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CROSS-TALK NA SINALIZAÇÃO ENTRE RECEPTORES TOLL-LIKE E RECEPTORES DE MANOSE, NA ATIVAÇÃO DOS MACRÓFAGOS POR MICOBACTÉRIA MARCELLE RIBEIRO MANHÃES DE ANDRADE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ AGOSTO 2007

CROSS-TALK NA SINALIZAÇÃO ENTRE RECEPTORES TOLL … · nos momentos difíceis e também pelos belos momentos de diversão!! Afinal, ... apesar de estar passando por momentos delicados

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CCRROOSSSS--TTAALLKK NNAA SSIINNAALLIIZZAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE RREECCEEPPTTOORREESS TTOOLLLL--LLIIKKEE EE RREECCEEPPTTOORREESS DDEE MMAANNOOSSEE,, NNAA AATTIIVVAAÇÇÃÃOO DDOOSS MMAACCRRÓÓFFAAGGOOSS

PPOORR MMIICCOOBBAACCTTÉÉRRIIAA

MARCELLE RIBEIRO MANHÃES DE ANDRADE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

AGOSTO 2007

CCRROOSSSS--TTAALLKK NNAA SSIINNAALLIIZZAAÇÇÃÃOO EENNTTRREE RREECCEEPPTTOORREESS TTOOLLLL--LLIIKKEE EE RREECCEEPPTTOORREESS DDEE MMAANNOOSSEE,, NNAA AATTIIVVAAÇÇÃÃOO DDOOSS MMAACCRRÓÓFFAAGGOOSS

PPOORR MMIICCOOBBAACCTTÉÉRRIIAA

MARCELLE RIBEIRO MANHÃES DE ANDRADE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Biociências e Biotecnologia, com ênfase em Biologia Celular.

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ AGOSTO 200

CROSS-TALK NA SINALIZAÇÃO ENTRE RECEPTORES TOLL-LIKE E RECEPTORES DE MANOSE, NA ATIVAÇÃO DOS MACRÓFAGOS

POR MICOBACTÉRIA

MARCELLE RIBEIRO MANHÃES DE ANDRADE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Biociências e Biotecnologia, com ênfase em Biologia Celular.

Aprovada em 03 de agosto de 2007

Comissão Examinadora:

___________________________________________________ Martha Maria Oliveira (Dra em Ciências de Clínicas Médicas) – UFRJ

_____________________________________ Milton M. Kanashiro (Dr em Imunologia) – UENF

_____________________________________ Wilmar Dias da Silva (Dr em Imunologia) – UENF

________ __ Elena B. Lassounskaia (Dra em Imunologia) – UENF

(orientador)

AGRADECIMENTOS...

Concedei-me senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar...

coragem para modificar às que posso... e sabedoria para distiguir umas das outras... Palavras sábias, mas

nem sempre tão fáceis de serem seguidas... Errar tentando acertar... querer e muitas vezes não conseguir...

conseguir e não ser suficiente! Aprendi que todo esforço é válido e que tentar é o começo de tudo, mesmo

que não alcancemos a vitória. Agradeço a DEUS pela serenidade necessária em determinadas ocasiões,

pela coragem para enfrentar as dificuldades e pelas oportunidades de acertos e erros... À minha mãe

Sandra, ao meu pai José Afonso e meu irmão Fábio agradeço por todo apoio, carinho e incentivo que me

fortalecem a cada dia! Agradeço à minha avó Déa pelo amor e toda dedicação... Ao meu namorado

Bruno, agradeço pelo carinho, companheirismo e compreensão nas horas em que mais necessito... Quero

agradecer às minhas amigas Aline, Mariana, Simone, Verônica, Lígia e Marina pelo carinho... pelo apoio

nos momentos difíceis e também pelos belos momentos de diversão!! Afinal, nem só de pão vive o homem...

Agradeço a todos os meus companheiros do LBR pelo excelente convívio que tornaram meu dia-a-dia

muito mais prazeroso. À minha querida orientadora Elena dedico agradecimentos especiais... Muito

abrigada pela paciência, pelos ensinamentos que me proporciona, pelo incentivo nas horas em que acho

que não vai dar nada certo! Sem sua ajuda não conseguiria chegar até aqui! Agradeço aos professores

Wilmar, Milton, Martha e Andréa por terem aceitado meu convite e pela disposição de avaliar meu

trabalho... Quero muito agradecer a professora Thereza pela pronta disposição em revisar minha tese,

apesar de estar passando por momentos delicados em sua vida! Agradeço aos técnicos do LBR pelo

suporte aos meus experimentos... sem vocês nada disso seria possível! Enfim, agradeço a todos que de

certa forma contribuíram para minha vitória. Tenho sorte por fazerem parte da minha vida ...

SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS.....................................................................

ABREVIATURAS..................................................................................................

RESUMO .............................................................................................................

iv

vi

viii

ABSTRACT ......................................................................................................... ix

I. INTRODUÇÃO.................................................................................................

1

1.1. Incidência da tuberculose no mundo...................................................... 1

1.2. O gênero Mycobacterium ...................................................................... 2

1.3. Tuberculose- A doença .......................................................................... 4

1.4.Tratamento daTuberculose .................................................................... 4

1.5. Transmissão da Tuberculose.................................................................. 6

1.6. Resposta imune contra M. tuberculosis................................................. 8

1.6.1 Mecanismos de modulação da resposta imune mediados por

M.tuberculosis............................................................................................

13

1.7. Receptores dos macrófagos ................................................................... 14

1.7.1. Receptores de fagocitose........................................................ 15

1.7.1.1. Fagocitose................................................................... 17

1.7.2.Principais vias de sinalização acionadas pelas micobactérias... 18

1.7.2.1. Receptores Toll-Like (TLRs)........................................ 18

1.7.2.2. Ativação de NF-κB mediada por TLR 2....................... 19

1.7.2.3. Ativação de MAPK por micobactéria........................... 20

1.7.2.4. Ativação de PI3-K/Akt................................................. 22

1.7.2.5. Ativação de PI3-K/Akt mediada por TLR 2.................. 23

1.8. Receptores de Manose.......................................................................... 23

1.8.1. Sinalização celular mediada por MR.............................. 25

1.9. Fenótipo migratório dos macrófagos..................................................... 27

1.9.1. Participação de TLR2 e PI3K nas alterações morfológicas

sofridas pelos macrófagos..........................................................................

28

II. OBJETIVOS.....................................................................................................

31

3.1. Objetivos específicos.................................................................... 31

III. JUSTIFICATIVA..............................................................................................

32

IV. METODOLOGIA.............................................................................................. 33

4.1. Lisados e componentes micobacterianos ............................................... 33

4.2. Cultura Celular ............................................................................................ 33

4.2.1. Extração de células precursoras de medula óssea de

camundongos..................................................................................

34

4.3. Tratamento dos macrófagos................................................................... 34

4.4. Preparação dos lisados Celulares......................................................... 35

4.5. Imunoprecipitação .................................................................................. 35

4.6. Anticorpos ............................................................................................. 36

4.7. SDS PAGE 10%..................................................................................... 36

4.7.1. Western Blotting........................................................……….. 37

4.7.2. Imunodetecção de quinases e fosfatases.............................. 37

4.8. Quantificação das citocinas..................................................................... 37

4.8.1. ELISA..................................................................................... 37

4.8.2. Bioensaio de L929.................................................................. 38

4.8.2.1. Teste de MTT........................................................... 39

4.8.3. Quantificação de óxido nítrico (NO) pela reação de Griess... 39

4.9. Imunofuorescência................................................................................... 39

4.9.1. Ensaio para F-actina.............................................................. 40

4.10. Análises estatísticas............................................................................... 40

V- RESULTADOS................................................................................................. 41

5.1. Efeito de Man-LAM na produção dos mediadores pró-inflamatórios

pelos macrófagos ativados pelas micobactérias...................................................

43

5.1.1. A inibição de IL12p40 induzida por Man-LAM e

independente de IL-10.....................................................................

44

5.2. Efeito modulador de Man-LAM nas vias de sinalização pró-

inflamatórias acionadas pelas micobactérias......................................................

45

5.2.1. O efeito de Man-LAM na ativação de NF-κB induzida por

BCG .................................................................................................

46

5.3. A ativação de PI3-K pode ser mediada por TLR 2................................... 47

5.3.1. O efeito de Man-LAM na ativação da via PI3-K/Akt por

BCG..................................................................................................

48

5.4. Efeito de Man-LAM na ativação das MAPK por BCG............................... 49

5.5. Efeito de Man-LAM na ativação da fosfatase SHP-1 ............................... 50

5.6. Mycobacterium bovis BCG estimula a formação de filapódios,

espalhamento e polarização celular em macrófagos RAW 264.7.........................

51

5.6.1. O rearranjo do citoesqueleto induzido por BCG é mediado

por TLR 2.........................................................................................

52

5.7. Efeito de Man-LAM na regulação dos rearranjos citoesqueléticos dos

macrófagos induzido por BCG..............................................................................

54

5.8. Análise da importância de PI3-K na regulação dos rearranjos no

citoesqueleto dos macrófagos, induzido por BCG................................................

55

VI- DISCUSSÃO....................................................................................................

58

VII- CONCLUSÕES...............................................................................................

65

VIII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................

67

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1- Incidência da tuberculose no mundo em 2000........................................ 1

Figura 2- Representação esquemática de PAMPs em diferentes bactérias.............. 3

Figura 3- Transmissão da tuberculose em humanos............................................. 6

Figura 4- Resposta imune contra M. tuberculosis.................................................. 12

Figura 5- Receptores dos macrófagos.................................................................. 15

Figura 6- Ativação de TLR 2 por M. tuberculosis................................................. 20

Figura 7- Representação esquemática das moléculas implicadas na ativação de

MAPK, seguido ao estímulo de LPS......................................................................

21

Figura 8- Estrutura do Receptor de Manose ........................................................ 24

Figura 9- Estrutura das três famílias representativas de moléculas LAM isoladas

de diferentes espécies micobacterianas................................................................

25

Figura 10 A- Produção de IL-12 por macrófagos RAW 264.7 ativados................ 42

Figura 10 B- Produção de TNF-α por macrófagos RAW 264.7 ativados............. 42

Figura 10 C- Produção de NO por macrófagos RAW 264.7 ativados.................. 43

Figura 11- Produção de IL-10 por macrófagos RAW 264.7 ativados................... 44

Figura 12- Verificação da ativação de IκB-α......................................................... 45

Figura 13- Imunoprecipitação de TLR 2................................................................. 46

Figura 14- Inibição da ativação de PI-3K (p85) mediada por Man-LAM.............. 47

Figura 15 A- Avaliação da ativação de Akt após o pré-tratamento dos

macrófagos RAW 264.7 com Man-LAM Mtb e sua posterior ativação com BCG..

48

Figura 15 B- Avaliação da ativação de Akt, nos macrófagos de medula óssea,

após o tratamento destes com Man-LAM de Mtb, LAM de Mav ou BCG WCL......

49

Figura 16- Ativação das MAPKs por BCG e inibição da ativação destas por

Man-LAM...............................................................................................................

50

Figura 17- Aumento da expressão de SHP-1 induzido por Man-LAM.................. 51

Figura 18- Indução dos pseudopódios nos macrófagos ativados com BCG.......... 52

Figura 19- Indução do espalhamento dos macrófagos derivados de medula

óssea (BMM) pela lipoproteína micobactreriana p19.............................................

53

Figura 20- Características morfológicas dos macrófagos tratados com Man-

LAM.......................................................................................................................

54

Figura 21- O inibidor de PI3-K reduziu o teor de F-actina e protusões celulares

mas não o enrugamento da membrana dos macrófagos RAW 264.7.

estimulados por BCG..............................................................................................

55

Figura 22- Ativação de Rac-1 nos macrófagos estimulados com BCG................ 57

Figura 23- Ativação de Rac1 pelos componentes da parede celular de M.

tuberculosis.............................................................................................................

57

Figura 24- Mecanismo de modulação da resposta pró-inflamatória induzida por

M. tuberculosis, mediado por IL-10 induzido por Man-LAM...................................

59

Figura 25- Participação de TLR2 na ativação de PI3-K, mediado por M.

tuberculosis.............................................................................................................

64

Tabela 1- Fatores de transcrição envolvidos na transcrição de genes pró-

inflamatórios............................................................................................................

60

ABREVIATURAS

AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

BCG- Bacilo de Calmette Guerrin

CD40 – Cluster of Differentiation 40

CR- região extracelular do receptor de manose que contém um domínio rico em

cisteína.

CR1- Receptor para o complemento tipo 1

CTLs – células T citotóxicas

CTLDs - múltiplos domínios de reconhecimento de carboidratos nos receptores de

manose.

COX2- cicloxigenase-2

DC – células dendríticas

DC-SIGN- receptores de manose das células dendríticas

DD – domínio de morte

DTH – Reação de Hipersensibilidade Tardia

FNII- domínio do receptor de manose com repetições de dois tipos de fibronectina

IκκκκB – complexo quinase inibidor de κB

IFN-γγγγ - interferon gama

IL-10 – interleucina 10

IL-12 – interleucina 12

IL-2 – interleucina 2

iNOS – indutor de óxido nítrico sintase

IFNs- interferons

IRF- Fator Responsável por Interferon

IRAKs – quinases associadas a receptores de IL-1

LAM – lipoarabinomanana

LM – lipomanana

LPS – lipopolissacarídeo

MDR- bacilos multidrogaresistentes

MR- Receptores de Manose

Man-LAM – lipoarabinomanana-manosilada

MAPK – Proteína Quinase Ativada por Mitógeno

MHC – Complexo de Histocompatibilidade Principal

Mo – macrófagos

Mtb – Mycobacterium tuberculosis

Mav- Micobacterium avium

MyD88 – proteína 88 de diferenciação de resposta primária mielóide

NF-κκκκB – fator nuclear κB

NO- óxido nítrico

NIK – quinase indutora de NF-κB

NK – células killer

OMS – Organização Mundial de Saúde

PGN – peptideoglicano

PI3-K – fosfatidilinositol 3 quinase

PRR – reconhecimento de padrão molecular

PS – fosfatidilserina

PTKs- Proteínas tirosina quinase

PTP – tirosinafosfatase

SH2 – domínio 2 de homologia do Src

SHP-1- fosfotirosina

TH1- Célula T helper 1

TB – Tuberculose

TCR- Receptor de célula T

TGF-ββββ - Fator de transformação de crescimento β

TLR – receptor Toll-Like

TNF-αααα - Fator de Necrose Tumoral-α

TRAF-6 – Fator-6 associado ao receptor para TNF-αααα

RESUMO

A parede celular de M. tuberculosis é composta por diversos antígenos que

ativam macrófagos principalmente através de sua ligação com o receptor Toll-like

:TLR 2. Entretanto, Man-LAM um fator de virulência predominante na parede

celular de M.tuberculosis, se liga aos macrófagos através de Receptores de

Manose (MR), os quais a literatura sugere possuir propriedades

imunossupressoras da resposta imune inflamatória, induzida pela micobactéria.

Componentes bacterianos podem se ligar com diversos receptores e ativar várias

vias de sinalização com eventos de interferência (cross-talk) de uma para outra.

Verificamos a hipótese de que Man-LAM de Mtb, através de sua ligação com MR,

pode interferir na sinalização pró-inflamatória, dependente de TLR 2, induzida nos

macrófagos, por BCG. O pré-tratamento de macrófagos RAW 264.7 com Man-

LAM de Mtb diminui a produção dos mediadores pró-inflamatórios IL-12 e NO,

induzidos pelos produtos bacterianos. Entretanto, este efeito de atenuação não foi

observado para TNF-α. IL-10 provavelmente não interfere neste mecanismo de

modulação porque Man-LAM não alterou os níveis de produção desta citocina.

Verificamos o efeito modulador de Man-LAM nas vias de sinalização (NF-κB, PI3-

K e MAPK) acionadas pelas micobactérias através de TLR 2. Demonstramos que

o pré-tratamento dos macrófagos com Man-LAM inibe a ativação de PI3-K,

MAPKs e não altera o perfil de ativação de NF-κB induzidos por BCG. A

combinação de Man-LAM e BCG levou à forte ativação da tirosinafosfatase SHP-1

que pode contribuir com os eventos de desfosforilação de MAPK e suprimir a

ativação de PI3-K. BCG estimula a formação de filapódios, espalhamento e

polarização celular em macrófagos RAW 264.7. A via PI3-K que leva a ativação de

Rac-1, medeia mecanismos de regulação dos rearranjos do citoesqueleto celular,

induzido por BCG, pois a supressão de PI3-K pelo inibidor LY294002 impede a

protusão dos filapódios. Entretanto, não foi observada a alteração da polarização

celular induzida por BCG, nos macrófagos pré-tratados com Man-LAM.

ABSTRACT

Macrophages are activated by M. tuberculosis cell wall ligands mainly

binding withTLR 2. However, Man-LAM a dominant Mycobacterial virulent cell wall

component binds with macrophage through Mannose Receptors (MR), which was

suggested suppress mycobacterial inflammatory response. Severely macrophages

receptors can interact with many bacterial components at same time and it

activates differents signaling pathway and cross-talk between them. We suggest

the cross-talk between MR signaling pathway mediated by Man-LAM and TLR 2

pro-inflammatory signaling, induced by BCG. The macrophages RAW 264.7 Man-

LAM pre-treatment decreases IL-12 and NO pro-inflammatory mediators, induced

by bacterial components. Nevertheless, the lacking effect was not observed to

TNF-α. Probably, IL-10 citokyne doesn´t interfere in the Man-LAM modulation

mechanism because was not observed alteration in IL-10 level. We verified the

modulatory effect of Man-LAM in the (NF-κB, PI3-K e MAPK) signaling pathway

activated by mycobacteria, through TLR 2. We demonstrated that Man-LAM

macrophages pre-treatment inhibit PI3-K and MAPKs activation and it has no effect

to NF-κB activation, induced by BCG. Man-LAM and BCG association induces

strong tyrosinephosphatase (SHP-1) activation which can contributes with MAPK

dephosphorilation events and suppress PI3-K activation. BCG can estimulate

filapodias induction, spreading and cellular polarization in RAW 264.7

macrophages. PI-3K signaling pathway which induces Rac-1 activation mediate

cellular cytoskeleton rearrangement induced by BCG because the protusion

filapodias is suppressed by PI3-K inhibitor, LY 294002. However, it had not been

observed polarization interference in the macrophages pre-treated by Man-LAM.

Figura 1- Incidência da tuberculose no mundo em 2000. (Nature Rev Micro, 2004)Figura 1- Incidência da tuberculose no mundo em 2000. (Nature Rev Micro, 2004)

I- INTRODUÇÃO

1.1. Incidência da tuberculose no mundo

A tuberculose (TB) é

uma doença de alta

prevalência em todo mundo.

A cada ano são notificados 8

milhões de novos casos e

2,4 milhões de mortes (Gao

Q, et al; 2005). O sudoeste

da Ásia e a África são

consideradas as regiões que

apresentam o maior número

de casos, notificando-se 700 casos a cada 100.000 indivíduos, em determinadas

áreas (figura 1). O maior número de mortalidade ocorre na África, chegando a

alcançar um sinergismo com a AIDS, doença que mais mata nesta região (Nature

Reviews, 2004).

A tuberculose é um dos principais problemas de saúde pública na América

Latina. O Brasil é 150 país em número de notificações desta doença, com uma

taxa anual de aproximadamente 114.000 novos casos. O número de mortes por

tuberculose no país é de 4 a 5 mil anualmente. O estado do Rio de Janeiro tem

uma incidência de 110 casos em 100.000 habitantes, uma das maiores taxas do

país (Corbet et al, 2003).

Com o surgimento, em 1981, da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

(SIDA/Aids), vem-se observando, tanto em países desenvolvidos, como nos

países em desenvolvimento, um crescente número de casos notificados de

tuberculose em pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).

A associação HIV/TB constitui, nos dias atuais, um sério problema de saúde

pública, podendo levar ao aumento da morbidade e mortalidade pela TB, em

muitos países (OMS).

A análise da mortalidade deve considerar a distribuição geográfica, os

grupos etários e a associação com o HIV (FUNASA 2006).

1.2. O gênero Mycobacterium

Mycobacterium tuberculosis (Mtb), espécie pertencente ao gênero

Mycobaterium, é o principal causador da tuberculose em humanos, embora outras

espécies como M. bovis, M. africanum, M. microti, M. kansasii e M. canetti também

possam promover esta doença. Estes patógenos são caracterizados por serem

organismos aeróbicos, intracelulares facultativos, que crescem lentamente nos

meios de cultura, podendo sobreviver e se multiplicar dentro de macrófagos ou

outras células (Flynn J, et al; 2001).

Outra característica das micobactérias é a presença de uma parede celular

de composição rara devido à presença predominante de ácidos micólicos, que

compõem mais de 50% de seu peso seco, responsável pela sua propriedade de

álcool-ácido resistência, diferenciando-as de bactérias Gram-positivas e -negativas

e micoplasmas (figura 2).

M. tuberculosis é identificável ao microscópio após tratamento com solução

álcool-ácida e coloração pelo método de Ziehl-Neelsen. Nesta técnica, os bacilos

absorvem um corante vermelho brilhante, o qual fica bem contrastado com um

fundo azul. Os bacilos álcool-ácido resistentes também podem ser visualizados

por microscopia fluorescente após coloração com auramina-rodamina (Ibanga H,

et al; 2006).

Figura 2 – Representação esquemática de PAMPs em diferentes bactérias. As

bactérias Gram-positivas apresentam uma camada espessa de peptideoglicano

(PGN) na parede celular. Ácido lipoteicóico, ácidos teicóicos e lipoproteínas estão

também embebidas nesta parede. Bactérias gram-negativas possuem uma camada

mais fina de PGN, porém a parede celular destas bactérias é mais intensificada pela

presença de Lipopolissacarídeo (LPS) em sua superfície. LPS é um componente ativo

derivado do lipídeo A e do O-polissacarídeo. O último é exposto fora da superfície da

célula. Micoplasma não tem uma parede celular, mas as lipoproteínas e os

lipopeptídeos estão encaixados em sua membrana citoplasmática. Mycobacterium

tuberculosis possui uma cada hidrofóbica característica que contém arabinogalactana,

além de uma membrana citoplasmática e uma camada de PGN. Lipoarabinomanana é

um glicolipídeo associado à parede celular. Algumas destas PAMPs mostraram ter

forte atividade imunoestimulatória através da ativação de membros da família TLR.

(Kaisho et al, 2002).

1.3. Tuberculose - A doença

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que pode ser fatal se não

tratada, e que progride silenciosamente podendo se desenvolver em qualquer

parte do corpo, mas geralmente apresenta-se na forma de uma infecção

pulmonar, evoluindo de uma infiltração branda até uma forma crônica, cavitária e

doença severamente destrutiva. Diante de um diagnóstico precoce e tratamento

corretamente administrado, a tuberculose é curável em praticamente 100% dos

casos. O tratamento dos bacilíferos é a atividade prioritária de controle da doença,

uma vez que permite anular rapidamente as maiores fontes de infecção (Flynn O,

et al; 2001).

Estão mais sujeitos à doença, indivíduos que convivam com o doente

bacilífero, determinados grupos de pessoas imunodeficientes, como os silicóticos,

e pessoas que estejam em uso de corticosteróides ou infectados pelo HIV. Outro

fator que contribui para o aparecimento de novos casos de tuberculose é o

aparecimento de cepas multidrogaresistentes (MDR e XDR). A alarmante

emergência destas cepas nos países desenvolvidos dificulta o combate à doença

com o arsenal terapêutico existente (Manabe et.al; 2000).

Antes do advento quimioterapia com antibióticos, a mortalidade era o

indicador utilizado tanto para avaliar a tendência da endemia, como para fazer

estimativas de morbidade. Atualmente, a incidência da mortalidade é descrita

considerando-se a distribuição geográfica, os grupos etários e a associação com o

HIV. (FUNASA 2002).

1.4. Tratamento da Tuberculose

M. tuberculosis foi descrito pela primeira vez em 24 de março de 1882 por

Robert Koch (Chan et al, 2002), que recebeu o Prêmio Nobel de Medicina por sua

descoberta em 1905. Koch não acreditava que as tuberculoses bovina e humana

fossem similares, o que impediu o reconhecimento do leite infectado como fonte

da doença. Mais tarde, esta fonte foi eliminada graças à pasteurização. Koch

apresentou o extrato do bacilo em glicerina, como um remédio para a doença, em

1890, chamando-o de tuberculina (ATS/CDC). A tuberculina não teve eficácia,

porém mais tarde foi adaptada por Von Pirquet para um teste para tuberculose

pré-sintomática (Chan e Iseman et al, 2002).

Antes disso, somente a intervenção cirúrgica era utilizada como tratamento

(além dos sanatórios), incluindo a técnica do pneumotórax: provocar o colapso de

um pulmão infectado para deixá-lo em repouso para permitir que as lesões

cicatrizassem. Esta técnica executada, porém de pouco benefício, foi posta de

lado após 1946. Somente após este período, com o desenvolvimento do

antibiótico estreptomicina, que o tratamento, ao invés de apenas a prevenção,

tornou-se possível (Chan e Iseman et al, 2000).

A descoberta da quimioterapia utilizando antibióticos específicos, a partir da

década de 1940, alterou mundialmente de forma bastante radical o perfil

epidemiológico, a ação institucional e o conhecimento científico em relação à

tuberculose. Paralelamente com a descoberta da quimioterapia, veio o surgimento

de bacilos resistentes às drogas (www.coc.fiocruz.br/tuberculose).

Segundo as normas do Ministério da Saúde, o tratamento básico da

tuberculose inclui a administração de três quimioterápicos associados

(Pirazinamida, Ioniazida e Rifampicina) por um período de seis meses

consecutivos. A utilização de três drogas distintas destina-se a inativação das

micobactérias por diferentes mecanismos. Isto porque, algumas micobactérias

desenvolvem resistência (droga resistentes-DR) à determinados tipos de

medicamentos, tornando-os ineficientes para o combate ao patógeno (Colditz

et.al;1994).

Algumas cepas se tornam resistentes à pelo menos duas ou três drogas de

primeira linha (MDR), devendo-se neste caso ser utilizado o arsenal de antibióticos

reserva. O tratamento da tuberculose MDR (MDRTB) é longo e requer drogas

mais tóxicas, as quais freqüentemente apresentam limitada resolução em

determinados locais e geralmente são menos eficazes em pessoas infectadas pelo

HIV (Naomi B, et al; 1999).

O diagnóstico certo para a identificação do patógeno é fundamental para o

tratamento do paciente. A administração da associação medicamentosa

adequada, assim como a administração de doses corretas e no período

necessário, sob supervisão médica, são os meios designados para evitar a

persistência bacteriana e desenvolvimento de resistência às drogas, assegurando-

se a cura do paciente (FUNASA 2002).

Os bacilos da tuberculose praticamente perdem sua infectividade em poucos

dias após o início da administração da quimioterapia. Adotando-se estes

procedimentos, os doentes portadores da doença pulmonar não necessitam, nem

devem ser segregados do convívio familiar e da comunidade (FUNASA 2002).

1.5. Transmissão da Tuberculose

A transmissão da tuberculose realiza-se através da inalação de aerossóis

oriundos de tosse, espirro ou fala de pacientes portadores da doença pulmonar

(figura 3). A disseminação da bactéria é facilitada devido ao estágio

Figura 3 - Transmissão da Tuberculose em humanos. A transmissão da tuberculose é mediada principalmente pelas vias aéreas, através da inalação de gotículas de aerossóis, oriundas da fala, tosse ou espirro de pacientes com a doença pulmonar. (FUNASA, 2002).

imunopatológico de destruição pulmonar que resulta no desenvolvimento de

cavidades pulmonares portadoras de um elevado número de bacilos que

alcançam os brônquios e podem ser eliminados juntamente com as gotículas de

aerossóis (Kaufmann S. et al, 2001).

As gotículas mais pesadas depositam-se rapidamente no solo, enquanto que

as mais leves podem permanecer em suspensão por diversas horas. Somente os

núcleos secos das gotículas (Núcleo de Wells), com diâmetro de até 5µ e com 1 a

2 bacilos em suspensão, podem atingir os bronquíolos e alvéolos, e aí iniciar a

multiplicação. As gotículas médias são retidas pelas mucosas do trato respiratório

superior, e removidas dos brônquios através do mecanismo muco-ciliar (FUNASA

2002). Bacilos assim removidos são deglutidos, inativados pelo suco gástrico e

eliminados nas fezes. Os que se depositam nas roupas, lençóis, copos e outros

objetos, dificilmente se dispersarão em aerossóis e, por isso, não desempenham

papel importante na transmissão da doença.

A transmissão bacilífera varia de acordo com o grau de infecção do organismo

e quantidade de bacilos expelidos, forma e duração da exposição ao bacilo,

virulência e a competência imunológica do paciente (Fartazzi C. et al; 1997). A

inalação de poucos microrganismos pode causar a infecção, que na maioria dos

indivíduos permanece latente. Estima-se que um terço da população mundial

esteja infectada pelo M. tuberculosis, sem sintomas aparentes, e que 5-10% dos

infectados desenvolvem a doença em algum período da sua vida. Sem tratamento,

fatalmente as mortes chegam a 50% dos casos (Nature Reviews, 2004).

Subsequente a infecção pelo M. tuberculosis, transcorrem em média 4 a 12

semanas para a detecção das lesões primárias. Após a infecção inicial (infecção

primária), transcorrem 12 meses para o estabelecimento da doença pulmonar. A

probabilidade de infecção e progressão para um estado patológico é influenciada

por diversos fatores, dentre os quais destacam-se as condições sócio-econômicas

e certas condições médicas como diabetes mellitus, silicose, uso prolongado de

corticosteróides ou outros imunossupressores, neoplasias, uso de drogas e

infecção pelo HIV (Flynn J, et al; 2001).

A evolução do quadro clínico dependerá do indivíduo estar sendo infectado

pela primeira vez (primo-infecção), ou re-infectado (re-infecção exógena). A

probabilidade de adoecer em uma primo-infecção depende da virulência do bacilo,

da fonte infectante e das características genéticas dos indivíduos infectados. Em

novo contato, após uma infecção natural ou induzida pela BCG, a resistência

dependerá da resposta imunológica.

1.6. Resposta Imune contra M. tuberculosis

As micobactérias primeiramente infectam macrófagos alveolares (Mo) do

hospedeiro, os quais representam a primeira linha de defesa celular contra

invasões de patógenos. Fagócitos mononucleares como Mo e células dendríticas

(DC) são responsáveis pela destruição das micobactérias através de degradação

por hidrolases ácidas, após a fusão dos fagolisossomos. A destruição das

micobactérias depende da capacidade microbicida intrínseca dos fagócitos do

hospedeiro e dos fatores de virulência das micobactérias internalizadas (Van

Crevel, et al; 2002).

Espécies patogênicas de micobactérias desenvolveram mecanismos para se

replicarem e se tornarem resistentes à degradação dentro dos fagócitos. A

multiplicação intracelular continuada destes microrganismos promove a lise destas

células com conseqüente liberação dos patógenos (Schaible et al; 1998).

O desenvolvimento de uma resposta inflamatória local bem sucedida, pelo

hospedeiro, é de fundamental importância para a eliminação das micobactérias. O

processo inflamatório é iniciado pelo recrutamento de células imune

intravasculares (leucócitos) para as proximidades do foco infeccioso. Este

processo é regulado por citocinas, moléculas de adesão (integrinas e selectinas) e

quimiocinas (RANTES, MIP1-α, MIP2, MCP-1, MCP-3, MCP-5, e IP10).

M. tuberculosis induz a secreção de TNF-α, prostaglandinas E1 e IFNs por

macrófagos, DC e células T. O TNF-α é uma citocina produzida principalmente por

Mo, requerida principalmente para o controle da infecção na fase aguda e

desempenha um papel fundamental para o recrutamento dos leucócitos. Atua no

processo de migração e localização celular dentro do tecido infeccioso, bem como

influencia na expressão de moléculas de adesão, quimiocinas (moléculas

quimioatraentes) e receptores de quimiocinas. Foi demonstrado que camundongos

deficientes em TNF-α ou receptores para TNF-α, infectados pelo M. tuberculosis,

desenvolvem uma carga bacteriana substancialmente alta e apresentam uma

meia vida curta em comparação com camundongos normais (Flynn J. et al, 1995).

A secreção de IL-12 pelos macrófagos e pelas células dendríticas (DC) após

a fagocitose do bacilo leva ao desenvolvimento de uma resposta celular tipo 1

(TH1) com a produção de altos níveis de INF-γ (Figura 4). A IL-12 biologicamente

ativa é um heterodímero composto de duas sub-unidades (p40 e p35) ligadas por

pontes de enxofre. O gene p35 está constitutivamente expresso na molécula de

IL-12. Entretanto, o gene p40 somente está expresso em células que produzem IL-

12 bioativas (Pathak S.K et al, 2005).

A deficiência de IL-12 em camundongos induz uma pré-disposição à infecção

causada por M. bovis BCG, assim como organismos que apresentam mutações

que afetam genes correspondentes à IL-12 ou seus receptores, apresentam

suscetibilidade ao desenvolvimento de infecções micobacterianas (Wakeham J.J.

et al, 1998). Entretanto, a administração de IL-12, in vivo, em camundongos,

aumenta a resistência destes à infecção pelo M. tuberculosis, sugerindo que IL-12

seja crítica para o controle de infecções micobacterianas (Flynn, J. L et al; 1995).

Os peptídeos antigênicos, processados a partir dos microrganismos

fagocitados, se associam às moléculas do Complexo de Histocompatibilidade

Principal II (MHC II), expressas pelas células apresentadoras de antígeno (APC) e

são apresentados às células T CD4 (naives), nos linfonodos e no local da

infecção, dando início ao desenvolvimento de uma resposta imune

específica/adquirida mediada por célula.

A ativação celular é proporcionada pela interação do Receptor de Célula T

(TCR) e CD4 com o complexo MHC-II, juntamente com sinais estimuladores

concomitantes, proporcionados pela interação de moléculas CD28 sobre as

células T, com as moléculas B7 existentes nos macrófagos e também por IL-1 e

IL-12 (Nigou J, Zelle-Rieser C, et al, 2001).

A primeira função efetuadora das células TH1 é a produção de IFN-γ e outras

citocinas pró-inflamatórias capazes de potencializar a ativação de macrófagos,

tornando-os mais eficientes no controle ou eliminação das micobactérias. O

principal mecanismo responsável pela atividade antimicobacteriana do IFN-γ e

TNF-α é a regulação positiva de genes envolvidos em respostas de estresses

nitrosativos e

oxidativos que levam a produção, por Mo e DC, de potentes moléculas

microbicidas como o Óxido Nítrico (NO) e superóxidos e peróxido de hidrogênio

(Abbas A; et al, 1996).

Os macrófagos alveolares infectados com M. tuberculosis produzem

intermediários reativos do nitrogênio (RNI) através da ativação da forma induzida

de óxido nítrico sintase (iNOS), utilizando L-arginina como substrato (Nigou J,

Zelle-Rieser C, et al, 2001). O crescimento intracelular dos M. tuberculosis

depende de sua capacidade para evitar sua destruição por enzimas lisossomais,

RNI e ROI. Camundongos geneticamente deficientes em IFN-γ, TNF-α e iNOS,

são altamente susceptíveis a infecção e sucumbem rapidamente de tuberculose

aguda (Raupach B, et al; 2001).

Células T CD4+ participam na ativação de linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTLs)

que atuam cooperativamente na defesa contra as bactérias intracelulares através

da lise das células infectadas e produção de IFN-γ (Van Crevel et al; 2002).

A resposta imune humoral é ineficiente em infecções causadas por patógenos

intracelulares. Devido a sua capacidade de reprodução dentro das células

hospedeiras, estes patógenos não podem ser atacados por anticorpos. Entretanto,

as CTLs destroem as células-alvo no momento do contato com a célula infectada.

CTLs ligam-se ao complexo MHCI-antígeno na superfície da célula e então

liberam uma substância denominada perforina. As perforinas formam um poro na

membrana da célula alvo, levando à lise por desequilíbrio osmótico. A lise das

células alvo por células CTLs também podem ser mediadas por granzimas ou

através da via de fas/Fas L (Gerard D et al 2002).

O M. tuberculosis estimula células T que expressam a forma γδ do receptor de

antígeno. Essas células T podem diretamente reconhecer pequenas proteínas

micobacterianas e antígenos micobacterianos homólogos às proteínas de choque

térmico, na ausência de moléculas apresentadoras de antígeno. Devido ao

estresse da infecção, as células infectadas assim como os parasitas produzem

proteínas de choque térmico (Abbas et al; 1996).

Assim como as células T γδ, as células T restritas ao CD1 não reagem com

antígenos protéicos micobacterianos no contexto de moléculas de MHC de classe

I ou II. Contudo, reconhecem lipídios micobacterianos e antígenos glicolipídicos

ligados às moléculas CD1 não polimórficas nas células apresentadoras de

antígeno. Estas células apresentam atividades citotóxicas e são capazes de

produzir IFN-γ (Van crevel, et al; 2002).

As citocinas anti-iflamatórias, IL-4, IL-10 e TGF-β (Fator de transformação de

crescimento β) podem inibir a produção ou efeitos das citocinas pró-inflamatórios

produzidas na tuberculose. Estas citocinas são produzidas pelos macrófagos após

a fagocitose do M. tuberculosis e ligação com LAM micobacteriano. São

antagonistas da resposta pró-inflamatória porque regulam negativamente a

produção de IFN-γ, TNF-α e IL-12 (Mckinney J, et al; 2003).

A infecção causada pelo M. tuberculosis é inicialmente controlada e uma

infecção latente, sem sintomas clínicos de doença é estabelecida, uma vez que

um baixo número de bacilos persiste em dormência, dentro de compartimentos

granulomatosos. A inflamação granulomatosa é uma forma de reação de

hipersensibilidade tardia (DTH) contra os bacilos que previne a disseminação das

micobactérias.

Os granulomas consistem de macrófagos e células gigantes, células T e

fibroblastos recrutados para o sítio da infecção (Raupach B, et al; 2001). Na

infecção latente, o estado da micobactéria dentro do granuloma não é bem

conhecido: o microrganismo pode estar em um estado dormente e não replicativo,

ativamente replicativo, mas sendo eliminado pelo sistema imune ou

metabolicamente alterado com ciclos de replicação limitados ou não freqüentes.

Uma falha na resposta imune designada para conter a infecção pode resultar na

reativação e replicação do bacilo, com necrose e dano no tecido pulmonar

(Jérôme N, et al, 2004).

Figura 4- Resposta imune contra M. tuberculosis. Uma vez instalado no pulmão M. tuberculosis é fagocitado por macrófagos alveolares e células dendríticas, os quais produzem IL-12 e TNF-α, em resposta à infecção. Estas células processam e apresentam os antígenos micobacterianos, através de MHC II, para linfócitos TCD4+ naives que se tornam células TH1 ativadas. Durante esta resposta também são ativados linfócitos TCD8+ , capazes de lisar células infectadas, e outros tipos de linfócitos T que apresentam receptores γδ ou duplo-negativo em associação CD1, que reconhecem proteínas de choque térmico e componentes micobacterianos lipídicos, respectivamente. Todos esses linfócitos produzem IFN-γ que potencializa a atividade microbicida dos macrófagos através produção de intermediários reativos do oxigênio e nitrogênio. A tuberculose na maioria dos casos apresenta-se como uma infecção latente e as micobactérias ficam contidas dentro de granulomas impedindo que ocorra a disseminação da infecção. (Nature Rev Immunol, 2005)

12, consideradas serem importantes para imunidade protetora contra tuberculose

do tipo TH1. Mas, provocaram a expressão dos genes IL-13, IL-11 e IL-4 favorável

para a resposta imune humoral (Lopez et al., 2003; Manca et al., 2004).

A variabilidade genética do M. tuberculosis determina o seu grau de

virulência e pode influenciar no caráter da resposta imune contra a bactéria e a

severidade da doença (Gao.Q, et al, 2005). Isso significa que as cepas de Mtb que

possuem diferentes genótipos podem apresentar diferenças na estrutura da

parede celular que são capazes induzir ativação dos macrófagos clássica ou

alternativa e através desta, determinar o caráter do desenvolvimento da infecção

(Gordon S. 2003; Goerdt S. et al, 1999).

1.7. Receptores dos macrófagos

Os macrófagos apresentam um vasto número de receptores em sua

superfície e suas respectivas ligações podem resultar em diversas respostas as

quais variam de simples fagocitose de debris celulares à degradação de

patógenos potenciais e subseqüente ativação de uma variedade de mecanismos

antibacterianos (Jeffrey S., et al; 2003) (figura 5).

Diversos receptores (receptores para complemento, scavanger receptores,

receptores lectina-similar, CD14) estão envolvidos na ligação e internalização da

micobactértia, mas a maioria destes não traduz o sinal para núcleo celular. O

reconhecimento da micobactéria que leva a sinalização celular é função dos

receptores determinados: receptores Toll-like (TLR 2 e TLR 4) e MR que

transduzem sinais até o núcleo e induzem a produção de citocinas pró- e anti-

inflamatórias (Schorey J, et al; 2003).

M. tuberculosis e M. bovis expressam uma variedade de moléculas

agonistas expressas na parede celular que são capazes de ativar macrófagos

através de sua ligação com receptores presentes na superfície celular,

principalmente TLR 2 (liporoteina p19, PIM), TLR 4 (proteína termolábil) e MR

(Man-LAM, lipoarabinomanana- manosilada) (Van Crevel et al, 2002).

A ligação micobacteriana com os diferentes receptores do macrófago pode

induzir diferentes vias de sinalização com fenômeno de interferência de uma para

outra. O efeito final depende do nível da expressão das moléculas agonistas na

parede celular e/ ou secreção destas pela bactéria (Nguyen L,et al, 2005).

Figura 5- Receptores dos macrófagos. As micobactérias são reconhecidas pelos macrófagos através de receptores celulares. Uma classe de receptores dos fagócitos são responsáveis pela internalização das micobactérias outros participam de eventos de sinalização celular e ativam uma resposta inflamatória. (Nature Rer Microbiol, 2004).

Figura 5- Receptores dos macrófagos. As micobactérias são reconhecidas pelos macrófagos através de receptores celulares. Uma classe de receptores dos fagócitos são responsáveis pela internalização das micobactérias outros participam de eventos de sinalização celular e ativam uma resposta inflamatória. (Nature Rer Microbiol, 2004).

1.6.1 Mecanismos de modulação da resposta imune mediados pelo M.

tuberculosis

A sobrevivencia micobacteriana no interior dos macrófagos é um dos

principais focos de pesquisa atualmente. Micobactérias não apenas são capazes

de se adaptarem ao sistema do hospedeiro, mas também interferem ativamente

na maquinaria de sinalização da célula hospedeira, subvertendo ou inibindo parte

do aparato de morte empregado pelos macrófagos (Hestvik A.L, et al; 2005).

Uma variedade de mecanismos é proposta para explicar a sobrevivência do

M. tuberculosis dentro do macrófago, incluindo a fusão do fagossoma com o

lisossoma, inibição da acidificação dos fagossomas e resistência à morte pelos

metabólitos oxigenados. Macrófagos infectados apresentam um processamento

antigênico diminuído, reduzida responsividade ao IFN-γ, e reduzida produção de

citocinas, assim como intermediários do oxigênio e nitrogênio (Jérôme N, et al,

2004).

Uma das estratégias desenvolvidas por M tuberculosis para subverterem o

sistema imune do hospedeiro é a manipulação de diferentes Receptores de

Reconhecimento Padrão (PRR’s) desviando-os dos seus papéis de defesa

originais (Hestvik A.L, et al; 2005).

M. tuberculosis desenvolveram mecanismos moleculares para limitar a

ativação dos macrófagos pelo INF-γ (ativador proeminente dos Mφ). Foi descrito

que indivíduos funcionalmente deficientes na sinalização para INF-γ, seja como

resultado de mutações nos genes de INF-γ ou em seus receptores, eram mais

susceptíveis às infecções causadas por M. Bovis BCG ou micobactérias

oportunistas (Flynn J. et al; 1993).

Um dos mais importantes mecanismos de evasão desenvolvidos por estes

patógenos, tem como alvo a supressão da produção de IL-12, através da

manipulação de sua via de sinalização (Pathak S, et al., 2005). Dados recentes,

obtidos no modelo de monócitos humanos in vitro, demonstraram que isolados

clínicos da cepa mais virulenta de Mtb, do genótipo W/Beijing, em contraste com

cepas non-Beijing inibiram a secreção das citocinas pró-inflamatórias TNF-α, IL-

12.

1.7.1. Receptores de fagocitose

Patógenos alvo como M. tuberculosis que apresentam numerosos e

diversos ligantes em sua superfície são caracterizados por apresentarem múltiplos

tipos de receptores e simultaneamente. Além disso, in vivo, M. tuberculosis

provavelmente não é internalizado por macrófagos utilizando apenas um receptor.

De qualquer modo, em alguns contextos, a utilização de receptores por M.

tuberculosis pode ser baseada no estado de diferenciação ou ativação do

macrófago (Schorey J, et al; 2003).

Por exemplo, durante a diferenciação de monócitos para macrófagos CR3

diminui em abundância, enquanto CR4, MR e receptores scavenger aumentam. O

estímulo dos macrófagos pelo INF-γ regula negativamente a expressão de MR.

Entretanto, distintos tipos de receptores podem cooperar para otimizar a ligação e

internalização de partículas modelo (Ernest J. D, 1998).

A cooperação de entre CR1 e CR3 e receptores para Fc marcadamente

facilitam a fagocitose de alvos opsonizados por IgG . A cooperação pode

acontecer através da fagocitose de partículas ligadas aos receptores que perdem

domínios transmembrana e citoplasmáticos, como os CD14 (Ernest J. et al; 1998).

Receptores do complemento em fagócitos ocorre em duas formas

estruturais distintas. Receptor para o complemento tipo 1 (CR1) que é uma

proteína transmembrana monomérica que liga c3b e c4b, mas não liga c3bi. CR1

possui uma atividade reguladora do complemento e pode mediar a fagocitose de

diversas partículas, mas sua capacidade para transdução de sinal e ativação

celular não foi caracterizada (Ernest J, et al ; 1998).

Assim como bactérias e fungos, M. tuberculosis podem ativar a via

alternativa do complememto, resultando na opsonização com c3b e c3bi. As

bactérias que são suficientemente revestidas com estes ligantes derivados do soro

ligam com CR1, CR3 e CR4 e são conseqüentemente fagocitados (Sendide K, et

al; 2005).

Receptor para o complemento tipo 3 e 4 (CR3 e CR4) são proteínas

heterodiméricas da super família das integrinas. São heterodímeros que contêm

subunidades β idênticas (CD18 ou β 2 integrina) e subunidades α distintas (CD11b

ou αM e CD11c ou αX). CR3 e CR4 ligam c3bi e CR3 também contém um sítio de

ligação de glicano (Schlesinger, et al; 1996).

CD14, uma proteína de membrana ligada ao glicano fosfatidilinisitol (PI) é

melhor conhecido e caracterizado como receptor de alta afinidade por

lipopolissacarídeos (LPS) de bactérias Gram- negativas. De qualquer modo, CD14

também liga lipoarabinomanana (LAM) de M. tuberculosis; e esta ligação induz o

macrófago a secretar IL-8 (Sendide K, et al; 2005).

Receptores Scavenger de macrófagos ligam macromoléculas e partículas

polianiônicas, incluindo LPS de bactéria Gram-negativa e ácido lipoteicóico de

bactérias Gram-positivas. Experimentos usando inibidores competitivos têm

implicado receptores scavenger de classe A como quantitavivamnete importantes

para fagocitose de M. tuberculosis em macrófagos derivados de monócitos

humanos (Zimmerli S, et al; 1996).

Além disso, receptores scavenger de classe A purificados ligam M.

tuberculosis e sulfolipídeos destes competem com outros ligantes pela ligação

com este receptor. Porém ainda não está bem esclarecido se receptores

scavenger podem ativar o citoesqueleto para internalizar a bactéria ou,

alternativamente, se estes receptores atuam na ligação da bactéria, mas a

fagocitose é executada por outros receptores (Ernest J. D, 1998).

Alguns indivíduos infectados possuem anticorpos circulantes contra M.

tuberculosis. Imunoglobulina G (IgG) recobrem as micobactérias e são

internalizadas por macrófagos em vesícolas que rapidamente são fundidas com

lisossomos carregados de ferritina, através de receptores macrofágicos que

reconhecem a porção Fcγ dos anticorpos (Koul A, et al; 2004).

1.7.1.1 Fagocitose

Após a entrada no macrófago, as micobactérias patogênicas como M.

avium e M. tuberculosis residem e replicam dentro de fagossomos. Diversas

pesquisas demonstraram que fagossomos micobacterianos são capazes de se

fundirem com endossomos primários ou lisossomos e estão associados com

proteínas como os receptores de transferrina. Estes fagossomos também perdem

a ATPase e falham em acidificar (Koul A, et al; 2004).

As falhas dos fagossomos em adquirirem ou perderem marcadores

associados com a maturação dos fagolisossomos indicam que estes fagossomos

não participam dos eventos normais de fusão, necessários para gerar um

ambiente antimicobacteriano dentro do fagolisossomo.

Alguns dos mecanismos utilizados pelas micobactérias para evadir estes

eventos é o bloqueio da maturação do fagossomo pela manipulação da

maquinaria endossomal do hospedeiro. Foi demonstrado que alguns fagossomos

contendo micobactérias ou produtos micobacterianos falharam em recrutar

moléculas efetoras importantes na biogênese fagossomal (Fratti. et al 2001). Um

proeminente lipoglicano de parede celular de Mtb, lipoarabinomanana coberta com

manose terminal (Man-LAM), tem sido diretamente implicada na regulação de

diversos processos (Strohmeier G, et al; 1999).

A presença de Man-LAM na superfície micobacteriana coloca esta molécula

em uma posição ideal para mediar interações iniciais entre Mtb e macrófagos.

Man-LAM é considerado um regulador crítico na maturação de fagossomos em

macrófagos murinos e monócitos humanos. Ele é capaz de bloquear o aumento

de Ca2 citosólico no macrófago e inibir a interação do fosfatidilinositol 3 quinase

(PI3-K), hVPS4, com a calmodulina, um passo necessário para maturação do

fagolisossoma (Peter B. et al; 2007).

1.7.2. Principais vias de sinalização acionadas pelas micobactérias

A ativação de macrófagos e a produção de citocinas pró-inflamatórias são

cruciais para o desenvolvimento de uma resposta imune bem sucedida contra as

M. tuberculosis. A produção de citocinas pró-inflamatórias pode ser mediada por

receptores Toll-Like 2 e 4 (TLR 2/4), Proteína Quinase Ativada por Mitógeno

(MAPK) e fosfatidilinositol 3 quinase (PI3-K)(Heldwein and Fenton, 2002).

Os eventos de sinalização que levam para transcrição de genes pró-

inflamatórios durante a infecção micobacteriana já foram bem elucidados. As

principais vias de sinalização acionadas pelas micobactérias (NFκB, MAPK e PI3-

K) são principalmente ativadas após a ligação de agonistas micobacterianos com

TLR 2, (Quesniaux V, et al; 2004).

1.7.2.1 Receptores Toll-Like (TLRs)

Os TLRs são mediadores filogenéticamente conservados na imunidade

inata, os quais são essenciais para o reconhecimento dos patógenos. Os

membros da família TLR são proteínas transmembrana que possuem seqüências

ricas em leucina em seus domínios extracelulares, similares para outras proteínas

de reconhecimento padrão do sistema imune inato. O domínio citoplasmático dos

TLR é homólogo aos domínios de sinalização do receptor de IL-1 (IL1R) que liga

IRAK (quinase associada ao IL1R), uma serina quinase que ativa fatores de

transcrição como NFκB (fator nuclear -κ B) para sinalizar a produção de citocinas

(Krutzik S, et al; 2004).

Pelo menos dez TLRs foram identificados, destes, TLR 2, TLR4 e TLR9 são

responsáveis por respostas celulares aos peptídeoglicanos e lipopeptídeos

bacterianos, endotoxina de bactéria Gram-negativa e DNA bacteriano,

respectivamente (Van Crevel, et al; 2002).

Os TLRs também estão envolvidos no reconhecimento micobacteriano.

Através de TLRs, lisado de M. tuberculosis ou lipoproteínas associadas à parede

celular de micobactérias solúveis induzem a produção de IL-12, uma forte citocina

pró-inflamatória. MyD88 (proteína 88 de diferenciação mielóide), um componente

comum da sinalização liga todos os TLRs ao IRAK, é essencial para ativação de

macrófagos induzido por M. tuberculosis (Bulut, Y; et al; 2001).

1.7.2.2. Ativação de NF-κκκκB mediada por TLR 2

A principal via de sinalização mediadas por TLR 2 e TLR 4 já está bem

estabelecida. Ela leva à ativação do NF-κB através da ligação da proteína

adaptadora citosólica MyD88, quinase IRAK, Fator 6 associado com TNFR

(TRAF6) e quinase indutora de NF-κB (NIK). A ativação do complexo da quinase

IκB (IKKα e IKKβ) pela NIK provoca a fosforilação das IκBs, ubiquitinação e

degradação pelo proteossomo, levando a liberação do NF-κB (p65/p50 dímero),

translocação do fator para o núcleo e transativação dos genes pró-inflamatórios

(Kopp, Medzitov, 1999; Underhill et al., 1999) (figura 6).

Figura 6- Ativação de TLR 2 por M. tuberculosis. A ligação de M. tuberculosis com TLR leva a ativação de NF-kB e consequente produção de citocinas imunoestimulatórias que ativam células T e medeiam a morte de micobactérias patogênicas. TLRs iniciam a sinalização pela ligação da proteína adaptadora, MyD88, a qual recruta uma quinase serina/treonina IRAK (Interleukin-1 Receptor-associated- Kinase). IRAK então se associa com TRAF-6 (TNF Receptor- associated –Factor 6). Este permite a ativação do complexo IKK (Inhibtor of kB kinase), o qual fosforila IkB, um inibidor de NF- IkB. A fosforilação de IkB causa sua degradação e permite a translocação de NF-IkB para o núcleo. (Koul A, et al; 2004)

1.7.2.3. Ativação de MAPK por micobactéria

As MAPKs são ativadas nos macrófagos após a ligação de fatores de

crescimento e citocinas inflamatórias com receptores específicos e participam da

ativação da transcrição de genes de citocinas inflamatórias (figura 7). A família das

MAPKs é composta das vias de ERK1/2, p38 e SAPK/JNK. Embora distintas em

sua ativação, existe uma considerável cooperação entre estas quinases, e muitos

substratos são divididos entre estas vias (Schorey J, et al; 2003).

Esta família de quinases é importante em um largo espectro de funções

celulares, incluindo proliferação, apoptose, biosíntese de citocinas e reorganização

do ciotoesqueleto. Todas as MAPKs possuem regiões tirosina-treonina altamente

conservadas, ativadas por regulação positiva de quinases de MAPK (MAPKK)

através da fosforilação do motivo Thr-xxx-Tyr (Martin. B et al, 2000).

Em geral a via ERK1/2 é ativada por fatores de crescimento, estímulos

mitogênicos e promotores de tumor. Estresse ambiental e citocinas inflamatórias

estimulam as vias p38 e JNK. As MAPKs ativadas, são responsáveis pela

fosforilação e ativação de numerosos fatores de transcrição cuja função é

estimular a síntese de várias proteínas inflamatórias incluindo TNF-α, IL-1e IL-6.

Assim como estão envolvidas na regulação transcricional de NOS 2 e

cicloxigenase-2 (COX-2) (Koul A, et al; 2004).

Estudos primários demonstraram que Ara-LAM isolado de micobactéria

avirulenta, e PIM isolados de M. tuberculosis, estimularam a fosforilação de

ERK1/2 e ativação dos fatores de transcrição NFκB e AP-1 em uma linhagem de

macrófagos murinos. Esta estimulação foi aparentemente mediada por TLR2

(Jones B. et al; 2001).

1.7.2.4. Ativação de PI3-K/Akt

As enzimas envolvidas na geração dos distintos fosfoinositídeos são

denominadas famílias de quinases lipídicas, coletivamente conhecidas como PI3-

K. Membros da família do fosfoinositídeo-3 quinase (PI3-K) controlam diversas

respostas, incluindo crescimento celular, sobrevivência, remodelamento do

citoesqueleto e tráfico para vários tipos de organelas diferentes (Koyasu et al;

2003).

A PI3-K exerce importantes funções no sistema imune. Os fosfoinositídeos

são ubiquitinados na membrana celular de vários tipos celulares e tecidos e

Figura 7- Representação esquemática das moléculas implicadas na ativação de MAPK, seguido ao estímulo por LPS. A sinalização mediada por LPS tem sido mostrada ativar diversas pequenas GTPases, incluindo Rac, CDC42 e Ras. Também ocorre na ativação primária com LPS a ativação de PI3-K e subsequente ativação de PKC. Os passos subsequentes a ativação de MAPK inclui MEKK1/4, Raf1, ASK1 e TAK1 e a ativação de MAPK como como as MKKs e MEK1/2. As MAPK podem diretamente fosforilar vários fatores transcricionais ou podem trabalhar através da ativação de quinases como MSK1. (Schorey J, et al; 2003)

funcionam como segundos mensageiros em diversos processos de sinalização

intracelular (Koyasu S. et al; 2003).

As PI3-K são divididas em 4 classes, referidas como IA, IB, II e III, baseado em

sua característica estrutural e especificidade para substrato. Cada tipo de PI3-K

contém um domínio C2 e um domínio catalítico conectado por um domínio

helicoidal que é encontrado em quinases lipídicas, mas não em proteínas quinase.

O domínio C2 liga fosfolipídeo de uma maneira dependente de cálcio e pode estar

envolvida no recrutamento de PI3-K para frações da membrana (Li, X. et al, 2003).

PI3-K de classe IA pode ser ativada durante a sinalização do TLR, mediada

pela associação com proteínas tirosinaquinase (PTK). As enzimas da classe IA são

heterodímeros que apresentam uma subunidade reguladora (p85) e uma catalítica

(p110) e são ativadas através de receptores envolvidos na sinalização, por PTK

(Schlesinger L, et al, 1996).

Neste processo de ativação, ocorre uma interação direta da subunidade p85

reguladora de PI3-K com o receptor (Koyasu S. et al, 2003). Esta interação

envolve um domínio de homologia Src (SH2) da subunidade p85 e um domínio

SH2 no receptor que contém um motivo Tyr-Xaa-Xaa-Met, onde Xaa representa

qualquer aminoácido e quando fosforilado na tirosina é capaz de ativar PI3-K (Li X;

2003).

A subseqüente associação da subunidade catalítica p110 de PI3-K resulta na

sua completa ativação enzimática que fosforila fosfoinositídeos de membrana na

posição D3 do anel de inositol, liberando para a formação de mensageiros

lipídicos secundários (Shizuo et al; 2004).

1.7.2.5 Ativação de PI3-K/Akt mediada por TLR 2

S. aureus foi o primeiro agonista de TLR 2 demonstrado induzir a ativação

de PI3-K através da ligação com TLR2 (Ardibe et al, 2000). Entretanto, foi

demonstrada a associação física de TLR 2 com a subunidade reguladora de PI3-K

(p85-PI3-K) (Lassounskaia E, et al; 2006).

O papel de CD14 tem se revelado essencial para a ativação de PI3-K

através de TLR2 induzida por BCG. Foi demonstrado que BCG ou Man-LAM

purificada, induziu uma significante ativação de PI3-K, somente após a

opsonização por soro ou proteína ligadora de lipopolissacarídeo (LBP) que

aumentou a ligação da micobactéria com CD14 de monócitos THP 1 promovendo

a sinalização através de TLR 2 (Sendide K et a; 2005).

1.8. Receptores de Manose

Os receptores de manose reconhecem polissacarídeos de diversos patógenos

como bactérias Gram-negativas, Gram-positivas, fungos e micobactérias. Além de

sua atividade endocítica, eles são os únicos membros da família das lectinas tipo

C com propriedades fagocíticas e são considerados receptores de reconhecimento

padrão, envolvidos na defesa do hospedeiro e imunidade inata (Taylor P, et al,

2005).

Os MR possuem uma região extracelular que contém um domínio rico em

cisteína (CR), um domínio com repetições de dois tipos de fibronectina (FNII) e

múltiplos domínios de reconhecimento de carboidratos (lectina-like tipo C)

(CTLDs), possuem também um domínio transmembrana e uma pequena cauda

citoplasmática. Os domínios CTDLs medeiam a ligação do MR com açúcares

terminados em manose, fucose e n-acetilglicosamina; na presença de duas

moléculas de Ca2+, por açúcar ligado (Taylor P, et al, 2005).

Figura 8- Estrutura do Receptor de Manose (MR). Estrutura conformacional do domínio de glicosilação ligado ao N-demonstrado na protusão estendida (sialização indicada pelos losangos vermelhos). Domínio CR (vermenlho), segmentos de fibronectina tipo II (marrom) e CTLD (verde). O CTLD 4, o CTLD são responsáveis pela ligação dos açúcares (mostrado em verde escuro). (Taylor P, et al; 2005)

Lipoarabinomananas (LAMs), são lipoglicanos de parede celular e tem sido

consideradas modulinas, por sua capacidade de manipular o sistema imune do

hospedeiro. De fato, foi estabelecido que lipoarabinomananas de Mycobacterium

smegmatis e Mycobacterium species, que são envoltas por fosfoinositóis

(PILAMs), ativaram macrófagos murinos de uma maneira dependente do TLR-2

levando a produção de citocinas como TNF-α e IL-12.

Lipoarabinomananas manosiladas (Man-LAM) são membros do extenso

repertório de moléculas presentes na parede celular de M. tuberculosis e M. bovis

BCG e se ligam aos receptores de manose (macrófagos) ou DC-SIGN (células

dendríticas), murinas ou humanas. Entretanto, poucos estudos demonstram a

participação dos receptores de manose e outros membros da família das lectinas

tipo-C nos eventos de transdução de sinal (Zamze S, et al, 2002).

1.8.1. Sinalização celular mediada por MR

Ainda não foi bem descrito se os MR são requeridos para a ativação das

MAPK. Um engajamento entre MR e a ativação das vias de MAPK foi

demonstrado através do tratamento de monócitos humanos da linhagem THP-1

com Man-LAM, resultando em uma diminuída reação ao estímulo com PMA, LPS

e INF-γ. Esta redução em resposta ao macrófago está associada com a diminuição

da ativação de ERK1/2 nas células tratadas, sugerindo que Man-LAM pode limitar

a ativação do macrófago pela redução da fosforilação de ERK1/2 (knutson K., et

al; 1998).

Man-LAM de M. tubeculosis foi demonstrada atenuar a expressão de TNF-

α e IL-12 em fagócitos mononucleares humanos. Assim como falhou em induzir a

produção de reativos intermediários do O2 nestas células (Astarie-Dequeker et

al.,1999). A ligação de Man-LAM com MR falhou em induzir a produção de

Fig 9- Estrutura das três famílias representativas de moléculas LAM isoladas de difertentes espécies de micobactéria. (Dao, et al. Infect. Immun)

citocinas pró-inflamatórias, por macrófagos, de maneira dependente de TLR

(Quesniaux V.J, et al., 2004).

Todos esses achados sugerem que Man-LAMs de M.tuberculosis e M.bovis

podem contribuir para a persistência das micobacterias dentro de macrófagos.

Provavelmente os MR medeiam a internalização de bactérias patogênicas e não

patogênicas e desviam a resposta micobacteriana nos macrófagos, direcionando

então para ativação ou inibição celular, através da interferência com a sinalização

mediada por TLR (Chieppa M. et al, 2003).

Foi proposto que a indução de IRAK-M, mediada por Man-LAM de Mtb,

regula negativamente a produção de IL-12p40 dependente de TLR por

macrófagos estimulados por LPS, independentemente da modulação de uma

resposta anti-inflamatória mediada por IL-10 (Kobayashi K, et al; 2002).

A família das IRAKs consiste de duas quinases ativas, IRAK e IRAK 4, e

duas quinases inativas, IRAK 2 e IRAK-M. Sendo a expressão desta última,

restrita para monócitos e macrófagos. IRAK-M é um regulador negativo de

sinalização mediada por receptores Toll-like. Ela previne a dissociação de IRAK ou

IRAK-4 com MyD88 e impede formação do complexo IRAK-TRAF6 e posterior

ativação de NFκB, JNK, ERK e p38 (Kobayashi K et al, 2002). Isto sugere que a

repressão da produção de IL-12 pode aumentar a sobrevivência do M.

tuberculosis devido ao impedimento da atuação da resposta imune inata e o

desenvolvimento de uma resposta adaptativa (Pathak S.K. et al, 2005).

Em contrapartida, o cross-talk dos receptores de manose em células

dendríticas derivadas de monócitos imaturos, foi demonstrado ativar um programa

imunosupressor, anti-inflamatório, com a produção de IL-1, IL-10 e TGF-β e inibiu

a produção de IL-12, após o estímulo por LPS (Chieppa M. et al, 2003).

Apesar desses dados, pouco se sabe sobre os efeitos anti-inflamatórios de

Man-LAM. O entendimento dos mecanismos de atenuação da expressão de IL-12

estimuladas pelos agonistas de TLR, por Man-LAM, promove novas introspecções

para a patogênese da tuberculose (Pathak S.K. et al, 2005).

Baseado nos efeitos anti-inflamatórios induzidos por Man-LAM, foi

demonstrado que a via de sinalização mediada por MR é responsável pela

expressão da tirosina fosfatase (SHP-1), que ativa-se e provoca a inibição das

MAPK (Knutson et al., 1997; Nandan D. et al., 2000). Similarmente, sugeriu-se que

o mecanismo de ação do M. tuberculosis, por meio de seu fator de virulência

(Man-LAM), pode estar relacionado com a ativação de SHP-1 (Nandan et al,

2000).

As tirosinas fosfatases são enzimas que removem os radicais fosfato dos

resíduos de tirosina, restringindo as ações das PTKs. A desfosforilação de

proteínas reguladas por tirosina fosfatases é um mecanismo de controle

importante para numerosos processos fisiológicos como: crescimento celular,

motilidade, metabolismo, regulação do ciclo celular e integridade do citoesqueleto

(Knutson et al, 1997).

A tirosina fosfatase SHP-1 participa da alteração de importantes funções

dos macrófagos. Durante a exposição de macrófagos à Yersinia

pseudotuberculosis observou-se a desfosforilação de proteínas celulares, levando

ao impedimento da fagocitose. A infecção de macrófagos por Leishmania

donovani impediu a fosforilação da tirosina e a ativação de JAK quinase 1 e 2 e a

resposta ao IFN-γ (Nandan et al; 2000).

1.9 . Fenótipo migratório dos macrófagos

A migração dos macrófagos em direção ao seu alvo é um importante

mecanismo destas células para desempenharem sua função. As alterações

morfológicas sofridas pelos macrófagos ativados pelas micobactérias são

caracterizadas pela formação de projeções em sua superfície, denominada

filapódios, que são proporcionadas devido a polimerização da actina.

O citoesqueleto de actina é o primeiro determinante para a forma e a

motilidade da célula. O processo de polimerização da actina é relevante para

mudanças morfológicas dos macrófagos, in vivo, durante o extravasamento,

migração e diferenciação destes. Entretanto, os eventos de sinalização que levam

ao espalhamento e adesão dos macrófagos, em resposta às micobactérias, não

estão caracterizadas em detalhes (Claire M.W, et al, 2005).

1.9.1 . Participação de TLR2 e PI3K nas alterações morfológicas sofridas

pelos macrófagos

Os eventos que levam à transcrição de genes pró-inflamatórios, induzidos

pela micobactéria, já estão bem estudados. Além disso, está bem estabelecido o

papel fundamental das vias de sinalização que levam a ativação de NF-κB, MAPK

e PI3-K após a ligação de agonistas micobacterianos com TLRs, principalmente

TLR 2.

A Dissecção das vias que levam ao rearranjo da actina induzida por uma

variedade de fatores extracelulares, tem sido focada naquelas iniciadas por

receptores de tirosinaquinases, para fatores de crescimento, e receptores de

integrinas e associados à proteína G para quimiocinas. De qualquer modo, a

participação das vias de sinalização mediadas pelos TLRs, nos eventos de

remodelamento da actina está começando a ser descoberto.

Micobactérias viáveis ou lisadas, assim como a lipoproteína p19 (agonista

de TLR 2) purificada da parede celular são capazes de ativar PI3-K de uma

maneira dependente de TLR2, levando a reorganização do citoesqueleto e

espalhamento da célula. Sugerindo que TLR2 contribui com os arranjos

morfológicos, envolvidos no processo migratório, induzido por BCG (Lassounskaia

E, et al 2006).

Recentemente, o remodelamento da actina mediado por TLR foi

demonstrado aumentar a captura de antígenos por DCs (West, M. A., et al, 2004).

Além disso, a ativação de TLR2 dependente de CD14, por LAM de micobactéria,

promoveu a fagocitose da micobactéria BCG por macrófagos (Sendide, K et al

2005).

A família Rho das pequenas GTPases inclui as proteínas Rac, Rho e

Cdc42, Estas proteínas apresentam ciclos de troca morfológicos entre um estado

de GTP-ligada (ativa) e GDP-ligada (inativa), para repassar as mensagens

emitidas pelos receptores da superfície celular, para o citoesqueleto (Wells C, et

al; 2004). O ciclo de ligação de GTP/GDP é regulado pela interação de Rho da

família das GTPases com fatores de troca e nucleotídeo-guanina (GEFs) e

proteínas que ativam GTPases (GAPs). GEFs catalisam a troca de GDP para

GTP, enquanto GAPs aumentam a intrínsica atividade das GTPases (Symons

M.,et al, 2000).

As proteínas Rac desempenham um papel central na migração celular pela

indução da extensão de lamelopódios, estruturas finas e espalhadas que

empurram a membrana plasmática para fora, devido à polimerização da actina

(Ridley A. J,et al, 2001).

Existem três isoformas de Rac (1, 2 e 3) em mamíferos, mas pouco se sabe

sobre as relativas contribuições de cada isoforma para as respostas dependentes

de Rac. Todas as três proteínas são altamente homólogas. Porém, apresentam

diferenças primárias concentradas na extremidade carboxi-teminal final dessas

proteínas. Cada isoforma é altamente conservada entre as espécies: Rac1 murino

difere por apenas um aminoácido da RAC1 humana.

Estudos prévios do papel das proteínas Rac na extensão dos lamelopódios

estimulados por citocinas, fator de crescimento e adesão e /ou as dobras na

membrana, tem sido baseados no uso de mutantes constitutivamente ativos ou

negativamente dominantes (Allen W. E, et al, 1997). Microinjeção em fibroblasto

com Rac 1 e Rac 2 ativados, induz o enrugamento da membrana. O contrário do

que acontece com os Rac1 dominantes negativos (N17Rac1), que inibe a

formação dos lamelopódios, dobramento da membrana e migração celular, em

vários tipos celulares, incluindo macrófagos (Allen W. E, et al, 1997).

Macrófagos deficientes em Rac-1 exibem defeitos no espalhamento celular e

dobramento da membrana, mas não na sua migração (Wells C, et al, 2004).

As integrinas são proteínas transmembranas heterodiméricas que consistem

de uma subunidade α e β que funcionam como moléculas de adesão e receptores

de sinalização. Agrupamentos de integrinas na superfície celular produzem

respostas de sinalização intracelulares as quais levam ao rearranjo do

citoesqueleto de actina, espalhamento e adesão celular (Meng F, et al; 1998).

Dentre os eventos de transdução de sinal mais recentes, mediados pelas

integrinas, destaca-se o aumento de fosforilação de tirosina em múltiplas proteínas

associadas ao citoesqueleto: paxilina, tensina, cortactina e p 130. As integrinas

dependem de tirosinaquinases associadas para emitirem seus eventos de

sinalização.

PI3-K tem sido incluída nos eventos de transdução de sinal mediados pelas

integrinas. Foi demonstrado que a inibição farmacológica da atividade quinásica

de PI3-K, bloqueia o espalhamento celular (King et al; 1997). Similarmente, o

tratamento de células com inibidores de PI3-K inibiu o rearranjo normal do

citoesqueleto de actina, dobramento da membrana e formação dos filapódios

(Hartwing, et al; 1996). Em células de carcinoma, PI3-K está envolvida nos

eventos de sinalização induzidos pela ligação das integrinas α4β2, as quais são

requeridas para a invasão celular, em ensaios in vitro (Shaw et al; 1997). Neste

sistema, os fosfoinositídeos D3 produzidos pela ativação de PI3-K atuam na

pequena GTPase Rac 1 para promover o dobramento de membrana, extensão

dos filapódios e migração celular (Meng F, et al; 1998).

Na ausência de quinases da família Src, em células mielóide, a sinalização

via integrina é bloqueada assim como macrófagos são impedidos de migrarem,

em modelo in vivo de peritonite aguda. Estas mutações parecem não afetar a

ativação de MAPK mediada pelas integrinas ou translocação de NF-κB, sugerindo

que as vias de sinalização que regulam as mudanças no citoesqueleto e migração

celular são diferentes das vias que ativam MAPK e NF-κB (Meng F, et al; 1998).

II- OBJETIVO

Verificar o efeito de interferência entre as vias de sinalização mediadas por TLR2,

e receptor de manose, MR, na ativação dos macrófagos pelas micobactérias.

Objetivos específicos:

1. Estudar o caráter da ativação dos macrófagos por BCG e/ou seus

componentes purificados, Man-LAM (agonista de MR), p19 ou PIM

(agonistas de TLR2) e verificar o efeito do pré-tratamento com Man-LAM na

ativação dos macrófagos por BCG, através de :

a) quantificação da produção de citocinas pró-inflamatórias, IL-12, TNF-α e NO, versus anti-inflamatórias, IL-10,

b) análise das mudanças morfológicas pró-migratórias sofridas pelos

macrófagos (espalhamento e polarização).

2. Verificar o efeito da estimulação do MR na modulação das vias de

sinalização acionadas por micobactéria, através TLR2 (ativação do NF-kB,

das vias de MAPK e PI3-K/Akt quinases, ativação da GTPase Rac-1 e

fosfatase SHP-1).

III- JUSTIFICATIVA

O estudo detalhado da patogenia causada por micobactéria serve de

ferramenta para o desenvolvimento de novos tratamentos baseados nos

mecanismos naturais de defesa do hospedeiro. Já está bem estabelecido o papel

dos macrófagos como célula alvo durante a infecção micobacteriana assim como

sua importância para eliminação da micobactéria através de fagocitose e

desenvolvimento de uma resposta pró-inflamatória, mediada principalmente por

TLR 2. O processamento das informações extracelulares requer uma atividade

coordenada de uma ampla gama de vias de sinalização intracelular. Entretanto, a

interferência (cross-talk) entre essas vias, acionadas por diferentes receptores,

consiste em uma nova área de estudo. Foi descrito que os patógenos são capazes

de ativar diferentes vias de sinalização com o fenômeno de interferência de uma

para a outra. A parede celular micobacteriana é complexa e possue agonistas

para vários receptores. A ativação pró-inflamatória do macrófago pela

micobactéria é mediada principalmente por TLR2, que liga lipoproteínas

micobactérianas. O antigeno imunodiminante da parede celular, Man-LAM, liga

com o receptor de manose, MR, do macrófago. Dados recentes sugerem que a

ativação de MR, por Man-LAM, induz eventos de interferência na sinalização

mediada por TLR.

IV. METODOLOGIA

4.1. Lisados e componentes micobacterianos

Mycobacterium bovis BCG (vacina onco-BCG, linhagem Moreau,

Copenhagem SEED# julho de 1978 produzida no Instituto Butantan (São Paulo,

Brasil) para tratamento de câncer de bexiga). As suspensões da vacina foram

estocadas a 40C e utilizadas em experimentos, antes da expiração da data

recomendada pelo fabricante. Para obtenção do lisado de BCG (BCG WCL) , a

vacina foi lavada duas vezes com tampão salino fosfato (PBS), pH 7.4 e sonicadas

em tampão de lise (10 mM Tris-HCL, 100 mM NaCl, 0,5% SDS e 25 mM EDTA),

pH 7.8.

Os lisados de M bovis (BCG WCL) foram feitos através da coleta das

culturas de micobactérias crescidas em meio Middlebrook 7H9 (8.7 x 1013 CFU),

centrifugação por 12,000 x g por 20 min e ressuspensão em tampão de lise (2 ml

de 0.1% Triton X-100) (Sigma). Em seguida, os sobrenadantes foram misturados

durante 30 min em t.a., e centrifugados por 2 min 10,000 x g. A concentração da

proteína no sobrenadante foi quantificada pelo método de Bradford.

O lisado de M.tuberculosis 7Hrv e os componentes purificados de M.

tuberculosis, lipoproteína 19-kDa (p19) , PIM e Lipoarabinomanana manosilada

(Man-LAM) foram obtidos de Dr. J. Belisle (Colorado State University, Ft Collins,

NIH contract), através de contrato para teste de vacina (Instituto Nacional de

Saúde e Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas NIH –NIAID NO1-A1-

40091). A fração p19 liofilizada foi ressuspensa em Dimetilsulfóxido (DMSO) e

estocado a -800 C.

4.2. Cultura Celular

Os macrófagos murinos RAW 264.7 (ATCC TIB-71; American type Culture

Collection, Mannasas,VA) foram cultivados em meio de cultura Dulbecco’s

modified Eaglee’s medium-F12 (DMEM-F12) suplementado com 10% de soro fetal

bovino. Os monócitos humanos da linhagem THP-1 (ATCC 202-TIB) foram

plaqueados em meio DMEM-F12, 10% soro fetal bovino (FCS) em placas de

cultura de 96 orifícios (3 × 105 células/ l) e cultivados a 37°C , 5% CO2 , por 72h,

na presença de 100 nM phorbol 12-myristate 13-acetate (PMA; Sigma) (Tsuchiya

et al., 1982). Após diferenciação dos macrófagos, a monocamada foi lavada e as

células foram incubadas por 24h com meio DMEM-F12 completo, sem PMA.

4.2.1. Extração de células precursoras de medula óssea de camundongos

Os macrófagos derivados da medula óssea (BMM) foram obtidos da

medula femural de camundongos C57BL/6 TLR2 -/- ou TLR2+/+ (controle) (Doação

de S. Akira, Osaka, Japão). Os fêmures dos camundongos TLR2+/+ e TLR 2 KO

foram cuidadosamente retirados e cortados nas duas extremidades. Em seguida,

foram lavados com 5ml de meio DMEM-F12 completo (10% de SFB),

suplementado com gentamicina (50ug/ml). Após serem retirados, as células

precursoras de medula foram plaqueadas para garrafas grandes. Em 24h, os

sobrenadantes foram retirados e às células foram acrescentado meio

suplementado com 20% de sobrenadante de fibroblasto murino da linhagem L929

por 6 dias, para obtenção da monocamada de macrófagos aderentes. Em seguida

os macrófagos receberam os devidos tratamentos.

4.3. Tratamentos dos macrófagos

Para os experimentos de imunofluorescência e avaliação morfológica,

células RAW 264.7 ou BMM foram crescidas em placas de cultura de 24 poços,

cobertas com lamínulas de vidro, numa concentração de 3x105 células /ml a 370 C

em 5% de CO2, por 24h. As células RAW 264.7 foram lavadas com PBS e

incubadas por 18h adicionais com meio sem soro. A monocamada de macrófagos

resultante foi infectada com BCG viáveis numa proporção de 1:10

macrófagos/bactéria, ou tratado com BCG WCL 2µg/ml, ou 5µg/ml de p19, e

incubados a 370 C e submetidos à diversas análises subseqüentes.

Para análise de proteínas intracelulares ativadas nos macrófagos, as

células (RAW 264.7) foram crescidas em garrafas de 75 cm2, e receberam os

distintos tratamentos: BCG WCL (2µg/ml) ou Man-LAM (5µg/ml) ou Man-LAM

precedida de BCG. Após os períodos de incubação, as células foram lavadas com

PBS estéril e retiradas mecanicamente com scrapers. Estas suspensões foram

posteriormente utilizadas para Imunoprecipitação, ensaios de quinase e

fosfatasess e análises por Western Blotting.

Para quantifição de citocinas, as monocamadas dos macrófagos, crescidas

em placas de cultura de 96 poços foram tratadas com BCG ou MTB WCL ou

Lipopolissacarídeo (LPS) (2µg/ml); Man-LAM (5µg/ml); p19 ou PIM cis 3 (5µg/ml)

a uma temperatura de 37°C, 5% CO2. Após o período de incubação, os

sobrenadantes das culturas foram coletados e congelados à –20oC para

quantificação das citocinas através de ELISA, Bioensaio de L929 para TNF-α ou

Reação de Griess, para NO.

4.4. Preparação dos Lisados Celulares

Os extratos celulares foram obtidos através da ressuspensão dos pellets de

3x105 células em 200µl de tampão de lise Low Ripa (0,5% Nonidet P-40, 3 mM

pirofosfato de sódio, 50mM Tris-HCl pH 7.6, 150 mM NaCl, 0.1 mM EDTA, 50mM

NaF, 1mM Na3VO4, 1mM PMSF, DTT 1mM, 10 µg/ml leupeptina, 1 µg/ml

pepstatina, and 1 µg/ml aprotinina). Os lisados celulares foram centrifugados por

14,000 x g, por 10 min para separação do extrato protéico. A concentração das

proteínas no sobrenadante foi determinada pelo Método de Bradford (Bradford,

1976). As proteínas obtidas foram precipitadas com acetona num volume 3x maior

que o volume protéico, por 1h, -200 C. As amostras foram centrifugadas 14,000 x

g, por 5 min e acetona foi descartada. Os pellets protéicos foram incubados

overnight, 40 C. As proteínas então foram desnaturadas em tampão de amostra 1x

(15mM Tris pH 6,8, 0,5% SDS, 1,25% β-2-mercaptoetanol, 2,5% glicerol, 0,025%

azul bromofenol), fervidas por 5 minutos, e centrifugadas a 3500g por 5 minutos e

analisadas por eletroforese em SDS-PAGE a 10%.

4.5. Imunoprecipitação

Para imunoprecipitação, os lisados celulares, 600 µg, foram incubados com

anticorpo específico, seguido da proteína A/G Plus agarose (Santa Cruz

Biotechnology) a 4oC por 1h cada. Em seguida, foram tratadas com anticorpo de

coelho anti-PI3K anti camundongo ou anticorpo de cabra anti-TLR2 de

camundongo (Santa CRUZ Biotechnology). As imunoprecipitações foram lavadas

com PBS e centrifugadas 2500g, 4min, 4oC, antes da adição de tampão de

amostra 2x. As amostras foram fervidas a 100oC por 5 min, e subsequentemente

analisadas por SDS-PAGE, seguida de transferência eletroforética para

membranas de nitrocelulose (Immobilon-P; Millipore, Bedford, MA). Após a

transferencia eletroforética as membranas foram bloqueadas com leite desnatado

(Molico) 5%, diluído em PBS tween 20, por 18h, 40C. O tratamento da membrana

foi feito com anticorpos anti-TLR2, anti-p85 (subunidade de PI3K) ou anti-Rac-1

(Santa CRUZ Biotechnology). As transferências foram visualizadas através da

marcação com anticorpos anti cabra ou anti coelho conjugados com HRP(1/3000).

(Amersham, Little Chalfont, UK) e reveladas usando Kit ECL ou Diaminobenzidina

(DAB).

4.6. Anticorpos

ERK 1 (k-23)- G, IgG policlonal anti cabra; p-ERK (E-4) IgG monoclonal anti

camundongo; JNK 1(FL) IgG policlonal anti coelho; p-JNK (G-7) IgG monoclonal

anti camundongo; p 38 (C-20)-G IgG policlonal anti cabra; p-p 38 (Thr 180/Tyr

182)-R IgG anti policlonal coelho; Akt ½ (N-19) IgG policlonal anti goat; p-Akt (Ser

473)-R IgG policlonal anti coelho; p-PI3-K p85 α (Tyr 508) IgG policlonal anti

cabra; PIκB-α (B-9) IgG 2b monoclonal anti camundongo e SHPTP-1 (19)-G IgG

policlonal anti cabra- Santa Cruz Biotechnology;

4.7. SDS-PAGE 10%

A eletroforese em gel de poliacrilamida foi realizada segundo a metodologia

de Laemmli (1970), em gel descontínuo constituído de: gel separador (10%

acrilamida, 0,2% bisacrilamida, 0,1% SDS e 0,375M tris pH 8,8), gel de

concentração (5% acrilamida, 0,5% bisacrilamida, 0,1% SDS e 0,125M tris pH 6,8)

e tampão de corrida (25mMTris, 192mM glicina e 0,1% SDS pH 8,3). As corridas

eletroforéticas foram realizadas no sistema de mini-gel (Dual Gel Caster

Amersham Pharmacia Biotech), utilizando-se tampão de corrida sob 60V

constantes no gel de concentração de 10% e 100V constantes no gel separador.

Iguais quantidades de proteína celular das diferentes amostras foram aplicadas nas

canaletas e a massa molecular das amostras de proteínas foi determinada por

comparação com padrões de massas moleculares conhecidas (Amersham Life

Sciences).

4.7.1. Western blotting

Após a corrida eletroforética, as proteínas foram eletrotransferidas para

matriz de nitrocelulose com poros de 0,45µm (Amersham Life Sciences), de

acordo com Towbin et al. (1979), utilizando o equipamento de transferência líquida

Bio Rad em tampão de transferência Tris-Glicina (25mMTris, 192mM glicina e 20%

de metanol) por 45min a 250mA. Após transferência das proteínas, as membranas

foram incubadas com solução bloqueadora (5% de leite desnatado em PBS)

durante 18 horas a 4ºC. Então, foi feita a marcação das proteínas de interesse

através de anticorpos específicos.

A revelação foi realizada tratando-se as membranas com a solução

contendo substrato enzimático, H2O2 e a substância cromógena DAB

(diaminobenzidina) (Sigma) (100µl Tris- HCL 2M pH 7,5, 4,9 ml de H2O destilada,

5mg DAB, 0,3 ml imidazol 0,1M, 5µl H2O2).

4.7.2. Imunodetecção de quinases e fosfatases celulares

A verificação da ativação de IκB-α, MAPKs (ERK1, JNK1/2 e p38), AKT e

PI3K nos macrófagos estimulados pelo lisado de micobactéria e/ou seus

componentes, foi feita através da marcação com anticorpos anti a forma

fosforilada da quinase. A verificação da ativação da fosfatase SHP1 foi feita

através da marcação da sua forma fosforilada com o anticorpo anti pSHP-1

4.8. Quantificação das citocinas

4.8.1. ELISA

As concentrações de IL-10 e IL-12 nos sobrenadantes das culturas celulares

foram medidos através do ensaio imuno enzimático (ELISA- sandwich), utilizando-

se pares de anticorpos monoclonais (BD Pharmingen) anti IL-12, IL-10, adsorvidos

em placas específicas para citocinas (Nunc, Maxi Sorp). Para quantificação de IL-

12, foi utilizado anticorpo monoclonal de rato anti- camundongo IL-12p70-3µg/ml

(captura) e anticorpo monoclonal de rato anti IL-12 (p40/70) de camundongo

biotinilado 1,5µg/ml (detecção). Para quantificação de IL-10, foi utilizado anticorpo

monoclonal de rato, purificado, anti IL-10 de camundongo 3µg/ml (captura) e

anticorpo monoclonal de rato, biotinilado, anti IL-10 de camundongo 1,5µg/ml

(detecção).

A placa foi sensibilizada com anticorpo de captura por 18h, 4oC. Seguindo-se

de lavagem com tampão de lavagem (PBS HCL+ Tween 0,05%) e posteriormente,

bloqueio com solução de bloqueio (PBS HCL+ 1% de BSA) por 1h em temperatura

ambiente. Os sobrenadantes das culturas dos macrófagos foram aplicados para

serem comparados com a curva padrão. A curva padrão foi construída a partir de

diluições seriadas das citocinas recobinantes correspondentes, em tampão

diluente (PBS HCL+ Tween 0,05% +1% BSA), de modo que a curva iniciasse com

4000pg/ml. Posteriormente as amostras foram incubadas por 18h à 40C e os

poços tratados com anticorpos biotinilados correspondentes, por 2h, T.A. Em

seguida foi feita lavagem dos poços com PBS (1x) seguido do tratamento com

estreptavidina HRP por 30 min, T.A. As amostras foram incubadas por 15 minutos

com uma solução reveladora, em T.A. (50% H2O destilada, 28% de ácido cítrico

0,1M, 22% de Na2H2PO4 0,2M, 0,03% de H2O2 30%, 0,1% de ABTS-10mg). A

reação enzimática foi interrompida com a adição de 50µl de uma solução de ácido

cítrico 0,2M. A absorbância das amostras foi medida no leitor de ELISA (Dynatech

MR5000), com filtro de referência de 405nm.

4.8.2. Bioensaio de L929

Os sobrenadantes das culturas dos macrófagos murinos e humanos

estimulados pelos lisados das micobactérias foram descongelados e testados

através do bioensaio utilizando fibroblastos da linhagem L929 para a quantificação

de TNF-α. As células L929 (linhagem de fibroblastos murinos) foram tripsinizadas

com solução de tripsina 0,025% e EDTA 0,2% e plaqueadas na concentração

2,5x105 células/ml de meio DMEM-F12 contendo 10% de SFB e 20µg/ml de

gentamicina (100µl/poço), em placas de cultura com 96 poços (Corning). Após a

incubação das placas a 370C por 24 horas, o meio de cultura foi substituído pelo

meio completo (SFB 10%) acrescido de actinomicina -D (SIGMA). A curva padrão

foi construída a partir de diluições seriadas de TNF-α recombinante com volume

final de 100µl. No final foi acrescentado, por poço, 2µl dos sobrenadantes das

culturas dos macrófagos. A viabilidade celular foi avaliada através da técnica de

MTT.

4.8.3. Teste de MTT

As células foram incubadas à 37oC durante 1 hora com 0,5mg/ml da

solução de corante MTT ("3'-[4,5-dimethylthiazol-2yl] 2,5-diphenyltetrazolium

bromide"). Esta droga, nas células vivas, é convertida em cristais azuis insolúveis

(formazana) pela enzima succinato desidrogenase mitocondrial. Para dissolver os

cristais, foi adicionado às células sem o sobrenadante 0,04M de HCl/Isopropanol.

A densidade óptica foi medida em leitor de ELISA (Dynatech MR5000) com filtro

de teste 570nm e filtro de referência 630nm.

4.8.4. Quantificação de óxido nítrico (NO) pela Reação de Griess

A acumulação de nitrito produzida pelos macrófagos foi determinada pela

adição de 50µl dos sobrenadantes das cultura dos macrófagos, misturadas com

50µl da solução A (2,5ml ácido fosfórico, 0,5g sulfanilamida, 47,5ml H2O milliQ) e

a solução B (0,05g N-1-naphitiletilenodiamina, 50ml H2O milliQ) de Griess (vol/vol).

A absorbância à 570nm foi medida no espectrofotômetro. As concentrações de

nitrito foram calculadas utilizando-se uma curva padrão de NaN3 à 100 µM, e os

resultados foram apresentados em µM de nitrito.

4.9. Imunofluorescência

As células RAW 264.7 ou precursores de medula óssea (BMM) foram

crescidos em placas de cultura de 24 poços, cobertos com lamínulas de vidro,

numa concentração de 3x105 células /ml a 370 C em 5% de CO2, por 24h. As

células foram lavadas com PBS e incubadas por 18h adicionais com meio sem

soro. As monocamadas de macrófagos resultantes foram infectadas com BCG

viáveis numa proporção de 1:10 macrófagos/bactéria, ou tratadas com BCG WCL

2µg/ml, ou 5µg/ml de p19, e incubadas a 370 C e submetidas à diferentes análises

subseqüentes.

4.9.1. Ensaio para f-actina

Para localização dos filamentos de actina e quantificação do espalhamento e

polarização dos macrófagos, as células fixadas e permeabilizadas (0,5% de Triton

X-100 em PBS, por 10 min), foram incubadas com 0,1µg/ml de faloidina conjugada

com TRITC (SIGMA), por 30 min e lavadas com PBS. As lâminas foram montadas

com N- propilgalato e observadas em microscópio confocal com contraste de fase

(Zeiss Axioplan). Cada amostra celular foi primeiramente examinada em

microscópioZeiss Axioplan equipado com contraste de interferência diferencial

(DIC) e então em microscópio de fluorescência. As imagens foram capturadas

através de filmes fotográficos Kodak Tris X (ASA 400). As dimensões celulares

foram medidas usando o programa L33K (Rasband, W.S, Image J, Institutos

Nacionais de Saúde, Bethesda MD, EUA, http:/rsb.info.nih.gov/ij/, 1997-2004). O

espalhamento celular foi estimado através de medidas manuais do perímetro da

célula e medida da área das protusões celulares.

4.10. Dados Estatísticos

Os dados de quantificação das citocinas foram analisados pelo ANOVA e teste

Student t.

V- RESULTADOS

5.1. Efeito de Man-LAM na produção dos mediadores pró-inflamatórios pelos

macrófagos ativados por micobactérias

Para determinar a interferência de Man-LAM na produção das citocinas

pró-inflamatórias, IL-12p40 e TNF-α, induzidas por BCG e Mtb, em macrófagos

murinos RAW 264.7, pré-tratamos as células com Man-LAM (5 µg/ml) por 16 h ou

1h, seguida do desafio com BCG ou Mtb lisada (2µg/ml), LPS (2µg/ml) ou PIM

(2µg/ml) por 24h. Como esperado, todos os produtos bacterianos utilizados,

exceto Man-LAM, induzem alto nível da secreção de IL-12 (Figura 10 A), TNF-α

(Figura 10 B) e NO (Figura 10 C) pelos macrófagos.

A indução da síntese de IL-12 e TNF-α por Man-LAM não foi

significativa em comparação com o controle, sendo que as células RAW

264.7 produzem baixos níveis destas citocinas espontaneamente. O

tratamento com Man-LAM não induziu a produção de NO no período

observado de 24h. O pré-tratamento das células com Man-LAM diminuiu a

produção de IL 12p40 induzida por BCG, Mtb e PIM em uma proporção de

30%, 60% e 50%, respectivamente. A redução da síntese da IL-12 induzida

pelo LPS foi menor, cerca de 15% (Figura 10A).

O pré-tratamento dos macrófagos por Man-LAM não teve efeito

significativo na indução de TNF-αααα pelos produtos bacterianos citados

(Figura 10B). Diferentemente de TNF-αααα, o pré-tratamento por Man-LAM inibiu

completamente a síntese de NO induzida por BCG (Figura 10C).

Figura 10A - Produção de IL-12 pelos macrófagos RAW 264.7 ativados- Macrófagos foram estimulados por Man-LAM (ML) (5µg/ml) por 16h, Lipopolissacarídeo (LPS) (2µg/ml) por 24h, ML 16h precedido de LPS 24h , lisado de BCG (2µg/ml), ML 16h precedido de BCG 24h, PIM 24h (2µg/ml), ML 16h precedido de PIM 24h, lisado de M. tuberculosis(Mtb) (2µg/ml) ou ML precedido Mtb. Os sobrenadantes foram coletados após os respectivos tratamentos para a dosagem de IL-12 pelo método de ELISA. Os dados correspondem aos valores representativos de 4 experimentos em duplicata. Os asteriscos indicam diferenças significantes nos valores (** p£ 0,01) de IL-12 produzida pelos macrófagos pré-tratados com Man-LAM em comparação com IL-12 estimulada pelos componentes bacterianos.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

C ML

BCG

ML/BCG

MTB

ML/Mtb

LPS

ML/LPS

PIM

ML/PIM

IL-12p

40 p

g/m

l **

**

**

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

C ML

BCG

ML/BCG

MTB

ML/Mtb

LPS

ML/LPS

PIM

ML/PIM

IL-12p

40 p

g/m

l **

**

**

Figura 10B - Produção de TNF-αααα pelos macrófagos RAW 264.7 ativados. Macrófagos foram estimulados com Man-LAM (ML) 5µg/ml por 1h, lisado de M.bovis BCG por ou M. tuberculosis (Mtb) 2µg /ml por 24h ou tratados com Man-LAM por 1h e depois estimulados pelos lisados por 24h. Após os tratamentos os sobrenadantes das culturas foram coletados para a quantificação de TNF-α, através do bioensaio de L929.

0

500

1000

1500

2000

2500

C ML BCG ML/BCG Mtb ML/Mtb LPS ML/LPS

TNF- αα αα pg/m

l

5.1.1. A inibição de IL12p40 induzida por Man-LAM é independente de IL-10

IL-10 é um potente inibidor da expressão de genes de IL-12 e da produção

desta proteína. Para verificar se o efeito inibitório de Man-LAM na produção de

IL12p40 e NO é dependente do efeito anti-inflamatório de IL-10, foi analisada a

produção de IL-10 nas células RAW 264.7 tratadas com Man-LAM por 16h na

concentração de 5µg/ml; ou pelos lisados de BCG ou Mtb (2µg/ml), LPS (2µg/ml),

PIM (2µg/ml) por 24h; ou pré-tratadas com Man-LAM e posteriormente

estimuladas. Man-LAM e os outros produtos micobacterianos estudados induzem

a síntese de IL-10 (500-700pg/ml). O pré-tratamento dos macrófagos por Man-

Figura 10C - Produção de Òxido Nítrico (NO) pelos macrófagos RAW 264.7 ativados. Macrófagos foram estimulados com Man-LAM (ML) 5µg/ml por 1h, lisado de M. bovis BCG 1µg/ml por 24h ou tratados com Man-LAM por 1h e depois estimulados pelo lisado. Após os tratamentos os sobrenadantes das culturas celulares foram coletados para a quantificação de NO, através da Reação de Griess. Os dados correspondem aos valores representativos de 2 experimentos em duplicata. Os asteriscos indicam diferenças significantes nos valores (** p£ 0,01) de NO produzido pelos macrófagos pré-tratados com Man-LAM em comparação com os estimulados apenas pelo lisado de BCG.