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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL ROGÉRIO SANCHES PARTE 01 LEI 9455/97 - CRIME DE TORTURA 1) INTRODUÇÃO: Após a segunda grande guerra nasce um movimento de repúdio a a aprovação de vários tratados e convenções internacionais. No Brasil, na CF/88 foi consagrado como direito funda seguinte: “ninguém será submetido a tortura e nem a tratamento hum degradante.” (art. 5º, III da CF). Apesar do Brasil ratificar i internacionais e da CF/88, não tínhamos lei específica tínhamos era: ANTES DE 1997: A tortura era punida como crime comum, isto é, ar CP, 129 do CP, 136 do CP, 146 do CP e etc. Somente o ECA no s punia a tortura contra a criança e adolescente. DEPOIS DE 1997: Foi criada lei própria para tipificar e punir cri (Lei 9455/97) e revogou o art. 233 do ECA . OBS: Convenção contra a tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes (1984). Rotulou o delito de tortura como próprio. praticado por funcionário público ou por pessoa no exercício Na lei 9455/97, em regra não exige qualidade ou condição espe (crime comum). Questão: Pode Brasil, mesmo tendo ratificado os tratados rotulado a tortura como crime comum? Apesar de haver doutrina (Alberto Silva Franco) lecion nacional não poderia ter destoado do legislador internacional o STJ e o STF que o crime de tortura não exige do réu condiçã público.

Crime de Tortura

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LEGISLAO PENAL ESPECIAL ROGRIO SANCHES PARTE 01

LEI 9455/97 - CRIME DE TORTURA 1) INTRODUO: Aps a segunda grande guerra nasce um movimento de repdio a tortura, com a aprovao de vrios tratados e convenes internacionais. No Brasil, na CF/88 foi consagrado como direito fundamental do cidado o seguinte: ningum ser submetido a tortura e nem a tratamento humano degradante. (art. 5, III da CF). Apesar do Brasil ratificar inmeros tratados internacionais e da CF/88, no tnhamos lei especfica para tortura, o que tnhamos era: ANTES DE 1997: A tortura era punida como crime comum, isto , art. 121 do CP, 129 do CP, 136 do CP, 146 do CP e etc. Somente o ECA no seu art. 233, punia a tortura contra a criana e adolescente. DEPOIS DE 1997: Foi criada lei prpria para tipificar e punir crime de tortura (Lei 9455/97) e revogou o art. 233 do ECA. OBS: Conveno contra a tortura e outros tratamentos cruis, desumanos ou degradantes (1984). Rotulou o delito de tortura como prprio. S podendo ser praticado por funcionrio pblico ou por pessoa no exerccio de funo pblica. Na lei 9455/97, em regra no exige qualidade ou condio especial do agente (crime comum). Questo: Pode Brasil, mesmo tendo ratificado os tratados internacionais ter rotulado a tortura como crime comum? Apesar de haver doutrina (Alberto Silva Franco) lecionando que o legislador nacional no poderia ter destoado do legislador internacional, vem entendendo o STJ e o STF que o crime de tortura no exige do ru condio de agente pblico.

QUESTO DE CONCURSO: O crime de tortura prescritvel? Por mais grave que seja o delito, no Brasil a prescrio regra, havendo na CF/88, duas hipteses de imprescritibilidade: a) O racismo (art. 5, XLII da CF). b) Ao de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado democrtico. (art. 5, XLIV da CF). Em tratados internacionais, alguns inclusive ratificados pelo Brasil, a tortura imprescritvel. Trat. Int. de Dir. Hum. (tort. N prescreve) CF/88 (Tortura prescreve) (qurum comum)

1 corrente: coloca os tratados internacionais de direitos humanos, com qurum comum, no mesmo patamar da constituio. 2 corrente: coloca os tratados internacionais de direitos humanos, com qurum comum, como norma supralegal. Temos trs correntes discutindo a resposta. 1 corrente 2 Corrente 3 Corrente imprescritibilidade pelos tratados

Se a CF/88 etiquetou a No conflito ente a CF/88 A tortura como delito e os tratados de direito trazida mesmo humanos

prescritvel, considerado imprescritvel tratados

(no internacionais de direitos

importando o qurum de humanos incompatvel nos ratificao), devem com o direito e penal o

internacionais, prevalecer a norma mais moderno

com

deve prevalecer a nossa favorvel dignidade da Estado democrtico de Carta Maior. pessoa humana Direito. (princpio pro homine). No sentido de que deve prevalecer a

imprescritibilidade. (MPF adota a esta corrente).

Ateno: O STJ j decidiu ser imprescritvel a ao de reparao de danos ajuizada em decorrncia de tortura por motivos polticos durante o regime militar, fundamentando a imprescritibilidade de violaes dos direitos fundamentais, em especial do direito dignidade da pessoa humana. (AgRG no Agravo 970.753/MG). - Art. 4, inciso II princpio do pro homine prevalncia dos direitos humanos. 2) LEI 9455/97: Art. 1, Inciso I Sujeito Ativo o crime comum (o tipo no exige qualidade ou condio especial do agente). Sujeito Passivo o crime comum (qualquer pessoa pode figurar como vtima). Conduta constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa com o fim de: a) com o fim de obter declarao, informao ou confisso da vtima. Ex1: Policial que tortura suspeito para confessar o crime. Ex2: credor que tortura devedor para confessar a divida.. ATENO:.O crime se consuma com o constrangimento causador de sofrimento fsico ou mental. ( possvel a tentativa). b) Para provocar ao ou omisso de natureza criminosa. Ex: Agente mediante choque eltrico, tortura a vtima para denunciar caluniosamente terceiro inocente. PERGUNTA DE CONCURSO: Tortura para a prtica de contraveno penal configura qual crime?

1 corrente A expresso natureza criminosa compreende tambm a contraveno penal. Adotada por Mauro Faria de Lima. 2 corrente A expresso natureza criminosa no abrange contraveno penal, sendo vedada a analogia (no caso malfica para o ru). Prevalece essa corrente. PERGUNTA DE CONCURSO: No caso do art. 1, I, B, qual a consequncia para torturado e torturador? Torturado no responde pelo crime eventualmente praticado (dirimente a coao moral irresistvel). Causa de excluso da culpabilidade. Torturador Responde pela tortura em concurso (material) com o crime eventualmente praticado pelo torturado na condio de autor mediato. ATENO: o crime consuma-se com o constrangimento gerando sofrimento a vtima, dispensando que o torturado pratique a conduta criminosa exigida pelo agente. Admite-se a tentativa. c) : em razo de discriminao racial ou religiosa. Ex: Torturar algum por repudiar sua religio. Ao contrrio do que ocorre com os dispositivos anteriores, na letra c o agente no tortura a vtima esperando dela alguma conduta. Tortura apenas por preconceito a sua raa ou religio. S fala da raa ou religio, no abrange outras espcies. Analogia in malam partem. Mas a magistratura de SC surpreendentemente incluiu aqui a discriminao a homossexual. ATENO: O crime se consuma com o constrangimento causador de sofrimento a vtima. Admite-se a tentativa.

Art. 1, Inciso II.

Torturar algum sob sua guarda, poder ou autoridade. - Sujeito Ativo crime prprio exige qualidade ou funo especial do agente. - Sujeito Passivo crime prprio pessoa submetida a guarda, poder ou autoridade do agente.

De acordo com o STJ (HC 50095/MG) o policial militar que auxilia a policia civil na conteno de rebelio em estabelecimento prisional, durante a operao detm, legitimamente, guarda, poder e autoridade sobre os detentos, respondendo pelo art. 1, II da lei 9455/97.

- Conduta: Submeter a vtima mediante violncia ou grave ameaa a intenso sofrimento fsico e mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de carter preventivo. Ex: Bab que tortura a criana, Enfermeira que tortura idoso. PERGUNTA DE CONCURSO: qual a diferena da tortura castigo e o delito de maus tratos (art. 136 do cp)? Tortura castigo Intenso mental Castigo pessoal ou medida de carter preventivo. Para fins de educao, ensino, tratamento ou custdia. sofrimento fsico e Maus-tratos Sofrimento fsico e mental

ATENO: O crime se consuma no momento em que o constrangimento gera na vtima intenso sofrimento fsico ou mental. A tentativa perfeitamente possvel.

Art. 1, 1:

Tortura pessoa presa ou sujeita a medida de segurana. - Sujeito Ativo: Crime Comum (no exige qualidade ou condio especial do agente) - Sujeito Passivo: crime prprio (pessoa presa ou sujeita a medida de segurana). PESSOA PRESA: Abrange preso provisrio ou definitivo, bem como jovens infratores apreendidos, internados ou em estado de semiliberdade. Abrange preso civil? (devedor de alimentos): sim, pois o tipo penal no diferencia a espcie de priso. - Conduta: Submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurana a sofrimento fsico ou mental por intermdio de prtica de ato no previsto em lei ou no resultante de medida legal. (violao ao art. 5, XLIX da CF). Ex: Submeter jovem infrator para cumprir medida de internao em estabelecimento prisional, junto com presos comuns, Linchamentos populares (qq um do povo praticando essa tortura). OBS1: A presente figura dispensa emprego de violncia fsica ou mental. Basta voc praticar um ato no previsto em lei. OBS2: O torturador no realiza o crime com finalidade especfica. (o tipo no exige do agente finalidade especfica). ATENO: Consuma-se com a submisso da vtima a sofrimento fsico ou mental mediante a prtica de ato ilegal. A doutrina reconhece ser possvel a tentativa. TABELA DE TORTURA Art. 1, I SA: Comum SP: Comum (constranger Emprego de Causando fsico a) Tortura prova b) Tortura para a

violncia ou grave sofrimento ameaa ou mental

algum emprego

com de

prtica de crime c) Tortura preconceit o.

violncia ou grave ameaa)

Art. 1, II SA: prprio SP: prprio (constranger somente algum sob seu poder). Art. 1, 1 SA: comum SP: prprio (tortura

emprego

de Causando intenso fsico

Aplicar castigo pessoal

violncia ou grave sofrimento ameaa ou mental

Medida de carter preventivo

Por intermdio da Causando intenso prtica de ato no sofrimento previsto em lei ou e mental fsico

No h nada

pessoa no resultante de medida legal.

enclausurada)

TODAS ESSAS TORTURAS PENA DE 2 A 8 ANOS. ART. 1, 2:

Omitir o dever de evitar

Omitir o dever de apurar

Omisso imprpria (garantidor) ex: Omisso prpria (tortura j ocorreu). delegado que percebe os agentes Ex: delegado recebe denncia de levando preso para a sala de tortura e tortura e no apura. nada faz. Pena de 1 a 4 anos Pena de 1 a 4 anos.

ATENO: a CF/88, no art. 5, XLIII, determina as mesmas consequncias do torturador para o garante (garantidor). Pena de 2 a 8 anos.

O cdigo penal no seu art. 13, 2, determina tambm as mesmas consequncias ao torturador e ao garante (garantidor). Pena de 2 a 8 anos.

- A Lei 9455/97 tratou as consequncias para os personagens, torturador e garantidor, de forma distinta, contrariando assim o CP e a CF. H 3 CORRENTES DISCUTINDO ESSE ASSUNTO: 1 CORRENTE 2 CORRENTE dispositivo 3 CORRENTE O dispositivo

A 1 parte do art. 1, 2 O da lei 9455/97

constitucional.

constitucional.

inconstitucional Concluso: pena de 2 a Concluso: trata-se de Concluso: 8 anos Crime equiparado omisso culposa Pena de 1 a 4 anos.

a Pena de 1a 4 anos. Delito no equiparado a Delito no equiparado a hediondo. (corrente que hediondo. prevalece)

hediondo

Art. 1, 3:

Os resultados qualificadores devem ser culposos. ATENO: Tortura qualificada pela morte Art. 1,3, Lei 9455/97 Pena de 8 a 16 anos Tortura: fim (dolo) Morte: Resultado culposo Competncia: juiz singular Homicdio qualificado pela tortura Art. 121, 2, III do CP Pena: 12 a 30 anos Morte: fim (dolo) Tortura: Meio Competncia: Jri

PERGUNTA DE CONCURSO: a tortura por omisso pode ser qualificado no termos do 3? 1 Corrente a qualificadora do 3 atinge a tortura por omisso no caso do garante ou garantidor 2 Corrente a qualificadora do 3, s incide na tortura direta (ou praticada pelo torturador) PREVALECE.

ART. 1, 4:

INCISO I: Agente Pblico: De acordo com a maioria coincide com a definio do art. 327 do CP. CUIDADO: imprescindvel que o agente pblico atue nessa qualidade ou em razo dela. PERGUNTA DE CONCURSO: Agente pblico que omite o dever de evitar a tortura incide o aumento do 4, I? Prevalece que o 4 aplica a tortura omisso. O garante no

necessariamente agente pblico, ento quando agente pblico merece um aumento nos termos do inciso I do 4.

INCISO II: CRIME CONTRA CRIANA OU ADOLESCENTE Definidos pelo ECA. CRIME CONTRA PESSOA MAIOR DE 60 ANOS, CONTRA GESTANTE OU PORTADORA DE DEFICINCIA. - As condies da vtima devem ingressar no dolo do agente, para evitar responsabilidade penal objetiva.

INCISO III: SE O CRIME COMETIDO MEDIANTE SEQUESTRO a lei entende que o sequestro em sentido amplo, abrangendo o crcere privado. Sequestro Privao da liberdade Crcere privado sem Privao da liberdade com

confinamento

confinamento

ART. 1, 5: Traz os efeitos da condenao. Efeitos extrapenais, ou seja, administrativos da condenao. - Perde o cargo, funo ou emprego pblico e sofre a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada. PERGUNTA DE CONCURSO: Trata-se de efeito automtico da condenao ou precisa ser motivado pelo juiz na sentena? Regra Geral: Art. 92 do CP perda do cargo, emprego ou funo pblica - nico efeito no automtico. Regra Especial: art. 1, 5 da lei 9455/97 decorre 2 correntes: 1 Corrente: Por analogia ao art. 92, nico, do CP trata-se de efeito no automtico e o juiz precisa motivar a sua deciso. 2 Corrente: Trata-se de lei especial prevalecendo sobre a lei geral e cuida-se de efeito automtico da condenao. (PREVALECE) inmeros julgados no STJ RE 102.8936/PR.

ART.1, 6: Aplica-se tudo que foi estudado na lei dos crimes hediondos

ART. 1, 7: Torturador ativo Torturador por omisso

Art. 1, I, II e 1 Regime inicial fechado

Art. 1, 2 Regime semiaberto ou aberto (punido com deteno)

Equiparado

ao

hediondo No

equiparado

ao

hediondo

(progresso com 2/5 se primrio ou (progresso com 1/6 da pena) 3/5 se reincidente)

ART.2: Crime contra vtima brasileira ou agente em local sob jurisdio brasileira: extraterritorialidade de acordo com o art. 7 do CP condicionada. ( a nossa lei s alcanar o crime praticado no estrangeiro se presentes determinadas condies).

Crime de tortura contra vtima brasileira ou torturador em local sob jurisdio brasileira: extraterritorialidade de acordo com o art. 2 da Lei 9455/97 incondicionada. (no depende da presena de qualquer condio).