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Licitações Gustavo Justino de Oliveira * Noções introdutórias A Constituição da República prevê em seu Capítulo VII que trata da Ad- ministração Pública que, ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão contratados mediante processo de licitação pública que as- segure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qua- lificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (art. 37, inciso XXI). Segundo o art. 22, inciso XXVII da Carta Política, compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e funda- cionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o dispos- to no dispositivo acima citado, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do seu art. 173, §1.º, inciso III. Esse dispositivo prevê que as regras de licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações das empresas públicas e sociedades de eco- nomia mista que explorem atividade econômica deverão observar os princí- pios da administração pública e estarão dispostas em seus estatutos jurídi- cos, os quais serão estabelecidos por lei. A fim de regulamentar o artigo 37, inciso XXI da Constituição da Repú- blica, foi publicada no dia 22 de junho de 1993 a Lei 8.666, a qual estabe- lece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes * Pós-Doutor em Direi- to Administrativo pela Universidade de Coim- bra (Portugal). Professor Doutor de Direito Admi- nistrativo na Faculdade de Direito da USP (Largo São Francisco), onde leciona na graduação e na pós- -graduação. Foi Procura- dor do Estado do Paraná por 15 anos e hoje é Con- sultor em Direito Adminis- trativo, Constitucional e do Terceiro Setor, em São Paulo. Autor dos livros Contrato de Gestão (Ed. RT), Consórcios Públicos (Ed. RT), Direito Admi- nistrativo Democrático (Ed. Fórum), Parcerias na Saúde (Ed. Fórum), Direi- to do Terceiro Setor (Ed. Fórum) e Terceiro Setor, Empresas e Estado (Ed. Fórum). Autor de diversos artigos científicos e Dire- tor da Revista de Direito do Terceiro Setor – RDTS (Ed. Fórum). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

Curso de Direito Administração Licitações

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Licitações

Gustavo Justino de Oliveira*

Noções introdutóriasA Constituição da República prevê em seu Capítulo VII que trata da Ad-

ministração Pública que, ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão contratados mediante processo de licitação pública que as-segure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qua-lificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (art. 37, inciso XXI).

Segundo o art. 22, inciso XXVII da Carta Política, compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e funda-cionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o dispos-to no dispositivo acima citado, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do seu art. 173, §1.º, inciso III.

Esse dispositivo prevê que as regras de licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações das empresas públicas e sociedades de eco-nomia mista que explorem atividade econômica deverão observar os princí-pios da administração pública e estarão dispostas em seus estatutos jurídi-cos, os quais serão estabelecidos por lei.

A fim de regulamentar o artigo 37, inciso XXI da Constituição da Repú-blica, foi publicada no dia 22 de junho de 1993 a Lei 8.666, a qual estabe-lece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes

* Pós-Doutor em Direi-to Administrativo pela Universidade de Coim-bra (Portugal). Professor Doutor de Direito Admi-nistrativo na Faculdade de Direito da USP (Largo São Francisco), onde leciona na graduação e na pós- -graduação. Foi Procura-dor do Estado do Paraná por 15 anos e hoje é Con-sultor em Direito Adminis-trativo, Constitucional e do Terceiro Setor, em São Paulo. Autor dos livros Contrato de Gestão (Ed. RT), Consórcios Públicos (Ed. RT), Direito Admi-nistrativo Democrático (Ed. Fórum), Parcerias na Saúde (Ed. Fórum), Direi-to do Terceiro Setor (Ed. Fórum) e Terceiro Setor, Empresas e Estado (Ed. Fórum). Autor de diversos artigos científicos e Dire-tor da Revista de Direito do Terceiro Setor – RDTS (Ed. Fórum).

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a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Subordinam-se também ao disposto na Lei 8.666, além dos órgãos da ad-ministração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Importante citar a Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006 – Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte – que prevê normas referentes à participação de microempresas e empresas de pequeno porte em licitações (arts. 42 a 49). A Lei 11.488, de 15 de junho de 2007, em seu artigo 34, determina a aplicação da Lei Complementar também às Socie-dades Cooperativas.

O Decreto 6.204, de 5 de setembro de 2007, regulamenta o tratamento favorecido, diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de pequeno porte nas contratações públicas de bens, serviços e obras, no âmbito da administração pública federal.

A recente Lei 12.232, de 29 de abril de 2010, dispõe sobre as normas gerais para licitação e contratação pela administração pública de serviços de pu-blicidade prestados por intermédio de agências de propaganda e dá outras providências.

Para Odete Medauar (2010, p. 187), licitação

é o processo administrativo em que a sucessão de fases e atos leva à indicação de quem vai celebrar contrato com a Administração. Visa, portanto, selecionar quem vai contratar com a Administração, por oferecer proposta mais vantajosa ao interesse público. A decisão final do processo licitatório aponta o futuro contratado.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2010, p. 350) define licitação como

o procedimento administrativo pelo qual um ente público, no exercício da função administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração de contrato.

José dos Santos Carvalho Filho entende a licitação como

[...] o procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos – a celebração de contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico. (CARVALHO FILHO, 2009, p. 226)

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Quadro normativo referente a licitações:

Constituição FederalArt. 37, inc. XXIArt. 22, inc. XXVII

Lei 8.666/93

Lei Complementar 123/2006 Arts. 42 a 49

Lei 11.488/2007 Art. 34

Decreto 6.204/2007

Lei 12.232/2010

PrincípiosConforme já apontado por Maria Sylvia Di Pietro (2010, p. 353-354)2, não

há uniformidade entre os doutrinadores na indicação dos princípios infor-mativos da licitação. Sendo assim, buscar-se-á tratar no presente material os principais princípios elencados por diversos autores nacionais como especí-ficos à licitação.

FormalismoO artigo 4.º da Lei 8.666/93 determina que todos os integrantes da licita-

ção têm o direito subjetivo à observância dos trâmites legais definidores do procedimento.

Marçal Justen Filho ao tecer comentários acerca do referido dispositivo denota que “A Lei e o Edital estabelecem a ordenação a ser observada. O des-cumprimento das fases e sequências estabelecidas acarreta o vício do proce-dimento como um todo”. Em seguida, o referido doutrinador estabelece um paralelo entre o devido processo legal e o por ele denominado “devido pro-cedimento licitatório”. A expressão demonstra que o processo licitatório se trata de uma série de atos encadeados e preordenados, percorrendo todas as formalidades legais. Assim sendo, o respeito às formalidades procedimen-tais acarretará presunção de que tenha se obtido resultado mais satisfatório ao interesse público.

Para o autor, esse princípio tem o claro objetivo de proteção aos adminis-trados, como decorrência lógica do princípio da indisponibilidade do inte-resse público (JUSTEN FILHO, 2009, p. 96-99).

2 Segundo a autora: “José Roberto Dromi (1975, p. 134) indica dois: o da livre concorrência e o da igual-dade entre os concorrentes; Sayaguéz Laso (1940, p. 52-53) também aponta dois: o da igualdade de todos frente à Administra-ção e o estrito cumprimento do edital; Adilson Abreu Dallari fala em três prin-cípios: os da igualdade, publicidade e rigorosa ob-servância das condições do edital (1973, p. 33); a esses três Celso Antonio Ban-deira de Mello (1980, p. 2) acrescenta o da possibilida-de do disputante fiscalizar o atendimento dos princípios anteriores. Hely Lopes Meirelles (2003, p. 265) relaciona maior número de princípios: procedi-mento formal, publicidade, igualdade entre os licitan-tes, sigilo das propostas, vinculação aos termos do instrumento convocatório, julgamento objetivo e adju-dicação compulsória.”

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De acordo com Hely Lopes Meirelles (2010, p. 282) o princípio do pro-cedimento formal não deve ser aplicado de maneira absolutamente irres-trita, uma vez que diante de omissões ou irregularidades irrelevantes, que não causem prejuízo aos concorrentes ou à Administração Pública, não será compulsória a necessidade de anulação do procedimento ou inabilitação do concorrente.

IgualdadeDe acordo com Celso Antonio Bandeira de Mello (2007, p. 514), o referido

princípio impõe tratamento isonômico a todos os participantes do processo licitatório, bem como que a Administração oportunize sua disputa a quais-quer interessados que possam oferecer as indispensáveis condições de ga-rantia e que dele desejam participar.

Hely Lopes Meirelles (2010, p. 283) explica que “a igualdade entre os lici-tantes é princípio impeditivo da discriminação entre os participantes do cer-tame, quer através de cláusulas que, no edital ou convite, favoreçam uns em detrimento de outros, quer mediante julgamento faccioso, que desiguale os iguais ou iguale os desiguais”.

O princípio da igualdade está expresso no artigo 3.º, §1.º, inc. I, da Lei 8.666/93. No entanto, conforme afirma Maria Sylvia Di Pietro, no mesmo artigo encontram-se algumas exceções ao referido princípio.

Dentre tais exceções, destaca-se aquela prevista no §2.º do art. 3.º da referida Lei, o qual assegura, em igualdade de condições, como critério de desempate, preferência, sucessivamente, aos bens e serviços: I - produzidos ou prestados por empresas brasileiras de capital nacional; II - produzidos no País; III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras; IV - produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no País.

Além das exceções do princípio da isonomia previstas na Lei 8.666/93, aponta a autora supracitada que “a Lei Complementar 123, de 14 de dezem-bro de 2006, criou outras exceções em favor das microempresas e empresas de pequeno porte” (DI PIETRO, 2010, p. 355-356).

Consoante Celso Antonio Bandeira de Mello (2007, p. 515) os benefícios concedidos às microempresas e empresas de pequeno porte correspondem, na verdade,

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[...] um exemplo paradigmático da aplicação positiva (ou seja, não meramente negativa) do princípio da igualdade, o qual, como é sabido, conforta tratamentos distintos para situações distintas, sempre que exista uma correlação lógica entre o fator discriminante e a diferença de tratamento.

Jurisprudência:

STF, ADI 2.716, rel. Min. Eros Grau, j. 29/11/2007; �

TCU, Acórdão 1.231/2008, Plenário, rel. Min. Guilherme Palmeira. �

Sigilo na apresentação das propostasA Lei 8.666/93 não prevê expressamente o princípio do sigilo na apre-

sentação das propostas, mas prescreve, em seu artigo 3.º, §3.º, que o seu conteúdo não é público nem acessível ao público até o momento previsto para sua abertura.

Explica Hely Lopes Meirelles que tal princípio “é consectário da igualdade entre os licitantes, pois ficaria em posição vantajosa o proponente que viesse a conhecer a proposta de seu concorrente antes da apresentação da sua”.

Observa ainda que “A abertura da documentação ou das propostas ou a revelação de seu conteúdo antecipadamente, além de ensejar a anulação do procedimento, constitui também ilícito penal, com pena de detenção e multa”, conforme art. 94 da Lei 8.666 (MEIRELLES, 2010, p. 285).

Vinculação ao instrumento convocatórioPrevisto no artigo 41 da Lei 8.666/93, o referido princípio é tratado por

José dos Santos Carvalho Filho como garantia do administrador e dos ad-ministrados, isto, pois, “significa que as regras traçadas para o procedimento devem ser fielmente observadas por todos”.

Aduz o autor que através do princípio da vinculação ao instrumento con-vocatório “evita-se a alteração de critérios de julgamento, além de dar a certe-za aos interessados do que pretende a Administração”, bem como “qualquer brecha que provoque violação à moralidade administrativa, à impessoalida-de e à probidade administrativa” (CARVALHO FILHO, 2009, p. 235).

Cumpre anotar lição de Marçal Justen Filho (2009, p. 543), no sentido de que “o edital é o fundamento de validade dos atos praticados no curso da li-

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citação, na acepção de que a desconformidade entre o edital e os atos admi-nistrativos praticados no curso da licitação se resolve pela invalidade destes últimos”. E que “o descumprimento às regras do edital acarreta a nulidade dos atos infringentes”.

Jurisprudência:

STF, MS-AgR 24.555/DF, 1.ª T., rel. Ministro Eros Grau, j. 21/02/2006; �

STJ, RMS 22.647/SC, 1.ª T., rel. Min. Denise Arruda, j. 10/04/2007. �

Julgamento objetivoConforme estipula a Lei 8.666/93, com previsão em seus artigos 3.º e 44, a

avaliação das propostas deve acontecer de maneira estritamente vinculada aos critérios legais e do edital.

Hely Lopes Meirelles (2010, p. 286) explica que o referido princípio “visa afastar o discricionarismo na escolha das propostas, obrigando os julgadores a aterem-se ao critério prefixado pela Administração, com o quê se reduz e se delimita a margem de valoração subjetiva, sempre presente em qualquer julgamento”.

Marçal Justen Filho (2009, p. 587-588) aduz que existe discricionariedade no momento em que a Administração Pública elabora o edital, escolhendo os critérios de julgamento que acarretam na definição do tipo de licitação. Porém, para o autor, tal discricionariedade não pode existir no momento da avaliação das propostas. Ou seja, os critérios escolhidos pela administração para elaboração do edital não podem ensejar subjetividade do julgador na seleção das propostas.

Adjudicação obrigatóriaO princípio da adjudicação compulsória impõe à Administração Pública o

dever de não atribuir o objeto a outrem, senão o vencedor do procedimento licitatório.

Hely Lopes Meirelles (2010, p. 286) explica que “a adjudicação ao vence-dor é obrigatória, salvo se este desistir expressamente do contrato ou não o firmar no prazo prefixado, a menos que comprove justo motivo”.

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Mister se faz destacar as diferenças entre adjudicação e celebração do con-trato, pois é possível para a Administração Pública revogar, anular ou adiar a celebração do contrato. O que o princípio em tela veda é que, enquanto válida a licitação, o Poder Público celebre o contrato com sujeito diferente do que ofereceu a proposta definida como a mais vantajosa, assim como, enquanto válida a licitação abra novo procedimento licitatório com o mesmo objeto.

EconomicidadeA economicidade, assim como a vantajosidade, que segundo Marçal

Justen Filho abrange a primeira, não passam de materializações do princípio da eficiência, que por sua vez encontra estrutura na indisponibilidade do in-teresse público (JUSTEN FILHO, 2009, p. 64).

Diante da escassez de recursos, a própria Constituição Federal, principal-mente a partir da edição da emenda 19, conhecida como Reforma Adminis-trativa, impõe o dever de otimização na utilização do patrimônio público. Nos termos da lavra do doutrinador supracitado: “é imperioso que a sua utili-zação produza os melhores resultados econômicos do ponto de vista quan-titativo e qualitativo” (JUSTEN FILHO, 2009, p. 64).

Deve-se destacar que esse princípio não permite a definição do objeto ex-clusivamente sob o aspecto econômico, e que também entrega uma margem discricionária ao agente público, para que em situações concretas busque a resposta que possua maiores condições de satisfazer o interesse público.

Dispensa e inexigibilidade de licitaçãoO art. 37, inc. XXI da Constituição Federal ressalva à obrigatoriedade de li-

citação “os casos especificados na legislação”, ou seja, em determinadas situa-ções não será obrigatório o processo licitatório para realização do contrato.

Tais são os casos de dispensa e de inexigibilidade de licitação, respectiva-mente previstos nos artigos 24 e 25 da Lei 8.666/93.

Haverá dispensa somente nos casos especificados no artigo 24 da Lei de Licitações. Entende-se que o rol de situações previsto no referido disposi-tivo é taxativo e que tais casos ensejam competitividade, sendo possível efetuar licitação, mas só não são devido à faculdade prevista na lei (ME-DAUAR, 2010, p. 207).

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Diversamente haverá inexigibilidade quando à determinada situação não é possível realização do procedimento licitatório em razão da impossibilidade de competição. Desse modo, conclui-se que as situações previstas no artigo 25 da Lei 8.666/93 são exemplificativas, possibilitando ao administrador pú-blico, ainda que diante de uma situação não prevista legalmente, mas que não possibilite competitividade, justificadamente, deixe de realizar licitação.

Conforme Maria Sylvia Di Pietro (2010, p. 365)

A diferença básica entre as duas hipóteses está no fato de que, na dispensa, há possibilidade de competição que justifique a licitação; de modo que a lei faculta a dispensa, que fica inserida na competência discricionária da Administração. Nos casos de inexigibilidade, não há possibilidade de competição, porque só existe um objeto ou uma pessoa que atenda às necessidades da Administração; a licitação é, portanto, inviável.

Há autores que diferenciam ainda a licitação dispensada da licitação dis-pensável, aduzindo, em síntese que nesta “a lei autoriza a Administração a, discricionariamente, deixar de realizar a licitação”, ao passo que na primeira a lei, diretamente, dispensa a licitação, casos previstos no art. 17, incisos I e II da Lei 8.666/93 (ALEXANDRINO, et al., 2009, p. 547).

ModalidadesA Lei 8.666/93, em seu artigo 22, prevê 5 (cinco) modalidades de licitação

e veda expressamente a criação de outras ou a combinação das modalida-des nela referidas (art. 22, §8.º). No entanto, a Lei 10.520/2002 instituiu nova modalidade, qual seja, o pregão.

Desse modo, consoante a Lei de Licitações e Contratos Administrativos, tem-se que a concorrência “é a modalidade de licitação entre quaisquer inte-ressados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto” (art. 22, §1.º). Geralmente utilizada para contratos de grande valor, a concorrência é a modalidade de licitação que exige maior rigor formal e ampla divulgação, ou seja, é a mais complexa das modalidades de licitação.

Para celebração de contratos relativos a obras, serviços e compras de menor vulto do que os que necessitam de concorrência, a tomada de preços “é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a ne-cessária qualificação” (art. 22, §2.º). Importante ressaltar que a Administração somente poderá exigir do licitante não cadastrado os documentos previstos

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nos arts. 27 e 31, que comprovem habilitação compatível com o objeto da licitação, nos termos do edital (art. 22, §9.º).

A Lei 8.666/93 define o convite como a

modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual fixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. (art. 22, §3.º)

“Existindo na praça mais de três possíveis interessados, a cada novo con-vite, realizado para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais de um interessado, enquanto existirem cadastrados não convidados nas últimas licitações” (art. 22, §6.º). Sendo impossível a obten-ção de três licitantes, as circunstâncias que ensejaram tal impossibilidade deverão ser devidamente justificadas no processo, sob pena de repetição do convite (art. 22, §7.º).

Concurso “é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quaren-ta e cinco) dias” (art. 22, §4.º). Percebe-se que o que “determina a necessidade de realização de realizar a licitação na modalidade concurso é a natureza do seu objeto, não o valor do contrato” (ALEXANDRINO, et al., 2009, p. 586).

Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de:

bens móveis inservíveis para a Administração; �

produtos legalmente apreendidos ou penhorados; �

bens imóveis adquiridos em procedimentos judiciais ou mediante da- �ção em pagamento, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação (art. 22, §5.º).

Pregão é a modalidade de licitação instituída pela Lei 10.520/2002 pas-sível de utilização por todos os entes federados, para aquisição de bens e serviços comuns, não se importando o valor do contrato. Consideram-se bens e serviços comuns aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos no edital, por meio de especificações usuais praticados no mercado (art. 1.º, parágrafo único, Lei 10.520/2002).

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Fases da licitaçãoAs fases do processo licitatório podem variar de acordo com cada moda-

lidade de licitação. Na tomada de preços e no convite, por exemplo, a fase de habilitação é simplificada; no pregão há inversão da ordem de fase, de maneira com que a fase da habilitação seja realizada somente após o julga-mento da proposta.

Assim, “levando-se em conta o momento do anúncio público da licitação, as fases são as seguintes: fase inicial, também denominada instauração ou abertura, expressa pelo edital; habilitação; classificação; julgamento; homolo-gação e adjudicação”(MEDAUAR, 2009).

EditalDe acordo com Odete Medauar (2010, p. 199-200), “depois de providên-

cias internas da Administração e do prévio exame e aprovação da respecti-va assessoria jurídica, o edital é publicado e partir daí desencadeiam-se as demais fases, se houver propostas apresentadas”.

Maria Sylvia Di Pietro (2010, p. 390) explica que “costuma-se dizer que o edital é a lei da licitação” mas “é preferível dizer que é a lei da licitação e do contrato, pois o que nele se contiver deve ser rigorosamente cumprido, sob pena de nulidade”.

O artigo 40 da Lei 8.666/93 prevê dados que obrigatoriamente devem estar contidos no edital.

HabilitaçãoA habilitação é a fase do certame licitatório em que se objetiva a aná-

lise das condições de qualificação daqueles que pretendem contratar com a administração pública, para que, conforme Odete Medauar, se verifique se os licitantes detêm condições para celebrar e executar o futuro contrato (MEDAUAR, 2010, p. 201).

A Constituição Federal de 1988 determina, em seu artigo 37, inciso XXI, que somente serão permitidas as exigências de qualificação técnica e econô-mica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

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Por sua vez o artigo 27 da Lei 8.666/93, ao elencar os pressupostos exigí-veis pela Administração Pública para efeito de habilitação dos interessados em participar da licitação, determina que, para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados, exclusivamente, documentação relativa à habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira, regularidade fiscal e trabalhista e cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7.º da Constituição Federal, referente à proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezes-seis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.

A sistemática adotada pela Lei 8.666/93 caminha no sentido de possi-bilitar a verificação de tais condições em fases e momentos diferentes, de acordo com a modalidade de licitação adotada.

ClassificaçãoA fase de classificação, nos termos da Lei 8.666/93, consiste na “abertura

dos envelopes contendo as propostas dos concorrentes habilitados, desde que transcorrido o prazo sem interposição de recurso, ou tenha havido de-sistência expressa, ou após o julgamento dos recursos interpostos” (art. 43, III), e na “verificação de conformidade de cada proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços correntes no mercado ou fixados por órgão oficial competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de preços, os quais deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento, promovendo-se a desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis” (art. 43, IV).

Ou seja,

é a fase em que a comissão de licitação, em ato público, abre os envelopes contendo as propostas dos licitantes habilitados e verifica se o teor de cada proposta está conforme aos requisitos do edital ou do instrumento convocatório. Verifica, igualmente, se o preço ofertado está acima do limite legal para a modalidade, se está adequado aos preços correntes no mercado ou fixados no órgão oficial competente ou aos inseridos em registro de preços. (MEDAUAR, 2009)

JulgamentoA presente fase “consiste no confronto das ofertas, classificação das pro-

postas e determinação do vencedor, ao qual, deverá ser adjudicado o objeto da licitação” (ALEXANDRINO, et al., 2009, p. 576).

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Deverá observar os critérios de julgamento que “vão caracterizar os cha-mados tipos de licitação” (MEDAUAR, 2010, p. 204). Constituem tipos de lici-tação, exceto na modalidade de concurso:

de menor preço � : quando o critério de seleção da proposta mais van-tajosa para a Administração determinar que será o vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço.

de melhor técnica � : “em que o parâmetro de julgamento é o ofereci-mento de melhor técnica para executar o objeto do futuro contrato” (MEDAUAR, 2010, p. 204). Observar o art. 46 da Lei 8.666/93.

de técnica e preço � : a classificação dos proponentes far-se-á de acordo com a média ponderada das valorizações das propostas técnicas e de preço, de acordo com os pesos preestabelecidos no instrumento con-vocatório (art. 46, §2.º, I e II, Lei 8.666/93).

de maior lance ou oferta � : nos casos de alienação de bens ou conces-são de direito real de uso.

Homologação e adjudicaçãoA homologação é a fase da licitação na qual a autoridade superior confere

validade aos atos processuais realizados durante o processo licitatório. “[...] ela é precedida do exame dos atos que o integraram pela autoridade com-petente (indicada nas leis de cada unidade da federação), a qual, se verificar algum vício de ilegalidade, anulará o procedimento ou determinará seu sa-neamento, se cabível. Se o procedimento estiver em ordem, ela o homologa-rá” (DI PIETRO, 2010 p. 400).

José dos Santos Carvalho Filho (2009, p. 281) entende que a adjudicação é consequência jurídica da homologação, “que espelha o ato pelo qual a Admi-nistração, através da autoridade competente, atribui ao vencedor do certame a atividade que constitui o objeto da futura contratação”.

Maria Sylvia Di Pietro (2010, p. 400) explica que a adjudicação é “ato de-claratório que não se confunde com a celebração do contrato, pois, por meio dele, a Administração proclama que o objeto da licitação é entregue ao ven-cedor. Depois de praticado esse ato é que a Administração vai convocá-lo para assinar o contrato”.

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Anulação e revogaçãoO artigo 49 da Lei 8.666/93 prevê o desfazimento do processo licitatório a

partir da revogação quando presentes razões de interesse público decorren-te de fato superveniente devidamente comprovado, bem como da anula-ção quando presente alguma ilegalidade, podendo nesse caso agir de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

Dica de estudoLeitura integral dos instrumentos normativos referentes a licitações con-

tidos no quadro apresentado neste material.

ReferênciasALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplica-do. 17. ed. São Paulo: Método, 2009.

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 21. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Adminis-trativos. 13. ed. São Paulo: Dialética, 2009.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo: Revista dos Tri-bunais, 2010.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 36. ed. São Paulo: Ma-lheiros, 2010.

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