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CCuuiiddaaddoorr ddee IIddoossooss
Módulo I
Parabéns por participar de um curso dos
Cursos 24 Horas.
Você está investindo no seu futuro!
Esperamos que este seja o começo de
um grande sucesso em sua carreira.
Desejamos boa sorte e bom estudo!
Em caso de dúvidas, contate-nos pelo
site
www.Cursos24Horas.com.br
Atenciosamente
Equipe Cursos 24 Horas
Sumário
Introdução.....................................................................................................................3
Unidade 1 – O Contexto Social do Idoso no Brasil........................................................6
1.1 – As barreiras da velhice .....................................................................................6
1.2 – Estatuto do Idoso............................................................................................ 12
1.3 – Quais políticas públicas vêm sendo desenvolvidas? ........................................ 18
1.4 – Grandes obstáculos na saúde do idoso ............................................................ 28
Unidade 2 – A Profissão de Cuidador de Idoso no Brasil............................................. 33
2.1 – Contexto sócio-histórico da profissão ............................................................. 34
2.2 – Direitos trabalhistas ........................................................................................ 38
2.3 – Rotinas de trabalho do cuidador de idosos ...................................................... 44
2.4 – Perspectivas de mercado................................................................................. 46
2.5 – O cuidador e os cuidados consigo mesmo....................................................... 48
Conclusão do Módulo I............................................................................................... 54
3
Introdução
Olá, aluno!
Neste curso, conheceremos a fundo a profissão de cuidador de idosos, uma
atividade que vem crescendo a cada dia. Veremos os fatores que tornaram esta atividade
mais presente nos dias de hoje.
Na primeira unidade deste curso, veremos o contexto sociopolítico em que o
idoso está inserido. Abordaremos de maneira pormenorizada, as barreiras que a velhice
impõe às pessoas.
Ainda nesta unidade, veremos detalhadamente o Estatuto do Idoso, bem como a
sua aplicação e em quais aspectos ele deixa de prover a garantia de um futuro no qual os
idosos tenham mais participação e respeito.
Posteriormente, analisaremos quais políticas públicas vêm sendo desenvolvidas
em beneficio dos idosos no Brasil. Também abordaremos os grandes obstáculos que o
idoso deve superar para ter uma relativa qualidade de vida.
Em um segundo momento de nosso curso, trataremos da profissão de cuidador
de idosos, bem como suas especificidades. Apresentaremos o contexto sócio-histórico
da profissão no Brasil. Também abordaremos os direitos trabalhistas destes
profissionais.
A rotina de trabalho será pormenorizadamente estudada, isto é, quais
procedimentos devem ser tomados em determinadas situações. Logo após veremos
quais as perspectivas de trabalho nesta área de atuação. Por fim, trataremos dos
cuidados que o cuidador de idosos deve ter consigo mesmo, de maneira que garanta a
sua saúde e a saúde de seu cliente.
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Na terceira unidade deste curso, conheceremos as necessidades e limitações
físicas de um idoso, isso para que possamos entender sua realidade. Abordaremos os
cuidados gerais que se deve ter com o idoso. Entretanto, também trataremos dos casos
especiais, com necessidades específicas.
Você aprenderá como deve ser a comunicação entre o cuidador e o idoso, quais
os cuidados na hora de falar com uma pessoa idosa e o quão importante é esta
comunicação para a inclusão e, muitas vezes, para a reabilitação do idoso.
Traremos algumas dicas de como se organizar com cada paciente, ou seja, como
elaborar uma ficha de acompanhamento, bem como quais dados e informações devem
figurar nesta planilha. Ao fim desta unidade, traremos uma lista de telefones que pode
ser útil em caso de necessidade.
Na última parte deste curso, você conhecerá os processos de reabilitação pelo
qual passa um idoso. Veremos a importância dos estímulos físicos, para alguém que já
não tem tanta capacidade de se locomover.
Trataremos também dos cuidados com pessoas debilitadas, ou seja, acamadas
e/ou cadeirantes. Neste sentido, outro aspecto que merece um olhar mais atento, é a
reabilitação ocupacional.
Destinamos um tópico ao tema locomoção de idosos, trata-se de um apanhado de
procedimentos que ajudarão o idoso a caminhar e se locomover com maior liberdade.
Trouxemos interessantes dicas de prevenção durante e após os cuidados com o idoso.
Ao fim do nosso curso veremos quais são os suportes que o estado oferece aos
idosos, isto é, em quais aspectos estes suportes prestam auxílio ao idoso e à família.
Encerrando com o tema clínicas de repouso e asilos públicos, estes que são também
nicho de trabalho do profissional cuidador.
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Em suma, traremos relevantes informações a respeito desta profissão que vêm
ganhando cada dia mais espaço em nossa sociedade.
Bom curso!
6
Unidade 1 – O Contexto Social do Idoso no Brasil
Olá,
É bem sabido que no Brasil o idoso ainda é visto como um fardo. Nosso país não
está preparado para atender as necessidades de seus idosos. A sociedade, de um modo
geral, ainda não se deu conta de que o envelhecimento da população mundial é uma
tendência.
Há, sobretudo nos dias de hoje, um preconceito velado em relação ao idoso.
Ainda tem-se a retrograda ideia de que o idoso não pode contribuir com a sociedade. É
preciso atentar-se ao fato de que a velhice é a porta para o conhecimento, e uma
sociedade que não respeita seus idosos, certamente não estará preparada para se
desenvolver social e economicamente.
Bom estudo!
1.1 – As barreiras da velhice
A velhice é considerada a terceira fase
da vida humana. Biologicamente, esta é a
etapa da vida que se caracteriza pela queda
de força e início do processo natural de
degeneração do organismo.
Entretanto, não são somente as
limitações físicas impostas ao idoso, há as
implicações sociais e psicológicas, que
interferem e influenciam no processo de
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envelhecimento. Sabemos que não é raro que estes fatores sejam ignorados.
Há uma teoria, chamada Teoria da Atividade, que explica a redução nas
interações entre os idosos e a sociedade. Esta teoria alega que os idosos desejam se
manter ativos nas interações e contatos sociais. Devemos destacar que a barreira social é
ainda mais cruel, uma vez que acaba por excluir o idoso das atividades sociais.
Esta teoria diz ainda que a diminuição nos processos de interação é resultado de
problemas e pressões, ocorrendo independentemente dos desejos dos idosos. Em suma,
esta “marginalização” ocorre sem que o idoso se dê conta.
É preciso ter em mente que envelhecer é um processo natural, ao qual todos nós
passaremos. O envelhecimento, nas culturas orientais, é sinônimo de sabedoria,
felicidade e controle.
O Brasil, em 2025, terá a sexta maior população de idosos do mundo, serão
aproximadamente 27,2 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Esta informação
projeta um cenário em que ocorrerá um aumento significativo das doenças crônico-
degenerativas, isso em virtude do aumento da expectativa de vida do ser humano.
Neste sentido, a sociedade deve estar preparada para atender às necessidades
desta população. É preciso desenvolver-se não somente no âmbito social, mas também
em relação à infraestrutura, isto é, no sistema de saúde pública e nas políticas públicas
desenvolvidas para estes cidadãos.
Se observarmos com atenção as políticas públicas que vêm sendo desenvolvidas
no amparo aos idosos, veremos que é necessária uma reorganização dos serviços de
saúde.
Vale ressaltar a urgência de se qualificar profissionais de saúde para ofertar
assistência especializada a esta população, sendo que o profissional cuidador ganha
ainda mais relevância neste cenário.
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Se considerarmos o aumento de idosos na população, teremos,
impreterivelmente, um aumento nas categorias profissionais que formam a equipe de
saúde. Sendo assim, teremos, por exemplo, enfermeiros prestando assistência cada vez
mais frequentes ao cliente idoso.
Hoje, em virtude dos avanços tecnológicos e científicos, a expectativa de vida
aumentou consideravelmente. Contudo, é cada vez mais questionável até que ponto esse
aumento no tempo de vida vem acompanhado de qualidade, bem-estar e satisfação
pessoal.
É preciso construir um cenário socioeconômico apropriado para que o
envelhecimento da população não seja concebido como uma fase de dependência e
ociosidade.
De um modo geral, em qualquer parte do mundo onde haja uma pessoa, o
processo de envelhecimento acarretará em desafios, barreiras físicas e sociais. A
maioria das pessoas que ter em sua velhice a autonomia de outrora e deseja contribuir
também junto à família e à sociedade.
Contudo, o processo de envelhecimento traz, obrigatoriamente, algumas
dificuldades. A primeira grande transformação na vida de um idoso é a situação
financeira. É um grande conflito na cabeça de um indivíduo que até ontem era
considerado socialmente ativo e hoje se vê obrigado a retirar-se do mercado, ou seja,
aposentar-se.
Muitas pessoas se equivocam em não considerar o envelhecimento nos países de
terceiro mundo, em virtude da expectativa de vida ser menor, entretanto, pesquisas
apontam que 61% da população mundial, com mais de 60 anos de idade, vive em países
de terceiro mundo. Até 2025, este índice aumentará para 70% da população.
Na sociedade atual tem-se o errôneo conceito de que os idosos recebem
assistência e apoio passivamente. Na verdade, é exatamente o contrário, os idosos, cada
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vez mais, são sustentados por si próprios, realizando, frequentemente, uma grande
variedade de atividades para prover seu sustento.
Ao redor do mundo, a maioria das pessoas continua trabalhando mesmo quando
chega à velhice. Esta contribuição infelizmente não é mensurável, uma vez que a maior
parte deste trabalho não tem registro, sendo realizado informalmente.
Para o idoso, de maneira geral, os dois fatores mais importantes no processo de
envelhecimento são a segurança financeira e a boa saúde. Em muitos países pobres ao
redor do mundo, o idoso não recebe sequer aposentadoria e aqueles que recebem, não
conseguem se manter exclusivamente desta renda.
Gozar de boa saúde é vital para o idoso, não somente porque isso permite que
ele seja autônomo, continue trabalhando e contribuindo para a comunidade em que vive,
mas também o torna parte integrante da sociedade.
Abaixo, um interessante texto a respeito da situação dos idosos no mundo, com
exemplos de vários países e suas políticas públicas de assistência ao idoso:
10
Velhice e desenvolvimento
Através da experiência adquirida ao trabalhar com pessoas idosas, a organização
HelpAge International constatou que a maneira mais eficaz de apoiar os idosos é trabalhar
em projetos que atendam às suas necessidades. Geralmente, estas iniciativas são realizadas
a partir da comunidade. No Sri Lanka, por exemplo, um micro-ônibus foi provido com
equipamentos de atendimento médico primário e abastecido com medicamentos básicos
para visitar comunidades localizadas em regiões de plantações, onde, anteriormente, os
idosos não tinham acesso a nenhum tipo de atendimento médico.
Em Manila, nas Filipinas, os idosos estão sendo treinados para se tornarem agentes
comunitários de saúde, fornecendo atendimento médico básico e educação para outros
idosos na região onde vivem. Em Uganda, por exemplo, um grupo de senhoras idosas usou
uma doação para comprar alguns porcos, os quais estão se reproduzindo e o rendimento
gerado através desta atividade está sendo repartido entre as participantes do grupo para
ajudá-las a pagarem as matrículas escolares dos seus netos (nesta região, muitas crianças
perderam um ou ambos os pais devido à AIDS/SIDA) e comprarem alimentos básicos.
Também foi formado um fundo para ajudar a pagar algumas reformas nas casas das
participantes mais pobres do grupo.
As mulheres são importantes neste nosso mundo que envelhece. Em quase todos os
países do mundo, as mulheres vivem mais do que os homens e, assim, a maioria das pessoas
idosas são mulheres. Em muitos lugares, as meninas e as mulheres têm menos
oportunidades de trabalho e recebem menos educação, atenção médica e nutrição, do que os
meninos e os homens. Isto afeta a saúde, a condição econômica e o potencial de ganho das
mesmas quando chegam a uma idade mais avançada. As mulheres idosas também podem
ter problemas de saúde específicos por terem engravidado e dado à luz várias vezes durante
a juventude.
É muito mais provável que as mulheres vivam sozinhas ao atingirem uma idade
avançada do que os homens. Em muitos lugares, as mulheres tendem a se casarem com
homens mais velhos do que elas. Em comparação com os homens, é menos provável que as
mulheres se casem novamente após ficarem viúvas ou se divorciarem. Além do impacto
11
social e emocional que resulta do fato de viverem sozinhas, é mais provável que as
mulheres idosas vivam em condições de pobreza. Uma mulher que vive sozinha pode ter
maiores dificuldades em ganhar um sustento, especialmente se não tiver o apoio da sua
família.
De acordo com a experiência adquirida através dos nossos programas de crédito
para idosos, as mulheres idosas geralmente não representam muito risco. Elas montam
negócios que são tão bem sucedidos quanto os montados pelos homens (ou ainda
melhores).
A ONU decretou que 1999 é o Ano Internacional dos Idosos. Isto cria uma
oportunidade especial para todos nós considerarmos as necessidades dos idosos de uma
maneira diferente do que é tradicionalmente feito. Devemos valorizar o conhecimento, a
capacidade e a experiência que eles possuem, e incluí-los em trabalhos que venham a
beneficiar não somente eles próprios, mas também a comunidade como um todo.
Fonte: http://tilz.tearfund.org/Portugues/Passo+a+Passo+31-40/Passo+a+Passo+39/Velhice+e+desenvolvimento.htm
Como se percebe, muitos países vêm desenvolvendo ações de assistência ao
idoso. Neste sentido, é possível perceber a preocupação dos governos com esta
população, que em breve será maioria no mundo.
É necessário que o idoso seja encarado como o detentor de um conhecimento
ancestral, só depois de valorizarmos o período da velhice é que nossa sociedade poderá
se desenvolver econômica e socialmente.
12
1.2 – Estatuto do Idoso
No Brasil, foi criado em 1º de
outubro de 2003, o Estatuto do Idoso,
considerando uma pessoa idosa aquela
que tiver idade igual ou superior a 60
anos. O Estatuto surgiu em virtude da
necessidade de se estabelecer o respeito
às pessoas idosas, além de combater os
maus tratos e as violências sofridas pelas
pessoas da terceira idade.
Isso não ocorreu subitamente, passaram-se sete anos até que a lei, que garante os
direitos do idoso, fosse de fato sancionada. O Estatuto do Idoso aborda alguns fatores
que são indispensáveis para uma boa qualidade de vida, vejamos:
� Saúde;
� Transporte coletivo;
� Violência e abandono;
� Entidades de atendimento ao idoso;
� Lazer, cultura e esporte;
� Trabalho;
� Habitação etc.
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Trata-se de uma lei muito complexa, dividida em 118 artigos, que procuram
sanar as necessidades fundamentais do idoso no Brasil. Em outras palavras, trata-se de
uma carta de direitos, que possibilitará ao poder público agir de maneira mais eficiente
no tratamento dos idosos.
Veja alguns pontos que figuram no Estatuto e são fundamentais para o cuidador
de idosos:
� O idoso tem atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde
(SUS);
� O idoso tem direito a medicamentos gratuitos, sobretudo em
casos de doenças crônicas;
� Está garantido ao idoso o direito a um acompanhante, em casos
de internação ou observação;
� Fica terminantemente proibido o reajuste nas mensalidades dos
planos de saúde, tendo como critério a idade do paciente;
� Pessoas com mais de 65 anos têm direito a transporte público
gratuito, bastando apenas a apresentação de um documento que
comprove a idade;
� É obrigatório que todo veículo da rede de transporte público
coletivo tenha 10% de assentos identificados e reservados aos
idosos;
� Todo idoso tem prioridade no embarque dos transportes públicos
coletivos;
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� No caso de transportes coletivos interestaduais, fica assegurada
a cota de dois assentos aos idosos com renda menor ou igual a
dois salários mínimos, e se por algum motivo esta cota exceder, o
idoso tem direito a viajar pagando a passagem com 50% de
desconto;
� É crime previsto em lei, com pena que varia de seis meses a um
ano de reclusão, o ato de discriminar uma pessoa idosa,
impedindo-a ou dificultando-a de exercer sua cidadania;
� Idoso algum poderá ser negligenciado, discriminado ou
violentado;
� O abandono de idoso em hospitais ou clínicas de saúde por parte
da família, sem o devido acompanhamento, é crime passível de
seis meses a um ano de prisão;
� Maus tratos por parte da família como não fornecer os cuidados
mais essenciais, é crime com pena que varia de dois meses a um
ano, além de multa;
� Caso o idoso venha a falecer em razão de sua vivência em
condições precárias, a pena é de quatro a doze anos de prisão;
� Negar assistência ao idoso, omitir socorro, bem como recusar,
retardar ou dificultar sua assistência à saúde é crime com pena
que varia de seis meses a um ano de reclusão;
� Toda pessoa idosa tem direito à liberdade, isto é, tem o direito de
ir e vir, expressar suas convicções religiosas e políticas, bem
como se integrar à vida familiar e social;
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� Se apropriar de um bem ou recurso de um idoso é crime, com
pena que pode chegar a quatro anos de prisão;
� Idosos têm 50% de desconto em atividades de cultura, lazer e
esporte.
De um modo geral, o Estatuto do Idoso e sua base constitucional nos levam à
conclusão que envelhecer é um fato natural, já prolongar a vida é um fato da medicina e
dos progressos científicos.
A grande questão é envelhecer com dignidade, com os direitos resguardados.
Trata-se de um prêmio a ser conquistado, sobretudo pela população mais carente.
Apesar de algumas limitações, o Estatuto proverá, ao menos parcialmente, o direito ao
idoso à inclusão e participação social.
Obviamente, ainda é necessário rever algumas questões no Estatuto do Idoso, ou
seja, as leis que lá figuram estão muito além da infraestrutura necessária para que o
Estatuto seja posto em prática.
Sem dúvida, o Estatuto do Idoso é um grande marco no resguardo dos direitos
das pessoas de idade avançada, vimos que o sistema jurídico se mobilizou em defesa do
idoso, combatendo o desrespeito, o abuso, os maus tratos, as agressões, a violência, o
abandono etc.
Contudo, para que esses avanços se concretizem são necessárias mais ações,
como:
� Criar delegacias e varas especiais de juizado de idosos em todo o Brasil;
� Incentivar a realização de campanhas educativas em todos os níveis
educacionais;
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� Estimular a aplicação de penas alternativas de caráter educativo para os
agressores;
� Criar casas de passagem para idosos necessitados, entre outros.
O tema “envelhecimento da população” está cada vez mais em pauta e é visto
como um dos maiores desafios das agências sociais contemporâneas. Segundo estudos
realizados no Brasil, 80% das pessoas com mais de 65 anos têm boa saúde, isto é,
possuem ao menos a capacidade funcional, já 20% não está em condições de se
locomover, ou seja, não está em condições de ir ao cinema, viajar, sair, enfim, ter vida
social.
É, justamente, estes 20% da população que necessita da assistência do Estado.
Entretanto, não significa que os 80% restantes não precise de assistência como uma rede
de serviços, ou seja, serviços públicos de saúde e previdência social. Em ambos os casos
é preciso ter infraestrutura para prestar estas assistências.
O poder público deve ter em mente que a população está envelhecendo e não
temos a mínima condição de oferecer a assistência necessária às suas necessidades
essenciais. Neste sentido, temos um grande caminho a percorrer e muito que melhorar
em nossas leis.
É necessário muito mais que leis resguardando os direitos dos idosos, na
verdade, é preciso integrar família e sociedade, de maneira que o objetivo seja sempre
amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e garantindo seu direito à vida.
As ações que se referem à saúde, voltadas aos idosos, deveriam privilegiar o
atendimento às doenças mais comuns desta faixa etária, como os problemas de pressão,
as doenças coronárias, a osteoporose, entre outras.
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É preciso levar em conta, também, as ações preventivas como as atividades
físicas e orientação no que tange os hábitos alimentares. Estas ações podem ser
desenvolvidas em , de atendimento às famílias.
As diretrizes que norteiam a Política Nacional de Saúde ao Idoso são:
� Proporcionar ao cidadão um envelhecimento saudável;
� Manutenção da capacidade funcional do idoso;
� Proporcionar assistência às necessidades de saúde do idoso;
� Reabilitação da capacidade funcional comprometida;
� Capacitação dos recursos humanos especializados;
� Apoiar o desenvolvimento de cuidados informais, entre outros.
Em virtude da idade avançada, a assistência à saúde do idoso é bem distinta das
oferecidas às outras faixas etárias. Há uma série de programas de assistência ao idoso no
Brasil, entretanto, estes programas devem investir mais recursos em prevenção, isto sem
dúvida, diminuirá os gastos com tratamento médico.
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1.3 – Quais políticas públicas vêm sendo desenvolvidas?
No cenário atual, o
envelhecimento da população vem
mudando o contexto socioeconômico
nas mais diversas partes do mundo.
Na história das políticas públicas
brasileiras é possível perceber certo
desmazelo em relação à população da
terceira idade.
Diante de uma demanda crescente, as políticas públicas não conseguem
contemplar adequadamente este grupo etário. Trata-se de iniciativas isoladas que não
atendem totalmente às necessidades desta população.
São muitos os preconceitos em relação aos idosos, entre os mais graves se
destaca a incapacidade para aprendizagem, obviamente que esta afirmação é um grande
equívoco, uma vez que não há fundamentação científica para se estabelecer isto.
Desde 1988, o Estado vem se preocupando com este tema, considerando o idoso
como um indivíduo em pleno exercício de sua cidadania. No que se refere à questão
educacional, o Plano Nacional de Educação, de 2001, resguarda o direito à educação
para as pessoas da terceira idade. Isso deve ocorrer em um espaço específico, com
profissionais qualificados, materiais e métodos destinados exclusivamente para este
público.
Segundo Bucci, 2002, as políticas públicas não representam uma força
sobrenatural que irá solucionar todos os problemas sociais instantaneamente. Existem
limitações, porém não se deve também apenas pautar-se nestas, para justificar a falta de
ação.
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As políticas públicas são instrumentos governamentais de ação, baseados por
políticas do Estado e definidas por uma condição social, com a obrigação de
implementação de direitos fundamentais.
Quando pensamos em políticas públicas, devemos levar em consideração o
seguinte cenário: um momento pós-guerra, especificamente a partir da década de 1950,
período no qual se tem políticas assistencialistas que visam garantir o mínimo de bem
estar ao cidadão.
Neste período, direitos ao bem-estar, à saúde e à alimentação eram considerados
dádivas, uma vez que somente uma pequena parcela da população tinha acesso a esses
direitos. Em outras palavras para que você entenda, a população de idosos, de um modo
geral, não tinha direito algum e era ignorada pelo poder público.
Sendo assim, neste contexto globalizado, o Estado não consegue suprir estes
direitos básicos, surgindo aí as políticas públicas, que visam garantir estes direitos
elementares.
No que tange o idoso, as políticas públicas se preocupam com a exclusão social
ao qual este grupo é submetido, uma vez que os direitos elementares deixam de ser
cumpridos.
Estas políticas, de um modo geral, são criadas a partir do momento em que a
constituição deixa de ser acatada no que diz respeito aos direitos comuns de todos os
cidadãos.
O envelhecimento com dignidade não é um tema recente, muito menos algo
inovador que está sendo proposto num âmbito social, mas, sim, um dever de qualquer
cidadão respeitar todas as pessoas sem critério de idade.
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Entretanto, percebemos que é preciso estabelecer pressupostos jurídicos para que
estes direitos sejam resguardados. Com a mudança na estrutura etária da população,
houve a necessidade de uma estratégia de provisão e de cuidados específicos aos idosos.
Outro aspecto que merece um olhar mais atento é o constante crescimento da
população de idosos, sobretudo nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Este
processo está ocorrendo de maneira muito rápida e nossa estrutura atual não dá conta de
suprir as necessidades desta nova população.
Além desse fator, têm-se nos países em desenvolvimento muitos outros
problemas sociais, como alto índice de desemprego, sistemas de saúde e educacional
precários etc. Isso também influencia no processo de envelhecimento, no qual o idoso
está submerso num complexo sistema de degradação social.
Em nossa sociedade muitos são os preconceitos sofridos pelos idosos, isto pode
ocorrer até mesmo na própria família. Diferentemente dos países asiáticos, onde o idoso
é reverenciado e profundamente respeitado, nos países mais jovens, sobretudo nos
países da América Latina, os idosos ainda sofrem com a incoerência do preconceito.
Vejamos alguns casos de preconceito velado em nossa sociedade, com relação às
pessoas idosas:
� Repulsa: Por mais limpo e bem aparentado que esteja o idoso, ele sofre com o
sentimento de nojo das gerações mais jovens, que evitam uma aproximação mais
direta;
� Retrógrado: O conhecimento que carrega o idoso conflita com o pensamento
das novas gerações, especialmente em tempos de internet. Neste sentido, o idoso
é, por vezes, alvo da impaciência dos jovens, uma vez que eles não dominam
com destreza as ferramentas tecnológicas de hoje;
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� Resistência no trabalho: Isto ocorre devido ao conflito de gerações em um
ambiente de trabalho. Um aposentado, por exemplo, que volta à atividade
produtiva, encontra, por parte dos jovens, certa resistência;
� Perda da virilidade: Talvez por desinformação, o idoso passa por situações
constrangedoras em relação à sua atividade sexual, muito embora a ciência
explique o aspecto sexual na terceira idade, o idoso ainda sofre
constrangimentos quando o tema é sexo;
� Caduco: Este termo é bastante usado pelos jovens e designa o idoso que
apresenta esquecimentos, contudo, este tipo de deficiência é causada por
doenças degenerativas como o Mal de Alzheimer. Talvez por ignorância ou
desinformação, os idosos são levados a tratamento quando a doença já se
encontra instalada. Sendo assim, quando um idoso for chamado de “velho
caduco”, sugere-se que se faça uma bateria de exames médicos.
Panorama histórico das políticas públicas no Brasil
Quanto mais aumenta o número de idosos, mais aumentam as necessidades de
suporte por parte do Estado. Neste sentido, além da longevidade que está se
estabelecendo no Brasil, tem-se o problema das demandas das políticas públicas.
Tratando-se de políticas públicas, o idoso começou a ser visto com mais ênfase a
partir da década de 1970, justamente porque neste período ocorreu um aumento
significativo na população desta faixa etária.
Entretanto, nesta época, as questões referentes ao idoso eram timidamente
desenvolvidas, encaradas mais como ações assistencialistas do que propriamente uma
política pública.
No panorama histórico das políticas públicas aos idosos no Brasil, a primeira
ação refere-se ao direito à aposentadoria, concedido aos funcionários dos Correios. Este
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direito foi assegurado em 1888, por meio do decreto n° 9.912-A, no dia 26 de março,
estabelecendo o tempo de 60 anos de idade e 30 anos de serviço para que o indivíduo
pudesse se aposentar.
Nos anos seguintes, começou-se a pensar com mais atenção à questão do idoso
na sociedade. Em 1923, entrou em vigor a lei “Elói Chaves”, que estabeleceu a
previdência social no Brasil, e logo se criou a Caixa de Aposentadoria e Pensões para
empregados de uma empresa de trens, esta lei garantia assistência médica, remédios etc.
Já em 1930, no governo do então presidente Getúlio Vargas, houve uma espécie
de reestruturação da previdência social, sendo estendida para uma maior população de
trabalhadores. Neste mesmo período, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio, com o exclusivo intuito de fiscalizar as ações da Previdência.
Muitos outros decretos foram promulgados com este mesmo intuito de garantir a
seguridade social, e também estabelecer uma espécie de luta contra as necessidades de
toda a população.
Nos anos que se seguiram, especificamente entre as décadas de 1930 e 1950,
houve vários decretos aprovados, com o objetivo de fortalecer as políticas já vigentes,
ao mesmo passo que garantia melhores condições aos trabalhadores, aposentados e
pensionistas.
Entretanto, essas ações não supriram as demandas da época, as propostas eram
insuficientes para dar conta de todos os problemas e questões sociais que envolviam os
idosos.
Nos anos de 1960, este cenário começou a ser melhorado, foi sancionada a lei
orgânica de Previdência Social, lei nº 3.807/60. Após esta lei, as necessidades de grande
parte dos trabalhadores brasileiros passaram a ser atendidas.
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Para atender à população que vive em área rural, foi criado em 1963, o Fundo de
Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), que visava amparar os idosos que
trabalhavam no campo e nas plantações, garantindo-lhes direito à seguridade.
Na mesma década, houve a criação do Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS), que unificou todas as instituições previdenciárias. Posteriormente, foi criado o
Ministério da Previdência e Assistência Social (MPS).
Ao fim da década de 1970, os idosos ganharam mais atenção e foram
enxergados como um público cujas necessidades precisavam ser observadas com mais
cuidado.
Muito embora houvesse muitas ações direcionadas à população idosa, elas eram
em sua grande maioria ineficientes e insuficientes para atender as demandas desta
população.
No Brasil, o primeiro grande encontro que tratava das questões do idoso na
sociedade ocorreu em 1976, levando o nome de “I Seminário Nacional de Estratégias
para o Idoso”, em Brasília.
As demais ações que ocorreram neste período foram desenvolvidas e postas em
prática pela iniciativa privada, em especial pelo SESC – Serviço Social do Comércio.
Entretanto, o idoso ainda não tinha suas necessidades totalmente atendidas.
Em 1980, a discussão sobre a questão do idoso na sociedade se expandiu para o
mundo todo. No ano de 1982, durante a “Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento”
que ocorreu na cidade de Viena, chegou-se ao consenso de que o envelhecimento aos
poucos tomaria uma dimensão populacional muito expressiva, como podemos constatar
ultimamente.
24
Este encontro mundial foi realizado pela ONU e teve como principal objetivo
pensar nas questões que envolvem o envelhecimento, bem como iniciar um programa
internacional de ação para garantir os direitos do idoso.
No mesmo ano foi instituído, por meio do Decreto Federal nº 86.880 de 27 de
janeiro, como o Ano Nacional do Idoso. A partir daí criou-se a comissão nacional para a
coordenação e apresentação de sugestões à situação do idoso na sociedade.
A primeira vez que o idoso é citado em textos constitucionais foi em 1988,
especificamente nos artigos 229 e 230. O primeiro estabelece que os filhos têm a
obrigação de cuidar dos pais na velhice, e o segundo que “a família, a sociedade e o
Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”
(BRASIL, 1988).
Somente após a década de 1990, as políticas públicas para os idosos começaram
a ganhar mais impulsão. A sociedade começou a exigir que o governo se atentasse às
questões do envelhecimento com mais afinco, uma vez que a população de idosos
estava crescendo significativamente.
Justamente em 1990, criou-se o Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo, ao
menos no papel, a saúde como um direito fundamental do homem e dever do Estado em
oferecê-la.
Nos anos seguintes, especificamente em 1992, ocorreu a “Assembleia Geral da
ONU”, em que se pontuaram vários princípios em favor da população de idoso.
Estabeleceram-se alguns princípios como:
� Independência;
� Participação;
25
� Cuidados;
� Autorrealização;
� Dignidade, entre outros.
Ainda nesta assembleia, foram realizados estudos que apontaram para uma
melhor qualidade de vida dos idosos e para tanto era necessário que houvesse uma
inserção social, política, econômica e cultural.
Em 1993, entrou em vigor a lei orgânica de Assistência Social (LOAS), lei n º
8742/93. Houve uma regulamentação na assistência social direcionada à população de
idosos.
Esta lei garantiu um salário mínimo a todo idoso com mais de 70 anos que não
tivesse condições de se manter ou ser cuidado pela família. Além disso, garantiu ao
idoso que estivesse em situação de vulnerabilidade temporária um benefício adicional.
O ano de 1994 foi muito importante, pois foi quando houve a promulgação da
Política Nacional do Idoso, lei nº 8842/94. Esta foi a primeira lei específica direcionada
aos interesses da população idosa no Brasil.
Segundo a própria lei, no artigo 1º, a “Política Nacional do Idoso” tem por
objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
Outro momento bastante significativo, no âmbito das políticas públicas, foi em
1999, Ano Internacional do Idoso, quando foi aprovada a portaria 1395/GM do
Ministério da Saúde, que aprovou a Política de Saúde do Idoso.
Esta política vem justamente corroborar com as necessidades da população idosa
do Brasil e tem como diretrizes básicas:
26
� A promoção do envelhecimento saudável;
� Assistência às necessidades de saúde do idoso;
� A reabilitação da capacidade funcional comprometida;
� A capacitação de recursos humanos especializados;
� O apoio ao desenvolvimento de cuidados informais;
� E o apoio aos estudos e as pesquisas.
O número de idosos continuou se intensificando com o passar dos anos, e no
início dos anos 2000 foi possível perceber uma movimentação mais robusta da
sociedade brasileira em defesa dos direitos do idoso. Observe o gráfico abaixo, onde
figuram os números da população idosa nas últimas décadas:
Fonte:http://www.google.com.br/url?source=imglanding&ct=img&q=http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v17n49/18396g2.gif&sa=X&ei=IlkNUL4ghKbyBJiUtcsK&ved=0CAwQ8wc&usg=AFQjCNGXNjFQms8LdG1GQPwO3WDBdUtPHg
27
Como podemos observar, o crescimento da população idosa no Brasil tornou-se
bastante significativo, sobretudo, a partir da década de 1980. Vimos ainda, que a maior
parte desta população é composta por mulheres.
Este tipo de estudo ajuda a identificar quais as necessidades específicas de cada
grupo desta população, auxiliando na criação de ações e políticas que contemplem estas
pessoas.
Para que as políticas públicas tornem-se realmente eficazes e acessíveis a todos
os idosos é preciso conscientizar o próprio idoso a respeito de seus direitos. Para tanto, é
necessário educar a população desde os primeiros anos escolares. Deve haver uma ação
pedagógica politizada, que tenha como princípio a formação de um indivíduo crítico,
isto é, com ciência de seu papel na sociedade, seus direitos e deveres.
É primordial, também, educar a população acerca do processo de
envelhecimento, de maneira que estes respeitem as pessoas idosas e seus direitos
enquanto cidadãos. A educação, portanto, tem papel fundamental na formação crítica
das novas gerações de idosos.
Ainda sob esta perspectiva, podemos dizer que é através de ações pedagógicas
pontuais que se promove uma maior inserção social. É justamente a educação que serve
de política de prevenção. Ela constitui um direito fundamental da pessoa idosa, ao passo
que possibilita meios para os avanços pessoais, além de propiciar a integração do idoso
às práticas sociais.
É através da educação que se prepara um cidadão para o processo de
envelhecimento, reconhecendo esta fase como mais umas das etapas naturais impostas a
qualquer pessoa. De um modo geral, o processo de envelhecimento deve ser encarado
sob uma ótica social, isto é, deve ser concebido como uma problemática complexa, que
envolve vários fatores.
28
O idoso dos nossos tempos é muito diferente de um idoso de 50 anos atrás, o
contexto sócio-histórico de ambos é totalmente distinto. Portanto, não se pode compará-
los da mesma forma.
Neste contexto, no qual é crescente a população de idosos, o Estado não é capaz
de atender essas necessidades, é preciso, portanto, que sejam realizadas ações
educacionais constantes, em outras palavras, aprender continuamente, desenvolver
novas habilidades que contemplem esta parte da população, encará-los como um
patrimônio imaterial, ou seja, um capital cultural.
Esta visão é bem percebida nos países asiáticos, onde o idoso é respeitado não só
pela faixa etária, mas também pela grande bagagem de vida que carrega, em suma,
nestas sociedades valoriza-se demasiadamente a pessoa idosa, talvez por isso sejam tão
desenvolvidas, a exemplo disso temos o Japão, a China, a Coréia do Sul etc.
1.4 – Grandes obstáculos na saúde do idoso
Em virtude de vários fatores vem
ocorrendo uma modificação na estrutura
etária da sociedade brasileira e mundial. Os
avanços científicos e as melhores
condições de vida das pessoas permitiram
uma longevidade maior.
No Brasil, em 2002, a população de
idosos era de aproximadamente 14,1
milhões de pessoas. Estudos apontam uma
projeção para 2025 de 33,4 milhões. Os
mesmos estudos dizem que, entre 1950 e
2025, a população idosa terá crescido
quase quatro vezes mais que a população de jovens.
29
Destaca-se nesta pesquisa, que a população de idosos será composta, em sua
grande parte, por pessoas de 80 anos ou mais, sendo esta faixa etária que apresenta
maior crescimento. Isto ocorrerá tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em
desenvolvimento.
Ao mesmo passo que ocorrem as mudanças na estrutura etária da população,
constatam-se significativas mudanças epidemiológicas, em virtude da mudança de
comportamento e fatores de risco relacionados ao estilo de vida.
Trata-se de um problema de longa duração, portanto, torna o idoso o principal
usuário dos serviços de saúde. Esses serviços, muitas vezes, não são devidamente infra-
estruturados, em outras palavras, não estão preparados para atender às necessidades
desta parcela da população.
Sem mencionar os que moram sozinhos, estes têm muito mais dificuldades do
que aqueles que possuem família. As barreiras que os idosos têm que transpor vão além
dos fatores externos, a primeira grande barreira que um idoso enfrenta no Brasil é a falta
de respeito por parte dos mais jovens.
Só para termos uma ideia do quão difícil é ser idoso no Brasil, apenas 56,7% dos
aposentados recebem uma pensão de até três salários mínimos, 6% recebe um salário
mínimo e 33% deles sequer fazem três refeições por dia. Outra grande barreira imposta
ao idoso refere-se aos serviços públicos, como saúde, transporte, entre outros.
Ainda tem-se um transporte público cuja qualidade do serviço não é o que se
pode chamar de eficiente, uma vez que os coletivos estão sempre lotados, os assentos
identificados como preferenciais não são respeitados.
É muito difícil para uma pessoa de 80 anos, por exemplo, caminhar na calçada
de uma grande cidade, sendo que as depressões, a má sinalização e a deteriorização
delas já acidentaram muitos idosos.
30
Abaixo um interessante texto sobre as dificuldades diárias dos idosos, seja em
um ambiente familiar, ou no convívio social. Ainda traz uma ótima reflexão acerca das
políticas públicas direcionadas ao idoso. Observe:
Idosos com dificuldades diárias serão 4,5 milhões em 2020
Em livro lançado nesta quinta-feira, Ipea analisa a responsabilidade de cuidados
com a população idosa.
Cerca de 4,5 milhões de idosos terão dificuldades para as atividades da vida diária
nos próximos 10 anos, um acréscimo de 1,3 milhão ao contingente observado em 2008.
Desses, 62,7% devem ser do sexo feminino. Essa é uma das principais conclusões do livro
Cuidados de longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido?,
lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nesta quinta-feira, 16, no
Rio de Janeiro.
Organizado pela coordenadora da área de População e Cidadania do Ipea, Ana
Amélia Camarano, a obra foi lançada com a apresentação da mesa redonda Cuidados para
a população idosa: de quem é a responsabilidade?
“Se a proporção de idosos com incapacidade funcional diminuir como resultado de
melhorias nas condições de saúde e de vida em geral, provavelmente cerca de 3,8 milhões
de idosos vão precisar de cuidados de longa duração em 2020, um valor superior em 500
mil ao observado em 2008”, disse Ana Amélia. Segundo ela, “é urgente pensar uma
política de cuidados de longa duração para a população idosa brasileira, inclusive porque
a oferta de cuidadores familiares tende a se reduzir nos próximos anos”.
A constatação da ausência de uma política estruturada e articulada de cuidados
formais é o ponto de partida das reflexões. Hoje, a família desempenha o papel de cuidar de
aproximadamente 3,2 milhões de idosos sem praticamente nenhum apoio, seja do Estado ou
do setor privado. A ação dos órgãos governamentais é mínima, reduzida à modalidade de
abrigamento nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIS) – os “asilos” do
passado – que têm sua origem na caridade cristã e ainda dependem dela, em sua maioria.
31
Outras alternativas são escassas.
O livro aborda as necessidades dos idosos mais frágeis e das famílias cuidadoras, o
perfil das ILPIS, suas fragilidades e algumas alternativas ao modelo integral. A obra coloca
o leitor diante dos mitos, estigmas e estereótipos relacionados a essas instituições com base
em pesquisas qualitativas que retratam a história de vida dos residentes dessas instituições
no estado do Rio de Janeiro.
O livro parte do novo cenário demográfico (mais longevos na população brasileira)
com quatro perguntas: 1) Como ficará a autonomia dos idosos para as atividades da vida
diária?; 2) A família brasileira continuará como principal cuidadora dos membros idosos?;
3) Quais são as alternativas de cuidado não familiar disponíveis no Brasil?; 4) Qual deverá
ser a responsabilidade do Estado na provisão de serviços de cuidados para a população
dependente?
Os “asilos” são historicamente associados ao abandono familiar e à pobreza, e nessa
associação está a origem do preconceito. O livro busca desconstruir a oposição reinante
entre vida e residência em ILPIS, bem como a solidão e o aconchego, mostrando que a vida
em ILPIS é um pedaço da vida fora delas, uma continuação do que se vive fora delas. Não
há rupturas, como se imagina. Há namoros, encontros, desencontros, solidão, brigas,
felicidades, tristezas e muitas outras emoções. “Também mostra que a família é uma
instituição idealizada; é um espação de disputa de poder entre gênero e gerações”, afirma
Camarano.
A obra provoca também uma discussão necessária sobre cuidados paliativos e qualidade da
morte. Aborda, ainda, a fragilidade das redes sociais em relação aos cuidados de longa
duração no município do Rio de Janeiro, evidenciada pelo alongamento do tempo de
internação hospitalar de idosos sem condições de se reinserirem socialmente. São as
“institucionalizações hospitalares de idosos”, reflexo da baixa oferta de instituições.
O capítulo final apresenta a discussão indicada pelo título do livro. De quem é a
responsabilidade de cuidar dos nossos idosos? De que forma o ato de cuidar pode ser
partilhado entre família, mercado e Estado? Um dos caminhos é entender esses cuidados
32
como direito social, assim como a previdência, a saúde e a assistência, dissociando-os da
noção vigente de filantropia e caridade cristã. Além disso, assume-se que essa
responsabilidade deve, também, ser compartilhada entre esses três setores.
Há também uma reflexão sobre o formato que as ILPIS assumem hoje e as alternativas de
cuidado não integrais, como centros-dia, centros de convivência, hospitais-dia e cuidados
formais domiciliares.
A intenção da obra é contribuir para a discussão sobre os modelos que o Brasil pode adotar
para fazer frente aos novos desafios do envelhecimento populacional e às mudanças mais
amplas da sociedade.
Fonte: http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=6614
33
Unidade 2 – A Profissão de Cuidador de Idoso no Brasil
Olá,
Nesta unidade, trataremos da profissão em si, isto é, abordaremos todos os
pormenores deste recente campo de trabalho. Veremos em que contexto sócio-histórico
surgiu esta profissão e de que forma esta atividade vem crescendo.
Em um segundo momento, você conhecerá os direitos trabalhistas que envolvem
a profissão de cuidador de idosos, traremos todas as informações necessárias para que
você compreenda quais são seus deveres e direitos.
Falaremos da rotina de trabalho do cuidador de idosos, dando boas dicas de
como se portar diante de uma ou outra situação adversa. Posteriormente, analisaremos
quais são as perspectivas para este mercado que, a cada dia mais, vem se expandindo.
Por fim, veremos quais os cuidados que este profissional deve ter consigo
mesmo, traremos aqui bons exemplos de higiene e limpeza, tanto no cuidado quanto no
cuidador.
Bom estudo!
34
2.1 – Contexto sócio-histórico da profissão
Em virtude do crescimento do
número de idosos, surgiu uma nova
profissão, o cuidador de idosos. Para
melhor entendermos é preciso considerar
alguns fatores sociais, como a
globalização, a maior participação da
mulher no mercado de trabalho, entre
outros.
Neste contexto, a responsabilidade de zelar pelo bem-estar da família e da casa
passa para um segundo plano. Da mesma forma ocorre com a preocupação em cuidar de
pais e avós, tornando-se inviável realizar todas estas atividades.
Para atender esta demanda, surgiu a profissão de cuidador de idosos, tratando-se,
de maneira geral, de um antigo acompanhante, quase sempre senhoras aposentadas ou
empregadas domésticas que acabam “olhando” o idoso, tal qual uma criança.
Aí está o maior perigo desta profissão! É o despreparo das pessoas que se julgam
cuidadoras, sem qualquer preparo técnico e psicológico para desempenhar esta função,
chegando, não raramente, há casos de maus tratos e violência contra o idoso.
Outro fator que motivou o crescimento desta profissão foi o envelhecimento da
população mundial. De acordo com os dados do IBGE, há no Brasil, aproximadamente,
21 milhões de pessoas com mais de 60 anos.
Com o envelhecimento da população, a profissão de cuidador de idosos ganhou
mais visibilidade e vem ganhando cada vez mais lugar no mercado de trabalho.
35
A profissão de cuidador de idosos requer muita paciência e atenção. É preciso
estar qualificado tecnicamente, entretanto, é importante ter um preparo psicológico para
lidar com as situações adversas.
A função principal do cuidador é acompanhar e auxiliar a pessoa em seu
cuidado, fazendo por ela somente as atividades que ela não consiga fazer sozinha, isto é,
o cuidador não é a babá do idoso e muito menos o enfermeiro. Trata-se de um
profissional que o idoso possa contar sempre que precisar.
Cuidar da pessoa idosa, em muitos casos, é uma tarefa difícil, justamente por
haver pacientes em estado terminal, vegetativo, entre outros. É preciso que o cuidador
tenha todas as informações sobre a saúde e o cotidiano da pessoa cuidada.
É muito importante promover o bem-estar, dando apoio, ouvindo, orientando e
estimulando o idoso a praticar atividades, a passear etc. Cuidar de um idoso não é tarefa
fácil, é preciso estar atento à alimentação, à saúde, ao ambiente em que vive e a outros
fatores.
Portanto, para desempenhar esta função, o profissional deve estar preparado
física e psicologicamente, além das qualificações e das habilidades necessárias para ser
um cuidador de idosos. Em se tratando da profissão de cuidador de idosos, há três
classificações de cuidador: o informal, o formal e o profissional. Vejamos cada uma
delas:
� Informal: é geralmente um membro da família, por exemplo, esposa, filho(a),
irmã(ão). Na maioria das vezes, os cuidadores são do sexo feminino, sendo
escolhida pelos familiares por ter um bom relacionamento com a pessoa cuidada
e por ter maior disponibilidade de tempo. Incluem-se neste grupo, amigos e
vizinhos que, mesmo não tendo laços de parentesco, cuidam da pessoa idosa
como voluntários;
36
� Formal: é o profissional que recebeu um treinamento específico e superficial
para exercer a função de “cuidar”. Geralmente estes são remunerados e mantém
um vínculo empregatício. Este profissional pode atuar em residências de família,
em instituições de longa permanência para idosos ou como acompanhante destes
em sua permanência em uma unidade de saúde (hospitais, clínicas etc.);
� Profissional: os cuidadores profissionais seguem funções específicas em
conformidade com as legislações das categorias profissionais. São extremamente
qualificados para exercer a função de cuidador.
É trabalho do cuidador desenvolver várias atividades para facilitar a vida diária
do idoso, como auxiliar na locomoção dentro e fora da casa, organizar o ambiente
doméstico para evitar acidentes e quedas, em outras palavras, trata-se de uma
companhia permanente que garante o conforto físico e psíquico da pessoa cuidada.
O cuidador também administra os remédios prescritos pelos médicos nos
horários e dosagens corretas. Este profissional deve ser treinado para reconhecer
alterações na saúde e no comportamento do idoso, além de saber prestar socorro em
situação de urgência.
Com um profissional bem qualificado é possível evitar internações e reduzir o
custo de saúde com estes pacientes. O cuidador deve ter ciência de que lida com
humanos em uma fase muito especial da vida, entretanto, deve sempre ter em mente que
ele trabalha para promover a autonomia do idoso.
Cuidador de idosos profissional
O cuidador profissional é a pessoa que possui educação formal, com diploma
conferido por instituição de ensino reconhecida em órgãos oficiais, que presta
assistência ao idoso e à sua família.
37
É necessário ter alguns requisitos para exercer esta tarefa, entre os quais
destacam-se:
� Habilidades técnicas: é o conjunto de conhecimento prático e teórico adquirido
em instituições, sob orientação de profissionais especializados. Este “saber”
qualifica o profissional a desempenhar sua função;
� Qualidades éticas e morais: são atributos necessários para se estabelecer uma
relação de confiança entre o cuidador e o paciente. Caso não se tratar de um
parente, o cuidador deve se adaptar aos costumes da família, respeitando sua
intimidade;
� Qualidades emocionais: esta capacidade permite ao cuidador um maior
controle emocional, portanto, ele deve ter a capacidade de compreender os
momentos difíceis vividos pelo idoso;
� Qualidades físicas e intelectuais: o cuidador precisa ter um bom
condicionamento físico, além de força e energia, uma vez que carregar o idoso,
dar apoio para se vestir, entre outras atividades, não é tarefa fácil. É também
necessário que tenha raciocínio rápido em caso de tomadas de decisões, isso
pode ser a diferença entre a vida e a morte;
� Motivação: esta é uma condição primordial no tratamento com idosos, é preciso
colocar-se em seu lugar, ter empatia por ele. É preciso valorizar o idoso
enquanto indivíduo de um grupo social e entender que todos passarão pelo
mesmo processo.
É muito importante ressaltar que o trabalho do cuidador de idosos não se faz
sozinho, ou seja, é preciso apoio e participação da família na organização de atividades
ou mesmo na avaliação do trabalho do cuidador. A família é quem mais conhece o
idoso, contudo, o trabalho do cuidador deve estar alinhado às informações que esta traz
a respeito do paciente.
38
2.2 – Direitos trabalhistas
Esta atividade ainda não está
devidamente regulamentada no Ministério do
Trabalho, atualmente, há uma discussão
sobre as questões que envolvem esta
profissão, o projeto de lei do Senado (PLS)
284/2011 pretende regulamentar a atividade
de cuidador de pessoas idosas, estabelecendo
direitos e deveres a este profissional.
Há, aproximadamente, 200 mil
pessoas que exercem a atividade, seja de
maneira formal ou informal, no Brasil.
Sobre o projeto de lei, quando senadora, a atual Ministra Marta Suplicy (PT-SP)
disse que, “A lei que regulamenta a profissão é para o cuidador e também para o
idoso. Temos que buscar o equilíbrio, dando segurança jurídica ao profissional com as
salvaguardas necessárias a quem deverá receber os cuidados”.
Apesar de trazer melhores condições aos profissionais cuidadores de pessoas
idosas, este projeto enfrenta resistência do Conselho Federal de Enfermagem. Para a
entidade, a tendência da população viver cada vez mais, exige também cuidados mais
específicos. Segundo eles, os técnicos de enfermagem e enfermeiros estão mais
qualificados para exercer esta função, garantindo assim mais segurança no atendimento.
Abaixo temos uma síntese deste projeto de lei, baseada em seus três primeiros
artigos. Observe:
39
Regulamentação da Profissão de Cuidadores para Idosos.
SENADO FEDERAL
PROJETO DE LEI DO SENADO
Nº 284, DE 2011
Dispõe sobre o exercício da profissão de cuidador de idoso.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º – O cuidador de idoso é o profissional que, no âmbito domiciliar de
idoso ou de instituição de longa permanência para idosos, desempenha funções de
acompanhamento de idoso, notadamente:
a) prestação de apoio emocional e na convivência social do idoso;
b) auxílio e acompanhamento na realização de rotinas de higiene pessoal,
ambiental e de nutrição;
c) cuidados de saúde preventivos, administração de medicamentos de rotina e outros
procedimentos de saúde;
d) auxílio e acompanhamento no deslocamento de idoso.
Parágrafo único. Instituição de longa permanência para idosos é a instituição destinada à
residência coletiva de pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, com ou sem
suporte familiar.
Art. 2º – Poderá exercer a profissão de cuidador de idoso o maior de 18 anos que tenha
concluído o ensino fundamental e que tenha concluído, com aproveitamento, curso de
cuidador de pessoa conferido por instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da
40
Educação.
Parágrafo único. São dispensadas da exigência de conclusão de curso de
cuidador as pessoas que, à época de entrada em vigor da presente Lei, venham exercendo a
função há, pelo menos, dois anos.
Art. 3º – É vedado ao cuidador de idoso o desempenho de atividade que seja
de competência de outras profissões da área de saúde legalmente regulamentadas.
Art. 4º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Fonte: http://estatutodoidoso.blogspot.com.br/2011/11/regulamentacao-da-profissao-de.html
Abaixo, abordaremos algumas dúvidas acerca dos direitos do profissional cuidador de
idosos Ainda há muito que ser discutido sobre esta atividade, portanto, destacamos as
dúvidas mais frequentes:
� A respeito do salário base, ainda não há um piso definido para a classe,
entretanto, qualquer atividade de trabalho não pode ser remunerada com menos
de um salário mínimo;
� O recolhimento do FGTS é uma opção do empregador, isto é, não é obrigatória;
� Caso seja mulher, a cuidadora tem direito a salário-maternidade, não sendo
exigido tempo mínimo de contribuição. A licença maternidade inicia-se 28 dias
antes do parto ou 92 dias após o parto, totalizando 120 dias;
� Com relação à jornada de trabalho, os cuidadores não têm uma carga horária
definida, conforme os empregados regidos pela CLT. Faz-se um acordo entre
41
empregado e empregador no momento da contratação, contudo, a carga horária
não deve ultrapassar 220hs mensais, bem como as horas excedentes deverão ser
pagas como horas extras;
� O cuidador somente terá o direito ao seguro desemprego caso o empregador
tenha optado pelo recolhimento do FGTS por mais de 15 meses;
� O cuidador deve ser registrado de imediato, mesmo nos contratos de
experiência;
� O cuidador recolhe INSS através da Guia da Previdência Social (GPS), carnê
comprado em qualquer papelaria, este formulário deve ser preenchido com o
nome do empregado;
� O cuidador tem assegurado o direito ao repouso remunerado pelo artigo 7º,
parágrafo único, da Constituição/88;
� O cuidador tem direito ao auxílio acidente de trabalho, desde que tenha
cumprido um mínimo de 12 contribuições mensais, sem interrupção;
� A cuidadora gestante tem direito à estabilidade, de acordo com a Lei 11.324, de
19 de julho de 2007, artigo 4o-A. É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa
causa da cuidadora gestante desde a confirmação da gravidez até cinco meses
após o parto.
Por ainda tratar-se de uma profissão muito nova, surgida em um contexto
recente, esta atividade não tem sindicatos representativos ou associações de classe. De
um modo geral, é uma categoria que ainda está se fortalecendo.
Para definirmos a ocupação de cuidador de pessoas idosas, vejamos o que
estabelece o Ministério do Trabalho, por meio da Classificação Brasileira de
Ocupações:
42
“Cuidador de idosos – Acompanhante de idosos, cuidador de pessoas
idosas e dependentes, cuidador de idosos domiciliar, cuidador
institucional.”
“Cuidam de idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições
especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde,
alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da
pessoa assistida.”
Desta forma, o cuidador de idosos tem seus direitos trabalhistas assegurados pela
constituição, como qualquer trabalhador. Entre os principais direitos destacam-se:
� Registro na carteira de trabalho;
� Salário mínimo garantido por lei, salário e férias de 30 dias;
� Repouso semanal;
� Licença gestante de 120 dias e a estabilidade no emprego até cinco meses após o
parto;
� Aposentadoria;
� Aviso prévio de 30 dias;
� Licença paternidade de cinco dias corridos;
� Auxílio-doença pelo INSS;
� Seguro-desemprego;
� Vale-transporte.
43
É preciso que haja a regulamentação da lei da profissão de cuidador de idosos,
pois desta forma é possível estabelecer um piso salarial para a categoria. O que
podemos perceber é que o salário é regulado de acordo com dois fatores:
� O primeiro é a baixa qualificação dos profissionais cuidadores de idosos, em
virtude de seu despreparo e experiência recebem, quando muito, um salário
mínimo. Há casos em que cuidadores inexperientes recebem menos que um
salário mínimo e se sujeitam a tudo;
� O segundo refere-se ao cuidador de idosos capacitado e qualificado, com
experiências e referências. Este profissional é o mais disputado no mercado de
trabalho, podendo receber salários de até R$1.800,00, inclusive exigindo que o
empregador recolha o seu Fundo de Garantia.
Como vimos, o diferencial para um bom salário está na qualificação e na
experiência deste profissional. A atividade de cuidador de idosos em breve será
regulamentada pelo Congresso Nacional, isto certamente fará com que o piso salarial
seja mais alto, além de novas garantias trabalhistas.
É necessário lembrá-lo, enquanto cuidador de idosos, que a valorização do seu
trabalho depende exclusivamente de você, ou seja, é por meio de seus esforços que terá
ou não sucesso nesta profissão.
Portanto, capacite-se! Busque constantemente conhecimento, faça mais cursos
na área, trabalhe com amor e afinco. Procedendo desta forma, certamente seu trabalho
será reconhecido.
44
2.3 – Rotinas de trabalho do cuidador de idosos
Segundo o Ministério do Trabalho, a rotina do cuidador de idosos consiste,
basicamente, em procedimentos que propiciem o bem-estar do paciente. Vejamos:
� Escutar o idoso;
� Estar atento e se mostrar solidário com a pessoa cuidada;
� Ajudar nos cuidados de higiene, alimentação, locomoção e atividades físicas;
� Estimular atividades de lazer e ocupacionais, como pintura, dança etc;
� Realizar mudanças de posição na cama e na cadeira;
� Fazer massagem de conforto;
� Administrar medicações, sempre sob a orientação médica;
45
� Comunicar à equipe de saúde sobre mudanças no estado de saúde da pessoa
cuidada;
� Atuar como elo entre a pessoa que requer cuidados, a família e a equipe de
saúde;
� Cuidar de suas necessidades de socialização.
Estas são ações que promovem a melhoria da qualidade de vida e recuperação da
saúde dessa pessoa. Há outras atividades que envolvem a rotina de um cuidador de
idosos. Na verdade, a rotina de um cuidador não é muito diferente da rotina de um lar.
Obviamente que o papel do cuidador não é somente o de acompanhante nas atividades
diárias do indivíduo.
De um modo geral, o cuidador irá auxiliar a pessoa cuidada, em qualquer que
seja a situação, no âmbito emocional ou físico. É importante lembrar que, em virtude
das limitações físicas, o idoso não consegue desempenhar tarefas que aos nossos olhos
pareceriam fáceis.
Em outras palavras, a rotina do cuidador consiste em ajudar na integração do
idoso socialmente, através de atividades físicas, atividades de lazer e cultura, entre
outras. É importante que o idoso se sinta útil e forte para prosseguir com sua caminhada.
46
2.4 – Perspectivas de mercado
O mercado de trabalho de cuidador de
idosos está em alta, em virtude de motivos que já
mencionamos anteriormente. Neste cenário,
estar capacitado é fundamental e desenvolver
novas formas de prestação de serviço é um
relevante diferencial.
Se considerarmos os estudos de projeção
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o qual diz que, em 2025, a população de
idosos será de aproximadamente 63 milhões de
pessoas, vemos a significativa expansão desta
profissão.
Ainda segundo este estudo, em 1980 eram 10 idosos para cada 100 jovens, em
2025 serão 172 idosos para cada 100 jovens, alia-se a isso o fato de que a longevidade
aumentou robustamente e temos um cenário perfeito para quem exerce a função de
cuidador. Também temos a informação do Ministério da Saúde, mostrando atualmente
que no Brasil há 3,8 milhões de idosos que têm algum grau de dependência. Justamente
por isso, é que a profissão de cuidador vem ganhando destaque.
A demanda por este profissional é muito grande, sobretudo porque, hoje em dia,
na maioria das famílias, as pessoas mais jovens trabalham e passam a maior parte do
tempo fora de casa.
O Ministério da Saúde juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Social,
desenvolveu ações de capacitação para 21 mil cuidadores de idosos, no ano de 2012. A
maioria destas ações ocorreram em Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (SUS),
em todo país.
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A capacitação é importante porque prepara os cuidadores para a administração
de medicamentos, prevenção de acidentes domésticos, diagnósticos de dificuldades por
parte do idoso etc.
Hoje, para um profissional qualificado, o mercado está em constante expansão.
O cuidador pode exercer sua função em clínicas e casas de repouso ou na própria
residência do idoso, podendo, neste caso, trabalhar como autônomo. Em suma, muitas
são as possibilidades de atuação.
Muito embora haja grandes esforços do Ministério da Saúde na capacitação de
profissionais cuidadores em todo o país, há uma grande carência de cursos e estudos
sobre o tema. Entretanto, vem aumentando o número de hospitais e instituições privadas
que oferecem capacitação, porém os cursos são pagos.
Tomemos como exemplo, a psicóloga Graça Monteiro de Almeida, que
desenvolveu uma nova maneira de atender os pacientes. Ela começou a fazer consultas
delivery, isto é, na casa dos idosos. Nessas consultas constatou que os seus pacientes da
terceira idade querem ser ouvidos. Além de escutar, ela incentiva atividades que estejam
de acordo com as condições de cada paciente, desta maneira consegue proporcionar a
eles uma vida melhor. Trata-se de um trabalho bem similar ao exercido pelo cuidador de
idosos.
Almeida diz que o “idoso está muito carente, porque não é valorizado pela
família, não tem neto que o ouça etc. Já não querem escutar ‘discurso de velho’, como
já ouvi. É um espaço onde ele pode descobrir talentos e habilidades para desenvolver, é
um resgate da autoestima”.
Há também os idosos que precisam de cuidados especiais em horários
específicos. Nestes casos, o cuidador pode trabalhar como freelancer, ou seja, prestar
serviços esporádicos aos pacientes.
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É necessário qualificação para crescer na profissão?
Muito embora a profissão de cuidador não seja regulamentada no Ministério do
Trabalho e também não exija um conhecimento específico aprofundado, o profissional
pode se diferenciar dos demais, buscando conhecimentos de enfermagem que, de uma
forma ou de outra, o auxiliarão ao exercer sua função.
O curso técnico de enfermagem é uma qualificação a mais para quem deseja se
tornar um cuidador de idosos, já que existem momentos em que o paciente necessita de
cuidados técnicos e, nesta hora, torna-se fundamental um enfermeiro ou técnico de
enfermagem.
As pessoas, ao contratarem os serviços de um cuidador, buscam alguém que lhes
inspire confiança, uma vez que trata-se de integrar um estranho às rotinas do lar, ou
seja, é abrir as portas da intimidade para estas pessoas. Esses são pontos importantes
que o cuidador deve se atentar.
2.5 – O cuidador e os cuidados consigo mesmo
É muito importante que o profissional
saiba se cuidar, tanto na aparência quanto na
saúde. Ao longo do curso, percebemos que
esta é uma profissão que exige muito do
cuidador.
O profissional que não dá atenção ao
seu próprio estado físico ou mental coloca em
risco a si próprio e o idoso por quem é
responsável, além de poder desenvolver
estresse e debilidade, muitas vezes
descontando estas emoções no idoso.
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Com o passar do tempo, podem ocorrer algumas desmotivações ou desânimos.
Isto ocorre porque cuidar de idosos não é tarefa fácil e exige muito do cuidador, não
somente em virtude das condições físicas necessárias para poder auxiliar o idoso na
locomoção, mas também em razão da forte pressão psicológica.
Não é preciso dizer o quão essencial é respeitar o idoso e a condição em que ele
se encontra, isso evita aborrecimentos desnecessários de ambas as partes, sobretudo no
que tange ao cuidador, uma vez que este deve estar sempre calmo e sereno para
transmitir tranquilidade ao idoso.
Pode ocorrer que o idoso seja demasiadamente teimoso e malcriado, se portando,
muitas vezes, como uma criança. Cabe ao cuidador ter sensibilidade para compreender a
situação e tentar revertê-la, tranquilizando a pessoa cuidada. Obviamente que não são
todos os casos que se mostram tão adversos, normalmente há uma espécie de
cooperação entre paciente e cuidador.
É necessário que o cuidador esteja, sempre que possível, bem consigo mesmo,
disso depende o bem-estar do paciente. Um cuidador que trabalha com amor, se
dedicando ao que faz, certamente transmitirá segurança ao idoso.
O cuidador é uma pessoa como qualquer outra, portanto, necessita das mesmas
coisas que todos, como lazer, vida social etc. É importante que o cuidador reserve um
tempo do seu dia para atividades que proporcionem prazer e bem-estar.
Nesta profissão, o cuidador se doa de tal maneira ao idoso que acaba por se
esgotar física e mentalmente. É natural que ocorra uma sobrecarga, e é justamente por
isso que os momentos de relaxamento são importantes para manter sua saúde.
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Sinais de estresse
Segundo o material, cujo titulo é “Cuidar Melhor e Evitar a Violência –
Manual do Cuidador da Pessoa Idosa”, distribuído pelo governo federal, no ano de
2008, os sinais de estresse podem se manifestar no cuidador da seguinte forma:
� Perda de energia, caracterizada no aspecto de cansaço do cuidador;
� Consumo excessivo de bebidas com cafeína, álcool ou cigarro, além de pílulas
para dormir e outros medicamentos;
� Problemas físicos: o cuidador começa a apresentar palpitações, tremor das mãos
e problemas digestivos;
� Demonstrar falta de interesse por atividades e pessoas que antes lhe
interessavam;
� Problemas de memória e grande dificuldade em se concentrar;
� Aumento ou diminuição de apetite;
� Repetitivos atos rotineiros, como fazer limpeza, olhar o relógio etc;
� Aborrecer-se facilmente é um sinal de estresse;
� Dar importância aos acontecimentos irrelevantes do dia a dia;
� Humor instável é também indício de alto nível de estresse;
� Dificuldades em superar sentimentos depressivos;
� Tratar as outras pessoas da família com menos consideração.
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Obviamente que estes são só alguns sinais que podemos nitidamente observar
em uma pessoa em processo de estresse. Caso o profissional esteja com sinais
semelhantes aos acima citados, é sugerido um diálogo franco e aberto com os familiares
do idoso, de maneira que consigam chegar a um acordo positivo para ambas as partes.
Em muitos casos, o idoso necessita de cuidados especiais que apenas um
cuidador não dá conta de suprir, nestes casos, é necessária a contratação de mais um
profissional. Entretanto, sabemos que o cuidador é sobrecarregado com atividades e isso
pode aumentar o nível de estresse do profissional.
Outro fator que pode desencadear uma situação de estresse é a exigência de
cuidados excessivos. Muitas vezes, o idoso quer mais atenção e cuidado que o
necessário, tornando-se uma espécie de “criança mimada”, talvez um meio de descontar
na pessoa mais próxima o infortúnio de sua situação.
É preciso que o cuidador tenha paciência e sensibilidade de entender a situação
da pessoa cuidada, afinal, quem é que gostaria de estar nesta situação, dependente de
outrem?
Em qualquer que seja a situação é preciso que o cuidador tenha sempre bons
sentimentos, que fortaleça a relação entre idoso e cuidador, relação esta que deve ser a
mais estreita possível.
O bom humor é fundamental para lidar com as situações de adversidade e, para
sentir-se assim, o cuidador precisa estar bem consigo mesmo, em primeiro lugar.
Abaixo, temos algumas dicas de como manter o equilíbrio emocional, exercitando sua
mente e seu corpo diariamente. Observe:
� Sempre tenha um tempo para você, não se sobrecarregue com atividades;
� Passeie, vá a lugares novos, distraia-se e esqueça, nestes momentos, o ambiente
de trabalho;
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� Enriqueça-se culturalmente, assista filmes diversos, leia livros e revistas, escute
música etc;
� É importantíssimo fazer exercícios físicos diariamente, caso não seja possível,
realize pequenas caminhadas de 30 minutos, ao menos três vezes por semana;
� Seja complacente com o idoso, há situações em que ele não pode ser levado tão
a sério. Compreenda-o, coloque-se em seu lugar e imagine como é difícil
depender de alguém;
� Evite contrariar o idoso, isto poupará transtornos e aborrecimentos para ambos;
� É fundamental boa alimentação e bom sono, portanto, alimente-se bem e durma
no mínimo oito horas por noite;
� Aprenda algo novo, como pintura, tocar um instrumento, falar outra língua etc;
� Um ótimo exercício de relaxamento consiste em respirar fundo e expirar
devagar, você perceberá uma melhora significativa;
� E por fim, é muito importante reservar alguns instantes do seu dia para
relaxamento e meditação.
As dicas acima o auxiliarão a manter o equilíbrio físico e, sobretudo, emocional.
Uma vez que cuidar de pessoas idosas demanda muita paciência e autocontrole.
Cuidar de idosos não é tarefa fácil, demanda muitos cuidados e para tanto é
necessário primeiramente cuidar de si. Embora pareça obvio esta afirmação, muitos
cometem o equívoco de se tornarem cuidadores de idosos, sem terem a menor condição
psicológica e técnica.
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Em resumo, não podemos nos achar capazes de cuidar de alguém se não estamos
equilibrados física e psicologicamente. Esta profissão tem muitas situações de
adversidade e o cuidador precisará ter controle para contorná-las.
Outra coisa que pode ajudar bastante são os grupos de apoio, que promovem
rodas de conversas entre os profissionais que cuidam de pessoas idosas. Nestes
encontros, a troca de experiência é a palavra chave, isto faz com que os cuidadores
sintam-se amparados e ouvidos. Observe as vantagens:
� Há diversos grupos de apoio aos cuidadores de idosos. O intuito é estabelecer
um diálogo franco com o cuidador, em que ele possa ser auxiliado em suas
dúvidas, ser ouvido e, sobretudo, trocar ideias e experiências;
� O contato com outros cuidadores de idosos aproxima vivências e permite que o
profissional interaja com outras pessoas que trilham a mesma jornada. Essas
rodas de discussão são de grande valia, uma vez que permitem compartilhar
experiências entre os cuidadores;
� Trata-se de um momento de conversa, uma espécie de terapia em grupo, onde o
cuidador pode desabafar, falar de suas angústias, expectativas, dúvidas etc. Com
orientação dos profissionais que dão o apoio, o profissional saberá como
proceder em determinadas situações;
� O grupo não se restringe apenas aos cuidadores! Também é possível que os
familiares da pessoa cuidada participem das reuniões. Desta forma, terão
relevantes informações para que possam manter o convívio harmonioso entre a
família e o idoso.
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Conclusão do Módulo I
Olá, aluno(a)!
Você está quase chegando ao fim da primeira etapa do nosso curso de Cuidador
de Idosos oferecido pelos Cursos 24 Horas.
Neste módulo, vimos as necessidades e os direitos dos idosos, também
abordamos os preconceitos que acompanham a velhice, preconceitos estes que acabam
por manter paradigmas e estereótipos acerca do idoso. Em outras palavras, como o
idoso é tratado em nosso país. Posteriormente, vimos o estatuto do idoso, bem como os
principais pontos que o profissional cuidador de idosos precisa saber. Trouxemos uma
reflexão, acerca do que vem sendo realizado no Brasil, em termos de políticas publicas
direcionadas à população idosa.
Vimos, de maneira pormenorizada, todo o panorama histórico das políticas
públicas no Brasil. Daí podemos facilmente imaginar a razão do atraso de nossa
sociedade, se comparada às sociedades orientais. Também abordamos as barreiras e
obstáculos que um idoso deve transpor no dia a dia.
Em um segundo momento, constatamos as diferenças entre o cuidador informal
e o cuidador profissional, bem como o que os distingue. Em outras palavras, abordamos
pormenorizadamente as competências e qualificações exigidas para o desempenho desta
função.
Apresentamos relevantes informações a respeito da rotina de trabalho do
cuidador de idosos. Bem como as perspectivas de mercado para quem deseja atuar neste
segmento do qual vem crescendo cada dia mais e demandando profissionais cada vez
mais qualificados. Por fim, vimos o quão importante é a saúde mental e física do
cuidador de idosos, se este não estiver bem consigo mesmo, certamente não conseguirá
cuidar de outrem.
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Para passar para o próximo módulo, você deverá realizar uma avaliação
referente a este módulo já estudado. A avaliação encontra-se em sua sala virtual. Fique
tranquilo(a) e faça sua avaliação quando se sentir preparado!
Desejamos um bom estudo, boa sorte e uma boa avaliação!
Até logo!