52
Fevereiro de 2013 CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL Livro 2 Versão para Validação

CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Fevereiro de 2013

CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL

Livro 2

Versão para Validação

Page 2: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Governador do Distrito FederalAgnelo Queiroz

Secretário de EducaçãoDenilson Bento da Costa

Secretária Adjunta de EducaçãoMaria Luiza Fonseca do Valle

Subsecretária de Educação BásicaSandra Zita Silva Tiné

Colaboradores:

Adriana Aparecida Barbosa Ramos Matos, Adriana Helena Teixeira, Adriana Tosta Mendes, Aldeneide Dos Santos Rocha, Alexandra Pereira Da Silva, Alexandre Viana Araujo Da Silva, Aline de Menezes, Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro, Amanda MidôriAmano, Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, Ana Maria de Lima Fagundes, Ana Paola Nunes Oliveira Lima, Ana Paula Santos de Oliveira, Anderson de F. Matias, André Lucio Bento, André Wangles de Araújo, Andrei Braga da Silva, Andréia Costa Tavares, Anna Izabel Costa Barbosa, Antônia Lima Cardoso, Antonio Carlos De Sousa, Antônio Eustáquio Ribeiro, Ari Luiz Alves Paes,Ariomar da Luz Nogueira Filho, Arlene Alves Dutra, Avelina Pereira Neves, Carla Ramires Lopes Cabaleira,Carlos Alberto Mateus da Silva, Carlos Dos Santos Escórcio Gomes, Carmen Silvia Batista, Cassia De Oliveira Hiragi, Cátia Cândido da Silva, Cátia De Queiroz Domingues, Célia Aparecida Faria Almeida, César Alexandre Carvalho, Cícero Lopes de Carvalho Neto, Cília Cardoso Rodrigues da Silva, Cira Reis Araujo De Sousa, Claudia De Oliveira Souza, Cleide de Souza M. Varella, Cleonice Martins dos Reis, Cristiane Alves de Assis, Cristiano de Sousa Calisto, Daniel Ferraz, Daniel Policarpo S. Barbosa, Deborah Christina de Mendonça Oliveira, Deborah Moema Campos Ribeiro, Denise Formiga M. de Castro, Denise Marra de Moraes, Dhara Cristiane de Souza Rodrigues, Edileuza Fernandes da Silva, Edna Rodrigues Barroso, Ednéa Sanches, Edvan Vieira Das Virgens, Elaine Eloisa De Almeida Franco, Elayne Carvalho da Silva, Elna Dias, Elson Queiroz De Oliveira Brito, Elzimar Evangelista, Emilia Helena Brasileiro Souza Silva, Érica Soares Martins Queiroz, Erika Goulart Araújo, Ester Shiraishi, Eudócia Correia Moura, Eugênia Medeiros,EvandirAntonioPettenon, Fani Costa De Abreu, Francisca das Chagas A. Franco, Francisco Augusto Rodrigues De Mattos, Frederico Dos Santos Viana, Geovane Barbosa de Miranda, Gilda Das Graças E Silva, Gilda Ferreira Costa, Gilmar Ribeiro de Souza, Giovanna Amaral da Silveira, Gisele Lopes Dos Santos, Gisele Rocha do Nascimento, Gleidson Sousa Arruda, Goreth Aparecida P. da Silva, Helen Matsunaga, Helenilda Maria Lagares, Hélia Cristina Sousa Giannetti, Helio Francisco Mendes, Hiram Santos Machado, Idelvania Oliveira, Ildete Batista do Carmo, Ilma Maria FilizolaSalmito, Iracema Da Silva De Castro, Irair Paes Landin, Irani Maria Da Silva, Iris Almeida dos Santos, Isla Sousa Castellar,Ivanise dos Reis Chagas , Jailson Soares Barbosa, James Oliveira Sousa, Jamile Baccoli Dantas, Jane Leite dos Anjos, Janilene Lima da Cunha, Jaqueline Fernandes, Jardelia Moreira Dos Santos, JeovanyMachoado dos Anjos, João Carlos Dias Ferreira, João Felipe de Souza, Joaquim V. M. Barbosa, Jorge Alves Monteiro, Jose Batista Castanheira De Melo, José Norberto Calixto, Jose Pereira Ribeiro, Jose Wellington Santos Machado, Julia Cristina Coelho, Juliana

Page 3: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Alves De Araújo Bottechia, Juliana Ruas de Menezes, Júlio César Ferreira Campus, Kátia Franca Vasconcellos, Kátia Leite Ramos, Laércio Queiroz da Silva, LatifeNemetala Gomes, Laurice Aparecida Pereira Da Silva, Leila D’Arc de Souza, Lídia Danielle S. de Carvalho, Ligia Da Silva Almeida Melo, Liliani Pires Garcia, Lucélia de Almeida Silva, Luciano da Silva Menezes, Lúcio Flávio Barbosa, Lucy Mary Antunes dos Santos, Luiz Carlos Pereira Marinho, Luzia Inacio Dias, , Luzia Oliveira do Nascimento, Maicon Lopes Mesquita, Maira I. T. Sousa, Manoel Alves da Silva, Marcelo L. Bittencourt, Márcia Andréia B. Ramos, Márcia de Camargo Reis, Márcia Forechi Crispim, Marcia Lucindo Lages, Márcia Santos Gonçalves Coelho, Márcio Antônio Sousa da Silva, Marcio Mello Nóbrega Soares, Marcio Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos Santos, Maria Aparecida Sousa, Maria Cristina Dollabela, Maria da Glória da Mota, Maria do Rosario Rocha Caxanga, Maria Goreth Andrade Dizeró, Maria Irene Barros, Maria Ireneuda de Souza Nogueira, Maria Juvanete Ferreira da Cunha Pereira, Maria Luiza Dias Ramalho, Maria Rosane Soares Campelo, Mario Bispo Dos Santos, Mário Sérgio Ferrari, Marta Carvalho de Noronha Pacheco, Matheus Ferreira, Maura da Aparecida Leles, Maxwendel Pereira De Souza, Michelle Abreu Furtado, Milton Soares da Silva, Miriam Carmem Magalhaes Miranda, Moacir Natercio F. Júnior, Nádia Maria Rodrigues, Nair Cristina da Silva Tuboiti, Natalia de Souza Duarte, Neide Rodrigues de Sousa, Neide Silva Rafael Ferreira, Nelly Rose Nery Junquilho, Nilson Assunção de Araújo, Nilson Couto Magalhaes, Nilva Maria Pignata Curado, Norma Lúcia Neris de Queiros, Odaiza Cordeiro de Lima, Olga Freitas, Oraniel de Souza Galvão, Pablo Da Silva Sousa, PatriaLiliande Castro Rodrigues, Patrícia Carneiro Moura, Patricia Coelho Rodrigues, Patrícia Nunes de Kaiser, Paula Miranda de Amaral, Paulo Cesar Dos Anjos, Paulo Cesar Rocha Ribeiro, Paulo Henrique Ferreira da Silva, Paulo Ricardo Menezes, Pedro Alves Lopes, Pedro Anacio Camarano, Pedro de O. Silva, Plínio José Leite de Andrade, Porfirio Magalhães Sousa, Priscila Poliane de S. Faleirom, Rafael Batista de Sousa, Rafael Dantas de Carvalho, Rafael Urzedo Pinto, Raimundo Reivaldo de Paiva Dutra, RaniereR. Silva de Aguiar, Raquel Vila Nova Lins, Regeane Matos Nascimento, Regina Aparecida Reis Baldini de Figueiredo, Regina Lúcia Pereira Delgado, Reinaldo Vicentini Júnior, Rejane Oliveira dos Santos, Remísia F T De Aguiar, Renata Alves Saraiva de Lima, Renata CallaçaGadioli dos Santos, Renata Nogueira da Silva, Renata Parreira Peixoto, Renato Domingos Bertolino, Rinaldo Alves Almeida, Rober Carlos Barbosa Duarte, Roberto de Lima, Robison Luiz Alves de Lima, Roger Pena de Lima, Rosália Policarpo Fagundes de Carvalho, Rosana Cesar de Arruda Fernandes, Rosangela Delphino, Rosangela Toledo Patay, RosembergHolz, Samuel WvildeDionisio de Moraes, Sara dos Santos Correia, Sérgia Mara Bezerra, Sergio Bemfica da Silva, Sérgio Luiz Antunes Neto Carreira, Shirley Vasconcelos Piedade, Sônia Ferreira de Oliveira, Surama Aparecida de Melo Castro, Susana Moreia Lima, Tadeu Maia, Tania Cristina Ribeiro de Vasconcelos,Tadeu Queiroz Maia, Tania Lagares de Moraes, Telma Litwinuzik, Urânia Flores, Valeria Lopes Barbosa, Vanda Afonso Barbosa Ribeiro, Vanessa Ribeiro Soares, Vania Elisabeth AndrinoBacellar, Vânia Lúcia C. A. Souza, Vasco Ferreira, Verinez Carlota Ferreira, Veronica Antonia de Oliveira Rufino, Vinicius Ricardo de Souza Lima, Viviany Lucas Pinheiro, Wagner de Faria Santana, Wando Olímpio de Souza, Wanessa de Castro, Washington Luiz S Carvalho, Wédina Maria Barreto Pereira, Welington Barbosa Sampaio, Wellington Tito de Souza Dutra, Wilian Gratão.

Page 4: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Proposta de validação do currículo em movimento

Esse Currículo em Movimento intenta enfrentar as fragilidades que as escolas públicas do Distrito Federal vêm apresentando. Procura, especialmente, romper com as barreiras sociais, políticas, econômicas e culturais que segregam unidades escolares e distorcem as possibilidades de aprendizagem dos estudantes.

A construção do Currículo em Movimento iniciou-se em 2011, nas unidades escolares das quatorze Coordenações Regionais de Ensino, com a análise das potencialidades e fragilidades do Currículo Experimental. Essas e outras análises foram debatidas em sete Plenárias Regionalizadas ainda no ano de 2011. As sugestões foram sistematizadas e serviram de base para o Projeto Político Pedagógico Carlos Mota, lançado no primeiro semestre em 2012, e para essa versão do Currículo, construída coletivamente por professores e professoras dessa casa. Esse processo ajudou a ampliar a compreensão sobre os caminhos a serem percorridos na educação pública do Distrito Federal.

Também em 2012, foram realizadas eleições diretas para Diretores e Conselhos Escolares e instituído o Fórum de Educação do Distrito Federal, previstos na Lei 4.751 de 2012 – Lei da Gestão Democrática. Assim, em um processo de reformulação da dinâmica da gestão da educação e defendendo os princípios da cidadania, da diversidade, da aprendizagem e da sustentabilidade humana, o Currículo em Movimento passa agora por um processo de socialização e validação democrática pela Comunidade Escolar.

Com intenção de assegurar voz e vez a cada integrante de nossa comunidade escolar, convidamos todos e todas para participarem do processo de validação do Currículo em Movimento. Para organização do trabalho, sugerimos o seguinte roteiro:

1) Validação do Currículo em Movimento pela Comunidade das Unidades Escolares:

a. Período – fevereiro e março.b. Estratégia - A comunidade escolar estudará o Currículo em Movimento de

sua etapa/modalidade. Após as discussões a escola faz seus apontamentos de supressão, acréscimo e alteração e elege seus representantes por etapa/modalidade para validação Regional.

2) Validação do Currículo em Movimento nas Coordenações Regionais de Ensino:a. Período – abril e maio.b. Estratégia – Os representantes das unidades escolares, em plenárias Regionais,

a partir de sistematização prévia das sugestões das escolas, formulam sua proposta Regional.

3) Validação Distrital do Currículo em Movimento: a. Período – junho.b. Estratégia – Em Conferência própria, o Currículo em Movimento será validado

e publicado, permitindo a toda a comunidade escolar do Distrito Federal conhecimentos e metodologias significativas e identitárias de nossa política educacional.

Page 5: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

SumárioEducação Integral no Distrito Federal. Do sonho a realidade ..................................... 7

Para começo de conversa .......................................................................................7

As Escolas-Parque de Brasília .................................................................................. 7

Educação Integral? ... Educação Integral! ............................................................. 10

Uma nova visão ..................................................................................................... 12

Expressões diferentes, conceitos similares e complementares ....................................13

Princípios da Educação Integral .................................................................................... 15

Educação Integral x Educação em Tempo Integral ....................................................17

Sintonia entre a educação integral e a ampliação de tempo ................................17

Os atores do processo pedagógico ................................................................................ 19

O estudante atual - quem demanda a escola integral? ........................................20

A equipe gestora ................................................................................................... 22

O Coordenador Pedagógico .................................................................................. 23

O Coordenador de Educação Integral ................................................................... 24

O professor............................................................................................................ 24

Os outros atores do processo ............................................................................... 26

A comunidade escolar ...........................................................................................26

Educação Integral e a necessidade de uma nova organização ....................................28

Organização do tempo e do espaço escolar .......................................................... 28

A sala de aula como espaço de vivências pedagógicas .........................................29

A alimentação escolar como ferramenta pedagógica ...........................................30

Organização curricular ..........................................................................................32

Educar para que fim? ............................................................................................32

O fortalecimento da parte diversificada ............................................................... 33

Os campos do conhecimento ................................................................................ 35

O atendimento em tempo integral ........................................................................ 36

Como operacionalizar o tempo ampliado ............................................................. 37

O planejamento, a avaliação e o registro ..................................................................... 39

Por que planejar? ..................................................................................................40

Avaliação do processo ...........................................................................................43

O registro da história.............................................................................................45

Considerações finais ...................................................................................................... 46

Referências ..................................................................................................................... 46

Page 6: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos
Page 7: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

Apresentação

A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal tem somado esforços

no sentido de promover a superação de desigualdades e injustiças sociais históricas e

de emancipar a sociedade, promovendo a formação de cidadãos capazes de lutar por

seus direitos.

A Subsecretaria de Educação Básica da Secretaria de Educação do Distrito Federal

tem a honra de apresentar este Caderno de Educação Integral com o intuito de orientar

os diversos atores do Sistema Público de Ensino do DF para a realização de uma grande

revolução na educação.

Em consonância com as políticas educacionais propostas pelo MEC, e indo além

dessas proposições, este Caderno de Educação Integral orienta e convida educadores,

comunidade escolar e sociedade civil à compreensão e à realização de uma proposta

educacional libertária, inovadora, inclusiva e produtora de cidadania.

Conceber que o estudante é um ser humano único e pleno, com direito a

desenvolver-se em todas suas dimensões, é ainda uma mudança de paradigma que

precisa ser incorporada ao cotidiano das ações educacionais.

Nesta proposta, o direito à cultura, ao lúdico, ao esporte, ao lazer, à alimentação de

qualidade, ao cuidado e ao autocuidado tem mesmo peso e valor que o direito à construção

de conhecimentos técnico-científicos. Isso porque o estudante e os diversos atores do

processo pedagógico são compreendidos como seres inteiros, múltiplos e relacionais.

Esta proposta deve ser entendida como suprimento à implantação do Currículo

que, por sua vez, é concebido à luz da Educação Integral, em consonância com o Projeto

Político- Pedagógico Professor Carlos Mota, visando contribuir com o planejamento

democrático, com a organização e a administração coletivas de um ensino público que

contemple a integralidade do ser, a sustentabilidade humana e a integração da escola na

e com a comunidade, a cidade e o meio ambiente.

Esperamos que este documento possa elucidar cada ator do sistema público de

ensino do DF, no cumprimento da missão desta Secretaria de Estado de Educação:

“Oferecer de forma eficiente e eficaz educação de qualidade, articulando

ações que se consubstanciem na formação do cidadão ético, crítico, dotado de valores

humanísticos e na construção de conhecimentos técnico-científicos, ecológicos e

artísticos.”

Page 8: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos
Page 9: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

9

AnotaçõesEducação Integral no Distrito Federal. Do sonho a realidade

Para começo de conversa

No contexto histórico da educação no DF, o ideal da

Educação Integral considerada como uma das possibilidades para

ampliação do desenvolvimento humano sempre esteve presente,

tanto no pensamento dos educadores quanto em ações de cunho

educativo.

Na década de 1960, foi constituída uma comissão

encarregada de criar o “Plano Humano” de Brasília. Na coordenação

dessa comissão, o educador Anísio Teixeira, juntamente com Darcy

Ribeiro, Cyro dos Anjos e outros educadores, organizou o Sistema

Educacional da Nova Capital, concebendo um modelo de Educação

Integral para o nível educacional elementar.

Conforme o planejamento educacional, as Escolas Classe

foram construídas para as aulas regulares e as Escolas Parque para

a prática de atividades artísticas, esportivas e culturais em turno

complementar. Na ocasião, o Presidente Juscelino Kubitschek

pretendeu que o Sistema Educacional da Nova Capital viesse a ser

um modelo educacional para todo o Brasil.

Vários foram os entraves, principalmente o político, que

impediram o êxito do Plano. No entanto, foi plantada a semente.

Ressurge no contexto atual como uma ideia mais amadurecida, com

base na experiência do passado histórico da educação no Distrito

Federal e ajustada às exigências do mundo moderno. Trata-se de

um compromisso do governo e de toda a sociedade civil que se

unem em prol de uma construção coletiva pelo bem social.

As Escolas-Parque de Brasília

Para iniciar as discussões sobre Educação integral, faz-se

necessário um tempo a parte para debater sobre a experiência

inovadora trazida da Bahia à Brasília: as escolas-parque, sendo este

Page 10: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

10

o desafio proposto pelo Plano Educacional de Brasília, concebido em 1957 por Anísio Teixeira,

então Diretor do INEP.

Tratava-se de um plano ousado e inovador que traria a experiência de escola-parque, do

Centro Educacional Carneiro Ribeiro da Bahia. Não somente, reformaria os currículos vigentes,

excluindo temas inadequados e introduzindo ferramentas de ensino mais modernas como a

televisão, o rádio e o cinema.

O programa educacional compreenderia verdadeiros centros para o ensino elementar,

composto pelos jardins de infância, escolas classe e escolas-parque, além dos centros para o

ensino secundário, composto pela Escola Secundária Compreensiva e pelo Parque de Educação

Média. Após a conclusão do ensino secundário, o aluno estaria preparado para ingressar na

Universidade de Brasília.

Os principais objetivos que nortearam o pensamento de Anísio para Brasília foram: a)

fazer escolas nas proximidades das áreas residenciais, para que as crianças não precisassem andar

muito para alcançá-las e para que os pais não ficassem preocupados com o trânsito de veículos

(pois não teria trafego de veículos entre o caminho da residência e da escola), obedecendo a uma

distribuição equitativa e equidistante; b) promover a convivência das mais variadas classes sociais

numa mesma escola, seja o filho de um ministro ou de um operário que trabalhava na construção

de uma superquadra, tendo como objetivo a formação de cidadãos preparados para um mundo

sem diferenças sociais; c) oferecer escolas para todas as crianças e adolescentes; d) introduzir

a educação integral, com vistas à formação completa da criança e do adolescente; e) promover

a sociabilidade de jovens da mesma idade, porém provindos das diferentes classes sociais, por

meio da junção num Centro de todos os cursos de grau médio como atividades na biblioteca, na

piscina, nas quadras de esporte, grêmios, refeitório (Kubitschek, 2000, p.141).

Ao delinear uma proposta de educação moderna, Anísio rompeu diversas barreiras e

apesar de inúmeras críticas, pensou numa educação integral, onde as crianças e adolescentes

pudessem ter ambientes que proporcionassem a interação entre a sociedade e a escola.

Os alunos teriam as ferramentas necessárias e também as oportunidades de vida para ser

um cidadão do futuro e do mundo industrializado. Cabia a escola a preparação ampla deste novo

cidadão da sociedade moderna, que iria além das quatro horas diárias de estudo, em direção a

educação integral, que não se resumia em dois turnos na escola, mas em oito horas de formação

do indivíduo com atividades de estudo, trabalho e também esporte e recreação, incluindo-se

intervalo para o almoço.

Lúcio Costa adequou o Plano Educacional de Anísio Teixeira aos moldes do planejamento

urbanístico proposto para a capital. Assim, para cada superquadra de 2.500 a 3.000 habitantes,

haveria:

Page 11: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

11

Anotações• um jardim de infância composto de quatro salas com

capacidade para vinte alunos, para atender 160 crianças

em dois turnos;

• b) uma escola-classe com oito salas para trinta alunos

cada, para atender 480 crianças em dois turnos. Para

cada grupo de quatro superquadras, de 10 mil a 12

mil habitantes, haveria: uma escola-parque para

atender dois mil alunos em dois turnos em atividades

de preparação para o trabalho (nas oficinas de artes

industriais: tecelagem, tapeçaria, encadernação,

cerâmica, cartonagem, costura, bordado e trabalhos

em couro, madeira, metal, entre outras) para crianças

de 10 a 14 anos ou em atividades artísticas, sociais e de

recreação (dança, música, teatro, pintura, exposições e

outros) para as faixas etárias de 7 a 14 anos.

É importante notar que a escola-parque baiana idealizada

por Anísio foi construída na periferia de Salvador, no bairro da

Liberdade, e, portanto, abrigava uma população pobre, desprovida

de recursos e incentivos necessários ao ingresso numa faculdade.

Isto explica a importância das pequenas oficinas de artes industriais,

onde o aluno poderia aprender uma profissão, diferente da

realidade de Brasília.

Com o passar dos anos, percebeu-se que o foco dos

estudantes de Brasília não era de simplesmente aprender uma

profissão nos moldes de Salvador, por isso, Anísio repensou a

finalidade das oficinas industriais para Brasília, focando mais as

atividades artísticas, sociais e de recreação. Entretanto, segundo

a professora pioneira Branca Rabello (2007), que participou da

instalação e organização da escola-parque, em Seminário intitulado

“Educação no Distrito Federal: Memória dos professores, dos

estudantes e dos gestores pioneiros”: Com a quantidade de crianças que vinham do Brasil inteiro, havia uma troca de experiências. Cada qual com suas músicas, seus costumes, seu folclore. Tudo isso era trocado lá dentro da escola-parque entre eles, porque as crianças, além de terem os horários obrigatórios...dispunham de outras duas horas, durante as quais podiam freqüentar as atividades que mais gostassem. (Rabello, 2007)

Page 12: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

12

O que Anísio idealizou para a educação primária de Brasília, ao propor a escola-classe

e a escola-parque, foi um Centro de Educação Elementar, que o estudioso comparava a uma

universidade infantil, com objetivos distintos e que se voltavam às necessidades não somente de

educação, mas também de vida e convivência social (1961).

Diferentemente da organização tradicional da escola-classe, na escola-parque o aluno

era separado por idade, vocação e preferências. Uma aula de dança tinha alunas da mesma

faixa-etária, porém de diferentes escolas. Notem que o sistema integrava aluno, escolas classe e

escolas-parque e ainda o professor. O professor tinha participação ativa na discussão curricular e

juntamente com os coordenadores planejavam as atividades e trocavam experiências educativas

e enriquecedoras.

Essa estrutura organizacional expressava uma concepção de educação democrática que

oferecesse às crianças um programa completo de leitura, aritmética, escrita, ciências físicas e

sociais, artes, desenho, música, dança, educação física, saúde e alimentação, visando à formação

integral do indivíduo em todas as suas dimensões.

A experiência da escola-parque em Brasília foi sem dúvida o pensamento de Anísio colocado

em teste e certamente aprovado por aquele seleto grupo de alunos que teve a sorte de receber

formação integral. Todavia, com o aumento no número das matrículas, a mudança de governo na

esfera federal - a saída de Kubitschek, somado a constante falta de verbas, desvirtuaram os ideais

do plano traçado por Anísio.

Hoje, as escolas-parque construídas recebem, alunos provindos de toda a rede de ensino

público e ainda assim, para atividades de caráter extra-curricular.

Ao analisarmos os primórdios da educação em Brasília, verificamos um caráter muito atual

e instigante de uma obra que tem sido referência para o debate nacional acerca da Educação

Integral e que aponta a direção a ser seguida pelo Distrito Federal na incansável defesa de uma

educação pública de qualidade.

Educação Integral? ... Educação Integral!

A educação deve ser referenciada pela formação integral do ser humano. Em outras

palavras, a educação deve contemplar as diversas dimensões que formam o humano, não

apenas os aspectos cognitivos. Deve reconhecer os estudantes como sujeitos de direitos e

deveres e, decorrente dessa tomada de consciência, torna-se imprescindível proporcionar a eles

oportunidades para ampliação de suas dimensões humanas, entre elas: a ética, a artística, a física,

a estética, entre outras (PPP Professor Carlos Mota, 2012).

Atualmente, é premissa para todo e qualquer planejamento educacional o reconhecimento

Page 13: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

13

Anotaçõesda educação como um processo que deve discutir e construir

valores, cidadania, ética, valorizar e fortalecer a identidade étnica,

cultural, local, de gênero, sendo valores essenciais para a construção

de uma sociedade sustentável.

A proposta educacional formulada por Anísio Teixeira

pautava-se no ideal de uma educação próxima de um retrato, o

mais fiel possível, da sociedade. Pretendia, assim, possibilitar ao

estudante o contato com situações cotidianas oferecidas em forma

de atividades diversificadas.

Apesar dessa visão, a escola para Anísio Teixeira não era

apenas a reprodução em menor escala da sociedade, mas uma

forma de inferir novas possibilidades de transformação, como

salientado pelo autor: As democracias, (…), sendo regimes de igualdade social e povos unificados (…) não podem prescindir de uma sólida educação comum, a ser dada na escola primária, de currículo completo e dia letivo integral, destinada a preparar o cidadão nacional e o trabalhador ainda não qualificado e, além disto, estabelecer a base igualitária de oportunidades, de onde irão partir todos, sem limitações hereditárias ou quaisquer outras (…) (Teixeira, 1999).

Com este objetivo claro de educação, Teixeira (1959) detalha

o que a instituição deveria oferecer: (…) dar-lhe seu programa completo de leitura, aritmética e escrita, e mais ciências físicas e sociais, e mais artes industriais, desenho, música, dança e educação física. Além disso, desejamos que a escola eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações, prepare realmente a criança para a sua civilização – esta civilização tão difícil por ser uma civilização técnica e industrial e ainda mais difícil e complexa por estar em mutação permanente. E, além disso, desejamos que a escola dê saúde e alimento à criança, visto não ser possível educá-la no grau de desnutrição e abandono em que vive.

Esta reflexão deixa claro que a proposta de Anísio para a

educação pretendia que o estudante fosse preparado para a vida

em todas suas nuances, tanto nos aspectos cognitivos e sociais

como nos de iniciação profissional, sendo imprescindível para o

alcance desses objetivos que a escola tivesse atuação incisiva no

campo da alimentação e da saúde.

Comparando a proposta educacional formulada por Anísio

Page 14: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

14

Teixeira e a atual proposta da Educação Integral, observa-se que ambas se ancoram na mesma

perspectiva de ampliação de tempos e oportunidades educacionais, como premissa do preparo

dos estudantes para as mudanças constantes do mundo moderno.

Por definição, a palavra integral significa inteiro, completo, total, o que é identificado

nas diversas definições de escola e de educação propostas por Anísio Teixeira e retomadas mais

recentemente nas discussões acerca da necessidade de ampliação do tempo de permanência do

estudante na escola.

Finalmente, a Educação Integral no Distrito Federal pretende oferecer uma educação

por inteiro em um turno integral com quantidade e qualidade educacionais para que nossos

estudantes tenham oportunidades para o desenvolvimento dos requisitos necessários para uma

vida plena, com participação ativa e saudável na sociedade.

Uma nova visão

A Educação Integral para as escolas públicas do Distrito Federal é uma proposta educacional

formativa e integrada às exigências do mundo moderno, com a intenção de formar indivíduos

capazes de responder aos novos desafios que surgem no mundo contemporâneo.

Esta proposta de Educação pretende a integralidade na formação do educando,

pautando-se no caráter multidimensional do ser humano, composto por aspectos psicomotores,

cognitivos, afetivos, intuitivos e socioculturais integrados às experiências da vida. Pretende,

ainda, a equalização social ao cumprir a função de preparar os indivíduos para uma participação

responsável na vida social.

O Distrito Federal, visando materializar a almejada Educação Integral, como produto

de estudos pedagógicos, sociológicos e filosóficos, propõe um novo formato educacional que

provoque mudanças na sociedade e na escola.

O estudo pedagógico resultou da reflexão sobre a real necessidade de ampliação do tempo

de permanência do estudante na escola e, principalmente, sobre como utilizar esse período

ampliado como um tempo de aproveitamento pedagógico, social, de contribuição pessoal e

coletiva na formação do estudante e da comunidade onde este e sua escola estão inseridos.

Quanto às questões sociológicas, a conclusão de que nas últimas décadas a escola tem

sido convocada a reforçar seu papel nas esferas: societária, comunitária e cultural deixa evidente

a necessidade de planejar um novo formato educacional.

A contribuição da filosofia aponta para a necessidade de uma nova formação educacional

que proporcione ao indivíduo condições para sua adequação a um meio social, econômico,

político e natural onde ocorrem mudanças constantes.

Page 15: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

15

AnotaçõesA associação da instrução escolar aliada a um conjunto

mais amplo de experiências socioculturais demanda mudanças

curriculares e indica a necessidade de reconceituação da educação

escolar.

Em síntese, a Educação Integral é uma proposta que

pretende a ampliação de oportunidades educacionais com um novo

formato de educação que proporcione a ampliação dos espaços e

tempos educacionais.

Expressões diferentes, conceitos similares e complementares

A definição de Educação Integral gera bastante controvérsia,

pois alguns educadores utilizam a expressão atrelada à dimensão

integralizadora dos saberes, associando as características de

uma educação multidimensional, enquanto outros educadores a

utilizam sempre que se referem à dimensão temporal da educação,

ou seja, limitam-se a representar a educação integral como aquela

que acontece quando aumenta o tempo de permanência do

estudante na escola.

Apesar da controvérsia acerca dessas definições, para a rede

pública de ensino do Distrito Federal adotamos o conceito de que a

educação integral é aquela que possibilita a formação integral dos

sujeitos.

Segundo o PPP Professor Carlos Mota (2012), a educação

integral pode ser vista sob dois aspectos: como concepção e como

processo pedagógico. Como concepção, visa à formação humana

em suas múltiplas dimensões. Em outras palavras, não é possível

educar sem reconhecer que os sujeitos se constituem a partir de

sua integralidade afetiva, cognitiva, física, social, histórica, ética,

estética que, pela complexidade das relações que se estabelecem

entre todos os elementos da Terra, dialoga amplamente com as

dimensões ambientais e planetárias em um novo desenho das

relações humanas e sociais. Vista dessa forma, a Educação requer

Page 16: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

16

que estejam integrados e sejam ampliados, de forma qualitativa, espaços, tempos, saberes e

conteúdos.

Como processo pedagógico, a educação integral prevê práticas não dicotomizadas

que reconhecem a importância dos saberes formais e não formais, a construção de relações

democráticas entre pessoas e grupos, imprescindíveis à formação humana, valorizam os saberes

prévios, as múltiplas diferenças e semelhanças e fazem de todos nós sujeitos históricos e sociais.

Quanto à ampliação do tempo de permanência do estudante na escola, a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional – LDB - em seus artigos 34 e 87, faz a previsão do aumento

progressivo da jornada escolar, conforme segue:Art. 34 – A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola [...].2º parágrafo: O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino [...].Art. 87, parágrafo 5º - Serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral.

Visando delimitar o que define educação em tempo integral, o Decreto Presidencial nº

7.083, de 27 de janeiro de 2010, em seu artigo 1º, parágrafo 1°, define a jornada de tempo

integral da seguinte forma:Para os fins deste Decreto, considera-se educação básica em tempo integral a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total em que o estudante permanece na escola ou em atividades escolares em outros espaços educacionais (BRASIL, 2010).

A ampliação de tempo prevista nessas legislações não está diretamente relacionada à

formação integral do estudante, porém acreditamos que este fator contribui de forma relevante

para que se ofereça ao estudante a educação integral.

A ideia de uma educação escolar abrangente com “funcionamento integral”; de “dia

letivo completo”, de “dia integral”, com “horários amplos” está presente em toda a obra de Anísio

Teixeira; segundo Cavaliere (2007), porém, o próprio autor não faz uso da expressão “educação

integral”, talvez por não a considerar suficientemente precisa.

Tomamos aqui o direito de lançar mão de outra expressão que vem sendo usada para

referir-se à instituição educacional que associe a oferta de Educação integral ao tempo integral

de permanência do estudante na escola. Chamaremos de “Escola Integral”.

Essa Escola Integral, que oferece Educação Integral em tempo integral, prevê uma escola

viva, que esteja concatenada à realidade em que está inserida, objetivando que a escola não

atue apenas intramuros, mas que viva em completa simbiose com a comunidade que a permeia,

estendendo a função da escola para além das questões pedagógicas, imprimindo-lhe uma

Page 17: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

17

Anotaçõesdimensão biopsicossocial balizada na ampliação do tempo de

permanência do estudante em seu espaço.

Princípios da Educação Integral

Os princípios basilares da Educação Integral nas escolas

públicas do Distrito Federal são:

Integralidade humana: visa à ampliação do desenvolvimento

humano no mundo moderno e tem como premissa a ressignificação

do processo educativo com base no reconhecimento do caráter

multidimensional do ser humano, composto por aspectos

psicomotores, cognitivos, afetivos, intuitivos e socioculturais

integrados às experiências da vida.

Dado o caráter perene do processo de aprendizagem, a

perspectiva de educação integral respeita esse tempo, pois vistas

desta forma, as aprendizagens se dão ao longo de toda a vida

por meio de vivências educativas associadas às diversas áreas do

conhecimento como arte, cultura, esporte, lazer, entre outras,

oportunizando o desenvolvimento das potencialidades de cada

sujeito.

Nessa perspectiva, é a escola que ganha mais tempo para o

processo de amadurecimento de aprendizagens de seus estudantes

e não o estudante que irá passar mais tempo na escola.

“Transdisciplinaridade”: prevê a percepção articulada do

conhecimento disciplinar, induzindo à superação da fragmentação

e estreitamento curricular.

Segundo Rodrigues e Giágio (2001), a “transdisciplinaridade”

é a coordenação do conhecimento em um sistema lógico que permite

o livre trânsito de um campo do saber para outro, ultrapassando-se

a concepção de disciplina e enfatizando-se o desenvolvimento de

todas as nuances e aspectos do comportamento humano.

Assim sendo, o que se propõe é o desenvolvimento do

educando em sua completude e inteireza, respeitando-o como

um ser consciente em processo de formação integral. Daí a

Page 18: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

18

importância de que as ações/atividades desenvolvidas pela escola ao longo do processo de ensino-

aprendizagem sejam realizadas por meio de atividades provocativas, questionadoras, reflexivas e

pautadas numa dimensão dialógica, de forma a contribuir para que, ao final do estudo, todos os

participantes se sintam realizados, valorizados e responsabilizados pelo sucesso dos resultados

obtidos.

Transversalidade: nesta perspectiva, implica adotar um raciocínio complexo, não

cartesiano de forma a superar a hiperespecialização e a compartimentação dos saberes. Desta

forma, conteúdos e experiências devem ser contextualizados e integrados, considerando os

conhecimentos prévios trazidos da realidade de cada estudante em seu contexto comunitário.

“Intersetorialidade”: prevê a sinergia entre iniciativas federais, governamentais e da

sociedade civil, fazendo dialogar as diversas ações educativas que se encontram isoladas e

dispersas nos territórios com a finalidade de implementar a educação integral.

Assim, projetos educacionais podem ser desenvolvidos nas/pelas áreas de saúde, ação

social, meio ambiente, cultura, segurança, turismo e esporte, entre outras, sendo disponibilizados

às instituições educacionais para que sejam incorporados ao planejamento e execução destas.

Territorialidade: consiste no mapeamento das cidades com a finalidade de promover a

articulação das escolas com os diferentes espaços educativos e equipamentos públicos, como

centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, espaços de cultura e de esporte, construindo

coletivamente uma cidade educadora em cada Região Administrativa a fim de transformarmos o

Distrito Federal como o primeiro “estado” educador do Brasil.

Nessa perspectiva de integração e de sociabilidade, a Escola Integral pretende humanizar os

espaços públicos disponíveis, garantindo aos educandos uma proposta educativa que contemple,

além do acesso ao conhecimento historicamente construído pela humanidade, uma educação

integral que lhes assegure o desenvolvimento em suas múltiplas dimensões.

Diálogo escola/comunidade: consiste no compartilhamento da responsabilidade e da

tarefa de educar entre os profissionais da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes

atores sociais, sob a coordenação da escola e dos professores.

A organização curricular da Escola Integral traduz-se em uma conjugação qualitativa de

atividades educativas e culturais bem vivenciadas, integradas e articuladas pedagogicamente.

Para Cavaliere (1996), o aumento do horário escolar “(...) é um elemento que coloca em pauta um

tipo de mudança curricular que aponta em direção a uma prática de educação integral”.

Essa concepção exige o compromisso e a coparticipação do tripé família-escola-

comunidade, tendo em vista o desenvolvimento de um trabalho integrado, em prol de um

currículo escolar voltado para as reais necessidades da comunidade escolar, a fim de que todos

os partícipes sejam realmente beneficiados com uma educação de qualidade.

Page 19: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

19

AnotaçõesGestão democrático-participativa: refere-se à forma

cooperativa e não competitiva de gestão que se estabelece entre

os diversos atores da educação, visando ao pacto e participação

de todos em prol da melhoria na qualidade do trabalho educativo.

Educação Integral x Educação em Tempo Integral

Sintonia entre a educação integral e a ampliação de tempo

Quando questionamos a necessidade de ampliar o tempo

de permanência do estudante na escola como condição para que

esta seja uma Escola integral, lembramos que, apesar desse fator

não ser determinante, amplia minimamente as possibilidades de

atuação da instituição escolar.

Em seus escritos, Anísio Teixeira refere-se à Escola Integral

como sendo uma escola de dia integral, conforme segue:Precisamos restituir-lhe [à escola] o dia integral, enriquecer-lhe o programa com atividades práticas, dar-lhe amplas oportunidades de formação de hábitos de vida real, organizando a escola como miniatura da comunidade, com toda a gama de suas atividades de trabalho, de estudo, de recreação e de arte (TEIXEIRA, 1994).

Entretanto, essa escola de dia integral não se resumia ao

fator temporal. Sua proposta era oferecer nesse período a maior

gama possível de possibilidades ao estudante.

Quando retornou a discussão acerca da necessidade e das

possibilidades de implantação da educação de tempo integral no

Distrito Federal, novamente foi posta da seguinte forma:Só faz sentido pensarmos na ampliação da jornada escolar, ou seja, na implantação de escolas de tempo integral, se considerarmos uma concepção de educação integral em que a perspectiva do horário expandido represente uma ampliação de oportunidades e situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras (PPP Professor Carlos Mota, 2012).

Quando pensamos na ampliação do tempo de permanência

do estudante na escola, o maior entrave refere-se às limitações

Page 20: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

20

físicas e estruturais que as escolas públicas do Distrito Federal apresentam, pois não foram

concebidas na perspectiva de que o estudante permaneça o dia inteiro na instituição.

No entanto, conforme o Ministério da Educação preconiza em suas discussões que

fundamentam o Programa Federal Mais Educação,O espaço físico da escola não é determinante para a oferta de Educação Integral. O reconhecimento de que a escola não tem espaço físico para acolher as crianças, adolescentes e jovens nas atividades de Educação Integral não pode desmobilizar (...) (Passo a Passo, Mais Educação, 2011).

Desta forma, não se trata apenas de encontrar uma solução criativa para eximir o estado

da responsabilidade de munir as escolas com infraestrutura adequada para a prática de atividades

complementares, mas de suscitar a possibilidade de que o estudante interaja com o meio onde

está inserido.

Oferecer Educação Integral é uma prática que surge em completa sintonia com a ampliação

do tempo, pois os dois conceitos, seja nos pensamentos oriundos dos primórdios da proposta

de oferta de educação integral, seja nos momentos mais atuais, sempre estiveram atrelados à

perspectiva de ampliar as oportunidades educacionais.

4.2. PORQUE AMPLIAR O TEMPO?

Na sociedade atual, a escola é chamada a desempenhar intensivamente um conjunto de

diversas funções. Além da função de instruir e avaliar, a escola tem de orientar (pedagógica,

vocacional e socialmente), de guardar e acolher as crianças e os jovens em complementaridade

com a família, de se relacionar ativamente com a comunidade, de gerir e adaptar currículos,

de coordenar um grande número de atividades, de organizar e gerir recursos e informações

educativas, de se auto-gerir e administrar, de auto-avaliar, de ajudar a formar seus próprios

docentes, de avaliar projetos e de abordar a importância da formação ao longo de toda a vida

(Alarcão, 1996).

Essa multiplicidade de funções que se atribui à escola hoje representa um grande desafio

– essa instituição se vê como educadora, mas também como “protetora” e isso tem provocado

debates acerca não só de sua especificidade, mas também acerca dos novos atores sociais

que buscam apoiá-la no exercício dessas novas funções e dos movimentos e organizações

que igualmente buscam a companhia dessa instituição escolar para constituí-la e, talvez,

ressignificá-la. Assim, a escola pública passa a incorporar um conjunto de responsabilidades

que não eram vistas como tipicamente escolares, mas que, se não estiverem garantidas,

podem inviabilizar o trabalho pedagógico (Educação Integral, Texto Referência para o Debate

Nacional, MEC, 2009).

Page 21: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

21

AnotaçõesLonge de uma visão de escola como instituição total ou

panacéia para todos os males, é nesse contexto educacional, que

a Educação Integral também deve ser pensada, pois não pretende

substituir o papel e a responsabilidade da família ou Estado, ou

ainda de seqüestrar o educando da própria vida, mas que vem

responder as demandas sociais de seu tempo.

Segundo o Ministério da Educação (2009), para implementar

a Educação Integral é imprescindível a superação de grande parte

dos modelos educacionais vigentes, prevendo novos conteúdos

relacionados à sustentabilidade ambiental, aos direitos humanos,

ao respeito, à valorização das diferenças e à complexidade das

relações entre a escola e a sociedade.

Compreendendo o tempo escolar, como o período de

instruir, cuidar, do avaliar e do zelar, vemos a necessidade de

ampliar o tempo de permanência nas instituições de ensino, sendo

que para tal, todos os atores do processo educacional devem

envolver-se com a proposta, repensando o projeto pedagógico.

Os atores do processo pedagógico

É preciso toda uma aldeia para educar uma criança. Provérbio africano

Com o progresso científico e tecnológico, o indivíduo precisa

adquirir conhecimento e desenvolver capacidade psicológica

para se adaptar às mudanças atuais. A Instituição de Ensino tem

que estar apta a ajudá-lo. Ao Estado cabe a função de principal

articulador das políticas sociais e o dever de formular e executar

essas políticas.

A interação entre os indivíduos na Instituição Educacional

não se resume em “estar junto”, “trocar ideias” ou “dividir tarefas

do dia a dia”, mas também planejar, enfrentar os desafios e superar

divergências. Um grupo de pessoas se transforma em uma equipe

quando consegue criar um espírito de trabalho coletivo em que as

Page 22: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

22

diversidades pessoais se transformam em riquezas que as unam e as complementem em busca

de objetivos comuns.

A adequada integração dos profissionais exerce influência direta sobre a qualidade

do trabalho socioeducativo, condicionando positivamente a maneira pela qual o grupo de

profissionais atua diante de diversos contextos.

Nesse processo, torna-se fundamental a troca de experiências entre as pessoas, haja vista

que elas interagem e atuam coletivamente em torno de um objetivo comum, buscando garantir

o propósito da unidade pedagógica estabelecida como diretrizes e metas a serem alcançadas ao

longo do processo educativo.

A integração interpessoal harmônica permite que o grupo de profissionais também

revitalize a dimensão comunitária, o sentimento de pertencimento ao grupo de trabalho e,

sobretudo, sinta-se mais competente, confiante e autônomo para manter a contextualização,

a integração e a interdisciplinaridade1 das atividades pedagógicas necessárias à escola integral.

Sendo assim, em âmbito de gestão, diretores, supervisores, coordenadores, professores,

funcionários administrativos e demais responsáveis pelo trabalho técnico-administrativo-

pedagógico da unidade escolar devem atuar de forma coletiva, construindo uma identidade

compartilhada, fazendo a articulação de todas as atividades desenvolvidas ao longo do dia letivo

e de todo o processo pedagógico.

O estudante atual - quem demanda a escola integral?

A escola atual é formada por um público bastante heterogêneo. É relevante e alarmante

a quantidade de estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal que ainda vive em

contextos de desigualdade social com altos índices de pobreza e violência. É importante que

a escola saiba lidar com as diferenças, respeitando e valorizando cada estudante em sua

individualidade e tendo esse sujeito como ponto de partida para a construção do conhecimento.

Ser estudante hoje é ser agente de elaboração do conhecimento e isso só acontece quando

se tem a oportunidade de refletir, construir, criar, debater e questionar.

O aluno é um ente social que leva para a escola uma série de experiências - positivas ou

não - acumuladas em casa, no clube, na igreja ou em qualquer outro espaço em que conviva. Essas

experiências do cotidiano advindas das interações com a sociedade tornam o estudante capaz de

reelaborar os conceitos emitidos pelo professor, transformando-o num agente de elaboração do

conhecimento.1 A Interdisciplinaridade prevê outra concepção da divisão do saber, marcada pela interdependência, pela interação e pela comunicação entre as disciplinas voltadas para a integração do conhecimento em áreas significativas (RODRIGUES; GIÁGIO, Brasília, 2001).

Page 23: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

23

AnotaçõesAlgumas características são comuns a muitos estudantes na

contemporaneidade. As crianças e os jovens de hoje têm acesso

à informação por diferentes fontes, por diversos instrumentos,

ferramentas, mídias e tecnologias. Muitos têm autonomia na busca

de informações, porém, a facilidade na obtenção da informação

não configura a intimidade com essas questões nem garante a

compreensão do conhecimento.

Outras características habituais na atualidade são a

dificuldade dos estudantes em se concentrar nas aulas em que

precisam copiar o conteúdo do quadro no caderno e a dificuldade

em escutar o outro, seja o colega, os pais ou os professores.

Destacamos ainda o perfil inovador e empreendedor

presente nos estudantes contemporâneos, para os quais a inserção

no mundo do trabalho é mais que uma necessidade, é uma

realidade.

O estudante atual aqui se caracteriza como sujeito que tem

necessidade de ser respeitado em sua individualidade na escola,

na família e na sociedade, considerando suas múltiplas dimensões,

sejam essas físicas, cognitivas, sociais, culturais e ou afetivas. É o

estudante que busca condições de qualidade para aprender, para

refletir e para construir seu conhecimento.

A definição do estudante identificado e pensado como

demandante de uma escola integral é um sujeito plural, único

e coletivo, individualizado e multiplicado pelas redes sociais.

Portanto, um sujeito pleno de seus direitos, um estudante cidadão

que tem condições de ditar seu destino de modo horizontal em

todas suas dimensões.

Há de se respeitar que o estudante tenha garantidos seus

direitos de acesso ao livro e à leitura, à arte e à cultura, ao esporte,

aos jogos e ao lúdico, ao movimento, à expressão e à criação, à

compreensão e à construção do conhecimento, à alimentação, à

higiene, ao autocuidado e ao cuidado com o outro e com o meio.

Mais do que acesso ao conhecimento hoje, todos têm

condições e oportunidades para compreender o que conhecem, a

fim de elaborar e se expressar individual e coletivamente sobre as

Page 24: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

24

aprendizagens construídas.

Em suma, esse estudante contemporâneo está apto a receber uma educação integral, mas

também, e principalmente, é ele quem demanda uma formação integrada à família, à sociedade

e ao meio ambiente.

A equipe gestora

É a responsável pelo gerenciamento dos recursos financeiros, pela articulação das ações

administrativas, pela manutenção de um ambiente escolar harmônico e pela articulação do

trabalho pedagógico a ser desenvolvido pela equipe que atua nos diversos momentos pedagógicos

da escola. Compete também à equipe gestora articular a atuação do Conselho Escolar com todas

as ações que exijam apreciação e tomada de decisões coletivas, envolvendo principalmente a

aplicação de recursos financeiros. Dessa forma, a escola estará garantindo o fortalecimento de

toda a equipe e da unidade do processo pedagógico da instituição de ensino.

É necessário primar por um ambiente favorável ao trabalho coletivo, onde a democracia

e criatividade viabilizem as atribuições de cada membro da comunidade educacional, sendo

as mesmas claramente compreendidas por todos os partícipes, como um dos caminhos para o

sucesso.Esse sucesso é uma construção. Depende da participação de toda equipe escolar e, sobretudo, da atuação das lideranças. Os gestores precisam trabalhar com os professores a concepção de escola que desejam implementar e, de acordo com essa concepção, como se definirá o projeto político pedagógico da escola e a prática de seus professores, de maneira a promover a aprendizagem contínua dos estudantes (GROSBAUM; DAVIS, 2002, p. 77).

Nesse contexto, para a concretização das metas educacionais e dos objetivos da educação

integral no Distrito Federal, o sistema público de ensino deve contar com profissionais qualificados

ou em processo de qualificação. Contudo, não é apenas a qualificação profissional, inicial ou

continuada, fator indicativo de sua competência para atuar com discentes. É imprescindível que

disponham de qualidades humanas e de desenvolvimento profissional que os capacite para essa

atuação.

Eis o desafio que se impõe a todo cidadão, porém, com maior responsabilidade àqueles que

atuam profissionalmente na área educacional e, entre estes, mais ainda aos gestores escolares,

por seu papel de liderança e de aglutinação dos demais segmentos participantes da vida da

escola. Trata-se certamente de um desafio ao mesmo tempo político e pedagógico, do qual não

é possível ao gestor esquivar-se, por ser inerente ao cargo exercido, e cujo enfrentamento, uma

vez assumido verdadeiramente, permitirá que se concretize toda a relevância social do papel que

lhe cabe no interior da instituição escolar.

Page 25: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

25

AnotaçõesPodem-se destacar os seguintes fatores a serem observados

quanto a esse profissional:

• Assegurar um ambiente propício à aprendizagem;

• Adotar medidas de intervenção;

• Corrigir os desvios;

• Estimular a participação e acompanhamento dos pais na

vida escolar;

• Elevar os índices de rendimento satisfatório;

• Promover ações que busquem a cultura da paz entre

todos.

O Coordenador Pedagógico

Quando nos deparamos com o desafio de construir uma

escola integral, o coordenador pedagógico assume papel de grande

magnitude, pois cabe a ele garantir a articulação entre professores,

equipe gestora e comunidade escolar.

Segundo Libâneo (2004), temos que o coordenador

pedagógico é aquele que responde pela viabilização, integração

e articulação do trabalho pedagógico, estando diretamente

relacionado com os professores, estudantes e pais. Junto ao

corpo docente, o coordenador tem como principal atribuição

a assistência didático- pedagógica, refletindo sobre as práticas

de ensino, auxiliando e construindo novas situações de

aprendizagem, capazes de auxiliar os estudantes ao longo de sua

formação.

Na escola integral que necessita articular seu funcionamento

para que sincronize ações do currículo formal com os saberes

informais, o coordenador pedagógico é a peça fundamental.

A interação entre os envolvidos no processo de ensino-

aprendizagem, propiciando diálogo, reflexão e ações pedagógicas

integradas, além de auxiliar nas relações interpessoais dos diversos

atores do processo pedagógico, colabora diretamente para a

construção de uma educação de qualidade.

Page 26: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

26

O Coordenador de Educação Integral

O Coordenador de Educação integral se responsabilizará pela articulação do trabalho

entre professores de turnos diferentes, de modo que seus trabalhos se complementem.

Segundo Clementi (apud Almeida), cabe ao coordenador “acompanhar o projeto

pedagógico, formar professores, partilhar suas ações; também é importante que compreenda as

reais relações dessa posição”.

No intuito de buscar uma educação que priorize os princípios de qualidade e de

equidade e que seja aberta a novas experiências, novas maneiras de ser, de conviver com as

diferenças, onde o foco é o estudante, o educador deve refletir sobre sua prática pedagógica. Deve-

se perguntar sempre: Que professor eu quero ser? O que posso fazer por meu estudante? Como

fazê-lo interessar-se pelo conhecimento que pretendo passar? Como despertar a criatividade de

meu estudante?

Por sua vez, essa orientação não basta para termos um profissional de uma educação

integral, ou seja, é fundamental não somente qualificá-lo para saber o que trabalhar e como

trabalhar, mas também torná-lo capaz de compreender para quem trabalhar e para que educar.

Essa preocupação formativa é necessária, principalmente se compreendermos que a educação

tem um papel transformador na sociedade e, portanto, o educador é um de seus instrumentos

dessa possível transformação.

O professor

Entre as várias funções sociais da educação, deve-se destacar que a educação é processo

e prática social que acontece através de relações sociais. Ela se dá ao longo da vida, de forma

contínua. Sendo assim, sua práxis social deve ocorrer em espaços e tempos pedagógicos

diferentes, atendendo às diferentes demandas. Reconhecer esse tempo e respeitar o tempo de

cada estudante é o grande desafio do professor nesse processo.

A construção de práticas pedagógicas que respeitem as diferenças entre os

estudantes e reconheçam essas diferenças como elementos ricos de trabalho é um princípio

fundamental na perspectiva de assegurar uma educação de qualidade. Em consonância com

esse princípio, o Art. 22 da Lei nº 9.394/96 – LDB – estabelece que “a Educação Básica tem

por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o

exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.

A qualidade do ambiente escolar interfere diretamente numa aprendizagem significativa.

Assim, é preciso que exista no docente mais do que a necessidade de ensinar; é preciso saber

Page 27: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

27

Anotaçõesouvir, motivar, dar liberdade, excluindo a imposição de atividades

desinteressantes que levam o estudante a um estado de apatia

diante do que está sendo oferecido a ele.

Vive-se em época de intensas mudanças, rupturas de

paradigmas, debates e de formulações de novas propostas e novas

políticas para orientar o processo de ensino e de aprendizagem.

Todos têm o mesmo objetivo: propiciar ao estudante uma educação

de qualidade que atenda a suas necessidades e promova seu efetivo

desenvolvimento.

Para que isto ocorra, é necessário que a aprendizagem

seja significativa, conforme defendia Ausubel em sua Teoria

de Aprendizagens Significativas. Grande educador, teórico

cognitivista, afirmava que a aprendizagem ocorria quando novas

informações e conceitos interagiam (princípio da ancoragem) com

os conhecimentos prévios do educando, formando, assim, um novo

aprendizado, que se torna significativo.

A educação pensada a partir da pedagogia da práxis não

pode entender que o educador é um transmissor de teorias; pelo

contrário, ao mesmo tempo em que trabalha com as teorias,

submete-se a um processo analítico que, muitas vezes, identifica

suas contradições. A prática pedagógica processa as teorias,

buscando compreendê-las e criticá-las, num sentido amplo desses

procedimentos, com o intuito de não somente memorizar as

teorias, mas também de entender sua importância na leitura do

mundo.

Nesse contexto, devemos pensarNum novo professor, mediador do conhecimento, sensível e crítico, aprendiz permanente e organizador do trabalho na escola, um orientador, um cooperador curioso e, sobretudo, um construtor de sentido. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção {...} É preciso que, pelo contrário, desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma, se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado {...} Não há docência sem discência, as duas explicam-se, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE, 1997. Pedagogia da autonomia. In: GADOTTI, 2000, p. 45).

Page 28: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

28

O educador que pretende oferecer uma formação integral deve entender que as práticas

pedagógicas devem permitir aos estudantes não somente dominar o conhecimento, mas também

transformá-lo, inová-lo. O educador assume a função de mediador entre o conhecimento

historicamente acumulado e o estudante. Ser mediador, no entanto, implica também ter-se

apropriado desse conhecimento.

Os outros atores do processo

Considerando a concepção de cidade educadora, salientamos que é preciso superar

o processo de escolarização, integrar diferentes saberes, espaços educativos, pessoas da

comunidade, conhecimentos, etc. e, nessa proposta, os agentes comunitários integram o fazer

pedagógico da escola, auxiliando os professores por meio de sistema de monitoria, amparados

por Programas específicos como Programa Mais Educação/MEC, Programa Bolsa Universitária/

SCTI e Programa de Descentralização Financeira e Administrativa/ SEEDF.

O trabalho de monitoria deverá ser desempenhado preferencialmente por estudantes

universitários em formação específica nas áreas afins às atividades desenvolvidas na escola ou

pessoas da comunidade com habilidades apropriadas, como, por exemplo, instrutor de judô,

mestre de capoeira, contador de histórias, agricultor para horta escolar, entre outros. Além disso,

poderão desempenhar a função de monitoria, de acordo com suas competências, saberes e

habilidades, estudantes da EJA e estudantes do ensino médio, a partir de 16 anos de idade.

Os bolsistas universitários que atuam nas escolas adeptas da política de Educação Integral

no Distrito Federal são aqueles que receberam bolsa de estudos integral da Secretaria de Ciência

e Tecnologia. Podem ser estudantes de cursos diversos ou da área de educação.

A atuação do bolsista universitário faz menção ao ato educativo de suporte para a melhoria

do ensino por meio de ações e experiências pedagógicas que visam fortalecer a articulação entre

a teoria e a prática, e a integração entre os vários conteúdos curriculares, tendo por finalidade

promover ações para a melhoria do ensino, com atividades pedagógicas diversificadas.

Esses auxiliares do trabalho pedagógico devem participar ativamente do processo de ensino

e aprendizagem, considerando seus conhecimentos e suas experiências a fim de engrandecer o

trabalho desenvolvido em cada unidade escolar.

A comunidade escolar

Observamos hoje um distanciamento na relação entre escola e comunidade. No entanto,

para que se possa ampliar a oportunidade de novas experiências educadoras na vida dos

Page 29: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

29

Anotaçõesestudantes, na perspectiva de uma formação integral e buscando

imprimir qualidade ao processo pedagógico, deve-se caminhar no

sentido contrário a esse distanciamento.

O desafio posto está em abrir as portas da escola para

receber as diversas experiências comunitárias, propiciando a

articulação destas com o currículo proposto e o currículo necessário.

Quando a escola compartilha a responsabilidade pela

educação, não está abrindo mão de seu papel precípuo e

insubstituível na formação dos estudantes; apenas reconhece que

a comunidade pode e deve interferir diretamente na formação dos

estudantes que, por sua vez, são comunidade.

O Texto de Referência para o Debate Nacional – Série Mais

Educação (2009) nos diz: Toda escola está situada em uma comunidade com especificidades culturais, saberes, valores, práticas e crenças – o desafio é reconhecer a legitimidade das condições culturais da comunidade para estimular o diálogo constante com outras culturas. A educação é um dos ambientes da cultura marcada pela reconstrução de conhecimentos, tecnologias, saberes e práticas (MEC 2009 – Série Mais Educação).

A ação da escola não é suficiente para dar conta da tarefa

da Educação Integral. Se o objetivo é formar estudantes integrais,

faz-se necessária a troca de saberes.

A LDB 9394/96 já apresentava a necessidade de

descentralização das responsabilidades, prevendo a participação

da comunidade escolar por intermédio dos conselhos escolares,

conforme no artigo 14 da Lei: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios. I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Portanto, a Lei estabelece que a escola deve aproximar-se

da comunidade escolar, mas não dá sinais de como pode dar-se

essa interação.

Assim, tanto a escola como a comunidade que a permeia,

Page 30: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

30

são levadas a refletir sobre seu papel e suas responsabilidades, de modo que cada uma – escola

e comunidade escolar – podem e devem interferir na realidade do outro, ou seja, a educação

deve valer-se dessa prerrogativa legal e buscar sua integração com a comunidade, no sentido de

alavancar processos de transformação na sociedade.

Educação Integral e a necessidade de uma nova organização

Organização do tempo e do espaço escolar

A todo o momento, marcamos o tempo de início de um trabalho, o tempo de término de

um projeto, o tempo de fazer alguma coisa programada ou o tempo de desfazer alguma confusão.

Sempre estamos balizando-nos pelo tempo que sobra ou que falta.

Na escola não é diferente. Temos o tempo de estudar, o tempo de coordenar, o tempo de

realizar as refeições, o tempo de concluir o bimestre...

O professor necessita de tempo a todo tempo, seja para planejar suas aulas, para ministrar

uma boa aula, para avaliar seus estudantes ou para preencher os diários de classe. Só com o

tempo ele conhece seus estudantes, sua comunidade escolar, seus pares de trabalho ou o projeto

político-pedagógico de sua escola.

O estudante necessita de tempo para se acostumar com sua nova turma, tempo para

revisar conteúdo, tempo para alimentar-se, tempo para descansar, enfim, necessita de tempo

para ser estudante.

A escola pauta-se no tempo como movimento constante, irreversível, rígido, hegemônico,

sucessivo, sequencial e classificável.

Quando propomos uma organização do tempo escolar, pensamos na possibilidade de

construir uma nova relação entre tempo e espaço que reflita diretamente no processo de ensino-

aprendizagem, otimizando esse procedimento.

Propomos à escola que repense seu tempo escolar para além do tempo cronológico, um

tempo dinâmico que permita a maleabilidade de aprendizagens de que o estudante integral

necessita, propiciando a esse tempo a permissão de ir e vir.

A organização do tempo escolar deve levar em consideração a realidade, a localização e a

estrutura de cada instituição, além de atender às necessidades de estudantes, professores e da

comunidade escolar.

Novamente temos a necessidade de pensar na ampliação do tempo de permanência do

estudante no espaço escolar; assim, deparamos com a necessidade de ressignificar esse tempo

Page 31: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

31

Anotaçõespara que não haja fragmentação. Surge a necessidade de propiciar

contínuo espaço-tempo de aprendizagem.

A sala de aula apresenta-se como o espaço-tempo que

precisa ser melhor ressignificado, buscando potencializar as

relações pedagógicas que acorrem diuturnamente ou mesmo são

desencadeadas nesse espaço, de modo que possamos intensificar

o aproveitamento do tempo escolar.

Tornar o espaço educativo um espaço de aprendizagens

sobre os limites e as possibilidades de educar para a responsabilidade

e autonomia é o maior desafio da escola. Assim, a educação

integral possibilita ao estudante enredar saberes e experiências

de diferentes contextos e natureza, implicando outras formas de

conceber currículos praticados na instituição escolar.

O espaço escolar constitui um contexto diversificado de

desenvolvimento e aprendizagem, isto é, um lugar que reúne

diversidade de conhecimentos, atividades, regras e valores e que

é permeado por conflitos, problemas e diferenças. É nesse espaço

físico, psicológico, social e cultural que os indivíduos processam

seu desenvolvimento global, mediante as atividades programadas

e realizadas na sala de aula e fora dela.

Repensar a escola a partir dessas novas referências é mais

que um desafio, é uma urgência no contexto contemporâneo de

uma educação de qualidade, em que cada sujeito é participante da

nova concepção de educação.

Outro desafio é incorporar a ampliação da jornada de

permanência do estudante dentro de uma perspectiva de tempo

e espaço aumentados, com a criação de novas oportunidades de

ensino-aprendizado, que possibilite novas vivências, que explore

outros territórios educativos para além do ambiente escolar.

Essas novas perspectivas devem dialogar com o projeto político-

pedagógico.

A sala de aula como espaço de vivências pedagógicas

Vive-se em época de intensas mudanças, rupturas de

Page 32: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

32

paradigmas, debates e de formulações de novas propostas e novas políticas para orientar o

processo de ensino e de aprendizagem. Todos têm o mesmo objetivo: propiciar ao educando uma

educação de qualidade que atenda a suas necessidades e promova seu efetivo desenvolvimento.

A proposta da Educação Integral vem corroborar esse objetivo.

O estudante deve ser estimulado em todos os momentos a questionar, manifestar ideias,

dúvidas, opiniões, formar conceitos e descobertas, fazer associações, entre outras atitudes

positivas para a construção do conhecimento e do desenvolvimento do processo educativo.

É comum observar que a Educação é o setor que menos avança, segundo as evoluções

sociais, culturais e históricas da sociedade. Processos de ensino-aprendizagem ficam em segundo

plano, sendo que deveriam ser prioritários nas discussões e decisões que envolvem o tema, devido

às várias dificuldades encontradas pelos educadores nessa grande missão que é educar. Essa

perspectiva requer do professor uma prática educativa fundamentada na existência de sujeitos,

como afirma Freire, “um que ensinando, aprende, outro que aprendendo, ensina” (1996, p. 77)

O Conselho Nacional de Educação, em seu Parecer nº 5/97 - CEB, aprovado em 07/05/97,

diz:(...) temos que as atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstrações, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artística, visando à plenitude da formação de cada estudante. Assim, não são apenas os limites da sala de aula propriamente dita que caracterizam com exclusividade a atividade escolar de que fala a lei. Esta se caracterizará por toda e qualquer programação incluída na proposta pedagógica da instituição, com frequência exigível e efetiva orientação por professores habilitados.

Vemos que o espaço de sala de aula é muito maior que um conjunto de quatro paredes,

limitado por um muro escolar. A escola necessita ocupar os espaços da comunidade que a permeia

e abrir-se para, articuladamente com esta, ressignificar o trabalho pedagógico.

A alimentação escolar como ferramenta pedagógica

O ato de comer vai além da ingestão de alimentos; significa o fortalecimento das relações

pessoais, sociais e culturais. A cultura alimentar está diretamente ligada à sobrevivência do ser

humano e o alimento é um dos requerimentos básicos para a existência de um povo. A aquisição

dessa comida desempenha um papel importante na formação de qualquer cultura.

Transpondo essas constatações para as Escolas de Educação Integral em tempo integral, a

alimentação escolar assume papel de grande importância.

A realização de refeições coletivas no ambiente escolar auxilia no fortalecimento do vínculo

com a escola, vendo-a como um ambiente acolhedor que proporciona tanto a sobrevivência

Page 33: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

33

Anotaçõesfísica como a satisfação de outras necessidades biopsicossociais, a

interação com outros estudantes, a disponibilização de espaço para

desenvolvimento individual, bem como intensifica o sentimento de

pertencimento à comunidade escolar.

O período destinado às refeições na Escola de Educação

Integral em Tempo Integral precisa ser planejado e significado

pedagogicamente, devendo ser pensado como um momento para

a formação de hábitos alimentares saudáveis, de higiene, boas

maneiras, valores e, acima de tudo, socialização e interação dos

estudantes com todos os envolvidos na unidade escolar.

A escola deve oferecer uma alimentação atrativa e variada

para que o estudante tenha a oportunidade de experimentar

alimentos diferentes, desde que forneçam os nutrientes necessários

para um bom desenvolvimento físico e intelectual.

O ambiente onde é servido o almoço deve ser de preferência

um refeitório e, caso a escola não disponha, deverá providenciar

um ambiente tranquilo, organizado, limpo e agradável para que os

estudantes tenham boa aceitação em relação à alimentação.

Esse momento não pode pautar-se na monotonia e nas

regras rígidas de convivência, evitando-se excessos de cobrança,

pois isto gera ansiedade e tensão ao comer.

Para o período de almoço, sugerimos que a Escola Integral

realize três passos diários que visam ao fortalecimento do momento

de alimentação como espaço pedagógico: motivação do estudante

a alimentar-se, higienização após alimentação e oferta de um

momento de repouso posterior à alimentação.

Para efeitos organizacionais, a Resolução CD/FNDE n° 38,

de 16 de julho de 2009, em seu artigo 15, inciso IV, estabelece que,

quando o estudante for matriculado em jornada de tempo integral,

a alimentação escolar deve fornecer 70% (setenta por cento) das

necessidades nutricionais dos estudantes.

Assim, a alimentação escolar torna-se um complemento da

ingestão alimentar do estudante, com dois objetivos definidos pela

legislação que regulamenta o Programa Nacional de alimentação

Escolar (PNAE).

Page 34: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

34

O primeiro é o fornecimento de refeições de forma a possibilitar o desenvolvimento

biopsicossocial dos estudantes durante o período em que estes se encontram na escola. O outro

é a formação dos hábitos alimentares por meio de ações de educação nutricional, realizadas por

toda a comunidade escolar.

Com base no exposto, a Secretaria de Estado de Educação considera ideal que o estudante

de jornada de tempo igual a dez horas, tenha acesso a 4 (quatro) refeições diárias durante o período

em que estiver na escola. Tal quantitativo é suficiente para o alcance do percentual definido pelo

FNDE, permite a realização de refeições no ambiente familiar e se adapta ao cotidiano da escola.

O estudante que permanecer o período de sete horas diárias deve ter acesso a duas

refeições.

Mesmo quando não há a ampliação no tempo de permanência do estudante na escola,

em uma perspectiva de formação multidimensional, há a sugestão de oferta de duas refeições

diárias, de modo a suprir suas possíveis carências alimentares.

Organização curricular

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), as Diretrizes Curriculares Nacionais, os PCN

(Parâmetros Curriculares Nacionais) e outros documentos oficiais procuram orientar e apoiar o

desenvolvimento do projeto educativo na escola, por meio da organização do currículo formal.

Este precisa ser adequado à realidade de cada escola, de acordo com as necessidades e anseios

dos estudantes, os materiais e recursos disponíveis. A aprendizagem só irá ocorrer a partir do

momento em que seja realmente significativa para o estudante.

Educar para que fim?

Para a proposição de qualquer ‘organização curricular’ é essencial uma discussão anterior

sobre a finalidade do currículo proposto. Uma questão fundamental para o debate em torno do

currículo é definir qual a finalidade de uma organização curricular, ou seja, quais são os objetivos

educacionais que almejamos quando organizamos estratégias para que a aprendizagem ocorra

de uma maneira e não de outra? Educar para que fim?

Questionamentos como esses surgem na busca de superar teorias tradicionais que

apresentam o currículo localizado em um campo puramente epistemológico, dissociando-o de

sua função social. As teorias críticas e pós-críticas advertem que a teoria do currículo não é e nem

poderia ser “neutra”, científica ou desinteressada, justo porque seus debates envolvem questões

de manutenção dos poderes dominantes e do status quo.

Page 35: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

35

AnotaçõesPortanto, em cada momento que se trava um debate

aparentemente “técnico” para a ‘pura’ organização do trabalho

pedagógico e dos conteúdos curriculares, deve-se ter ciência, ou

ao menos buscar entender, quais os fundamentos que levaram a

construção de um currículo específico, rompendo assim com as

categorias apresentadas como senso comum na compreensão do

que está posto como realidade (SILVA, 2007).

Argumenta-se aqui a partir do amparo da Lei de Diretrizes e

Bases (LDB) em seus princípios e fins da educação nacional, quando

diz que a educação, como dever da família e do estado, “tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

As crianças e jovens precisam ser educados para o convívio social

e para seu desenvolvimento nos aspectos físico, psicológico,

intelectual e social.

Para orientar as unidades federativas na construção dos

seus conteúdos curriculares a LDB, em seu artigo 27, destaca

algumas diretrizes a serem seguidas que foquem a “difusão de

valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos

cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”.

O fortalecimento da parte diversificada

Baseado na orientação de um currículo integrado e

articulado, as escolas de Educação Integral do DF organizam os

componentes curriculares conforme a base nacional comum,

relacionando-os transversalmente com a parte diversificada de

artes, esportes, lazer, cultura, entre outras.

O objetivo maior da Secretaria de Educação do DF é

promover uma educação integral e integrada que compreenda o

enriquecimento curricular por meio da ampliação de tempos, espaços

e oportunidades educacionais, com a realização de atividades que

possam favorecer a aprendizagem, visando à formação integral do

educando, num espaço adequado, com alimentação de qualidade e

com o suporte de profissionais especializados.

Page 36: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

36

As atividades curriculares são instituídas para a vivência de experiências de natureza

prática, inovadora, integrada aos demais projetos da unidade escolar, aos conhecimentos e

saberes já interiorizados ou não pelos educandos. Devem ser planejadas sem jamais perder de

vista a função social da escola que é a de formar o estudante para o pleno exercício da cidadania.

A Escola Integral, ao promover a formação do educando com a valorização de atividades

diversificadas e a aproximação entre os atores escolares e a comunidade, leva à subversão das

próprias bases da organização do trabalho pedagógico da escola tradicional.

A Educação Integral se configura como oportunidade de reflexão sobre as relações sociais,

sobre os direitos e deveres legalmente instituídos, associando teoria e prática, trabalho intelectual

e trabalho manual e, portanto, aproximação do currículo escolar à vida.

A LDB, em seu artigo 26, prevê que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter

uma base nacional comum a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento

escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,

da cultura, da economia e da clientela.

A fim de materializar o proposto pela legislação, as diretrizes norteadoras para a implementação

de política de Educação Integral no Distrito Federal, estabelecidas pela portaria nº 01, de 27 de

novembro de 2009, apresentam duas possibilidades de organizar os componentes curriculares:

1. Os componentes da base nacional podem ser agrupados em um turno, e a parte

diversificada de artes, esporte, lazer, biblioteca, música, animação cultural, rádio

escola, etc., em outro turno, desde que as disciplinas e atividades sejam relacionadas

transversalmente pelos professores e demais atores sociais, monitores e agentes

culturais em um currículo integrado e articulado.

2. A parte diversificada de artes, lazer, biblioteca, música, cultura, rádio escolar, etc. pode

ser entremeada no tempo, durante o dia, independentemente de sua natureza mais ou

menos sistemática. Um horário de aula de matemática (componente da base nacional

comum) pode ser seguido de uma atividade diversificada de teatro, que, por sua vez,

pode prosseguir num horário de biblioteca ou numa aula de língua portuguesa. Essas

atividades podem, em função de um projeto elaborado, estar integradas, rompendo

a rigidez da própria grade horária curricular. Pretende-se, com essa nova lógica

organizacional, favorecer o encontro interdisciplinar, bem como evitar a valoração

prévia entre componentes curriculares. Tal sistema exige uma reorganização do trabalho

pedagógico, do planejamento docente, bem como das dinâmicas de deslocamentos e

usos dos espaços.

As atividades complementares devem ser desenvolvidas sob a forma de atividades

interdisciplinares, com a finalidade de complementar, ampliar, fortalecer ou enriquecer os

Page 37: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

37

Anotaçõessaberes conceituais, procedimentais e atitudinais, integrados aos

componentes curriculares, objeto de estudo no momento, nas

disciplinas da Base Nacional Comum.

Os campos do conhecimento

À guisa de orientação para operacionalização da parte

diversificada do currículo, elencamos campos de conhecimento,

divididos em dois níveis de sistematização: campos de conhecimento

de caráter obrigatório e campos de conhecimento de caráter

eletivo.

Definiremos aqui os Campos de Conhecimento, como

o conjunto de diferentes formas e tipos de conhecimento sob a

mediação da ética e da política, articulando os saberes científicos e

os saberes advindos da experiência, sem desprezar o senso comum.

Os Campos de Conhecimento de caráter obrigatório

devem ser oferecidos obrigatoriamente em todas as escolas

que ofertarem educação em tempo integral e visam atender às

demandas de ampliação de oportunidades que garantam o direito

às aprendizagens, à formação de redes de saberes e o acesso a

conhecimentos, experiências e oportunidades.

Fazem parte da base nacional comum das matrizes

curriculares e dizem respeito ao acompanhamento pedagógico em

Língua Portuguesa e Matemática.

Os Campos de Conhecimento de caráter eletivo são aqueles

selecionados pela escola, atendendo às demandas da região, sendo

sua seleção feita em consonância com a comunidade escolar.

Devem estar contidos no Projeto Político-pedagógico da escola.

Visam contribuir com o enriquecimento dos conhecimentos

científicos, teóricos e metodológicos de forma experimental

e vivencial e materializam-se nos projetos interdisciplinares.

Correspondem às atividades de Educação Ambiental, Esporte e Lazer,

Investigação, Cultura e Artes, Informática e Mídias Educacionais,

Saúde, Memórias, Educação Econômica, Sustentabilidade Humana

e Línguas Estrangeiras.

Page 38: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

38

O atendimento em tempo integral

Alguns aspectos precisam ser levados em consideração a fim de operacionalizar a oferta

de Educação Integral em tempo integral, nas Unidades de Ensino Públicas do Distrito Federal.

Compreendendo a ampliação de tempos, espaços e oportunidades educacionais por

meio do enriquecimento curricular, a fim de favorecer a aprendizagem com vistas à formação

integral do educando, por meio de atividades complementares diversificadas e interdisciplinares,

destacamos:

1) A rotina diária de cada unidade escolar será definida pela comunidade escolar e deverá

constar no Projeto Político- pedagógico, observando que as atividades complementares

deverão ser planejadas de acordo com as peculiaridades locais e ou regionais.

2) A grade horária de cada turma deverá ser composta, respeitando a Base Nacional

Comum, adequada à perspectiva do tempo contínuo de ensino-aprendizagem,

inserindo de duas a cinco horas diárias de atividades complementares, devendo ser

considerados nesse período os horários para refeição e descanso.

3) As atividades da base nacional comum e as atividades complementares poderão ser

intercaladas, de modo que não haja “engessamento” da grade horária.

4) O ano letivo, independente do ano civil, tem duração de no mínimo 200 (duzentos)

dias letivos de efetivo trabalho escolar oferecido a todos os estudantes, conforme as

orientações que são emanadas do Conselho de Educação do Distrito Federal, excluído

o tempo reservado à recuperação final em qualquer dos casos. Assim, o estudante de

Educação Integral deverá ser atendido durante todo o ano letivo, conforme o calendário

escolar da SEEDF.

5) O dia letivo é aquele com controle de frequência discente em instrumento próprio,

presença de profissionais habilitados e intencionalidade pedagógica de planejamento e

práticas. Para fins de frequência, serão consideradas as atividades escolares realizadas

na tradicional sala de aula, bem como as que ocorrem em outros locais adequados a

trabalhos teóricos e práticos, e que têm como objeto a plenitude na formação de cada

estudante.

6) O registro do trabalho pedagógico da parte diversificada do currículo desenvolvido

nos diversos projetos interdisciplinares é obrigatório, sendo feito em diário de classe

específico.

A ampliação do tempo de permanência do estudante na Unidade Escolar implica

ampliação do quadro de recursos humanos em cada escola para o atendimento às diversas

necessidades educacionais, sendo que os atores que auxiliam no trabalho pedagógico podem não

Page 39: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

39

Anotaçõesser professores, mas devem sempre estar atuando em consonância

com os trabalhos pedagógicos da escola.

Como operacionalizar o tempo ampliado

A Política de Educação Integral do Distrito Federal será

desenvolvida a partir das Diretrizes para a Educação Integral no

Distrito Federal, das Orientações Pedagógicas para Educação

Integral e de acordo com a Estratégia de matrícula da Rede Publica

de Ensino do Distrito Federal.

O atendimento semanal deverá ser obrigatoriamente de, no

mínimo, quatro vezes por semana, exceto nas escolas vinculadas

a Programas e ou projetos específicos para fomento à Educação

Integral em tempo Integral.

A organização do trabalho pedagógico deve considerar as

relações e os vínculos que a criança precisa estabelecer tanto com

seus pares quanto com os responsáveis que a estão acompanhando.

Para a construção e o fortalecimento de interações e do vínculo

social, é imprescindível a convivência diária contínua que depende

de uma rotina dinâmica, motivadora e inovadora. Desta forma, não

é possível que haja fracionamento no atendimento ao estudante,

que deve ter acesso diário e sistemático à nova proposta de

atendimento.

A oferta de Educação Integral em tempo integral não é uma

tarefa simples. Fatores como a estrutura física, disponibilização

de recursos financeiros e humanos são desafios com o propósito

de transpor obstáculos para a universalização do atendimento de

todos os estudantes de cada unidade de ensino.

Em virtude dessas questões, tanto os programas federais

como o pensamento das políticas para Educação Integral

estabelecem o quantitativo mínimo2 de estudantes a serem

atendidos em tempo integral em cada escola, na perspectiva de

que o Distrito Federal possa universalizar a oferta de educação em

2 Existe legislação específica federal e distrital normatizando o quantitativo mínimo de estudantes que deverão ser atendidos em tempo Integral, sendo que essa legislação se refere a cada ano.

Page 40: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

40

tempo integral a todas as escolas de educação básica.

Entre os objetivos propostos às Escolas Integrais do Distrito Federal, está o de promover a

regularização da defasagem idade e série, e a ampliação da escolaridade da população do Distrito

Federal, assim como diminuir os índices de evasão e reprovação escolar.

Desta forma, identifica-se o público prioritário para atendimento em tempo integral no

DF, assim como a prioridade no atendimento aos estudantes oriundos de regiões com maior

vulnerabilidade social, conforme o enunciado no decreto nº 33.329, de 10/11/2011, que

regulamenta a Lei Federal nº 4.601, de 14 de julho de 2011, instituindo o Plano pela Superação

da Extrema Pobreza – DF sem Miséria. Em seu art. 43 diz: Para o atendimento das famílias pobres e extremamente pobres, em territórios de vulnerabilidade social urbana e rural, deverá ser ampliada a rede de: educação infantil; ensino fundamental; ensino médio; e educação de jovens e adultos - EJA. Parágrafo único. Deverá ser progressivamente implantada a educação integral nas redes descritas.

Para composição das turmas de tempo integral, a fim de viabilizar a execução das

atividades diversificadas, poderão ser agrupadas de acordo com seu nível de aproveitamento

para a atividade proposta e ou por faixa etária.

A organização das turmas de Educação em Tempo Integral é flexível, devendo ser prevista

no Projeto Político-pedagógico da Unidade Escolar: na composição das mesmas, deverá haver

equilíbrio entre o número de meninos e meninas.

Temos o Parecer do CNE Nº 5/97 - CEB, aprovado em 07/05/97, que referencia a

possibilidade da organização de classes, independentemente de séries ou períodos, para

grupos de estudantes com equivalentes níveis de aproveitamento, visando ao “ensino de língua

estrangeira, artes ou outros componentes curriculares” (artigo 24, inciso IV - LDB).

Assim sendo, para composição dos grupos de trabalho, além das legislações específicas

que regem essa atividade,3 precisamos atentar a suas especificidades, assim como à adequação do

espaço físico disponibilizado para cada atividade, proporcionando um atendimento mais próximo

ao estudante, visando a um ganho de qualidade no desenvolvimento da atividade proposta.

Para que a escola possa planejar suas ações, é necessário que a cada ano, no momento

de renovação da matrícula ou de efetivação da matricula, o responsável pelo estudante faça a

solicitação de atendimento em tempo integral, mediante assinatura do Termo de Adesão para

que a escola possa avaliar suas potencialidades e programar suas ações com maior antecedência.

Reiteramos a necessidade de que a escola utilize outros espaços educadores, interagindo

com a cidade em diversas esferas – esportivas, culturais, sociais –, lembrando a necessidade

3 Em âmbito distrital, temos a Estratégia de Matrícula da rede Pública de Ensino do Distrito Federal que determina a quantidade de estudantes em cada turma para os diversos atendimentos nas diversas etapas/modalidades da Educação Básica do Distrito Federal. No âmbito federal, o MEC indica em seus decretos e manuais a quantidade de estudantes que deve compor os grupos de trabalho.

Page 41: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

41

Anotaçõesde planejamento acerca do transporte escolar para as atividades

externas complementares.

Lembramos ainda que tais atividades devem estar previstas

na proposta pedagógica da escola e planejadas a fim de atender

aos anseios e necessidades de todos os estudantes, fazendo com

que a ampliação dos espaços educativos seja prazerosa. Como diz

Arroyo (2012), “se um turno já é tão pesado para tantos milhões

de crianças e adolescentes condenados a opressivas reprovações,

repetências, evasões, voltas e para tão extensos deveres de casa,

mais uma dose do mesmo será insuportável”.

O planejamento, a avaliação e o registro

(...) sublinhamos a coordenação pedagógica, caracterizando-a como um espaço/tempo vivo, dinâmico, fundamentado na dialogicidade entre a comunidade escolar e a extraescolar, entre o real e o prescrito, entre a teoria e a prática, (...).Essa concepção sustenta nossa compreensão de que a coordenação pedagógica, revestida de significado político-pedagógico, constitui-se em espaço/tempo de elaboração, implementação e avaliação do PPP. Dessa forma, fomenta-se a construção da ação coletiva, da formação continuada, da reflexão crítica das práticas pedagógicas e da escola como um todo que contribui para a consolidação da educação pública com qualidade social (PPP PROFESSOR CARLOS MOTA, 2012, p.65).

O trecho extraído do Projeto Político-Pedagógico da

Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal apresenta

a importância da Coordenação Pedagógica, como um espaço de

planejamento, avaliação e registro das construções coletivas.

Como educadores engajados em um processo de

transformação social, é necessário que acreditemos na educação, sem

a visão ingênua de que, sozinha, ela possa transformar a sociedade

em que está inserida, mas, como Paulo Freire, tendo a convicção de

que sem ela nenhuma transformação profunda se realizará.

As mudanças ocorrem conforme a evolução da humanidade.

Com a globalização das informações, não se consegue acompanhar

a dimensão informativa que chega a todo o momento.

Page 42: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

42

Por isso, a coordenação pedagógica nas escolas de Educação Integral deve ser reorganizada

quando se pensa em mudanças de estratégias educacionais, em mudança de cultura. Esse espaço

deixa de ser apenas um local para recados, preparação de material pedagógico e afazeres pontuais e

individuais, mas torna-se um tempo/espaço coletivo para troca de experiências, compartilhamento

de praticas pedagógicas inovadoras, ou seja, ocasião em que se aprende e se ensina.

O PPP Professor Carlos Mota (2012) nos lembra que a trajetória histórica da Coordenação

Pedagógica na rede pública de ensino do DF, resultado da mobilização e luta da categoria de

professores, vem sendo comprometida por algumas práticas equivocadas que fragilizam essa

preciosa conquista, empobrecendo o espaço privilegiado para a construção/consolidação do PPP

e da educação pública que buscamos.

A fim de não incorrermos nessas práticas equivocadas que minimizam o tempo/espaço

da coordenação pedagógica a um momento superficial, faz-se necessária a participação ativa de

professores, coordenadores e da equipe gestora, planejando e avaliando o dia a dia escolar.

Segundo Leite (2000), a coordenação pedagógica pode ser entendida como “um conjunto

de atividades executadas no sentido de garantir que ocorra a organização docente em todos os

níveis previstos”. Tais atividades implicam desde garantir as condições logísticas até acompanhar

cada etapa do processo de organização.

Dessa forma, pressupõe-se que a coordenação pedagógica é o espaço e tempo ideais para

a reflexão sobre a prática direta com os estudantes, através da observação, registro, planejamento

e avaliação.

Para que a coordenação pedagógica adquira sentido, é necessária a participação de

todos os professores e coordenadores no acompanhamento das atividades e nas coordenações

coletivas da Unidade Escolar, a fim de garantir a interlocução entre as atividades referentes à base

nacional comum e à parte diversificada, descaracterizando, assim, a existência de dois turnos

distintos na escola.

O coordenador pedagógico que acompanha as atividades de tempo integral, por sua vez,

não é somente o responsável por dar suporte aos bolsistas e ou monitores em seu trabalho de

apoio pedagógico, mas assume o papel de protagonista na implementação de um continuum de

aprendizagem.

Por que planejar?

A Instituição escolar é um espaço educativo e seu trabalho não pode ser vazio e

improvisado. Tudo precisa ser planejado. É através do Projeto Pedagógico que a Instituição

Educacional apresenta as práticas para sua atuação, possibilitando um melhor resultado do

Page 43: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

43

Anotaçõesprocesso como um todo.

A complexidade da sociedade marcada por diferentes

transformações sociais, econômicas, culturais e religiosas do

mundo atual exige uma nova postura de todos, seja em relação ao

outro, como também ao conhecimento adquirido.

A escola passa a ter uma nova função: ser espaço de

otimização dos processos de aprendizagem e dos processos

de construção do cidadão, desempenhando seu papel de

orientar, buscar alternativas, propor mudanças e avaliar as ações

pedagógicas de seus agentes. Deve mudar a ideia de ser apenas

um local instrutivo, “um lugar de aula”. Do contrário, está fadada a

continuar reproduzindo os papéis definidos pelo sistema, cabendo-

lhe somente a função de disciplinadora. Parafraseando Demo, a

escola deveria mudar essa imagem medieval e transformar-se em

“laboratório de aprendizagem”, ou seja, um lugar de pesquisa, de

atualização, uma vez que o conhecimento não para, nunca chega

ao fim.

A ação educativa – evidenciada a partir de suas práticas

– permite aos estudantes darem saltos na aprendizagem e no

desenvolvimento. É a ação sobre o que o estudante consegue fazer,

com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo sozinho. Entretanto,

é princípio de toda instituição de ensino (principalmente da escola)

garantir a aprendizagem a todos, visto que todos são capazes de

aprender.

A educação deve buscar novos parâmetros, novas

perspectivas, deve permitir-se inovar, transformar. Administrar

uma escola que oferece Educação Integral em tempo integral

implica mudança de atitude, de postura docente, da escola e do

sistema de ensino. Não é uma mudança meramente burocrática.

Trata-se de uma transformação de crenças e atitudes pedagógicas,

com uma nova teoria que se põe como base do trabalho. É uma

nova organização.

Para que a escola, de fato, alcance seus objetivos, é

fundamental que a construção e o acompanhamento do projeto

político-pedagógico estejam alicerçados em uma administração

Page 44: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

44

participativa, coletiva, em que as decisões sejam democratizadas e o processo de avaliação e

revisão se torne uma prática coletiva constante, constituindo-se em uma oportunidade de análise

e reflexão para possíveis alterações no rumo do planejamento e mudanças de procedimentos.

Na Escola Integral, o projeto político-pedagógico deve ser elaborado pela equipe gestora

da unidade escolar com a participação efetiva da comunidade escolar, pais ou responsáveis pelos

estudantes, conselho de classe e conselho escolar, considerados como participantes ativos dentro

do processo de construção educacional.

A participação articulada, reflexiva, criativa e comprometida entre os atores escolares e a

mobilização dos potenciais educativos da comunidade local são fatores de extrema importância

para o sucesso da Escola Integral. Essa participação deve estar presente nos diversos níveis de

planejamento.

Conforme Vasconcellos (1995), o Planejamento Curricular é definido como o processo de

tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda

a vida escolar do estudante. Portanto, essa modalidade de planejar constitui um instrumento que

orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de

aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, por intermédio dos diversos componentes

curriculares.

Segundo Padilha (2001), o planejamento de ensino é o processo de decisão sobre a

atuação concreta dos professores no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e

situações em constantes interações entre professor e estudantes, e entre os próprios estudantes.

É preciso considerar, por ocasião da elaboração do PPP, o fato de a Escola Integral não

ser, em hipótese alguma, uma escola dividida em turnos: todas as atividades são entendidas

como educativas e curriculares. Diferentes atividades: esportivas e de lazer, culturais, artísticas,

de educomunicação, de educação ambiental, de inclusão digital, entre outras devem fazer parte

de um projeto curricular transversal que oferece oportunidades para aprendizagens significantes,

úteis e prazerosas. Os componentes da base nacional comum e as atividades complementares,

como artes, esporte, lazer, biblioteca, música, animação cultural, rádio escola, etc. devem estar

integradas às áreas de conhecimento e previstas no Projeto Político-pedagógico, podendo ser

trabalhados tanto no período matutino como no vespertino ou de forma mesclada, ficando sua

escolha sob a responsabilidade de cada escola, conforme a realidade local.

Cada instituição educacional, ao elaborar seu projeto político- pedagógico, deverá procurar

integrar conteúdos e temas transversais, adotando metodologias de ensino que privilegiem a

criatividade e a reflexão num ambiente escolar propício ao desenvolvimento da curiosidade e do

saber experimentado por parte dos estudantes.

O Projeto Político-pedagógico faz parte do planejamento e da gestão escolar. A

Page 45: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

45

Anotaçõesquestão principal do planejamento é expressar a capacidade

para transformar o planejado em ação concreta. Portanto, a

intencionalidade da escola deve estar clara na elaboração do

documento que é considerado a ferramenta mais importante para

o planejamento e avaliação educacionais, pois indica os caminhos

para a organização do trabalho pedagógico.

Avaliação do processo

A educação brasileira já reconhece a importância de rever a

avaliação no processo ensino-aprendizagem e se curva à proposta

inovadora da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que

flexibiliza e entende o sistema de Ensino e Aprendizagem, como um

todo, que se resume na formação do cidadão “como ser pensante”.

Se o educador não estiver atento a sua prática educacional,

poderá agir inconsequentemente, obtendo resultados desfavoráveis

a sua proposta inicial. É preciso proporcionar meios que

possibilitem o desenvolvimento do educando, criando condições

diversas, onde a avaliação esteja diretamente relacionada ao

processo de ensino- aprendizagem. Priorizar os valores que o

educando traz, seus conhecimentos para que haja uma integração

entre suas necessidades sociais e cognitivas. Promover a efetivação

dos meios que lhe permitam a estabilidade nas diversas áreas do

conhecimento, contribuindo para seu melhoramento geral.

A avaliação da aprendizagem não é e não pode continuar

sendo a tirana da prática educativa. É necessário criar recursos

para auxiliar o educador e o educando na construção de seu

conhecimento, objetivando o melhor de sua vida. A obtenção

do melhor resultado possível implica a disposição de acolher a

possibilidade de um resultado satisfatório ou não, agradável ou

não, partindo do educando para o objeto de contemplação. Avaliá-

lo implica perceber seu modo de ser e compreender o mundo, e

assim, decidir o que fazer.

Segundo Luckesi (2001, p.173), “avaliar um estudante com

dificuldades é criar a base do modo de como incluí-lo dentro do

Page 46: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

46

círculo da aprendizagem; o diagnóstico permite a decisão de direcionar ou redirecionar aquilo

ou aquele que está precisando de ajuda”. Avaliar implica diagnosticar e decidir. Inicialmente, é

preciso verificar o estado do educando, baseando-se em seu comportamento e habilidades. É

bem verdade que o primeiro encontro da vida escolar do educando com o educador começa

sob um olhar de julgamento: quieto, disciplinado, barulhento, teimoso, preguiçoso, estudioso,

inteligente, etc. Assim tem início o processo de avaliação escolar.

Seu objetivo é diagnosticar a ocorrência e a não ocorrência da aprendizagem. Não é

possível avaliar sem percorrer um processo de constatação, conduzindo a uma tomada de decisão.

Perrenoud afirma que adotar a avaliação formativa significa mudar a escola.

As práticas avaliativas desenvolvidas nas escolas partem de teorias progressistas e

conservadoras, dando origem a diferentes propostas pedagógicas. Rotineiramente, em sala de

aula, o sistema tornou-se padronizado, baseado em comprovação de rendimento. Considera-

se que esse modelo de avaliar é eficaz, objetivo e rápido. Infelizmente esse processo mina a

capacidade dos educadores de atender às reais necessidades dos estudantes, distanciam-se da

realidade social dos mesmos, não desenvolvem nem avaliam a capacidade de raciocínio diante

de situações problematizadoras.

A avaliação restringe-se a exames pontuais com atribuição de notas ou conceitos, e o

educando encontra muitas dificuldades ao longo desse processo. Dessa maneira, torna-se um

instrumento negativo, quando na verdade deveria ser de incentivo e progresso nos estudos para a

construção de uma aprendizagem que satisfaça. A avaliação escolar ocorre dentro da sala de aula

com atividades elaboradas pelos professores que esperam que os estudantes possam expressar

seus entendimentos.

Esses instrumentos são construídos a partir de diversas formas: conteúdo ensinado,

conteúdo que o professor deu por supostamente ensinado, conteúdos extras que o professor

julgou necessário para tornar algumas questões mais difíceis, relacionamento do professor

perante a turma e a disciplina.

Luckesi (2001, p.23) considera que “as notas são operadas como se nada tivesse a ver

com a aprendizagem. As médias são médias entre números e não expressões de aprendizagens

bem ou malsucedidas.” Existem vários instrumentos para analisar o desempenho do educando,

mas é preciso ter em mente que não há um certo e um errado quando se fala em avaliação. É

importante encontrar um ou mais meios para tornar mais produtivo esse processo. Para Perrenoud

(1999, p. 30), “mesmo que avaliem exatamente o que ensinam, os professores não avaliam as

mesmas aquisições, porque não valorizam, não dominam e não ensinam exatamente os mesmos

saberes e competências”. É importante aprender aquilo que se ensina na escola. A avaliação deve

possibilitar ao educador condições de analisar o nível de compreensão do estudante. Tem que

Page 47: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

47

Anotaçõeshaver condições adequadas para que o educando atinja um nível

significativo de aprendizagem.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a

avaliação deve ser contínua e cumulativa, sendo necessariamente

diferente da concepção tradicional utilizada. “A finalidade é que

todos possam ampliar continuamente os conhecimentos que

possuem, cada um no seu tempo, por seu caminho, com seus

recursos, com a ajuda do coletivo” (ESTEBAN, 2002, p. 24).

O processo avaliativo inclui não somente os resultados

da prática pedagógica, mas também a produção do pessoal

administrativo, a atuação dos professores, a gestão, o

relacionamento com os parceiros e até o envolvimento da

comunidade no desenvolvimento de todo o trabalho.

A avaliação nessa perspectiva visa ao desenvolvimento global

do estudante quanto aos aspectos de evolução cognitiva, social,

ética, estética, entre outras a fim de balizar quais atividades estão

efetivamente beneficiando os aspectos de ensino e aprendizagem

por meio de documento que historie a evolução de cada estudante.

O registro da história

O registro apresenta-se como um início do processo de

reflexão da prática individual de ensino, apontando como foco a

melhoria do processo.

Para que haja uma reflexão, faz-se necessário que se tenha

por parte do responsável (ou responsáveis) pelo registro uma base

teórica em fundamentos para que este possa focar seus registros

em questões que sinalizem o alcance dos objetivos propostos.

Segundo Andrade (2009), do planejamento à avaliação, a

documentação é uma ferramenta indispensável para organizar,

analisar e reavaliar a prática docente.

Existem vários processos e técnicas distintas para documentar

as atividades pedagógicas, porém todas objetivam descrever os

pontos relevantes do processo, advindos da observação direta ou

indireta do processo educacional.

Page 48: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

48

Ao registrar sua prática pedagógica, o professor possibilita um novo olhar sobre si mesmo,

identificando mais claramente seus limites e potencialidades. Quanto à escola, esta tem a

possibilidade de visualizar a organização do trabalho pedagógico em seus diversos níveis, seja de

planejamento – o que foi planejado? Como foi planejado? ou de execução – O planejamento foi

executado? Como foi executado? possibilitando o processo de ação – reflexão – ação.

No entanto, o registro não deve ser conclusivo, pois não apresenta verdades absolutas

que norteiam a avaliação; portanto, o registro configura-se como um ato de inquietação que

proporciona a professores, e à escola como um todo, um exercício reflexivo, visando ao

conhecimento.

Entre as formas de registro/documentação, é importante citar o papel do registro diário a

fim de gerar um registro geral da história do processo.

O registro diário dos momentos destinados às atividades diversificadas deve ser feito em

instrumento próprio pelo coordenador da Educação Integral, e ou pelos professores responsáveis

por cada um dos projetos interdisciplinares, nos diversos campos do conhecimento.

Para registrar os acontecimentos diários, devemos fazê-lo em duas dimensões: individual

e global.

O registro individual refere-se às atividades desenvolvidas por cada professor ou

profissional de apoio ao processo pedagógico, destacando a(s) atividade(s) desenvolvida(s) por

este profissional, de modo que assim, ele (e toda a comunidade escolar) possa ter acesso ao

histórico da evolução da pratica pedagógica e da influência desta, na história de aprendizagens

do estudante.

Quanto ao registro global, refere-se à história da evolução dos estudantes que tiveram a

oportunidade de ampliação de seu tempo de permanência na escola, destacando os aspectos de

evolução social, afetiva, cognitiva, física e afetiva ao longo do processo.

Neste caso, as anotações são de caráter ordinário e extraordinário, assinalando as

atividades comuns do dia a dia, sem distinção entre as turmas. O foco é historiar a organização

do trabalho desenvolvido e suas repercussões na aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Considerações finais

Uma escola verdadeiramente integral é constituída por elementos como o currículo

integrado, a gestão democrática, plenas condições de trabalho pedagógico que articulados ao

projeto político-pedagógico da escola, garantem a vivência escolar de estudantes, professores,

família e comunidade em um exercício cotidiano, coletivo e democrático de cidadania.

Page 49: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

49

AnotaçõesConstruir uma educação que emancipe e forme em uma

perspectiva humana considerando as múltiplas dimensões e

necessidades educativas é uma importante estratégia de melhoria

da qualidade de ensino e promoção do sucesso escolar.

A implantação de escolas de tempo integral só faz sentido

quando concebida uma Educação Integral em que o horário

expandido venha a representar uma ampliação de oportunidades e

situações especialmente planejadas com a finalidade de promover

aprendizagens significativas e emancipadoras.

Nossa proposta não é apenas ampliar o tempo do estudante

na escola. Não é reproduzir o que já existe e sim propor algo novo.

Algo inovador. É aumentar quantitativamente, mas, sobretudo

qualitativamente as novas aprendizagens.

Page 50: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

50

BRASIL - Programa Mais Educação – Passo a Passo. Brasília: MEC/SECAD, sd

________Educação integral: texto referência para o debate nacional. Brasília: Ministério da

Educação, 2009. (Série Mais Educação)

________Parâmetros Curriculares Nacionais, 2002

CAVALIERE, Ana Maria Villela. Tempo de escola e qualidade na educação pública. Educ. Soc.,

Campinas, v. 28, n. 100, out. 2007 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_

arttext& pid=S010173302007000300018&lng=pt&nrm=iso>.

________;(orgs.). Educação brasileira e(m) tempo integral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002,

CLEMENTI, Nilba. A voz dos outros e a nossa voz. In.:ALMEIDA, Laurinda R.,PLACCO, Vera Mª N. de

S. O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. São Paulo :Edições Loyola,2003.

DISTRITO FEDERAL, SEEDF. Diretrizes para Educação Integral no Distrito Federal, Educação Integral:

Ampliando Tempos, Espaços e Oportunidades Educacionais, 2009.

________DISTRITO FEDERAL, SEEDF. Projeto Político Pedagógico Professor Carlos Mota. 2012.

ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre,

Artes Médicas, 1989.

FREIRE, P. (1979). Educação e Mudança. Paz e Terra, São Paulo, 1979

GADOTTI, M. Paulo Freire: uma bibliografia (vários colaboradores). São Paulo: Instituto Paulo

Freire/UNESCO: Cortez, 1996.

GROSBAUM, Marta Wolak; DAVIS, Cláudia. Sucesso de todos, compromisso da escola. In: VIEIRA,

S. L. (Org.). Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

KUBITSCHEK, Juscelino. Por que construí Brasília. Brasília: Senado Federal, 2000.

LEITE, S.A.S. Desenvolvimento profissional do professor: desafios institucionais. In: AZZI, R.G.;

BATISTA, S.H.S.S.; SADALLA, A.M.F.A. (orgs.). Formação de professores: discutindo o ensino de

Psicologia. Campinas: Alínea, 2000, 39-66.

LIBANEO, José C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5 ed. Revista e ampliada.

Goiania: Alternativa, 2004

MERCADO, Luiz Paulo Leopoldo. Formação continuada de professores e novas tecnologias.

Maceió: EDUFAL, 1999

Referências

Page 51: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

51

AnotaçõesMOLL, Jaqueline [et el.]. Caminhos da educação integral no Brasil:

direito a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso,

2012

Planejamento Educacional, 28, dez 2012 [http://

planejamentoeducacional.webnode.com.br/tipos-niveisde

planejamento/ ]

ROMÃO, Jose Eustáquio. Compromisso do Educador de Jovens

e Adultos. In Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e

proposta. Moacir Gadoti e José E. Romão (Orgs.). 9. ed. São Paulo:

Cortez, 2007. Guia da Escola Cidadã; v. 5.

TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. UFRJ: Rio de Janeiro,

(1999).

_________; Educação e a crise brasileira. UFRJ: Rio de Janeiro.

(1994)

_________; Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Revista Brasileira

de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, vol.31, nº 73, pp. 78-84,

jan./mar., 1959.

Page 52: CURRÍCULO EM MOVIMENTO EDUCAÇÃO INTEGRAL · Ana José Marques, Ana julia E. Heringer Salles, Ana Lucia F. de Brito, ... Melo Freitas, Marcos Antonio da Silva, Margarete Lopes dos

52