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Nível do Cantareira volta a cair Pescadores se unem para limpar o Atibaia CRISE ||| HÍDRICA Érica Araium DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Em época de estiagem e frio, pescador só fisga peixes de cou- ro no Rio Atibaia. Lambari, pia- para e piau, só se na ponta oposta ao anzol estiver um de sorte ou de fé. Remar, então, só se for contra a corrente e à pé, porque o baixo nível d’água en- calha o barco nas pedras. No in- tervalo da pesca, um grupo de pescadores que costuma se de- bruçar sobre a ponte que leva à Dona Isabel Fragoso Ferrão (Es- trada Municipal CAM-127), em Joaquim Egídio, à beira da Ro- dovia D. Pedro I, tem se dedica- do à remoção de garrafas pets, sacos plásticos e outros deje- tos. O lazer dos finais de sema- na virou missão engajada pelo meio ambiente numa sabida Área de Preservação Ambien- tal. “As pessoas e o governo só se lembram do Atibaia quando ele está baixo. Acontece que, se a gente não faz isso de tirar o li- xo, ninguém faz. É voluntário. Nunca vi órgão público aqui cuidando disso, só a concessio- nária que cuida da rodovia. Não entendo por que tanta coi- sa desce lá de cima, talvez de Valinhos pelo Atibaia”, ponde- ra o metalúrgico Alexandre Ca- milotte de Souza, pescador de final de semana há 8 anos. Um quilômetro à frente, conta ele, na direção da correnteza, um eucalipto que caiu sobre o rio serve de aparador ao que foi lançado ao rio ou à beira da ro- dovia, muito pela janela dos carros de passeio. Sozinho, o aposentado Má- rio Kemotsú, de 80 anos, já che- gou a “pescar” três sacos de sa- nito cheios de tralhas, num só dia. Calcula que uns dez cole- gas de pescaria fazem bonito como ele, sem que haja uma or- ganização formal para isso. “Aprendi que todo lugar que é limpo traz boas energias. E tam- bém a respeitar a natureza. Eco- nomizo água em casa, critico o mal feito, brigo com o governo, que só agora está preocupado com a seca. Falta consciência ambiental e educação”, disse. É o vendedor Francisco de Assis quem está sempre prepa- rado para saciar a fome dos visi- tantes e ajeitar os molinetes gastos pelo tempo que caem na mão dele. “Moro no Jardim Tamoio e há 11 anos estou nes- te ponto. A situação do rio nun- ca esteve tão feia. Aqui, só meio fio d’água e poeira. No São Conrado, só pedra”, obser- va, enquanto espera mais uma leva de visitantes se aproximar. “O movimento diminuiu que nem o nível do rio”. Na opinião de Souza, graças às medidas tomadas pelo gover- no do Estado, como o bombea- mento do volume morto dos re- servatórios do Sistema Canta- reira, o nível do Atibaia subiu. Acontece que, a Sociedade de Abastecimento de Água e Sa- neamento (Sanasa) retira, em média, 4m 3 /s do Rio Atibaia, pa- ra abastecer 95% de Campinas. E tratar a água custa caro. Con- forme o Correio já noticiou, a Sanasa gasta R$ 500 mil a mais por mês para tratar a água que é distribuída à população, cus- to que poderá aumentar ainda mais se as condições do Rio Ati- baia piorarem — com a baixa vazão, os poluentes não se di- luem naturalmente e é preciso aumentar a quantidade de pro- dutos químicos para melhorar a qualidade da água. “Se tem li- xo, claro, a coisa piora”, con- clui Kemotsú. Contra a corrente Na outra ponta do rio, o profes- sor de remo Antônio Carlos dos Santos, da Associação de Remo de Sousas, conta que já soube de muita gente que “bo- tou o santo para lavar”, espe- rando pela chuva, que caiu, tí- mida, ontem. “Não sei se a sim- patia funciona, o que tenho cer- teza é de que a natureza nunca esteve tão louca. No ano passa- do, quando deu uma chuvara- da com granizo, no fim do ano, a correnteza do rio se inverteu por alguns minutos, coisa que foi filmada para que não se du- vide”, contou ele, que já per- deu muito com enchentes, na mesma beira, em 2010. As aulas que ele costumava dar rarearam nos últimos me- ses, porque nem os caiaques re- sistem às pedras que se reve- lam ali e acolá. Depois de um mês e meio sem subir o Atibaia à pé, pela margem, o remador ficou espantado com o que viu no trecho do Condomínio Jar- dim Botânico, em Sousas. “Pas- sava por cima dessas pedras mais altas, transportando duas pessoas. Agora não dá.” Ele adianta que, em breve, deve acontecer mais uma edi- ção do Reviva o Rio Atibaia, projeto que tem por objetivo ampliar o debate sobre a revita- lização do rio e os planos locais de gestão para a Macrozona 1, que abriga a Área de Preserva- ção Ambiental de Campinas (APA). Além da Associação de Remo de Sousas, a iniciativa é da ONG Jaguatibaia — Associa- ção de Proteção Ambiental — e do Laboratório Farmacêutico MSD. “Várias ações serão de- senvolvidas por pesquisadores e ambientalistas, entre elas a limpeza do rio, mas, para que ela aconteça, é preciso que o ní- vel do Atibaia suba, se não ne- nhum barco navega”, disse. PROFISSIONAL coleta sangue de doadora: queda no mês de maio SANGUE O pescador Alexandre de Souza não entende como tanto lixo desce pelo rio: “As pessoas e o governo só se lembram do Atibaia quanto ele está baixo” SOLIDARIEDADE Campanha da Apae busca recursos para construir centro A Apae Campinas faz uma campanha publicitária para angariar fundos para a construção de um novo Centro de Inicialização e Qualificação Profissional (CIQP). É no Centro que a entidade desenvolve um trabalho de preparação de seus alunos para o mercado de trabalho. Hoje, mais de 100 estudantes com deficiência mental estão inseridos no mercado de trabalho com carteira profissional assinada. A entidade oferece atendimento 100% gratuito e a procura por vagas não para de crescer. Para atender a essa demanda, a entidade criou a campanha, que foi feita pela agência Mendes Guimarães Propaganda. Com a construção de um novo centro a capacidade de atendimento v ai triplicar. A Apae funciona na Rua Francisco Bueno de Lacerda, 120, no Parque Itália. Mais informações podem ser obtidas por meio do site www.campinas.apaebrasil.org.br e do telefone (19) 3772-1200. (AAN) O Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) inicia hoje a campanha de Inverno “Quando o assunto é doação de sangue, o brasileiro também veste a camisa!”. O objetivo é motivar a população a doar sangue para evitar a tradicional queda nos estoques que ocorre no período do Outono/Inverno, quando as temperaturas caem. A preocupação aumenta em virtude do início dos jogos da Copa do Mundo, que certamente terão um impacto nas doações, como nas edições anteriores. Caso o estoque total fique abaixo de 50% é grande o risco de cancelamento de cirurgias em diversos hospitais atendidos pelo Hemocentro ou mesmo falta de sangue e hemoderivados para os atendimentos de urgência e emergência. Uma preocupação maior é com os sangues do tipo RH negativo (A, B, AB e O) que representam, no Brasil e em todo mundo, menos de 12% da população. Em maio, o Hemocentro da Unicamp registrou queda nas doações em comparação com o mês de abril. (AAN) Divulgação De acordo com o boletim diário divulgado pela Sala de Situação dos Comitês PCJ, a previsão de chuvas até amanhã era de 5 mm nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Com o tema “Sustente a vida, preserve a água”, a Prefeitura de Campinas realiza, de 30 de maio a 8 de junho, a Semana do Meio Ambiente — Semeia 2014. Saiba mais: www.campinas.sp.gov.br Com a pouca água, voluntários recolhem lixo acumulado no rio Elcio Alves/AAN Diversão do fim de semana virou missão de proteção à natureza PREVISÃO DO TEMPO PROGRAMAÇÃO O nível do reservatório Cantareira voltou a cair nos últimos dias. Na comparação entre sexta-feira e ontem, o nível caiu mais 0,2 ponto percentual e chegou a 24,8% de sua capacidade. Desde o começo da utilização do volume morto — reserva armazenada abaixo dos pontos de captação — há 14 dias, o volume das reservas do manancial caiu 1,9 ponto percentual. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências da prefeitura (CGE), a previsão é que o tempo permaneça alternando chuviscos e períodos de muitas nuvens e pouco sol nos próximos dias. Não há previsão de chuvas para a capital e Grande São Paulo. (Da Folhapress) Copa e frio ameaçam o estoque do Hemocentro CORREIO POPULAR A7 CIDADES Campinas, segunda-feira, 2 de junho de 2014 A7

CRISE Pescadores se unem - hc.unicamp.br · no trecho do Condomínio Jar-dim Botânico, em Sousas. “Pas-sava por cima dessas pedras ... no Brasil e em todo mundo, menos de 12% da

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Page 1: CRISE Pescadores se unem - hc.unicamp.br · no trecho do Condomínio Jar-dim Botânico, em Sousas. “Pas-sava por cima dessas pedras ... no Brasil e em todo mundo, menos de 12% da

Nível doCantareiravolta a cair

Pescadores se unempara limpar o Atibaia

CRISE ||| HÍDRICAÉrica AraiumDA AGÊNCIA ANHANGUERA

[email protected]

Em época de estiagem e frio,pescador só fisga peixes de cou-ro no Rio Atibaia. Lambari, pia-para e piau, só se na pontaoposta ao anzol estiver um desorte ou de fé. Remar, então, sóse for contra a corrente e à pé,porque o baixo nível d’água en-calha o barco nas pedras. No in-tervalo da pesca, um grupo depescadores que costuma se de-bruçar sobre a ponte que leva àDona Isabel Fragoso Ferrão (Es-trada Municipal CAM-127), emJoaquim Egídio, à beira da Ro-dovia D. Pedro I, tem se dedica-do à remoção de garrafas pets,sacos plásticos e outros deje-tos. O lazer dos finais de sema-na virou missão engajada pelomeio ambiente numa sabidaÁrea de Preservação Ambien-tal.

“As pessoas e o governo sóse lembram do Atibaia quandoele está baixo. Acontece que, sea gente não faz isso de tirar o li-xo, ninguém faz. É voluntário.Nunca vi órgão público aquicuidando disso, só a concessio-nária que cuida da rodovia.Não entendo por que tanta coi-sa desce lá de cima, talvez deValinhos pelo Atibaia”, ponde-ra o metalúrgico Alexandre Ca-milotte de Souza, pescador definal de semana há 8 anos. Umquilômetro à frente, conta ele,na direção da correnteza, umeucalipto que caiu sobre o rioserve de aparador ao que foilançado ao rio ou à beira da ro-dovia, muito pela janela doscarros de passeio.

Sozinho, o aposentado Má-rio Kemotsú, de 80 anos, já che-gou a “pescar” três sacos de sa-nito cheios de tralhas, num sódia. Calcula que uns dez cole-gas de pescaria fazem bonitocomo ele, sem que haja uma or-ganização formal para isso.“Aprendi que todo lugar que élimpo traz boas energias. E tam-bém a respeitar a natureza. Eco-nomizo água em casa, critico omal feito, brigo com o governo,que só agora está preocupadocom a seca. Falta consciênciaambiental e educação”, disse.

É o vendedor Francisco deAssis quem está sempre prepa-rado para saciar a fome dos visi-tantes e ajeitar os molinetesgastos pelo tempo que caemna mão dele. “Moro no JardimTamoio e há 11 anos estou nes-te ponto. A situação do rio nun-ca esteve tão feia. Aqui, sómeio fio d’água e poeira. No

São Conrado, só pedra”, obser-va, enquanto espera mais umaleva de visitantes se aproximar.“O movimento diminuiu quenem o nível do rio”.

Na opinião de Souza, graçasàs medidas tomadas pelo gover-no do Estado, como o bombea-mento do volume morto dos re-servatórios do Sistema Canta-reira, o nível do Atibaia subiu.Acontece que, a Sociedade deAbastecimento de Água e Sa-neamento (Sanasa) retira, emmédia, 4m3/s do Rio Atibaia, pa-ra abastecer 95% de Campinas.E tratar a água custa caro. Con-forme o Correio já noticiou, aSanasa gasta R$ 500 mil a maispor mês para tratar a água queé distribuída à população, cus-to que poderá aumentar aindamais se as condições do Rio Ati-baia piorarem — com a baixavazão, os poluentes não se di-luem naturalmente e é precisoaumentar a quantidade de pro-dutos químicos para melhorara qualidade da água. “Se tem li-xo, claro, a coisa piora”, con-clui Kemotsú.

Contra a corrente

Na outra ponta do rio, o profes-sor de remo Antônio Carlosdos Santos, da Associação deRemo de Sousas, conta que jásoube de muita gente que “bo-

tou o santo para lavar”, espe-rando pela chuva, que caiu, tí-mida, ontem. “Não sei se a sim-patia funciona, o que tenho cer-teza é de que a natureza nuncaesteve tão louca. No ano passa-do, quando deu uma chuvara-da com granizo, no fim do ano,a correnteza do rio se inverteupor alguns minutos, coisa quefoi filmada para que não se du-vide”, contou ele, que já per-deu muito com enchentes, namesma beira, em 2010.

As aulas que ele costumavadar rarearam nos últimos me-ses, porque nem os caiaques re-sistem às pedras que se reve-lam ali e acolá. Depois de ummês e meio sem subir o Atibaiaà pé, pela margem, o remadorficou espantado com o que viuno trecho do Condomínio Jar-dim Botânico, em Sousas. “Pas-sava por cima dessas pedrasmais altas, transportando duaspessoas. Agora não dá.”

Ele adianta que, em breve,deve acontecer mais uma edi-ção do Reviva o Rio Atibaia,projeto que tem por objetivoampliar o debate sobre a revita-lização do rio e os planos locaisde gestão para a Macrozona 1,que abriga a Área de Preserva-ção Ambiental de Campinas(APA). Além da Associação deRemo de Sousas, a iniciativa é

da ONG Jaguatibaia — Associa-ção de Proteção Ambiental — edo Laboratório FarmacêuticoMSD. “Várias ações serão de-senvolvidas por pesquisadores

e ambientalistas, entre elas alimpeza do rio, mas, para queela aconteça, é preciso que o ní-vel do Atibaia suba, se não ne-nhum barco navega”, disse.

PROFISSIONAL coleta sangue dedoadora: queda no mês de maio

SANGUE

O pescador Alexandre de Souza não entende como tanto lixo desce pelo rio: “As pessoas e o governo só se lembram do Atibaia quanto ele está baixo”

SOLIDARIEDADE

Campanha da Apaebusca recursos paraconstruir centro

A Apae Campinas faz umacampanha publicitária paraangariar fundos para a construçãode um novo Centro deInicialização e QualificaçãoProfissional (CIQP). É no Centroque a entidade desenvolve umtrabalho de preparação de seusalunos para o mercado detrabalho. Hoje, mais de 100estudantes com deficiência mentalestão inseridos no mercado detrabalho com carteira profissionalassinada.A entidade oferece atendimento100% gratuito e a procura porvagas não para de crescer. Paraatender a essa demanda, aentidade criou a campanha, quefoi feita pela agência MendesGuimarães Propaganda. Com aconstrução de um novo centro acapacidade de atendimento v aitriplicar.A Apae funciona na Rua FranciscoBueno de Lacerda, 120, no ParqueItália. Mais informações podemser obtidas por meio do sitewww.campinas.apaebrasil.org.br edo telefone (19) 3772-1200. (AAN)

O Hemocentro daUniversidade Estadual deCampinas (Unicamp) iniciahoje a campanha de Inverno“Quando o assunto é doaçãode sangue, o brasileirotambém veste a camisa!”.O objetivo é motivar apopulação a doar sanguepara evitar a tradicionalqueda nos estoques queocorre no período doOutono/Inverno, quando astemperaturas caem.A preocupação aumenta emvirtude do início dos jogosda Copa do Mundo, quecertamente terão umimpacto nas doações, comonas edições anteriores.Caso o estoque total fiqueabaixo de 50% é grande orisco de cancelamento decirurgias em diversoshospitais atendidos peloHemocentro ou mesmofalta de sangue ehemoderivados para osatendimentos de urgência eemergência.

Uma preocupação maior écom os sangues do tipo RHnegativo (A, B, AB e O) querepresentam, no Brasil e emtodo mundo, menos de 12%da população. Em maio, oHemocentro da Unicampregistrou queda nas doaçõesem comparação com o mêsde abril. (AAN)

Divulgação

✔ De acordo com o boletimdiário divulgado pela Sala deSituação dos Comitês PCJ, aprevisão de chuvas até amanhãera de 5 mm nas Bacias dosRios Piracicaba, Capivari eJundiaí (PCJ).

✔ Com o tema “Sustente avida, preserve a água”, aPrefeitura de Campinas realiza,de 30 de maio a 8 de junho, aSemana do Meio Ambiente —Semeia 2014.

✔ Saiba mais:www.campinas.sp.gov.br

Com a pouca água, voluntários recolhem lixo acumulado no rioElcio Alves/AAN

Diversão do fim desemana virou missãode proteção à natureza

PREVISÃODO TEMPO

PROGRAMAÇÃO

O nível doreservatórioCantareira

voltou a cair nosúltimos dias. Nacomparação entresexta-feira e ontem, onível caiu mais 0,2ponto percentual echegou a 24,8% de suacapacidade.Desde o começo dautilização do volumemorto — reservaarmazenada abaixodos pontos de captação— há 14 dias, o volumedas reservas domanancial caiu 1,9ponto percentual.De acordo com oCentro deGerenciamento deEmergências daprefeitura (CGE), aprevisão é que o tempopermaneça alternandochuviscos e períodosde muitas nuvens epouco sol nospróximos dias. Não háprevisão de chuvaspara a capital e GrandeSão Paulo. (DaFolhapress)

Copa e frio ameaçam oestoque do Hemocentro

CORREIO POPULAR A7CIDADESCampinas, segunda-feira, 2 de junho de 2014

A7