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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
FURTO Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 1. Bem jurídico protegido:Para Nelson Hungria, o bem jurídico protegido é somente a propriedade.Para a maioria da doutrina, o bem jurídico protegido é a propriedade, a posse e a detenção legítimas.
2. Sujeito ativo- Qualquer pessoa (crime comum), salvo o proprietário da coisa. - Funcionário público subtraindo coisa da administração:• Pode cometer furto ou peculato furto.• Somente responde por peculato furto se houve facilidade de subtração em decorrência de seu cargo, emprego ou função. - Se o autor foi o condômino, co-herdeiro ou sócio, que subtraiu coisa comum: aplica-se o art. 156: Art. 156. Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
3. Sujeito passivo: o legítimo proprietário, possuidor ou detentor (seja pessoa física ou jurídica).
4. Coisa: Interesse econômicoA coisa deverá ter interesse economicamente apreciável. Para Nelson Hungria, a coisa de interesse moral ou sentimental, mesmo que sem valor econômico, também pode ser objeto de furto.
5. Punido a título de dolo: - Esse dolo consiste na vontade consciente de definitivamente se apoderar da coisa (ânimo subjetivo).- Por isso, furto de uso é atípico.- Furto de uso de automóvel: a jurisprudência moderna não tem dado relevância para o desgaste de combustível, pneus, óleo etc.
6. Consumação:
7. Admite tentativa: crime plurissubsistente Ladrão mete a mão no bolso da vítima, mas não tinha dinheiro?• Cezar Roberto Bitencourt diz que depende. Para ele, se a vítima tinha dinheiro em outro bolso: houve tentativa; se a vítima não tinha dinheiro consigo: há crime impossível.
§ 4º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido:
III - com emprego de chave falsa; Conceito: é todo o instrumento, com ou sem o formato de chave, capaz de abrir fechaduras. Gazuas (chama-se mixa), grampos, arames, pregos etc. Chave verdadeira obtida mediante fraude configura a qualificadora? NÃO. Pode configurar outra qualificadora. Mas se é verdadeira, não pode ser falsa. É a que prevalece.
§ 4º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido:
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. Incluem-se também os partícipes para configurar o número mínimo?
Concurso de pessoas é gênero do qual são espécies os co-autores e os partícipes. Logo, nesse número mínimo incluem-se os partícipes. É a amplamente majoritária. Computam-se eventuais inimputáveis? Prevalece que os inimputáveis também são computados. Se há quadrilha ou bando desconsidera-se a qualificadora para evitar bis in idem. Responderá por furto simples em concurso com quadrilha.
FURTO QUALIFICADO § 5º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior . É indispensável que o veículo furtado ultrapasse os limites de outro Estado ou de outro país. Essa qualificadora admite tentativa? Em uma única hipótese: quando o agente é perseguido o tempo todo no transporte do veículo. Chegando no outro Estado ele é preso. Quando se fala em Estado inclui-se também o Distrito Federal.
ROUBO Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. - Crime complexo: nasce da fusão do furto com o constrangimento ilegal. - Topografia:
Art. 157, caput: roubo simples próprio Art. 157, § 1º: roubo simples impróprio Art. 157, § 2º: majorantes Art. 157, § 3º: qualificadoras
- Bem jurídico: patrimônio e liberdade individual da vítima (são dois em virtude de ser crime
complexo). - Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário. Se o proprietário cometer, pratica
exercício arbitrário das próprias razões. - Sujeito passivo: não apenas o proprietário, possuidor ou detentor da coisa, mas também
aquele que sofreu a violência ou grave ameaça para a subtração da coisa.
ROUBO SIMPLES PRÓPRIO No roubo próprio ou propriamente dito, o agente primeiro reduz a resistência para depois subtrair. AmeaçaO que consiste grave ameaça?1ª corrente: homem médio (prevalece entre os autores clássicos).2ª corrente: repudia o homem médio e defende que se deve analisar o caso concreto uma vez que a idade, grau de instrução da vítima, horário, local e outros fatores influenciarão na gravidade da ameaça (doutrina moderna). Violência à pessoaA trombada configura o quê?Prevalece que é violência geradora do roubo, mas há jurisprudência em sentido contrário.
Qualquer outro meio reduziu a resistênciaExs: uso de psicotrópicos (“boa noite cinderela”), hipnose. Crime punido a título de dolo. Roubo de uso é crime?Prevalece que roubo de uso é crime. Isso porque foi empregada a violência ou grave ameaça, atemorizando-se a vítima. É possível o roubo privilegiado pelo valor da coisa?STF e STJ não admitem o privilégio do roubo.
ConsumaçãoConsuma-se com o apoderamento, ainda que não de forma tranqüila a posse. É a que prevalece no STF.Não é necessário que a coisa saia da “esfera de vigilância da vítima”. Basta que, cessada a clandestinidade ou a violência, o agente tenha tido a posse da res furtiva, ainda que retomada, em seguida, pela perseguição imediata. Admite-se tentativa.
ROUBO SIMPLES IMPRÓPRIO § 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. - O agente primeiro realiza a subtração para depois empregar a violência contra a pessoa. A
subtração é o núcleo antecedente. A grave ameaça ou a violência são subseqüentes. - Para que haja roubo impróprio, é indispensável prévio apoderamento da coisa. - Ex: A está em uma residência para subtrair. Coloca a mão na televisão e quando está para
levar, aparece o dono, quando então A desfere-lhe um golpe. - Roubo impróprio é um furto que se torna roubo. - Subtraiu a TV, percebe que esqueceu a carteira e volta. Encontra o dono e dá um safanão:
roubo impróprio. - É indispensável que a violência ou grave ameaça seja empregada logo depois de subtrair
a coisa. O agente tem que subtrair e, logo depois, empregar violência ou grave ameaça.
Crime punido a título de dolo Consumação: com a subtração seguida de violência com grave ameaça. Admite tentativa?1ª) Crime plurissubsistente: pode subtrair a coisa e ser impedido de agredir o proprietário. Haveria tentativa.2ª) O simples fato de o agente tentar agredir alguém já gera a violência ou grave ameaça que configura o crime.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; - Basta o porte ostentivo ou tem que existir o efetivo o uso?
1ª) Basta o porte ostensivo desde que gere medo na vítima. Luiz Regis Prado. 2ª) Não basta o mero porte ostensivo. É indispensável o uso efetivo. É a melhor corrente. Bitencourt.
- O que vem a ser arma? 1ª) Somente arma em sentido próprio, isto é, instrumento fabricado com finalidade bélica. Ex: revólver. 2ª) Arma em sentido impróprio, abrangendo instrumento com ou sem finalidade bélica, servindo ao ataque e a defesa. Ex: faca de cozinha, pedaço de madeira, caco de vidro etc. É a que prevalece.
Simulacro de arma de fogo é arma? Arma de brinquedo aumenta da pena do crime de roubo?Até 2002, prevalecida que sim. Havia até súmula nesse sentido. Súmula 174-STJ: No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena. (Julgando o RESP 213.054-SP, na sessão de 24/10/2002, a Terceira Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da súmula n. 174.) Contudo, essa súmula foi cancelada, de forma que atualmente arma de brinquedo não gera mais o aumento. Arma de brinquedo gera, todavia, a ameaça configuradora do roubo simples. • Argumentos utilizados para o cancelamento:Imputação objetiva: uma arma de brinquedo não é capaz de gerar o risco proibido pela norma.• Princípio da lesividade ou ofensividade: arma de brinquedo não gera perigo ao bem jurídico tutelado. Arma verdadeira, mas desmuniciada, gera o aumento?Não, gera o mesmo perigo de uma arma de brinquedo.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; Incluem-se também os partícipes para configurar o número mínimo?
Concurso de pessoas é gênero do qual são espécies os co-autores e os partícipes. Logo, nesse número mínimo incluem-se os partícipes. É a amplamente majoritária.
Computam-se eventuais inimputáveis? Prevalece que os inimputáveis também são computados. Se há quadrilha ou bando desconsidera-se a qualificadora para evitar bis in idem. Responderá por roubo simples em concurso com quadrilha.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. - Valores de outrem: é imprescindível que a vítima esteja em serviço de transportes de
valores para alguém. Se estiver transportando seus próprios valores não incide essa qualificadora.
- O que se entende por valores?
Abrange qualquer tipo de valores, não necessariamente bancários. Assim, não se restringe ao carro-forte. Outros exemplos: caminhões transportando cargas de cigarro, remédio, bebidas, carros, jóias etc.
- O agente conhece tal circunstância: para evitar a responsabilidade penal objetiva.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; - Vide comentários sobre o furto. § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Não confundir com o art. 157 em concurso com o art. 148:
Art. 157, § 2º, V Art. 157 c/c art. 148 Quando a privação da liberdade perdurar por tempo absolutamente necessário para a consumação do crime (para o sucesso da empreitada).
Quando a privação perdurar por tempo desnecessário à consumação (ao sucesso da empreitada).
Ex: pessoa que tranca a vítima para sair da casa livremente.
CÁLCULO DO AUMENTO
Quanto mais causas de aumento, mais próximo da metade; quanto menos causas, mais próximo de um terço (posição do STJ e STF). ROUBO QUALIFICADO § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa . - Se da violência resulta lesão grave ou morte. - Trata-se de crime complexo. - Se a lesão grave ou morte resulta da grave ameaça: art. 157 + art. 121
- A qualificadora do § 3º pode ser dolosa ou culposa. - O § 3º se aplica ao roubo próprio, previsto no caput, e ao roubo impróprio, previsto no § 1º. - Quando há o § 3º não se aplica o § 2º. - Somente o § 3º, in fine (resultado morte), é hediondo e somente este é chamado de latrocínio. - Para que haja o § 3º é indispensável que a violência ocorra:
• durante o assalto (fator tempo) e• em decorrência do assalto (fator nexo).
- Não há latrocínio quando um assaltante mata o outro para ficar com o proveito do crime: ocorre roubo em concurso com homicídio qualificado pela torpeza. - Se um assaltante mira a vítima, erra e mata o seu comparsa: trata-se de latrocínio mediante erro na execução. - Para configurar o latrocínio, não é necessário que a violência incida sobre o proprietário da coisa lesada. Não precisa que a vítima da violência seja a mesma da subtração. Basta que haja conexão entre os fatos (subtração e violência).
- Se a intenção inicial do agente era a morte e depois resolveu subtrair os pertences:
não é latrocínio, mas sim homicídio em concurso com furto. - O latrocínio é crime contra o patrimônio. Logo, não vai a júri.
Súmula 603-STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
- Consumação:
Subtração Morte Art. 157, § 3º Consumado Consumado Consumado Tentado Tentado Tentado Consumado Tentado Tentado (STF) Tentado Consumado Consumado (STF – súmula
610)
Obs: o que dita a consumação ou não é a morte. Se esta for tentada, o latrocínio será tentado. Se a morte for consumada, o latrocínio será consumado.