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Crowdfunding atinge 1,2 milhões, mas continua aquém da Europa Em apenas três anos, o financiamento através da multidão teve um forte crescimento. Ainda assim, Portugal é um dos mais atrasados nesta área, em comparação com outros países europeus Economia, 14/15

Crowdfunding atinge milhões, mas continua aquém da Europa · Nesse momento, "o cro-wdfunding ainda não tinha surgi-do", explica Pedro Homem, um dos ... mente, quando arrancámos

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Crowdfunding atinge 1,2milhões, mas continuaaquém da EuropaEm apenas três anos, o financiamento através da multidão teve um fortecrescimento. Ainda assim, Portugal é um dos mais atrasados nesta área,em comparação com outros países europeus Economia, 14/15

Crowdfunding atinge 1,2 milhões deeuros, mas continua aquém da EuropaEmpreendedorismo

Em apenas três anos, o financiamentoatravés da multidão teve um fortecrescimento. Ainda assim, Portugal é

um dos mais atrasados nesta área, emcomparação com outros países europeusAna Salome Ferreira

Dois designers gráficos, dois arqui-tectos e uma grande vontade de veras fotografias de volta às paredesdas casas e não apenas esquecidasnos dispositivos digitais - foramestes os ingredientes necessários

para nascer a Onframe, o projectoque obteve maior apoio financeiroatravés de crowdfunding em Por-tugal no ano passado. Este é só umdos negócios financiados através damultidão no país, num momentoem que o investimento global já ul-

trapassa um milhão de euros, ape-sar de continuar muito aquém damédia europeia.

O número de plataformas desti-nadas ao financiamento colectivoestá em crescimento desde 2011.Actualmente, serão menos de umadezena, que diferem muito entre si:

há algumas que apoiam todo o tipode projectos e outras mais direccio-nadas a temas específicos. As pio-neiras, a PPL e a Massivemov, têmum lugar de destaque, por lidera-rem em termos de investimento. Já

a Zarpante dedica-se a apoiar pro-jectos culturais, a Nós Queremossegue também essa lógica e destina-se a eventos, a Olmo e a BES Cro-wdfunding, esta última pertencenteao Banco Espirito Santo e ligada à

PPL, focam-se essencialmente naárea da solidariedade social

Desde 2011, a PPL e Massivemov

já financiaram 270 projectos, tendo

angariado no seu conjunto cerca de925 mil euros. A este valor juntam-se 120 mil euros de financiamentoa 38 ideias da BES Crowdfunding.

E ainda os 100 mil euros aplicadosatravés da Zarpante e repartidospor 90 projectos culturais, espe-cialmente em Portugal e no Brasil.Ou seja, no total, o investimentodestas quatro plataformas já atingiu1145 milhões de euros. O PÚBLICOcontactou com outras entidades,mas não obteve respostas.

Em três anos de actividade, a PPL

já angariou cerca de 525 mil eurosatravés da multidão. No ano pas-sado, a plataforma alcançou quase200 mil euros, valor que até Maiode 2014 já tinha crescido mais 20mil euros. De acordo com YoannNesme, um dos fundadores, a PPL

"espera um crescimento expo-nencial continuado nos próximosanos". O responsável considera que"o crowdfunding é um conceito re-lativamente recente, sobretudo emPortugal, pelo que a adesão temvindo a ser gradual, à medida quevai sendo conhecido e compreen-dido por uma maior parte da po-pulação".

Por sua vez, a Massivemov an-gariou desde a sua origem (2011)cerca de 400 mil euros em finan-ciamentos. Esta plataforma analisaem média 18 projectos por semana.João Pereira, um dos fundadores,considera que as pessoas passam a

confiar neste tipo de financiamen-to "quando entendem que é maisum canal de venda". Na opinião do

empresário, o crowdfunding é "umaforma extremamente interessantede interagir com os clientes e de os

aproximar dos produtos/serviços

para obterem o financiamento quenecessitam".Abaixo da média europeiaDe acordo com um relatório pu-blicado pela European Crowdfun-ding Network, uma organizaçãonão-lucrativa dedicada a este tipode financiamento, em Abril desteano existiam 230 plataformas decrowdfunding acreditadas na Euro-

pa. Até essa data já tinham sido an-gariados aproximadamente 126 milmilhões de euros através de doisdos principais tipos de apoio: re-

compensa (em que os impulsiona-dores dos projectos oferecem algoa quem ajudar no financiamento dasua causa) e de equity (neste mode-lo, quem apoia o projecto torna-sesócio ou accionista da causa, nãosendo permitido em Portugal).

Apesar de, em três anos de acti-vidade, o financiamento colectivo anível nacional ter aumentado, Por-tugal ainda está muito atrás dos ní-veis alcançados na Europa, ficando,a par da Irlanda, em oitavo lugarna lista compilada pela EuropeanCrowdfunding Network, de um to-tal de 14 países. O relatório colocaa Alemanha no topo da lista comoo país onde mais projectos são fi-nanciados através de crowdfunding(recompensa e equity), com uma ta-xa de 24%. Segue-se Espanha, com

percentagem de 17%, e França, com16%. A taxa em Portugal é de 2%,ficando apenas à frente da Suíça,Dinamarca e Áustria, que registamuma percentagem de 1%.

Yoann Nesme, da PPL, considera

que, "comparativamente com o res-to da Europa, Portugal está aindaum pouco atrás, uma vez que nãoexiste neste momento a possibilida-de de investir, através do crowdfun-ding, numa óptica de retorno finan-ceiro". O responsável acredita que"novos tipos de crowdfunding estão

prestes a aparecer no país".João Pereira, da Massivemov,

atribui ao Estado parte da culpapelo facto de Portugal se situaratrás do resto da Europa. "Fica-mos claramente atrás por falta demassa critica e visão estratégicapor parte do Estado", afirmou. Ofundador desta plataforma sugereuma série de medidas que, na sua

opinião, ajudariam a dinamizar o

crowdfunding em Portugal: "Criarincentivos, como, por exemplo,deduções fiscais, custos reduzidos

para a criação de novas empresas,específicas para quem usa este ti-

po de financiamento e para quemfinancia", afirmou.

Regra geral, existem quatro for-mas de financiamento através do

crowdfunding: o sistema de recom-pensas, os donativos (mais comumnas plataformas destinadas à soli-dariedade social), os empréstimose o equity. Em Portugal, apenas são

permitidos os sistemas de recom-

pensas e de donativos. No seu estu-do, a European Crowdfunding Ne-twork concluiu que, na maioria, os

empreendedores europeus optampelo crowdfunding de recompen-sas. Por outro lado, há ainda outros

países europeus (44%), que prefe-rem o crowdfunding equity.

Tal como Portugal, também aDinamarca, França, Irlanda, Itáliae Suíça praticam um modelo decrowdfunding totalmente atravésde recompensas. Contrariamente,a Áustria, a Finlândia e a Suéciadedicam-se inteiramente ao cro-wdfunding equity. A Alemanha, oReino Unido e a Holanda, por sua

vez, adoptaram um regime misto,mas o segundo modelo é o mais uti-lizado nestes países.

Henrique Andrade, um dos res-ponsáveis pela plataforma portu-guesa Zarpante, acredita que, se

Portugal adoptasse o modelo de

crowdfunding equity , "isso ajudariamuito a alcançar o patamar já con-seguido noutros países da Europa e

da América do Norte", afirmou.A organização europeia concluiu

que 66,7% dos projectos conse-guem obter o valor que se propu-seram no início da candidatura. Na

plataforma nacional PPL, a taxa desucesso encontra-se nos 49% - pra-ticamente metade dos projectos pu-blicados conseguiu alcançar o seu

objectivo.Na Massivemov, esse valor situa-

se ligeiramente abaixo (42%). Nesta

plataforma, João Pereira explicouque "90% dos projectos costu-mam ultrapassar o valor inicial-mente pedido e 50% ultrapassammesmo o seu objectivo em mais de25%". Texto editado por RaquelAlmeida Correia

A equipa da Onf rame recorreu ao apoio da multidão para dar outra vida às fotos digitais

As pessoaspassam aconfiar maisneste tipo definanciamentoquandoentendem que ocrowdfundingé mais um canalde venda, defendeJoão Pereira,da Massivemov

Onframe: a arte de eternizar memóriasultrapassou as expectativas de financiamentoAna Salomé Ferreira

Passaram-se 16 anos entre as pri-meiras referências ao crowdfun-ding, quando uma banda britânicalançou uma campanha de recolhade fundos para financiar uma tour-née nos Estados Unidos, e o nasci-mento do maior projecto apoiadopela multidão em Portugal em 2013.O período de incubação da Onfra-

me, que começou um ano antes,foi de sensivelmente 12 meses, paradesenvolver o design do produto e

materializar a ideia. Na base, a in-

tenção de fazer molduras persona-lizadas com as fotografias digitais.Para evitar que a memória se percanos fundos dos novos dispositivostecnológicos.

Conceito concebido, foi altura de

pensar numa forma de financiar o

projecto. Nesse momento, "o cro-wdfunding ainda não tinha surgi-do", explica Pedro Homem, um dos

quatro fundadores da empresa. Aprimeira hipótese que colocaramfoi a de arranjar um investidor. Noentanto, acabaram por conhecer o

crowdfunding através de uma pes-soa que já tinha experimentado edecidiram arriscar.

A hipótese de recorrer ao créditonunca foi posta em cima da mesapor estes empreendedores, queconsideram o "crowdfunding umaboa hipótese porque não tem juros,nem as burocracias da banca."

Tudo começou a 23 de Julho de2013, dia em que deram início aoseu projecto na plataforma portu-guesa Massivemov. Tinham umameta a atingir: conseguir um finan-ciamento de 9500 euros até 27 deSetembro do ano passado. Passadosdois meses, conseguiram excedero orçamento inicial em 705 euros,ao angariarem 10.205 euros e 248apoiantes. Este caso acabou por se

tornar no financiamento mais eleva-do concedido através do crowdfun-ding no ano passado, com uma per-centagem de sucesso de 107%.

Foi, no entanto, ultrapassado emMarço deste ano pelo 3D Antárctidada plataforma PPL, que alcançou21.917 euros e uma taxa de sucessode 110%. Este projecto tinha comoobjectivo angariar 20.000 euros pa-

ra o Grupo Polar da Universidadede Lisboa adquirir um Veículo Aé-reo Não-Tripulado (VANT ou Drone)com vista a construir mapas 3D doterreno na Antárctida.

Na altura, o resultado obtido pelaOnframe foi recebido por estes qua-tro empresários com muito entusias-

mo, mas também com uma grandedose de surpresa à mistura. "Obvia-

mente, quando arrancámos com o

projecto acreditávamos nele e sabía-

mos que seria possível, mas não pen-sámos que o sucesso fosse tão grandecomo foi no início. A receptividadepor parte das pessoas foi muito boa",declarou Pedro Homem.

Depois de terem recebido o fi-nanciamento, estavam reunidasas condições para dar os primeirospassos na concepção da empresa.Utilizaram o dinheiro angariado pa-ra registar a marca e o design, bemcomo para comprar o primeiro ma-terial para arrancarem com a pro-dução. E assim nasceu a Onframe.Para além do financiamento, os fun-dadores da empresa apontam ou-tras vantagens que obtiveram coma utilização do crowdfunding. "Foiuma forma de testarmos o mercadopela primeira vez, de começarmosa ouvir criticas e de percebermosem que é que podíamos melhorar.Conseguimos aprimorar e desen-

volver algumas ideias, foi um bomincentivo", afirmou o arquitecto.

Passados cerca de oito meses deterem alcançado o financiamentoatravés da multidão, Pedro Homemconsidera que "ainda é muito cedo

para falar sobre as vendas", mas,

"para todos os efeitos, estão a cor-rer bem, estão a ser positivas, maspodiam ser melhores", disse ao PÚ-

BLICO. O facto de o mercado portu-guês por vezes não perceber bemem que é que consiste o produtoé um dos factores apontados peloempresário para estes resultados.

Pedro Homem pensa que "é pre-ciso pelo menos mais um ano paraque as pessoas percebam realmen-te o que é o produto e para que se

possa tornar virai". Os fundadoresda Onframe têm como objectivoalcançar outros mercados, come-çando pela Europa. De momento,as encomendas estão disponíveisapenas através do site da empresa,onde cada pessoa pode personalizara sua moldura. Abrir um espaço des-

tinado à venda do produto não se

encontra nos planos dos empresá-rios, visto que o conceito da marcaacabava por se modificar. Mas têm a

ambição de arranjar parcerias comvista a colocarem as Onframe à ven-da noutras lojas. Texto editado porRaquel Almeida Correia

Pedro Homem não esquece a boa receptividade das pessoas