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    Entrevista Artigos

    22Anlise dos investi-mentos industriaisprevistos para a Bahiapor Territrios deIdentidade e setores deatividade econmica

    entre 2008 e 2012Fabiana Karine S.Andrade

    36Transformaes nadinmica da economiabaiana: polticas deindustrializao eexpanso das relaescomerciais internacionais

    Gustavo Casseb Pessoti,Marcos Guedes VazSampaio

    28PIB arrefece noquarto trimestre, maseconomia baiana registracrescimento de 4,8%em 2008

    Denis Veloso da Silva,Gustavo Casseb Pessoti

    50Relao entre GastosPblicos e CrescimentoEconmico: uma anlisecom dados em painelpara o Nordeste

    Urandi Roberto PaivaFreitas, Armando Affonsode Castro Neto, IsaacCoimbra Lu

    Sumrio

    ExpedienteGOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJAQUES WAGNER

    SECRETARIA DO PLANEJAMENTOWALTER PINHEIRO

    SUPERINTENDNCIA DE ESTUDOSECONMICOS E SOCIAIS DA BAHIAJOS GERALDO DOS REIS SANTOS

    CONSELHO EDITORIALAntnio Plnio Pires de Moura, Celeste MariaPhiligret Baptista, Edmundo S BarretoFigueira, Jair Sampaio Soares Junior, JacksonOrnelas Mendona, Jos Ribeiro SoaresGuimares, Laumar Neves de Souza, MarcusVerhine, Roberto Fortuna Carneiro

    DIRETORIA DE INDICADORES EESTATSTICAS

    Edmundo S Barreto Figueira

    COORDENAO GERALLuiz Mrio Ribeiro Vieira

    COORDENAO EDITORIALElissandra Alves de Britto,Joo Paulo Caetano Santos

    EQUIPE TCNICACarla Janira Souza do Nascimento, JoseanieAquino Mendona, Patrcia Cerqueira,Rosangela Ferreira Conceio

    REVISO DE LINGUAGEMMaria Jos Bacelar Guimares

    COORDENAO DE DOCUMENTAO EBIBLIOTECA COBIAna Paula Sampaio

    NORMALIZAORaimundo Pereira Santos

    COORDENAO DE DISSEMINAO DEINFORMAES CODINMrcia Santos

    EDITORIA DE ARTE E DE ESTILOElisabete Cristina Teixeira Barretto,Renata Alves (estagiria)

    PRODUO EXECUTIVAMariana Brito

    DESIGN GRFICO/EDITORAO/ILUSTRAESNando Cordeiro

    FOTOSAgecom, Stock XCHNG

    IMPRESSOEGBATiragem: 1.000

    Carta do editor5

    6Efeitos da crisefinanceira internacionalno nvel de atividadeeconmica

    Carla do Nascimento

    Economia emdestaque

    12Medidas anticrise eperspectivas para 2009

    Joo Sics

    14Crise internacional e osdesafios da economiaecolgica

    Ricardo Abramovay

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    Av. Luiz Viana Filho, 4 Avenida, 435, CAB Salvador (BA) Cep: 41.745-002

    Tel.: (71) 3115 4822 Fax: (71) 3116 1781www.sei.ba.gov.br [email protected]

    Conjuntura & Planejamento / Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia. n. 1 (jun. 1994 ) -. Salvador:

    SEI, 1994 - .

    TrimestralContinuao de: Sntese Executiva. Periodicidade: Mensal at

    o nmero 154.

    ISSN 1413-1536

    1.Planejamento econmico - Bahia. I. Superintendnciade Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.

    CDU 338(813.8)

    Ponto de vista

    72Financiamento emtempos de crise

    Luiz Alberto Petitinga

    IndicadoresConjunturais

    Investimentosna Bahia

    74Investimentosindustriais previstosdevero gerar at2012 um volume deaproximadamente R$74,0 bilhes

    Livros78

    ConjunturaEconmicaBaiana

    80

    91Indicadores econmicos

    97Indicadores sociais

    107Finanas pblicas

    58100 anos deDNOCS: marchas econtramarchas daconvivncia com assecas

    Andr Silva Pomponet

    66Determinantes dademanda de hortaliasorgnicas em Ilhus

    Raquel Barbosa Nogueira,Patrcia Lopes Rosado,

    Andra da Silva Gomes

    Colaboraram com este nmero as jornalistasAna Paula Porto e Luzia Luna.

    Os artigos publicados so de inteira respon-sabilidade de seus autores. As opinies nelesemitidas no exprimem, necessariamente, oponto de vista da Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia (SEI). permi-tida a reproduo total ou parcial dos textosdesta revista, desde que seja citada a fonte.Esta publicao est indexada no Ulrichs Inter-national Periodicals Directorye no Qualis.

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    w w w . s e i . b a . g o v . b r

    p u b l i q u e s e u a r t i g o

    prazo paraentrega dos artigos

    20 de julho de 2009

    informaes

    www.sei.ba.gov.br

    3115-4708 e 3115-8679

    endereo eletrnico

    para envio dos artigos

    [email protected] editorial

    Patricia Chame Dias

    Ilce Carvalho

    t e m a

    Cidades

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    Carta do editorAs polticas fiscais e monetrias so os principais instrumentos de que dispem os

    governos para manter o nvel de atividade econmica em meio crise financeiramundial. Sobre esses efeitos, eles podem ser maiores ou menores, a depender doposicionamento das autoridades polticas, no caso da Bahia, o Governo do Estado,no sentido de promover aes que estimulem a recuperao da atividade econmica.Obviamente, a maior parte destas aes est restrita esfera federal, como, por exem-plo, a reduo da taxa de juros e a reduo de alquotas de impostos federais.

    No que concerne ao governo estadual, este tem tomado medidas que visam reduziros efeitos da crise sobre a economia baiana, bem como para retomar o crescimentoeconmico. Uma das principais medidas adotas foi o parcelamento do recolhimentode ICMS para as empresas e indstrias atuantes no estado. Com isto, procura-se

    garantir aos contribuintes a capacidade de honrar seus compromissos diante dofisco estadual. Alm dessa medida, o governo estadual atua com a liberao doscrditos fiscais de ICMS e a manuteno da poltica salarial dos funcionrios pblicos.Finalmente, a continuidade das obras do PAC, como, por exemplo, a via expressa,dentre outras, so aes que dinamizam a atividade econmica e tendem a reduziros impactos da crise mundial.

    Porm, se a crise econmica um imperativo para a atuao do governo, que intentasalvaguardar a economia dos impactos da crise internacional, tambm o para osprprios governantes, na medida em que tais efeitos so sentidos na sua principalfonte de financiamento, a arrecadao de impostos.

    Dessa forma, na medida em que o governo conclamado a atuar de forma apropiciar um ambiente que seja benfico para as empresas que atuam no estado,basicamente atravs da reduo ou parcelamento de tributo (ICMS), bem comocom aes que mantenham um satisfatrio desempenho da economia, ele tambmdeve estar atento sua capacidade de executar tais medidas, visto que a reduo daatividade econmica reduz a arrecadao estadual e, dessa forma, o poder de aodo governo para manter o nvel de atividade econmica. Ou seja, o governo ter desolucionar dois problemas: reduo da sua base de arrecadao, devido queda naatividade econmica; e reduo da arrecadao, por conta dos benefcios conce-

    didos s empresas atuantes no estado. As prximas decises do governo sero defundamental importncia tanto para a retomada do crescimento econmico quantopara a capacidade de financiamento do governo do estado.

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    ECONOMIAEM DESTAQUE

    Efeitos da crisefinanceirainternacional no nvel de

    atividade econmica

    * Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); economista pelaUFBA; tcnica da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociaisda Bahia (SEI). [email protected]

    Carla do Nascimento*

    A partir do fechamento dos indicadores econmicos

    para o ano de 2008 percebe-se claramente que acrise financeira internacional abalou alguns setores

    da economia brasileira, refletindo negativamentesobre as taxas de crescimento projetadas para o

    produto interno. Este o caso, principalmente, dosetor industrial, e mais especificamente da indstria

    de transformao, na qual se vislumbrava um cres-cimento sustentado tanto para o ano de 2008 quanto

    para 2009. Aps a consolidao desses resultados,observou-se taxas bem abaixo das expectativas.O fraco desempenho da atividade econmica nosltimos meses de 2008 atingiu o nvel de emprego no

    setor industrial nos primeiros meses de 2009, regis-

    trando, de acordo com pesquisas oficiais, quedas

    significativas em determinados segmentos.

    Este artigo pretende mostrar o desempenho do setor

    industrial e seus efeitos sobre o nvel de emprego.

    Outros indicadores de atividade econmica tambm

    sero apresentados, com o intuito de vislumbrar as

    consequncias da crise com base nos indicadoresdisponveis.

    NVEL DE ATIVIDADE

    A crise financeira internacional contagiou fortemente

    a economia real do pas, atingindo diretamente o setor

    industrial. Considerando-se que este setor tem relao

    direta com outros segmentos, supe-se que este deva

    influenciar a economia no decorrer do primeiro trimes-

    tre de 2009. Cabe destacar que o setor industrial vinha

    apresentando uma trajetria de crescimento contnuo

    desde meados de 2006. Este ciclo de crescimentocontinuado favoreceu toda a atividade econmica dopas neste perodo, refletindo positivamente sobre os

    nveis de emprego e de renda.

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    Efeitos da crise financeira internacional no nvel de atividade econmicaECONOMIAEM DESTAQUE

    pblicos anunciados no Programa de Acelerao Eco-nmica do Crescimento (PAC) e a dinamizao do setorda construo civil, que favoreceram, durante o ano de2008, segmentos de transformao como, por exemplo,

    metalurgia bsica e minerais no-metlicos.

    Ainda segundo os dados do IBGE (PESQUISA INDUS-TRIAL MENSAL, 2008), a indstria baiana registrou quedade 5,5% no ltimo trimestre de 2008, comparado aomesmo perodo de 2007. Tal comportamento refletiua queda em seis setores de atividade, dentre os dezpesquisados. Os maiores impactos vieram de produtosqumicos (-21,8%) e veculos automotores (-42,6%).

    Diante do exposto, as expectativas de crescimento da inds-

    tria, tanto da nacional como da baiana, foram fortementeimpactadas pelo ambiente de crise instalado nos ltimosmeses de 2008. A reduo no nvel de produo ocorreuem setores que concederam frias coletivas ou realizaramparalisaes no programadas, num contexto de aumentoda incerteza no ambiente econmico internacional.

    Por que a indstria foi o setor mais afetado pela criseinternacional? Porque este foi influenciado diretamentepela reduo da demanda mundial e seus impactos sobre

    as transaes internacionais. E dois componentes foramfundamentais para essa relao: o preo das commodities,com efeitos importantes sobre o valor das exportaes, ea reduo da renda e da demanda mundial que fatalmentereduziu a quantidade exportada pelo Brasil.

    Os indicadores recentes do comrcio exterior comprovamesta afirmao, principalmente quando consideradaa queda expressiva nas vendas externas nos ltimos

    meses de 2008 e em janeiro de 2009. Segundo dadosdo Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio(BRASIL, 2009b), em 2008, o comrcio exterior nacionalobteve mais uma vez saldo positivo, a despeito da crise

    internacional instalada no ltimo trimestre de 2008. Noano, a balana comercial fechou as exportaes comvalor total de US$ 197,9 bilhes, acrscimo de 23,2% emcomparao com o mesmo perodo de 2007. As impor-taes registraram crescimento de 43,6% no perodo,com total de US$ 173,2 bilhes. Esses resultados con-figuraram um supervit comercial de US$ 24,7 bilhes,valor menor que o registrado em 2007, de US$ 40,0bilhes, devido ao maior dinamismo das importaesfrente s exportaes, explicado em grande medidapela valorizao da moeda nacional e pelo crescimento

    da economia brasileira. Entretanto, registre-se que nosltimos dois meses do ano, o fluxo de comrcio deexportao e de importao apresentou decrscimo emrelao expanso verificada at outubro, em razo dacrise financeira internacional, que levou a uma reduodos preos internacionais de commoditiesagrcolas eminerais e da demanda por bens.

    Na Bahia, a balana comercial, em 2008, fechou as expor-taes com valor total de US$ 8,699 bilhes, acrscimo

    de 17,4% e as importaes com crescimento de 20,2%,com total de US$ 6,507 bilhes, resultando em supervitde US$ 2,192 bilhes no perodo, superior em 9,9% aoobservado no ano de 2007. As exportaes baianas,porm, registraram decrscimo no ltimo bimestrede 2008, refletindo os efeitos da crise econmica. Asexportaes caram 27,2%, as importaes 10,2% eo saldo reduziu em 51,5% no perodo, comparado aomesmo perodo de 2007.

    No ms de janeiro de 2009, a situao agravou-se no

    comrcio exterior nacional e baiano. A balana comercialbrasileira registrou deficitde US$ 518 milhes. As expor-taes registraram retrao de 22,8% e as importaescaram 12,6%. Apesar de no registrar deficitno saldocomercial, o estado da Bahia apresentou queda nasexportaes, importaes e no saldo em relao a janeirode 2008. As exportaes somaram US$ 392 milhes(queda de 46,6%), importaes US$ 213 milhes (-58,6%)e o saldo superavitrio de US$ 179 milhes (queda de18,0% frente ao mesmo perodo do anterior).

    O desempenho observado

    no setor industrial baiano em

    2008 [...] reflete o cenrio

    conveniente durante os nove

    primeiros meses

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    ECONOMIAEM DESTAQUE

    Carla do Nascimento

    Os indicadores de comrcio exterior permitem evidenciarque os efeitos da crise internacional ainda no cessa-ram e podem continuar a transmitir ao setor industrial,

    ainda instvel, mais incertezas com relao ao ambienteeconmico externo futuro.

    EMPREGO

    A reduo na produo industrial traz, como consequncia,impactos sobre o nvel de emprego industrial, uma vez queas empresas tendem a adequar os nveis de produo demanda prevista. Ademais, as empresas dependem do

    crdito que utilizam como capital de giro, inclusive para opagamento de salrios. Segundo estatsticas do IBGE (ACRISE..., 2009), apresentadas na Pesquisa Industrial Mensaldo Emprego e Salrio (PIMES), para o ms de dezembro, onvel de emprego na indstria nacional caiu 1,1% em rela-o ao mesmo ms do ano anterior. Com este resultado,o pessoal ocupado no setor, no ano de 2008, acumulouacrscimo de 2,1%, comparado ao ano de 2007, abaixo dataxa observada neste mesmo ano, que foi de 2,2%. Ospequenos ganhos verificados ao longo do ano de 2008para o emprego industrial foram totalmente dissolvidos em

    apenas trs meses, uma vez que at o ms de setembro aindstria acumulava um aumento no nvel de emprego de2,7% em relao ao mesmo perodo do ano anterior.

    Com base nos dados ajustados sazonalmente da sriede emprego industrial, verifica-se que nos ltimos trsmeses de 2008, de outubro a dezembro, o nmero deocupados no setor industrial apresentou taxas negativasde 0,1%, 0,6% e 1,8%, respectivamente, comparadas aoperodo exatamente anterior.

    No ltimo trimestre de 2008, comparado ao mesmo perodode 2007, a taxa de crescimento no total de pessoas ocu-padas na indstria foi de apenas 0,3%. Do ponto de vistasetorial, as perdas mais significativas, entre julho-setembro

    e outubro-dezembro, foram as de mquinas e equipamen-tos, que passou de 10,9% para 5,8%; produtos qumicos (de9,4% para 1,4%), meios de transporte (de 8,7% para 4,1%)e mquinas e aparelhos de comunicaes (de 11,1% para5,8%). Analisando-se dados dessazonalizados na compa-rao com o trimestre exatamente anterior, a reduo nototal do pessoal ocupado na indstria foi de 1,1%.

    No estado da Bahia, observa-se o mesmo movimentono nvel de emprego industrial, com impactos mais sig-nificativos, uma vez que os ganhos ao longo do ano de

    2008 no foram to pronunciados como os verificadosna indstria nacional.

    O nmero de pessoas ocupadas da Bahia, segundo aPesquisa Industrial Mensal do Emprego e Salrios doIBGE (A CRISE..., 2009), apresentou queda na indstriageral de 2,3% no ms de dezembro, inferior ao resultadoobservado no cenrio nacional, no qual a variao de pes-soal ocupado na indstria registrou taxa negativa de 1,1%,comparando-se com o mesmo perodo de 2007. O indica-

    dor acumulado totalizou no perodo janeiro a dezembrode 2008 um acrscimo de 1,3%. Entre os segmentos queexerceram presso significativa para o resultado negativodo indicador mensal destacam-se: produtos qumicos(-26,6%), vesturio (-13,5%) e mquinas e equipamentos exclusive eltricos e eletrnicos (-11,5%).

    Contudo a reduo no nvel de emprego industrial aindaest atenuada, uma vez que as empresas utilizam outrosmecanismos para reduzir a produo sem recorrer sdemisses do pessoal ocupado. Entre esses mecanismos

    encontram-se as frias coletivas no-programadas e assuspenses de contrato de trabalho.

    Muitas indstrias, principalmente, no ramo automo-bilstico, diante das expectativas iniciais de aperto docrdito, recorreram s paralisaes na produo; paratanto, concederam frias coletivas a seus empregados.Este foi o caso, por exemplo, da indstria de automveisbaiana, que paralisou em 100% a produo no ms dedezembro (MONTADORAS..., 2009).

    Os indicadores de comrcio

    exterior permitem evidenciar

    que os efeitos da crise

    internacional ainda no

    cessaram

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    Efeitos da crise financeira internacional no nvel de atividade econmicaECONOMIAEM DESTAQUE

    Ainda sobre o mercado de trabalho, as estatsticas doMinistrio do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2009c), con-tidas no Cadastro Geral de Empregados e Desemprega-dos (Caged) confirmam o elevado nmero de demisses

    ocorridas no setor industrial nos ltimos meses no pas.As estatsticas mais recentes informam que em janeiro de2009, o nvel de emprego formal apresentou uma queda de0,3% em relao ao estoque do ms anterior, significandouma perda de 101.748 empregos. No entanto, a reduono saldo de empregos menor que a observada no msanterior, indicando estabilidade no nvel de emprego formal.Em novembro e dezembro de 2008, a queda no saldo deempregos foi de 0,1% e 2,1%, respectivamente. Os setoresque mais contriburam para a queda do emprego em

    janeiro foram a indstria de transformao (-0,8%) e o

    comrcio (-0,7%). O desempenho negativo da indstriade transformao decorreu do declnio de 10 ramos, comdestaque para metalurgia (-1,6%), material de transportes(-2,3%) e produtos alimentcios (-0,5%). O comportamentonegativo do comrcio decorre do fim dos contratos tempo-rrios firmados para reforar as vendas de fim de ano.

    Na Bahia, o nvel de emprego com carteira assinada, emdezembro, apresentou recuo de 1,2% em relao ao estoquede assalariados do ms anterior, representando uma queda

    mensal significativa de 15.225 postos de trabalho formais.Em janeiro de 2009, a reduo de postos de trabalho bem menor, da ordem de 917, representando um recuode -0,07 em relao ao estoque. Tal resultado decorreu daretrao principalmente no setor comrcio (-1.480 postos)e na indstria de transformao (-1.018 postos).

    No mesmo sentido, estatsticas do IBGE apresentadas pelaPesquisa Mensal do Emprego (2009), tambm ratificam ocomportamento do emprego recente no estado. Segundoos dados da Pesquisa, a taxa de desocupao, estimada em

    8,2% em janeiro de 2009, apresentou alta de 1,4 ponto per-centual na comparao com o ms anterior. No confrontocom janeiro de 2008 (8,0%), a taxa ficou estvel. Na RegioMetropolitana de Salvador, na comparao mensal (janeiro/dezembro), esse indicador cresceu 1,2 ponto percentual,passando para 11,2%. Na comparao com janeiro de 2008,ocorreu reduo de 0,1 ponto percentual.

    Diante do exposto, verifica-se que a retrao da atividadeindustrial teve como consequncia imediata a queda no

    nvel de emprego, que tende a refletir negativamente sobreas demais atividades econmicas, uma vez que as expecta-tivas conservadoras dos consumidores face ao crescentedesemprego e ao maior custo do crdito conduzem

    contrao do consumo. Com isso, o setor de servios, maisespecificamente o comrcio varejista, tende a ser maisafetado com a continuidade do ambiente de crise.

    COMRCIO VAREJISTA

    As estatsticas do comrcio varejista para o ms dedezembro, divulgadas pelo IBGE na Pesquisa Mensal deComrcio (2008), mostram que, apesar das vendas encer-rarem o ano de 2008 com taxas positivas, estas apresen-

    tam inflexo negativa influenciada pelo ambiente de crise.O volume de vendas no comrcio varejista nacional caiu0,3% no ms de dezembro, em relao ao de novembro,considerados dados dessazonalizados, representandoo terceiro resultado negativo em sequncia, nesse tipode cotejo. Na comparao de dezembro com o mesmoms do ano anterior, as vendas aumentaram 3,9%, eacumularam, no ano de 2008, taxa de 9,1% em relaoa 2007. No tocante a resultados trimestrais, os nmerosapurados apontam significativa desacelerao no ritmo

    de crescimento do volume de vendas, na passagem doterceiro para o quarto trimestre do ano, com reduo dataxa de 10,2% para 6,0%.

    No estado da Bahia, o volume de vendas do varejoregistrou, em dezembro, acrscimo de 2,3% em relaoa novembro, na srie ajustada sazonalmente, repetindo,pela segunda vez consecutiva, resultado negativo. Nacomparao com o mesmo ms do ano anterior, asvendas cresceram 3,9%, acumulando, em 2008, a taxade 7,8% em relao a 2007. Ressalta-se que a taxa

    acumulada at o ms de setembro era de 8,1%, indi-cando pequena desacelerao da atividade frente aoambiente de crise.

    CONSIDERAES FINAIS

    O desempenho das economias brasileira e baiana, no ltimotrimestre de 2008, foi duramente afetado pelas expectativasnegativas dos agentes econmicos, principalmente ligados

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    ECONOMIAEM DESTAQUE

    Carla do Nascimento

    ao setor industrial, que rapidamente reduziram o nvel deproduo, desencadeando consequncias negativas sobre

    o nvel de emprego e renda e produzindo efeitos negativossobre outras atividades econmicas.

    Com base nos dados expostos neste texto, conclui-seque, ainda no primeiro trimestre de 2009, a capacidadede consumo na economia brasileira decline, em razodo adverso ambiente externo. No entanto, o fato de aeconomia brasileira apresentar fundamentos consistentesproporciona maior grau de ao governamental a fimde minimizar as consequncias provocadas pela crise

    mundial, principalmente no que se refere reduo nademanda e na renda mundial.

    importante ressaltar que o impacto da crise sobre asexpectativas dos agentes econmicos explicam a forte redu-o observada na produo industrial e no nvel de emprego,muito mais do que o impacto de outras variveis.

    A perspectiva de que ainda no segundo trimestre oambiente econmico torne-se mais estvel, dependendo,fundamentalmente, do grau de estabilidade do mercado

    internacional, das aes governamentais definidas pelasautoridades nacionais e das expectativas dos agenteseconmicos.

    REFERNCIAS

    A CRISE econmica global e seus reflexos sobre a economiabrasileira. Carta de Conjuntura IPEA, Braslia, p. 5-18, dez. 2008.

    A CRISE internacional e possveis repercusses: primeirasanlises. Comunicado da Presidncia, Braslia, n. 16, jan. 2009.

    BRASIL. Ministrio do Planejamento, Oramento e GestoInstituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA). Minist-rio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio. Indicadorese estatsticas. Disponvel em: .Acesso em: 26 fev. 2009a.

    BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comr-cio.Indicadores e estatsticas. Disponvel em: . Acesso em: 26 fev. 2009b.

    BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. Cadastro deempregados e desempregados. Braslia, jan. 2009c. Dispon-vel em: . Acesso em: 27 fev. 2009.

    CRISE internacional: reaes na Amrica Latina e canais detransmisso no Brasil. Comunicado da Presidncia, Braslia,

    n. 17, 18 fev. 2009a.

    CRISE reduz emprego e renda na indstria. Folha de S. Paulo,So Paulo, 14 jan. 2009b. Caderno Dinheiro, p. B1.

    EMPREGO na indstria tem queda recorde em dezembro. Folhade S. Paulo, So Paulo, 10 fev. 2009. Caderno Dinheiro, p. B3.

    GM faz 1 grande corte de vagas do setor automotivo. Folha deS. Paulo, So Paulo, 13. jan. 2009. Caderno Dinheiro, p. B1.

    MERCADO v alta de apenas 2% no PIB. Folha de S. Paulo,So Paulo, 13 jan. 2009. Caderno Dinheiro, p. B3.

    MONTADORAS renovam frias coletivas. Folha de S. Paulo,So Paulo, 8 jan. 2009. Caderno Dinheiro, p. B3.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL DO EMPREGO E SAL-RIO. Rio de Janeiro: IBGE, dez. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 18 fev. 2009.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL. Rio de JaneiroIBGE, dez.2008. Disponvel em: . Acesso em:5 fev. 2009.

    PESQUISA MENSAL DE COMRCIO. Rio de Janeiro: IBGE,dez. 2008. Disponvel em: . Acesso

    em: 18 fev. 2009.

    PESQUISA MENSAL DO EMPREGO. Rio de Janeiro: IBGE,jan. 2009. Disponvel em: . Acessoem: 26 fev. 2009.

    SUSPENSO de vagas pode custar ao menos R$ 2 bi aogoverno. Folha de S. Paulo, So Paulo, 8 jan. 2009. CadernoDinheiro, p. B3.

    O volume de vendas no

    comrcio varejista nacional

    caiu 0,3% no ms dedezembro, em relao ao de

    novembro, considerados dados

    dessazonalizados

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    ENTREVISTA

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    Joo SicsMedidasanticrisee perspectivaspara 2009

    Joo Sics, doutor em

    Economia pela Universidade

    Federal do Rio de Janeiro

    (UFRJ), faz um breve

    balano das aes

    do Governo Federal para

    o enfrentamento da crise

    financeira, avaliando

    a conjuntura atual e as

    perspectivas para o ano.

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    ENTREVISTA

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    Ricardo Abramovay

    Crise internacional e osdesafios da economiaecolgica

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    ENTREVISTARicardo Abramovay

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    Qual sua proposta para transformar asbases materiais e energticas em quese exprime, como o senhor diz, o extra-ordinrio aumento de renda do mundocontemporneo?Ricardo Abramovay O sistema capitalistacontemporneo tem extraordinria capacidadede reduzir a pobreza absoluta. Em 1970, a fomeatingia nada menos que 37% da populao mun-

    dial. A cifra atual de 850 milhes de famintos (evi-dentemente inaceitvel sob qualquer aspecto)corresponde a menos de 15% dos habitantesdo planeta. Nos ltimos dez anos, a proporodos que vivem com menos de US$ 1.000,00por ano (calculado em paridade de poder decompra), ou seja, US$ 2,75 por dia, caiu de 30%para 17% da populao mundial, segundo rela-trio da Goldman Sachs, publicado h algunsmeses. No Brasil, j se tornou um lugar comuma constatao de que um nmero prximo a 20

    milhes de pessoas mudou para cima o andarque ocupa na pirmide social, nos ltimos cincoanos. Mesmo com a crise atual, estas tendnciasno sero revertidas. o que explica, em grandeparte, a presso para que as metas relativas aoaquecimento global, por exemplo, no se res-trinjam aos pases historicamente responsveispelas atuais mudanas climticas, mas sejamassumidas tambm pelos mais prsperos entreos pases em desenvolvimento.

    A mais importante renovao das

    cincias sociais contemporneas

    est no esforo de integrar demaneira organicamente articulada

    sociedade e natureza numa mesma

    estrutura analtica: o que faz

    a atual economia ecolgica. A

    descrio do economista Ricardo

    Abramovay sobre a economia

    ecolgica um dos momentos-

    chave do pensamento exposto

    nesta entrevista que a revista

    C&P traz ao leitor. Coordenador

    do Ncleo de Economia

    Socioambiental (NESA/USP),

    Abramovay repercute aqui

    algumas vozes que vinculam

    a crise atual para alm da

    desregulamentao financeira

    ao nvel de consumo insustentveldo mundo contemporneo.

    Apesar de ressaltar a importncia

    menor de definir tais vozes como

    de esquerda ou de direita,

    ele encontra no pensamento

    de Marx afinaes com a atual

    discusso das questes ambiental

    e energtica. Por fim, aponta

    para a necessidade irreversvelde repensarmos a relao entre

    sociedade e natureza, enfrentando

    o desafio de propor um novo modo

    de produzir e distribuir riqueza

    baseado na valorizao e no uso

    sustentvel da biodiversidade.

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    Ricardo AbramovayENTREVISTA

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    Esta prosperidade tem ps de barroem dois sentidos. Em primeiro lugar,mesmo que em pases como o Brasila diminuio da pobreza seja acom-

    panhada por certa reduo da desi-gualdade, este no parece ser o casode outros pases em desenvolvimento(China e ndia, por exemplo), o queamplia de maneira assustadora astenses sociais. Alm disso, impos-svel simplesmente promover a exten-so para toda a humanidade daquiloque se consome hoje. Em 2000, seestimava que em 2007 haveria 600milhes de carros e, em 2030, nada

    menos que 1,2 bilho de automveis,no mundo. Ora, em 2006 j havia 956milhes e a estimativa atual de doisbilhes para 2030!

    Existem, ento, dois elementos quecomeam a ficar claros, a partirdestas informaes. Eles no cons-tituem proposta de algum, mas,antes, um movimento amplo, difuso,descentralizado. O primeiro refere-se presso social cada vez maiorem direo mudana na matrizenergtica que caracteriza as socie-dades contemporneas. O segundo

    Ningum sabeexatamente como sealteram os padres

    de consumo deuma sociedade,sobretudo quandoas aspiraesde consumo,decorrentes dapobreza secular, soto grandes

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    Ricardo AbramovayENTREVISTA

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    capitalismo medida que se conver-tem em valores. No entanto, Marxreconhece que o trabalho no anica fonte da riqueza e, mais que

    isso, ele mostra que a produo pelaproduo, ou seja, o aumento dariqueza, como meta independenteda real satisfao das necessida-des humanas, s pode ocorrer numsistema em que os indivduos estocada vez mais alienados, distantesdo que fazem e do que produzem.De certa maneira (num horizonteresignado e no crtico como o deMarx), Max Weber tambm insiste

    neste mesmo ponto em A ticaProtestante e o Esprito do Capita-lismo. Mas foi Georgescu-Roegene seu discpulo Herman Daly quemostraram que o principal limiteda cincia econmica est no fatode ela s poder lidar com matriae energia sob a forma de preosdaquilo que se vende e se compra. Amais importante renovao das cin-

    cias sociais contemporneas estno esforo de integrar de maneiraorganicamente articulada sociedadee natureza numa mesma estruturaanaltica: o que faz a atual eco-nomia ecolgica e o que muitoseconomistas de esquerda, voltadosapenas ideia de que necessriointervir para garantir o crescimentoe a melhor distribuio de renda,solenemente ignoram.

    Alguns especialistas dividem aesquerda em duas: a que estno poder, representada pelosgovernos, e a que acredita noecossocialismo, representada na

    grande maioria pelos movimen-tos sociais. Como essa esquerda

    que se preocupa com o debateecolgico pode se utilizar dessa

    bandeira e chegar ao poder, pro-jetando assim um novo modelode governo? O senhor vislumbraavanos nesse sentido?RA Talvez a diviso real no sejaentre estar no poder e estar junto aosmovimentos sociais. Carlos Minc noabandonou sua postura ecolibert-

    ria ao assumir o Ministrio do MeioAmbiente. O avano da democraciacontempornea vem permitindo aexpresso indita de movimentossociais no poder de vrios pases.A trajetria de Barak Obama, nestesentido, notvel: ele foi um mili-tante ligado a alguns dos maisimportantes movimentos sociaisnorte-americanos. Evo Morales eRafael Correa tambm exprimem

    importantes movimentos sociais,da mesma forma que Lula. As novasconstituies da Bolvia e do Equadorincorporam demandas fundamentaisdestes movimentos.

    H, entretanto, dois problemas cujasoluo ainda no est clara, nestesentido. O primeiro que, com fre-quncia impressionante, o carter

    universal, generoso, emancipador demuitas aspiraes dos movimentossociais convertem-se em modalida-des mesquinhas, corporativistas e

    antidemocrticas de satisfao denecessidades de certos grupos. Orecente atentado a direitos de opi-nio no Equador (denunciado pordestacados membros da esquerdadaquele pas) e a extrapolao dosdireitos indgenas em expressescontrrias aos brancos na Bolviaso, neste sentido, muito preocu-pantes. So situaes em que aorganizao republicana e a prpria

    democracia, longe de se afirmaremcomo direitos universais, passama ser vistas, de forma inquietante,como expresses da chamada cul-tura dominante que seria afastadapelo poder e pela cultura supos-tamente populares. Permita-mecitar trecho de um importante livrorecente de Alain Touraine, Um NovoParadigma Para Compreender o

    Mundo de Hoje: No raro que osmovimentos sociais se degradem atse transformarem naquilo que ocontrrio deles mesmos: afirmaocomunitria, rejeio do estrangeiroou do diferente, violncias contra asminorias ou contra o que chamadode heresia ou cisma. Isso se produzquando a ao coletiva se definepelo ser ou pelo ter que ela defende,e no por sua referncia a um valor

    universal. Para que esta refernciase forme, a condio primeira queo ator ou o combatente reconheaem um outro esta ascenso em dire-o ao universal que ele sente emsi mesmo. Quando o movimento deliberao nacional torna-se nacio-nalismo, quando a luta de classe sereduz a um corporativismo, quandoo feminismo se limita supresso

    Marx reconheceque o trabalho no a nica fonte da

    riqueza e mostraque a produopela produo spode ocorrer numsistema em que osindivduos estocada vez maisalienados

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    Ricardo AbramovayENTREVISTA

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    O que falta para a esquerdaavanar no mbito econmico,ecolgico e social? possvel,nesse momento de crise, pensar

    num novo projeto de esquerda,revolucionrio? Chegou a hora de

    pensar em uma profunda renova-

    o prtica e terica?RA Sem dvida esta renovaoest em curso, o que no significaque ela ser necessariamente vito-riosa. A expresso novo projeto deesquerda, revolucionrio, a meuver, contraproducente e estimula

    justamente o que os movimentos

    sociais tm de pior: a ideia de queeles precisam caracterizar-se pelapermanente e radical diferenciaocom relao a foras que no fazemparte de seu universo imediato. Oresultado disso so os to frequen-tes discursos em que assentados,quilombolas, ribeirinhos, povos dafloresta, agricultores familiares vounir-se para promover mudanas

    radicais. Que estes sejam atoresdecisivos, no h dvida; no entanto,um projeto de mudana na maneirade organizar a relao entre natu-reza e sociedade passa por trans-formaes decisivas na organizaoempresarial. E, como bem mostra otrabalho de Andr Gorz, no maispossvel imaginar que estas transfor-maes decorrero da expropriaodas empresas pelo poder popular e

    do planejamento central. Um dosmais importantes desafios para umprojeto de mudana social hoje estna maneira de compreender e deintervir no prprio mercado.

    O mercado no a fico cientficaexposta nos manuais de economia.Mercados so estruturas sociais e,portanto, funcionam com base em

    presses sociais. Um dos maioresdesafios s foras populares (que

    muitos movimentos sociais j compre-enderam e do qual tiram consequn-cias interessantssimas) consiste emparticipar ativamente deste processode reorganizao empresarial e noapenas em concentrar suas demandassobre o poder pblico. Nosso desafiono est apenas em circunscrever,delimitar e impedir a extrapolaodo mercado em direo a domniosda vida social que no devem ficar

    sob seu domnio. Est tambm, e deforma cada vez mais decisiva, em queos movimentos sociais sejam protago-nistas da maneira como os prpriosmercados se estruturam.

    Gorz foi um dos primeiros a profe-

    tizar a crise do emprego e chamar

    a ateno para a importante dis-tino entre trabalho e emprego.

    O senhor avalia que a crise uma

    oportunidade para fortalecer aspropostas de Gorz na perspectiva

    de valorizao do trabalho?

    RA Certamente. Os programasbrasileiros de transferncia de rendatm um papel muito positivo nestadireo. H forte indcio de que umade suas principais consequnciasest na eliminao de atividadesque s existiam por se apoiaremem formas aviltantes de utilizaoe remunerao do trabalho. Hoje, noNordeste do Brasil, as pessoas noso mais obrigadas a trabalhar por

    um prato de comida e isso muitopositivo. As transferncias pblicasde renda so modalidades embrion-rias do que Gorz, de forma pioneira, edepois Rifkin e Van Parijs iro chamarde renda de cidadania. O desafio fazer com que estas transfernciaspermitam fortalecer as sociedadeslocais, as formas de interao socialque no se apoiam estritamente no

    trabalho assalariado e no mercado.Mas tambm as transferncias derenda podem e devem dar lugar formao de mercados dinmicosligados vida social local. H umfenmeno novo e muito importantea que a juno entre o fato de aspessoas viverem (de maneira sau-dvel) cada vez mais e trabalharemdurante um perodo cada vez menorde suas vidas. Quando se aposen-

    tam, muitos no querem permanecerali onde estiveram durante sua vidaativa e decidem voltar a suas regi-es de origem ou ir para reas semos problemas das concentraesmetropolitanas. Parte da migraode retorno em direo ao Nordestebrasileiro dos anos 90 e 2000 tem asua raiz. Estas pessoas com rendaesto na origem de um dinamismo

    H forte indciode que umadas principaisconsequnciasdos programasde transfernciade renda est naeliminao deatividades ques existiam por

    se apoiarem emformas aviltantesde utilizao eremunerao dotrabalho

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    ENTREVISTARicardo Abramovay

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    econmico cuja marca no a com-petitividade globalizada e a oferta debens industriais altamente sofistica-dos, e sim a satisfao de necessida-

    des locais, ligadas potencialmente valorizao da cultura, da biodiver-sidade, restaurao, aos esportesde aventura, ao turismo, produoagropecuria de qualidade, assis-tncia aos idosos. So atividadeseconmicas mercantis, no globa-lizadas e cujo exerccio s pode serfeito num ambiente marcado pelavalorizao do que a sociedade temde melhor: seus atributos naturais,

    a qualificao profissional de seushabitantes e a construo de rela-es sociais de proximidade que sedistingam do que ocorre nas grandesmetrpoles.

    Alguns dizem que esse omomento propcio para por fim ao

    capitalismo. Outros defendem a

    sua reformulao. Para o senhor,

    qual a sada adequada?RA Se colocar fim ao capitalismo expropriar as grandes empresas

    e substituir o mercado pelo planeja-mento central, ento eu gostaria desaber quais so hoje as foras pol-ticas que expem com clareza esteprojeto para a sociedade. E se no disso que se trata, ento estamosmais prximos do que voc chamoude reformulao. Mesmo que seconte com um segmento crescentede empresas cujo controle exercidodiretamente pelos trabalhadores em

    regime de autogesto, o fato de omercado operar como mecanismode alocao dos recursos sociais ede que a sobrevivncia das empresasdepende de sua eficincia em mer-cados competitivos faz com que aorganizao empresarial tenha car-ter capitalista. Mas fundamentalque esta constatao no d lugar

    posio conformista, segundo aqual o mercado uma caixa preta,opaca, invisvel e inacessvel pres-so social. Ao contrrio, a maneira

    como as empresas e o mercadose organizam depende, antes detudo, daquilo que, com relao aeles, fazem as foras organizadasda sociedade. Neste sentido, a refor-mulao no uma tarefa menor qual temos que nos conformardiante da impossibilidade de porfim ao capitalismo. A relao entreeconomia, sociedade e natureza sefaz de maneira evolutiva, colocando

    desafios inditos e imprevisveis quevo muito alm da ideia de que o con-trole social e planejado dos grandesmeios de produo e troca resume oque de mais importante existe numprojeto emancipador. Isso dificulta,mas torna certamente muito interes-santes os desafios polticos e civiliza-trios que temos pela frente.

    NOTA

    Entrevista concedida por Ricardo Abramovay revista IHU On-Line, endereo eletrnico: http://www.unisinos.br/ihuonline/index.php?option=com _ tema _ capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1529.

    Edio para a C&P: Luzia Luna.

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    22 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.22-27, jan./mar. 2009

    ARTIGOS

    Anlise dos investimentos

    industriaisprevistos para a Bahiapor Territrios de Identidade e setoresde atividade econmica entre2008 e 2012

    Fabiana Karine S. Andrade*

    * Economista pela UniversidadeFederal da Bahia (UFBA); tc-nica da Secretaria de Inds-tria, Comrcio e [email protected]

    Os investimentos industriais previstos para o estado da Bahia,ao se implantarem nos mais variados territrios de identidade,possibilitam o desenvolvimento da economia e da indstria local,

    com a gerao de emprego e renda para a populao. Essesinvestimentos so captados via mecanismos de poltica fiscaldesenvolvidos pelo governo atravs do Programa Desenvolve, no

    mbito da Secretaria de Indstria, Comrcio e Minerao (SICM).

    Este programa visa conceder incentivos fiscais para a captaode investimentos de empresas dos mais variados segmentos coma inteno de empregar seu capital no estado. Esta poltica ado-

    tada pelo governo visa, principalmente, dinamizar, diversificar e

    desconcentrar o parque industrial baiano e, consequentemente,

    dinamizar a economia do estado.

    Sendo assim, este artigo tem por objetivo analisar esses investi-

    mentos no perodo de 2008 a 2012, verificando sua distribuio por

    atividade econmica, bem como seu impacto para a economia e

    para o setor industrial no que se refere gerao de emprego e

    ao volume de investimentos a serem realizados. Ser destacadoainda o volume de investimentos previstos para cada complexode atividade econmica. Alm disso, apresentar-se- um brevepanorama acerca do desempenho atual da economia baianamedido pelo Produto Interno Bruto (PIB) com o resultado at oterceiro trimestre de 2008 e os resultados alcanados pelo seg-mento industrial no fechamento do ano.

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    ARTIGOSFabiana Karine S. Andrade

    perodo do ano passado, em consonncia com o bomdesempenho apresentado pela indstria, segundo dadosSEI (Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociaisda Bahia). Esse resultado positivo deve-se aos desempe-nhos registrados no segmento industrial (7,6%) e, sobre-tudo, na agropecuria, que apresentou uma expansode quase 7,1%, recuperando-se dos resultados insatis-fatrios obtidos nos dois trimestres anteriores. O setor

    de servios tambm apresentou um bom desempenhonesse perodo, com taxa de crescimento de 5,3%, emcomparao ao terceiro trimestre de 2007.

    A trajetria de expanso da taxa do PIB estadual reflete obom desempenho dos setores industriais e dos setores quetradicionalmente empregam grandes volumes de trabalha-dores, sobretudo servios e construo civil. Mantidas astendncias, este desempenho pode ser visto como um sina-lizador de bons resultados para a Bahia, considerando-se, claro, a conjuntura econmica nacional e mundial atual.

    No que se refere indstria baiana (de transformaoe extrativa mineral), de acordo com o IBGE, avanou2,3% de janeiro a dezembro de 2008. Na indstria detransformao, o acrscimo foi de 2,4%. Este resultadopode ser atribudo ao bom desempenho dos setores decelulose e papel (29,2%); alimentos e bebidas (4,0%); e,metalurgia bsica (4,0%), em funo, respectivamente,do aumento da produo de celulose, leo diesel e ouroem barras. Alm desse, destacam-se os segmentos de

    PANORAMA ECONMICODO ESTADO DA BAHIA

    Em consonncia com o desempenho nacional, o estado daBahia vem, ao longo dos anos, se consolidando como umbom lugar para a realizao de empreendimentos lucrativose negcios slidos. Hoje o estado tem a economia maisforte e desenvolvida da Regio Nordeste e a sexta do pas.

    Nos ltimos anos, vivenciou um considervel crescimentoeconmico, consolidando-se no cenrio nacional comoum dos melhores destinos para o investidor.

    Nesse contexto, dentre os principais atrativos destacam-sesua localizao privilegiada, qualidade de vida, infraes-trutura para o desenvolvimento de novos negcios, boaoferta de mo de obra qualificada, bem como uma slidapoltica de incentivos, importante elemento para a atraoe consolidao de investimentos. Aliado a isso, o estadopossui grande e diversificado potencial de recursos naturais

    e energia, oferta local de matrias primas ecommodities,polos e distritos industriais, universidades e centros depesquisas, finanas pblicas equilibradas e confiabilidadepoltico-administrativa. Esse cenrio, favorvel para o desen-volvimento da economia do estado e sua continuidade,vem se refletindo no desempenho dos diversos setores,os quais vm alcanando resultados positivos.

    Em relao ao PIB, o crescimento registrado no terceirotrimestre de 2008 foi de 6,3%, em relao ao mesmo

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    24 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.22-27, jan./mar. 2009

    Anlise dos investimentos industriais previstos para a Bahia por Territrios deIdentidade e setores de atividade econmica entre 2008 e 2012

    ARTIGOS

    minerais no-metlicos (17,3%) e borracha e plsticos(12,0%). (PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL, 2008)

    Os nmeros at o perodo em anlise vm confirmando o

    padro de crescimento do setor industrial baiano e, conse-quentemente, de sua economia, a despeito da desaceleraoocasionada pela crise econmica mundial, que afetou ossetores da economia e, principalmente, a indstria, levando aquedas no desempenho de alguns segmentos e impactandono resultado final. Sendo assim, para 2009, as expectativaspara a economia e principalmente para a indstria baianamostram-se ainda sob o efeito do processo de desacele-rao e a possibilidade de quedas em alguns setores daatividade produtiva. At o 3 trimestre de 2008, o cenrioeconmico nacional manteve-se favorvel, com destaque

    para o desempenho da indstria que, em funo de fatoresconjunturais, como a demanda interna aquecida, o aumentoda massa salarial, o consumo das famlias e a expanso dosinvestimentose do crdito, teve seus resultados elevados.

    No cenrio estadual, somam-se a isso, as aes ado-tadas pelo governo para captao de investimentosimportantes, com o objetivo de desenvolver e fortalecera economia e o parque industrial baiano.

    INVESTIMENTOS INDUSTRIAISPREVISTOS NO ESTADO DA BAHIA

    Os investimentos industriais previstos confirmam ocompromisso do governo com o desenvolvimento doestado, atravs da captao de importantes empre-endimentos. At 2012, espera-se que seja investidoum montante de aproximadamente R$ 18,6 bilhes,com a gerao de 82.151 empregos, atravs de 516

    projetos de empreendimentos para a instalao deplantas industriais no estado. Com base nesses dadosser feita uma breve anlise desses investimentospor atividade econmica, a fim de se verificar cada

    Tabela 1Investimentos industriais previstos para a Bahia por setor de atividade econmica 2008-2012

    Atividade econmica Volume (R$1,00) Volume (%) Emprego direto Projetos

    Alimentos e bebidas 2.179.210.492 10,6 14.018 96Artefatos de couro e calados 98.248.486 0,5 8.322 30

    Borracha e plstico 814.711.329 4,0 7.087 64Construo 120.000.000 0,6 90 1Eletricidade, gs e gua quente 1.578.548.753 7,7 1.968 11Equip. mdicos, pticos, de automao e preciso 239.657 0,0 42 1Ext. de minerais metlicos 4.021.040.000 19,4 1.650 3Fumo 38.913.265 0,2 460 2Mq. escritrio e equip. informtica 37.628.876 0,2 2.014 34Mq. aparelhos e materiais eltricos 13.346.693 0,1 120 2Mq. e equipamentos 21.665.078 0,1 496 12Mat. eletrnico e equip. de comunicaes 103.364.119 0,5 1.760 14Metalurgia bsica 305.707.274 1,5 1.646 14Minerais no metlicos 2.235.488.611 10,9 3.368 27Mveis e indstrias diversas 33.541.465 0,2 1.451 17Outros 2.480.000 0,0 52 1

    Outros equip. de transporte 213.728.294 1,0 1.400 7Papel e celulose 1.875.000.000 9,1 1.735 16Peas e acessrios veculos automotores 71.453.985 0,3 909 4Pesca, aquicultura 49.615.415 0,2 2.225 4Petrleo e derivados 2.005.913.532 9,8 8.219 5Produtos de metal exclusive mq. e equip. 94.967.626 0,5 940 16Produtos qumicos 2.726.137.487 13,3 14.408 106Reciclagem 4.800.000 0,0 110 1Txtil 745.296.870 3,6 3.333 13Vesturio e acessrios 117.170.042 0,6 5.733 16Total 18.637.496.829 100,0 82.151 516

    Fonte: SICM.Elaborao: SICMCoinc.Nota: Dados preliminares, sujeito a alteraes. Coletados at 31.8.2008.

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    25Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.22-27, jan./mar. 2009

    ARTIGOSFabiana Karine S. Andrade

    setor separadamente, no que se refere ao volume deinvestimentos previstos.

    Investimentos industriais previstos poratividade econmica

    Analisando os investimentos industriais previstos poratividade econmica, pode-se destacar a Extrao deMinerais Metlicos, com um volume de R$ 4,0 bilhesem investimentos, o que representa uma participao de19,4% em relao ao total. Espera-se que esta atividadegere aproximadamente 1.650 postos de trabalho at 2012.Os empreendimentos em questo iro extrair principal-mente os minrios de ferro, mangans e nquel.

    Na atividade de Minerais no-Metlicos, as inversesprevistas chegam a R$ 2,2 bilhes, representando 10,9%do total, com a gerao prevista de 3.368 empregos dire-tos. Neste segmento, os investimentos esto voltados paraa fabricao de revestimentos cermicos, pr-moldadose pedras para a construo civil, alm de outros.

    Destaca-se ainda o segmento de Papel e Celulose, cominvestimentos que chegam a aproximadamente R$ 1,9

    bilhes, o que representa 9,1% dos investimentos com apossibilidade de criao de 1.735 empregos diretos. Nestesetor, concentram-se os empreendimentos produtoresde celulose, papel e embalagens de papelo.

    Vale salientar que ainda esto previstos investimentosnos setores de Alimentos e Bebidas, com inverses quechegaro a R$ 2,2 bilhes aproximadamente e a criaode 14.018 postos de trabalho. Os demais segmentosincluem: Eletricidade, Gs e gua Quente(R$ 1,6bilho e 1.968 empregos); Petrleo e Derivados(R$ 2,0

    bilhes e 8.219 empregos diretos) e Produtos Qumicos(R$ 2,7 bilhes e 14.408 postos de trabalho).

    O Grfico 1 permite a visualizao dos mesmos setoresde atividades, levando em considerao aqueles cuja taxaest acima de 1,0%, ou seja, os de maior participaoem relao ao total dos investimentos:

    O grfico mostra que a atividade econmica de maior par-ticipao no tocante a volume de investimentos previstos

    extrao de minerais-no-metlicos, com 19,4%, conformeexposto anteriormente. Neste setor, dentre os empreendi-mentos em vias de implantao, destaca-se a empresa BahiaMinerao (BML), com inverses previstas de aproximada-

    mente R$ 3,6 bilhes e gerao de quase 1.000 empregosdiretos. Esta empresa ir extrair minrio de ferro no municpiode Caetit, tornando-se um importante fornecedor para aindstria siderrgica. A expectativa de uma produoprxima de 25 milhes de toneladas depelets-feed.

    Os investimentos previstos sero alocados ao longo de10 anos, com a instalao da mina, beneficiamento doproduto e um possvel mineroduto de 400 km, ligando Cae-tit a um porto baiano. Ainda nesta atividade, a empresaMirabela tem propsito de funcionar at meados de 2009,

    investir cerca de R$ 450 milhes e gerar 450 empregosdiretos. Estima-se que a capacidade de produo dareserva encontrada de 540 mil toneladas de nquel.

    Destaca-se tambm a participao do setor de papelcelulose, com 14,9%, no qual esto previstas empresasvoltadas em sua maioria para a fabricao de papel,

    Grafico 1Distribuio percentual dos investimentos por setorde atividade Bahia 2008-2012

    Fonte: SICM, 2008.Elaborao: Astec.Dados preliminares, sujeitos a alteraes. Coletados at outubro de 2008.

    Alimentos e bebidas 14,9% Eletricidade, gs e guaquente 7,6%

    Metalurgia bsica 1,5%Outros equip. de

    transporte 1,0%Petrleo e derivados 9,7%Textil 3,6%Borracha e plstico 3,9%Extr. de minerais no-metlicos 19,4%Minerais no-metlicos 10,8%

    Papel e celulose 10,5%Produtos qumicos 13,2%

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    26 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.22-27, jan./mar. 2009

    Anlise dos investimentos industriais previstos para a Bahia por Territrios deIdentidade e setores de atividade econmica entre 2008 e 2012

    ARTIGOS

    papelo e embalagens, que se localizaro principalmentenos territrios Metropolitana de Salvador e Extremo Sul,alm do Recncavo e Portal do Serto.

    Em produtos qumicos, a previso de investimentosconcentrados no territrio Metropolitana de Salvador, emsua maioria dirigidos para a efetivao de novas plantasindustriais voltadas para a fabricao de tintas, vernizese produtos de limpeza, chegou a 3,2%.

    Vale ainda ressaltar as atividades de alimentos e bebidas,com uma participao de 10,5% no total dos investimentos.Este segmento tem atrado indstrias com pretenso deproduzir principalmente laticnios, massas e bebidas (guamineral, refrigerantes, sucos) e leos vegetais, alm de inds-

    trias fabricantes de embutidos e carnes industrializadas.

    Estes empreendimentos, voltados em grande parte paraa implantao de novas empresas, devero se instalarprincipalmente nos territrios Metropolitana de Salvador,Portal do Serto e Oeste Baiano.

    Em minerais-no-metlicos, que participa com 10,8% do totalde investimentos, as empresas com inteno de investir noestado esto voltadas para a produo de cermicas, telhas,

    mrmores e pisos. Neste segmento, os empreendimentosdevero se instalar principalmente nos territrios Metropo-litana de Salvador e do Vale do Jequiri, alm de Agrestede Alagoinhas. Na atividade de petrleo e derivados, comparticipao de 9,7%, destaca-se a produo de gasolina,petrleo e diesel, que em sua maioria envolvem investimen-tos de ampliao das plantas industriais, principalmente daempresa Petrobras. Esses investimentos devero se localizarprioritariamente no territrio do Recncavo.

    Vale salientar tambm o potencial de investimentos

    industriais previstos, captados em protocolos no ano de2008, conforme Grfico 2. Analisando os dados, observa-se que o segmento metal/mecnico foi responsvel por90,1% dos investimentos previstos captados, concentra-dos em uma nica empresa que pretende investir ummontante de R$ 50 bilhes. Esse empreendimento estcom localizao prevista para o territrio Litoral Sul,mais precisamente o municpio de Ilhus, e far partedo projeto do Porto Sul. Em seguida temos o setor debiocombustveis e energia, com 3,5% de participao no

    Grfico 2Investimentos captados em protocolos,por segmentos Bahia 2008

    Fonte: SICM, 2008.Elaborao: Astec.Dados preliminares, sujeitos a alteraes. Coletados at outubro de 2008.

    Agroalimentar e bebidas 0,51% Plsticos e borrachas 0,19%

    Minerais no-metlicos 0,36% Diversos0,69%

    Naval/Nutico 1,49%Naval/Nutico 1,49% Qumico e petroqumico 3,11%

    Bicombustveis e energia 3,52% Metal/Mecnico90,13%

    total de investimentos previstos, o que representa, emtermos absolutos, um volume de aproximadamente R$ 2,0bilhes. Por fim, destaca-se ainda o segmento qumico e

    petroqumico, com 3,1% e um montante de R$ 1,7 bilhesprevistos, segundo dados da SICM. No emprego, essesegmento tem o potencial de gerar 280 novas vagas, oque representa quase 1,5% do total.

    O Complexo Naval/Nutico representa quase 1,5% dasexpectativas de investimentos, chegando a um volumede R$ 831 milhes. No tocante a mo de obra, esse seg-mento tem previsto o oferecimento de um total de 10.060postos de trabalho no incio da operao, uma partici-pao de 17,4% em relao ao total. Esse complexo tem

    potencial para gerar 20.000 empregos diretos e de levarmelhorias para a infraestrutura (malha viria, ferroviria,saneamento bsico) e para os servios (educao, sadee segurana) da regio ao longo de sua implantao.Neste complexo j foi assinado o Protocolo de Intenesdo consrcio Bahia Estaleiro da Bahia S.A (ConstrutoraOAS/Setal/Piemonte).

    Destaca-se ainda o complexo Agroalimentar/Bebidas, queparticipa com 0,5% dos investimentos previstos e 4,9%

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    27Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.22-27, jan./mar. 2009

    ARTIGOSFabiana Karine S. Andrade

    da mo de obra a ser gerada. Em volume, este segmentosoma em inverses cerca de R$ 285,5 milhes e 2.797

    postos de trabalho previstos.

    Em borracha e plstico, a expectativa de se efetivarum montante em investimentos que chegam a R$ 105,1milhes e uma participao de 0,2%, com expectativasde 932 empregos diretos, o que representa uma partici-pao de 1,6% em relao ao total.

    CONSIDERAES FINAIS

    Diante do exposto, pode-se afirmar que se consolida aperspectiva de mudana gradativa do per fil da indstriabaiana, a qual vem captando, ao longo dos anos, empre-sas produtoras de bens finais, geradoras de emprego.Ocorre, portanto, mesmo que de forma incipiente, umaalterao na matriz industrial do estado, com maiordiversificao de seu parque.

    Grfico 3Mo-de-obra captada em protocolo, por segmentoBahia 2008

    Fonte: SICM, 2008.Elaborao: Astec.Dados preliminares, sujeitos a alteraes. Coletados at outubro de 2008.

    Metal/Mecnico 55,18% Naval/Nutico 17,39%

    Bicombustveis e energia 7,23% Txtil 5,90%

    Diversos 4,88%Diversos 4,88% Agroalimentar e bebidas 4,84%

    Plsticos e borrachas 1,61%

    Minerais no-metlicos 1,48%

    Qumico e petroqumico 1,49%

    Alm disso, esses novos investimentos captados, princi-palmente em municpios fora do Territrio de Identidadeda Regio Metropolitana de Salvador, levam a uma des-centralizao do processo de industrializao, estendendo

    o desenvolvimento econmico a todo o Estado. Assimsendo, a poltica de atrao de investimentos industriaisadotada vem se configurando como uma ao positiva,no sentido de que, ao criar emprego e renda, pode geraro desenvolvimento econmico e social sustentvel paraa Bahia. Estas mudanas trazem tambm uma novadinmica para a economia baiana, alm de fortalecerainda mais seu setor industrial.

    No cenrio econmico que se configura atualmente, aconcretizao desses investimentos, que esto atrelados

    ao acesso ao crdito pelas empresas investidoras, estariaameaada pela falta de liquidez no mercado. Por outro lado,espera-se que, mesmos diante dessa conjuntura, o incentivoconcedido pelo governo diminua ou at anule, em algunscasos, os impactos da crise financeira mundial para asempresas que pretendem investir seu capital no estado.

    REFERNCIAS

    ACOMPANHAMENTO CONJUNTURAL. Salvador: FIEB, 15ago. 2008. Disponvel em: Acesso

    em: 19 ago. 2008.BAHIA. Secretaria de Indstria, Comrcio e Minerao.Banco de Dados de Investimentos. Salvador: SICM, 2008.

    ______. Balano de 2 anos de Governo. Salvador; SICM,04.12.2008.

    ______. Relatrio de Atividades 2008. Salvador: SICM,31.01.2009.

    BANCO CENTRAL DO BRASIL.Ata do Copom, 22-23 jul.2008. Braslia: BACEN, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 19 ago. 2008.

    FIGUERA, Edmundo; PESSOTI Gustavo; SILVA, Denis. Econo-mia baiana registra elevado crescimento no terceiro trimestre de2008 e dever encerrar o ano com expanso de 4,8% no PIB. Dis-ponvel em:

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    28 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    ARTIGOS

    PIB arrefece no quarto trimestre,

    mas economia baiana registracrescimento de 4,8% em 2008

    * Economista pela Universidade Catlica de Salvador (UcSal); tcnicoda equipe de Contas Regionais da SEI.

    ** Mestre em Anlise Regional pelo Programa de DesenvolvimentoRegional e Urbano da Universidade Salvador (Unifacs); economistapela Universidade Federal da Bahia (UFBA); coordenador de ContasRegionais e Finanas Pblicas da Superintendncia de Estudos Eco-nmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    Denis Veloso da Silva*Gustavo Casseb Pessoti**

    O Produto Interno Bruto do Estado da Bahia apre-sentou, no 4 trimestre de 2008, em comparao aomesmo perodo do ano anterior, uma expanso de1,3%, segundo as estimativas realizadas pela Supe-

    rintendncia de Estudos Econmicos e Sociais daBahia (SEI). Apesar de positivo, esse foi o piordesempenho registrado nos ltimos 27 meses econsequncia da crise da economia mundial, queafetou as economias brasileira e baiana.

    Foram fundamentais para tal resultado os desempe-nhos registrados no segmento de servios, que seexpandiu em 1,5% em relao ao quarto trimestre de2007 e, sobretudo, no setor industrial, que apresen-tou a maior retrao dos ltimos cinco anos (-1,6%),principalmente influenciada pelo mau desempenhoda indstria de transformao, que se retraiu 7% noquarto trimestre de 2008. O setor agropecurio, porsua vez, registrou uma elevada taxa de crescimentode 14,2% e foi decisivo para diminuir o mpeto deretrao da crise para a economia baiana no quarto

    trimestre do ano de 2008.

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    29Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    ARTIGOSDenis Veloso da Silva, Gustavo Casseb Pessoti

    No acumulado de 12 meses, o PIB da Bahia, a despeitoda diminuio no ritmo de crescimento no quarto tri-mestre do ano, registrou uma expanso de 4,8%. Istosignifica que, aps ter apresentado uma elevao de4,5% em 2007, o PIB voltou a crescer sobre uma basej bastante expandida. Alm disso, cabe ressaltar queesse resultado fez a economia baiana acompanhar o

    ritmo de crescimento da economia nacional. O PIBbrasileiro, nesse mesmo corte analtico, registrouuma expanso de 5,1% em relao a igual perododo ano de 2007. As informaes setoriais do desem-penho trimestral da Bahia, bem como a comparaoBahia/Brasil, podem ser observadas no Grfico 1 ena Tabela 1.

    Pde-se constatar, em relao anlise dos resultadosdo ano de 2008, que a crise da economia mundial, queatingiu a economia brasileira com maior mpeto no ltimotrimestre do ano, no foi capaz de anular os resultadosacumulados pela economia baiana, nos trs primeirostrimestres do ano. O segmento industrial, por exemplo,apesar de ter registrado uma queda na taxa de cresci-

    mento de 1,6% no quarto trimestre, j havia acumuladouma expanso de 6,9% nos trs primeiros trimestresdo ano, consolidando, no acumulado de 12 meses de2008, uma expanso de 4,7%, ante o mesmo perodode 2007. Concorreram para esse bom desempenho osresultados registrados pela indstria de transformaoe construo civil, que se expandiram 2,9% e 8,4%,respectivamente.

    Destaca-se que o segmento industrial continua sendoalvo de investimentos pelo governo estadual, por meio

    de uma poltica de atrao que, segundo os dados daSecretaria da Indstria, Comrcio e Minerao do Estado,implementou R$ 3,6 bilhes em novos investimentos aolongo do perodo 2007-2008 (BAHIA, 2008). Com o novoprograma de atrao de investimentos industriais, oPronaval estimulando o segmento da indstria navalna regio do recncavo baiano , acredita-se que, em2009, a despeito do cenrio de crise mundial, a indstriabaiana poder apresentar tendncia de expanso, prin-cipalmente no segundo semestre do ano.

    Fonte: SEI.

    * Dados sujeitos a retificao.1Variao trimestral em relao ao trimestre do ano anterior.

    Grfico 1PIB trimestral1 Bahia* 2007-2008Grfico 1PIB trimestral1 Bahia* 2007-2008

    2008/1 Tri 2008/2 Tri 2008/3 Tri 2008/4 Tri

    -2,7

    6,37,1

    14,2

    6,95,8

    8,0

    -1,6

    5,56,5

    5,3

    1,5

    5,66,2 6,2

    1,3

    Agropecuria Indstria Servios Valor adicionado bsico

    Tabela 1Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto a

    preo de mercado Bahia e Brasil 2008*

    AtividadesVar. acumulada nos ltimos 12 meses

    Bahia (%) Brasil (%)

    Agropecuria 5,6 5,8Indstria 4,7 4,3Servios 4,6 4,8Valor adicionado bsico 4,8 4,7Imposto sobre o produto 4,6 7,4PIB 4,8 5,1

    Fonte: SEI, IBGE.*Dados sujeitos a retificao.

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    30 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    PIB arrefece no quarto trimestre, mas economia baiana registra crescimentode 4,8% em 2008ARTIGOS

    A Tabela 2 mostra o balano do ano de 2008 com basenas estimativas realizadas pela equipe de Contas Regio-nais da SEI.

    A agropecuria apresentou, no 4 trimestre de 2008,uma expanso de 14,2%, comparativamente ao mesmoperodo do ano anterior. Esse comportamento est rela-cionado ao bom desempenho das safras de um conjuntode produtos colhidos no 4 trimestre/08, diferentementedaqueles produtos que foram colhidos nos trs trimes-

    tres imediatamente anteriores, quando comparados aomesmo perodo do ano anterior.

    O desempenho da agropecuria baiana no quarto trimes-tre de 2008 corroborado pelas informaes contidas noLevantamento Sistemtico da Produo Agrcola (LSPA)do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),

    que evidenciam resultados positivos para, praticamente,todas as lavouras da Bahia, excetuando-se a cana-de-acar, que apresentou leve retrao na produo em2008, e o feijo, que se retraiu em 6,5%, conforme Tabela3. Cabe ressaltar que essa mesma pesquisa revelou umaumento de 14% na produo de gros, que atingiu 6,2milhes de toneladas, estabelecendo recorde na safra daBahia. A soja, devidamente recuperada das perdas do anode 2006, apresentou uma expanso de aproximadamente20%, com uma safra de 2,7 milhes de toneladas. Comesses resultados, a agricultura encerrou o ano de 2008

    com uma expanso, na produo, de 7%.

    No segmento industrial, merece destaque o resultadoalcanado pela construo civil, que h 12 trimestresconsecutivos apresenta expanso na produo. No quartotrimestre de 2008, em comparao com igual perodoanterior, a atividade expandiu-se em 6,0%. A indstriaextrativa mineral, embora em menor intensidade, voltoua apresentar retrao (-0,86%) no quarto trimestre de2008. A queda de 2% na extrao de petrleo foi o fato

    que impediu o melhor desempenho desta atividade, dadasua representatividade no total da atividade de extrao

    Tabela 2Taxa de crescimento dos principais setores do PIBBahia 2008

    (%)

    Atividades Estimativa de crescimentopara 2008

    Agropecuria 5,6Agricultura 7,0Indstria 4,7Ind. transformao 2,9Construo civil 8,4Servios 4,6Comrcio 6,3PIB 4,8

    Fonte: SEICoordenao de Contas Regionais.

    Tabela 3Estimativas de produo fsica, reas plantada e colhida e rendimento dos principais produtos agrcolasBahia 2007/2008

    Produtos/safras

    Produo fsica (t) rea plantada (ha) rea colhida (ha) Rendimento (kg/ha)3

    20071 20082 Var. (%) 20071 20082 Var. (%) 20071 20082 Var. (%) 2007 2008 Var. (%)

    Mandioca 4.481.355 4.519.966 0,86 377.129 393.036 4,22 334.489 344.364 2,95 13.398 13.126 -2,03Cana-de-acar 6.279.183 6.180.785 -1,57 108.389 109.558 1,08 107.042 108.479 1,34 58.661 56.977 -2,87Cacau 133.943 139.331 4,02 559.884 569.155 1,66 515.172 547.244 6,23 260 255 -2,07

    Caf 151.782 170.680 12,45 162.980 160.569 -1,48 149.926 154.399 2,98 1.012 1.105 9,19Gros 5.464.038 6.221.347 13,86 2.676.862 2.668.861 -0,30 2.486.556 2.481.566 -0,20 2.197 2.507 14,09Algodo 1.125.240 1.189.460 5,71 301.928 315.477 4,49 301.928 315.477 4,49 3.727 3.770 1,17Feijo 319.402 298.556 -6,53 634.136 578.454 -8,78 539.447 489.617 -9,24 504 610 21,06Milho 1.635.849 1.882.648 15,09 843.328 804.372 -4,62 747.711 707.014 -5,44 1.940 2.663 37,28Soja 2.298.000 2.747.634 19,57 851.000 905.018 6,35 851.000 905.018 6,35 2.700 3.036 12,43Sorgo 85.547 103.049 20,46 46.470 65.540 41,04 46.470 64.440 38,67 1.841 1.599 -13,13Total - - - 3.885.244 3.901.179 0,41 3.593.185 3.636.052 1,19 - - -

    Fonte: IBGELSPA/GCEA.Elaborao: SEICAC.1PAM/IBGE safra 2007.2LSPA/IBGE dezembro 2008.3Rendimento= produo fsica/rea colhida.

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    31Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    ARTIGOSDenis Veloso da Silva, Gustavo Casseb Pessoti

    mineral no estado da Bahia. Mesmo assim, a indstriaextrativa encerrou o ano de 2008 com expanso de 1,1%na produo.

    Na indstria de transformao, segundo as informaesdo relatrio da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE,observa-se que o quarto trimestre foi o de pior desem-penho dos ltimos cinco anos. A retrao de 7% s noteve impactos mais negativos, pois o setor j havia acu-mulado uma relevante expanso at o terceiro trimestredo ano. Apenas para relembrar, no terceiro trimestrede 2008, a indstria baiana de transformao avanou7,5%, taxa superior assinalada no segundo (6,4%) e noprimeiro trimestres (5,0%). Esta elevao no dinamismo,na passagem do segundo para o terceiro trimestre, foi

    explicada, em grande parte, pelo ganho de ritmo emalgumas atividades, com destaque para o segmentode produtos qumicos, que passou de uma retrao de-4,3% no segundo trimestre, para uma expanso 3,7%no terceiro trimestre; e celulose e papel, que acelerou oritmo de crescimento (de 38,0% para 53,6%).

    Entretanto, no quarto trimestre, extremamente afetadapela diminuio na demanda internacional bem comopelos desajustes causados pela crise financeira interna-

    cional, a indstria baiana de transformao apresentouuma retrao de 7%. Praticamente todos os subsetores deatividade apresentaram queda na produo. As maioresperdas foram sentidas pela indstria automobilstica quese retraiu 43% (s em dezembro de 2008 em relao adezembro de 2007 a queda na produo de automveisatingiu 100%); tambm a indstria qumica apresentouuma queda de 22% em funo da diminuio na pro-duo de resinas de polietileno ocasionada pela quedana demanda nacional e internacional. Outro resultadonegativo foi registrado no refino de petrleo (queda de

    2,5%), atrelado s paradas para manutenes na refinaria,conforme se verifica no Grfico 2.

    Ainda nessa comparao trimestral, importante des-tacar tambm o desempenho da indstria de borrachae plstico, em funo dos pesados investimentos rea-lizados principalmente no segmento de pneumticos.Diariamente a indstria baiana de pneumticos produzquase 36 mil unidades. No quarto trimestre de 2008,em relao a igual perodo do ano anterior, a indstria

    de borracha e plsticos obteve uma queda de 6%. Esse um dos segmentos que dever apresentar algumaretrao no primeiro trimestre de 2009, uma vez que50% da produo interna destinada ao exterior que,

    em funo da crise mundial e da recesso econmicanos principais pases da Europa e Estados Unidos, temdiminudo suas encomendas s fbricas localizadas naBahia (ALCNTARA, 2008).

    Em outubro de 2008, j se percebeu um impacto da crisefinanceira internacional no resultado global da indstriabaiana, que se retraiu 0,6% em relao ao mesmo perododo ano anterior. O setor qumico/petroqumico foi o maisduramente atingido com expressiva retrao de 12,2%. Ede l at o fechamento do ano de 2008 foram sucessivasquedas na produo da indstria qumica. Em relatriode anlise conjuntural, a Federao das Indstrias do

    Estado da Bahia (FIEB) destaca pontos que ajudam aexplicar o mau desempenho registrado na principalindstria da Bahia.

    Segundo aludido relatrio:

    O segmento qumico/petroqumico baiano sentiu os

    efeitos da crise financeira internacional em 2008, pro-

    movendo paradas no-programadas ou reduzindo a

    produo em algumas unidades. No final de 2008, o

    Fonte: IBGEPIMPF.

    Grfico 2Evoluo da indstria baiana de transformao,segundo subsetores de atividadesOut-dez 2008/out-dez 2007

    Grfico 2Evoluo da indstria baiana de transformao,segundo subsetores de atividadesOut-dez 2008/out-dez 2007

    Celulose, papele produtos de papel

    Borracha e plstico

    Metalurgia bsica

    Minerais no metlicos

    Veculos automotores

    Produtos qumicos

    Refino de petrleoe lcool

    Alimentos e bebidas

    -6,0

    -42,6

    -2,5

    10,3

    3,5

    21,6

    10,4

    -21,8

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    32 Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    PIB arrefece no quarto trimestre, mas economia baiana registra crescimentode 4,8% em 2008ARTIGOS

    agravamento da crise internacional provocou a quase

    paralisao da demanda por resinas termoplsticas e

    petroqumicos bsicos (tanto no mercado interno quanto

    no externo), com a consequente formao de elevados

    estoques. Algumas empresas do Plo de Camaarioptaram pela suspenso da produo de algumas

    plantas, como os casos das unidades de Olefinas I (que

    j havia realizado uma parada programada de 30 dias

    entre maio e junho de 2008), PE-2 (polietileno, por conta

    tambm de um acidente na planta) e de caprolactama

    da Braskem; Acrinor; Proquigel e Unigel Plsticos; alm

    da reduo da produo da Fafen. A desvalorizao do

    cmbio tambm causou prejuzos importantes sobre

    o caixa de algumas empresas, a exemplo da Braskem,

    que registrou elevadas perdas no 3 trimestre do ano

    (R$ 849 milhes), revertendo o resultado positivo deR$ 465 milhes para prejuzo de R$ 384 milhes no

    acumulado dos primeiros 9 meses de 2008. O segmento

    qumico/petroqumico da Bahia promoveu o fecha-

    mento/paralisao de algumas unidades, a exemplo

    da CIBA Especialidades, unidades de DMT e PET da

    Braskem, da planta de pentaeritritol da Copenor e das

    plantas de cellosize (hidroxietilcelulose) e estireno da

    Dow Qumica. (FEDERAO DAS INDSTRIAS DO

    ESTADO DA BAHIA, 2008, p. 29).

    Por tudo isso e levando-se em considerao o elevadograu de concentrao da indstria baiana nos segmentosqumico e petroqumico, papel e celulose, automotivo ede produtos alimentcios, houve uma forte desaceleraono quarto trimestre de 2008, freando o resultado globaldo ano (at o terceiro trimestre indicava um crescimentosuperior a 4,5%). Com a queda de 7% no quarto trimestrede 2008 (em comparao a igual perodo do ano anterior),a indstria baiana de transformao encerrou o ano comuma expanso de apenas 2,9% em relao produo

    do ano de 2007.

    Apesar da expectativa quanto aos novos investimentosno parque industrial baiano, principalmente em direo indstria naval, bem como os programas para a cadeiapetroqumica, as incertezas ainda so muito grandes parao ano de 2009. As expectativas iniciais so de queda naproduo industrial no primeiro trimestre do ano, atrelada diminuio na atividade causada pela crise da economiamundial que diminuiu o ritmo de crescimento e, portanto,

    as compras internacionais (exportaes) de pases queso grandes demandantes do Brasil, a exemplo de EUA,China, Japo, alm da Zona do Euro.

    Reflexo imediato da finalizao da primeira fase das obrasdo metr de Salvador, bem como do chamado boomimobilirio que tem expandido a oferta de imveis, nostrs ltimos anos, em mdia 40% ao ano , a construocivil, segmento que absorve uma elevada quantidade demo de obra, voltou a apresentar expanso na atividade,com crescimento de 6% no quarto trimestre de 2008, emrelao ao mesmo perodo de 2007. Dessa maneira, osetor encerrou o ano com uma expanso de 8,4%, melhorresultado dos ltimos 5 anos.

    A despeito desse bom resultado, o emprego formal naconstruo civil foi bastante afetado nesse ltimo trimes-tre. Segundo os dados do Cadastro Geral de Emprego eDesemprego (Caged), o setor apresentou uma perda de4.300 empregos com car teira assinada em dezembro de2008, o que reduziu o mpeto de crescimento no emprego,que vinha se observando at o terceiro trimestre do ano.Mesmo assim, o saldo do emprego na construo, aolongo do ano, ficou positivo em cerca de 3.900 novospostos, resultando em um crescimento de 4,2% em

    relao ao ano de 2007.

    No bojo dessa anlise, merece especial destaque o setordo comrcio que, conforme os dados da Tabela 4, gerouaproximadamente 13.700 novos postos de trabalho noperodo compreendido entre janeiro e dezembro de 2008.Para corroborar esse resultado, h de se mencionar obom desempenho de suas vendas, que, na Bahia, h 61meses consecutivos apresentam incrementos reais. Noquarto trimestre do ano de 2008, em relao ao igualperodo do ano anterior, o comrcio baiano apresentou

    uma expanso de 1,8%, acumulando, no ano, 6,3% deincremento real nas vendas.

    De janeiro a setembro de 2008, os setores mais ligados aocredirio apresentaram as mais significativas expanses naatividade. Justamente por isso, no quarto trimestre houveuma diminuio na intensidade do crescimento do setorvarejista baiano, o que no chegou a comprometer o resul-tado anual, mas significou uma reduo em relao taxade crescimento do perodo 2007/2006 que atingiu 12%.

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    33Conj. & Planej., Salvador, n.162, p.28-35, jan./mar. 2009

    ARTIGOSDenis Veloso da Silva, Gustavo Casseb Pessoti

    Em meados de setembro, os reflexos da crise econmicainternacional se intensificaram mais fortemente na eco-nomia brasileira e tambm na baiana. Seus efeitos foramsentidos nos diversos segmentos da atividade econmica,com reflexos tambm no comrcio varejista (Tabela 5).

    Com o agravamento da crise, as instituies financeiras setornaram mais seletivas na concesso de financiamentos.O crdito ficou mais caro em razo da alta dos juros e osprazos de parcelamento das vendas mais reduzidos.

    Esses fatores foram preponderantes para inibir o desem-penho do varejo, principalmente nos segmentos de bensdurveis, cujas vendas, em quase 75%, so financiadase, portanto, altamente dependentes das taxas de jurose dos prazos do credirio.

    Entre janeiro e dezembro de 2008, o segmento de mveise eletrodomsticos apresentou uma expanso acumuladade 16,6%. Impulsionados pelas facilidades de acessoao crdito, pelas redues de preos, principalmente

    dos eletroeletrnicos e pela elasticidade dos prazos depagamento, o segmento vem, h trs anos, apresentandosucessivos desempenhos positivos.

    Outro importante segmento que apresentou expansoem 2008 foi o de venda de veculos, motos e acessrios,que nesse mesmo corte temporal expandiu 11,5%. Trata-se da comercializao de bens de preo elevado, cujaaquisio depende principalmente do crdito e dos juros.Por isso, parte considervel das vendas realizada aprazo, sobretudo a dos carros populares, que responde

    por parcela expressiva das receitas do segmento. Oaumento das vendas de veculos e motocicletas podeser creditado s medidas de estmulos ao consumoque vm sendo adotadas pelo governo federal, como:liberao de recursos para as montadoras e reduo doImposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carrospopulares, deixando-os mais baratos.

    Tabela 4Comportamento do emprego formal por setor deatividade econmicaBahia dez 2008/jan-dez 2008

    Atividadeeconmica

    Total deadmitidos

    Total dedesligados

    Saldo(Adm.-deslig.)

    Var.% noestoque

    Dezembro de 2008Total 34.804 50.029 -15.225 -1,18Extrativa mineral 67 257 -190 -1,57Indstria detransformao 3.168 6.588 -3.420 -1,85Servios ind. e de util.pblica 108 197 -89 -0,56Construo civil 3.975 8.318 -4.343 -4,09Comrcio 10.645 10.863 -218 -0,07Servios 13.688 15.364 -1.676 -0,31

    Administrao pblica 88 337 -249 -0,86Agropecuria 3.065 8.105 -5.040 -4,99Janeiro a Dezembro de 2008Total 610.700 569.778 40.922 3,37Extrativa mineral 2.464 2.189 275 2,38Indstria detransformao 76.391 72.297 4.094 2,34Servios ind. e de util.pblica 2.319 2.337 -18 -0,11Construo civil 96.041 92.149 3.892 4,23Comrcio 131.184 117.541 13.643 4,73Servios 208.247 188.955 19.292 3,79Administrao pblica 2.478 1.769 709 2,53

    Agropecuria 91.576 92.541 -965 -1,03Fonte: MTECadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) Lei 4.923/65.Nota: A variao no estoque de empregos obtida mediante a diviso da variaoabsoluta sobre o estoque do primeiro dia do ms. No acumulado do ano, a variao medida para o conjunto de meses, comparando o estoque no incio do perodo com oestoque final. Mostra o desempenho do emprego em termos percentuais.

    Tabela 5Indicadores de desempenho do comrcio varejistabaiano, segundo grupos de atividadesJan-dez 2008

    Atividades

    Acumulado no ano de 20081

    Valor nominalde vendas

    Volume devendas2

    Comrcio varejista* 12,9 7,8Combustveis e lubrificantes 11,8 11,3Hipermercados, supermercados,prods. aliment., bebidas e fumo 14,7 2,1 Hipermercado e supermercado 13 1,2Tecidos, vesturio e calados 1,9 -2,5

    Mveis e eletrodomsticos 12 16,3Art. farm. med. ort.e de perfumaria 13,1 11,6Equip. mat. p/ esc.inf. comunicao -4,1 8,8Livros, jornais, rev. e papelaria 22,5 23,6Outros art.de uso pess. e domstico 28,2 25,1Veculos e motos, partes e peas 15,3 11,5Material de construo 17,3 10,3

    Fonte: IBGEPMC.* O Indicador do comrcio varejista composto pelos resultados das ativ. numeradas de 1 a 8.1Compara a variao acumulada do perodo de referncia com igual perodo do ano anterior.2Resulta do deflacionamento dos valores nominais de vendas por ndices de preos especficos para cada grupo de atividade.

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    ARTIGOSDenis Veloso da Silva, Gustavo Casseb Pessoti

    produtos qumicos e petroqumicos, alm do setorautomotivo, que apresentou seu pior resultado desde2002, quando a Bahia se tornou exportadora de ve-culos automotores.

    Para finalizar este breve balano de conjuntura econmicaem 2008, cumpre explicitar o desempenho do setor de ser-vios, que tambm apresentou um bom resultado em suasprincipais atividades e encerrou o ano com uma expansode 4,6%. Como demonstrado anteriormente pelos dadosdo Caged, que medem apenas o emprego formal, o setorde servios foi o que mais empregos criou em 2008.

    Nesse mesmo ano, diversas atividades ligadas ao setorde servios apresentaram expanso no nvel da ativi-

    dade, entre elas os setores ligados ao turismo, bastantefavorecidos pelo aumento do dlar, que desestimulouas viagens para o exterior. O setor de alojamento e ali-mentao, em resposta direta a esse movimento daeconomia, expandiu-se 6,7%, como reflexo imediato doincremento turstico j caracterstico de fim de ano e bas-tante ampliado pela conjuntura internacional. A anlise dosetor de transporte areo, atrelado ao citado segmento,corrobora os resultados. Entre janeiro e dezembro de2008, o fluxo de passageiros desembarcados na Bahia

    aumentou perto de 9,2%.

    Alm disso, em funo da diminuio do desempregona Regio Metropolitana de Salvador que, segundo aPesquisa de Emprego e Desemprego (PED), caiu 6,5%na comparao com o ano 2008/2007, houve expansona atividade dos demais servios (prestados s famliase empresas). O nvel de ocupao nesse segmento deservios cresceu 4,6% em 2008/2007.

    Revela a mesma pesquisa, em relao ao perodo

    2008/2007, que houve crescimento do rendimento realmdio, tanto da populao ocupada (6,1%) quanto daassalariada (5,4%).

    Assim, a despeito da crise econmica financeira inter-nacional e do arrefecimento das principais economias

    da Europa, Japo e Estados Unidos, pases que mantmrelaes comerciais com a Bahia, a economia baiananovamente apresentar uma taxa de incremento doPIB, seguindo a tendncia da economia brasileira. A

    taxa estimada pela equipe da SEI configura-se comoa mais alta desde 2004. A soma de todas as riquezasproduzidas na Bahia certamente ser superior aosR$ 115 bilhes.

    REFERNCIAS

    ALCNTARA, Dbora. Fbrica de pneus anunciam friascoletivas no Estado.A Tarde, Salvador, 19 nov. 2008. Econo-mia, p. 17.

    BAHIA. Secretaria da Indstria Comrcio e Minerao.

    Investimentos Industriais da Bahia no perodo 2007-2008.Salvador: SICM, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 1 dez. 2008.

    BOLETIM DO CAGED. Salvador: SEI, 2008. Disponvel em:. Acesso em: 20 dez. 2008.

    CENTRO INTERNACIONAL DE NEGCIOS DA BAHIA.Informativo do comrcio exterior. Salvador: PROMO, 2008 .Disponvel em: . Acesso em: 20dez. 2008.

    FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DA BAHIA.

    Acompanhamento Conjuntural. Salvador: FIEB, 15 set. 2008.Disponvel em . Acesso em: 1 dez. 2008.

    IBGE . Levantamento sistemtico da produo agrcola. Rio deJaneiro, 2008. Disponvel em: . Acessoem: 28 dez. 2008.

    PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO (PED). Salvador:SEI, 2008. Disponvel em: . Acesso em:1.dez. 2008.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL PRODUO FSICA-REGIONAL. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponvel em:. Acesso em: 26 fev. 2008.

    PESQUISA MENSAL DO COMRCIO. Rio de Janeiro; IBGE,2008. Disponvel em: . Acesso em: 26 fev.2008.

    PIB TRIMESTRAL DO BRASIL. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.Disponvel em: www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2008.

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    ARTIGOS

    Transformaes nadinmica da economia

    baiana:polticasde industrializaoe expanso dasrelaes comerciaisinternacionais

    * Mestre em Anlise Regional pelo Programa de Desenvolvimento Regional e Urbano daUniversidade Salvador (Unifacs); economista pela Universidade Federal da Bahia(UFBA); coordenador de Contas Regionais e Finanas Pblicas da Superintendnciade Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI) e professor do curso de CinciasEconmicas da Unifacs. [email protected].

    **Doutor em Histria Econmica pela Universidade de So Paulo (USP); economis-ta (UFBA); pesquisador da SEI; professor do Centro Universitrio da Bahia (FIB)[email protected].

    Gustavo Casseb Pessoti*

    Marcos Guedes Vaz Sampaio**

    A histria econmica recente da Bahia, analisada pormeio de sua evoluo no decurso dos ltimos 17 anos,revela o carter industrialista adotado pela esfera gover-

    namental no anseio de promover uma transformao nas

    bases de sua estrutura produtiva. O caminho identificado

    para alcanar tal objetivo no era novo; tratava-se davelha poltica das isenes fiscais, usada desde temposremotos como mecanismo de atrao de agentes eco-nmicos e dinamizao da economia.

    Subsdios, reduo ou at mesmo a iseno de tributossempre foram instrumentos utilizados pelo governo como intuito de atrair capitais e promover o desenvolvimento

    de uma regio. No sculo XIX, a ento Provncia da Bahia

    chegou a ser detentora do maior nmero de estabelecimen-

    tos fabris do segmento txtil nacional; possua tambm

    fbricas de charutos, chapus, sabonetes e tinha um setormetalrgico expressivo para os padres da poca.

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    Transformaes na dinmica da economia baiana: polticas de industrializao eexpanso das relaes comerciais internacionaisARTIGOS

    O processo de industrializao somente foi retomado noestado aps a implantao da Refinaria Landulfo Alvesem Mataripe (RLAM) na dcada de 1950. Desde ento,

    a evoluo econmica baiana tomou um novo rumo,capitaneada pelos segmentos qumico e petroqumico.

    Um conjunto de fatores favorveis permitiu um impulsona industrializao da Bahia nos primrdios dos anos 50,alm da refinaria. Dentre eles destacam-se o surgimentodo Banco do Nordeste e, em termos locais, a usina hidrel-trica de Paulo Afonso, responsveis por uma mudana naestrutura econmica do estado. Talvez o maior destaquedesse perodo deva ser creditado ao incio do planejamento

    econmico para o desenvolvimento da Bahia, com a ins-tituio da Comisso de Planejamento Econmico (CPE)em 1955, de base essencialmente industrialista.

    Na poca em que o planejamento era realmente uminstrumento para o desenvolvimento, e o Estado aindano era considerado causador das mazelas da sociedadecontempornea, o estado da Bahia logrou um grandeprocesso de industrializao, que encontrou seu apogeuno final dos anos 1970, com a criao do maior complexopetroqumico da Amrica Latina.

    A partir da dcada de 1980, sem poder contar mais como apoio do Estado na dinamizao das economias menosfavorecidas, coube aos estados subnacionais procurar desen-volver um processo autnomo na conduo do planejamentoeconmico. Aqueles que outrora galgaram um processo deacumulao capitalista (poupana) conseguiram mantero statusdominante. Os outros, excludos historicamentedeste processo, tiveram que abrir suas economias ao capitalestrangeiro, sobretudo com o apoio dos incentivos fiscais.

    INCENTIVOS FISCAIS E A NOVADINMICA DA INDUSTRIALIZAOBAIANA NO PS-90

    O Brasil entrou no sculo XXI fortemente influenciadopor uma poltica econmica fiscalista, em que o mercadoera interpretado como o agente norteador dos rumos dan