Curso de Direito Ambiental

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CURSO DE DIREITO AMBIENTAL

CURSO DE DIREITO AMBIENTAL MDULO NICOElaborao: Prof Renato Cosmi Bacharel em Direito, Especialista em Gesto Ambiental.Centro Cientifico Conhecer - GoisA terra existiu sem os nossos inimaginveis ancestrais, poderia muito bem existir hoje sem ns, existir amanh ou mais tarde ainda, sem nenhum de nossos descendentes, mas ns no podemos viver sem ela.

Michael Serres

EMENTA:

1 - Conceito de Direito;1.1 As dimenses do Direito;1.2 - Princpios do Direito Ambiental;2 - Teoria Geral do Direito Ambiental: Notas preliminares;

2.1 Direito Ambiental: Natureza Jurdica;

3 Meios processuais para a defesa do meio ambiente;

4 Ao popular;

4.1 Inqurito Civil;

5. O Meio Ambiente na Constituio Brasileira;

5.1 Competncias;

5.2 Competncia comum;

5.3 Competncia privativa da Unio;

5.4 Competncia concorrente;

5.5 Competncia municipal;

6 Inverso do nus da prova defesa do consumidor e a questo ambiental;7 O poder de polcia municipal e o licenciamento ambiental;

8 A regra do artigo 333 CPC;8.2 A aplicabilidade do nus da Prova na ao civil pblica ambiental;9 Conceito de responsabilidade;

9.1 Responsabilidade Civil;

10 Dano Ambiental;

10.1 Reparao do dano ambiental;11 Breve histrico da evoluo da Legislao Penal Ambiental Brasileira;

11.1 As Normas Penais Ambientais;

12 A responsabilidade da pessoa jurdica por crimes ambientais;12.1 A aplicao da sano.13 Estudos de caso1 - CONCEITO DE DIREITO: NOTA INTRODUTRIANo Sculo XXI, fcil observar que a sobrevivncia humana no planeta, desde os primrdios, esteve sempre condicionada sua interao com o meio ambiente. No entanto, essa percepo nem sempre ocorreu de forma to ntida como a que temos nos dias de hoje, visto que a evoluo dos conhecimentos foi lenta e gradual.

poca das cavernas, os humanos nmades, viviam ainda em estado de natureza: de acordo com suas necessidades fsicas buscavam este ou aquele local, sob a condio nica de encontrarem gua e alimentao, vez que ainda no se tinha notcias de quaisquer tcnicas agrcolas ou pecuaristas.

Logo, a primeira idia de proteo da natureza foi concebida no pela conscincia de sua necessidade e utilidade na vida do homem, mas sim pelo temor a Deus, j que o homem temia ser julgado por aquilo que fizesse contra a natureza. E isso ilustrado pelo pensamento inicial deste, sobre o que o Filsofo Michael Serres disse sobre a natureza e sua continuidade.Importante tambm mencionar o surgimento dos Direitos Humanos, Fundamentais para o reconhecimento do prprio homem, como tambm, sculos mais tarde, do meio ambiente. Para Bobbio, doutrinador de renome internacional, o surgimento e o crescimento de determinados direitos esto intimamente ligados transformao da sociedade e suas necessidades.

Assim, do ponto de vista jurdico, o meio ambiente, alm de ser elemento essencial para a manuteno da sadia qualidade de vida no planeta, um Direito Fundamental de 3 Gerao e um bem difuso.

No h como falar em Direitos Fundamentais, sem mencionar o fato de que por muitos sculos, perdurou no direito ocidental, cuja gnese o Direito Romano, a idia de que os conflitos sociais poderiam ser dirimidos tendo como base o direito positivo, ou seja, aquele estabelecido atravs de uma lei, sob o ponto de vista individual.

A palavra direito pode ser utilizada em dois sentidos: o primeiro, o que se refere norma estabelecida na lei, ou seja, a regra jurdica; e o segundo, o que se refere faculdade, que todos temos, de exigir um determinado comportamento alheio, em defesa de nossos direitos. Assim, o Direito, no sentido de direito objetivo, um preceito hipottico e abstrato, destinado a regulamentar o comportamento humano na sociedade, e cuja caracterstica essencial a sua fora coercitiva, que lhe atribuda pela prpria sociedade. Essa fora, inerente apenas norma jurdica, significa que a organizao social, o Estado, interfere, ou deve interferir, para que o preceito legal seja obedecido. Para essa finalidade, a regra jurdica contm, normalmente, alm do mandamento regulamentador da conduta humana, uma outra disposio, aquela que estabelece as conseqncias para o caso de transgresso da norma. Essa outra disposio da regra jurdica se chama sano.

Mas devemos pensar no que o Direito ou o que deve ser o Direito? Para Kelsen, que pretendeu afastar da teoria jurdica a preocupao com o que justo e o que injusto, discutir sobre a justia tarefa da tica, cincia que no se preocupa com as normas jurdicas, mas com o certo e o errado, com o justo e o injusto.

O Direito, no resta dvida, um produto da prpria convivncia social. As regras jurdicas so produzidas e aplicadas pelos governantes, que conquistam o poder, ou nele se mantm, atravs de diversos processos, ditos democrticos ou autocrticos, e supostamente, sempre, com a finalidade de obter o bem comum e a paz social. O problema que, s vezes, ou at com muita freqncia, como o Direito no suficiente para controlar o poder, os governantes abusam, e se preocupam mais com os seus interesses e com as suas paixes, do que com o interesse pblico.

Evidentemente, se a nossa Constituio afirma que o poder pertence ao povo, e hoje nenhum governante teria a coragem de negar esse fato - ou essa mentira, dependendo das circunstncias -, no resta dvida de que a conservao e tambm o acrscimo desse poder dependero, ou ao menos deveriam depender, da aquiescncia do povo, porque preciso que o exerccio do poder corresponda aos interesses de quem a ele est submetido. Em caso contrrio, sem a concordncia do povo, o governante, para se manter, depender sempre da represso ou da dissimulao, e para se justificar produzir discursos de verdade, atravs de regras jurdicas que ocultem o fato da dominao, que legitimem o seu poder e que estabeleam a obrigao legal da obedincia, obtendo, assim, a paz social, embora atravs da hipocrisia. Em outras palavras: se o governante no respeitar o interesse do povo, precisar engan-lo, ou apelar para a violncia, pura e simplesmente. E, como conseqncia, no teremos Direito, no sentido de justia. Mas, apesar disso, teremos as milhares de normas jurdicas, nacionais, federais, estaduais e municipais; os juristas, os advogados e as escolas de Direito; as casas legislativas, os administradores e os tribunais. Enfim, toda uma enorme, complexa e dispendiosa parafernlia, paga com os nossos tributos, destinada a produzir e a aplicar o Direito. Ou melhor: aquilo que o Estado impe, como se fosse o Direito.

Segundo o professor Fernandez, o Direito no mais nem menos que uma estratgia scio-adaptativa cada vez mais complexa, mas sempre notavelmente deficiente, empregada para articular argumentativamente - de fato, nem sempre com justia - , por meio da virtude da prudncia, os vnculos sociais relacionais elementares, atravs dos quais os homens constroem estilos aprovados de interao e estrutura social; ou seja, um artefato cultural que deveria ser manipulado para desenhar um modelo normativo e institucional que evite, em um entorno social prenhe de assimetrias e desigualdades, a dominao e a interferncia arbitrria recprocas e que, na mesma medida, garantindo uma certa igualdade material, permita, estimule e assegure a titularidade e o exerccio de direitos (e o cumprimento de deveres) de todo ponto inalienveis e que habilitem publicamente a existncia dos cidados como indivduos plenamente livres.

Ento, cada nao tem o Direito que merece, porque o corao de todo sistema jurdico exatamente este: o equilbrio, maior ou menor, do poder social. Se as pessoas esto sujeitas ao poder organizado do Estado, que impe as suas leis, no basta que essas leis tenham sido elaboradas pelos representantes do povo o que j uma parcela essencial no discurso de verdade, ou na socializao da hipocrisia -, mas preciso que os governados possam resistir ao poder. preciso que os detentores do poder possam ser controlados, para que se evitem os abusos, porque quando algum abusa do poder, muitos sofrero perdas mais ou menos radicais em seu poder e em sua liberdade; em sua capacidade de viver; de bem viver.

A Histria da Humanidade o relato da luta pelo poder, e da resistncia ao poder. o relato das tentativas de justificao do poder, que se confundem com a prpria legitimao da ordem jurdica, porque a idia de poder est nsita no conceito de ordem jurdica. Para Ihering, o objetivo do Direito a paz, mas a luta o meio de consegui-la.

A doutrina de Ihering, da luta pelo direito, corresponde, evidentemente, luta pelo poder, porque o Direito ter que rechaar o ataque causado pela injustia e isso durar enquanto o mundo estiver de p. A vida do Direito a luta, a luta de povos, de governos, de classes, de indivduos. Todo o Direito do mundo foi assim conquistado, todo ordenamento jurdico que se lhe contraps teve que ser eliminado e todo Direito, assim como o direito de um povo ou o de um indivduo, teve que ser conquistado com luta.

Em resumo: os direitos do povo so mais importantes do que os lucros dos legisladores, dos governantes, dos polticos, dos juzes e dos advogados. O Governo, as Casas Legislativas e os Tribunais existem, na verdade, apenas para servir o povo, e no para atender aos interesses egostas de uma minoria privilegiada. Aqui em baixo, porm, as leis so diferentes.

1.1 - MEIO AMBIENTE: DIREITO FUNDAMENTAL DE 3 GERAO (OU DIMENSO)Os Direitos Fundamentais nascem e evoluem de acordo com as necessidades que os seres humanos vo apresentando no decorrer dos tempos. Historicamente, nem sempre todos os homens foram reconhecidos como pessoas, sujeitos de direitos, mas sim como coisas, "res". Na sociedade greco- romana, os homens eram escravizados, por que no lhes era assistido o direito de liberdade. O seu corpo, sua alma e bens materiais, no lhe pertenciam. Quem os detinha era o Estado.O atual entendimento do que sejam Direitos Fundamentais se deu graas ao Cristianismo, atravs da separao entre corpo e alma, pelo qual, o corpo e os bens materiais pertenciam ao Estado, mas alma, esta, sim pertencia ao indivduo, de sorte a ocasionar a liberdade na ordem social. Outros valores tambm foram impressos, como a igualdade e a unidade, j que os filhos do mesmo Deus no podiam se odiar.

Mais tarde, na Idade Mdia, o que se verificava era a eterna imobilidade social, vez que existiam estamentos, onde cada um tinha direitos especficos: o alto clero (1 estamento) e a nobreza (2 estamento) no pagava impostos, ao passo que o 3 estamento, formado pelos servos, custeavam os ricos e os bem nascidos daquela poca.

A Revoluo Francesa, representando os interesses da burguesia em ascenso, trouxe consigo profundas mudanas polticas: liberdade, igualdade e fraternidade, refletindo a primeira gerao de Direitos Fundamentais. Logo, a Primeira Gerao de Direitos est relacionada aos direitos e garantias individuais polticos clssicos, remontando a poca da Magna Cartha".

Como o passar do tempo, apenas os direitos de primeira gerao no eram suficientes frente s necessidades de garantir a dignidade da pessoa humana. Na poca de Revoluo Industrial, o que se assistia era a explorao total dos trabalhadores, inclusive mulheres e crianas. Clama-se, ento, a partir dos meados do Sc. XIX, pelo que passaria a ser conhecido como Segunda Gerao de Direitos, contrapondo o Estado Liberal. Destarte, todas as Cartas Constitucionais, ps Primeira Guerra Mundial reconhecessem os direitos econmicos, sociais e culturais, ainda que no efetivados, porm, visando principalmente apaziguar os conflitos de classe, baseado em um modelo corporativo, coletivo, j que tornara-se impossvel solucionar os embates, apoiando-se no antigo paradigma, pelo qual cada indivduo dono de bens e ponto final.Os Direitos de Terceira Gerao, mais recentes, surgem aps a Segunda Grande Guerra, perodo em que grandes correntes filosficas, ideolgicas e polticas, abaladas pelos horrores nazistas, passaram a ter maior interesse pelos Direitos Humanos Fundamentais. Nessa categoria de direitos, esto relacionados os direitos difusos, como meio ambiente, a qualidade de vida, o direito paz e ao progresso, observado a autodeterminao dos povos.

Alguns doutrinadores entendem que os Direitos Fundamentais j estariam em sua Quarta Gerao. Estes direitos so relacionados com as descobertas cientficas e os avanos tecnolgicos, como o direito informtico, a proteo propriedade intelectual e imaterial e as questes relacionadas com a biotica e a biotecnologia.

1.2 - PRINCPIOS DO DIREITO AMBIENTALPara o tema Direito Ambiental necessrio abordar um panorama introdutrio sobre o que vem a ser os Princpios Gerais do Direito, onde exploraremos quais suas funes, qual sua natureza etc.

Princpios Gerais do Direito:

Princpio, do latim "principiu", significa o ato de principiar, momento de origem, ponto de partida.

Nos dicionrio, a expresso assim definida:

1. Momento ou local ou trecho em que algo tem origem;

2. Causa primria; 3. Elemento predominante na Constituio de um corpo orgnico;

4. Preceito, regra, lei;

5. P. ext. Base; germe;

6. Filos. Fonte ou causa de uma ao;

7. Filos. Proposio que se pe no incio de uma deduo, e que no deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado, sendo admitida, provisoriamente, como inquestionvel. So princpios os axiomas, os postulados, os teoremas etc"(AURLIO, 1986, p.1393).Miguel Reale, em seu livro, "Noes Preliminares de Direito" afirma que os princpios so:

"Verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas tambm por motivos de ordem prtica de carter operacional, isto , como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da prxis" (REALE, 1995, p.299).

Paulo Bonavides afirma que os princpios indicam as diretrizes de nosso ordenamento jurdico, ou seja, h uma supremacia dos princpios frente: "...a pirmide normativa; supremacia que no unicamente formal, mas sobretudo material, e apenas possvel na medida em que os princpios so compreendidos e equiparados e at mesmo confundidos com os valores, sendo, na ordem constitucional dos ordenamentos jurdicos, a expresso mais alta da normatividade que fundamenta a organizao do poder"(BONAVIDES, 1996,).

No mesmo sentido temos: "os princpios constituem a base, o alicerce de um sistema jurdico. So verdadeiras proposies lgicas que fundamentam e sustentam um sistema" (MARCO, 2008, p.10).

Assim, como se apreende do prprio nome, princpio aquilo que inicia algo, o ponto de partida, o marco zero de alguma cincia, assim "no se faz cincia sem princpio" (PORTANOVA, 2001, p.01).

o principio que vai indicar que norte tomar todo o rumo de uma cincia, sendo para a cincia do direito, portanto, de maior valia do que as normas jurdicas em si, pois aqueles esto contidos nestas, porm, no ocorre o contrrio. Os princpios tambm so sempre usados em casos em que as normas no conseguem abranger o caso em tela.Principais princpios ambientais:

Princpio da responsabilidade ou do poluidor-pagador todo aquele que lesar o meio ambiente obrigado a reparar o dano e a cessar. A responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente de natureza objetiva, derivada do risco da atividade, sendo desnecessrio a comprovao de dolo ou culpa. A responsabilidade solidria. Sujeita-se responsabilidade civil, penal e administrativa.

Princpio da preveno o principal objetivo evitar que ocorra dano ao meio ambiente. Deve ter iniciativa de forma repressiva no controle, a conservao e a fiscalizao do meio ambiente.

Princpio da educao visa promover a conscientizao coletiva em torno da necessidade de preservao do meio ambiente.

Princpio da funo social de propriedade a preservao do meio ambiente constitui um dos elementos fundamentais da propriedade no exerccio da sua funo social. No cumpre a funo social da propriedade rural que degrada o meio ambiente.

Princpio da participao e cooperao todos devem participar, tanto o poder pblico quanto a coletividade. Todos devem primar pela construo de valores sociais e iniciativas voltadas para o meio ambiente. Princpio do desenvolvimento sustentvel o desenvolvimento econmico deve compatibilizar-se com a preservao do meio ambiente. A explorao do meio ambiente necessria, no entanto, deve ser realizada de forma equilibrada, para que no ocorra o esgotamento dos recursos naturais existentes.

Princpio da interveno estatal obrigatria o Poder Pblico tem o dever de assegurar a efetivao das garantias preservao do meio ambiente. A tutela do meio ambiente responsabilidade do Poder Pblico.

Princpio da ubiqidade a garantia de um meio ambiente equilibrado, pautado em uma vida saudvel, constitui bem jurdico universalmente tutelado.

2 - TEORIA GERAL DO DIREITO AMBIENTALCONCEITO DE MEIO AMBIENTE

Inmeros so os conceitos de meio ambiente. Cabe dizer que o termo meio ambiente bastante criticado por doutrinadores de vrios ramos do conhecimento, isso porque, a palavra meio diz respeito a aquilo que o centro de alguma coisa. Do mesmo modo, ambiente quer indicar uma rea onde se encontram os seres vivos. Logo, do ponto de vista lingstico, estaramos, diante de um pleonasmo.

O meio ambiente o habitat dos seres vivos. Esse habitat (meio bitico), formado por um conjunto harmonioso de condies essenciais para a existncia da vida como um todo. A biologia estuda os seres vivos de modo isolado, independentemente do seu meio ambiente. A ecologia estuda os a relao dos seres vivos com o meio ambiente. A expresso ecologia provm das palavras gregas oikos (casa) e logos (estudo), ou seja, estudo do habitat dos seres vivos. (SIRVINSKAS, 2003, 28).Do ponto de vista legal, o conceito de meio ambiente, em se tratando de Brasil, encontrado no bojo da Lei 6938/81.

Art. 3- Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I- meio ambiente, o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.MEIO AMBIENTE NATURAL (OU FSICO): Constitudo pelo solo, gua, ar atmosfrico, flora e fauna ( Art. 225, 1, 1 e VII da Constituio Federal de 1988). a natureza como ela se apresenta, sem a interveno humana, chamada de antropizao. Quando ocorre a substituio de uma vegetao nativa por uma espcie cultivada, um caso de antropizao do meio ambiente. Por exemplo, a criao de pastagens.MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL: Mesmo o meio ambiente alterado pelo homem, continua sendo meio ambiente. o meio ambiente artificializado, antropizado. Pode ser compreendido pelo espao urbano construdo, consistindo no conjunto de edificaes (chamado espao urbano fechado) e pelos equipamentos pblicos (espao urbano aberto)MEIO AMBIENTE CULTURAL: necessrio ter cuidado para estabelecer uma delimitao. O meio ambiente cultural constitudo pelo patrimnio histrico, artstico, arqueolgico, paisagstico e turstico, que embora artificial, como obra do homem, difere do ambiente natural (que tambm cultural) pelo sentido de valor especial.O art. 216 da Constituio Federal de 1988: Constituem o patrimnio cultural brasileiro: I- as formas de expresso;

II- os modos de criar, fazer e viver;

III- as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;

IV- as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais;

V- os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico.

Pargrafo primeiro: "O Poder Pblico, com a colaborao da comunidade, promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por meio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e de outras formas de acautelamento e preservao." Inclui-se dentro do patrimnio cultural, as cavidades naturais subterrneas: "As cavidades naturais subterrneas existentes no territrio nacional constituem patrimnio cultural brasileiro, e, como tal, sero preservadas e conservadas de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem tcnico-cientfica, bem como atividades de cunho espeleolgico, tnico-cultural, turstico, recreativo e educativo." (Decreto 99.556, 01/10/1990).2.1 - DIREITO AMBIENTAL: NATUREZA JURDICA

O Direito Ambiental trabalha as normas jurdicas dos vrios ramos do direito, e se relaciona com outras reas do saber humano como a biologia, a fsica, a engenharia, o servio social, etc. , portanto o Direito Ambiental uma matria transdisciplinar que busca adequar o comportamento humano com o meio ambiente que o rodeia.

um ramo bastante recente dentro do ordenamento jurdico: no Brasil, at 1981, no se falava em tal disciplina de forma autnoma, sendo a mesma considerada um desdobramento do Direito Administrativo.

Com o advento da Lei 6938/81 e, por conseguinte, da Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA), o Direito Ambiental adquiriu status de ramo independente do direito, sendo perfeitamente possvel estabelecer seu regime jurdico, suas definies, princpios, conceitos, diretrizes, instrumentos e rgos peculiares.

um ramo do Direito Pblico, mas os interesses defendidos pelo Direito Ambiental no diz respeito categoria dos direitos pblicos, nem tampouco dos direitos privados, por se tratar uma disciplina que cuida dos direitos que pairam entre a zona do pblico e do privado; a categoria dos direitos difusos.3 - MEIOS PROCESSUAIS PARA A DEFESA DO MEIO AMBIENTEComo vivemos em um Estado Democrtico de Direito, no nos assistido o direito de "fazer justia com as prprias mos. Deste modo, cabe ao Judicirio, toda vez que provocado dizer o direito, solucionando a lide proposta por um autor(es) contra determinado(s) ru(s). Este o Princpio da Indeclinabilidade da Jurisdio.

No caso especfico da proteo do meio ambiente, existem algumas aes que podem ser utilizadas como a Ao Civil Pblica, a Ao Popular, o Mandado de Segurana Coletivo e o Mandado de Injuno.

Para efeitos didticos, vamos tratar apenas da Ao Civil Pblica e da Ao Popular, meios processuais de defesa, alm da atuao do Ministrio Pblico, extremamente relacionados com o Princpio da Participao, pelo qual h uma efetiva participao social, na defesa e proteo de um bem que pertence a todos.

A modalidade de ao prevista constitucionalmente no Art. 129, III legalmente atravs da Lei 7.347/85. ajuizada no Juzo Cvel visando defender e proteger bens sociais e pblicos e os interesses coletivos e difusos.

A Lei 7.347/85 prev duas espcies de tutela: a repressiva (ocorre quando o agente j cometeu a conduta lesiva ao meio ambiente) e a preventiva (permite evitar a consumao de danos ao meio ambiente). A tutela preventiva pode ser exercida mediante a utilizao de dois mecanismos distintos: atravs da ao cautelar (acautela o direito- Art. 4 da Lei), ou atravs da liminar (desde que presentes o "periculum in mora" e o "fumus boni iuris" - Art. 12 da Lei).

Em se tratando da legitimidade ativa (legitimidade para propor a ao), a Unio, os Estados e os Municpios, o Ministrio Pblico, como tambm as Autarquias, Empresas Pblicas, Fundaes, Sociedade de Economia Mista e Associaes, fundadas h mais de um ano, nos termos da lei civil, que inclua entre suas finalidades institucionais a proteo ao meio ambiente ou a qualquer outro bem ou interesse difuso/ coletivo esto aptas para propor a ACP. Importante ressaltar que permitido o Litisconsrcio (quando h mais de um autor propondo a mesma ao) e a Assistncia (pelo Ministrio Pblico, por exemplo).Quanto ao plo passivo, no h qualquer especificidade. Assim, tanto pessoas fsicas quanto jurdicas que de alguma forma causaram ou contriburam para que o dano ambiental ocorresse sero demandadas.

O causador do dano ou poluidor poder ser condenado, dependendo da natureza do pedido formulado na ao, de acordo com o caso concreto, conforme diz o Art. 3, pelo qual as condenaes na ACP podero ter por objeto a condenao em dinheiro ou o cumprimento da obrigao de fazer ou no fazer.

4 - AO POPULAR

A Ao Popular uma antiga forma jurisdicional, cujas origens remontam o Direito Romano, porquanto o direito defendido no correspondia ao individual, mas sim do indivduo como membro da sociedade.

No Brasil, essa garantia constitucional foi prevista primeiramente na Constituio de 1934.A Constituio Federal de 88 em seu Art. 5, LXXIII, dispe que qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular o ato lesivo contra o meio ambiente e outros direitos e interesses difusos.

O pressuposto para a propositura da Ao Popular a ocorrncia de um ato lesivo contra o meio ambiente.

A finalidade da Ao Popular anular o ato lesivo, portanto desconstituir o ato j praticado. No entanto, se for um ato material propriamente dito, por exemplo, se uma empresa sem licena para funcionar desrespeitar a norma e poluir o ambiente, a pretenso da Ao Popular ser eliminar o ato que est sendo praticado, de modo a prescrever a absteno da prtica.

importante salientar que, estando o ato consumado, ainda que as conseqncias nocivas ao meio ambiente estejam sendo produzidas, no caber Ao Popular, porquanto esta no se presta a reparao do dano- seno estaramos no campo de incidncia da ACP, alm do que visa atacar o ato e no suas conseqncias.Para a determinao do rito processual a ser seguido, dever ser levado em conta o bem tutelado. Na defesa dos bens pblicos dever ser observado o procedimento prescrito pela Lei 4.717/65 e na defesa do meio ambiente o procedimento adotado o da Lei 7.347/ 85 e o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC).

Em se tratando da legitimidade ativa, estabelece a Lei 4.717/ 65 ser necessria a prova de cidadania para ingresso em juzo, feita mediante a apresentao do ttulo eleitoral ou documento equivalente. No entanto, parte da doutrina tm afirmado que na defesa do meio ambiente, seria o ttulo eleitoral uma prova dispensvel, justamente pelo fato de ser o meio ambiente um bem difuso.

4.1 - INQURITO CIVILProcedimento administrativo de carter investigatrio e natureza inquisitorial, exclusivo do Ministrio Pblico, destinado a fornecer provas e demais elementos de convico que fundamentem uma futura ao judicial, na busca da defesa de valores e interesses trans-individuais.

Como se trata de procedimento administrativo no destinado a aplicao de penas ou sanes, mas sim para a apurao de fatos para embasamento de uma futura ao judicial (Ao Civil Pblica- ACP), no confere ao investigado a Ampla Defesa e o Contraditrio. Esta caracterstica se torna ainda mais evidente quando a lei dos crimes ambientais explicita em seu Art. 19, Pargrafo nico que a percia produzida no inqurito civil ou no juzo cvel poder ser aproveitada no processo penal, instaurando- se o contraditrio.

Todavia, se o Promotor de Justia entender j existirem elementos convincentes, poder promover de imediato a ACP, alm do que, poder promover a Ao Penal Pblica, desde que haja materialidade de crime e indcios de autoria.

Portanto, o pressuposto para a instaurao do Inqurito Civil a existncia de fato determinado, do qual decorra ou possa decorrer leso ao meio ambiente. Cabe dizer ainda, que o Inqurito Civil ser instaurado por meio de portaria, por despacho admitindo representao, por determinao do Procurador Geral de Justia ou do Conselho Superior do Ministrio Pblico.

A concluso do Inqurito Civil se d com a propositura da ACP ou o seu arquivamento. Fato curioso que a Lei 7.347/85 no estipulou prazo para a concluso do Inqurito Civil, deixando tal determinao a cargo do Ministrio Pblico local, atravs de suas Leis de Organizao.

Se o Promotor de Justia entender ser o caso de arquivamento, o Inqurito Civil dever ser enviado para o Conselho Superior do Ministrio Pblico para exame, do qual, poder se chegar as seguintes concluses: a ratificao do arquivamento (no haver prosseguimento no Inqurito, nem a propositura da ACP) ou a discordncia com o arquivamento (outro Promotor ser designado para prosseguir com as investigaes ou para ajuizar a ACP).

Uma vez arquivado o Inqurito Civil, fica o Ministrio Pblico impedido de propor ACP. Mas, nada impede que os outros legitimados o faam.

5 - O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIO BRASILEIRA

Em 1.988 nossa Lei Fundamental, pela primeira vez na histria, abordou o tema meio ambiente, dedicando a este um captulo, que contempla no somente seu conceito normativo, ligado ao meio ambiente natural, como tambm reconhece suas outras faces: o meio ambiente artificial, o meio ambiente do trabalho, o meio ambiente cultural e o patrimnio gentico, tambm tratados em diversos outros artigos da Constituio.

O Art. 225 exerce na Constituio o papel de principal norteador do meio ambiente, devido a seu complexo teor de direitos, mensurado pela obrigao do Estado e da Sociedade na garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, j que se trata de um bem de uso comum do povo que deve ser preservado e mantido para as presentes e futuras geraes.

Artigos Constitucionais dedicados ao meio ambiente ou a ele vinculados:

Art. 5 : XXIII; LXXI; LXXIII

Art. 20: I; II; III; IV; V; VI; VII; IX; X; XI e 1 e 2

Art. 21: XIX; XX; XXIII a, b e c; XXV

Art. 22: IV; XII; XXVI

Art. 23: I;III; IV; VI; VII; IX; XI

Art. 24: VI; VII; VIII

Art. 43: 2, IV e 3

Art. 49: XIV; XVI

Art. 91: 1, III

Art. 129: III

Art. 170: IV

Art. 174: 3 e 4

Art. 176 e

Art 182 e

Art. 186

Art. 200: VII; VIII

Art. 216: V e 1, 3 e 4

Art. 225

Art. 231

Art. 232

Arts. 43 e 44 do ADCT.

5.1 - COMPETNCIASA Constituio, alm de consagrar a preservao do meio ambiente, anteriormente protegido somente a nvel infraconstitucional, procurou definir as competncias dos entes da federao, inovando na tcnica legislativa, por incorporar ao seu texto diferentes artigos disciplinando a competncia para legislar e para administrar. Essa iniciativa teve como objetivo promover a descentralizao da proteo ambiental. Assim, Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal possuem ampla competncia para legislarem sobre matria ambiental, apesar de no raro surgem os conflitos de competncia, principalmente junto s Administraes Pblicas.

Competncia Privativa da Unio

Somente pode ser exercida pela Unio, salvo mediante edio de Lei Complementar que autorize os Estados a legislarem sobre as matrias relacionadas com as guas, energia, populaes indgenas, jazidas e outros recursos minerais, alm das atividades nucleares de qualquer natureza.

Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:

IV- guas, energia, informtica, telecomunicaes e radiofuso;

XII- jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

XXVI- atividades nucleares de qualquer natureza;

Pargrafo nico: Lei complementar poder autorizar os Estados a legislar sobre questes especficas das matrias relacionadas a este artigo.

5.2 - COMPETNCIA COMUMO Art. 23 concede Unio, Estados, Municpios e o Distrito Federal competncia comum, pela qual, os entes integrantes da federao atuam em cooperao administrativa recproca, visando alcanar os objetivos descritos pela prpria Constituio. Neste caso, prevalecem as regras gerais estabelecidas pela Unio, salvo quando houver lacunas, as quais podero ser supridas, por exemplo, pelos Estados, no uso de sua competncia supletiva ou suplementar.

Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:

III- proteger os documentos, obras e outros bens de valor histrico, artstico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notveis e os stios arqueolgicos;

IV- impedir a evaso, a destruio e a descaracterizao de obras de arte e de outros bens de valor histrico, artstico e cultural;

VII- preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII- fomentar a produo agropecuria e organizar o abastecimento alimentar;

IX- promover programas de construo de moradias e a melhoria das condies habitacionais e de saneamento bsico;

X- combater as causas da pobreza e os fatores de marginalizao, promovendo a integrao social dos setores desfavorecidos;

XI- registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao de recursos hdricos e minerais e m seus territrios;

Pargrafo nico: Lei complementar fixar normas para a cooperao entre a Unio e os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, tendo em vista o equilbrio do desenvolvimento e do bem- estar em mbito nacional.

5.4 - COMPETNCIA CONCORRENTEImplica no estabelecimento de moldes pela Unio a serem observados pelos Estados e Distrito Federal.

Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VI- florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo ao meio ambiente e controle da poluio;

VII- proteo ao patrimnio histrico, artstico, turstico e paisagstico;

VIII- responsabilidade por dano meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, turstico e paisagstico.

1 No mbito da legislao concorrente, a competncia da Unio limitar-se- a estabelecer normas gerais.

2 A competncia da Unio para legislar sobre normas gerais no exclui a competncia suplementar dos Estados.

3 Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercero competncia legislativa plena, para atender suas peculiaridades.

4 A supervenincia de lei federal sobre normas gerais suspende a eficcia da lei estadual, no que lhe for contrrio.

COMPETNCIA MUNICIPALA Constituio estabelece que mediante a observao da legislao federal e estadual, os Municpios podem editar normas que atendam realidade local ou at mesmo preencham lacunas das legislaes federal e estadual (Competncia Municipal Suplementar).

Art. 30. Compete aos Municpios:

I- legislar sobre assuntos de interesse local;

II- suplementar a legislao federal e a estadual no que couber;CONCEITO DE INVERSO DO NUS DA PROVA

um direito garantido pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, atravs do qual se consagra a proteo parte mais vulnervel da relao de consumo: o consumidor.

Assim, abre-se a possibilidade de o juiz inverter o nus da prova, quando, segundo as regras de experincia, achar verossmil a alegao ou quando o consumidor for hipossuficiente. Verifica-se, em verdade, que tal possibilidade s pode ocorrer em fase processual civil (dentro de um processo), pois cabe apenas ao juiz a deciso de inverter o nus da prova.

Em nosso ordenamento jurdico, por excelncia, o nus da prova cabe a quem alega. Ocorre que, para o consumidor, na maioria das vezes, conseguir a prova muito difcil.

Assim, h a transferncia ao responsvel pelo dano, do nus de provar que no foi sua a culpa, que no houve dano, que a culpa foi exclusivamente da vtima ou que houve fato superveniente.Em regra, aes judiciais que visam apurar responsabilidade civil por danos ao meio ambiente demandam realizao de prova pericial, cujo corpo tcnico, invariavelmente, compreende profissionais de vrias reas, tais como: biologia, agronomia, geografia, geologia etc. Contudo, essas aes, quase sempre promovidas pelo Ministrio Pblico, por organizaes no governamentais e at pelo Poder Pblico, costumam ter seu trmite suspenso por ocasio da prova pericial.

Os autores dessas demandas no esto obrigados por lei a promover a "antecipao dos honorrios periciais", conforme arts. 27, do CPC1, e 18, da Lei da Ao Civil Pblica2. Paralelamente, os rus, por opo estratgica e sob o argumento de que a prova dos "danos" compete ao(s) autor(es) (CPC, art. 333, I), deixam de requerer tais provas. Instaura-se, assim, nessa fase processual, uma busca, muitas vezes sem sucesso, para se localizar profissionais habilitados aos trabalhos tcnicos e que aceitem receber seus honorrios, bem como o reembolso das despesas necessrias prova, somente ao final pelo vencido.

Essa circunstncia vem tornando letra morta inmeros dispositivos legais que versam sobre matria ambiental, em especial o disposto no art. 225, caput, da CF/88: "Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes".

Impe-se, portanto, proceder a uma releitura do tema luz dos valores e regras constitucionais, com tambm em sintonia com os princpios que regem o Direito Ambiental. Cumpre ter em mente que a responsabilidade civil ambiental se reveste de ntido interesse pblico, consistente na conservao e recuperao dos bens ambientais degradados; volta-se, inclusive, mudana do modus operandi que conduziu a provveis situaes de risco ou de dano3, e a atuar como instrumento do princpio do desenvolvimento sustentvel. Por esses motivos, a tutela ambiental, direito difuso por excelncia e de contedo intergeracional, deve ser interpretado e aplicado com base em sua relevncia e magnitude, no se equiparando, nem distncia, com a tutela de direitos individuais, em que, por exemplo, visa-se ao mero ressarcimento de danos patrimoniais.

Por este motivo, por exemplo, que o legislador previu a responsabilidade objetiva em casos de danos ao meio ambiente, dispensando o elemento culpa para se impor comando indenizatrio (Lei 6.938/81, art. 14, 1). Alm disso, percebeu-se que o sistema tradicional, orientado pela responsabilidade subjetiva, afigurava-se insuficiente para atender aos reclames e peculiaridades da matria. Sim, porque se sobrecarregava, por demais, o autor da ao, que devia, dentre outros aspectos, provar a culpa do agente degradador, o que, na prtica, no era tarefa difcil concretizao, conduzindo improcedncia dos pedidos, em detrimento do "meio ambiente".

Nesse contexto, com o escopo de se restabelecer a operosidade do sistema, ora comprometido por circunstncias tcnico-processuais, deve-se recorrer, por analogia, ao art. 6, inc. VIII, do Cdigo de Defesa do Consumidor, que prev a possibilidade de inverso do nus da prova pelo juiz, desde que presentes a verossimilhana das alegaes oua hipossuficincia do autor. Por esse prisma, teria o juiz o "poder-dever" de, no caso concreto, constatada a presena dos pressupostos legais retro, inverter o nus da prova, no em prol do autor, mas da sociedade que tem o direito de saber se h, ou no, danos ao meio ambiente, bem como ver reparada, compensada e/ou indenizada possvel prtica lesiva ao meio ambiente.

O emprego, por analogia, do art. 6, VIII, do CDC, vem ao encontro a uma srie de princpios inerentes ao Direito Ambiental, dentre os quais os princpios da supremacia do bem ambiental, do poluidor-pagador, da preveno, da precauo, do desenvolvimento sustentvel, da funo social e ambiental da propriedade.

Isto ocorre porque de nada adianta se ter uma legislao ambiental avanada por um lado, prevendo responsabilidade civil objetiva, passvel de ser objeto de aes coletivas, repleta de sanes pesadas, mas manietada por aspectos processuais de menor importncia, incompatveis e descontextualizados com a relevncia do bem ambiental.

No existe motivo para supor que a inverso do nus da prova somente vivel quando prevista em lei. Alis, a prpria norma contida no art. 333 no precisaria estar expressamente prevista, pois decorre do bom senso ou do interesse na aplicao da norma de direito material.

A par disso, cabe ressaltar que a inverso do nus da prova em matria ambiental, a exemplo do que ocorre nas relaes de consumo, no tem o condo de compelir uma das partes ao custeio de eventual prova pericial, sobretudo se postulada pela parte adversa. Apenas imputa a determinada parte o nus probatrio em relao a determinado aspecto, sob pena de responder pelas conseqncias processuais de sua inrcia6. Dessa forma, como no h hierarquia entre as provas, poder referida parte desincumbir-se de seu nus por meio de todas as provas em direito admitidas (CPC, art. 332), seja documental, testemunhal, pareceres tcnicos etc., como tambm a pericial, cabendo ao magistrado, por ocasio do julgamento, proceder devida valorao (CPC, art. 131).

Desta forma, atender-se- aos ditames constitucionais, legais e princpios lgicos que regem o Direito Ambiental, restabelecendo-se o equilbrio na distribuio dos nus probatrios, tendo como objetivo, a tutela do bem ambiental eventualmente comprometida em certas circunstncias, de modo a se expedir, se for o caso, comando reparatrio, compensatrio e/ou indenizatrio em favor do meio ambiente e da sociedade em geral, presente e futura.

O PODER DE POLCIA MUNICIPAL E O LICENCIAMENTO AMBIENTALAinda que o Municpio detenha competncia legislativa apenas para complementar ou suplementar a legislao federal e estadual, no que couber (art. 24, inciso VI, c/c art. 30, incisos I e II, todos da CF), sua competncia executiva, ou administrativa, em matria de proteo ao meio ambiente e combate a poluio, plena, por fora do art. 23, VI, da CF.

A competncia executiva, ou administrativa, delimita a atuao do Poder Pblico na execuo dos atos e das medidas para o cumprimento das leis. Consubstancia-se no poder de fiscalizar, estabelecer regulamentos e padres e zelar pelo seu cumprimento. Quer dizer, a competncia executiva constitucional do art. 23, VI, que legitima o exerccio do poder de polcia ambiental do Municpio.

conseqncia natural do retrocitado dispositivo constitucional, portanto, a competncia do municpio para realizar o licenciamento ambiental, como exerccio do poder de polcia que detm sobre todos os assuntos locais, a partir da promulgao da Constituio Federal.

No obstante, alguns pretenderam rechaar a possibilidade do exerccio deste poder, constitucionalmente assegurado, pelo Municpio, com base na j citada Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente. que seu art. 10, trata do licenciamento ambiental, relata o "prvio licenciamento por rgo estadual competente, integrante do SISNAMA".De fato, esta aparente omisso legislativa facilmente explicada. que, na poca da promulgao da retrocitada lei, no j longnquo ano de 1981, a posio majoritria da doutrina e da jurisprudncia era de que o Municpio no se constitua como entidade estatal integrante da federao e, como tal, no detinha competncia para proceder ao licenciamento ambiental, que era realizada pelo rgo estadual, na forma prevista pelo art. 10 da Lei n 6.938/81.

Entretanto, com o advento da Constituio Federal de 1988, esta situao ficou esclarecida de uma vez por todas. Nas palavras de Celso Antnio Bandeira de Mello: "A Constituio de 1988 modifica profundamente a posio dos Municpios na Federao, porque os considera componentes da estrutura federativa. (...) Nos termos, pois, da Constituio, o Municpio brasileiro entidade estatal integrante da Federao, como entidade poltico-administativa, dotada de autonomia poltica, administrativa e financeira.

A partir da promulgao da CF/1988, apenas aqueles diplomas legais pr-existentes que se conformavam com as normas contidas no diploma constitucional foram recepcionados pela nova ordem jurdica. Quer dizer, somente as normas compatveis com a CF foram por ela recepcionadas, sendo consideradas vlidas e surtindo seus devidos efeitos; todas as demais so consideradas inconstitucionais e, portanto, ficaram eivadas de eficcia prtica ou jurdica.

Entendemos, assim, que a Lei n 6.938/81 no foi totalmente recepcionada pelo ordenamento jurdico vigente desde a promulgao da Constituio Federal.

Compete ao Municpio legislar sobre "assuntos de interesse local", de acordo com o art. 30, inciso I, e tambm proteger o meio ambiente, juntamente com as demais esferas governamentais, segundo o art. 23, inciso VI e art. 225, todos da CF/1988.

Assim, princpio do direito "in eo quod plus est semper inest et minus" [11], ou seja, aquele que pode o mais, pode o menos. Se facultado ao Municpio legislar sobre assuntos locais, pode tambm exercer a fiscalizao naquele mbito.

No mesmo sentido o entendimento do mestre ambientalista Edis Milar:

"A seguir, a Constituio de 1988, recepcionando a Lei n 6.938/81, deixou claro que os diversos entes da Federao devem partilhar as responsabilidades sobre a conduo das questes ambientais, tanto no que tange competncia legislativa, quanto no que diz respeito competncia dita implementadora ou de execuo.

Assim, integrando o licenciamento o mbito da competncia de implementao, os trs nveis de governo esto habilitados a licenciar empreendimentos com impactos ambientais, cabendo, portanto, a cada um dos entes integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente promover a adequao de sua estrutura administrativa com o objetivo de cumprir essa funo, que decorre diretamente da Constituio.Neste contexto, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) editou a Resoluo n 237, em 19 de dezembro de 1997, publicada no D.O.U. de 22 de dezembro, que em seu art. 6 explicita o preceito constitucional supracitado, ao estabelecer que "compete ao rgo ambiental municipal, ouvidos os rgos competentes da Unio, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convnio".

Agiu o CONAMA em perfeita consonncia com suas atribuies, ao aclarar a questo da competncia municipal para o licenciamento ambiental. Porm, ressalte-se que a Resoluo n 237/1997 nada cria de novo, meramente explicitando regras de competncia que advieram da Constituio Federal de 1988, ainda que no fossem aplicadas em sua plenitude.

Com o advento da Resoluo n 237/1997, entretanto, surgiram crticas no sentido de que um mero ato administrativo do CONAMA no seria o instrumento adequado para dar ao Municpio tal competncia, por conflitar, supostamente, com a Lei n 6.938/81. E, neste caso, alegam os defensores desta tese, aplicar-se-ia a regra geral de que o diploma normativo superior (lei) derrogaria o diploma normativo inferior (resoluo).

Ocorre que esta interpretao, conforme j exposto, no a mais correta, e enormes prejuzos traz nao, por gerar uma sria insegurana jurdica, especialmente porque, em muitos casos, os rgos ambientais estaduais nela buscam guarida, efetivamente impedindo o licenciamento ambiental por parte dos municpios, num processo de deslegitimao dos rgos ambientais locais. Para os empreendedores, a situao muitas vezes crtica, visto que pela falta de coordenao e entendimento entre os rgos ambientais municipais, estaduais e federais, se vem obrigados a buscar o licenciamento ambiental concomitantemente em todos estes rgos. evidente que a excessiva burocratizao que se lhes impe tende a dificultar a viabilizao de tais projetos, o que leva ao desaquecimento da economia, informalidade e ilegalidade.

Em alguns casos, os rgos estaduais realizam convnios com os rgos municipais como forma de legitimar sua competncia, o que elogivel. Entretanto, sequer isto seria necessrio, porque sua competncia para a matria decorre diretamente de preceito constitucional.

A REGRA DO ART. 333, CPC: INADEQUAO COMPLEXIDADE DO DANO AMBIENTALA responsabilidade civil por danos ambientais foge regra da responsabilidade civil tradicional. Da a necessidade de utilizao de regras jurdicas adequadas a esse tipo de demanda.

A dificuldade de responsabilizao ambiental tem, como principal causa, a complexidade do dano ambiental, decorrente da causalidade complexa (fontes mltiplas do dano), da multiplicidade de agentes, vtimas e causas (emisses indeterminadas e annimas), da incerteza quanto aos causadores e efeitos, dos efeitos invisveis, transfronteirios, intertemporais (futuros) e cumulativos. Vale destacar que o dano ambiental, diferentemente da danosidade comum, projeta em si a prpria "forma complexa de atuao em rede".

Tendo em vista esses aspectos, a responsabilidade civil por danos ao ambiente foi objetivada, independendo de culpa (art. 14, 1, Lei 6938/81). A objetivao da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente representou um grande avano no sistema de responsabilizao civil ambiental, uma vez que reduziu o objeto da prova em relao responsabilidade tradicional baseada na culpa, exigindo-se, to-somente, para a sua configurao, a prova do dano, da autoria e do nexo de causalidade entre a atividade e o dano. No entanto, tal inovao no significou, necessariamente, a facilitao na comprovao dos fatos. Isso porque remanesce a dificuldade de prova do nexo de causalidade, que determina justamente a existncia de relao lgica entre causa e efeito.

A regra geral de distribuio do nus da prova nas demandas individuais, enunciada pelo art. 333, CPC, determina que o nus da prova incumbe: ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; ao ru, quanto existncia de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Portanto, "o nus da prova recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato". Trata-se de regra dispositiva, cunhada pelos valores liberais da segurana jurdica e da isonomia formal.

Contudo, no se pode confundir o livre-arbtrio com a impossibilidade de produzir provas: no primeiro caso, a inrcia decorre da autonomia da vontade; no segundo, da impossibilidade material em faz-lo.

Nesse sentido, verifica-se que o nus do autor, em provar fatos constitutivos do seu direito, representa, no caso do meio ambiente, atribuio de encargo excessivo. Parte o autor de grande desvantagem, porquanto o ru pode limitar-se a negar os fatos pura e simplesmente, sem obrigao de provar essa negativa.

Assim, Nota-se que a aplicao do art. 333, CPC, s demandas ambientais, estimula posies de inrcia e sonegao de provas de interesse para o processo.

A regra do art. 333, CPC, , portanto, inadequada tutela dos interesses supra-individuais, mas foi excepcionada pelo Cdigo de Defesa do Consumidor.

ART. 6, VIII, CDC: INVERSO DO NUS DA PROVAO art. 6, VIII, do Cdigo de defesa do Consumidor, estabelece que, entre os direitos bsicos do consumidor, est a facilidade de defesa "inclusive com a inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincia" (grifou-se). Ao permitir tratamento diferenciado s relaes de consumo, o art. 6, VIII, CDC, rompeu com um vcio herdado do racionalismo e da noo de neutralidade do procedimento ordinrio, evidenciando que o nus da prova deve ser tratado de acordo com as necessidades do direito material.A redistribuio do encargo probatrio, estabelecida pelo CDC, instrumento caracterstico do novo processo civil supra-individual, que privilegia as tcnicas de efetividade, do qual o processo civil ambiental expresso.

Assim sendo, determinada a inverso do nus da prova, a inrcia da parte r significa a assuno do risco de sofrer a desvantagem, com a incidncia das regras de experincia a favor do consumidor.

Essa tcnica de cunho consumerista , da mesma forma, a mais adequada tutela processual do direito material ao ambiente equilibrado, superando os bices da complexidade do dano, e da dificuldade e onerosidade da prova processual.

A APLICABILIDADE DA INVERSO DO NUS DA PROVA NA AO CIVIL PBLICA AMBIENTALA aplicabilidade do mecanismo da inverso do nus da prova s demandas ambientais advm da integrao dos diplomas consumerista e civil pblico, que, em conjunto, formam o sistema processual coletivo.

O art. 21, LACP, no permite a utilizao da inverso do nus da prova pela Lei da Ao Civil Pblica, porquanto parece restringir a integrao das duas normas ao Ttulo III do CDC, que versa sobre a defesa do consumidor em juzo.

Em sntese, constituem o sistema processual coletivo: a LACP, o Ttulo III do CDC, e as demais disposies processuais que se encontram pelo corpo do CDC.

Cumpre destacar, ademais, que o CDC diploma principiolgico, estando essa caracterstica presente nos arts. 6 e 7, que tratam, respectivamente, dos direitos bsicos do consumidor e das fontes dos direitos do consumidor.

Assim, em razo da integrao dos diplomas consumerista e civil pblico, do carter principiolgico do CDC e do cunho processual e principiolgico do art. 6, VIII, do CDC, pode-se afirmar que o mecanismo da inverso do nus da prova perfeitamente aplicvel s demandas difusas, tuteladas por ao civil pblica, a includas as ambientais.

A inverso do nus da prova aplica-se a qualquer interesse difuso, coletivo ou individual homogneo, tutelados por ao civil pblica. Pode-se, inclusive, afirmar que o mecanismo aplicvel ainda s aes civis pblicas no ambientais, previstas nos incisos I, III, IV, V, VI e VII, do art. 1, LACP.

Alm da integrao do Cdigo de Defesa do Consumidor e civil pblico, a inverso do nus da prova nas demandas ambientais justifica-se em razo da vulnerabilidade do meio ambiente e da coletividade. A hipossuficincia tcnica, cientfica e econmica da parte autora da demanda ambiental, muitas vezes, inviabiliza a atividade probatria.A inverso do nus da prova atua a como princpio da isonomia (art. 5, caput e inciso I, CRFB), equilibrando a relao poluidor/pessoa humana. Trata-se de garantir s partes igualdade de oportunidades com observncia do princpio do contraditrio.

Outrossim, a inverso do nus da prova destaca-se como instrumento fundamental para efetivao do princpio ambiental da responsabilizao civil. Contribui, ademais, para a efetivao do princpio do poluidor-pagador, auxiliar da responsabilizao civil.

A adoo desse mecanismo decorre, ainda, da preponderncia do interesse coletivo (meio ambiente ecologicamente equilibrado) sobre o interesse individual (mormente, o lucro). O direito constitucional fundamental ao ambiente equilibrado tem cartersupra-individual, de bem de uso comum do povo, pertencente a toda a coletividade, incorpreo, indisponvel, indivisvel, inalienvel, impenhorvel, intergeracional, insuscetvel de apropriao exclusiva, essencial qualidade de vida e dignidade da pessoa humana, sem valor pecunirio correspondente, cujos danos so de difcil ou impossvel reparao. Trata-se de bem vital existncia humana.

Assim, considerando a inverso do nus da prova decorrncia natural da difusidade do bem ambiental (pertencente a toda a coletividade), conclui-se pela desnecessidade de incluso expressa de dispositivo na Lei da Ao Civil Pblica. Trata-se de mecanismo de criao doutrinria e utilizao jurisprudencial, com utilizao subsidiria do art. 6, VIII, CDC.

CONCEITO DE RESPONSABILIDADE

A palavra responsabilidade significa obrigao de natureza contratual do Direito Romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor nos contratos verbais, tendo, portanto, a idia e concepo de responder por algo.

A responsabilidade pode adquirir um significado sociolgico, no qual ganha aspecto de realidade social, pois decorre de fatos sociais, fato social. Segundo Pontes de MIRANDA apud DIAS (1997, p. 7-10) os julgamentos de responsabilidade so reflexos individuais, psicolgicos, do fato exterior social, objetivo, que a relao de responsabilidade. J sob o ponto de vista jurdico, a idia de responsabilidade adota um sentido obrigacional: a obrigao que tem o autor de um ato ilcito de indenizar a vtima pelos prejuzos a ela causados.

RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil a situao de indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de inadimplemento culposo, de obrigao legal ou contratual, ou imposta por lei.

De acordo com o exposto, a noo de responsabilidade, no campo jurdico, amolda-se ao conceito genrico de obrigao, o direito de que titular o credor em face do dever, tendo por objeto determinada prestao. No caso assume a vtima de um ato ilcito a posio de credora, podendo, ento, exigir do autor determinada prestao, cujo contedo consiste na reparao dos danos causados.

Quando se aplica essa idia responsabilizao civil, quem deve o devedor e quem responde pelo dbito, ou pela reparao do dano o seu patrimnio.

Quanto classificao da responsabilidade civil, h duas teorias: a subjetiva e a objetiva.

A teoria subjetiva tem na culpa seu fundamento basilar, s existindo a culpa se dela resulta um prejuzo. Todavia, esta teoria no responsabiliza aquela pessoa que se portou de maneira irrepreensvel, distante de qualquer censura, mesmo que tenha causado um dano. Aqui, argi-se a responsabilidade do autor quando existe culpa, dano e nexo causal.

A teoria objetiva no exige a comprovao da culpa, e hodiernamente tem sido subdividida em pura e impura.

A responsabilidade civil objetiva pura, quando resultante de ato lcito ou de fato jurdico, como algum que age licitamente e, mesmo assim, deve indenizar o prejuzo decorrente de sua ao. Neste caso, a lei deve dizer, expressamente, que o indenizador deve indenizar independentemente de culpa, como nos danos ambientais (art. 14, 1, da Lei 6938/81), nos danos nucleares (art. 40, da Lei 6453/77) e em algumas hipteses do Cdigo do Consumidor.

Por outro lado, a responsabilidade civil objetiva impura existe quando algum indeniza, por culpa de outrem, como no caso do empregador que, mesmo no tendo culpa, responde pelo ato ilcito de seu empregado (art. 1521, III, do Cdigo Civil, e Smula 341 do Supremo Tribunal Federal).

Pressupostos da responsabilidade civil ambientalA Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente - Lei n. 6.938/81 criou, em seu artigo 14, 1o, o regime da responsabilidade civil objetiva pelos danos causados ao meio ambiente. Dessa forma, suficiente a existncia da ao lesiva, do dano e do nexo com a fonte poluidora ou degradadora para atribuio do dever de reparao.

Comprovada a leso ambiental, torna-se indispensvel que se estabelea uma relao de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano dele advindo. Para tanto, no imprescindvel que seja evidenciada a prtica de um ato ilcito, basta que se demonstre a existncia do dano para o qual exerccio de uma atividade perigosa exerceu uma influncia causal decisiva.

Vale ressaltar que, mesmo sendo lcita a conduta do agente, tal fator torna-se irrelevante se dessa atividade resultar algum dano ao meio ambiente. Essa nada mais do que uma conseqncia advinda da teoria do risco da atividade ou da empresa, segundo a qual cabe o dever de indenizar quele que exerce atividade perigosa, consubstanciando nus de sua atividade o dever de reparar os danos por ela causados. Tal teoria decorre da responsabilidade objetiva, adotada pela Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente.

A responsabilidade civil objetiva aos danos ambientais pode assumir duas acepes diferentes. Por um lado, a responsabilidade objetiva tenta adequar certos danos ligados aos interesses coletivos ou difusos ao anseio da sociedade, tendo em vista que o modelo clssico de responsabilidade no conseguia a proteo ambiental efetiva, pois no inibia o degradador ambiental com a ameaa da ao ressarcitria. Por outro lado, a responsabilidade objetiva visa a socializao do lucro e do dano, considerando que aquele que, mesmo desenvolvendo uma atividade lcita, pode gerar perigo, deve responder pelo risco, sem a necessidade da vtima provar a culpa do agente. Desse modo, a responsabilidade estimula a proteo a meio-ambiente, j que faz o possvel poluidor investir na preveno do risco ambiental de sua atividade.

Quando se fala sobre a responsabilidade civil ambiental, que se sabe objetiva, faz-se imperioso refletir a respeito do princpio de Direito Ambiental do Poluidor-Pagador.

Segundo este princpio, quem polui deve arcar com as despesas que seu ato produzir, e no, como querem alguns ,que quem paga pode poluir. Tal princpio pretende internalizar no preo as externalidades produzidas, o que se denomina custo ambiental. Desta forma, existe a imposio ao sujeito causador do problema ambiental em sustentar financeiramente a diminuio ou afastamento do dano. Visa, ainda, impedir a socializao dos prejuzos decorrentes dos produtos inimigos ao meio ambiente.

Existem vrios tipos de externalidades, podendo elas serem negativas ou positivas. Para compreender melhor, veja os exemplos:

Externalidades negativas:

a) Empresa despeja efluentes em rio que servia para pescadores ribeirinhos tirarem seu sustento. causado prejuzo financeiro.

b) Igreja executa som em volume muito elevado, o que impede que um senhor que mora ao lado, alugue quartos para estudantes.

c) Um morador armazena materiais recliclveis de forma inadequada em seu lote, causando acmulo de gua e a proliferao de mosquitos transmissores de dengue. Os vizinhos so constantemente acometidos pela doena, tendo prejuzos financeiros com o tratamento e com a impossibilidade de trabalhar.Externalidades positivas:

a) Um fazendeiro criou um pomar de laranjeiras, e seu vizinho, criador de abelhas foi beneficiado com a disponibilidade de flores, o que lhe gerou mais lucro.

b) Um empreendedor compra um grande terreno baldio na periferia e constri um shopping-center. O fato valoriza todos os imveis da regio.

Assim, compreendemos que o correto que o poluidor incorpore nos seus custos o preo da degradao que causa operao que decorre da incorporao das externalidades ambientais e da aplicao do princpio poluidor-pagador a responsabilidade civil proporciona o ambiente poltico-jurdico necessrio operacionalizao do princpio da precauo, pois prevenir passa a ser menos custoso que reparar.

Dessa forma, distingue-se no princpio duas esferas bsicas: busca evitar a ocorrncia de dano ambiental carter preventivo; e ocorrido o dano, visa a sua reparao carter repressivo.

Dentro desse princpio, mais precisamente em seu carter repressivo que se insere a idia de responsabilidade civil pelo dano causado ao meio-ambiente.

DANO AMBIENTAL

Sendo o dano, pressuposto indispensvel para a formulao de uma teoria jurdica adequada de responsabilidade ambiental, faz-se necessria uma breve incurso no seu conceito jurdico.

O dano toda a ofensa a bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurdica.

Dano o prejuzo causado a terceiros, ao se lesar bens juridicamente protegidos. Ele pode ser visto sob dois aspectos: patrimonial, no qual se atinge o patrimnio econmico do lesado; e extrapatrimonial ou moral, quando o prejuzo causado no psicolgico da vtima, ou seja, os direitos da personalidade que so afetados.

No que concerne ao dano ambiental, sua caracterizao depender da valorao dada ao bem jurdico lesado pelo dano e protegido pela ordem jurdica. Destarte, para a definio do dano ambiental, torna-se essencial, preliminarmente, que se caracterize o conceito jurdico de meio ambiente.

Meio ambiente um bem jurdico, que pertence a todos os cidados indistintamente, podendo, desse modo, ser usufrudo pela sociedade em geral. Contudo, toda a coletividade tem o dever jurdico de proteg-lo, o qual pode ser exercido pelo Ministrio publico, pelas associaes, pelo prprio Estado e at mesmo por um cidado.

O conceito de meio ambiente foi, primeiramente trazido pela Lei 6.938/81, no seu artigo 3, I, conhecida como Lei de Poltica Nacional do Meio-Ambiente. Tal definio posteriormente foi recepcionada pela Constituio Federal de 1988, que, de acordo com o seu artigo 225, tutelou tanto o meio ambiente natural, como o artificial, o cultural e o do trabalho, como pode ser constatado:

Art. 225 - Todos tem direito ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

Diante do que foi exposto, o dano ambiental, pode ser compreendido como sendo o prejuzo causado a todos os recursos ambientais indispensveis para a garantia de um meio ecologicamente equilibrado, provocando a degradao, e conseqentemente o desequilbrio ecolgico.

O dano ambiental, assim como o dano, tanto pode ser tanto patrimonial como moral. considerado dano ambiental patrimonial, quando h a obrigao de uma reparao a um bem ambiental lesado, que pertence a toda a sociedade. O dano moral ambiental, por sua vez, tem ligao com todo prejuzo que no seja econmico, causado coletividade, em razo da leso ao meio-ambiente.

No se pode olvidar da questo social desencadeada pelo dano ambiental. O dano ao meio-ambiente representa leso a um direito difuso, um bem imaterial, incorpreo, autnomo, de interesse da coletividade, garantido constitucionalmente para o uso comum do povo e para contribuir com a qualidade de vida das pessoas.

Assim, no apenas a agresso natureza que deve ser objeto de reparao, mas tambm a privao do equilbrio ecolgico, do bem estar e da qualidade de vida imposta coletividade.

REPARAO DO DANO AMBIENTAL

Existindo um dano ambiental, h o dever de repar-lo. A reparao composta de dois elementos: a reparao in natura do estado anterior do bem ambiental afetado e a reparao pecuniria, ou seja, a restituio em dinheiro.

Quando no for possvel o retorno ao status quo, recair sobre o poluidor a condenao de um quantum pecunirio, responsvel pela recomposio efetiva e direta do ambiente lesado. Porm, na legislao ptria, no h critrios objetivos para a determinao do referido quantum imposto ao agente degradador do meio-ambiente. A doutrina, entretanto, d alguns rumos que devem ser seguidos, como, por exemplo, a reparao integral do dano, no podendo o agente degradador ressarcir parcialmente a leso material, imaterial e jurdica causada.

Na tentativa de recuperao do status quo ante, a Constituio Federal Brasileira, no seu artigo 225, IV, disciplinou o estudo do impacto ambiental que tem entre suas finalidades precpuas traar uma soluo tcnica adequada recomposio do ambiente modificado por atividade licenciada. Assim sendo, uma avaliao prvia dos danos facilitaria uma posterior reparao ao ambiente impactado.

CF/88, art. 225, 1, IV: "Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

1. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder pblico:

IV exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade."

de grande valia ressaltar que, nem todo dano se indeniza. impossvel determinar o montante a ser pago no caso da extino de uma forma de vida, da contaminao de um lenol fretico ou da devastao de uma floresta. Nesses casos, a composio monetria absolutamente insatisfatria.

H ainda que se examinar a questo do dano extrapatrimonial ambiental e sua reparao. O dano moral ao meio-ambiente a leso que desvaloriza imaterialmente o meio-ambiente ecologicamente equilibrado e tambm os valores ligados sade e qualidade de vida das pessoas. Se o meio-ambiente um direito imaterial, incorpreo, de interesse da coletividade, pode ele ser objeto do dano moral, pois este determinada pela dor fsica ou psicolgica acarretada vtima. possvel afirmar a partir da, que a degradao ambiental geradora de mal-estar e ofensa conscincia psquica das pessoas fsicas ou jurdicas pode resultar em obrigao de indenizar aos seus geradores.

Os danos causados ao meio ambiente podero ser tutelados por diversos instrumentos jurdicos, com destaque para a ao civil pblica, ao popular e mandado de segurana coletivo. Dentre estes, a ao civil pblica ambiental tem sido a ferramenta processual mais adequada para apurao da responsabilidade civil ambiental.A nova concepo tica da tutela ao meio ambiente Meio ambiente tudo o que nos cerca. Na definio de TOURINHO NETO constitui o meio ambiente "um conjunto em que o homem est inserido, dele dependendo para sobreviver biolgica, espiritual e socialmente".

Curiosamente, alguns questionam o porqu da proteo ao meio ambiente, ou, qual o motivo do empenho do legislador ao elaborar normas penais que venham a tutelar o to defendido bem jurdico em questo. Busca-se resguardar o ambiente para o prprio beneficio do homem, para se alcanar uma boa qualidade de vida, ou seja, proteger-se o ecossistema para a garantia da prpria sobrevivncia humana na Terra. No se defende o bem jurdico porque est na moda, porque politicamente correto, mas para a sobrevivncia e bem-estar do homem, pois, sem ele, o homem no pode viver.

Aos poucos vem sendo inserida no contexto da proteo ao meio ambiente a questo da tica ambiental, que uma cincia da moral e pode ser definida como a "teoria ou cincia do comportamento moral dos homens em sociedade". Essa nova tica vem surgindo e ganhando foras no que diz respeito ao trato com o meio ambiente. Assim como a legislao vai com o tempo se aprimorando no sentido de se enquadrar s necessidades atuais, a tica tradicional deu lugar tica ambiental, que vem sendo muito divulgada.

Segundo seus estudiosos, toda a sociedade responsvel pela degradao do meio ambiente. O mais rico polui com a sua atividade industrial e comercial e o mais pobre por falta de condies econmicas de viver condignamente e por pouco acesso s informaes ecolgicas.

Surge ento uma nova forma de conduta frente natureza, devido grande degradao atual, de forma a conscientizar o homem de que a natureza existe para proporcionar-lhe meios de sobrevivncia, tendo em vista que o meio ambiente vinha sendo posto em ltimo lugar na hierarquia de valores, devido extrema valorao dos direitos individuais.

BREVE HISTRICO DA EVOLUO DA LEGISLAO PENAL AMBIENTAL BRASILEIRA

Estudiosos da matria penal, no que diz respeito ao tema em questo, ou seja, o meio ambiente e sua tutela por parte da legislao, apontam em suas pesquisas que desde o sc. XVI j se verificava a existncia de uma ampla legislao protecionista vigente no Brasil, porem no era suficiente para se ter uma tutela autntica, segundo WAINER, que analisou a legislao portuguesa e tambm a brasileira, vigentes no pas aps o descobrimento, que j se preocupavam com o abastecimento de gneros alimentcios que se tornavam escassos em Portugal, contendo regras de proteo caa de animais e a alguns alimentos bsicos, como o po e a farinha, riquezas como o ouro, a prata, dentre outros.

Com a instituio do Governo Geral do Brasil, surgem os chamados Regimentos do Governo Geral, buscou-se prevenir a devastao exacerbada das florestas, que tinham por fim a construo de navios para incremento da frota portuguesa.

O Cdigo Filipino, ou Ordenaes Filipinas, promulgado em 1603 trazia em seu bojo a tipificao de vrios crimes contra o meio ambiente, como o dano causado em olivais e pomares pelo pasto de animais pertencentes a vizinhos, restries sobre a caa e a pesca, poluio das guas, e ainda um dispositivo que proibia a qualquer pessoa jogar material nas mesmas, que pudesse suj-las ou matar os peixes.

A aplicao da legislao extravagante penal que acompanhou o processo de desenvolvimento do Brasil-colnia foi difcil, devido s extenses das terras coloniais que se faziam maiores a cada dia, com grandes distncias a serem vencidas.

O primeiro Cdigo Penal, promulgado em 1830 j continha dispositivos que puniam o corte ilegal de rvores e o dano ao patrimnio cultural, seguido, j em 1850, pela Lei 601 ("Lei das Terras"), que estabelecia sanes administrativas e penais, no seu art. 2, para o dano causado pela derrubada das matas e queimadas.

Foi em meados de 1850 que surgiu no Mundo Velho, a expresso hoje to conhecida por "ecologia", introduzida pelo alemo Ernerst Haeckel, em 1866, figurando juntamente com ele Charles Darwin, Malthus e outros cientistas que, com seus estudos, contriburam e figuraram na histria da proteo ambiental.

Em 1917, o Cdigo Civil veio dar aos bens ambientais um tratamento sob a tica dos interesses privados. Encontramos tambm essa proteo em nvel administrativo no Dec. 4.421/21, que veio a criar o Servio Florestal do Brasil, objetivando a conservao dos recursos florestais, j vistos como bens de interesse pblico. S ento em 1934 surge o primeiro Cdigo Florestal (Dec. 23.793/34), que vem tutelar juridicamente o meio ambiente, tipificar as ofensas cometidas na utilizao das florestas, classificando-as com crimes e contravenes penais. Surge tambm a nova Constituio Federal, contendo alguns dispositivos ambientalistas, o Cdigo de guas (Dec. 24.643/34) e o Cdigo de Caa (Dec. 24.645/34).

Pouco tempo depois, foi promulgado um novo Cdigo Penal (Dec.-lei 2.848/40), bem como a Lei das Contravenes Penais (Dec. 3.688/41), sendo que, quanto ao primeiro, vimos que pouca ateno foi dispensada questo ambiental.

Mais tarde, na dcada de 60, poca onde houve uma intensa elaborao legislativa na rea ambiental, surge uma nova reformulao foi feita no que tange tutela penal ambiental, surgindo um novo Cdigo Florestal (Lei 4.771/65). Tambm preocupou-se com a proteo fauna (Lei 5.197/67), a pesca (Dec.-lei 221/67) e tambm com a poluio das guas (Dec. 50.877/61, alargado pelo Dec.-lei 303/67), que, alm das guas tuteladas pelo primeiro, passaram tambm ao mbito de proteo o ar e o solo, mas foi somente com a Lei 6.938/81 que se promoveu a adequao do conceito s novas exigncias e nova viso da proteo ambiental, partindo, ento dos efeitos que as degradaes da qualidade ambiental podem causar nas condies estticas ou sanitrias do meio ambiente, por cujos danos seu autor dever ser responsabilizado, tendo como obrigao reparar tal dano.

A Constituio Federal de 1988 veio ento inovar em vrias questes concernentes proteo ambiental e tivemos ainda a elaborao de mais leis extravagantes na rea ambiental, nas suas modalidades mais atuais, que expressam as necessidades ao mundo moderno, frente evoluo tecnolgica, como a necessidade de proteo camada de oznio, a regulamentao do uso de agrotxicos, comercializao e utilizao da moto-serra, a regulamentao das atividades nucleares frente aos srios danos que possivelmente possam ser causados, como o acidente na usina nuclear de Chernobill, h alguns anos atrs.

Como bem observa FERREIRA: "Ao lado dessa profusa legislao especificamente ambiental, embora no exclusivamente penal, subsistem e podem ser aplicados todos aqueles dispositivos que, tanto no Cdigo Penal quanto na Lei das Contravenes Penais podem ser referidos s ofensas ambientais, embora no tivessem sido imaginados para tal, constituindo um conjunto legislativo de proteo ambiental por extenso ou por interpretao, j que a foram colocados pelo legislador com outros objetivos sendo, porm, adequados tutela nessa rea, como so, principalmente, os crimes contra a sade pblica e contra a incolumidade pblica. Essa interpretao coaduna-se com o esprito da lei, e serve de paliativo enquanto se aguarda o adequado cumprimento dos mandamentos constitucionais e a elaborao de uma legislao penal ambiental mais eficiente".

A tutela penal ao meio ambienteNo era slida, antes da Constituio Federal de 1988, a idia de se editar normas para tutelar o meio ambiente. E, comearam assim, grandes cobranas sociais, pois o assunto j era polmico no mundo todo, e no tnhamos nenhuma norma a respeito.

Assim, com a promulgao da Constituio de 1988, buscou inserir em seu bojo, a matria relacionada com a preservao do meio ambiente, e ainda imposio de medidas coercitivas no mbito penal aos infratores das normas, conforme dispe o art. 3 do artigo 225, e de certa forma buscou ainda, a conscientizao dos indivduos da importncia em suas vidas e para suas geraes futuras, procurando assim um respeito mtuo entre o homem e a natureza.

Sendo de carter extremamente necessrio a interveno penal, deparamos, contudo, que o nosso Cdigo Penal no atende todos os anseios sociais, em virtude de ter se desatualizado, pois foi o mesmo editado em 1940 e estando at a presente data em vigor, no acompanhando as novas exigncias e situaes que ocorreram em conseqncia da evoluo tecnolgica e da vida moderna em face do crescimento urbano.

A tutela do direito Penal visa, primordialmente, a conservao da vida humana, no permitindo que o homem saia destruindo, produzindo danos vida, sociedade, ao patrimnio, enfim causando um verdadeiro caos a toda a coletividade. Busca proteger no s o homem, como tambm os animais.

Observamos a importncia do direito penal, pois visa resguardar os valores fundamentais, bem como fazer valer sempre quando necessrio tais normas, tendo atuao diretamente sobre o infrator.

Abraaremos o posicionamento de DOTTI, para quem:

"em tal proceder histrico, o direito penal vai assimilando, em maior ou menor proporo e tempo, as exigncias e as solicitaes necessrias preservao e ao desenvolvimento da personalidade. Como conseqncia, na medida em que se modificam as bases necessrias aos comportamentos individuais e coletivos, tambm se alteram as estruturas formais do direito penal". E acrescenta ainda: "Frente a esta perspectiva o jurista deve agir como um autntico depositrio de conscincia pblica vertendo-se sobre a realidade social e as aspiraes mais profundas da comunidade. Os posicionamentos mais modernos buscam excitar um senso de responsabilidade ecolgica, pois se o homem continua com essa degradao massiva do meio ambiente, daqui algum tempo no haver mais vida na Terra, pois tudo funciona como um ciclo ecolgico. Cada ser tem sua participao nessa cadeia ecolgica, obrigatoriamente ligadas entre si. Se destruda uma parte dessa cadeia, automaticamente, e mesmo que demore ver os resultados, o restante da cadeia no sobreviver.

Nessa linha de raciocnio o Direito Penal moderno, busca atender os anseios, de acordo com a atualidade levando em considerao a "criminalizao ou descriminalizao". Conforme ensina FERREIRA:

"uma tendncia para a descriminalizao de certas condutas tipificadas na lei penal, de fato instala-se na doutrina contempornea, sobretudo pela falncia das penas privativas de liberdade e sua impossibilidade de evitar a ocorrncia de crimes e conseguir a repercusso dos criminosos, sendo motivada tambm pela descrena na administrao da justia penal para resolver o problema da violncia e da criminalidade na sociedade moderna".

O maior desafio, sem dvida alguma, a implantao segura de normas que tutelam o meio ambiente no caso concreto, evitando injustias cometidas diariamente, pois, principalmente as grandes empresas aproveitam de brechas da lei para auferir vantagens econmicas, podendo citar, v.g., a Petrobrs, empresa que constantemente derrama petrleo nas guas do mar, causando a morte de vrios animais, sendo que apenas lhe aplicada multa, que para ela no faz muita diferena. Sobre essa falta de tutela adequada, ficamos com o posicionamento de LOPES: "a m definio dos tipos, de modo a deixar duvida sobre a ao proibida ou ordenada, ou uma cominao de pena imprpria ou desproporcionada pode, realmente, redundar cm graves e irreparveis conseqncias para os direitos humanos".

A tutela ambiental, alm da Constitucional, deve ser efetivada tambm mediante o direito administrativo (tutela administrativa), com aplicaes de sanes administrativas, e o direito civil (tutela civil).

Se a aplicao de tais sanes, tanto na esfera cvel como na administrativa no lograrem xito, entra em cena o direito penal (tutela penal), em ultima ratio, atravs da tipificao de condutas ofensivas ao meio ambiente.

A preservao do meio ambiente o objeto jurdico do crime ambiental, segundo TOURINHO NETO. O objeto material, portanto, depender do crime, podendo ser contra a fauna, as florestas, as guas etc.

Tem como tipo subjetivo o dolo ou vontade livre e consciente de causar dano, consumando-se com a mera verificao de possibilidade de dano. Encontramos tambm a forma culposa nos tipos descritos pelo Cdigo Penal.

Os crimes ambientais, geralmente, so crimes de perigo, bastando a possibilidade de dano e o sujeito passivo principal a sociedade.

O texto constitucional do art. 225, 3 serve de supedneo imprescindvel tutela penal ambiental. Segundo PRADO:

"as leis anteriores lei 9.605/98 tratavam-se de normas de difcil aplicao, tortuosas e complexas, excessivamente prolixas, casusticas e tecnicamente imperfeitas".

A interveno penal na proteo do meio ambiente deve ser feita de forma limitada e cuidadosa.

ASPECTOS DA LEI N 9.605/98

A lei 9.605/98, proposta pelo Governo e, aps sete anos de tramitao no Congresso Nacional, foi ento aprovada em regime de urgncia pelo Poder Legislativo, devido ao reclamo social tutela do bem jurdico, vindo dispor sobre as sanes no s penais como administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, sendo que estas ltimas ainda carecem de regulamentao. Caracteriza-se como um diploma normativo moderno, dotado de regras avanadas, estabelecendo coerentemente quase todas as condutas administrativas e criminais lesivas ao meio ambiente, sem prejuzo das sanes civis, j existentes em outras leis especficas.

Antes, as regras no que tange ao meio ambiente eram confusas e geralmente conflitantes entre si. Agora, com a nova lei, as normas de direito penal ambiental esto sistematizadas adequadamente, possibilitando o seu conhecimento pela sociedade e sua execuo pelos entes estatais. Contudo, como era de se esperar, nem todos os atos lesivos contra o meio ambiente foram abrangidos pela nova lei, ao contrrio da inteno de seus idealizadores. Essas lacunas sero ainda preenchidas pelo Cdigo Penal, Lei das Contravenes Penais e pelo Cdigo Florestal, como o caso do delito de difuso de doena ou praga, de poluio sonora e de proibio da pesca de certos animais marinhos, entre outros.

Segundo o promotor de justia, Miguel Sales, "a referida lei, lapidada por juristas de renome, assemelha-se, no seu formato, ao Estatuto da Criana e do Adolescente e ao Cdigo de Defesa do Consumidor, que so leis de terceira gerao, visando promover a qualidade de vida e a dignidade humana, num Pas cheio de contrastes e marginalizao social".

A lei veio aplicar a noo de responsabilidade penal, j que as infraes praticadas contra o meio ambiente possuem caractersticas prprias em relao maior parte das prticas delituosas j disciplinadas pelo direito penal e tambm disciplinar penas alternativas, como substituio das penas restritivas de liberdade de at 4 anos.

Tal conjunto de normas d fora de lei fixao da multa administrativa, dependendo do ilcito cometido pelo infrator.

A principal novidade trazida pela lei 9.605/98 ao nosso ordenamento jurdico a responsabilidade penal da pessoa jurdica, prevendo para elas tipos e sanes e bem definidos, diferentes daquelas que s se aplicam pessoa humana.. Tal questo, no entanto, bastante polmica e ser comentada no item seguinte. A nova lei trouxe uma grande inovao ao transformar os ilcitos que antes eram apenas contravenes penais para crimes contra o meio ambiente, como o desmatamento no autorizado, maltratar animais domsticos e realizar experincias dolorosas ou cruis em animais vivos, mesmo que seja para fins didticos ou cientficos. Corrigiu distores existentes no Cdigo de Caa, como a que tipificava de crime inafianvel, com alta punio, o fato de um simples campons abater um animal silvestre para o consumo; enquanto os imensos latifndios, pulverizados com agrotxicos, ficavam isentos de sano penal, mesmo que houvesse a dizimao de um ecossistema por inteiro.

Confere tambm, quele que reparar o dano causado pelo ilcito, o direito de se eximir da punio. Exime-se de pena tambm aquele que mata animal silvestre para saciar a sua prpria fome ou de seus familiares, o que no ocorria antes dessa lei.

Com essa nova lei, os produtos apreendidos da fauna e flora podem ser doados ou at destrudos, e os instrumentos utilizados na infrao podem ser vendidos.

Como no poderia deixar de ser, crticas esto sendo alvejadas por renomados juristas, no sentido de que a lei em referncia no prospera em seu contedo, quando, v. g., responsabiliza penalmente a pessoa jurdica, ou tipifica culposamente o ato de "destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentao em propriedade privada alheia" (art. 49), assim como, ao estabelecer reprimenda mais elevada (art. 32, pena: deteno de trs meses a um ano e multa) quele que "maltrata animais silvestres ou domesticados, nativos ou exticos", ao passo que ao prprio ser humano, a lei penal prev a magra pena de deteno de dois meses a um ano ou multa ao delito de maus tratos (art. 136, CP).

O legislador de 98 utiliza termos amplos e indeterminados, freqentemente vazados em normas penais em branco e com um liame muito tnue com o direito administrativo, o que prejudicial devendo acontecer s em caso de necessidade.

Como brilhantemente afirma SALES, preciso cautela na aplicao da lei de crimes ambientais, pois, desde que no agrida realmente a natureza, devemos utilizar a madeira, o minrio, a caa, a pesca e outros recursos naturais.

No se deve esquecer que a maioria do nosso povo pobre e vive do extrativismo. O puro conservadorismo serve mais a pases como Estados Unidos, Alemanha, Canad, que depredaram florestas, mataram seus solos, secaram suas fontes de gua e, agora, querem ditar regras para os pases emergentes como o Brasil, sem deixar de explorar os seus recursos naturais e de ter qualquer preocupao com o subdesenvolvimento que nos assola.

Em suma, cumpre observar a lei em questo com bons olhos, pois, no geral, foi positiva, porque deixou o campo exclusivo da abstrao (normalmente predominante entre as normas) e procurou com essa e outras inovaes, trazer melhor exeqibilidade no tratamento das sanes penais, naquelas situaes delituosas no enquadradas como de grave ameaa ou violncia pessoa, estando, assim, em substancial consonncia com a problemtica penitenciria do pas que em tais casos, no mais salvaguarda o intuito preventivo repressivo da pena, mediante a privao da liberdade do criminoso.

AS NORMAS PENAIS AMBIENTAIS

As normas penais ambientais no se diferem das outras normas penais, exceto no que se refere sua independncia, pois, com certa freqncia, se apresentam como normas penais em branco, pois necessitam de complementao por parte d outras leis, sejam elas penais ou at extra-penais.

Segundo PRADO, isso ocorre com as normas penais ambientais, pelas conotaes especiais que a proteo ao meio ambiente apresenta, em virtude do seu carter complexo, tcnico e multidisciplinar, bem como pela sua estreita ligao com as normas administrativas, facilitando-lhes a aplicao.

Cabe ressaltar que, devido questo levantada sobre a legitimidade de normas ambientais emanadas dos Estados, tanto as leis emanadas da Unio, Estados ou Municpios, podero complementar as normas penais ambientais que necessitarem de complementao, pois, ao contrrio do que se dizia, que, se tais normas originassem de rgos inferiores, estaria infringindo o art. 22 da Constituio Federal, que delega a atribuio legislativa penal, como atribuio privativa da Unio, no podendo, "dessa forma, os Estados legislar sobre a matria fundamental do Direito Penal". Tais normas, tanto uma quanto a outra podem servir de complementao ao preceito das normas penais ambientais, se tiver sido adotado o modelo da norma penal em branco para a construo do tipo penal e quando aquela forem de ordem secundria e facultativa.

Tambm, dentro dessa controvrsia doutrinria, entende RAMIREZ que tal complementao permitida, pois vem a evitar possveis arbitrariedades no momento da tipificao, no ferindo, portanto o princpio da reserva legal, como outros autores afirmam. Importante considerar que a funo primordial da norma penal ambiental a proteo dos bens jurdicos de relevante valor na comunidade, dirigindo-se somente s aes mais graves, contra bens fundamentais, que so tidas como intolerveis, extremas, onde encontramos os direitos fundamentais da pessoa humana, os direitos sociais, onde se encontra inserida a proteo ao meio ambiente. Contudo, segundo COSTA JR. [18], essa interveno penal dever ser feita "com um sistema articulado em tipos idneos finalidade perseguida e equipado com sanes proporcionais real entidade do dano social acarretado".

A efetividade da tutela que se quer prestar ao meio ambiente depende da construo do tipo penal e, pela enorme gama desses bens relativos ao meio ambiente, tornando difcil sua especificao pelo legislador, do um certo grau de indeterminao aos elementos descritivos da norma penal, como no caso das noes de "poluio", "degradao", "descarga", "emisses", que fundamentam vrias normas penais ambientais.

Qual seria ento a maneira de se lidar com essa falta de clareza do legislador? Segundo FERREIRA:

a utilizao, pelo prprio legislador de uma interpretao autntica de terminologia ou das expresses empregadas, esclarecendo o sentido das palavras mais tcnicas, ou daquelas que tm um determinado sentido comum, mas um significado especial no contexto da lei (...)".

Outro problema com o qual deparamos o do "tipo aberto", o qual tambm pode levar incerteza jurdica, o qual abre margem de dvidas quanto correia verificao da conduta, que legalmente indeterminada. O "tipo aberto", segundo WELZEL, encontrado na norma penal, aquele onde somente uma parte da conduta est legalmente descrita, devendo a outra ser construda pelo juiz para a complementao do tipo.

Os tipos penais ambientais so de regra dolosos, sendo poucas as hipteses nas quais encontramos tais tipos na forma culposa (onde, segundo COSTA JR., implcita est a vontade delituosa na prtica de determinadas condutas vedadas, como o caso da descarga de poluentes no curso de um rio, sem autorizao), ficando impassvei