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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAO DOUTORADO EM EDUCAO
SARA MARTHA DICK
AS POLTICAS PBLICAS PARA O ENSINO SECUNDRIO NA BAHIA
O LICEU PROVINCIAL
1860-1890
SALVADOR
2001
2
SARA MARTHA DICK
AS POLTICAS PBLICAS PARA O ENSINO SECUNDRIO NA BAHIA
LICEU PROVINCIAL 1860 - 1890
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia , como requisito parcial para obteno do grau de Doutor em Educao.
ORIENTADOR : Prof. Dr. EDIVALDO MACHADO BOAVENTURA.
Salvador 2001
3
Biblioteca Ansio Teixeira Faculdade de Educao - UFBA D547 Dick, Sara Martha
As polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia: o Liceu Provincial : 1860-1890 / Sara Martha
Dick. Salvador: S.M.Dick, 2001. .... f.
Orientador: Edvaldo M. Boaventura Tese (doutorado) Universidade Federal da Bahia 1. Histria da educao - Bahia. 2. Ensino secundrio - 1860-1890. 3. Polticas pblicas.4. Liceu Provincial da Bahia. I. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educao. II. Ttulo. CDD 370.981 CDU -
4
COMPOSIO DA BANCA:
Prof.Dr. Edivaldo Machado Boaventura Orientador
Prof.Dr. LUis Henrique Dias Tavares
Prof.Dr Marli Geralda Teixeira
Prof. Luis Felippe Perret Serpa
Prof Jacy Mesezes
5
Pra as duas pessoas que mais amo.
Paulo, companheiro e amigo de todos momentos e Helena, filha querida, que ilumina e alegra nossas vidas. Em memria a meus pais, que lutaram para minha formao. A meus irmos, sempre presentes, mesmo distantes no espao.
6
AGRADECIMENTOS
Este trabalho produto de um conjunto de foras e estmulos para que as
barreiras encontradas no percurso fossem ultrapassadas e superadas at a
sua concluso.
Em especial, meu agradecimento e admirao ao Professor Edivaldo
Machado Boaventura, orientador do trabalho , que com sua disponibilidade
no atendimento , incentivou, , acompanhou e apontou para os caminhos
possveis a serem trilhados, no medindo esforos para a concluso da
pesquisa.
Aos professores do Programa de Ps-graduao , particularmente no
desenvolvimento da atividade Projeto de Tese , que participaram auxiliando
nas discusses em diversos momentos da produo , contribuindo tambm
para o entendimento deste processo de conhecimento.
Para as estagirias, poca alunas, Adriana Costa e Vera Lcia
Genipapeiro da Silva, meu reconhecimento pela aplicao com que
ajudaram na coleta dos dados e nas discusses decorrentes de tais leituras.
Aos colegas do Departamento de Educao I da Faculdade de Educao da
Universidade Federal da Bahia , pela compreenso durante o perodo de
elaborao desta tese.
7
Em especial a amizade da Professora Antonia Cal , compreendendo e
comentando os diversos momentos da elaborao do trabalho; a Professora
Dora Leal Rosa pelos esclarecimentos , sempre pertinentes , aos procedimentos
para a composio do texto ; a Professora Izabel Maria Villela Costa , que se
disps gentilmente a ler a primeira verso desta tese, com valiosas
contribuies.
Muitos foram os funcionrios de Instituies que colaboraram decisivamente na
coleta dos dados . A todos do Arquivo Pblico do Estado da Bahia , que sempre
gentis cooperaram para que a coleta de dados fosse realizada . Particularmente
a todos do Instituto Geogrfico e Histrico da Bahia, onde os mais raros e
valiosos documentos puderam ser localizados , sempre com presteza e
simpatia.
Por fim, mas no menos importante , a valiosa contribuio da Professora Dilza
Atta que desde o Mestrado contribuiu com doao de material importante para o
desenvolvimento do trabalho, alm de efetuar a reviso do presente texto.
8
S existir democracia no Brasil no dia em que se montar no pas
a mquina que prepara as democracias. Essa mquina a escola pblica.
Ansio Teixeira
9
SUMRIO I. Introduo 15 1. O Tema - problema 2. Justificativa 3. Objetivos 4. Organizao do Trabalho II. Fundamentos Tericos Metodolgicos 30 1 - A Concepo de Histria 2 - A Anlise Histrica 3 - Procedimentos Metodolgicos
III. Tentativa de sistematizao da Educao Baiana :
O Regulamento Orgnico 67 1. Condies Histricas do perodo
2. O ensino secundrio em discusso e o Regulamento Orgnico 3. Crticas ao Regulamento e o ensino particular 4. Divergncias na Conduo das polticas e nova reforma
IV. A desagregao do Imprio e as conseqncias para o ensino secundrio baiano 91 1. Reforma de 1870 Crticas ao Regulamento Orgnico 2. Caractersticas da Reforma 3. A Reforma de 1870 e os Exames Preparatrios 4. A preparao e Reforma de 1873 5. O funcionamento de escolas particulares na Reforma de 1873 6. O carter centralizador do Regulamento de 1875 7. Primeira Conferncia Pedaggica Baiana 8. Principais temas para os mesmos problemas
10
V. O final do Imprio e o ensino secundrio baiano 158
1. Caractersticas gerais do perodo 2. Reforma Lencio Carvalho - influncias na provncia 3. Novo Regulamento do Ensino 1881 4. Ensino pblico, gratuito e obrigatrio e a fuga para o ensino
particular 5. O Liceu , o ensino profissional e o ensino feminino 6. A inconstncia poltica , dificuldades financeiras e o ensino
secundrio 7. Exames preparatrios na provncia 8. A legislao de 1888 e a Instruo pblica
9. Reforma de 1890: entra em cena o Instituto Official de Ensino
Secundrio
VI. Consideraes Finais 229 Anexos 250 Fontes Impressas 267
Referncias Bibliogrficas 268
11
RESUMO
Este trabalho visa estudar o desenvolvimento das polticas publicas para o
ensino secundrio durante o sculo XIX , na Provncia Bahia, compreendendo
as trs ltimas dcadas do Imprio , tendo como referencial as aes
empreendidas no Liceu Provincial da Bahia , que at o perodo Republicano ,
foi a nica instituio para esta modalidade de ensino.
O marco inicial da pesquisa foi o Regulamento Orgnico de 1860 , disciplinado
em 1862, a primeira tentativa de organizao do ensino secundrio baiano. O
perodo considerado como aquele em que o Estado brasileiro est em
processo de consolidao, o que explicaria as iniciativas em relao a
polticas publicas para o ensino secundrio na provncia.
A partir da referncia do Regulamento Orgnico de 1860/1862, passamos a
compreender o estudo em trs momentos, sendo o primeiro relativo aos anos
60, que consideramos como perodo de tentativa de sistematizao das
polticas pblicas para o ensino secundrio baiano. O segundo momento ,
relativo ao incio do perodo considerado como de desagregao do Estado
Monrquico e, para o ensino secundrio implicando em sucessivas reformas,
que antes mesmo de implantadas j eram substitudas, tendo em vista a
instabilidade poltica , provocando a mudana constante dos dirigentes da
provncia. O terceiro momento , diz respeito aos anos finais do imprio, com as
inquietaes prprias do perodo como a abolio da escravatura, o ensino
pblico, gratuito, obrigatrio e misto , que interferiram diretamente na
conduo das polticas para o ensino na provncia.
12
A anlise partiu basicamente de fontes primrias, obtidas a partir das Falas
dos presidentes da provncia, dos Relatrios de Diretores do Liceu Provincial e
Diretor Geral de Estudos.
Analisando polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo
XIX , tendo como expresso de tais aes pblicas o Liceu Provincial ,
consideramos como envolvendo a prpria consolidao do Estado brasileiro
na segunda metade do sculo , sua poltica para a educao e as posies
assumidas pela Bahia, assim como o processo de desagregao da
Monarquia. Entretanto , ao buscar no Liceu Provincial, em Salvador, a
expresso destas polticas , no assumimos a postura de uma anlise da
histria daquele estabelecimento de ensino , mas sim, a compreenso de
como tais polticas se evidenciaram na prtica , combinando a discusso de
caminhos metodolgicos concepo de Histria adotada como processual ,
dinmica em constante movimento.
13
ABSTRAT
This paper aims to present an extensive study on the public procedures
development of High Schools, during the 19th Century in the "Provincia da
Bahia" (Bahia's County). Our research will particularly focus on the "Liceu
Provincial da Bahia", covering the activities and measures of this institution
over the last three decades of the Empire, taking in account that this was the
first and only organization for that sort of teaching, that took place until the
Republican period.
This study grants special attention to the educational reform of 1860, (actually
taken in effect in 1862), as the first action to organize the teaching system for
High Schools in Bahia. We should bear in mind, that during this period, Brazil
was facing a consolidation process in several other internal political matters,
which were later responsible for the High Schools public procedures
improvements. Starting with the Educational Reform of 1860/1862, the
research was divided in three different periods of time: The first one being the
60's, that we consider as the one in which several actions were taken in order
to organize the teaching system in Bahia; the second relates to the "falling
apart" of the Monarchy regime, when several reforms were intended for the
teaching methods, but none were actually effected, due to the political
instability and the continuous changing of the authorities in the county, and
finally, the third as being the last years of the Empire involving all the changes
and typical issues that concerned that particular time, such as the slavery
abolition, the right to have a good and free educational system for all society,
the policies of mandatory class attendance in mixed schools (male and
female), that definitely had a great impact on how those teaching policies
were conducted.
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The research used basically primary sources of information, such as
speeches of the County's Presidents, reports from the Principals of the "Liceu
Provincial" and from the Education General Director.
Analyzing public policies for the high school system in the 19th century in
Bahia, mainly through the "Liceu Provincial" as our main source, we took into
consideration the consolidation process of the Brazilian State in the second
half of the century, its Educational policies, as well as, the "falling apart"
process of the Monarchy. Nevertheless, in choosing the "Liceu Provincial" in
Salvador as the expression of those educational policies, we were not
interested in the history of that particular institution, but in understanding how
those educational ideas were brought into reality, discussing methodological
ways along with the concept of History as a dynamic process in continuous
movement.
15
I - INTRODUO Esta pesquisa busca o estudo das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia. O interesse pelo tema desenvolveu-se a partir do
estudo realizado durante a elaborao da Dissertao de Mestrado, que
analisou a origem dessas polticas formuladas no sculo XIX.
O tema passou a representar um desafio maior , ao constatarmos a imensa
lacuna existente , tanto na Histria da Educao brasileira como, em
particular, na Histria da Educao baiana , quanto aos estudos do sculo
XIX.
Para o ensino secundrio, esse estudo fundamental, pois foi no sculo XIX
que as polticas pblicas tiveram origem e se desenvolveram.
Decidimos, assim, enfrentar o desafio para tentar deslindar as condies em
que tais polticas foram geradas.
Cabe destacar que a grande questo colocada durante todo o Imprio (e,
qui, contemporaneamente), era o que se pretendia com tal ensino:
profissionalizar ou preparar para o ensino superior?
16
1 - O TEMA - PROBLEMA
A origem das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, j
trabalhadas em pesquisa anterior, est inserida em um processo conturbado
do ponto de vista poltico, econmico e social, durante o perodo regencial.
Assim, est imersa no processo de formao do Estado brasileiro, carregado
de caractersticas que se agravam com a crise econmica, as tenses
sociais e revoltas do perodo, sempre em um clima de instabilidade poltica e
econmica, fome, misria e epidemias como a febre amarela e o clera.
No curso desse processo de anlise, de que resultou a elaborao da
Dissertao de Mestrado, podemos distinguir duas fases distintas, a seguir
caracterizadas.
A fase inicial corresponde primeira metade do sculo XIX, sendo aquela
em que as tenses sociais so aguadas, em decorrncia da crise
econmica, alm da agitao social prpria do processo de formao do
Estado brasileiro.
Nesse primeiro momento, encontramos as elites dominantes divididas entre
brasileiros e portugueses. Por outro lado, estas mesmas elites opem-se s
camadas dominadas. Durante todo esse perodo, em que , inclusive, nos
deparamos com a instalao do Liceu Provincial da Bahia em 1836, o
ensino secundrio encontrava-se desorganizado, podendo ser considerada
essa fase como a da origem das polticas pblicas para o ensino secundrio.
17
O Liceu Provincial, que foi institudo para reunir as chamadas cadeiras
maiores, dispersas por toda a provncia, centralizando,assim, em uma
nica instituio, o ensino secundrio, no chegou a atingir esse objetivo.
No s continuaram existindo as cadeiras isoladas, assim como o aluno
poderia matricular-se por disciplina, estando desobrigado de cursar as 13
cadeiras oferecidas.
O momento seguinte corresponde parte da segunda metade do sculo,
mais precisamente entre os anos 50 e 60. Ento, os problemas econmicos
no foram resolvidos, pelo contrrio, at se agravaram, mas com uma
recomposio das camadas dominantes, que passaram a exercer uma
represso maior contra os movimentos populares, ocasionando uma reduo
das revoltas, sem que, no entanto, desaparecessem os conflitos.
Esse perodo expressa uma maior sistematizao da poltica pblica para o
ensino secundrio ou, pelo menos, uma tentativa de sistematizao,
resultando no primeiro Regulamento Orgnico para o ensino, editado em
1860 , porm disciplinado em 1862.
No ensino secundrio, a expresso de tal situao foi o esvaziamento do
Liceu com a fuga dos alunos para o ensino particular, que credenciava para
o ingresso s Academias, o que no ocorria com os estudos no Liceu.
Durante essa fase, as discusses presentes nas Falas presidenciais e
Relatrios sobre a instruo pblica do conta de preocupaes como
centralizar ou descentralizar a administrao do ensino, com vitria das idias
centralizadoras e a criao do cargo de Diretor Geral de Estudos, que
substituiu o Conselho de Instruo Pblica existente anteriormente; ensino
pblico gratuito ou ensino pago, para selecionar mais o tipo de pessoas a
freqentarem o Liceu; ensino propedutico ou um ensino mais prtico
18
como preparao para a vida e, at mesmo , idias que j pregavam a
necessidade de nacionalizao do ensino.
Em relao ao Liceu Provincial, podemos dizer que, segundo seus objetivos,
deveria conferir um ensino secundrio, at certo ponto terminal, isto ,
habilitando as camadas intermedirias a ingressarem diretamente no
mercado de trabalho, na maioria das vezes, em funes pblicas, Todavia,
acabava sendo um curso pretensamente preparatrio para o ensino superior,
sem, no entanto, habilitar para o seu ingresso. Nessa contradio,
percebemos que o Liceu Provincial , procurando ter um curso para
profissionalizar, a fim de atender formao de uma burocracia estatal, tem
um currculo propedutico, no conseguindo ser nem uma coisa nem outra.
Da o porqu da fuga de matrculas para o ensino particular, que era
claramente propedutico e habilitava para o ingresso no ensino superior,
enquanto o Liceu sequer conseguia que seus poucos alunos fossem
absorvidos pelo mercado de trabalho.
Ao continuarmos nossa pesquisa, agora complementando e analisando os
dados referentes s dcadas de 60 a 90, do sculo XIX, podemos distinguir
uma terceira fase para o estudo das polticas pblicas para o ensino
secundrio na Bahia.
Assim, passamos a considerar essa terceira fase correspondente s
dcadas finais do Imprio , abrangendo os anos 60 a 90 esse ltimo j
republicano, persistindo os problemas polticos e agravando-se a crise
econmica no Nordeste. Do ponto de vista educacional, essa situao se
expressa nas diversas reformas educacionais e na proliferao das escolas
particulares.
19
A partir do Regulamento Orgnico de 1860/62 at a Reforma de 1870 , as
discusses sobre o ensino secundrio na Bahia continuam sendo em torno de
questes como : a evaso para o ensino particular, incrementada com a
criao e afirmao de escolas particulares de peso como o Ginsio Baiano -
dirigido pelo ex-Diretor Geral de Estudos Ablio Csar Borges; as possveis
distores da Reforma de 1860 e a necessidade de reformular o ensino na
Provncia; a permanncia do no credenciamento dos alunos do Liceu ao
ingresso nas Academias e a importncia de serem realizados e aceitos os
exames preparatrios na provncia baiana; e at a proposta de extino do
Liceu Provincial da Bahia.
Os anos de 1860 a 1870 indicam, tambm, a derrocada do Imprio,
marcada por uma instabilidade poltica e econmica, sobretudo em relao
ao Nordeste, considerado por Ktia Mattoso como o perodo da
desagregao da Monarquia. Na educao baiana dos anos 60, h uma
tnue tentativa de sistematizao, com o Regulamento Orgnico de 1860/62,
mas que no foi concretizada na prtica.
Na dcada de 70, intensificou-se o deslocamento do eixo econmico do
Nordeste aucareiro decadente para o Centro-Sul cafeicultor, promissor com
certo surto industrial. Subjacentemente , esto os enfrentamentos questo
da escravido e introduo da mo- de - obra imigrante na lavoura cafeeira
no Centro - Sul do pas; as novas tendncias polticas, com destaque para
o positivismo de Comte e as idias republicanas, representadas pelo
movimento poltico de It.
20
Durante esse perodo, afirmam-se as influncias das idias importadas
como o liberalismo , do qual o Manifesto Liberal de 1868 uma expresso e
cuja crena bsica residia no sentido de elevar o Brasil s transformaes
que vinham ocorrendo, principalmente na Europa , no final do sculo XIX , ou
mesmo a criao do Partido Republicano em 1870. Tal postura implicou na
proposta de reformas das instituies existentes, em todos os sentidos,
sempre a partir de modelos importados e no com base na realidade
brasileira.
Essa ebulio poltica e econmica era expressa na educao brasileira,
atravs de uma srie de reformas ocorridas fundamentalmente a partir da
Crte (como a reforma de Lencio Carvalho), com repercusso em todo o
pas, indicando a nova face que ia assumindo, aos poucos, o Estado
brasileiro, com imensas disparidades regionais.
Para a educao baiana, especialmente no que diz respeito s polticas
pblicas para o ensino secundrio, tal situao se expressava nas propostas
de reforma do ensino que, efetivamente, passaram a ocorrer a partir de
1870, seguida de reformulaes e regulamentaes em 1873 , 1875 e
1881 , at a Reforma de 1890 , j no Brasil Republicano.
Podemos considerar esse perodo como uma terceira fase para a
compreenso das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do
sculo XIX que, a partir do advento da Repblica. assumiu caractersticas
especficas.
21
De tais caractersticas, uma, que deve ser destacada dos levantamentos
realizados , diz respeito ao fato de que, tanto a Reforma de 1860 quanto a de
1870 passaram a ser discutidas e criticadas mesmo antes que os seus
dispositivos fossem aplicados ou at mesmo regulamentados , sendo
superados no tempo. No entanto, apesar de incompletas na sua aplicao,
buscaram-se novas reformulaes, implicando em uma instabilidade de
aes, dificultando qualquer anlise sobre seus resultados.
Pretendemos, assim, atravs desta pesquisa, aprofundar os estudos
para melhor compreenso das polticas pblicas para o ensino secundrio
na Bahia, durante o Imprio, acrescentando s duas fases j analisadas
na dissertao de Mestrado, uma terceira fase que, acreditamos, compe
a periodizao da histria da educao na Bahia, aprofundando a
concepo terica de uma anlise que possa contribuir para a composio
do quadro historiogrfico - to lacunar - da educao baiana do
perodo. Ao mesmo tempo, consideramos de fundamental importncia
superar as vises que analisam a educao apenas com base na
histria poltica do pas, passando a construir e a adotar uma
periodizao prpria para a histria da educao baiana.
Buscamos compreender as polticas pblicas para o ensino secundrio na
provncia baiana , durante o Imprio. Acreditamos que o perodo delimitado
1860 a 1890 compe uma nova fase para o ensino secundrio da Bahia,
que denominamos de terceira fase , uma vez que os perodos que a
precedem , j foram analisados em pesquisa anterior.
22
Nossa proposta no visa discutir a histria do Liceu Provincial , ou discutir
dentro de uma cronologia , os acontecimentos naquele estabelecimento de
ensino. Entretanto, foi o Liceu, desde a sua instalao , em 1836 , at as
primeiras dcadas da Repblica, a nica instituio pblica de ensino
secundrio . Assim , qualquer ao dos poderes pblicos em relao a essa
modalidade de ensino, teria que recair necessariamente sobre o Liceu
Provincial da Bahia , que passou a ser nosso referencial na busca da
compreenso de como os poderes pblicos constitudos pretendiam conduzir
os estudos denominados secundrios.
23
2 JUSTIFICATIVA
Procurando dar continuidade a pesquisa j realizada anteriormente,
buscamos a anlise das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia,
na segunda metade do sculo XIX.
Na pesquisa j desenvolvida , estudamos o processo histrico que gerou e
desenvolveu o conjunto de aes pblicas para a educao na Bahia, no
sculo XIX. Nosso objetivo, naquele momento , era a anlise da origem das
polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, sendo o Liceu
Provincial a instituio que expressava a concretizao de tais polticas
pblicas.
A poltica pblica para o ensino secundrio na Bahia, no sculo XIX, era
expressa no Liceu Provincial (que em 1890 passou a denominar-se Instituto
Oficial de Ensino Secundrio; em 1895 , Ginsio da Bahia e, em 1942,
Colgio da Bahia), e que, por muito tempo, foi a nica instituio oficial para o
ensino secundrio na Bahia.
Para atingirmos nosso objetivo central na elaborao da dissertao de
mestrado , delimitamos o perodo da pesquisa entre o ano da criao do
Liceu Provincial - 1836 e o ano da edio do primeiro Regulamento Orgnico
para a educao na Bahia - 1860. As iniciativas pblicas quanto educao
no Brasil datam da mesma poca, como o caso do Colgio Pedro II no Rio
de Janeiro, vrios Liceus no Nordeste, como o Liceu Provincial da Bahia, fruto
da pretensa descentralizao proporcionada pelo Ato Adicional de 1834.
24
No desenvolvimento da pesquisa, na realidade, partimos do processo de
emancipao poltica do Brasil, levando em conta as caractersticas de
formao do Estado brasileiro e sua expresso nas polticas pblicas para a
educao, sobretudo no que diz respeito ao patrimonialismo, patriarcalismo e
s influncias externas, como o liberalismo.
Para a compreenso do movimento histrico que gerou e desenvolveu as
polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo XIX,
procuramos traar um quadro da economia da poca, bem como delinear a
matriz social.
No processo de formao do Estado brasileiro, com a anlise econmica e
social do perodo, discutimos a educao como expresso deste quadro, a
partir das Leis, Falas e Relatrios da poca , como principais fontes.
Na anlise realizada, compreendemos que o perodo delimitado - 1836 a
1860 - encerrava um momento especfico para a origem das polticas
pblicas para o ensino secundrio na Bahia, assim como a sua afirmao
com o Regulamento Orgnico de 1860. A partir desse perodo, as polticas
para a educao na Bahia, como no Brasil, assumiram novas caractersticas.
A prpria Reforma realizada na Bahia, com o Regulamento de 1860, teve
dificuldades na sua implantao e uma vida de dez anos, apenas, pois em
1870 uma nova Reforma veio substitu-la.
Dos anos 60 do sculo XIX at a Proclamao da Repblica, muitas
mudanas aconteceram no pas, com fortes interferncias na vida do
Nordeste brasileiro, com a intensificao da lavoura de caf no Sul e Sudeste
do pas, ao mesmo tempo em que o Nordeste, j com problemas com a
lavoura de cana de acar, aprofunda uma crise econmica e social da qual
no consegue levantar-se impune.
25
Assim , compreendemos que, para o estudo das polticas pblicas para o
ensino secundrio na Bahia do sculo XIX, da maior importncia a anlise
do perodo entre 1860 e 1890, que estamos considerando como uma outra
fase para o ensino secundrio na Bahia
26
3 - OBJETIVOS
GERAL
Analisar o movimento histrico de desenvolvimento das polticas
pblicas do ensino secundrio na Bahia , durante o final da
Monarquia brasileira , a partir do Regulamento Orgnico de
1860 at a Reforma na Instruo Pblica ocorrida em 1890.
ESPECFICOS
1 - Reconstituir a dinmica das polticas pblicas do ensino
secundrio na Provncia da Bahia, a partir das fontes primrias
, constitudas fundamentalmente pelas Leis , Regulamentos e
Falas
2 - Caracterizar o processo social do perodo em estudo, em
especial os aspectos que dizem respeito ao Estado brasileiro em
afirmao, expressas nas polticas pblicas do ensino secundrio
na provncia baiana , a partir das fontes secundrias .
3 - Desenvolver uma anlise terica em relao questo
do processo social (totalidade) e polticas pblicas para a
educao na provncia (parte), a partir de um referencial terico
cujas premissas fundamentais residem na no linearidade do
processo histrico mas na concepo da Histria como substrato para o entendimento de todo o processo.
27
4 - ORGANIZAO DO TRABALHO Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, buscamos as fontes
primrias que pudessem dar as indicaes a respeito das polticas pblicas
para o ensino secundrio, desenvolvidas durante o perodo de 1860 a 1890 .
Tais fontes foram localizadas, fundamentalmente, no Arquivo Pblico do
Estado da Bahia e no Instituto Histrico e Geogrfico da Bahia.
A primeira etapa foi de organizao do material coletado Falas, Leis e
Relatrios - e sua seleo; partirmos, ento, para a anlise, ao lado de
bibliografia que trata do tema.
A diretriz que norteou a pesquisa est explicitada no captulo 2,
Fundamentao Terica e Metodolgica, onde discutimos a concepo de
Histria, a partir da qual elaboramos todo o trabalho , alm de fazermos uma
exposio a respeito da anlise histrica e suas varias faces. Nesse captulo
tambm explicamos quais os procedimentos metodolgicos utilizados na
pesquisa , concluindo com quadros explicativos desses procedimentos.
28
O terceiro captulo busca analisar as condies histricas do perodo
estudado na Bahia - 1860 a 1890, destacando a dcada de 60, quando
ocorreu uma certa tentativa de sistematizao para o ensino pblico, com o
Regulamento Orgnico. Nesse captulo, enfocamos no s o contedo do
Regulamento Orgnico de 1860, como tambm a legislao que definiu o seu
funcionamento, as diversas crticas , a reivindicao de um ensino mais
prtico. Paralelamente, tratamos da proliferao do ensino particular em face
das deficincia do ensino pblico. E ainda nesse captulo, abordamos toda a
discusso sobre o ensino secundrio, destacando as diversas posies
quanto conduo das polticas pblicas, inclusive sobre a preparao de
uma nova reforma.
No quarto captulo, a discusso fica por conta das condies da provncia
baiana durante o perodo de desagregao do Imprio. So anos agitados
com as questes que abalaram esse momento histrico. Para a educao, a
expresso da instabilidade poltica a instabilidade de aes , resultando
disso a ocorrncia de trs reformas, a de 1870 ,a de 1873 e a de 1875. No
final dos anos 70, vrios foram os aspectos discutidos com relao
educao, destacando-se a liberdade de ensino, o ensino obrigatrio e o
ensino misto.
O quinto captulo trata dos anos finais do Imprio , marcados por grandes
discusses, a exemplo da libertao dos escravos e da chegada ao pas da
mo de obra imigrante, alm do desenvolvimento, cada vez maior, da
regio Sudeste, em detrimento do Nordeste. Os anos 80 do sculo XIX so
marcados, tambm, por questes como a gratuidade e a obrigatoriedade do
ensino , ao mesmo tempo em que avana cada vez mais a solidificao e
organizao do ensino particular, para onde fogem os alunos que tm
condies de sustentar tal ensino. no final desta dcada (1890) que o
Liceu transformado em Instituto Oficial de Ensino Secundrio da Bahia.
29
Finalmente, no sexto captulo, procuramos expressar nossas consideraes
finais diante da documentao analisada sobre o desenvolvimento de
polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, na segunda metade do
sculo XIX , bem como apontar para possveis desdobramentos e
observaes sob outros ngulos no abordados na presente pesquisa.
30
II FUNDAMENTAO TERICA METODOLGICA
1 - A Concepo de Histria e Histria da Educao
O desenvolvimento da pesquisa realizada parte de alguns pressupostos
tericos bsicos , no que diz respeito concepo de Histria. H
uma vasta discusso sobre conceitos de Histria que demandam
explicitao, indicando os caminhos seguidos na presente pesquisa.
As discusses em termos do significado da Histria tm um longo
percurso e podemos, ainda na atualidade, afirmar, concordando
com Jacques Le Goff, assim como com Ciro Flamarion, que a
Histria sendo um processo de mudana , em constante
transformao , poderia ser definida como uma cincia em
construo.
Em linhas gerais , o panorama de posies existentes at a
formulao de tal enunciado pode ser apresentado, a partir dos
significados que a palavra histria adquire atravs dos tempos.
Para Hegel , o termo histria implicaria em dois sentidos: de um
lado, histria rerum gestarum , isto , o lado subjetivo, a narrao das coisas feitas (fatos) e, de outro, o objetivo, res gestae., Isto , as coisas feitas . Esta posio implica em produes diferentes,
com concepes opostas na Histria, a saber, o positivismo e o
idealismo.
31
Adam Schaff (1987), buscando a anlise e o tratamento dado ao
fato histrico, nas diferentes concepes de Histria , tipifica trs
modelos. Ao discutir tais modelos, analisa o primeiro no qual o
objeto do conhecimento - os fatos - atua sobre o sujeito , que
passivo. Dentro dessa compreenso , os fatos histricos existiriam
como uma estrutura j dada. Nesse caso, falariam por si s,
sendo considerados como coisas feitas ( a concepo da Histria res gestae ). Assim, ao historiador somente caberia mostrar
os fatos efetivamente como sucederam, atravs da pura e simples
ordenao cronolgica da documentao. Desse caso, como produto,
resulta a descrio histrica mecanicista, caracterstica da postura
positivista.
Em um extremo oposto, Schaff apresenta um segundo modelo , no
qual o sujeito passa a ser preponderante sobre o objeto do
conhecimento - no caso, os fatos histricos . Dentro dessa
concepo, o sujeito que praticamente determina o objeto , isto , o
historiador determina, em uma postura subjetivista, os fatos histricos
que, nesse caso, so considerados a partir da narrao das coisas
feitas - ( a concepo da Histria rerum gestarum ). Assim , todo
peso empreendido ao historiador que interpreta , seleciona e narra
os fatos. Como produto de tal posio, podemos observar uma
subjetividade na narrao dos fatos , como na postura idealista, em
que o fato histrico somente ganha status a partir da interpretao
do historiador. Ainda dentro dessa viso , podemos exemplificar com a
posio de Carr , indicando que Os fatos falam apenas quando
o historiador os aborda: ele quem decide quais os fatos que vem
cena e em que ordem ou contexto. (CARR,1982 :14).
32
Para esse autor, a existncia objetiva dos fatos independente da
interpretao do historiador uma falcia.
Rechaando as duas concepes , Schaff inclui um terceiro
modelo, no qual h uma relao recproca entre o sujeito
(historiador) e o objeto (fato). Nesse caso, o sujeito e o objeto esto
em interao , existindo tanto a atividade do sujeito, quanto a
influncia do objeto, mantendo uma existncia objetiva e real,
atuando um sobre o outro.
Caminhando nessa linha de anlise e avanando nas discusses, Felipe
Serpa (1989) argumenta que essa relao recproca entre o sujeito
e o objeto possvel, porque tanto o sujeito como o objeto esto
submersos na Histria, no espao / tempo histrico, que se traduz
na sua historicidade.
Na discusso dos caminhos percorridos pelas diversas concepes da
Histria, desde a histria linear dos fatos singulares at a histria das
estruturas , Ciro Flamariom Cardoso indica que o eixo de preocupao
do historiador ,ou seja, o objeto da histria, de acordo com a Escola dos
Annales - histria nova, o homem e sua atividade, entendendo-se por
homem no o personagem, que tanto ilustrou a histria dos heris , mas o
homem em seu grupo social , uma histria da sociedade em movimento.
(CARDOSO.1979:349)
No que concerne ao estudo da Educao brasileira , interessa
questionarmos a grande quantidade de produes que, simplesmente,
ignoram o aspecto histrico de suas pesquisas. At mesmo entre as
diversas tendncias do pensamento educacional, constatamos a
caracterstica de serem , em grande parte , ahistricas.
33
Procurando discutir os aspectos dos problemas atuais da Educao
brasileira, Nagle (1984 :23) aponta para o fato de que o estudo da
Educao tem sido quase sempre escolar e , s recentemente, sob
uma perspectiva histrica. Para esse autor , isso ocorre, porque
no Brasil no h uma preocupao com a gnese ou com o
desenvolvimento das idias . Ns acrescentaramos a esse fato, que
uma afirmao vlida de forma geral, resultante do descaso
com a memria histrica do pas.
No mesmo artigo, Nagle ainda afirma que tal postura leva a
decretar-se assim a morte do passado , mesmo do passado mais
prximo (NAGLE.1984:23) . Da decorrem alguns problemas graves,
assim enumerados por ele:
no h herana intelectual no campo dos estudos histricos, o que implica, conseqentemente , em que isso se
expresse tambm na Educao;
especificamente com a Educao , ainda nos deparamos com outras questes interligadas quelas j discutidas ,
como:
a) dificuldade de localizar documentos histricos
b) pressa em elaborar interpretaes sobre documentos
que, muitas vezes, provocam deficincias nas anlises ou
trabalhos relativos Histria da Educao
grande deficincia historiogrfica.
34
No que diz respeito a esta ltima questo , Miriam Jorge Warde
(1990:3) , afirmando que enfrentar a Histria uma tarefa
arriscada e, em relao Histria da Educao , arriscadssima,
realizando uma pesquisa sobre historiografia da educao
brasileira, constatou que pouqussimos trabalhos em Educao
recorrem Histria como mtodo de anlise.
Aqui caberia uma outra vertente na discusso, que exatamente
sobre a historiografia e seu significado. Do ponto de vista
positivista, um simples conjunto sistematizado de escritos de
Histria . J as posturas opostas no consideram a historiografia
simplesmente como um reflexo , mas, sim , como a preocupao
em relao natureza do que escrito.
A pesquisa de Warde demonstra , tambm , que aqueles que se
dedicam pesquisa histrica na educao , o fazem para
determinados perodos, atravs de marcos consagrados da poltica.
Assim, comum que, para alguns perodos histricos, haja uma
grande produo, enquanto que para outros h quase um vazio
de investigaes. o que ocorre com o sculo XIX e a
Educao, sobretudo no que diz respeito Bahia. A ttulo de
exemplificao , Warde indica que, aproximadamente, 80% das
pesquisas em Histria da Educao dizem respeito fase
republicana e, nesta, ao perodo de Vargas, sobretudo ao
Estado Novo.(WARDE.1990)
35
Ao mesmo tempo, a forte influncia positivista na educao
brasileira tem produzido estudos que representam descries de
tendncias pedaggicas, em uma seqncia cronolgica e de
acordo com os marcos a que nos referimos anteriormente.
Essa discusso importante para destacarmos o fato de que as
pesquisas sobre Educao no podem estar desvinculadas de
uma concepo histrica, at porque a Educao uma forte
expresso do processo histrico.
A Histria da Educao e da Pedagogia ( como teoria da
Educao ) deve ser encarada , do nosso ponto de vista,
a partir da concepo acima exposta. Mas, tal postura pode
ser considerada como uma tendncia recente na historiografia
da Histria da Educao que, tanto do ponto de vista geral
como no que diz respeito situao brasileira, no das mais
ricas.
Partimos do pressuposto da Histria como cincia fundamental,
no sentido de que a compreendemos como substrato a toda
cincia, como bem discorre Pierre Vilar , que tambm considera
a Histria como cincia em construo, mas fundamental para
tudo pensar historicamente .
, portanto, com a viso de que a Histria, como cincia
fundamental, estuda no o passado, mas a sociedade imersa
no espao/tempo histrico e, por conseguinte, a partir da qual a
totalidade cognoscvel, que buscamos ter a base terica
para a nossa pesquisa.
36
O que se pretende no uma simples descrio ou exposio
de prticas pedaggicas ou sistemas escolares ao longo do tempo
e sim , prticas e sistemas entendidos como expresso de um
processo mais amplo econmico, social, poltico e ideolgico, ou
seja, compreendidos se pensados historicamente.
Isso implica em uma preocupao no em contextualizar,
historicamente, no caso, o Liceu Provincial, mas trabalh-lo a
partir da perspectiva da sua historicidade. Assim, os temas
educacionais so estudados como expresso da historicidade que
contm. No caso do Liceu Provincial, por ser durante muito
tempo a nica instituio pblica para o ensino secundrio na
Bahia, ele expressa, na sua prtica, o conjunto de polticas
pblicas estabelecidas pelos poderes constitudos para este ensino,
indicadas tanto na sua estrutura, como no desenvolvimento de seus
programas.
Compreendemos, dessa maneira, que a pesquisa de Histria da
Educao, dentro da concepo j discutida, de grande importncia
tanto no nvel das relaes entre o Estado e a Sociedade
como em relao prxis pedaggica expressa pelas polticas
pblicas. Pode vir a ser, ainda, relevante para uma contribuio
historiografia da Histria da Educao baiana, to lacunar no
perodo estudado, desenvolvendo a preocupao no de
contextualizar ou descrever a histria do Liceu Provincial da
Bahia, mas entend-lo como uma expresso da historicidade do
processo.
37
Para a concretizao da pesquisa proposta , dentro da
concepo acima indicada, o ponto de partida foi a prpria
legislao oficial, como Falas , Relatrios e Leis, alm de
discursos da poca, sendo basicamente de fontes primrias,
coletadas nos arquivos e bibliotecas pblicas . Contamos, tambm,
com a Memria Histrica do Ensino Secundrio Official na
Bahia , escrita pelos professores Gelsio Farias e Francisco
Conceio Menezes , por ocasio do centenrio de fundao da
Instituio, repleta de fatos , que do indicaes para que
possamos compor uma anlise para o perodo estudado.
Segundo os objetivos propostos , partimos dos resultados de
nossa Dissertao de Mestrado , com o Regulamento Orgnico
de 1860 , passando pela Reforma da Instruo pblica de 1870
at a Reforma de 1890 que criou o Instituto Official do Ensino
Secundrio da Bahia , no lugar do Liceu Provincial ,
representando o encerramento de um perodo e o incio dos
anos republicanos , em que as caractersticas para a educao
baiana e brasileira j assumem novos aspectos.
A documentao - fontes primrias - , foi analisada conjuntamente
com as fontes secundrias que trabalham com a Histria do
pas, durante o perodo proposto , sobretudo no que diz respeito
aos anos finais da Monarquia e as perspectivas republicanas.
Contamos tambm com a produo sobre a situao da Bahia no sculo XIX
38
A exemplo do que desenvolvemos na dissertao de Mestrado,
no poderamos deixar de destacar as caractersticas marcantes
de formao e afirmao do Estado brasileiro , como o
patrimonialismo , presentes em todo processo , com fortes
repercusses sobre o desenvolvimento das polticas pblicas
para a educao , principalmente durante o perodo estudado,
quando o ensino particular se afirma e se fortalece, percebendo-se
que os poderes pblicos, de certa maneira, com isso compactuam
Nesse sentido, um exemplo que bem expressa a caracterstica
patrimonialista do Estado brasileiro pode ser vislumbrado, quando se
analisa a composio e atuao dos governantes. Em artigo que
discute a questo do regionalismo e a Bahia no sculo XIX,
Consuelo Novais argumenta :
Durante o II Imprio foi principalmente a aristocracia
rural dos grandes proprietrios de terras que constituiu
as elites governantes , nos nveis local e nacional ,
assegurando a defesa de seus interesses na esfera
poltica . (NOVAIS , 1977: 11).
39
2 A ANLISE HISTRICA
A opo pelo estudo da educao baiana e, especificamente, do ensino
secundrio, a partir de uma anlise histrica, visa cumprir o objetivo de
buscar suprir o preenchimento das lacunas existentes na Histria da
Educao baiana. O sculo XIX , para tanto , torna-se um marco decisivo ,
visto que foi naquele momento que ocorreram algumas transformaes na
educao brasileira e baiana, pelo menos no tocante s polticas pblicas
empreendidas a partir do Ato Adicional de 1834 . J havendo desenvolvido a
anlise dessas polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia, na
primeira metade do sculo, nossos marcos histricos para a presente tese de
doutoramento passam a ser 1860 , com o Regulamento Orgnico para
educao e, 1890 com a reforma da educao baiana , j no perodo
republicano , dando incio a uma nova etapa para o ensino secundrio
baiano , agora no Instituto Oficial de Ensino Secundrio.
O desenvolvimento de uma anlise histrica da educao baiana , porm ,
parte de caminhos e descaminhos possveis , diante da diversidade de
propostas que envolvem tal estudo. No captulo em que desenvolvemos o
quadro de referncias tericas , buscamos indicar os pressupostos
metodolgicos que envolvem a presente pesquisa . Entretanto , para essa
definio, torna-se necessrio discutir, dentro do leque de propostas
apresentadas como anlise histrica , a nossa opo , buscando a anlise do
processo , no caso em tela , das polticas pblicas para o ensino secundrio
no sculo XIX , na Bahia .
40
Ao discutir a diversidade metodolgica para a anlise histrica , Virgnia
Fontes argumenta que preciso ir alm da compreenso do senso comum
sobre o que vem a ser o mtodo , definindo - o como um instrumento de
trabalho que , orientado teoricamente , capaz de estabelecer homologias
(construindo isomorfias) entre dados que , primeira vista, so dspares ,
fazendo ressaltar o sistema que os ordena. (FONTES,1997: 355).
Ao longo da Histria podemos distinguir a diversidade metodolgica
assumida por correntes de pensamento. Nesse sentido, a tradio positivista
considera o emprico como o dado concreto. Assim sendo , seu objetivo , no
caso da anlise histrica , seria o de descrever a realidade em questo -
o fato - , utilizando-se, para tanto , de uma metodologia capaz de
quantificar os dados, a fim de abalizar a sua descrio. No extremo oposto ,
o idealismo , concebendo a Histria como pura subjetividade , considera os
documentos como o local onde esta subjetividade se concretiza , tanto no que
diz respeito aos seus autores , como com a interpretao feita pelos
historiadores.
Descartando-se as duas vertentes mencionadas , podemos dizer que, talvez
se possa encontrar o mais produtivo na anlise histrica, considerando o
emprico , isto , os dados coletados experimentalmente, no como um
resultado em si prprio , ou mesmo como decorrente da pura subjetividade
do pesquisador , mas sim como o resultado de uma construo , em que os
dados so selecionados pelo pesquisador , porm no sem serem lastreados
por pressupostos tericos que permitam a elaborao da questo ,
orientando os dados a serem pesquisados.
41
No ir e vir - caminhos e descaminhos - da Histria , Ciro Flamarion Cardoso
(1997 : 2-23) , discute a polmica atual na historiografia quanto ao mtodo ,
que denominou de paradigmas rivais . De um lado estaria o paradigma por
ele denominado de Iluminista ou moderno e de outro o ps-moderno .
O paradigma iluminista descrito por Cardoso como sendo aquele que
pretende uma anlise histrica cientfica e racional. Segundo o mesmo autor,
o ponto de partida para tal anlise histrica seria a produo de
conhecimento hipottico , como a histria-problema dos Annales,
acreditando-se que:
(...) fora de tal atitude bsica , o saber histrico no responderia s
demandas surgidas da prxis social humana no que tange
existncia e experincia dos seres humanos no tempo , nem
seria adequado no enfoque da temporalidade histrica como
objeto. (CARDOSO,1997:4)
Para Cardoso , tal tendncia filosfica, fundada nos sculos XVIII e XIX ,
reforada, neste ltimo, pelo emprego de modelos macro-histricos
teorizantes. Como exemplos para tal modelo, ele indica o evolucionismo , o
marxismo, o weberianismo e algumas vertentes do estruturalismo. No caso
do marxismo , argumenta que sua ambio seria a de reunir em um nico
movimento de pensamento , os enfoques gentico e estrutural das
sociedades , buscando uma viso, ao mesmo tempo, estrutural e dinmica
das sociedades humanas. Ainda segundo este autor , trata-se de:
42
(...) uma histria analtica , estrutural, (e mesmo
macroestrutural) , explicativa ( na prtica, ainda em casos como
o de Weber que pretendia praticar uma cincia da
compreenso , e no da explicao) ... (CARDOSO,1997:4)
Em um outro lado , estaria o paradigma ps-moderno , caracterizado pela
recusa de vises globais , apontando no para a Histria , mas sim para a
existncia de histrias. Dentro dessa perspectiva no haveria lugar para a
macro histria , devendo-se :
(...) abandonar o analtico , o estrutural, a macroanlise , a
explicao - iluses cientificistas - em favor da hermenutica , da
micro -histria , da valorizao das interaes intencionalmente
dirigidas , da concepo da histria como sendo narrativa e
literria. (CARDOSO , 1997: 17)
De acordo com tal explicao , o que se leva em considerao, do ponto de
vista social , so os indivduos e os pequenos grupos com suas crenas,
valores e desejos ,o que prprio dos estudos da denominada Nova Histria.
No entanto , as crticas feitas ao chamado paradigma ps-moderno
apontam para o perigo de que, em um af anti-racionalista , esta anlise
venha acompanhada de certo descaso terico-metodolgico . Assim
argumenta Ciro Flamarion:
43
O anti-racionalismo tpico da corrente s vezes se acompanha
de certo desleixo terico metodolgico ... Os ps-modernos
costumam, com efeito, ser mais apodcticos e retricos do que
argumentativos... (CARDOSO,1997:19)
Ao discutir o que denomina de paradigmas rivais na contemporaneidade,
Cardoso argumenta ser plenamente possvel que a anlise histrica venha
mesclar aspectos positivos de cada paradigma , excluindo-se , porm, os
excessos unilaterais que, muitas vezes, esto mais configurados no mbito
de lutas ideolgicas ou modismos. O referido autor ainda acrescenta:
(...) no creio que estejamos obrigados a passar do rigor formal e
muitas vezes ilusrio do cientificismo para algo to limitado quanto
uma busca interpretativa culturalmente contextuada, uma
hermenutica que se esgote em si mesma. As cincias sociais , entre
elas a histria , no esto condenadas a escolher entre teorias
deterministas da estrutura e teorias voluntaristas da conscincia , ...
nem a passar de uma cincia freqentemente mal conduzida -
comprometida com teorias defeituosas de causao e da
determinao e com uma anlise estrutural unilateral - s
evanecncias da desconstruo e ao imprio exclusivo do relativismo
e da micro anlise. (CARDOSO,1997:23)
44
Dentro desta anlise , podemos perceber que admitida a possibilidade de
compatibilizao , ainda que com paradigmas rivais , entre abordagens
globalizantes e anlises microscpicas na investigao histrica.
Para Ronaldo Vainfas , este no um caminho fcil a ser perseguido , tendo
em vista que:
(...) embora combinveis , so paradigmas que geram opes
distintas, modos diferentes de conceber o objeto de investigao e
executar a pesquisa. (VAINFAS,1997: 447).
Ao analisarmos as polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do
sculo XIX , tendo, como expresso de tais aes pblicas , o Liceu
Provincial , podemos considerar tratar-se de um objeto macro-histrico ,
envolvendo a prpria consolidao do Estado brasileiro, na segunda metade
do sculo , sua poltica para a educao e as posies assumidas pela
provncia baiana. Entretanto , ao buscar no Liceu Provincial , em Salvador, a
expresso destas polticas - micro- histria - , no assumimos a postura de
uma anlise microscpica daquele estabelecimento de ensino, mas sim, a
compreenso de como tais polticas se evidenciaram na prtica, mostrando
a viabilidade de construo de uma Histria -sntese.
45
Combinando a discusso de caminhos metodolgicos concepo de
Histria adotada como processual , dinmica em constante movimento, - j
discutida anteriormente - encontra-se nossa perspectiva de analisar a
poltica educacional para o ensino secundrio da Bahia do sculo XIX.
Tal perspectiva no pode ser concretizada sem que se tenha sempre
presente , caminhando lado a lado, as condies polticas sociais e
econmicas do Imprio e da Provncia baiana.
Nesse sentido , podemos afirmar que, ao longo deste percurso , no foi
possvel distinguir uma poltica educacional claramente estruturada que,
aliada instabilidade poltica geral , reduz o processo educacional a uma
srie sucessiva de reformas na Instruo Pblica. Apesar da no
estruturao de uma poltica especfica para a educao secundria , tal
ausncia ou mesmo as incertezas quanto forma e objetivos para tal
educao , nos indicam os caminhos adotados pelos rgos oficiais ,
traduzidos em aes dos poderes pblicos constitudos , aqui denominados
de polticas pblicas para o ensino secundrio.
Durante todo perodo estudado, a referida ausncia de uma estrutura clara
para o ensino secundrio baiano acompanhada por discursos que, a todo
tempo, indicam uma desqualificao para o ensino secundrio ministrado no
Liceu Provincial , a ponto de , por sucessivas vezes, chegar-se a ventilar a
possibilidade de extino do Liceu e, conseqentemente , do ensino
secundrio pblico.
46
Entretanto , mesmo com a possibilidade de extino , o ensino secundrio
pblico no deixou de existir. Assim , cabe a pergunta: o que sustentava o
funcionamento do Liceu Provincial , ministrando o ensino secundrio baiano,
se at mesmo presidentes da provncia e diretores de estudo chegaram a
prever o seu fim? Por que , mesmo com tantas crticas , o Liceu continuou
existindo? Que funo ele estaria cumprindo?
Porm , parece que essas dvidas e indefinies em relao ao ensino
secundrio no so caractersticas especficas da provncia baiana ou do
Brasil , mas sim , fazem parte de uma intricada situao de crise de
identidade dessa modalidade de ensino, que atinge tambm outros pases.
O ensino secundrio brasileiro baseou-se muito no modelo das escolas
francesas. Mas o desenvolvimento do ensino secundrio na Frana , no
sculo XIX , obedeceu a determinadas caractersticas especficas do pas ps
- revoluo. No entanto , transplantaram para o Brasil o modelo francs, sem
que fossem guardadas as caractersticas especficas de cada pas.
No caso francs, o pas discutia a necessidade da substituio dos colgios
latinos, representativos do Antigo Regime, por outra estrutura que ,
preservando a cultura da elite , representasse as mudanas que o regime
burgus imprimia sociedade que, rapidamente, recebia novos contornos
com a industrializao.
47
A industrializao implicava em novas exigncias para os trabalhadores e,
portanto, mudanas nas escolas. Entretanto , essas mudanas no ocorreram
facilmente. Questionamentos do tipo de quais conhecimentos cientficos
seriam adequados ou que nvel de discurso deveriam ser adotados nos
colgios, fazem parte das dvidas para a implantao do ensino secundrio
francs. As respostas s dvidas existentes quanto ao tipo de escola mais
adequada oscilavam por vrios caminhos que, de acordo com Andr Petitat,
eram definidos atravs da dimenso do poder e do jogo existente entre as
diferentes classes sociais.
Para as elites dirigentes francesas do sculo XIX, era necessria uma
redefinio cultural , que passava pela formao de uma estrutura escolar
onde ficava delimitado o que deveria estar ao lado da cultura clssica e o que
deveria ser rejeitado . No caso dos aspectos rejeitados , eles ficariam
restritos a um outro tipo de curso secundrio , de segunda linha.
(PETITAT.1994:170)
De acordo com tal anlise, fica evidente que , no caso francs, h uma ntida
bifurcao entre o ensino secundrio destinado s elites , de carter mais
geral , preparatrio para o ensino superior e, por outro lado , um secundrio
mais utilitrio destinado s classes subalternas. H, portanto, um projeto
claramente seletivo e classificatrio. Ainda seguindo a anlise de Andr
Petitat , conclumos que , apesar de a industrializao determinar
necessidade de programas subdivididos na escola, essa determinao seria
parcial , pois o determinante mesmo estaria nas relaes de fora e de
diferenciao das classes sociais. Em decorrncia dessas questes que
estaria fundamentada a estrutura dos programas escolares.
(PETITAT.1994:171)
48
Vale notar que, no desenvolvimento do ensino secundrio da Frana no
sculo XIX, podemos perceber uma oscilao de posies definidoras do
ensino secundrio , porm todas abrangendo posturas que implicam no
dualismo do ensino ministrado.
Um aspecto importante do referido dualismo encontra-se na forma de
diferenciar o ensino , o que no se faz por programas diferentes , mas sim
pela intensidade com que os assuntos so tratados , principalmente os de
contedo geral, cultural e cientfico-utilitrio. Essa diferena, aliada s
distines de classe, que produziam ensinos distintos.
A distino existente no ensino secundrio francs era tratada claramente
nos discursos da aristocracia que temia que pudesse ocorrer o aumento de
estudantes no curso secundrio, vindo a macular a sensibilidade aristocrtica
a ponto de terem que preferir os colgios Jesutas ao liceu existente
(PETITAT.1994:175)
Para a elite francesa, o dualismo presente no ensino secundrio era encarado
com naturalidade, de forma que no se pensava em colocar em um mesmo
nvel os distintos cursos, isto , o ensino secundrio especial no seria
equiparado ao clssico e cientfico dirigido s elites. Portanto, havia um
secundrio mais utilitrio, no qual a cincia teria o carter vocacional, mais
profissional e, de outro lado , aquele preocupado com as cincias do esprito.
A barreira que se coloca como intransponvel para as classes populares o
ingresso ao ensino superior, pois o secundrio, a elas destinado, no
conduzia a tais estudos.
49
Da organizao do ensino secundrio francs do sculo XIX , interessante
notar a existncia de vrias semelhanas com o que ocorria com a mesma
modalidade de ensino na Bahia, no mesmo perodo, em que pesem as
diferenas econmicas , sociais e polticas, existentes entre os dois pases.
A sociedade brasileira e, especialmente baiana , no sculo XIX, tinha
caractersticas bem prprias, aristocrtica , latifundiria e escravista ,
diferenciando-se da situao europia. No entanto, foi esta sociedade que, se
apropriando , transversalmente, das idias liberais , comandou os destinos
brasileiro e baiano.
Apesar das diferenas , mesmo sendo o Brasil um pas dependente
economicamente, exportador de matria primas e importador de produtos
industrializados, bem distante do processo de industrializao por que
passava a Frana; mesmo sendo politicamente organizado sob uma
Monarquia, com um discurso pretensamente liberal, de um liberalismo que
assume caractersticas bem diversas da europia, pois aparece na fala de
uma aristocracia latifundiria , escravista , aliada Igreja da contra-reforma,
mesmo assim , transportaram-se os modelos educacionais aplicados na
Frana para o Brasil , sem que se pensasse em qualquer adaptao.
50
Devido situao econmica de pas dependente , no havia indstrias
como na Frana e, conseqentemente , menos ainda operrios. No entanto,
foram transplantadas as medidas adotadas na Frana , sem qualquer
questionamento, desde a denominao dos Liceus at o contedo
ministrado, bem como a sua estrutura sendo que, nesse caso,
particularmente , adotamos a falta de estrutura, com a abolio de cursos
seriados seqencialmente para substitu-los por disciplinas isoladas, cuja
matrcula dependia apenas e simplesmente da escolha do aluno , sem
qualquer orientao.
Um dos maiores problemas do ensino secundrio baiano , ministrado no
Liceu Provincial, tambm aparecia nos estudos secundrios franceses. Trata-
se do credenciamento , ou no , para o ingresso nas Faculdades.
No caso francs, a distino era feita com bastante clareza, pois existiam os
dois tipos de escolas. Aquelas que preparavam para os estudos mais
utilitrios, no credenciando ao ensino superior e, aquelas que, destinadas s
elites , preparavam para o ensino superior.
Novamente nos deparamos com questes semelhantes no Brasil e Bahia
especialmente , cujos estudos no Liceu Provincial , no habilitavam para que
se pudesse prestar os exames preparatrios, porta de entrada das
faculdades. Por outro lado , as escolas particulares , que proliferaram durante
o Imprio, possuam seus cursos estruturados , credenciando seus alunos a
prestar os exames preparatrios para ingresso nas faculdades. J para os
alunos do Colgio Pedro II , na Corte, sequer era necessrio fazer tais
exames, pois estavam credenciados ao ingresso nas faculdades
automaticamente.
51
No transplante de modelos educacionais de outros pases , muitas vezes
enaltecida a iniciativa particular , para justificar que, em muitas naes
desenvolvidas , o ensino secundrio estaria a cargo de particulares , sem que
o Estado tivesse que arcar com sua participao . o caso das Falas do
Baro de So Loureno , que explicitam a sua admirao por modelos
educacionais europeus , sobretudo aqueles mais privatizantes.
Curiosamente, durante a fase de governo Imperial , principalmente na sua
segunda metade , h uma grande proliferao das escolas secundrias
particulares. Seria talvez este um dos motivos de manuteno do ensino
secundrio pblico, mesmo com tantos problemas para o seu
funcionamento? Existiria esse tipo de instituio apenas para justificar a
necessidade de proliferao das escolas particulares?
52
3 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Como j indicado anteriormente, as fontes bsicas constitutivas da pesquisa
foram as Leis e Resolues aprovadas pela Assemblia Provincial da Bahia
e sancionadas pelos respectivos Presidentes da Provncia Baiana , aliadas
aos Regulamentos editados em decorrncia desses atos legais , referentes
ao ensino secundrio, durante o perodo de 1860 a 1890.
Consideramos , para tanto , todas as Leis e Regulamentos que , no perodo
indicado , interferiram, direta ou indiretamente , no desenvolvimento do
ensino secundrio na Bahia. Dessas fontes , puderam ser extrados os
dados documentais essenciais ao estudo das polticas pblicas para o
ensino secundrio.
Complementando os dados contidos nas Leis ,Resolues e Regulamentos,
outra fonte bsica est expressa nos discursos oficiais das Falas dos
presidentes da Provncia baiana , proferidos durante o perodo estudado , a
cada abertura ou encerramento dos trabalhos da Assemblia Provincial . O
contedo de tais Falas abrange os mais diversos aspectos da vida da
Provncia , tornando-se uma espcie de relatrio da situao em que ela se
encontrava , possibilitando uma viso ampla dos problemas e das aes
realizadas , com enfoque particular para aqueles relativos ao ensino
secundrio.
53
Ao lado dos documentos mencionados , foram, tambm, usados como fonte
os Relatrios elaborados por rgos oficiais encarregados de implementar ou
fiscalizar o cumprimento das normas legais , como o Conselho de Instruo
Pblica , Diretoria Geral de Instruo Pblica ou mesmo Direo do Liceu
Provincial , no perodo de 1860 a 1890. Os dados fornecidos por esses
documentos constituram-se em suporte essencial para expressar a
implementao das polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do
sculo XIX.
Essas fontes , por si , j podem dar conta do desenvolvimento do tema
proposto para esta pesquisa. No entanto , consideramos que seria
interessante , a ttulo de complementao , uma incurso pelos discursos
proferidos na Assemblia Provincial , por ocasio das discusses das Leis e
Reformas para Instruo Pblica . Essas fontes so mais restritas em
termos de perodo , vez que somente esto disponveis a partir de 1874,
assim mesmo com muita dificuldade, pela forma de editorao com
seqncias de discursos que no tratam necessariamente sobre o mesmo
tema.
Todos esses dados, no entanto , no poderiam deixar de estar
acompanhados por uma viso da sociedade da poca e , para tanto ,
recorremos literatura disponvel que caracteriza a sociedade baiana do
sculo XIX.
A partir do quadro de referncia traado , procuramos empreender
uma anlise sobre o desenvolvimento das polticas pblicas para
o ensino secundrio na Bahia , no sculo XIX , para o perodo
de 1860 - 1890. Nesse sentido , adotamos os seguintes
procedimentos metodolgicos:
54
1 - Levantamento das fontes primrias do perodo demarcado
entre o Regulamento Orgnico de 1860/62 e a Reforma de
1890;
2 - Elaborao de um quadro geral da legislao , a fim
de obter a compreenso das polticas pblicas do Estado para
o perodo considerado , em relao ao ensino secundrio da
Bahia ;
3 - Ampliao das fontes secundrias que caracterizem o
processo social do perodo onde se inserem as polticas
pblicas para o ensino secundrio , no perodo proposto para a
pesquisa;
4 - Estudo das fontes secundrias , com o objetivo de
analisar o movimento entre a caracterizao das polticas
pblicas em relao ao ensino secundrio na Bahia e o
processo social no perodo considerado ;
5 - Anlise do movimento do processo social ( totalidade ) e
das polticas pblicas de educao do Estado para o perodo
proposto ( parte ) , tomando como referencial terico as
anlises e concepo de Histria , explicitadas no item anterior .
55
O desenvolvimento desses procedimentos metodolgicos obedeceu
s seguintes etapas :
10. Localizao e coleta de dados dos documentos oficiais - fontes primrias.
Com o objeto de pesquisa e perodo delimitado , partimos
para a coleta do material , integrado basicamente por fontes
primrias , a partir das Falas , Relatrios e Leis . Esses
documentos foram localizados no Arquivo Pblico do Estado da
Bahia e na Biblioteca do Instituto Histrico e Geogrfico da
Bahia.
A coleta constou, basicamente, de localizao e fichamento das
Falas dos Presidentes da Provncia baiana , no perodo proposto,
por ocasio da abertura ou encerramento dos trabalhos
legislativos , ou mesmo na passagem do cargo por motivo de
afastamento , momento em que tais Falas tm o carter de
relatrios sobre todas as questes que envolvem a Provncia,
sendo ricas em dados . Por tratarem-se de documentos
gerais, alm das questes que envolvem nosso objeto de estudo
- ensino secundrio - , tivemos a oportunidade de coletar dados
amplos sobre a provncia , dentro da viso de seu presidente.
56
Foram , ainda , coletados e fichados os dados referentes ao
perodo de 1860 a 1890 , constantes dos Relatrios de
Instruo Pblica , apresentados pela Diretoria Geral da Instruo
Pblica da Bahia aos Presidentes da Provncia . Nesses
Relatrios, podemos apreciar as diversas anlises sobre o
ensino secundrio no perodo , assim como as concepes
variadas sobre os objetivos do ensino secundrio e o ensino no
Liceu
Ao lado das Falas e Relatrios , foi realizado o levantamento de
toda legislao pertinente ao perodo, com destaque para aquelas
que afetaram diretamente o ensino secundrio e o Liceu Provincial.
Tal legislao vem traduzir em ao , as discusses constantes
nas Falas e Relatrios.
Outro aspecto importante que deve ser considerado a
discusso travada na Assemblia Provincial . Nas discusses
sobre questes e projetos relacionados educao e ao ensino
na provncia, podemos verificar a possibilidade de um outro lado do
discurso oficial, com posies relacionadas ao pagamento ou
gratuidade do ensino , ou mesmo sobre a obrigatoriedade do
ensino , esta ltima debatida durante todo o perodo estudado.
A documentao relativa s fontes primrias foi coletada e
fichada, passando por um processo de seleo , anlise e sntese , sendo
que, em relao aos debates da Assemblia Provincial , alm de no
abranger todo o perodo estudado , houve grande dificuldade na sua
organizao, com a finalidade de possibilitar a compreenso das
polticas pblicas para o ensino secundrio na Bahia do sculo
XIX.
57
20. - Elaborao de quadro geral da Legislao
A partir do levantamento das fontes primrias , elaboramos
um quadro geral da legislao . Assim, podemos visualizar melhor a legislao para o perodo estudado. Esse quadro nos
permite , ainda , dar bases para uma anlise do seu
contedo , bem como estabelecer relaes com a sua
aplicao.
No que diz respeito legislao referente Instruo de forma
mais geral e ao ensino secundrio, particularmente , no perodo
de 1860 a 1890 , selecionamos as seguintes que compem
os quadros n.. 1,2,3 e 4 .
Esses quadros contriburam para melhor compreenso da composio ,
elaborao e aplicao das polticas pblicas para o ensino secundrio na
Bahia , durante o perodo estudado.
Com o quadro 1 , procuramos listar as principais iniciativas de legislao
que afetaram diretamente o desenvolvimento do ensino secundrio na
provncia baiana, durante o perodo estudado desde 1860 com o
Regulamento Orgnico , passando pela sua regulamentao em 1862 , assim
como as diversas reformas para a instruo pblica do perodo , at a
reforma de 1890 , quando a denominao de Liceu Provincial substituda
por Instituto Oficial de Ensino Secundrio da Bahia, j no primeiro ano da
Repblica
58
QUADRO 1
LEIS , RESOLUES , REGIMENTOS E REGULAMENTOS
LEGISLAO ANO CONTEDO ____________________________________________________________________ Regulamento Orgnico 1860 Organiza a Instruo Pblica Lei n0. 844 1860 Reforma da Instruo Pblica Lei n0. 868 1861 Altera Regulamento de 1860 Regimento 1861 Conselho de Instruo Pblica Regulamento 1861 Plano de Estudos do Liceu Regulamento Orgnico 1862 Regulamentao da Lei de 1860 Regulamento 1862 Competncias Dir. Geral Estudos Resoluo 1864 Equiparao dos professores Resoluo n0. 1039 1868 Disciplina atividade dos professores Decreto n0. 4431 1869 Instrues p/ exames preparatrios Ato 1870 Reforma do ensino no Liceu Resoluo n0. 1116 1870 Reforma da Instruo Pblica Regimento 1873 Cons. Sup. Inst. Pblica Resoluo n0. 1275 1873 Modifica artigo da Reforma de 1870 Lei n0. 1335 1873 Autorizao da Ref. Da Inst. Pblica Reforma 1873 Reforma da Instruo Pblica Resoluo n0. 1561 1875 Regulamenta Reforma de 1873 Reforma 1875 Secretaria da Instruo Pblica Lei n0. 1686 1876 Altera Resoluo n0. 1561 Resoluo n0. 1623 1876 Contratao de prof. Particulares Lei n0. 2114 1880 Autoriza Reforma Instruo Pblica Ato 1881 Regulamenta Instruo Pblica Decreto 1886 Instruo sobre exame preparatrio Deciso 1886 Exames preparatrios na Provncia Deciso 1888 Instrues- exames preparatrios Ato 1889 Estabelece um fundo escolar Ato 1889 Reforma a Instruo Pblica Ato 1890 Cria departamentos escolares Ato 1890 Suspende a Reforma de 1889 Ato 1890 Reforma a Instruo Pblica Ato 1890 Cria Inst. Oficial de Ens. Secundrio
Fonte: Coleo de Leis , Resolues e Regulamentos da Assemblia Legislativa Provincial
1860 1890
59
O quadro 2 destaca algumas questes importantes relativas s leis do
perodo em estudo , localizando a informao por contedo . Assim, para
cada legislao do perodo procuramos verificar sua interferncia e
importncia para a instituio - Liceu Provincial - a repercusso para os
professores, as determinaes relativas aos estudantes e as mudanas ou
permanncias para o curso secundrio. Assim, a partir da legislao,
procuramos analisar os desdobramentos sobre cada um desses elementos.
Com o quadro pronto , temos uma viso geral da trajetria do ensino
secundrio, durante o perodo de 1860 a 1890.
ANO 1860 1861 1862 1864 1868 1870ATOS
EASSUNToS
LEI 844REFORMA INST.PB.
REGULAMENTO ORGNICO PLANO DEESTUDOS30.03.1861
NORMATIZAO DOREG. ORGNICO DE1860
LEI 92230.04.1864
RESOLUO 103915.08.1864
ATO22.02.1870
L
I
C
E
U
. Gov. dar ao Liceuorganizao maisapropriada
. Diretoria Geral deEstudos poder serremovida para o Liceu
. suprime escolascom menos de 15alunos e com 20institui mestre
Concentra a educao secundriano Liceu, na capital at a divisoem circunscriesSuprima aulas com menos de 15alunosIncorpora o Museu de Hist. NaturalEnquanto no se converte emmisto,continua a receber salunos externosDirios de classe devero serarquivados a cada ano1 diretor, 1 censor, 2 mestresvigilantes, 1 capelo, mestresespeciais para repetio econferncias, estipulando asgratificaesextingue o cargo de secretrioestatutos estipularo funes
Concentra educaosecundria no Liceu
Suprime todas ascadeiras avulsas
Estabelece puniespara professores ealunos
Restabelece a Congregaodo Liceu presidida peloDiretor Geral e compostapelos professores
P
R
O
F
E
S
S
O
R
E
S
Dissolve o Conselhode Instruo einstitui o Conselhode Estudospresidido peloPresidente daProvncia
.Professores de aulas avulsasso jubilados ou transferidospara o Liceu se desejarem eforem aptos pelo gov.,ouvido oDiretor Geral Estudos.Removidos para o Liceu os deaulas avulsas com mais de 15alunos.Capelo ser um dosprofessores sacerdotes paraconferncias de repetio moral.Professores passam a adjuntos.Gov. distribuir entre osprofessores o ensino e outrasfunes. Um ano aps o regulamento,nenhum professor poder daraulas ou conferncias, de modoa cooperar com o ensinosecundrio particular.Pode haver acumulaes de 2ensinos ou funes pblicas.Institui o Dirio de Classe
.Composio deBanca dosExames por 2 prof.da referidadiviso,mais um ccensor nomeadopelo governo
.1 ano aps,regulaque nenhumprofessor poder darlies ouconfernciasparticulares semlicena.Pode acumular aulaspblicas com licena. Remove aulasavulsas e prof. para oLiceu.o gov. distribui oensino e outrasfunes conformehabilitao ou noo.lugar vago deprofessor no serpreenchido a menosque consideradoindispensvel e porconcurso.Capelo= aula dereligio.Suprime o professorsubstituto
Equipara ascategorias dosprofessores doLiceu
.Estabelece osmesmossalrios a todosos professoresdo Liceu
Probe expressamenteaos prof. pblicoslecionarem emestabelecimentosparticulares sob pena desuspenso por 1 ano naprimeira vez e perda dacadeira por reincidncia
.Diretor pode acumular comoprofessor.Permite lecionar particularmas no fazer parte de bancaexaminadora.Probe acumulao no Liceue Escola de Medicina.Congregao elabora listados mais competentes.Institui premiao do Gov..S recebem vencimento apscomprovao de freqncia.Salrio de acordo com o nde alunos.Nenhum discpulo= metade do vencimento.Restabelece Prof. substituto.Professor que acumularcomo substituto receberacumulativo.conserva os atuaisprofessores
E
S
T
U
D
A
N
T
E
S
. Pagamento de matrcula combase no preo mdio dasescolas particulares a serestipulado
. aluno paga por conferncia umpercentual a mais
. Os estudantes que desejaremcontinuar no Liceu a partir destemomento, passaro por examepara determinar a diviso deensino em que se enquadram
. Enquanto preparaestabelecimentomisto, s receberalunos externos.Estabelece preo dematrcula. Para os atuaisestudantescontinuarem no Liceuser feito exame.Permite que o alunoestabelea ordem dasdisciplinas de acordocom preparatrios
. Estudante livre paramatricular-se em qualqueraula,desde que habilitado
Estudante que perder anono pode fazer exames
.O aluno indicado em listatrplice Congregao queescolher o que ganharprmio em dinheiro.Com 3distines poder serprofessor sem concurso
. Bacharis = preferncia paraempregos provinciais,principalmente os de cincias
C
U
R
S
O
S
. Aulas avulsassero concentradasna Capital
. dividido em :-elementar preparatrio com 2anos-superior dividido em duassees com 3 anos
1. Cultura literria para estudosacadmicos e professoradosecundrio
2. preparao para profissescomerciais e industriais paracertas escolas ou academiasespeciais de carter cientfico-curso ministrado pela manh etarde- suprime cadeiras deGrego,mecnica aplicada ecomrcio-para disciplina de comrcio sercriado curso especial, que nofaz parte do Liceu.-disciplina o ensino particular,condicionando sua abertura aobedincia do esquema dematrias das escolas pblicas
.estabelece ocontedo,metodologia elivros para cadacadeira de:.diviso elementar3 anos.Exame deGramtica:contedo e banca.Diviso Superior:3 anos :a- Letrasb- Cincias
-Suprime cadeiras degrego e Comrcio-Diviso elementar 2anos-Diviso deGramtica: 3 anos-Exame de Gramticapara admisso naDiviso Superior-Diviso Superiorseparada em:.Letras (3 anos).Cincias (3 anos)
.Obrigatrias duaslnguas vivas
.Para Bacharelatomais um ano deLgica
.Para magistriosecundrio,alm deum ano delgica,curso decincia das escolas(prtica)
- Altera divises e sessesestabelecendo as disciplinasa serem cursadas no Liceu(14 cadeiras)
-Tempo e durao das aulas aserem determinados pelaCongregao
-Disciplina a obteno deBacharelato em Letras eCincias
- Para o futuro(?) todas ascadeiras sero providas porconcurso
1873 1874 1875 1876 1881 1886 1889 1890RESOLUO1275-24.04.1873
REFORMA27.09.1873
RESOLUO
144303.09.1874
RESOLUO 158128.08.1875
RESOLUO168608.08.1876
REGULAMENTODA INST. PBLICA1881
DECISES :EXAMESPREPARATRIOS
REFORMAINSTRUO PBLICA
REFORMAINSTRUO PBLICA
- Diretor do Liceumembro nato do ConselhoSuperior
-Liceu forma um Institutode Letras e Cincias
- Mantm Liceu coo Instituto deLetras e Cincias
-Ensino Pblicosecundrio = Liceu
- Instituto de Letrase Cincias
.Cria vrios Institutospara o ensinosecundrio que passoua ser chamado ENSINOMDIO.Instituto MdioPreparatrio.Instituto Normal doprofessorado primrio.Istituto Normal dedesenho.Istituto d ArtesLiberais. Instituto Comercial.Instituto de ArtesMecnicas e Ofcios.Instituto Industrial.Instituto Biologia eHigiene
.Cria o: INSTITUTOOFICIAL DE ENSINOSECUNDRIO
Ensino Secundriocomposto por:Escolas NormaisO Liceu + InstitutoOficialInstituto Baiano deAgriculturaLiceu de Artes eOfciosAcademia de BelasArtes
. Permiteacumulaode aulas dosprofessoresdo Liceu eEscola daMedicina
. Diretor no podeacumular como professor
.Prof. = vitalcioprovimento por concurso
.Estabelece vencimentos
.Jubilao com 25 anos deservio
.Permite acumulaes
.Estabelece competncias
. Um contnuo controlar afreqncia dosprofessores
-Provimento porconcurso abacharis do Liceuou Pedro II ouFaculdade doImprio.Trabalho para osque provaremconhecimentohumanstico.Prof. com 25 anosde trabalho podeser jubilado comtodosvencimentos, seprovar que se achaimpossibilitado decontinuar nomagistrio. Quem continuaraps 25 anos tergratificao demais 4 parte dose