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CRÍTICA MUSICAL NA INTERNET: Análise da coluna Alfinetando, publicada por Regis Tadeu no site Yahoo

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  Nathália de Sousa Faria

CRÍTICA MUSICAL NA INTERNET

Análise da coluna Alfinetando, publicada por Regis Tadeu no site Yahoo

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2011 

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 Nathália de Sousa Faria

CRÍTICA MUSICAL NA INTERNET

Análise da coluna Alfinetando, publicada por Regis Tadeu no site Yahoo

Monografia apresentada ao curso de Jornalismo do CentroUniversitário de Belo Horizonte (UNI-BH) como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.Orientador: Maurício Guilherme Silva Jr.

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2011

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Obrigada ao apoio constante da minha família. Agradeço aos meus pais,

 pelo incentivo e força; ao Maurício, pela orientação e ao Rodrigo, pela

 paciência.

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RESUMO

O presente trabalho estuda a produção de crítica musical na internet. Para tal, realizou-se análise

da coluna Alfinetando, publicada pelo crítico musical Regis Tadeu no site Yahoo. Por meio da

investigação, é possível problematizar questões pertinentes ao universo do webjornalismo e da

crítica cultural. Dentre os pontos analisados, destacam-se a natureza dos assuntos tratados; a

existência ou inexistência de interatividade na coluna e a adequação ao gênero jornalístico a que

se propõe.

Palavras-chave: Jornalismo cultural, Crítica musical, Webjornalismo, Coluna  Alfinetando,

Regis Tadeu.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ........................................................................................................................................40

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................08

2 INDÚSTRIA CULTURAL, CULTURA DE MASSA E MÚSICA....................................10

2.1 Cultura de Massa e Indústria Cultural: Conceitos..................................................................10

2.2 A questão da arte na Cultura de Massa..................................................................................12

2.3 Cultura de Massa, Indústria Cultural e música.......................................................................13

2.4 Indústria fonográfica e música popular..................................................................................15

2.4.1 Indústria fonográfica no Brasil............................................................................................17

2.4.2 Aqueles que formam as preferências...................................................................................192.4.3 Crítica musical e imagem pública do artista.......................................................................19

3 A CRÍTICA CULTURAL: JORNALISMO, MÚSICA E INTERNET............................21

3.1 Jornalismo e vida social..........................................................................................................21

3.2 Jornalismo cultural..................................................................................................................24

3.3 A crítica jornalística................................................................................................................27

3.3.1 A opinião..............................................................................................................................29

3.4 Crítica em tempos de webjornalismo.....................................................................................32

4 ANALISANDO AS ALFINETADAS....................................................................................35

4.1 Descrição da metodologia.......................................................................................................35

4.1.1 Critérios de análise...............................................................................................................36

4.2 O crítico Regis Tadeu.............................................................................................................36

4.2.1 A coluna Alfinetando...........................................................................................................37

4.3 Análise.....................................................................................................................................384.3.1 Análise quantitativa.............................................................................................................38

4.3.2 Adequação ao gênero jornalístico........................................................................................40

4.3.3 Indícios de objetivação e subjetivação................................................................................43

4.3.4 Interatividade no webjornalismo.........................................................................................44

5 CONCLUSÃO..........................................................................................................................48

REFERÊNCIAS..........................................................................................................................50

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ANEXOS......................................................................................................................................52

Anexo A – Seção Opinião do portal Yahoo.................................................................................52

Anexo B – Imagem da coluna Alfinetando..................................................................................53

Anexo C – VMB 2010 celebra um mundo pop-rock retardado...................................................54Anexo D – 10 primeiros comentários do texto “VMB celebra um mundo pop-rock retardado”.......................................................................................................................................................57

Anexo E – É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade......................................................59

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INTRODUÇÃO

Devido à grande quantidade de informação oferecida às pessoas, tornam-se cada vez mais

necessários profissionais responsáveis pela mediação do processo de produção das notícias. Na

internet, ambiente onde receptores podem tornar-se emissores, é muito importante que se

compreendam as características do webjornalismo, para que seja garantida a credibilidade dos

textos, e, principalmente, para que se defina o papel do jornalista cultural no ambiente digital.

A crítica cultural é muito abordada em sites especializados. Entretanto, para o senso comum, há

certa imagem do crítico como alguém que discute os produtos culturais de modo subjetivo e

sem embasamento teórico. É fundamental que o jornalista cultural entenda como se deve produzir um texto, com base em dados históricos e argumentos, em se tratando de crítica, ou de

qualquer outro formato opinativo.

O presente trabalho tem como objetivo problematizar a crítica musical publicada na internet,

observando-se as características do chamado webjornalismo cultural. Para isso, escolheu-se,

como tema de análise, a coluna Alfinetando, publicada, desde 2010, no portal Yahoo, por Regis

Tadeu. Considerado um dos mais influentes críticos musicais do Brasil, Tadeu já foi editor derevistas de música e participou de programas de rádio e TV. Em Alfinetando, discute bandas,

discos, artistas, além de temáticas contemporâneas acerca do “universo musical”. Além da

coluna, onde publica textos, há, também no Yahoo, a Galeria do Regis, onde o crítico posta

vídeos de sua autoria, com variados comentários de cunho cultural.

Como objeto empírico desta pesquisa, analisaram-se, durante um ano, 14 textos da coluna

Alfinetando, publicados sob títulos como “VMB 2010 celebra um mundo pop-rock retardado”,“É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade”, “Os melhores e piores discos internacionais

de 2010” e “Amy Winehouse finalmente encontrou o que procurava”. Por meio dos textos,

 pretendeu-se verificar as características da crítica musical no ambiente online.

 No primeiro capítulo teórico desta monografia, discutiram-se, com base em autores como

Adorno (2002) e Coelho (1998), os conceitos de Indústria Cultural e Cultura de Massa, assim

como nuances da música popular em meio à produção cultural em série. Baseando-se nesses

conceitos, discutiu-se, ainda, a arte na cultura de massa e a indústria fonográfica.

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No segundo “movimento” teórico aqui desenvolvido, buscou-se discutir, com base em autores

como Piza (2004) e Cunha, Teixeira e Magalhães (2002), as especificidades do Jornalismo

Cultural, da crítica especializada e do webjornalismo. Por fim, no último capítulo deste

trabalho, seguiu-se à análise dos textos publicados por Regis Tadeu em sua coluna Alfinetando.

A pesquisa foi levada pelo interesse em entender o papel do crítico cultural, meio ao

webjornalismo. Cada vez mais, os jornalistas precisam estar preparados para lidar com a

agilidade e inovação nos conteúdos, mantendo a credibilidade do público frente aquilo que

 publicam. Neste sentido, o presente trabalho busca direções para se repensar, diariamente, a

rotina de produção e ampliar a discussão visando uma evolução jornalística.

2 INDÚSTRIA CULTURAL, CULTURA DE MASSA E MÚSICA

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2.1 Cultura de Massa e Indústria Cultural: Conceitos

Desde o advento e popularização de mídias como jornal, rádio e televisão, entre outras, o termo

comunicação de massa busca classificar as informações transmitidas a grande parte da

 população. De acordo com Thompson (1995), a tecnologia de produção, transmissão e recepção

de formas simbólicas, no surgimento do capitalismo, relaciona-se ao desenvolvimento da

comunicação de massa. O autor explica que, na comunicação de massa, há que se considerar o

fenômeno da quase-interação, um tipo de interação unilateral do emissor, em que não há

resposta do receptor.

O tipo de interação proposta por Thompson (1995) está em acordo com o conceito de ‘massa’

explicado por uma radiomensagem do Papa Pio XII, no Natal de 1944, quando a santidade

refere-se ao “povo” e à “massa”. Para Pio XII, o povo é um grupo de indivíduos que age

consciente, movido por ideais e princípios. Já a massa é irracional, movida por paixões e

influenciada por ideias alheias e pela moda. Os indivíduos que compõem a massa são passivos e

estão sempre em acordo com a maioria. Thompson (1995) se mostra contra uma “massa” que

não interfere, mas só acata o que diz a mídia. 

De acordo com Morin (1969), a produção de massa tem como objetivo o máximo consumo e,

 para isso, o maior público possível. Para atingir grande número de indivíduos, dá-se o que

Morin chama de “homogeneização”, em que é traçado um perfil de público para os produtos,

levando-se em conta o sexo, a classe social e a idade do consumidor.

As sociedades, em meio à comunicação de massa, vivem uma “(…) cultura capaz dehomogeneizar a vida e a visão de mundo das diversificadas populações que formam essas

sociedades, ultrapassando barreiras de classe social e facilitando, por essas razões, o controle

das massas” (SANTOS, 1983, p.55). Segundo Morin (1969), a cultura orienta a emoção do

indivíduo e é organizada por um complexo de conceitos, normas, imagens e simbologias. Já

segundo Adorno, “Falar de cultura foi sempre contra a cultura. O denominador ‘cultura’ já

contém, virtualmente, a tomada de posse, o enquadramento, a classificação que a cultura

assume no meio da administração” (ADORNO, 2002, p.179). Tal posicionamento sobre a

“cultura” diz respeito ao que Coelho (1998) discute como produção cultural, feita em série,

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industrialmente, e que existe não para a expressão livre dos indivíduos, mas para se transformar 

em produto, a ser consumido como qualquer outro artefato.

 

A polêmica discussão em torno da Cultura de Massa iniciou-se na década de 1930, afirma

Coelho (2006), mas o seu auge deu-se no início dos anos 1960. A existência dessa cultura

homogeneizadora, para Santos (1983), teria seu núcleo na atividade da Indústria Cultural. O

termo foi criado em 1947, por Adorno e Max Horkheimer 1, e é fundamental para que

compreendam as características da relação cultura-sociedade. A Indústria Cultural é um tipo de

organização dos produtores de cultura, que a transformam em produto. Ou seja, segundo

Adorno (2002), o que é culturalmente produzido assemelha-se a um produto industrializado.

Há, para tal produção, um plano visando o consumo.

Entre os vários autores a abordar tal assunto, é unânime a ideia de que o produto da Indústria

Cultural, não importa qual seja, tem como objetivo chegar às massas e ser consumido por elas.

Os produtos estão prontos à absorção, não para ser pensados ou criticados. “Os próprios

 produtos, desde o mais típico, o filme sonoro, paralisam aquelas faculdades pela sua própria

construção objetiva” (ADORNO, 2002, p.179).

De acordo com Coelho (1998), a Indústria Cultural e os seus produtos têm a ideologia do

capitalismo e, inevitavelmente, produz alienação, independentemente do conteúdo das

mensagens.

Segundo Kellner (2001), a mensagem do produto deve ser analisada. O autor sugere que seja

feito um estudo detalhado dos efeitos dos meios de comunicação nos receptores. Kellner afirma

que a cultura da mídia tem como intenção dominar a sociedade, impondo valores, gostos e pensamentos. Por isso, é importante entender o processo de industrialização da cultura. Em

diálogo com Adorno (2002), Kellner observa que as músicas, programas de televisão, revistas,

 programas de rádio, filmes, entre outros, têm em comum objetivo a mercantilização, a

estandarização e a massificação. Por outro lado, acredita que os indivíduos são capazes de

absorver as informações e rejeitarem o que lhes é oferecido.

1 ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max.  Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio deJaneiro: Editora Jorge Zahar, 1985.

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A visão de Kellner (2001) difere-se do posicionamento de Adorno (2002), para quem a

Indústria Cultural impede a formação de indivíduos conscientes e lhes tira a capacidade de

 julgar o conteúdo dos produtos culturais. Para o autor, estes produtos são negócios, com fins

comerciais, dentro de uma economia industrial. Adorno afirma, ainda, que uma civilização de

massa, vivendo em economia industrial, perde sua identidade. Nesta civilização, a indústria cria

diferenciações, entre as classes A e B, para classificar e padronizar os consumidores.

O homem na Indústria Cultural existe para o trabalho e para o consumo, afirma Adorno (2002).

O consumidor desse sistema sempre estará insatisfeito e com necessidades infinitas. Já Coelho

(1998) observa que a sociedade deseja acreditar no trabalho como caminho para ascensão social

e salvação do indivíduo. Porém, numa sociedade em que há má distribuição de renda – e naqual os trabalhadores, muitas vezes, não recebem o suficiente –, o trabalho nada mais é do que

um instrumento para que se satisfaçam as necessidades.

Ao discutir a má distribuição de renda, Coelho (1998) observa que, no Brasil, por mais que a

Indústria Cultural queira homogeneizar os padrões de consumo, os receptores revelam-se

diversos e com disparidades sociais. A Indústria Cultural, portanto, não consegue um domínio

completo dos indivíduos, que acabam por preservar sua cultura popular.

2.2 A questão da arte na Cultura de Massa

Segundo Adorno (2002), a arte liberta o indivíduo e possibilita uma experiência diferente da

imposta pela indústria. Porém, as expressões artísticas podem ser imitadas. De acordo com

Benjamim (2002), a arte pode ser reproduzida, pois o que um homem faz pode ser imitado por 

outros. Ao acompanhar o desenvolvimento do capitalismo e, consequentemente, o crescimentoda Cultura de Massa, de acordo com Benjamim (2002), muitas obras de arte, de épocas

anteriores, já foram reproduzidas, sofrendo muitas modificações. “Mesmo na reprodução mais

 perfeita, falta uma coisa: o aqui e agora da obra de arte – a sua existência única no lugar em que

se encontra” (BENJAMIM, 2002, p.222). Para o autor, a autenticidade do original se dá no aqui

e agora da obra.

Por um lado, Adorno (2002) explica que muitas obras têm sido simplificadas para que sejam

compreendidas pela massa, reproduzidas com a preocupação técnica, mas sem a atenção para

com o conteúdo. Por outro, Benjamim (2002) explica que, cada vez mais, obras de arte são

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feitas para serem reproduzidas, como é o caso da fotografia, em que de um negativo é possível

obter-se muitas cópias da mesma fotografia. Segundo Benjamim (2002), a autenticidade da obra

não é mais um critério para a arte. Portanto, é necessário repensar todas as funções da arte de

forma política. Afinal, a Indústria Cultural mudou a concepção do que era a arte em seus

 primórdios.

Segundo Coelho (2006), há, na Cultura de Massa, uma arte “facilitada”, chamada de kitsch, que

não precisa de interpretação ou qualquer esforço do espectador para compreensão das obras.

Esse tipo de arte existe para ser consumida. Um produtor de arte kitsch já pensa nos efeitos e

reações a serem causados no espectador. O autor ainda afirma que se observam tais

características do kitsch em muitos produtos da Indústria Cultural.

O consumo de arte, segundo Shuker (1999), é uma variável do gosto pessoal. Ou seja, as

 pessoas consomem aquilo com que elas se identificam. O autor explica que o gosto é uma

construção social, influenciado por idade, classe social, etnia e gênero.

Coelho (2006) usa como exemplo de produto da Indústria Cultural os seriados cômicos

americanos, que apresentam as risadas gravadas no momento em que se espera que o espectador deva rir. Essa seria a arte facilitada, kitsch, citada anteriormente. O espectador tem as reações

esperadas pelos produtores dos seriados. Ao criticar a Indústria Cultural, o autor discute o

espectador tratado como objeto, não como interlocutor. Neste momento, a arte é desenvolvida

segundo questões comerciais.

2.3 Cultura de Massa, Indústria Cultural e música

Quando o termo Indústria Cultural surgiu, proposto por Adorno e Horkheimer, em 1947, havia

a intenção de substituir a expressão “Cultura de Massa”, uma vez que esta daria a entender que

se trata de cultura espontânea das massas, o que, para Adorno (1999), não acontece. Para o

autor, a Indústria Cultural determina o que deverá ser consumido pelas massas, definindo,

assim, o que será “cultural”.

Anderson (2006) explica que, com o crescimento da mídia e da indústria de entretenimento, no

século XXI, percebe-se a cultura representada por sucessos dos campeões de bilheterias, discos

mais vendidos e índices de audiência dos programas televisivos. “Definimos nossa era em

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função de nossas celebridades e dos produtos de mercado de massa (...)” (ANDERSON, 2006,

 p.1). Se, por um lado, Anderson (2006) mostra que os “hits” imperam na sociedade, por outro,

afirma que, atualmente, o cinema – assim como o rádio e a música – não rende mais como

rendia há décadas. Embora, ainda “(...) estejamos obcecados pelos sucessos do momento, esses

hits já não são mais a força econômica de outrora” (ANDERSON, 2006, p.2).

Sobre a música que expressa nossa cultura, Shuker (1999) afirma que não se trata de cultura

imposta, pois há mistura de interesses empresariais, intenções dos criadores musicais,

articulação dos textos e composições musicais, além do gosto e percepção do público. A

música, ao mesmo tempo em que manifesta o instinto humano, apazigua o ser, afirma Adorno

(1999). Contudo, por meio de sua função disciplinadora, as expressões musicais exercem poder sobre os indivíduos.

Ao contrário do que explica Shuker (1999), Adorno (1999) afirma que as músicas, os filmes,

entre outros produtos da Indústria Cultural, manipulam os indivíduos sem que eles percebam, e

de maneira com que eles se sintam representados. Em suas obras, Adorno criticou severamente

a música, no que diz respeito à Cultura de Massa. Para o autor, as pessoas obedecem cegamente

à moda musical e o indivíduo é levado pela opinião da massa. Além disso, as músicas seriam padronizadas como mercadorias a ser consumidas. “Em vez do valor da própria coisa, o critério

de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser conhecida de todos, gostar de um disco de

sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo” (ADORNO, 1999, p.66).

Ao tratar a simplificação das músicas na Cultura de Massa, Adorno (1999) aborda a questão do

arranjo. Segundo o autor, os novos produtores de música fazem arranjos para todas as músicas

que puderem, tirando-lhes importantes características e manipulando as músicas, de forma adeixá-las mais “agradáveis” para o ouvinte. Adorno afirma que a indústria impõe o que os

indivíduos querem ouvir.

Shuker (1999) afirma que a relação entre arte e comércio é amplamente discutida ao longo da

história da música popular. Um dos principais critérios de avaliação qualitativa de artistas e

gêneros musicais é a autenticidade das obras musicais. O autor explica que, no interior da

indústria fonográfica, pode-se observar que os selos independentes têm trabalhos menos

comerciais e mais autênticos, ao passo que as grandes gravadoras são mais preocupadas com o

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trabalho comercial, acima da autenticidade. Shuker (1999) explica que uma obra autêntica deve

ser original e criativa.

Quando Benjamim (2002) afirma que a autenticidade não é mais um critério para a arte, o autor 

sugere que uma música não autêntica também pode ser vista como obra de arte. O conceito de

autoria é frequentemente discutido entre os críticos e musicólogos, relacionando-se com um

ideal de valor estético. Críticos e músicos usam a autoria musical como uma das características

 para determinar o status dos artistas. Numa análise da música popular, procura-se entender as

intenções do criador, e os musicólogos vêem os compositores como produtores de arte

(SHUKER, 1999).

Ao passar dos anos, com o desenvolvimento da tecnologia, aquilo que era produzido para uma

“massa homogênea” mudou suas características. Anderson (2006) explica que, apesar de haver 

demanda para Cultura de Massa, hoje, há mercados de nichos, em que os consumidores exigem

mais opções para o consumo. Há um novo mercado de variedades, que revoluciona toda a

indústria de entretenimento e os meios de comunicação.

2.4 Indústria fonográfica e música popular

Thomas Edson, em 1877, inventou o fonógrafo, instrumento que possibilitava o registro do

som, fazendo uma reprodução mecânica das vibrações do ar produzidas por ruídos de qualquer 

natureza, como o canto, a fala ou a música. Segundo Anderson (2006), o fonógrafo foi uma das

tecnologias que ajudaram a propagar a Cultura de Massa. Como integrante da Indústria

Cultural, a indústria fonográfica tornou-se responsável por um dos principais produtos de

consumo de massa: a música. No século XX, a música foi difundida, principalmente, por meiodo rádio.

Anderson (2006) explica que o rádio criou o ídolo popular. O autor afirma que, nas décadas de

1940 e 1950, havia um programa, Your hit parade, que se descrevia como um quadro de

demonstração das preferências da América em música popular. Foi na década de 1950 que a

rádio começou a se transformar em máquina produtora de sucessos. Na década de 1970, de

acordo com Anderson (2006), o programa semanal  American Top 40, de Casey Kasem, era

apresentado por uma rede de emissoras de rádio dos Estados Unidos, que apresentava as

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 primeiras 40 músicas das 100 eleitas pela Billboard . A geração que acompanhava o programa

via subir e descer a classificação das bandas de sucesso da época.

 No início do século XXI, Anderson (2006) afirma que a indústria da música tinha poder para

 produzir sucessos e demandas para os seus produtos. A indústria fonográfica tinha a fórmula

 para produzir hits, que era uma combinação de músicas com a aparência e personalidade dos

artistas. O êxito da fórmula fez com que, entre 1990 e 2000, as vendas de álbuns dobrassem. Os

100 álbuns mais vendidos da história foram desse período.

Shuker (1999) explica que a indústria fonográfica é formada por gravadoras grandes ou

independentes, por artistas, equipamentos musicais, direitos autorais e imprensa musical, por merchandising , entre outras instituições e mercados, que buscam o lucro. Com o crescimento

dos hits, o que parecia uma história de sucesso mudou o rumo a partir dos anos 2000, quando as

vendas de discos começaram a cair. Segundo Anderson (2006), as quedas na venda dos álbuns

hits e, em seguida, da indústria fonográfica, são consequências da pirataria, que aconteceu por 

meio de CDs regraváveis e da internet.

Anderson (2006) ressalta que os programas de compartilhamento de arquivos, como Napster eoutros, mantêm em crescimento a troca gratuita de músicas no ambiente online. O autor explica

que a tecnologia oferece variedade muito maior do que as lojas de discos, uma vez que os fãs de

música podem compartilhar arquivos de bandas que não se encontram nas paradas de sucesso.

O público tem abertura para conhecer bandas novas, de estilos musicais diversos.

Com o lançamento do Ipod, em 2001, a possibilidade de “baixar” gratuitamente músicas para

armazenar no aparelho multiplicou as redes de troca de arquivos  peer-to-peer  (P2P), afirmaAnderson (2006). O compartilhamento de músicas na internet criou variados nichos musicais, e

“De repente, os 40 hits se transformaram em mais de 4 mil, cujas variedades mais estreitas são

muito mais significativas para os fãs do gênero do que a playlist nacional de Casey

Kasem”(ANDERSON, 2006, p.33).

Segundo Shuker (1999), com a internet, a indústria fonográfica precisa se reformular 

constantemente para não perder seus consumidores. A internet aumenta a autonomia do

consumidor de música popular e tem eliminado as grandes gravadoras como intermediárias do

artista com o público. “A internet oferece uma nova dimensão ao marketing e a recepção da

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música popular, como lojas de discos virtuais, sites de gravadoras e artistas, jornais,

apresentações e entrevistas em tempo real, emissoras de rádio e boletins informativos”

(SHUKER, 1999, p.176).

Shuker (1999) afirma que a internet muda a noção de distância entre o consumidor e o produto.

Além disso, segundo o autor, as experiências de consumo e audição musical são transformadas

de acordo com as inovações tecnológicas. O modelo de produzir e distribuir música mudou. As

 pessoas, no século XXI, montam suas playlists com aquilo que querem ouvir, e não mais com

aquilo que a indústria classificava como hit . E o que está acontecendo, segundo Anderson

(2006), é que os jovens se recusam a ser controlados pela mídia e, assim, formam nichos,

definidos por pontos e gostos em comum.

Apesar de toda essa mudança na cultura, as indústrias de entretenimento ainda exercem poder 

sobre a mídia, explica Anderson (2006). O autor afirma que há grandes investimentos para que

megahits sejam produzidos e façam sucesso, e as indústrias lucram com a fixação dos

consumidores por estrelas e suas popularidades. No entanto, os hits agora concorrem com os

nichos, que são maiores em quantidade. A teoria da Cauda Longa de Anderson (2006) explica

que a cultura do século XXI e a economia afastam-se dos hits no topo da curva da demanda eavançam em direção a uma quantidade de nichos, na parte inferior da curva. Por meio da teoria,

 percebe-se que os bens e serviços não são destinados apenas ao grande público, mas há públicos

específicos para variados tipos de produtos.

2.4.1 Indústria fonográfica no Brasil 

O fonógrafo foi demonstrado, no Brasil, dois anos após sua criação por Thomas Edison, em 1879.Uma década depois, explica Silva2, D.Pedro II, junto à filha, princesa Isabel, e ao Conde D´Eu, seu

genro, assistiram a uma sessão de gravação. “Naquele mesmo ano, o filho caçula da princesa torna-

se o primeiro cidadão brasileiro a ter a sua voz gravada, cantando” (SILVA, p.2).

Em 1891, o tcheco Frederico Figner vem ao Brasil apresentar o fonógrafo. Segundo Silva 2, Figner 

 popularizou o fonógrafo e instalou a primeira empresa para gravação de cilindros, a Casa Edison,

tida como a primeira loja de discos brasileira. Em 1904, foi criado o Gramofone, por Émile

Berliner, tecnologia também trazida ao país por Figner. Anos depois, Frederico Figner funda a

2 <http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4609/1/NP6SILVA.pdf>

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Fábrica Odeon, primeira a prensar discos em solo brasileiro. Sobre o sucesso de Figner com a Casa

Edison e a vendagem de discos, Tinhorão (1978) explica:

Enquanto esse equipamento não ficou ultrapassado, e os próprios concorrentesestrangeiros competiram no mercado brasileiro com discos fabricados segundo

 processos igualmente rudimentares, a Casa Edison (...) dominou o mercado comamparo na excelente rede de distribuição que havia montado nos principais cidades

 brasileiras. Quando porém, a partir de 1924, nos Estados Unidos, os engenheiros daVictor Talking Machine partiram para nova etapa no campo das gravações ereprodução de sons, criando em primeiro lugar as vitrolas ortofônicas, e mais tardeas chamadas eletrolas, “acionadas eletricamente”, a iniciativa brasileira perdeuimpulso, e o próprio Frederico Figner ia ser reduzido em pouco tempo à condição demero comerciante de discos, máquinas de escritório e artigos musicais(TINHORÃO,1978, p.29).

Segundo Silva2, nos anos que se passaram, muitas multinacionais estabeleceram-se no Brasil. Neste sentido, Morelli (2009) explica que 1968 é o ponto de referência para o desenvolvimento

da indústria fonográfica no País. Naquele ano, eram realizados os festivais na TV Record e na

TV Globo, revelando talentos da música popular brasileira, com apresentação de músicos como

Edu Lobo, Chico Buarque e Caetano Veloso. O ano de 1968 também serve de panorama

artístico do que vinha acontecendo na música brasileira ao longo da década de 1960.

 Nos anos seguintes, de acordo com Morelli (2009), grandes nomes da música brasileiraafastaram-se da televisão e da programação das rádios, devido à grande repressão política da

época. Nas décadas de 1960 e 1970, havia predomínio de músicas estrangeiras nas

 programações das rádios e suplementos das gravadoras. Morelli explica que, também por razões

econômicas, era mais fácil para as grandes gravadoras importar discos gravados no exterior do

que investir em gravações feitas no Brasil e assumir os riscos do investimento.

O fato é que, de acordo com Morelli (2009), na década de 1970, em que se expandia o mercadode bens de consumo da classe média, a indústria do disco crescia cerca de 15% ao ano. A

televisão contribuiu para o aumento das vendas de discos, por meio da edição de trilhas sonoras

das novelas, e em 1979, o Brasil estava em 6º lugar no ranking mundial no mercado de discos.

A indústria fonográfica manteve seu crescimento nas décadas de 1980 e 1990. Silva2 ressalta

que, em 1983, o CD foi lançado mundialmente, substituindo, aos poucos, os LP’s e as fitas

cassete. Em 1992, foram vendidos 34 milhões de aparelhos para ouvir música gravada; em

1995, tal número de vendas duplicou. “Neste momento o mercado brasileiro de CDs já

representava 1,76% (com 3,75% das unidades vendidas) do mercado mundial, que faturava um

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total de US$ 39.7 bilhões” (Silva2, p.3). Em 2001, o mercado fonográfico brasileiro, em 2001,

era o sexto maior do mundo em consumo, afirma Silva2. No entanto, no século XX, houve

queda nas vendas de discos, devido à crise mundial da indústria fonográfica, em consequência,

 principalmente da pirataria e do advento da internet.

2.4.2 Aqueles que formam as preferências

Com espaço na internet para crítica e avaliações de conteúdo, os novos formadores de

 preferência são pessoas comuns, de acordo com Anderson (2006). O autor afirma que “a

 propaganda boca a boca amplificada é a manifestação da terceira força da Cauda Longa:

explorar o sentimento dos consumidores para ligar oferta e demanda” (ANDERSON, 2006, p.105). Os que formam as preferências, na atualidade, são pessoas de opiniões respeitadas. Tais

indivíduos influenciam os outros, por meio daquilo que recomendam. São, por exemplo, os

críticos de música e cinema, os editores e aqueles que testam os produtos, de acordo com

Anderson (2006).

As listas das músicas mais populares, assim como acontecia no programa Your hit parade,

continuam existindo. Porém, atualmente, essas listas aparecem, além de nas rádios e resenhasde revista, em sites especializados e blogs. Anderson (2006) explica que essas listas são frágeis,

uma vez que misturam todos os nichos, gêneros e categorias em uma só avaliação. O autor 

afirma que as listas só fazem sentido dentro de um contexto, quando classificam um gênero

específico. O ideal seria uma lista das músicas mais populares do rock, ao invés de lista que

inclui rock , pop,  jazz e country juntos. Além disso, quando as listas são focadas nos nichos

específicos, servem como indicação para aqueles que têm as preferências em comum.

2.4.3 Crítica musical e imagem pública do artista

Integrante da chamada indústria fonográfica, a crítica especializada de música analisa os discos

 produzidos após receber releases das gravadoras. Morelli (2009) observa que alguns textos dos

críticos “(...) podem fornecer aos novos artistas verdadeiras cartas de apresentação, quando

tecem comentários favoráveis aos seus primeiros trabalhos” (MORELLI, 2009, p.175). Apesar 

disso, segundo Morelli, para certos críticos, as resenhas não têm tanto poder de influência para

as gravadoras – que dão mais importância ao rádio –, no que se refere à divulgação dos discos.Sendo assim, o rádio atingiria melhor o público consumidor.

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De qualquer forma, a crítica especializada é quem publica suas impressões sobre o artista,

 baseando-se nos releases das gravadoras e em seu próprio aparato técnico para análise da

música e da imagem pública dos artistas. De acordo com Morelli (2009), a palavra final

 publicada é do crítico. Já a imagem pública do artista – relacionada às produções e vendas de

discos – é trabalhada pela indústria fonográfica. Segundo Morelli (2009), ocorre um tipo de

dicotomia entre os artistas que têm prestígio e aqueles que não o têm. Normalmente, têm

 prestígio os artistas que fazem um trabalho cultural, e não têm prestígio aqueles que realizam

trabalho comercial. A autora observa que há discursos de executivos de gravadoras

discriminando artistas “de prestígio”, afirmando que estes não têm aceitação no mercado e, por 

isso, não recebem investimentos para divulgação de seus discos.

Há, nesse caso, portanto, uma atitude que se relaciona às críticas feitas à Indústria Cultural.

Morelli (2009) afirma que, diante do discurso das gravadoras sobre o que é aceito pelo

mercado, aquilo que é cultural não poderia ser, ao mesmo tempo, objeto de consumo. Segundo

a autora, também há artistas que criticam essa postura das gravadoras, e que estes,

 provavelmente, criticam outros artistas que se sujeitam a fazer o que é de consumo.

Apesar das dicotomias existentes, é fato que, uma vez que um artista faz um disco para vender,

o disco torna-se um produto para o consumo. De acordo com Morelli (2009), alguns discos são

 produzidos com objetivo apenas comercial e, entre esses discos, existe o tipo comercial melhor 

e o tipo pior. Segundo Shuker (1999), “apesar de trabalhar dentro de um sistema industrial, o

artista é, ao menos inicialmente, responsável por seu produto” (SHUKER, 1999, p.30).

A relação entre arte e comércio também é discutida por Shuker (1999). Segundo o autor, aautenticidade das obras musicais é um dos principais critérios de avaliação qualitativa de

artistas e gêneros musicais. O autor explica que, dentro da indústria fonográfica, pode-se

observar que os selos independentes têm trabalhos menos comerciais e mais autênticos, ao

 passo que as grandes gravadoras são mais preocupadas com o trabalho comercial, acima da

autenticidade.

3 A CRÍTICA CULTURAL: JORNALISMO, MÚSICA E INTERNET

3.1 Jornalismo e vida social

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Jornalismo é troca, comércio de informação. Trata-se da necessidade de comunicar aos outros,

de falar para o mundo. A atração por aquilo que está distante, pela novidade e pelo que vem do

outro, faz o jornalismo existir e fazer parte do “dizer” social, afirma França (1998). O mercado,

com suas dinâmicas, determina as características do jornalismo atual e é o espaço onde circula a

informação. Entretanto, ressalta França (1998), “(...) a sociedade industrial moderna ou a

sociedade capitalista não inaugurou as relações de informação; ela desenvolveu novas

necessidades e moldou novas formas de atendê-las” (FRANÇA, 1998, p.27).

O jornalismo se distingue da simples troca de palavras entre os indivíduos e das ideias do senso

comum. No processo de desenvolvimento e adaptação do jornalismo na sociedade, há, segundo

França (1998), três distinções para que o discurso jornalístico marque suas especificidades. A primeira diz que o jornalismo, atividade especializada, tem sua forma e legitimidade. A segunda

distinção é que o poder não está em guardar a informação, mas em socializar e divulgar como

 prática democrática.

A terceira é o desprendimento da enunciação, ou seja, na relação direta ou pessoal do locutor 

com o assunto do qual está tratando. Com isso, a autora explica que, no jornalismo, “os

interlocutores, aqueles que dizem, aqueles que recebem, reorientam seus papéis e se inscrevemnuma rede complexa de relações em torno de um ‘terceiro’ (o real, o Outro)” (FRANÇA, 1998,

 p.29). A ligação com o mundo é também uma importante característica da informação

 jornalística. Por isso, segundo França (1998), o ponto de partida para o discurso jornalístico é a

noção de “fato e acontecimento”. A autora ressalta que o acontecimento é a matéria-prima para

a informação.

É acontecimento tudo aquilo que irrompe na superfície lisa da história de entre umamultiplicidade aleatória de factos virtuais. Pela sua natureza, o acontecimento situa-se,

 portanto, algures na escala de probabilidades de ocorrência, sendo tanto mais imprevisívelquanto menos provável for a sua realização (RODRIGUES, 1993, p.27).

Do ponto de vista jornalístico, o que transforma um fato em acontecimento é sua menor 

 previsibilidade e maior probabilidade de ser tornar notícia. O acontecimento jornalístico é,

 portanto, algo de natureza especial, relevante, que se distingue de uma infinidade de

acontecimentos (RODRIGUES, 1993, p.27). Mais do que promover a troca e divulgação de

informações, o jornalismo desempenha diversos papéis na sociedade, estabelecendo relações deresponsabilidade com seu meio.

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A imprensa tem um papel central que é a informação, mas responderia ainda por váriasoutras funções: integração social, função recreativa, função psicoterápica, expressão deopiniões, formação da opinião pública, denúncia, democratização da informação (e da

cultura), integração social, mobilização, e outras mais (FRANÇA, 1998, p.35).

Observa-se, então, a clara relação jornalismo-sociedade. França (1998) afirma que o ponto de

 partida para a comunicação é a vida social – e suas inúmeras relações, que produzem e

interpretam sentidos. Na vida social, tudo se comunica, de diferentes maneiras. De acordo com

França, a palavra é a materialização do simbólico, fundada nas relações com o outro. Neste

cenário, a autora estabelece um modelo de comunicação: “(...) relações particulares que se

estabelecem através de uma materialidade simbólica (a palavra, as mensagens), construída, por 

sua vez, no seio dessas relações, como sua condição e expressão” (FRANÇA, 1998, p.44).

Ao discutir o poder do jornalismo, Traquina (2005) lembra o conceito de agendamento.

Segundo tal teoria, os mass media nos dizem o que pensar e como pensar. As notícias mostram

um tipo de realidade social, contando “estórias”. Traquina ressalta que os jornalistas alegam

retratar os acontecimentos em relatos objetivos, mas percebe-se que as pessoas se interessam

 por versões diferentes dos fatos. Se há versões diferentes, significa que há construções

diferentes a partir dos jornalistas, que acabam por criar narrativas, histórias, aquilo que

questiona o conceito de notícias como espelho da realidade.

Independentemente do olhar que se tenha para a ideia de objetividade jornalística, ou para as

variadas versões de um acontecimento, segundo Traquina, há o jornalismo como “Quarto

Poder”, que exerce um papel de herói na sociedade, vigiando os outros poderes e mantendo um

sistema democrático. O autor ressalta que “a mitologia jornalística coloca os membros dessa

comunidade profissional no papel de servidores do público que procuram saber o queaconteceu, no papel de ‘cães de guarda’ (...)” (TRAQUINA, 2005, p.51).

França (1998) afirma que o ato comunicativo é uma construção compartilhada, em que os

interlocutores produzem sentidos. Tais interlocutores, por sua vez, são seres sociais, que têm

seus papéis, experiências e aprendizados, que instruem seus atos comunicativos. Mais do que

isso, a vida social impulsiona os seres, por hábitos e necessidades, e a comunicação é

indissociável da sociedade.

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 Na comunicação de massa, “(...) a presença e intermediação dos meios técnicos intervêm de

maneira decisiva na configuração da palavra, das relações dos interlocutores” (FRANÇA, 1998,

 p.56). Segundo Kellner (2001), a presença da mídia contribui para o comportamento dos

indivíduos, influenciando as escolhas, o modo de ver, de sentir e acreditar. Na comunicação

mediada por meios técnicos, assim como na comunicação interpessoal, de acordo com França

(1998), há vários modelos de produção e interpretação de sentido, o que cria um quadro

heterogêneo de práticas e dificulta a existência de uma verdade definitiva sobre a hipótese de

“massificação” e outras tendências dominantes. Kellner (2006) observa que os espetáculos nem

sempre conseguem manipular o público e, de acordo com França (1998):

Os resultados da publicidade de produtos de consumo atestam o poder de influência dosmeios. No entanto, alguns estudos de recepção registram a indiferença e mesmo odesconhecimento dos receptores relativamente ao que acabam de receber (FRANÇA, 1998,

 p.57).

Além disso, a autora ressalta:

 Não podemos esquecer que diferentes momentos e modelos de sociedade desenvolvem deforma desigual sua necessidade de informação, suas relações simbólicas; é preciso tomar cuidado para não analisar a comunicação, baseando-se numa demanda e num modelo maisou menos ideal de uma comunicação universal (FRANÇA, 1998, p.59).

Kellner afirma que “(…) o público pode resistir aos significados e mensagens dominantes, criar 

sua própria leitura e seu próprio modo de apropriar-se (…)” dos produtos da cultura midiática

(KELLNER, 2001, p.11). O autor conceitua como espetáculos os “(...) fenômenos de cultura da

mídia que representam valores básicos da sociedade contemporânea, determinam o

comportamento dos indivíduos e dramatizam suas controvérsias e lutas, tanto quanto seus

modelos para a solução de conflitos” (KELLNER, 2006, p.5). Tais espetáculos seriam

acontecimentos que chamam muito a atenção.

As pessoas passam um tempo enorme ouvindo rádio, assistindo à televisão, frequentando

cinemas, convivendo com música, fazendo compras, lendo revistas e jornais, participando

dessas e de outras formas de cultura veiculada pelos meios de comunicação. Portanto, trata-se

de uma cultura que faz parte da vida cotidiana das pessoas. (KELLNER, 2001, p. 27). No

mundo do espetáculo, segundo Kellner (2006), são criadas e manipuladas celebridades, que se

transformam em ícones, como exemplos para a sociedade, que devem ser vistos, pelo público,como imagem positiva.

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As celebridades são pessoas que se destacam em determinada área, como política,

entretenimento, esporte, entre outros, e se tornam uma marca, apta a vender produtos e a criar 

 padrões de comportamento. Por outro lado, os escândalos com as celebridades rendem

audiência e a mídia se aproveita disso para fazer notícia. Os espetáculos da mídia fazem parte

da vida cotidiana. Mais do que isso, segundo Kellner (2006), as experiências da vida cotidiana

são moldadas por espetáculos da cultura da mídia e pela sociedade de consumo.

3.2 Jornalismo cultural

O jornalismo cultural, segundo Cunha, Teixeira e Magalhães (2002), trabalha o conceito de

cultura relacionado às artes e ao entretenimento, duas esferas que, segundo os autores, sofremalterações constantemente. De acordo com Piza (2004), é uma área que se dedica à avaliação de

ideias, valores e artes. O termo “jornalismo cultural” implica muitas discussões e temas, uma

vez que a cultura está em tudo, na mistura de assuntos e linguagens. Trata-se do

(...) produto de uma era que se inicia depois do Renascimento, quando as máquinascomeçaram a transformar a economia, a imprensa já tinha sido inventada (por Gutembergem 1450) e o Humanismo se propagara da Itália para toda a Europa, influenciando o teatrode Shakespeare na Inglaterra e a filosofia de Montaigne na França.Os ensaios de Montaigne

com sua capacidade de mesclar o mundano e o erudito, são a matriz evidente dasconversações de Addison e Steele. Filho do ensaísmo humanista, o jornalismo culturalinglês também ajudou a dar luz ao movimento iluminista que marcaria o século XVIII(PIZA, 2004, p.12).

 No Brasil, o jornalismo cultural ganhou força no final do século XIX, dedicando-se ao debate

sobre livros e artes. Já no século XX, o jornalismo descobriu a reportagem e a entrevista, além

de começar a produzir críticas mais participantes. Em 1950, o caderno de cultura passou a ser 

seção obrigatória nos jornais impressos brasileiros, principalmente no fim de semana. O

 primeiro veículo a ter essa seção cultural foi o Jornal do Brasil , em 1956 (PIZA, 2004).

Piza (2004) observa perda de influência do jornalismo cultural nas publicações jornalísticas

atuais, que pode ser explicada pela tendência em deixar os temas culturais em segundo plano.

Dentro e fora dos veículos de comunicação, existe a ideia de que o jornalismo cultural não é tão

relevante, o que tem prejudicado os profissionais. Muitos não percebem o quanto a cultura é

algo que deve ser pensado, avaliado e discutido no plano jornalístico. Por outro lado, observa-se

que as seções culturais dos grandes jornais estão entre as páginas mais lidas. Piza (2004)

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destaca que a criatividade e a boa formação cultural são pré- requisitos para um bom jornalista

cultural. 

O caráter industrial da cultura influencia o jornalismo, em primeiro lugar, no que diz respeito ao

fato de o jornal participar de um processo de produção. Cunha, Teixeira, Magalhães (2002),

 baseados em Morin (1969), afirmam que a estandardização e a individualização aparecem no

 jornalismo como forças antagônicas. Em segundo lugar, a área de cobertura do jornalismo

cultural, ou seja, a produção cultural, é influenciada pelo processo de industrialização.

A discussão do comercial, no que diz respeito à arte, tão discutido no conceito de Indústria

Cultural, aparece em Cunha, Teixeira e Magalhães (2002), que afirmam ser inegável que “(...) oartista passou a viver um novo dilema quanto à colocação ou não da sua obra no mercado (...)”

(CUNHA; TEIXEIRA; MAGALHÃES, 2002, p.5). Há também o tipo de artista que orienta seu

trabalho pelas conjunturas do mercado. Piza (2004) observa que “a imprensa cultural tem o

dever de senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o mercado

valoriza por seus interesses, e o dever de olhar para as induções simbólicas e morais que o

cidadão recebe” (PIZA, 2004, p.45).

O uso de uma variedade de temas, pelos jornalistas culturais, significa analisar e propor uma

nova visão sobre aqueles temas, apresentando novidades e se aproximando do leitor. O

 jornalista cultural, em todos os casos, deve ter visão crítica sobre os eventos, ao invés de se

restringir a publicar releases com informações básicas e pouca criatividade (PIZA, 2004).

Cunha, Teixeira e Magalhães (2002) afirmam que, devido à agilidade para o fechamento dos

 jornais, releases enviados por assessorias são usados, quase que integralmente, sem que haja

apuração. Este é um problema, pois a função do release é iniciar uma pauta e não ser o texto damatéria.

A rotina produtiva dos cadernos de cultura diários implica em visão imediatista dos editores e

 jornalistas, afirmam Cunha, Teixeira e Magalhães (2002). Se é noticiado tudo o que é oferecido

 pelo mercado, enquanto arte e entretenimento, muitas notas e roteiros serão publicados em

torno de lançamentos de produtos e espetáculos. O que acontece, portanto, é que, nessa

situação, os produtos culturais acabam mais valorizados do que os processos culturais.

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O jornalismo cultural deve prestar à reflexão dos processos culturais, ao pensamento da cultura

como um todo. De acordo com Cunha, Teixeira e Magalhães (2002), são raras as publicações

abrangentes, de investigações e esclarecimentos da política e do marketing  cultural , o que os

autores consideram como problema. Cunha, Teixeira e Magalhães (2002) ressaltam que o ritmo

industrial dos veículos impõe limites, e há obstáculos para a produção de matérias. Com isso, as

coberturas diárias acabam transformando-se na agenda cultural das casas de espetáculos. Os

autores citam como exemplo as agendas de teatro, dança, música e cinema, entre outros.

Hoje, também há outras questões que prejudicam o jornalismo cultural a exercer suas funções.

Que o diga a dicotomia elitismo x populismo, em que um produto cultural de muita qualidade e

sofisticação é visto como algo feito para as elites, algo a que a maioria da população não podeter acesso. Nesse tipo de dicotomia, a cultura é elevada a um lugar inatingível, o que afasta

muitas pessoas (PIZA, 2004). Há, ainda, a simplificação dos temas, situação em que o jornalista

vê algo como complexo e deixa de publicar. De acordo com Cunha, Teixeira e Magalhães

(2002), essa questão faz com que o jornalismo cultural seja transformado em mero

entretenimento, no qual o leitor não precisa raciocinar.

Outra dicotomia percebida, como explica Piza (2004), diz respeito a eventos nacionais e

internacionais. Muitas vezes, o jornalista exclui a possibilidade de produzir uma reportagem

com o que está sendo feito em outra parte do mundo, por achar que um fato internacional está

longe do público brasileiro, por exemplo. O autor mostra que muitas outras questões devem

envolver a filtragem dos temas, muito além do que é nacional ou internacional. A proposta da

 publicação e o público-alvo também devem ser considerados.

Cunha, Teixeira e Magalhães (2002) ressaltam que, constantemente, os jornalistas culturais são

 pressionados pela Indústria Cultural, que deseja divulgar seus produtos. A pressão ocorre de

várias formas, e os autores usam o exemplo do “jabá”, em que o jornalista recebe por uma

cobertura, transformando o espaço em comercial, sem que o público saiba. Outro exemplo é o

 junket, ou “viagem paga”, em que o jornalista recebe a passagem para ir entrevistar um artista.

Este último é condenado por Piza (2004), salvo quando o veículo paga as despesas do jornalista.

O jornalismo cultural não deve abrir concessões ao mercado, a grupos ou guetos, afirmam

Cunha, Teixeira e Magalhães (2002), sugerindo que haja, no jornalismo, uma defesa dos valores

democráticos. “(...) O jornalismo – e nele, obviamente o cultural – deve ter sempre como

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objetivo o esclarecimento e o contra-ataque às várias manifestações sofísticas das ágoras,

inclusive eletrônicas, de nosso tempo” (CUNHA, TEIXEIRA, MAGALHÃES, 2002, p.18).

Por um lado, observa-se a limitação do jornalista cultural e a perda da influência dos críticos.

Afinal, “(...) há na grande imprensa um forte domínio de assuntos como celebridades e um

rebaixamento dos critérios de avaliação dos produtos. O jornalista cultural anda se sentindo

 pequeno demais diante do gigantismo dos empreendimentos e ‘fenômenos’ de audiência”

(PIZA, 2004, p.31). Por outro lado, o jornalismo cultural vem se expandindo para os livros e

 para a internet. Os jornalistas têm escrito muitas biografias e histórias culturais e há muitos sites

dedicados à cultura e sua complexidade.

Após Piza (2004) afirmar que existe noção de crise vigente no jornalismo cultural, o autor 

afirma ser possível recuperar parte da influência dos jornalistas culturais, pois, segundo o autor:

(...) o bombardeio de dados e informações da era eletrônica criou uma carência ainda maior de análises e comentários, que suplementem argumentos, perspectivas e contextos para ocidadão desenvolver senso crítico e conectar disciplinas (PIZA, 2004, p.31).

A prática diária deve, portanto, atentar-se mais ao discurso do que ao fazer estético, com olhar 

crítico sobre a cultura e a Indústria Cultural. Mais do que isso, deve-se pensar na orientação e

formação do público, para além da informação.

3.3 A crítica jornalística

A crítica jornalística é um “(…) texto opinativo acerca de uma obra cultural (seja livro, filme,

disco, peça teatral, exposição etc.)” (CUNHA3). Este tipo de texto expõe a opinião pessoal do

crítico. Piza (2004) considera que o papel do crítico, hoje, não é tão relevante a ponto de definir 

o sucesso ou fracasso de uma obra. Por outro lado, as críticas podem ser textos esclarecedores,

quando situam os leitores acerca de obras, conceitos, artistas, contextualizando-os, observa

Cunha3, para quem muitos leitores recorrem às críticas como orientação, no momento de

escolher entre opções de livros, filmes, peças, entre outros consumos culturais. Este último tipo

de leitores, segundo Cunha3, dispensa o aprofundamento teórico junto à opinião pessoal do

crítico.

3 <http://www.itaucultural.org.br/rumos/leonardo.pdf>

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Há uma necessidade básica, lamentável, segundo Coelho (2006), de o crítico mostrar 

autoridade, mostrar que está falando com conhecimento de causa. Ou seja, o autor explica que

um crítico, muitas vezes, cita nomes, datas e acontecimentos para mostrar que tem autoridade

 para discutir o assunto, sendo que nem sempre essa autoridade significa bom entendimento da

obra ou boa crítica. Há, ainda, segundo Coelho, um tipo de crítica que segue padrões. “Talvez o

mais típico da crítica conservadora seja, precisamente, considerar essencial o que é acessório, o

que é mutável em determinado gênero artístico, erigir em ‘princípio estético’ o que é a regra de

um gênero ou convenção de uma época” (COELHO, 2006, p.33).

Coelho (2006) analisa o papel do crítico cultural como um profissional que deve avaliar uma

obra ao observar sua lógica interna, seus propósitos de existência. O autor afirma que, nacrítica, não se pode usar uma regra geral para um objeto particular e não se deve apresentar os

critérios de qualidade avaliando se uma obra atende a exigências estabelecidas previamente.

Além disso, um crítico deve observar se uma infração a um estilo foi intencional ou não e que

razões as justificam.

Mais do que simplesmente criticar determinada obra, Cunha3 enfatiza que uma crítica

 jornalística deve manter seu papel utilitário, mas deve ir além de resenhas opinativas, de modo aabrir espaço para a reflexão. Uma crítica conservadora, portanto, impede a abertura para se

 pensar a respeito de um objeto. É interessante que, ao invés de apresentar e julgar a obra,

medindo valores que a obra tenha ou não, o crítico explore os “(…) múltiplos sentidos e

diversas possibilidades de leitura que toda obra de arte proporciona” (CUNHA3). Mais do que

isso, Cunha observa que a crítica, assim como a arte, deve ser compreendida como uma obra

aberta, na qual há a possibilidade para muitas interpretações, que variam de acordo com a

experiência de cada um.

Piza (2004) afirma que o primeiro grande crítico cultural foi o Dr. Johnson, cuja biografia foi

escrita por James Boswell. Dr. Johnson escrevia resenhas de prosa e poesia, romances, ensaios

sobre Shakespeare, além de reflexões sobre variados assuntos. “Johnson é o pai de todos os

críticos europeus, americanos ou brasileiros cujas opiniões sobre um livro ou qualquer tema,

nos séculos seguintes, eram esperados com fôlego preso por uma pequena mas decisiva platéia”

(PIZA, 2004, p.13-14).

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Há a errônea imagem do crítico como alguém que emite opiniões sem fundamento a respeito de

um produto cultural. Porém, a opinião deve aparecer comprovada por argumentos, baseada em

história, em dados e reflexões feitas pelo jornalista cultural que, ao mesmo tempo, convide e

 provoque o leitor (PIZA, 2004, p. 68). O jornalista cultural precisa ter cuidado para não

confundir artista e obra, produzindo críticas pessoais. Outro alerta importante é para que o

 jornalista não se envolva na crítica ao trabalho de algum artista, com o qual se tem amizade.

Quando há esse tipo de envolvimento, a clareza e o senso crítico podem não aparecer no texto

(PIZA, 2004).

Por fim, Coelho (2006) enfatiza a importância do uso de critérios para a produção da crítica

cultural, mas afirma que esses critérios não podem ser absolutos ou imutáveis. A crítica tambémnão deve ser submetida às imposições da Indústria Cultural.

3.3.1 A opinião

O jornalismo cultural é uma área do jornalismo que abre espaço para que o jornalista dê sua

opinião. “O conceito de que emitir opiniões é fácil, que tantas vezes escutei em redações, é o

 primeiro a ser combatido” (PIZA, 2004, p.8). A opinião é um ato individual, que trata “(...) dafunção psicológica, pela qual o ser humano, informado de idéias, fatos ou situações conflitantes

(…)” e exprime seu juízo, a respeito de variadas situações (BELTRÃO, 1980, p.14). Segundo

Beltrão (1980), nem todos os objetos e assuntos dão margem à opinião. Ninguém opina, por 

exemplo, sobre o estado líquido da água. Entretanto, há, nas ocorrências, uma série de

características sobre as quais os indivíduos podem opinar. O autor ressalta que os indivíduos só

têm opinião sobre os assuntos que lhes interessam, que orientam suas vidas.

Ao abordar o jornalismo, Beltrão (1980) afirma que não é porque uma matéria é questionável

que será objeto da opinião, pois certos tabus não são discutidos pela sociedade, como a

legitimidade do casamento monogâmico no Brasil. Há assuntos que não se transformam em

temas de debate, e, apesar da opinião ser um ato individual, ela se desenvolve dentro de um

grupo. Segundo Piza (2004), os jornalistas culturais precisam participar da formação da opinião

e contribuir para o aumento de repertório e visão crítica do público. Muitas vezes, o público é

subestimado por jornalistas; que não querem arriscar publicar temas e discutir questões julgadas

como não pertencentes ao universo daquele leitor.

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Piza (2004) explica que, nas colunas de opinião, o colunista tem mais liberdade para refletir,

não podendo esquecer de abordar temas relevantes e cuidando para não fazer ataques pessoais a

artistas, o que pode diminuir sua credibilidade. Há, na sociedade, aqueles que sabem, ou que,

 profissionalmente, opinam sobre determinados assuntos. Quando muitos têm a mesma opinião,

entende-se como opinião comum, ou geral, afirma Beltrão (1980). A opinião dominante aparece

quando, por exemplo, um crítico provoca uma opinião musical, e indivíduos que compõem o

círculo opinam porque entendem do assunto.

As opiniões, observa Beltrão, revelam-se instáveis e são opções dentre várias outras aceitáveis.

Há mobilidade nas opiniões, consequência da flexibilidade nas discussões. Por outro lado, uma

opinião imutável, rígida, é prejudicial à sociedade. Por meio dos mass media, opiniões particulares tornam-se públicas. O jornalista leva ao mundo a sua própria experiência e a de

outros indivíduos e grupos. “O jornalismo veicula, pois, três categorias específicas de opinião: a

do editor, a do jornalista e a do leitor, que, juntas, irão oferecer à comunidade a manifestação

corporificada do tão discutido fenômeno social da opinião pública” (BELTRÃO, 1980, p.19).

A opinião do jornal é expressa pelo editor, por meio dos editoriais e da linha do jornal, que vai

determinar o que será publicado ou destacado. A opinião do jornalista é “(...) o juízo quemanifesta sobre os problemas em foco e a respeito dos quais informa e comenta

simultaneamente, em secções ao seu cargo e em matérias por ele firmadas” (BELTRÃO, 1980,

 p.20). Coelho (2006) afirma que os jornais populares usam a redundância e, por meio do uso de

adjetivos, causam uma prefiguração do efeito, que significa impor o que o leitor deve pensar a

respeito da notícia, mantendo o leitor passivo.

A opinião do leitor aparece nas entrevistas cedidas, nas cartas à redação, respostas às enquetes,e nas atitudes que viram notícias. O leitor gosta de debater, questionar, opinar. Beltrão (1980)

observa que o homem tem a necessidade de criticar, faz parte da natureza humana qualificar 

aquilo que entende. A crítica faz sentido, uma vez que o ser humano é imperfeito, comete erros

e pode melhorar em variados quesitos.

A opinião pública, segundo Beltrão (1980), é um fenômeno social, quando muitos indivíduos se

 posicionam acerca de um tema, concordando ou discordando entre eles. Esse tema deve suscitar 

interesse coletivo. Sobre assuntos da vida privada, portanto, não há opinião pública, a não ser 

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que esses assuntos tornem-se de domínio público e a comunidade se sinta responsável em

opinar.

Diferentemente da opinião individual e da opinião do público, a opinião pública é mais estável,

afirma Beltrão (1980), devido à sua construção e dimensão histórica, surgindo de uma

consciência coletiva acerca do assunto. Ou seja, ocorre sobre fatos de interesse de toda a

comunidade, não de um grupo limitado de pessoas, e é uma opinião fundada em valores. Os

 jornais buscam identificar tanto a opinião pública quanto a opinião do público, a fim de

conhecer seus receptores. Identifica-se o público por meio da quantidade de cartas e

comentários recebidos e de pesquisas de mercado, de acordo com Beltrão (1980), que mostram

os locais de maior audiência e o perfil dos receptores.

Beltrão (1980) afirma que o jornalista não deve ser um mero informante:

 Nos setores da reportagem político-administrativa, econômico-sindical, desportiva e atémesmo social, em páginas ou colunas especializadas, como na redação de artigos eeditoriais e na sustentação de campanhas e polémicas, reclama-se do profissional atransmissão tanto da informação como do comentário; que narre o fato, mas opine sobre ele(BELTRÃO, 1980. P.43).

Para demonstrar sua opinião, o jornalista deve, segundo Beltrão (1980), dominar a informação e

toda a sua lógica, levar a informação ao público quando oportuno, saber o momento de publicar 

ou não sobre um tema e acompanhar os efeitos da informação pensando no bem estar da

comunidade, “(…) uma opinião segura, elaborada à base da técnica, da ética e do interesse

social – pilares em que se fundamenta a obra jornalística” (BELTRÃO, 1980, p.44). Deve ser 

feito, portanto, um trabalho sério e meticuloso, em que o jornalista pense na responsabilidade da

opinião levada ao público.

3.4 Crítica em tempos de webjornalismo

Com o surgimento da internet, Canavilhas4 observa que a linguagem dos jornalismos

radiofônico, impresso e televisivo foram transportados para o ambiente online. Porém, o autor 

enfatiza que com as possibilidades multimídia oferecidas pelo meio, o jornalismo na Web pode

criar sua linguagem própria. Canavilhas  afirma que cada meio tem suas características e

linguagens específicas. Portanto, “[…] a internet, por força de poder utilizar texto, som e

4 http://www.bocc.uff.br/pag/canavilhas-joao-hipertexto-e-recepcao-noticias-online.pdf 

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imagem em movimento, terá também uma linguagem própria, baseada nas potencialidades do

hipertexto e construída em torno de alguns dos conteúdos produzidos pelos meios existentes”

(CANAVILHAS4, p. 2).

Sendo criado em função de um novo meio, utiliza-se o conceito de webjornalismo como forma

de classificar o jornalismo destinado à internet. Para o jornalista, o modo de produção da notícia

se altera, da mesma forma que, para o leitor, muda a forma de ler. Diferentemente dos meios

 jornalísticos, em que a leitura é linear, a leitura no webjornalismo é multilinear, integrada a

elementos multimídia (CANAVILHAS4).

O objetivo do webjornalismo, segundo Canavilhas, é produzir um jornalismo no qual háinteração entre emissor e receptor. E se, em termos físicos, a leitura não é linear; em termos

mentais, a compreensão segue uma linha e há associação entre os elementos, pois “[…] a

disponibilização de um complemento informativo permite ao indivíduo recorrer a ele sem que

isso provoque alterações no esquema mental de percepção da notícia” (CANAVILHAS 4, p. 4).

Devido à interação, a função mediadora do jornalista sofre grande alteração com a internet,

explica Alzamora (2009), uma vez que o receptor pode ser emissor, a qualquer momento.

São características do jornalismo na WEB: personalização, atualização, interatividade,

hipertextualidade, instantaneidade, memória e multimidialidade (PALÁCIOS, 2004). Em

relação à multimidialidade, Alzamora (2009) explica que as reportagens devem ser pensadas

 por meio do uso da linguagem do meio. Uma importante característica do webjornalismo é a

interatividade. De acordo com Canavilhas4, o leitor pode interagir com o autor da notícia,

quando este divulga seu correio eletrônico ao final do texto. A depender do tema da notícia, o

autor propõe que o texto tenha um espaço dedicado a comentários, que funciona como umfórum, onde o leitor pode expor sua opinião. “Para além da introdução de diferentes pontos de

vista enriquecer a notícia, um maior número de comentários corresponde a um maior número de

visitas, o que é apreciado pelos leitores” (CANAVILHAS4, p. 3).

Canavilhas4 explica que a webnotícia funciona como o início de uma discussão com os leitores.

O autor afirma que os leitores são atraídos por notícias que têm grande número de visita, além

de maior compreensão dos textos que incluem elementos como fórum, vídeos, imagens, entre

outros, enriquecendo o conteúdo. Teixeira5 avalia impactos da internet no jornalismo. O autor 

5 < www.bocc.ubi.pt/pag/teixeira-nisio-impacto-da-internet.pdf>

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afirma que o hipertexto conecta um texto a outros textos e a elementos multimídia, como áudio,

imagens e vídeos. Há convergência de mídias, devido ao suporte digital, que possibilita, na

mesma plataforma, publicação, distribuição de notícias, e pesquisa nos bancos de dados. Tais

 bancos guardam informações, imagens, sons e arquivos que podem ser incorporados aos textos.

Além disso, de acordo com Teixeira5, o jornalismo online possibilita a atualização constante e a

 possibilidade de o leitor interagir com o emissor da notícia, por meio de email e comentários.

Em relação ao webjornalismo cultural, especificamente, Teixeira5 observa que os jornalistas

 podem enriquecer suas publicações com elementos multimídia, como por exemplo, um cd

objeto de crítica, pode ser disponibilizado junto ao texto, assim como um trecho de entrevista

ou vídeo. A internet provoca mudanças no papel do jornalista e Aroso6 afirma que o profissionaldeve saber trabalhar vídeo, áudio e texto, para se adaptar ao webjornalismo. O deadline,

segundo Teixeira5, muda sua forma, pois não dependendo das operações gráficas, a data da

disponibilização do material é definida pela rapidez, após a redação.

Devido à interatividade possibilitada pela internet, há autores que veem o fim do jornalista

como gatekeeper. Conforme Hall7:

Os papéis que o jornalismo atribuiu a sim mesmo em meados do século dezanove, com aforça do recentemente adquirido profissionalismo, como  gatekeeper , agenda-setter e filtronoticioso, estão todos em risco quando as suas fontes primárias se tornaram acessíveis àsaudiências (HALL, 2001 apud AROSO6, p.3)

O papel de gatekeeper , segundo Hall7, é retransmitido aos leitores, que se tornam contadores de

histórias. Por outro lado, há autores que defendem a função jornalística na internet, acreditando

que filtrar informações e editar com qualidade é algo necessário em um ambiente onde há

 publicações em que não se pode confiar. O jornalista precisa ter criatividade para selecionar e

interpretar as informações. Aroso6 ressalta que a edição dos textos jornalísticos é fundamental

no ambiente online, assim como a apuração e verificação dos fatos. Ao webjornalista, cabe o

 papel de mediador dos discursos, ao controlar a qualidade e a credibilidade das informações. De

acordo com Aroso, o jornalista pode ser mais valorizado a partir da mediação, da interpretação

e explicação dos acontecimentos.

6 <http://www.bocc.ubi.pt/pag/aroso-ines-internet-jornalista.pdf>7 HALL, Jim. Online Journalism: a critical primer. London: Pluto Press, 2001.

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4 ANÁLISE DAS “ALFINETADAS”

4.1 Descrição da metodologia

Para desenvolver o presente trabalho, foi necessária pesquisa de base teórica, a fim de entender 

em quais categorias o objeto empírico se encaixa. A crítica musical, publicada em ambiente

digital, faz parte das discussões acerca de jornalismo cultural e webjornalismo. Para

compreensão das características da crítica musical na internet, escolheu-se a análise de

conteúdo, a ser desenvolvida na coluna Alfinetando8, publicada pelo jornalista Regis Tadeu no

site Yahoo9.

Fruto de tal objetivo, analisaram-se os seguintes textos do autor: “VMB 2010 celebra um

mundo pop-rock retardado”, “Rush fez de São Paulo a cidade mais feliz do mundo”, “É preciso

ter menos preguiça e mais curiosidade”, “Os melhores e piores discos internacionais de 2010”,

“A nova cara do soul”, “Não existe crítica imparcial”, “Meus trios elétricos são outros”, “Por 

que bandas famosas não fazem turnês com “lados b””, “Contra a “bundamolização” da música

 brasileira”, “Para começar a gostar da boa música eletrônica”, “O artista, muitas vezes, é apenas

um babaca”, “Amy Winehouse finalmente encontrou o que procurava”, “Alguns discos e minhaopinião” e “Freddie Mercury foi um grande cantor e compositor, mas não um gênio”.

Trata-se, no total, de 14 textos, publicados entre 17 de setembro de 2010 e 5 de setembro de

2011. A coleta das publicações contempla um ano de postagens, sendo escolhido um texto por 

mês, para que se tenha amplitude de temas. Em julho, foram coletados dois textos, devido à

relevância dos temas tratados: o primeiro aborda a genialidade dos artistas, tendo como objeto o

cantor Freddie Mercury; o outro discute a morte da cantora Amy Winehouse. A escolha dostextos, em geral, diz respeito a críticas de bandas, artistas, discos e temáticas universais

Para a análise, criou-se, ainda, uma tabela comparativa dos textos, na qual se detalham as

questões observadas.

4.1.1 Critérios de análise

8 <http://colunistas.yahoo.net>9 O Yahoo é um portal de acesso gratuito, que não possui público segmentado. Suas diversas seções contemplamnotícias, colunas, entretenimento, além de serviço de correio eletrônico. O portal possui, dentro da seçãoOpinião, colunas sobre os temas Comportamento, Esportes, Meio ambiente, Música, Nosso Mundo, Saúde,Tecnologia, Cinema e TV e Charges.

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A observação e análise da coluna  Alfinetando segue uma série de critérios. Nesta pesquisa,

 buscou-se dividir o objeto empírico nas seguintes especificidades:

A) Análise quantitativa

• Tamanho dos textos: quantidade de caracteres.

• Divisão e ocorrência de temas: internacional, nacional ou universal.

• Quantidade de comentários: número de comentários de leitores referentes ao texto.

•  Natureza dos assuntos tratados: banda, disco, artistas ou temáticas gerais.

B) Adequação ao gênero jornalístico

• Características observadas na coluna Alfinetando, com base nos autores que discutem o

 jornalismo opinativo, e, mais especificamente, o gênero “Crítica”.

• Características próprias do webjornalismo.

C) Indícios de objetivação e subjetivação

• Observação de aspectos interpretativos do texto e do uso, ou não, de adjetivos e juízos

de valor, por parte de Regis Tadeu.

D) Interatividade no webjornalismo

• Espaço disponível para interação do leitor com o colunista.

•  Natureza dos comentários dos leitores: favoráveis, desfavoráveis ou neutros ao

colunista.

• Existência, ou não, de resposta, por parte do colunista, aos leitores.

4.2 O crítico Regis Tadeu

Considerado um dos mais importantes críticos do Brasil, Regis Tadeu produz e apresenta o

 programa  Rock Brazuca na Rádio USP FM. Foi editor das revistas Cover Guitarra, Cover 

 Baixo, Batera, Teclado & Áudio, ex-crítico musical do programa Superpop e jurado do

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Programa  Raul Gil. No site Yahoo, mantém a coluna  Alfinetando, desde 2010, onde publica

impressões e opiniões acerca do universo musical, criticando bandas, discos, artistas e

discutindo eventos, atividades da juventude, drogas, entre outras temáticas gerais.

Regis Tadeu é formado em odontologia e se tornou jornalista por meio do conhecimento

musical e de sua predileção por discos. Dono de uma coleção de 10 mil discos, há 18 anos, foi

convidado por um conhecido, que lançava a revista Cover Guitarra,  para escrever críticas

musicais. Em 1993, o atual crítico nunca tinha publicado um texto. No entanto, aceitou a

 proposta. A partir das primeiras críticas, que tiveram boa receptividade do público, começou a

escrever sobre a história de bandas e a produzir entrevistas com grupos nacionais e

internacionais.

4.2.1 A coluna Alfinetando

Publicada desde janeiro de 2010, no site Yahoo, a coluna  Alfinetando, de Regis Tadeu,

caracteriza-se pela publicação de textos, com imagens que ilustram a discussão em torno do

universo da música popular. As publicações ocorrem às segundas-feiras. Percebe-se que Tadeu

não tem horário certo para publicar, visto que há textos publicados às 9h57, e outros, às 16h16,havendo grande variação entre publicações feitas pela manhã e à tarde.

Para acessar a coluna, é preciso entrar no portal Yahoo, na seção Colunistas e, entre os temas

das colunas, escolher o link música. Uma vez na referida seção, encontra-se outro link , para a

coluna de Regis Tadeu, informando a data e horário do último texto publicado. No alto da

coluna Alfinetando, há breve histórico do autor, seguido da periodicidade das publicações e da

divulgação do email do crítico, com um texto Fale com ele. Ao lado, há espaço para que o leitor dê nota para o colunista, de 1 a 1010. A primeira página da coluna contém um arquivo com 10

textos. Para o leitor, aparecem o título, a data e o horário em que foram publicados. Estão

disponíveis nove páginas, num total de 90 textos para consulta.

Ao clicar em um dos títulos, entra-se no texto escolhido. No espaço de cada postagem, há

imagens e links direcionando o leitor às informações complementares. Abaixo de cada texto, há

um link para que se saiba mais sobre o colunista; um para a avaliação do texto e outro para queo leitor comente. Além disso, há opções para que sejam enviados textos via e-mail ou10 Regis aparece com 7.72 pontos, a partir de 30.486 votos, no dia 27 de setembro de 2011.

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compartilhados em redes sociais. Abaixo, aparecem os comentários publicados pelos leitores,

ordenados dos mais recentes aos mais antigos. Ao final da página, vê-se o seguinte aviso:

Caro leitor, o Yahoo! Colunistas não censura [sic] comentários e estimula [sic] a pluralidade de ideias. Por favor, seja cordial e respeitoso ao publicar sua opinião. Todas asinformações aqui veiculadas são de responsabilidade de seus autores e não expressam aopinião do Yahoo! em relação aos temas em debate.11

Após o aviso do portal Yahoo, aparece o quadro onde o leitor deve escrever seu comentário.

Para comentar, o leitor precisa informar nome, e-mail, cidade e estado onde mora.

4.3 Análise

4.3.1 Análise quantitativa

As publicações aqui analisadas, referentes à coluna Alfinetando, de Regis Tadeu, não obedecem

a lógica exata, no que diz respeito ao tamanho dos textos. Abaixo, seguem as críticas musicais

analisadas e seus respectivos números de caracteres:

Tabela 1

Título do texto CaracteresO VMB 2010 celebra um mundo pop-rock 

retardado

8193

Rush fez de São Paulo a cidade mais feliz do

mundo

2.369

É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade 3.374Os melhores e piores discos internacionais de 2010 9.233A nova cara do soul 4.486

 Não existe crítica imparcial 4.772

Meus trios elétricos são outros 4.671

Por que bandas famosas não fazem turnês com

“lados b”

2.750

Contra a “bundamolização” da música brasileira 3.478Para começar a gostar da boa música eletrônica 11.019O artista, muitas vezes, é apenas um babaca 13.268

Alguns discos e minha opinião 12.305

11 <http://colunistas.yahoo.net/posts/13338.html>

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Freddie Mercury foi um grande cantor e

compositor, mas não um gênio

3.233

Amy Winehouse finalmente encontrou o que

 procurava

3.420

Dentre os textos aqui analisados, o maior deles foi publicado, por Regis Tadeu, sob o título “O

artista, muitas vezes, é apenas um babaca”. O menor ficou por conta de “Rush fez de São Paulo

a cidade mais feliz do mundo”. Entretanto, pode-se concluir que os tamanhos dos textos são

uma opção pessoal do colunista, que os varia de acordo com o assunto abordado. Importante

característica da internet, que interfere na crítica, diz respeito ao espaço. O texto não pode ser 

grande a ponto de perder a atenção do leitor e deve conter multimidialidade, ou seja, unir vários

tipos de mídias, como imagem e áudio.

Entre as críticas analisadas, apenas duas abordam temas nacionais e duas se dedicam a temas

universais. Os outros 10 textos tratam de bandas, discos e artistas internacionais. Por meio dessa

análise, percebe-se predileção do colunista, pois, pela temática internacional.

De acordo com Shuker (1999), o consumo cultural é resultado do gosto, daquilo com que as

 pessoas se identificam. O autor observa que o gosto pessoal é influenciado por idade, etnia,

entre outros fatores construídos socialmente. Regis Tadeu, em entrevista à pesquisadora do

 presente trabalho12, afirma não haver predileção por nenhuma temática em especial, não tendo

feito contabilidade entre as recorrências de temas. O crítico afirma, ainda, que lhe preocupa a

relevância do que aborda e o que pode contribuir para elucidar tal assunto entre seus leitores .

Para avaliar a natureza dos assuntos tratados, esta análise dividiu os temas em banda, disco,

artistas ou temáticas gerais. Percebe-se que, entre os textos analisados, 4 abordam temáticas

gerais; 4 dizem respeito a bandas; 3 textos tratam de discos; 2 discutem artistas e um aborda, ao

mesmo tempo, artistas e discos. Há equilíbrio, portanto, no que se refere aos temas. De modo

específico, ao tratar do assunto “artistas”, Regis Tadeu exerce função fundamental à crítica

especializada, atividade conceituada, por Morelli (2009), como a publicação de impressões

sobre os artistas e seus trabalhos. Tais impressões podem atuar de forma positiva ou negativa na

imagem dos músicos. Neste sentido, a imagem pública dos artistas influencia, diretamente, nas

12 Entrevista concedida por e-mail, no dia 12 de outubro de 2011.

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vendas de discos e shows, embora certos autores observem a crítica, no século XXI, não tão

influenciadora do sucesso ou do fracasso dos produtos culturais.

 No que se refere à coluna  Alfinetando, há grande variação no número de comentários

 publicados pelos leitores. O texto com mais comentários intitulavas-se “VMB 2010 celebra um

mundo pop-rock retardado”, com 2.314 participações; em seguida, está “Contra a

‘bundamolização’ da música brasileira”, com 1798 participações. Os textos com menos

comentários foram “Não existe crítica imparcial”, com 56 publicações, e “É preciso ter menos

 preguiça e mais curiosidade”, com 74 publicações. Observa-se que os textos com maior 

quantidade de comentários dizem respeito a temáticas nacionais.

4.3.2 Adequação ao gênero jornalístico

De acordo com Cunha3, a crítica representa a opinião pessoal do jornalista. As críticas de Regis

Tadeu são textos opinativos, acerca de obras culturais, de acordo com o conceito de crítica

cultural proposto por Cunha. As obras culturais criticadas por Regis, na coluna  Alfinetando,

tratam da música e dos variados temas que envolvem o universo musical, como é possível

observar no texto “A nova cara do soul”:

Este  soul revival também é perceptível no trabalho mais moderno de Janelle Monáe, umagarota que foi descoberta por Big Boi, a metade da dupla OutKast. Apesar de seu recenteshow aqui no Brasil ter sido decepcionante – como já citei no texto que escrevi a respeitode Amy Winehouse, que você pode ler aqui -, é inegável que seu disco The ArchAndroid éexcelente no que se refere à qualidade das canções e, principalmente, dos arranjos e da voz

 belíssima que ela tem.13

 Na coluna Alfinetando, a multiplicidade de assuntos acerca da música condiz com o que Piza

(2004) afirma ser uma implicação do termo jornalismo cultural , uma vez que a cultura está emtudo. A música, enquanto cultura, também dialoga com variadas temáticas. Tal diálogo pode ser 

observado nos textos de Regis, em que o autor aborda a crítica (“Não existe crítica imparcial”);

drogas (“Amy Winehouse finalmente encontrou o que procurava”); jovens e educação (“Contra

a ‘bundamolização’ da música brasileira”); discos (“Alguns discos e minha opinião); bandas

(“Por que bandas famosas não fazem turnês com ‘lados b’) e artistas, como se pode observar no

trecho:

13 http://colunistas.yahoo.net/posts/8312.html.

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Ao entrevistar e conviver com músicos, produtores, assessorias de imprensa, gravadoras etudo o que envolve este meio, verifiquei que nem sempre aquilo que a gente vê em cima do

 palco é a realidade que está por trás dos artistas, que, como todos nós, são seres humanos erepletos de virtudes e, principalmente, de defeitos. De lá para cá, tenho presenciadomomentos tão constrangedores, ridículos, revoltantes e “sem noção” de tantos artistas que

este espaço não seria suficiente para contar tudo em detalhes.14

Verifica-se na coluna, portanto, exposição da opinião pessoal de Regis. Em suas críticas, pode-

se observar a predileção do colunista pelo gênero musical rock, como é claro no texto intitulado

“Rush fez de São Paulo a cidade mais feliz do mundo”, em que o autor manifesta a felicidade

advinda do show da banda Rush, em São Paulo:

“Inacreditável”. Esta é certamente a palavra que melhor define o que foi a apresentação que

o Rush fez ontem no estádio do Morumbi. Nenhuma – sim, nenhuma! – das quase 40 mil pessoas que estiveram no local saiu sem um enorme sorriso no rosto. Não vou escrever arespeito do uso inteligentíssimo do virtuosismo dos caras – passei grande parte do show me

 perguntando como eles conseguiam criar aquilo que todos nós vimos ser executado nanossa cara! – e muito menos a energia que estes três senhores emanam do palco, algo quedeveria servir de lição para esta molecada barbada aqui no Brasil.15

 No trecho acima, observa-se que, além de exaltar a qualidade do show, o crítico sugere que a

“molecada barbada” do Brasil siga a lição da banda, no que diz respeito à presença no palco. Na

crítica intitulada “Por que bandas famosas não fazem turnês com “lados b””, percebe-se que, ao

abordar o que seriam boas bandas, os artistas de rock têm espaço privilegiado. O colunista cita

as bandas Iron Maiden, Kiss e AC/DC , ambas de rock:

O que proponho aqui é uma ousadia? Sim, claro. Afinal de contas, este é um elementoimportantíssimo para que a carreira de alguém mereça crédito ao longo de gerações. Masveja abaixo as minhas sugestões de repertório para hipotéticos shows de, por exemplo, três

 bandas mais que lendárias – o próprio Iron Maiden, o Kiss e o AC/DC –, mas que nunca primaram pelo “atrevimento” na hora de montarem seus setlists.16

Além disso, na coluna publicada no dia 07 de março de 2011, sob o título “Meus trios elétricossão outros”, Regis Tadeu manifesta seu desgosto pelo carnaval brasileiro e chama de

“aberrações musicais” bandas como Chiclete com Banana e Asa de Águia. Em seguida, Tadeu

sugere que seus leitores conheçam e escutem as músicas de trios musicais como Rush, Cream,

Jimi Hendrix Experience, Motorhead, entre outros, também bandas de rock.

Piza (2004) afirma que autoridade sobre um assunto não significa boa crítica, o que é possível

 perceber na coluna  Alfinetando. Regis demonstra, em seus textos, conhecimento acerca dos

14 <http://colunistas.yahoo.net/posts/12102.html>15 <http://colunistas.yahoo.net/posts/5614.html>16 http://colunistas.yahoo.net/posts/9935.html.

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assuntos, ao citar datas, nomes, e ao comparar obras. Entretanto, em certas críticas, como na

intitulada “Os melhores e piores discos internacionais de 2010”, os artistas são maltratados, sem

que haja, no entanto, avaliação aprofundada da obra, como se observa na seguinte crítica à

cantora M.I.A:

Sinceramente, ainda é um mistério para mim os motivos que levam a crítica especializada a babar ovo por esta menina desgraçadamente sem talento. Até mesmo ela sabe disso, poisteve que aceitar fazer um clipe violentíssimo e polêmico para disfarçar o quanto suascanções são irritantemente chatas. Nem mesmo o seu engajamento político disfarça a aridezde suas idéias musicais. Perto dela, Karen O., do Yeah Yeah Yeahs, parece a BillieHoliday.

Piza (2004) ressalta, ainda, que o bom jornalista cultural é aquele que demonstra senso crítico

nos textos, ao mostrar visão para além do óbvio. Regis Tadeu convida o leitor a pensar no tema

e cumpre um papel de educador dos leitores, como é possível perceber, de maneira clara, nos

textos intitulados “É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade”, “Contra a

“bundamolização” da música brasileira”, “O artista, muitas vezes, é apenas um babaca” e “Amy

Winehouse finalmente encontrou o que procurava”. Nos textos, encontram-se uma defesa de

ideias e um convite para que se pense nos temas propostos por Regis, como no trecho:

Por que é preciso se drogar e agir como um lunático para ser “rock and roll”? BruceSpringsteen, Steve Harris, Bono e Paul McCartney são caras absurdamente “rock and roll”e não precisam sair por aí cambaleando, quebrando quarto de hotéis, vomitando em festas edando vexame em cima do palco. Vamos parar com esta palhaçada de que tem tomar drogas e beber como um gambá para corresponder a um estereótipo tão falso quantocretino.17

Se, por um lado, a coluna de Regis abre espaço para que o autor exponha suas opiniões sem

limitações de espaço; por outro, impõe-se ao colunista o respeito à linguagem própria da

internet, que, de acordo com Canavilhas4, utiliza o hipertexto, além de elementos multimídia,

que tornam o texto multilinear. Observa-se, na coluna  Alfinetando, o uso de imagens a ilustrar 

os assuntos e de links a direcionar o usuário a vídeos no Youtube e a outras matérias

complementares.

 No texto intitulado “Para gostar da boa música eletrônica”, por exemplo, ao falar sobre a canção

 Natural Blues, do Moby, há um link  “clique aqui”, direcionado ao vídeo da música no

Youtube18. No mesmo texto, ao citar as bandas  Moby, Chemical Brothers, Crystal Method,

 Prodigy, Propellerheads, Orbital, Utah Saints, Underworld, Fatboy Slim, Air, Groove Armada,

respectivamente, há imagens das capas de discos dos referidos grupos.17 ttp://colunistas.yahoo.net/posts/12563.html.18 http://www.youtube.com/watch?v=z3YMxM1_S48.

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4.3.3 Indícios de objetivação e subjetivação

A coluna Alfinetando é escrita com linguagem coloquial. Observa-se o uso de hipérbole, como

nos trechos “(...) derreteu as retinas de quem teve a coragem de assistir (...)” e “(...) era mais

fraca que sopa de albergue noturno”, extraídos do texto intitulado “VMB 2010 celebra um

mundo pop-rock retardado”. Ao escrever sobre o evento VMB, Regis Tadeu usa expressões

como “tragédia”, “circo de horrores”, “vergonhoso”. Além deste tipo de expressões, Regis

escreve sem poupar impressões sobre os artistas, usando bastante juízo de valor, como é

 possível perceber no trecho:

A apresentação ao vivo do Restart foi aquela fraqueza e desafinações de sempre, mas pelomenos deu para sacar que o batera Thomas é bom, o único que tem chance de se dar bemcomo músico quando a banda encerrar as atividades   – algo que todos nós esperamos queaconteça o mais rápido possível19.

 Na coluna do dia 30 de maio de 2011, sobre o título “Contra a “bundamolização” da música

 brasileira”, Regis critica o clipe da banda brasileira “A Banda mais bonita da cidade”, que

lançou o vídeo da música “Oração” e se tornou sucesso na internet, pela quantidade de acessos.

Regis inicia a crítica acusando a banda de plagiar um clipe da banda  Hey Rosetta. Neste

momento, há um link “veja aqui”, que direciona para o clipe desta banda. Em seguida, o

colunista ironiza os protagonistas do clipe chamando-os de “fofinhos” e ridicularizando a

aparente felicidade explícita no vídeo. Regis afirma que “problema está justamente nas pessoas

que deram crédito a esta pataquada”20.

A acusação de plágio e as ironias sobre a banda introduzem uma discussão acerca do que Regischama de “emburrecimento” da população, ideia segundo a qual as pessoas dão valor para

coisas muito superficiais, e, no caso da música, valorizam bandas que ele caracteriza como

“desafinadas”. Após discutir a realidade dos jovens universitários, que, segundo Regis, estão

mais preocupados com cerveja e baladas, o colunista volta a discussão para a música, dizendo

que “(...) a canção tem uma letra absurdamente miserável, que sugere que o autor tenha passado

recentemente por uma lobotomia (...)”. Já sobre o clipe, o crítico afirma que a “chatice e a

infindável sucessão de sorrisos artificiais aumentam ainda mais a panaquice reinante (...)”.19 http://colunistas.yahoo.net/posts/5055.html.20 http://colunistas.yahoo.net/posts/5055.html.

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Há vasto uso de adjetivos e juízo de valor no referido texto, o que pode ser exemplificado com

as expressões “som zumbificante e plasticamente alegre”, “insuportável trambique”, “Deus me

livre disto”, entre outros. No que se refere ao já citado texto “VMB 2010 celebra um mundo

 pop-rock retardado”, quando Regis chama Roberto Justus de mega-canastrão ou, ainda, a

cantora Mallu Magalhães de lesada, o colunista realiza ataques pessoais aos artistas, tipo de

 postura considerada por Piza (2004) como um erro, pois um crítico não deve confundir o artista

com aquilo que produz.

Em “Não existe crítica imparcial”, Regis Tadeu discute a imparcialidade jornalística. Traquina

(2005) observa que os jornalistas afirmam ser objetivos e imparciais ao relatar osacontecimentos. Tais acontecimentos, no entanto, são relatados, por diversos jornalistas, de

modo diferente. No caso da crítica, a parcialidade é óbvia. Em todos os textos analisados, há

subjetivação, por parte de Tadeu, e não existem limites em relação ao que é dito pelo colunista,

seja elogiando ou destratando artistas.

4.3.4 Interatividade no Webjornalismo

A interatividade é uma das mais importantes características do webjornalismo. Tal característica permite que os usuários interajam com as notícias, e mais do que isso, publiquem suas notícias,

 participando ativamente das discussões. Neste sentido, o receptor pode tornar-se emissor.

O uso do termo “interatividade” tem sido erroneamente usado para qualquer troca ou

 participação do receptor com o emissor de uma informação. No entanto, Ezequiel21, ao discutir 

o relacionamento usuário-computador, afirma que para ocorrer interatividade é necessário que

os comunicadores se respondam. A conversação entre os comunicadores acontece baseando-seem uma sequência de respostas dentro de um contexto intercambiado.

Por meio da divulgação do e-mail de Regis, os leitores podem contatar o colunista; e o espaço

 para comentários é onde empiricamente observamos o modo como os receptores estão agindo:

aprovando ou desaprovando a opinião de Regis Tadeu. Ao observar os 10 primeiros

comentários postados abaixo dos textos do colunista, pode-se dizer que há grande desequilíbrio

entre as demonstrações favoráveis, desfavoráveis ou neutras ao que é dito na coluna.

21 http://www.cibersociedad.net/congres2009/es/coms/interatividade-refletindo-sobre-a-interasao-mediada-por-computador/719/

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Das críticas analisadas, o texto intitulado “O artista, muitas vezes, é apenas um babaca” é o

único a registrar 100% de aprovação dos leitores em relação ao que diz Regis Tadeu. O texto

critica a postura de estrelismo de muitos artistas, que se sentem o centro das atenções, não

respeitam o público e transmitem, no palco, imagem que não condiz com a personalidade de

tais artistas. Segundo Regis,

Quando você vê o seu ídolo no palco, esplendorosamente iluminando e detonando um som bacana, não consegue imaginar que aquela figura carismática e talentosa pode ser um dosseres humanos mais intragáveis da face da Terra (22 Alfinetando, 2011)

A crítica de Regis refere-se ao universo de indivíduos que se fascinam pelos músicos,endeusando-os e confundindo a personalidade dos artistas com o conteúdo do trabalho musical

que realizam. Neste sentido, há que se ressaltar o fato de a indústria fonográfica lucrar com tal

fascinação do público, de acordo com Anderson (2006). O grande poder exercido pelos hits,

quando no auge da indústria fonográfica, segundo Anderson, deve-se à combinação entre

músicas e aparência dos artistas. Regis Tadeu, em “O artista, muitas vezes, é apenas um

 babaca”, revela um lado do artista que pode não ser mostrado pela grande mídia, dando

exemplos de atitudes presenciadas pelo próprio crítico, como a vinda, ao Brasil, do guitarrista

sueco Yngwie Malmsteen:

Ao chegar ao hotel cinco estrelas reservado para ele e sua comitiva, o cara surtou. Aosgritos, xingou toda a equipe de produção do Brasil e os funcionários do hotel, alegando quemerecia coisa melhor por se tratar de um verdadeiro rockstar. “Vocês pensam que soualguém do Labyrynth ou do Rhapsody para me tratarem assim? Eu sou um astro, sou umrei! Sou como Mozart! Estou pouco me fodendo com a minha banda! Sou uma estrela eexijo ser tratado como tal”23.

O texto com mais comentários desfavoráveis ao que foi dito pelo colunista intitula-se “Não

existe crítica imparcial”. Ao todo, 50% dos 10 primeiros comentários não concordaram com

Regis, sendo que um comentário, publicado no dia 28 de fevereiro de 2011, pelo usuário de

nome sportsbrains, interpreta o texto de Regis como uma defesa da crítica imparcial, quando,

na verdade, o texto argumenta o oposto:

Logo de cara, é preciso demolir o argumento de que “crítico de música tem que ser imparcial”. Alô, leitores cabeçudos: ISTO NÃO EXISTE. Se o que se pede é justamente aOPINIÃO de um profissional a respeito de um CD,  show, livro, filme ou o que quer que

seja, não há imparcialidade neste caso, e sim as sensações que tais obras e eventos

22 http://colunistas.yahoo.net/posts/12102.html.23 http://colunistas.yahoo.net/posts/12102.html.

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 propiciaram ao autor da opinião, seja ELA escrita ou falada. A imparcialidade tem que estar na colocação pura e simples de uma notícia, de um fato. A partir do momento em que umaopinião é emitida, não há mais razão para se pedir “imparcialidade”. Deu para entender? 24

Sportsbrain25

comenta que “(...) o Regis não precisa ficar fazendo esse marketing de que éimparcial. O leitor mais atento sabe distinguir isso”. O comentário ainda defende a postura de

 jornalistas que não manifestam opiniões próprias em suas críticas, por medo de serem demitidos

dos veículos em que trabalham. Regis26 afirma que a crítica cultural no Brasil, em geral, é rasa,

 pouco opinativa e informativa, resumindo-se a um festival de clichês surrados e que não

estimulam o leitor a pensar.

 Não há nenhum comentário de Regis em resposta aos leitores. Também não há, em nenhumtexto, qualquer referência ao conteúdo dos comentários feitos pelos leitores, o que demonstra

falta de preocupação do colunista para com a opinião dos receptores. Regis24 afirma, inclusive,

que não é influenciado pelos comentários dos leitores, divertindo-se, por vezes, principalmente

com os comentários horrorizados/revoltados. Tal postura de Regis nos questiona acerca da

existência de interatividade na coluna Alfinetando.

Assim como os jornais buscam identificar a opinião pública e a opinião do público, de acordo

com Beltrão (1980), um colunista também deve conhecer seu público. Ao analisar a quantidade

e o conteúdo dos comentários referentes aos textos de Regis Tadeu, percebe-se que o colunista

aborda temas que dão margem à opinião. Por meio dos comentários e e-mails dos leitores,

Tadeu também pode identificar a opinião dos leitores da coluna Alfinetando.

24 < http://colunistas.yahoo.net/posts/9042.html>25 <http://colunistas.yahoo.net/posts/9042.html>26 Em entrevista concedida à pesquisadora, em 12 de Outubro de 2011.

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5 CONCLUSÃO

Muito há o que explorar em meio ao “universo” da crítica cultural e, mais especificamente, da

crítica musical brasileira, como se pôde perceber por meio da análise da coluna  Alfinetando, de

autoria de Regis Tadeu. Em meio à crítica especializada, não se tem visto ousadia nas

abordagens de temas culturais e os críticos revelam medo de expor suas opiniões, o que pode

resultar em perda de leitores, ou, até mesmo, em demissão.

Primeiramente, é preciso problematizar o mito da objetividade jornalística, visto que, em

diversos tipos de cobertura, as maneiras de enxergar e relatar os fatos já revelam vasta dose de

subjetividade por parte dos jornalistas. De outro modo, é fundamental que, no jornalismocultural, trabalhe-se a subjetividade de maneira que o jornalista, ao mesmo tempo, escreva sua

opinião e dê margem a interpretações, iniciando profícua discussão com o leitor.

 No espaço das colunas de opinião e, principalmente, no ambiente online, há maior liberdade

 para o exercício profissional dos críticos. Portanto, espera-se que os temas sejam melhor 

explorados, de modo a estimular discussões abrangentes e democráticas. Na coluna

 Alfinetando, observa-se que, por um lado, Regis Tadeu rompe com o medo de dizer o que pensae expõe, de maneira clara, suas opiniões acerca do universo musical, o que é muito importante

 para a crítica cultural. Por outro, falta interação e preocupação do crítico para com seus leitores.

A coluna  Alfinetando faz parte do universo da crítica cultural, uma vez que engloba textos

opinativos, capazes de instigar o leitor, propondo-o a pensar em determinados assuntos. Os

temas, fundamentalmente musicais, dialogam com outros temas, como se pode observar nos

tratamentos dirigidos a assuntos como drogas e educação, entre outros.

 Na crítica cultural, é importante que o crítico tenha autoridade sobre os assuntos que aborda.

Tal autoridade pode ser percebida nos textos de Regis. Entretanto, como já foi discutido nessa

 pesquisa, certas críticas de Tadeu detratam artistas e discos, sem que haja a verdadeira avaliação

das obras. Neste sentido, perde-se um pouco a função da crítica.

Outra questão observada diz respeito ao uso de adjetivos e juízos de valor, por parte de Regis,

em que se percebe a proposta subjetiva da coluna Alfinetando. O crítico em questão usa muitos

adjetivos, como “insuportável”, “horrível”, “retardado”, entre outros. Falta, entretanto, para

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além de adjetivos, a explicação detalhada dos reais fatores que levam os artistas ou discos a

merecerem tais rótulos. Para que um artista seja analisado por Regis como retardado, ou para

que um disco seja tomado por ruim, revela-se necessária uma série de justificativas técnicas.

Quanto à questão da interatividade, importante característica do webjornalismo, percebe-se que

seu uso deixa muito a desejar na coluna  Alfinetando. Há espaço para os comentários dos

leitores, mas não existem respostas ou menções aos comentários posteriores ao texto. Neste

sentido, Regis ignora o que é dito ou questionado por seus leitores, o que revela falta de

 preocupação do autor em relação ao pensamento do público. Uma vez que não há uma

conversação entre os comunicadores, no caso, entre o colunista e seus leitores, pode-se dizer 

que não há interatividade.

A leitura não linear dos usuários no webjornalismo e a associação de elementos como imagens

e links, direcionando o leitor para conteúdos complementares ao texto, abrem espaço para que,

imediatamente, busquem-se referências em outros sites. Ao ler uma crítica a respeito de um

disco, por exemplo, pode-se, no mesmo instante, procurar o disco no ambiente digital e escutá-

lo, interagindo com o que é proposto pelo autor da crítica, concordando ou não com as opiniões

 por ele expressas. A abertura para verificação do que é dito por um jornalista, na internet, podeenfraquecer o papel do crítico e, para atrair a atenção do leitor  online, é necessário mais do que

um bom texto. É importante que o jornalista exponha argumentos fundamentados, e dados reais,

que possam ser verificados pelos leitores.

 No webjornalismo, as notícias abrem espaço para o leitor, seja por meio de fórum, comentários

ou divulgação do e-mail do autor do texto. No espaço para comentários, os leitores iniciam

discussões, muitas vezes, interessantes e complementares ao texto crítico.

A abertura para os usuários do webjornalismo requer que o jornalista responda aos leitores.

Caso contrário, não há por que a existência de espaços interativos. A interação exige que haja

modificações recíprocas entre os interagentes. Os textos, no webjornalismo, não encerram

determinado assunto. Tais textos, ao contrário, iniciam discussões, que devem ser devidamente

valorizadas pelos jornalistas.

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ANEXOS

Anexo A – Seção Opinião do portal Yahoo

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Anexo B – Imagem da coluna Alfinetando, em 05/09/2011

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Anexo C - Texto: VMB 2010 celebra um mundo pop-rock retardado, publicado em17/09/10 às 14h43.

Imagine que você foi convidado para a festa de 20º aniversário de alguém e, ao chegar ao local, percebe que a pista de dança está vazia, os convidados estão em silêncio e o aniversariante passa o tempo todo falando ao microfone o quanto ele é legal, apresentando seus primos, todosmongolóides, daqueles que lambuzam a testa na hora de tomar sorvete, e fazendo-os cantar damaneira mais desafinada do mundo. Imaginou?

Pois esta sensação é infinitamente melhor do que aquela que praticamente derreteu as retinas dequem teve a coragem de assistir ao VMB 2010, mais uma ocasião em que a MTV nos brindacom um retrato inequívoco de que grande parte do meio musical – e, por conseguinte, de todauma geração – está indo definitivamente para o buraco.

Quando o pessoal do Yahoo! Brasil pediu gentilmente para que eu escrevesse um artigo comminhas impressões a respeito de tal premiação, juro que tentei encarar a empreitada com umaexpectativa otimista, mesmo sabendo que a lista dos indicados ao prêmio era mais fraca quesopa de albergue noturno. Ingenuamente, cheguei a acreditar que a MTV iria conseguir barrar este absurdo processo de votação popular, controlando os tais “votos” para que uma mesma

 pessoa não ficasse com a ponta dos dedos em carne viva de tanto votar em seu ídolo pelotelefone, pela internet ou pelo diabo a quatro. Muita ingenuidade da minha parte, né?

Eu já percebi que a coisa seria uma tragédia logo no tal “Aquecimento VMB”, quando um casalde atores de um programa da própria emissora, Quinta Categoria, tentava ser engraçadoenquanto fazia merchan explícito de desodorante, refrigerante, carro e outros produtos, em

cenas pra lá de constrangedoras. Nas entrevistas antes do evento, artistas se portavam como seestivessem anestesiados – menos no caso de Otto, que parecia estar dopado com algumasubstância emburrecedora. Mas eu não estava preparado para o que estava por vir…VMB 2010

Talita Werneck e Paulinho Serra entrevistam o cantor Otto no VMB 2010/Foto: Andressa Reze

Logo no início do programa, uma ótima ideia – uma interação entre o bom apresentador Marcelo Adnet e alguns artistas (Marcelo D2, Sandy, o guitarrista do Cachorro Grande e o

 jurado Miranda, do Qual é o Seu Talento?) – foi jogada fora por absoluta falta de criatividade.Daí para frente, o circo de horrores tomou proporções babilônicas. Acompanhem a sequência de

eventos:

- Muito mais vergonhoso que o NX Zero ganhar o prêmio de “Melhor Show” foi o seuvocalista, Di, dar o telefone de contato para quem quisesse agendar uma apresentação de sua

 banda ridícula. Um absurdo total!

- Apesar de uma boa imitação do Faustão feita pelo Adnet, isto foi insuficiente para disfarçar oquanto as vinhetas para a categoria “Aposta MTV” foram primárias. O ganhador – um tal deThiago Pethit – parecia ter caído da cama de tão sonolento e desanimado com o prêmio;

- A apresentação ao vivo do Restart foi aquela fraqueza e desafinações de sempre, mas pelomenos deu para sacar que o batera Thomas é bom, o único que tem chance de se dar bem comomúsico quando a banda encerrar as atividades – algo que todos nós esperamos que aconteça omais rápido possível;

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- O anúncio de Justin Bieber como ganhador da categoria “Melhor Artista Internacional “ foium dos troços mais desanimados da história da TV brasileira, uma cena ainda piorada pela

 participação ridícula daquela menina pentelha que ficou conhecida como “mini Lady Gaga”;

- Depois de a dupla 3OH!3 pagar mico antes de anunciar apresentação do Fresno, o grupogaúcho fez um pastiche canhestro de 30 Seconds to Mars, tentando botar uns timbres maisagressivos em seus instrumentos só para mostrar que estão mais pesados, embora aindasensíveis. Coisa ridícula!

- O fato de o megacanastrão Roberto Justus ter apresentando a categoria “Revelação” já dava bem a medida do que viria a acontecer. Dentro de uma relação de grupos horríveis e daalienígena presença de Karina Buhr, a vitória do Restart seria o início de uma das maisinacreditáveis estratégias de votação popular – quero acreditar que sem a cumplicidade da MTV

 – já presenciadas na TV mundial;

- Em uma das vinhetas de intervalo, Sandy cantou ao lado de Mallu Magalhães, que continuatão lesada que sequer é capaz de conseguir afinar o seu violão. Constrangedor foi pouco;

- Os artistas focalizados na plateia demonstravam uma total indiferença não apenas em relaçãoao que acontecia no palco, mas no evento em geral. Vi gente que, se pudesse, estaria jogando“batalha naval”. Não é mesmo, Samuel Rosa? Não é mesmo, Cazé?

- Quando o Restart começou a ganhar mais prêmios, vaias começaram a ser ouvidas dentro dorecinto, algo que passou a desesperar a direção do programa, que precisou abaixar o volume doáudio da plateia e mudar rapidamente para outra atração;

- Foi triste ver um cara talentoso como o Adnet sendo obrigado a ler um texto ridículo a respeitode “TV on demand”;

- Na categoria “Web Hit”, o pessoal vencedor – com uma patética paródia do Justin Bieber – mostrou como não receber um prêmio, tamanha a falta de noção demonstrada na ocasião;

- O Restart ganhar como “Melhor Pop” e um embusteiro como Diogo Nogueira ser o vencedor na categoria “Melhor MPB” foi um daqueles sinais de que o Apocalipse deve acontecer entrequinta e sexta-feira da semana que vem;

- O Capital Inicial – não por acaso, a única banda do chamado “rock brasileiro dos anos 80” queconseguiu reciclar o seu público para sobreviver aos dias atuais – até que tentou fazer umaapresentação digna, mesmo botando mais um guitarrista e um violonista para dar aquele “pesoMandrake”, mas uma grade descendo fora de hora e separando Dinho Ouro Preto de seuscompanheiros deu a impressão que estávamos diante de um cirquinho de oitava categoria;

- A tal “Jam com Nova Geração” fez com que eu temesse pelo futuro da música no Brasil.Sério;

- A apresentação de Otto foi um desastre. Embora a boa banda – com Fernando Catatau

(Cidadão Instigado) e Pupilo (Nação Zumbi) – tenha se esforçado em emprestar algumadignidade sonora, as desafinações do vocalista e sua presença de palco que mais parecia a deum chimpanzé triatleta estragaram tudo. O mais triste foi constatar o famoso “corporativismo

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entre artistas” ao ver Arnaldo Antunes declarar, após o evento, que “Otto arrasou”. Só se eleusou o verbo no sentido de destruição;

- Quando o Restart ganhou na categoria “Hit do Ano”, tomou uma vaia tal que os próprios

apresentadores pediram para que a banda fosse aplaudida. Quando também venceu como“Artista do Ano” – prêmio apresentado pelo “craque Neymar-filme-tostado”, o constrangimentocom mais uma onda de vaias foi tamanho que a própria banda agradeceu a quem os vaiou,tentando mostrar um falso “fairplay”;

- A apresentação do OK Go! – com guitarra em playback – foi de uma indigência intolerável para uma atração internacional. Deveriam ter sido presos e deportados;

- No final constrangedor, outra ótima ideia – a tal “Gaiola das Cabeçudas” – foi desperdiçada pela absoluta falta de animação da plateia. Nem mesmo as presenças de Valesca Popozuda e seualter-ego – sua própria bunda – conseguiram tirar a platéia e o telespectador de um profundo

torpor.

 No final, ficaram algumas constatações:

1) A faixa etária do público que leva a MTV a sério agora é outro – e ainda menor: vai dos oitoaos 12 anos. Acima disto, é gente com sérios problemas mentais;

2) A tal Marimoon e esse pessoal do Quinta Categoria são os personagens mais grotescos da TVdesde os tempos do filme Corcunda de Notre-Dame na “Sessão de Gala” de sexta à noite;

3) Brasileiro é incompetente até para administrar uma franquia, já que a MTV Brasil conseguiu piorar ainda mais o que já vinha pronto lá de fora;

4) Este VMB 2010 deveria ser lançado em DVD como material de auto-ajuda, pois é impossívelalguém não se sentir uma pessoa melhor depois de assistir a esta avalanche de atrocidadesartísticas;

5) Se os fãs destas tais bandas coloridas de “happy rock” é que irão governar este País nofuturo, avisem aos seus filhos e netos que a Humanidade deve se preparar para voltar a viver emárvores;

6) Perto de qualquer VMB, o horário político parece um desfile de cientistas e professores deHarvard.

Anexo D – 10 primeiros comentários do texto “VMB celebra um mundo pop-rock retardado”

thiago - 17.09.2010

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Falou tudo. Ponto final

Juan Nascim - 17.09.2010

Ótima análise do que tinha de ser chamado de premiação da música brasileira.

Fabio - 17.09.2010

HaHaHaHAHAHAHA, eu JÁ SABIA que você não ia perder a oportunidade de falar do“evento musical” da MTV…meu Deus, será que aquele canal não se toca e não acaba comaquela pseudo-premiação NUNCA? Não assisti, mas pelo que vc disse, já posso imaginar ohorror que foi! Para começo de conversa, QUALQUER premiação quer sequer inclua o Restartcomo concorrente a QUALQUER prêmio merece necessariamente ser execrada.

Muito engraçado seu artigo, ri alto!

He - 17.09.2010

CORRAM PRAS MONTANHAS … FUJAM

Waldo - 17.09.2010

Sempre tenho um pé atrás com seus textos, por achar críticos demais mesmo com bandas emúsicos talentosos e realmente profissionais. Mas dessa vez tenho que concordar com cada

 palavra. O rock nacional caminha lentamente para a autofagia. Os expoentes da música brasileira fogem para Europa e Japão para conseguir algum reconhecimento, deixando o país para ‘coloridos’ e ‘felizes’.Estou para ver a geração que quer “separar o ’shoyo’ do ‘trigo’”

@mvmeanstreet - 17.09.2010

Antes a esterilidade que um filho colorido.

PS.: Fiquei p*** quando vc falou mal do Queensryche atual. Cheguei a comentar até. Mas,sinceramente, se todo jornalista metesse a real como vc faz, garanto q a coisa seria diferente.Meus parabéns pelo ótimo trabalho!

Leonardo Dias - 17.09.2010

 Não podia mesmo esperar até segunda-feira pra detonar esse lixo!!! Essa aqui foi a melhor:“Este VMB 2010 deveria ser lançado em DVD como material de auto-ajuda, pois é impossívelalguém não se sentir uma pessoa melhor depois de assistir a esta avalanche de atrocidadesartísticas.” huahuahuahuahuahuahuhuahuahua Ainda bem que, como sempre, eu não assistoesse lixo que domina MTV, VH1, Multishow e esses psedocanais de música do Brasil…

Marcelo Augusto Baptista - 17.09.2010

socorro……………quero voltar para decada de 80……..

Bárbara Libanio - 17.09.2010

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Regis, concordo com vc, tenho 25 anos e vc há de convir q essa garotada de 13, 16 anos ñconcorda conosco e são as opiniões dele q prevalecem…

Miriam - 17.09.2010

Se não gosta desse tipo de “música” e de “premiação”, então faça como eu, Não perca seutempo assistindo e comentando essa porcaria!

Anexo E – Texto: É preciso ter menos preguiça e mais curiosidade, publicado em16/11/2010, às 13h54

 Não dá para negar que a inacreditável discrepância existente entre o que se ouve nas rádios enas TVs e o cenário musical que poderíamos chamar de “underground” expõe de maneira aindamais tenebrosa o colapso mental que parece ter acometido grande parte da população brasileira.

 Não é preciso ser um sacerdote profético vestido em um camisolão branco e empunhando umcajado para perceber que o falso modelo de “sucesso” que ainda tentam empurrar goela abaixoda população está derretendo tal qual um sorvete de pistache no deserto do Saara.

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O que me causa mais espanto é que tudo isso não foi causado única e exclusivamente pelaignorância das pessoas, mas principalmente pela inegável incapacidade desta gente em ouvir,ver e principalmente entender o que se passa além de suas fronteiras mentais. Embora não seja

algo premonitório, quem tem um mínimo de sensibilidade sabe que, mais cedo ou mais tarde, aempáfia com que a grande mídia lida com a desinformação musical das pessoas pode ser acausa de sua própria ruína.

Todos nós enfrentamos o grande perigo da violência desenfreada no cotidiano, mas há outro – esério – problema no ar: a ausência de bom senso e a preguiça em pesquisar. Enquantoconvivemos diariamente entre o berço da vida e a cimitarra da morte, é imprescindível que se

 perca alguns momentos para ouvir e ler o que outras pessoas têm a dizer – a não ser que elainsista em lhe convencer que o Restart é uma banda da qual nos lembraremos daqui a dez anos.Brincadeiras à parte, o que quero dizer é que você não pode abrir mão de raciocinar, entender econtra-argumentar de maneira lógica e coerente quanto toma contato com sons que jamais

ouviu.

Isto pode ser facilmente aplicável ao nosso cotidiano musical e, porque não dizer, cultural.Basta que você deixe de lado a indiferença brutal que alguns energúmenos se orgulham dealardear na hora de ouvir sons diferentes.

Basta que não tenha pudor em tomar contato com a música de bandas e artistas que não sãoconsagrados pela mídia, e que entenda que o futuro está na compreensão da grandeza doecletismo. Basta não ter receio em navegar por centenas de blogs que tratam de música e utilizar as redes sociais para ouvir sons que você jamais teria acesso caso continuasse a ter a preguiçacrônica que assola a maioria da população.

Basta que você deixe de lado a idolatria monoteísta endereçada a um único ídolo. Por que nãose pode gostar de Motörhead, Bach, Caetano Veloso, Madonna, Céu, Immortal, Baranga e TomJobim ao mesmo tempo, como é o meu caso? Por que você tem que se resignar a ler livros deauto-ajuda para melhorar sua vida? Por que fãs histéricos e cegamente hipnotizados por uma

 banda – qualquer uma! – ou um determinado artista – qualquer um! – precisam continuar a nãoter a mínima idéia do mundo musical fora do âmbito de sua adoração escandalosa?

A resposta é simples: se você não questionar a si próprio em relação a tudo isto, é provável quecontinue a permanecer confinado no gueto sujo da alienação. Quem enxerga a vida de um modo

musicalmente monocromático está condenado a perambular sozinho por um mundo que talveznunca mais seja o mesmo que conhecemos até então.

Foi justamente por pensar que qualquer coisa além da Estátua da Liberdade era apenas o ‘resto’do mundo que os americanos estão em uma tremenda enrascada nos dias de hoje.

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