). Assim, ao historiador somente caberia mostrar

    os fatos efetivamente como sucederam, atravs da pura e simples

    ordenao cronolgica da documentao. Desse caso, como produto,

    resulta a descrio histrica mecanicista, caracterstica da postura

    positivista.

    Em um extremo oposto, Schaff apresenta um segundo modelo , no

    qual o sujeito passa a ser preponderante sobre o objeto do

    conhecimento - no caso, os fatos histricos . Dentro dessa

    concepo, o sujeito que praticamente determina o objeto , isto , o

    historiador determina, em uma postura subjetivista, os fatos histricos

    que, nesse caso, so considerados a partir da narrao das coisas

    feitas - ( a concepo da Histria rerum gestarum ). Assim , todo

    peso empreendido ao historiador que interpreta , seleciona e narra

    os fatos. Como produto de tal posio, podemos observar uma

    subjetividade na narrao dos fatos , como na postura idealista, em

    que o fato histrico somente ganha status a partir da interpretao

    do historiador. Ainda dentro dessa viso , podemos exemplificar com a

    posio de Carr , indicando que Os fatos falam apenas quando

    o historiador os aborda: ele quem decide quais os fatos que vem

    cena e em que ordem ou contexto. (CARR,1982 :14).

  • 32

    Para esse autor, a existncia objetiva dos fatos independente da

    interpretao do historiador uma falcia.

    Rechaando as duas concepes , Schaff inclui um terceiro

    modelo, no qual h uma relao recproca entre o sujeito

    (historiador) e o objeto (fato). Nesse caso, o sujeito e o objeto esto

    em interao , existindo tanto a atividade do sujeito, quanto a

    influncia do objeto, mantendo uma existncia objetiva e real,

    atuando um sobre o outro.

    Caminhando nessa linha de anlise e avanando nas discusses, Felipe

    Serpa (1989) argumenta que essa relao recproca entre o sujeito

    e o objeto possvel, porque tanto o sujeito como o objeto esto

    submersos na Histria, no espao / tempo histrico, que se traduz

    na sua historicidade.

    Na discusso dos caminhos percorridos pelas diversas concepes da

    Histria, desde a histria linear dos fatos singulares at a histria das

    estruturas , Ciro Flamariom Cardoso indica que o eixo de preocupao

    do historiador ,ou seja, o objeto da histria, de acordo com a Escola dos

    Annales - histria nova, o homem e sua atividade, entendendo-se por

    homem no o personagem, que tanto ilustrou a histria dos heris , mas o

    homem em seu grupo social , uma histria da sociedade em movimento.

    (CARDOSO.1979:349)

    No que concerne ao estudo da Educao brasileira , interessa

    questionarmos a grande quantidade de produes que, simplesmente,

    ignoram o aspecto histrico de suas pesquisas. At mesmo entre as

    diversas tendncias do pensamento educacional, constatamos a

    caracterstica de serem , em grande parte , ahistricas.

  • 33

    Procurando discutir os aspectos dos problemas atuais da Educao

    brasileira, Nagle (1984 :23) aponta para o fato de que o estudo da

    Educao tem sido quase sempre escolar e , s recentemente, sob

    uma perspectiva histrica. Para esse autor , isso ocorre, porque

    no Brasil no h uma preocupao com a gnese ou com o

    desenvolvimento das idias . Ns acrescentaramos a esse fato, que

    uma afirmao vlida de forma geral, resultante do descaso

    com a memria histrica do pas.

    No mesmo artigo, Nagle ainda afirma que tal postura leva a

    decretar-se assim a morte do passado , mesmo do passado mais

    prximo (NAGLE.1984:23) . Da decorrem alguns problemas graves,

    assim enumerados por ele:

    no h herana intelectual no campo dos estudos histricos, o que implica, conseqentemente , em que isso se

    expresse tambm na Educao;

    especificamente com a Educao , ainda nos deparamos com outras questes interligadas quelas j discutidas ,

    como:

    a) dificuldade de localizar documentos histricos

    b) pressa em elaborar interpretaes sobre documentos

    que, muitas vezes, provocam deficincias nas anlises ou

    trabalhos relativos Histria da Educao

    grande deficincia historiogrfica.

  • 34

    No que diz respeito a esta ltima questo , Miriam Jorge Warde

    (1990:3) , afirmando que enfrentar a Histria uma tarefa

    arriscada e, em relao Histria da Educao , arriscadssima,

    realizando uma pesquisa sobre historiografia da educao

    brasileira, constatou que pouqussimos trabalhos em Educao

    recorrem Histria como mtodo de anlise.

    Aqui caberia uma outra vertente na discusso, que exatamente

    sobre a historiografia e seu significado. Do ponto de vista

    positivista, um simples conjunto sistematizado de escritos de

    Histria . J as posturas opostas no consideram a historiografia

    simplesmente como um reflexo , mas, sim , como a preocupao

    em relao natureza do que escrito.

    A pesquisa de Warde demonstra , tambm , que aqueles que se

    dedicam pesquisa histrica na educao , o fazem para

    determinados perodos, atravs de marcos consagrados da poltica.

    Assim, comum que, para alguns perodos histricos, haja uma

    grande produo, enquanto que para outros h quase um vazio

    de investigaes. o que ocorre com o sculo XIX e a

    Educao, sobretudo no que diz respeito Bahia. A ttulo de

    exemplificao , Warde indica que, aproximadamente, 80% das

    pesquisas em Histria da Educao dizem respeito fase

    republicana e, nesta, ao perodo de Vargas, sobretudo ao

    Estado Novo.(WARDE.1990)

  • 35

    Ao mesmo tempo, a forte influncia positivista na educao

    brasileira tem produzido estudos que representam descries de

    tendncias pedaggicas, em uma seqncia cronolgica e de

    acordo com os marcos a que nos referimos anteriormente.

    Essa discusso importante para destacarmos o fato de que as

    pesquisas sobre Educao no podem estar desvinculadas de

    uma concepo histrica, at porque a Educao uma forte

    expresso do processo histrico.

    A Histria da Educao e da Pedagogia ( como teoria da

    Educao ) deve ser encarada , do nosso ponto de vista,

    a partir da concepo acima exposta. Mas, tal postura pode

    ser considerada como uma tendncia recente na historiografia

    da Histria da Educao que, tanto do ponto de vista geral

    como no que diz respeito situao brasileira, no das mais

    ricas.

    Partimos do pressuposto da Histria como cincia fundamental,

    no sentido de que a compreendemos como substrato a toda

    cincia, como bem discorre Pierre Vilar , que tambm considera

    a Histria como cincia em construo, mas fundamental para

    tudo pensar historicamente .

    , portanto, com a viso de que a Histria, como cincia

    fundamental, estuda no o passado, mas a sociedade imersa

    no espao/tempo histrico e, por conseguinte, a partir da qual a

    totalidade cognoscvel, que buscamos ter a base terica

    para a nossa pesquisa.

  • 36

    O que se pretende no uma simples descrio ou exposio

    de prticas pedaggicas ou sistemas escolares ao longo do tempo

    e sim , prticas e sistemas entendidos como expresso de um

    processo mais amplo econmico, social, poltico e ideolgico, ou

    seja, compreendidos se pensados historicamente.

    Isso implica em uma preocupao no em contextualizar,

    historicamente, no caso, o Liceu Provincial, mas trabalh-lo a

    partir da perspectiva da sua historicidade. Assim, os temas

    educacionais so estudados como expresso da historicidade que

    contm. No caso do Liceu Provincial, por ser durante muito

    tempo a nica instituio pblica para o ensino secundrio na

    Bahia, ele expressa, na sua prtica, o conjunto de polticas

    pblicas estabelecidas pelos poderes constitudos para este ensino,

    indicadas tanto na sua estrutura, como no desenvolvimento de seus

    programas.

    Compreendemos, dessa maneira, que a pesquisa de Histria da

    Educao, dentro da concepo j discutida, de grande importncia

    tanto no nvel das relaes entre o Estado e a Sociedade

    como em relao prxis pedaggica expressa pelas polticas

    pblicas. Pode vir a ser, ainda, relevante para uma contribuio

    historiografia da Histria da Educao baiana, to lacunar no

    perodo estudado, desenvolvendo a preocupao no de

    contextualizar ou descrever a histria do Liceu Provincial da

    Bahia, mas entend-lo como uma expresso da historicidade do

    processo.

  • 37

    Para a concretizao da pesquisa proposta , dentro da

    concepo acima indicada, o ponto de partida foi a prpria

    legislao oficial, como Falas , Relatrios e Leis, alm de

    discursos da poca, sendo basicamente de fontes primrias,

    coletadas nos arquivos e bibliotecas pblicas . Contamos, tambm,

    com a Memria Histrica do Ensino Secundrio Official na

    Bahia , escrita pelos professores Gelsio Farias e Francisco

    Conceio Menezes , por ocasio do centenrio de fundao da

    Instituio, repleta de fatos , que do indicaes para que

    possamos compor uma anlise para o perodo estudado.

    Segundo os objetivos propostos , partimos dos resultados de

    nossa Dissertao de Mestrado , com o Regulamento Orgnico

    de 1860 , passando pela Reforma da Instruo pblica de 1870

    at a Reforma de 1890 que criou o Instituto Official do Ensino

    Secundrio da Bahia , no lugar do Liceu Provincial ,

    representando o encerramento de um perodo e o incio dos

    anos republicanos , em que as caractersticas para a educao

    baiana e brasileira j assumem novos aspectos.

    A documentao - fontes primrias - , foi analisada conjuntamente

    com as fontes secundrias que trabalham com a Histria do

    pas, durante o perodo proposto , sobretudo no que diz respeito

    aos anos finais da Monarquia e as perspectivas republicanas.

    Contamos tambm com a produo sobre a situao da Bahia no sculo XIX

  • 38

    A exemplo do que desenvolvemos na dissertao de Mestrado,

    no poderamos deixar de destacar as caractersticas marcantes

    de formao e afirmao do Estado brasileiro , como o

    patrimonialismo , presentes em todo processo , com fortes

    repercusses sobre o desenvolvimento das polticas pblicas

    para a educao , principalmente durante o perodo estudado,

    quando o ensino particular se afirma e se fortalece, percebendo-se

    que os poderes pblicos, de certa maneira, com isso compactuam

    Nesse sentido, um exemplo que bem expressa a caracterstica

    patrimonialista do Estado brasileiro pode ser vislumbrado, quando se

    analisa a composio e atuao dos governantes. Em artigo que

    discute a questo do regionalismo e a Bahia no sculo XIX,

    Consuelo Novais argumenta :

    Durante o II Imprio foi principalmente a aristocracia

    rural dos grandes proprietrios de terras que constituiu

    as elites governantes , nos nveis local e nacional ,

    assegurando a defesa de seus interesses na esfera

    poltica . (NOVAIS , 1977: 11).

  • 39

    2 A ANLISE HISTRICA

    A opo pelo estudo da educao baiana e, especificamente, do ensino

    secundrio, a partir de uma anlise histrica, visa cumprir o objetivo de

    buscar suprir o preenchimento das lacunas existentes na Histria da

    Educao baiana. O sculo XIX , para tanto , torna-se um marco decisivo ,

    visto que foi naquele momento que ocorreram algumas transformaes na

    educao brasileira e baiana, pelo menos no tocante s polticas pblicas

    empreendidas a partir do Ato Adicional de 1834 . J havendo desenvolvido a

    anlise dessas polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, na

    primeira metade do sculo, nossos marcos histricos para a presente tese de

    doutoramento passam a ser 1860 , com o Regulamento Orgnico para

    educao e, 1890 com a reforma da educao baiana , j no perodo

    republicano , dando incio a uma nova etapa para o ensino secundrio

    baiano , agora no Instituto Oficial de Ensino Secundrio.

    O desenvolvimento de uma anlise histrica da educao baiana , porm ,

    parte de caminhos e descaminhos possveis , diante da diversidade de

    propostas que envolvem tal estudo. No captulo em que desenvolvemos o

    quadro de referncias tericas , buscamos indicar os pressupostos

    metodolgicos que envolvem a presente pesquisa . Entretanto , para essa

    definio, torna-se necessrio discutir, dentro do leque de propostas

    apresentadas como anlise histrica , a nossa opo , buscando a anlise do

    processo , no caso em tela , das polticas pblicas para o ensino secundrio

    no sculo XIX , na Bahia .

  • 40

    Ao discutir a diversidade metodolgica para a anlise histrica , Virgnia

    Fontes argumenta que preciso ir alm da compreenso do senso comum

    sobre o que vem a ser o mtodo , definindo - o como um instrumento de

    trabalho que , orientado teoricamente , capaz de estabelecer homologias

    (construindo isomorfias) entre dados que , primeira vista, so dspares ,

    fazendo ressaltar o sistema que os ordena. (FONTES,1997: 355).

    Ao longo da Histria podemos distinguir a diversidade metodolgica

    assumida por correntes de pensamento. Nesse sentido, a tradio positivista

    considera o emprico como o dado concreto. Assim sendo , seu objetivo , no

    caso da anlise histrica , seria o de descrever a realidade em questo -

    o fato - , utilizando-se, para tanto , de uma metodologia capaz de

    quantificar os dados, a fim de abalizar a sua descrio. No extremo oposto ,

    o idealismo , concebendo a Histria como pura subjetividade , considera os

    documentos como o local onde esta subjetividade se concretiza , tanto no que

    diz respeito aos seus autores , como com a interpretao feita pelos

    historiadores.

    Descartando-se as duas vertentes mencionadas , podemos dizer que, talvez

    se possa encontrar o mais produtivo na anlise histrica, considerando o

    emprico , isto , os dados coletados experimentalmente, no como um

    resultado em si prprio , ou mesmo como decorrente da pura subjetividade

    do pesquisador , mas sim como o resultado de uma construo , em que os

    dados so selecionados pelo pesquisador , porm no sem serem lastreados

    por pressupostos tericos que permitam a elaborao da questo ,

    orientando os dados a serem pesquisados.

  • 41

    No ir e vir - caminhos e descaminhos - da Histria , Ciro Flamarion Cardoso

    (1997 : 2-23) , discute a polmica atual na historiografia quanto ao mtodo ,

    que denominou de paradigmas rivais . De um lado estaria o paradigma por

    ele denominado de Iluminista ou moderno e de outro o ps-moderno .

    O paradigma iluminista descrito por Cardoso como sendo aquele que

    pretende uma anlise histrica cientfica e racional. Segundo o mesmo autor,

    o ponto de partida para tal anlise histrica seria a produo de

    conhecimento hipottico , como a histria-problema dos Annales,

    acreditando-se que:

    (...) fora de tal atitude bsica , o saber histrico no responderia s

    demandas surgidas da prxis social humana no que tange

    existncia e experincia dos seres humanos no tempo , nem

    seria adequado no enfoque da temporalidade histrica como

    objeto. (CARDOSO,1997:4)

    Para Cardoso , tal tendncia filosfica, fundada nos sculos XVIII e XIX ,

    reforada, neste ltimo, pelo emprego de modelos macro-histricos

    teorizantes. Como exemplos para tal modelo, ele indica o evolucionismo , o

    marxismo, o weberianismo e algumas vertentes do estruturalismo. No caso

    do marxismo , argumenta que sua ambio seria a de reunir em um nico

    movimento de pensamento , os enfoques gentico e estrutural das

    sociedades , buscando uma viso, ao mesmo tempo, estrutural e dinmica

    das sociedades humanas. Ainda segundo este autor , trata-se de:

  • 42

    (...) uma histria analtica , estrutural, (e mesmo

    macroestrutural) , explicativa ( na prtica, ainda em casos como

    o de Weber que pretendia praticar uma cincia da

    compreenso , e no da explicao) ... (CARDOSO,1997:4)

    Em um outro lado , estaria o paradigma ps-moderno , caracterizado pela

    recusa de vises globais , apontando no para a Histria , mas sim para a

    existncia de histrias. Dentro dessa perspectiva no haveria lugar para a

    macro histria , devendo-se :

    (...) abandonar o analtico , o estrutural, a macroanlise , a

    explicao - iluses cientificistas - em favor da hermenutica , da

    micro -histria , da valorizao das interaes intencionalmente

    dirigidas , da concepo da histria como sendo narrativa e

    literria. (CARDOSO , 1997: 17)

    De acordo com tal explicao , o que se leva em considerao, do ponto de

    vista social , so os indivduos e os pequenos grupos com suas crenas,

    valores e desejos ,o que prprio dos estudos da denominada Nova Histria.

    No entanto , as crticas feitas ao chamado paradigma ps-moderno

    apontam para o perigo de que, em um af anti-racionalista , esta anlise

    venha acompanhada de certo descaso terico-metodolgico . Assim

    argumenta Ciro Flamarion:

  • 43

    O anti-racionalismo tpico da corrente s vezes se acompanha

    de certo desleixo terico metodolgico ... Os ps-modernos

    costumam, com efeito, ser mais apodcticos e retricos do que

    argumentativos... (CARDOSO,1997:19)

    Ao discutir o que denomina de paradigmas rivais na contemporaneidade,

    Cardoso argumenta ser plenamente possvel que a anlise histrica venha

    mesclar aspectos positivos de cada paradigma , excluindo-se , porm, os

    excessos unilaterais que, muitas vezes, esto mais configurados no mbito

    de lutas ideolgicas ou modismos. O referido autor ainda acrescenta:

    (...) no creio que estejamos obrigados a passar do rigor formal e

    muitas vezes ilusrio do cientificismo para algo to limitado quanto

    uma busca interpretativa culturalmente contextuada, uma

    hermenutica que se esgote em si mesma. As cincias sociais , entre

    elas a histria , no esto condenadas a escolher entre teorias

    deterministas da estrutura e teorias voluntaristas da conscincia , ...

    nem a passar de uma cincia freqentemente mal conduzida -

    comprometida com teorias defeituosas de causao e da

    determinao e com uma anlise estrutural unilateral - s

    evanecncias da desconstruo e ao imprio exclusivo do relativismo

    e da micro anlise. (CARDOSO,1997:23)

  • 44

    Dentro desta anlise , podemos perceber que admitida a possibilidade de

    compatibilizao , ainda que com paradigmas rivais , entre abordagens

    globalizantes e anlises microscpicas na investigao histrica.

    Para Ronaldo Vainfas , este no um caminho fcil a ser perseguido , tendo

    em vista que:

    (...) embora combinveis , so paradigmas que geram opes

    distintas, modos diferentes de conceber o objeto de investigao e

    executar a pesquisa. (VAINFAS,1997: 447).

    Ao analisarmos as polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do

    sculo XIX , tendo, como expresso de tais aes pblicas , o Liceu

    Provincial , podemos considerar tratar-se de um objeto macro-histrico ,

    envolvendo a prpria consolidao do Estado brasileiro, na segunda metade

    do sculo , sua poltica para a educao e as posies assumidas pela

    provncia baiana. Entretanto , ao buscar no Liceu Provincial , em Salvador, a

    expresso destas polticas - micro- histria - , no assumimos a postura de

    uma anlise microscpica daquele estabelecimento de ensino, mas sim, a

    compreenso de como tais polticas se evidenciaram na prtica, mostrando

    a viabilidade de construo de uma Histria -sntese.

  • 45

    Combinando a discusso de caminhos metodolgicos concepo de

    Histria adotada como processual , dinmica em constante movimento, - j

    discutida anteriormente - encontra-se nossa perspectiva de analisar a

    poltica educacional para o ensino secundrio da Bahia do sculo XIX.

    Tal perspectiva no pode ser concretizada sem que se tenha sempre

    presente , caminhando lado a lado, as condies polticas sociais e

    econmicas do Imprio e da Provncia baiana.

    Nesse sentido , podemos afirmar que, ao longo deste percurso , no foi

    possvel distinguir uma poltica educacional claramente estruturada que,

    aliada instabilidade poltica geral , reduz o processo educacional a uma

    srie sucessiva de reformas na Instruo Pblica. Apesar da no

    estruturao de uma poltica especfica para a educao secundria , tal

    ausncia ou mesmo as incertezas quanto forma e objetivos para tal

    educao , nos indicam os caminhos adotados pelos rgos oficiais ,

    traduzidos em aes dos poderes pblicos constitudos , aqui denominados

    de polticas pblicas para o ensino secundrio.

    Durante todo perodo estudado, a referida ausncia de uma estrutura clara

    para o ensino secundrio baiano acompanhada por discursos que, a todo

    tempo, indicam uma desqualificao para o ensino secundrio ministrado no

    Liceu Provincial , a ponto de , por sucessivas vezes, chegar-se a ventilar a

    possibilidade de extino do Liceu e, conseqentemente , do ensino

    secundrio pblico.

  • 46

    Entretanto , mesmo com a possibilidade de extino , o ensino secundrio

    pblico no deixou de existir. Assim , cabe a pergunta: o que sustentava o

    funcionamento do Liceu Provincial , ministrando o ensino secundrio baiano,

    se at mesmo presidentes da provncia e diretores de estudo chegaram a

    prever o seu fim? Por que , mesmo com tantas crticas , o Liceu continuou

    existindo? Que funo ele estaria cumprindo?

    Porm , parece que essas dvidas e indefinies em relao ao ensino

    secundrio no so caractersticas especficas da provncia baiana ou do

    Brasil , mas sim , fazem parte de uma intricada situao de crise de

    identidade dessa modalidade de ensino, que atinge tambm outros pases.

    O ensino secundrio brasileiro baseou-se muito no modelo das escolas

    francesas. Mas o desenvolvimento do ensino secundrio na Frana , no

    sculo XIX , obedeceu a determinadas caractersticas especficas do pas ps

    - revoluo. No entanto , transplantaram para o Brasil o modelo francs, sem

    que fossem guardadas as caractersticas especficas de cada pas.

    No caso francs, o pas discutia a necessidade da substituio dos colgios

    latinos, representativos do Antigo Regime, por outra estrutura que ,

    preservando a cultura da elite , representasse as mudanas que o regime

    burgus imprimia sociedade que, rapidamente, recebia novos contornos

    com a industrializao.

  • 47

    A industrializao implicava em novas exigncias para os trabalhadores e,

    portanto, mudanas nas escolas. Entretanto , essas mudanas no ocorreram

    facilmente. Questionamentos do tipo de quais conhecimentos cientficos

    seriam adequados ou que nvel de discurso deveriam ser adotados nos

    colgios, fazem parte das dvidas para a implantao do ensino secundrio

    francs. As respostas s dvidas existentes quanto ao tipo de escola mais

    adequada oscilavam por vrios caminhos que, de acordo com Andr Petitat,

    eram definidos atravs da dimenso do poder e do jogo existente entre as

    diferentes classes sociais.

    Para as elites dirigentes francesas do sculo XIX, era necessria uma

    redefinio cultural , que passava pela formao de uma estrutura escolar

    onde ficava delimitado o que deveria estar ao lado da cultura clssica e o que

    deveria ser rejeitado . No caso dos aspectos rejeitados , eles ficariam

    restritos a um outro tipo de curso secundrio , de segunda linha.

    (PETITAT.1994:170)

    De acordo com tal anlise, fica evidente que , no caso francs, h uma ntida

    bifurcao entre o ensino secundrio destinado s elites , de carter mais

    geral , preparatrio para o ensino superior e, por outro lado , um secundrio

    mais utilitrio destinado s classes subalternas. H, portanto, um projeto

    claramente seletivo e classificatrio. Ainda seguindo a anlise de Andr

    Petitat , conclumos que , apesar de a industrializao determinar

    necessidade de programas subdivididos na escola, essa determinao seria

    parcial , pois o determinante mesmo estaria nas relaes de fora e de

    diferenciao das classes sociais. Em decorrncia dessas questes que

    estaria fundamentada a estrutura dos programas escolares.

    (PETITAT.1994:171)

  • 48

    Vale notar que, no desenvolvimento do ensino secundrio da Frana no

    sculo XIX, podemos perceber uma oscilao de posies definidoras do

    ensino secundrio , porm todas abrangendo posturas que implicam no

    dualismo do ensino ministrado.

    Um aspecto importante do referido dualismo encontra-se na forma de

    diferenciar o ensino , o que no se faz por programas diferentes , mas sim

    pela intensidade com que os assuntos so tratados , principalmente os de

    contedo geral, cultural e cientfico-utilitrio. Essa diferena, aliada s

    distines de classe, que produziam ensinos distintos.

    A distino existente no ensino secundrio francs era tratada claramente

    nos discursos da aristocracia que temia que pudesse ocorrer o aumento de

    estudantes no curso secundrio, vindo a macular a sensibilidade aristocrtica

    a ponto de terem que preferir os colgios Jesutas ao liceu existente

    (PETITAT.1994:175)

    Para a elite francesa, o dualismo presente no ensino secundrio era encarado

    com naturalidade, de forma que no se pensava em colocar em um mesmo

    nvel os distintos cursos, isto , o ensino secundrio especial no seria

    equiparado ao clssico e cientfico dirigido s elites. Portanto, havia um

    secundrio mais utilitrio, no qual a cincia teria o carter vocacional, mais

    profissional e, de outro lado , aquele preocupado com as cincias do esprito.

    A barreira que se coloca como intransponvel para as classes populares o

    ingresso ao ensino superior, pois o secundrio, a elas destinado, no

    conduzia a tais estudos.

  • 49

    Da organizao do ensino secundrio francs do sculo XIX , interessante

    notar a existncia de vrias semelhanas com o que ocorria com a mesma

    modalidade de ensino na Bahia, no mesmo perodo, em que pesem as

    diferenas econmicas , sociais e polticas, existentes entre os dois pases.

    A sociedade brasileira e, especialmente baiana , no sculo XIX, tinha

    caractersticas bem prprias, aristocrtica , latifundiria e escravista ,

    diferenciando-se da situao europia. No entanto, foi esta sociedade que, se

    apropriando , transversalmente, das idias liberais , comandou os destinos

    brasileiro e baiano.

    Apesar das diferenas , mesmo sendo o Brasil um pas dependente

    economicamente, exportador de matria primas e importador de produtos

    industrializados, bem distante do processo de industrializao por que

    passava a Frana; mesmo sendo politicamente organizado sob uma

    Monarquia, com um discurso pretensamente liberal, de um liberalismo que

    assume caractersticas bem diversas da europia, pois aparece na fala de

    uma aristocracia latifundiria , escravista , aliada Igreja da contra-reforma,

    mesmo assim , transportaram-se os modelos educacionais aplicados na

    Frana para o Brasil , sem que se pensasse em qualquer adaptao.

  • 50

    Devido situao econmica de pas dependente , no havia indstrias

    como na Frana e, conseqentemente , menos ainda operrios. No entanto,

    foram transplantadas as medidas adotadas na Frana , sem qualquer

    questionamento, desde a denominao dos Liceus at o contedo

    ministrado, bem como a sua estrutura sendo que, nesse caso,

    particularmente , adotamos a falta de estrutura, com a abolio de cursos

    seriados seqencialmente para substitu-los por disciplinas isoladas, cuja

    matrcula dependia apenas e simplesmente da escolha do aluno , sem

    qualquer orientao.

    Um dos maiores problemas do ensino secundrio baiano , ministrado no

    Liceu Provincial, tambm aparecia nos estudos secundrios franceses. Trata-

    se do credenciamento , ou no , para o ingresso nas Faculdades.

    No caso francs, a distino era feita com bastante clareza, pois existiam os

    dois tipos de escolas. Aquelas que preparavam para os estudos mais

    utilitrios, no credenciando ao ensino superior e, aquelas que, destinadas s

    elites , preparavam para o ensino superior.

    Novamente nos deparamos com questes semelhantes no Brasil e Bahia

    especialmente , cujos estudos no Liceu Provincial , no habilitavam para que

    se pudesse prestar os exames preparatrios, porta de entrada das

    faculdades. Por outro lado , as escolas particulares , que proliferaram durante

    o Imprio, possuam seus cursos estruturados , credenciando seus alunos a

    prestar os exames preparatrios para ingresso nas faculdades. J para os

    alunos do Colgio Pedro II , na Corte, sequer era necessrio fazer tais

    exames, pois estavam credenciados ao ingresso nas faculdades

    automaticamente.

  • 51

    No transplante de modelos educacionais de outros pases , muitas vezes

    enaltecida a iniciativa particular , para justificar que, em muitas naes

    desenvolvidas , o ensino secundrio estaria a cargo de particulares , sem que

    o Estado tivesse que arcar com sua participao . o caso das Falas do

    Baro de So Loureno , que explicitam a sua admirao por modelos

    educacionais europeus , sobretudo aqueles mais privatizantes.

    Curiosamente, durante a fase de governo Imperial , principalmente na sua

    segunda metade , h uma grande proliferao das escolas secundrias

    particulares. Seria talvez este um dos motivos de manuteno do ensino

    secundrio pblico, mesmo com tantos problemas para o seu

    funcionamento? Existiria esse tipo de instituio apenas para justificar a

    necessidade de proliferao das escolas particulares?

  • 52

    3 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Como j indicado anteriormente, as fontes bsicas constitutivas da pesquisa

    foram as Leis e Resolues aprovadas pela Assemblia Provincial da Bahia

    e sancionadas pelos respectivos Presidentes da Provncia Baiana , aliadas

    aos Regulamentos editados em decorrncia desses atos legais , referentes

    ao ensino secundrio, durante o perodo de 1860 a 1890.

    Consideramos , para tanto , todas as Leis e Regulamentos que , no perodo

    indicado , interferiram, direta ou indiretamente , no desenvolvimento do

    ensino secundrio na Bahia. Dessas fontes , puderam ser extrados os

    dados documentais essenciais ao estudo das polticas pblicas para o

    ensino secundrio.

    Complementando os dados contidos nas Leis ,Resolues e Regulamentos,

    outra fonte bsica est expressa nos discursos oficiais das Falas dos

    presidentes da Provncia baiana , proferidos durante o perodo estudado , a

    cada abertura ou encerramento dos trabalhos da Assemblia Provincial . O

    contedo de tais Falas abrange os mais diversos aspectos da vida da

    Provncia , tornando-se uma espcie de relatrio da situao em que ela se

    encontrava , possibilitando uma viso ampla dos problemas e das aes

    realizadas , com enfoque particular para aqueles relativos ao ensino

    secundrio.

  • 53

    Ao lado dos documentos mencionados , foram, tambm, usados como fonte

    os Relatrios elaborados por rgos oficiais encarregados de implementar ou

    fiscalizar o cumprimento das normas legais , como o Conselho de Instruo

    Pblica , Diretoria Geral de Instruo Pblica ou mesmo Direo do Liceu

    Provincial , no perodo de 1860 a 1890. Os dados fornecidos por esses

    documentos constituram-se em suporte essencial para expressar a

    implementao das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do

    sculo XIX.

    Essas fontes , por si , j podem dar conta do desenvolvimento do tema

    proposto para esta pesquisa. No entanto , consideramos que seria

    interessante , a ttulo de complementao , uma incurso pelos discursos

    proferidos na Assemblia Provincial , por ocasio das discusses das Leis e

    Reformas para Instruo Pblica . Essas fontes so mais restritas em

    termos de perodo , vez que somente esto disponveis a partir de 1874,

    assim mesmo com muita dificuldade, pela forma de editorao com

    seqncias de discursos que no tratam necessariamente sobre o mesmo

    tema.

    Todos esses dados, no entanto , no poderiam deixar de estar

    acompanhados por uma viso da sociedade da poca e , para tanto ,

    recorremos literatura disponvel que caracteriza a sociedade baiana do

    sculo XIX.

    A partir do quadro de referncia traado , procuramos empreender

    uma anlise sobre o desenvolvimento das polticas pblicas para

    o ensino secundrio na Bahia , no sculo XIX , para o perodo

    de 1860 - 1890. Nesse sentido , adotamos os seguintes

    procedimentos metodolgicos:

  • 54

    1 - Levantamento das fontes primrias do perodo demarcado

    entre o Regulamento Orgnico de 1860/62 e a Reforma de

    1890;

    2 - Elaborao de um quadro geral da legislao , a fim

    de obter a compreenso das polticas pblicas do Estado para

    o perodo considerado , em relao ao ensino secundrio da

    Bahia ;

    3 - Ampliao das fontes secundrias que caracterizem o

    processo social do perodo onde se inserem as polticas

    pblicas para o ensino secundrio , no perodo proposto para a

    pesquisa;

    4 - Estudo das fontes secundrias , com o objetivo de

    analisar o movimento entre a caracterizao das polticas

    pblicas em relao ao ensino secundrio na Bahia e o

    processo social no perodo considerado ;

    5 - Anlise do movimento do processo social ( totalidade ) e

    das polticas pblicas de educao do Estado para o perodo

    proposto ( parte ) , tomando como referencial terico as

    anlises e concepo de Histria , explicitadas no item anterior .

  • 55

    O desenvolvimento desses procedimentos metodolgicos obedeceu

    s seguintes etapas :

    10. Localizao e coleta de dados dos documentos oficiais - fontes primrias.

    Com o objeto de pesquisa e perodo delimitado , partimos

    para a coleta do material , integrado basicamente por fontes

    primrias , a partir das Falas , Relatrios e Leis . Esses

    documentos foram localizados no Arquivo Pblico do Estado da

    Bahia e na Biblioteca do Instituto Histrico e Geogrfico da

    Bahia.

    A coleta constou, basicamente, de localizao e fichamento das

    Falas dos Presidentes da Provncia baiana , no perodo proposto,

    por ocasio da abertura ou encerramento dos trabalhos

    legislativos , ou mesmo na passagem do cargo por motivo de

    afastamento , momento em que tais Falas tm o carter de

    relatrios sobre todas as questes que envolvem a Provncia,

    sendo ricas em dados . Por tratarem-se de documentos

    gerais, alm das questes que envolvem nosso objeto de estudo

    - ensino secundrio - , tivemos a oportunidade de coletar dados

    amplos sobre a provncia , dentro da viso de seu presidente.

  • 56

    Foram , ainda , coletados e fichados os dados referentes ao

    perodo de 1860 a 1890 , constantes dos Relatrios de

    Instruo Pblica , apresentados pela Diretoria Geral da Instruo

    Pblica da Bahia aos Presidentes da Provncia . Nesses

    Relatrios, podemos apreciar as diversas anlises sobre o

    ensino secundrio no perodo , assim como as concepes

    variadas sobre os objetivos do ensino secundrio e o ensino no

    Liceu

    Ao lado das Falas e Relatrios , foi realizado o levantamento de

    toda legislao pertinente ao perodo, com destaque para aquelas

    que afetaram diretamente o ensino secundrio e o Liceu Provincial.

    Tal legislao vem traduzir em ao , as discusses constantes

    nas Falas e Relatrios.

    Outro aspecto importante que deve ser considerado a

    discusso travada na Assemblia Provincial . Nas discusses

    sobre questes e projetos relacionados educao e ao ensino

    na provncia, podemos verificar a possibilidade de um outro lado do

    discurso oficial, com posies relacionadas ao pagamento ou

    gratuidade do ensino , ou mesmo sobre a obrigatoriedade do

    ensino , esta ltima debatida durante todo o perodo estudado.

    A documentao relativa s fontes primrias foi coletada e

    fichada, passando por um processo de seleo , anlise e sntese , sendo

    que, em relao aos debates da Assemblia Provincial , alm de no

    abranger todo o perodo estudado , houve grande dificuldade na sua

    organizao, com a finalidade de possibilitar a compreenso das

    polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo

    XIX.

  • 57

    20. - Elaborao de quadro geral da Legislao

    A partir do levantamento das fontes primrias , elaboramos

    um quadro geral da legislao . Assim, podemos visualizar melhor a legislao para o perodo estudado. Esse quadro nos

    permite , ainda , dar bases para uma anlise do seu

    contedo , bem como estabelecer relaes com a sua

    aplicao.

    No que diz respeito legislao referente Instruo de forma

    mais geral e ao ensino secundrio, particularmente , no perodo

    de 1860 a 1890 , selecionamos as seguintes que compem

    os quadros n.. 1,2,3 e 4 .

    Esses quadros contriburam para melhor compreenso da composio ,

    elaborao e aplicao das polticas pblicas para o ensino secundrio na

    Bahia , durante o perodo estudado.

    Com o quadro 1 , procuramos listar as principais iniciativas de legislao

    que afetaram diretamente o desenvolvimento do ensino secundrio na

    provncia baiana, durante o perodo estudado desde 1860 com o

    Regulamento Orgnico , passando pela sua regulamentao em 1862 , assim

    como as diversas reformas para a instruo pblica do perodo , at a

    reforma de 1890 , quando a denominao de Liceu Provincial substituda

    por Instituto Oficial de Ensino Secundrio da Bahia, j no primeiro ano da

    Repblica

  • 58

    QUADRO 1

    LEIS , RESOLUES , REGIMENTOS E REGULAMENTOS

    LEGISLAO ANO CONTEDO ____________________________________________________________________ Regulamento Orgnico 1860 Organiza a Instruo Pblica Lei n0. 844 1860 Reforma da Instruo Pblica Lei n0. 868 1861 Altera Regulamento de 1860 Regimento 1861 Conselho de Instruo Pblica Regulamento 1861 Plano de Estudos do Liceu Regulamento Orgnico 1862 Regulamentao da Lei de 1860 Regulamento 1862 Competncias Dir. Geral Estudos Resoluo 1864 Equiparao dos professores Resoluo n0. 1039 1868 Disciplina atividade dos professores Decreto n0. 4431 1869 Instrues p/ exames preparatrios Ato 1870 Reforma do ensino no Liceu Resoluo n0. 1116 1870 Reforma da Instruo Pblica Regimento 1873 Cons. Sup. Inst. Pblica Resoluo n0. 1275 1873 Modifica artigo da Reforma de 1870 Lei n0. 1335 1873 Autorizao da Ref. Da Inst. Pblica Reforma 1873 Reforma da Instruo Pblica Resoluo n0. 1561 1875 Regulamenta Reforma de 1873 Reforma 1875 Secretaria da Instruo Pblica Lei n0. 1686 1876 Altera Resoluo n0. 1561 Resoluo n0. 1623 1876 Contratao de prof. Particulares Lei n0. 2114 1880 Autoriza Reforma Instruo Pblica Ato 1881 Regulamenta Instruo Pblica Decreto 1886 Instruo sobre exame preparatrio Deciso 1886 Exames preparatrios na Provncia Deciso 1888 Instrues- exames preparatrios Ato 1889 Estabelece um fundo escolar Ato 1889 Reforma a Instruo Pblica Ato 1890 Cria departamentos escolares Ato 1890 Suspende a Reforma de 1889 Ato 1890 Reforma a Instruo Pblica Ato 1890 Cria Inst. Oficial de Ens. Secundrio

    Fonte: Coleo de Leis , Resolues e Regulamentos da Assemblia Legislativa Provincial

    1860 1890

  • 59

    O quadro 2 destaca algumas questes importantes relativas s leis do

    perodo em estudo , localizando a informao por contedo . Assim, para

    cada legislao do perodo procuramos verificar sua interferncia e

    importncia para a instituio - Liceu Provincial - a repercusso para os

    professores, as determinaes relativas aos estudantes e as mudanas ou

    permanncias para o curso secundrio. Assim, a partir da legislao,

    procuramos analisar os desdobramentos sobre cada um desses elementos.

    Com o quadro pronto , temos uma viso geral da trajetria do ensino

    secundrio, durante o perodo de 1860 a 1890.

  • ANO 1860 1861 1862 1864 1868 1870ATOS

    EASSUNToS

    LEI 844REFORMA INST.PB.

    REGULAMENTO ORGNICO PLANO DEESTUDOS30.03.1861

    NORMATIZAO DOREG. ORGNICO DE1860

    LEI 92230.04.1864

    RESOLUO 103915.08.1864

    ATO22.02.1870

    L

    I

    C

    E

    U

    . Gov. dar ao Liceuorganizao maisapropriada

    . Diretoria Geral deEstudos poder serremovida para o Liceu

    . suprime escolascom menos de 15alunos e com 20institui mestre

    Concentra a educao secundriano Liceu, na capital at a divisoem circunscriesSuprima aulas com menos de 15alunosIncorpora o Museu de Hist. NaturalEnquanto no se converte emmisto,continua a receber salunos externosDirios de classe devero serarquivados a cada ano1 diretor, 1 censor, 2 mestresvigilantes, 1 capelo, mestresespeciais para repetio econferncias, estipulando asgratificaesextingue o cargo de secretrioestatutos estipularo funes

    Concentra educaosecundria no Liceu

    Suprime todas ascadeiras avulsas

    Estabelece puniespara professores ealunos

    Restabelece a Congregaodo Liceu presidida peloDiretor Geral e compostapelos professores

    P

    R

    O

    F

    E

    S

    S

    O

    R

    E

    S

    Dissolve o Conselhode Instruo einstitui o Conselhode Estudospresidido peloPresidente daProvncia

    .Professores de aulas avulsasso jubilados ou transferidospara o Liceu se desejarem eforem aptos pelo gov.,ouvido oDiretor Geral Estudos.Removidos para o Liceu os deaulas avulsas com mais de 15alunos.Capelo ser um dosprofessores sacerdotes paraconferncias de repetio moral.Professores passam a adjuntos.Gov. distribuir entre osprofessores o ensino e outrasfunes. Um ano aps o regulamento,nenhum professor poder daraulas ou conferncias, de modoa cooperar com o ensinosecundrio particular.Pode haver acumulaes de 2ensinos ou funes pblicas.Institui o Dirio de Classe

    .Composio deBanca dosExames por 2 prof.da referidadiviso,mais um ccensor nomeadopelo governo

    .1 ano aps,regulaque nenhumprofessor poder darlies ouconfernciasparticulares semlicena.Pode acumular aulaspblicas com licena. Remove aulasavulsas e prof. para oLiceu.o gov. distribui oensino e outrasfunes conformehabilitao ou noo.lugar vago deprofessor no serpreenchido a menosque consideradoindispensvel e porconcurso.Capelo= aula dereligio.Suprime o professorsubstituto

    Equipara ascategorias dosprofessores doLiceu

    .Estabelece osmesmossalrios a todosos professoresdo Liceu

    Probe expressamenteaos prof. pblicoslecionarem emestabelecimentosparticulares sob pena desuspenso por 1 ano naprimeira vez e perda dacadeira por reincidncia

    .Diretor pode acumular comoprofessor.Permite lecionar particularmas no fazer parte de bancaexaminadora.Probe acumulao no Liceue Escola de Medicina.Congregao elabora listados mais competentes.Institui premiao do Gov..S recebem vencimento apscomprovao de freqncia.Salrio de acordo com o nde alunos.Nenhum discpulo= metade do vencimento.Restabelece Prof. substituto.Professor que acumularcomo substituto receberacumulativo.conserva os atuaisprofessores

    E

    S

    T

    U

    D

    A

    N

    T

    E

    S

    . Pagamento de matrcula combase no preo mdio dasescolas particulares a serestipulado

    . aluno paga por conferncia umpercentual a mais

    . Os estudantes que desejaremcontinuar no Liceu a partir destemomento, passaro por examepara determinar a diviso deensino em que se enquadram

    . Enquanto preparaestabelecimentomisto, s receberalunos externos.Estabelece preo dematrcula. Para os atuaisestudantescontinuarem no Liceuser feito exame.Permite que o alunoestabelea ordem dasdisciplinas de acordocom preparatrios

    . Estudante livre paramatricular-se em qualqueraula,desde que habilitado

    Estudante que perder anono pode fazer exames

    .O aluno indicado em listatrplice Congregao queescolher o que ganharprmio em dinheiro.Com 3distines poder serprofessor sem concurso

    . Bacharis = preferncia paraempregos provinciais,principalmente os de cincias

    C

    U

    R

    S

    O

    S

    . Aulas avulsassero concentradasna Capital

    . dividido em :-elementar preparatrio com 2anos-superior dividido em duassees com 3 anos

    1. Cultura literria para estudosacadmicos e professoradosecundrio

    2. preparao para profissescomerciais e industriais paracertas escolas ou academiasespeciais de carter cientfico-curso ministrado pela manh etarde- suprime cadeiras deGrego,mecnica aplicada ecomrcio-para disciplina de comrcio sercriado curso especial, que nofaz parte do Liceu.-disciplina o ensino particular,condicionando sua abertura aobedincia do esquema dematrias das escolas pblicas

    .estabelece ocontedo,metodologia elivros para cadacadeira de:.diviso elementar3 anos.Exame deGramtica:contedo e banca.Diviso Superior:3 anos :a- Letrasb- Cincias

    -Suprime cadeiras degrego e Comrcio-Diviso elementar 2anos-Diviso deGramtica: 3 anos-Exame de Gramticapara admisso naDiviso Superior-Diviso Superiorseparada em:.Letras (3 anos).Cincias (3 anos)

    .Obrigatrias duaslnguas vivas

    .Para Bacharelatomais um ano deLgica

    .Para magistriosecundrio,alm deum ano delgica,curso decincia das escolas(prtica)

    - Altera divises e sessesestabelecendo as disciplinasa serem cursadas no Liceu(14 cadeiras)

    -Tempo e durao das aulas aserem determinados pelaCongregao

    -Disciplina a obteno deBacharelato em Letras eCincias

    - Para o futuro(?) todas ascadeiras sero providas porconcurso

    1873 1874 1875 1876 1881 1886 1889 1890RESOLUO1275-24.04.1873

    REFORMA27.09.1873

    RESOLUO

    144303.09.1874

    RESOLUO 158128.08.1875

    RESOLUO168608.08.1876

    REGULAMENTODA INST. PBLICA1881

    DECISES :EXAMESPREPARATRIOS

    REFORMAINSTRUO PBLICA

    REFORMAINSTRUO PBLICA

    - Diretor do Liceumembro nato do ConselhoSuperior

    -Liceu forma um Institutode Letras e Cincias

    - Mantm Liceu coo Instituto deLetras e Cincias

    -Ensino Pblicosecundrio = Liceu

    - Instituto de Letrase Cincias

    .Cria vrios Institutospara o ensinosecundrio que passoua ser chamado ENSINOMDIO.Instituto MdioPreparatrio.Instituto Normal doprofessorado primrio.Istituto Normal dedesenho.Istituto d ArtesLiberais. Instituto Comercial.Instituto de ArtesMecnicas e Ofcios.Instituto Industrial.Instituto Biologia eHigiene

    .Cria o: INSTITUTOOFICIAL DE ENSINOSECUNDRIO

    Ensino Secundriocomposto por:Escolas NormaisO Liceu + InstitutoOficialInstituto Baiano deAgriculturaLiceu de Artes eOfciosAcademia de BelasArtes

    . Permiteacumulaode aulas dosprofessoresdo Liceu eEscola daMedicina

    . Diretor no podeacumular como professor

    .Prof. = vitalcioprovimento por concurso

    .Estabelece vencimentos

    .Jubilao com 25 anos deservio

    .Permite acumulaes

    .Estabelece competncias

    . Um contnuo controlar afreqncia dosprofessores

    -Provimento porconcurso abacharis do Liceuou Pedro II ouFaculdade doImprio.Trabalho para osque provaremconhecimentohumanstico.Prof. com 25 anosde trabalho podeser jubilado comtodosvencimentos, seprovar que se achaimpossibilitado decontinuar nomagistrio. Quem continuaraps 25 anos tergratificao demais 4 parte dose