CRÉDITO RURAL ESPECIAL NA PEQUENA PRODUÇÃO_monografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ECONOMIA

CRDITO RURAL ESPECIAL NA PEQUENA PRODUO: UM ENFOQUE NO PAD HUMAIT PERODO DE 1988 A 1995

JOO DE JESUS SILVA MELO

Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Acre UFAC, como pr-requisito parcial para obteno de grau de Bacharel em Cincias Econmicas, sobre orientao do professor Carlos Alberto Franco da Costa.

Rio Branco - AC Agosto 1997

Esta Monografia foi submetida Coordenao do Curso de Economia, como parte dos requisitos necessrios obteno do Grau de Bacharel em Cincias Econmicas, outorgado pela Universidade Federal do Acre - UFAC, e encontra disposio dos interessados na Biblioteca Central da referida Universidade. A citao de qualquer trecho desta Monografia permitida desde que seja de conformidade com as normas tcnicas permitida pela tica cientfica.

____________________________ Joo de Jesus Silva Melo Monografia Aprovada Em: ____ / ____ / _____.

_____________________________________ Carlos Alberto Franco da Costa Orientador

_____________________________________ Membro

_____________________________________ Membro

A minha querida me MARIA ODETE SILVA MELO pela sabedoria, garra, coragem e determinao em saber enfrentar o mundo com todos os seus obstculos

OFEREO

Aos meus filhos Alexandre e Alessandra Torres Melo, Ao meu pai e companheiro JOS MELO CORDEIRO e minha companheira de labuta IOLENE SILVA DE MORAES, A todos meus irmos e sobrinhos

DEDICO ESTE TRABALHO

AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo, principalmente, pela oportunidade de est sempre prximo d'ELE. Universidade Federal do Acre - UFAC, em especial ao Departamento de Economia, pelos conhecimentos adquiridos durante esta jornada, em especial ao prof. CARLOS ALBERTO FRANCO DA COSTA, pela valiosa orientao e amizade transmitida durante o curso. Ao prof. Reginaldo de Castela, pelo apoio indispensvel durante o curso. Aos bibliotecrios da UFAC - Raimundo, Carlinhos e seu Jos pelo emprstimos das obras a serem consultadas. Aos amigos de turma que conviveram comigo durante este rduos anos de batalha. Ao Nilson Josu Costa, pela co-orientao, dedicao e pacincia que teve para comigo, alm do incentivo e fornecimento de dados que complementaram este trabalho. Ao Raimundo Sampaio, Maria do Socorro Silva, pelo apoio e colaborao na execuo e arte final do trabalho. Ao Jos Jesus S. Lima e Valdomiro Rocha, pelo aprendizado mtuo, convivncia, amizade e companheirismo. s bibliotecrias da EMATER-ACRE, Terezinha de Jesus, Maria do Socorro e Ivanilde, por ajudar-me na busca dos assuntos pesquisados, bem como o emprstimos das obras e acesso aos documentos da Instituio. Aos colegas extensionista da EMATER-Acre, do INCRA, IBGE e BASA pelo apoio e estmulo. Ao Altamir de Souza, coordenador de operaes da EMATER-Acre e membro da Comisso do PROCERA, pelas informaes creditcias que minha pessoa foi cedida e que foram de fundamental importncia na elaborao deste trabalho. A todos os amigos que diretamente ou indiretamente contriburam para a concretizao deste trabalho, os meus agradecimentos e reconhecimento.

LISTA DE TABELASTABELA I - RELAO DE DEPSITOS VISTA/PIB, E DVIDA PBLICA FEDERAL/HAVERES FINANCEIROS TOTAIS............................ II - CRDITO RURAL - RECURSOS APLICADOS (1980/1991)...... III - CRDITO RURAL - SALDO DAS APLICAES DA POUPANA RURAL - 1987/82 (US$ MILHES)....................... V - CRDITO RURAL - 1985.................................................................. VI - CRDITO RURAL-N. DE PROJETOS EXECUTADOS EM 1986 VII - CRDITO RURAL - 1987................................................................ 54 VIII - PROJETOS DE CRDITO RURAL ELABORADOS PELA EMATER-ACRE ............................................................................ IX - PROJETOS DE CRDITO RURAL ELABORADOS PELA EMATERACRE1994......................................................................... X - PROJETOS DE CRDITO RURAL ELABORADOS PELA EMATER-ACRE, POR MUNICPIOS - 1995....................................... E EXISTENTES, POR MUNICPIOS - 1996 .................................... 62 64 XI - PROJETOS DE CRDITO RURAL ELABORADOS, CONTRATADOS XII - USO DA TERRA NO PAD HUMAIT NO ANO DE 1.988 ................. 65 XIII - PRODUO AGRCOLA NO PAD HUMAIT - 1.995...................... 67 XIV - PRODUO BOVINA NO PAD HUMAIT - 1.988/95....................... 71 XV - PROJETOS DE CRDITO RURAL ESPECIAL ELABORADOS E CONTRATADOS DE 1.988/95................ 82 60 60 30 53 53 V - NMERO DE ESTABELECIMENTOS POR LAVOURAS NO ACRE .. 48 25 26

LISTA DE GRFICOS

GRFICOS I II BRASIL - CRDITO RURAL (1.980/1.992) .......................... 23 USO DA TERRA COM CULTURA DE SUBSISTNCIA NO PAD HUMAIT ..................................................................... 65 III - USO DA TERRA EM ( % ) NO PAD HUMAIT .................. 66 IV - PRODUO AGRCOLA NO PAD HUMAIT .................... 67 V - PRODUO DE LAVOURA BRANCA EM ( % ) NO DA PRODUO DE BOVINOS NO 72 PAD HUMAIT ....................................................................... 68 VI - CRESCIMENTO PAD HUMAIT DE 1.988/95. ...............................................

VII - CRESCIMENTO DE PRODUTORES DE BOVINOS NO NO PROJETO HUMAIT - 1.988/95................................... 72 VIII - PROJETOS DE CRDITO RURAL SUBSIDIADO (ESPECIAL) ELABORADOS (E) E CONTRATADOS (C ) EM 1.988/95.... 82

RESUMOO presente trabalho procurou estudar no espao temporal de oito anos (1.988/95), a dinmica do crdito rural subsidiado na pequena produo - Crdito Rural Especial, dando como enfoque principal o PAD Humait. Para concretizao do presente estudo foi realizada uma pesquisa de campo com levantamentos em pocas diferentes, onde foram entrevistados cinqenta e dois pequenos produtores rurais em toda rea do Projeto. Como resultado obtido, observou-se que novo processo de concentrao fundiria encontra-se em andamento naquele Projeto, em decorrncia da precariedade e da pouca eficcia de infra-estrutura e apoio aos produtores assentados. Verificou-se que no houve uma evoluo da produo e nem da produtividade na rea agrcola, como tambm o extrativismo deixou de ser uma alternativa econmica satisfatria, como se via em anos anteriores. Apesar da introduo do crdito rural altamente subsidiado como o PROCERA e FNO-ESPECIAL (PRORURAL), alm do FNO-NORMAL, a situao scio-econmica das famlias rurais mantm-se a um nvel bastante baixo, onde vrias famlias vivem em condies sub-humanas e somente com o mnimo para sua sobrevivncia. As rendas advindas da produo agrcola, mesmo as financiadas, mantiveram-se, praticamente, as mesmas do que as no financiadas, girando em torno de dois (02) salrios mnimos mensais, todavia, o que vem se consolidando a expanso progressiva da pecuria como alternativa econmica vivel para pequenos e mdios produtores rurais do PAD Humait. PALAVRAS-CHAVE: Crdito Rural, Produo Agrcola, Alternativa Econmica, PRORURAL.

"A poltica de crdito rural com juros subsidiados no um instrumento eficaz de incentivo agricultura, isto , consegue resultados pequenos relativamente aos custos que acarreta para o Governo e para a economia. Uma vez que o crdito pode ser fungvel, o produtor pode aplic-lo em uma atividade mais rentvel e no aquela atividade para a qual o emprestador a destinou." (Joo de Jesus S. Melo - 1.997)

SUMRIOLISTA DE TABELAS.......................................................................................................6 LISTA DE GRFICOS.....................................................................................................7 RESUMO...........................................................................................................................8 SUMRIO.......................................................................................................................10 INTRODUO...............................................................................................................12 O PROBLEMA E SUA IMPORTNCIA.......................................................................12 CAPTULO I...................................................................................................................17 CRDITO RURAL ESPECIAL......................................................................................17 A ORIGEM DO CRDITO E O CRDITO RURAL.....................................................17 1.2 Crdito Rural no Brasil...........................................................................................19 CAPTULO II..................................................................................................................40 CRDITO RURAL E O ESTADO DO ACRE...............................................................40 2.1 - Breve Histrico - Jurdico.......................................................................................40 2.2 Caractersticas da Pequena Produo Rural Acreana.............................................42 CAPTULO III................................................................................................................53 O CRDITO RURAL NO PROJETO HUMAIT.........................................................53 3.1 - Caractersticas Fsica s e Scio-econmicas do Projeto de Assentamento (PAD) Humait...........................................................................................................................53 3.2 - Crdito Rural e Assistncia Tcnica no PAD Humait ..........................................55 3.3 - Crdito Rural e Uso da Terra...................................................................................61 3.4 - Pecuarizao e Concentrao Fundiria..................................................................68 3.4.1 - Pecuarizao no PAD Humait............................................................................68 3.4.2 - Concentrao Fundiria, o primeiro passo para o retorno do Latifndio no Projeto Humait...........................................................................................................................72 CONCLUSO.................................................................................................................75 1 - USO DA TERRA E ESTRUTURA DA PRODUO AGROPECURIA.............75 2 - A ESTRUTURA DA ASSISTNCIA TCNICA, DO CRDITO RURAL E FINANCIAMENTO NO ACRE E NO PAD HUMAIT...............................................76 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................82 ANEXO I.........................................................................................................................84

PROCERA: .....................................................................................................................84 ANEXO II........................................................................................................................95 FUNDO CONSTITUCIONAL DE FINANCIAMENTO DO NORTE - FNO.............95 PROGRAMAS DE FINANCIAMENTOS DO SETOR RURAL.................................100 Programa de Apoio Reforma Agrria - PROCERA...................................................100 Programa de Apoio Pequena Produo Familiar Rural-PRORURAL........................100 Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo - PRODEX........................100 Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura PRODAGRI........................102 Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Pecuria - PRODEPEC...........................103 Programa de Apoio Preservao e Sustentao do Meio Ambiente PROSUMAM. .104 Programa de Apoio s Microempresas de Atividades Selecionadas PROMICRO.......108 Programa de Desenvolvimento Industrial - PRODESIN...............................................108 Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Agroindstria - PROAGRIN...................109 Programa de Desenvolvimento do Turismo Ecolgico - PRODETUR.........................109 Programa de Apoio ao Turismo Convencional - PROGETUR.....................................110 Programa de Apoio Capacitao Tecnolgica - PROCATEC....................................110 ANEXO III....................................................................................................................114 CRDITO RURAL ESPECIAL....................................................................................114 QUESTIONRIO.........................................................................................................114

INTRODUO O PROBLEMA E SUA IMPORTNCIANos pases em desenvolvimento com capitalismo tardio, como o caso do Brasil, o Estado assume um papel fundamental no financiamento dos investimentos em reas as quais a iniciativa privada no tem interesse em investir, devido ao elevado volume de capital inicial necessrio e aos longos prazos de maturao dos investimentos. No Brasil, com as mudanas ocorridas no cenrio scio-econmico e poltico, na dcada de 60, a economia, condicionada pelo processo de internacionalizao das relaes de produo capitalistas, deu incio a um novo ciclo de expanso na economia nacional. Nesse momento histrico, o Estado sob presso de distintos grupos econmicos, elaborou um plano de integrao da Amaznia economia do Pas. Tomando por relevncia a segurana nacional e a necessidade de garantir novos mercados consumidores, o Governo Federal implantou uma srie de polticas econmicas na Amaznia que foram de encontro aos interesses do capital monopolista internacional. Segundo Oliveira (l.99l:63/64), a poltica desenvolvida pelos governantes, a partir de 1.964, no que tange ao assentamento do homem terra no tem se mostrado vivel s necessidades dos pequenos produtores. Uma vez que os projetos de colonizao

direcionados para a Amaznia, pelas caractersticas apresentadas no objetivaram favorece ao pequeno produtor o pequeno trabalhador rural e sim amenizar tenses sociais e conflitos ocorridos pela expulso de terras em outras regies do pas, bem como conter possveis revoltas que colocassem em risco a estrutura vigente. Mediante a expanso do capitalismo na Amaznia, o trabalhador rural sentiu concretamente a ao da selvageria desse modo de produo com relao posse da terra. Contudo, a resposta que o homem do campo d a essa violncia diferente daquela violncia dada pelo operrio fabril, pois a partir do momento em que este sente-se ameaado pela explorao do capital, cria-se com maior rapidez uma conscincia coletiva de classe acerca da violncia que lhes fora imposta pelo capital, atravs da explorao da fora de trabalho, visando a extrao da mais-valia. Enquanto, o Homem do campo encontra-se em situao adversa: est envolvido em circunstncias diferentes, este trabalho isolado em sua propriedade, sem acesso informao, alm de no ter plena conscincia de que o prprio Estado, enquanto representante de classes dominantes quem o expropria para atender as necessidades do capital, e ao mesmo tempo aponta solues que lhes so viveis e assim, joga o homem terra montando os projetos de colonizao direcionados para a Amaznia que no visam oferecer as condies mnimas necessrias aos pequenos produtores, assim como, deixa o mesmo vulnervel a expanso e ataques do grande capital. No Estado do Acre, a expulso dos trabalhadores rurais, em especial os seringueiros, quase sempre marcada pela violncia, acentuou-se na primeira metade da dcada de 70, quando a corrida pelas terras do Acre foi muito intensa. Entretanto, a poltica do Governo Militar, para esse projeto de desenvolvimento, no pode ser compreendido, separado da poltica de ocupao das terras amaznicas contidas no Estatuto da Terra ( Lei n. 4.504, de 30 de novembro de l.964). Como conseqncia desta poltica desencadeou-se um intenso processo de transferncia de terras, aliados a uma certa decadncia dos seringais nativos, em virtude da existncia de dvidas das empresas seringalistas junto ao Banco da Amaznia S/A (antigo Banco de Crdito da Borracha). Essas empresas seringalistas, para se verem livres de suas dvidas, entregavam suas terras para os empresrios oriundos da regio centro-sul, que, junto com as terras compradas a baixos preos recebiam incentivos financeiros via polticas governamentais. Essas polticas foram implantadas com a criao da

Superintendncia de Desenvolvimento da Amaznia SUDAM e do Banco da Amaznia S/A, l.966. Na dcada de 70, o governo federal adotou o Programa de Integrao Nacional PIN. Criou-se o Programa de Redistribuio de Terras e Estmulo Agroindstria do Norte e Nordeste PROTERRA. Esse conjunto de medidas aliados a insolvncia da classe seringalista e seus credores, e a chegada de capitais nacionais e estrangeiros, atrados pelos subsdios e pelo baixssimo preo da terra, altera a situao dos seringueiros e trabalhadores rurais na regio. Com todos esses fatores favorveis penetrao do capital, o governo adotou uma poltica que privilegiou a expanso da pecuria, como substituto ao processo extrativista, mas, sem levar em considerao a situao dos seringueiros e posseiros. Este estmulo produo pecuria ocasionou um processo migratrio rural-urbano, aumentando consideravelmente a populao das periferias das cidades. A evoluo da populao acreana na dcada de 70, mostra que enquanto a populao urbana obteve um crescimento de 122% , a populao rural cresceu apenas 8,6%. Com a chegada de novos capitais, alm dos movimentos internos da fora de trabalho, o Acre passou a receber migrantes de outras regies do Pas. Isso fez com que os governos federal e estadual redirecionassem suas polticas, ampliando os projetos de colonizao, para aliviar as tenses sociais tanto no campo como na cidade. Assim, o Estado do Acre, segundo Silva,(l.982:41), foi palco de um acelerado processo de expropriao e explorao do pequeno produtor rural e do seringueiro pelo grande capital monopolista sob proteo do Estado; o que ocasionou um constante deslocamento desses trabalhadores rurais para a cidade que culminou com o surgimento de inmeros bairros perifricos, gerando grandes problemas de ordem social. Porm Martins (l.991: 46), a propriedade da terra vem se tornando cada vez mais inacessvel a um nmero enorme de lavradores que dela necessitam para seu trabalho, para especulao ou negcio. A situao agrava-se ainda mais para os pequenos produtores agrcolas, uma vez que estes esto sendo expulsos de suas reas de terra para serem substitudas pelas patas dos bois, isto , dando lugar s extensas pastagens. A penetrao da pecuria extensiva no Estado do Acre, em reas antes ocupadas por posseiros extrativistas, geraram zonas de tenso social e criam-se os primeiros espaos de atuao do INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria no Estado do

Acre, atravs de desapropriao e execuo de projetos de colonizao e assentamento nestes locais. Atualmente, existem 06 (seis) Projetos de Assentamento Dirigidos (PADs) criados pelo INCRA, no Estado do Acre: 0l) PAD PEDRO PEIXOTO, abrangendo uma rea de 317.588 ha, localizado nos municpios de Rio Branco, Senador Guiomard dos Santos, Acrelndia. 02) PAD BOA ESPERANA, localizado no municpio de Sena Madureira, com uma rea de 292.000 ha. 03) PAD QUIXAD, situado no municpio de Brasilia, divisa com Assis Brasil, com uma rea de 121.789 ha. 04) PAD SANTA QUITRIA, localizado tambm no municpio de Brasilia. 05) PAD SANTA LUZIA, no municpio de Cruzeiro do Sul. Possui uma rea de 69.700 ha. 06) PAD HUMAIT, no municpio de Porto Acre, abrangendo uma rea de 63.861 ha. ( o qual trata-se de nosso objeto de estudo ). Muito embora tenha-se criado os projetos de assentamento dirigido (PADs) no Estado do Acre, com a finalidade de garantir a posse da terra para o homem do campo e soerguer a produo agrcola, contudo tais objetivos no esto sendo alcanados, contribuindo para isso, os mais variados fatores: as condies mnimas de sade, educao, habitao, armazenamento, escoamento da produo, o qual est ligado com a conservao das estradas que um dos pontos nevrlgicos de estrangulamento, devido a falta de recursos por parte dos rgos executores e do Estado para montagem de tais infraestruturas. Com isso, a perspectiva de que, se forem dadas as condies efetivas para tais projetos desempenharem suas funes ou seu papel, problemas de ordem social se aguaro ainda mais, aumentando o fluxo migratrio do campo para a cidade, bem como uma acelerada reconcentrao de terras. Para tal, essas perspectivas vem se tornando cada vez mais prximas, com o asfaltamento das rodovias federais em nosso Estado BR 317 e BR 364. O simples fato de um recebimento de um lote de terra, numa rea de mata bruta, distante dos centros urbanos, dentro das condies climticas da Amaznia, no viabiliza a produo agrcola, especialmente de um agricultor que j chega descapitalizado em Plcido de Castro e

nossa regio. O compromisso do rgo de assentamento, em termos de montagem de infra-estrutura administrativa e viria so insuficientes. Depois da abertura de estradas e ramais, fica a questo mais difcil e onerosa a sua conservao frente a chuvas torrenciais que variam entre 04 a 06 meses no ano. Sem condies de armazenar e escoar sua produo, o produtor mal consegue sobreviver. As grandes perdas da safra agrcola, os baixos preos obtidos pela dependncia de intermedirios ou marreteiros, inviabilizam os emprstimos bancrios e um mnimo de capitalizao para a introduo de culturas permanentes que possam garantir no futuro um nvel de renda melhor. Estas condies se agravam com as molstias, notadamente na zona rural: malria, hepatite, verminose, entre outras, debilitando o trabalhador rural e exaurindo os parcos recursos. Se no forem dadas as condies concretas para o assentamento do produtor, se repetir mais uma vez, o que j vm ocorrendo tradicionalmente na histria do meio rural brasileiro, particularmente no Estado do Acre, a concentrao de terras, agora nas mos de grandes grupos empresariais e o agravamento das condies de vida da grande maioria da populao nacional e estadual.

CAPTULO I

CRDITO RURAL ESPECIAL A ORIGEM DO CRDITO E O CRDITO RURAL

1.1 Histrico.O crdito em seu sentido mais amplo, j existia desde as primeiras tentativas de organizao do homem em Comunidade. Sempre que o homem rene-se em Ncleos Populacionais, organiza um sistema, por mais primitivo que seja, de produo de bens que necessita da existncia de crdito. Quando o homem sentiu que no poderia sobreviver base, simplesmente de coleta de frutos, caa e pesca em funo da escassez das mesmas, devido ao crescimento populacional, modificou seu sistema de vida que anteriormente era totalmente predatrio. Ento surgem os ncleos populacionais, que passariam a produzir sua alimentao bsica de acordo com sua tendncia ou especializao, isto , agricultura, pecuria ou especializao natural. Mediante essa especializao gerou-se a necessidade de permuta dos produtos excedentes de uma comunidade, pelos que esta comunidade perecia e sobejava, em outras. O aparecimento da permuta ou troca, a forma mais simples de comrcio, trouxe a um elemento novo nas relaes entre os homens, a chamada confiana, que significa o requisito essencial ao crdito. Assim, o elemento ncleos populacionais especializado na colheita ou no cultivo de plantas, que desejava trocar os seus produtos pelos de outros ncleos, que necessitou dar ou receber confiana ou oferecer algo, em promessa de pagamento futuro, pois nem sempre as colheitas coincidiam com caa mais abundante ou disponibilidade dos produtos em outros ncleos. Surge assim, o Crdito, que provm do latim creditum, de credere, que significa ter confiana. Da a definio de crdito: a confiana pela qual os indivduos se inclinam a

fazer emprstimos ou conceder prazos para pagamento. O crdito na sua forma mais rudimentar, que correspondia a entrega de uma riqueza presente, sob promessa de um pagamento futuro. Com o aumento das trocas e o surgimento das novas aspiraes entre as populaes, essas formas primitivas de comrcio traziam algumas dificuldades e, a maior delas talvez fosse em relao ao valor entre bens a permutar. Com isso surgiu a necessidade de se criar um padro de valores mais ou menos fixo que no estivessem sujeitos a maior ou menor abundncia das colheitas, nem as injunes de solo e clima, e, fosse ao mesmo tempo aceito por todas as comunidades. A esse padro de valores que dificultava as trocas, e denominador comum para todas as riquezas, foi criado e passou a chamar-se moeda. O surgimento ou criao da moeda possibilitou o desenvolvimento mais acentuado do comrcio e consequentemente do crdito fornecido e obtido pelos comerciantes. A conseqncia natural deste desenvolvimento foi a criao pelos Estados, de legislao especfica sobre as condies em que estas operaes comerciais deveriam ser realizadas, com o objetivo de resguardar os interesses O Crdito Comercial. A essa altura da histria da humanidade, a agricultura baseava-se na abundncia dos recursos naturais, em um sistema ainda predatrio de explorao da terra, em uma estrutura simples de produo Agricultura Tradicional na qual as necessidades de recursos de capital so inexpressivas e a tecnologia incipiente. E as necessidades de transformaes ou elaborao de bens econmicos a partir de produtos primrios por aquela agricultura tradicional eram satisfeitas pelo simples artesanato. Mas com o crescimento populacional a agricultura tradicional tornou-se incapaz de atender a demanda crescente de alimentos, vesturio e demais produtos primrios essenciais. Surgiram novas tcnicas de produo, novos equipamentos, incorporaram terras improdutivas que exigiram novos gastos e inverses, pois tecnologia nova se alimenta de Capital. Tentou-se, ento, a concesso de crdito aos agricultores, aplicando-se as leis, os regulamentos, as tradies do crdito comercial j organizado e apareceram muitas dificuldades, na aplicao deste tipo de crdito.

Essas experincias iniciais levaram concluso da obrigatoriedade de modificaes profundas no crdito comercial, para sua aplicao s atividades agrcolas. E ao dar incio s adaptaes necessrias, observou-se que realmente se estava criando uma nova modalidade altamente especializada de crdito, destinada a atender a agricultura. A esta nova modalidade foi onde se originou o que hoje conhecemos como Crdito Rural. Ento, pode-se afirmar que o Crdito Rural surgiu da incapacidade do Crdito Comercial em atender as necessidades fundamentais da agricultura. Foi imperativo que se estabelecessem normas especiais, regulamentos, tradies, etc..., para o crdito rural, isto significaria dizer que se criasse para a agricultura um crdito especializado.

1.2 Crdito Rural no BrasilSegundo Aguiar (l977:16) a primeira definio verdadeira e atuante de crdito rural surgiu somente ao imprio da Lei n. 4.829 de 05 de novembro de l.965, no seu art. 2 : Considera-se Crdito Rural o suprimento de recursos financeiros por entidades pblicas e estabelecimentos de crdito particulares a produtores rurais ou s suas cooperativas para aplicao exclusiva em atividades que se enquadram nos objetivos indicados na legislao em vigor. O crdito rural consiste no suprimento adequado, e oportuno de recursos financeiros aos seus beneficirios, por estabelecimentos de crdito oficiais e particulares integrantes do Sistema Nacional de Crdito Rural SNCR1, para atendimento das reais necessidades de capital para custeio, investimento e comercializao da produo agropecuria. Em 1.965, ao ser criado o Sistema Nacional de Crdito Rural SNCR, tambm se desencadeava a industrializao da agricultura brasileira, implantado no programa de substituies de importaes. A prpria Lei n. 4.829 retrata o contexto histrico em que o sistema foi criado; Oliveira ( l.995:20 ), resume seus objetivos nos seguintes itens: 1 - estimular o incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento, beneficiamento e industrializao dos produtos agropecurios, quando efetuados por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural; 2-favorecer- O Sistema Nacional de Crdito Rural (SNCR) formado pelas seguintes instituies: Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, bancos regionais de desenvolvimento, bancos estaduais, bancos privados, caixas econmicas, sociedades de crdito, financiamento e investimento, cooperativas e rgos de assistncia tcnica e extenso rural.1

custeio oportuno e adequado da produo e a comercializao dos produtos agropecurios; 3- possibilitar o fortalecimento econmico dos produtores rurais, notadamente pequenos e mdios; 4- incentivar a introduo de mtodos racionais de produo, visando ao aumento da produtividade e melhoria do padro de vida das populaes rurais e adequada defesa do solo.2 O Crdito Rural no tem o simples objetivo de propiciar a aplicao de capitais das instituies financeiras, mas a de substituir a poupana dos beneficirios, que devem destinar recursos prprios execuo dos empreendimentos assistidos, observando-se os limites de participao obrigatria ou sua falta, as disponibilidades existentes. No entanto, no constitui funo do Crdito Rural, o subsdio de atividades deficitrias ou antieconmicas; financiamento de pagamentos de dvidas; possibilitar a recuperao de capital investido; favorecer a reteno especulativa de bens; antecipar a realizao de lucros presumveis; amparar atividades sem carter produtivo ou aplicao desnecessrias como criao de cavalos de corrida ou de lazer, etc... . Assim Sayad ( l.984:94 ) relata que ... a legislao pretendia que o Sistema Nacional de Crdito Rural SNCR, incentivasse a produo agrcola, protegesse os pequenos produtores rurais e promovesse a modernizao da agricultura. Pode-se acrescentar a essa modernizao agrcola, que esse programa de crdito rural pretendia garantir maior parcela de recursos financeiros para a agricultura, j que os bancos comerciais privados, sem apoio desta legislao, no atendiam satisfatoriamente. Alm disto, muitos analistas que apontavam que um desempenho mais razovel do setor agrcola, quer em termos de crescimento da produo, quer em termos de produtividade, dependia da oferta mais firme e estvel de recursos financeiros. A modernizao, em especial, era objeto prioritrio da poltica de financiamento. Por outro lado, a Lei 4.829 e, o estabelecimento do Programa Nacional de Crdito Rural complementavam as reformas econmicas do perodo, garantindo financiamento s atividades rurais, ao mesmo tempo em que se reformulava o mercado financeiro geral pela lei da Reforma de Mercado de Capital. Quanto a questo para se obter o crdito rural tm-se que observar alguns critrios exigveis tais como: o de ser produtor rural, seja pessoa fsica ou jurdica; cooperativa de

2

- Sistema Nacional de Crdito Rural (SNCR) Lei n. 4.829, de 05 de novembro de l.965 Art. 3.

produtores rurais; e ainda pessoas fsicas ou jurdicas que embora, sem conceituar-se como produtor rural, se dedica pesquisa ou produo de sementes ou mudas fiscalizadas ou certificadas, pesquisa ou produo de semens para inseminao artificial, conjuntamente com seus servios no imvel rural, prestao de servios mecanizados, de natureza agropecuria em imveis rurais, inclusive para proteo do solo; indstria da pesca e por fim medio de lavouras. Entretanto, os no beneficirios do crdito rural so os estrangeiros residentes no exterior; adquirentes de produtos agropecurios e seus intermedirios; associao de produtores rurais, exceto para explorao direta; sindicato rural; parceiro ou meeiro, se o contrato entre ambos restringir o acesso de qualquer das partes ao financiamento. O crdito o elemento-chave das transformaes na agricultura. Na medida em que este instrumento definido numa sociedade em que historicamente, as foras dominantes tm se apropriado em maior proporo dos benefcios gerados pelo Estado, de se esperar que agora o processo no seja diferente. A estrutura fundiria que se formou ao longo do tempo passa a funcionar como elemento estratgico na captao desses recursos. Por um lado, se apresenta como garantia real ao capital financeiro e por isso, como absorvedor de magnitudes significativas do crdito rural. Por outro lado, esta concentrao conveniente administrao bancria, pois ela representa menor custo para o agente financeiro. Chega-se a uma concluso que, o carter das foras dominantes, menor custo operacional para o agente financeiro e a concentrao de terras so barreiras ao acesso do campesinato ao crdito rural, especialmente aos financiamentos de investimentos. Szmrecsanyi ( l.983:226 ), ao analisar os efeitos das polticas agrcolas chega a afirmar que : a concentrao financeira pode ser sintetizada pelo fato de que 80% dos estabelecimentos agropecurios do pas no recebem crdito rural oficial, enquanto que 01% dos seus maiores muturios ou seja, aproximadamente, 10.000 (dez mil) grandes produtores recebem nada menos que 40% do total dos recursos disponveis. Talvez no por coincidncia, esse ndice de concentrao bastante similar ao da concentrao fundiria constatvel atravs de dados do Censo Agropecurio3. importante perceber que nenhum dispositivo foi includo neste instrumento que facilitasse ao pequeno produtor a dele se beneficiar.3

- Szmsecsnyi, Anlise Crtica das Polticas para o setor agropecurio, p. 226.

Assim a agricultura que at ento, tinha sua base tcnica fundada na fora de trabalho e na terra, vai experimentar uma nova composio tcnica. A implantao da EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria em l.973, como geradora de tecnologia, o segundo instrumento necessrio s transformaes. Neste sentido, as tecnologias desenvolvidas guardam um determinado critrio: sua gerao determinada pelas estruturas capitalistas. Melhor compreendendo, s tecnologias guardam relaes com as dimenses das mquinas e equipamentos por um lado e por outro a estrutura fundiria est ajustada demanda e oferta das indstrias. Por sua vez, as variedades criadas s traduzem sua potencialidade na medida em que os solos sejam adaptados s sua exigncias, ou seja, pela complementao de adubos qumicos e, estes necessitam de trao mecnica. A tecnologia pecuria segue esta mesma direo, pois o melhoramento animal requer determinado sistema de criao associado a alimentos industriais. Andrade ( l.988: 10), faz observao poltica agrcola, ligada ao crdito rural e s tecnologias ao afirmar que: o crdito rural subsidiado que garante acesso a essas tecnologias. Assim, verifica-se um aumento substancial de tratores, colheitadeiras e implementos diversos em operao na agricultura. Esses equipamentos so essencialmente poupadores de mo-de-obra, embora seu uso na agricultura no signifique uma generalizao em todas as fases da cultura. Contudo, o emprego deles resulta em liberao da fora de trabalho da agricultura, mesmo que esta passe a demandar mais trabalho em outras etapas do ciclo produtivo. Temos, de qualquer forma, maior quantidade de capital constante relativo ao capital varivel4. Segundo Marx, isto representa uma elevao da composio tcnica do capital 5. O que se traduz da que, para transformao da base tcnica a da agricultura, houve necessidade de um maior volume de capital e que se torna possvel pela institucionalizao do crdito rural subsidiado, que por sua vez captado em maior volume pela grande propriedade. Pode-se dizer, ento, que com a elevao da composio tcnica do capital na agricultura, se estabelece um mnimo de recurso financeiro para que a produo, seja agrcola ou pecuria, se d segundo o nvel tcnico atingido.4

- Andrade, Assistncia tcnica, extenso rural e a pequena produo: uma proposta de ajustamento, p. 10

5

- Marx, O Capital, liv. I, vol. 02, p. 713, assim define a composio tcnica do capital ... determinada pela relao entre a massa dos meios de produo e a quantidade de trabalho necessrio para eles serem empregados

O modelo assim definido ressalta em algumas conseqncias junto ao pequeno produtor. Estas so mais fortes nas regies onde o crdito e a tecnologia se concentram e, por conseqncia, em menor intensidade no Norte e Nordeste. Em 1.980 o volume de recursos aplicados no crdito rural pelas instituies financeiras j havia iniciado uma trajetria de queda que foi se agravando anualmente (grfico 01). A poltica monetria tornou-se mais contracionista em 1.981, reduzindo o montante aplicado pelo SNCR em 13% em relao ao ano anterior. Essa tendncia foi interrompida apenas em 1.985 quando o governo corrigiu os VBC (Valor Bsico de Custeio) e elevou os limites de financiamento dos principais produtos de consumo interno, visando estimular a produo agrcola.6 De fato, o saldo das aplicaes do SNCR em 1.980 foi cerca de 04% inferior ao observado em 1.979, apesar de continuar elevado (em torno de US$ 31 bilhes). Contudo, esse ligeiro declnio indicava que o Sistema no seria sustentado nos anos 80, quando se considerava cada vez mais necessrio o controle dos gastos pblicos, da poltica monetria, e, consequentemente, da inflao. A desacelerao do crescimento econmico estava prevista no diagnstico do III Plano Nacional de Desenvolvimento (1.980 / 1.985), sinalizando o corte do crdito ao setor produtivo no decorrer do qinqnio. A dvida externa brasileira havia crescido cerca de 8,0% de 1.979 para 1.980 e a inflao estava beirando a casa dos 100% anuais. Ao mesmo tempo, a crise energtica agravava os problemas relacionados com a balana comercial, com um dficit de US$ 2,8 bilhes em 1.980. A sada apontava para a reduo das importaes e para o aumento das exportaes brasileiras, visando evitar o agravamento do desequilbrio. Decidiu-se ento que a produo das culturas exportveis (caf, cacau, soja, laranja e acar, principalmente) deveria ser estimada. Consequentemente, a presso sobre o crdito rural aumentou.

6

-Segundo Servilha (l994) os mini e pequenos produtores passaram a receber 100% do VBC e os mdios e grandes 80%.

Evitando financiar a agricultura atravs de emisses (de ttulos ou moedas), que poderiam pressionar o j elevado dficit pblico (6,7% do PIB em 1.980), o Governo decidiu aumentar o percentual das exigibilidades sobre os depsitos vista, em l.980, passou de 17% para 20% (resoluo 671 do BACEN). Espera-se, com isso, que a presso por crdito fosse dividida entre o setor pblico e privado. Entretanto, como o saldo dos depsitos vista reduziu de 8,4% do PIB em 1.979 para 7,4% em 1.980 (Tabela 01), o aumento do percentual das exigibilidades foi insuficiente para aumentar a participao das aplicaes compulsrias dos bancos no crdito rural. Diferentemente, segundo Servilha (1.994), houve reduo de 11% para 10% na relao exigibilidade/crdito agrcola total de 1.979 para 1.980, o que resultou na participao do crdito rural. Diante disso, em 1.980 a responsabilidade pelo financiamento da agricultura ficou com os bancos oficiais. Contudo, o vinculo contbil existente entre esses bancos e o Tesouro Nacional fez com que a presso decorrente do financiamento agrcola acabasse nas mos da Unio, que continuou o autofinanciamento atravs de emisses monetrias. Em 1.981, o percentual das exigibilidades novamente alterado de 20% para 25% dos depsitos vista, atravs da Resoluo BACEN n. 698 de 17 de junho. Apesar disso, os recursos aplicados no crdito rural registraram quedas sucessivas naquele ano, em 1.982, 1.983 e em 1.984 de -13,27%, -3,17%, -24,52% e 38,92%, respectivamente (Tabela 02). Em 1.984 a relao depsitos vista / PIB chegou a apenas 3,3%. A deteriorao dos depsitos deveu-se em parte ao avano da inflao que saltou dos 110% anuais em 1.980 para 223% em 1.984. Para se precaver das perdas inflacionarias, o pblico

TABELA I RELAO DE DEPSITOS VISTA/PIB, E DVIDA PBLICA FEDERAL/HAVERES FINANCEIROS TOTAIS-(%)Ano 1.980 1.981 1.982 1.983 1.984 1.985 l.986 l.987 1.988 1.989 1.990Fonte: Servilha (1.994)

Dep.Vista / PIB 7,4 7,5 5,9 3,9 3,3 3,7 9,0 3,5 1,8 1,0 2,0

Dvida Pb./ total haveres 19,5 28,7 32,4 36,7 37,9 42,5 48,3 54,2 42,5 53,5 ND

TABELA II CRDITO RURAL RECURSOS APLICADOS (1.980/1.992)Ano 1.980 1.981 1.982 1.983 1.984 1.985 1.986 1.987 1.988 1.989 Cr$ mil 130.947.272 113.577.943 109.985.769 83.025.027 50.712.476 72.316.544 107.836.696 85.007.886 59.986.026 54.777.478 Variao Anual -4,37 -13,27 -3,17 -24,52 -38,92 42,60 49,11 -221,17 -29,44 -8,69 ndice 100 86 83 63 38 55 82 64 45 41 US$ milhes 26.305,l9 22.815,97 22.094,36 16.678,39 10.187,32 14.527,22 21.662,65 17.076,71 12.050,22 11.003,91

31.291.700 32.275.520 35.799.339 Fonte: BACEN, 1993.

1.990 1.991 1.992

-42,87 3,l7 10,91

23 24 27

6.285,99 6483,63 7.191,5l

Obs.: Os valores nominais foram deflacionados pelo IGP/DI, da mdia para a ponta, a valores de 1.992 e convertidos pelo dlar (US$) mdio do mesmo ano. evitava os depsitos vista, no remunerados, optando por aplicaes financeiras indexadas. Nota-se que, em 1.985 e 1.986, o crdito rural apresentou sinais de recuperao, atingindo o crescimento real de 39,46% e 54,61%, respectivamente. Parte desse movimento explica-se pelas medidas implementadas pelo Governo para reverter a queda de 8,0% da safra 1.985/86, como correo dos preos mnimos e do VBC dos produtos da cesta bsica. A monetizao da economia com a queda da inflao provocada pelo Plano Cruzado, tambm contribuiu para o crescimento das vista, 306,%, no mesmo perodo.7 Entretanto essa fonte do crdito rural no foi sustentada. De 1.986 para 1.987 a queda no volume aplicado chega a 22,32%; em 1.988 registra-se nova baixa de 29,73%. Esse movimento continua em 1.989, com a poltica ortodoxa implementada pelo Plano Vero e em 1.990, atingindo um decrscimo anual de 8,48% e 42,86% respectivamente. Com esses resultados o crdito rural perdeu a caracterstica de principal instrumento de poltica agrcola do Pas. Os recursos alocados pelo SNCR caem para o patamar do incio dos anos 70, quando o Sistema recm criado alocava cerca de US$ 6,0 bilhes. Existem outros motivos que explicam a reduo das aplicaes dos bancos no crdito rural, alm da queda dos depsitos vista. Servilha (1.994:166) relacionou alguns deles entre os quais: operaes de crdito rural. A base monetria registrou um aumento de 293,% de 1.985 para 1.986 e os depsitos

7

- Abreu, Marcelo P. (1990), p.412.

a) b) c)

reduo da participao das autoridades monetrias na concesso do crdito rural (...); limitao dos nveis de adiantamento, com uso mais intensivo de recursos prprios por parte dos agricultores; e, gradual aproximao dos custos dos emprstimos at ento altamente subsidiados com os custos vigentes no mercado financeiro.

A esses, podem se adicionar outros, de carter oramentrio e institucional, que alteraram o relacionamento entre o Tesouro e as autoridades monetrias no decorrer dos anos 80. Em 1.988, com a promulgao da Nova Constituio, a reforma oramentria foi concluda, devolvendo ao Congresso Nacional poderes para examinar, emitir parecer e emendar o Oramento Geral da Unio. A Constituio de 88, tambm proibiu a emisso de ttulos da dvida pblica para financiar a iniciativa e o remanejamento de verbas oramentrias sem indicao das fontes dos recursos que devero complementar gastos adicionais no especificados na Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO), criada especificamente para orientar a elaborao da lei oramentria anual. Dentre os avanos relativos s questes oramentrias tratados na Constituio atual, tambm se incluiu a necessidade de cada rgo da administrao direta e indireta encaminhar o demonstrativo das receitas previstas e despesas fixadas anexo ao Oramento das Empresas Estatais, junto com o da Seguridade Social, o Fiscal e o das Operaes de Crdito, passou a compor o Oramento Geral da Unio.8 Mediante Resoluo do Conselho Monetrio Nacional (CMN) n. 1.188, de 05 de novembro de 1.986,9 foi criada a Poupana Rural, a qual o Banco Central (BACEN), em 12 de fevereiro de 1.987 autorizou o Banco do Brasil S. A. a operacionalizar a referida caderneta. Inicialmente, a poupana rural seria captada apenas pelo Banco do Brasil (BB). Depois, atravs da Circular n. 1255, de 17 de novembro de 1.987, o Banco Central estendeu a modalidade de captao de recursos ao Banco da Amaznia (BASA), ao extinto Banco Nacional de Crdito Cooperativo (BNCC) e ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

8

9

- Oliveira, Jader Jos de, (1.995), p. 53. - Dirio Oficial da Unio (DOU), de 08 de setembro de 1.986.

Os saldos existentes nas contas de poupana rural dos bancos autorizados pelo Banco Central a atuarem neste segmento esto sujeitos ao encaixe obrigatrio de 15,% e s exigibilidades de aplicao em crdito rural, equivalentes a no mnimo 65,%. Segundo a Resoluo n. 1.898 do BACEN, de 29 de janeiro de 1.992, os recursos remanescentes podem ser destinados para: a) aquisio de ttulos da dvida pblica federal, estadual, municipal e do Banco Central do Brasil; b) crdito agrcola complementar; c) depsitos interfinanceiros; d) emprstimos em geral, inclusive das carteiras comercial e industrial, por prazo mnimo de 180 (cento e oitenta) dias; e) operaes de capital de giro para empresas que industrializem produtos agropecurios, e f) financiamento para habitao rural. Em 1.987, os recursos da poupana rural j respondiam por 24% das fontes do crdito rural e no ano seguinte tornaram-se mais representativos do que os recursos do Tesouro Nacional (24,5%) e os obrigatrios (35,8%), tendo atingido 36,2% (Tabela 03). A medida que as fontes Tesouro e obrigatrias eram exauridas, aumentavam as presses sobre a caderneta de poupana rural que, em 1.989, lastreava mais da metade dos recursos do crdito rural. Note-se que em 1.988 foi concluda a reforma oramentria, o que aumentou, tanto o controle sobre o dispndio, como sobre a remunerao dos recursos alocados no Tesouro. Em 1.988, tambm ocorreu a primeira anistia constitucional aos produtores rurais, equivalente correo monetria incidente aos seus financiamentos, o que contribuiu para aumentar o risco do crdito rural e fazer com que os bancos reavaliassem suas carteiras agrcolas. Embora no se possa afirmar que foi apenas reflexo de 1.988, sabe-se que o episdio tambm fez com que as aplicaes das fontes obrigatrias e livres cassem dos 35% que haviam representado em 1.988 para 22% em 1.989, ano em que o Plano Vero implementou uma poltica monetria bastante ortodoxa, elevando os juros reais e, consequentemente, o risco dos emprstimos agrcolas. O simples fato da caderneta de poupana substituir as fontes tradicionais de recursos do crdito rural seria suficiente para explicar o aumento do custo dos

emprstimos agrcolas. O Plano de Safra 1.994 /95, por exemplo, fixou que os recursos da poupana rural seriam aplicados da seguinte forma:

a. a parte compulsria (no mnimo 65%), aplicados no financiamento apequenos produtores, seria remunerada por 50% da Taxa Referencial de Juros (TR) mais juros de 6,0%; se os emprstimos fossem aos produtores enquadrados como os demais, os encargos financeiros seriam a TR mais juros de 11% ao ano (11,5% quando o produto financiado fosse cana-deacar); e b. a parte livre (at 20%) aplicada a juros de mercado.

TABELA III CRDITO RURAL SALDO DAS APLICAES DA POUPANA RURAL 1.987/1.992(US$ MILHES)Ano 1.985 1.986 1.987 1.988 1.989 1.990 1.991 l.992 Fonte: BACEN. CRDITO TOTAL 36.611,43 54.594,28 40.643,72 30.369,02 27.732,20 15.843,42 16.345,92 16.758,82 POUPANA -0-09.706,06 11.004,00 14.314,76 3.170,15 5.278,90 8.374,13 % -0-023,88 36,23 51,62 20,01 32,29 49,97

Obs.:

1) Os valores nominais foram corrigidos pelo IGP/DI a valores de l.992 e depois convertidos pelo dlar (US$) mdio do mesmo ano;

2) Os saldos das aplicaes normalmente superaram as liberaes ocorridas no mesmo ano.A Constituio de 88 determinou que 3,0% dos 47% relativos ao produto da arrecadao dos impostos sobre a renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados da Unio seriam aplicados em programas de financiamento do setor produtivo das Regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste.10 Com a Lei n. 7.827, de 27 de setembro de 1.989, o artigo 159, que criou a contribuio citada, foi regulamentado, dando origem aos chamados Fundos Constitucionais do Nordeste (FNE), do Norte (FNO) e do Centro-Oeste (FCO). Os dois primeiros passaram a ser operacionalizados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e pelo Banco da Amaznia S.A (BASA), respectivamente. O FCO, em razo da inexistncia de um banco de desenvolvimento da Regio Centro-Oeste, ficou a cargo do Banco do Brasil.11 Segundo Afonso et.alli (1.993), em 1.993, os recursos oriundos dos Fundos Constitucionais destinados ao financiamento agrcola somaram US$ 772 mil, cerca de 0,04% dos recursos livres. Entretanto, somando-se todos os recursos aplicados no crdito rural atravs de fundos, chega-se ao percentual de 5,52%, em 1.993. A Lei n. 8.023, de 12 de abril de 1.990, que alterou a legislao do Imposto de Renda sobre o resultado da atividade rural, previu que os contribuintes que mantivessem depsitos vinculados ao financiamento agrcola poderiam reduzir em at 100% da base de clculo do imposto, o saldo mdio ajustado desses depsitos. Coube ao Banco Central regulamentar as condies de captao e de aplicao desses recursos pelas instituies financeiras, que esto expressas no Manual de Crdito Rural (MCR), captulo 06, seo 03. Os bancos podem receber esses depsitos desde que sejam da seguinte forma: a) sem emisso de certificado; b) modalidade nominativa intransfervel; e c) prazo e remunerao livremente ajustados entre as partes. Dessa forma, as pessoas fsicas e jurdicas com atividade rural estavam sendo beneficiadas com o incentivo fiscal, com os rendimentos das aplicaes financeiras e com

10 11

- Art.: l59, inciso I, alnea c. - Afonso, Perters & Furoni (l993).

o retorno do depsito em forma de crdito rural. De acordo com o documento, os recursos devem ser prioritariamente aplicados em financiamentos que se enquadrem nas normas fixadas para as exigibilidades (60% no mnimo), prevendo que os emprstimos sob condies de aplicao dos recursos livres no podem ultrapassar 40% dos depsitos vinculados. Com isso, em 1.992 e na maior parte das operaes financiadas com esses recursos os juros no ultrapassavam 12,5% ao ano mais a variao da TR. Caso a instituio financeira no consiga aplicar os recursos sob essas condies, resta-lhe duas alternativas: 1) 2) repassar o saldo outra instituio, atravs da utilizao do depsito recolher os recursos ao Banco Central, sem qualquer remunerao por um perodo no inferior a 30 dias. Entre as fontes de recursos do crdito rural que passaram a figurar no MCR 6-1, a partir de 1.990 encontra-se a caderneta de poupana livre. Contudo, resolveu-se estancar essa fonte, uma vez que mant-la poderia reduzir ainda mais os recursos necessrios ao financiamento habitacional. Alm disso, as presses do setor rural por crdito e a inexistncia de fontes de recursos estveis para o financiamento da agricultura provavelmente atingiram o percentual de exigibilidade fixado sobre a poupana livre, elevando-o. Mediante o contexto acima exposto pode-se afirmar que a histria da agricultura brasileira discutida por vrios autores sob pontos de vista bastante divergentes: h aqueles que dizem que a dcada de 80, foi de grandes vitrias devido a intensificao da modernizao no campo apoiada pela agricultura empresarial, sustentada pela propriedade privada e viabilizada pela integrao de grandes volumes de capitais financeiro, comercial, industrial e por fim agrcola. H, por outro lado, aqueles outrora defensores da pequena produo, da reforma agrria, defensores de uma sociedade mais justa, os intelectuais e tecnocratas que reagem de forma poltica, dizendo que essa modernizao interfinanceiro vinculado ao crdito rural (DIR)12, ou

12

- DIR: Depsito Interfinanceiro vinculado ao crdito rural uma conta de aplicao dos bancos comerciais particulares no Banco do Brasil forma do Certificado de Depsito Interbancrio (CDI), com diferena de o prazo de resgate do DIR de no mnimo l80 dias, enquanto que o CDI vence em 01 dia.

chegou to rapidamente que fra entendida como anacrnica, e, que resultaria em uma alternativa no mais to vivel de reorganizao dos setores produtivos da agricultura. Quando se faz uma anlise, a grosso modo, do perodo de l.980 a l.984, esse enfatizado como um perodo de crise e retrao, Martine (l.99l), o relata assim: O padro de financiamento baseado no crdito fortemente subsidiado, fraquejou no final da dcada de 70, e entrou definitivamente em crise a partir de 1.980. Entre 1.985 e 1.987, as aplicaes totais na agricultura e pecuria caram, de 250 bilhes para 124 bilhes de cruzados, em valores constantes. O crdito para investimento foi o mais afetado 13. Assim, a agricultura como um todo perdeu o tratamento preferencial que desfrutava em suas relaes com o setor financeiro. O ltimo ciclo militar aps o golpe de 1.964, o Governo Figueiredo (79/85), dizia que na sua meta de trabalho, a agricultura seria prioridade, principalmente s que destinavam-se ao mercado externo, mesmo havendo percas nas relaes de trocas. Entretanto, aps a moratria do Mxico, com a crise de 1.982, a situao brasileira agravou-se ainda mais, pois houve uma queda no fluxo de capitais externos ao pas, e com isso veio os arrochos salariais e cortes nas importaes, a fim de reduzir o consumo interno, liberar os excedentes exportveis na busca de gerar saldos comerciais, fazendo frente aos servios da dvida externa, onde se constata pelas diversas cartas de inteno enviadas ao FMI - Fundo Monetrio Internacional. Fato importante, tambm a retirada dos subsdios ao crdito agrcola que diziase ter encontrado j uma estrutura tecnologicamente forte e capaz de reagir aos estmulos de mercado, onde o Estado passou a manipular sistematicamente os preos mnimos, no incio da dcada de 80. Contudo, um fator que teria favorecido a manuteno de taxas baixas, porm com um razovel crescimento do produto agrcola foi a incorporao de novas reas com o plantio de soja, que valorizou o capital via valorizao da terra, como a necessidade de dar outros e novos usos s terras supervalorizadas do sul do Pas. No entanto, com essa aparente maturidade do setor agrcola nessa poca foi de carter potencial e no real, visto que a retirada do crdito subsidiado genrico foi substitudo pelo crdito dirigido ainda mais subsidiado, isto , apesar de no exatamente

13

- IPLAN/CAA Dados conjunturais, maio 1.987, p.19.

haver uma eliminao do tratamento creditcio prefencialmente, seno maior seletividade dos beneficirios que paradoxalmente, passaram a ser mais subsidiados que antes .14 Observando-se a seletividade desses beneficirios, ver-se que os produtos de maior peso no desempenho favorvel da agricultura nessa fase so aqueles que dispunham de maior mecanismo de valorizao, incentivos e subsdios, alm do fator crdito e de preos mnimos: Pralcool), laranja, cacau soja, e o cana-de-acar (protegida pelos mltiplos mecanismos do algodo, todos em mdia favorecidos e beneficiados por

mecanismos especiais relacionados aos ajustes externos ou fatores externos. Com isso, observa-se que o perodo correspondido entre l.980 a l.984, o Governo praticou uma poltica agressiva de produo, onde houve a conteno do crdito, assim a rentabilidade de determinados segmentos, sejam empresariais ou agro-industriais foram conseguidos via o controle de preos. Aps o primeiro qinqnio da dcada de 80, marcado por recesso e crise; em 1.985, no Governo Sarney d-se incio recuperao dos gastos governamentais aliado ao crescimento das contas relativas aos estoques reguladores e s aquisies feitas pelo Governo Federal para dar sustentao poltica de preos mnimos. Segundo Buainain (l.987), A poltica de crdito rural tornou-se claramente expansiva, com um aumento real de quase 30% em relao ao ano anterior. Os valores bsicos de custos foram reajustados, em mdia 20% em termos reais, espelhar melhor os custos de produo. Os preos mnimos (...) foram considerados pelos prprios produtores como adequados e remuneradores. Ao lado dessas medidas de estmulo produo procurou-se interferir no padro de crescimento anterior, o qual favorecia culturas mais ligadas balana comercial e os grandes produtores e empresas rurais, mostrando que estava havendo uma inflexo na orientao da poltica agrcola para 85 / 86 em relao aos anos anteriores. Dessa forma anteriormente citada que pode ver-se a preocupao do Governo para restabelecer condies diferenciadas concesso do crdito rural, favorecendo, assim os pequenos produtores e a produo de culturas alimentares bsicas, como: arroz,

14

- Delgado (l.988).

milho, mandioca, e feijo, indicando que a poltica agrcola voltava a crescer de forma acelerada. Como se explica que aps 10 anos, onde produo e produtividade se encontravam quase que estagnadas, comeam abruptamente a sair as supersafras e/ou quase supersafras, j que o fato para mudanas positivas eram bastante desfavorveis numa conjuntura externa ? Para mostrar como foi conseguido tal aumento e suas conseqncias, Delgado (1.988), publica em seu trabalho alguns pontos bastante pertinentes, onde o autor assim se expressa: ... o Programa Social do primeiro ano da Nova Repblica foi marcado por um trabalho na melhoria da situao de nutrio e implementao do Plano Cruzado vindo incrementar a demanda interna, onde houve o incio da recuperao econmica, sustentadas pelos incentivos exportao industrial, dinamizao do emprego urbano, seja na indstria, comrcio ou servios que impulsionou a demanda interna de produtos agrcolas, mediante um planejamento que tivesse necessidade de recuperar a oferta interna de bens-salrio, passando assim a combinar fatores como a exportao de produtos agropecurios e agroprocessados, com a necessidade de atender melhor a demanda crescente do mercado interno. Esta adoo voltada para o mercado interno foi feita atravs da garantia de preos para os produtos mais elevados da cesta bsica, taxas de juros reais negativas para o crdito rural, aumento do volume de crdito disponvel para o custeio e investimento rural e sustentao de perdas de safras via PROAGRO programa de proteo ao crdito agropecurio. E, o resultado dessa bateria de medidas produtivas foi o anncio e a realizao de uma supersafra, recuperando o mercado interno e expandindo o consumo. O Plano Cruzado, em particular, aumentou o poder aquisitivo da populao trabalhadora a ponto de obrigar a importao de produtos que, aparentemente sobravam, pois se expandia o consumo; contribuindo para ajudar a aumentar a oferta da safra seguinte, contudo, com a nova recesso industrial a situao do assalariado tornou-se mais desfavorvel, a qual veio acompanhada do recrudescimento inflacionrio e de uma nova

crise que obrigava o Governo a adotar medidas tomadas na primeira crise, como o encarecimento do crdito e sustentao de uma poltica de preos ativos. Enquanto isso, no setor externo, j no final da dcada de 80, pela primeira vez desde as crises existentes, o processo se inverteu devido a uma conjuntura climtica na Amrica do Norte, onde houve quebra das safras e estas quebras foram altamente favorveis, tanto em termos de volume global de produo como os seus impactos sobre o saldo comercial. Em 1.990, o Governo Federal decreta um outro plano de combate o inflao, no incio do ano o Plano Collor, em maro que atingiu mais uma vez a comercializao da safra, onde de um lado, deixou a maioria dos agricultores com dificuldades para dar continuidade s atividades pertinentes a todas as fases do cultivo e de outro, a correo dos financiamentos rurais bastante acima dos preos mnimos impedindo que os produtores rurais saldassem suas dvidas, com os recursos financeiros bloqueados. Em agosto do mesmo ano, anunciado pelo Governo as Diretrizes de Poltica Econmica para a Agricultura onde estava enunciado a nova poltica agrcola do Governo Collor, que constava basicamente de: uma nova poltica de preos; uma nova poltica de investimento; um programa de competitividade agrcola; um programa de regionalizao da produo. Contudo, poucas foram as medidas implementadas com referncia s novas regras para o crdito rural e para os preos mnimos. Referindo-se ao crdito rural, foi mantida a mesma sistemtica anterior, o qual corrigia os emprstimos rurais pela inflao passada e de fixar os limites de recursos emprestados em funo do tamanho do mdulo rural e renda do produtor, o que facilitou ao sistema bancrio praticar uma taxa mdia de juros para os emprstimos rurais bem mais elevada que nos anos anteriores. Com relao aos preos mnimos, Graziano da Silva (1.996:l38), diz que as alteraes foram mais profundas: houve uma regionalizao, de modo a descontar o valor do frete entre os locais de produo e de consumo. O objetivo dessa regionalizao era evitar as aquisies significativas por parte do governo e para simultaneamente estimular a transferncia das agroindstrias para as proximidades das reas produtoras. Tambm foi eliminada a correo mensal dos valores fixados, mantendo-se apenas a correo com base na variao da inflao passada na poca da aquisio. A no-indexao dos preos mnimos contribuiu para

derrubar ainda mais os preos pagos aos produtores ao longo do ano de 1.990, levando a uma situao paradoxal: queda na produo e queda nos preos recebidos.15 A Nova Poltica Agrcola, do governo Collor, foi completada por uma srie de atos administrativos que terminaram por desmontar o que restava do precrio e combalido aparelho governamental para o setor. A Comisso de Financiamento da Produo - CFP, CIBRAZEM- Companhia Brasileira de Armazenamento e COBAL- Companhia Brasileira de Alimentao, foram fundidas na CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento, subordinada de fato e agora de direito ao Ministrio da Economia, Fazenda e Planejamento; foram instintos o Instituto do Acar e lcool - IAA, o Instituto Brasileiro do Caf - IBC, a Empresa Brasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural EMBRATER e o Banco Nacional de Crdito Cooperativo, sem que suas atribuies fossem transferidas para outros rgos.16 Em resumo, Graziano da Silva (1.996:140),afirma que a nova poltica agrcola consubstanciada no intempestivo desmonte do aparelho estatal voltado para agricultura, ao lado de uma poltica de preos desenhada na verdade para evitar uma interveno governamental de peso, fosse no financiamento, fosse na aquisio de safra, revelou-se desastrosa j no seu primeiro ano. Foram os estoques de safras anteriores e das importaes feitas na poca do Plano Cruzado, aliados ao brutal quadro recessivo (desemprego, achatamento salarial, etc...), que impediram que a reduo da quantidade colhida na safra 1.990 / 91 resultasse em escassez no mercado. Evitou-se assim que a quebra de safra se traduzisse numa alta de preos; por outro lado, os baixos preos obtidos pelos produtores representavam um desestmulo ainda maior para o plantio da safra seguinte. O que houve na verdade foi que a nova poltica agrcola anunciada no primeiro ano do governo Collor, menos que uma opo ideolgica pelo mercado, foi premida pela

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- Como assinala a Retrospectiva da Agropecuria da CEA/FGV (1981:7), tambm contribuiu para essa queda dos preos agrcolas a tendncia declinante dos preos dos produtos exportados, agravada em 1.990 pela defasagem cambial, que afastou os exportadores do mercado, reduzindo a demanda. 16 - A Retrospectiva da Agropecuria do CEA/FGV (1.991:3) cita, por exemplo, que a extino do IBC provocou temporariamente a suspenso das exportaes de caf simplesmente porque no se sabia quem deveria emitir certificados de origem exigidos pelo Acordo Internacional do Caf, do qual o pas um dos principais signatrios.

crise fiscal do Estado Brasileiro. De fato, o desmonte, conjuntamente com enxugamento da mquina governamental deveu-se em muito falta de disponibilidade de recursos. Para os defensores do livre mercado e da reduo das interferncias do Estado na produo e no comrcio agrcola, o governo se precipitara nesta reverso de rumo das diretrizes para o setor rural. Argumentavam que o livre comrcio no funcionara antes porque os estoques que o prprio governo possua haviam sido vendidos a preos baixos para manter o tabelamento da cesta bsica, essencial poltica de controle inflacionrio. O teste de fato seria agora, na safra 1.991 / 92, quando os excedentes j tinham sido enxugados e os preos comeavam a reagir. Mas a expectativa de um choque agrcola, numa espiral inflacionria que retomava seu mpeto ascendente poderia ser explosiva. E o governo resolveu no pagar para ver, isto , o Governo Collor percebeu logo os riscos de repetio de uma safra inferior demanda domstica e inverteu a poltica agrcola em meados de l.99l, lanando um pacote agrcola que agradou os produtores, s que deixou uma grande dvida: at que ponto o Estado ter condies financeiras para continuar desempenhando esse papel nos anos futuros. Na verdade, essa nova poltica agrcola neoliberal, do Governo Collor representou o abandono das polticas agrcolas implantadas nos anos 80. Segundo Gasques & Villa Verde ( l.99l:359-60 ), a causa maior da reduo de recursos para a agricultura foi a poltica de estabilizao adotada a partir de maro de l.990 (...) Em substituio a emisso de ttulos,17o governo passou a aplicar recursos mediante o retorno de operaes anteriormente realizadas que se converteram em receitas sob a forma de amortizao de emprstimos. Essa nova sistemtica marcou todas as aplicaes em polticas agrcolas realizadas em l.990. Os autores enfatizam que contribuiram tambm para a reduo dos dispndios pblicos a sada do governo de algumas atividades e a maior seleo de beneficirios na utilizao dos recursos, quase sempre em detrimento dos pequenos e mdios produtores rurais, que vinham sendo beneficiados pela poltica de preos mnimos implantados aps l.985.1817

- At l.989, os financiamentos dos compromissos do governo federal eram realizados em grande parte atravs de ttulos pblicos federais no mercado e cuja participao no financiamento da despesa pblica neste setor foi de 84%(Gasques & Villa Verde, l99la: 359) 18 - Segundo Gasques & Villa Verde (l99la: 363), essas alteraes se deram da seguinte forma: na conta do trigo, os preos de venda aos moinhos foram reajustados de modo a reduzir os subsdios; as polticas de acar e caf sofreram reduo em decorrncia da privatizao das operaes de aquisio do acar para beneficiamento e exportao; e no

difcil imaginar que a modernizao da agropecuria brasileira, que tanto dependeu do Estado para os seus passos iniciais, possa continuar nos anos 90 com to pouco apoio; ainda que se alegue que grande parte das novas tecnologias de produtos sejam de origem privada como no caso das inovaes decorrentes das novas biotecnologias e da microeletrnica a base para sua adaptao/adoo em nosso pas tem que ser criada pelo Estado. No tem sido outro o papel dos institutos de pesquisas e das estaes experimentais mantidos pelo poder pblico em nosso pas, hoje quase que falidos ou totalmente sucateados. Pode-se concluir que a poltica de crdito rural com juros subsidiados no um instrumento eficaz de incentivo agricultura, isto , consegue resultados pequenos relativamente aos custos que acarreta para o Governo e para a economia. Esta caracterstica decorre do fato do crdito ser fungvel, isto , poder ser aplicado na atividade mais rentvel e no aquela atividade para a qual o emprestador a destinou. Isto significa que, se a agricultura necessita de incentivos, por causa da poltica cambial, da proteo tarifria aos insumos que compra, da pequenez e do nvel de renda insatisfatrio do mercado de alimentos, estes incentivos deveriam ser fornecidos atravs de polticas de preos e no polticas de juros subsidiados. A distribuio de crdito rural e, consequentemente, de subsdios , provavelmente, to ou mais concentrada do que a distribuio de terras e de riquezas. Assim, a utilizao do crdito rural como instrumento de incentivo agricultura tem efeitos perversos sobre a distribuio da renda. Esta caracterstica pode ser, em parte, corrigida pela elevao dos juros do crdito rural. Entretanto, no se deve esperar que a poltica bancria de distribuio de emprstimos possa ser utilizada, mesmo com juros mais elevados, para promover polticas de redistribuio de rendas. A poltica de redistribuio de renda deve se apoiar em outros mecanismos. A elevao das taxas de juros provavelmente aumentar a participao do sistema financeiro privado no financiamento rural. Entretanto, no Brasil, como em diversos outros pases do mundo, a presena do Estado no financiamento agricultura, assim como s pequenas e mdias empresas urbanas, parecem imprescindveis.caf, pela transferncia ao Fundo de Defesa da Economia Cafeeira das operaes de emprstimos para aquisio desse produto. Ainda segundo os autores, a reduo de dispndios efetivos no crdito se deve orientao de aplicar os recursos oriundos do Tesouro apenas com mini e pequenos produtores e suas cooperativas; e no caso dos preos mnimos, pela excluso dos grandes produtores e beneficiadores. Ale registrar, todavia, que isso o que pretendia a legislao vigor, no havendo todavia ainda evidncias empricas que comprovassem a sua efetividade.

Os subsdios agrcolas no podem ser mais responsabilizados significativamente pela expanso das contas monetrias do Governo. A extino imediata dos subsdios do crdito rural, mesmo que desconhecendo os limites e as dificuldades mencionadas em itens anteriores, no conseguiriam aliviar as contas monetrias do Governo em mais de 10%. O setor agrcola deveria ser poupado de contenes ainda maiores, ou de elevaes adicionais das taxas de juros, a fim de proteger o nvel de investimentos do setor e a produo agrcola corrente.

CAPTULO II CRDITO RURAL E O ESTADO DO ACRE

2.1 - Breve Histrico - JurdicoO Estado do Acre, com uma rea de l5.258.900 ha. ( quinze milhes, duzentos e cinqenta e oito mil e novecentos hectares ), foi incorporado ao territrios nacional atravs do Tratado de Petrpolis, celebrado em 17 de novembro de 1.903, com a Bolvia, e executado em 10 de maro de 1.904 pelo Decreto n. 5.161.

O Acre, aps ser incorporado ao Brasil, passou a Territrio e, por ltimo, a Estado, em 15 de junho de 1.962. Com o surgimento do Territrio, abrangido por reas adquiridas pelo referido Tratado, as terras do Acre, somente, em 1.912, vieram a ter disciplinamento jurdico, atravs da Lei n. 2.543-A, de 05 de janeiro de 1.912. Entretanto, para aplicar a Lei, no havia um rgo encarregado; o Governo no deu condies para seu cumprimento. O Decreto n. 10.105, de 05 de maro de 1.913, veio aprovar o novo regulamento de terras devolutas da Unio e, em seu artigo 3, reconheceu como legtimo os Ttulos expedidos pelos governos da Bolvia, do Estado do Amazonas e do Ex-Estado Independente do Acre, antes da fundao de cada departamento, em virtude da Lei n. 5.188, de 07 de abril de 1.904. Decorridos alguns anos, finda a 2a Guerra Mundial, sem haver, at ento, uma regularizao fundiria para as terras do Acre, surgiu o Decreto n. 9.760 / 46, que veio ratificar os compromissos assumidos pelo Brasil em Tratado ou Conveno de limites e esclarecer quais as terras que no seriam consideradas devolutas, enumerando-as no art. 5, alneas e e f, combinados com o seu Pargrafo nico. Para aplicabilidade do referido dispositivo legal, surgiram vrias dvidas, o que tornou-se motivo de estudo e consultas. O problema maior que as terras do Acre esto por registros imobilirios, com presuno juris tantum de domnio (* juris tantum concepo latina: Exprimindo o que resulta ou o resultante do prprio Direito, serve para designar a presuno relativa ou condicional, e que, embora estabelecida pelo Direito como verdadeira, admite prova em contrrio), cujas cadeias dominiais, levantadas e analisadas, no batem, na origem, com um documento legtimo que provem o destaque da terra do patrimnio pblico e, em conseqncia, face a quebra de elo, eram registros passveis de nulidade, cuja nulidade foi sanada com a Emenda 77 / 78, que surgiu aps o entendimento de que todos os imveis que se encontrassem nas condies estabelecidas pelas letras e e f do Decreto-Lei n. 9.760 / 46, na data de sua edio tinha domnio e, no posse. Trata-se de uma deliberalidade da Unio reconhecer o domnio por ocupao daqueles que se enquadram nas situaes previstas no referido dispositivo legal, com as

restries de seu Pargrafo nico e que comprove a ocupao e explorao do imvel, em 05 de setembro de 1.946. O Estado do Acre est situado dentro dos limites da Faixa de Fronteira de 150 quilmetros, zonas consideradas indispensveis defesa do Pas e em reas declaradas indispensveis segurana e ao desenvolvimento nacional de acordo com a Lei n. 6.634 / 79 e Decreto-Lei n. 1.164 / 71. A Superintendncia Regional/INCRA, a extinta Coordenadoria Regional da Amaznia, atravs de Comisses Especiais de Terras Devolutas da Unio, vem promovendo a discriminao de terras do Estado do Acre, cujo procedimento disciplinado pela Lei n. 6.383 / 76. Com base na referida lei, no trinio 1.977 / 79, foram criadas 22 Comisses Especiais no estado e discriminados 154 seringais, compreendendo uma rea de 3.0l9.054,1474 ha ( trs milhes, dezenove mil e cinqenta e quatro hectares, quatorze ares e setenta e quatro centiares). Quanto situao jurdica da documentao das terras do Acre, so considerados como legtimos os Ttulos Definitivos expedidos pelos Governos da Bolvia, do Estado do Amazonas e do Ex-Estado Independente do Acre, antes da fundao de cada departamento, em virtude da Lei n. 5.l88, de 07 de abril de 1.904, e reconhecido o domnio por ocupao dos detentores de imveis rurais que se enquadram nas condies estabelecidas pelas alneas e ou f do Decreto-Lei n. 9.760 / 46, de acordo com a Emenda-77 / 78. A Superintendncia Regional vem coordenando, controlando e executando a colonizao oficial do Estado do Acre, atravs de Projetos de Assentamento Dirigido PAD,s, nos municpios de Cruzeiro do Sul, Senador Guiomard, Plcido de Castro, Rio Branco e Sena Madureira, onde as reas destinadas aos projetos foram objetos de desapropriao.

2.2 Caractersticas da Pequena Produo Rural AcreanaA economia acreana era baseada no monoextrativismo gumfero, com uma estrutura global e complexa, se configurando em um longo processo histrico que tem incio com a

ocupao do espao geogrfico e econmico do Acre na segunda metade do sculo passado, sob a gide do capitalismo, quando o capital industrial j exercia seu domnio a nvel internacional. Este fato importante para entender a forma de processo de trabalho ali implantada, as relaes de produo, a estrutura fundiria, as oscilaes de desenvolvimento e estagnao da economia, bem como os movimentos demogrficos. Aliado forte presso da demanda externa, outro fator contribuiu para a ocupao das terras acreanas. As grandes secas que assolaram o Nordeste, aps l.877, vieram dificultar ainda mais a sobrevivncia da populao, na j decadente economia nordestina. Com isso, grandes levas de nordestinos, principalmente de cearenses, foram deslocados para a Amaznia, penetrando por territrios que o Brasil reconhecia como bolivianos e que mais tarde foram reivindicados tambm pelo Peru. A funo, que lhe foi atribuda na diviso internacional do trabalho, foi a de simples produtor e exportador de borracha natural, necessria, ento, ao desenvolvimento da indstria automobilstica dos pases centrais. extrao da borracha como atividade econmica fundamental, se desenvolve, em funo das necessidades do capital industrial e financeiro. Dentro dessa perspectiva todas as outras atividades, como o comrcio, os transportes, etc.., eram totalmente subordinadas atividade de extrao gumfera. Essa subordinao explica a enorme sensibilidade da atividade econmica em relao as flutuaes da atividade extrativista. Atividade que determinou do mesmo modo a organizao do espao e a integrao dele ao resto do territrio brasileiro via curso natural dos rios atravs dos quais o ento Territrio do Acre se comunicava com Manaus e Belm, centros gravitacionais e articuladores do extrativismo. As cidades acreanas foram fundadas s margens dos rios, em locais onde originalmente haviam os seringais. A agricultura no auge da economia da borracha no somente aparece como um subsetor absolutamente dependente, mas, sobretudo, como uma atividade secundria, cuja funo consiste em amortecer as flutuaes do ciclo extrativista, notadamente no que diz respeito ao abastecimento de alimentos para fora de trabalho em poca de recesso. Com isso resolvia-se, de resto, as dificuldades de caixa dos patres/seringalistas nesses perodos crticos. necessrio sublinhar ento que a produo de alimentos variava inversamente em funo da atividade extrativista. Como afirma Duarte (l.987:l6), (...)

Vrias frotas se encarregavam de fazer o escoamento da produo da borracha e abastecer os seringais de mo-de-obra, de mercadorias necessrias sua sobrevivncia e de instrumentos de trabalho. Vale salientar que pelo aviamento (fornecimento de gneros alimentcios), que definia a relao de produo essencial da borracha, o barraco (sede do seringal, residncia do administrador), fornecia tambm produtos agrcolas bsicos como arroz, feijo, farinha, que poderiam ser produzidos no Acre e no entanto eram importados. Podese resumir a questo de maneira seguinte: O produtor direto (seringueiro) no era agricultor e no devia exercer atividade agrcola. O espao rural, portanto, no tinha uma vocao agrcola, pois que a terra era considerada um suporte atividade extrativista. O valor da terra, destarte, estava associado ao fato de nela existir ou no seringueiras e castanheiras.19 A partir de l.876, os ingleses fizeram um trabalho de coleta e aclimatao de semente e experimentao da cultura da hevea fora da Amaznia, introduziram vrias plantaes racionais no Sudeste Asitico. Segundo Oliveira (l.982:32): A borracha racional uma agricultura tipicamente capitalista, organizada em moldes tcnicos e empresariais e com ganhos crescentes em produtividades. Representa uma interveno direta de capital produtivo na organizao da produo e como tal uma forma superior de volume e escala de produo. Com a entrada em produo dos seringais de cultivo racional no Sudeste Asitico, a produo asitica de borracha passou a superar a produo brasileira. Em l.9l2, a produo brasileira atinge a cifra mxima de 43.000 toneladas. Em l.9l3, a produo brasileira caiu para 39.560 t, enquanto que a produo da sia apontava 47.6l8 toneladas. No final da dcada, em l.9l9, nossa produo de borracha era de 34.285 toneladas contra 381.860 t. produzidas pela sia, segundo Teixeira (l.980:53). Isso foi o incio do declnio brutal e real da economia acreana, a qual se amparava em atividades ligadas ao extrativismo. Durante o perodo em que ocorreu a II Guerra Mundial, marcado por um perodo de retomada da atividade extrativista, onde a economia da borracha tem novo impulso. Com a ocupao da Malsia e Ceilo pelos japoneses, os pases aliados ficaram privados do fornecimento da borracha. Como essa matria prima havia se tornado indispensvel s

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- ACRE. Comisso Estadual de Planejamento Agrcola. Ncleo de apoio rural integrado (1.984: 05).

economias industriais, o capital industrial voltou a interessar-se pela borracha nativa produzida na Amaznia. Segundo Duarte (1.987:18): Em l.942, atravs do Decreto Lei 4.451, foi criado o Banco de Crdito da Borracha, com capital brasileiro e americano. Este Banco tinha as atribuies de estimular a produo e regularizar os preos e a comercializao da goma elstica. Esta regularizao era conseguida atravs do monoplio estatal da borracha, eliminando-se assim os intermedirios. Foi desenvolvido um plano de saneamento na Amaznia, com o auxlio da Fundao Rockffeler. Mais tarde, este servio se transformou no SESP Servio Especial de Sade Pblica. Para o recrutamento de trabalhadores em outras regies, a fim de suprir mo de obra os seringais desfalcados , foi criado o Servio Especial de Mobilizao de Trabalhadores para a Amaznia SEMTA, sendo substitudo pela Comisso Encaminhamento de Trabalhadores para a Amaznia CAETA. Foi um perodo de imigrao, dessa vez com interveno do Estado e com a finalidade de aumentar a produo gomfera como uma contribuio brasileira ao esforo de guerra dos aliados. Novamente, grandes contingentes de nordestinos foram transportados para o Acre e outras partes da Amaznia. Foram os chamados Soldados da Borracha, com muitas promessas e com muitas esperanas, se internaram nas florestas com a finalidade de extrair a borracha. Pensavam estar servindo Ptria, quando na verdade estavam servindo apenas aos interesses do capital. Com esse novo afluxo de nordestinos, no Censo de l.950, o Acre apresentou um acrscimo de 34.987 habitantes, com relao ao de l.940. Esse perodo de surto foi curto e uma vez terminada a guerra, iniciou-se um novo declnio da atividade de extrao da borracha na regio. a partir desse momento que comea a se estruturar a atual economia caracterstica do Acre. Desativaram muitos seringais e outros foram literalmente abandonados. Os soldados da borracha que constituiu-se de uma fora de trabalho excedente, vo de encontro a zona urbana perifrica de Rio Branco, visando dar incio a uma nova e pequena produo de alimentos e outros engrossam o cinturo de misria, aumentando o contigente populacional, produto esse, do fenmeno xodo rural. de

No final da dcada de 60 e na dcada de 70, o Estado buscou reorientar e a reordenar a economia via a implantao de assentamento e possibilitou o desenvolvimento do subsetor pecurio, expresso da nova frente capitalista. Com isso, a estruturao e a ocupao espacial no se deram em funo de uma necessidade do mercado interno, uma vez que a expanso da pecuria destinava-se exportao. terra foi lhe atribuda a funo de suporte da pecuria, sendo que, de resto, era objeto de especulao fundiria. Como conseqncia desse processo ocorre a expulso de pequenos extratores (seringueiros) que tambm eram pequenos produtores de alimentos. Isso originou um dficit na oferta de produtos alimentares e intensificou o xodo rural na dcada de 70. A prpria expanso de Rio Branco provocou a desapropriao de produtores antigos.20 A mudana da tradicional funo agro-extrativista do meio rural para uma funo pecuria no se acompanhou no sub-setor agrcola de um aumento de produo e nem produtividade, o que houve foi a liberao de mo-de-obra que aumentou o contigente migratrio para a cidade ou, que em parte foi recolocada nos projetos de assentamento; contudo a explicao da crise de alimentos se encontra no bojo desse processo de reestruturao agrria. Novas levas de imigrantes comearam a chegar no Acre, completando o quadro caracterstico da agricultura e da pequena produo de alimentos. Esses novos imigrantes provinham do Centro-Sul do pas, sendo agricultores em sua plenitude e detentores de conhecimentos tcnicos e com grande experincia agrcola, contudo esses trabalhadores rurais no detinham mais a posse de suas terras de origem. Consolida-se, assim, na etapa atual a pequena produo de alimentos como um componente fundamental no conjunto da economia, pelas suas funes de fomentadores de alimentos aos prprios produtores diretos; abastecimentos dos mercados urbanos; constituindo-se em um mercado consumidor de bens industriais fornecidos pelo comrcio; e, por ltimo, ser uma fonte de emprego que fixa o homem em seu espao rural. A pequena produo estadual constituda por uma organizao econmico-social, cultural e de ocupao do espao rural. Compreendida em termos de organizao social, a pequena produo uma forma de organizao produtiva no capitalista integrada a jusante e a montante ao resto da economia, pois a compreenso da relao que existe

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- CEDEPLAR. Migraes internas na regio Norte. O caso do Acre.(1.979) CEPA (1.984:06).

entre a pequena produo agrcola e o resto da economia permite a compreenso do papel da agricultura acreana, dos seus sistemas produtivos, da transferncia dos seus excedentes produzidos e da sua funo na economia global. Em se tratando de agricultura em geral e da pequena produo, em particular, o primeiro aspecto relevante na caracterizao o reduzido tamanho dos extratos de reas. Segundo o IBGE (Tabela IV) a metade (49,52%) dos estabelecimentos no Estado do Acre, tm menos de 100 hectares, e cobrem apenas 07,82% da rea agrcola total do Estado. Cumpre ressaltar tambm que, em relao s dimenses das reas de lavouras, 86,08% dos estabelecimentos tm uma rea de lavoura inferior a 05 hectares. (Tabela IV)

TABELA IV NMERO DE ESTABELECIMENTOS POR REA DE LAVOURA DO ACRESUPERFCIE EM HA Menos de 0l De 0l a menos de 02 De 02 a menos de 05 De 05 a menos de l0 Mais de l0 N. DE ESTABELECIMENTOS 2.431 6.579 9.735 2.296 734 % 11,l6 30,21 44,70 10,54 3,37

FONTE: IBGE. Sinopse Preliminar Censo Agropecurio-l.980

Na pequena produo, a fora produtiva fundamental a fora do trabalho que, em sua maioria proveniente do ncleo familiar, onde os instrumentos de trabalho so de carter privado; acontecendo o mesmo com a terra que tem esse carter de propriedade privada ou de posse particular, embora possa existir precariedade nesse aspecto. A utilizao de instrumentos de trabalho arcaicos como: o faco (terado), o machado, a enxada, a foice, etc., um bom reflexo do baixo nvel de desenvolvimento tecnolgico, muito embora esteja tornando-se crescente o uso de plantadeiras manuais, pulverizadores e mesmo a moto-serra acompanhada de pouca mecanizao agrcola. Os produtos agrcolas, oriundos da pequena produo so fundamentalmente aqueles que constituem a base da alimentao regional: feijo, milho, mandioca e arroz, os quais

so produtos de cultivo temporrio, acompanhados da carne bovina e alguns frutos. Definindo a pequena produo como sendo uma atividade produtora de alimentos. Segundo dados obtidos a partir da Sinopse Preliminar do Censo Agropecurio de 1.995 do total das reas de culturas permanentes e temporrias, 89,77%, correspondem, no Estado, s reas de lavouras temporrias, ao passo que 10,23% so correspondentes s reas de culturas permanentes. A pequena produo ocorre dentro do quadro de uma agricultura do tipo itinerante, cujo ciclo guarda uma estreita ligao com o clima tropical mido, isso significa que ao analisar o sistema de conservao do solo, esse reside na rotao ou ento, deslocamento sucessivo da rea de cultivo com repouso prolongado das reas j utilizadas. Assim, uma vez terminado o ciclo produtivo de uma rea, essa abandonada por um perodo que varia entre 06 08 anos, onde a natureza se encarregar, ento de reconstituir a capacidade produtiva, isto , a fertilidade do solo, ou simplesmente utilizada para o plantio de pastagens. A pequena produo de alimentos de uma importncia capital no conjunto da economia porque sob esse sistema que se organiza a agricultura acreana. Trocando em midos, a maioria dos produtores de alimentos agrcolas bem como os mais produtivos, quer dizer os responsveis pela quase totalidade dos volumes produzidos, so oriundos da pequena produo. Segundo a Comisso Estadual de Planejamento Agrcola - CEPA (l.984:l0 / 11), no relatrio: Problemtica do Pequeno Produtor Rural do Acre, analisa ainda mais em detalhes a funo da agricultura, que na prtica significa a pequena produo, afirmando que: 1- o sub-setor agrcola tem, via a pequena produo de alimentos, a funo de fornecer produtos de auto-consumo para a prpria fora de trabalho familiar. So os tradicionais produtos da chamada agricultura branca;

2- a pequena produo ocupa um lugar de destaque no Quadro de participaorelativa da Produo Interna Bruta Regional, contribuindo na gerao de produo fsica e, portanto, de renda e ocupao de mo-de-obra. Em relao ao PIB Regional, parece que este aspecto de ocupao de mo-de-obra primordial na medida em que parte dos volumes produzidos so destinados prpria reproduo da fora de trabalho, atravs do auto-consumo. Esse fato

pode no aparecer em uma simples quantificao dos nveis de renda monetria regional, calculados a partir dos volumes comercializados. Portanto, um dos fatores que traduz a importncia desse sub-setor a sua capacidade de absorver mo-de-obra, fixando-a no espao rural. Dados que ilustram esta questo, mostram que em l.970, a populao economicamente ativa no Estado do Acre estava distribuda da seguinte maneira: 66,68% no setor primrio; 6,17% no setor secundrio e 25,22% no setor tercirio.21 3- O sub-setor agrcola um mercado consumidor de bens industriais (roupas, instrumentos de trabalho, artigos domsticos, etc.,) fornecidos via comrcio urbano. A transferncia e apropriao de excedentes de valor criados pela pequena produo se explica globalmente pela relao entre o sub-setor agrcola e outros setores da economia, mas na prtica aparece na venda de produtos agrcolas e na compra de bens no agrcolas pelos produtores diretos. Um dos elementos importantes neste aspecto o atravessador ou marreteiro, assim os excedentes gerados pelos produtores diretos so transferidos a outros setores econmicos, bem como por exemplo ao comrcio. Em realidade a pequena produo participa grande medida no financiamento da atividade comercial do Acre. Os excedentes so transferidos a outras reas, zona urbana em detrimento da zona e do espao rural. Os excedentes tambm se transferem a outras classes sociais, escapando das prprias mos dos produtores diretos. conhecido que os intermedirios so agentes que desempenham um papel importante na articulao sub-setor agrcola / resto da economia. atravs deles alis, que opera a transferncia e apropriao dos excedentes criados pela pequena produo. A comercializao, via intermedirios, constitui portanto uma das caractersticas da pequena produo de alimentos. Seria errado considerar, entretanto, que os intermedirios, tm o exclusivo papel de comerciantes, quer dizer, de simples compradores ou mesmo vendedores de produtos. Na realidade os intermedirios tem outras funes no seio do sistema de organizao da pequena produo.

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- Assessoria de Planejamento e Coordenao. XIX Anurio Estatstico do Acre, l.980, p. 70

As principais funes dos intermedirios, entre outras que a de colonizao so as seguintes: a) Funo de banqueiro ou melhor de usurio, com efeito, no poucas vezes que o intermedirio empresta, adianta dinheiro na compra antecipada da produo aos produtores quando esses passam por momentos difceis (acidentes, doenas, etc.,). claro que eles o fazem cobrando juros elevados e com a certeza e aval de futuras transaes; b) Os intermedirios at certo ponto desempenham s vezes um papel de previdncia social, prestando servios tais com