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CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2018 www.metrojornal.com.br 04| {FOCO} Há pouco mais de dois anos, em dezembro de 2015, o Bra- sil foi um dos 195 signatários do “Acordo de Paris”, para manter o aumento da tem- peratura média global a bem menos que 2°C (próximo de 1,5ºC) até o fim do século. O valor é associado a um nível de mudança climática consi- derado como ‘minimamente seguro’ aliado a desenvolvi- mento econômico satisfató- rio para as nações. No “Acordo de Paris”, o Brasil se propôs a reduzir suas emissões em 37% até 2025 em relação a 2005, com uma me- ta indicativa de 43% até 2030. Para que isto aconteça, é primordial zerar a emissão de gases do efeito estufa até a metade do século, ou seja, pôr fim à dependência dos combustíveis fósseis, ao passo em que fontes renováveis – e limpas – como a solar, eólica e biomassa, ganhem espaço. Há alguns anos, as ener- gias provenientes do sol e do vento vêm pouco a pouco ga- nhando espaço no Brasil e no mundo. Contudo, hoje é incerto que o país chegue a 2050 com 100% de participa- ção de fontes renováveis em sua matriz energética. Para o secretário-executivo do Observatório do Clima e também membro da Rede de Especialistas em Conservação Energia. País tem potencial de sobra para reduzir o uso de combustíveis fósseis; estudo aponta que em 32 anos será possível, mas só o tempo dirá Como está e até onde pode ir a energia limpa no Brasil? A 4ª e última edição do rela- tório [R]evolução Energética, feita pelo Greenpeace Brasil em 2016, mostra o Brasil com 100% de participação de fon- tes renováveis em sua matriz até 2050, com a energia solar e eólica passando a ter papel fundamental (veja acima). Na geração de eletricidade, essas duas fontes alcançariam 46% de participação (25% eóli- ca e 21% solar), mais do que o dobro previsto por um “cená- rio base”, uma projeção oti- mista do PDE (Plano Decenal de Expansão de Energia), já que o país não possui um es- tudo neste prazo. Além de uma maior efi- ciência energética, seria ne- cessária uma revolução no se- tor de transportes, como com a introdução de motores elé- tricos, transição do modal ro- doviário para o ferroviário, priorização do transporte pú- blico e de deslocamentos não motorizados nas áreas urba- nas. O uso da eletricidade pa- ra os transportes alcançaria 25% e os biocombustíveis 47%. De modo geral, a eletri- cidade, que hoje represen- ta 20% do consumo total de energia do país, passaria a 45% em 2050 no cenário do Greenpeace. METRO CURITIBA Estudo mostra 100% de renováveis no país em 2050 Após 2 anos sem leilões, preço das limpas já é menor Desde 2009 com leilões de energia eólica e solar, o gover- no ficou por dois anos entre 2015-17 sem contratar novas usinas dessas energias, na es- teira da crise. Em dezembro, ambas vol- taram a ser contratadas e pela 1ª vez a preços menores que os de hidrelétricas, que tradi- cionalmente são as mais ba- ratas fontes de produção de eletricidade no país. Os proje- tos eólicos tiveram preço mé- dio de R$ 98 por megawatt- -hora, contra R$ 145 da solar e R$ 219 da hidrelétrica. Em 2014, o preço mínimo da so- lar foi de R$ 245. “É um re- ENERGIA LIMPA da Natureza Carlos Rittl, falta uma política de “alinhamen- to” ao país. “Existe uma imen- sa contradição. A gente não tem clareza. No ano passado, ao mesmo tempo que apro- vou isenção fiscal no setor de petróleo até 2040, parte do problema, criou o RenovaBio [Política Nacional de Biocom- bustíveis], parte da solução. À exceção desse programa, o Brasil não sabe o que preten- de sobre matriz energética. O avanço acontece mais por forças de mercado”, diz. Rittl cita o PDE (Plano De- cenal de Expansão de Ener- gia) 2026, apresentado no ano passado, que considerou tímido e que “coloca dúvi- das sobre qual caminho será seguido”. O PDE é um documento feito pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) – vincu- lada ao Ministério de Minas e Energia – que serve como um indicativo das perspecti- vas de expansão futura do se- tor de energia sob a ótica do governo. Os resultados do PDE mos- tram que a parcela renovável da matriz energética atingirá 48% em 2026, 2% a mais que dez anos antes, com 71,4% dos investimentos de R$ 1,4 trilhão, neste período, em pe- tróleo e seus derivados. O documento mostra tam- bém que a geração de ener- gia elétrica a partir de fon- tes renováveis deve alcançar 90% “em função do aumento de geração a partir das ener- gias eólica, solar e biomassa”. De acordo com o PDE, o cres- cimento médio dessas fontes seria de 6,3% ao ano. Para se ter ideia, 20% da geração de energia elétrica do país em dezembro foi térmi- ca, segundo boletim do ONS (Operador Nacional do Siste- ma Elétrico). “Não passamos por ne- nhum grande debate nacio- nal, mesmo num mundo de emergência climática, com 25% dos municípios do país decretando emergência por calamidade pública em al- gum momento de 2017, se- ja por seca, tempestades ou alagamentos”, avalia Rittl. Os preços das renováveis vem caindo, o país tem recursos abundantes e tem muito a ganhar se investir nisto, até com empregos”, completa. O Metro Jornal inicia hoje um série de qua- tro reportagens sema- nais sobre a geração de energias limpas no país. Como na maioria dos entendimentos de espe- cialistas em nível global, entende-se por energia limpa as fontes renová- veis que causam o me- nor impacto possível no meio ambiente. Por- tanto, não entram neste conceito as hidrelétricas, que representam 2/3 do que é gerado atualmen- te e sua participação de- ve sofrer leve queda nas próximas décadas. Série sultado excepcional. A gente previa no estudo que seriam as duas fontes mais baratas”, lembra Baitelo. METRO CURITIBA Usina em Palmas-PR, primeira do Sul do País | DIVULGAÇÃO / COPELA ‘Crise abriu espaço para reavaliações’ Para o coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Ricar- do Baitelo, a crise dos úl- timos anos permitiu que o país revesse alguns conceitos. “Nos anos an- teriores, de crescimento, as usinas [hidrelétricas] eram liberadas a toque de caixa, pois o governo não queria correr risco de apagão. Como o con- sumo caiu, não houve necessidade disto, a EPE está mais aberta e dispos- ta discutir”, comentou, lembrando da desistên- cia do governo sobre a Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (PA), previs- ta para ser construída no coração da Amazônia. “Já está muito claro. É muito mais dinâmico ter grandes quantidades de menores frações de energia do que uma An- gra 3 [nuclear] ou uma grande hidrelétrica que vai demorar anos para gerar e ainda pode atra- sar por N motivos”. METRO CURITIBA Hidrelétricas BRUNNO BRUGNOLO METRO CURITIBA

CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2018 Como está e ... · Pesquisa Energética) – vincu-lada ao Ministério de Minas e Energia – que serve como um indicativo das perspecti-vas

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Page 1: CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2018 Como está e ... · Pesquisa Energética) – vincu-lada ao Ministério de Minas e Energia – que serve como um indicativo das perspecti-vas

CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2018www.metrojornal.com.br 04| {FOCO}

Há pouco mais de dois anos, em dezembro de 2015, o Bra-sil foi um dos 195 signatários do “Acordo de Paris”, para manter o aumento da tem-peratura média global a bem menos que 2°C (próximo de 1,5ºC) até o fim do século. O valor é associado a um nível de mudança climática consi-derado como ‘minimamente seguro’ aliado a desenvolvi-mento econômico satisfató-rio para as nações.

No “Acordo de Paris”, o Brasil se propôs a reduzir suas emissões em 37% até 2025 em relação a 2005, com uma me-ta indicativa de 43% até 2030.

Para que isto aconteça, é primordial zerar a emissão de gases do efeito estufa até a metade do século, ou seja, pôr fim à dependência dos combustíveis fósseis, ao passo em que fontes renováveis – e limpas – como a solar, eólica e biomassa, ganhem espaço.

Há alguns anos, as ener-gias provenientes do sol e do vento vêm pouco a pouco ga-nhando espaço no Brasil e no mundo. Contudo, hoje é incerto que o país chegue a 2050 com 100% de participa-ção de fontes renováveis em sua matriz energética.

Para o secretário-executivo do Observatório do Clima e também membro da Rede de Especialistas em Conservação

Energia. País tem potencial de sobra para reduzir o uso de combustíveis fósseis; estudo aponta que em 32 anos será possível, mas só o tempo dirá

Como está e até onde pode ir a energia limpa no Brasil?

A 4ª e última edição do rela-tório [R]evolução Energética, feita pelo Greenpeace Brasil em 2016, mostra o Brasil com 100% de participação de fon-tes renováveis em sua matriz até 2050, com a energia solar e eólica passando a ter papel fundamental (veja acima).

Na geração de eletricidade, essas duas fontes alcançariam 46% de participação (25% eóli-ca e 21% solar), mais do que o dobro previsto por um “cená-rio base”, uma projeção oti-mista do PDE (Plano Decenal de Expansão de Energia), já que o país não possui um es-tudo neste prazo.

Além de uma maior efi-ciência energética, seria ne-cessária uma revolução no se-tor de transportes, como com a introdução de motores elé-tricos, transição do modal ro-doviário para o ferroviário, priorização do transporte pú-blico e de deslocamentos não motorizados nas áreas urba-nas. O uso da eletricidade pa-ra os transportes alcançaria 25% e os biocombustíveis 47%.

De modo geral, a eletri-cidade, que hoje represen-ta 20% do consumo total de energia do país, passaria a 45% em 2050 no cenário do Greenpeace. METRO CURITIBA

Estudo mostra 100% de renováveis no país em 2050

Após 2 anos sem leilões, preço das limpas já é menorDesde 2009 com leilões de energia eólica e solar, o gover-no ficou por dois anos entre 2015-17 sem contratar novas usinas dessas energias, na es-teira da crise.

Em dezembro, ambas vol-taram a ser contratadas e pela 1ª vez a preços menores que os de hidrelétricas, que tradi-cionalmente são as mais ba-ratas fontes de produção de eletricidade no país. Os proje-tos eólicos tiveram preço mé-dio de R$ 98 por megawatt--hora, contra R$ 145 da solar e R$ 219 da hidrelétrica. Em 2014, o preço mínimo da so-lar foi de R$ 245. “É um re-

ENERGIALIMPA

da Natureza Carlos Rittl, falta uma política de “alinhamen-to” ao país. “Existe uma imen-sa contradição. A gente não tem clareza. No ano passado, ao mesmo tempo que apro-vou isenção fiscal no setor de petróleo até 2040, parte do problema, criou o RenovaBio [Política Nacional de Biocom-bustíveis], parte da solução. À exceção desse programa, o Brasil não sabe o que preten-de sobre matriz energética. O avanço acontece mais por

forças de mercado”, diz.Rittl cita o PDE (Plano De-

cenal de Expansão de Ener-gia) 2026, apresentado no ano passado, que considerou tímido e que “coloca dúvi-das sobre qual caminho será seguido”.

O PDE é um documento feito pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) – vincu-lada ao Ministério de Minas e Energia – que serve como um indicativo das perspecti-vas de expansão futura do se-

tor de energia sob a ótica do governo.

Os resultados do PDE mos-tram que a parcela renovável da matriz energética atingirá 48% em 2026, 2% a mais que dez anos antes, com 71,4% dos investimentos de R$ 1,4 trilhão, neste período, em pe-tróleo e seus derivados.

O documento mostra tam-bém que a geração de ener-gia elétrica a partir de fon-tes renováveis deve alcançar 90% “em função do aumento

de geração a partir das ener-gias eólica, solar e biomassa”. De acordo com o PDE, o cres-cimento médio dessas fontes seria de 6,3% ao ano.

Para se ter ideia, 20% da geração de energia elétrica do país em dezembro foi térmi-ca, segundo boletim do ONS (Operador Nacional do Siste-ma Elétrico).

“Não passamos por ne-nhum grande debate nacio-nal, mesmo num mundo de emergência climática, com

25% dos municípios do país decretando emergência por calamidade pública em al-gum momento de 2017, se-ja por seca, tempestades ou alagamentos”, avalia Rittl. Os preços das renováveis vem caindo, o país tem recursos abundantes e tem muito a ganhar se investir nisto, até com empregos”, completa.

O Metro Jornal inicia hoje um série de qua-tro reportagens sema-nais sobre a geração de energias limpas no país. Como na maioria dos entendimentos de espe-cialistas em nível global, entende-se por energia limpa as fontes renová-veis que causam o me-nor impacto possível no meio ambiente. Por-tanto, não entram neste conceito as hidrelétricas, que representam 2/3 do que é gerado atualmen-te e sua participação de-ve sofrer leve queda nas próximas décadas.

Série

sultado excepcional. A gente previa no estudo que seriam as duas fontes mais baratas”, lembra Baitelo. METRO CURITIBA

Usina em Palmas-PR, primeira do Sul do País | DIVULGAÇÃO / COPELA

‘Crise abriu espaço para reavaliações’Para o coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Ricar-do Baitelo, a crise dos úl-timos anos permitiu que o país revesse alguns conceitos. “Nos anos an-teriores, de crescimento, as usinas [hidrelétricas] eram liberadas a toque de caixa, pois o governo não queria correr risco de apagão. Como o con-sumo caiu, não houve

necessidade disto, a EPE está mais aberta e dispos-ta discutir”, comentou, lembrando da desistên-cia do governo sobre a Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (PA), previs-ta para ser construída no coração da Amazônia.

“Já está muito claro. É muito mais dinâmico ter grandes quantidades de menores frações de energia do que uma An-gra 3 [nuclear] ou uma grande hidrelétrica que vai demorar anos para gerar e ainda pode atra-sar por N motivos”.

METRO CURITIBA

Hidrelétricas

BRUNNO BRUGNOLO METRO CURITIBA

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CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE JANEIRO DE 2018www.metrojornal.com.br 04| FOCO

O Metro Jornal publica hoje a 2ª reportagem de uma série de quatro (uma por semana) sobre a geração de energias limpas no país. O tema desta edição é a energia solar.

Série

ENERGIALIMPA

BRUNNO BRUGNOLO METRO CURITIBA

Na primeira semana des-te ano, o Brasil ultrapassou a marca de 1 GW (gigawatt) em projetos de fonte solar fo-tovoltaica conectados na ma-triz elétrica, segundo levanta-mento da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fo-tovoltaica). O número colo-cou o país entre os 30 maiores produtores da fonte e repre-senta potência suficiente para abastecer 500 mil residências ou 2 milhões de brasileiros.

De acordo com a associa-ção, o número é resultado do crescimento tanto do mer-cado de geração centraliza-da (usinas) quanto de geração distribuída (casas, comércios, etc – leia mais abaixo) solar fo-tovoltaica no último ano.

Apesar do crescimento e da importância do núme-ro, no ano passado a energia proveniente do sol represen-

Energia solar. Com participação ainda muito tímida, fonte infinita de energia enfim se coloca de vez como opção no mercado elétrico

Guatambu Estância do Vinho, em Dom Pedrito-RS, 100% solar | RODRIGO ALVES VIEIRA

Quinze anos ‘atrasada’, mas agora alternativa competitiva

O número de conexões de micro e minigeração de energia ultrapassou recen-temente as 20 mil insta-lações no país, de acordo com a Aneel (Agência Na-cional de Energia Elétrica). O atendimento delas, aliás, já passa de 30 mil unidades consumidoras.

Do total de 21.095 “usi-nas” geradoras de energia elétrica (dado da última sexta), a fonte disparada mais utilizada pelos consu-midores-geradores é a so-lar, com 20.930 instalações e cerca de 71% potência to-tal de 249 MW, que dá para abastecer mais de 350 mil residências.

O consumo residencial é responsável por quase 60% das conexões; já a classe co-mercial tem 35% delas.

Os três estados com mais conexões (MG – 4.517, SP – 4.043 e RS – 2.503) fazem parte dos 22 que aderiram ao convênio com o Confaz (Conselho Nacional de Po-lítica Fazendária), que isen-ta o pagamento de ICMS so-bre o excedente de energia elétrica gerada pelos siste-mas de geração distribuí-da, que se tornou possível apenas em 2012, quando a Aneel permitiu ao con-sumidor instalar peque-nos geradores em sua uni-dade consumidora e trocar

energia com a distribuido-ra local.

A isenção vale para qual-quer fonte renovável que gere até 75 kW (microge-ração)ou até 5 MW (mini-geração). Quando a energia gerada em um mês for su-perior à energia consumi-da, o consumidor fica com créditos (que valem por cin-co anos) para abater da fa-tura dos meses seguintes.

Mudança de lógicaO último [R]evolução Ener-gética, estudo publica-do em 2016 pelo Green-peace Brasil, que mostra o país com 100% de partici-pação de fontes renováveis em sua matriz até 2050, já apontava a mudança de ló-gica na atual produção, com os consumidores pro-duzindo a própria energia a partir de painéis fotovol-taicos. Na época, eram me-nos de três mil conexões.

METRO CURITIBA

Geração distribuída passa das 20 mil conexões

16,2 milresidências no país possuem micro e minigeração de energias conectadas à rede elétrica. Quase a totalidade com os painéis fotovoltaicos nos telhados

Insolação chinesa

130 GWé quanto a China – líder global de geração de energia solar – atingiu em operação no ano passado, ou seja, 130 vezes mais que o Brasil. De 2016 para 2017, foram 52 GW de incremento. Segundo a Absolar, neste ano a China deve produzir mais energia solar do que toda a energia brasileira, cerca de 160 GW.

Energia do sol usada para produção de vinhosAlém da fundamental contri-buição no desenvolvimento dos parreirais, o sol também é o responsável por todas as demais etapas de produção e armazenamento dos vi-nhos da Vinícola Guatambu, de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul.

Desde maio de 2016, a Guatambu trabalha com energia 100% limpa, oriunda dos raios solares – é a primei-ra vinícola da América Latina a ser movida por esta fonte.

Segundo a sócia-proprie-tária e enóloga Gabriela Pöt-ter, a ideia de ter uma energia

sustentável surgiu no início da década, quando foi testada a viabilidade da energia eóli-ca em parceria com pesquisa-dores da PUC-RS. “Acabou não sendo viável, porque os ven-tos vinham mais no inverno e a nossa maior necessidade é no verão, período da safra. Então surgiu um projeto-pi-loto em 2013, com 18 painéis fotovoltaicos”, explica.

De acordo com Pötter, a radiação solar na região da Campanha Gaúcha é 40% maior do que na região mais ensolarada da Alemanha, um dos países pioneiros no uso

da energia e que chegou a ser líder mundial antes da expan-são chinesa.

Com resultado positivo, a Guatambu investiu R$ 1,5 mi-lhão em 600 painéis três anos depois, para o empreendi-mento “zerar” a conta de luz – no verão a vinícola tem pro-dução excedente, que gera créditos para uso nos meses de inverno, quando necessita de energia da distribuidora.

Segundo Pötter, a proje-ção era ter o retorno do inves-timento em sete ou oito anos, mas até pelo aumento suces-sivo do preço da energia, ele

deve vir antes. “No verão a conta era R$ 15 mil”, diz.

RepercussãoA iniciativa da Guatambu rendeu destaque com um ví-deo no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e o “Selo Solar”, concedido em agosto do ano passado pelo Institu-to Ideal (Instituto para o De-senvolvimento de Energias Alternativas na América Lati-na), com apoio do WWF-Bra-sil e Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentá-vel, por meio da GIZ e KfW.

METRO CURITIBA

800 hectares com 1,2 milhão de painéis fotovoltaicos em Pirapora-MG, a maior usina do continente que irá produzir até 400 MW neste ano | RONAN ROCHA/EDF ENERGIES NOUVELLES

tou apenas 0,1% do total ge-rado, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Siste-ma Elétrico). “Não represen-tamos nem 1%, estamos com um atraso acumulado de 15 anos, por conta de não ter ha-vido um investimento e pla-nejamento estruturado”, diz o presidente executivo da Ab-solar, Rodrigo Sauaia, que ci-tou exemplos positivos em SP, MG, GO e no Nordeste, se-

ja por isenções ou programas de incentivo e financiamento.

A recuperação do tem-po perdido, contudo, já co-meçou. Na retomada dos lei-lões do governo federal, em dezembro do ano passado, a redução do preço da energia solar surpreendeu. “Se consa-grou como uma nova alterna-tiva competitiva para o país. O recurso solar é imenso e a fonte chegou para ficar. A re-dução foi muito significativa, o preço médio caiu de R$ 297 o megawatt-hora do leilão an-terior, em novembro de 2015, para R$ 145 MW/h”, contou Sauaia. O primeiro leilão fe-deral de energia solar acon-teceu somente em novembro de 2014 – cinco anos depois da eólica, que alcançou seu 1 GW ainda em 2011.

A queda no preço pode ter, inclusive, um reflexo di-reto no aumento da contra-tação. “No PDE (Plano Dece-nal de Expansão de Energia) 2026 [publicado ano passado], o Ministério de Minas e Ener-

gia tinha um cenário de que se o custo da solar caísse 40%, aumentaria a contratação de 1 mil MW para 1,9 mil MW ao ano. Estava previsto pa-ra 2023, mas recomendamos que isto seja revisto já no PDE deste ano e ampliem o prota-gonismo da fonte na matriz elétrica nacional”, diz Sauaia.

Em 2017 as usinas repre-sentaram 85% da produção solar, e 85,5% foi no Nordeste, com destaque para a geração em Tabocas do Brejo Velho e Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e de Ribeira do Piauí, no Piauí.

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CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 5 DE FEVEREIRO DE 2018www.metrojornal.com.br 04| {BRASIL}

O MELHOR VENTO DO MUNDOCom maior potencial, Nordeste concentra mais de 80% dos parques e da geração eólica

FONTE: ANEEL, ABEEÓLICA E CCEE

2007

2008

2006

2005

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020*

2021

2023

245,6

341,4

600,8

932,4

1.528,8

2.522,7

3.477,8

5.973,3

8.727,1

10.741,0

14.586,2

15.536,9

17.189,0

17.253,0

235,4

27,1

135 parques3.678,85 MW

1 parque 28,05 MW

1 parque 34,50 MW

80 parques 1.831,87 MW

74 parques1.935,76 MW

93 parques 2.410,04 MW

34 parques 781,99 MW

14 parques 238,50 MW

52 parques1.443,10 MW

8 parques220,80 MW

15 parques 157,20 MW

1 parque 2,50 MW

ACUMULADANOVA

EVOLUÇÃO DA CAPACIDADE

INSTALADA(MW)

CAPACIDADE INSTALADA E NÚMERO DE PARQUES POR ESTADO

AM

AC

RR

PA

AP

BA

MG

SP

PR

SC

RS

TO

MA

PIRN

PE

CE

SEAL

PB

RO

MT

ES

RJ

GO DF

MS

12.763,1

508 parques no país hoje, que em sua

maioria formam

complexos

18.639,6

760 parques*NESSE MONTANTE HÁ (1.171,8 GW) SEM PREVISÃO DE INÍCIO DE OPERAÇÃO DEVIDO À QUESTÕES OPERACIONAIS DIVERSAS COMO FORNECIMENTO DE EQUIPAMENTO E RESCISÃO DE CONTRATO DE ENERGIA.

OS DADOS FUTUROS APRESENTADOS NO GRÁFICO REFEREM-SE A CONTRATOS VIABILIZADOS EM LEILÕES REALIZADOS E NO MERCADO LIVRE

41,7% fator de capacidade média do último ano

27% foi o crescimento da produção de energia eólica no ano passado (jan-nov) em relação ao mesmo período de 2016BRUNNO

BRUGNOLO METRO CURITIBA

Complexo Eólico Bons Ventos, em Aracati-CE. Com mais de 70 aerogeradores, ele chegou a ser o maior do país no início da década | DIVULGAÇÃO/ABEEÓLICA

Responsável por 7,3% da ener-gia elétrica gerada no ano pas-sado, a fonte eólica vem aos poucos ganhando terreno na matriz brasileira. Desde o co-meço da década, a partir dos leilões do Governo Federal, o setor já cresceu mais de 10 vezes e crescerá pelo menos mais 46% nos próximos cinco anos, pelo volume que já foi contratado (veja ao lado).

Segundo avaliação da pre-sidente da ABEEólica (Associa-ção Brasileira de Energia Eóli-ca), Elbia Gannoum, o cenário é muito favorável no médio e longo prazo. “No cenário eco-nômico o pior já passou. Ho-je eu diria que as expectativas são muito boas, com a reto-mada do país e a necessidade de energia para crescer”, diz.

Para Gannoum, o Brasil é campeão no quesito de ener-gias renováveis, com poten-cial muito grande, e princi-pal fonte renovável é a eólica. “Temos o melhor vento do mundo: melhor qualidade, competitivo, menor preço e com interesse dos investido-res”, ressaltou.

Energia eólica. Mercado de gigantes nacionais e internacionais cresce, chega a ‘sustentar’ Nordeste e tem seu ápice na época das secas

Complexo Eólico Ventos de São Clemente, no agreste pernambucano | ECHOENERGIA/A2IMG

PR aproveita ventania do NE Com apenas um parque eóli-co piloto implantado em 1999 pela Copel (Companhia Para-naense de Energia) em Pal-mas-PR, os paranaenses apro-veitam os ventos do Nordeste para produzir energia.

Dona de 20 hidrelétricas e distribuidora do Paraná, a em-presa tem forte atuação fora do seu estado de origem com investimento superior a R$ 3 bilhões em energia eólica no Rio Grande do Norte.

Atualmente a Copel pos-sui 15 parques eólicos em três grandes complexos em opera-ção: dois próprios, o São Ben-to Energia e o Copel Brisa Po-

tiguar, e 49% de um em São Miguel do Gostoso-RN, com outros 51% da Voltalia, mul-tinacional francesa. Juntos os três representam mais de 10% da capacidade do RN, estado líder, que detêm 30% do po-tencial brasileiro hoje.

A participação deve au-mentar ainda mais neste ano, já que o 4º e maior complexo da Copel, o Cutia, também no RN, deve entrar em operação com 13 parques e capacidade de 312,9 MW.

Segundo o superintenden-te da Coordenação de Ava-liação de Negócios da Copel, Mauro José Bubniak, a empre-

sa também tem dois projetos “encarteirados” de 150 MW no RN. “Se a tarifa for atrati-va vamos viabilizar. A expec-tativa é que a Aneel retome a regularidade e faça dois lei-lões neste ano, o de abril já es-tá marcado”, comentou.

Além da Copel, as empre-sas privadas do Paraná tam-bém fazem seus negócios gi-rarem no Nordeste, como a CER (Companhia de Energias Renováveis), com parques em operação e construção na Ba-hia, e a Brasventos (JMalucelli Energia é acionista majoritá-ria) com parques em opera-ção no RN. METRO CURITIBA

ENERGIALIMPA

O vento brasileiro, especi-ficamente no Nordeste e no Rio Grande do Sul, tem pro-dutividade acima da média mundial – que é de 30% da capacidade instalada. Em es-tados como Ceará, Rio Gran-de do Norte e Piauí, o fator de capacidade fica acima de 40% no ano e chega a 60% de julho a outubro, similar ao de uma hidrelétrica.

O inverno e a 1ª metade da primavera são as melhores fa-ses, que coincidem com esva-ziamento dos reservatórios. “É uma complementaridade quase que perfeita, quando começa a melhor chuva, ces-sam os ventos, quando tem menos chuva, vem o melhor vento”, explica Gannoum.

“[A energia éolica] não po-de despachar quando quer, mas tendo (vento), despacha e guarda água nos reserva-tórios, assim como reduz o uso de outras fontes. É mui-to mais prudente do que gas-tar bilhões de reais em terme-létricas como se faz. Foram R$ 30 bi em 2015/16” comple-menta o coordenador de Cli-ma e Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo.

Principal fonteCom níveis críticos nas hidre-

létricas durante boa parte de 2017, o Nordeste só não teve a geração eólica como prin-cipal fonte em março. Em ju-lho, a participação dos ventos chegou a 55,7% do total – em junho, agosto, setembro e ou-tubro também foi superior a todas as outras somadas, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétri-co). Em 14 de setembro, 64% da energia consumida na re-gião veio das eólicas, que ope-ravam em 76% da capacidade – um recorde.

O arrendamento de ter-ras também produz renda, já que aluguel gira em torno de R$ 1 mil/mês por aeroge-rador, em contratos que pas-sam de 20 anos. Quatro mil famílias, que dependiam da monocultura de subsistência, são beneficiadas, sendo que a máquina não impede outras atividades.

O mercado deve esgotar as possibilidades no NE e RS an-tes de ir a outros estados, co-mo SP, que tem o potencial da Alemanha – a 3ª do mundo no setor. O Brasil passou de 9º pa-ra 8º em 2017.

O Metro Jornal publica hoje a 3ª reportagem de uma série de quatro (uma por semana) sobre a geração de energias limpas no país. O tema desta edição é a energia eólica.

SérieDe vento em popa

Page 4: CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JANEIRO DE 2018 Como está e ... · Pesquisa Energética) – vincu-lada ao Ministério de Minas e Energia – que serve como um indicativo das perspecti-vas

A utilização dos combustíveis fósseis está com os dias conta-dos. A sua escassez em um fu-turo breve e a crescente con-vicção de sua participação no aquecimento global vêm fa-zendo cidades, países e até montadoras a anunciar pra-zos para o fim da comercia-lização de veículos movidos à alta quantidade de carbono.

No Brasil, ainda não exis-tem metas ou projeções pa-ra limitar ou proibir a ga-solina, o diesel ou o gás natural, mas algumas ini-ciativas governamentais e privadas vêm crescendo pa-ra mudar esse cenário.

Em dezembro passado, o presidente Michel Temer (PMDB) sancionou o Renova-Bio, programa para incenti-var a maior utilização de bio-combustíveis, como o etanol e o biodiesel. O setor, que se viu “abandonado” desde a descoberta do pré-sal, agora vê um futuro promissor pe-la frente. “É um conjunto de diretrizes que faltava para o Brasil. Preenche uma lacuna não só para o etanol, mas pa-ra todos os biocombustíveis e opções energéticas se que possam se extrair da biomas-sa. [O Renova Bio] ainda pre-cisa ser regulamentado neste semestre e deve ser implan-tado a partir de 2020”, decla-rou Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

O programa é visto como peça chave para o país cum-prir as metas climáticas as-sumidas no Acordo de Paris, que prevê redução de 43% das emissões de gases estufa ten-do 2005 como ano-base. “É fundamental, ele veio justa-mente para isso, dar um nor-te para a cadeia de produção e o etanol pode servir como um dos pilares no setor de trans-portes [que representa 1/3 da demanda energética]”, diz.

Uma das metas é dobrar para mais de 50 bilhões de li-tros a produção anual de eta-

nol até 2030 (hoje na casa dos 26 bi) e emitir certifica-dos de carbonos comprados pelas poluidores.

Segundo Szwarc, para sua regulamentação e implanta-ção, o projeto precisa estar ali-nhado ao Rota 2030, que ain-da não está pronto, mas deve ser anunciado em breve. O Rota 2030, voltado às monta-doras, vai estipular uma série de metas de eficiência energé-tica e segurança para os pró-ximos 15 anos, além de con-ceder incentivos fiscais. No 1º de 3 ciclos, a expectativa é de que a eficiência dos automó-veis de passeio melhorem em 12%, ou seja, rendam mais sem ficar mais fracos.

“Com esses dois [progra-mas], um na produção e ou-tro na execução, o Brasil vai chegar em gestão eficiente da bionergia”, completa Szwarc.

Com emissão de CO2 que varia entre 70% a 90% me-nos que a gasolina, de acor-do com diversos estudos e o mercado consolidado, o eta-nol da cana-de-açúcar pode representar um ponte sus-tentável até que os carros elétricos evoluam e se tor-nem competitivos.

Para o coordenador de Cli-ma e Energia do Greenpea-ce, Ricardo Baitelo, “o gros-so da transição” dos motores a combustão interna no país viria do álcool e do biodiesel. Como bom sinal, ele lembrou da lei sancionada em janeiro pela prefeitura de São Paulo, que prevê reduções de CO2 de 50% em 10 anos e 100% em 20 anos na frota de ônibus.

CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 19 DE FEVEREIRO DE 2018www.metrojornal.com.br 04| FOCO

O Metro Jornal publica hoje a 4ª reportagem da série sobre a geração de energias limpas no país. O tema desta edição é a biomassa.

Série

ENERGIALIMPA

BRUNNO BRUGNOLO METRO CURITIBA

Biomassa. Mesmo com o avanço gradual dos carros elétricos, frota deve passar um bom tempo movida a etanol e novidades como o biometano

Como os fósseis entrarão para o museu dos combustíveis

Usina São Martinho, em Pradópolis-SP, maior processadora global de cana-de-açúcar | TADEU FESSEL/UNICA

Carro elétrico vem, mas quando?Para o secretário-executivo do Observatório do Clima e membro da Rede de Espe-cialistas em Conservação da Natureza, Carlos Rittl, o país está atrasado em relação ao mundo na eletrificação dos transportes. Segundo ele, uma mudança contundente só ocorrerá na outra meta-de do século. “O Rota 2030 deve inclinar nada ou muito pouco nesse sentido. O pes-soal ligado à indústria na-cional ainda não caminha nesta direção”, diz.

Já para Szwarc, a ques-tão não se resume ao Brasil,

mas ao mundo em si. “É cla-ro que em que países ricos e pequenos, com elevadíssima consciência ambiental, você pode dizer que há um avan-ço maior no mercado, como na Noruega – local de maior penetração dos elétricos – e Holanda, mas nos EUA e Ca-nadá não chega a 1% de par-ticipação”, relatou.

Ele cita os recorrentes pre-juízos da norte-americana Tesla, empresa automotiva símbolo do setor, que na se-mana passada anunciou per-das de US$ 675 milhões só no 4º trimestre de 2017. “O mun-

do vai caminhar para isso, mas não na velocidade que se imaginou no começo. A falta de infraestrutura ainda é um problema muito sério. Um belga me contou na COP 23 [em novembro passado] que o vizinho dele de Bruxelas com-prou um carro elétrico há seis meses e está brigando com a prefeitura e o síndico do con-domínio para instalar um ponto de recarga”, contou.

Para Szwarc, até que os veí-culos elétricos atinjam maior autonomia, preços baratos e tenham infraestrutura neces-sária será preciso no mínimo

de duas a três décadas.

Híbrido flexUm possível primeiro passo para a eletrificação no país pode acontecer com a chega-da de modelos híbridos flex. A Toyota confirmou no mês passado que já faz testes no Brasil com um Prius híbrido bicombustível, que seria 1º do mundo. A expectativa é que ainda neste ano a montadora revele os resultados do veícu-lo, que pode até ser produzido aqui. Uma vez lançado, pode forçar outras montadoras ao mesmo. METRO CURITIBA

A alta carga orgânica e deje-tos de suínos eram um pro-blema no reservatório de Itai-pu, há pouco mais de uma década. Algumas áreas do la-go chegavam a pegar fogo em virtude do gás de pânta-no (metano). A solução en-contrada pelos técnicos de-signados pela hidrelétrica foi tratar toda essa biomassa em biodigestores, tendo com re-sultado o biogás e, partir de-le, a geração de energia elé-trica ou térmica.

Assim nasceu o CIBio-gás (Centro Internacional de Energias Renováveis-Biogás), instituição científica, tec-nológica e de inovação sem fins lucrativos, hoje formada por 22 instituições. “Nos últi-mos quatro anos, o biogás ga-nhou notoriedade e surgiu um mercado que não existia. Posso produzir biogás com qualquer material orgânico, dejetos de aves, suíno, bovi-no, cana e aterro, mais que uma própria Itaipu”, diz o di-retor-presidente do CIBiogás, Rodrigo Régis.

No oeste do Paraná, já são 11 unidades de produção do biogás em granjas e fazendas, resolvendo o passivo ambien-tal e gerando segurança ener-gética. “Aumentou a competi-tividade do agronegócio, uma nova economia com cadeia de valor, suprimentos e servi-ços”, conta Régis.

Segundo o diretor presi-dente do CIBiogás, nos últi-mos anos, a oferta do produto cresceu 50% e sua capacidade de penetração na matriz ener-gética é imensa. “É um ocea-no não explorado hoje, nem 1% do potencial que tem”.

Além da possibilidade de gerar energia elétrica e térmi-ca e ser armazenado, ao con-trário de outras energias lim-pas com a solar e a eólica, o biogás pode virar biometano, combustível com as caracte-rísticas exatas do gás natural, que pode ser utilizado em car-ros preparados para GNV.

No ano passado o biome-tano foi regulamentado co-mo combustível veicular pe-la ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bio-combustíveis). Também em 2017, em parceira com o CI-Biogás, a Itaipu inaugurou uma Unidade de Demonstra-ção de Biogás e Biometano, a primeira do país a utilizar co-mo matéria-prima uma mis-tura de esgoto, restos orgâni-cos de restaurantes e poda de grama da usina (e não só de-jetos). A produção atual de 4 mil m3 por mês abastece 80 veículos da frota (800 km/mês) com custo de R$ 0,26 o m³, mais barato que etanol e gasolina. Outros 300 mil li-tros de biofertilizante são produzidos como subprodu-to. METRO CURITIBA

Resíduos orgânicos e esgoto viram combustível, energia elétrica e fertilizante

Frota de biometano evita emissão de 4t de CO2 ao mês | DIVULGAÇÃO/ITAIPU BINACIONAL