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Brasília - Julho 2014 - Ano III - N° 26 Pra começo de conversa Bangladesch: os primeiros seis meses de um missionário brasileiro Pe. Almir com populares Cuba necessita de missionários Cuba está sedenta por mais missionários brasileiros. Um povo simples e sofredor, per- seguido nos últimos 50 anos, está à espera de reformas em seu país e de mais liber- dade religiosa. (pág. 3 e 4) Camarões: o ensino aos surdos mudos (Pág. 7) “A messe é grande mas os operários são poucos”. Esta realidade aplica-se a Cuba, um país de fala espanhola que está gritando por mais missionários corajosos que enfrentam dificuldades como a li- berdade religiosa plena. Por mais de 50 anos, a Igreja foi abafada por ideologias, porém, as sementes cristãs permanece- ram entre as famílias simples e hoje ne- cessitam de um guia, um pastor. Está na hora de sairmos de nossas fronteiras e lançarmos as redes em águas mais profundos, com mais dificuldade. A Igreja é missionária. O papa pede uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria e pelo gozo de anunciar a novida- de Ad Gentes. Isto significa novos méto- dos, novas estratégias e coragem em anun- ciar num mundo em transformação. O editor. Um dos meios de transporte, o ônibus (pág.5)

Cuba necessita de missionários · Brasília - Julho 2014 - Ano III - N° 26 Pra começo de conversa Bangladesch: os primeiros seis meses de um missionário brasileiro Pe. Almir com

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Brasília - Julho 2014 - Ano III - N° 26

Pra começo de conversa

Bangladesch: os primeiros seis mesesde um missionário brasileiro

Pe. Almir com populares

Cuba necessita de missionáriosCuba está sedenta por maismissionários brasileiros. Umpovo simples e sofredor, per-seguido nos últimos 50 anos,está à espera de reformasem seu país e de mais liber-dade religiosa. (pág. 3 e 4)

Camarões: o ensino aos surdos mudos (Pág. 7)

“A messe é grande mas os operáriossão poucos”. Esta realidade aplica-se aCuba, um país de fala espanhola que estágritando por mais missionários corajososque enfrentam dificuldades como a li-berdade religiosa plena. Por mais de 50anos, a Igreja foi abafada por ideologias,porém, as sementes cristãs permanece-ram entre as famílias simples e hoje ne-cessitam de um guia, um pastor.

Está na hora de sairmos de nossasfronteiras e lançarmos as redes em águasmais profundos, com mais dificuldade. AIgreja é missionária. O papa pede umanova etapa evangelizadora marcada pelaalegria e pelo gozo de anunciar a novida-de Ad Gentes. Isto significa novos méto-dos, novas estratégias e coragem em anun-ciar num mundo em transformação.O editor.

Um dos meios de transporte, o ônibus

(pág.5)

TESTEMUNHO2

Jornal Digital das Pontifícias Obras Missionárias do Brasil

Brasília - Julho de 2014 - Ano III - N° 26

Diretor: Pe. Camilo Pauletti

Edição: Jorn. Camilo Simon (Reg. Prof. n. 3248)

SGAN 905 - 70790-050 Brasília - DF Fone 3340.4494E-mail: [email protected]

ÍNDIAMOÇAMBIQUE

BRASIL

INDONÉSIARecebi pela primeira vez o noticiário Parceiros dasMissões. Obrigada pela sua gentileza. Li e gosteimuito. Sou missionária na Indonésia. Depois de viver16 anos na missão das Filipinas, fui enviadajuntamente com uma Irmã Filipina para iniciar amissão na Indonésia. Aqui estou há quase quatro anos.A vida na Indonésia e muito simples. Os primeirosanos foram dedicados ao aprendizado da língua(Bahasa Indonésia). No momento já estamosdedicando a atividades apostólicas junto a jovensuniversitárias, leigos dominicanos, crianças do bairro,com aulas de língua inglesa, liturgia da Palavra eatendimento geral a quem nos procura para rezarmosjuntos. Somos três irmãs na comunidade; duasbrasileiras e uma Filipina, das Irmãs Dominicanas daBeata Imelda, fundada pelo dominicano Padre PioGiocondo Lorgnia, Op. A Indonésia como sabem, éde maioria islâmica, mas a convivência é fraterna ebem aceita. Com frequência há diversas celebraçõescom fiéis de várias religiões e todos celebram omesmo Deus, Pai e criador.Mais uma vez obrigada pela gentileza e por terenviado o jornal Parceiros das Missões.Em Cristo, missionário do Pai,Irma Benedita Aparecida Nogueira, OP.

Bondade e alegria!Todos sabemos que na Índia é difícil a entrada deestrangeiros e podem permanecer apenas seis mesese depois saem e voltam. É assim que fazemos. Temosna comunidade da Índia atualmente três irmãsindianas e uma brasileira que permanece seis mesese depois a outra se revesa para ajuda-las na formaçãoe na missão. Graças a Deus que temos as indianasque foram formadas nas Filipinas e em Roma e assima missão pode existir.Somos agradecidas pela sua ajuda, preocupação edelicadeza por cada uma das missionárias que atuamem realidades pobres. Elas ficam realmente muitoagradecidas por esse gesto fraterno solidário.Que o bom Deus continue abençoando o senhor etodas as famílias que ajudam sua instituição.Agradecemos a todos pedindo a nosso Senhor por cadaum bênção e proteção.No Imaculado Coração de Maria,Ir. Mariza Rosseto mc.NOTA: esta carta, bem como a do lado foi escrita aoPe.José Stella, diretor da Obras dos CenáculosMissionários.

Bondade e Ale-gria!Agradeço a suacomunicação etambém pelapreocupação deestar semprenos benefician-do com vossagenerosidade.Desculpe-me denão ter escritoa n t e s , p o i saguardava umatransferência, aqual vos comuni-co que no mo-mento encon-tro-me em Mo-çambique, namesma comunidade aonde reside a Ir. Marilene que éuma das contempladas do vosso projeto.Somos três brasileiras nesta comunidade, que estáiniciando os seus trabalhos missionários com grandesdesafios o que faz parte de todo início de missão.Com o coração cheio de gratidão as minhas sauda-ções fraterna em Cristo.Sempre unidos na oração e missão.Ir. Maria Sales Ferreira mc

Ir. Maria com crianças

.

Fiquei muito feliz em receber mais esta edição doJornal Parceiros das Missões.Muito obrigada por enviar-me sempre este Jornal,que por sinal está muito bonito.Felicito a equipe pela elaboração deste elo deunidade entre os missionários e missionárias domundoUm fraterno abraço Ir. Cleria,cf.

GUINÉ BISSAU

Ok..obrigado..nossas preces...Pe. Lídio.

TESTEMUNHO 3

Em Cuba trabalham cerca de 20 missionárias emissionários brasileiros. Em sinal de solidariedade eapoio, o diretor das Pontifícias Obras Missionárias(POM) no Brasil, padre Camilo Pauletti, esteve na-quele país caribenho entre os dias 30 de maio e 09 dejunho. Ele relata o que encontrou por lá.

Cuba, país de missãoAndei pelo interior, no lado oriente de Cuba e

partilho o que percebi da realidade. A região é a par-te mais pobre. Conheci também as atividades dos nos-sos missionários e missionárias. Encontrei bispos,padres, religiosos e visitei casas simples do povo.Celebrei em pequenos povoados e na cidade. Fiqueiquatro dias na capital Havana, cidade que tem maisrecursos e concentra maior número de população,cerca de 2,4 milhões de habitantes.

A Igreja Católica procura marcar presença nasperiferias. Lá não é permitido construir capelas, masse pode obter casas e nelas realizar os cultos e acatequese. Além disso, algumas paróquias aprovei-tam o espaço das casas para fazer comida e distri-buir às pessoas mais necessitadas. Há uma preocupa-ção em despertar o compromisso dos leigos para queassumam as atividades nas pequenas comunidades.Muitos jovens já saíram do país e outros esperamoportunidade de ir principalmente aos Estados Uni-dos, sobretudo por que não veem boas perspectivasno país. Diante disso partem em busca de trabalhopara ajudar no sustento de suas famílias. Fala-se quemais de 2 milhões de cubanos estão fora do país eoutros 11 milhões vivem em Cuba. O salário base éde 250 pesos cubanos, o que equivale a 10 dólares.Os médicos, engenheiros e alguns outros profissio-nais recebem entre 20 e 30 dólares. Há duas moedasoficiais, o peso cubado e o cuc (peso convertível).Um cuc equivale a 25 pesos cubanos.

A terra é boa, mas a produção muito limitada.O camponês não tem estímulo para produzir, pois osprodutos têm pouco valor. Certos produtos somentesão vendidos na moeda de mais valor. A comida écontrolada através de uma caderneta onde se com-

pra abaixo do valor, mas a quantidade é limitada enão é suficiente para a família. Várias vezes ouvimosa palavra fome. Acontecem também desvios de pro-dutos do governo que são comercializados numa es-pécie de mercado “paralelo”. Outros vendem coisasilegais arriscando serem presos. Fala-se que os fis-cais sabem o que acontece, mas fazem vista grossa.

O clima é de medo, insegurança e falta de op-ções. As pessoas não podem se expressar livremente.As prisões estão cheias e é difícil entrar nelas paradar assistência religiosa. Dizem que o índice de suicí-dio nas prisões é alto. Muitas pessoas sofrem comdepressão, atacadas dos nervos, fumam e consomembebidas alcoólicas.

Famílias inteiras dependem dos filhos que asenviem algum recurso do exterior para se defende-rem diante das necessidades. Sem a devida licença,ninguém pode reformar, reconstruir ou pintar a pró-pria casa. Algumas delas estão caindo, parecem aban-donadas. O dinheiro e o material de construção sãoescassos. Nas ruas circulam carros velhos, táxi bici-cletas ou carroças puxadas com cavalo. Caminhõestransportam pessoas com pouca ventilação e andamsuperlotados.

As ruas são limpas, o povo é acolhedor e ale-gre, mas apresenta feições de preocupação. O co-mércio no interior é precário, já na capital, há maisfacilidade. Em geral, é mais fácil encontrar bebidasdo que comida.

As estradas são boas, outras razoáveis, mas nasperiferias estão em pior estado. Há muitos tratores,seja para o trabalho, para transportar produtos oupessoas. Os transportes bons ficam para os turistasou pessoas do governo. Tudo o que vale mais perten-ce ao governo: terra, transportes, hotéis, escolas,hospitais, os melhores comércios...

A Igreja católica está organizada em 11dioceses. Em todo o país trabalham cerca de 350 mis-sionários entre padres e religiosos, a metade, estran-geiros. No passado, muitas congregações religiosas

Cuba necessita com urgência de mais missionários

Pe. Camilo reuniu-se com dois grupos de missionários brasileiros

tinham escolas, espaços sociais deatendimento, igrejas e outras ofi-cinas. Quase tudo foi tomado pelogoverno depois da revolução em1959 sob a coordenação de FidelCastro. Como sabemos, hoje o go-verno continua com seu irmãoRaul Castro. Algumas casas meno-res e igrejas estão sendo devolvi-das às dioceses.

No começo da revolução,muitos missionários foram expul-sos ou obrigados a deixar o país.Alguns resistiram, porém foramdesprezados, insultados e humi-lhados. Grande parte das constru-ções estão como foram deixadasno começo da revolução. Quantoàs repartições públicas, algumasforam conservadas e outrasconstruídas novas. Na capital Ha-vana se encontram as construçõesmais bonitas. Quanto mais longe da capital, mais sepercebe o abandono. Na parte oriental da Ilha, algu-mas cidades parecem estar em ruínas.

Neste momento da história de Cuba, a Igrejatem valor fundamental. São poucos os missionários,mas eles ajudam a manter viva a esperança na vidado povo. Diante das desilusões e dos sofrimentos,procuram consolo e força nos missionários. Os adul-tos procuram formação, pois querem receber os sa-cramentos.

Testemunhei com alegria a bonita presença dosnossos missionários brasileiros, que são em torno de20, alguns chegando e outros saindo. Em dois mo-mentos, com diferentes grupos, tivemos a oportuni-dade de nos encontrar para partilhar seus trabalhos.Pediram muitas notícias do Brasil. Também celebra-mos e confraternizamos. Na missão eles marcam pre-sença, se doam, escutam, rezam, abençoam e acom-panham os que mais sofrem. Eles também sofrem comas limitações, com a situação precária do povo e nosseus trabalhos, mas é muito bom ouvir deles que es-tão contentes por estarem aí. Sempre há um poucode medo, pois o controle é forte, mas manifestamalegria na missão. Atendem nos bairros pobres, nospovoados do interior, visitam doentes e apoiam pe-quenos projetos de promoção humana.

Irmã Maria de Los Angels, uma missionária cu-bana, contou-me que sua vocação surgiu por causado testemunho das Irmãs brasileiras. “A maior misé-ria que temos é a falta de liberdade. Colocaram-nosmuito medo e uma dupla moral”, disse a religiosa eagradece a coragem dos missionários brasileiros quetrabalham com alegria.

Os nossos missionários sabem da importânciade sua presença neste país. Com amor, escutam aspessoas e elas confiam neles. Mas falam também, queprecisam de mais gente para dar conta da missão.Dos próprios bispos ouvi o apelo para que o Brasilenvie mais missionários e missionárias a Cuba, pois

com facilidade se identificam com o povo e fazemum bom trabalho.

Os dias vividos em vários pontos da Ilha foramintensos. Percebi a alegria dos missionários com avisita. Por isso, bendizemos a Deus pelo amor, pelobem, a presença de fé e luz que eles representamnessa terra sofrida. (Pe. Camilo Pauletti)

Pe. Camilo ao centro com dois missionários brasileiros

Restaurante coberto de palha

Pe.Camilo visitando uma família

TESTEMUNHO 5

Caros leitores do jornal Parceiros das Missões,paz e bem!!!

Eu sou Almir Azevedo, um jovem sacerdotemissionário. Sou natural da paróquia São Sebastião,em Matinha, um pequeno município no estado doMaranhão. Fui ordenado sacerdote no dia 23 de julhode 2011.

Antes de entrar no seminário do PIME(Pontifício Instituto das Missões), além de trabalharcom as comunidades da paróquia São Sebastião,militei por alguns anos na Pastoral da Juventude.Neste organismo jovem, que é a PJ, tive a graça deencontrar muitas pessoas que me ajudaram a crescerna fé. Pois, aquele era um tempo importante daminha existência de adolescente-jovem, que estavafazendo algumas escolhas de vida. Naquele períodocomo agora, eu era e continuo um homem apaixonadopor futebol, muito respeitoso das tradições folclóricase culturais do meu amado Maranhão, (Bumba-Meu-Boi, Tambor de Criola, etc, etc), e também um

assíduo leitor de literatura brasileira, em particularde Machado de Assis, Graciliano Ramos, ClariceLispector, Jorge Amado entre outros.

Depois de um longo percurso formativo nosseminários do PIME, finalmente conseguir alcançarBangladesch, missão onde fui destinado comomissionário pelos meus superiores. Cheguei aquisomente seis meses atrás, mas já me sinto em casa.Não falo ainda a língua, mas não importa, tenho todaa vida para poder aprender este difícil e fascinanteidioma. Eu estou somente no início de uma aventuraque, espero dure toda a minha vida.

Como disse antes, depois de seis meses quecheguei aqui em Bangladesch, começo a tomar maisconsciência desta nova realidade, muito diferentedaquela brasileira, italiana e americana, que tive a

oportunidade de conhecer nestes últimos anos. Digo,com toda sinceridade que não está sendo nada fácilpara mim, ansioso e às vezes impaciente, poder meadaptar-me neste novo mundo. É que às vezes asrealidades novas nos assustam. Eu porém, apenasrecém-chegado aqui, como missionário, estoutentando de acolher em mim esta nova realidade,com tudo aquilo que esta comporta. Estou fazendoum grande esforço para não dar exagerada atençãoaos aspectos nagativos deste país, que infelizmentea minha inteligência consegue identificar com muitarapidez. As vezes, direi, até sem fazer esforço deraciocínio. Eu peço todos os dias que Deus me ajudea permanecer aqui, como alguém que precisaaprender a conviver com o diferente, vivendo assim,dia a pós dia, o carisma missionário que recebi deJesus. Pois acredito que o missionário é alguém quenão tem medo do diferente, mas respeitando taisaspectos, com coragem encontra espaços para seinserir em uma outra realidade, assim tão “distante”da sua cultura de origem.

Eu estou muito contente de poderdescobrir este ambiente missionário, queé Bangladesch. E para conhecer melhoreste país entre uma pausa e outra daminha escola, faço algumas viagens queme ajudam a tomar melhor consciênciada realidade na qual me encontro. Étambém uma possibilidade para que eupossa conhecer melhor as missões ondeo PIME atua. É maravilhoso poder verpessoalmente todo o bem que osmissionários fazem em nome doevangelho. Conhecendo as missões mesinto ainda muito mais fascinado, eassim, me empenho ainda mais no estudoda língua, pois esta me abre muitoshorizontes no mundo bengalês.

Eu estou morando em umaparóquia na periferia de Dhaka, a capitaldo Bangladesh. Não tenho ainda nenhumempenho pastoral, pelo fato de não falar

a língua. Porém, estou descobrindo o quanto apresença cristã, embora silenciosa, no meio de ummundo absolutamente islâmico faz muita diferença.Os missionários são muito respeitados por todo o bemque fazem às pessoas, sem olhar a qual religiãopertencem. E assim, um passo depois do outro, euestou aprendendo a ser missionário em um paísmuçulmano. O trabalho missionário aqui é mínimo elento, mas muito gratificante, porque fazemos emnome de Cristo.

Termino portanto, com as entusiasmantes esaudosas palavras de São Paulo que disse aosfilipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito,alegrai-vos! Seja a vossa amabilidade conhecida detodos! O Senhor está próximo”. (Fl, 4, 4-5).Com amizade e espírito missionário, Pe. Almir

Bangladesch: os seis meses do Pe. Almir

Pe. Almir, de amarelo em meio aos jovens

TESTEMUNHO6

A partir de uma experiência intimacom Jesus e com o Seu Evangelho e inseridonuma comunidade de fé, senti-meimpelido pelo Espírito Santo e pelo oEvangelho de Jesus Cristo a desinstalar-me e partir em Missão.Partir pra onde? Prá qual Missão? Onde eume encontrava não seria uma terra ondeeu pudesse exercer a minha missionareidade? Derepente a resposta poderia ser sim. Mas comoexplicar uma permanência em um determinado lugaronde, se espera, que todos já tiveram a oportunidadede ouvir falar de Jesus e do Seu Evangelho?

A decisão de partir, faz-me viver o “Ide” deJesus. ( Mt 28,19-20). Nestes versículos aparece omomento em que o Ressuscitado envia os seus apregar o Evangelho em todos os tempos e lugares,para que a fé Nele se estenda a todos os cantos daTerra. (Evangelii Gaudium,19). Na Palavra de Deusaparece constantemente este dinamismo de “saída”,que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitoua chamada para partir rumo a uma nova terra (cf.Gn 12,1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: “Vai,Eu te envio” (Ex 3,10), e fez sair o povo para a terraprometida (Cf. Ex3,17). A Jeremias disse: “Irás aondeEu te enviar” (Jr 1,7). Naquele “Ide” de Jesus, estãopresentes os cenários e os desafios sempre novos damissão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somoschamados a esta nova “saída” missionária. Cadacristão e cada comunidade há de discernir qual é ocaminho que o Senhor lhe pede, mas todos somosconvidados a aceitar esta chamada: sair da própriacomodidade e ter a coragem de alcançar todas asperiferias que precisam da luz do Evangelho (EG 20.Talvez aí esteja a resposta à pergunta: Partir praonde? Quanto à Missão esta não é minha e sim deDeus. Assim, faz-me acreditar que a intimidade comJesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão“reveste essencialmente a forma de comunhãomissionária”. Fiel ao modelo do Mestre, é vital quehoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todose em todos os lugares, em todas as ocasiões, semdemora, sem repugnâncias e sem medo.

A alegria do Evangelho é para todo o povo,não se pode excluir ninguém… (EG 23). Desta forma,a Igreja em “saída” é a comunidade de discípulosmissionários que “primeireiam”, que se envolvem,

que acompanham, que frutificam e festejam.Primeireiam – desculpai o neologismo, tomam ainiciativa! A comunidade missionária experimenta queo Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf.1Jo 4,10), e, por isso, ela sabe ir à frente, tomariniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar osafastados e chegar às encruzilhadas dos caminhospara convidar os excluidos… (EG 24).

Tomado por essa alegria e como discípulomissionário assim cheguei ao continente africano,Província da Niassa, Entre Lagos – Moçambique. Aquiencontrei um povo sedento da Palavra de Deus. UmaIgreja toda ela ministerial. Uma Igreja que ansiosaesperava por um Pastor que os escutasse, um Pastorque caminhasse junto.

Assim cheguei, desarmado da minha cultura,dos meus costumes, das minhas vontades para mefazer um com eles, respeitando a sua cultura, os seuscostumes e o seu modo de ser e viver como Igreja. Jáaprendi com esse povo que, ao que parece já vivemessa “Alegria” do Evangelho mesmo antes do PapaFrancisco escrever a sua Exortação Apostólica a qualtomo como referência pra escrever esse texto.

Como comunidade evangelizadora, jubilosasabe sempre “festejar”. Celebra e festeja cadapequena vitória, cada passo em frente naevangelização. No meio dessa exigência diária defazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na Liturgia. A Igreja evangeliza e seevangeliza com a beleza da Liturgia, que é tambémcelebração da atividade evangelizadora e parte deum renovado impulso para se dar. (EG 24).Portanto, me alegro com esse povo, me alegro com aIgreja, me alegro com o Evangelho que me fazemsentir e viver a ALEGRIA DE SER MISSIONÁRIO.

Pe. Dilton Maria Pinto

Pe. Dilton emMoçambique:vivo a alegria deser missionário

Pe. Dilton com a comunidade

TESTEMUNHO 7

“Vim para Camarões, país da África coma certeza de vir partilhar da nossa pobrezaenquanto Igreja do Brasil e também para pagaruma dívida com nossos irmãos negros, escravosno nosso país, colaborando para o seucrescimento. Muito do que temos e somos hojenão dependeu também de lágrimas e sanguedos nossos irmãos africanos? Aqui descobri queessa dívida nunca vai ser saldada. Então tentoviver no meio deles como irmã mais velha, commuito amor, fé, confiança e perseverança”.Foicom esta disposição que a Ir. Teresinha Souza,das Dominicanas da Beata Imelda, juntamentecom as colegas IrmãsTania Regina Lima e NeusaMaria Souza se embrenharam na cidade deBertoua, Camarões na África Central. Alidesempenham sua vocação como missionáriasa serviço do Reino.

Movidas pelo ardor missionário, as religiosasse dedicam à vida paroquial, ao ensino a surdos-

mudos, a um colégio junto com outra congregação,que é sustentado por famílias italianas

Relata Ir. Teresinha que o povo é alegre, gostade cantar, dançar, ouvir música. Um povo aberto ecomunicativo. As celebrações e reuniões sãoanimadas, com a participaçao de adultos, jovens,velhos e crianças desde a mais tenra idade.

No entanto, são grandes as dificuldades queas missionárias enfrentam. “O dia a dia aqui é muitovariado. Na nossa comunidade e para várias famílias,a jornada começa às cinco horas da manhã ou mesmoantes, sobretudo para estudantes e professores queprecisam estudar ou preparar os cursos. Nessemomento estamos com problema de eletricidade. Aa energia é cortada quase todas as noites a partir de18 horas para voltar somente às 22-23 horas, quandovolta...Durante o dia inúmeras vezes sofremos dessescortes de luz...computadores, geladeiras,frigoríficos, sao constantemente afetados, por causadisso.

A escola e o trabalho administrativo segue ohorário normal. Os que trabalham por conta própria

e na agricultura (uma grande maioria) o trabalhocomeça muito cedo e termina com a chegada danoite.

Além disso, há problemas estruturaisque exigem muito trabalho. Diz Ir. Teresinha:”doiver a pobreza e o governo direcionando suas receitaspara coisas secundárias quando falta o essencial, oindispensável. Ver lares começando hoje e sedesfazendo amanhã por falta de formação para ocasamento. Tantos jovens começam a vida a dois nosentido contrário”.

A comunidade , no entanto tem um grandeapoio que é o Senhor Jesus: “A oração pessoal é meuponto de apoio. O amor de Jesus Eucarístico e meuamor por Ele. O Emanuel, o Deus conosco,vive nomeio de nós, pão para a caminhada, amigo nas horasdifíceis, alegria e recompensa sempre. Coloco tudono Coração Eucarístico de Jesus e tento conservar ocontato o mais possiível pois sei que sozinha eu nuncapoderia conseguir continuar esse engajamento.Preciso da ajuda, do apoio e da amizade da minhafamília, irmãs e pessoas amigas”.

E conclui: “é grande a alegria de ver essaporção de Igreja camarunenese crescendo eassumindo sua responsabilidade...Ver as vocaçõespara a vida religiosa e sacerdotal aumentando dia adia. É a Igreja crescendo.

Camarões: Dominicanas trabalham com surdos-mudos

Ir. Teresinha ensinado aluno surdo-mudo

Reunião com famílias

Na aulacom alunossurdos-mudos

TESTEMUNHO8

As religiosas brasileiras que trabalham no Hai-ti pertencentes ao Projeto Missão Haiti da Confe-rência dos Religiosos do Brasil em parceria com aCNBB e Cáritas brasileira tem muito a contar sobresuas experiências junto ao povo sofrido. Ir. IdeneideRego, piauiense de Barras, da Comunidade Intercon-gregacional Nazaré está inserida no bairro de Liva-vois – Santos 19, em Porto Príncipe, a capital.

Para ela esta decisão de ir ao Haiti é fruto deuma convicção de que ser missionária é ir aos luga-res que o próprio Jesus iria, por isso a missão se fun-damenta na missão de Jesus. A escuta da palavra deDeus e a eucaristia nos alimenta e nos fortalece es-piritualmente. A convivência fraterna e o contato como povo nos ajuda a consolidar com mais profundida-de a missão.

Explica a religiosa que a comunidadedesenvolve atividades sócio educativas com gruposde crianças e adolescentes. “Com os adultosdesenvolvemos trabalhos baseados na economiasolidária, formação de liderança e superação detraumas e conflitos, horta e cozinha comunitária,culinária, curso de corte de costura e bordado”.

O Haiti é considerado um dos países maispobres do mundo agravando ainda mais depois doterremoto que deixou toda a população no chão.Graças à resistência que eles trazem dentro de sitentam se reerguer do nada e aos poucos vão sereestruturando. Infelizmente as políticas públicas edemais lideranças que poderiam fazer algo a maispara melhorar a situação do país se omitedemasiadamente. Com isso as pessoas vivem emsituação que vai muito além da miséria. Nada quepossa ser comparado é a situação de sobrevivênciaem que eles vivem chegando a passar até três diassem se alimentarem. Os que ainda possuem pequenoscomércios ambulantes quando conseguem venderseus produtos, o lucro mal dá para o sustento diário.Com isso a perspectiva de vida deles chega a ser de50 a 60 anos.

Apesar de todos os obstáculos, as religiosassentem-se felizes por exercer este trabalho, “poisestamos inseridas numa missão muito próxima damissão de Jesus Cristo. Além disso, somos sinal deesperança e de acolhimento de Deus na vida deles.Por outro lado,as dificuldades são muitas: Percebe-se que a situação de miséria do País é um marcohistórico e também está relacionada à questões

políticas, culturais, sociais, religiosas... Com isso otrabalho realizado com uma minoria em relação àpopulação torna-se insignificante para uma mudançana vida do povo. Tem ainda outros problemas, comoa omissão da Igreja local que muitas vezes centralizaa sua função em torno dos sacramentos.Acompreensão da língua que é essencial para secomunicar e ainda é um obstáculo.

Afirma Ir. Ideneide que a missão não é nossa esim do Espírito Santo. “Assim senti-me interpelada avim para esta missão no Haiti, que apesar de tantosdesafios me sinto muito feliz e rezo muito para nuncaperder este foco da Paixão por Jesus e pelaHumanidade. É isto que me dá sentido. Por isso,quando a gente encontra sentido no que se faz,mesmo que os obstáculos apareçam nada nos abalae desanima. Assim acontece comigo. Sinto saudadeda família, da congregação, dos amigos eprincipalmente da língua, mas o amor com queassumo esta missão faz com que tudo suporte,fazendo com que a saudade me leva a questionar osentido que dou a esta missão”.

O sentido de ser missionária no Haiti

Ir. Ideneide junto com crianças

O carinho da criançada

O atendimento maternal

TESTEMUNHO9

“Deus percebe a necessidade da humanidadee suscita pessoas para oferecer a resposta esperadaou reconduzir as pessoas ao “caminho” dosmandamentos divinos. Cabe ao ser humano ouvir ochamado e responder afirmativamente, saindo de sie doando-se ao outro em qualquer lugar do mundopara anunciar as maravilhas que Deus realiza na suaprópria existência. (At 2, 5-13)

Toda missão é itinerante e colhe frutos naperseverança, necessita presença, assumir um“lugar” histórico e um contexto cultural (At 17, 22-31). A referência é o Evangelho de Jesus Cristo. Amissão é maior, não está limitada a determinadosdestinatários ou realidades culturais. A messe égrande e fica maior a cada pessoa que acolhemos noBatismo e a cada comunidade que fundamos, pois amissão cresce na direção da pessoa e do mundo!

O povo angolano ésábio quando afirma: “Husu-lila tchifulchi tunamonoho,hasulila uthu kutwamwe-nho”. (Onde a terra acabavemos, onde acabam as pes-soas não o vemos.)

Os limites da terranós sabemos, mesmo assimdevemos avançar para osconfins do mundo, os limitesdo ser humano ainda sãodesconhecidos... oEvangelho deve entãopenetrar as estruturas eculturas onde vive o ser humano, motivando para ocrescimento em comum (Mc 16,15).

Aprofundar o mistério da fé e a doutrina cristãa todo batizado, encantá-lo com a vivência do Reinode Deus e ainda provocar o efeito multiplicador énosso desafio, pois devemos dar condições para quetodo batizado persevere na sua missão com alegria eitinerância. (At 8, 26-40)

Não podemos nos acomodar com os batismosque celebramos, com as comunidades que fundamos;devemos proclamar e construir o Reino de Deus. Aitinerância não é só percorrer caminhos, mas buscarformas, métodos, para aproximar as pessoas doEvangelho e este das pessoas (1Cor 11, 17-26).

Vivemos numa comunidade com 30 milhabitantes, região da paróquia Santo Antônio(comunas de Cavungo, Lóvua e Caianda) numa áreade 22 mil km2 dando uma média de 1,36 pessoas porKm2... área vasta e pouco habitada. O cristianismoainda é nascente, por isso minoritário. Batizamos 798pessoas e fundamos oito comunidades de um totalde 29.

Assumimos também a paróquia de São Bento,compondo assim todo município do Alto Zambeze,cerca de 48 mil km2.

Neste ano, acolhemos duas missionárias, Ir.Dorinha e Ir. Vininha, Irmãs Franciscanas de NossaSenhora do Amparo. É a Providência Divina.

Do lugar onde estamos contemplamos adimensão do Reino de Deus que anunciamos e acomunhão do Povo de Deus que promovemos.Encantar as pessoas para o seguimento de Jesus Cristoé desafiante. A itinerância pode se tornar uma fugapela incapacidade de perseverar nestes desafios, éa tentação na missão, seja local, além fronteiras ouAd Gentes. Superar esta tentação exige vivênciafraterna, paciência histórica e clareza na percepçãoda missão. (Mc 4, 3-9).

Vivemos um tempo de graça na diocese deLwena, pois o bispo Dom Jesus Tirso Blanco, convo-cou a todos para reflexão através do sínodo diocesa-no. Este sínodo é uma necessidade, pois, nas pala-vras de nosso bispo: “A nossa Diocese, depois de um

período inicial de grandeexpansão, viveu um tempocaracterizado não só peladestruição ou grave deterio-rização de mais de sessentadas suas estruturas, mastambém pela dispersão deinúmeras comunidades porcausa das guerras de inde-pendência e sobretudo pelaguerra fratricida que assolouo país. Houve uma diminui-ção drástica de missionáriose uma dispersão notável demuitos fiéis. Mas temos queagradecer pastores e fiéis,

principalmente os catequistas, que mantiveram vivaa chama da fé do nosso povo.

Com o advento da paz foi possível areinstalação das populações nos locais de origem e aabertura de muitas missões. Atualmente, após maisde dez anos de paz, vivemos um tempo privilegiado:há liberdade religiosa, e mesmo com as dificuldadesinerentes ao estado dos caminhos, é possível chegaraté aos locais mais recônditos da nossa Diocese.

Angola tem 522 anos de evangelização eMoxico apenas 80, parte deles vividos em conflitosarmados, com a carência de missionários. Por issonão é de admirar que o nosso território tenha umadas percentagens mais baixas de católicos em nívelnacional.”

Que a exemplo de Jesus que tem amado osseus que estavam no mundo até o fim (Jo 13,1) eque a atitude apressada de Maria indo ao encontrode Isabel para comunicar e celebrar as maravilhasde Deus (Lc 1, 39-40), motive cada batizado a darpassos largos e decididos na direção da pessoa e domundo”. Pe. João Lúcio Benfica.

Angola: sacramentinos em missão em Cavungo

Os sacramentinos Pe. João Lúcio Benficae Pe. Renato Dutra Borges, da diocese deCaratinga MG, são como missionários na Ango-la. Eis o artigo resumido do Pe. João:

Pe. Renato Pe. João

TESTEMUNHO

As Irmãs Missionárias Capuchinhas estãorealizando um grande trabalho junto à comunidadede Namina, através da Pastoral de Saúde. Um dosgrandes objetivos, neste ano, é a conclusão dasobras do Posto de Saúde, financiado em parte pelaMisereor e com o apoio de toda a comunidade.

Conta Ir. Davina que este primeiro semestrefoi de formação para as mulheres com cursos teó-ricos e práticos mensalmente. Assim em marçohouve formação por conta das novas pessoas, ho-mens e mulheres e, também para aperfeiçoar osconhecimentos adquiridos anteriormente. Aprovei-tamos a presença da irmã Célia a qual ajudou ogrupo no preparo de pomadas e xaropes. Em abril,a formação continua. Desta vez com a Irmã Aíla,para iniciar a formação em Bioenergético. No pri-meiro dia foi feito a retomada do conhecimentodos nomes e usos das plantas no tratamento dedoenças mais comuns entre nós, como a malária,parasitas, constipação, epilepsia, bilharziose emicoses.Todas pareciam muito interessadas naaprendizagem das novas ideias.Em maio, foi a vezde oferecermos o aprendizado dos diferentes usosda mandioca para os novatos.

Foi muito interessante ver o interesse ealegria em descobrir que podemos fazer pratosdeliciosos com a mandioca. Aproveitamos também,para usarmos a nossa moageira de cana e fizemosum sumo para acompanhar os quitutes demandioca.

Destaca Ir. Davina que “em nossaprogramação de formações mensais, aproveitamospara retomar os diferentes usos da mandioca, poisela é abundante por aqui. Assim, fizemos um diainteiro de formação aprendendo mais quatro pratosdiferentes: bagia, beiju(tapioca), bolo, farinha efarofa. É sempre muito interessante contemplar ossemblantes alegres e admirados das pessoas quandoexperimentam novidades em se tratando demandioca, tão abundante e tão pouco diversificadaem sua maneira de consumo diário”.

Capuchinhas destacam a Pastoral da Saúde em Namina, Moçambique

Ir. Davina com a comunidade

As obras do Posto em conclusão

Cursos profissionalizantesAlguns membros da comunidade