28
CURSO BÁSICO DE SUTURA www.lacacre.wordpress.com 2ª Edição

CURSO BÁSICO DE SUTURA - … · costura de panos e couro de animais em vestuario. Os materiais utilizados eram crinas de animais, linho, seda, tendões e até fibras de intestino

  • Upload
    vandat

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

CURSO BÁSICO DE

SUTURA

www.lacacre.wordpress.com

2ª Edição

Por:

Carlos Emanuel Rodrigues de Castro

David Smangoszevski Martins

Feliph Miquéias Alcântara de Souza

João Abner Marins Munhós

3

1. INTRODUÇÃO

1.1. HISTÓRIA

1.2. INDICAÇÃO DE SUTURA

2. TIPOS DE FERIMENTOS

2.1. INCISÃO

2.2. FERIMENTO CORTO-

CONTUSO

2.3. FERIMENTO PERFURANTE

2.4. PERFURO-CONTUSO

2.5. LACERO-CONTUSO

2.6. ESCORIAÇÕES

3. AGULHAS & FIOS

3.1. AGULHAS

3.2. FIOS

4. INSTRUMENTAL BÁSICO

4.1. BISTURI

4.2. TESOURA

4.3. PINÇAS

4.4. PORTA AGULHA

5. CALÇO DE LUVAS ESTÉREIS

5.1. TÉCNICA

6. ANTISSEPSIA

7. ANESTESIA LOCAL

7.1. TIPOS DE ANESTESIA LOCAL

7.1.1. ANESTESIA TÓPICA

7.1.2. ANESTESIA POR

INFILTRAÇÃO

7.1.3. ANESTESIA POR

BLOQUEIO

7.1.4. ANESTESIA DE

CONDUÇÃO OU REGIONAL

7.2. TÉCNICA DE ANESTESIA

LOCAL

8. LIMPEZA DA FERIDA

9. TIPOS DE SUTURAS

9.1. O NÓ QUADRADO

9.2. SUTURA INTERROMPIDA

SIMPLES

9.3. DONATTI

9.4. SUTURA CONTÍNUA SIMPLES

9.5. SUTURA EM ‘X’

9.6. REVERDIN

9.7. COLCHOEIRO

9.8. SUTURANDO PONTAS

9.9. CORRIGINDO DESNÍVEIS DE

BORDOS DE FERIMENTOS

9.10. SUTURA INTERROMPIDA

SEPULTADA

9.11. REMOÇÃO DOS PONTOS

SUMÁRIO

4

1. INTRODUÇÃO

1.1. HISTÓRIA

São raros os relatos de sutura na história antiga.

Na Roma e Egito antigos aparelhos bucais de formigas e

escaravelhos eram utilizados para aproximar bordas de

feridas de guerra.

Com o passar do tempo, a sutura passou a ser

realizada experimentalmente de maneira empírica à

costura de panos e couro de animais em vestuario. Os

materiais utilizados eram crinas de animais, linho, seda,

tendões e até fibras de intestino de animais herbívoros

(kitgut) eram utilizadas por um cirurgião persa chamado

de Rhazes (850-923 A.C.).

Na era moderna, os fios de seda e algodão

passaram a ser cruciais para hemostasia (ligadura de

vasculares) e em suturas.

1.2. INDICAÇÃO DE SUTURA

Afinal, por que se sutura?

A primeira coisa que vem à

cabeça de um leigo é a estética.

Imagina-se que a sutura serve

principalmente para manter a

aparência da pele após um

acidente ou ataque.

Até o final desse curso

perceberá que não é bem assim

que funciona.

Começamos pela definição.

Sutura é o ato de unir as bordas de

uma ferida com interesse em favorecer sua hemostasia, função, forma e estética. Exatamente nessa

ordem. Existindo assim uma pirâmide que nos ajuda a entender essas prioridades.

INTRODUÇÃO

5

Primeiramente se deve priorizar numa sutura ações que

garantam sua vida. De forma a fazer a devida hemostasia do

ferimento, conter eviscerações assim por diante. Quando

sucesso em garantir isso, deve-se tomar atenção à função do

órgão em questão. Afinal, a fisiologia do órgão de extrema

importante.

Depois disso, a forma do órgão deve ser reconstruída na

medida do possível, muitas vezes a forma e função estão

intimamente ligadas, garantido a preservação da forma por

meio do estabelecimento da função.

Quando puder garantir tudo acima, prioriza-se a estética do ferimento.

Portanto, se uma paciente chega com uma lesão com sangramento ativo em cima de uma

tatuagem linda de unicórnio que fez semanas antes, você pode escolher entre fazer uma sutura com

pontos intradérmicos que, veremos adiante, é uma sutura conhecida por sua característica de se

manter discreta ou se abre mão de uma sutura com pontos Donatti que são hemostáticos e na maioria

das vezes não preserva a estética?

Percebe? Nesse caso, a tatuagem vai ficar feia em detrimento de conter a hemorragia.

Porém, nem todas as feridas são passíveis de sutura. Vejamos, no próximo capítulo, alguns

tipos de feridas e se é indicada ou não o procedimento de sutura nesses casos. Elas são classificadas

de acordo com: proporção de comprimento/profundidade e por etiologia do ferimento.

6

2. TIPOS DE FERIMENTOS

2.1. INCISÃO

São feridas causadas por objetos cortantes, por exemplo:

facas, bisturis, canivetes, terçado, espada etc. Têm característica do

comprimento ser maior que a profundidade e bordas retilíneas e

bem delimitadas.

A sutura desse tipo de ferida quase sempre é indicada.

Contraindica-se nos casos de:

✓ Tempo de evolução maior de 12 horas (se superior

pode efetuar a limpeza e aproximar as bordas com

pontos espaçados);

✓ Incisões apenas em plano cutâneo;

✓ Exposição de Ossos ou Tendões;

✓ Ferida soprante em Tórax (Pneumotórax aberto).

2.2. FERIMENTO CORTO-CONTUSO

O agente causador não tem fio de corte acentuado e o que causa a

ferida é a força do golpe. Muito comum em trauma. (P.ex.: Ripada, queda

sobre quinas...)

Nem sempre possuem bordas bem definidas, retilíneas.

Vale lembrar que pode apresentar mais de um segmento, formando

uma ferida mais complexa, chamada de lesão estrelada que exigem técnicas de sutura para garantir a

forma.As contraindicações seguem o mesmo padrão dos ferimentos de incisão.

TIPOS DE FERIMENTOS

7

2.3. FERIMENTO PERFURANTE

São causadas por objetos pontiagudos (pregos,

espetos, etc.) e tem como característica por sua

profundidade supera seu comprimento.

Geralmente não necessitam de sutura, por conta

de serem potencialmente contaminadas e infectadas.

2.4. PERFURO-CONTUSO

Causadas por projéteis de arma de fogo. Pode

haver orifício de entrada e de saída, quando não esse

paciente tem grande chance de exploração cirúrgica.

Não suturar!

2.5. LACERO-CONTUSO

Podem ocorrer por esmagamento, quando a pele é

empurrada com muita força contra o tecido adjacente ou por

estiramento, ou seja, tração da pele. Em geral, apresentam mais

de um ângulo na ferida e perda de substância do tecido celular

subcutâneo, principalmente. O exemplo mais corriqueiro em

centros hospitalares próximos as regiões rurais é o “pisão” de

animais de grande porte, como cavalos. Além disso: contusões

graves e mordida de cão são outros exemplos

As contraindicações seguem as ditas anteriormente e

soma-se a elas as lacerações por mordidas de animal.

2.6. ESCORIAÇÕES

São feridas causadas por “arracamento” de pele, tangenciando

o tecido cutâneo, muito comum em colisões moto-moto.

Nesse caso não é indicada a sutura.

8

3. AGULHAS & FIOS

Como visto anteriormente, com o passar dos tempos, os materiais de sutura passaram por

grande evolução. É importante que se conheça os materiais mais comumente utilizados nos

procedimentos de sutura hoje em dia.

Antigamente, as agulhas e os fios estavam separados e eram montados no momento da sutura.

Hoje em dia, a agulha já está fixada ao fio, facilitando então o procedimento. Além disso há no

mercado uma vasta combinação de Agulhas/fios em relação as suas características exigidas em

diversos procedimentos.

3.1. AGULHAS

As agulhas são de ligas metálicas descartáveis e têm função de guia para o fio ao transpassar

o tecido que está sendo suturado.

Podem ser retas, curvas ou mistas. As mais comuns são as curvas por sua facilidade de

manipulação.

A agulha é composta por 3 regiões: (1)

Fundo ou Encastoamento; (2) Corpo; (3) Ponta.

Quanto ao encastoamento, as agulhas

podem ser traumáticas (que não possuem o fio

afixado) ou atraumáticas (possuem o fio afixado

no mesmo calibre que a agulha).

O corpo das agulhas quase sempre

apresenta formato circular, embora possa ter

formato triangular. Essa diferença de formato

não implica diferenças práticas.

As pontas das agulhas podem ter formatos variados conforme sua aplicação. Pode ser: (1)

Cilíndrica; (2) Triangular (cortante); (3) Retangular (romba).

Vale ressaltar que, essa grande variedade de pontas e formas existem pois, para cada tipo de

tecido que será suturado, deve-se existir uma agulha capaz de transpassá-lo sem causar problemas.

Por exemplo, a pele é um tecido que apresenta uma grande resistência à ser furada pela

agulha, portanto, para facilitar a sutura, a agulha utilizada é do tipo triangular, ou cortante.

Já em intestinos por exemplo, usa-se uma agulha cilíndrica que pode facilmente transpassar a

parede do intestino sem deixar sequelas ao tecido adjacente, diminuindo assim os riscos de lesão.

AGULHAS & FIOS

9

Já o fígado, por exemplo, é um tecido muito friável, e deve ser suturado com agulhas de ponta

romba. A tabela seguinte, de um fabricante, ilustra a grande variedade de agulhas e mostra as formas

geométricas de seus corpos e pontas.

10

3.2. FIOS

Os fios são então, o objeto principal na síntese, ou seja, da sutura. São esses fios que

manterão as bordas das feridas juntas enquanto o milagre da cicatrização acontece.

Então vamos conhecê-los.

Os fios podem ser classificados quanto:

➢ Forma de apresentação: Fios Não Agulhados, utilizados para agulhas traumáticas

ou para ligadura de vasos são chamados pelo nome da marca registrada

SUTUPAK®. Fios agulhados são chamados também de SERTIX®.

➢ Absorção: Os fios de sutura podem ser absorvíveis ou não. Ou seja, podem ou não

ter a capacidade de ser absorvido pelo organismo após algum tempo de sua

utilização. 1) Fios absorvíveis mais comuns são os Categutes e os Vicryl®. 2) Fios

inabsorvíveis mais comuns são os Nylon® , Algodão e Prolene®.

➢ Configuração: Podem ser monofilamentados ou multifilamentados. 1) Os

monofilamentados possuem maior memória (tendência a ficar em uma posição) e

possuem coeficiente de atrito menor além da menor capacidade de tensão. 2) Os

multifilamentados possuem uma facilidade maior de estiramento (suporta maiores

tensões) e coeficiente de atrito maior.

➢ Calibre: Os calibres dos fios podem ser classificados numa escala que vai de 12-0

a 7. Sendo que quanto maior o número de zeros à direita, menor o calibre do fio e

sua força tênsil diminui.

Essa escala ao lado representa a força

tênsil ou resistência à tração do fio, porém está

sujeita à influência do material que o compõe.

Por exemplo, um fio 3- 0 de seda é mais grosso

do que o fio 3-0 de nylon. Os fios mais

utilizados pelo profissional comum (“não

cirurgiões”) são os fios 2-0 a 5-0. Os fios de 4 a

7 são muito pouco usados atualmente. Os fios 1

a 3 são usados, sobretudo em locais de alta

tensão como a parede abdominal ou em

músculos e articulações. Os fios 6-0 a 12-0 são

utilizados, sobretudo, na cirurgia plástica,

oftalmológicas e em microcirurgias.

Para ficar mais fácil, temos um resumo da aplicação de cada tipo de fio.

• Categute: Fio biológico, absorvível, obtido a partir da mucosa do intestino delgado ou da

serosa de ruminantes. Os fios categute podem ser simples ou cromados, sendo que estes são

absorvidos em cerca de vinte dias enquanto os primeiros têm sua absorção média em um

período de oito dias. Esses fios não devem ser utilizados nas suturas superficiais, devido a sua

grande permeabilidade. O uso do categute é indicado na sutura de planos musculares. Ele

11

também é uma boa opção para suturas gastrintestinais e é utilizado em cirurgias

ginecológicas e urológicas.

• Vicryl® (Ácido poligaláctico): Fio absorvível, multifilamentado ou monofilamentar

(Monocryl®), de origem sintética possui uma resistência tênsil superior ao fio categute. É

hidrolisado e completamente absorvido em 30- 60 dias. É empregado na sutura do plano

subcutâneo e em cirurgias gastrintestinais, urológicas, ginecológicas.

• Nylon (Poliamida): Fio inabsorvível, monofilamentar e sintético. O fio nylon é de difícil

manipulação e execução de nó firme. Ele perde resistência tênsil ao longo do tempo e causa

pouca reação tecidual. Este tipo de fio é o preferido para a sutura da pele.

• Prolene® (Polipropileno): Fio sintético, inabsorvível e monofilamentado. Produz pouca

reação tecidual, é facilmente removível e tem a capacidade de reter a tensão por vários anos

após sua utilização. É o preferido para sutura intradérmica. Também é utilizado em suturas

vasculares.

Vale ressaltar que todos os fios querendo ou não são absorvidos em algum momento da vida do

paciente, alguns em tempos curtos (absorvíveis) outros e extremamente longos (inabsorvíveis), os

únicos que fogem à regra são os fios de Kirschner (aço inoxidável) usados em suturas ósseas.

12

4. INSTRUMENTAL BÁSICO

Os instrumentos cirúrgicos básicos para a realização dos procedimentos de sutura são

necessários para proporcionar facilidade durante os pontos, além de diminuir os danos adicionais ao

paciente, devido a mínima manipulação. Os instrumentos utilizados são: bisturi, tesouras, pinças

elásticas e porta agulhas. Vale ressaltar que se deve empregar os equipamentos de proteção

individuais (EPIs) como: as luvas estéreis, protetores oculares e máscaras. O manuseio e colocação

desses dois últimos devem ser feitos antes de calçar as luvas estéreis.

4.1. BISTURI

Na sutura esse instrumento é utilizado basicamente para cortar o fio e, se necessário, a

realização da tricotomia do paciente. Essas são funções secundárias do Bisturi, mas na prática

hospitalar de emergência são as mais utilizadas. O bisturi é dividido em duas partes, a lâmina e o

cabo. Existe duas formas, uma que constitui da lâmina descartável e outra que o cabo também é

descartável e já vem montado para uso.

O cabo e as lâminas possuem diferentes numerações. Os cabos mais utilizados são o de nº 3 e

nº4. Quanto maior a numeração maior o cabo. Cada cabo suporta um determinado conjunto de

lâminas. O bisturi de nº4 recebe lâminas de nº18 a 50 e o cabo de nº3 recebe lâminas de nº9 a 17.

Sendo que as lâminas mais utilizadas são de nº 10, 11, 15, 20, 21 e 22.

4.2. TESOURA

As tesouras em ambientes

cirúrgicos servem para dissecar, desbridar

tecidos e seccionar. Na prática da sutura

esse instrumento tem a mesma função do

bisturi, cortar o fio.

Elas são classificadas quanto ao tipo

de ponta (fina-fina, romba-romba e fina-

INTRUMENTAL BÁSICO

13

romba), à curvatura (curva e reta) e a proporção entre as partes funcionais (lâminas) e a própria

tesoura (mayo e Metzenbaum).

As tesouras retas do tipo Mayo são usadas principalmente para o corte do fio. Já as tesouras

curvas do tipo Metzenbaum (tesoura do cirurgião) são utilizadas para a divulsão e a secção delicada

de tecidos, quando se tem uma ferida com bordas irregulares e necessita de preparo.

4.3. PINÇAS ELASTICAS

As pinças elásticas são utilizadas para a apreensão do tecido, ou seja, auxiliam o agarramento

do ferimento para a passagem da agulha com o fio de sutura, além disso se utiliza para exploração da

ferida quando está contraindicado a exploração digital.

No procedimento de sutura pode ser utilizado dois tipos de pinças, a pinça anatômica e a piça

dente de rato. Essa última, na prática, é a mais utilizada pois apresenta maior potencial de apreensão

proporcionada por seus dentes, no entanto ela provoca grande impacto no tecido, ou seja, possui

poder de causar danos adicionais a ferida quando comparada com a pinça anatômica.

4.4. PORTA AGULHA

O instrumental porta agulha é o principal instrumento para a realização da sutura ele

proporciona grandes vantagens, principalmente quando não há muito espaço para o procedimento. A

maioria das agulhas utilizadas são curvas, portanto, é muito mais fácil pegar a agulha com um porta

agulha do que com os dedos, além dos

riscos de acidentes serem muito menores

com o uso desse instrumento. Há vários

tipos de porta-agulhas: o Mathieu,

Mayo-Hegar, Olsen-Hegar entre outro.

O Mayo-Hegar é o mais utilizado,

apresenta anéis que ficam presos nos

dedos (1º e 4º quirodáctilos) e

cremalheiras graduadas que são

importantes para regular a trava na hora

de segurar a agulha.

14

5. CALÇO DE LUVAS ESTÉREIS

5.1. TÉCNICA

Princípio Básico: “O QUE FICA POR DENTRO A MÃO PEGA. O QUE FICA POR

FORA A LUVA PEGA”

CALÇO DE LUVAS ESTÉREIS

15

As luvas serão recebidas envelopadas. Recomenda-se que um auxiliar as abra e o responsável

pela sutura preocupe-se apenas com o calçamento da luva, que segue os seguintes passos:

a) Higienização da mão com água e sabão;

b) Percepção do posicionamento das luvas: punhos com parte interior viradas para fora e parte

externa dos dedos à mostra;

c) Pegar a luva esquerda no punho com a mão direita nua;

d) Calçar a luva deixando a luva esquerda ainda com parte interior do punho voltada para fora;

e) Com a mão esquerda enluvada posicionar os dedos em contato apenas com a parte externa da

luva direita na dobra do punho;

f) Colocar a mão direita pela abertura da luva direita permanecendo o apoio dos dedos da mão

esquerda;

g) Posicionar o punho da luva direita agora com a parte interna para dentro;

h) Repetir “g” em mão esquerda

OBS.: LEMBRE-SE SEMPRE DE LAVAR AS MÃOS COMO SE NÃO FOSSE USAR

LUVAS E DE CALÇAR AS LUVAS COMO SE NÃO TIVESSE LAVADO AS MÃOS.

16

6. ANTISSEPSIA

Antissepsia é o método através do qual se impede a proliferação de microrganismos em

tecidos vivos com o uso de substância químicas (os antissépticos) usadas como bactericidas ou

bacteriostáticos com objetivos higiênicos ou terapêuticos.

Agentes químicas principais usados são: Digliconato de Clorexidin e Iodopovidona.

Ambos usados com o mesmo objetivo: ação antimicrobiana. Entretanto, a Clorexidina é o

agente mais completo por possuir ação antifúngica, bactericida contra bactérias Gram-positivas e

Gram-negativas e ação bacteriostática.

A limpeza com esses agentes é feita antes da anestesia e de preferência fazendo uso de gazes

estéreis com movimentos circulares ao redor da ferida e de forma ampla.

A forma de apresentação desses agentes químicos são: degermante, tópicos e tintura. Os

degermantes (sabão) são usados principalmente na limpeza “brusca” antes de qualquer procedimento

cirúrgico ou ao redor (externo) de uma ferida pré-existente, aconselha-se a não utilizar esse tipo de

apresentação em mucosa ou dentro da ferida por ter grande potencial irritativo. Os agentes, quando

tópicos, são a base de água, portanto, são os mais indicados para antissepsia dentro da ferida assim

como nas mucosas. As tinturas são a base de álcool e usados na “pintura” do paciente antes da

realização da incisão em qualquer procedimento cirúrgico.

Por fim, o que temos na sala do Trauma e onde eu uso?

Degermante (Iodopolvidona ou Clorexidina) Limpeza externa ao ferimento, antecede a anestesia

(na maioria dos casos) e exploração.

Tópico (Iodopolvidona ou Clorexidina) Limpeza dentro do ferimento ou em mucosas,

procede a anestesia e concomitante à exploração.

Solução fisiológica 0,9% Usado para limpeza do excesso de sujidade e retirada

do Agente químico usado na antissepsia.

Tintura (Iodopolvidona ou Clorexidina) Pintura do paciente pré-incisão.

ANTISSEPSIA

17

7. ANESTESIA LOCAL

O processo de anestesia tem como característica a perda reversível da sensibilidade dolorosa

e se faz necessário para a redução do sofrimento do paciente, assim como para o mesmo não sentir

ainda mais dor durante alguns procedimentos invasivos, como a sutura. O mecanismo da anestesia

local se resume, basicamente, no bloqueio de uma geração ou propagação do impulso nervoso na

região onde foi realizado o procedimento. Logicamente, essa dessensibilização da região é

reversível, durando apenas alguns minutos dependendo das características do fármaco e do paciente

como:

➢ Quantidade de volume (dose): Logicamente quanto mais anestésico for aplicado maior

é o tempo de ação ou eficácia desse fármaco, pois o tempo de metabolização será

maior por conta da quantidade total de anestésico presente.

➢ Classe do anestésico: Os anestésicos são classificados em amidas e ésteres. As amidas

sofrem metabolização hepática, ou seja, possui um tempo de ação maior. Já os ésteres

possuem metabolização plasmática, sendo assim rapidamente degradados, por um

lado é desvantagem por conta do menor tempo de ação por outro é vantagem pois tem

um menor risco de toxicidade.

➢ Concentração desse fármaco: As indústrias farmacêuticas disponibilizam os

anestésicos conforme sua concentração no frasco. Logicamente quanto mais

concentrado maior o tempo de ação. Os mais utilizados na prática hospitalar é a

Lidocaína a 2% ou a 3%.

➢ Associação medicamentosa: A interação medicamentosa é algo a se pensar, alguns

anestésicos vêm associados a vasoconstrictores para aumentar o tempo de ação e

eficácia. Outra associação feita é com bases, principalmente Bicarbonato de Sódio

usado quando precisa anestesiar uma região infectada (abscesso) que neutralizam o

meio.

➢ Característica da lesão: Como dito anteriormente regiões que possuem um pH baixo,

tendem a ser mais resistentes aos anestésicos em geral. Os anestésicos são bases

fracas, portanto a presença de excesso de prótons livres neutraliza os anestésicos

diminuindo sua eficácia e Tempo de Ação. Isso ocorre em abscessos.

➢ Individualidade do paciente: O tempo de metabolismo de qualquer que seja os

medicamentos são definidos por características pessoais do paciente.

O primeiro anestésico utilizado foi a cocaína, em 1868. Atualmente, os anestésicos locais

mais utilizados no Brasil são: Bupivocaína, Ropivacaína e Lidocaína. O mecanismo de bloqueio

desses fármacos está relacionado com o processo de condução do impulso nervoso, que exige uma

despolarização da membrana celular. Os anestésicos locais inibem o funcionamento dos canais de

sódio, fundamental para a despolarização celular.

ANESTESIA LOCAL

18

7.1. TIPOS DE ANESTESIA LOCAL

7.1.1. ANESTESIA TÓPICA

Se caracteriza pelo contato direto com a superfície em questão, podendo ser a pele, a mucosa

ou cavidades. Esse contato pode ser na forma de depósito, nebulização, gotejamento ou Spray. A

aplicação desse tipo de anestésico deve ser feita em pelo menos 1 hora antes do procedimento

desejado, e a duração do efeito é de 50 a 60 minutos (a duração sempre vai depender do fármaco, a

quantidade e a associação com vasoconstritores). Esse tipo de anestesia não possui efeitos

satisfatórios em camadas mais profundas, portanto, pode ser utilizado para minimizar dores

superficiais, como a entrada de uma agulha na pele. No geral, usa esse tipo de anestesia mais como

forma de placebo do que realmente a anestesia.

7.1.2. ANESTESIA POR INFILTRAÇÃO

Na verdade, não é um tipo de anestesia, mas sim uma técnica de aplicação de anestesia. Anestesia

por infiltração é a mais utilizado em ambientes hospitalares. Basicamente, há infiltração do

anestésico no local dentro do ferimento pré-existente. A ação do fármaco é diretamente sobre as

terminações nervosas,

7.1.3. ANESTESIA POR BLOQUEIO

Também é considerada outra técnica de anestesia local, caracterizado pela injeção do

anestésico nas proximidades do procedimento a ser realizado.

19

Esse método é empregado em diversas técnicas como: drenagem de coleção de líquidos,

remoção de corpos estranhos, tratamento de feridas traumáticas, desbridamento de feridas infectadas

entre outras.

7.1.4. ANESTESIA DE CONDUÇÃO OU REGIONAL

A aplicação do anestésico nesse tipo de anestesia se dá diretamente no tronco nervoso, com

uma distância razoável da região onde será realizado o procedimento. Esse tipo de anestesia quando

se bloqueia o tronco nervoso é chamada de troncular, quando há um bloqueio das raízes nervosas e a

aplicação for no espaço extradural é chamada de peridural e caudal, porém se esse bloqueio for no

espalho subdural será caracterizado com uma raquianestesia. Na prática do setor do trauma esse tipo

é mais usado na anestesia dos dedos, bloqueando o tronco nervoso nas bases laterais e mediais aos

dedos.

20

7.1.6. TÉCNICA DE ANESTESIA LOCAL

Há diversas técnicas específicas para a aplicação da anestesia local, mas há um ponto em

comum entre a maioria delas: a utilização da infiltração do anestésico nas bordas ou perímetro da

ferida.

Antes de começar vamos lembrar:

1. Identificação da lesão;

2. Limpeza da região operatória;

3. Antissepsia do campo operatório e do profissional;

4. Paramentação;

5. Isolamento da região por campos cirúrgicos.

A primeira etapa é o preparo do anestésico: a aspiração do fármaco que está contido em um

frasco, normalmente uma dosagem próxima de 10mL de Lidocaína 1% (10mg/mL) é suficiente,

porém é valido aspirar o máximo que a seringa suportar, respeitando a dosagem máxima do paciente.

7.2. CÁLCULO PARA DOSAGEM MÁXIMA DE ANESTÉSIO

O cálculo para a maioria dos anestésicos se baseia na multiplicação da massa (em kg) do

paciente por 4,4mg do fármaco. Assim, você obtém a quantidade máxima em massa de anestésico

que poderá ser utilizada. O cálculo em volume dependerá sempre da informação contidas no frasco

do anestésico, por exemplo, um frasco de 100ml de Lidocaína a 2% contém 2g de sal. Portanto,

quando se aspira 10ml aspira-se 200mg de anestésico.

Exemplo: Paciente com 70kg chega ao setor de trauma com um FCC no M.S. direito, na

região braquial, para realização de uma rafia, qual volume máximo de Lidocaína a 3% sem

vasoconstritor que deverá ser utilizado para a anestesia local?

4,4mg x 70 kg = 308mg de Anestésico

Lidocaína a 3%:

100ml 3000mg

Xml 308mg

X = 10,27 ml de Anestésico

Obs: Para a anestesia de uma região muito extensa, vale a diluição do anestésico em água

destilada para seringa. Em uma proporção de 1 para 10 no máximo, portanto, no exemplo anterior,

poderia ser utilizado 100 ml de anestésico diluído em água destilada para abranger toda superfície

lesionada.

Algumas dicas na hora da aspiração:

1. Usar uma agulha com calibre maior na hora da aspiração diminui o tempo do processo;

2. Injetar ar no frasco com a quantidade desejada de anestésico facilita e muito a aspiração.

21

O próximo passo é entrar na pele íntegra, no ângulo da ferida, com o bisel da agulha para

cima, inserindo apenas uma parte da agulha em uma angulação de 30 a 45 graus com a pele. Logo

em seguida devemos aspirar para ver se não atingimos nenhum vaso, assim, tendo a certeza que

estamos longe do perímetro vascular, injetamos gradualmente até que se forme um acúmulo de

anestésico na pele, o chamado botão anestésico. Após isso deve-se, em direção a alguma das bordas

do ferimento, aprofundarmos a injeção ao máximo. Aspiraremos novamente para ter a certeza que

não atingimos um vaso e então deve-se injetar gradualmente o anestésico, ao mesmo tempo que

removemos a seringa.

Vale ressaltar que se esse procedimento não abranger toda superfície do ferimento, deve-se

fazer o mesmo procedimento no outro ângulo do ferimento ou inserindo a agulha no lugar onde já foi

colocado o anestésico.

Em seguida, aguardaremos cerca de 3 minutos para que o anestésico tenha efeito, e então com

uma pinça de dissecção sem dente ou com a nossa própria mão, testaremos a sensibilidade do

paciente na região em que será realizado o procedimento de sutura. Vale ressaltar que essa

sensibilidade em questão é em relação a percepção de dor, pois o paciente continuará a ter sensação

tátil e térmica. Uma dica a ser tomada é que durante a realização desse teste o paciente não deve

olhar, pois assim poderá ocorrer um resultado falso positivo.

Após o procedimento de anestesia local você está apto para começar a suturar. A anestesia

local dura em média 45 minutos, portanto não enrole.

8. LIMPEZA DA FERIDA

Após feita a anestesia deve-se fazer a limpeza exaustiva da mesma usando solução salina,

sendo a mais comum o Soro Fisiológico 0,9%. A limpeza deve ser feita com jatos para o

debridamento mecânico. Para facilitar, pode ser utilizado seringa. A quantidade de soro utilizado é

alvo do julgamento do efetor da limpeza através da análise do comprimento, profundidade e grau de

sujeira da ferida.

LIMPEZA DA FERIDA

22

9. TIPOS DE SUTURAS

Um dos fundamentos da cirurgia cutânea é a sutura. Dominar as várias técnicas de sutura é

essencial para se alcançar um bom resultado estético e funcional.

9.1. O NÓ QUADRADO

É essencial dominar o nó quadrado, que é usado para firmar as suturas. Este pode ser

realizado facilmente usando-se um porta-agulha.

O primeiro movimento do nó quadrado exige fazer uma alça da extremidade longa da sutura

duas vezes em torno do porta-agulha. Depois, pegar a extremidade curta da sutura. Puxar o porta-

agulha através do lado onde a agulha saiu. O segundo movimento é realizado fazendo-se uma alça

com a sutura na direção oposta uma vez em torno do porta-agulha. Pegar a extremidade curta da

sutura e puxar o porta-agulha na direção oposta ao primeiro nó. Isso é importante para se obter um

nó mais firme, em comparação com um nó no mesmo sentido. Repetir a sequência de fazer alça e

puxar em direções opostas com cada laçada. São necessárias três a quatro voltas.

Veja na próxima página

TIPOS DE SUTURA

23

24

9.2. SUTURA INTERROMPIDA SIMPLES

9.3. DONATTI

25

9.4. SUTURA CONTÍNUA SIMPLES

9.5. SUTURA EM ‘X’

9.6. REVERDIN

9.7. COLCHOEIRO

26

9.8. SUTURANDO PONTAS

27

9.9. CORIGINDO DESNÍVEIS DE BORDOS DE FERIMENTOS

9.10. SUTURA INTERROMPIDA SEPULTADA

28

9.11. REMOÇÃO DOS PONTOS

Alguns passos a serem seguidos:

➢ Garanta ao paciente que este será um processo não doloroso.

➢ Lave bem suas mãos e adquira um material esterilizado.

➢ Faça a limpeza da pele com peróxido de hidrogênio (água oxigenada).

➢ Desfaça o nó com a tesoura bem rente à pele.

➢ Puxe o fio com a mão. Deverá ser fácil.

➢ Caso o fio esteja preso, aplique mais força e ele sairá.

➢ Em caso de sangramento aplique gaze ou algodão no foco.

“Em quanto tempo posso retirar esses pontos, doutor??”

➢ Face: 3-4 dias

➢ Cabeça: 5 dias

➢ Tórax: 7 dias

➢ Membros: 7-10 dias

➢ Pés: 10-14 dias