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CURSO DE DIREITO “RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE PLANOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE” JULIANA MANGINI MIGLIANO RA: 470562-6 TURMA: 3109 A02 FONE: 36673219 E-MAIL: [email protected] SÃO PAULO 2007 13

CURSO DE DIREITO “RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE … · O estudo sobre as operadoras de planos de assistência à saúde merece fundamental atenção, principalmente quando

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CURSO DE DIREITO

“RESPONSABILIDADE CIVIL DAS OPERADORAS DE PLANOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE”

JULIANA MANGINI MIGLIANO

RA: 470562-6 TURMA: 3109 A02 FONE: 36673219 E-MAIL: [email protected]

SÃO PAULO 2007

13

JULIANA MANGINI MIGLIANO

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito sob a orientação do Professor Daniel Fink

SÃO PAULO 2007

14

BANCA EXAMINADORA:

Professor Orientador:____________________________

Professor Argüidor:_____________________________

Professor Argüidor:_____________________________

15

À minha querida mãe, compreensiva e companheira, a maior incentivadora do meu crescimento pessoal e acadêmico.

16

AGRADECIMENTOS:

Considero muito importante expressar meu reconhecimento a algumas pessoas e

instituições que se fizeram essenciais para a concretização deste trabalho.

Desta forma, agradeço:

Ao professor Daniel Fink pela orientação, pelo apoio e pelo estímulo durante o

processo de elaboração desta atividade;

À toda minha família, que sempre torceu e acreditou em mim;

À Advocacia Chiaparini e Bastos, pelo apoio jurídico;

Á Greenline Sistema de Saúde, operadora, que proporcionou todo suporte técnico

necessário para traçar com destreza a tarefa realizada; contribuiu de maneira efetiva

para o desenvolvimento deste estudo e colaborou fundamentalmente para o

aprendizado da matéria;

E, a todos que bem me quiseram e, que de alguma maneira me ajudaram.

RESUMO

17

A Medicina e o Direito formam um conjunto organizado de conhecimentos

responsáveis pelo cuidado com os valores sociais. O estudo sobre as operadoras de

planos de assistência à saúde merece fundamental atenção, principalmente quando

se visa amparar o paciente-consumidor.

As dificuldades econômicas e sociais que atualmente abrangem os

usuários, credenciados e planos, inviabilizam a oferta de serviços de ponta e limitam

o desenvolvimento das empresas. Não obstante, as inúmeras Resoluções e

Decretos, que complementam a análise sobre o sistema, tornam a matéria

complexa, confusa e de difícil compreensão.

Pode-se verificar nos contratos desse segmento que a matéria é ampla na

extensão prática, pois não se trata apenas de um negócio, mas, sim, de um serviço

com especificidade pela natureza do seu objeto.

Ademais, a legislação protetora dos consumidores e a lei dos planos de

saúde apesar de socialmente corretas, importam em maiores despesas e

responsabilidades para as empresas, com intensa fiscalização da Agência Nacional

de Saúde. Na mesma linha, não é coerente impor serviços não computados nos

cálculos atuariais da empresa, de maneira indiscriminada.

Por outro lado, a ocorrência de distorções desfavoráveis aos pacientes,

somente têm solução com atuação do Poder Judiciário. Com efeito, as estipulações

contratuais não se encontram adaptadas ao conteúdo técnico e científico que vigora

no campo da medicina e a operadora também não dispõe de meios eficazes para

responder pela essência do serviço ofertado.

Destarte, instala-se o total desequilíbrio e plena desproporcionalidade no

setor. Não há proteção aos usuários e a viabilidade das empresas encontra-se

comprometida.

18

A questão da qualidade dos serviços e a burocratização imposta pelas

empresas são objeto de freqüentes disputas judiciais. Essa realidade impulsiona a

geração de direitos difusos, próprios das sociedades de massa, aos conflitos de

classes, grupos ou categorias de indivíduos.

Os direitos acima mencionados são direitos incorporados à luta do

homem em busca de melhor qualidade de vida. É com esse sistema, sem

titularidade pessoal, que o Poder Judiciário deve enfrentar as questões decorrentes

da execução dos contratos de assistência médica.

Progressivamente, o movimento em defesa do consumidor invade o setor

e assim a matéria deve ser considerada tendo presente a ligação entre a oferta dos

serviços, o contrato e a prestação efetiva. Portanto, o contrato deve refletir o poder

da publicidade de massa, paga com os lucros da prestadora, em detrimento do

consumidor.

19

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS:

ABRASPE - Associação Brasileira das Autogestões em Saúde Patrocinada pelas

Empresas

AIDS - Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em Português quer dizer

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. AIS - Ações Integradas de Saúde ANS - Agência de Saúde Suplementar

CFM - Conselho Federal de Medicina

CID - Código Internacional de Doenças

CIEFAS - Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência à Saúde

CNDO - Central de Notificação, Captação de Distribuição de Órgãos

CONSU - Conselho de Saúde Suplementar

CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e

de Créditos e Direitos de Natureza Financeira

CPT - Cobertura Parcial Temporária

CTI - Centro de Terapia Intensiva

DLP - Doença e Lesão Preexistente

FENASEG - Federação Nacional das Seguradoras

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

IDEC - Instituto de Defesa do Consumidor

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social

MP - Medida Provisória

MS - Ministério da Saúde

OMS - Organização Mundial de Saúde

PIASS - Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento

RDC - Resolução da Diretoria Colegiada

RN - Resolução Normativa

SES - Secretaria Estadual de Saúde

SIS - Sistema de Informação de Saúde

SUDS - Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

SUSEP - Superintendência de Seguros Privados

20

UNIDAS - União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde

UTI - Unidade de Terapia Intensiva

21

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 13

2. HISTÓRICO DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL ................................... 15

3. A SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL........................................................ 18

4. PRINCÍPIOS E DEVERES NORTEADORES DOS CONTRATOS DE

ASSISTÊNCIA À SAÚDE ...................................................................................... 21

5. NATUREZA JURÍDICA DA SAÚDE SUPLEMENTAR ...................................... 26

6. MODALIDADES DE ASSISTÊNCIA PRIVADA À SAÚDE ................................ 27

6.1. Do seguro Saúde....................................................................................... 28

6.2. Dos Planos de Assistência à Saúde.......................................................... 30

6.2.1. Das Cooperativas............................................................................ 31

6.2.2. Da Autogestão................................................................................. 31

7. CARTEIRA DE TITULARES DOS PLANOS DE ASSISTÊNCIA À

SAÚDE................................................................................................................... 34

8. MODALIDADES DE PLANOS PRIVADOS PREVISTOS NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO........................................................................................ 35

8.1. Do Plano - Referência............................................................................... 35

8.1.1. Procedimentos Excluídos pelo Plano - Referência......................... 37

8.1.2. Transtorno Psiquiátrico e Transplantes........................................... 44

8.1.3. Carência do Plano – Referência..................................................... 45

8.2. Do Plano Ambulatorial............................................................................... 47

8.3. Do Plano Hospitalar................................................................................... 48

8.4. Do Plano Hospitalar com Obstetrícia........................................................ 49

8.5. Do Plano Odontológico.............................................................................. 51

8.6. Dos Produtos Combinados........................................................................ 51

22

9. DAS DOENÇAS E LESÕES PREEXISTENTES............................................... 52

10. RESPONSABILIDADE CIVIL........................................................................... 58

10.1. Noções Gerais......................................................................................... 58

10.1.1. Excludentes de Responsabilidade Civil......................................... 59

10.1.1.1. Excludentes de Responsabilidade Civil Subjetiva................ 59

10.1.1.2. Excludentes de Responsabilidade Civil Objetiva.................. 60

10.2. Responsabilidade Civil à Luz do Código de Defesa do Consumidor...... 60

10.2.1. Modalidades de Responsabilidades Previstas no Código de Defesa

do Consumidor.......................................................................................... 63

10.2.2. Excludentes de Responsabilidade e Procedimento Processual

Previsto no Código de Defesa do Consumidor......................................... 63

10.3. Responsabilidade Civil das Operadoras de Planos de Assistência à

Saúde............................................................................................................... 66

10.3.1. Da Responsabilidade Objetiva...................................................... 66

10.3.2. Da Responsabilidade Solidária..................................................... 67

10.4. Responsabilidade Civil do Médico........................................................... 70

10.5. Responsabilidade da Operadora em Casos de Urgência e

Emergência....................................................................................................... 73

11. DOS CONTRATOS DE ASSISTÊNCIA PRIVADA À SAÚDE ........................ 76

11.1. Características dos Contratos de Planos de Saúde................................ 76

11.2. Das Cláusulas Obrigatórias..................................................................... 80

11.3. Dos Reajustes......................................................................................... 81

11.3.1. Exceção Para os Maiores de 60 (sessenta) Anos......................... 86

11.4. Cancelamento do Contrato e Renovação Automática............................. 88

11.5. Dos Contratos Coletivos.......................................................................... 90

11.5.1. Cancelamento dos Contratos Coletivos........................................ 91

11.5.1.1. Cancelamento do Contrato Coletivo em decorrência do Vínculo

Empregatício e da Aposentadoria........................................................ 92

12. DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR................................ 96

23

CONCLUSÃO........................................................................................................ 99

BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 103

ABSTRACT............................................................................................................ 107

1. INTRODUÇÃO

Será objeto de estudo da presente monografia a responsabilidade da

sociedade civil, que se organiza para suprir a deficiência na saúde pública. O intuito

é destacar de forma resumida, algumas das introduções operadas pela lei e

identificar a norma aplicável ao caso concreto.

Prefacialmente devemos entender, que a questão da saúde está

intimamente ligada ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois o Estado tem

o dever de garantir ao cidadão o acesso universal e igualitário às ações e serviços

para promoção, proteção e recuperação da saúde.

Todavia, diante da falência do sistema público, o Estado brasileiro

transferiu esse seu dever primordial ao setor privado, sem, inicialmente,

regulamentar princípios e condições para atuação daquele. Sendo assim, ocorreu

paulatinamente a substituição do dever estatal pela prestação do serviço por

empresas particulares geridas pelo administrador profissional.

24

Até o surgimento da Lei 9656/98 a oferta e a contratação de bens e

serviços em saúde eram reguladas única e exclusivamente pelas leis de mercado e

as empresas de medicina de grupo, não sofriam qualquer intervenção ou

fiscalização por parte dos órgãos do governo.

A entrada em vigor da lei específica acabou por gerar novos embates,

relacionados ao impacto da nova legislação em contratos a ela anteriores. Destarte,

será desenvolvido igualmente estudo que facilite a composição dos inúmeros

conflitos que envolvem o setor.

Será evocado o Código de Defesa do Consumidor, que ingressou no

sistema jurídico de forma horizontal, para atingir toda e qualquer relação jurídica na

qual se possa identificar em um pólo o consumidor e em outro o fornecedor, não

havendo, portanto, qualquer dúvida a respeito de sua incidência nos contratos do

setor. Frise-se que a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor não afasta

a lei específica, que regula os planos privados.

O estudo visa esclarecer também os fundamentos contratuais e

demonstrar as diferenças entre os diversos tipos de serviços oferecidos. É

importante também, analisar a questão das cláusulas abusivas nos contratos de

planos de saúde, como, a título de exemplo, a cláusula que trata dos reajustes por

mudança de faixa etária.

A proteção da pessoa idosa recebeu importante implementação através

da lei 10.741/2003, denominada “Estatuto do Idoso”, que proíbe a discriminação dos

consumidores idosos quando do reajuste de prestações em razão de mudanças de

faixas etárias e impede também a exclusão de pessoas idosas de planos de saúde.

O idoso é um consumidor de vulnerabilidade potencializada e não pode ter frustrada

sua expectativa quanto ao atendimento médico-hospitalar que não é coberto.

Ademais, será traçado, ao longo do presente estudo, a oportuna criação

de uma agência reguladora para o setor, a Agência Nacional de Saúde Suplementar

25

- ANS, para conduzir um mercado saudável com a proteção indireta dos

consumidores.

O crescente número de ações indenizatórias provenientes de erro médico

e os limites da responsabilidade civil das empresas prestadoras de serviços de

assistência privada à saúde é assunto que merece estudo. O objetivo maior do

presente trabalho é demonstrar a solidariedade passiva dessas empresas à medida

que se começa a exigir mais atenção na seleção dos profissionais credenciados.

26

2. HISTÓRICO DA SAÚDE SUPLEMENTAR NO BRASIL

A punição dos médicos pelos erros cometidos no exercício da profissão,

passou a ser codificada com o Código de Hamurabi ( 2394 a.c), Código de Manu (

22 a.c), com a lei das XII Tábuas ( 452 a.c), e com a lei Aquilio Romana ( 287 a.c).

O Direito Canônico, também influenciou no entendimento de

Responsabilidade Civil Médica.

Foi no ano de 1923 com a promulgação do Decreto legislativo

46.782/1923 de autoria de Eloy Chaves, que o governo brasileiro passou a

disciplinar a atividade de assistência médica.

A Lei 1920/53, regulamentada pelo Decreto 34.596/53, desdobrou o

Ministério da Educação e Saúde em dois Ministérios: Ministério da Educação e

Cultura e Ministério da Saúde.

O seguro-saúde foi instituído no Brasil em 1966, pelos artigos 129 a 135

do Decreto- lei 73/66. É destinado a garantir o pagamento em dinheiro, diretamente

ou mediante reembolso, dos gatos dos segurados com assistência médica e

hospitalar.

Valendo-se da liberdade de forma societária, entraram no mercado as

cooperativas de serviços médicos, regidas pela Lei 5.764/71, que é a lei geral das

cooperativas, permitindo que os médicos se organizassem sob pessoa jurídica.

Em 1975, através da Lei 6.229, foi instituído o Sistema Nacional de Saúde

e em 1977, foi criado o INAMPS, para atender exclusivamente as pessoas que

possuíam carteira de trabalho. O atendimento dos desempregados e residentes no

interior era de responsabilidade das Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e dos

serviços públicos federais.

27

Como tentativa de solucionar a precária assistência médica prestada pelo

INAMPS, surgiu então a chamada medicina de grupo, na região do ABC paulista,

que funciona como um sistema de pré-pagamento, oferecendo planos de saúde para

empresas e famílias.

Em 1979 foi implantado pelo Decreto 78.307/76, o PIASS, investindo para

a expansão da rede de atenção primária de saúde, em municípios no interior dos

Estados da Região Nordeste do país.

Em 1983, se implantou a AIS, que foi o primeiro desenho estratégico de

co-gestão, de desconcentração e de universalização da atenção à saúde.

As entidades de medicina pré-paga não podiam ter como objetivo o lucro,

conforme expõe o art. 135 do Decreto-lei 73; porém a Portaria 3.286/86 do Ministério

do Trabalho passou por cima dessa Lei. No ano seguinte, se criou o SUDS, que

representou a desconcentração das atividades do INAMPS para as Secretarias

Estaduais de Saúde (SES).

A Constituição Federal de 1988, incorporando parcialmente as propostas

estabelecidas pelo movimento da reforma sanitária brasileira, criou o SUS,

regulamentado dois anos depois pelas Leis 8.080, de 19 de setembro de 1990 e

8.142, de 28 de dezembro de 1990.

No ano de 1989 foi publicado o decreto 99.060/90, que transferiu o

INAMPS do Ministério da Previdência para o Ministério da Saúde.

A Lei 6.839/80 obrigou o registro das empresas de medicina de grupo no

CFM e nos respectivos conselhos regionais de cada Estado.

Em 1990 a FENASEG, já tentava reestruturar o seguro-saúde, o que

acabou acontecendo apenas com a edição da Lei 9656/98. O Decreto 100, de

16/04/1991, criou a FUNASA, responsável pela promoção da saúde dos povos

indígenas e da inclusão social por meio de ações de saneamento.

28

Em 27 de julho de 1993, o INAMPS foi extinto pela Lei 8.689, sendo suas

funções, competências, atividades e atribuições absorvidas pela instância federal,

estadual e municipal do SUS. O CFM, no mesmo ano, através da Resolução 1.401

obrigou as seguradoras e administradoras de planos de saúde a garantir o

atendimento a todas as enfermidades relacionadas ao CID, da OMS, sob pena de

cancelamento do registro e aplicação de sanções disciplinares.

No ano de 1996 o Ministério da Educação inicia o projeto de Assistência

Integral à Saúde do Escolar e a Lei 9311/96 institui a CPMF, cuja finalidade seria o

custeio dos serviços de saúde.

Finalmente, a Lei 9656/98 foi editada, para acabar com o desequilíbrio

contratual existente até então, entre as empresas de planos de saúde e seus

consumidores. Existiam mais de 10 (dez) Projetos de Lei1 que tramitavam no

Senado Federal versando a respeito da regulamentação dos planos de saúde.

O Projeto de Lei 4.425/94 foi afinal convertido em lei, e o término do

processo legislativo coincidiu com a substituição do Ministro da Saúde, que

prometeu aperfeiçoar o projeto através de Medida Provisória. Assim que ocorrida a

publicação em 03 de junho de 1998, a lei foi modificada no dia seguinte, pela Medida

Provisória 1.685, que vem sendo sucessivamente renovada.

Surge com a Lei 9656/98 o CONSU, que é um órgão colegiado integrante

da estrutura regimental do Ministério da Saúde. Ele foi alterado posteriormente pelo

Decreto 4.044/01.

Finalmente, em 2000, foi criada a Agência Nacional de Saúde (ANS), que

é uma agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, que traça as diretrizes,

estabelece parâmetros, normas de atendimento, coberturas e reajustes de

prestações.

1 Mariângela Sarrubbo, Convênios Médicos, p.165

29

3. A SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Entende-se que a Carta Constitucional em vigor tem as feições sociais2,

assim como o Código de Defesa do Consumidor, priorizando dessa maneira a

“igualdade” entre os cidadãos. Ocorre, porém, que nessas Constituições acabam

sendo exigidas muitas ações governamentais para corrigir os desequilíbrios.

A Carta Magna de 1988 foi a primeira Constituição brasileira a assegurar

expressamente a saúde pública; em seus artigos 196 a 200 define a saúde como

direito público subjetivo oponível ao Estado.

O art. 196 da Constituição Federal impõe ao Estado o dever de garantia à

saúde da população, assegurando ao cidadão o acesso universal e igualitário às

ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde.

O art. 197, por sua vez, classifica as ações e serviços de saúde como de

relevância pública, dispondo a respeito da possibilidade de sua execução ser feita

diretamente pelo poder público ou, sob sua fiscalização e controle, pela iniciativa

privada.

O art. 198 cria o SUS, que é um “sistema”, pois se caracteriza como um

conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum. É

“Único” porque ele segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos

em todo o território nacional.

Finalmente o art. 199 da Constituição Federal abre as portas ao setor

privado de assistência à saúde. Essa liberdade será sempre exercida de forma

complementar3 ao Sistema Único de Saúde. A atuação privada, com exceção

daquela exercida por instituições filantrópicas não é parceria, mas de concorrência

com o serviço público.

2 Fernanda Schaefer, Responsabilidade Civil dos Planos e Seguros de Saúde, p.27 3 Fernanda Schaefer, ob.cit. p.22

30

Torna-se facilmente perceptível a dificuldade encontrada pelo Poder

Público em dar eficácia aos dispositivos constitucionais citados.

A alternativa encontrada pelo próprio constituinte foi harmonizar o sistema

de saúde pública com a iniciativa privada no setor, já que o SUS não consegue

atender adequadamente a população.

A situação do SUS não melhorou nem mesmo com a instituição em 1997

da CPMF, que teve como finalidade o financiamento da saúde pública, o que

favorece o desenvolvimento do sistema de assistência privada.

Ocorre, porém, que após a Constituição Federal entrar em vigor, foram

necessários 10 (dez) anos4 para que fosse editada uma norma que regularizasse e

fiscalizasse a atuação das operadoras de planos de assistência à saúde, pois até

então, vigorava o princípio da autonomia de vontades, sendo as normas ditadas de

forma totalmente abusivas pelas empresas.

A lei não teve por objeto regulamentar integralmente a atividade do setor

privado. Este desenvolve atividade paralela à do Estado e é movido ora por

altruísmo, ora pelo interesse de almejar o lucro.

Parte da população resolveu aderir aos contratos das operadoras de

planos de saúde, como medida de segurança, para não sentirem-se desamparados

pelo Poder Público; mas até a edição da Lei 9656/98 não existia um equilíbrio nas

relações entre os consumidores e essas empresas privadas.

É fato que a maioria das pessoas residentes no país ainda depende do

setor público, já que apenas 24,5 % 5 da população brasileira possui plano de saúde

ou está coberta por instituto patronal de assistência ao servidor público civil ou

militar.

4 Cláudia Lima Marques, Saúde e Responsabilidade, p.17 5 Disponível no site <www.ibge.com.br> Acesso em 24.02.07

31

Destarte, apesar da Lei 9656/98 ser considerada um marco para melhoria

do vínculo existente entre os consumidores e os planos de saúde, a grande massa

do povo continua dependendo da assistência pública, pois não têm condições de

arcar com o pagamento de valores considerados “elevados” à título de parcelas

mensais.

Sendo assim, apesar da Constituição reconhecer o direito à saúde, como

sendo bem de interesse público, e como um bem indisponível, o cidadão brasileiro é

obrigado a optar pela prestação do serviço por empresas particulares, em

decorrência da falência do serviço público.

32

4. PRINCÍPIOS E DEVERES NORTEADORES DOS CONTRATOS DE ASSISTÊNCIA Á SAÚDE

Antes de relacionar os princípios norteadores das atividades dos planos

de assistência à saúde, é preciso mencionar alguns direitos dos consumidores e

alguns deveres das operadoras.

O art. 6º do Código de Defesa do Consumidor cita alguns direitos básicos

do consumidor, dentre eles: proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos

provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados

perigosos e nocivos; a proteção contra publicidade enganosa e abusiva; métodos

comerciais coercitivos ou desleais; acesso a órgãos administrativos ou judiciários e

facilitação de seus direitos.

Os deveres das operadoras de planos de assistência à saúde são: dever

de efetivamente prestar o atendimento prometido ou reembolsar as quantias

acordadas; dever de repassar aos médicos conveniados e segurados os valores

devidos pelos atendimentos; dever de cuidado; dever de não pressionar os médicos

para escolha de exames e tratamentos ou limitar tempo de internamento; dever de

supervisionar materiais e equipamentos necessários ao desempenho adequado das

especialidades médicas; dever de escolher com atenção os profissionais

conveniados; dever de renovar automaticamente os contratos e dever de respeito a

integridade física e psíquica da pessoa.

Cabe anotar que princípio “é um conjunto de proposições que alicerçam

ou embasam um sistema e lhe garantem a validade” 6

Segundo a lição de José Cretella Júnior 7 “Princípio é uma proposição

que se põe na base das ciências, informando estas ciências, são os alicerces, as

bases, os fundamentos da ciência.”

6 Diógenes Gasparini. Direito Administrativo, p.05, apud Paulo Hamilton Siqueira Jr.Lições de Introdução ao Direito. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p.148 7 Primeiras Lições de Direito, p.222, apud Paulo Hamilton Siqueira Jr., p.148

33

As operadoras de planos de assistência à saúde devem obedecer aos

Princípios estabelecidos pela Constituição Federal e pelo Código de Defesa do

Consumidor, pois os serviços de assistência privada à saúde são considerados

também de relevância pública. Serão nulas todas as cláusulas que contrariem as

normas constitucionais e, inconstitucionais todos os atos normativos que afrontem a

Constituição Federal.

Os contratos oferecidos pelas operadoras de planos de assistência à

saúde devem conter os princípios básicos da igualdade, da boa-fé, da confiança, da

dignidade da pessoa humana, da proteção do consumidor, do equilíbrio contratual,

da interpretação pró-consumidor das cláusulas contratuais, da proibição de inserção

de cláusulas abusivas, do controle judicial dos contratos e da vulnerabilidade dos

consumidores.

O art. 5º da Constituição Federal consagra o princípio da isonomia. Assim,

o cidadão possui o direito indisponível de não ser diferenciado por outros

particulares nas mesmas situações em que a lei também não poderia diferenciar 8

O art. 1º da Constituição Federal estabelece o princípio da dignidade da

pessoa humana, sendo necessário que o contrato leve em consideração o

restabelecimento completo da saúde do consumidor e garanta a mais ampla

proteção ao paciente.

O art. 5º, inc. XXXII da Constituição Federal, dispõe que se houver

qualquer desequilíbrio contra o consumidor, a relação jurídica com o fornecedor será

inconstitucional.

O Código de Defesa do Consumidor estabelece princípios e regras que

deverão incidir na interpretação dos contratos relativos aos planos de saúde, assim,

8 Paulo Hamilton Siqueira Jr, ob.cit. p.149

34

qualquer publicidade vinculará o fornecedor, ainda que tal estipulação não conste do

contrato ou mesmo que o contrato disponha de maneira diferente.

Exige-se a boa-fé não somente no momento da celebração do contrato,

mas também antes de sua celebração e as cláusulas deverão estar claramente

redigidas em destaque, sob pena de, deixarem de vincular o consumidor, como se

infere da leitura dos artigos 46 e 54, § 4º do Código de Defesa do Consumidor e do

art. 16 da Lei 9656/98. A boa-fé é considerada como um princípio básico e um dos

pilares mais necessários para a sustentação da teoria contratual atual.

Boa-fé significa uma atuação “refletida”, atuação refletindo, pensando no

outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos,

seus direitos, respeitando os fins do contrato, agindo com lealdade, sem abuso da

posição contratual, sem causar lesão ou desvantagem excessiva, com cuidado para

com a pessoa e o patrimônio do parceiro contratual, cooperando para atingir o bom

fim das obrigações9.

O princípio da boa-fé tem uma função criadora de novos deveres, que

permite um nível mínimo e objetivo de cuidado e, uma função limitadora que reduz a

liberdade de atuação dos parceiros contratuais.

O conceito de boa-fé pode ser analisado sob dois aspectos: subjetivo:

vontade dos contratantes de não causar prejuízos um ao outro; e objetivo:

tratamento leal e objetivo com o contratante, de acordo com o art. 4º, inc. III do CDC.

O princípio da confiança, intrinsecamente ligado ao princípio da

segurança jurídica, traduz na certeza de que direitos alcançados e prescritos em leis

não podem ser desrespeitados. Tem a intenção de proteger as expectativas

legítimas que nascem do cidadão que confia nas normas prescritas no ordenamento

jurídico. A relação entre o princípio da confiança e da boa-fé é estreita.

9 Claudia Lima Marques, ob.cit. p.145

35

O Código do Consumidor instituiu o princípio da confiança do consumidor

no vínculo contratual, assegurando o equilíbrio das obrigações e os deveres de cada

uma das partes, através da proibição de cláusulas abusivas nos contratos de adesão

e de uma interpretação sempre pró-consumidor.

A confiança também está presente na prestação contratual, pois ao

consumidor deve ser garantida a adequação ao produto ou serviço adquirido,

evitando riscos e prejuízos para atender de forma conveniente a lealdade nas

relações entre fornecedores e consumidores.

Apesar do princípio da confiança não estar expresso em nossa

Constituição Federal, é legítimo e permite que as leis e atos normativos tenham

efetividade e aplicabilidade correta. Encontra-se ínsito no princípio de Estado de

Direito, preceituado no artigo 2º da CF.

O princípio do equilíbrio contratual se manifesta, através da invalidação

de determinadas cláusulas abusivas, como por exemplo, as que determinam

obrigações incompatíveis com a boa-fé, com a equidade ou demasiadamente

desvantajosas para os consumidores; as que obrigam o consumidor, mas abrem ao

fornecedor a possibilidade de concluir ou não o negócio; as que possibilitam

somente ao fornecedor o cancelamento unilateral do contrato e, as que obrigam

apenas o consumidor a ressarcir despesas com cobrança de obrigação contratual.

O princípio da vulnerabilidade dos consumidores protege os beneficiários

de planos de assistência à saúde, que não possuem conhecimento acerca dos

produtos e serviços nem dos aspectos jurídicos do negócio e as suas repercussões

econômicas, contra propaganda enganosa e abusiva.

As cláusulas abusivas atentam contra os interesses da coletividade e não

têm como prosperar em contratos de adesão, pois estabelecem obrigações iníquas,

abusivas ou desvantajosas para o consumidor. Portanto, nem mesmo o princípio da

autonomia da vontade irá legitimar cláusula abusiva, atendendo ao princípio da

proibição de inserção de cláusulas abusivas. Não é permitida a inclusão de

36

excessiva onerosidade ao consumidor para benefício exclusivo do fornecedor,

devendo ser afastadas e declaradas judicialmente nulas.

37

5. NATUREZA JURÍDICA DA SAÚDE SUPLEMENTAR

Deve ser levado em consideração, que a assistência privada à saúde

trata de serviço de relevância pública, que incide sobre um direito subjetivo do

cidadão que é a saúde.

Nesse sentido, Fernandes Neto10 adverte que “Saúde é um bem ou

interesse transindividual que não se confunde com o objeto dos contratos com as

operadoras, mas tem hierarquia superior e força pra determinar-lhes o sentido.”

Segundo Lopes11, trata-se de contratos de natureza especial, cujo

entendimento só é possível deixando-se de lado a simples percepção do caráter

bilateral do contrato e da existência das pessoas jurídicas como verdadeiros seres

humanos. Se o contrato de seguro dá-se entre segurador e segurado, ou, no caso

de planos de saúde, das empresas de saúde ou prestadoras de serviços e seus

respectivos clientes, a operação é sempre de caráter coletivo, mútuo ou solidário,

em algum aspecto fundamental.

Essa mutualidade decorre do fato de que os planos de assistência à

saúde devem gerir recursos captados do público em geral, alocando a cada

segurado ou participante de plano, parte suficiente da receita capaz de cobrir os

riscos contratados.

10 Fernandes Neto, 2002, p.116 abud Fernanda Schaefer. Responsabilidade Civil dos Planos e Seguros de Saúde. Curitiba: Juruá, 2006 11 Saúde e Responsabilidade dos Seguros e Planos de Assistência Privada à Saúde, p.214.

38

6. MODALIDADES DE ASSISTÊNCIA PRIVADA A SAÚDE

Antes de falar especificamente sobre as operadoras de planos privados

de assistência à saúde, torna-se importante definir todos os institutos de assistência

privada à saúde, para estabelecer os limites de responsabilidade de cada

fornecedor. O art. 1º, inc. I e II da Lei 9656/98 dispõem, in verbis:

Inc. I. “Plano privado de assistência à saúde é uma prestação continuada

de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido,

por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a

assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou

serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada,

contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica,

a ser paga integral ou parcialmente à expensas da operadora contratada, mediante

reembolso e pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor.”

Inc. II. “Operadora de Plano de Assistência à Saúde é a pessoa jurídica

constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou

entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de que trata o inciso

I deste artigo.”

De acordo com os dispositivos mencionados acima, entende-se que a lei

denomina os planos e seguros privados de assistência à saúde ora como “produtos”

e ora como “serviços”. O conceito de “produto” caracteriza um ramo industrial

produtor de um bem as vida, sendo que a prestação continuada é uma característica

acidental, pois não se desconhece a existência de seguros temporários12.

A ANS define operadora de planos de assistência à saúde as empresas e

entidades que atuam no setor de saúde suplementar oferecendo aos consumidores

os planos de assistência à saúde13.

12 Maury Ângelo Bottesini, Lei dos Planos e Seguros de Saúde, p.51 13 Disponível no site <www.ANS.gov.br>. Acesso em 01.02.2007.

39

O art. 1º, § 1º da Lei 9656/98, permite que as operadoras de planos de

assistência à saúde ofereçam outros produtos, além daquele conceituado no inciso I,

podendo ter vantagens dos seguros-saúde, como é o caso do reembolso de

despesas com os tratamentos utilizados pelo consumidor.

O art 1º, § 4º da Lei 9656/98 impõe às operadoras e seguradoras a

obrigatoriedade de constituírem-se sob a forma de pessoa jurídica, concluindo-se

que devem estar registradas no Registro do Comércio ou no Registro Civil de

Pessoas Jurídicas.

O plano privado de assistência à saúde que tenha o lucro como

finalidade, não poderá ser uma microempresa, nem sociedade civil sem fins

lucrativos. A sociedade civil, admitida como operadora de plano de assistência à

saúde há de ser sem fins lucrativos.

Apesar do art. 199 da Constituição Federal não permitir a participação de

capital estrangeiro, o art. 1º, § 3º da lei 9656/98, contrariando a regra, admite a

formação ou aumento do capital de sociedades constituídas sob as leis brasileiras,

vedando-lhes a implantação de planos ou seguros próprios.

6.1. Do Seguro - Saúde

Anteriormente à edição da Lei 9656/98, regia o Decreto - lei 73/66, que

estruturou o sistema nacional de seguros privados. Elucidativas são as palavras de

Lopes14 ao tecer a seguinte definição:

“O seguro-saúde é típico contrato de

seguro, que tem por finalidade a

cobertura aos riscos de assistência

médica e hospitalar, sendo a garantia o

pagamento em dinheiro, efetuado pela

14 Ob.cit, p.39

40

sociedade seguradora, à pessoa física ou

jurídica prestante da assistência médico-

hospitalar ao segurado. Ao segurado

assiste o direito de livre escolha do

médico e do hospital. A seguradora não

participa da prestação do serviço,

limitando-se a reembolsar ou pagar

despesas de tratamento.”

Devem revestir-se sob a forma de Sociedade Anônima e serão

fiscalizados pela SUSEP. O seguro-saúde foi instituído no Brasil em 1966, pelos

artigos 129 a 135 do Decreto - lei 73/1966; é a forma de contratação mais antiga

existente no Brasil. O Art. 2º § Ú, da lei 9656/98 expõe, in verbis:

§ Ú “Nos seguros privados se assistência à saúde, e sem que isso

implique o desvirtuamento do princípio da livre escolha dos segurados, as

sociedades seguradoras podem apresentar relação de prestadores de serviços de

assistência à saúde.”

Tal dispositivo fere o princípio da livre escolha. Lopes15 entende que para

ser preservada a livre escolha, o rol não pode ser vinculativo, e sim, meramente

indicativo.

O art. 2º da Lei 9656/98 foi revogado pela MP 1.976/00, reeditada 27

(vinte e sete) vezes, até ser editada a MP 2.177/01, reeditada 44 (quarenta e quatro)

vezes. Se a seguradora apresentar uma relação de rede credenciada, esta deverá

ser considerada como sugestão, pois o consumidor, ao utilizar serviço não

credenciado, terá o direito de ser reembolsado, porém no limite do seu contrato.

Qualquer companhia seguradora poderá obter autorização da ANS para

operar com o produto seguro-saúde, em carteiras próprias.

15 Ob.cit. p.44

41

Existe outra espécie de seguro, denominada nos Estados Unidos da

América “Hospital Cash”16, no Brasil é tratado como uma espécie do gênero “plano

privado de renda e pecúlios”, regulado pela Lei 6.435/77. A Lei 9656/98 não trouxe

para o seu campo de abrangência essa espécie, que é controlada e disciplinada

pela SUSEP.

6.2. Dos Planos de Assistência à Saúde

Fernandes Neto17 delineia o tema com a seguinte definição:

“Os contratos de planos de saúde são

instrumentos de política econômica

adotados para prover o direito à saúde

[...] são pessoas jurídicas de direito

privado, com liberdade de forma

societária, que se dedicam a captar e

administrar recursos necessários ao

custeio de atividades de assistência à

saúde do consumidor, prestando-as

diretamente ou por terceiros.”

As empresas que atuam na área de planos de saúde podem também

atuar na área de seguro-saúde, desde que preenchidos os requisitos de atuação

nessa área.

As operadoras de planos privados podem oferecer suas próprias redes

credenciadas ou referenciadas para atendimento dos clientes, mas as seguradoras

não podem manter estabelecimentos e médicos próprios para atendimento de seus

segurados.

16 O Hospital Cash garante o pagamento de uma renda diária por hospitalização, para cada dia que o paciente permanecer hospitalizado. 17 Direito de Comunicação Social, p.50

42

As formas mais utilizadas são as companhias organizadas sob a forma de

sociedades por ações, e as cooperativas. Torna-se imprescindível citar também, as

empresas ditas de autogestão.

6.2.1. Das Cooperativas

Em consonância com o art. 1º, inciso II da Lei 9656/98, as operadoras de

planos de saúde também podem vestir-se a forma de cooperativa. As cooperativas

começaram a ser estruturadas em 1967 por órgãos associativos da classe médica.18

A cooperativa médica foi a forma encontrada para que os médicos se

organizassem sob pessoa jurídica com estrutura suficiente para operar os convênios

com as empresas, transformando esses profissionais, em sócios dos resultados

financeiros da cooperativa e em prestadores de serviços à empresa de que são

sócios.

O mais conhecido grupo de cooperativas é o Sistema Unimed19, que já

passou por várias modificações dividindo-se em diversas Unimeds.

Sobre o assunto, Bottesini 20 explica que: “os sistemas cooperativos de

exploração dos planos de saúde ainda permanecerão por muito tempo no mercado,

haja vista para o fato de que o cooperativismo parece estar se renovando e

buscando outras formas de atuação, sem competir diretamente com as grandes

empresas operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde.”

6.2.2. Da Autogestão

A autogestão é um grupo fechado de acesso restrito sob a forma de

empresa ou outro tipo de organização (geralmente são empresas de grande porte). 18 Samir Jacob Bechara. Moderno Dirigismo Econômico e o Direito Contratual: Contratos dos Planos de Saúde, p.132 19 Maury Ângelo Bottesini, ob.cit., p.45. Propugna o autor que cada fração do Sistema Unimed tem sido tratada como parte de um Sistema interligado, tanto na esfera administrativa como na esfera judicial. 20 Ibid., p.46

43

Não podem firmar convênio com hospitais ou médicos terceirizados. São

denominadas de autogestão porque gerenciam e controlam os atendimentos e não têm fins lucrativos21.

Ainda que em tese possam reduzir a sua oferta de serviços, essas

empresas só o poderão fazer com a aprovação dos associados ou representantes,

nos termos de seus estatutos e regulamentos.

A autogestão depende de registro junto ao Ministério da Saúde, e é

regulamentada pela resolução 05/98 do CONSU. Essas instituições são um

sucesso, principalmente pelo fato de não ser necessário gastar com publicidade e

com a intermediação.22

Existe um Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência à

Saúde (CIEFAS), operando em autogestão. A par do CIEFAS havia a Associação

Brasileira das Autogestões em Saúde Patrocinada pelas Empresas (ABRASPE).

De acordo com a ABRASPE23, o plano de autogestão, é um sistema

fechado de assistência à saúde, sem fins lucrativos, não-comercializável no

mercado, destinado exclusivamente a uma população definida de beneficiários.

Segundo a Resolução CONSU 5/98, é um plano gerido e administrado pela própria

empresa para seus empregados ativos, aposentados, pensionistas e ex-

empregados, bem como seus respectivos grupos familiares até o terceiro grau de

parentesco.

21 Nos dizeres de Fernanda Schaefer, a autogestão corresponde a um plano de saúde criado por uma ou mais empresas para assistir seus empregados ou funcionários ativos, dependentes, aposentados ou pensionistas e até ex-empregados, que poderão ser chamados a participar financeiramente e da administração. 22 Gislândia Ferreira da Silva, Planos e Seguros de assistência à Saúde, p.70. Elucida a autora que a cobertura assistencial prestada pelas empresas de autogestão inclui dentre outros benefícios, a complementação previdenciária. Assenta ainda que a oferta de serviços só pode ser reduzida mediante aprovação de associados ou representantes, nos termos de seus estatutos e regulamentos. 23 Dados disponíveis no site <www.ABRASPE.com.br.> Acesso em 03.02.2007.

44

Em novembro de 2002 o CIEFAS e a ABRASPE fundiram-se sob a

denominação de União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde

(UNIDAS).

45

7. CARTEIRA DE TITUARES DE PLANOS DE ASSISTENCIA À SAÚDE

O conceito de carteira precisa ser visto em conjunto com as disposições

do art. 24, § 5º e art. 25, VII, da Lei 9656/98 e com a Resolução RDC 82/01. A

carteira traz a idéia de clientela conquistada.

O Art. 10 da Resolução RDC 82 dispõe, in verbis:

Art. 10. “A alienação da carteira se dará sempre a título gratuito ou por

valor simbólico, devendo a disputa ocorrer em função de condições econômico-

financeiras mais vantajosas para os consumidores vinculados à carteira24”.

A Resolução RDC 25/00 da ANS se destina a garantir a manutenção da

prestação de serviços aos beneficiários e as operações voluntárias de alienação da

totalidade da carteira deverão manter integralmente as condições vigentes dos

contratos adquiridos. A questão da alienação parcial da carteira fica dependendo de

prévia autorização da ANS.

24 A Sul América, operadora de planos de saúde, negociou a venda de sua carteira de planos individuais para a Golden Cross, pois pretendia continuar no mercado apenas com contratos coletivos. Outro exemplo de alienação de carteiras ocorreu com a Interclínicas, para a operadora Saúde ABC, mas de forma obrigatória durante processo de liquidação extrajudicial promovida pela ANS em decorrência de insolvência financeira.

46

8. MODALIDADES DE PLANOS PRIVADOS PREVISTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

8.1. Do Plano - Referência

O Art. 10 da lei 9656/98 obriga as operadoras de plano privado aberto (as

operadoras de plano privado fechado não) a ofertar o plano - referência. O Art. 10,

§ 2º dispõe, in verbis:

Art. 10: “Todas as operadoras e administradoras oferecerão,

obrigatoriamente, o plano - referência a todos os seus atuais e futuros

consumidores, exceção feita apenas às que operam com autogestão e àquelas que

operam exclusivamente planos de assistência odontológica.”

Ressalta-se que o legislador apenas instituiu um plano - referência e não

um “seguro-saúde referência” de cobertura mínima. Embora o plano - referência seja

de oferta obrigatória, ele não constitui a cobertura mínima obrigatória a ser

oferecida, é só uma referência.

Em dezembro de 1998, o governo baixou uma Medida Provisória e

transferiu a obrigatoriedade de oferta desse plano para 03 de dezembro de 1999.

A expressão “atuais e” desse dispositivo teve sua vigência suspensa pelo

STF, por força de liminar deferida pelo Ministro Nelson Jobim na ADIN 1931/98. A

conclusão é que o plano - referência somente deve obrigatoriamente ser oferecido

aos titulares de planos que contrataram com a operadora depois de 02/01/1999,

data limite a partir da qual nenhum plano poderia ser comercializado sem que

estivesse licenciado, ainda que provisoriamente na ANS.

Para entender o plano - referência cumpre citar o conceito empregado

por Bottesini25:

25 Ob. cit. p. 76/77

47

“O plano referência é destinado ao grande

contingente de consumidores [...] esses

planos básicos se resumem a

atendimentos em clínicas e centros

médicos ambulatoriais das próprias

operadoras ou em enfermarias de

hospitais menos sofisticados, às vezes

explorados pela própria operadora como

o único disponível, dessa espécie.”

O plano - referência deve cobrir todas as doenças relacionadas na OMS,

em outras palavras, este plano não exclui doenças, mas muitos procedimentos; deve

cobrir parto e atendimento com padrão de enfermaria ou centro de terapia intensiva,

ou similar, quando for necessária a internação hospitalar. A lei põe fim a inúmeros

conflitos existentes, sobre cláusulas que excluíam doenças como a Aids.

Originalmente, o plano - referência deveria ser o “top de linha” ofertado

pelas operadoras e o objetivo político do Ministério da Saúde foi desconcentrar e

aliviar a atuação do poder público e impedir que as operadoras atuassem apenas

em segmentos lucrativos.

A prática mostra, porém, que as operadoras discriminam aqueles que

mantêm o plano - referência, com tentadoras ofertas de outros serviços além do

limite legal, elevando a mensalidade26.

No que tange a obrigatoriedade de oferta do plano - referência existe

duas exceções expressamente previstas em lei: planos de assistência odontológica

e pessoa jurídica de autogestão. Nessas duas modalidades o plano - referência não

é obrigatório.

26 Maury Ângelo Bottesini, ob. cit. p.79

48

8.1.1. Procedimentos Excluídos Pelo Plano - Referência

a) Tratamento Clínico ou Cirúrgico Experimental;

Os tratamentos médicos são classificados em experimentais, aceitos e

vedados. Cabe ao CFM, estabelecer essa classificação por meio de Resoluções. Os

tratamentos experimentais não estarão cobertos pelo plano - referência.

b) Procedimentos Clínicos ou Cirúrgicos Para Fins Estéticos, bem como Órteses e Próteses Para o Mesmo Fim;

Entre a necessidade médica e a finalidade estética existe uma linha muito

tênue, sendo que o critério utilizado para conceituar os procedimentos estéticos,

acaba sendo muito subjetivo, o que gera inúmeros conflitos no judiciário.

Ás vezes o tratamento estético é conseqüência natural do tratamento

necessário, outras vezes tem como única finalidade o embelezamento. Porém em

grande parte dos casos o tratamento estético está estritamente relacionado ao bem

estar psicológico do paciente.

Silvio de Salvo Venosa, 27 ao tratar sobre a Responsabilidade Civil dos

Médicos, relata:

“A cirurgia estética está autorizada no art.

51 do Código de Ética [...] o

desajustamento psíquico é um conceito

dúctil [...] Um aleijão no rosto de uma

jovem causa evidentemente um problema

psíquico. Uma cicatriz em um musculoso

lutador de boxe poderá não causar. Aqui,

27 Direito Civil, p.145

49

também, é o caso concreto que dará a

solução.”

Entende-se que a operadora torna-se responsável pela reparação

puramente estética, quando o procedimento causador da necessidade de reparo

estético, foi coberto pelo plano - referência. No mesmo sentido conclui-se sobre a

responsabilidade da operadora na reparação de danos integrantes do tratamento de

cobertura contratada.

Em relação às órteses e próteses, devem ser compreendidas, para dirimir

os conflitos que surgem. A prótese tem a finalidade de substituição de partes do

corpo humano, e a órtese tem a função de complementar ou auxiliar alguma parte

do corpo.

Tanto a órtese como a próteses estão cobertas pelos planos - referência e

hospitalar, quando não provenientes de finalidade estética. Elucidativos são os

comentários tecidos por Bottesini28 a respeito do tema:

“O INSS deveria fornecer a prótese e a

órtese e a operadora o tratamento, porém

não é o que ocorre.”

Importante destacar a figura do stent, que é um anel de dilatação das

artérias que permite a fluidez do líquido sanguíneo. Surgiram inúmeros conflitos,

sobre a responsabilidade das operadoras de planos de saúde na cobertura de tal

procedimento.

Muitos desembargadores já decidiram que o stent não é uma prótese. O

Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo já firmou entendimento em ações sempre

em prol dos consumidores. Em julgamento pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande

28 Ob. cit. p.85

50

do Sul, definiu-se que stent não é prótese; em seu voto, o desembargador Cacildo

de Andrade Xavier, expõe29:

“O stent é uma estrutura usada para

suportar o vaso depois que ele foi

dilatado, em termos médicos a definição

de prótese é uma estrutura que substitui

outra, no caso, não há substituição, é

apenas uma estrutura que se põe no

sentido de suportar o vaso, evitando que

ele possa fechar [...]. Não é prótese, na

verdade, em termos técnicos, é uma

estrutura de suporte. (Apelação Cível

70002785533, 6ª Câmara Cível, Tribunal

de Justiça do rio Grande do Sul)”

Mostra-se admissível também a concessão de tutela determinando o

suporte dos vasos nesses casos ou, caso já gastos, o pronto ressarcimento por

parte do plano, na colocação do stent, com base no art. 54, § 3º do CDC; art. 6º, inc.

III do CDC; art. 12 § 2º e art. 35-C da Lei 9656/98; art. 247 e 249 do novo Código

Civil.

Remansosamente o Tribunal de Justiça de São Paulo também confere a

antecipação de tutela nessas situações30:

“Plano de saúde. Ação declaratória.

Tutela antecipada para que a empresa

suporte gastos com implantação de

prótese denominada stents. Presença dos

requisitos necessários à concessão da

medida. Agravo não provido. (Agravo de

29 Disponível em <www.tj.rs.gov.br> Acesso em 20.12.06. 30 Disponível em <www.tj.sp.gov.br> Acesso em 20.12.06.

51

Instrumento 267.415-4/7, 4ª Câmara de

Direito Privado, Tribunal de Justiça de

São Paulo, relator desembargador José

Geraldo de Jacobina Rabelo,

14.08.2003)”

“Seguro - saúde. Tutela antecipada.

Colocação de válvula stent na aorta do

paciente. Negativa de pagamento ao

fundamento de que se trata de prótese

excluída de cobertura securitária. Ação

ordinária movida contra seguradora.

Antecipação de tutela para determinar a

ré que proceda ao pagamento imediato

ao hospital da fatura respectiva.

Requisitos do art. 273 do CPC presentes

na espécie. Desnecessidade de

prestação de caução. Decisão mantida.

Recurso não provido. (Agravo de

Instrumento 270.372-4/7-00, 7ª Câmara

de Direito Privado, Tribunal de Justiça de

São Paulo, relator desembargador Carlos

Augusto de Santi Ribeiro, 18.12.2002)”

c) Inseminação Artificial

d) Tratamento de Rejuvenescimento ou de Emagrecimento com a Finalidade Estética;

O tratamento de rejuvenescimento trata-se em última análise, de

tratamento estético. No tocante ao tratamento para redução de massa corporal, ou

para emagrecimento, é evidente que um paciente acometido por obesidade mórbida,

52

não se submeterá a uma cirurgia com a finalidade estética. Sobre a matéria, segue

abaixo o seguinte julgado31:

“Assistência médica - Plano de saúde -

Obesidade mórbida - Recomendação

médica de realização de cirurgia de

‘septação gástrica’ - Recusa ao

pagamento, por parte da recorrente,

indevida - Alegação de cirrurgia estética

improcedente - Art. 10 da Lei 9656/98 e

art. 5º, parágrafo único, a, da Resolução

10 do Consu - Preponderância dos

critérios objetivos e subjetivos do médico

responsável pelo tratamento da paciente -

Ademais, falta de comprovação da

desnecessidade da cirurgia, como

também de que o médico e o hospital

escolhidos pela recorrida não eram

credenciados junto à recorrente, a quem

competia desincumbir-se de tal ônus, no

prazo do art. 33 da Lei dos JEC -

Sentença mantida - Recurso improvido

(1º Colégio Recursal dos JECs da Capital

- Recurso 10880 - j. 27.09.2002 - rel.

Gonçalves Júnior - L. 217/02, f. 179-181)

e) Fornecimento de Medicamentos Importados Não Nacionalizados;

O veto à utilização de medicamentos importados não nacionalizados

colide com as disposições do art. 51, IV, do CDC. Em sua obra, Bottesini32,

novamente propõe a seguinte solução:

31 Disponível no site <www.tj.sp.gov.br> Acesso em 05.12.06 32 Ob. cit. 88

53

“Imputar ao INSS a obrigação de fornecer

os medicamentos importados ou

nacionais [...] Mesmo que a operadora

venha a fornecer os medicamentos

alienígenas ou expressamente excluídos

por estipulação legítima no contrato ou na

apólice, é evidente o direito de reembolso

da operadora contra o INSS.”

Sobre o tema, segue abaixo a seguinte decisão33:

"Apelação cível. Plano de saúde.

Negativa de cobertura para materiais

utilizados na cirurgia do autor, sob a

alegação de que eram importados.

Negativa injustificada, ante a ausência de

exclusão expressa tanto no manual do

plano de saúde, bem como na Lei nº

9.656/98. A ressalva da lei diz respeito

tão-somente aos medicamentos

importados não nacionalizados, o que não

é o caso dos autos. Abusividade da

cobrança dos materiais por parte do

hospital. tendo em vista que não havia, no

momento da alta, qualquer negativa

acerca da cobertura do custo integral do

procedimento. Além disso, o paciente não

foi informado sobre qualquer

irregularidade quanto à realização da

33 Disponível no site <www.stj.gov.br > Acesso em 10.02.07

54

cirurgia." (Ag 777919 Ministro Aldir

Passarinho Junior DJ 18.08.2006)

f) Fornecimento de Medicamentos Para Tratamento Domiciliar;

Se o médico recomenda que o paciente faça o tratamento em casa, por

questões de segurança, e os medicamentos estariam cobertos caso houvesse

internação, o plano deve responsabilizar-se por tais medicamentos.

Se os medicamentos não seriam fornecidos durante a internação

hospitalar, é certo que seu uso está fora da cobertura do plano - referência.

g) Fornecimento de Próteses, Órteses e Seus Acessórios Não Ligados ao Ato Cirúrgico;

Ressalta- se os seguintes julgados34:

“Plano de saúde. Prostatectomia radical.

Incontinência urinária. Colocação de

prótese: esfíncter urinário artificial. 1. Se a

prótese, no caso o esfíncter urinário

artificial, decorre de ato cirúrgico coberto

pelo plano, sendo conseqüência possível

da cirurgia de extirpação radical da

próstata, diante de diagnóstico de câncer

localizado, não pode valer a cláusula que

proíbe a cobertura. Como se sabe, a

prostatectomia radical em diagnóstico de

câncer localizado tem finalidade curativa

e o tratamento da incontinência urinária,

que dela pode decorrer, inclui-se no

34 Disponível no site <www.stj.gov.br > Acesso em 10.02.07.

55

tratamento coberto, porque ligado ao ato

cirúrgico principal. (REsp 519940 / SP ;

Recurso especial 2003/0063287-0

Ministro Carlos Alberto Menezes DJ

01.09.2003 p. 288 )”

“Ação de indenização. Rito sumário.

Plano de saúde. Cláusula abusiva diante

do CODECON. Material utilizado em

cirurgia que não pode ser considerado

como prótese. (Ag 813802 Ministro Aldir

Passarinho Junior DJ 17.11.2006)”.

Conclui-se que as inúmeras decisões desfavoráveis para a operadora,

sobre o assunto, geram a extinção do plano - referência no mercado.

8.1.2.- Transtorno Psiquiátrico e Transplantes

O art. 10, § 4º da Lei 9656/98 dispõe, in verbis:

§ 4º: “A amplitude das coberturas, inclusive de transplantes e de

procedimentos de alta complexidade, será definida por normas editadas pela ANS.”

A Resolução CONSU 11/98 disciplina a cobertura aos tratamentos de

todos os transtornos psiquiátricos codificados na Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Cumpre anotar que o

art. 2º, II, § Ú da Resolução se refere a lesões auto - infringidas, mas o termo correto

seria auto - infligidas.35

A Resolução CONSU 12/98 trata da cobertura de transplantes e seus

procedimentos por parte das operadoras de planos e seguros privados de

35 Maury Ângelo Bottesini, ob.cit. p.95

56

assistência à saúde. Expõe, outrossim, em seu art. 2º, que os planos e seguros

referência e sua segmentação hospitalar cobrirão transplantes de rim e córnea, bem

como as despesas com seus procedimentos vinculados.

Os transplantes de rins e córneas têm cobertura pelo plano, devendo os

candidatos a transplante de doador morto serem inscritos em uma Central de

Notificação, Captação de Distribuição de Órgãos (CNDO). Em transplante de doador

vivo, a fila única é dispensada e todas as despesas, inclusive o pós-operatório,

serão cobertas pelo plano.

Os demais dispositivos da Resolução 12 se referem a transplantes em

geral e não apenas aos de cobertura obrigatória. Se o plano não tiver

estabelecimento apto para realizar o transplante, deve o mesmo ser realizado pelo

SUS com todas as despesas cobertas pelo plano.

O CONSU deixou de fora da cobertura obrigatória os medicamentos

usados após o transplante para evitar a rejeição e outros transplantes usuais, como

os de fígado, coração e medula óssea.

8.1.3. Carência do Plano - Referência

A carência consiste no período de tempo previsto contratualmente e

respaldado na legislação, que decorre entre o início do contrato (assinatura) e a

efetiva possibilidade de uso dos serviços.

No que atine a importância da carência, Lopes36 assenta:

“Com a carência há a preocupação de

permitir o recebimento de um numerário

mínimo do consumidor ingressante, para

a capitalização do fundo mútuo que é

36 Ob. cit. p. 94.

57

utilizado para a cobertura de todos os

eventos [...] qualquer cláusula que

estipule período de carência superior à

expressamente permitida em lei será tida

como nula de pleno direito, não

vinculando as partes contratantes, naquilo

que superar o prazo máximo permitido em

lei.”

O art. 5º, II, da Resolução CONSU 14, estabelece a vedação do

estabelecimento de cláusulas relativas à carência nos planos e seguros coletivos

empresariais com número superior a cinqüenta participantes.

Sempre mais freqüente a venda pelas operadoras, de planos com isenção

completa de carência, ou a “compra” de carência. Vige, em tais casos, o princípio da

vinculação da oferta, ou seja, sempre que for ofertada isenção ou “compra” de

carência para determinadas coberturas, o fornecedor ficará vinculado a cumprir o

que foi propagado, ainda que o contrato disponha de forma distinta.

Nessas mesmas situações, caso o fornecedor venha negar-se a cumprir o

serviço na maneira ofertada, cumpre aplicar o art. 35 do CDC.

Lopes37, em relação ao aspecto da recontagem de carências, entende:

“Jamais o atraso no pagamento pode ser

usado como causa ensejadora da

recontagem de carências [...] o atraso no

pagamento deve ter conseqüências

meramente financeiras, com a incidência

de correção monetária, juros de mora e

multa moratória que forem pactuados.”

37 Ob.cit. p. 96.

58

Os contratos que prevêem como sanção para o atraso no pagamento, a

imposição de multa moratória, correção monetária e juros de mora, além de novo

prazo de carência, não contrariam apenas o art. 16 da Lei 9656/98, mas podem ser

consideradas como verdadeiro bis in idem.

A imposição de novo prazo de carência não só desequilibra a relação

contratual, mas contraria a própria bilateralidade da relação existente e, viola

expressamente a boa-fé objetiva.

A carência máxima para o plano - referência é de 180 (cento e oitenta)

dias, com exceção de emergências ou urgências, em que a carência cai para

24(vinte e quatro) horas, contadas a partir da contratação do plano.

O CONSU estabeleceu ainda uma carência de 24 (vinte e quatro) meses

para o atendimento a eventos relacionados com doenças preexistentes.

Além do plano - referência, a lei criou quatro subplanos que se

posicionam imediatamente acima do plano - referência, quais sejam: plano

ambulatorial, hospitalar, hospitalar com obstetrícia e odontológico.

8.2.- Do Plano Ambulatorial

No plano ambulatorial é assegurado ao beneficiário número ilimitado de

consultas médicas em clínicas básicas e especializadas e presta serviços de apoio

diagnóstico, tratamentos e demais procedimentos ambulatoriais, solicitados pelo

médico.38

O art. 2º da Resolução CONSU 13/98 estabelece que o plano

ambulatorial, deverá garantir cobertura de urgência e emergência, limitada até as

primeiras 12 (doze) horas do atendimento.

38 Gislândia Ferreira da Silva, ob.cit. p.70.

59

Tal plano não permite a internação hospitalar nem procedimentos de

diagnóstico ou terapia que exija apoio de estrutura hospitalar por período superior a

doze horas.

A carência máxima para esse plano é de 180 (cento e oitenta) dias, com

exceção de urgências ou emergências, em que a carência cai para 24 (vinte e

quatro) horas, contadas a partir da contratação do plano.

O CONSU estabeleceu ainda uma carência de 24 (vinte e quatro) meses

para o atendimento a eventos relacionados com doenças preexistentes.

8.3. Do Plano Hospitalar

Qualquer plano que oferecer atenção hospitalar, isoladamente ou em

combinação, terá de garantir atendimento aos casos que requerem a internação em

hospitais, inclusive cirurgias ou outros procedimentos mais complexos.

Neste plano, assim como no plano - referência, o grande avanço trazido

pela lei foi a proibição do limite de dias de internação e do valor.

Apesar do art. 12 da Lei 9656/98 vedar o limite de internação hospitalar,

são freqüentes as demandas no judiciário discutindo cláusulas sobre limitação de

internação em UTI ou CTI.

Destarte, o STJ editou a Súmula 30239:

STJ - Súmula 302: “É abusiva a cláusula

contratual de plano de saúde que limita

no tempo a internação hospitalar do

segurado”. DJU 22.11.2004

39 Disponível no site <www.stj.gov.br> Acesso em 10.02.07.

60

Os fundamentos de lei para a Súmula 302 são o art. 51, IV do CDC, o

art. 5º da LICC, o art. 1460 do CC de 1916 e o art. 12, II, b da Lei 9656/98.

Sendo assim, se existir alguma cláusula no contrato limitando a

internação do paciente, tal cláusula será considerada como não escrita.

Os exames complementares indispensáveis à elucidação diagnóstica e

controle da doença e o fornecimento de medicamentos e tratamentos prescritos pelo

médico são de cobertura obrigatória pelo plano.

O plano hospitalar deve cobrir sala de cirurgia e materiais nela utilizados,

bem como remoção do paciente para outro estabelecimento hospitalar, desde que

necessária, em território nacional, dentro dos limites de abrangência geográfica

previstos no contrato40.

O art. 12 da Lei 9656/98 dispõe que o plano deve cobrir ainda as

despesas de acompanhante, no caso de pacientes menores de dezoito anos. O

mesmo dispositivo já impunha aos estabelecimentos de atendimento á saúde o

dever de proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos

pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.

A carência máxima pode ser de 180 (cento e oitenta) dias, caindo para 24

(vinte e quatro horas) horas nos casos de emergência ou urgência, contadas a partir

da contratação do plano.

8.4. Do Plano Hospitalar com Obstetrícia É o plano indicado para a mulher em idade fértil. Para este plano valem

todas as coberturas citadas no seguimento anterior, mais as seguintes41:

40 Andréa Lazzarini. Planos de Saúde, p.32/33 41 Ibid, p.33/34

61

Procedimentos relativos ao pré - natal; assistência ao parto; cobertura do

recém nascido durante os trinta primeiros dias após o parto; inscrição no plano sem

carências para o filho natural ou adotivo, desde que a aquisição ocorra em até trinta

dias depois o nascimento; eventuais complicações pós-parto da mãe.

A Lei 9656/98 estabelece a carência máxima de 300 (trezentos) dias para

o parto a termo (que completa os nove meses de gestação), ou seja, se o parto não

for a termo, em razão de algum imprevisto, a empresa terá de cumprir seu dever de

prestar assistência.42 Até porque complicações no processo gestacional, como um

parto prematuro, são enquadradas como situação de urgência.

De acordo com o art. 4º, § Ú da Resolução CONSU 13/98, alterada pela

Resolução 15/99, todas as gestantes que não tenham completado ainda os dez

meses de carência, só terão direito ao atendimento de urgência e emergência

durante 12 (doze horas) e, ainda assim, somente em nível de ambulatório. Isso pode

deixar de fora da cobertura casos de aborto e outras complicações da gestação que

exigem internação.

Não há possibilidade de recusa de inclusão do recém nascido no plano,

seja qual for o motivo. Deve-se, também entender, que a cobertura assistencial

estende-se ao recém nascido durante os primeiros 30 (trinta) dias após o parto ou

enquanto durar o tratamento, se iniciado durante os primeiros trinta dias.

Entende-se também, que a cobertura assistencial estende-se ao recém

nascido, filho natural, adotivo, ou à criança sobre quem o beneficiário detenha

guarda judicial.43

42 Vide art. 12, inciso V, a, da Lei 9656/98 43 Gislândia Ferreira da Silva, ob.cit. p.70

62

8.5. Do Plano Odontológico

O plano que assegure atendimento odontológico deve cobrir consultas,

exames auxiliares, procedimentos preventivos de dentística e endodontia, cirurgias

menores, isto é, as realizadas em ambulatório e sem anestesia geral44

De acordo com a Resolução CONSU 10, os procedimentos buco -

maxilares e aqueles passíveis de realização em consultório, mas que por imperativo

clínico, necessitam de internação hospitalar, somente estarão cobertos pelos planos

hospitalar e referência. Deve-se tomar cuidado para que não seja negado o direito a

um procedimento passível de ser feito em consultório somente para excluir.

A carência máxima pode ser de até 180 (cento e oitenta) dias, sendo que

os casos de urgência e emergência têm carência limite de 24 (vinte e quatro) horas,

contadas a partir da contratação.

8.6. Dos Produtos Combinados

O art. 12 da Lei 9656/98 permite a venda de um plano composto por mais

de um segmento.

De acordo com a Resolução CONSU 02/98, entende-se como

segmentação, cada um dos tipos de plano de que trata o art. 12 da Lei 9656/98.

Segmento, para o legislador, significa modalidade ou espécie de plano.

O dispositivo permite a montagem de planos de acordo com o interesse

mercadológico da operadora.45

44 Vide artigo 12, IV, a,b,c, da Lei 9656/98 45 A empresa pode vender um plano “misto” composto pelos segmentos ambulatorial e hospitalar

63

9. DAS DOENÇAS E LESÕES PREEXISTENTES

Este ponto sempre foi um dos mais conturbados na prestação de serviços

assistenciais à saúde. Pois as empresas tentam incluir as doenças congênitas

(nascido com o indivíduo), bem como problemas de câncer , AIDS, ou mesmo a

obesidade mórbida como preexistentes46.

Compreende-se que a inclusão de portadores de doenças cujo tratamento

agrava a equação atuarial que governa a implantação, a administração e o

funcionamento dos planos, representa dificuldade para as empresas.

O art. 1º da Resolução CONSU 2/98 define o conceito de doença e lesão

preexistente (DLP):

Art. 1º: “Definir que doenças e lesões preexistentes são aquelas que o

consumidor ou seu responsável, saiba ser portador ou sofredor, à época da

contratação de planos ou seguros privados de assistência à saúde, de acordo com o

art. 11 e o inciso XII do art. 35-A da Lei 9656/98 e as diretrizes estabelecidas nesta

Resolução”.

Da leitura do artigo acima, conclui-se que se o consumidor desconhecia a

doença na época da contratação, não poderá ser considerada preexistente. Nesse

sentido consigna o julgado abaixo47:

“Esta Corte já assentou que quando o

Acórdão recorrido afirma que o segurado

‘comprovadamente, não sabia da doença

maligna, com isso afastando a má-fé, é

evidente que está repousado nas

circunstâncias fácticas, vedando para o

Especial (REsp. 170.367/CE, DJ

46 Gislândia Ferreira da Silva, ob.cit, p.70/71 47 Disponível no site <www.stj.gov.br> Acesso em 10.02.07

64

26.10.1998). De outra feita, Relator do

Senhor Ministro Eduardo Ribeiro,

entendeu a Corte que para a incidência

do artigo 1444 do Código Civil,

‘necessário que o segurado tenha feito

declarações inverídicas quando poderia

fazê-las verdadeiras e completas. E isso

não se verifica se não tiver ciência do seu

real estado de saúde” (AgRgAg 3.727/SP

- DJ 20.08.1990). E, ainda, Relator

Senhor Ministro Sálvio de Figueiredo

Teixeira, decidiu a Corte que salientando

o Acórdão Recorrido “que não se poderia

imputar má-fé ao estipulante do seguro,

impossível de se cogitar de ofensa ao

artigo 1.444, CC, sem a análise do

conjunto fático-probatório dos autos,

impróprio de se fazer na instância

especial, a teor do verbete 7 da Súmula/

STJ’ (REsp. 40.491/RS - DJ 05.05.1997).

“( REsp. 191.241- PR, j.19.10.1999 - DJU

06.12.1999, rel. Min. Carlos Alberto

Menezes Direito).

A mencionada Resolução do CONSU48 também define outros termos que

devem ser levados em consideração.

Entende - se por cobertura parcial temporária aquela que admite num

prazo determinado a suspensão da cobertura de eventos cirúrgicos, leitos de alta

tecnologia e procedimentos de alta complexidade49. A lei não explica o que são

“leitos de alta tecnologia”, nem o que são “procedimentos de alta complexidade”.

48 Vide art. 2º da Resolução CONSU 2/98 49 Maury Ângelo Bottesini, ob.cit. p.108

65

Entende - se por agravo o acréscimo temporário no valor da mensalidade

ou do prêmio do seguro, com o qual se estabelece cobertura para uma doença já

existente no momento da contratação ou se supera naquele contrato e para aquele

consumidor, uma carência que faz parte integrante do produto registrado na ANS50.

O consumidor deve escolher, na rede credenciada ou apresentada pela

empresa, um médico para realizar uma entrevista qualificada, que resultará no

preenchimento de um formulário de declaração de saúde51. O médico deve então,

atuar como orientador, esclarecendo sobre as doenças que podem ser consideradas

preexistentes. O consumidor pode escolher um médico não credenciado, mas

deverá pagar.

O Instituto de Defesa do Consumidor 52 entende que exigir um exame de

saúde antes da assinatura do contrato, representa uma violação à intimidade da

pessoa que é protegida pela Constituição Federal.

Sendo constatada pela operadora, por perícia ou através de declaração

do consumidor, a existência de doença ou lesão no momento da contratação, deve a

mesma obrigatoriamente, oferecer as alternativas possíveis que estão vinculadas à

imposição de um agravo ou de cobertura parcial temporária, sendo a escolha

exclusiva do consumidor.

Se o consumidor optar pela cobertura parcial temporária53, deverá

suportar uma limitação de 24 (vinte e quatro) meses e, desde então, a cobertura

passará a ser integral, de acordo com a segmentação contratada, sem que possa

ser imposto qualquer agravo ao contratante. Lopes54 entende que nesses 24 (vinte e

quatro) meses o consumidor deveria pagar um preço menor, pois há diminuição do

risco da empresa.

50 Ibid., p.108. 51 Adrea Lazzarini, ob.cit. p.22 52 Disponível no site: <www.idec.org.br> Acesso em 04.10.06 53 Vide art. 5º da Resolução CONSU 2/98 e art. 11 da Lei 9656/98 54 Ob.cit. p.83

66

Após 24 (vinte e quatro) meses de manutenção do contrato de plano de

saúde, não tem cabimento a alegação de preexistência da doença. Tal prazo é

decadencial.

Na cobertura parcial temporária, os atendimentos de urgência e

emergência, relacionados à doença e lesão preexistente terão cobertura igual

àquela assegurada na segmentação ambulatorial, independente do contrato

firmado55.

No que tange ao agravo, caberá à operadora efetuar os estudos de

agravo possíveis e, quando solicitado pelo Ministério da Saúde, comprovar os

valores resultantes56.

A operadora deve obrigatoriamente esclarecer para o consumidor o valor

que será acrescido em suas prestações mensais, em decorrência do agravo. Nesse

sentido Lopes57entende:

“A majoração somente pode valer para

os dois primeiros anos. Depois o preço

deve voltar ao padrão comum, já que,

depois de decorrido o biênio, a operadora

ou seguradora de qualquer modo, teria de

arcar com os custos de tratamento de

qualquer doença, mesmo que

preexistente.”

Como já dito anteriormente, a cobertura parcial e o agravo não valem

para os planos coletivos com mais de 50 (cinqüenta) participantes.

55 Vide art. 5º § 1º da Resolução CONSU 2/98 56 Vide art. 6º § Único da Resolução CONSU 2/98 57 Ob. cit. p.84

67

Cabe à operadora do plano, o encargo de fiscalizar o preenchimento das

declarações no momento da contratação58. Para isto todos os meios de prova em

direito admitidos são válidos. A lei fala em prova e não em simples e infundada

suspeita.

Se antes dos 02 (dois) anos o consumidor apresentar doença que a

empresa entende que exista antes da contratação, a operadora deverá demonstrar

ser tal doença efetivamente preexistente e, provar que o segurado tinha

conhecimento da preexistência.

Se o consumidor de boa-fé, não tiver conhecimento da existência da

doença e a operadora permitir a adesão sem requisitar qualquer exame, caberá à

empresa arcar com os custos do tratamento. A única causa excludente seria a

demonstração de que o consumidor agiu de má-fé, em decorrência do princípio da

boa-fé objetiva.

A empresa ao entender pela preexistência da doença não alegada no

momento da contratação deve comunicar ao consumidor. Caso ele não concorde

com a alegação, toda a documentação deverá ser entregue a um contencioso

administrativo existente no Ministério da Saúde59.

Não será permitida, sob qualquer alegação, a suspensão do contrato até

o resultado do julgamento pelo Ministério da Saúde. Após o julgamento, caso o

Ministério da Saúde acolha a alegação da operadora, o consumidor passa a ser

responsável pelo pagamento das despesas. Não basta a alegação de preexistência,

mas também de conhecimento do consumidor.

As normas do processo administrativo para comprovação do

conhecimento prévio de doença e lesão preexistente são reguladas pela ANS60. A

58 Vide art. 11 da Lei 9656/98, bem como art. 6º, inc. VIII e art. 47 do CDC 59 Vide art. 7º da Resolução CONSU 2/98 60 Vide Resolução RN 55/2003 que não revogou expressamente as disposições da resolução CONSU 2/98

68

operadora não poderá cessar os serviços até demonstrar a preexistência da doença

e a má-fé do consumidor.

No caso do neonato temos duas hipóteses61: Se nascido fora da

cobertura de um plano, com alguma doença congênita, o mal será considerado

como doença preexistente se conhecido do seu responsável. Já no caso de crianças

nascidas de mães com cobertura de parto estão livres de agravo, cobertura parcial

ou carência, desde que estejam inscritas no plano até o trigésimo dia de vida.

61 Vide art. 8º da Resolução CONSU 2/98

69

10. RESPONSABILIDADE CIVIL

10.1.- Noções Gerais

A Reparação Civil é um dever jurídico de recomposição do dano sofrido,

imposto ao seu causador direto ou indireto62.

A Responsabilidade Civil pode ser dividida em:

a) Subjetiva: É apurada mediante culpa do agente causador do prejuízo à

vítima;

b) Subjetiva com presunção e culpa: A Responsabilidade Civil nesse

caso será imputada ao agente independente da prova de culpa nos casos em que a

lei presume a culpa do mesmo, cabendo a este a prova de que não de comportou

dolosa ou culposamente;

c) Objetiva, em razão da atividade perigosa: Independe da existência

de culpa do agente causador do dano, pois o dano ou o perigo resultam da própria

natureza da atividade;

Presume-se perigosa a atividade de transportes, atividades de gestão

desenvolvidas pelo Estado e as relações de consumo63.

Interessa observar que o Código de Defesa do Consumidor consagrou

a teoria da Responsabilidade Objetiva nas relações de consumo. Adota-se a teoria

do risco da atividade para informar a responsabilidade objetiva por erro médico, pois

decorrente de ato ilícito, mas, por natureza, perigoso.

62 Roberto Senise Lisboa. Manual Elementar de Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, p.182 63 Ibid, p.259

70

São necessários dois requisitos básicos na Responsabilidade Objetiva64:

O Dano, que é a lesão ao bem jurídico. Pode ser moral ou patrimonial. O dano

médico pode ir desde uma pequena lesão até a morte, devendo em quaisquer

hipóteses, ser indenizado. O Nexo de Causalidade, ou seja, o dano alegado deve

ter sido causado por um agente, independente da demonstração de culpa ou dolo.

No Código de processo Civil, o nexo Causal é a relação direta entre o defeito e o

produto ou serviço;

d) Objetiva por risco exacerbado: Trata dos acidentes por danos

nucleares. A legislação atual somente prevê a responsabilidade por acidente nuclear

ocorrido nas instalações nucleares.

10.1.1. Excludentes da Responsabilidade Civil

10.1.1.1. Excludentes da Responsabilidade Civil Subjetiva:

a)Legítima Defesa própria;

b)Legítima defesa de terceiro;

c)Estado de necessidade próprio;

d)Estado de necessidade de terceiro;

e)Exercício regular do direito;

f)Estrito cumprimento do dever legal;

g)Caso fortuito;

h)Força maior.

64 Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil, p.258

71

10.1.1.2. Excludentes da Responsabilidade Civil Objetiva:

a)Culpa exclusiva da vítima: Violação ao dever jurídico que causa dano

ao próprio violador;

b)Culpa exclusiva de terceiro: Violação ao dever jurídico de terceiro que

causa dano à vítima;

c)Força maior: Evento inevitável e às vezes imprevisível que prejudica os

interesses patrimoniais ou morais da vítima;

d)Caso fortuito: Evento imprevisível, e às vezes inevitável, que prejudica

os interesses patrimoniais ou morais da vítima.

10.2. Responsabilidade Civil à Luz do Código de Defesa do Consumidor

A Responsabilidade Civil no Código de Defesa do Consumidor, conforme

citado anteriormente, será objetiva. O Código de Defesa do Consumidor é lei de

ordem pública, portanto seus dispositivos são irrenunciáveis, impedindo que as

relações de consumo causem prejuízo ao consumidor e à própria sociedade.

O Código de Defesa do Consumidor traz as características jurídicas da

relação de consumo, que estão configuradas em elementos objetivos e subjetivos65.

a)Os elementos subjetivos são: O Fornecedor e o Consumidor.

Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, e mesmo o ente

despersonalizado (como as sociedades de fato e as irregulares), que promova, a

qualquer título, a circulação de produtos e serviços66.

65 Vide art. 2º e 3º do CDC 66 Vide art. 3º do CDC

72

Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou se utiliza de

um produto ou de um serviço como destinatária final. Também pode ser considerado

consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja

intervindo nas relações de consumo67.

As pessoas atingidas por acidentes de consumo são equiparadas aos

consumidores68 e, finalmente, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas

determináveis ou não, expostas às práticas de consumo69.

b) Os elementos objetivos são: Objeto imediato, objeto mediato e a causa

da relação jurídica

Objeto imediato é a operação jurídica por meio da qual o consumidor

procederá à aquisição do produto ou serviço. Exemplo: compra e venda. Objeto mediato é a necessidade visada pelo interessado, ou seja, o produto (bem móvel ou

imóvel, corpóreo ou incorpóreo) ou serviço (atividade humana remunerada lançada

no mercado de consumo). Para aplicação do Código de Defesa do Consumidor,

basta a presença de um objeto mediato.

Produto70 é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial e;

serviço71 qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante

remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

A Lei 9.656/98, utiliza por 30 (trinta) vezes a expressão “ inciso I e o § 1º

do art. 1º desta Lei” com a finalidade de referir-se a planos e seguros privados de

67 Vide art. 2º § Único do CDC 68 Vide art. 17 do CDC 69 Vide art. 29 do CDC 70 Vide art. 3º § 2º do CDC 71 Vide art. 3º § 3º do CDC

73

assistência à saúde, que em suas modalidades são denominados ora de produtos,

ora de serviços72.

O Código de Defesa do Consumidor somente será aplicado, quando

estiverem presentes todos esses requisitos. Sobre o tema, ressalta-se que as

operadoras, são pessoas jurídicas prestadoras de serviços típicas, cuja atividade

profissional é a prestação de serviços relacionados à assistência privada à saúde,

sendo essa atividade subordinada ao Código do Consumidor, e o consumidor, por

sua vez, goza dos serviços prestados pela empresa como destinatário final,

mediante o pagamento de mensalidades, encontrando-se em uma situação de

vulnerabilidade no mercado de consumo.

Destarte, tem-se que o vínculo existente entre as operadoras de planos

de assistência à saúde e os consumidores, configura uma relação de consumo

manifesta, e ademais, pacífica no poder judiciário, sendo que os beneficiários

desses planos devem ser protegidos por serem hipossuficientes e vulneráveis. Não

há qualquer interpretação aceitável que exclua os planos de saúde da tutela do

Código de Defesa do Consumidor.

O interesse do fornecedor, prestador de serviços relacionados à saúde, é

lucrar com sua atividade e o interesse legítimo do consumidor é conseguir cobertura

de riscos, envolvendo uma expectativa atual e futura, representadas no preço pago

mensalmente e nas contribuições já realizadas.

Apesar do art. 3º da Lei 9656/98, que previa a aplicabilidade subsidiária

do Código de Defesa do Consumidor, ter sido revogado pela Medida Provisória

1.908-19/99, a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor não afasta a Lei

9.656/98 e vice-versa, pois esta cuida exclusivamente da prestação do serviço,

72 Maury Ângelo Bottesini, ob.cit. p.50. Preconiza o autor que ao denominar de produto o plano privado, o legislador reforçou o caráter empresarial da atividade, considerando a empresa como produtora daquele bem de vida.

74

enquanto aquele cuida dos defeitos do descumprimento das obrigações, sendo que

ambas devem ser interpretadas de maneira sistemática.

A Resolução CONSU 8/98 não pode deixar de ser mencionada, pois tem

como finalidade adequar as regras do Código de Defesa do Consumidor, aos

usuários de operadoras de planos de assistência à saúde.

10.2.1. Modalidades de Responsabilidades Previstas no Código de Defesa do Consumidor

a) Por Vício do Produto ou Serviço73: São vícios de qualidade,

quantidade ou informação, que acarretam um dano ao patrimônio do consumidor,

devendo a responsabilização se dar “ in re ipsa”, ou seja, não ultrapassando os

limites valorativos o produto ou serviço74.

Verifica-se nessa modalidade, a responsabilidade apenas por danos

patrimoniais, e todos os fornecedores da cadeia econômica de consumo,

responderão solidariamente perante o consumidor.

Por fato do produto ou serviço75: São também denominados de

acidente de consumo. O escopo do legislador é preservar a saúde, a integridade

física e a vida do consumidor76.

Interessa a responsabilidade pelo fato de serviço, pois os erros médicos

são considerados acidentes de consumo já que causam sérios danos à

personalidade do consumidor.

10.2.2. Excludentes de Responsabilidade e Procedimento Processual Previsto no Código de Defesa do Consumidor

73 Vide art. 18 a 24 do CDC 74 Fernanda Schaefer, ob.cit. p. 84 75 Vide art. 12 a 17 do CDC 76 Ronaldo Alves de Andrade. Curso de Direito do Consumidor, p.146

75

As excludentes de responsabilidade objetiva previstas no Código Civil,

conforme já visto, se limitam à culpa exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro,

força maior e caso fortuito.

Entretanto, o Código Civil será aplicado de forma supletiva às excludentes

previstas no art. 14 § 3º do CDC. Se houver acidente de consumo, a operadora, os

médicos e hospitais deverão trazer prova das seguintes excludentes:

a) Após a prestação de serviço, o defeito alegado não existe, pois não há

dano;

b) Culpa exclusiva do consumidor;

c) Culpa exclusiva de terceiro;

d) Caso fortuito e força maior. No caso de erro médico o imprevisto deve

ser excepcional e inevitável77;

e) Legítima defesa78;

f) estado de necessidade79;

g) exercício regular de direito e cumprimento a dever legal80.

Em relação a culpa exclusiva de terceiro, vale ressalvar que o terceiro

não pode ter qualquer relação jurídica com o fornecedor. Neste ponto Maranhão 81

informa:

“...Se o preposto não se confunde com o

terceiro, comente quando relação de

77 Vide art. 393 do CC 78 Vide art. 188, inc. I do CC 79 Vide art. 24 do Código Penal 80 Vide art. 23, inc. III do Código Penal 81 Ônus da Prova no Código de Defesa do Consumidor: Pensamento Jurídico, p.231

76

subordinação não houver é que pode o

estabelecimento hospitalar eximir-se de

responsabilidade. O preposto, quando

culpado, responde solidariamente com o

fornecedor. A culpa exclusiva do terceiro

é causa eximente da responsabilidade do

fornecedor.”

No que tange ao procedimento especial previsto no art. 101, inciso I do

CDC, a ação poderá ser proposta no domicílio do Autor.82 O dano sofrido pelo

consumidor pode também levar o profissional médico a responder por dano moral,

de acordo com o art. 6º, VI do CDC.

Em matéria de prescrição ou decadência, devem ser examinados os

dispositivos dos arts. 26 e 27 do CDC. O fornecedor responsabiliza-se tanto pelos

vícios aparentes como pelos vícios ocultos.

No que tange a responsabilidade das operadoras dos planos de saúde,

aplica-se o art. 27 do CDC, que nada tem a ver com os defeitos de produtos ou

serviços previstos, mas com os danos ocasionados por eles, tanto materiais como

pessoais83.

O prazo inicia-se a partir do conhecimento do dano e de sua autoria,

sendo que passado esse prazo, perde-se o direito de acionamento judicial. Sendo

assim, a responsabilidade pelo serviço defeituoso está submetida ao prazo de

prescrição de 5 (cinco) anos.

82 Genival Veloso de França. O Código do Consumidor e o Exercício da Medicina, p.58 83 Ibid., mesma página.

77

10.3. Responsabilidade Civil das Operadoras de Planos de Assistência à Saúde

10.3.1.- Da Responsabilidade Objetiva

Não apenas o Código de Defesa do Consumidor, mas o Código de

Processo Civil em seu art. 14, também estabelece uma séria limitação à

responsabilidade das operadoras e seguradoras, pois dispõe que o fornecedor de

serviços responde independente de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores.

Conclui-se que a responsabilidade da operadora, que é a fornecedora de

serviços, independe de culpa, ou seja, é responsabilidade objetiva. Aplica-se tal

responsabilidade não apenas nos casos em que o atendimento da vítima é feita em

hospitais e clínicas da rede própria, como nos casos em que os danos são

decorrentes do atendimento em clínicas e hospitais credenciados ou conveniados.

Não será considerado defeituoso o serviço pela adoção de novas técnicas

médicas, se o fim almejado foi atingido.

Em se tratando de plano de saúde, a responsabilidade deve ser objetiva,

pois deve responder pela escolha de seus profissionais, independente da

constatação de culpa. A operadora de plano de saúde é assim responsável pela

qualidade dos serviços, do atendimento e dos profissionais que põe à disposição de

seus consumidores.

Os planos de saúde respondem independentemente de culpa, pois há

necessidade de pré-verificação da qualidade dos nosocômios e da capacidade dos

profissionais. O credenciamento não deve ser realizado apenas em razão de uma

adequação financeira.

A obrigação dessas operadoras é de resultado, ou seja, assumem o

compromisso de prestar um serviço médico de alto padrão e confiabilidade.

78

Pode ser responsabilizado por acidente de consumo ou vício ou fato do

produto ou serviço, tanto o fornecedor direto ou imediato, como o mediato ou indireto

(participa do contrato). A escolha cabe ao consumidor e, entre os fornecedores

haverá direito de regresso contra aquele que deu causa ao dano. Destaca-se o

seguinte julgado sobre o assunto84:

“CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICOS.

Quem se compromete a prestar

assistência médica por meio de

profissionais que indica, é responsável

pelos serviços que estes prestam.

Recurso especial não conhecido.” (REsp

138059 / MG ; RECURSO ESPECIAL

1997/0044326- Ministro Ari Pargendler DJ

11.06.2001)

10.3.2. - Da Responsabilidade Solidária

O Código de Defesa do Consumidor no art. 7º, § Único; art. 25, § Único e

no art. 18, determina a solidariedade passiva de todos os fornecedores envolvidos

na cadeia econômica. Não obstante, o Código Civil, também prevê a

responsabilidade solidária85.

A responsabilidade será compartilhada pelo médico, pelo hospital, pelos

integrantes das “equipes médicas”, inclusive os paramédicos e pelas operadoras de

planos de saúde, permitindo-se o direito de regresso daquele que ressarcir o dano

contra aquele que o provocou. Nesse sentido segue o seguinte julgado86:

84 Disponível no site <www. stj.gov.br> Acesso em 25.02.07 85 O Art. 942 do CC afirma que “Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão solidariamente pela reparação” 86 Disponível no site <www.tj.df.gov.br> Acesso em 13.02.07

79

Direito Civil. Erro médico. Operação de

períneo. Morte da paciente por

hipersensibilidade a penicilina constatada

no pré-operatório e descuidada na

cirurgia. Responsabilidade da equipe

médica, do hospital e do plano de saúde.

Evidenciado o erro médico que causou a

morte da vítima, impõe-se solidariamente

o dever de indenizar entre a equipe

médica que realizou a cirurgia, o hospital

e a empresa responsável pelo plano de

saúde. Assim, podem os familiares da

vítima fatal optar por demandar todos ou

apenas um dos responsáveis pela

defeituosa prestação de serviço

(Apelação Cível APC 4824898/DF,

110616, 24.08.1998. 1ª Turma Cível,

Waldir Leôncio Júnior, 16.12.1998)

Por conseguinte, qualquer falha na prestação de serviço médico-

hospitalar é suficiente para gerar a responsabilidade solidária do plano de saúde, em

função do risco-proveito por ele assumido.

Se não for provada a culpa do profissional liberal, as operadoras

respondem pela reparação sem a co-responsabilidade dos médicos.

Muitos conflitos acontecem por conta disso, pois as operadoras tentam

exonerar-se da responsabilidade objetiva, com a inexistência da culpa do médico

credenciado ou conveniado.

A operadora não pode exonerar-se contratualmente, pois tem o dever de

garantia legal não apenas pelos serviços prestados mas, também, pela mensagem

publicitária vinculadora. Qualquer cláusula que restrinja, impossibilite, ou atenue a

80

obrigação de indenizar será nula, conforme art. 25 do Código de Defesa

Consumidor.

A operadora, responde dessa maneira, não apenas pelo produto “plano

de saúde” colocado no mercado, como também pela imagem que divulga desse

produto, sendo obrigada a respeitar sua veracidade.

Aconselha-se ter cautela na escolha do responsável solidário, pois às

vezes, a presença de muitos deles poderá impedir a celeridade processual.

Abaixo seguem os pronunciamentos do Tribunal Superior acerca da

matéria em exame87:

“Civil. Responsabilidade civil. Prestação

de serviços médicos. Quem se

compromete a prestar assistência médica

por meio de profissionais que indica, é

responsável pelos serviços que estes

prestam. Legitimidade passiva. Empresa

prestadora de serviço, plano de saúde,

ação de indenização, hipótese, erro

médico, decorrência, caracterização,

responsabilidade concorrente, médico,

hospital credenciado. Recurso Especial

não conhecido (Recurso Especial 138.059

- Minas Gerais. Relator Ministro Ari

Pargendler - Terceira Turma)”.

Civil e processual. Ação indenizatória.

Ressarcimento de despesas médico-

hospitalares. Plano de saúde. Alegação

87 Disponíveis no site <www.stj.gov.br> Acesso em 12.02.07.

81

de erro de diagnóstico no atendimento

pela rede credenciada. Cirurgia de

urgência realizada em nosocômio diverso.

Cobertura negada. Extinção do processo

por ilegitimidade passiva ad causam.

Incorreção. Procedimento da lide. 1. A

prestadora de serviços de plano de saúde

é responsável, concorrentemente, pela

qualidade do atendimento oferecido ao

contratante em hospitais e por médicos

por ela credenciados, aos quais aquele

teve de obrigatoriamente se socorrer sob

pena de não fruir da cobertura respectiva.

2.Recurso conhecido e provido, para

conhecer a legitimidade passiva da ré e

determinar o prosseguimento do feito.

(Relator Ministro Aldir passarinho Junior -

Quarta Turma. Recurso Especial 164.084

- São Paulo)

10.4. Responsabilidade Civil do Médico O CC dispõe sobre o direito de indenização no caso de práticas abusivas

decorrentes de atos ilícitos.

Não apenas as operadoras de planos de saúde, mas os profissionais

liberais podem ser responsabilizados, se avançarem além dos limites legais

impostos pelo fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

A responsabilidade civil do médico, na qualidade de profissional liberal,

será subjetiva, ou seja, mediante culpa88.

88 O art. 14 § 4º do CDC preceitua que a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

82

Justifica-se a adoção da responsabilidade subjetiva para os médicos, pois

nas relações de consumo com seus clientes, não está obrigado a um resultado, já

que existe entre eles um contrato de meios e não de fins.

O Código de Defesa do Consumidor levou em consideração que a relação

de consumo existente entre consumidor e profissional liberal nasce de uma relação

intuitu personae.

Haverá acidente de consumo, quando o médico exercer a atividade de

forma irregular, atípica ou imprudente. O erro médico não pode ser confundido com

a não-realização das expectativas do paciente, mas deve ser entendido como a

falha de técnica médica.

Logo, se o médico trabalha em hospital, responderá apenas por culpa,

enquanto a responsabilidade do hospital será apreciada objetivamente.

Ainda sob o Código Civil, o art. 949 trata dos casos de lesão ou ofensa à

saúde, em que o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos

lucros cessantes até o final da convalescença, além de algum outro prejuízo que o

ofendido prove haver sofrido.

O art. 950 do Código Civil manda pagar uma pensão correspondente à

importância do trabalho para o qual se inabilitou a vítima, ou da depreciação sofrida.

Por fim, o art. 951 do CC afirma que o profissional liberal deverá arcar

com indenização, quando por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte

do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

Apesar do legislador não falar em médico, claramente percebe-se que foi redigido

visando os profissionais de medicina e de odontologia.

Considera-se prática abusiva na relação de consumo aquela que

extrapola a normalidade no exercício da prestação de serviço entre fornecedor e

83

consumidor89. O art. 39, inc. VI e o art. 40 do CDC veda ao prestador de serviço

executar serviços sem a prévia elaboração do orçamento e autorização expressa do

consumidor.

No tocante à prévia elaboração de orçamento, caso o paciente não esteja

amparado por plano ou seguro saúde deve ser verificado o próprio Código de Ética

Médica90.

A medicina acaba apresentando a característica de imprevisibilidade,

sendo que o início e o término da prestação de serviços não podem ser cogitados

nessa atividade.

Caso o profissional execute serviços sem a elaboração orçamentária e

autorização expressa ou tácita do usuário, em casos de não urgência ou

emergência, além de multa, poderão ser aplicadas as seguintes sanções91:

a) Cassação da licença do estabelecimento ou das atividades de pessoas

físicas ou jurídicas que necessitem de licença através de alvará de localização ou

licença da Secretaria de Saúde;

b) Intervenção administrativa com nomeação de interventores ou através

de ordem da administração pública;

c) Suspensão temporária da atividade de fornecedor ou prestador de

serviços;

d) Imposição de contrapropaganda;

e) Suspensão de permissão de concessionário do serviço público;

89 Genival Veloso de França. O Código do Consumidor e o Exercício da Medicina, p.58/59 90 O art. 90 do Código de Ética Médica diz textualmente que é vedado ao médico “deixar de ajustar previamente com o paciente o custo provável dos procedimentos propostos quando solicitados”. 91 Vide art. 56 a 59 do CDC.

84

f) Interdição total ou parcial de estabelecimento ou de atividade, quando

houver maior gravidade e reincidência do prestador e serviços.

As sanções relacionadas serão aplicadas pela autoridade administrativa,

podendo ser cumuladas com a responsabilidade penal e infrações previstas e

tipificadas no CDC. As penas serão aplicadas sem prejuízo das correspondentes às

lesões corporais e a morte.

10.5. Responsabilidade Civil da Operadora em Casos de Urgência e Emergência

Antes de explicar sobre a responsabilidade nesses casos, faz-se mister

mencionar a diferença entre urgência e emergência.

O Art. 35-C da lei 9656/98, instituído por medida provisória, surge para

estabelecer a diferença entre urgência e emergência, através de simples conceitos

médicos.

Sendo assim, a emergência, de acordo com o art. 35-C, I, da Lei

9656/98, é o atendimento que implicar risco imediato de vida ou de lesões

irreparáveis para o paciente, caracterizada em declaração do médico assistente; A

urgência, de acordo com o art. 35-C, II, da Lei 9656/98, é o atendimento resultante

de acidente pessoal ou de complicação no processo gestacional.

A urgência traz a idéia daquilo que deve ser feito com rapidez,

imediatamente. Ex: ameaça de aborto com sangramento ou atropelamento; na

emergência temos uma idéia de imprevisto, de perigoso, e de fortuito, embora não

precise ser atendido com rapidez. Ex: infarto de miocárdio, úlcera perfurada,

hemorragia uterina, psicose aguda, depressão com desejo de suicídio, hematoma

cerebral.

85

Diante da urgência, omitindo-se o médico, responderá pela omissão do

socorro na esfera civil e criminal. Na emergência, a responsabilidade pode atingir

outros profissionais ao qual o doente seja apresentado.

O art. 30 do Código de Ética diz que o alvo da atenção do médico é o

doente, em benefício do qual deverá agir com o máximo zelo e o melhor de sua

capacidade profissional. O art. 156 da lei 10.406/02 diz que configura o estado de

perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua

família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação

excessivamente onerosa.

É vedada a exigência de “caução” nos hospitais, através de notas

promissórias e termos de responsabilidade, de acordo com a Resolução RN 44/03.

Não cabe a desinternação, se o paciente, ainda pendente de carência

para internação em UTI ou CTI, tiver que continuar o tratamento iniciado em

urgência ou emergência.92 A operadora deve dar cobertura e ressarcir-se ou perante

o SUS ou perante o causador do mal que exigiu o atendimento. Nesse sentido, o

seguinte julgado93:

“Plano de saúde - Internação - Não há

contrato válido que restrinja internação

hospitalar para patologia de paciente que

requeira urgência de tratamento, com

risco de vida - Alegação de prazo de

carência destituída de fundamento -

Recurso improvido. (1º Colégio Recursal

dos JECs da Capital - Recurso 9455 - j.

18.09.2001 - rel Aben Athar)”.

92 Maury Ângelo Bottesini. Lei dos Planos e Seguros de Saúde, p.125. 93 Disponível no site <www.tj.sp.gov.br> Acesso em 12.02.07

86

A Resolução CONSU 13/98 dispõe sobre a cobertura nos casos de

urgência e emergência aos diferentes tipos de planos previstos em lei. O plano ou

seguro - referência deverá garantir a cobertura integral, ambulatorial e hospitalar,

para urgência e emergência.

O plano ambulatorial deverá garantir cobertura de urgência e emergência

limitada às 12 (doze) primeiras horas de atendimento. Os contratos de plano

hospitalar e devem oferecer cobertura aos atendimentos de urgência e emergência

que evoluírem para internação, desde a admissão do paciente até a sua alta ou que

sejam necessários à preservação da vida, órgãos ou funções.

Qualquer plano deverá, de acordo com suas características, incluir os

procedimentos de urgência e emergência. Qualquer cláusula restritiva de

atendimento nestas hipóteses seria nula de pleno direito.

A carência máxima para atendimento dessas situações é de 24 (vinte e

quatro) horas, sendo necessário o reembolso, em todos os tipos de plano, nos

limites das obrigações contratuais.

87

11. DOS CONTRATOS DE ASSISTÊNCIA PRIVADA À SAÚDE

11.1. Características dos Contratos de Planos de Saúde As principais características dos contratos de planos de saúde são:

Quanto aos efeitos: a bilateralidade, onerosidade, contratos aleatórios; Quanto à

formação: são contratos de massa e adesivos; Quanto ao momento de sua

execução: execução continuada; Quanto ao agente: individuais; Quanto à forma:

concluídos por escrito;

No que toca à bilateralidade, os contratos de planos de saúde geram

obrigações para ambos os contratantes, há uma reciprocidade, pois a operadora

deve cobrir os eventos contratados e o consumidor deve pagar em dia as prestações

acordadas;

São onerosos, pois, ambos os contratantes obtêm proveito, acarretando

vantagens a ambas as partes, ou seja, sacrifícios e benefícios recíprocos.

Carlos Roberto Gonçalves94 define contrato aleatório como sendo:

“O bilateral e oneroso em que pelo

menos um dos contraentes não pode

antever a vantagem que receberá, em

troca da prestação fornecida. Caracteriza-

se, ao contrário do comutativo, pela

incerteza, para as duas partes, sobre as

vantagens e sacrifícios que dele podem

advir. É que a perda ou lucro dependem

de um fato futuro e imprevisível”.

94 Direito Civil Brasileiro, p.73

88

O vocábulo aleatório é originário do latim álea, que significa sorte, risco.

Porém a álea não pode ser confundida com o risco. Aquela é a probabilidade de

uma vantagem, com a correspondente probabilidade de uma perda. Este é o efeito

de certos negócios jurídicos95.

A contraprestação principal do fornecedor fica a depender da ocorrência

de evento futuro e incerto, que é a doença dos consumidores ou seus dependentes.

A incerteza nesses contratos é em relação à “necessidade” da prestação e não com

que qualidade, segurança e adequação, deve ela ser prestada.

Quando necessária a prestação nos contratos de assistência médica,

deve ser fornecida com a devida qualidade e adequação para que o contrato atinja

sua finalidade.

São contratos de socialização de riscos, há uma solidariedade na divisão

dos riscos e do pagamento, porque aquele que está são e ingressa no plano por

segurança, suporta aquele consumidor que não é mais jovem e necessita de

prestações específicas maiores.

Conclui-se que a álea existe apenas para o consumidor, pois a operadora

baseia a sua prestação em cálculos atuariais por probabilidade de eventos de saúde

na dedução de percentagem certa pra custeio e lucro, não lhe trazendo qualquer

risco.

Consequentemente, a relação contratual do plano de saúde é uma

obrigação de resultado porque o que se espera do prestador é um serviço médico

adequado, um reembolso, fornecimento de exames, alimentação, medicamentos. Se

o consumidor irá curar-se é incerto.

95 Fernanda Schaefer, ob.cit. p. 56

89

Contratos de massa (ou Standard) são aqueles utilizados para a oferta

em massa de produtos e serviços. As relações de massa tendem a ser

despersonalizadas.

O Contrato de adesão é a forma utilizada pelos contratos de massa, pois

não se admite discussão sobre suas cláusulas, já que um dos contratantes elabora o

contrato em forma impressa ou datilografada e o outro, aceita ou rejeita o

documento, como restrição ao princípio da autonomia da vontade. Diferencia-se do

contrato paritário, pois a ausência de negociações implica em clara posição de

desigualdade e inferioridade para o contratante mais fraco.

Cumpre esclarecer que os contratos de adesão são endereçados a um

número indeterminado e desconhecido de pessoas.

Alguns Autores negam sua natureza contratual, já que falta a vontade de

uma das partes, porém o entendimento majoritário é de que a aceitação das

cláusulas, ainda que preestabelecidas, lhe assegura aquele caráter96. O art. 54 do CDC conceitua o contrato de adesão da seguinte forma:

Art. 54: “Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido

aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo

fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou

modificar substancialmente seu conteúdo”.

O art. 47 do CDC estabelece que as cláusulas contratuais sejam sempre

interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

O art. 423 do CC dispõe que quando houver no contrato de adesão

cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais

favorável ao aderente. Não obstante o art. 424 do mesmo diploma proclama que nos

96 Nesse sentido: Carlos Roberto Gonçalves. Direito Civil Brasileiro, p.76 e Silvio Rodrigues. Direito Civil, p.45

90

contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do

aderente à direito resultante da natureza do negócio.

Por conseguinte, qualquer cláusula que não obedeça a Lei 9656/98 ou

aos princípios e deveres (dever de informação, dever de transparência, dever de

destaque das cláusulas limitadoras dos direitos dos consumidores, dever de redação

simples que possibilite sua compreensão pelo homem comum) estabelecidos pelo

CDC e pela CF serão nulas, pois são leis de ordem pública cujo conteúdo não pode

ser afastado.

Contratos de execução continuada ou de trato sucessivo são cumpridos

por meio de atos reiterados. Os contratos de planos de saúde são contratos cativos

de longa duração (quanto maior o vínculo, mais cativo está o consumidor), pois há

uma estreita, cativa e contínua vinculação entre o fornecedor e os consumidores.

São serviços contínuos, pois o contrato não se consuma com apenas um

único ato, complexos e prestados por terceiros. A vigência dos presentes contratos é

por tempo indeterminado (longa duração), ou sujeita a termo final renovável

automaticamente pela ausência de manifestação das partes.

O legislador estabeleceu que o prazo mínimo para vigência dos contratos

é de um ano e que, decorrido esse prazo inicial, passará a viger por prazo

indeterminado, sendo a renovação automática97.

No que tange ao contrato individual, Caio Mário98 destaca:

“Contrato individual é o que se forma pelo

consentimento de pessoas, cujas

vontades são individualmente

consideradas. Não é a singularidade de

parte que o identifica. Pode uma pessoa

contratar com várias outras ou um grupo

97 Vide art. 13 da Lei 9656/98 98 Instituições de Direito Civil, p.71

91

de pessoas com outro grupo, e o contrato

ser individual, uma vez que, na sua

constituição, a emissão de vontade de

cada um entra na etiologia da sua

celebração”.

Os contratos coletivos são denominados convenções coletivas,

constituem um acordo normativo após sua homologação, enquanto os contratos

individuais criam direitos e obrigações.

Os Contratos concluídos por escrito, no caso dos seguros, são ainda

solenes, pois devem obedecer à forma prescrita em lei para serem firmados. A

formalidade nesse caso será substância do ato e a não observância será causa de

nulidade do contrato.

11.2. Das Cláusulas Obrigatórias

O art. 16 da Lei 9656/98 exige não apenas a clareza nos contratos para

facilitar a compreensão, mas também estabelece alguns pontos que

obrigatoriamente devem ser redigidos com tipos legíveis, são eles:

a) condições de admissão;

b) início da vigência do contrato;

c) períodos de carência para consultas, internações, procedimentos e

exames;

d) faixas etárias e os percentuais para reajuste por mudança de faixa

etária;

e) condições em que o beneficiário ou segurado perde seus direitos

(quando atinge a maioridade);

92

f) eventos cobertos e excluídos;

g) modalidade do plano (individual, familiar ou coletivo);

h) franquia, os limites financeiros ou o percentual de co-participação do

consumidor, contratualmente previstos nas despesas com assistência médica,

hospitalar e odontológica;

i) bônus, os descontos ou os reajustes das mensalidades;

j) área geográfica de abrangência do plano;

l) critérios de reajuste e revisão das mensalidades;

m) número do certificado de registro da operadora.

11.3. Dos Reajustes

Cumpre destacar dois reajustes aplicáveis aos planos de saúde de

assistência médico - hospitalar.

Os contratos podem estabelecer reajustes por faixas etárias, desde que

previamente estabelecido, inclusive com fixação dos percentuais de reajustes

incidentes sobre as faixas etárias99.

O art. 35, § 2º e o art. 35 - E, § 2º dispõem que a aplicação de cláusula de

reajuste das contraprestações pecuniárias dependerá de prévia aprovação da ANS,

mas este dispositivo de lei teve sua vigência suspensa pelo STF na liminar deferida

pelo Ministro Nelson Jobim em Ação Direta de Inconstitucionalidade 1931/98.

99 Vide art. 15 da Lei 9656/98

93

A Resolução CONSU 6/98 estabeleceu em seu art. 1º uma divisão etária

por sete faixas. Porém a Resolução RN 63/03 da ANS afirma que deverão ser

adotadas dez faixas etárias, sendo a primeira de zero a 18 (dezoito) anos e a última

de 59 (cinqüenta e nove) anos ou mais. Entretanto a Resolução CONSU 6/98 não foi

expressamente revogada pela Resolução de 2003 da ANS.

O art. 3º, inc. I, da Resolução RN 63/03 dispõe que o valor fixado para a

última faixa etária não poderá ser superior a seis vezes o valor da primeira faixa

etária. O inc. II estabelece que entre a sétima faixa e a décima não pode haver

reajustes somados maiores que aqueles aplicáveis da primeira à sétima faixa.

Em relação aos contratos firmados antes de 01/01/99, o art. 6º da

Resolução RN 64/03 dispõe, in verbis:

Art 6º “Para cálculo do percentual de ajuste da contraprestação

pecuniária, fica definido um Índice Geral - IG de 15% (quinze por cento), que

representa o limite máximo de aumento de receita a ser obtido com os novos valores

a serem adotados, considerando-se o conjunto dos contratos objeto da proposta de

aditamento, observando-se as seguintes regras.”

Os dispositivos da Resolução CONSU 6/98 que tratavam da adaptação

dos contratos anteriores à Lei 9656/98, foram derrogados pelas Resoluções RN 64 e

RN 74.

Existe a possibilidade do titular do contrato estar em uma faixa anterior e

o preço da mensalidade ser maior, em razão da presença de dependente ou

agregado com idade avançada. Sendo assim, o art. 35 - E criou uma fórmula de

diluição do valor das mensalidades em razão da idade dos usuários, titulares e

dependentes.

Ocorre, porém, que todos os dispositivos do Art. 35 - E, exceto o caput e

o § 3º, estão suspensos pela liminar do STF na ADin 1931/1998. A Ação Direta de

Inconstitucionalidade foi ajuizada em dezembro de 1998 pela Confederação

94

Nacional da Saúde, estabelecimentos e serviços CNS, ABRANGE, CIEFAS e

ABRASPE.

Torna-se imprescindível mencionar a existência de outro reajuste,

denominado reajuste financeiro, aplicado por todas as operadoras na data de

aniversário do contrato. Refere-se tanto a contratos individuais e familiares, porém

nos contratos individuais a ANS fiscaliza e autoriza os limites para esse reajuste.

Apesar da ANS não regular estritamente a forma de reajuste dos

contratos coletivos, eles não podem ser negociados em desacordo com a legislação

e com os princípios de proteção do consumidor.

A autorização do aumento deve ser informada no boleto de cobrança da

mensalidade, especificando o índice, o número do ofício com a permissão para o

aumento, o nome e o número de identificação do plano na ANS.

Em maio de 2004, o índice fixado foi de 11,75 %, e em maio de 2005, de

11,69%. A Resolução Normativa nº 128 publicada no Diário Oficial da União de 19

de maio de 2006 estabeleceu o índice de 8,89%, que é aplicado pelas operadoras

que têm data-base entre maio de 2006 e abril de 2007.

O índice de 8,89% vale para os planos de saúde de assistência médico-

hospitalar independentemente de possuírem ou não cobertura odontológica,

contratados por pessoas físicas a partir de 1º de janeiro de 1999, bem como para os

planos adaptados à Lei 9656/98. Estão considerados os planos individuais ou

familiares e aqueles operados por entidades de autogestão não patrocinada, cujo

financiamento de dê exclusivamente por recursos de seus beneficiários.

Para chegar ao índice dos planos novos contratados por pessoas físicas,

a ANS considera a média dos aumentos aplicados aos contratos coletivos nos

últimos 12 meses (contratados por empresas, associações ou sindicatos). É aplicado

em decorrência da inflação nos custos hospitalares, médicos e farmacêuticos,

95

corrigindo o valor do contrato monetariamente, de acordo com índice próprio do

setor, determinado e divulgado anualmente pela ANS.

Em relação aos planos antigos assinados antes de janeiro de 1999, com

cláusulas claras, vale o que estiver no contrato, desde que o índice esteja explícito

(IGP-M, IPC). Se o contrato for omisso, a operadora é obrigada a enviar para os

beneficiários a cópia da cláusula em questão juntamente com o percentual aplicado

e identificação do plano na ANS.

Para os contratos de planos exclusivamente odontológicos que possuem

cláusulas com índice previamente definido, como IGP-M e IPC, deverá ser aplicado

tal índice. Já nos contratos em que não há cláusula de reajuste, a operadora deverá

oferecer ao titular do contrato um termo aditivo propondo a determinação de um

índice de preços divulgados por instituição externa.

Em alguns contratos coletivos de assistência à saúde aplica-se ainda um

terceiro reajuste das mensalidades em função da “sinistralidade”, baseada no

aumento de utilização do plano pela massa de beneficiários.

Ocorre, porém, que essa cláusula é considerada abusiva já que a

operadora não pode reajustar unilateralmente os preços pagos pelos consumidores,

em razão da proibição contida no inc. X do art. 51 do CDC. Ainda que contratado de

forma coletiva, o contrato inclui-se na categoria dos contratos de consumo.

A cláusula que prevê o aumento em razão da “sinistralidade” pode ser

considerada abusiva à luz do inc. IV do art. 51 do CDC, pois elimina a característica

aleatória do contrato de plano de saúde, transferindo ônus que, em princípio seria

seu, para a outra parte, através de uma onerosidade excessiva.

É imprescindível que qualquer aumento contratualmente previsto seja

veiculado através de fórmula claramente definida, de sorte a fornecer

96

antecipadamente ao contratante uma noção do ônus que suportará. Sobre o tema,

seguem os seguintes pronunciamentos100:

“Medida cautelar. Concessão de liminar.

Seguro saúde. Reajuste de mensalidade.

Cláusula leonina. CDC. Agravo de

Instrumento. Recurso desprovido. Agravo

de Instrumento. Decisão concessiva de

liminar em ação Cautelar. Aumento de

cerca de 170% no valor das prestações

das mensalidades em plano de saúde,

decorrentes de contrato, firmado há 17

anos, por haver completado a beneficiária

60 anos de idade. Prática abusiva vedada

pelo Código de Defesa ao Consumidor.

Presentes o fumus boni iuris e o

periculum in mora. Desprovimento do

recurso.(TJRJ; AI 1999.002.2049,

20.04.1999)

Seguro saúde. Cláusula de reajuste.

Cômputo da idade. Cláusula leonina.

Nulidade de cláusula. Plano de Saúde.

Reajuste das prestações. Aumento

excessivo, de cerca de 100% (cem por

cento) do valor da prestação por

implemento da idade. Contrato anterior à

Lei do Consumidor. O fato de o contrato

ter se iniciado anteriormente à vigência do

CDC, não retira a sua aplicabilidade à

hipótese, quando as alterações no valor

100 Disponíveis no site <www.tj.rj.gov.br> Acesso em 13.02.07

97

das mensalidades por faixa etária vem a

ocorrer sob a sua égide. Contrariedade ao

equilíbrio contratual, evidenciando abuso

de direito, se estipulado aumento de

100% (cem por cento) sobre as

contribuições por ter o contribuinte

atingido 70 (setenta) anos de idade.

Invalidade das cláusulas abusivas, nos

termos da Lei 8078/90, aplicando-se os

índices de correção monetária adequados

à hipótese. Não ocorre dano moral pois o

contrato apenas pretendeu que se

observasse seus termos, embora

contendo cláusulas abusivas, o que não

evidencia constrangimento à Apelante.

Recurso parcialmente provido.(TJRJ

Apelação Cível, nº do proc.

1999.001.19254, des. Sidney Hartung,

06.04.2000)

11.3.1. Exceção Para os Maiores de 60 (Sessenta) Anos O Art. 15 § Ú informa que é vedado o reajuste para os contratos de

beneficiários que contem mais de 60 (sessenta) anos de idade e pelo menos 10

(dez) de adesão ao plano. Porém esse dispositivo foi derrogado pela Resolução RN

63/03, sendo necessário apenas ter mais de 60 (sessenta) anos de idade para não

ter suas mensalidades reajustadas.

A proteção da pessoa idosa (acima de 60 anos) recebeu importante

implementação através da Lei 10.741/2003 conhecida como “estatuto do idoso”, que

veda qualquer forma de discriminação do consumidor idoso em planos e seguros de

saúde e que se manifestem através de cobranças de valores diferenciados em razão

98

da idade. O último aumento permitido por mudança de faixa etária deve ocorrer aos

59 (cinqüenta e nove) anos do consumidor.

A questão dos contratos anteriores ao Estatuto do Idoso (§ 3º do art. 15) e

dos contratos anteriores à Lei 9656/98 (art. 35-E), dependerá do julgamento final da

referida Adin 1931/98.

No âmbito de proteção dos idosos o Código do Consumidor dispõe no

inciso IV do caput do seu art. 39 tratar-se de prática abusiva, vedada pelo fornecedor

de produtos ou serviços, prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor,

tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-

lhes seus produtos ou serviços.

Além das normas constantes do Código de Defesa do Consumidor, o

consumidor de planos de saúde, não necessariamente o idoso, encontra amparo

também junto a Portaria da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça,

que prevêem rol de cláusulas contratuais consideradas abusivas, e são editadas em

aditamento ao art.51 do CDC. Cumpre citar a ementa do seguinte julgado101:

“Plano de saúde - faixa etária -

Adequação à Lei 9656/98 que deve ser

realizado sem ônus para o consumidor -

Impraticável o aumento em razão do

octogésimo aniversário do consumidor se

a legislação vigente já fixou como última

faixa aquela dos ‘setenta anos ou mais’

(inciso VV do art. 1º da Resolução

CONSU, de 03.11.1998, que

regulamentou o art 15 da Lei 9656/98) -

Cobrança excessiva caracterizada -

Recurso a que se nega provimento

101 Disponível no site <www.tj.sp.gov.br > Acesso em 13.02.07

99

porque deve a recorrente devolver os

valores recebidos de forma abusiva” (1º

Colégio Recursal dos JEC da Capital -

Recurso 7.536 19.09.2000)

11.4. Cancelamento do Contrato e Renovação Automática

O art. 13 da Lei 9656/98 impede que a operadora cancele o contrato

unilateralmente. Mas há duas exceções:

a) Atraso no pagamento por mais de sessenta dias por ano de vigência do

contrato. A operadora pode rescindir o contrato se o consumidor atrasar uma ou

mais mensalidades de modo que esses atrasos totalizem mais de sessenta dias no

período de um ano. Decorrido esse período, os atrasos do passado não são mais

computados. Ex: Se nos primeiros 05 (cinco) meses do período de um ano de

vigência houver atraso no pagamento de duas parcelas, deve de admitir o

pagamento dos atrasados e o restabelecimento do contrato. Se, porém, ocorrer o

terceiro atraso antes que se complete aquele ano, a operadora pode resolver o

contrato.

b) Fraude do consumidor: a empresa pode rescindir o contrato se, por

exemplo, quando o plano for utilizado por pessoa estranha ao contrato ou se o

consumidor não declarar uma doença preexistente.

No entanto, para a operadora suspender o atendimento e resolver o

contrato, deverá notificar o usuário até o 50º dia de inadimplência, caso não seja

notificado, o consumidor poderá emendar a mora e restabelecer o contrato mesmo

que o atraso seja superior a 60 (sessenta) dias.

A Lei 9656/98, em seu art. 13, inc.III, permite concluir que em qualquer

caso a resolução do contrato só é permitida quando o titular não estiver internado.

Mesmo se o consumidor estiver internado em unidade de terapia intensiva (UTI), o

100

plano deve custear a internação pelo tempo determinado pelo médico, não podendo

transferi - lo ou limitar o número de dias de internação hospitalar.

Apesar do dispositivo apenas referir-se ao titular do plano, o dependente

não pode ser desinternado, se não houver outra instalação hospitalar, porque não

pode haver tratamento discriminatório dos usuários dos planos de saúde.

Anteriormente à Lei 9656/98 eram comuns as “expulsões” dos planos,

pois existiam cláusulas nos contratos dizendo que qualquer das partes poderia, a

qualquer momento, rescindir o contrato. A operadora era sempre favorecida, pois os

usuários que adoeciam mais, ou aqueles que atingiam idade avançada após pagar

anos de plano e ter cumprido as carências exigidas, eram informados que o contrato

seria rescindido a partir do mês seguinte.

Alguns autores entendem que essa restrição à liberdade de resolver o

contrato torna tal dispositivo de constitucionalidade duvidosa, diante da liberdade de

contratar e da inexistência de contrato perpétuo nem de obrigação legal de

permanecer eternamente vinculado por contrato.

Todavia, o que a lei não permite é a denúncia imotivada pela operadora

quando houver prejuízo irreparável para a parte inocente, sendo permitido colocar

fim ao vínculo, desde que a parte que der causa ao dano responda pela reparação.

Como as operadoras estão proibidas de cancelar unilateralmente os

contratos, esses documentos terão renovação automática, não sendo permitida

nenhuma cobrança adicional no ato da renovação.

É vedado às operadoras reiniciarem a contagem dos prazos de carência

quando da renovação, adaptação ou pagamento de mensalidades em atraso por

período inferior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses.102

102 Vide art. 13, inc. I da lei 9656/98

101

O CDC também impede que o fornecedor de serviços de saúde modifique

ou cancele unilateralmente o conteúdo do contrato, pois a escolha sempre deve ser

do consumidor. As cláusulas previstas em contratos anteriores à vigência da lei

9656/98, que autorizarem estas práticas, serão abusivas e nulas, uma vez que o

CDC é norma de ordem pública103.

11.5. Dos Contratos Coletivos

Contrato coletivo é aquele em que a empresa contratada forma uma rede

de consumidores, agrupados por um interesse comum e por um representante

legitimado coletivamente que firma um contrato com um fornecedor de serviços. Este

fornecedor indireto organiza sua rede de fornecedores diretos104.

Este modelo coletivo também está subordinado ao CDC e permite que

empregados e servidores defendam seus interesses em juízo e fora dele quando o

representante legitimado prejudicar os interesses dos consumidores105. O

estipulante deve proteger e realizar os interesses legítimos e contratuais de seus

representados (beneficiários principais e dependentes).

A formação de redes contratuais ou grupos acaba por impedir ou limitar a

capacidade de escolha individual do consumidor106.

As operadoras de planos de assistência à saúde preferem esses

contratos não apenas pelo lucro, mas pelo estado de catividade e grande número de

consumidores, formando uma relação de massa despersonalizada. Todavia o

fornecedor deve incluir os riscos em seus cálculos e manter as promessas feitas

com os consumidores, evitando frustrar o fim do contrato.

103 Vide art. 51 e 54 do CDC 104 Claudia Lima Marques, ob.cit. p. 136 105 Vide arts. 81, 82, 83, 91 e 101 do CDC 106 Roberto Senise Lisboa, ob.cit. p. 124

102

11.5.1. Cancelamento de Contratos Coletivos

A denúncia unilateral e a rescisão são consideradas abusivas também

nos contratos coletivos, onde a catividade e a falta de possibilidade de escolha do

consumidor é maior, sendo a repercussão social muito intensa. O representante dos

consumidores negocia a renovação ou continuação do contrato em nome de um

grande número de pessoas, que não podem impedir que o fornecedor desvincule-se.

A jurisprudência e o CDC consideram abusiva toda a denúncia unilateral,

face ao desequilíbrio de forças das partes, à boa-fé e ao interesse do consumidor na

continuação do vínculo já que todos os contratos procuram o equilíbrio.

A Resolução CONSU 14, em seu art. 6º, dispõe que no plano ou seguro

coletivo poderá também ocorrer, a denúncia unilateral por inelegibilidade, ou perda

dos direitos de titularidade ou dependência.

Bottesini107 explica que a inelegibilidade, para os efeitos da lei, está

relacionada com a forma de vinculação ao plano coletivo, empresarial. Portanto, se o

dirigente sindical não for reeleito, ou se tornar inelegível, ou ainda, se o empregado

for demitido, o contrato poderá ser desfeito pelo usuário.

A operadora poderá colocar fim ao vínculo, com a alienação de carteira,

nos casos legalmente previstos, mas com o imediato restabelecimento do vínculo

com a operadora adquirente, nas mesmas condições da alienante. A cessão de

carteiras ou de planos não pode ser usada em fraude à lei para forçar a modificação

do conteúdo contratual, podendo, por conseqüência, prejudicar os consumidores108.

107 Ob.cit. p.137 108 Vide art. 51, inc. XIII do CDC

103

11.5.1.1. Cancelamento do Contrato Coletivo em Decorrência do Vínculo Empregatício e da Aposentadoria

O Art. 30 da Lei 9656/98 dispõe, in verbis:

Art. 30 “Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o

inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no

caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é

assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas

condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato

de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.”

Apesar do dispositivo apenas tratar das relações de trabalho em que há

vínculo empregatício, compreende-se que o art. 30 há de ter aplicação aos

empregados e prestadores autônomos de serviços, os denominados terceirizados,

pela isonomia de tratamento dos consumidores, que impede discriminação em razão

na natureza jurídica do vínculo.109 Pode-se deduzir que os trabalhadores avulsos

também estariam incluídos no dispositivo em questão, em consonância com o art. 7º

da CF.

Rescisão do contrato de trabalho sem justa causa traduz-se pela

demissão imotivada do empregado que mantém contrato de trabalho regido pelo

regime celetista.110 Enquanto que, exoneração, é instituto de direito público, é o

pedido de demissão pelo próprio servidor público.

Não há previsão específica de manutenção do plano de saúde em caso

de demissão motivada (rescisão do contrato de trabalho por justa causa), pois a

demissão equipara-se à rescisão, porém é penalidade imposta ao servidor.

A lei não menciona também as hipóteses de suspensão do contrato de

trabalho e nem mesmo os casos em que os sócios da firma estipulante do plano se

109 Vide arts. 196, 5º, 6º, 7º e 225 da CF 110 Vide art. 479 da CLT

104

desliguem da sociedade111. Há ainda os empregados que aderem aos Planos de

Desligamento Voluntário (PDV), já que não se trata de demissão sem justa causa.

O art. 30 da Lei 9656/98 estipula que o cônjuge separado também tem o

direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura

assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho desde que

assuma seu pagamento integral. Aos filhos do cônjuge separado a vinculação

também deve ser mantida, conforme as cláusulas dos acordos de separação.

O § 1º do art. 30 da Lei 9656/98 limita o prazo de manutenção da

condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que

gozava quando da vigência do contrato de trabalho, por um terço do tempo em que

esteve filiado ao plano de saúde coletivo. No entanto o piso é de 06 (seis) meses e o

teto de 24 (vinte e quatro) meses.

O § 2º deste art. 30 afirma que o passamento do titular filiado a um plano

empresarial coletivo de saúde implica a sucessão pelos seus dependentes,

agregados e herdeiros. Não é necessário inventário e havendo negativa da

operadora, a questão poderá ser objeto de ação declaratória e condenatória.

O § 5º do art. 30 diz que o benefício não será aplicado quando o

consumidor titular for admitido em novo emprego. Bottesini112 explica que o

dispositivo não pode ter aplicação se no novo emprego não existir um plano

empresarial coletivo acessível a todos os empregados.

O art. 2º, § 7º, da Resolução CONSU 20/99 afirma que o vínculo do titular,

dos dependentes e agregados se mantém por prazo indeterminado, desde que haja

pagamento integral da mensalidade. Ex: A CASSI ( Caixa de Assistência dos

Funcionários do Banco do Brasil) permite que seus ex-associados permaneçam no

plano, mesmo cessado o vínculo trabalhista.

111 Vide art. 461 a 476 da CLT 112 Ob.cit. p.266

105

Se a legalidade da demissão estiver sendo discutida judicialmente, a

operadora deverá manter o vínculo contratual nas mesmas condições de admissão.

O juiz trabalhista pode deferir em antecipação de tutela para pagamento integral da

mensalidade.

O § 6º do art. 30 da Lei 9656/98 define que não pode ser considerado

“contribuição para os produtos”, ou seja, pagamento da mensalidade do plano de

assistência à saúde, a co-participação do consumidor, única e exclusivamente, em

procedimentos dos serviços de assistência médica ou hospitalar.

Algumas empresas contratam planos de saúde para seus empregados e

incluem esse benefício como cláusula de convenção coletiva, entretanto torna-se

cada vez menor o número de empresas que custeiam integralmente os planos e

seguros de saúde para seus empregados.

É de salientar-se que não existe qualquer lei que determine a

obrigatoriedade do empregador em oferecer ou copatrocinar cobertura assistencial

de saúde à seus empregados, porém se oferecerem este benefício voluntariamente,

incorpora-se ao contrato de trabalho.

A aposentadoria desfaz o vínculo empregatício, sendo frequentemente

denominada jubilamento. O art. 31 da Lei 9656/98 informa que o aposentado que

contribuir para o plano coletivo de assistência à saúde, em decorrência de vínculo

empregatício, por mais de 10 (dez) anos, tem garantido a manutenção do mesmo

nas mesmas condições quando da vigência do contrato de trabalho, desde que

assuma o seu pagamento integral.

Não é essencial que seja um único plano, de uma única operadora por 10

(dez) anos, pois podem ser planos sucessivos, tenha ou não havido interrupções,

por 10 (dez) anos ou mais.

O aposentado que contribuiu por menos de 10 (dez) anos também tem o

direito de se manter no plano, porém por um período limitado, à razão de 01 (um)

106

ano para cada ano de contribuição, sendo descartada a fração do período de um

ano incompleto. Por exemplo, se participou de um plano coletivo durante 07 (sete)

anos, poderá usufruir daquele plano durante mais sete anos, pagando a prestação

integral.

Os dependentes e agregados do aposentado também continuam com

direito à cobertura, desde que mantenham essa condição de dependente ou

agregado e se o consumidor for admitido em novo emprego, perde a garantia a esse

direito.

107

12. DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR

A lei 9961/00 criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS ,

que é uma agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde e trabalha para

promover o equilíbrio nas relações entre as empresas operadoras de planos de

saúde e os consumidores.

As agências reguladoras têm a natureza de autarquias especiais e

integram a Administração Federal indireta113. Os diretores de tais agências são

nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado, para cumprir

mandatos.

O Estado para promover o bem social sem assumir diretamente as

atividades econômicas, cria competências para atender e organizar as demandas da

sociedade. As agências reguladoras surgem com o propósito de controlar as

atividades privadas na execução de serviços de caráter público, sendo

imprescindível no processo de descentralização estatal.

A ANS é uma autarquia especial que tem sede e foro na cidade do Rio de

Janeiro. Surgi para promover a defesa do interesse público e regular as relações

entre prestadores e consumidores.

A lei foi alterada por medidas provisórias e aguarda consolidação pelo

Congresso Nacional. A ANS tem por finalidade institucional promover a defesa do

interesse público na assistência suplementar à saúde, regular as operadoras

setoriais e contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde no país114.

O setor de saúde suplementar reúne mais de 2000 (duas mil) empresas

operadoras de planos de saúde que atende a mais de 37 (trinta e sete) milhões de

113 Odete Medauar, Direito Administrativo Moderno, p. 85 114 Disponível no site <www.ANS.gov.br> Acesso em 13.02.07

108

consumidores atualmente. A ANS trabalha para promover a estabilidade entre esses

segmentos115.

As funções da Agência são econômico-financeiras, defesa da

concorrência, garantia do cumprimento dos contratos, defesa do consumidor,

preservação da qualidade do produto assistência à saúde e garantia de adequadas

condições de acesso à saúde.

A ANS deve promover o relacionamento efetivo entre os envolvidos no

setor e reunir, organizar, consolidar e divulgar informação. Deve também garantir

direitos e deveres para corrigir as imperfeições do mercado em uma gestão

transparente, propiciando condições de acesso à Saúde Suplementar para a

população brasileira.

A Agência surgiu para promover também o desenvolvimento e para

solucionar problemas locais e nacionais, através de uma perspectiva de valorização

da cidadania. Tem a obrigação de fiscalizar o cumprimento da legislação referente

aos aspectos sanitários e epidemiológicos.

Atualmente, a ANS conta com o Sistema de Informações de Produtos

(SIP), implantado pela Resolução RDC 85/2001, que coleta dados sobre a

assistência prestada a beneficiários pelas operadoras desde janeiro de 2002. O SIP

permite acompanhar a assistência hospitalar prestada à beneficiários de planos

privados de assistência à saúde.

Todavia, a ANS necessita avançar na construção de um sistema de

informações melhor para acompanhar a assistência prestada à beneficiários dos

planos privados, pois a saúde é um bem de alta relevância social e portanto, merece

uma regulação completa.

115 Disponível no site <www.ANS.gov.br> Acesso em 13.02.07

109

Ademais, para racionalizar o sistema de saúde, a ANS deverá buscar

formas de aumentar a eficiência no setor para que os preços possam ser

controlados. Apenas a ANS tem condições de reverter essa situação, criando

condições para que empresas pequenas também possam ofertar planos de saúdes

individuais.

110

CONCLUSÃO

A saúde é um direito público subjetivo oponível contra o Estado, pois a

Constituição Federal traça as diretrizes do sistema nacional de assistência à saúde.

As instituições privadas participam do sistema apenas de forma complementar e o

objeto maior desses contratos é a proteção da saúde do consumidor.

Essas instituições privadas se auto-organizam para oferecer uma

mercadoria ao público, mediante contribuição baseada no fator álea, ou seja, em

probabilidades previamente conhecidas e elencadas em quadros estatísticos. As

empresas prestadoras de serviços relacionados à saúde são constituídas para

gerarem lucros.

Como o poder público tem falhado sistematicamente no cumprimento da

promessa constitucional, surgem as empresas privadas prestadoras de serviços de

saúde, que são instrumentos aptos a desempenhar papel fundamental na realização

de princípios fundamentais. A existência deles permite o exercício da dignidade da

pessoa humana, proteção à saúde e à vida.

Com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, os serviços

de saúde prestados por convênios ou seguros de saúde transferem o tema do direito

social à saúde para a esfera do direito do consumidor. O direito do consumidor

assumiu uma tarefa supletiva de políticas públicas na área, refletindo na qualidade

de distribuição de assistência médica.

A jurisprudência favorável ao consumidor foi se consolidando, impedindo

cláusulas de exclusão de patologias, já que a saúde não é um bem fracionável e não

pode ser equiparada a uma mercadoria qualquer. De modo geral, nos casos de

exclusão de tratamento, a orientação da jurisprudência é favorável aos

consumidores e leva em consideração não apenas o conhecimento prévio das

condições de contrato, mas também a extensão das coberturas.

111

Os julgados protegem a parte mais fraca e procuram garantir a

preponderância dos princípios da boa-fé, da confiança e da equidade, pois existe

uma presunção de que o consumidor desconhece o verdadeiro sentido das

cláusulas contratuais. A jurisprudência pátria tem se manifestado favoravelmente à

indenização pelo abalo moral causado aos consumidores de planos de saúde que

ilegalmente têm visto frustradas suas expectativas quanto ao atendimento médico-

hospitalar que não é coberto.

A edição da lei 9656/98 representou um marco para o consumidor que

está mais protegido, pois estabelece maior controle, rigidez e fiscalização das

empresas privadas que operam nesse segmento, conforme preceitua o art. 197 da

Carta Magna.

No entanto, a lei está longe de contemplar o preceito constitucional de

saúde como direito de todos, pois o que deveria ser um direito e garantia

constitucional foi transformado em produto de consumo restrito àqueles que podem

custear o pagamento de um plano de saúde. A relação médico - paciente perdeu

seu caráter personalista, passando a predominar o autonomismo e o individualismo.

O tempo agravou o impacto da lei, pois o assunto tramitou na Câmara dos

Deputados por pelo menos 6 anos. É possível que se a lei federal tivesse demorado

menos a surgir, encontrasse ambiente mais propício, já que surgiu de maneira

extremamente detalhista e exaustiva, fadada à extinção e a ficar obsoleta.

A solução de conflitos de graves interesses socioeconômicos não pode

ser atribuído à simples publicação de uma lei, pois mesmo após anos de vigência,

percebe-se, claramente, que os abusos persistem. Por outro lado, os planos de

saúde também passam por dificuldades, em decorrência do baixo poder econômico

da população, que se traduz em grande inadimplência.

Ao cidadão resta em última instância, recorrer ao Poder Judiciário. No

entanto, até que a questão seja decidida pelos Tribunais, o doente pode até já ter

morrido, restando á família dividir o sofrimento da perda ao da cobrança judicial.

112

Inquestionável, portanto, a importância da antecipação de tutela em ações

de declaratórias e das ações cautelares para, compelir a empresa Ré a custear

tratamentos urgentes e estruturar a ordem nas relações jurídicas. A liminar deferida

em primeiro grau, geralmente é mantida, com fundamento no risco grave de

comprometimento de estado de saúde.

Havendo plausibilidade nas razões alegadas, relevância da

fundamentação jurídica do Autor e ameaça de dano irreversível, deve ser prestigiada

a alternativa que preserve a saúde do Autor, bem jurídico mais relevante do que o

eventual prejuízo econômico que possa advir para a Ré. Assim, percebe-se um

posicionamento que não busca a modificação da estrutura do contrato e, sim, a

alteração das cláusulas contratuais abusivas.

De modo geral, a lei interessa a uma pequena parcela da população que

tem acesso à alternativa privada de atendimento, pois com o avanço da tecnologia,

o custo da assistência médica foi elevado a um nível que o conjunto da sociedade

não tem condições de pagar. O governo, para corrigir a desigualdade, deve melhorar

os serviços que presta diretamente, de que depende a maioria da população e criar

um projeto capaz de enfrentar as dificuldades da hora presentes.

A contratação de serviços de assistência à saúde realiza-se em

instrumento contratual massificado de grande escala e comercialização. O contrato

de adesão, como resultado desse processo, consagra a vontade do fornecedor, que

estipula previamente as cláusulas contratuais, sem participação do consumidor: ou o

consumidor adere ao pacote ou fica de fora.

As cláusulas de exclusão ou restritivas a determinadas patologias devem

presumir-se não escritas, pois as operadoras não podem vedar o elenco de doenças

a ser atendido como prestação contratual e porque o cidadão tem direito à saúde. A

contratação dos chamados planos de saúde deve estar adaptada à realidade sócio-

econômica.

113

Uma vez apurada a prática de qualquer ato prejudicial aos consumidores

pelos hospitais, pelas casas de tratamento, pelas clínicas, pelos consultórios ou

pelas empresas de plano de saúde, estarão sujeitos à responsabilidade civil, penal e

administrativa.

Nas ações penais por abuso do poder econômico, em regra a

competência é da Justiça Estadual, sendo expressamente prevista a

desnecessidade da ocorrência de resultado lesivo. Na esfera cível são admissíveis

ações individuais e de natureza coletiva. A ação civil pública pode ser proposta em

vista de prejuízo a interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.

É de ser lembrado, que o controle das cláusulas contratuais também pode

ocorrer administrativamente, através de inquérito civil, sendo esta atribuição

exclusiva do Ministério Público e que serve como preparação para eventual

ajuizamento de ação civil pública.

A responsabilidade objetiva dos planos de saúde é conseqüência do

Código de Defesa do Consumidor. A responsabilização solidária das operadoras de

planos de saúde visa o equilíbrio da relação de consumo.

A sociedade já despertou e tomou consciência dos seus direitos diante da

alta indiscriminada dos preços, do abuso, do oportunismo, das cobranças abusivas e

incontroláveis, infiltradas em uma contabilidade sem padrões.

Espera-se que, com o decurso do tempo e adaptação de todos os

setores, seja alcançado o equilíbrio, compartilhando os riscos, sem lucro nem

prejuízo insuportáveis, mas em plena proporcionalidade. Aos hipossuficientes

consumidores - contratantes presume-se o direito a um tratamento igualitário, seja

qual for a doença, fundado no princípio da continuidade, sem qualquer tipo de

restrição.

114

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118

ABSTRACT

Medicine and Law form an organized complex of knowledge which takes

care of a vast number of social principles. The study over the medical insurance

companies deserves fundamental consideration, mainly when the scope is to support

the patient-consumer.

The economics and social difficulties which currently affect a number of

consumers as well as the medical insurances make the high quality services’ offering

impracticable and eventually limit the companies’ development. Furthermore, the

uncountable Resolutions and Decrees, which complete the analysis over the entire

system, make this subject more complex, confusing and quite hard to comprehend.

As verified from the contracts concerning the aforesaid matter, such a

subject is extensive over the practical action since it is not just a business, but it is in

fact a service followed by the specificity of its object’s essentiality.

In addition to that, the consumers’ protective legislation and the medical

insurance companies’ regulation, although morally correct, cause expressive

expenses and liabilities to the companies, with the intensive inspection from the

Health National Agency. Along the same line, it is not coherent to impose non

computed services into the companies’ budget, in an indiscriminate manner.

On the other hand, the occurrence of disruptions which are not positive to

patients can just be solved once the Judiciary Power intervenes. Moreover, the

contracts provisions are not in consonance with the technical and scientific subject

which are in force in the medicine field as well as the insurance company also do not

have efficient means to answer by the essentiality of the offered service.

This way, an entire instability has been installed inside that sector. There

is no protection to those consumers and the companies’ development and viability

has become clearly damaged.

119

The issue concerning the quality of service and the bureaucracy imposed

by those companies are object of frequent judicial disputes. This reality boosts the

diffuse rights generation, which fits in to the massive contemporary society, to the

social conflicts, groups or categories of individuals.

The rights above mentioned are those one incorporated into the constant

human battle to reach a better quality of life. And based upon this system, without

personal title, the Judiciary shall face issues arising from the enforcement of the

medical insurance contracts.

Progressively, the movement in favor of consumer’s defense eventually

enters the said sector and, for such a reason, that issue shall be considered when

presented the relationship between the offer of services and its effective rendering.

Taking that reasons into account, the contract is supposed to reflect the massive

publicity power, supported by the medical insurance companies’ profits, to the

detriment of consumers.

120