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Cristina Santo 19 de Março de 2009 The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René

Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

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Page 1: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

Cristina Santo19 de Março de 2009

““The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René MagritteThe Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

Page 2: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

““Drawing Hands | Mãos Desenhando“ - M. C. EscherDrawing Hands | Mãos Desenhando“ - M. C. Escher

“eu crio o desconhecido com coisas conhecidas”

Magritte

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«Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida.»

«É em leitores assim, para quem o gosto da poesia é uma aliança de lucidez, uma exigência de aventura e rigor, que eu gostaria que os meus versos encontrassem ressonância…»

Eugénio de Andrade

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«Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar diria que sou um domador das palavras. Mas só eu – eu e os meus irmãos – sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.Sim, conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras todas as palavras. (…) A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar – e de se ficar – pelas palavras.»

Ruy Belo

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A Escritalidade

A idade da escrita é a minha idade a idade que passa a idade percurso o percurso do recurso

Não tenho outro recurso

A idade da escrita é a idade muda:A idade que olha que fala para ver que olha para saberNão escrevo para dizer:escrevo para dizer o que não pode ser dito

Ana Hatherly

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«Fala-se às vezes da inspiração a propósito de quem escreve a obra. Mas nunca se diz isso de quem a lê. Mas lê-la é escrevê-la outra vez. Um livro que se escreveu é imutável. O mesmo livro que se lê não o é. A inspiração de quem escreve um livro cumpre-se nele sem mais para o autor. Mas a de quem o reescreve, ou seja lê, é sempre variável.»

«Toda a leitura é um cruzamento de vozes – daquele que lê e do livro lido. E esse encontro é casual e diverso e faz soltar do livro a voz que procurávamos e estava certa porque era nossa. (…) Como nos lugares revisitados toma-nos a surpresa de eles serem e não serem os mesmos. Uma frase em extensão que me emocionou pode ser agora detestável de ridículo e elementaridade. Mas pode dar-se o inverso e a luz acender-se onde estava uma treva.»

Vergílio Ferreira

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«As palavras dos outros são erros do nosso ouvir, naufrágios do nosso entender. Com que confiança cremos no nosso sentido das palavras dos outros.»

Livro do Desassossego

«Para criar destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena nua onde passam vários actores representando várias peças.»

Livro do Desassossego

«Se sonho, parece que me escrevem, Se sinto parece que me pintam.»

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego por Bernardo Soares

«Tenho uma pena que escreve Aquilo que sempre sinta Se é mentira escreve leve Se é verdade não tem tinta»

Fernando Pessoa

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«Era uma vez uma história tão impressionante que quando alguém a lia o livro começava a transpirar pelas folhas. Se o leitor fosse muito bom o livro soltava mesmo algumas pequeninas gotas de sangue.»

Ana Hatherly

«As montanhas deslocam-se pela energia das palavras, aparecem pessoas, animais, corolas, sítios negros, e os astros crispados pela energia das palavras, cria-se o silêncio pela energia das palavras. Escrever é perigoso.»

Herberto Helder

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““Reproduction Interdite | Reprodução Interdita” - René MagritteReproduction Interdite | Reprodução Interdita” - René Magritte

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Estou só de mais no mundo, mas não só bastantepara sagrar cada hora.Sou pequeno de mais no mundo, mas não pequeno bastantepara ser perante ti como uma coisa escura e esperta.Eu quero e quero acompanhar meu querernos caminhos da acção;e quero em tempos serenos ou hesitantes,quando algo se aproximaestar entre os que sabemou só.Quero espelhar-te sempre em corpo inteiroe não quero ser nunca cego ou velhopara segurar a tua pesada imagem vacilante.

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Quero desdobrar-meNão quero ficar torcido em nada,pois sou mentido ali onde sou torcido.E quero o meu sentidoverdadeiro perante ti. Quero descrever-mecomo um quadro que vimuito tempo e de pertocomo uma palavra que compreendicomo o meu jarro de todos os dias,como a face da minha mãe,como um barcoque me trouxeatravés da mais mortal tormenta.

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«Não consegui nunca ver-me de fora.Não há espelho que nos dê a nós como foras, porque não há espelho que nos tire de nós mesmos.»

Livro do Desassossego

«(Escre)ver-me nunca escrevi

sou apenas um tradutor de silêncios

A vidatatuou-me nos olhosjanelasem que me transcrevo e apagosouum soldado

que se apaixonapelo inimigo que vai matar.»

Mia Couto

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E se fossemos rir, Rir de tudo, tantoQue à força de rir

Nos tornássemos pranto,

Pranto colectorDo que em nós sobeja?

No riso, na dor,Que o homem se veja.

Se veja disforme,Se disforme for.

Um horror enorme?Há outro maior...

Alexandre O’Neill

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«A minha sombra sou eu,Ela não me segue,Eu estou na minha sombraE não vou em mim.(...)Passa-se tudo em seguir-mee finjo que sou eu que sigo,finjo que sou eu que voue não que me persigo

Faço por confundir a minha sombra comigo:Estou sempre às portas da vida,Sempre às portas de mim»

Almada Negreiros

«Mas quem escreveu esse enredoQue eu represento no personagem de mim?E eu assisto-me a mim própriorepresentando o que não souum papel que não façonum enredo onde não existosenão para que o público siga o programae passe mais umas horas deste mundo!»

Almada Negreiros

«Os homens copiavam os anjos Os anjos copiavam os homens Ambos copiavam a inocência A inocência copiava as feras»

Natália Correia

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A inquietação gera a metáfora

a solidão o símbolo.O sentido da vida: as

mãos dadase o caminho.

Teresa Balté

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Pode Alguém Ser Quem Não É

- Senhora de pretodiga o que lhe dóié dor ou saudadeque o peito lhe róio que tem, o que foio que dói no peito?- É que o meu homem partiu

Disse-me na praiafrente ao paredão“tira a tua saiadá-me a tua mãoo teu corpo, o teu marteu andar, teu passoque vai sobre as ondas, vem”

Pode alguém ser quem não é?Pode alguém ser quem não é?Pode alguém ser quem não é?

Seja um bom agoiroou seja um mau presságiosonhei com o chorode alguém num naufrágionão tenho confiançajá cansa este esperarpor uma carta em vão

“por cá me governo”escreveu-me então“aqui é quase Invernoaí quase Verãomês d’Abril, águas milno Brasil também temnoites de S. João e mar”

Pode alguém ser quem não é?

É estranho no ventreser de outro lugare tão confusamentever desmoronarum a um sonhos sãosduas mãospassando da alegria ao desamor

Pode alguém ser livrese outro alguém não éa algema dum outroserve-me no pénas duas mãos,sonhos vãos, pesadelos diz-me:Pode alguém ser quem não é?

Sérgio Godinho

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““Unexpected Answer | Unexpected Answer | Resposta Inesperada”Resposta Inesperada”

René MagritteRené Magritte

““The Amorous Vista | The Amorous Vista | A Vista Amorosa”A Vista Amorosa”

René MagritteRené Magritte

““Les Clefs Des Champs | Les Clefs Des Champs | As Chaves Do Campo”As Chaves Do Campo”

René MagritteRené Magritte

““Le Telescope | Le Telescope | O Telescópio”O Telescópio”René MagritteRené Magritte

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«Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala de uma vida ideal mas sim de uma vida concreta.

Não tenho explicaçõesOlho e confronto

E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o marsão minha biografia e são meu rosto»

Sophia de Mello Breyner Andresen

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«Vimos da escuridão e somos luz,Ou nascemos da luz e somos sombra?»

Teresa Balté

«Pergunta

Diz-me a cor da tua inquietação:A seara no vento, o levante da onda

O verdeO degelo ou a sombra?»

Teresa Balté

«um pouco de um astro: meio homem, meio lua, meio sol»

René Char (trad.)

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Passo a noite a sonhar o amanhecer.Sou a ave da esperança.Pássaro triste que na luz do solAquece as alegrias do futuro.O tempo que há-de vir sem este muroDe silêncio e de negrura

Miguel Torga

Pressinto os ventos que chegam, tenho de vivê-losE desdobro-me e dobro-me sobre mimE arremesso-me e vejo-me sozinhoNa tempestade imensa

Rilke

Já alguém sentiu a loucuraVestir de repente o nosso corpo?Já.E tomar a forma dos objectos?Sim.E acender relâmpagos no pensamento?Também.E às vezes parecer o fim?Exactamente,

Almada Negreiros

Uma casa para eu ter a humildade de ser espaçoA líquida frescura de uma jarra

Um passo leve e certo em cada sombraUm ninho em cada ouvidoDe doces abelhas cegas.

Uma casa uma caixa de música e sossegoUm violão adormecido na doçuraUm mar longínquo à volta atrás do campoUma inundação de verdura e espessa pazUma repetida e vasta constelação de grilosE os galos alacres do silêncio

Antonio Ramos Rosa

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«Avançando veloz através do espaço, avançando atravésDo céu e das estrelas,Avançando veloz entre os satélites e o grande anel,E o diâmetro de oitenta mil milhas,Veloz com os cometas, lançando bolas de fogo como eles,(...)Enfurecendo, alegrando, planeando, amando, alertando,Para trás e para diante, aparecendo e desaparecendo,Noite e dia percorro esses caminhos

Visito os pomares dos planetas, observo os frutos,E vejo milhões de frutos maduros e milhões de frutos verdes.Os meus voos são os voos de uma alma fluidaE devoradora,0 meu rumo faz-se debaixo das sondas

Sirvo-me do material e do imaterialNão há guarda que me detenha, não há lei que me impeça.»

Walt Whitman

«E o que não é frágil é tão firmeque ameaça não se mudar

e ficar igual para semprecomo fogo que não se apagasse

terramoto que não se travasseinundação que não escoassetumulto que não se cansasse

repouso que não findasse dor que não matassevida que não morresse!

Frágil é a Vidae sólido tudo o mais

frágil é o fio que sustém a vida no are sólido tudo onde se despedaça a vida

se se parte o fio que a sustém no ar(...)

Frágil é a Vidae mais frágil que a vida só nós

enquanto somos Vidaenquanto a luz não nos evita

enquanto é tanta a luz que damos como a que recebemosenquanto os átomos da morte não descobrem o seu novo

caminho»

Almada Negreiros

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O valor do vento

Está hoje um dia de vento e eu gosto do ventoO vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras

só entram nos meus versos as coisas de que gostoO vento das árvores o vento dos cabelos

o vento do inverno o vento do verãoO vento é o melhor veículo que conheço

Só ele traz o perfume das flores só ele traza música de jazz a beira mar em agosto

Mas só hoje soube o verdadeiro valor do ventoO vento actualmente vale oitenta escudos

Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto.

Ruy Belo

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Eu tudo encontro alegremente exactoLavo, refresco, limpo os meus sentidos.E tangem-me, excitados, sacudidos,O tacto, a vista, o ouvido, o gosto e o olfactoCristalizações, Cesário Verde

«No interior da músicao silêncio

que regaço procura?Que interior é esse

onde a luz tem morada?»

«Essa música ou terraquando a terra é barco

essa música ou chamaQuando a chama é onda

essa música - eras tu?ou um pássaro na sombra?»

«Que música escutas tão atentamenteque não dás por mim?

que bosque, ou rio, ou mar?ou é dentro de ti

que tudo canta ainda?»

Eugénio de Andrade

«Não se perdeu nenhuma coisa em mimContinuam as noites e os poentesQue escorreram na casa e no jardim,Que intactas no meu ser estão suspensas.Trago o terror e a claridadeE através de todas as presençasCaminho para a única unidade.»Sophia de Mello Breyner Andresen

(...)«Se deixaste de pintar foi porque dizias que a pintura levava muito tempo a executarE tu querias sentir o coração das coisas, sangrar, ou explodir a cada segundo, lembras-te?»(...)«Sempre que posso fujo. Fujo no olhar que cegou o meu. Porque eu fujo e vou com tudo aquilo que me chama e toca..»AI Berto

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Por Este Rio Acima

Por este rio acimaDeixando para trásA côncava fundaDa casa do fumoCheguei perto do sonhoFlutuando nas águasDos rios dos céusEscorre o gengibre e o melSedas porcelanasPimenta e canelaRecebendo ofertasDe músicas suavesEm nossas orelhasleve como o arA terra a navegarMeu bem como eu vouPor este rio acima

Meu sonhoQuanto eu te queroEu nem seiEu nem seiFica um bocadinho maisQue eu tambémQue eu tambémmeu bem

Por este rio acimaDeixando para trásA côncava fundaDa casa do fumoCheguei perto do sonhoFlutuando nas águasDos rios dos céusEscorre o gengibre e o melSedas porcelanasPimenta e canelaRecebendo ofertasDe músicas suavesEm nossas orelhasleve como o arA terra a navegarMeu bem como eu vouPor este rio acima

Fausto

Meu sonhoQuanto eu te queroEu nem seiEu nem seiFica um bocadinho maisQue eu tambémQue eu tambémmeu bem

Por este rio acimaisto que é de unsTambém é de outrosNão é mais nem menosNascidos foram todosDo suor da fêmeaDo calor do machoAquilo que uns tratamNão hão-de tratarOutros de outra coisaPois o que vende o frescoNão vende o salgadoNem também o secoNa terra em harmoniaPerfeita e suavedas margens do rioPor este rio acima

Por este rio acimaOs barcos vão pintadosDe muitas pinturasDescrevem varandasE os cabelos de InêsDesenham memóriasAo longo da águaBosques enfeitiçadosSoutos laranjeirasCampinas de trigoAmores repartidosAfagam as doresQuando são sentidosMonstros adormecidosNa esfera do fogoComo nasce a pazPor este rio acima

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““Lovers | Amantes” - René MagritteLovers | Amantes” - René Magritte

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«Trouxera-te nos lábios um poemaInvisívelDaqueles que se inventamDe surpresa em surpresaDia a diaLentamente solenes e serenosAté à conjunção de ambos os termos»

«AmorDe sentidos atentosNunca exaustos nem extremosO improviso o artifícioDo exercício conjuntivoUrgenteAssimAté depoisQuem abeAté à próxima versãoPossívelDe em nova convençãoCorrermosos doisaté ao fim»

Teresa Balté

«Vem desenha no meu corpo os gestos de amorQue eu hoje não estou humilde mas de vontade livreE de comum acordo jogaremos ao todoEnquanto for possível(...)Vem de vontade livre enquanto for possívelJogaremos ao difícil»

«Os lábios aderentes aos corredores do tempoAspiram paraísosO rosto que perderam decora nas moldurasOs espelhos e retratos onde nos recolhemosA casa é o incestoA cena da loucura»

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«Que nem podemos dizer o deserto do nosso deserto. Que vamos fazer?Esperar talvez que um oásis imprevisível seja algures real no impossível da sua realidade. Talvez escrevendo uma carta de amor. A quem? A ninguém. Ao imaginário de quando havia fadas e o mais que nunca existiu. Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te inventar. Há-de haver algures um bosque, um parque à beira rio, uma flor num caminho onde não passa ninguém.É a altura de apareceres e darmos as mãos.»

Vergílio Ferreira

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Que pode um criatura senão,Entre criaturas, amar?

Amar e esquecer,Amar e malamar,

Amar, desamar, amar?Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,Sozinho, em rotação universal, senão

Rodar também, e amar?Amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,O que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cruUm vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina,

Este o nosso destino: amor sem contaDistribuído por as coisas pérfidas ou nulas,

Doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,

Paciente, de mais e mais amor.Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

Amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

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Creio

creio nos anjos que andam pelo mundocreio na deusa com olhos de diamantecreio em amores lunares com piano ao fundocreio nas lendas nas fadas nos atlantes

creio num engenho que falta mais fecundode harmonizar as partes mais dissonantescreio que tudo é eterno num segundocreio num céu futuro que houve dantes

creio nos deuses de um astral mais purona flor humilde que se encosta ao murocreio na carne que enfeitiça o além

creio no incrível nas coisas assombrosasna ocupação do mundo pelas rosascreio que o amor tem asas de oiro amén

«Eis-me sem explicaçõesCrucificada em amorA boca o fruto e o sabor»

«Daí o amor ser o meiodo homem dividido em doisE a pior metade é estarmosà espera de sermos depois(... )Porque a vida é a ocupaçãoDo único espaço disponívelPara o possível amanhãda nossa véspera impossível

Natália Correia

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«Onde estavas então?Entre que gente?Dizendo que palavras?Porque vem até mim todo o amor de repente Quando me sinto triste, e te sinto tão longe?(...)Sempre, sempre te afastas pela tardePara onde o crepúsculo corre apagando estátuas.»

Pablo Neruda

«Nós temos cinco sentidosSão dois pares e meio d' asas.

Como quereis o equilíbrio?»

David Mourão Ferreira

«Se eu pudesse dar-te o sopro que me fogeE que fora de mim jamais se encontraSe eu pudesse dar-te aquilo que descubroE descobrir-te o que de mim se esconde...»

Ana Hatherly

«Por aqui vou sem programa,Sem rumo,Sem nenhum itinerário0 destino de quem amaé vário,como o trajecto do fumo»

Cecilia Meireles

«Orquestra, flor e corpo: Doravante direiComo do corpo a música se extrai,Como sem corpo a flor não tem perfumeComo do corpo o som se repercute.

David Mourão Ferreira

As horas do amor hão-de ser semprefugazes e incendiadas, graves e temerárias,Porque o amor que se prolongaDe súbito se faz ódio na repetição que o avilta

José Jorge Letria

Page 31: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

Mário CesarinyMário Cesariny

Page 32: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

Ilumina-me

Gosto de ti como quem gosta do sábado,Gosto de ti como quem abraça o fogo,Gosto de ti como quem vence o espaço,Como quem abre o regaço,Como quem salta o vazio,Um barco aporta no rio,Um homem morre no esforço,Sete colinas no dorsoE uma cidade p’ra mim.

Gosto de ti como quem mata o degredo,Gosto de ti como quem finta o futuro,Gosto de ti como quem diz não ter medo,Como quem mente em segredo,Como quem baila na estrada,Vestido feito de nada,As mãos fartas do corpo,Um beijo louco no portoE uma cidade p’ra ti.

Enquanto não há amanhã,Ilumina-me, Ilumina-me.Enquanto não há amanhã,Ilumina-me, Ilumina-me.

Gosto de ti como uma estrela no dia,Gosto de ti quando uma nuvem começa,Gosto de ti quando o teu corpo pedia,Quando nas mãos me ardia,Como silêncio na guerra,Beijos de luz e de terra,E num passado imperfeito,Um fogo farto no peitoE um mundo longe de nós.

Enquanto não há amanhã,Ilumina-me, Ilumina-me.Enquanto não há amanhã,Ilumina-me, Ilumina-me.

Pedro Abrunhosa

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““La Mémoire | A Memória” - René MagritteLa Mémoire | A Memória” - René Magritte

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«Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. O passado, já não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. (…) Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.»

Livro do Desassossego

«Os poetas só têm uma missão – se lhes quisermos assacar qualquer missão, do que muitas vezes duvido: cantarem.Cantarem o Presente. Amarem o Presente. Insultarem o Presente. Viverem as paixões, as lutas, os amores, a porcaria, as molezas, as incoerências, o nada e o tudo do Presente.O Presente, o Presente apenas, só o Presente!Os raros que chegam ao Futuro são os que, mercê de um luminoso toque de génio, conseguem esticar o Presente até lá.(«O Futuro? Mas o Futuro que não se fixa – e nada se fixa – é sempre o Passado», murmura-me o exíguo filósofo que me acompanha sempre para me recordar os desesperos óbvios. Tão óbvios que nem reparamos neles.)»

José Gomes Ferreira

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O Futuro? Ouçam: não me venham com essa léria do Futuro – visão do Céu na Terra enfeitada

de bandeiras de corações cristalinos, amor universal nos lábios quentes do frio da justiça, calabouços só para teias de aranha, polícias a fazerem paciências com fantasmas, soldados empenhados em criações de pombos, bombeiros com asas para apagarem o incêndio dos poentes…

O Futuro? Por favor não me venham com essa tremenda maçada da felicidade do Futuro duma

inocência de sonhos últimos atravessados por paraísos de tédio – com os homens a darem os corações de pão de ló à fome dos pássaros.

Felizmente que não o sofrerei. Nem terei o trabalho de ajudar a voltá-lo do avesso.Porque, acreditem, com um Futuro assim tão quimicamente puro e insípido, os

homens não descansarão enquanto não tornarem tudo outra vez injusto com organizações clandestinas especiais a favor da Desigualdade e manifestações de rua aos gritos de viva a Fome!, viva a Injustiça! (para voltarmos a desejar a Justiça), abaixo os bocejos!

José Gomes Ferreira

«Estamos no que fomosÀ espera do que importa»

Natália Correia

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«Nascer é o feito dos outros0 nosso é depois de nascerAté chegarmos a serAquele que o sonho nos faz»

Almada Negreiros

« 0 tempo. A Memória. 0 sem fim da extensão de nós»

Vergílio Ferreira

«Mas horas há que marcam fundo...Feitas, em cada um de nós,De eternidades de segundo,Cuja saudade extingue a voz.

Ao nosso ouvido, embaladora,A ama de todos os mortais,A esperança prometedora,Segreda coisas irreais.»

Manuel Bandeira

«...Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sombra sem voz...»

Mia Couto in Terra Sonâmbula

«É sempre nos meus lábios a estampilhaÉ sempre no meu não, aquele trauma.Sempre no meu amor a noite rompeSempre dentro de mim meu inimigoE sempre no meu sempre a mesma ausência.»

Carlos Drummond de Andrade

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«Tio Afrânio diz: temos duas eternidades, a vida e a morte.Pena é que uma delas seja tão breve.»

Mia Couto

«a idade é isto: o peso da luzcom que nos vemos»

Mia couto

«Criança, eu sabiasuspender o temposoterrar abismose nomear estrelasCresciperdi pontes,esqueci sortilégioscareço da habilidade da ondahei-de aprender a carícia da brisa»

Mia Couto

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«Viver uma vida que domina a vida, numa duração sem duração eis o prestígio que o poeta nos sabe restituir» «Um tempo imenso, nós não temos

andado e sangrado por aqui senão para captar os traços da nossa aventura comum.»«A poesia é conquista e conservação

indefinida desta conquista para além de nós que murmura o nosso naufrágio, derrota a nossa decepção»

«Poeta, aquele que conserva os infinitos rostos do vivente»

«0 poema é o amor realizado do Desejo que se mantém Desejo »

«0 instante uma partícula concedida pelo Tempo e incendiada por nós»

«A vida pinta-nos e a morte desenha-nos»

«Fazemos os nossos caminhos como o fogo as suas faúlhas. Sem plano cadastral.»

René Char (trad)

Page 39: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

E por vezes

E por vezes as noites duram mesesE por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamosnunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meseso que a noite nos fez em muitos anosE por vezes fingimos que lembramosE por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanossó o sarro das noites não dos meseslá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramosE por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos

David Mourão Ferreira

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Quem Me Leva Os Meus Fantasmas

Aquele era o tempoEm que as mãos se fechavamE nas noites brilhantes as palavras voavam,Eu via que o céu me nascia dos dedosE a Ursa Maior eram ferros acesos.Marinheiros perdidos em portos distantes,Em bares escondidos,Em sonhos gigantes.E a cidade vazia,Da cor do asfalto,E alguém me pedia que cantasse mais alto.

Quem me leva os meus fantasmas,Quem me salva desta espada,Quem me diz onde é a estrada?Aquele era o tempoEm que as sombras se abriam,Em que homens negavamO que outros erguiam.E eu bebia da vida em goles pequenos,Tropeçava no riso, abraçava venenos.De costas voltadas não se vê o futuroNem o rumo da balaNem a falha no muro.E alguém me gritavaCom voz de profetaQue o caminho se fazEntre o alvo e a seta.

Quem leva os meus fantasmas,Quem me salva desta espada,Quem me diz onde é a estrada?

De que serve ter o mapaSe o fim está traçado,De que serve a terra à vistaSe o barco está parado,De que serve ter a chaveSe a porta está aberta,De que servem as palavrasSe a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas,Quem me salva desta espada,Quem me diz onde é a estrada?

Pedro Abrunhosa

Page 41: Cristina Santo 19 de Março de 2009 “The Thought Which Sees | O Pensamento Que Vê” - René Magritte

““Golconde” - René MagritteGolconde” - René Magritte ““Decalcomania” - René MagritteDecalcomania” - René Magritte““Reconnaissance Infinie | O Reconhecimento Infinito”Reconnaissance Infinie | O Reconhecimento Infinito”

René MagritteRené Magritte

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Venham leis e homens de balanças, mandamentos d’ aquém e além mundo.

Venham ordens, decretos e vinganças, desça em nós o juiz até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade a luz vermelha brilhe inquisidora, risquem no chão os dentes da vaidade e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos para sujar nas fichas dos arquivos.

Não respeitem mistérios nem segredos que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte, relógios a marcar a hora exacta.

Não aceitem nem queiram outra arte que a proeza do registo, o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros, cercados de bastões e fortalezas, hão-de ruir em estrondo os altos muros e chegará o dia das surpresas.

José Saramago

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(...) Mas não importa, porque eu sei que não estou sozinho no meu desespero e na minha revolta. Sei pela luz que passa de homem para homem quando alguém faz o gesto de matar, pela que se extingue em cada homem à vista dos massacres, sei pelas palavras que uivam, pelas que sangram, pelas que arrancam os lábios, sei pelos jogos selvagens da infância, por um estandarte negro sobre o coração, pela luz crepuscular como uma navalha nos olhos, pelas cidades que chegam durante as tempestades, pelos que se aproximam de peito descoberto ao cair da noite – um a um mordem os pulsos e cantam – sei pelos animais feridos, pelos que cantam nas torturas (...)

António José Forte

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« Os escravos precisam dos escravos para afixar autoridade dos tiranos»

René Char

Tenho vergonha de existir.Vergonha de aqui estar simplesmentepensando,Colaborandosem resistir.Disso, e do resto.Vergonha de sorrir para quem detesto,de responder pois équando não éVergonha de me ofenderemvergonha de me explorarem,vergonha de me enganarem,de me compraremde me venderem.

António Gedeão

A guerra daqui não mata - mas abre fissuras Nos nervos - é o que te posso dizer deste país que escolhi para definhar

a cidade é um amontoado de lixo de tapumes de sucata e de casas que se desmoronam a realidade estragou os olhos das crianças

Al Berto

Eu, quando choronão choro eu.Chora aquilo que nos homens em todo o tempo sofreu. As lágrimas são minhas mas o choro não é meu

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«Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter uns para os outros uma amabilidade de viagem»

Livro do desassossego

«Eu não estou separado. Eu estou ‘no meio de’ . Daí o meu tormento sem expectativa»René Char

«Não há nunca testemunhas. Há desatentos.Curiosos, muitos.Quem reconhece o drama, quando se precipita,sem máscara?»

Drummond de Andrade «Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eusei que o Mundo é maior do que o bairro em que habitoque o respirar de um só, mesmo que seja o meu,não pesa num total que tende para o infinito Eu sei que as dimensões impiedosas da vidaignoram todo o homem, dissolvem-no, e contudo,nesta insignificância, gratuita e desvalida,Universo sou eu, com nebulosas e tudo.»

António Gedeão

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Perfilados de medo agradecemosO medo que nos salva da loucuraDecisão e coragem valem menosE a vida sem viver é mais segura

Aventureiros já sem aventura,Perfilados de medo combatemosIrónicos fantasmas à procuraDo que não fomos, do que não seremos

Perfilados de medo, sem mais voz,O coração nos dentes oprimido,Os loucos, os fantasmas somos nós

Rebanho pelo medo perseguidoJá vivemos tão juntos e tão sósQue da vida perdemos o sentido

Alexandre O'Neill

«Viver é a maravilhade viver milhões de vida,de haver sempre uma outra porta para abrire o desejo de abri-la»

Fernando Namora

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«O sangue derrama-se facilmente Basta-lhe apenas uma abertura.

O sangue de um morto por acidente Não é o mesmo, na rua,

Que o de um morto pela liberdadeDerramado na mesma rua,

Tem cada qual um modo particularDe ser vermelho e de gritar»

Guillevic

«Tu vais e vensMas dentro de limites

Fixados por uma leiQue não chega a ser tua

Nós temos em comumA experiência do muro.»

«Não temos margens, na verdade,Nem tu nem eu»

Guillevic

«Era já tempode um outro tempoE a poesiaConvocava os seus soldadosE nos fuzis da imaginaçãoSe abriram as baionetas da verdade»

Mia Couto

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«Um espelho tão grande quanto essa multidão; um caleidoscópio dotado de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e a graça movediça de todos os elementos da vida. É um eu insaciável do não-eu, que, a cada instante, o traduz e o exprime em imagens mais vivas que a própria vida, sempre instável e fugidia.»

Baudelaire, Charles

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Só. Mas quem diz só?Quem diz essa palavraDa cor da maldição?

Não faças confusão

Aquele que vai sóLeva os outros consigo.

Por eles desesperaDe com eles esperar.

Guillevic

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Imagine

Imagine there's no heavenIt's easy if you tryNo hell below usAbove us only skyImagine all the peopleLiving for today...

Imagine there's no countriesIt isn't hard to doNothing to kill or die forAnd no religion tooImagine all the peopleLiving life in peace...

You may say I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope someday you'll join usAnd the world will be as one

Imagine no possessionsI wonder if you canNo need for greed or hungerA brotherhood of manImagine all the peopleSharing all the world...

You may say I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope someday you'll join usAnd the world will live as one

John Lennon

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““Le Beau Monde | O Mundo Belo” - René MagritteLe Beau Monde | O Mundo Belo” - René Magritte““Le Beau Monde | O Mundo Belo” - René MagritteLe Beau Monde | O Mundo Belo” - René Magritte““Le Beau Monde | O Mundo Belo” - René MagritteLe Beau Monde | O Mundo Belo” - René Magritte