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1 Siret 341 802 544 00054 APE 7219 Z Association loi 1901 agréée pour la protection de l’environnement Valence, 28 de janeiro de 2015 O impacto radiológico da mina de urânio da INB em Caetité (BAHIA/BRASIL) Descrição do CRIIRAD sobre a segunda missão a Caetité, com a FIOCRUZ e a CPMA Esta segunda missão recebeu apoio da “Medico International”. Autor: Bruno Chareyron, engenheiro físico nuclear, diretor do laboratório da CRIIRAD*. 0 / Introdução No Brasil, o urânio é extraído atualmente de uma mina operada pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil) a cerca de 40 km da sede do município de Caetité, Bahia. O CRIIDAD (Comissão de Pesquisa e Informação Independente sobre a Radiatividade) é uma ONG francesa, cujo objetivo é melhorar a informação e a proteção das pessoas contra os efeitos das radiações ionizantes. O CRIIDAD é independente do estado francês e da indústria nuclear, e dirige seu próprio laboratório com uma equipe de sete engenheiros e técnicos especializados no monitoramento de radiação. No decorrer do projeto EJOLT 1 , a FIOCRUZ 2 organizou uma "toxic tour" em Caetité, em junho de 2012. O CRIIRAD, que é integrante do projeto EJOLT, contribuiu com essa missão, educando as pessoas sobre o impacto da exploração de urânio e conduzindo atividades preliminares de monitoramento de radiações e coleta de amostras próximo à mina. Os resultados desta primeira missão estão apresentados no relatório CRIIRAD N° 12-87 (Outubro de 2012). 1 / Contexto e descrição das atividades realizadas de 7 a 11 de abril de 2014, em Caetité Uma segunda missão (de 7 a 11 de abril de 2014) foi organizada com o apoio da FIOCRUZ, Medico International, Comissão Paroquial de Meio Ambiente (CPMA) de Caetité, Comissão Pastoral da Terra (CPT-BA), comunidades locais de Caetité e da Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (Sra. Zoraide Vilasboas). O objetivo desta missão não era a realização de um estudo de impacto (o que exigiria muito mais recursos), mas organizar atividades de amostragem limitada, a fim de melhorar a capacidade das comunidades e dos trabalhadores no campo do monitoramento de radiações. É por isso que pessoas voluntárias participaram das atividades de amostragem e das sessões de treinamento. As atividades incluíram a coleta de amostras de águas subterrâneas e da chuva, o monitoramento da radiação gama e amostragem de solo superficial em áreas afetadas pelas atividades de prospecção e locais potencialmente afetadas pela deposição de poeira ou contaminação por infiltração. O objetivo era obter dados independentes, a fim de fazer comparações com as informações fornecidas pela empresa. As atividades estão apresentadas a seguir. * Tradução: Thomas Nugent. Revisão: Renan Finamore. O relatório original, em inglês, pode ser acessado em http://goo.gl/og5qoE . 1 Environmental Justice Organisations, Liabilities and Trade (EJOLT) (FP7-Science in Society-2010-1). . EJOLT visa melhorar as respostas políticas e apoiar a pesquisa colaborativa e ação sobre os conflitos ambientais por meio da capacitação de grupos de justiça ambiental em todo o mundo (www.ejolt.org). 2 A Fundação Oswaldo Cruz (também conhecida como FIOCRUZ) é uma instituição científica de investigação e desenvolvimento em ciências biomédicas localizada no Rio de Janeiro (Brasil). É considerada uma das principais instituições de pesquisa de saúde pública do mundo. Foi fundada pelo Dr. Oswaldo Cruz, um notável médico e epidemiologista. CRIIRAD Commission de Recherche et d’Information Indépendantes sur la Radioactivité Site: www.criirad.org Tel: + 33 (0)4 75 41 82 50 Fax: + 33 (0)4 75 81 26 48 E-mail: [email protected]

CRIIRAD Valence, 28 de janeiro de 2015 - api.ning.comapi.ning.com/files/-M5JLAFxn1Hn6wh7t*UjENPBsjM4ZhWunhtrCMG8... · abril e Sr. Marcelo Firpo (FIOCRUZ) no dia 10 de abril. Cada

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Valence, 28 de janeiro de 2015

O impacto radiológico da mina de urânio da INB em Caetité (BAHIA/BRASIL)

Descrição do CRIIRAD sobre a segunda missão a Caetité, com a FIOCRUZ e a CPMA

Esta segunda missão recebeu apoio da “Medico International”.

Autor: Bruno Chareyron, engenheiro físico nuclear, diretor do laboratório da CRIIRAD*.

0 / Introdução

No Brasil, o urânio é extraído atualmente de uma mina operada pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil) a cerca de 40 km da sede do município de Caetité, Bahia.

O CRIIDAD (Comissão de Pesquisa e Informação Independente sobre a Radiatividade) é uma ONG francesa, cujo objetivo é melhorar a informação e a proteção das pessoas contra os efeitos das radiações ionizantes. O CRIIDAD é independente do estado francês e da indústria nuclear, e dirige seu próprio laboratório com uma equipe de sete engenheiros e técnicos especializados no monitoramento de radiação.

No decorrer do projeto EJOLT1, a FIOCRUZ2 organizou uma "toxic tour" em Caetité, em junho de 2012. O CRIIRAD, que é integrante do projeto EJOLT, contribuiu com essa missão, educando as pessoas sobre o impacto da exploração de urânio e conduzindo atividades preliminares de monitoramento de radiações e coleta de amostras próximo à mina. Os resultados desta primeira missão estão apresentados no relatório CRIIRAD N° 12-87 (Outubro de 2012).

1 / Contexto e descrição das atividades realizadas de 7 a 11 de abril de 2014, em Caetité

Uma segunda missão (de 7 a 11 de abril de 2014) foi organizada com o apoio da FIOCRUZ, Medico International, Comissão Paroquial de Meio Ambiente (CPMA) de Caetité, Comissão Pastoral da Terra (CPT-BA), comunidades locais de Caetité e da Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (Sra. Zoraide Vilasboas).

O objetivo desta missão não era a realização de um estudo de impacto (o que exigiria muito mais recursos), mas organizar atividades de amostragem limitada, a fim de melhorar a capacidade das comunidades e dos trabalhadores no campo do monitoramento de radiações. É por isso que pessoas voluntárias participaram das atividades de amostragem e das sessões de treinamento. As atividades incluíram a coleta de amostras de águas subterrâneas e da chuva, o monitoramento da radiação gama e amostragem de solo superficial em áreas afetadas pelas atividades de prospecção e locais potencialmente afetadas pela deposição de poeira ou contaminação por infiltração. O objetivo era obter dados independentes, a fim de fazer comparações com as informações fornecidas pela empresa.

As atividades estão apresentadas a seguir.

* Tradução: Thomas Nugent. Revisão: Renan Finamore. O relatório original, em inglês, pode ser acessado em http://goo.gl/og5qoE. 1 Environmental Justice Organisations, Liabilities and Trade (EJOLT) (FP7-Science in Society-2010-1). . EJOLT visa melhorar as respostas políticas e apoiar a pesquisa colaborativa e ação sobre os conflitos ambientais por meio da capacitação de grupos de justiça ambiental em todo o mundo (www.ejolt.org). 2 A Fundação Oswaldo Cruz (também conhecida como FIOCRUZ) é uma instituição científica de investigação e desenvolvimento em ciências biomédicas localizada no Rio de Janeiro (Brasil). É considerada uma das principais instituições de pesquisa de saúde pública do mundo. Foi fundada pelo Dr. Oswaldo Cruz, um notável médico e epidemiologista.

CRIIRAD

Commission de Recherche et d’Information Indépendantes sur la Radioactivité

Site: www.criirad.org Tel: + 33 (0)4 75 41 82 50 Fax: + 33 (0)4 75 81 26 48 E-mail: [email protected]

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Mapa de algumas comunidades ao redor da mina de urânio da INB (GoogleEarth)

1.1 / Atividades de formação e de comunicação

Segunda-feira, 7 de abril de 2014

A sessão de treinamento de um dia ocorreu no Centro Paroquial em Caetité, com cerca de 30 participantes: representantes das comunidades rurais de Lagoa Real, São Timóteo, Maniaçu, Caetité; moradores que vivem perto da mina; Agentes Comunitários de Saúde; trabalhadores da INB; estudantes; uma representante das comunidades do Ceará (confrontadas com o projeto de mineração de urânio e fosfato em processo de licenciamento) etc.

O treinamento tratou do impacto da mineração de urânio na saúde e no meio ambiente e foi organizado em três seções:

1 / informação geral sobre radioatividade, os principais tipos de radiação, os efeitos das radiações ionizantes na saúde, princípios da radioproteção.

2 / apresentação geral sobre o impacto das atividades de mineração de urânio com base em estudos realizados pelo CRIIRAD na França e na África: impacto da prospecção, extração, britagem, problema dos rejeitos, sucata, resíduos etc.

3 / informações sobre o impacto específico da INB Caetité baseadas na missão preliminar do CRIIRAD, em junho de 2012 (Projeto EJOLT) e na análise de documentos adicionais fornecidos pela comunidade local.

O treinamento foi ministrado em inglês pelo Sr. Bruno Chareyron e traduzido para o português pelo Sr. Renan Finamore (FIOCRUZ).

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Imagem N° 1 / Atividades de treinamento, 7 de abril de 2014, no Centro Paroquial em Caetité

Terça-feira, 8 de abril de 2014 / Atividades de formação para os trabalhadores

Atividades de formação suplementares foram organizadas para os trabalhadores da mina de urânio, incluindo um treinamento sobre o uso de um monitor de radiação (Radex). Na parte da tarde, a estratégia de amostragem foi discutida com membros das comunidades rurais vizinhas à mina de urânio e o Sr. Lucas Mendonça, representante do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Micro Região (SINDMINE). O CRIIRAD explicou sua estratégia de amostragem e recebeu esclarecimentos dos moradores sobre a topografia, acessibilidade, etc.

9 e 10 de abril de 2014 / Atividades de formação associadas à coleta de amostras

As atividades de treinamento também ocorreram durante a coleta de amostras, realizada em 9 e 10 de abril. Sr. Chareyron explicou como usar um contador Geiger Müller e um cintilômetro, como selecionar amostras de solo e água etc. Devido à curta duração da missão, ocorreram atividades de formação também durante as refeições. Por exemplo, o uso do monitor de radônio RAMON foi apresentado aos membros da CPT-BA pelo Sr. Chareyron durante o jantar de quinta-feira, dia 10.

Graças ao apoio financeiro da Medico International, alguns equipamentos de monitoramento de radiação foram deixados nas comunidades para atividades de monitoramento adicionais: dois contadores Geiger Müller (RADEX RD 1503) e dois monitores de radônio eletrônicos (RAMON 2.2).

Sexta-feira, 11 de abril de 2014 / Debate público

A CPMA organizou um debate público "Mineração de Urânio: Riscos, Saúde e Ambiente", que aconteceu das 9h30min às 12h30min, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus Caetité.

Mais de 200 pessoas assistiram a este encontro, incluindo muitos estudantes do curso de mineração, da Universidade, o secretário municipal de Meio Ambiente, o Bispo da diocese de Caetité, e o ex-pároco local, padre Osvaldino Barbosa. O CRIIRAD fez uma apresentação de 40 minutos (em inglês, com tradução simultânea do Sr. Renan Finamore). Sr. Chareyron deu exemplos do impacto das atividades de mineração de urânio na França, África e Caetité e pediu mais transparência da INB na área de monitoramento do meio ambiente e no monitoramento da exposição dos trabalhadores.

O debate foi transmitido ao vivo pela rádio "Educadora Santana".

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Imagem N° 2 / Debate Público, 11 de abril de 2014, na UNEB, em Caetité

1-2 / Atividades de amostragem e de monitoramento de radiação local (9 e 10 abril de 2014)

A equipe responsável pela amostragem foi composta de 4 pessoas: Sr. Bruno Chareyron (CRIIRAD); Sr. Renan Finamore (FIOCRUZ), Sr. Lucas Mendonça (SINDMINE), Sr. João Batista (CPT-BA) no dia 9 de abril e Sr. Marcelo Firpo (FIOCRUZ) no dia 10 de abril.

Cada membro tinha uma função específica: condução e logística, localização com GPS, monitoramento de radiação gama, contato com os habitantes, tradução, coleta da água e do solo superficial etc.

Devido ao fato do equipamento profissional do CRIIRAD (DG5 gamma scintillometer) estar disponível apenas em 10 de abril (a bagagem não foi entregue no prazo pela companhia de aviação), o mapeamento da radiação gama foi menos eficiente do que o esperado (o contador Geiger Müller RADEX que a equipe pode usar é menos eficiente do que um cintilômetro profissional). Assim, a fim de realizar as tarefas previstas inicialmente, a equipe teve de executar algumas das medidas à noite, a fim de compensar o atraso na entrega do equipamento.

A equipe coletou 10 amostras de solo superficial e/ou sedimentos e 3 amostras de água.

A lista e as características das amostras é dada na tabela 1 (amostras sólidas, página 10) e na tabela 4 (amostras líquidas, página 13).

Abaixo uma breve descrição das atividades de amostragem:

Quarta-feira, 9 de abril de 2014

Em Gameleira, a INB conduziu atividades de perfuração intensivas durante o ano de 2013. A fim de determinar se o nível de radiação havia sido aumentado pelas atividades de perfuração, a equipe monitorou radiação natural de fundo nas imediações dos locais afetados e diretamente nos furos realizados. Amostras de solo superficial TS5 e TS6 foram coletadas em dois campos afetados pelo trabalho de perfuração na Gameleira (Imagens N° 3 e 4 na próxima página).

Uma amostra de água subterrânea (UW3) foi coletada em um poço perfurado pela INB na propriedade do Sr. Lúcio Fabio (Imagem N° 6, na próxima página). Este poço está localizado a jusante da área prospectada. De acordo com Sr. Fabio, a INB aconselhou-o a não beber mais a água, devido ao alto teor de urânio. O CRIIRAD decidiu coletar uma amostra desta água, a fim de avaliar o teor de urânio. Outros produtos químicos foram analisados a fim de obter resultados de referência que serão úteis caso a INB venha a explorar nova mina lá.

Em seguida, a equipe realizou o monitoramento de radiação gama e coletou amostras de solo superficial e sedimentos (TS8, TS9, TS10, TS11, TS12) na área entre Tamanduá e a mina a céu aberto. Este setor foi escolhido levando em consideração a direção do vento dominante. Amostras de sedimentos finos acumulados nas zonas de drenagem naturais na superfície do solo também foram recolhidas (Imagens N° 7 a 9, na página seguinte).

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Imagens N° 3 a N° 6 / Área de Gameleira impactada pelas atividades de prospecção de urânio

Monitoramento de radiação gama, imagem de um furo, reunião com moradores locais, coleta de amostra de água subterrânea.

Imagens N° 7 a N ° 9 / Área entre Tamanduá e a mina a céu aberto

Monitoramento de radiação gama, coleta de amostra de sedimentos TS9

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Imagem N° 10 / Vista da mina a céu aberto desde a cerca (CRIIRAD)

Imagem N° 11 / Vista da disposição de rejeitos e material estéril (CRIIRAD)

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A equipe também pôde visitar o posto de monitoração LR010, localizado perto de Tamanduá. Este posto inclui um monitor TLD (dosímetro termoluminescente) para o monitoramento da taxa de dose ambiente de radiação gama, um amostrador de ar (conectado à energia elétrica); equipamentos passivos para a coleta de poeira e água da chuva, monitores de radônio etc.

Imagem N° 12 / Posto de monitoração LR010, perto de Tamanduá

Quinta-feira, 10 de abril de 2014

Em 10 de abril, a equipe realizou atividades adicionais de monitoramento de radiação gama e amostragem:

A amostra TS 13 foi recolhida em uma pedreira, localizada entre Maniaçu e a mina da INB. Esta pedreira apresenta taxas de radiação gama muito altas (até 640 c/s com o cintilômetro DG5). Algumas ruas de Maniaçu são cobertas com material desta pedreira. Este material pode ter sido também utilizado nas construções locais.

Solo superficial TS 14 foi coletado nas imediações da Área 170. A Área 170 é a seção da indústria da INB, onde o concentrado de urânio (yellow cake) é produzido e embalado em tambores metálicos. O CRIIRAD pretendia verificar a existência de uma possível contaminação do solo com concentrado de urânio liberado pela chaminé da Área 170.

Monitoramento de radiação gama e amostragem de solo superficial (TS 15) ocorreram em Mangabeira, a cerca de 800 metros a jusante da disposição de rejeitos. Na entrada da propriedade em Mangabeira, além da estrada, foram monitorados valores de fluxo de gama maiores (420 c/s com o cintilômetro DG5) em cima de uma camada de argila, de cor laranja, depositada pela chuva justamente debaixo de uma árvore (Imagens N° 13 a 18, na próxima página). Esta situação pode dever-se ao fato do pó radioativo deslocado do depósito de material estéril ter sido depositado sobre as folhas da árvore, e, em seguida, ter sido carreado para baixo pela chuva, ficando depositado na parte inferior da árvore.

Nota: Durante a primeira missão nesta área (junho de 2012), o CRIIRAD pôde coletar uma amostra de solo contaminado no fundo do vale diretamente sob a influência do depósito de rejeitos e material estéril (amostra TS4 foi coletada da parte inferior da cerca, imagens N° 27 e 28, página 20). Mais tarde, a cerca foi movida para mais perto da estrada, de forma que durante a missão de abril de 2014 não era mais possível acessar diretamente a área contaminada, onde a amostra TS4 tinha sido recolhida.

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Imagens N° 13 a N° 18 / Mangabeira, coleta de amostras de solo TS 15 (abril de 2014)

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Mais tarde, na noite de 10 de abril de 2014, a equipe decidiu procurar um poço artesiano localizado sob a influência do depósito de material estéril e rejeitos, a fim de coletar amostra de água subterrânea. A equipe teve que fazer muitas tentativas, a fim de obter uma amostra de água subterrânea no aluvião do Riacho da Vaca a jusante da mina. De fato, não foi possível obter amostras em Mangabeira (propriedade da INB), em Varginha (sem acesso aos poços, a população local nos disse que a água estava sendo fornecida por caminhão) e na Fazenda Capoeira (o agricultor não estava lá).

Eventualmente, obtivemos uma amostra de água subterrânea (amostra UW4, imagens N° 19 e 20, abaixo) em um tanque na localidade de Pega Bem. Esta casa está localizada a cerca de 1,5 km a jusante da barragem construída pela INB, no vale do Riacho da Vaca, e 4 km a jusante de Mangabeira (ver mapa na página 2). A água subterrânea é bombeada uma ou duas vezes por semana do tanque e usada para o cozimento ou lavagem, mas não mais para beber.

A família agora está usando a água da chuva para beber. Amostra RW1 foi recolhida no tanque de água da chuva.

Imagens N° 19 a N° 20 / Coleta de amostra de água UW4 em Pega Bem (abril de 2014)

No caminho de volta para a cidade de Caetité, Sr. Chareyron decidiu fazer medições preliminares na área de prospecção de urânio de Juazeiro (ver mapa na página 2 e imagem N° 21).

A equipe pôde ver que a escavação de valas tinha removido a camada protetora de solo que cobre as rochas naturalmente radioativas. O CRIIRAD monitorou doses cerca de 10 vezes acima dos valores naturais básicos em diferentes locais ao longo de uma vala de exploração de 4 metros de largura e centenas de metros de comprimento (imagem N° 21). Na superfície de algumas pedras, deixadas descobertas após a prospecção, o fluxo de radiação gama foi superior a 1300 c/s (cintilômetro DG5), e a taxa de dose acima de 2 µSv/h (Radex). Seria necessário obter uma cópia dos estudos de referência realizados pela INB antes das atividades de prospecção, a fim de avaliar mais precisamente o impacto de tais atividades.

Imagem N° 21 / Vista das valas na floresta, na área de prospecção de urânio de Juazeiro

(A usina de concentração de urânio da INB pode ser vista na parte superior da imagem)

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Tabela 1 / Lista de amostras de solo ou sedimentos coletados pelo CRIIRAD em 9 e 10 de abril de 2014 e resultados do monitoramento de radiação gama

Taxa de Dose Gama

(µSv/h), Radex Fluxo de Radiação

Gama (c/s), DG5

Código Data da

coleta de amostra

Horário da coleta de amostra

(hora local)

Op. Localização Descrição Contato no solo

1 m acima do solo

Contato no solo

1 m acima do solo GPS GPS

A (sem

coleta) 09/04/2014 9h10

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Estrada principal em frente a área prospectada em Gameleira (referência)

Solo natural 0,28 0,21 NM NM S13º50.652 W042º19.048'

TS-5 09/04/2014 10h50

BC, RF, JB, LM

Campo afetado pelas atividades de prospecção de

urânio em Gameleira

Solo superficial (alterado) próximo ao furo F33 0,41 0,35 NM NM S13º50.669' W042º18.970'

TS-6 09/04/2014 11h

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Campo afetado pelas atividades de prospecção de

urânio em Gameleira

Solo superficial, marrom, próximo ao furo F31 0,45 0,36 NM NM S13º50.694' W042º18.968'

TS-8 09/04/2014 17h10

BC, RF, JB, LM

Entre Tamanduá e a cava da mina a céu aberto

Areia fina de cor clara, no meio de uma drenagem

natural ao lado da cerca da mina a céu aberto

0,27 0,22 NM NM S13º49.742' W042º17.746'

TS-9 09/04/2014 17h15

BC, RF, JB, LM

Entre Tamanduá e a cava da mina a céu aberto, a

jusante de TS-8

Argila vermelha extremamente fina (úmida) em um buraco no meio de uma drenagem natural ao

lado da cerca de mina a céu aberto, possivelmente sob a influência da pilha de rejeitos

0,27 NM NM NM S13º49.762' W042º17.700'

TS-10 09/04/2014 17h25

BC, RF, JB, LM

Entre Tamanduá e a cava da mina a céu aberto, ao

lado da principal estrada no meio da via que leva a TS-9

Material fino de coloração escura no meio de uma

drenagem natural da estrada 0,34 0,23 NM NM S13º49.529' W042º17.772'

TS-11 09/04/2014 17h40

BC, RF, JB, LM

No caminho para Tamanduá, próximo ao

posto de monitoração da INB LR10, ao lado da

estrada principal em uma pequena drenagem

Material fino de cor clara, no meio de uma drenagem

natural ao lado da estrada 0,22 0,15 NM NM S13º49.689' W042º18.349'

TS-12 09/04/2014 18h25

BC, RF, JB, LM

No fundo do vale antes de alcançar Tamanduá (a favor

dos ventos em relação à mina a céu aberto, no centro

do eixo de vento)

Areia fina sem argila (cor clara) ao lado da estrada (acumulação pela chuva)

0,18 0,18 NM NM S13º49.236' W042º18.917'

TS-13 10/04/2014 14h40

BC, RF, MF, LM

Em uma pedreira localizada entre Maniaçu e a INB. Esse

material é usado para a pavimentação e

possivelmente para construção

Pequenas rochas e solo (a amostra é colhida em um

lugar com valores médios de gama fluxo: 400 c / s). Nas

paredes da pedreira, as medidas mais altas

monitoradas são de até 640 c/s (DG5)

0,38 0,31 400 290-360 S13º51.498' W042º20.404'

TS-14 10/04/2014 15h10

BC, RF, MF, LM

Próximo à área 170 da INB, onde o concentrado de urânio é colocado nos tambores. O objetivo é

procurar possível acumulação de poeira de

yellow cake no solo

Material de granulometria fina (cor vermelha e bege)

em uma drenagem natural do planalto, ao lado da estrada

0,22 0,19 200 160

TS-15 10/04/2014 17h

BC, RF, MF, LM

Em Mangabeira, a jusante do aterro de rejeitos, na

entrada da propriedade de Mangabeira, ao lado da estrada; valores mais

elevados de fluxo gama são registrados no topo de uma camada de argila alaranjada

depositada pelas chuvas debaixo de uma árvore.

Esse material é provavelmente oriundo da

poeira acumulada nas folhas das árvores e lavadas

pelas chuvas.

Camada muito fina (< 2 mm) de argila no topo da estrada

abaixo da árvore (taxa de contagem alfa-beta-gama monitorada com detector

MCB2 sem cobertura é de 1,6 a 5,2 c/s)

0,40 0,31 420 360 S13º49.405' W042º17.295'

K (sem coleta) 10/04/2014 16h50

BC, RF, MF, LM

Em Mangabeira, na estrada principal (referência) Solo natural 0,21 0,17 220 190 S13º49.413' W042º17.325'

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1-3 / Resultados das análises laboratoriais das amostras sólidas

Todas as amostras sólidas (10 amostras) foram trazidas para o laboratório CRIIRAD na França, mas devido a limitações de orçamento, apenas duas amostras de solo puderam ser analisadas. CRIIRAD decidiu analisar:

• Amostra TS 14 coletada ao lado da estrada em uma drenagem natural do planalto localizado logo abaixo das instalações da AREA 170.

• Amostra TS 15: material de granulometria fina depositado sobre o solo debaixo de uma árvore em Mangabeira sob a influência da poeira oriunda do depósito de material estéril e rejeitos.

Em ambos os casos, o objetivo foi o de procurar a deposição de material radioativo fino transportado pelo vento em conexão com as atividades da mineração de urânio. Portanto, as amostras foram peneiradas e a fração abaixo de 63 micrômetros foi analisada no laboratório CRIIRAD. As medições foram realizadas por espectrometria gama HpGe.

O laboratório CRIIRAD é autorizado pela Autoridade de Segurança Nuclear francesa (ASN) para o monitoramento da radiação no meio ambiente (detalhes no site ASN).

Os resultados estão representados na tabela 3 abaixo (série de decaimento do urânio 238) e tabela 4 (outros radionuclídeos, página seguinte).

Tabela 2 / Análise de solo superficial por espectrometria gama no laboratório CRIIRAD

Série de decaimento do Urânio 238

Código Localização Descrição Urânio 238 (Bq/kg)

Rádio 226 (Bq/kg)

Chumbo 210 (Bq/kg)

TS-14

Próximo à área 170 da INB, onde o concentrado de urânio é colocado nos

tambores. O objetivo é procurar possível acumulação de poeira de yellow cake no solo

Material de grão fino (cor vermelha e bege) em uma

drenagem natural do planalto, ao lado da estrada

68 ± 37 81 ± 15 131 ± 42

TS-15

Em Mangabeira, a jusante do aterro de rejeitos, na entrada da propriedade de Mangabeira, ao

lado da estrada; valores mais elevados de fluxo gama são registrados no topo de uma camada de argila alaranjada depositada pelas chuvas

debaixo de uma árvore. Esse material é provavelmente oriundo da poeira acumulada

nas folhas das árvores e lavadas pelas chuvas.

Camada muito fina (<2 mm) de argila sobre a estrada abaixo da árvore (taxa de contagem alfa-beta-gama

monitorada com um detector MCB2 sem tampa é de 1,6 a

5,2 c/s)

160 ± 60 191 ± 33 180 ± 60

Em ambas as amostras, a razão entre urânio 238 e rádio 226 está perto de 1 (levando em consideração as incertezas associadas às medições).

Não há indicação de contaminação com poeira de yellow cake na amostra TS14.

A amostra TS 15 tem uma maior atividade de urânio 238 (perto de 200 Bq/kg para a rádio 226) e de tório 232 (390 Bq/kg). Este material não é constituído de rejeitos, mas muito provavelmente é oriundo de partículas associadas com material estéril ou decorrentes da detonação, uma vez que não existe qualquer desequilíbrio significativo na série de decaimento do urânio 238.

O solo contaminado TS4 coletado pelo CRIIRAD em junho de 2012, no fundo do vale, a cerca de 20 metros da TS15, foi muito provavelmente contaminado por materiais incluindo rejeitos (a razão entre rádio 226 e urânio 238 foi de 5,4).

Os resultados obtidos após a análise de amostras TS4 e TS15 indicam diferentes vias de contaminação do depósito de rejeitos e material estéril:

• transferência de material radioativo (incluindo rejeitos) pela água através de infiltração (amostra TS4)

• transferência de partículas finas pelo vento (amostra TS15).

Note-se que a atividade de tório 232 na amostra TS15 é aproximadamente duas vezes maior que a do urânio 238. Isto significa que, ao avaliar o impacto radiológico das atividades de mineração sobre os

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trabalhadores e público em geral, a empresa e as autoridades devem levar em consideração não só o urânio 238, e seus produtos de decaimento, mas também o tório 232 e seus produtos de decaimento.

O impacto desta contaminação ambiental sobre a flora, a fauna e os seres humanos deve ser monitorado com precisão.

Tabela 3 / Análise de solo superior por espectrometria gama no laboratório CRIIRAD

(urânio 235, chumbo 212 a partir da cadeia de decaimento do tório 232, outros radionuclídeos)

Código Localização Descrição U235 (Bq/kg)

Chumbo 212 (Bq/kg)

(série de decaimento do Th 232)

Potássio 40

(Bq/kg)

Be 7 (Bq/kg)

Cs 137 (Bq/kg)

TS-14

Próximo à área 170 da INB, onde o concentrado de urânio é colocado nos

tambores. O objetivo é procurar possível acumulação de poeira de yellow cake no

solo

Material de grão fino (cor vermelha e bege)

em uma drenagem natural do planalto, ao

lado da estrada

< 17 137 ± 20 660 ± 150 41 ± 25 < 1,6

TS-15

Em Mangabeira, a jusante do aterro de rejeitos, na entrada da propriedade de

Mangabeira, ao lado da estrada; valores mais elevados de fluxo gama são

registrados no topo de uma camada de argila alaranjada depositada pelas chuvas debaixo de uma árvore. Esse material é

provavelmente oriundo da poeira acumulada nas folhas das árvores e

lavadas pelas chuvas.

Camada muito fina (<2 mm) de argila sobre a estrada abaixo da árvore

(taxa de contagem alfa-beta-gama

monitorada com um detector MCB2 sem tampa é de 1,6 a 5,2

c/s)

< 29 390 ± 50 < 500 < 20 < 2,9

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1-4 / Resultados das análises laboratoriais de amostras de água

Todas as amostras de água (3 amostras) foram levados ao laboratório CRIIRAD na França, mas devido a limitações de orçamento, bem como a quantidade limitada de água por amostra, nem todas as substâncias químicas e radionuclídeos pertinentes puderam ser monitorados em todas as amostras. O CRIIRAD decidiu analisar os seguintes parâmetros:

• Radônio 222 dissolvido em todas as amostras. Esta monitoração não é destrutiva, de modo que a amostra pode ser utilizada para a medição de outros parâmetros.

• Condutividade, pH, cátions e ânions principais, metais principais (incluindo urânio) nas amostras UW3 e UW4.

• Atividade alfa total e atividade beta total nas amostras UW4 e RW1.

Radônio 222 dissolvido foi monitorado no laboratório CRIIRAD (espectrometria gama), principais cátions e ânions, os principais metais, incluindo urânio foram monitorados pelo laboratório LDA 26, na França. Atividade alfa total e atividade beta total foram monitoradas pelo laboratório EICHROM na França.

Tabela 4 / Lista de amostras de água coletadas pelo CRIIRAD em 9 e 10 de abril de 2014

Código Data da

coleta de amostra

Horário da coleta de amostra

(hora local)

Op. Localização Descrição GPS GPS Quantidade da amostra

UW3 09/04/2014 12h28 BC, JB

Água de um poço em Gameleira, instalado pela INB (poço n ° 171, ano 2013), porém não mais usado devido à alta concentração de urânio, localizada na margem direita de um pequeno

rio a jusante da área de prospecção, de propriedade de Lúcio Fábio.

água não mais usada para beber (profundidade de 64 m, água superfície –

5 m do topo do tubo), recolhido pelo aspirante com um pequeno tubo de

plástico

S13º50.664' W042º19.129' 250 cc de água

UW4 10/04/2014 18h10

BC, MF, RF, LM

Água de um poço em PEGA BEM, na margem direita do Riacho da Vaca, a jusante da

barragem. Este tanque é preenchido com água subterrânea, uma ou duas vezes por semana.

O poço foi instalado pela INB. A água é utilizada para cozinhar mas não para beber, desde a instalação de um coletor de água da

chuva.

Água não mais usada para beber coletada a partir de uma torneira no

fundo do tanque S13º49.959' W042º15.201' 500 cc de

água

RW1 10/04/2014 18h15

BC, MF, RF, LM

Água da chuva a partir de um tanque em PEGA BEM. A água é usada para beber desde a

instalação do coletor de água da chuva

Água utilizada para beber coletada a partir de uma torneira no fundo do tanque S13º49.959' W042º15.201' 250 cc de

água

Os resultados do monitoramento radiológico e do monitoramento de substâncias químicas são apresentados nos tabelas A1 e A 2, no Anexo (páginas 24 e 25).

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Imagem N° 22 / Vista da área de prospecção de urânio em Gameleira (localização de furos) e amostra UW3 de água subterrânea

Imagem N° 23 / Vista de Pega Bem, amostras UW4 de água subterrânea e RW1 de água de chuva

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Água subterrânea UW3 (Gameleira)

Radônio dissolvido é detectado na amostra UW3 (Gameleira). A atividade do radônio 222 (107 ± 41 Bq/l) pode ser superior ao valor de 100 Bq/l estabelecido pela Comissão Europeia3. Segundo a Comissão, se a atividade do radônio 222 exceder esse limite, uma avaliação da dose para o consumidor deve ser realizada e contramedidas adequadas devem ser tomadas quando necessário.

A concentração de urânio é de 11,5 µg/l. O valor de referência anterior estabelecido pela OMS4 para água potável era 15 µg/l. O valor recomendado em 2011 é 30 µg/l.

Na amostra UW3, a concentração de nitratos (180 mg/l) está acima do limite da OMS de 50 mg/l, logo, o consumo dessa água não é recomendado.

O proprietário do imóvel nos disse que ele não estava bebendo mais esta água porque a INB havia mencionado altas concentrações de urânio (não pudemos ver os resultados da monitoração realizada pela empresa). A família agora está usando a água da chuva para beber (imagem N° 24 abaixo). O monitoramento da água de chuva deve ser realizado levando-se em consideração o risco de contaminação por via aérea por poeira radioativa e radônio, em associação com as atividades de mineração.

Imagem N° 24 / Tanque para armazenamento de água de chuva em Gameleira

Água subterrânea UW4 (Pega Bem)

A atividade de radônio 222 está abaixo do limite de detecção (< 37 Bq/l) na amostra UW4 (água subterrânea) coletada em Pega Bem. O armazenamento da água em um tanque permite uma certa redução da atividade do radônio 222. Como a meia-vida de radônio 222 é de 3,8 dias, a sua atividade é dividida por 2 a cada 3,8 dias.

A concentração de urânio 238 de 20,6 µg/l monitorada na amostra UW4 está acima do valor de referência anterior definido pela OMS para a água potável (15 µ/l), mas continua a ser inferior ao valor recomendado em 2011 (30 µg/l).

A concentração de urânio 238 de 20,6 µg/l corresponde a uma atividade alfa de 0,26 Bq/l (urânio 238). Se assumirmos que o urânio 238 e seu subproduto o urânio 234 estão em equilíbrio nas amostras, a atividade alfa total seria duas vezes mais alta, que é de 0,52 Bq/l. Esta avaliação é coerente com o valor medido de 0,55 Bq/l (atividade alfa total), tendo em consideração as incertezas de medição. Isto sugere que a concentração de outros emissores alfa na amostra UW4 (como rádio 226, polônio 210, tório 232 etc.) é baixa. Mas o monitoramento adicional é necessário para obter uma visão mais abrangente das características radiológicas e químicas desta água.

3 Uma discussão sobre a dose devido à ingestão de radônio dissolvido em água pode ser encontrada nas páginas 29 a 31 de http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf 4 Guidelines for drinking water quality, first addendum to third edition. Vol 1: Recommendations. WHO, 2006. Esta versão das diretrizes integra a terceira edição, que foi publicada em 2004. O segundo adendo à terceira edição, publicada em 2008, não recomendou um valor diferente para o urânio.

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Água de chuva RW1 (Pega Bem)

O proprietário do imóvel nos disse que ele não estava mais usando água subterrânea para beber.

A família agora está usando a água de chuva.

A atividade do radônio 222 dissolvido (< 11 Bq/l), a atividade alfa total (< 0,02 Bq/l) e atividade beta residual (< 0,04 Bq/l) da amostra RW1 da água de chuva coletada no tanque de águas pluviais estão abaixo dos limites de detecção.

Estes resultados sugerem que a radioatividade da água de chuva coletada em Pega Bem é baixa. Um monitoramento adicional (substâncias químicas) seria necessário para obter uma visão mais abrangente da qualidade da água da chuva, uma vez que pode ser mais sensível à contaminação atmosférica. O risco de contaminação dependerá das atividades realizadas na INB e da direção do vento.

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2 / Resumo dos principais achados pelo laboratório CRIIRAD

A Seção 2 do presente documento resume as principais descobertas do CRIIRAD.

Algumas destas conclusões preliminares foram apresentadas durante o debate público organizado em 11 de abril de 2014, na Universidade do Estado da Bahia, campus Caetité, e foram incluídas no relatório preliminar preparado pela FIOCRUZ (Marcelo Firpo, Renan Finamore) e CRIIRAD (Bruno Chareyron). Este relatório, em português, pode ser baixado em http://www.criirad.org/mines-uranium/bresil/relatorio-prelim-fiocruz-CRIIRAD-caetite-11-4-2014.pdf

Alguns comentários adicionais foram incluídos na versão abaixo, levando em consideração os resultados analíticos apresentados no capítulo 1.4 acima.

2-1 / O programa de monitoramento ambiental da URA-INB sofre de deficiências importantes

É extremamente difícil para a comunidade local de Caetité ter acesso aos resultados do monitoramento de radiação realizado pela INB ao redor da mina. Demorou seis meses para a CPT obter uma cópia desses resultados. O documento INB (RT-URA-05-14) apresenta os resultados do monitoramento de urânio, monitoramento de radônio 222 no ar e monitoramento de urânio, rádio 226 e chumbo 210 em amostras de água subterrâneas.

Estas informações possuem várias insuficiências:

1 / Não são apresentados resultados para o monitoramento da radiação gama no ambiente, a deposição de poeira no solo, o monitoramento da contaminação do solo e da cadeia alimentar, o monitoramento das águas superficiais e sedimentos. A análise do solo superficial TS15 recolhido em Mangabeira sugere que a poeira, contendo urânio 238, tório 232, e os seus produtos de decaimento, é depositada sobre as folhas das árvores, é lavada pela chuva e acumulada no solo. A deposição de poeira nas lavouras e alimentos comestíveis deve ser estudada em detalhes, a fim de realizar uma avaliação adequada da contaminação da cadeia alimentar e da dose para a população.

2 / Para o monitoramento da concentração de radônio no ar5, é impossível analisar o impacto da mina devido ao fato de a quantidade de postos de monitoramento, localizados nos arredores da mina, ser muito limitada (apenas 3 postos de monitoramento estão localizados a uma distância inferior a 3 quilômetros da mina, e todos situam-se na região noroeste). Nenhum posto de monitoramento está localizado no vale do Riacho da Vaca, onde o impacto dos rejeitos e material estéril pode ser significativo (concentração de radônio é geralmente mais elevada em depressões e vales). Além disso, a INB não monitora o fator de equilíbrio entre radônio e seus produtos de decaimento cuja radiotoxicidade é maior do que o radônio, portanto, não é possível fazer uma avaliação precisa das doses recebidas pela população que vive perto da mina.

3 / Em relação ao monitoramento de radiação no ar, o CRIIRAD notou em 9 de abril de 2014 que o sistema de bombeamento do amostrador de ar, localizado em Tamanduá (monitor LR010) não estava operando de modo contínuo. Isto levanta a questão da representatividade dos resultados do monitoramento do ar por INB.

4 / Para o monitoramento da radiação em amostras de água subterrâneas, apenas 3 substâncias radioativas são analisadas pela INB (urânio, rádio 226 e chumbo 210), enquanto as séries de decaimento do urânio 238 e urânio 235 contém mais de 20 substâncias radioativas. Tório 232 e seus produtos de decaimento devem ser monitorados também. O CRIIRAD recomenda o monitoramento dos seguintes parâmetros: atividade de radônio dissolvido (atividade de radônio pode ser particularmente elevada nas águas subterrâneas e pode fornecer uma dose para o consumidor muito maior6 do que o próprio urânio); atividade do polônio 210 (este metal pesado radioativo, associado com urânio 238, está entre as substâncias mais radiotóxicas quando ingerido); atividades alfa total e beta total (a fim de verificar a presença de outros nuclídeos); principais cátions e ânions, como sulfatos, nitratos, que são geralmente indicadores do impacto das atividades de mineração; metais não radioativos, que podem ser associados com o minério de urânio; produtos químicos orgânicos, que são usados na parte química do processo de extração do urânio etc.

5 Radônio é um gás radioativo permanentemente criado pela desintegração do rádio 226 contido no minério de urânio, no material estéril e nos rejeitos criados pela lixiviação do minério. O radônio é cancerígeno para os seres humanos e é a segunda causa de câncer de pulmão depois do tabaco. 6 A discussão sobre a dose devido à ingestão de radônio dissolvido em água pode ser encontrada nas páginas 29-31 de http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf.

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2-2 / Exemplos de impactos atuais na INB

Sem os resultados de um programa de monitoramento amplo, não é possível avaliar corretamente os impactos reais das atividades URA-Caetité sobre o ambiente e a população local.

No entanto, uma primeira análise dos dados acima mencionados, além dos resultados das atividades de monitoramento preliminares realizados pelo CRIIRAD, FIOCRUZ e CPT-BA, em 9 de junho de 2012, mostram vários impactos. Alguns exemplos estão descritos abaixo.

Atividades de prospecção / contaminação do solo e elevação da taxa de dose gama

Durante o ano de 2013, a INB conduziu atividades intensivas de prospecção, especialmente em Gameleira (a cerca de 2 km da mina). Alguns furos têm uma profundidade de 70 metros ou mais. Quando o furo encontra os depósitos de urânio, material radioativo é trazido para a superfície. Se este material não é removido, a radiação na superfície do solo torna-se muito maior em comparação com a situação antes das atividades de prospecção. Isto é ilustrado pelo monitoramento realizado em 9 de abril de 2014, em um campo em Gameleira. A taxa de dose gama nas proximidades do furo N° F31 foi 2,5 vezes acima do fundo natural monitorada pelo CRIIRAD em 5 locais diferentes não afetados pela atividade de perfuração (imagem N° 25 abaixo).

Imagem N° 25 / Taxa de dose monitorada pelo CRIIRAD, um metro acima do solo, em Gameleira

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0,50

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Intersection of roads Main road Murundu In front of a house Natural Rock Drill N°F31

Dose rate 1 m above ground (µSv/h)

Permanecer 5 minutos por dia perto deste furo durante 365 dias irá induzir uma dose cumulativa significante no final do ano.

Outros impactos das atividades de perfuração devem ser devidamente avaliados como a contaminação do ar por radônio, oriunda do material contaminado depositado sobre o solo; a quantidade de partículas radioativas inaladas pela população residente e não ingerida através da deposição sobre as folhas das plantas, a transferência para o gado que está pastando neste campo e a possibilidade de contaminação das águas subterrâneas devido à alteração da circulação da água por conta das várias perfurações. É possível observar em uma das imagens do furo (página 4) que os tubos de plástico já estão quebrados em alguns casos. Consequentemente, a água da chuva pode ser transferida diretamente para o aquífero, sem filtragem natural pelo solo.

Em 10 de abril de 2014, o CRIIRAD realizou atividades muito preliminares de monitoramento em uma nova área de prospecção, em Juazeiro (página 9), e descobriu que rochas radioativas, com uma taxa de dose mais de 10 vezes acima dos valores de fundo, estavam na borda de uma trincheira de 4 metros de largura e centenas de metros de comprimento cavada pelas empresas. A consequência de tais atividades de prospecção é que o solo, que inicialmente cobria essas rochas radioativas, foi removido, aumentando, portanto, os níveis locais de radiação gama, o risco de contaminação de águas superficiais e subterrâneas e o risco de transferência de radionuclídeos para a atmosfera.

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Estudos de referência amplos, que descrevam o nível natural de radiação antes de prospecção, devem ser disponibilizados, a fim de avaliar corretamente o impacto das atividades de prospecção.

Impacto das atividades de mineração / poeira radioativa no ar

As atividades de mineração, especialmente detonação e britagem do minério radioativo, geram enormes quantidades de poeira contaminada que é inalada pelos trabalhadores e pela população que reside na área a favor dos ventos a partir da mina.

De acordo com a INB, o teor do urânio no minério em Caetité é de cerca de 0,3%. A radioatividade do minério é, portanto, cerca de 37 500 Bq/kg (apenas o urânio 238), o que significa mais de 500 000 Bq/kg, quando se consideram7 todos os produtos de decaimento do urânio (como o tório 230, rádio 226, radônio 222, chumbo 210, polônio 210, etc.).

Dados oficiais da INB, mostram que durante o período de 2011 a 2012, a média da concentração de urânio no ar em Tamanduá (a cerca de 2 km a jusante da mina a céu aberto) foi 6 vezes acima do valor monitorado em Juazeiro, localizado contra os ventos, a cerca de 7 km da mina.

A inalação deste ar contaminado acarreta em doses não desprezíveis para a população8.

Além disso, a poeira radioativa irá contaminar o solo, as águas superficiais nas lagoas, as folhas das plantas e, portanto, levar a doses adicionais por ingestão.

Levando em consideração a contaminação detectada pelo CRIIRAD na amostra de solo TS15, localizada em área sob influência de depósitos de rochas residuais e rejeitos, um posto de monitoramento deve ser instalado em Mangabeira.

Imagem N° 26 - Atividade média de urânio no ar (µBq/m3)

de acordo com dados oficiais da INB (2011-2012)

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60

80

100

120

Unat (µBq/m3)

CACHOEIRA TAMANDUA GAMELEIRA JUAZEIRO MANIACU

Impacto do armazenamento de resíduos radioativos / contaminação por vazamentos e por via aérea

As atividades de mineração geram enormes quantidades de material estéril e resíduos sólidos radioativos chamados rejeitos. Tomando em consideração a atividade do minério, pode-se mostrar que a atividade total de alguns dos rejeitos é superior a 300 000 Bq/kg. Estes materiais radioativos são despejados pela INB na borda do planalto, acima do vale do Riacho da Vaca (imagem N° 11, página 6).

Quando chove, a chuva leva a fração mais fina do material contaminado. É por isso que a INB instalou um sistema de drenos na parte inferior do depósito, a fim de recolher a água contaminada proveniente da mina e da disposição de resíduos sólidos. Esta água é enviada para um tanque localizada a jusante do depósito, onde deve evaporar, antes de chegar ao ambiente (imagem N° 18, página 8).

Durante o verão de 2004, devido à alta pluviosidade e uma concepção imprecisa do sistema de coleta de água, a água contaminada transbordou 7 vezes da lagoa de sedimentação.

No dia 9 de junho de 2012, o CRIIRAD monitorou uma elevada taxa de radiação gama no fundo do vale, onde o material contaminado tinha se sedimentado. As medições realizadas a um metro acima do

7 Ver páginas 15 to 20 de http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf 8 Ver página 33 of http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf

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solo mudaram de cerca de 200 c/s nas bordas superiores do vale para 700 c/s no centro da depressão. A análise desse solo contaminado (amostra TS4) no laboratório CRIIRAD9 mostrou que o mesmo está contaminado com metais pesados radioativos de longa vida associados aos rejeitos (tório 230 atividade de 1 000 Bq/kg, rádio 226 atividade de 2 430 Bq / kg e chumbo 210 atividade de 1 870 Bq/kg). Esta contaminação do solo irá em seguida, a longo prazo, aumentar a contaminação das águas superficial e subterrânea, através da lixiviação natural e também terá impacto sobre a qualidade do ar (re-suspensão de poeira contaminada, a exalação do gás radônio) e as culturas próximas.

Imagem N° 27 / Localização da amostra TS4 em Mangabeira, no fundo de um vale

a jusante do aterro de estéreis e rejeitos

Imagem N° 28 / Coleta da amostra do solo contaminado TS4 em Mangabeira (CRIIRAD, junho de 2012)

A taxa de radiação gama é 3 a 6 vezes acima dos valores normais (o aterro de estéreis e rejeitos pode ser visto na parte superior da imagem)

9 O laboratório da CRIIRAD é credenciado pela Autoridade de Segurança Nuclear da França para fazer o monitoramento da radioatividade.

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O laboratório da CRIIRAD considera que esta área deve ser descontaminada pela INB e o projeto do sistema de coleta de água contaminada deve ser melhorado, a fim de lidar com situações de chuva forte. Mais uma vez, deve-se notar que os rejeitos são radioativos, contêm metais pesados muito radiotóxicos com uma meia-vida extremamente longa (75.000 anos para o tório 230), e que o confinamento de quantidade tão significativa de material radioativo é uma luta.

Além disso, em Mangabeira, o material radioativo transportado pelo vento é depositado sobre as folhas das árvores e, em seguida, lavado pela chuva. Este fenômeno explica o nível anormal de radiação gama monitorado pelo CRIIRAD sobre a fina camada de argila depositada perto de uma árvore na estrada que conduz ao centro da horticultura em Mangabeira (ver resultados CRIIRAD, página 10 e 11).

Devem ser tomadas medidas adequadas para limitar a transferência de substâncias radioativas (dispersão aérea e transferência pela chuva) do depósito de estéreis e rejeitos.

A INB deve explicar como pretende garantir o confinamento deste tipo de resíduos no longo prazo.

2-3 / Péssimas condições de trabalho

O CRIIRAD não pôde visitar a mina, mas, durante as atividades de formação organizadas para os trabalhadores, pôde coletar algumas informações que levantam questões e sugerem que a proteção da saúde dos trabalhadores não é uma prioridade para a INB. Na verdade, os trabalhadores relataram ao CRIIRAD e à FIOCRUZ os seguintes fatos:

1 / Não existe um sistema de filtração para a chaminé da área 170, onde o urânio é concentrado e acondicionado em tambores. O concentrado de urânio é chamado de ”yellow cake”, devido à sua cor amarela. Supondo uma pureza de 80% do concentrado, pode-se calcular que a concentração de urânio é acima de 10 milhões de Bequerels por quilograma neste material. Os trabalhadores dizem que muitas vezes por ano, quando a temperatura aumenta muito no processo químico, o concentrado de urânio é transferido diretamente para o ar. Nesses casos, os arredores da chaminé são cobertos com poeira amarela mostrando que o material radioativo é lançado para a atmosfera. Existe, portanto, um risco significativo de contaminação dos trabalhadores por ingestão e inalação deste pó altamente radiotóxico.

2 / Os tambores contendo o yellow cake são armazenados a alguns metros apenas da cabine onde o guarda fica. Na França, na usina de conversão de urânio da AREVA-COMURHEX, o CRIIRAD pôde registrar um excesso de radiação gama a uma distância de mais de 200 metros do muro da instalação, onde tambores de concentrado de urânio são armazenados. No caso de Caetité, muito provavelmente os guardas estão expostos a doses de radiação gama não-desprezíveis enquanto uma guarita implantada apropriadamente permitiria uma diminuição da sua exposição à radiação.

Imagem N° 29 - Tambores contendo concentrado de urânio armazenado perto

da guarita na INB/URA (fonte: trabalhador da usina)

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3 / Os trabalhadores não têm acesso aos resultados do monitoramento das doses que recebem, nem os resultados da exposição à radiação gama (dosímetros individuais), nem os resultados de contaminação interna (análise de urina e fezes). Os resultados individuais devem ser fornecidos aos trabalhadores pelo setor de radioproteção da INB. A compilação dos dados deve ser publicada pela INB cada ano (resultados globais, sem referência a nomes individuais dos trabalhadores). Isso permitirá verificar se há melhorias na redução das doses através da implementação de melhores práticas. Deve notar-se que, de acordo com UNSCEAR, as atividades de mineração e beneficiamento de urânio são as fases de todo o processo de produção de eletricidade nuclear onde os trabalhadores e a população recebem as doses10 mais elevadas de radiação.

4 / Na INB/URA, o equipamento contaminado é armazenado ao ar livre (bombas, tambores, válvulas etc.). Alguns destes equipamentos são descontaminados e reciclados e são doados pela INB para as comunidades locais. Mas os trabalhadores colocaram dúvidas quanto à qualidade da descontaminação e à precisão do monitoramento da radiação do material antes de sair da planta industrial. O CRIIRAD foi informado que a formação de alguns dos operadores de radioproteção consiste simplesmente em 30 minutos de reunião com o seu supervisor. No caso das minas de urânio da AREVA no Níger, o CRIIRAD e a ONG local AGHIRIN'MAN descobriram11 que as peças muito contaminadas de equipamentos (tubos, lonas, etc.) eram comercializadas no mercado local. Em Caetité, a INB deve oferecer garantias sobre a metodologia aplicada para verificar a contaminação residual do material reciclado e mencionar as normas aplicadas (limites de contaminação residual quanto à taxa de dose Bq/cm2 e à taxa de dose residual de contato do equipamento em µSv/h). Se uma contaminação residual é permitida, esta deve ser justificada; o impacto radiológico necessita ser avaliado e as pessoas informadas.

Imagens N° 30 e 31 / Armazenamento provisório de equipamentos contaminados na INB (Caetité)

10 Ver http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf , páginas 84 a 85. 11 Ver http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf , páginas 58 a 61.

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3 / Resumo das recomendações

A extração de urânio implica em uma contaminação de longo prazo do ambiente12 (água, solo, fauna e flora). Estudos detalhados são necessários para avaliar corretamente esses impactos.

o É necessário melhor a transparência:

� A INB não forneceu os resultados do monitoramento da radiação gama, da deposição de poeira radioativa, da contaminação dos solos, da contaminação da água da chuva e da cadeia alimentar. Estes resultados devem ser disponibilizados às comunidades.

� Trabalhadores de minas e usinas de concentração de urânio estão entre os mais expostos à radiação em todo o processo nuclear. No caso de Caetité, os trabalhadores dizem que não têm acesso aos resultados do seu monitoramento. Esta informação deve ser fornecida a eles.

o As metodologias de monitoramento na INB devem ser melhoradas, com:

� Mais amostradores de radônio nas imediações da mina incluindo o monitoramento do fator de equilíbrio entre radônio e seus derivados, e o monitoramento do tório.

� Monitoramento do radônio, do polônio 210 e de outras substâncias químicas na água subterrânea,

� Esclarecimento quanto ao funcionamento dos amostradores de ar (eles estão funcionando em uma base contínua?)

o A mineração de urânio da INB gera enormes quantidades de resíduos radioativos e radiotóxicos, com uma meia-vida muito longa e sem confinamento adequado:

� O sistema de coleta de água contaminada a jusante do despejo de rejeitos deve ser melhorado.

� A área contaminada a jusante da bacia de sedimentação no vale do Riacho da Vaca deve ser descontaminada.

� Os depósitos de resíduos devem ser cobertos, a fim de limitar a transferência de partículas radioativas pelo vento.

� A estabilidade do depósito de resíduos deve ser revista por peritos independentes.

� O plano proposto pela INB, a fim de monitorar a estabilidade dos depósitos e seu impacto a longo prazo deve ser tornado público.

o Proteção dos trabalhadores: a informação que nos foi dada pelos trabalhadores indicam práticas de radioproteção ruins na INB, em violação do princípio ALARA (sem filtração dos efluentes na chaminé da Área 170, localização da cabine de guarda demasiado perto dos tambores radioativos etc.). Esta situação deve ser melhorada.

o Aos cidadãos, devem ser fornecidos ferramentas e treinamento, a fim de participarem de forma mais eficiente para a preservação do meio ambiente e sua saúde, através da implementação de suas próprias avaliações e verificações radiológicas. Avaliações independentes têm de ser promovidas.

Bibliografia

Chareyron, B. (2012), CRIIRAD preliminary report N°12-87, Summary of CRIIRAD and FIOCRUZ mission to Caetité uranium mine (BAHIA / BRAZIL), EJOLT Project.

Chareyron, B., Živčič, L., Tkalec, T., Conde, M.,2014. Uranium mining. Unveiling the impacts of the nuclear industry. EJOLT Report No. 15, 116 p.

INB (2014) Relatório / Atendimento ao sistema de informação ao cidadão lei 12.527/2011 / RT-URA-05-14, January 21st 2014.

Porto, M. F.; Finamore, R.; Chareyron, B. (2014), Justiça ambiental e mineração de uranio em Caetité/BA: avaliação critica da gestão ambiental e dos impactos à saude da população, April 2014

______________________________ 12 Ver http://www.ejolt.org/wordpress/wp-content/uploads/2014/11/141115_U-mining.pdf

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Tabela A1 / Análise de amostras de água coletadas pelo CRIIRAD em 9 e 10 de abril de 2014 (radionuclídeos)

Código da amostra (no local) UW3 UW4 RW1

Código do laboratório 150414A1 150414A2 150414A3

Quantidade recolhida (cm3) 250 cc 500 cc 250 cc

Amostrador CRIIRAD (B. Chareyron)

CRIIRAD (B. Chareyron)

CRIIRAD (B. Chareyron)

Localização

Perfuração N°171 em Gameleira a jusante

da área de prospecção

de urânio

Tanque em Pega Bem a jusante

da barragem da INB-URA

Tanque em Pega Bem a jusante da barragem da INB-URA

Tipo de água

Água subter- rânea (prof.64

m) / não mais usada para beber)

Água subter- rânea (não

mais usada para beber)

Água de chuva usada para beber

Coordenadas GPS S13º50.664' S13º49.959' S13º49.959'

Coordenadas GPS W042º19.129' W042º15.201' W042º15.201'

Dia da coleta 09/04/2014 10/04/2014 10/04/2014

pH e condutividade (medições em laboratório) pH 7,30 7,80 Não monitorado

Água T ° C quando o pH foi medido 16,3 16,8 Não monitorado Condutividade a 25 °C (µS/cm) 979 954 Não monitorado Condutividade a 20 °C (µS/cm) 883 861 Não monitorado T.A.C (degré français) 21 30 Não monitorado T.A. (degré français) < 2 < 2 Não monitorado

Urânio Urânio 238 ( µg/l ) 11,5 20,6 Não monitorado

Calc. atividade do U 238 (Bq/l) 0,14 0,26 Não monitorado Urânio 235 (% urânio 238) 0,72 0,70 Não monitorado

Radônio 222 Radônio 222 (Bq/l) 107 ± 41 < 37 < 11

Parâmetros radiológicos globais Atividade alfa total (Bq/l) não monitorado

0,55 ± 0,25 < 0,02

Atividade (Bq/l) não monitorado

0,63 ± 0,08 0,06 ± 0,02 Potássio (mg/l) não monitorado

14,55 ± 0,61 1,48 ± 0,06

Potássio 40 (Bq/l), calculado não monitorado

0,401 ± 0,017 0,041 ± 0,002 Atividade beta total residual (Bq/l) não monitorado

0,23 ± 0,03 < 0,04

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Tabela A2 / Análise de amostras de água coletadas pelo CRIIRAD em 9 e 10 de abril de 2014 (produtos químicos)

Código de amostra (no local) UW3 UW4 RW1

Código do laboratório 150414A1 150414A2 150414A3

Quantidade coletada (cm3) 250 cc 500 cc 250 cc

Amostrador CRIIRAD (B. Chareyron)

CRIIRAD (B. Chareyron)

CRIIRAD (B. Chareyron)

Localização

Perfuração N° 171 em Gameleira a

jusante da prospecção

de urânio

Tanque em Pega Bem a

jusante da barragem da INB-URA

Tanque em Pega Bem a jusante da barragem

da INB-URA

Tipo de água

Água subter- ranea (prof.

64 m) / não mais usada para beber

Água subter- ranea (não

mais usada beber)

Água de chuva usada para beber

Coordenadas GPS S13º50.664' S13º49.959' S13º49.959'

Coordenadas GPS W042º19.129' W042º15.201' W042º15.201'

Dia da coleta 09/04/2014 10/04/2014 10/04/2014

Anions e Cátions (Screening semi-quantitativa por cromatografia de íons)

Bicarbonatos (Hidrogenocarbonetos) mg/l 256,2 367,2 Não monitorado

Diretriz da OMS

para água potável

Cálcio mg/l 18 70 Não monitorado

Cloreto (chlorures) mg/l 65 87 Não monitorado 250 mg/l Magnésio mg/l 5,7 11 Não monitorado

Nitratos mg/l 180 < 1 Não monitorado 50 mg/lPotássio mg/l 2,1 15 Não monitorado

Sódio mg/l 200 120 Não monitorado 200 mg/l Sulfatos mg/l 44 68 Não monitorado 250 mg/l

Metais / avaliação semi-quantitiva por ICP* /resultados em µg/l Diretriz da OMS

para água potável

Ag 0,00 0,00 Não monitorado - Al 77,3 6,80 Não monitorado 200 µg/l As 0,00 0,00 Não monitorado 10 µg/l B 86,80

90,9 Não monitorado

300 µg/l

Ba 97,90 124,0 Não monitorado 700 µg/l Be 0,30 0,00 Não monitorado

Cd 0,00 0,00 Não monitorado 3 µg/l Co 0,90 0,00 Não monitorado

Cr 1,00 0,00 Não monitorado 50 µg/l Cu 7,70 1,80 Não monitorado 2 000 µg/l Fe 88,40 3,90 Não monitorado 300 µg/l Li 20,50 62,4 Não monitorado

Mn 17,20 3,00 Não monitorado 500 µg/l Mo 0,24 10,3 Não monitorado 70 µg/l Ni 1,80 3,60 Não monitorado 20 µg/l Pb 5,40 0,00 Não monitorado 10 µg/l Sb 0,00 0,00 Não monitorado 5 µg/l Se 0,40 0,00 Não monitorado 10 µg/l Sn 0,00 0,00 Não monitorado - Sr 65,10 343,7 Não monitorado

Te 0,00 0,00 Não monitorado

Ti 12,70 6,70 Não monitorado

Tl 0,00 0,00 Não monitorado

U 11,50 20,6 Não monitorado 15 then 30 µg/l V 20,3 0,5 Não monitorado

Zn 6,90 106,7 Não monitorado 3 000 µg/l