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E E C VOLUÇÃO RÍTICA Maria Ester de Freitas CULTURA ORGANIZACIONAL

Cultura Organizacional - Evolução e Crítica

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Coleção Debates em Administração

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E E CVOLUÇÃO RÍTICA

Maria Ester de Freitas

Cultura O

rganizacional – Evolução e Crítica

Os estudos culturais nas organizações são um tema que se atualiza de acordocom as necessidades organizacionais e seu contexto histórico. Na década de1980, se pautavam pela busca de uma cultura forte como um diferencial entregrandes empresas e o aumento nos índices de produtividade. Nos anos 1990,com o aumento da competitividade e da concorrência, a cultura passou a servista como um obstáculo às transformações exigidas por um ambiente demudanças e reestruturação organizacional. A época atual incorpora a herançadas reestruturações e intensifica a busca de uma cultura organizacional alta-mente produtiva, resultante de processos de fusões, aquisições e aliançasinterorganizacionais.

Nesta obra, todo esse percurso da cultura organizacional é traçado e acrescidode uma perspectiva crítica com foco na análise dos aspectos culturais comocontrole social, produção imaginária e psicológica e gestão do afetivo.

faz parte da , que buscafornecer ao leitor informação sucinta a respeito dos assuntos mais atuais erelevantes da área de Administração.

Obra indicada para as disciplinas teoria geral de administração (TGA), teoriaorganizacional, análise organizacional, comportamento organizacional e gestãode pessoas dos cursos de graduação e pós-graduação em Administração e paraprofissionais, executivos e consultores que atuam na área organizacional.

é mestre e doutora em Administração de Empresaspela FGV-EAESP e pós-doutora em Administração Intercultural pela Écoledes Hautes Études Commerciales (HEC), Jouy-em-Josas/França. Foi pesqui-sadora visitante na Université Paris VII, Denis Diderot/Jussieu, e New YorkUniversity. É professora titular do Departamento de Administração Geral eRecursos Humanos da FGV-EAESP.

CulturaOrganizacional Coleção Debates em Administração

Aplicações

Sobre a autoraMaria Ester de Freitas

Maria

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CULTURA ORGANIZACIONAL

Para suas soluções de curso e aprendizado,

visite www.cengage.com.br

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Cultura OrganizacionalEvolução e Crítica

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Freitas, Maria Ester deCultura Organizacional: evolução e crítica / Ma-

ria Ester de Freitas; coordenador-assistente André Ofenhejm Mascarenhas. -- São Pau lo: Cengage Lear-ning, 2009. -- (Coleção debates em administração / coordenadores, Isabella F. Gouveia de Vasconcelos, Flávio Carvalho de Vasconcelos)

2. reimpr. da 1. ed. de 2007.Bibliografi a.ISBN 978-85-221-0853-4

1. Administração de empresas 2. Cultura organi-zacional I. Vasconcelos, Isabella F. Gouveia de II. Vasconcelos, Flávio Carvalho de. III. Mascarenhas, André Ofenhejm. IV. Título. V. Série.

Índice para catálogo sistemático:1.Cultura organizacional : Administração

de empresas: 658.001

07-1614 CDD – 658.001

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COLEÇÃO DEBATES EM ADMINISTRAÇÃO

Maria Ester de Freitas

Coordenadores da coleção

Isabella F. Gouveia de Vasconcelos

Flávio Carvalho de Vasconcelos

Coordenador-assistente

André Ofenhejm Mascarenhas

Cultura OrganizacionalEvolução e Crítica

Austrália • Brasil • Japão • Coreia • México • Cingapura • Espanha • Reino Unido • Estados Unidos

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Cultura Organizacional – Evolução e Crítica

Maria Ester de Freitas

Gerente Editorial: Patricia La Rosa

Editora de Desenvolvimento: Ligia Cosmo Cantarelli

Supervisor de Produção Editorial: Fábio Gonçalves

Supervisora de Produção Gráfi ca: Fabiana Alencar Albuquerque

Copidesque: Maria Alice da Costa

Diagramação: ERJ – Composição Editorial e Artes Gráfi cas Ltda

Capa: Eliana Del Bianco Alves

© 2007 Cengage Learning Edições Ltda.

Todos os direitos re ser va dos. Nenhuma parte deste livro po-derá ser reproduzida, sejam quais forem os meios em pre ga dos, sem a per mis são, por escrito, da Editora.Aos infratores aplicam-se as sanções pre vis tas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

© 2007 Cengage Learning. Todos os direitos reservados.

ISBN-13: 978-85-221-0853-4

Cengage LearningCondomínio E-Business Park Rua Werner Siemens, 111 – Prédio 20 – Espaço 04 Lapa de Baixo – CEP 05069-900 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3665-9900 – Fax: (11) 3665-9901SAC: 0800 11 19 39

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Impresso no Brasil.Printed in Brazil.1 2 3 4 5 6 10 09 08 07

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À memória de Fernando C. Prestes Motta, pelo dito e feito.

À memória de Georges Heyman, por todo o vivido.

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Cultura Organizacional

E o fi m de nosso caminho será voltarmos ao ponto de partida e percebermos o mundo

à nossa volta como se fosse a primeira vez que o observássemos.

T. S. Elliot (adaptação)

O conhecimento transforma. A partir da leitura, vamos em cer-ta direção com curiosidade intelectual, buscando descobrir mais sobre dado assunto. Quando terminamos o nosso per-

curso, estamos diferentes. Pois, o que descobrimos em nosso ca-minho freqüentemente abre horizontes, destrói preconceitos, cria alternativas que antes não vislumbrávamos. As pessoas à nossa volta permanecem as mesmas, mas a nossa percepção pode se mo-difi car a partir da descoberta de novas perspectivas.

O objetivo desta coleção de caráter acadêmico é introduzir o leitor a um tema específi co da área de administração, fornecendo desde as primeiras indicações para a compreensão do assunto até as fontes de pesquisa para aprofundamento.

Assim, à medida que for lendo, o leitor entrará em contato com os primeiros conceitos sobre dado tema, tendo em vista diferen-tes abordagens teóricas, e, nos capítulos posteriores, brevemente, serão apresentadas as principais correntes sobre o tema – as mais importantes – e o leitor terá, no fi nal de cada exemplar, acesso aos principais artigos sobre o assunto, com um breve comentário, e

apresentação

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indicações bibliográfi cas para pesquisa, a fi m de que possa conti-nuar a sua descoberta intelectual.

Esta coleção denomina-se Debates em Administração, pois se-rão apresentadas sucintamente as principais abordagens referentes a cada tema, permitindo ao leitor escolher em qual se aprofundar. Ou seja, o leitor descobrirá quais são as direções de pesquisa mais importantes sobre determinado assunto, em que aspectos estas se diferenciam em suas proposições e logo qual caminho percorrer, dadas suas expectativas e interesses.

Debates em Administração deve-se ao fato de que os orga-nizadores acreditam que do contraditório e do conhecimento de diferentes perspectivas nasce a possibilidade de escolha e o pra-zer da descoberta intelectual. A inovação em determinado assunto vem do fato de se ter acesso a perspectivas diversas. Portanto, a coleção visa suprir um espaço no mercado editorial relativo à pes-quisa e à iniciação à pesquisa.

Observou-se que os alunos de graduação, na realização de seus projetos de fi m de curso, sentem necessidade de bibliografi a específi ca por tema de trabalho para adquirir uma primeira refe-rência do assunto a ser pesquisado e indicações para aprofunda-mento. Alunos de iniciação científi ca, bem como executivos que voltam a estudar em cursos lato sensu – especialização – e que devem ao fi m do curso entregar um trabalho, sentem a mesma difi culdade em mapear as principais correntes que tratam de um tema importante na área de administração e encontrar indica-ções de livros, artigos e trabalhos relevantes na área que possam servir de base para seu trabalho e aprofundamento de idéias. Es-sas mesmas razões são válidas para alunos de mestrado strictu sensu, seja acadêmico ou profi ssional.

A fi m de atender a este público diverso, mas com uma necessi-dade comum – acesso a fontes de pesquisa confi áveis, por tema de pesquisa – surgiu a idéia desta coleção.

A idéia que embasa Debates em Administração é a de que não existe dicotomia teoria-prática em uma boa pesquisa. As teorias,

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em administração, são construídas a partir de estudos qualitati-vos, quantitativos e mistos que analisam e observam a prática de gestão nas organizações. As práticas de gestão, seja nos estudos estatísticos ou nos estudos qualitativos ou mistos – têm como base as teorias, que buscam compreender e explicar essas práticas. Por sua vez, a compreensão das teorias permite esclarecer a prática. A pesquisa também busca destruir preconceitos e “achismos”.

Muitas vezes, as pesquisas mostram que nossas opiniões pre-liminares ou “achismos” baseados em experiência individual estavam errados. Assim, pesquisas consistentes, fundamentadas em sólida metodologia, possibilitam uma prática mais consciente, com base em informações relevantes.

Em pesquisa, outro fenômeno ocorre: a abertura de uma porta nos faz abrir outras portas – ou seja – a descoberta de um tema, com a riqueza que este revela, leva o pesquisador a desejar se aprofundar cada vez mais nos assuntos de seu interesse, em um aprofundamento contínuo e na consciência de que aprender é um processo, uma jornada, sem destino fi nal.

Pragmaticamente, no entanto, o pesquisador, por mais que de-seje aprofundamento no seu tema, deve saber em que momento parar e fi nalizar um trabalho ou um projeto, que constituem uma etapa de seu caminho de descobertas.

A coleção Debates em Administração, ao oferecer o “mapa da mina” em pesquisa sobre determinado assunto, direciona esforços e iniciativa e evita que o pesquisador iniciante perca tempo, pois, em cada livro, serão oferecidas e comentadas as principais fontes que permitirão aos pesquisadores, alunos de graduação, especia-lização, mestrado profi ssional ou acadêmico produzirem um co-nhecimento consistente no seu âmbito de interesse.

Os temas serão selecionados entre os mais relevantes da área de administração.

Finalmente, gostaríamos de ressaltar o ideal que inspira esta coleção: a difusão social do conhecimento acadêmico. Para tan-to, acadêmicos reconhecidos em nosso meio e que mostraram

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excelência em certo campo do conhecimento serão convidados a difundir esse conhecimento para o grande público. Por isso, gos-taríamos de ressaltar o preço acessível de cada livro, coerente com o nosso objetivo.

Desejamos ao leitor uma agradável leitura e que muitas desco-bertas frutíferas se realizem em seu percurso intelectual.

Isabella F. Gouveia de VasconcelosFlávio Carvalho de Vasconcelos

André Ofenhejm Mascarenhas

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introdução

A constituição da administração como um campo das ciências sociais aplicadas é devedora da interdisciplinaridade. Desde Taylor e Fayol, que eram engenheiros, a sistematização,

a consolidação e a expansão desse campo de conhecimento têm-se dado pela incorporação de saberes cujas origens, não raro, estão em outras áreas. Não é, pois, mera coincidência os marcos que caracte-rizam as escolas formadoras do pensamento administrativo terem sido inspirados ou terem assimilado algumas das contribuições da engenharia, da biologia, da psicologia, da sociologia, da economia, da cibernética, das ciências políticas, entre outras; em tempos mais recentes, tanto a fi losofi a e a antropologia quanto a psicanálise têm alimentado algumas perspectivas nos estudos organizacionais.

Se, de um lado, essa diversidade de fontes constitui um dos gran-des atrativos, desafi os e fortalezas dessa área, pois reconhece a ne-cessidade da construção de um saber coletivo transdisciplinar para dar conta de um objeto multifacetado e multidimensional, como é o caso das organizações; de outro, essa diversidade pode favorecer a dispersão, o relativismo exacerbado e pode mesmo transformar a área em uma presa fácil para os modismos, as receitas de gurus e as simplifi cações de todas as colorações.

Essa permeabilidade conduz geralmente a uma postura descon-fi ada, que leva práticos, estudiosos e pesquisadores a se interroga-rem se determinado assunto no mundo organizacional é realmente relevante ou se ele é apenas mais uma onda que vem e passa, depois de fazer alguns adeptos encantados com a última mágica capaz de elevar a produtividade a um nível inimaginável. A natureza huma-na empresta com relativa facilidade o seu ouvido às mensagens que lhe tranqüilizam, às que lhe prometem um mundo que canta, às que podem lhe trazer para a mesa o manjar dos deuses, de preferên-cia sem pagar os preços e sacrifícios correspondentes.

Como as organizações são palcos que freqüentamos diariamen-te para desenvolver nosso trabalho ou exercer nosso papel de con-

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sumidor, temos para com elas certa familiaridade e sentimo-nos todos mais ou menos habilitados a resolver os seus problemas de forma corriqueira. É nesse universo do coloquial que atuam mui-tos pregadores de soluções rápidas, valendo-se de aportes pinçados em diferentes matrizes do conhecimento humano, como é o caso da astrologia, da numerologia, da grafologia, do budismo ou de outras religiões e seitas, como também fazendo uso de fontes científi cas de credenciada reputação, tais como a física ou a química. Nessa ótica, muitas vezes a criatividade desafi a a imaginação mais desvairada.

Os estudos sobre cultura organizacional surgiram de forma massiva na década de 1980 e se popularizaram com muita rapidez. Parte de suas idéias esteve presente na produção acadêmica ante-rior a essa data, mas a nomenclatura básica e o seu aprofundamento podem ser reconhecidos como um produto dessa época. Raros eram os temas em administração que despertavam um interesse popu-lar e tal foi o caso dos aspectos culturais nas organizações que, em pouco tempo, o assunto passou a ser discutido nos Estados Unidos com muita desenvoltura por cineastas, romancistas, apresentadores de programas de televisão, animadores de cursos de curta duração, jornalistas não especializados em negócios etc. Os administrado-res ou executivos de grandes empresas, até então discretos, foram transformados em celebridades e o mundo empresarial começou a ser tratado como um espaço de glamour nas colunas sociais.

Essa ampla cobertura inspirou publicações tanto com objetivos aventureiros como aquelas comprometidas com o rigor e a qualidade da análise, tornando-se simultaneamente um tema sério imprescindí-vel na análise organizacional e também uma fórmula mágica que en-cheu os bolsos de muitos consultores. Estes, durante o dia, prometiam resolver todos os problemas organizacionais, preparando e treinando pessoas para uma nova cultura de empresa na semana seguinte e, du-rante a noite, escreviam livros sobre as suas idéias geniais para cons-truir uma cultura forte ou para criticar a teoria do colega enquanto propunha a sua própria mais ou menos nos mesmos moldes.

Outros temas foram incorporados ao debate organizacional nos últimos anos, mas a cultura organizacional continua tendo a sua importância reconhecida; podemos mesmo dizer que o seu es-

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tudo foi rejuvenescido pelos freqüentes processos de fusão e aqui-sição de empresas vistos hoje, pelas novas formas de gestão de pessoas, pelos novos formatos organizacionais, pela maior inter-nacionalização de empresas, pela importância que tem sido dada aos estudos organizacionais de cunho cross-cultural e intercultural, pela busca da sustentabilidade, pela construção de um ambiente diverso e de relações de trabalho mais civilizadas.

Em 1991, publicamos o livro Cultura organizacional – Formação, tipo-logias e impactos, que detalhou as grandes questões que preocupavam tanto o mundo acadêmico quanto o empresarial desde o surgimen-to do interesse por esse assunto. Esse trabalho foi baseado na farta produção acadêmica norte-americana, pesquisada durante a nossa estada na Universidade de Nova York, no primeiro semestre de 1987, no qual buscamos respeitar o caráter histórico desses estudos, cobrin-do as diferentes contribuições teóricas e práticas que o tema havia recebido. Essa obra apresentou um estado da arte e foi livro-texto em muitas disciplinas nos cursos de Administração, contudo, não foi re-editada a partir de 1997; cremos, todavia, que ela continua válida na sua historicidade e será em parte resgatada aqui.

Mas o mundo contemporâneo, inclusive o acadêmico, é marca-do pela rapidez das mudanças e necessidade de reavaliação per-manente. As organizações, em geral, e as empresas, em particular, sofreram muitas alterações nas últimas décadas para ajustar-se e também para produzir um mercado com maior competitividade, maior integração global, mais sofi sticação em vários aspectos, com aumento da cobrança pelos seus consumidores cada vez mais exi-gentes e vigiado por legislações mais restritivas. Assim, não é de estranhar que novos estudos sobre temas importantes tragam no-vas contribuições e perspectivas de análise ante o novo cenário, as novas atitudes, novas expectativas e novas descobertas e experi-ências que vivenciamos no universo organizacional.

Este livro está estruturado em cinco capítulos e percorrerá um caminho que não é linear, ainda que respeitemos certa cronologia do nascimento do campo à incorporação de novas contribuições de autores norte-americanos e europeus. O Capítulo 1 enfatiza a cons-trução desse campo de conhecimento, resgatando os seus primór-

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dios e os autores que contribuíram nessa empreitada; o Capítulo 2 trata as questões de natureza conceitual e metodológica, bem como clarifi ca os principais elementos que compõem a cultura organi-zacional; o Capítulo 3 apresenta os principais conteúdos que têm sido privilegiados por estudiosos e práticos na análise cultural; o Capítulo 4 discute a mudança cultural ao mesmo tempo que intro-duz algumas das incorporações temáticas mais recentes que podem alargar o escopo da análise cultural em desdobramentos futuros; por fi m, o Capítulo 5 traz algumas das críticas que envolvem o tema, seja em relação aos seus aspectos conceituais e metodológicos tidos como frágeis, seja em relação a uma análise do controle social e psicológico inerente aos aspectos culturais nas organizações.

Buscamos, assim, oferecer ao nosso leitor uma panorâmica so-bre o assunto, como é o objetivo desta coleção, e o incentivamos a aprofundar a bibliografi a indicada no que lhe interessar. Conside-rando que este livro recupera a construção histórica desse campo de conhecimento, a sua evolução e a perspectiva crítica, não pode-ríamos deixar de apresentar uma bibliografi a que cobrisse alguns dos principais marcos dessas questões.

Expressamos nosso agradecimento sincero:• ao nosso orientando do curso de Doutorado da EAESP/FGV,

Fábio Bittencourt Meira, pela realização da pesquisa bibliográ-fi ca no período 1989-2005, em periódicos internacionais, classi-fi cação A, de acordo com os critérios Qualis, da Capes;

• ao Programa GV-Pesquisa, da EAESP/FGV, pela bolsa ofereci-da ao nosso assistente para a realização dessa tarefa;

• à Isabella F. G. Vasconcelos, Flávio C. Vasconcelos e André O. Mascarenhas, pelo convite para integrar o corpo de autores desta coleção que eles têm a felicidade de coordenar;

• à Editora Thomson, pela acolhida calorosa ao nosso nome como participante deste grande projeto;

e o carinhoso reconhecimento ao Prof. Carlos Osmar Bertero, meu orientador na época em que comecei a me interessar por essa te-mática e que assina o livro inaugural da coleção.

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SUMÁRIO

1. Nasce um campo de conhecimentos 1

2. Cultura Organizacional e os seus elementos 11

3. Faces da análise cultural nas organizações 31

4. Mudança cultural eincorporações temáticas 61

5. Perspectivas críticas 79

Bibliografi a Comentada 97

Referências Bibliográfi cas 101

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capítulo 1

Hoje, podemos dizer que a cultura organizacional como área temática da administração e dos estudos organizacionais não é moda; ao contrário, ela não só está consolidada como

ainda desperta grande interesse teórico e prático. A cultura organizacional tem-se benefi ciado de contribuições

das mais diferentes ciências e áreas de conhecimento, a começar pela antropologia cultural, de quem tomou emprestados a sua ló-gica fundamental e alguns de seus conceitos mais caros. Não obs-tante a utilização desses conceitos tenha sido e ainda seja objeto de várias críticas, como teremos oportunidade de detalhar no Capítulo 5, podemos afi rmar que os estudos culturais nas organizações con-sagraram alguns autores, colocaram em evidência a vida interna e externa de algumas das empresas mais conhecidas no mundo, mos-traram uma gama de possibilidades na interpretação de eventos organizacionais, desafi aram um saber administrativo hegemônico fundado basicamente em aspectos palpáveis ou objetivos, ques-tionaram a exclusividade e a infalibilidade da alta administração no sentido de ditar os rumos da organização, deram visibilidade e importância ao simbolismo nas organizações, instigaram novas opções metodológicas em estudos organizacionais; enfi m, já foram completamente incorporados como uma abordagem relevante na análise organizacional. Pela abordagem cultural, adentrou-se o lado

Nasce um Campo de Conhecimentos

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soft das organizações e a subjetividade passou a ser considerada um aspecto importante de análise nos níveis individual, grupal, organi-zacional e institucional.

É sempre muito arriscado determinar a data de nascimento de um campo de conhecimento, pois nenhum deles se constitui sem um referencial anterior, no qual apóia alguns de seus pressupostos, conceitos, métodos e instrumentos de pesquisa e análise. Um tema novo nunca é totalmente novo, ele tem sempre um passado, ainda que discreto e modesto. Todo conhecimento é devedor de um acu-mulado ao longo da história, não existindo senão o conhecimento construído coletivamente. Podemos, contudo, identifi car uma épo-ca que marca o discurso forte sobre determinado tema. O parâmetro que nos norteia nessa classifi cação de “discurso forte” é relacionado com a publicação acadêmica e a movimentação de pesquisadores da área, ou seja, quantidade de livros, artigos, palestras, conferên-cias, cursos especiais, congressos e colóquios, dissertações, teses, pesquisas em geral que tenham interesse no estudo de tal objeto. Paralelamente à produção acadêmica, verifi ca-se freqüentemente a valorização desse tema pelos profi ssionais da área, reforçando a pesquisa e a publicação de textos mais ou menos rigorosos sobre a questão em foco.

Um exercício arqueológico recente no campo da administração nos remete aos estudos sobre estratégia, que dominaram a década de 1970; a estrutura organizacional como destaque nos estudos dos anos 1960; os estudos sistêmicos como o grande foco dos anos 1950 e assim por dian-te. Nenhum desses discursos fortes foi exclusivo ou inteiramente novo, ao contrário, eles se destacaram em função dos debates correntes sobre outros assuntos e apresentaram uma tendência a englobar parte dos demais, apresentando-se como uma proposta mais abrangente e inova-dora. A década de 1990, ainda bem forte em nossa memória, foi o início do império das reestruturações, chamadas também “reengenharias”, downsizing ou rightsizing, que consagraram termos e práticas como out-placement e empowerment e inauguraram o tempo organizacional contí-nuo, quer dizer, reestruturações passaram a ser práticas permanentes e não pontuais, assim como a aprendizagem deve ser constante.

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Afi rmamos que a cultura organizacional se estabelece como o discurso forte dos anos 1980 e, além de orientar farta produção acadêmica, ele recebe ampla cobertura de revistas dirigidas ao público empresarial, como Fortune e Business Week, e, ao público em geral, como reportagens publicadas no jornal The New York Ti-mes. Aliás, foi a Business Week que abriu o caminho para a popu-larização do tema, por meio do artigo “Corporate culture – the hard-to-chage values that spell sucess or failure”, publicado em seu número de outubro de 1980 e que foi rapidamente convertido em referência bibliográfi ca na literatura que viria a surgir imedia-tamente na categoria best-seller.

Autores como Ouchi (1982), Deal e Kennedy (1982), Peters e Waterman Jr. (1982), Pascale e Athos (1981) e Kanter (1983) ganha-ram ampla divulgação, e muitos deles tiveram os seus trabalhos traduzidos rapidamente para outros idiomas e quebraram recor-des de vendas. Um traço comum a esses autores foi o tratamento teórico-prático do assunto, com vários exemplos de empresas bem-sucedidas. Os autores citavam as características que poderiam ser consideradas as causas desses sucessos – referências sempre entu-siastas do modelo japonês, lições que poderiam ser seguidas por outras empresas, o que as tornavam campeãs de sucesso, quais os valores que irradiavam a vida interna dessas companhias, o papel inspirador dos grandes líderes, como desenvolver uma cultura de sucesso e quais as mudanças mestras que mereciam atenção e ajustamento para uma cultura forte. O nível de profundidade te-órica teve gradações que variaram entre uma competente análise de contexto até a receita mágica transmissível do sucesso.

Parte desse tipo de literatura pode estar na origem de dois pro-dutos de consumo rápido pelo segmento executivo de hoje: as lei-turas simplifi cadoras da realidade organizacional e os gurus com as suas receitas milagrosas. Até então, os livros destinados aos homens de negócios podiam ser considerados pesados, densos, escritos por acadêmicos, economistas renomados ou capitães da indústria, vistos como visionários, porém, que não seriam classi-fi cados na rubrica “celebridades”. Autores como Drucker, Toffl er, Galbraith e Friedman não são considerados gurus ainda que as

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suas obras tenham sido best-sellers. Por outro lado, precisamos re-conhecer que o mercado editorial em todo o mundo ganhou um produto de alta margem e rotação rápida, o que representa o sonho dourado de um setor que se caracterizava pelo giro lento de seus estoques. Houve uma modifi cação substantiva não só no catálogo das editoras, mas na maneira de ver o próprio negócio, ou seja, o livro como uma mercadoria não precisaria ter necessariamente o retorno apenas no médio ou longo prazos.

Especifi camente no caso do conteúdo do livro de W. Ouchi (Teo-ria Z), ele traça um comparativo entre as características culturais nas sociedades e empresas japonesas e norte-americanas, o que veio a ins-pirar forte movimento de turismo empresarial ao Japão, bem como a importação de técnicas tidas como responsáveis pelos desempenhos espetaculares das empresas nipônicas. Não apenas a área de produção sofreu grandes modifi cações para implantar processos como CCQ e Kanban, mas uma verdadeira febre tomou conta de companhias nor-te-americanas para construir um simbolismo organizacional eviden-ciado em hinos de empresas, ginásticas nos pátios e estacionamentos, rituais coletivos de culto a organização, bandeiras, slogans, celebrações grandiosas em estádios de futebol, missões e visões etc. O tipo Z, que dá título ao livro, seria o casamento dos melhores atributos percebidos nas empresas norte-americanas e japonesas, tendo como ilustração o caso da IBM, que, apesar de valorizar o talento individual, apresentaria forte coesão interna e orgulho coletivo.

O fi lme com o título brasileiro A fábrica de loucuras levaria essa temática de sucesso cultural para as telas e seria exibido em em-presas e faculdades de administração no mundo ocidental como o modelo do que poderia ocorrer de melhor em uma empresa. O grande mérito do livro de Ouchi nos parece ser o fato de ele refor-çar a importância das culturas nacionais na gestão de empresas, linha de pesquisa que já vinha sendo trilhada de maneira mais discreta e profunda pelo acadêmico holandês G. Hofstede (1980), em seu livro Culture’s consequences: International differences in work-related values – um trabalho gigantesco de pesquisa em 53 países, que foi revisado várias vezes e teve as amostras progressivamente

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aumentadas, sobre o qual comentaremos adiante. A preocupação com a convivência de culturas distintas traduz uma problemática cada vez mais pertinente nos dias atuais, em virtude do processo de globalização das empresas e da criação de blocos econômicos.

Voltando à retrospectiva da produção acadêmica cultural, pode-mos citar duas obras seminais que não estiveram sob os holofotes e que, apenas no fi nal da década de 1980, elas passaram a ser citadas mais freqüentemente como referências importantes. Referimo-nos aos livros de Elliot Jaques, do Instituto Tavistock, The changing cul-ture of a factory, de 1951, e de Tom Watson Jr., A Business and its beliefs – The ideas that helped built IBM, de 1963, resgatando as idéias e cren-ças de seu pai, cuja distribuição foi restrita aos funcionários da em-presa no mundo e às bibliotecas universitárias norte-americanas. A obra de Watson Jr. abriria uma trilha no mercado editorial e duas décadas depois ela seria aproveitada para difundir as histórias que louvam os traços visionários dos fundadores de grandes empresas de sucesso ou as sagas organizacionais protagonizadas pelos seus CEOs, como foi o caso dos livros sobre McDonald’s, Pepsi-Cola, GM, Chrysler, Sony, Iaccoca, entre outros. No entanto, nenhuma organização foi tão usada como referência e palco para pesquisas e estudos com diferentes abordagens que a IBM.

Em 1976, o acadêmico inglês C. Handy escreve o livro Unders-tanding Organization, no qual ele usa explicitamente o termo “cul-tura organizacional”, possivelmente pela primeira vez após Elliot e Watson Jr. Em 1979, Andrew Pettigrew publica o artigo “On stu-dying organizational cultures”, que viria a tornar-se uma referên-cia. Idéias que representam construções simbólicas e culturais nas empresas haviam sido tratadas academicamente por termos como “ideologia” e “caráter” (Harrison, 1972), “saga” (Clark, 1972), “sig-nifi cados” (Barnard, 1938), “missão e socialização” (Selznic, 1957), “padrões de administrar” (Likert, 1974); outros autores como Eti-zioni (1975) e Crozier (1964) também são vistos como importantes por levantar idéias que podemos considerar precursoras da ques-tão cultural ou de alguns seus elementos, porém deixamos claro que nenhum desses autores se referiu a ela de forma específi ca.

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Os estudos culturais nas organizações são um tema que se atualiza de acordocom as necessidades organizacionais e seu contexto histórico. Na década de1980, se pautavam pela busca de uma cultura forte como um diferencial entregrandes empresas e o aumento nos índices de produtividade. Nos anos 1990,com o aumento da competitividade e da concorrência, a cultura passou a servista como um obstáculo às transformações exigidas por um ambiente demudanças e reestruturação organizacional. A época atual incorpora a herançadas reestruturações e intensifica a busca de uma cultura organizacional alta-mente produtiva, resultante de processos de fusões, aquisições e aliançasinterorganizacionais.

Nesta obra, todo esse percurso da cultura organizacional é traçado e acrescidode uma perspectiva crítica com foco na análise dos aspectos culturais comocontrole social, produção imaginária e psicológica e gestão do afetivo.

faz parte da , que buscafornecer ao leitor informação sucinta a respeito dos assuntos mais atuais erelevantes da área de Administração.

Obra indicada para as disciplinas teoria geral de administração (TGA), teoriaorganizacional, análise organizacional, comportamento organizacional e gestãode pessoas dos cursos de graduação e pós-graduação em Administração e paraprofissionais, executivos e consultores que atuam na área organizacional.

é mestre e doutora em Administração de Empresaspela FGV-EAESP e pós-doutora em Administração Intercultural pela Écoledes Hautes Études Commerciales (HEC), Jouy-em-Josas/França. Foi pesqui-sadora visitante na Université Paris VII, Denis Diderot/Jussieu, e New YorkUniversity. É professora titular do Departamento de Administração Geral eRecursos Humanos da FGV-EAESP.

CulturaOrganizacional Coleção Debates em Administração

Aplicações

Sobre a autoraMaria Ester de Freitas

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CULTURA ORGANIZACIONAL

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ISBN 13 978-85-221-0853-4ISBN 10 85-221-0853-6

9 7 8 8 5 2 2 1 0 8 5 3 4