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    Entrevista Artigos

    22Portos baianos:um gargalo que inibeo crescimento

    Arthur Souza Cruz

    34Brasil: diminuio daparticipao relativa daindstria na economia

    Marina da Silva RappVincius Ferreira Lins

    26Desocupao,rendimento edistribuio: anlisedo panorama geralbrasileiro

    Camila CarvalhoRodriguesMagali Alves de Andrade

    42Populao idosa na RegioMetropolitana de Salvador:um breve diagnstico dosanos 2000

    Cidna da Silva ArajoEletice Rangel SantosLeormnio Moreira Bispo FilhoPaulo Roberto Pinheiro Leal

    Sumrio

    ExpedienteGOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJAQUES WAGNER

    SECRETARIA DO PLANEJAMENTOANTNIO ALBERTO VALENA

    SUPERINTENDNCIA DE ESTUDOSECONMICOS E SOCIAIS DA BAHIAJOS GERALDO DOS REIS SANTOS

    CONSELHO EDITORIALAntnio Plnio Pires de Moura, CelesteMaria Philigret Baptista, Edmundo SBarreto Figueira, Jackson Ornelas Mendona,Jair Sampaio Soares Junior, Jos RibeiroSoares Guimares, Laumar Neves de Souza,Marcus Verhine, Roberto Fortuna Carneiro

    DIRETORIA DE INDICADORES EESTATSTICASGustavo Casseb Pessoti

    COORDENAO GERALLuiz Mrio Ribeiro Vieira

    COORDENAO EDITORIALElissandra Alves de BrittoRosangela Ferreira Conceio

    EQUIPE TCNICAJorge Caff

    COORDENAO DE BIBLIOTECAE DOCUMENTAO/NORMALIZAORaimundo Pereira Santos

    COORDENAO DE DISSEMINAO DEINFORMAESMrcia Santos

    PADRONIZAO E ESTILO/EDITORIA DE ARTEElisabete Cristina Teixeira BarrettoAline Santana (estagiria)

    REVISO DE LINGUAGEMLuiz Fernando Sarno

    PRODUO EXECUTIVAAnna Luiza Sapucaia

    DESIGN GRFICO/EDITORAO/ILUSTRAESNando Cordeiro

    FOTOSAgecom, Luiz Carlos de Sousa, Mariana Gusmo,Stock XCHNG

    IMPRESSOEGBA Tiragem: 1.000

    Carta do editor5

    6Economias brasileira ebaiana: desempenho daconjuntura no primeirosemestre de 2010

    Carla do NascimentoElissandra BrittoJorge Tadeu CaffRosangela Conceio

    Economia emdestaque

    16O Brasil na rbita daChina

    Antnio Barros de Castro

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    Av. Luiz Viana Filho, 4 Avenida, 435, CABSalvador (BA) Cep: 41.745-002

    Tel.: (71) 3115 4822 Fax: (71) 3116 1781

    www.sei.ba.gov.br [email protected]

    Conjuntura & Planejamento / Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia. n. 1 (jun. 1994 ) . Salvador:

    SEI, 2010.n. 168TrimestralContinuao de: Sntese Executiva. Periodicidade: Mensal at

    o nmero 154.

    ISSN 1413-1536

    1. Planejamento econmico Bahia. I. Superintendnciade Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.

    CDU 338(813.8)

    Ponto de vista Indicadoresconjunturais

    Investimentosna Bahia

    62Estado da Bahiadeve receber 655investimentosindustriais at 2013

    Fabiana Karine Santos deAndrade

    Livros66

    Conjunturaeconmicabaiana

    68

    77Indicadores econmicos

    86Indicadores sociais

    95Finanas pblicas

    51A explorao dosservios de gua eesgoto dos municpiosde Ilhus e Itabuna:uma antiga polmica

    ngela Maria GordilhoBarbosa

    Colaboraram com este nmero os jornalistasLuzia Luna, Mariana Gusmo e Luiz Carlos deSouza.

    Os artigos publicados so de inteira respon-sabilidade de seus autores. As opinies nelesemitidas no exprimem, necessariamente, oponto de vista da Superintendncia de EstudosEconmicos e Sociais da Bahia (SEI). permi-tida a reproduo total ou parcial dos textosdesta revista, desde que seja citada a fonte.Esta publicao est indexada no UlrichsInternational Periodicals Directory e no sistemaQualis da Capes.

    60As bases doplanejamento e suasferramentas

    Zlia Gis

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    Carta do editorAps a inflexo ocorrida em 2009, decorrente da crise internacional, a economia brasileiraretoma os nveis pr-crise. Essa rpida recuperao deve-se, em parte, continuidade docrescimento da economia chinesa e s polticas anticclicas, de crdito e iseno fiscal. Osdesafios e oportunidades para a economia brasileira foram avaliados pelos colaboradorespara a revista Conjuntura & Planejamento nas sees de Entrevista e Ponto de Vista.

    Assim, a edio de nmero 168 da Conjuntura & Planejamento traz uma entrevista com orenomado professor Antonio Barros de Castro, autor do livroA economia brasileira em marchaforada, em parceira com Francisco Eduardo Pires de Souza. Na sua explanao, Castrochama a ateno para o momento de ruptura histrica, de dimenses inditas, vivido nosomente pelo Brasil, mas tambm pelos demais pases do mundo. Para ele, um momento

    nico, a emergncia de uma economia que chamou de sinocntrica, onde o processo decrescimento completamente diferente.

    Na seo Ponto de Vista a ideia apresentada a da professora Zlia Gis, especialista emtemas relacionados administrao pblica. De maneira didtica, apresenta as variveisque preconizam o planejamento e os meios utilizados para sua realizao. Na sua avaliao,o planejamento compreende racionalizao de mtodos e processos com o objetivo dealcanar determinado fim ou propsito.

    Na seoArtigos, h trabalhos como o de Arthur Souza Cruz, intitulado Portos baianos: umgargalo que inibe o crescimento, e de Camila Carvalho Rodrigues e Magali Alves de Andrade,

    Desocupao, rendimento e distribuio: anlise do panorama geral brasileiro. O primeiro dis-cute sobre os gargalos logsticos que representam um entrave ao desenvolvimento do pas,ressaltando a importncia estratgica de reestruturar os portos baianos. O segundo abordaos ganhos sociais advindos com a reduo da taxa de desocupao e os saldos positivosna gerao de cargos com carteira assinada.

    Como destaque, tm-se o texto da equipe de anlise conjuntural, Economias brasileira ebaiana: desempenho da conjuntura no primeiro semestre de 2010. Com base nos indicadoreseconmicos, descreve-se o cenrio da economia baiana nos primeiros seis meses de 2010,ressaltando o crescimento do PIB comparativamente ao mesmo perodo do ano anterior,

    assim como apresenta-se a perspectiva para o segundo semestre de 2010, tanto para aeconomia brasileira como para a baiana.

    A anlise econmica pautada nos indicadores revela um cenrio de otimismo quanto aocomportamento da economia nos prximos meses. Na tentativa de retratar esse cenriopara a sociedade, a SEI, atravs da C&P, faz, brevemente, a anlise dos fatores que tmdeterminado o desempenho das economias brasileira e baiana nos ltimos meses e asconsequncias da sua adoo.

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    Economias brasileirae baiana: desempenho

    da conjuntura no primeirosemestre de 2010Carla do Nascimento*

    Elissandra Britto**Jorge Tadeu Caff***

    Rosangela Conceio****

    No Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou taxa altamente

    positiva de 8,8% no segundo trimestre de 2010 (A ECONOMIA..., 2010),comparado ao mesmo perodo do ano anterior, aps resultado tambmpositivo (9,0%) no primeiro trimestre, confirmando as expectativas derecuperao da economia brasileira. Da mesma forma, a economia

    baiana manteve o resultado positivo e elevado em seu PIB (10,4%), taxasuperior observada no primeiro trimestre (9,5%) (SUPERINTENDN-CIA DE ESTUDOS ECONMICOS E SOCIAIS DA BAHIA, 2010). Nestesentido, o PIB nacional e da Bahia acumularam no primeiro semestre,respectivamente, taxas de 8,9% e 10,0% em relao ao mesmo perododo ano anterior.

    Quando analisado o comportamento do PIB por setor de atividade,no primeiro semestre de 2010, comparativo ao mesmo perodo do anoanterior, constatou-se que a indstria variou positivamente (14,2%),

    puxando o crescimento da economia brasileira, sendo acompanhadapelo setor agropecurio (8,6%) e pelo setor de servios, que registrouum crescimento de 5,7% (A ECONOMIA..., 2010).

    * Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); graduada em Cincias Econmicas pela UniversidadeEstadual de Feira de Santana (UEFS). Tcnica da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais daBahia (SEI). [email protected]

    ** Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); graduada em Cincias Econmicas pela UFBA. Tcnicada Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    *** Especialista em Planejamento Agrcola; graduado em Cincias Econmicas pela UFBA. Analista tcnico daSeplan/SEI. [email protected]

    **** Mestranda em Administrao pela Universidade Salvador (Unifacs); especialista em Auditoria Fiscal pelaUniversidade do Estado da Bahia (UNEB); graduada em Matemtica pela Universidade Catlica de Braslia(UCB) e em Cincias Econmicas pela Universidade Catlica do Salvador (UCSal). Tcnica da Superinten-dncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUE

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    reduziu o supervit para US$ 9,2 bilhes, contra US$

    16,8 bilhes no mesmo perodo de 2009 (BRASIL, 2010).Considerando-se as exportaes por fator agregado, nacomparao com 2009, os produtos bsicos cresceram30,3% e os semimanufaturados e manufaturados aumen-taram, respectivamente, 41,3% e 19,2%. Ressalta-se queas exportaes de bens industrializados responderam pormais da metade (54,2%) do total exportado pelo Brasilnos primeiros sete meses de 2010.

    Quanto aos blocos econmicos de destino, destacou-sea sia. Com aumento nas vendas de 39,6%, esse blocoeconmico ocupa a primeira posio com participaode 27,8% no total das exportaes brasileiras, superandoo acrscimo nas exportaes para a Unio Europeia

    (21,4%) e para a Amrica Latina e Caribe (23,7%). Razoatribuda, basicamente, ao comportamento da eco-

    nomia chinesa, que continua a liderar com taxas de

    crescimento expressivas e a manter sua demanda por

    importaes. As exportaes brasileiras para a Chinaatingiram US$ 29,7 bilhes, representando um incre-mento de 25,0% e uma participao de 15,7% do totalde produtos comercializados com a sia. A Amrica doSul e o Caribe tornaram-se o segundo maior parceirocomercial, respondendo por 42,2% das exportaes,

    seguido pela Unio Europeia e EUA, com participaesde 19,8% e 23,6%, respectivamente (BRASIL, 2010).

    Na Bahia, o valor adicionado, no que se refere aos seto-res, resultou, em ordem de importncia, do crescimentoda indstria (13,3%), da agropecuria (10,4%) e dos

    servios (8,3%), comparando-se o primeiro semestre

    de 2010 com igual perodo do ano anterior (SUPERIN-TENDNCIA DE ESTUDOS ECONMICOS E SOCIAISDA BAHIA, 2010).

    Desta forma, os indicadores econmicos para o pri-meiro semestre de 2010 sinalizaram a continuidade

    da dinmica da economia brasileira, principalmente

    em relao produo, vendas internas e externas

    (exportaes) e emprego.

    As estimativas da produo agrcola brasileira em julho,

    apresentadas pelo IBGE, no Levantamento Sistemticoda Produo Agrcola (LSPA) (2010), indicaram que asafra de gros de 2010 dever registrar aumento anualde 9,2%, totalizando 146,4 milhes de toneladas, previso0,3% superior safra recorde de 2008 (146,0 milhes detoneladas). Entre os produtos que tm perspectivas deelevaes destacam-se soja (19,8%), trigo (7,4%) e milho(4,4%); em sentido contrrio, os recuos so estimadospara as safras de arroz (-10,3%) e feijo (-5,5%).

    A produo fsica industrial nacional acumulou aumentode 16,2% no primeiro semestre de 2010, com base nosdados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) (2010b).

    Considerando-se as categorias de uso, destaca-se o

    setor de bens de capital, que apresentou a maior varia-o, com taxa de 29,6%. A categoria bens de consumodurveis tambm registrou taxa positiva de 20,6%, almda produo de bens intermedirios, que registrou acrs-cimo de 7,0%, e da produo de bens de consumo semie no durveis, que aumentou 7,5%. Esse conjunto deindicadores apontou para a recuperao da capacidade

    de produo do setor industrial e dos investimentos.

    No perodo de janeiro a julho de 2010, as empresas brasi-leiras exportaram US$ 106,9 bilhes, representando umaumento de 27,1% em relao ao ano anterior. J as impor-taes, com um volume de US$ 97,6 bilhes, registraramum acrscimo de 45,1%. O maior incremento no percen-tual nas importaes comparativamente s exportaes

    Os indicadores econmicospara o primeiro semestrede 2010 sinalizaram acontinuidade da dinmicada economia brasileira,principalmente em relao produo, vendas internase externas (exportaes) eemprego

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu Caff, Rosangela Conceio

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    No mbito do mercado nacional, o comrcio varejistamanteve-se em crescimento nos primeiros meses de2010, beneficiado por fatores como a manuteno donvel de renda e a elevao do nmero de empregos,associados a um quadro de melhoria da confiana dosconsumidores quanto ao desempenho da economia.No primeiro semestre de 2010 foi registrado, de acordocom a Pesquisa Mensal de Comrcio (2010) do IBGE,crescimento de 11,5%, superior ao resultado obtido nomesmo perodo de 2009 (4,4%).

    Nesse perodo, o principal destaque no varejo ficoucom o segmento de bens no durveis, no caso o dehipermercados, supermercados, produtos alimentcios,bebidas e fumo que registrou acrscimo significativode 10,4%.

    Na tentativa de evitar o crescimento da inflao, o Comit dePoltica Monetria (Copom) elevou a taxa de juros de 8,75%para 10,75%1, no transcorrer dos seis primeiros meses de2010. Esse comportamento foi motivado pela elevada infla-

    o, medida pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo(IPCA), que alcanou a taxa de 5,17% em maro de 2010,superando a observada em fevereiro de 2010 (4,83%).

    1 Segundo a ata da reunio do Copom de 20 e 21 de julho, avaliando a con-juntura macroeconmica e as perspectivas para a inflao, o Copom decidiu,por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% a.a., sem vis. Consideran-do o processo de reduo de riscos para o cenrio inflacionrio que se confi-gura desde a ltima reunio do Copom, e que se deve evoluo recente defatores domsticos e externos, o Comit entende que a deciso ir contribuirpara intensificar esse processo (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2010).

    O mercado de trabalho mostrou-se dinmico no primeirosemestre de 2010, contribuindo para os bons resultados daeconomia brasileira. De acordo com o Cadastro Geral deEmpregados e Desempregados (CAGED, 2010) do Ministrio

    do Trabalho e Emprego (MTE), nos seis primeiros mesesdo ano foram criados 1.473.320 novos postos de trabalho, oque significou um aumento de 4,5% em relao ao mesmoperodo de 2009. Em relao aos setores, o destaque foipara a construo civil, que, impulsionada pela expansode novas moradias e pelas obras civis, principalmente eminfraestrutura, apresentou um aumento de 10,2% na ofertade novas vagas. Vale ressaltar tambm o satisfatrio desem-penho da indstria de transformao, com uma taxa deexpanso superior a 5%, refletindo o bom comportamentodos segmentos de calados (11,7%) e metalurgia (7,3%).

    O setor de servios, com taxa de crescimento de 3,7%,continuou sendo o segmento com maior criao de vagasem nmeros absolutos (490 mil). De cada trs novas vagasna economia, uma foi aberta no setor de servios.

    Essa expanso da populao ocupada vem garantindoa manuteno do crescimento da massa salarial naeconomia brasileira. Aps obter alta de 4,0% no anode 2009, a massa salarial real habitualmente recebidaregistrou aumento de 5,3% nos primeiros seis meses doano (PESQUISA MENSAL DO EMPREGO, 2010). Com ainflao sob controle, o crescimento do poder aquisitivodos trabalhadores favoreceu a ampliao do consumodomstico, justificando a expressiva contribuio doconsumo das famlias no PIB brasileiro (8,0%).

    No primeiro semestre de 2010foi registrado, de acordo com aPesquisa Mensal de Comrcio(2010) do IBGE, crescimentode 11,5%, superior aoresultado obtido no mesmoperodo de 2009 (4,4%)

    Com a inao sob controle,o crescimento do poderaquisitivo dos trabalhadoresfavoreceu a ampliaodo consumo domstico,justicando a expressivacontribuio do consumo dasfamlias no PIB brasileiro

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    Economias brasileira e baiana: desempenho da conjuntura no primeiro semestre de 2010ECONOMIAEM DESTAQUE

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    dentro desse panorama que as prximas sees foramdestinadas a analisar mais detalhadamente o comporta-mento da economia baiana, do ponto de vista dos diferen-tes indicadores de atividade econmica. Ao mesmo tempo,

    enfocam as expectativas para o segundo semestre de 2010,considerando-as favorveis, uma vez que no existem, nocurto prazo, previses de novos abalos no mercado inter-nacional capazes de afetar a economia brasileira.

    PRODUO AGRCOLA

    De acordo com o Levantamento Sistemtico da ProduoAgrcola (2010) do IBGE, de julho de 2010, a estimativada safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas

    projeta uma produo superior em 9,2% obtida em 2009.Por sua vez, a Regio Nordeste figura com um volume deproduo de 12,0 milhes de toneladas, destacando-se asoja e o milho. Na Bahia, a expectativa de colher umaproduo de gros 11,3% maior que em 2009, traduzidaem 6,7 milhes de toneladas, em que a soja e o milhodevem contribuir como mais de 77% desse total, conformeilustrado no Grfico 1.

    Culturas tradicionais

    As exportaes brasileiras de caf no ms de julho foramas maiores dos ltimos quatro anos, em receita e emvolume, segundo o Conselho Brasileiro dos Exportadores

    de Caf (CeCaf) (EXPORTAES..., 2010). Tambm emjulho acontecem os tratos das culturas nos cafezais

    baianos. Espera-se, para o ano em curso, aumento de1,4% na produtividade e crescimento na produo emtorno de 7,0%, em comparao a 2009.

    Ainda com base nos resultados apresentados pelo LSPAde julho, a safra baiana de cana-de-acar est comsua colheita em andamento. Aguarda-se incremento naproduo da ordem de 11,0%, decorrente do aumentona rea colhida, j que sua produtividade caiu (-1,3%)em 2010.

    O cacau apresenta tambm colheita em andamento eestima-se uma queda na produo de 3,6%, estagnaona rea plantada e queda na produtividade, algo em tornode 4,3%, no ano em curso.

    Com queda de produo em patamar estimado de 6,5%,alm de declnio da rea colhida (5,8%) e tambm daprodutividade (0,7%), a cultura da mandioca encontra-se com sua colheita em andamento, no ms de julho,na Bahia.

    Gros

    A reduo nos preos da soja no mercado interno e oaumento dos preos dos insumos resultaram em umacombinao bastante negativa para o sojicultor brasileiroem 2010. Tais fatores esto atrelados grande oferta desoja e defasagem do dlar em relao ao real. A soja a cultura de maior destaque no rol dos gros na Bahia,

    3.500

    3.0002.500

    2.000

    1.500

    1.000

    500

    0

    (miltoneladas)

    2009 (1) 2010 (2)

    Cacau Caf Algodo Feijo Milho Soja

    Grfco 1Estmatva da produo agrcola Baha

    Fonte: IBGELSPA.Elaborao: SEI/CAC.(1) Safra 2009.(2) Safra 2010.

    A reduo nos preos da soja nomercado interno e o aumento

    dos preos dos insumosresultaram em uma combinaobastante negativa para osojicultor brasileiro em 2010

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu Caff, Rosangela Conceio

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    com crescimento de 28,2% na produo em relao de 2009. O calendrio agrcola da soja, no ms de julho, de entressafra, pois sua colheita j foi realizada entreos meses de fevereiro e abril.

    O mercado externo do algodo em pluma continua emprocesso de valorizao, porque os estoques mundiaisdesse produto vm se reduzindo. Em julho, a cultura doalgodo encontra-se em plena colheita, figurando comreduo de rea plantada e colhida em 2010. A despeitodesse recuo, alcanou elevada produtividade (14,3%) emcomparao ao ano passado, fato que refletiu diretamenteno incremento da produo fsica (5%).

    No primeiro semestre de 2010, o feijo apresentou, no

    mercado brasileiro, as maiores altas de preo entre osgros. Na Bahia, essa cultura possui duas safras. Aprimeira foi colhida no primeiro semestre e a segundaencontra-se na fase dos tratos culturais. Quando soma-das, apresentam incremento de produo em redor de13,8%, em relao a 2009, atribudo ao crescimento daprodutividade em 11,7%.

    Quanto cultura do milho, verifica-se que o excesso deoferta no mercado brasileiro vem prejudicando os produ-tores da Bahia e Nordeste. Na Bahia, a cultura do milho,a exemplo da cultura do feijo, tambm conduzida pormeio de duas safras. A primeira concluda em maio ejunho de 2010 e a segunda na fase dos tratos culturais.

    Para o ano em curso, a performance dessa cultura dedecrscimo em todos os indicadores levantados peloIBGE: produo (-5,2%), rea plantada (-10,1%) e reacultivada (-5,2%).

    O sorgo na Bahia j teve sua colheita concluda no final doprimeiro semestre de 2010. Sua performance foi positivano que se refere produo (5,4%) e rea colhida (6,6%).Entretanto, apresentou queda na produtividade da ordemde 1,1% em relao a 2009. Esse gro cultivado sobre-tudo na regio de cerrados, como alternativa de segundasafra ao cultivo da soja. Os preos do sorgo mantmcorrelao com os preos do milho, em razo dessesprodutos constiturem-se em bens substitutos, destinados produo de raes balanceadas para animais.

    INDSTRIA

    A produo fsica da indstria baiana (transformao eextrativa mineral) no segundo trimestre de 2010 registrouacrscimo de 13,9%, segundo dados da Pesquisa Indus-trial Mensal (2010) do IBGE, comparado com o mesmoperodo de 2009. Quando analisado o desempenho noprimeiro semestre de 2010, em relao a 2009, verificou-se um incremento de 13,7%.

    O desempenho da produo industrial no primeirosemestre de 2010 foi influenciado pelo resultado positivo

    Trimestral Ao longo dos quatro trimestres

    (%) 16

    12

    8

    4

    0

    -4

    -8

    -12I-2008 II-2008 III-2008 IV-2008 I-2009 II-2009 III-2009 IV-2009 I-2010 II-2010

    Grfco 2Varaes trmestras da produo fsca ndustral (1) Baha 2008/2010

    Fonte: IBGE.Elaborao: SEI/CAC.(1) Em relao ao mesmo perodo ano anter ior.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    Economias brasileira e baiana: desempenho da conjuntura no primeiro semestre de 2010ECONOMIAEM DESTAQUE

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    em todos os oito segmentos da indstria de trans-formao, que cresceu 14,0%. Os maiores impactospositivos foram observados em refino de petrleo eproduo de lcool (39,1%), produtos qumicos (5,7%)

    e metalurgia (16,9%).

    A recuperao dos impactos da crise financeira inter-nacional sobre a indstria baiana pode ser verificadano Grfico 2, que ilustra o comportamento da indstriatrimestralmente, durante o perodo mais crtico da crise, eos trs perodos de acelerao de crescimento. A anliseda curva do acumulado nos ltimos quatro trimestres,de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal(2010), revelou que o setor recuperou-se a partir do ltimotrimestre de 2009, mantendo trajetria ascendente da

    curva at o segundo trimestre de 2010.

    A forte recuperao na produo fsica da indstriaimpactou o nvel de emprego, que segundo a PesquisaIndustrial Mensal de Emprego e Salrios (2010) doIBGE, registrou acrscimo na indstria geral de 7,2%no segundo trimestre de 2010, comparando-se com omesmo perodo de 2009. O indicador acumulado tota-lizou, no primeiro semestre de 2010, um acrscimo de5,2%, comparado com 2009.

    Como ilustrado no Grfico 3, a curva de pessoal ocupadoassalariado apresentou comportamento similar ao daproduo fsica, reduzindo o nvel de emprego industrial

    a partir do quarto trimestre de 2008, e retomando noltimo trimestre de 2009. Para o acumulado em quatrotrimestres foi registrado crescimento de 1,9% no segundotrimestre de 2010.

    Entre os segmentos que exerceram presso significativapara o resultado do indicador semestral em 2010 desta-caram-se calados e couro (18,7%), alimentos e bebidas(7,1%) e produtos de metal (13,2%). Por outro lado, osprincipais segmentos que apresentaram contribuiesnegativas no nmero de pessoas ocupadas nesse perodoforam mquinas e equipamentos eltricos, eletrnicos, depreciso e de comunicao (-10,0%), produtos qumicos(-5,8%) e txtil (-10,9%).

    COMRCIO EXTERIOR

    As exportaes baianas, no segundo trimestre, atingiramvolume de US$ 693 milhes, com aumento de 38,0%,comparado com igual perodo de 2009. As importaesregistraram acrscimo de 51,7%, com volume de US$557 milhes. O saldo da balana comercial no perodofoi de US$ 135 milhes.

    No perodo compreendido entre janeiro e julho de 2010,a balana comercial baiana registrou exportaes comvalor total de US$ 4,90 bilhes, acrscimo de 37,2%em comparao com o ano de 2009. As importaes

    Trimestral Ao longo dos quatro tr imestres

    8

    6

    4

    2

    0

    -2

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    -6I-2008 II-2008 III-2008 IV-2008 I-2009 II-2009 III-2009 IV-2009 I-2010 II-2010

    (%)

    Grfco 3Varaes trmestras do pessoal ocupado assalarado na ndstra geral (1) Baha 2008/2010

    Fonte: IBGE.Elaborao: SEI/CAC.(1) Em relao ao mesmo perodo ano anter ior.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu Caff, Rosangela Conceio

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    registraram aumento de 62,3% no perodo, com totalde US$ 3,81 bilhes. Esses resultados configuraramum supervit no saldo comercial de US$ 1,08 bilho,11,2% inferior ao observado em 2009. A corrente decomrcio exterior registrou aumento de 47,2%, atin-gindo US$ 8,7 bilhes. Os trs segmentos com maiorparticipao, representando 57,6% no total das vendasexternas, apresentaram crescimento significativo noperodo. Desta forma, petrleo e derivados cresceu166,8%, seguido por qumicos e petroqumicos (58,6%)e papel e celulose (32,6%) (BOLETIM DO COMRCIOEXTERIOR, 2010).

    O Grfico 4 mostra o desempenho das exportaes eimportaes ao longo dos trimestres. No acumulado aolongo dos quatro trimestres, observa-se que as expor-taes e as importaes mantm saldos positivos,

    com taxas de crescimento da ordem de 15,3% e 16,6%,respectivamente.

    Em relao ao fator agregado, no primeiro semestredestaca-se o acrscimo dos bens industrializados comtaxa da ordem de 53,0%, comparado ao mesmo perododo ano anterior, enquanto o setor de bsicos cresceu19,4% no perodo. Entre os produtos industrializadostem-se o acrscimo de 81,1% dos bens manufaturadosno perodo.

    COMRCIO VAREJISTA

    O comrcio varejista da Bahia, segundo a PesquisaMensal de Comrcio (2010) do IBGE, registrou, nosegundo trimestre, crescimento de 8,6% no volumede vendas, comparado com igual perodo de 2009. Oresultado positivo contribuiu para o setor acumular, noprimeiro semestre de 2010, taxa de 11,6% em relao aomesmo perodo de 2009.

    Tal como ilustrado no Grfico 5, o comrcio varejistabaiano apresentou comportamento diverso dos demaissetores de atividade, ainda que tenha mantido durante

    Exportao Importao Ao longo dos quatro trimestres Ao longo dos quatro trimestres

    I-2008 II-2008 III-2008 IV-2008 I-2009 II-2009 III-2009 IV-2009 I-2010 II-2010

    (%) 100

    80

    60

    4020

    0

    -20

    -40

    -60

    Grfco 4Varaes trmestras da balana comercal (1) Baha 2008/2010

    Fonte: Secex.Elaborao: SEI/CAC.(1) Em relao ao mesmo perodo ano anterior.

    O comrcio varejista da Bahia[...] registrou, no segundotrimestre, crescimento de8,6% no volume de vendas,comparado com igual perodode 2009

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    Economias brasileira e baiana: desempenho da conjuntura no primeiro semestre de 2010ECONOMIAEM DESTAQUE

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    todo o primeiro semestre taxas de crescimento altas e

    positivas, mas observa-se no segundo trimestre de 2010uma desacelerao em relao ao trimestre anterior,quando a taxa anualizada passa de 9,9% para 10,3%,caracterizando assim a continuidade de uma conjun-tura favorvel expanso mais branda, porm consis-tente, do varejo. O desempenho das vendas do varejobaiano no segundo trimestre evidenciou claramente oabrandamento do setor comparativamente ao primeirotrimestre de 2010 perodo atpico em que ocorreramas isenes tributrias , indicando que o consumo dasfamlias vem desacelerando o ritmo de crescimento, oque pode sugerir uma trajetria de expanso mais suavenos prximos trimestres.

    Todos os segmentos do varejo apresentaram resultadospositivos no primeiro semestre de 2010, com destaquepara as atividades de equipamentos e materiais paraescritrio, informtica e comunicao (27,9%), mveis eeletrodomsticos (25,0%), hipermercados e supermer-cados (8,6%).

    MERCADO DE TRABALHO

    As informaes apuradas pela Pesquisa de Emprego eDesemprego (2010), na Regio Metropolitana de Salvador(RMS), indicaram reduo na taxa de desemprego total,que registrou taxa de 16,7% no ms de junho ante 17,0%em dezembro, queda de 0,3 p.p. Esse resultado decorreudo aumento da taxa de desemprego aberto de 10,6%para 11,3% da PEA e da reduo da taxa de desemprego

    oculto de 6,4% para 5,3%, no mesmo perodo. Em junho

    de 2009, a taxa de desemprego era de 20,9%, indicandoreduo de 4,6 p.p.

    Com relao ao total de ocupados, ocorreu variao posi-tiva de 1,2% em junho, comparado ao ms de dezembro.Nesses seis meses, entre os ocupados por setores deatividade econmica, em termos relativos, a indstriade transformao e o setor de servios apresentaramreduo da ordem de 5,9% e 0,8%, respectivamente.Em sentido contrrio, o comrcio (11,1%) e outros seto-res (2,6%) cresceram neste mesmo perodo. Entre ascategorias de posio na ocupao, os assalariadosapresentaram acrscimo de 2,9%. Ressalta-se nestegrupo o aumento de 8,1% dos assalariados com car teiraassinada do setor privado. O nvel de ocupao dosautnomos caiu 12,2% e o dos domsticos aumentou10,4% no perodo.

    Considerando-se apenas a gerao de emprego formal noprimeiro semestre de 2010, apurada pelo Cadastro Geralde Empregados e Desempregados (2010), verifica-se a

    criao de 61.334 postos de trabalho na Bahia, repre-sentando um aumento de 4,3% no estoque de emprego.Tal resultado decorreu principalmente do aumento depostos nos setores da construo civil (17.547), servios(13.455), agropecuria (12.625), indstria de transforma-o (11.730) e comrcio (5.131). Ressalte-se ainda que osaldo do primeiro semestre foi superior ao contabilizadoem igual perodo do ano anterior (23.098 vagas) e bemprximo em relao ao medido em todo o ano de 2009(71.170 vagas).

    Trimestral Ao longo dos quatro trimestres

    I-2008 II-2008 III-2008 IV-2008 I-2009 II-2009 III-2009 IV-2009 I-2010 II-2010

    (%) 16

    12

    8

    4

    0

    Grfco 5Varaes trmestras do volume de vendas do comrco varejsta (1) Baha 2008/2010

    Fonte: IBGE.Elaborao: SEI/CAC.(1) Em relao ao mesmo perodo ano anter ior.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu Caff, Rosangela Conceio

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    Em termos espaciais, a Regio Metropolitana de Sal-vador (RMS) contribuiu positivamente, apresentandoacrscimo de 27.111 novos postos de trabalho formaisno primeiro semestre, representando um aumento de

    3,6% no estoque de emprego, enquanto, os demaismunicpios baianos registraram um acrscimo de 5,1%na mesma comparao.

    Neste sentido, destaca-se o municpio de Salvador com omaior saldo, de 15.431 empregos, no semestre, seguidopor Camaari e Feira de Santana, que contabilizaram5.016 e 4.858 empregos formais, respectivamente.

    CONSIDERAES FINAIS

    O primeiro semestre de 2010 marcou a expanso docrescimento da economia baiana evidenciado tantopelo resultado do PIB, que, no perodo, registrou cresci-mento de 10,0% comparativamente ao mesmo perododo ano anterior, como pelos resultados dos indicadoreseconmicos favorecido pela expanso da indstria, pelaampliao nas vendas do comrcio varejista, pela manu-teno do crescimento do saldo das exportaes e pelacriao de empregos.

    As perspectivas para o segundo semestre de 2010, tantopara a economia brasileira como a baiana, nos setoresde produo agrcola, indstria e servios, especial-mente, comrcio, apontam para um desempenho bas-tante positivo.

    Para a produo agrcola nacional, a previso de safra superior registrada em 2009. Tambm na Bahia, aexpectativa de colher uma produo de gros 11,3%superior de 2009, que em relao ao volume representa

    6,7 milhes de toneladas, a maior safra de gros de todosos tempos.

    Em relao ao comrcio exterior, espera-se melhorano saldo da balana comercial, com uma corrente decomrcio superior observada em 2009. As exportaesdevero crescer, tanto em volume como em valores,porm as exportaes de produtos manufaturados conti-nuaro enfrentando dificuldades em razo dos efeitos davalorizao do real frente ao dlar. No entanto, a grande

    ameaa consiste no aumento das taxas de crescimentodas importaes superior ao das exportaes, que poderconduzir para saldo negativo nos prximos meses. Nosresultados relativos para o perodo de janeiro a julho de

    2010, j pode ser observado comportamento negativo parao saldo da balana comercial (-11,1%), comparativamenteao mesmo perodo do ano anterior.

    O setor industrial dever manter o nvel de produo ele-vado para aumentar os estoques de produtos acabados,respondendo s demandas encomendadas, tradicionaisneste perodo. Aqui chama-se a ateno para o fato deque seu desempenho est condicionado ao comporta-mento da atividade econmica mundial, na medida emque parcela significativa dos bens produzidos pela Bahia

    destina-se ao mercado externo.

    O comrcio varejista deve continuar em ritmo equivalenteao observado no segundo trimestre de 2010, favorecidopelo crdito, emprego e renda.

    A taxa de desemprego ao longo do segundo trimestreapresentou contnuo recuo em relao ao primeiro tri-mestre, com taxas bem menores. No segundo semestrede 2010, possvel que essa trajetria de queda continue.A manuteno do significativo crescimento do PIB noprimeiro semestre, resultante do aquecimento no nvelde atividade de transformao industrial e do setor deconstruo civil, dever impulsionar o volume de contra-taes, sobretudo aquelas com carteira assinada.

    A despeito do otimismo quanto ao desempenho da ati-vidade econmica no prximo semestre, os elevadosjuros persistem como um dos principais entraves para aretomada mais dinmica do nvel de produo. A elevaoda taxa Selic para o patamar de 10,75%, nas ltimas trs

    reunies do Copom (abril, junho e julho), ocorreu comomedida para conter o ambiente inflacionrio. No entanto,espera-se a manuteno dessa taxa, nesse mesmo pata-mar, nos dois ltimos trimestres de 2010, uma vez que jobservam-se taxas de inflao praticamente nulas nosmeses de junho e julho de 2010.

    Outro obstculo refere-se s incertezas do mercadointernacional. A economia americana, mesmo com ocrescimento razovel nos dois primeiros trimestres de

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    Economias brasileira e baiana: desempenho da conjuntura no primeiro semestre de 2010ECONOMIAEM DESTAQUE

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    2010 (2,4% e 3,2%, respectivamente), apresentou eleva-das taxas de desemprego, propiciando o aumento doendividamento das famlias. Caso ocorra desaceleraoda economia americana, todos os demais pases podem

    ser afetados. A China, que registrou um crescimento de10,3% no segundo trimestre, pode ser um dos principaispases afetados, dada a relao comercial que este pastem com os Estados Unidos. A Zona do Euro tambmapresentou crescimento nos dois primeiros trimestres de2010, com taxas de 0,8% e 1,9%. Esses dados indicam queno obstante o cenrio internacional incerto, as principaiseconomias mundiais registraram crescimento nos doisprimeiros trimestres do ano (EUROSTAT, 2010).

    Por fim, os programas de investimentos devero ser

    intensificados, haja vista a necessidade de inversesdo Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) eminfraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e para asOlimpadas de 2016. Cabe ressaltar ainda o carter elei-toral de 2010, quando normalmente observa-se grandevolume de investimentos para concluso de obras.

    REFERNCIAS

    BANCO CENTRAL DO BRASIL.Ata do Copom 20 e 21 jul.

    2010. [Braslia]: BACEN, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2010.

    BOLETIM DO COMRCIO EXTERIOR.Desempenho docomrcio exterior baiano. Salvador: SEI,jul. 2010. BoletinsTcnicos. Disponvel em: .Acesso em: 12 ago. 2010.

    BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comr-cio. Estatsticas do comrcio exterior DEPLA. [Braslia]:MDIC, jul. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2010.

    CADASTRO GERAL DE EMPREGADOS E DESEMPREGA-DOS. Braslia: MTE, jun. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2010.

    A ECONOMIA brasileira no 2 trimestre de 2010: viso geral.Contas Nacionais Trimestrais: indicadores de volumes e valo-res correntes. Rio de Janeiro, abr./jun. 2010. Disponvel em:. Acesso em: 3 set. 2010.

    EUROSTAT NEWSRELEASE. Euroindicators 127/2010. 2 set.2010. Disponvel em: . Acesso em: 8 set. 2010.

    EXPORTAES de caf crescem 25,8% em receita, a us$391,8 mil. Disponvel em: .Acesso em: 12 ago. 2010.

    LEVANTAMENTO SISTEMTICO DA PRODUO AGR-COLA. Rio de Janeiro: IBGE, jul. 2010. Disponvel em:. Acesso em: 12 ago. 2010.

    PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO. Diminui a taxade desemprego pelo terceiro ms consecutivo. Salvador:SEI, jun. 2010. Boletins Tcnicos. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2010.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL. Rio de Janeiro: IBGE, jun.2010a. Disponvel em: . Acessoem: 12 ago. 2010.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL DE EMPREGO E SAL-RIO. Rio de Janeiro: IBGE, jun. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 12 ago. 2010.

    PESQUISA INDUSTRIAL MENSAL. ndices especiais de

    categoria de uso por atividade. Rio de Janeiro: IBGE, jun.2010b. Disponvel em: . Acessoem: 12 ago. 2010.

    PESQUISA MENSAL DO EMPREGO. Rio de Janeiro: IBGE,jun. 2010. Disponvel em: . Acessoem: 12 ago. 2010.

    PESQUISA MENSAL DE COMRCIO. Rio de Janeiro: IBGE,jun. 2010. Disponvel em: . Acessoem: 12 ago. 2010.

    SUPERINTENDNCIA DE ESTUDOS ECONMICOS E

    SOCIAIS DA BAHIA. PIB baiano cresceu 10,4% no 2 trimes-tre. Salvador: SEI, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 6 set. 2010.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.6-15, jul./set. 2010

    ECONOMIAEM DESTAQUECarla do Nascimento, Elissandra Britto, Jorge Tadeu Caff, Rosangela Conceio

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    Encarregado de fazer a palestra de abertura doVI Encontro de Economia da Bahia (VI EEB),evento realizado em setembro, o professor emritodo Instituto de Economia da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidentedo Banco Nacional de DesenvolvimentoEconmico e Social (BNDES), Antnio Barros

    de Castro, fez uma interveno marcada pelalucidez e tambm por uma profunda crtica aopensamento econmico atual. A crise chegouda forma espetaculosa que todos sabem, mas,fundamentalmente, ningum previu. claro quealguns previram parcialmente, mas ningum narealidade previu, lato sensu, enquanto movimentosocial, enquanto instituio ou enquanto

    Antnio Barrosde Castro

    O Brasilna rbitada China

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.16-21, jul./set. 2010

    ENTREVISTA

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    C&P Uma nova ordem econ-

    mica-financeira mundial vem se

    constituindo e a China se destacaneste processo. Como o senhor

    enxerga esta atual configurao

    da economia?Antnio Barros de Castro O meuprimeiro artigo a esse respeito foimostrado ao governo h quasecinco anos. Neste texto, eu tratavada emergncia progressiva de umaeconomia que eu chamei de sinocn-trica, eu questionava como crescernuma economia sinocntrica. AChina cria outra ambincia, redis-tribui oportunidades, ameaas, criauma nova dinmica. Estou traba-lhando at mesmo com a hiptesede que cria novos mecanismos eco-

    nmicos. H como se fosse outramicroeconomia se desenvolvendo apartir da China. A exploso chinesatem como impactos maiores, numaprimeira fase, o rebaixamento doscustos das manufaturas, causadoinicialmente pelos salrios baixoschineses, ridicularmente baixos, quese desdobra numa fome absurda de

    governo, argumentou. Porm, o ponto principalque tem marcado as reexes do economista aperspectiva de um gradual deslocamento do eixode gravidade da economia mundial em direo sia, mais precisamente China. Conformeca claro na entrevista a seguir, na avaliaodo professor, o desao que se coloca para a

    economia brasileira manter o crescimentosustentvel, numa economia sinocntrica.Barros de Castro possui uma extensa produobibliogrca, que inclui oito livros, alm deuma srie de artigos, dentre os quais se destacaNo espelho da China, no qual analisa, demaneira arguta, a crescente prepondernciada economia chinesa no contexto atual.

    A China criaoutra ambincia,

    redistribuioportunidades,ameaas, cria umanova dinmica.Estou trabalhandoat mesmo com ahiptese de que crianovos mecanismos

    econmicos

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.16-21, jul./set. 2010

    ENTREVISTAAntnio Barros de Castro

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    matrias-primas e energia, e vai pro-vocar uma exploso dos preos deenergia, alumnio, cobre, nquel, aoetc. Ento voc cria uma mudana

    na dinmica de preos que muda asorte dos pases emergentes. Nestecontexto, cada emergente vai buscarsuas novas chances. At ento, sesupunha que um pas, para crescer,tinha que fazer todas as reformasinstitucionais, mas a forte demandada China por produtos bsicos der-ruba este pressuposto. Veja o caso deAngola, que sai de uma guerra civilde 15 anos, com a infraestrutura em

    pandarecos, com as instituies ine-xistentes, entregue loucura de umacorrupo em escala completamentedesconhecida no Brasil, e passa acrescer 15%, 20% ao ano. Quer dizer,no fez nada do que era preciso paracrescer, mas cresce muito mais doque se supunha possvel. Esse umdesmentido extraordinrio de algu-mas convices, e esse desmentidose multiplica na Amrica Latina.

    C&P Como esta economia sino-cntrica evolui?ABC A China aprofunda a suainsero e no est mais contente

    em comprar. Ela j tinha feito umarevoluo. A revoluo consistia empermitir que os pases emergentescomprassem muito barato e vendes-

    sem muito caro. Que tal? Razovel,no? Imaginem poder vender muitocaro e comprar muito barato. No toa que explode. Isso era a primeiraetapa. Mas a segunda etapa entrarnos pases e investir, investir pesada-mente. Isso j comeou em vriospases. H dois anos eu tive informa-o de um instituto de pesquisa deque j havia um milho de chinesestrabalhando na frica. E com isso vo

    investimentos etc. O Brasil s entranisso agora, este ano praticamente.Em 2009, os investimentos chinesesno Brasil foram uma brincadeira:92 milhes de dlares, uma gorjeta.Neste ano de 2010 podero ser 10bilhes de dlares. E o que se prevpara daqui a dois, trs anos queeles sejam claramente os principaisinvestidores no Brasil. Ento, essasegunda etapa de uma importnciacrucial. bvio que no foi prevista.Devo at dizer que quando eu escrevium par de artigos que anteciparamvrias coisas, eu errei, no previ isso,no previ que chegasse a esse ponto,que viesse tambm sob a forma deinvestimentos em massa no caso doBrasil.

    C&P Qual o papel do Brasil

    nesta nova ordem econmica-financeira? Ser de exportador

    de commodities e importador deprodutos com maior agregao

    de valor?ABC Ns estamos vivendo ummomento nico, um grande momento.Quando eu falo ns, eu me refiroa ns no mundo. No Brasil, maisdo que um grande momento, um

    momento mgico. Eu estudo o Brasilh muito tempo. Umas duas vezes,nesses quase 50 anos que eu estudoo Brasil, houve algo semelhante. Este um momento realmente excepcio-nal. Eu diria agora o seguinte: esta-mos diante de outro mundo. nadamenos do que isto, so mudanas denatureza sistmica. Do ponto de vistachins, os emergentes, ou os pasesem geral, mas os emergentes emparticular, que so o foco deles, sodivididos em dois grupos: pases ricosem recursos naturais e pases ricosem populao. Vocs j sacaram queo Brasil um caso muito especial,porque ele rico em recursos natu-rais e rico em populao. Ele cruzaos dois critrios. Nesse sentido ele candidato a uma aliana formal/informal, pensada/impensada, volun-

    tria/involuntria muito forte. S queisso, resumidas as contas, me leva seguinte pergunta: e como que agente se coloca frente a isto? Uma ati-tude bastante errada e problemtica querer dizer: No, o Brasil no vaivoltar a ser exportador de produtosprimrios. Isso o fim da picada, voltar ao passado. Por que isso errado? Primeiro porque isso no

    At ento, sesupunha que umpas, para crescer,tinha que fazertodas as reformasinstitucionais, masa forte demanda daChina por produtosbsicos derrubaeste pressuposto

    Em 2009, osinvestimentoschineses no

    Brasil foraminsignicantes: 92milhes de dlares,uma gorjeta. Nesteano de 2010podero ser 10bilhes de dlares

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    O Brasil na rbita da ChinaENTREVISTA

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    voltar ao passado, por vrias razes.No voltar ao passado porque ademanda de primrios que haviano passado era pfia. A questo outra. Hoje o Brasil uma economiamuito mais complexa, e tem capacita-es que o permitem voar em vriasdirees.

    C&P A crise financeira interna-cional de 2008 foi um divisor de

    guas, tendo obrigado a econo-

    mia mundial a se reorganizar sobvrios aspectos. Como o senhor

    avalia a posio do Brasil frentea crise?ABC De fato, a crise chegou daforma espetaculosa que todossabem, e que fundamentalmente

    ningum previu. claro que algunspreviram parcialmente, mas ningumpreviu, lato sensu, enquanto movi-mento social, enquanto instituioou enquanto governo. A ponto darainha da Inglaterra, quando entrouna London School of Economics (LSE),perguntar: Mas vocs s fazem estu-dar economia! Por que no me avisa-ram do que vinha por a? Ningum

    me falou nada disso!. Ela, com suaingenuidade, ps o dedo numa feridaterrvel, pois houve uma deterioraoda teoria econmica, que sofreu um

    enorme empobrecimento. Mas, aocontrrio de situaes anteriores, oBrasil, desta vez, esteve preparadopara superar a crise. Segundo NourielRoubini, o mais agudo dos observado-res e analistas da crise internacional,o Brasil entrou de vtima nessa hist-ria. Ou seja, estava recompondo a suadinmica de crescimento e foi com-pleta e espetacularmente atropeladopor esse incidente brutal. Mas essa

    uma viso parcial. O Brasil ficou ator-doado, o presidente se referiu ao fatocomo uma marolinha, pela qual o paspassaria facilmente. Outros previramum desastre, no qual todos os podresda economia viriam tona e se agra-variam, e teramos, ento, um perododificlimo pela frente. Mas o que queacontece de rigorosamente impre-visto? O Brasil estava se armandopara manter o crescimento, manter ociclo de investimentos, mesmo com oBanco Central travando, mesmo comuma parte do governo tendo uma ati-tude altamente cautelosa. Quer dizer,sustentar o crescimento em condi-es adversas era toda a preparaodo Brasil, no era? Pois bem, entoessa preparao vai ganhar outrosignificado agora. Resultou numamutao em que aquilo que era para

    travar acaba sendo algo para com-pensar a crise internacional. Muda osignificado. No mais para segurara mo do Banco Central, no maispara segurar o excesso de cautela, atrava sistemtica etc., para aguentara crise. Muitos analistas denunciaramo governo dizendo o seguinte: Eleest apresentando como anticclicauma poltica que no era nada disso.

    Ora, convenhamos, no importa. Ofato que o Brasil estava armadopara compensar algo. O algo mudou.No mais a preocupao com a

    repicada inflacionria. O algo a criseinternacional, que muito maior. Esendo maior, com muito mais razo,ele deve entrar em campo compen-sando. A crise surge como uma espe-tacular crise de mercado, e desinibeo governo, que entra com tudo. Asconsequncias desse entrar comtudo so verdadeiramente histri-cas, no sentido de que algumas dasmudanas que o governo j estava

    tentando implantar passam a ganharum significado muito maior.

    C&P E quais seriam estas

    mudanas?ABC Basicamente a formao domercado de massas e a reconstitui-o da capacidade de investir porparte do Estado e do seu sistemafinanceiro. Essas duas mudanas soagora referendadas, corroboradas,impulsionadas pela crtica situao

    Houve umadeteriorao dateoria econmica,

    que sofreuum enormeempobrecimento.O que importadizer que numcerto momento, noterceiro trimestrede 2008, o mundo

    parecia que iria ruir

    O fato que o Brasilestava armado paracompensar algo. Oalgo mudou. No mais a preocupaocom a repicadainacionria.O algo a criseinternacional, que muito maior.A crise surge edesinibe o governo,que entra com tudo

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.16-21, jul./set. 2010

    ENTREVISTAAntnio Barros de Castro

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    trazida pela crise. E quanto pior acrise, melhor para o lanamento desi-nibido de decises dessas dimen-ses. Ento acontece algo extraor-

    dinrio, que o seguinte: o Brasilentra na crise com um plano B. Huma srie de razes para que deva-mos enfatizar isso, mas, sobretudo,por uma razo bsica: um grandenmero de pases no tem este planoB. O Japo, por exemplo, comeou aratear em 1990, 1991, portanto esth 20 anos rateando, e literalmenteno tem plano B. Mas no s oJapo no, a Espanha tambm. A

    Espanha foi a economia mais exi-tosa da Europa at os primeiros anosdo sculo XXI. Durante cerca de 10a 15 anos ela crescia mais rpido,era um brilho. Ela passou a Itlia,coisa que ningum previa tambm.S que hoje se sabe que parte docrescimento dela era falso. Falsoem que sentido? A Espanha criou,alimentada por um capital financeirocurto-prazista, vido de ganho etc.,uma especulao imobiliria abso-lutamente inassimilvel. A Espanhachegou a ter anos em que construamais residncias isso um dado derelatrio espanhol que a Frana, aAlemanha e a Itlia somadas. Ela seentupiu de residncias para qu? Pri-meiro que no vai continuar minima-mente assim. H um colapso bviodo investimento. S que ocupava

    muito e contribua muito para o deltaPIB. Isso tudo caco, espuma hoje.Quando Nouriel Roubini disse quens entramos como vtima, porqueno temos nada disso. No temos osdefeitos do sistema bancrio, notemos os investimentos errados daEspanha no s da Espanha, aEspanha apenas um caso limite.Agora, o Brasil tem plano B, que

    nasceu antes da crise, e que foi for-talecido pela crise. No foi lucidez,no se previu a crise. Mas era tantaa frustrao com o no crescimento

    de vinte e tantos anos, com a medio-cridade do crescimento em 2,5% emmdia, era tanta a irritao e a hos-tilidade s autoridades monetriasque sempre cortavam o barato daexpanso que, errado ou certo, serepresou um conjunto de decisesque se transmutaram num plano Banticrise.

    C&P Mas ainda h um desafio

    de que o pas se coloque devida-mente diante do contexto sino-cntrico. Quais as dificuldades

    que o Brasil poder ter nos prxi-mos anos diante de uma economiacapitaneada pela China?ABC H que reconhecer que oBrasil tambm tem, e ter crescente-mente pela frente, alguns problemascomplicados. Ele no tem o plano C.Ele tem o plano B. Ele foi muito bemno plano B. Convenhamos tambmo seguinte: muitos pases foramrelativamente bem no plano B. Porqu? Porque a China suga muito,uma demanda enlouquecedora.Ento ela sustenta com o oxignioda demanda. fcil ter um planinhoB se est soprando vento para seulado. Mas o plano C o plano do quefazer diante da China. Isso no quer

    dizer que o pas no esteja fazendoinvestimentos. Pelo contrrio. Muitosdos investimentos, especialmenteem infraestrutura, so mais do quebem-vindos. E quando eu digo maisdo que bem-vindos, eu quero dizerque eles j deviam estar a h muitotempo. Mas isso no o que h denovo. No tenho dvidas de que umplano C deve herdar caractersticas

    do plano B. Por exemplo, continuarexpandindo o mercado de massa.No tenho dvida alguma de que isso um veio. Aliado a isso, necessrio

    continuar reforando a capacidade deplanejar do Estado. preciso definiras novas frentes estratgicas, como oque se quer realmente do pr-sal e doetanol. Eu acho que absolutamenteno se trata de meramente completarcadeias. Isso uma viso preguiosada questo. Por exemplo, as ilhasautomatizadas que a Petrobras temque ter. Com isso, por um lado ela atreduz custos, facilita operaes etc.,

    e sobretudo ela rasga horizontes parao Brasil em indstrias do tipo auto-mao, software avanado, novosmateriais etc. Ento, eu jogo muitomais nessa fronteira que o pr-salobriga a entrar do que em fazer acadeia para trs.

    C&P Em relao questo dosinvestimentos, o senhor escreveu,h alguns anos, um artigo acercadas vantagens da estagnao.

    preciso deniras novas frentesestratgicas, comoo que se querrealmente do pr-sale do etanol. Eu achoque absolutamenteno se tratade meramentecompletar cadeias.Isso umaviso preguiosada questo

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.16-21, jul./set. 2010

    O Brasil na rbita da ChinaENTREVISTA

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    Agora, que o pas retoma os inves-timentos, como o senhor avalia

    este assunto?

    ABC Em 1978, 1979 e 1980 j discu-tamos coisas como carara baba-quara. Sabe o que isso? So osdois aproveitamentos na volta grandedo Xingu, que hoje se chamam BeloMonte. J se discutia isso h quasetrs dcadas. A duplicao da SoPauloCuritiba, da Belo HorizonteSo Paulo, e uma srie de outrascoisas so pedras cantadas h muitosanos. Ento, alguns dos investimen-tos que ns estamos realmente

    enfrentando agora so mais do quebvios, so mais do que necess-rios, so mais do que merecedoresde aplausos. E o BNDES, como figura

    central nesse campo, deve recebertodos os aplausos. Esta seria a van-tagem da estagnao. Ela congelouoportunidades. E agora, quando agente degela isso, estes investimentostornam-se muito mais lucrativos. OBNDES tem plena conscincia deque boa parte dos investimentos queesto sendo feitos tem o seu retornopraticamente garantido pelo prpriofato de que esto atrasados.

    C&P Alm do desenvolvimentodo mercado de massa e inves-

    timentos em infraestrutura, faz

    parte do plano C uma ao maisagressiva, em termos de conquistarnovos mercados internacionais?ABC O mercado interno est setornando cada vez mais gigantesco,e o mercado internacional bestial-mente competitivo para tudo queno for recurso natural. Portanto,

    melhor pensar no mercado nacional. preciso produzir para o mercadodomstico, conseguir vencer a com-petio aqui dentro, o que no fcil.

    Quanto a exportar, s se for realmenteuma excepcionalidade. A inseroexterna tem que ser cuidadosamenterediscutida.

    C&P Quanto a novos episdiosde crise financeira, a exemplo de2008, o Brasil passa por algum

    risco, apesar do nosso sistema

    financeiro ser completamente

    saneado?

    ABC O ltimo relatrio do Banco deCompensaes Internacionais (BIS)aponta o Brasil como prxima vtimapotencial desses mecanismos dejogo de futuro, jogo de derivativo etc.Apesar de ter um sistema bancrioexcelente, a verdade que existe umsistema bancrio na sombra, que sedesenvolve fora dos balanos, e issoest, sim, ameaando o Brasil. E a luzamarela do BIS muito importante,a meu ver.

    Ela [a estagnao]congelouoportunidades.

    E agora quando agente degela isso,estes investimentostornam-se muitomais lucrativos

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.16-21, jul./set. 2010

    ENTREVISTAAntnio Barros de Castro

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    Portos baianos: um gargaloque inibe o crescimento

    * Ps-graduado em Economia pela Universidade Salvador (Unifacs), graduado em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).Tcnico especialista em Comrcio Exterior da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). [email protected]

    Arthur Souza Cruz*

    O porto uma estao intermodal, elo dos modais terrestres com o martimo. Responsvelpor mais de 95% do movimento de cargas brasileiras, os portos, no transporte de carga,assumem um especial papel no comrcio exterior.

    Conforme observado por Samir Keedi (2010), especialista em transportes internacionais,

    [...] enquanto no tivermos portos adequados ao comrcio internacional, nossa logstica continuar

    extremamente cara. E sem uma logstica porturia compatvel com o nvel internacional, no teremos

    as mesmas condies de competio de outros pases.

    Os gargalos logsticos, que dificultam e encarecem o escoamento da produo, sobre-tudo para exportao, so um entrave ao desenvolvimento maior do pas. Na Bahia, porexemplo, a precariedade dos portos, estradas e ferrovias converteu-se em pesadelo parao investidor, confinando o escoamento da produo em gargalos a cada dia mais proble-

    mticos e, como consequncia, prejudicando o desempenho da economia do estado.

    A poltica de desenvolvimento para os portos em vigor nesse estado durante os ltimos25 anos resultou em falta de investimentos e na perda de competitividade frente aos

    portos de Suape, Pecm e Itaqui, administrados pelos governos de Pernambuco, Ceare Maranho, respectivamente, que colocaram a questo porturia como estratgica.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.22-25, jul./set. 2010

    ARTIGOS

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    Nos ltimos dez anos, novos terminais privativos foramimplantados no estado, como o do Moinho Dias Brancoem Salvador, Miguel de Oliveira (Ford) em Candeias,Aracruz em Caravelas e Veracell em Belmonte, desti-nados a suprir as deficincias da Companhia Docas.

    Frise-se que o terminal Dias Branco praticamente

    desativou o Porto de Ilhus, conquistando quase todaa sua movimentao de gros.

    Por conta da carncia crescente, j em 2006, 23,4% dovalor das exportaes baianas haviam sido escoadaspor portos e aeroportos de outros estados, percentualque vem crescendo ano aps ano, chegando a 32,2%

    em 2009. Esse quadro tambm se repete em relaos importaes, com 8,5% de participao em 2006, e13,5% em 2009 (Grfico 1).

    Assim, o presente artigo traz para o centro da discus-

    so uma questo estratgica para o desenvolvimentoeconmico do estado baiano. Ao apresentar as difi-

    culdades existentes para o escoamento da produona Bahia, especificamente por meio do Porto de Sal-vador, busca-se chamar ateno para a relevncia daimplementao de polticas que tenham como objetivointensificar os investimentos em infraestrutura, a fimde que os problemas estruturais dos portos na Bahiasejam colocados na ordem do dia.

    REVITALIZAO DO PORTODE SALVADOR

    O Porto de Salvador defronta-se com problemas cr-ticos, que reduzem a sua atratividade, como possuirapenas um bero especializado em continer, retrorealimitada, custos altos de armazenagem e congestiona-mento rodovirio. A fragilidade da sua infraestruturaporturia tem se refletido na movimentao de cargas.A dificuldade em atender ao comrcio exterior leva,

    de forma crescente, ao escoamento das mercadoriaspor portos de outros estados, como Esprito Santo,Pernambuco e Cear (Quadro 1).

    Exportao Importao

    % 35,00

    30,0025,00

    20,00

    15,00

    10,00

    5,00

    0,002004 2005 2006 2007 2008 2009

    Grfco 1

    Evoluo da partcpao do comrco exteror baanopor portos de outros estados 2004-2009

    Fonte: MDIC/Secex.

    Porto/embarque(Valores em US$ 1000 FOB) (Peso em toneladas)

    2007 2008 2009 2007 2008 2009Salvador Porto 2.909.844 3.432.023 2.660.363 2.141.874 2.673.073 3.074.815Aratu Porto 2.519.527 2.713.736 1.989.396 3.903.535 3.765.814 3.440.226Vitria Porto 905.405 1.482.472 1.180.864 1.980.971 2.624.864 2.855.250Santos 345.450 292.682 293.097 214.688 194.355 192.883So Paulo Aeroporto 125.851 169.442 211.234 3.316 3.991 5.444Rio de Janeiro Porto (Sepetiba) 64.951 139.516 131.822 39.517 54.551 54.034Uruguaiana Rodovia 69.131 89.887 81.018 25.388 23.974 19.888

    Ilhus 157.880 46.474 72.992 650.017 138.147 165.112So Francisco do Sul 89.454 46.358 69.032 33.805 22.068 25.498Pecm Porto 43.965 31.313 57.445 31.506 19.931 25.102Porto de Rio Grande 9.945 13.164 39.735 647 958 11.528Salvador Aeroporto 28.797 39.276 31.379 15.199 15.024 13.795Vitria Aeroporto - - 30.800 - - 2.501Recife Porto (Suape) 13.703 39.398 28.364 8.057 27.647 20.401Demais portos 124.826 160.429 133.259 92.840 76.528 75.931Total 7.408.729 8.696.170 7.010.800 9.141.360 9.640.925 9.982.408

    Quadro 1Exportaes baanas por portos de embarque 2007/2009

    Fonte: MDIC/Secex.Elaborao: SEI.

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    ARTIGOSArthur Souza Cruz

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    Segundo estimativas da Associao de Usurios dos Portosda Bahia (Usoport), a limitao e deficincias no portotm criado um custo adicional de R$ 150 milhes por anopara o empresariado baiano. Alm de gerar uma perda de

    cerca de R$ 300 milhes por ano em servios que deixamde ser feitos no estado. Negligenciado durante as ltimastrs dcadas e sem sofrer intervenes de grande portena infraestrutura h seis anos, o porto soteropolitano temficado para trs no quesito movimentao de contineres.Em 2002, a Bahia era o sexto estado do pas com maiormovimento na modalidade. Crescendo em ritmo lento, caiupara a oitava colocao nos ltimos seis anos.

    O esgotamento da capacidade do terminal de contineresdo Porto de Salvador uma realidade inequvoca. No h

    perspectiva de melhora para o porto sem investimentosem infraestrutura. O governo do estado est atento a estademanda e em conjunto com o governo federal procuraresolver os grandes problemas do porto por meio de obrasj anunciadas e em processo de licitao/execuo:

    1. Construo da Via Expressa Baa de Todos os Santos,que ataca os problemas de acesso rodovirio aoporto. A obra est orada em R$ 381 milhes, sendoR$ 339,3 milhes do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) e R$ 41,7 milhes doscofres do governo do estado. A primeira fase da obra,que custa R$ 204 milhes, j est em execuo.

    2. J est em execuo a obra para a dragagem doPorto de Aratu, enquanto a do Porto de Salvador estprevista para iniciar em 09 de agosto de 2010. Oradaem R$ 89 milhes, faz parte do Plano Nacional deDragagens, que investir R$ 1,5 bilho em recur-sos do PAC na dragagem de 17 portos em todo oBrasil. Na Bahia, o calado dos portos passar de 12para 15 metros de profundidade, o que vai permitir

    que navios de grande porte possam atracar nestesdois locais. A dragagem, que consiste na retiradade sedimentos para aumentar a profundidade doscanais do cais, vai possibilitar a atracao de naviosmaiores, movimentando, assim, mais mercadorias.Essa prtica configura-se como uma tendncia nocomrcio mundial.

    3. O governo do estado entende que a ampliao do portoe os investimentos na Via Expressa so obras gmeas,ou seja, devem acontecer juntas. A tendncia, at

    pelo prazo previsto para a execuo das duas obras, buscar-se a ampliao do atual terminal e a licitaodo 2 terminal. O atual arrendatrio do terminal janunciou que est disposto a investir o equivalente a

    R$ 154 milhes na ampliao (construo de um beroat 2010 e um segundo bero para 2017, ainda noorado). No pouca coisa manter um compromissodessa monta quando, em todos os cantos, a notcia de retrao dos investimentos, alm do que o Decreto6620/08, emitido pela Presidncia da Repblica, per-mite a ampliao de reas arrendadas, como a doPorto de Salvador, sem licitao imediata.

    4. Resoluo da Agncia Nacional de Transportes Aqua-virios (Antaq), publicada no DOU de 05/08/2010,autorizou a ampliao da Ponta Norte do Porto de

    Salvador, cujo bero de atracao dever ganharmais 165 metros em extenso. A interveno, oradaem cerca de R$ 100 milhes, ser feita mediante umaditamento do contrato com a Tecon, empresa daWilson Sons, responsvel pela operao do porto.Prevista para ser realizada em dez meses, a obraampliar em 50% a capacidade de movimentaode cargas do porto.

    Em que pesem as providncias que vm sendo adotadas,h uma srie de propostas, inclusive com projees dedemanda at o ano de 2020, feitas pela Associao deUsurios dos Portos da Bahia (Usuport), indicando anecessidade de uma interveno maior, compatvel como crescimento da demanda de cargas no estado.

    CONSIDERAES FINAIS

    entendimento predominante que a ampliao do Portode Salvador poder ser realizada tanto por um processo

    licitatrio quanto por uma alterao do contrato de arren-damento, tendo para tanto que ser observados estudosde viabilidade tcnica, operacional e econmica, alm,claro, de deciso poltica quanto oportunidade, conve-nincia e prazos. O que determinar a ao, portanto, o interesse da administrao pblica, e esta deve tomara frente das decises.

    A afirmativa de que o governo do estado assume seupapel frente iniciativa de expanso do porto aceitvel,

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.22-25, jul./set. 2010

    Portos baianos: um gargalo que inibe o crescimentoARTIGOS

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    dados os investimentos estratgicos que esto previstose anunciados para o setor. Nesse sentido, em setembrode 2009 foi criada a Secretaria Extraordinria da IndstriaNaval e Porturia (SEINP), para tratar especificamente

    da requalificao dos portos baianos em sinergia coma Secretaria da Infraestrutura e Codeba.

    Hoje a ampliao do terminal mais que necessria, urgente, e o governo estadual sabe disso. Deve-se,entretanto, procurar uma soluo de longo prazo emque sejam contempladas a modernizao permanentee a ampliao competitiva dos portos do estado. A pr-pria administrao porturia, na sua configurao atual,representa um obstculo modernizao dos portos.

    Ao longo das ltimas dcadas, as Companhias Docas stm sido eficientes na cobrana de tarifas. Fica a cada diamais evidente o despreparo dessas empresas para lidarcom problemas bsicos dos portos, tais como apoio logs-tico aos novos parceiros, mobilizao rpida de agentesfiscalizadores, administrao de conflitos entre empresasoperadoras e entre estas e os trabalhadores, reduo decustos, aprimoramento de servios, expanso de reas,criao de mecanismos para atrair cargas, enfim, tudoque envolva preparao para as permanentes mudanase para o desenvolvimento futuro.

    Para dar prosseguimento aos avanos e investimen-tos conquistados, h um consenso da necessidadeda deciso poltica comear pela estadualizao daadministrao dos portos baianos. O desenvolvimentoda Bahia no pode ficar encalhado numa trama em queos portos do estado so controlados por um ente federalque tende para a acomodao regional de interesses.

    Por esta razo, e por tratar-se de um tema de relevncia

    estratgica, os portos baianos, inclusive o projetadoPorto Sul1, precisam ser controlados pelas autoridadesestaduais. uma forma concreta e segura de contornarconflitos, unificar a gesto e, ao mesmo tempo, asse-gurar a toda a economia baiana a infraestrutura paracontinuar a crescer.

    1 O Complexo Intermodal Porto Sul, a ser construdo numa rea de 1.771 hec-tares, na localidade de Ponta da Tulha, no sentido IlhusItacar, prometetornar-se a soluo para o gargalo existente nos principais portos baianos.

    REFERNCIAS

    ASSOCIAO DE USURIOS DOS PORTOS DA BAHIA.Instituciuonal/Opinio. Salvador: USUPORT, 2010. Disponvelem: . Acesso em: 6 ago. 2010.

    BAUMANN, Renato. Uma avaliao das exportaesintrafirma do Brasil:1980-1990. Pesquisa e PlanejamentoEconmico, Rio de Janeiro, v. 23, n. 3, dez. 1993. Dispo-nvel em: . Acesso em: 27 ago. 2010.

    BRASIL. Secretaria de Portos. Licitaes/Avaliaes Setoriais.Braslia: SEP, 2010. Disponvel em: < http://www.portosdo-brasil.gov.br>. Acesso em: 2 ago. 2010.

    DIAS, Rodnei Fagundes. Qual o destino das exportaesbaianas? Conjuntura & Planejamento, Salvador, n.157,

    p. 64-71, out./dez. 2007. Disponvel em: . Acesso em: 6 ago. 2010.

    KAPPEL, Raimundo F. Portos brasileiros novo desafio paraa sociedade. Salvador: CODEBA, [2010]. Disponvel em:. Acesso em: 2 ago. 2010.

    KEEDI, Samir.A importncia de construir portos. Salvador:USUPORT, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2010.

    MAGALHES, Oswaldo Campos.A Tragdia porturia baiana.Salvador: USUPORT, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 26 jul. 2010.

    MARTINS, Marco. Portos baianos: porque me importo. Salva-dor: USUPORT, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 26 jul. 2010.

    OLIVEIRA, Carlos Tavares. Os gargalos do sistema porturio.Salvador: USUPORT, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 27 jul. 2010.

    REZENDE, Leonardo. Portos: centros de custo, lucro ecompetitividade. Salvador: USUPORT, 2010. Disponvel em:. Acesso em: 29 jul. 2010.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.22-25, jul./set. 2010

    ARTIGOSArthur Souza Cruz

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    Desocupao,rendimento edistribuio:anlise do panoramageral brasileiro1

    Camila Carvalho Rodrigues*Magali Alves de Andrade**

    Na dcada de 1990, a remunerao da fora de trabalho empre-gada na indstria realizava-se na forma de compresso dos

    salrios, possivelmente por causa da combinao de variao

    baixa do produto com uma forte competitividade dos produtosestrangeiros (MELO; MATOS, 2005). Nesse contexto, houve umadiminuio dos salrios, alm de ter sido um perodo de altas taxasde desemprego, o que facilitava a compresso dos salrios. Umelevado ndice de desemprego no significa apenas a recesso daeconomia, mas h efeitos para frente e para trs que distribuemseus reflexos sociais de forma expressiva para a populao, coma privao dos meios de produo e, consequentemente, a dete-riorao das condies de vida (OLIVEIRA, 1992).

    Recentemente pde-se observar uma contnua reduo da taxa dedesocupao e saldos positivos na gerao de cargos com carteiraassinada, com resultados sociais dos mais diversos, extensivos avrias reas. No ano de 2010, por exemplo, os indicadores mensaisvm apresentando sucessivos recordes, na comparao com os

    mesmos perodos de anos anteriores, tanto por causa do efeitoestatstico da base baixa do ano de 2009 quanto pelo atualresultado econmico expansivo.

    * Graduanda em Economia da Faculdade de Cincias Econmicas da Universidade Federal da Bahia(UFBA). Bolsista do Ncleo de Estudos Conjunturais (NEC/FCE-UFBA-SEI). [email protected]

    **Mestranda em Economia da Faculdade de Cincias Econmicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA).Bolsista do Ncleo de Estudos Conjunturais (NEC/FCE-UFBA-SEI). [email protected]

    1 Artigo elaborado sob a orientao do Professor Antnio Plnio Pires de Moura (FCE/UFBA).1

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

    ARTIGOS

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    27Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

    ARTIGOSCamila Carvalho Rodrigues, Magali Alves de Andrade

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    O comportamento geral do emprego tendeu a ser homo-gneo entre os estados, apresentando pequenas varia-es entre eles. A despeito do bom resultado apresentadopelos dados das regies metropolitanas (RMs), a exis-

    tncia da dicotomia entre estas e as no metropolitanascom relao ao mercado de trabalho deve ser levada emconta. Tal situao dicotmica ressaltada pela diferenade mais de 20% entre as taxas de crescimento do nvelde emprego formal. O prprio comportamento entre RMs diversificado, com algumas apresentando-se acima damdia nacional e outras, abaixo (RAMOS, 2007).

    DESOCUPAO E SALDO DE EMPREGOS

    Ao longo dos ltimos anos, o Brasil apresentou umareduo continuada da sua taxa de desocupao. O anode 2006 apresentou um pico de 10,8% no ms de julho,entretanto, com uma reverso de tendncia no segundosemestre e uma reduo da desocupao no final doano, atingiu 8,4% no ms de dezembro. J em 2007, opico foi mantido por trs meses, de maro a maio, com10,2%, porm, como efeito da sazonalidade do fim deano, fechou dezembro com a taxa de 7,5% uma dasmenores j verificadas desde janeiro de 2006. Os anosde 2008 e 2009 no apresentaram grandes variaes.As taxas de 2008 foram menores que em 2009, uma vezque houve reflexos da Crise Mundial, mesmo que no to

    intensos. Assim, o ano de 2009 iniciou com taxas de deso-cupao de 8,2%, chegando a 9% em maro, mas logodepois, com a recuperao da economia, fechou o anocom a taxa igual de 2008, 6,8%. Em 2010, essas taxas

    mantiveram-se em um patamar abaixo de 8%. A quedado patamar da taxa de desocupao vem mantendo-seentre 7,0% e 7,6%, havendo expectativa de que caia nofinal do ano para nveis ainda mais baixos, quando porefeitos sazonais tende a apresentar as menores taxasde desocupao anuais (Grfico 1).

    As taxas de desocupao para todos os meses de2010 so as menores observadas para os respectivosmeses. Isso mostra que a reao dos empresrios,principalmente no segmento industrial, foi exagerada

    no primeiro semestre de 2009, j que o mercado internopde (e continua a poder) sustentar a dinmica daeconomia brasileira. Pode-se dizer que, como o setorinformal tem grande peso na economia, os ndices dedesemprego estavam camuflados, uma vez que ainformalidade no est dentro das principais estatsticasoficiais (COUTO, 2010).

    Assim, foi mantida certa estabilidade e confiana dosagentes econmicos (famlia, firma e governo), dado oefeito psicolgico positivo causado pelo no desemprego.Tal efeito pode ser acentuado por alguns fundamentosmacroeconmicos adotados, a exemplo das polticas de

    9,3

    10,1

    10,4 10,410,2

    10,4

    10,810,6

    109,8

    9,6

    8,4

    9,3

    9,9

    10,2 10,2 10,2

    9,79,5

    9,6

    9

    8,78,3

    8

    8,7

    8,6 8,5

    7,9 7,9

    8,1

    7,6 7,77,5 7,6

    6,8

    8,2 8,5

    98,9 8,8

    8,1

    8

    8,1

    7,77,5 7,4

    6,87,27,4

    7,6

    7,37,5

    7

    7,5

    2006 2007 2008 2009 2010

    jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

    Grfco 1Taxa de desocupao (%) de todas as reges pesqusadas 2006-2010

    Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenao de Trabalho e RendimentoPesquisa Mensal de Emprego.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

    Desocupao, rendimento e distribuio: anlise do panorama geral brasileiroARTIGOS

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    redistribuio de renda, como o Programa Bolsa Famliae o aumento do poder de compra dos aposentados, e afacilitao do crdito (consignado).

    O Estado brasileiro tambm desempenhou um papelessencial no fomento dos setores mais empregadores,a exemplo da construo civil, tanto de casas populares,como a expanso de crdito para a aquisio de financia-mento imobilirio pela classe mdia, alm da desoneraode alguns insumos bsicos, como o cimento. A desone-rao atingiu tambm o setor industrial, em especial alinha branca e os automveis. As obras de infraestrutura,como o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC),

    e a reestruturao das cidades foram essenciais para amanuteno dos investimentos do governo.

    Assim, em um panorama geral, a desocupao tem dimi-

    nudo continuamente nos ltimos anos, o que exemplificaa melhoria do mercado de trabalho no Brasil. Outra formade perceber essa melhoria o saldo de empregos comcarteira assinada abrangidos pela Consolidao das Leisdo Trabalho (CLT), ou seja, os celetistas. O nmero deempregos celetistas vem crescendo, com exceo doano de 2009, que nos primeiros meses apresentou asmenores taxas de gerao de emprego, chegando aomximo de 131.557 empregos gerados, reflexo de todaa desacelerao da economia mundial (Grfico 2).

    A recuperao no ano de 2010 ocorre de forma crescente,apresentando variaes de at 15% de um ms para ooutro. No geral o nmero de celetistas em 2010 vemcrescendo a uma mdia de 5% ao ms.

    Esses resultados corroboram com a queda da taxa dedesocupao. No entanto, em razo do conceito de taxade desocupao (porcentagem de pessoas desocupadasem relao s pessoas economicamente ativas), pode-se subestimar a taxa real de desocupao, dependendoda classificao de ocupao, sem determinao qua-litativa desta. Assim, o aumento de emprego celetistarepresenta o aumento do emprego formal, gerao de

    As obras de infraestrutura,como o Programa de

    Acelerao do Crescimento(PAC), e a reestruturao dascidades foram essenciais para amanuteno dos investimentosdo governo

    86.

    616

    105.

    468

    142.

    921

    -101.

    74

    8

    181.

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    176.

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    148.

    019

    204.

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    9.

    179

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    425

    76.

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    141 2

    06.

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    803 3

    01.

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    294.

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    106.

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    305.

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    198.

    837

    212.

    217

    202.

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    131.

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    041

    155.

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    119.

    495

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    2006 2007 2008 2009 2010

    Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun.

    Grfco 2Evoluo do emprego celetsta Brasl 2006-2010

    Fonte: MTECaged (Lei n 4.923/65).

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

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    emprego fixo ou por um perodo prolongado, enquantona taxa de desocupao no h relao com o tipo deocupao, se permanente ou temporrio. Atualmente aqueda na taxa de desocupao est sendo acompanhadapor um aumento do nmero de empregos com carteiraassinada, seguindo a tendncia de melhoria no mercadode trabalho brasileiro.

    OS RENDIMENTOS E ADISTRIBUIO DO EMPREGO

    O crescimento do nmero de postos de trabalho criadoinfluencia o aumento da remunerao, isto , a diminuiodo nmero de pessoas desocupadas. Consequentemente,

    a menor oferta de mo de obra faz com que a sua remune-rao seja elevada, e o comportamento da remuneraomdia tendenciosamente influenciado para uma aglu-tinao na base da faixa salarial inferior (MELO; MATOS,2005). Quando as taxas de desemprego so elevadas, atendncia geral do mercado a de diminuio salarial.

    No Brasil, o rendimento mdio da populao ocupadavem mantendo uma trajetria de crescimento desde 2006.O cenrio atual do mercado de trabalho brasileiro est

    representado pela queda da desocupao e o aumentodo rendimento mdio habitual (Grfico 3).

    Na formulao ortodoxa de inspirao neoclssica diz-seque uma reduo do desemprego gera uma menorquantidade de mo de obra livre, e a escassez do produtoeleva o preo. Menor a oferta, maior o preo. Contudo, aTeoria de Salrio Eficincia (STIGLITZ, 1987) explicaria aelevao dos salrios como forma de evitar problemasde informao assimtrica (seleo adversa, risco morale erros sistmicos), em busca da maior produtividade 2.A concluso preliminar a que se pode chegar que nocontexto atual da economia brasileira est acontecendouma reduo na taxa de desocupao e saldos positivosde gerao de empregos celetistas.

    DISTRIBUIO REGIONAL E PORSETORES DO EMPREGO

    A anlise da distribuio geogrfica e setorial da criaode postos de trabalho permite avaliar o desempenho e os

    2 Contudo no se sabe resultados ou comprovaes empricas da ocorrnciado salrio eficincia. Tal tema no ser abordado neste trabalho.

    Brasil RMS

    1.450,00

    1.400,00

    1.350,00

    1.300,001.250,00

    1.200,00

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    1.050,00

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    950,00

    jan./

    06

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    10

    mar./10

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    Grfco 3Evoluo do rendmento mdo real Brasl/RMS jan. 2006/jun. 2010

    Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenao de Trabalho e RendimentoPesquisa Mensal de Emprego.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

    Desocupao, rendimento e distribuio: anlise do panorama geral brasileiroARTIGOS

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    efeitos da expanso do mercado trabalho, comparandoo comportamento nacional e por regies subnacionais.No acumulado dos ltimos 12 meses, o Brasil apresentouuma variao de 6,71%, somando s nos primeiros meses

    de 2010 quase um milho e meio de saldo, representandouma boa recuperao da economia nos primeiros mesesdo ano, com gerao de emprego. Todavia, no Nordeste,foi verificado um saldo de mais de 400 mil, variaopositiva de 8,45% no acumulado dos ultimos 12 meses,sendo apenas 2,21% referentes aos primeiros meses doano. O Nordeste apresentou um ritmo de crescimentomais acelerado que o Brasil, situando-se seu acumuladoem 12 meses acima do nacional em quase 2 p.p. Estaregio foi a que sofreu o menor impacto na crise, uma vezque o estmulo ao consumo das famlias via polticas de

    redistribuio de renda impediu o declnio da atividadeeconmica. No s houve uma manuteno dos nveisde emprego, como tambm o Nordeste foi responsvelpor 17,5% do total dos empregos criados no ms de junhode 2010 (Tabela 1).

    A Bahia, acompanhando a dinmica do Nordeste,tambm apresentou crescimento acima do nacionalno acumulado dos ltimos 12 meses (7,89%), com umsaldo de empregos de 109.406, ou seja, 27% daquele doNordeste e 5% do total do pas.

    No primeiro semestre de 2010, a Bahia apresentou taxa decrescimento de 4,28%, maior que a do Nordeste (2,21%),sendo responsvel, respectivamente, por 4% e 54% de

    toda a gerao de emprego no Brasil e no Nordestenesse perodo (Tabela 1).

    Na anlise da performance das RMs, pode-se observar

    que Salvador vem apresentando taxas de ocupaoabaixo da mdia de todas as regies metropolitanas.No entanto, a maior variao entre os dois nveis deocupao foi atingida nos meses de setembro a dezem-bro de 2008, 6%, mantendo de janeiro de 2006 atjunho de 2010 uma mdia de 3% abaixo do total dasRMs (Grfico 4).

    Outra importante avaliao a ser feita no mercado detrabalho o destino dessa gerao de emprego, sina-lizando para quais atividades econmicas est sendocanalizada essa mo de obra, mediante a anlise dadistribuio dos saldos do emprego por setores. Nota-se que os setores que apresentaram maior saldo deemprego no acumulado dos ltimos 12 meses foram:

    Tabela 1Evoluo do emprego por nvel geogrfcoNordeste/Baha

    Local

    Jun. 2010 Jan. a jun. 2010 ltimos 12 meses

    Saldo (%) Saldo (%) Saldo Var.(%)

    Total 212.952 0,62 1.473.320 4,46 2.168.924 6,71NE 37.365 0,72 113.194 2,21 407.614 8,45BA 3.705 0,25 61.334 4,28 109.406 7,89

    Fonte: MTE/SPPE/DES/CGETCaged (Lei n 4.923/65).

    S alvador Total

    54

    53

    52

    51

    50

    49

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    Grfco 4Evoluo do nvel de ocupao em percentual total/RMS jan. 2006/jun. 2010

    Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas/Coordenao de Trabalho e RendimentoPesquisa Mensal de Emprego.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

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    Servios, Indstria de transformao, Comrcio e Constru-o civil. Este ltimo setor foi impulsionado, sobretudo,pelas polticas econmicas, como o Programa de Ace-lerao do Crescimento II (PAC II), o Programa Minha

    Casa Minha Vida, de financiamento da casa prpriapor meio da Caixa Econmica Federal, e a reduodo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) paramateriais de construo.

    Inserida nesse contexto, a construo civil acumuloumais de 300 mil empregos nos ltimos 12 meses, respon-sabizando-se por 15% de todo o emprego gerado nesseperodo e por mais de 200 mil s nos primeiros mesesde 2010, aproximadamente 15% de todo o emprego doperodo (Tabela 2).

    O setor de Servios correspondeu a 35% do total dosaldo apresentado no acumulado dos ltimos 12 meses;Indstria de transformao, 25%; e Comrcio, 22%, alm de15% referentes Construo civil, responsvel por quasetodo o saldo de empregos. J nos primeiros meses de2010, essa paricipao passa para 33%, 27%, 10% e 16%,respectivamente. O setor com menor saldo nos ultimos 12meses foi o daAdministrao pblica, com 8.175 postos,que representam quase 0,5% do total desse perodo,seguido de perto pelo setor Extrativo com 12.398, 0,57%do saldo (Tabela 2).

    Assim, percebe-se que h uma grande concentrao nagerao de emprego em poucos setores da economia.

    Construo civil, Comrcio,Servios e Indstria de transfor-mao detm juntos mais de 95% do saldo de empregos,sendo expressiva a concentrao de pessoas ocupadasno setor deServios.

    CONSIDERAES FINAIS

    A economia brasileira vem apresentando desde o anopassado sinais de recuperao, gerando emprego erenda para a sua populao. O nmero de desocupa-dos vem diminuindo e o nmero de empregos formaiscom carteira assinada aumentando, com expanso dosempregos celetistas.

    O rendimento mdio dos trabalhadores vem elevando-se,gerando impactos positivos na circulao econmica debens e mercadorias, fazendo com que a economia fiquemais aquecida.

    Observou-se uma regionalizao no aumento do emprego,cujos dados de gerao apresentam discrepnciasentre as regies, podendo ocasionar migrao para asreas onde a oferta de trabalho maior, concentrandoainda mais no s o mercado de trabalho, mas toda aeconomia. O que no desejvel, pois o crescimentoproporcional da oferta de trabalho entre as regies dopas, assim como dos estados com relao s regies, importante para um crescimento homogneo e sus-tentvel da economia nacional.

    Tabela 2Evoluo do emprego por setor de atvdade econmca RMS

    SetoresJun. 2010 Jan. a jun. 2010 ltimos 12 meses

    Saldo (%)(1) Saldo (%)(2) Saldo (%)(3)

    Total 212.952 0,62 1.473.320 4,46 2.168.924 6,711. Extrativa 1.441 0,81 8.801 5,14 12.398 7,392. Indstria transformao 44.485 0,57 394.148 5,31 549.490 7,563. Serv. ind. util. pb. 1.139 0,32 9.862 2,8 11.215 3,24. Construo civil 24.825 1,01 230.019 10,16 327.799 15,145. Comrcio 26.631 0,35 144.135 1,95 474.270 6,716. Servios 57.450 0,42 490.028 3,72 754.770 5,847. Administrao pblica 1.614 0,21 21.277 2,87 8.175 1,088. Agropecuria, extrao vegetal, caa, pesca 55.367 3,5 175.050 11,98 30.807 1,92

    Fonte: MTE/SPPE/DES/CGETLEI 4.923/65.(1) A variao mensal do emprego toma como referncia o estoque do ms anterior.(2) A variao acumulada no ano toma o estoque do ms em questo e o de dezembro do ano anter ior.(3) A variao dos ltimos 12 meses toma o estoque do ms em questo e o do referido ms no ano anter ior.

    Conj. & Planej., Salvador, n.168, p.26-33, jul./set. 2010

    Desocupao, rendimento e distribuio: anlise do panorama geral brasileiroARTIGOS

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    Assim como a concentrao regional pode ser malficapara o crescimento da economia, a dependncia de algunspoucos setores tambm pode ocasionar resultados nega-tivos, sendo desejvel polticas de incentivo gerao

    de emprego em setores diversificados para garantir umcrescimento sustentado da economia brasileira.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio do Trabalho e Emprego. CAGED. Braslia:MTE, [2010]. Disponvel em: .Acesso em: 26 jul. 2010.

    COUTO, Vitor de Athayde. Economia brasileira contempor-nea. Salvador: FCE-UFBA, 2010. Notas de aula da Disciplina

    Economia Brasileira Contempornea do Curso de Gradua-o em Economia da FCE-UFBA.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA.Pesquisa mensal de empregos. Rio de Janeiro: IBGE, [2010].Disponvel em: . Acesso em: 26jul. 2010.

    MELO, R. O. L. de; MATOS, E. N. Estrutura do emprego eespecializao industrial do Nordeste nos anos noventa. In:HANSEN, D. L. et al. Estudos econmicos sobre tecnologia edesenvolvimento regional. Aracaju: PMA/SEPLAN, 2005.

    OLIVEIRA, Graziela de. Pobreza nos Estados Unidos. SoPaulo: Loyola, 1992.

    RAMOS, Lauro. Evoluo e realocao espacial do empregoformal. Econmica, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p.89-1