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Cultura material, raça e gênero
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II COPENE SUL
21 A 24 DE JULHO DE 2015 - CURITIBA
ESTÉTICA NEGRA E IMAGINÁRIOS SOCIAIS
O PAPEL DE PRÁTICAS AFIRMATIVAS NA CONSTRUÇÃO DO CORPO DA
MULHER NEGRA QUE ASSUME O CABELO NATURAL
Ana Paula Medeiros Teixeira dos Santos - UTFPR Marinês Ribeiro dos Santos - UTFPR
O PAPEL DE PRÁTICAS AFIRMATIVAS NA CONSTRUÇÃO DO CORPO DA
MULHER NEGRA QUE ASSUME O CABELO NATURAL
Ana Paula Medeiros Teixeira dos Santos1
Marinês Ribeiro dos Santos2
RESUMO O recorte apresentado neste texto é parte de uma pesquisa em andamento sobre as articulações entre gênero e cultura material na discussão sobre estética e construção do corpo de mulheres negras. A pesquisa está centrada no evento Afro Chic, que acontece em Curitiba e promove ações afirmativas relacionadas ao cabelo crespo e beleza para mulheres negras. Neste evento, nos interessam principalmente as oficinas de tranças e turbantes, que transmitem as técnicas dessas práticas e sua ligação com a cultura afro-brasileira, incentivando um olhar para a diversidade e para o corpo como um todo que é construído por diversos elementos. No Brasil, temos visto tensionamentos sendo criados quanto à imposição de padrões de beleza eurocêntricos nas práticas cotidianas de cuidados com o corpo em uma realidade de povo miscigenado. Dentro desse contexto, observa-se o fenômeno da transição do cabelo quimicamente modificado para o cabelo natural, procedimento adotado por grande quantidade de mulheres no Brasil, principalmente mulheres negras. O processo de transição capilar não é um fenômeno puramente estético. Ele traz consigo um discurso de lutas sociais e políticas, de aceitação e promoção da diversidade estética e cultural. Pretendemos problematizar a participação de artefatos e técnicas como turbantes e tranças na construção do corpo da mulher negra dentro do processo de transição capilar. Neste contexto, tranças e turbantes tornam-se referenciais de moda e beleza, mas vale investigar os significados que adquirem quando apropriados pelas mulheres negras: são utilizados para facilitar o processo da transição do cabelo crespo e construir a ligação com uma cultura ancestral? Ou servem de recursos para esconder esse cabelo, adornado para adaptar características intrínsecas do corpo negro às expectativas sociais hegemônicas, criando uma imagem mais facilmente “aceitável”? Com este texto esperamos discorrer sobre aspectos das dinâmicas do corpo e da relação da mulher negra com seu cabelo, sobre questões de racismo inseridas na visão do que é entendido como belo, assim como ressaltar as articulações dessas questões com a cultura material.
1 Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Maringá. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, na linha de Mediações e Cultura, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. [email protected]
2 Doutora em Ciências Humanas pela UFSC e professora do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. [email protected]
Palavras-chave: Gênero. Cultura material. Estética negra. Turbante. Tranças ABSTRACT This paper is part of an ongoing research about gender and material culture in the discussion of aesthetics and the building of the black women’s body. The research is focused on Afro Chic event, in Curitiba. The event promotes affirmative actions related to afro hair and beauty for black women. In this event, our mainly interested are the workshops of braids and turbans, which transmit the techniques of these practices and their connection with the afro-brazilian culture, encouraging a look to the diversity and to the body as a whole which is built by various elements. In Brazil, we have seen tensions being created as the imposition of Eurocentric standards of beauty in the everyday practices of body care, in a reality of mixed-race people. In this context, we can observe a phenomenon that involves the transition from chemically modified to natural hair, procedure adopted by a large number of women in Brazil, especially black women. The hair transition process is not a purely aesthetic phenomenon. It brings with a discourse of social and political struggles, acceptance and promotion of aesthetic and cultural diversity. We intend to discuss the participation of artifacts and techniques such as turbans and braids in the body building of the black women on the hair transition process. In this context, braids and turbans become a beauty and fashion referential, but we can investigate the meanings they acquire when they are appropriated by black women: they are used to facilitate the afro hair transition process and to build a connection with an ancient culture? Or it serves as resources to hide the hair, adorned to adapt intrinsic characteristics of the black body to the hegemonic social expectations, creating an image more easily "acceptable"? With this paper we hope to discuss aspects of the dynamics of the body and the relationship of the black women with their hair, about racism issues in the vision of in what is as beautiful, as well as highlight the articulations between this questions and material culture. Key-words: Fashion. Material Culture. Black aesthetic. Turban. Braids.
1. INTRODUÇÃO
O recorte apresentado neste texto é parte de uma pesquisa em
andamento sobre as articulações entre gênero e cultura material na discussão
sobre estética e construção do corpo de mulheres negras. A pesquisa está
centrada no evento Afro Chic, que acontece em Curitiba e promove ações
afirmativas relacionadas ao cabelo crespo e beleza para mulheres negras.
Neste evento, nos interessam principalmente as oficinas de tranças e
turbantes, que transmitem as técnicas dessas práticas e sua ligação com a
cultura afro-brasileira, incentivando um olhar para a diversidade e para o corpo
como um todo que é construído por diversos elementos. O estudo das dinâmicas
e valores que permeiam as oficinas tem como aporte a observação participativa,
além de entrevistas com organizadoras e pessoas que integram o público
interessado no acesso a esses conhecimentos.
No Brasil temos visto tensionamentos sendo criados sobre os padrões
de beleza impostos, de base europeia, e a realidade dos brasileiros enquanto
povo miscigenado. Dentro desse contexto, observa-se o fenômeno da transição
do cabelo modificado por química para o cabelo natural, processo adotado por
grande quantidade de mulheres no Brasil, principalmente mulheres negras.
O processo de transição capilar não é um fenômeno puramente estético.
Ele traz consigo um aporte de lutas sociais e políticas, de aceitação e promoção
da diversidade estética e cultural. Nesse processo observamos o uso de várias
técnicas para cuidado dos cabelos. Entre elas destacamos as técnicas de
origem africana, como o arranjo de tranças e turbantes, que aprofundam a
ligação entre aspectos materiais e simbólicos.
Utilizamos moda como categoria de análise neste trabalho para o
entendimento da participação dos artefatos na construção do corpo das
mulheres negras. Segundo Érica Palomino (2003, p.15), moda significa “modo,
maneira”, já Malcolm Bernard (2003) afirma que tudo o que se veste é
significativo ou produz significado. Diferenciamos desse conceito a ideia de
moda enquanto tendência que muda a cada estação e norteia a produção e
comercialização de indumentárias. Para falar dessas tendências, utilizaremos o
termo “indústria de moda”, que envolve indústria têxtil, publicidade, desfiles,
entre outros (CARMARGOS, ASSUMPÇÃO, 2007), que produz e reproduz
estereótipos e padrões de beleza. A utilização da categoria moda pode auxiliar
na compreensão das ações e escolhas individuais. Conforme escreve Mary Del
Priore, no prólogo do livro Modos de Homem e Modas de Mulher, de Gilberto
Freyre:
Estuda-la [a moda] permite dar conta das mudanças sociais, da transformação de códigos culturais, da rapidez e, por vezes violência das trocas comerciais. Mas ela, também, inaugura uma história das sensibilidades. A busca do belo, do gosto e do prazer evoluíram, ao longo da historia, assim como a imagem do corpo, ora constrangido, ora liberto, se modificou. (DEL PRIORE,2009, p. 11).
Estendendo o papel da roupa para outros artefatos e técnicas que
podem adornar o corpo, como turbantes e tranças, podemos refletir sobre o
papel desses artefatos na construção do corpo. Consoante à Káthia Castilho
(2004, p.9), na abrangência dos sentidos da moda como modos de estar e ser
fundantes da sociabilidade ocidental, o delineamento do corpo pela vestimenta
como a construção do corpo pela roupa é uma criação de linguagens que
articulam dois “sistemas autônomos”: o do corpo e da roupa. A roupa desenha
um corpo, “assim como toda roupa é desenhada pelo corpo” (CASTILHO, 2002,
p.9).
Em diálogo com Daniel Miller (2013) e com estudos culturais, pensamos
moda não como reflexo, mas como parte construtora do corpos. Os artefatos
são feitos por pessoas, mas segundo Miller, quando integrados às práticas
cotidianas os artefatos também fazem as pessoas, isto é, participam da
construção de determinados tipos de sujeito.
Neste texto, pretendemos discutir a participação de artefatos e técnicas
como turbantes e tranças na construção do corpo das mulheres negras,
problematizando as questões de alisamento, transição capilar e utilização de
tranças e turbantes através das categorias de branqueamento e amefricanidade,
utilizadas por Lélia Gonzalez em “Racismo e sexismo na cultura brasileira”
(1984) e em “A categoria político-cultural de amefricanidade” (1988).
2. O CORPO NEGRO E O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
Observando o processo de transição capilar e as questões de racismo e
padrões de beleza no Brasil, é possível estabelecer articulações entre cultura
material, a construção desses padrões e as resistências a eles. Pela reflexão
sobre a questão do mito da democracia racial e da teoria do branqueamento no
Brasil, pretendemos discutir as dinâmicas do corpo e da relação da mulher negra
com seu cabelo.
2.1. O mito da democracia racial e a negação do corpo negro no Brasil
A construção do corpo negro no Brasil está ligada a uma história de
exploração do trabalho, racismo e marginalização. Do período escravocrata até
os dias hoje, alguns processos históricos contribuíram para a negação e
marginalização desse corpo. Para Lélia Gonzalez (1984; 1988), importante
nome do feminismo negro no Brasil, a questão do branqueamento é central para
o entendimento do racismo no Brasil.
Para entender melhor a questão do alisamento como permanência de
um pensamento de branqueamento, aqui trataremos da questão do racismo
discutindo a teoria do branqueamento (e suas técnicas no campo da estética) e
eugenia no Brasil.
Lilia Moritz Schwarcz (1993) fala sobre a construção do conceito de raça
no Brasil em fins do século XIX e início do século XX, afirmando que além de
sua questionável definição biológica, o conceito acabou recebendo uma
interpretação social, entendido como objeto de conhecimento cujo significado
passa constantemente por renegociações e experimentações. Schwarcz (1993,
p.24) afirma que as teorias raciais se apresentavam enquanto modelo teórico
viável na “justificação do complicado jogo de interesses”. Este “jogo” envolvia
problemas relativos à mão de obra, estabelecimento de critérios diferenciados
de cidadania e tentativa de entendimento do desenvolvimento do Brasil
enquanto nação e do entendimento do que e de quem era o povo brasileiro.
No contexto apresentado por Schwarcz (1993, p.19), a questão da
miscigenação era essencial para a compreensão dos “destinos da nação”. Para
muitos cientistas, envolvidos com as teorias racialistas, a miscigenação de raças
era causa de atraso e inviabilidade de um projeto de nação, pensamento este
que abriu caminho para que teorias da eugenia fossem apropriadas pelos
cientistas, principalmente médicos, brasileiros.
Segundo Maria Eunice de S. Maciel (1999), a eugenia, pensada pelo
antropólogo inglês Francis Galton, é um conjunto de ideias e práticas relativas a
um “aprimoramento da raça humana”, baseado nos princípios darwinianos de
seleção natural. O pensamento da eugenia justificava praticas discriminatórias e
racistas e afirmava a superioridade do branco europeu.
Aqui vale observar que na eugenia europeia, a miscigenação era
condenada. No Brasil, em função da realidade miscigenada, cientistas
propuseram uma eugenia “ao contrário” onde a miscigenação foi positivada
como possibilidade de purificação da raça por meio do branqueamento. Lilia
Schwarcz (1993) afirma que o pensamento da eugenia brasileiro adaptou-se de
forma original, adotando o suposto da diferença entre raças do darwinismo sem
problematizar as implicações negativas da miscigenação. Sendo assim, a
solução para os problemas do Brasil enquanto nação seria o branqueamento da
população, através do controle da reprodução. Esse processo privilegiava o
padrão branco europeu e marginalizava as populações negras e indígenas,
fortalecendo o pensamento racista que vinha sendo construído desde a
escravidão, e que ainda possui permanências nos dias de hoje.
Pietra Diwan (2007) afirma que a eugenia nasce em meio à preocupação
com os “males do corpo e suas soluções” e com a criação de políticas científicas
para resolvê-los. Para Diwan havia uma tentativa de relacionar o “corpo
imperfeito” à fealdade, doença, anormalidade e monstruosidade. Petrônio José
Domingues (2002) discorre sobre como o corpo negro era entendido, entre
outros, como o “corpo imperfeito” e o branqueamento como a solução para esse
corpo. O autor discute que na miscigenação de brancos com negros, contava-se
com o “clareamento” gradual e permanente dos descendentes, exemplificando
esse pensamento através do artigo “Brancos de toda Cor” de João Ribeiro,
publicado na Revista do Brasil em 1923. Segundo Domingues,
na qualidade de um “arguto observador”, [João Ribeiro] também profetizava de forma muito otimista o branqueamento do estado de São Paulo e do país, com sua subjetiva estimativa de tempo:
“Dentro de cincoenta annos, a parte uma pequena fracção retroatavica de typos negróides, teremos uma população plausivelmente mais branca que a da peninsula ibérica” (DOMINGUES, 2002, p. 569)
Não se esperava então que o contrário ocorresse, ou seja, que na
mestiçagem entre brancos e negros houvesse um enegrecimento. Enquanto
esse tipo de branqueamento não ocorria, outro tipo era aplicado e com
resultados em curto prazo: o branqueamento estético. Através de anúncios e
depoimentos de época, Domingues (2002) mostra como a “carga ideológica do
branqueamento” tomava forma no terreno estético e como o modelo branco de
beleza pautava o comportamento e a atitude de partes da população negra de
São Paulo no início do século XX.
Ao apresentar os anúncios e propagandas, Domingues (2002) discute
como as técnicas de branqueamento pelo clareamento da pele ou pelo
alisamento dos cabelos significavam um passo em direção à felicidade dos
negros, eram uma porta de entrada ao “mundo moderno de pessoas elegantes”
(p. 578) e permitiam ao negro a sensação de estar mais parecido com o modelo
ideal de beleza “superior”. Domingues (2002) afirma ainda que ideologia do
“branqueamento estético” foi um fetiche eficaz na alienação dos negros e na
construção de um “auto desprezo” Para o autor, na ausência de modelos
positivos os negros recusavam sua própria natureza e rejeitavam, entre outras
coisas, a estética africana.
Para Giovana Xavier (2013), a negação de uma “beleza negra” também
ocorria por motivos sociais: o branqueamento facilitaria a entrada dos negros
nos meios sociais mais restritos e permitiria a ascensão social. Apresentando,
também, anúncios publicitários do princípio do século XX, Xavier (2013) afirma
que os anúncios de cosméticos direcionados para mulheres negras faziam
questão de lembrar de que “era possível resolver ‘o problema financeiro’,
‘alcançar o sucesso’ e ‘aumentar a beleza’ ”, através de slogans como “Da
cabana à mansão, de escrava à líder social” (XAVIER, 2013, p.6).
Para Xavier (2013), a cosmética negra insistia na necessidade de
articular mercado da beleza e ascensão profissional, atuando na construção do
que a autora chama de uma “beleza cívica negra”. A autora afirma ainda que
esse processo envolvia construção de uma “feminilidade respeitável” para as
mulheres negras.
Ainda no marco do início do século XX, Ivanilde Guedes Mattos (2007)
aborda a negação do corpo negro no contexto da inserção da Educação Física ,
destacando a eugenia como prática social moralizadora e discriminatória, que
privilegiava um padrão estético europeu, marginalizando as especificidades
corpo negro. Mattos (2007) discorre sobre os padrões de beleza construídos
historicamente no Brasil, que envolvem cor da pele, cor dos olhos e tipos de
cabelo, e como esses padrões reproduzidos pela mídia são admirados e
reproduzidos nas escolas brasileiras. Para a autora, o corpo negro foi visto como
objeto desde o período colonial
...como mercadorias, os corpos negros dos africanos que passaram a ser escravizados eram minuciosamente examinados nos mercados de escravos. Os corpos dessas pessoas, antes de serem colocados à venda como objetos, recebiam banho de óleo para que ficassem brilhantes, ressaltando-lhes o porte físico (MATTOS, 2007, p.9)
Segundo Mattos (2007), ainda hoje é possível observar a visão do corpo
negro limitado à algumas práticas, como quando é visto como ideal somente
para esportes de corridas de maratonas ou futebol, trazendo discursos racistas
sobre sua origem, moral e cultural.
Para Lélia Gonzalez (1980), discursos e práticas racistas construídas e
fortalecidas nesse período de eugenia possuíam permanências ainda nos anos
1980 e o branqueamento ainda era um problema, no Brasil e na América Latina,
que começa já na nomenclatura e categorias de estudo científico sobre este
território e seu povo/cultura. As afirmações de Gonzalez ainda são atuais no que
dizem respeito as permanências do branqueamento, como veremos adiante.
Claudia Pons Cardoso (2014) afirma que para Lélia Gonzalez, o racismo
pode ser de dois tipos diferentes: o racismo aberto e o racismo disfarçado. O
primeiro tipo de racismo é encontrado principalmente nos países de origem
anglo-saxônica, e o segundo predomina nas sociedades de origem latina. No
racismo disfarçado, existem as ideias da miscigenação e do mito da democracia
racial, que segundo Gonzalez impedem uma visão crítica da existência práticas
discriminatórias. Cardoso (2014) afirma ainda que, para Gonzalez, o racismo
latino-americano alimenta a alienação através da ideologia do branqueamento,
que provoca um “desejo de embranquecer” e uma “negação da própria raça, da
própria cultura” (p.969).
Para Lélia Gonzalez (1988), as categorias “América”, “latino americano”
ou “afro-americano” não contemplam a complexidade da miscigenação das
raças, dos problemas sociais, do racismo e das culturas abafadas pelo
colonialismo europeu. Lélia Gonzalez cria então a categoria “amefricanidade”
que, para a autora, possibilita “resgatar uma unidade específica, historicamente
forjada no interior de diferentes sociedades que se formam numa determinada
parte do mundo” (GONZALEZ, 1988, p. 77). Amefricanos designaria, então, toda
a descendência de africanos e indígenas, e não só os nativo-americanos e
africanos trazidos em navios negreiros para o continente americano. Gonzalez
(1984) afirma que o branqueamento é cobrado pela consciência do negro para
que sua presença seja aceita nos meios sociais. Para a autora, características
intrínsecas da estética negra assim como manifestações culturais e religiosas
são rejeitadas em nome da aceitação social.
Retornando a análise de Giovana Xavier (2014), e já articulando suas
ideias com o pensamento de Gonzalez, podemos pensar o alisamento do cabelo
afro, como uma permanência das praticas de branqueamento das mulheres
negras, cobradas pelas suas consciências para serem aceitas na vida social,
profissional e afetiva/sexual, atentando sempre para as resistências e exceções,
para não generalizar os casos.
bell hooks (2005), ao contar sobre sua experiência pessoal e familiar
com o alisamento dos cabelos, faz a relação entre a necessidade de controlar o
cabelo (chapinha, prancha, alisamentos) com a repressão sexual e o medo de
que o “cabelo natural” não seja atraente para um possível parceiro.
hooks afirma que em inúmeras discussões com mulheres negras sobre
o cabelo, conseguiu constatar que um dos fatores que mais impediam as
mulheres negras de usarem cabelo sem química era o temor de perder a
aprovação e a consideração das outras pessoas. A autora aponta que mesmo
mulheres negras frequentemente expressavam desprezo por aquelas que
escolhiam não usar química em seus cabelos e adotar uma estética negra com
influência africana, entre elas o uso do cabelo black power, de tranças, de
dreads e turbantes.
O uso de tranças e turbantes como práticas afirmativas da estética
negra nos interessa, pensando-as como artefatos de moda que implicam em
técnicas de construção do corpo das mulheres negras. Indagamo-nos se esses
artefatos fazem parte também da construção de uma identidade amefricana, que
permitem o contato de mulheres da América Latina (ou Améfrica Ladina3,
segundo Gonzalez) com uma cultura que faz parte da sua história e que foi
negligenciada ou suprimida. Contudo, também parece pertinente indagar se
esses recursos servem para reafirmar padrões de feminilidade já estabelecidos,
como os estereótipos da mulher de cabelos longos e sempre adornada.
2.2. Transição capilar e resistências aos padrões eurocêntricos
Aos observamos as redes sociais encontramos diversos grupos e
páginas direcionados a informações sobre o processo de transição capilar.
Numa rápida busca por “transição” e “crespo”, deparamos com títulos como
“Quilombo dos meninos crespos”, “Cresposim”, “Encrespa Geral”, “Turbanteie-
se”, “Transição capilar” e “Alforria – transição capilar”. Alguns grupos já insinuam
no nome que tipos de discussões serão privilegiadas. Não se trata apenas de
cosmético e beleza, mas de ação social e política contra um padrão de beleza
vigente, que leva mulheres negras a alisarem seus cabelos muitas vezes contra
sua vontade.
3 Termo cunhado por Lélia Gonzalez para incluir as descendências africanas e latinas nos
estudos do continente americano.
Segundo Jocélio Teles dos Santos(2000), nos anos 2000 observamos o
aumento da valorização do cabelo liso em detrimento do cabelo crespo e a
emergência de inúmeros processos químicos e técnicos para transformar o
cabelo crespo em liso (escova quente, escova progressiva, alisamento com
formol, escova japonesa, escova inteligente etc.) ou em um cabelo com cachos
sem volume (permanente afro), que poderia ser socialmente aceitável nas
esferas públicas e privadas.
Apesar disso, Cassi L. Reis Coutinho (2011, p.1) defende que, no Brasil,
na década de 2010 temos assistido “o crescimento de uma estética negra com a
valorização positiva de aspectos fenótipos ‘naturais’”. Segundo a autora, é
possível observar uma maior aceitação pela sociedade em geral de um modelo
de pentear/adornar os cabelos que diferem do baseado no “padrão europeu”,
marcado por arquétipos brancos que demarcam “a aparência ideal”.
A resistência aos padrões eurocêntricos pode ser observada nos anos
1960 e 1970 nos EUA, quando surgiram movimentos que lutaram pelos direitos
dos negros com variadas estratégias, que entre outras, traziam a proposta de
modificação do padrão de beleza baseado numa estética branca. O movimento
Black Power emerge na década de 1960 e se fortalece na de 1980,
caracterizado pelo uso dos cabelos sem intervenção química ou física para
“alisar”, o que foi definido como “natural”, por jovens negros(as); juntamente com
este movimento, surgiu o slogan “Black is beautiful”, atentando para a beleza
negra. Nesse contexto de resistência aos padrões eurocêntricos nos anos 1980,
Jocélio T. dos Santos (2000) afirma que no Brasil “a imagem do cabelo natural
passou a ser reverenciada como aquela que se contrapõe ao cabelo liso que
estaria em consonância com uma nova mentalidade do ‘ser negro’ ”.
Nilma Lino Gomes (2012) discorre sobre a importância do corpo e do
cabelo como símbolos da identidade negra. Para a autora, o cabelo e o corpo
não podem ser analisados separadamente, pois um constrói o outro. Na sua
visão, o cabelo crespo e o corpo só adquirem significado quando pensados
como parte de um sistema social e de classificação racial brasileira. Gomes
afirma que na classificação racial no Brasil o cabelo e a cor da pele são as
características mais significativas. Pele e cabelo são largamente usados no
critério de classificação racial para apontar quem é negro e quem é branco,
assim como as “várias gradações de negrura por meio das quais a população
brasileira se autoclassifica nos censos demográficos” (GOMES, 2012).
Fazendo uma etnografia em salões especializados em cabelos crespos,
Gomes (2012) analisa os discursos construídos em torno do cabelo como
marcador da identidade negra. A autora afirma que o cabelo dos(as) negros(as)
expressa um conflito racial no Brasil, sendo visto como “ruim”, uma expressão
de racismo e desigualdade social no país. Podemos pensar na negação da
estética negra na caracterização hegemônica do cabelo afro como “cabelo duro”,
“cabelo de bombril” ou na disseminação do termo “cabelo ruim”. O cabelo
dos(as) negros(as) é “ruim” quando comparado ao cabelo dos(as) brancos(as),
que é “bom” e representa o padrão ideal. Mudar o cabelo, alisando-o, segundo
Gomes, pode significar a tentativa dos(as) negros(as) de sair do seu lugar de
inferioridade social e ir contra os padrões. É mais do que uma questão de
vaidade, é uma questão identitária.
Nas constatações de Jocélio T. dos Santos, de Ivanilde Guedes e de
Nilma Lino Gomes vemos permanências da ideologia do branqueamento
instaurada no inicio do século XX e da articulação entre estética e mercado de
trabalho citados anteriormente na discussão de Giovana Xavier. Observando
essas questões, podemos pensar o processo de transição capilar como
expressão de libertação de uma estética historicamente oprimida, que vai além
do cabelo e passa pelo entendimento de como o corpo das mulheres negras são
vistos por elas mesmas e socialmente. Podemos, também, pensar a transição
capilar como parte da construção de uma identidade amefricana dentro da
proposta de Lélia Gonzalez, e os arranjos de tranças e turbantes como artefatos
que constituem modos e maneiras dentro desta construção.
3. AFRO CHIC: TRANSIÇÃO CAPILAR, ARTEFATOS E A CONSTRUÇÃO
CORPO
Duas edições do evento Afro Chic foram realizadas em Curitiba em
2015. O evento promove workshops ligados à valorização da beleza negra e à
aprendizagem sobre a cultura afro-brasileira. O cabelo é o foco central do
evento, porém outras questões aparecem como pertinentes à discussão acerca
da construção de uma identidade afro-brasileira para mulheres negras.
São promovidas oficinas de turbantes, de tranças e de maquiagem,
assim como intervenções de dança africana, de rodas de capoeira e de samba.
Em ambas as edições do evento foram promovidas discussões sobre autoestima
feminina e valorização da estética afro-brasileira.
O corpo, segundo Jorge Crespo (1990) é uma construção histórica e
social. Para o autor o corpo não é um dado imutável, pois possui historicidade e,
sendo assim, é um resultado de um longo processo de elaboração social.
Observando os tipos de oficinas promovidas pelo evento, podemos perceber que
existe o entendimento, pelo menos pela parte organizadora, de que o cabelo das
mulheres negras faz parte da construção de seus corpos e não pode ser
pensado isoladamente. Tranças, turbantes, danças e expressões musicais são
ensinados, aprendidos e vivenciados no evento como aspectos construtores do
corpo das mulheres negras.
Grande parte das participantes do Afro Chic estão passando ou
passaram pelo processo de transição capilar e buscaram o evento para obter
mais informações de cuidados com o cabelo e para estar em contato com outras
mulheres que vivenciaram o mesmo processo. Muitas dessas mulheres têm um
histórico de uso de químicas para alisar os cabelos que acarretou desde queda
capilar a problemas respiratórios.
O uso de químicas e outras técnicas para transformar o corpo é
discutida por Cleiton N. Camargos e Luís Otávio T. Assunção (2007), que falam
sobre a construção do corpo ligada ao que chamam de “tecnologia da beleza”,
utilizada pelos sujeitos para se adequar a padrões de beleza construídos
socialmente. Para Camargos e Assunção (2007) o culto ao corpo está
intrinsecamente ligado à imagem de poder e mobilidade social. Deste modo,
podemos entender a busca por processos de alisamentos e químicas para
alterar a estrutura do cabelo crespo como tentativa de se enquadrar em um
padrão de beleza eurocêntrico, discutido anteriormente, necessário para
ingressar num determinado contexto social. As oficinas abordaram o imaginário
construído sobre as práticas de arranjos de tranças e uso de turbantes no Brasil,
que está ligado a doenças (uso de turbantes por mulheres que passam por
quimioterapia, por exemplo) e a baixa condição social no caso das tranças
(como opção para mulheres que não teriam condições financeiras de pagar por
um alisamento ou mega hair).
Nas oficinas promovidas no evento Afro Chic, existe o compromisso em
desconstruir esse imaginário através da articulação entre o ensino das técnicas
do trançado dos cabelos e do uso de turbantes e informações históricas e
culturais sobre elas. As participantes são ensinadas a utilizar tranças e turbantes
como práticas facilitadoras no processo de transição capilar, principalmente as
mulheres que fizeram o big chop4.
Foi discutido também como no Brasil os turbantes eram utilizados por
mulheres negras como medida de higiene, na cozinha principalmente, para
trabalhar nas casas dos senhores e mais tarde, no pós-escravidão, como
empregadas domésticas. Mas os significados dos turbantes antecedem muito
esse contexto. Para diferentes culturas africanas, cada tipo de amarração tem
seu significado social, político e/ou espiritual, característica que ainda podemos
observar no uso de turbantes por chefes religiosos de matriz africana.5 Nos
workshops sobre turbantes foram apresentadas não somente os tipos de
amarrações, mas houve diálogo sobre os significados simbólicos do turbantes,
assim como pequenas narrativas sobre história da estética negra e
apresentação de livros que tratam do tema.
Em outro workshop do evento, as tranças foram relacionadas a
momentos de convivência familiar, principalmente entre mulheres – avó, mãe e
4 O “grande corte” consiste em cortar todo o cabelo que ainda possuí química de alisamento,
muitas vezes necessitando a raspagem da cabeça.
5 Esses significados estão sendo pesquisados para o trabalho de dissertação
filha. Entendendo a relação de admiração entre mães e filhas, as oficinas, no
caso do evento Afro Chic são direcionadas também a casais inter-raciais
principalmente com a mãe sendo mulher branca. Nesses casos muitas filhas
acabam iniciando processos de modificação capilar ainda na infância, baseadas
no modelo de beleza materno. Muitas mães têm dificuldades em cuidar do
cabelo crespo das (os) filhas (os), por ser uma realidade diferente da sua e
acabam ou raspando o cabelo da criança, no caso dos meninos, ou deixando o
cabelo sempre preso e recorrendo a químicas, no caso das meninas. Nos
workshops as mães são incentivadas a colocar as (os) filhas (os) em contato
com outros tipos de beleza, de corpos e cabelos que não o seu, incentivando o
entendimento da diversidade cultural e estética. Segundo Coutinho (2011),
tranças rasta (tranças de raíz), dread locks e braid locks (tranças soltas)
sofreram um processo de estigmatização no Brasil, sendo vistas como “coisa de
bandido”. Nesse sentido, as ações afirmativas, como o ensino de tranças e
turbantes, procuram desconstruir essa imagem e apresentar as tranças como
uma estética possível para mulheres negras, uma vez entendidas como belas e
ligadas às raízes africanas.
Para várias culturas africanas, o ato de mexer no cabelo e na cabeça é
um ato sagrado e de intimidade familiar. Isso também foi evidenciado nos
workshops do evento Afro Chic. João Ferreira Dias (2014) afirma que a cabeça é
a vasilha da personalidade e do destino (ìpin) e é composta pelo orí odè (cabeça
exterior) e orí inú (cabeça interior ou mística). Os cabelos e as formas como são
utilizados são elemento de poder. O ori (cabeça) guarda não só a razão, mas os
sentimentos e a espiritualidade da pessoa e, por isso, precisa ser protegido.
Sendo assim, o acesso à cabeça é dado somente a quem se confia. Levando
isso em conta, as participantes do workshop de tranças foram convidadas a
pedir licença para tocar na cabeça/cabelo umas das outras. Também foram
incentivadas a massagear os cabelos e fazer carinho na cabeça da pessoa que
estivesse a sua frente, sentir a textura do cabelo crespo, para desmistificar a
noção de que o cabelo afro é duro e ruim ao toque.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de transição capilar vem ganhando espaço em discussões
nas redes sociais e na mídia televisiva. Não se trata de um fenômeno puramente
estético. Deixar de alisar os cabelos é um ato que traz consigo um aporte de
lutas sociais e políticas, de aceitação e promoção da diversidade estética e
cultural. Nesse processo está presente o uso de várias técnicas para o cuidado
dos cabelos, e observamos que são privilegiadas as técnicas de origem africana,
que aprofundam a ligação entre aspectos materiais e simbólicos.
O evento Afro Chic realizado em Curitiba tem no cuidado do cabelo seu
foco central, porém outras questões aparecem como pertinentes à discussão
acerca da construção de uma identidade afro-brasileira para mulheres negras.
São promovidas rodas de samba e de capoeira, oficinas de maquiagem e dança
africana em meio a um ambiente que promove valorização da cultura afro-
brasileira através de música, artesanato e estética. Os arranjos de tranças e
amarrações de turbantes remetem a uma cultura sufocada na história do Brasil e
participam da construção do corpo e da identidade das mulheres negras. Nesse
sentido, são promovidos workshops que ensinam não somente as técnicas
dessas práticas, mas também suas histórias e significados.
Em nossa análise, os processos de alisamento do cabelo podem ser
compreendidos, em alguns casos, como permanências da ideologia do
branqueamento historicamente construída na sociedade brasileira. O processo
de transição capilar e eventos que promovem práticas afirmativas relacionadas a
esse processo, como o Afro Chic, podem ser pensados como parte da
construção de uma identidade amefricana dentro da proposta de Lélia Gonzalez,
e os arranjos de tranças e turbantes como artefatos de moda que fazem parte
desta construção.
5. REFERÊNCIAS
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