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A herança portuguesa Isabela M. Bensenor Profa. Associada FMUSP

Curso 65

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A herança portuguesa Isabela M. Bensenor

Profa. Associada FMUSP

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A herança portuguesa

O uso do sal como conservante levou à fixação do homem nômade nos primórdios da civilização.

Após 3 meses de uma dieta rica em sal, há o início da dependência.

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A herança portuguesa

Em Portugal, a curva de Epstein-Eckoff é bastante inclinada em relação ao eixo do X. O Brasil apresenta um padrão semelhante.

Essas quatro populações remotas se caracterizavam por uma baixíssima excreção de sal urinário, um IMC mais baixo em relação aos outros centros, uma maior prática de atividade física e menor ingestão de álcool.

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A herança portuguesa

INTERSALT

Estudo multicêntrico (52 centros) em 10.079 homens e mulheres que estudou o papel do Na (Na urinário de 24 horas) na determinação da pressão arterial, incluindo 4 centros com populações nativas (Xavantes, Yanomami, Papua Nova Guiné e Quênia) na década de 80.

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

Os resultados mostraram uma relação positiva entre ingestão de Na e pressão arterial mais acentuada nos idosos e uma relação inversa entre consumo de potássio e pressão arterial. O índice de massa corpórea e a ingestão alcoólica se associaram diretamente com os níveis de pressão arterial.

Contraponto importante a ideia que o aumento da PA com a idade era normal.

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

52 centros com 4 populações remotas.

As 4 populações remotas apresentaram as menores pressões médias nos 52 centros estudados com valores médios:

PAS de 103 mm Hg comparados a 120 mm Hg nos demais centros;

PAD de 63 mm Hg comparados a 74 mm Hg.

Houve pouca ou nenhuma inclinação da curva de pressão com a idade (Epstein-Eckoff). A prevalência de HAS foi de 5% no Quênia estando ausente nos outros centros. (J Mancilha; Hypertension 1989;14:238-246)

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INTERSALT

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excreção urinária de sódio (mEq/l) em 24 hs

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INTERSALT

Em Portugal, a curva de Epstein-Eckoff é bastante inclinada em relação ao eixo do X. O Brasil apresenta um padrão semelhante.

Essas quatro populações remotas se caracterizavam por uma baixíssima excreção de sal urinário, um IMC mais baixo em relação aos outros centros, uma maior prática de atividade física e menor ingestão de álcool.

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH Diet) foi um ensaio-clínico em 459 adultos com PAS < 160 mm Hg e PAD de 80-95 mm Hg submetidos por 3 semanas a uma dieta pobre em frutas, verduras e derivados do leite com uma ingestão de gorduras próxima da dieta americana. Após 3 semanas os pacientes foram randomizados em 3 grupos durante 8 semanas:

controle

dieta rica em frutas e verduras por 8 semanas

dieta combinada rica em frutas, verduras e pobre em derivados do leite com um conteúdo reduzido de gorduras especialmente as saturadas.

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

As médias de PAS e PAD no início foram respectivamente de 131,310,8 e 84,7±4,7 mm Hg.

A dieta rica em frutas e verduras reduziu a PAS e PAD respectivamente em mais 2,8 e 1,1 mm Hg do que a dieta controle.

A dieta combinada reduziu a PAS e PAD respectivamente em mais 5,5 e 3,0 mm Hg do que a dieta controle (p<0,001).

Nos 133 pacientes hipertensos, a dieta combinada reduziu a PAS e a PAD respectivamente em mais 11,4 e 5,5 mm Hg do que a dieta controle. Entre os não hipertensos, a redução de PAS e PAD foi respectivamente de 3,5 e 2,1 mm Hg. (NEJM 1997)

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PAS MÉDIA E PAD MÉDIA NO INÍCIO E DURANTE CADA SEMANA DA INTERVENÇÃO DE ACORDO COM A DIETA EM 379 PACIENTES COM DADOS COMPLETOS.

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

O estudo concluiu que uma dieta rica em frutas e verduras, e com conteúdo reduzido de derivados do leite e gorduras pode baixar em muito a PA, sendo uma abordagem efetiva para o controle da pressão arterial. (NEJM 1997)

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

O efeito da de diferentes níveis de sódio na dieta, em conjunto com a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) rica em frutas, verduras e pobre em derivados do leite foi testado em 412 participantes hipertensos e não hipertensos. (Sacks et. al NEJM 2001;344:3-10)

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

A redução da ingestão

Na alto para intermediário: reduziu a PAS em 2,1 mm Hg (controle) e 1,3 (dieta DASH).

Na intermediário para baixo: promoveu redução adicional de 4,6 mm Hg (controle) e de 1,7 (dieta DASH).

O efeito foi observado em homens, mulheres, hipertensos ou não de qualquer etnia. A dieta DASH se associou a uma PAS menor independente do nível de ingestão do sódio. A dieta DASH associada a um nível de sódio baixo promoveu uma queda de 7,1 mm Hg nos não hipertensos e de 11,5 mm Hg nos hipertensos.

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RESULTADOS DA DIETA DASH ASSOCIADA A DIFERENTES NÍVEIS DE INGESTÃO DE SÓDIO. (NEJM 2001)

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DIETA NA PREVENÇÃO DAS DIC

Escore

Fung et al mostraram que pessoas que seguem uma dieta semelhante a DASH (foi criado um escore) mostraram um risco diminuído de DIC e AVC em 24 anos de seguimento. (Fung T; Arch Inter Med 2008)

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ÁLCOOL E DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Álcool

Estudo transversal de base populacional na Grande São Paulo mostrou prevalência de abuso de álcool (leva a problemas mas não dependência) : 18-34 – 9,2%; 35-49 – 11,9%; 50-64 – 8,4%; > 65 – 7,9%

Homens: 16,4%

Mulheres: 4,0%

Viana MC, Rev Bras Epidemiol, 2012

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ABUSO DE ÁLCOOL

Abuso álcool:

Portugal: 1,5%

Espanha: 2,3%

Estonia: 3,1%

Eslovenia: 3,7%

Reino Unido: 8,1%

Holanda: 8,4%

Nazareth I et al, Acohol and Alcoholism, 2011

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FATORES DE RISCO PARA A HAS

Os fatores de risco associados à HAS:

consumo de sal (dieta)

ingestão de álcool (dieta)

obesidade (dieta)

fatores psicossociais

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HAS NO BRASIL

A HAS como fator de risco apresenta um peso diferenciado no Brasil:

Herança portuguesa com alto consumo de alimentos salgados (bacalhau, ingredientes da feijoada e o pão).

Uso do sal como conservante em produtos enlatados (sardinha, atum, milho, ervilha), molhos prontos (ketchup, shoyu, caldos), salgadinhos, embutidos e queijos.

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PREVALÊNCIA DA HAS NO BRASIL

MURARO AP ET AL, CAD SAUDE PUBLICA, 2013,

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PREVALÊNCIA DE HAS EM PORTUGAL

Portugal

2003 – prevalência estimada de HAS de 43% e desses somente em 28,8% a HAS estava controlada

2006 – Excreção de sódio urinário 2 x maior do que o recomendado pela OMS (Furtado C, Pinto M, Rev Port Cardiol 2006)

2007 – prevalência HAS

< 35 anos: H 26,2%; M 12,4%

35-64 anos: H 54,7%; M 41,1%

> 64 anos: H 79%; 78,7%

(De Macedo ME et al, Rev Port Cardiol 2007)

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HAS EM MACAU

Macau

Prevalência de HAS de 29,5%

Predomínio em homens e acima dos 35 anos

Prevalência em imigrantes era menor do que na população local

Não encontrei dados de Cabo Verde, Guiné Bissau nem de Moçambique

Leong HC et al, 1998 (chinês)

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ABUSO DE ÁLCOOL TANZANIA

Prevalência de abuso de álcool em população urbana na Tanzania: 17,2% com predomínio na população mais pobre.

Mbatia J et al, Int J Environ Res Public Health, 2009

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PREVALÊNCIA DE HAS EM ANGOLA

Angola

Prevalência de HAS em estudantes universitários em Lubango:

18-29 anos : 20,3 a 26,7%

17,1% de sobrepeso e 3,2% de obesidade

33,1% renda familiar < US$ 250

86,2% praticavam atividade física

60,6% preferência por alimentos salgados

4,0% de fumantes

40,6% ingeriam bebida alcoólica

(Simão M et al, Rev Lat Am Enfermagem, 2008)

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PREVALÊNCIA DE HAS EM ANGOLA

Estudo de base comunitária com 1164 adultos que utilizou o protocolo da OMS para avaliação das doenças crônicas (World Health Organization's Stepwise Approach to Chronic Disease Risk Factor Surveillance)

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PREVALÊNCIA DE HAS EM ANGOLA

Prevalência de HAS (PA sistólica ≥140 mmHg e/ou PA diastolica ≥90 mmHg e/ou uso de medicamento para tratamento da HAS): 23% (IC 95%: 21% to 25.2%).

Uma consulta de seguimento confirmou o diagnóstico em 82% (com interval médio entre as medidas de 23 dias.

Entre os hipertensos:

21.6% (IC 95%: 17.0% to 26.9%) sabiam ser hipertensos

13.9% (IC 95% CI: 5.9% to 29.1%) sabiam ser hipertensos e estavam sob tratamento

1/3 estavam com a pressão controlada

Idade (mais velhos), educação (menos educados), IMC elevado e obesidade se associaram de forma significativa com a HAS (p<0,01)

Pires JE et al, BMC Public Health, 2013.

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PREVALÊNCIA DE HAS EM ANGOLA 82% CONFIRMADO EM UMA SEGUNDA MEDIDA

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PREVALÊNCIA DE HAS EM ANGOLA

Estudo transversal que avaliou 615 (42,2% dos funcionários públicos da Universidade Agostinho Neto

Homens: 48% (n = 294)

Mulheres: 52% (n= 321)

Idade: 20 - 72 anos (nível socioeconômico variado)

Fevereiro 2009 a Dezembro 2010

Personal, anthropometric, biochemical, hemodynamic, socioeconomic, and physical activity data were collected.

Capingana DP et al, BMC Public Health, 2013

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FR PARA DCV - ANGOLA

A prevalência de FR para DCV:

hipertensão, 45,2% (homens (H) 46.3%, mulheres (M) 44.2%, P > 0,05);

hipercolesterolemia, 11,1% (H 10,5%, M 11,5%, P > 0,05);

HDL-cholesterol, 50,1% (H 36,9%, M 62,3%; P < 0,05);

hipertrigliceridemia, 10.6% (H12,6%, M 8,7%, P > 0,05);

tabagismo, 7,2% (H10,2%, M 4,4%; P < 0,05);

diabetes, 5,7% (H 5,5%, M 5,9%, P > 0,05);

sobrepeso, 29,3% (H 27,3%, M 31,2%, P > 0,05); obesidade, 19,6% (H 9.2%, M 29.0%; P < 0.05);

Sedentarismo, 87.2% (H 83.0%, M 91,0%, P < 0.05);

Hipertrofia Ventricular E, 20% (H 32.0%, M 9.0%; P < 0.05). Pelo menos 1 FR presente em 27.7% da amostra; 15,2% com 2 FR; 31,4% com 3 ou + FR; nível SE baixo: 41% apresentam 3 ou + FR.

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FR PARA DCV - ANGOLA

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"...um mal secreto, não o do soneto, mas o de qualquer doença, é sempre um fator de tranquilidade. Quem não sabe não teme. Como diagnóstico da pressão alta não é seguido de tratamento ou ajuda, para muita gente simples é só alarme. A viúva gorda e patusca, que tem um cotidiano insosso, é convidada a cortar o sal do seu feijão com arroz...

Otto Lara Rezende