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  • Aquele que opta pelo estudo do Direito Constitucional necessita de aprendizado organizado, objetivo e completo. Esta obra dedica-se a transformar o que aparentemente complicado em um estudo segmentado, acessvel e prazeroso.O grande diferencial desta obra est em seu aspecto organizacional, com linguagem clara e objetiva. Apresenta o contedo completo de Direito Constitucional, utilizando quadros que sistematizam a matria facilitando o aprendizado e, ao Cinal de cada captulo, h um resumo organizado de cada ponto. Indispensvel para um timo aproveitamento da matria. Atualizado com a EC. n 77/2014.

  • Apresentao

    Este livro nasceu do grande sonho de criar uma maneiraorganizadaeestruturadadeaprenderDireitoConstitucional,semperderaobjetividadeeovastocontedodadoutrina,queabrangeostemasmaisrelevantesdadisciplina.

    Ao longo de quase duas dcadas, tenho me dedicado aomagistriodeDireitoConstitucionalepercebidoqueosalunos,deumamaneirageral,soinquietosquantoaumnorteaseguir,umavezquenagraduaoenosestudosdirigidosaoexamedaOABeaosconcursospblicossefaznecessrioumroteiroaseradotado.

    Assim,apresentoaosnobres leitoresumcaminho,quereputofciletranquilo,paraquepossamatingirseusobjetivosetornaroDireitoConstitucionalpartedarotinadasargumentaesjurdicasnecessrias para o desenvolvimento e o aprimoramento dascinciassociais.

    Sinto-mehonradopeloapoiodaEditoraSaraivaaoacolherestematerial, bem como muito motivado pelo nimo que me foioutorgado ao conviver com pessoas de riqussimo conhecimentojurdico, como meu grande amigo e mestre Damsio de Jesus, eemritos constitucionalistas, que no ouso citar, no sentido deevitareventuaisinjustias.

    Evidente que este livro no seria possvel sem a energia que

  • recebo quase diariamente de meus alunos e meus verdadeirosamigos,semaqualnadadissoteriaefetivamenteacontecido.

    importante dizer que, ao final de cada captulo, inseriresumos sobre os temas abordados, emateno aos reclamosdemeusqueridosdiscentes,parafacilitaroentendimentodoDireitoConstitucional, no como uma disciplina tradicional, antiga ouextenuante,mas sim como um ramo do conhecimentomoderno,transformadorecotidianamenteevoludo.

    Postasestasideias,desejo-lheumaexcelenteleituraequeesteprojetoajudeatornarosseussonhosrealidade,namedidaemqueo esforo, o empenho e a luta pela evoluo do conhecimentojurdiconadamais sodoque transformaro iderionaquiloquevocalmeja.

    Aproveite a leitura de um Direito Constitucional aquiorganizadoeestruturadoaseufavor.

    CleverVasconcelos

  • captulo1

    CONSTITUCIONALISMO

    1.1 CONCEITOO constitucionalismo ummovimento poltico e jurdico que

    temporescopo instituiroregimeconstitucionalemdeterminadopas. Este tipo de regime corresponde a um conjunto de ideias epensamentos polticos, sociais e culturais que visa ilidir aarbitrariedade promovida pelos detentores do poder contra asociedade,limitandodestaformaaatuaodoEstadoeconferindoao povo a titularidade do poder. Com efeito, no devemosconfundircomoconceitodeEstadoDemocrticodeDireito,queo regime pelo qual todos esto submetidos fora das leis, querepresentamavontadedamaioriaequerespeitamasminorias.

    Nos dizeres de Lus Roberto Barroso, constitucionalismosignifica, em essncia, limitao do poder e supremacia da lei(Estadodedireito,ruleofthelaw,rechtsstaat).Onomesugere,demodoexplcito,aexistnciadeumaConstituio,masaassociaonemsemprenecessriaouverdadeira.Hpelomenosumcasonotrio em que o ideal constitucionalista est presenteindependentementedeConstituioescritaodoReinoUnidoeoutros,muitomaisnumerosos,emqueelapassalonge,apesardavignciaformalesolenedeCartasescritas.Exemploinequvocoo

  • fornecidopelasmltiplasditaduraslatino-americanasdosltimosquarenta anos. No basta, portanto, a existncia de uma ordemjurdicaqualquer.precisoqueela sejadotadadedeterminadosatributosequetenhalegitimidade,adesovoluntriaeespontneadeseusdestinatrios.[1]

    1.2 BREVESAPONTAMENTOSHISTRICOSNo incio dos tempos a sobrevivncia de forma isolada da

    pessoahumanaeraumatarefarduaouatmesmoimpossvel,emrazodapatente dificuldade inerente vida selvagem. Por contadisto, comoescopodeaumentaras chancesde sobrevivnciadaespcie humana, as pessoas comearam a se agrupar e interagir,iniciando a formao das famlias, dando origem s primeirastriboseaoinciodasociedadeprimitiva.

    Por consequncia, surgiram as primeiras organizaesconsuetudinrias, em que os chefes familiais ou lderes dos clsdeterminavamas leis, as regrasde convivnciaquenorteariamavidaemcomunidade,quenoincioserestringiamaocampomoral.Essaeraaessnciadaordenaojurdicadaquelespovos.

    No entanto, tornou-se necessrio que os instintos humanosfossem reprimidos, pois a fora fsica e a sede por vinganadevastavam tribos inteiras, haja vista que, por vezes, a agressocontraumentededeterminadatriboerasuficienteparaaeclosodeumgrande conflito que se estendia por toda a comunidade, eno s contra ao agressor, ou seja, a vingana eravoltada contratodos, acarretando uma onda de violncia, causando uma graveinstabilidadesocial.

    Deste modo formam-se as primeiras civilizaes. Egito,Babilnia, Prsia. Comos hebreus consagra-se omonotesmo e aleiassumesuadimensosimblica,aindacomoatodivino,opactode Deus com o povo escolhido. A fora poltica da lei religiosaprosseguiriacomocristianismo,dandoorigemtradiomilenarbatizadacomojudaico-crist.Sporgraveinjustianoconstadacertidoquetambmhelnica:foramosgregososinventoresda

  • ideia ocidental de razo, do conhecimento cientfico fundado emprincpios e regras de valor universal. Por sculos depois, osromanos se tornaram depositrios desses valores racionalistas,aos quais agregaram a criao e desenvolvimento da cincia doDireito,talcomoaindahojecompreendida.Emsntesesumria:acultura ocidental, em geral, e a jurdica, em particular, tm suamatriztico-religiosana teologia judaico-cristeseu fundamentoracional-legalnaculturagreco-romana.[2]

    O constitucionalismo primitivo, no entanto, limitava-se aacordos de vontade e supremacia dos representantes dasociedade; no havia um texto articulado e coeso. KarlLoewenstein identificou, em seus estudos, o tnue surgimento,entre os hebreus, do constitucionalismo, estabelecendo-se noEstado teocrtico limitaes ao poder poltico, ao assegurar aosprofetasalegitimidadeparafiscalizarosatosgovernamentaisqueextrapolassemoslimitesbblicos.

    Os gregos com as suas cidades-Estados no sculo V soapontadospelamelhordoutrinacomoprecursoresdalimitaodoPoder do Poltico, pela prtica da democracia direta, havendoidentidade entre governantes e governados, sendo os cargospblicosexercidosporcidadosescolhidosemsorteioelimitadosnotempo.

    Roma em seu incio era umamonarquia, tornando-se apenasmaistarde,noano509a.C.,umarepblicaaristocrtica,governadapordoiscnsulesanuais,assistidospormagistrados,eumsenadoemqueseencontravamoschefesoupatresdasfamliaspatrcias,descendentesdosfundadoresdaCivitasoucidade,comdireitodevetosobreasassembleiasdecidadosoucomcios.

    Apenas os romanos natos, desde que no fossem plebeus oudescendentes de estrangeiros, poderiam participar do Senado; ejustamente por conta disto boa parcela da histria poltica deRoma se resume na luta da plebe em alcanar um lugar nogoverno.

    AIdadeMdiatemseuincioapsaquedadoimprioromano,

  • quesedeupor inmerascausasqueocasionaramaconvulsodosistema, facilitando as invases brbaras. neste cenrio quesurge o constitucionalismo medieval e com ele as concepesjusnaturalistas, pondo o direito natural no patamar de normasuperior,e, seosatosdossoberanos,quepormuitasvezeseramarbitrrios, fossem de encontro ao jusnaturale, eram declaradosnulospelojuizcompetente,perdendoseusefeitosvinculatrios.

    AMagna Carta Libertatum imposta pelos Bares ao Rei JooSem Terra em 1215, na Inglaterra, apontada por alguns comomarco inicial da jornada que culminaria no constitucionalismocontemporneo, haja vista que, pela primeira vez na histria, ospoderes domonarca poderiam ser limitados por um documentoescrito,queestabeleciadireitosegarantiasdeextremarelevnciaquerepercutematosdiasatuais.Acartacontm63artigosque,alm de trazerem novas diretrizes ao funcionalismo real,carregavam em seu bojo garantias e liberdades polticas,assegurandotambma liberdadedaIgrejaeasuaindependnciadoreinado.

    No campo da Justia grandes avanos foram realizados, e oprincpio do devido processo legal, positivado na ConstituioFederalde1988emseuart.5,incisoLIV,umexemploquepodesercitado,umavezquedecorredoCaptulo39daCartaMagnade1215,quepreconizava:Nofreemanshallbeseizedorimprisoned,orstrippedofhisrightsorpossessions,oroutlawedorexiled,ordeprived of his standing in any other way, nor will we proceedwith force against him, or send others to do so, except by thelawfuljudgementofhisequalsorbythelawoftheland(emumatraduo livre: Nenhum homem livre deve ser confiscado ouaprisionado,oudespidodeseusdireitosoupossesouforadaleiouexiladoouprivadodesuaposiodenenhumaoutramaneira,nemserdesenvolvidocomforacontraele,oumandaroutrosqueofaam,excetoporjulgamentodaleideseusiguaisouporleidaterra). Todo indivduo tem o direito de ser julgado pela lei daterra; cuida-se da expresso Law of the land, que mais tardeacarretouaexpressodueprocessofLaw.

  • OsurgimentodoEstadomodernoremontaaoinciodosculoXVI,aofinaldaIdadeMdia,sobreasrunasdofeudalismo.Nasceabsolutista, por circunstncia e necessidade, com seusmonarcasungidos por direito divino. O poder secular liberta-seprogressivamente do poder religioso, mas sem lhe desprezar opotencial de legitimao. Soberania o conceito da honra,concebidacomoabsolutaeindivisvel, atributoessencialdopoderpoltico estatal. Dela derivam as ideias de supremacia interna eindependnciaexterna,essenciaisafirmaodoEstadonacionalsobreossenhoresfeudais,noplanodomstico,esobreaIgrejaeoimprio (romano-germnico), no plano internacional. Com JeanBodin e Hobbes, a soberania tem seu centro de gravidade nomonarca.ComLockeeaRevoluoInglesaelasetransfereparaoParlamento. Com Rousseau e as Revolues Francesas eAmericanas, o poder soberanopassa nominalmente para o povo,uma abstrao aristocrtico-burguesa que, com o tempo, iriademocratizar-se.[3]

    Conforme nossa melhor doutrina, durante esse perodo,destacaram-seospactoseos forais, tambmdenominadoscartasde franquia. Aqueles so acordos firmados entre o rei e seussditos no tocante a direitos individuais e aomodo de governo;estes, por sua vez, introduzem um elemento poltico ao permitirqueossditosparticipemnogovernolocal.

    Com o surgimento do constitucionalismo moderno que sepassa a associar necessidade de todo Estado possuir umaConstituio escrita para frear o arbtrio dos Poderes Pblicos, aexemplo do surgimento da supremacia material e formal dasConstituies,elevandoodireitoconstitucionalaopostoderamodo direito pblico por excelncia, fonte primeira de toda aproduonormativa;dosurgimentodaconcepodocontroledeconstitucionalidade das leis e dos atos normativos; limitao dasfunesestatais;primaziadoprincpiodaseparaodosPoderes,edosdireitosegarantiasindividuais.

    Nas Amricas, o rompimento das sujeies coloniais imps a

  • adoo de Constituies escritas, em que, abandonando aorganizaohistrica,avontadedoslibertadorespudessefixarasregras bsicas da existncia independente. Sem dvida, oconstitucionalismonaAmricaapresentaorientaoigualitriaaoeuropeu. Aqui, porm, a Constituio escrita era exigncia daprpria independncia, pois esta implicava o rompimento doscostumeseadestruiodaspolticastradicionais.[4]

    Mas cumpre lembrar que Kildare vislumbra a formao doconstitucionalismo nas Amricas no s pela elaborao dasConstituies escritas, mas, antes, com os contratos decolonizao.

    Todavia, as ideias hauridas na segundametade do sculo XXsomenteganhamforacomoconstitucionalismocontemporneo.Costuma-se afirmar que nessa fase ntido o desprestgio da lei(deslegislao,desconstitucionalizao;excessodeleisemvigor).

    Na verdade, as Constituies contemporneas firmaram ocompromissoentreo liberalismocapitalistaeo intervencionismoestatal. Isso fez com que ocorresse um alargamento dos textosconstitucionais, isentando os indivduos das coaes autoritriasem nome da democracia poltica, dos direitos econmicos, dosdireitosdostrabalhadores.DaocontedosocialdasConstituiesde que deriva a ideia de Constituio Dirigente, de Jos JoaquimGomesCanotilho.

    O liberalismo a realizao plena do conceito de direitonatural,dohumanismo,doigualitarismopolticoqueosescritoresdo sculo XVIII deduziram da natureza racional do homem,segundoafrmulaconclusivadequeoshomensnascemlivreseiguais em direitos; a nica forma de poder que se reveste delegitimidade a que for estabelecida e reconhecidapela vontadedeseuscidados.[5]

    SuamximaprincipalestinsculpidanaexpressofrancesaLaissezfaire, laissez passer, l monde va de lui-mme (Deixai fazer, deixaipassar,omundocaminhaporsis).Suamaioraplicaosedeunocampo econmico, em que se preocupou suprimir toda ainterfernciadoEstadonaregulaodaeconomia.Aleidaofertaeda

  • procura(leieconmicaenojurdica)seencarregariadecolocarospreos em nveis justos sem deixar de estimular o empresrio aproduzircadavezmaisepormenorespreos.MasoEstadoliberalneutro em outros pontos tambm: no religioso, no moral etc. Oprimordial que o indivduo seja livre para agir e realizar as suasopesfundamentais.DoEstadoseesperamuitopouco:basicamentequeorganizeumexrcitoparadefenderasociedadecontraoinimigoexterno.QueasseguraaboaconvivnciainternamedianteapolciaeoJudicirio,incumbidosdeaplicarasleisciviseasleispenais.Tudoomais,sade,educao,previdncia,segurosocial,seratingidopelaprpria atividade civil. Prega-se, portanto, o Estado absentesta.Quanto menos Estado melhor, ou, se preferir, o Estado um malnecessrio.[6]

    Assim, os textos constitucionais contemporneos passaram aconsagrar princpios socioeconmicos, vertidos em normasdependentes de regulamentao legislativa, no intuito decelebrarem compromissos e promessas genricas, difceis derealizar na prtica. Falamos das normas programticas, iniciadasno constitucionalismomoderno,mas que encontraram seu picenacontemporaneidade.

    Revestidassobaformadepromessaseprogramas,asnormasprogramticaslimitam-seaenunciarprincpiosaseremcumpridospelos Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio. Em vez dedisciplinar diretamente amatria que enunciam, deixam para osrgos pblicos a complexa tarefa de realizar os fins sociais doEstado.

    1.2.1 ConstitucionalismonoBrasilCostuma-se dizer que o constitucionalismo ptrio evoluiu

    juntamente com as transformaes experimentadas pelo prprioEstado,confundindopormuitasvezesasuahistriacomeste.

    Aprimeiraefrustradaapariodoconstitucionalismoocorreucom o movimento revolucionrio de inspirao republicanadeflagradoemPernambucoem1817.Naquelapocafoielaboradoum Projeto de Lei Orgnica, por Antnio Carlos Ribeiro de

  • Andrada,queseriaanovaConstituiodaRepblica.Poucos anos aps, mais precisamente em 7 de setembro de

    1822,DomPedroIinsculpiudefinitivamenteseunomenahistriaaodeclararaindependnciadoBrasildoReinoUnidodePortugal,BrasileAlgarves,instituindooImpriodoBrasil.

    Diantedetalcenriopoltico,eravitalaconfecodeumanovaConstituio,masasuaelaboraonofoisimples,naverdadefoitraumtica. Encomendada por D. Pedro I, a AssembleiaConstituinteeleitaporvotoindiretoecensitrioiniciouosseustrabalhos apenasem3demaiode1823, eo seuprogresso ficoucomprometidodesdeocomeoporcausadosembatespessoaisepolticos envolvendo os constituintes; havia aqueles queobjetivavaminstaurarumamonarquiaforteeconstitucionalafimde evitar a fragmentao do Pas, a abolio da escravatura, ocombate ao trfico de escravos e a reforma agrria; existiamtambm os conservadores, que eram conhecidos comoportuguesesabsolutistas,queacimade tudo tinhamo interessede manter seus privilgios, e, por fim, os liberais federais quedefendiamumamonarquiaenfraquecida,naverdadefigurativaemum estado federal, e a manuteno da escravatura. Entre elesestava D. Pedro I, que queria controlar o Poder Legislativo pormeiodovoto.

    Era evidente que os constituintes perderam o foco, passandotosomenteadefenderseusprprios interesseseadisputapelopoder. O problema se agravou ainda mais com a perseguioimposta a Jos Bonifcio e sua famlia e se tornou insustentvelaps a Assembleia aprovar um esboo da Constituio quereservava ao monarca uma figura meramente ilustrativa nogoverno.

    O resultado dessa crise sem soluo foi um ato de violnciapoltica perpetrado pelo Imperador, que, alm de dissolver aAssembleiaConstituinte,nachamadanoitedaagonia,prendendoeexilandodiversosconstituintes,confeccionoueoutorgouaportasfechadasnacompanhiadeMarquesdeSabareoutrosaprimeira

  • ConstituiodoBrasilem25demarode1824.Cumpre dizer que a Carta Magna era demasiadamente

    avanada para a poca; liberal e semirrgida, previa eleiesindiretas com voto censitrio, ou seja, seu colgio eleitoral eraformado somente por pessoas abastadas que contribuam comcerto montante de impostos; definio de quem era cidadobrasileiro; estabelecia a religio catlica como a oficial, mas noimpediaaprticadeoutroscultosnombitodomstico.Naparteque cuidava da organizao dos poderes, previa a separaotripartida de Montesquieu e a instituio do Poder Moderadorexercidopelo Imperador, que, vale lembrar, era inimputvel. Porfim, cumpre dizer que foi a primeira Constituio no mundo areconhecerosdireitosfundamentais,elencando-osemumrol.Portaismotivos,aConstituioImperialdurou67anos,amais longadetodasasConstituiesbrasileiras.

    Eisque,narevoluode1899,lideradapelomarechalDeodorodaFonseca,amonarquiaconstitucionalparlamentaristabrasileirateve um fim, proclamando-se a repblica e se instaurandofinalmente a forma de governo republicana federativapresidencialista, nascendo neste instante um novo pas: aRepblicaFederativadosEstadosUnidosdoBrasil.

    AConstituioFederalde1891foipromulgadaapsumanodenegociaes e se tornou a primeira Constituio Republicanabrasileira, substituindo a Constituio do Imprio de 1824;inspiradanaConstituiodosEstadosUnidosdaAmrica,instituiuo Estado Federal pela unio perptua e indissolvel das suasantigas Provncias que foram convertidas em ordens jurdicasparciais.Emrazodaformadegovernorepublicanaedosistemapresidencialista, o podermoderador fora extinto. Existem outrasdistinesdaConstituioanterior, comoarigidezeaadoodosufrgiodireto.

    Mas,mesmocomareformaocorridaem1926,aCartade1891 interrompida pela Revoluo de 1930. O ento GovernoProvisrioinstituiuumacomissoparaaelaboraodeumanova

  • Constituio. A Assembleia Constituinte reuniu-se no dia 15 denovembro de 1933, e aps o processo de votao enfimpromulgadaaConstituioFederalem1934,quetomouporbaseaConstituio deWeimar, de 1919, que surgiu na Alemanha ps-primeira guerra (tinha entre suas caractersticas o objetivo dereconstruir o pas, garantindo direitos aos cidados alemes,fortalecendoonacionalismo).

    AConstituiode1934inovouaoestenderodireitodevotosmulheres (somente as funcionrias pblicas, mantendo oentendimento do Cdigo Eleitoral de 1932), bem como previuineditamente normas acerca da ordem econmica e social, dafamlia,edaeducaoecultura.

    Todavia, foi a Constituio quemenos permaneceu em vigor,sendo bruscamente interrompida por um golpe de EstadopromovidopeloditadorGetlioVargas,que,paraseconsolidarnopoder, outorgou a Constituio de 1937. Redigida por FranciscoCampos, ento Ministro da Justia, ficou conhecida comoConstituio polaca justamente por traduzir os elementos doautoritarismo que viviam a ento Alemanha nazista e a Itliafascista.

    Na realidade, a referida Constituio Federal permaneceu nasua maior parte sem aplicabilidade, haja vista que Getliogovernoucombaseapenasnasdisposiestransitriasefinaisdotexto,asquaisconferiamaoPresidenteaplenitudedospoderesdoLegislativoedoExecutivo.

    Com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, em que osEstados totalitrios que compuseram o chamado eixo foramderrotados, a derrubada da ditadura no Brasil era questo detempoeaconteceunoanode1945,instaurando-seanormalidadeconstitucional democrtica com a promulgao da novaConstituio de 1946, que passou a prever finalmente o votouniversalparaasmulheres.

    Foram eleitos presidentes por voto direto Marechal Dutra edepoisGetlioVargas, que governouopas por trs anos emeio

  • atcometersuicdio,assumindooentovice-presidenteCafFilho.Os cidados ainda comovidos com a morte de Getlio elegempresidente da Repblica Juscelino Kubitschek, e Joo BelchiorMarquesGoulartcomovice-presidente.

    Na eleio de 1960, Joo Goulart, concorrendo pela chapa deoposio ao candidato Jnio Quadros, do Partido DemocrataCristo (PDC), que tambm foi apoiado pela Unio DemocrticaNacional(UDN),foinovamenteeleitovice-presidente.

    OgovernodeJniodurouapenassetemeses,renunciandoem25 de agosto de 1968. Ocorre que Joo Goulart em viagemdiplomticaRepblicaPopulardaChinaforaimpedidodetomarpossepelosMinistrosMilitaresdastrsforasporentenderemseruma ameaa ao pas em razo de seus vnculos comunistas,empossando o presidente da Cmara dos Deputados, RanieriMazzilli, contrariando a Constituio. Imediatamente se iniciouaquiloquefoidenominadoacampanhadalegalidade,lideradaporLeonelBrizola,quepugnavapeloretornodeJangoaoPas.

    Comoobjetivoderesolveracrisepoltico-militarinstaurada,oCongresso Nacional, que tambm no queria a posse de Jango,props o regime parlamentarista, diminuindo o poder doPresidente da Repblica com a criao da figura do Primeiro-ministro que foi assumida por Tancredo Neves, que chefiaria ogoverno.

    Todavia, no ano seguinte, Tancredo demite-se objetivandoconcorrer s eleies de outubro, que renovariam o Congresso eelegeriam os Governadores. Jango ento viabiliza o retorno aopresidencialismo, convocando um plebiscito em janeiro de 1963,questionandoapopulaosobrequalregimedeveriaseradotado.

    MasaideiaderealizarasReformasdeBase,Agrria,UrbanaeBancriaamedrontouasoligarquiasquesaramacampoacusandoGoulart de favorecer o comunismo. Associaes catlicasconservadoras lideraram a Marcha da Famlia com Deus pelaLiberdade,em19demarode1964,seguidadaRevoluoMilitarem31demarodesseano,depondoGoularteiniciandooperodo

  • de20anosdeumgovernoautoritrio.[7]Entre 1964 e 1967 ocorre um fenmeno interessante emum

    pas de tantas Constituies: h um hiato autoritrio, restandovigenteaConstituiode1946.

    H uma celeuma acerca da classificao da ConstituioFederalde1967quantoa suaorigem,pois, aindaque tenha sidovotada pelo CongressoNacional, argumenta-se que este ato teriasido praticado sem liberdade, caracterizando na verdade umaimposio (outorga) feita pelo governo militar, que, por bvio,dizia justamente o contrrio, sustentando que o texto havia sidopactuado e positivado por conveno, pois passou pelo crivo doCongresso Nacional. De curta durao, entre suas principaiscaractersticaspodemosassinalaroaprimoramentodafederaoeo fortalecimento do princpio da separao dos poderes. FoisucedidapelaEmendan.1outorgadaem1969,queperdurariaata votao da Constituio democrtica de 1988. Para algunsdoutrinadores como Celso de Mello, a referida Emenda consideradaumanovaConstituio.Sendoassim,pode-seconcluirquematerialmente umanova Constituio, formalmente umaemenda.

    O Pas passou ento a ser governado por decretos, osfamigerados Atos Institucionais, que funcionavam comoinstrumento de legitimao e legalizao das atividades polticasdosmilitares,atribuindo-lhespoderesextraordinriosmaisfortesque a prpria Constituio. Ao todo foram editados 17 AtosInstitucionais devidamente regulamentados por 104 atoscomplementares.OAtoInstitucionaln.5,popularmenteconhecidocomoAI-5, compeesta sriededecretoseditadospelo regimemilitar.

    Por fim, cumpre dizer que o constitucionalismo brasileiroconheceuduasConstituiesprovisrias:oDecreton.1,de15denovembrode1889,eoDecreton.19.398,de11denovembrode1930, que, emanados de governos revolucionrios, foramdocumentosdeexpressivaforaconstitucional.

  • 1.2.1.1Quadroconceitual

    1.3 FASESDOCONSTITUCIONALISMOOconstitucionalismoeopensamentoconstitucionalbrasileiros

    seguemasConstituies,dando-seemquatrofases,asaber:1. Fase Liberal-centralizadora: corresponde ao Imprio,

    destacando-seopensamentodoconstitucionalistaPimentaBueno,

  • MarqusdeSoVicente,comasuaobraDireitoPblicoBrasileiroeAnlisedaConstituiodoImprio,publicadaem1857.

    Refletiu-se na existncia do Poder Moderador tal comoinstitudopelaConstituiode1824;deve-seaAurelianoTavaresBastos, em suas Cartas do Solitrio (1863) eA Provncia (1870),emqueapontaosvciospoltico-administrativosdacentralizaoea necessidade da sua extino para o desenvolvimento, com aRepblicanosmoldesdasinstituiesnorte-americanas.

    2. Fase Republicana: dominada pelo pensamento de RuiBarbosa, autor principal do projeto da Constituio de 1891,defensor do habeas corpus e do controle de constitucionalidadepeloPoderJudicirio.

    Destaque-se tambm no perodo republicano a obra de JooBarbalho, referncia para a interpretao da Carta de 1891, bemcomoosComentriosdeCarlosMaximiliano.Operodomarcadoainda por umnacionalismo realista e autoritrio inaugurado porAlberto Torres, e no plano constitucional pela obra de OliveiraVianna, que, no Idealismo da Constituio (1927), enfraquece otrabalhodeRuiBarbosa,emproldasliberdadespblicas,emnomedeumrealismoedaeficincia.Surgemnovosejovenspensadoresque procuram substituir o direito pela sociologia e economia,vendocommausolhosoconstitucionalismo.

    3.FaseAutoritria: esta fase inauguradapelaConstituiode1937, elaborada conforme j vistopeloMinistroda JustiadeGetlio Vargas, Francisco Campos, baseada na Constituiopolonesade1935emarcadapeloautoritarismo.Comopreviaumplebiscito, jamais realizado, para sua entrada em vigor,desnecessrio que se escrevesse comentrio a seu texto, ficandotudoaoarbtriododitadorqueenfeixavaemsuasmos todosospoderesdoEstado.

    4.FaseLiberal-social:abrangendoasConstituiesde1946ede1988,comohiatodasde1967/1969,emquehouveretornoaomodelo estatizante e centralizador. Houve expressiva produoterica, sob o influxo da Constituio de 1946. Mencionem-se,

  • entre outras, as obras de Sampaio Doria Curso de direitoconstitucional,comforteacentofederalistaeliberal,emoposioao Estado Novo; o Direito Constitucional de Pedro Calmon, comvaliosas informaes histricas; o Curso de direito constitucional,emdoisvolumes.

    1.4 ACONSTITUIODE1988Apsamobilizaodemilhesdebrasileiros,ocivilTancredo

    Neves foi enfim eleito Presidente da Repblica, por meio deeleies indiretas, graas abertura poltica promovida no Pas,masinfelizmenteogovernanteveioafalecerantesdetomarposse,ocasionandoumaverdadeiracomoonacional.

    Porconseguinte,quemassumeopoderJosSarneydeArajoCosta, e durante a sua gesto avanos considerveis foramrealizadosemfavordademocraciabrasileira,comaampliaodopluripartidarismo, legalizao de diversos partidos de esquerda,bemcomoosurgimentodenovassiglas,comooPartidodaSocialDemocracia Brasileira (PSDB) e o Partido Liberal (PL), formadoporideiasneoliberaisdoempresariado.Almdisso,oseumandatofoi responsvel pela erradicao da famigerada censura imprensa, que assolou o Pas durante o governo militar. Osindicalismoegrandescentrais(CUTeCGT)seconsolidaram.

    Sarney tambm foi o responsvel pelo encaminhamento aoCongresso Nacional da proposta que culminou na EmendaConstitucional n. 26/85, pela qual se deu a convocao daAssembleia Nacional Constituinte. Jos Afonso da Silva entendequeareferidaemendaconstitui,naverdade,umatopoltico,enoumaemenda,poisestavisamanteraConstituiovigente,eaquelaemendaobjetivavadestruiresta.

    AAssembleiafoiconvocadaem1986,comofitodepromulgarumanovaConstituio, fatoquesedeuem1988comachamadaConstituio cidad por Ulysses Guimares, por ter ampliado osdireitosegarantiasindividuaisecoletivos.Nota-sequenohouveumaeleiopara aAssembleia; ela foi formadapormembrosdo

  • CongressoNacionalconvocadospelareferidaemenda.O texto constitucional sofreu grande influncia do jurista

    portugus Jos Gomes Canotilho e do jusfilsofo socialistaespanholEliasDiaz.

    O constitucionalismo da ps-modernidade, a dignidade dapessoa humana, tornou-se o epicentro do extenso quadro dedireitos civis, polticos, econmicos, sociais e culturais, que asConstituieseosinstrumentosinternacionaisemvigoremplenoterceiro milnio ofertam solenemente aos indivduos e scoletividades.

    O postulado da dignidade humana universalizou-se como umpolo de atrao para cada vez mais novos direitos refletores domodismoconstitucional-democrtico.

    Com isso, abriu-seum receituriodosdireitos sublimadosnaConstituio, que se multiplicaram na razo direta dos conflitosinsurgentes no meio social e das exigncias insaciveis depositivao jurdica, na esteira do humanismo ultrapluralista,solidrioeinternacionalizadodestestempos.

    O prprio constituinte brasileiro de 1988, com oportunainspirao nas Constituies sociais-democratas do sculoanterior, inscreveu o postulado da dignidade dentre osfundamentos da organizao nacional, fazendo-o na disposioinauguraldoestatutoSTF(art.1,III).

    Tal princpio reforado em inmeras outras disposiesconstitucionais, a exemplo do art. 170, que inclui dentre asfinalidades da ordem econmica assegurar a todos a existnciadigna;doart.226,7,proclamandoqueoplanejamentofamiliarfunda-se nos princpios da dignidade humana e da paternidaderesponsvel; do art. 227, impondo famlia, sociedade e aoEstadoodeverdeassegurarcrianaeaoadolescenteodireitodignidade;doart.230,enunciandoqueoamparospessoasidosasdeve assegurar sua participao na comunidade, defendendo suadignidadeebem-estaregarantindo-lhesodireitovida.

    Nomenosimportanteofatodequeressurgedoprincpioda

  • igualdade o constitucionalismo econmico e social, residindo ograndedilemadequepadeceaformulaoliberaldoprincpiodaisonomianaimpotnciaqueapresentaparareduziroueliminarasdesigualdadesmateriaisentreoshomens,eisque,sendotalfeiodo princpio destituda de contedo concreto, seu elementoteleolgicocinge-seaexigirigualtratamentonormativoparatodosquantosestejamnamesmasituaodefato,nadaaduzindoacercadograudejustiaemoralidadedasrelaeshumanasnocontextosocial.

    Assim,atendnciadoconstitucionalismocontemporneonosentido de no mais se limitar enunciao de um postuladoformaleabstratode isonomia jurdica,massimdefixar,emsedeconstitucional, medidas concretas e objetivas estendendo aaproximaosocial,polticaeeconmicaentreos jurisdicionadosdoEstado,ouento,deexigir,mediantecoordenadaseindicativosprecisos,queolegisladoradotetaismedidas.

    1.5 CONSTITUCIONALISMOSEGUNDOUADILAMMGOBULOSParaUadi LammgoBulos[8], o constitucionalismo possui dois

    significados diferentes: em sentido amplo, significa o fenmenorelacionado ao fato de todoEstado possuir umaConstituio emqualquer poca da humanidade, independentemente do regimepolticoadotadooudoperfiljurdicoqueselhepretendaatribuir;em sentido estrito, significa a tcnica jurdica de tutela dasliberdades, surgida nos fins do sculo XVIII, que possibilitou aoscidadosoexerccio,combaseemConstituiesescritas,dosseusdireitosegarantiasfundamentais,semqueoEstadolhespudesseoprimirpelousodaforaedoarbtrio.

    1.6 CONSTITUCIONALISMOSEGUNDOJOSGOMESCANOTILHOEmbora reconhea a existncia de vrios constitucionalismos

    nacionais (o constitucionalismo ingls, o constitucionalismoamericano, o constitucionalismo francs), prefere falar em

  • movimentos constitucionais porque isso permite recortar desdej uma noo bsica de constitucionalismo. Para ele,constitucionalismoateoria(ouideologia)queergueoprincpiodo governo limitado indispensvel garantia dos direitos emdimenso estruturante da organizao poltico-social de umacomunidade.

    Neste sentido, o constitucionalismo moderno representaruma tcnica especfica de limitao do poder com finsgarantsticos. no fundo uma teoria normativa da poltica, talcomo a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo. Numaoutra acepo histrico-descritiva fala-se emconstitucionalismo moderno (que pretende opor-se aoconstitucionalismo antigo) para designar o movimento poltico,socialeculturalque,sobretudoapartirdosculoXVIII,questionanosplanospoltico, filosfico e jurdico os esquemas tradicionaisde domnio poltico, sugerindo, ao mesmo tempo, a inveno deumanovaformadeordenaoefundamentaodopoderpoltico.

    1.7 CONSTITUCIONALISMOSEGUNDONORBERTOBOBBIONa viso de Norberto Bobbio (1986), todos os Estados

    portanto, tambmos absolutistas do sculo XVII e os totalitriosdosculoXXtmumaConstituio,umavezqueexistesempre,tcita ou expressa, uma norma bsica que confere o podersoberano de imprio; que se imponham depois limites a essasoberaniaouqueseuexercciosejarepartidopordiversosrgospouco importa: ubi societas, ibi ius. Seria, assim, funo doconstitucionalismotraarosprincpiosideolgicos,abasedetodaaConstituio eda suaorganizao interna.Todavia, dadoque acincianosepodelimitaraafirmartautologias,paraordenarseumaterial emprico preciso lanar mo das classificaes etipologias; apresenta-se assim, de novo, o problema da distinoentre as diversas Constituies e, com isso, reintroduzem-se osjuzosdevalorqueoscritriosdedistinopressupem.

    Afirmou-se,porumlado,queoconstitucionalismoconsistena

  • divisodopoder,demodoqueseimpeatodooarbtrio;mas,seaaversoaoarbtrioconstituiofimltimodoconstitucionalismo,osmodosdedivisodopoderparecem,noentanto,noserapenashistoricamente diversos, como tambm seguir lgicas assazdistantes:temosadivisodopoderhorizontal,afamosaseparaodospoderes,eadivisovertical,oFederalismo.

    Por outro lado, afirmou-se tambm que o constitucionalismorepresentaoGovernodasleis,enodoshomens;daracionalidadedodireito,enodomeropoder;mastambmaquisodiversasassolueshistricasde limitaodopoder.Assim,paradefinirotermo,necessrio,antesdetudo,aceitarovalorqueneleseachaimplcito,umvalorquepoderemosresumirnadefesadosdireitosdapessoa,doindivduo,docidado.

    Trata-se,portanto,dedoutrinasdiversas,facilmenteseparveisno plano puramente conceptual; mas no so doutrinascontraditrias, porque, embora tenhahavidonopassado regimesconstitucionais no democrticos, no conhecemos hoje outraforma possvel de democracia seno a constitucional. De fato, aliberdadepositivadeparticipardaformaodavontadedoEstadoexige,comocondionecessria,aliberdadenegativa,isto,queoEstado no tolha os direitos da liberdade de expresso, daliberdade de imprensa, de associao, de religio etc.; alis,diminuiriamasprpriascondiesdeumaparticipaoautnomana formao dessa mesma vontade, como acontece nos regimestotalitrios, nos quais os grupos que esto no poder organizamdesdecima,soblistanica,apresenadasmassasnoEstado.

    E ainda: a democracia foi definida comoGovernodamaioria;mas, se essa maioria tivesse um poder absoluto e ilimitado, elapoderia subverter as regras do jogo e destruir assim as prpriasbasesdademocracia;coisasemprepossvel,sepensarmosque,emum grande Estado, a prpria representatividade, ao limitar oprincpio democrtico, acarreta o perigo de que a vontade damaioriadosdeputadosnoseajustesemprevontadedamaioriados eleitores. Por conseguinte, hoje o constitucionalismo no

  • outra coisa seno o modo concreto como se aplica e realiza osistemademocrticorepresentativo.

    Contudo, o uso dessa nova ptica no exame dos modernossistemas representativos, que realizam o princpio do Governolimitado,implicaareorganizaoouaeliminaodedoisconceitosfundamentais que ainda dominam profundamente a culturapoltica europeia. Referimo-nos aos conceitos de soberania e depovo e, consequentemente, ao de Estado, em cujo mbito oconstitucionalismonotemcomosedesenvolver.

    Uma soberania verticalmente dividida, como nos sistemasfederais, ou limitada por procedimentos que garantem asupremacia da Constituio e uma contradio nos termos, sedefinirmosasoberania,segundoatradicionalviso,comosummalegibusque soluta potestas. E que essa definio ainda identificapoder edireito, ou concebea soberania comouma fora, sebemquecomoumaforaquenopodeagirsenodeformajurdica.

    O mesmo conceito de povo, prprio de grande parte datradio democrtica, parece uma abstrao desencaminhada,dadoque, na realidade, a vontadedopovo se expressa pormeiodospartidospolticos,quetmexatamenteafunodeconjugaretransmitir a demanda poltica e de traduzi-la em orientao. Emum sistema representativo, teremos, portanto, um complexoprocesso de formao da vontade poltica que, partindo doscidados, passa pelos partidos e pelas assembleias e culmina naao do Governo, limitada pela lei constitucional. Resulta assimmaiscorretoetildefiniressessistemaspolticoscomosistemasconstitucional-pluralistas.

    Nicola Matteucci adverte que a hodierna definio deConstituio demasiado ampla, a de constitucional demasiadorestrita, para nelas basearmos o significado que hoje possui otermoconstitucionalismonopensamentoenacinciapoltica,ou,melhor,naquelapartedacinciapolticaquesepreocupacomosproblemasdatcnicaconstitucional.Constitucionalismonohojetermoneutrodeusomeramentedescritivo,dadoqueenglobaem

  • seu significado o valor que antes estava implcito nas palavrasConstituio e constitucional (um complexo de concepespolticas e de valores morais), procurando separar as soluescontingentes (porexemplo,amonarquiaconstitucional)daquelasqueforamsempresuascaractersticaspermanentes.

    Foi dito, usando uma expresso bastante abrangente, que oConstitucionalismo a tcnica da liberdade, isto , a tcnicajurdicapelaqualasseguradoaoscidadosoexercciodosseusdireitos individuais e, ao mesmo tempo, coloca o Estado emcondies de no os poder violar. E, ao examinar oconstitucionalismonombitodademocraciapoltica, concluiqueelehojenooutracoisasenoomodoconcretocomoseaplicaerealizaosistemademocrticorepresentativo.

    Diz-seaindaemumconstitucionalismomultinvel,decorrentedo fenmeno da globalizao econmica como fator derelativizao da soberania dos Estados, culminando com aformao de blocos comunitrios de cunho econmico, social epoltico,tendocomoprincipalcaractersticaasupranacionalidadeeainconstitucionalidade.

    1.8RVOREJURDICA

  • 1BARROSO,LusRoberto.Cursodedireitoconstitucionalcontemporneo:osconceitosfundamentaiseaconstruodonovomodelo.SoPaulo:Saraiva,2009,p.5.

    2BARROSO,LusRoberto.Cursodedireitoconstitucionalcontemporneo,p.5.3BARROSO,LusRoberto.Cursodedireitoconstitucionalcontemporneo,p.10.4 FERREIRA FILHO,Manoel Gonalves.Curso de direito constitucional. 35. ed. So Paulo: Saraiva,

    2009,p.8.5MALUF,Sahid.TeoriageraldoEstado.25.ed.SoPaulo:Saraiva,1999,p.129.6BASTOS,CelsoRibeiro.CursodeteoriadoEstadoecinciapoltica.4.ed.SoPaulo:Saraiva,1999,

    p.138.7CICCO,Claudiode;GONZAGA,AlvarodeAzevedo.Teoriageraldoestadoecinciapoltica.2.ed.So

    Paulo:RT,2009,p.219.8BULOS,UadiLammgo.Cursodedireitoconstitucional.SoPaulo:Saraiva,2007,p.55.

  • captulo2

    TEORIAGERALDACONSTITUIO

    A Teoria da constituio sob o aspecto jurdico, poltico efilosfico se deve aos doutrinadores alemes. Sua formao eautonomiadecorreramdapreocupaodesechegaraumconceitosubstantivo de Constituio. Ela examina, identifica e critica oslimites, as possibilidades e a fora normativa do DireitoConstitucional, ocupando-se em estudar os diversos conceitos deConstituio,oPoderConstituinteealegitimidadedaConstituio;a reforma constitucional; os direitos fundamentais e a separaode poderes como elementos caractersticos doEstado deDireito,entreoutros.

    2.1 DIREITOCONSTITUCIONALEACONSTITUIOO Direito Constitucional est posicionado dentro do Direito

    Pblico Interno, sendo um dos seus ramos autnomos,trabalhando no apenas com os Direitos Fundamentais, mastambm com o funcionamento e a organizao do Estado, bemcomo a articulao de seus elementos primrios e oestabelecimentodasbasesdaestruturapolticaconstitucional.

    Para facilitar o estudo podemos esquematizar da seguinteforma:

  • NoBrasil, esseconjuntodenormas fundamentaisseencontrasistematizadoemumnicotextoformal,valedizer,aConstituiodaRepblicaFederativadoBrasilpromulgadaem5deoutubrode1988.

    Assim, a Constituio versa nica e to somente sobre temasqueinteressamaoEstado,aopassoqueoDireitoConstitucionaladisciplina que se ocupa em entender as normas que servem debase para esse Estado e, por versar apenas sobre direito de umnicoEstado,definidocomodireitopblicointerno.Valelembrarque o direito uno e indivisvel; tal classificao como DireitoPblicoserveapenasparafinsdidticos.

    Neste sentido, temos a bela lio de Kildare Gonalves:[1] AdivisodoDireitoemPblicoePrivadoprende-seutilidadeenecessidade,sobretudodidticas,pois,dopontodevistadacinciajurdica, tm sido falhos, insuficientes e obscuros os critriosdistintivos.Nosopoucosessescritrios.Analisando-os,destaca-se inicialmente critrio do interesse ou da utilidade contido noDireitoRomano:Odireito Pblico versa sobre omodode ser doEstado;oPrivado, sobreo interessedosparticulares.Comefeito,algumas coisas so teis publicamente, outras privadamente. falho esse critrio, porque no h como separar o interesseindividual do pblico, j que ambos se interpenetram. Assim, anorma jurdica no visa apenas ao interesse do Estado ou doparticular.Tome-secomo,porexemplo,oDireitodeFamlia,cujasnormas,notadamenteasquesereferemaocasamento,interessamtanto ao indivduo quanto ao Estado, quando se trata daestabilidadefamiliar.Tambmoensinoprivado,que,noobstante

  • situar-se no mbito do Direito Privado, interessa igualmente aoDireitoPblico.

    acepojurdicadeConstituiocorrespondeoconceitodeDireitoConstitucional.ComoCincia,esteoconhecimentosistematizadodaorganizao fundamental de Estado. Isto , conhecimentosistematizado das regras jurdicas relativas forma do Estado, forma do governo, ao modo de aquisio e exerccio do poder, aoestabelecimentodeseusrgoseaoslimitesdesuaao.[2]

    2.1.1 MatriasO Direito Constitucional abarca trs matrias distintas que,

    apesardeinterligadas,noseconfundem,asaber:

    ODireito Constitucional Positivo, tambm conhecido comoparticular ou especial, tem por objeto as normas fundamentaisvigentes,asuainterpretao,crticaesistematizao.

    No que tange dizer acerca do Direito ConstitucionalComparado, trata-se da disciplina encarregada de realizarcomparaes entre Constituies para alcanar informaes quecolaboremcomoestudojurdico.

    E por fim, mas no menos importante, temos o DireitoConstitucional Geral, que uma cincia indutiva que tornacomuns os princpios e institutos presentes nas diversasConstituiesparticulares.

    2.2 ELEMENTOSINTEGRANTESDOESTADO2.2.1 Estado

    Estado nada mais do que o agrupamento organizado epolitizadodepessoasemdeterminadoterritrio.

  • Hans Kelsen nos ensina que: devido variedade de objetosqueotermocomumentedenota,definirEstadotorna-sedifcil.svezes,apalavrausadaemumsentidobemamplo,paraindicarasociedadecomotal,oualgumaformaespecialdesociedade.Masapalavratambmcomfrequnciausadacomumsentidobemmaisrestrito, para indicar um rgo particular da sociedade porexemplo, o governo, ou os sujeitos do governo, uma nao, outerritrio que eles habitam. A situao insatisfatria da teoriapoltica que, essencialmente, uma teoriadoEstadodeve-se,emboaparte,aofatodediferentesautorestrataremdeproblemasbastantediferentesusandoomesmo termoe, at, deummesmoautor usar inconscientemente a mesma palavra com vriossignificados.

    Econtinua:Asituaorevela-semaissimplesquandooEstado discutido a partir de um ponto de vista puramente jurdico. OEstado, ento, tomado em considerao apenas como umfenmeno jurdico, comoumapessoa jurdica,ou seja, comoumacorporao. Sua natureza, desse modo, est determinada, emprincpio, pela nossa definio anterior de corporao. A nicaquesto que resta a de que modo o Estado difere de outrascorporaes.Adiferenadeveserencontradanaordemnormativaque constitui a corporao do Estado. O Estado a comunidadecriadaporumaordemjurdicanacional(emcontraposioaumainternacional). O Estado como pessoa jurdica umapersonificaodessacomunidadeouaordemjurdicanacionalqueconstitui essa comunidade. De um ponto de vista jurdico, oproblemadoEstado,portanto, surge comooproblemadaordemjurdicanacional.[3]

    Noentanto,sabidoqueoEstadopodeseranalisadodebaixode diversos aspectos: (a) Do ponto de vista sociolgico, corporao territorial dotada de um poder demando originrio;(b) poltico, uma comunidade de homens, fixada sobre umterritrio,comforasuperiordeao,demandoedecoero;(c)soboprismaconstitucional,pessoajurdicaterritorialsoberana;(d) segundo o Cdigo Civil Ptrio, pessoa Jurdica de Direito

  • Pblico Interno. Como ente personalizado, o Estado tanto podeatuar no campo de Direito Pblico como no do Direito Privado,mantendosempresuanicapersonalidadedeDireitoPblico;esse o Estado de Direito, juridicamente organizado e obediente ssuasprpriasleis.[4]

    2.2.2 Soberaniatosomenteacapacidadedeautodeterminao,consistindo

    nopoderqueestacimade tudo,queaescolhadeseuprpriodestinopolticopormeiodovotodoscidados.

    2.2.3 PovoepopulaoPovo a comunidade ou a coletividade de pessoas que

    compeme fundamoEstado, ensejandoa criaodeumvnculojurdicoentreambos,oqueimplicaasubmissodopovoaopoderpoltico institudo.Emoutrosdizeres,povonadamaisdoqueoagrupamentodepessoasquecomungamdosmesmoscostumeseguardam alguma relao entre si, seja ela tnica, geogrfica,ideolgicaouatmesmoreligiosa,queresultaemumaidentidadeeunidadecomoEstado.

    Diantedisso, indubitvelqueopovosujeitoedestinatriodo poder poltico criado e s existe enquanto o Estadopoliticamenteorganizadoexistir;semele,opovodesaparece.

    Comefeito,nohqueseconfundirpovocompopulao,poisso coisas distintas. A expresso populao possui um conceitopuramente demogrfico, pois se refere totalidade de pessoasreunidas fisicamente em um territrio, levando-se emconsiderao na sua contagem os aptridas e estrangeiros.Percebe-se que, quando falamos em populao, cuida-se de umcritriopuramentequantitativo.

    2.2.4 SociedadeSociedade nadamais do que uma associao de indivduos

    com o escopo de atingir um fim comum, sob a direo de uma

  • autoridadecapazdeconduzi-losconquistadesteobjetivo.Em verdade, porm, o vocbulo Sociedade tem sido

    empregado, conforme assinala um socilogo americano, como apalavramaisgenricaqueexisteparasereferiratodoocomplexoderelaesdohomemcomseussemelhantes.[5]

    2.2.5 TerritrionacionalTerritrionacionaltemoseusurgimentovinculadoaospovos

    primitivosquedeixaramdesernmadesesefixaramemumdadoterritrio, iniciandoassimasedentarizaodohomem,ensejandoacriaodosprimeirosvilarejosecidades,deflagrandooperodoNeoltico.

    Atualmente, podemos conceituar territrio nacional sob duasacepes,asaber:

    a) Material territrio nacional nada mais do que o espaodelimitadoporfronteirasgeogrficas.

    b)JurdicoabarcanatotalidadeoespaoemqueoEstadoexerceasuasoberania.

    Fazempartedoterritrionacional:Soloocupadopelocorpopoltico.Rios,lagos,maresinteriores,golfos,baaseportos. Faixa de mar exterior ao longo da costa, denominada territorial.

    Atualmente,de12milhasmartimasde largura,medidasapartirda baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, de acordocomodispostonoart.1daLein.8.617,de4dejaneirode1993.

    Espaoareo.Navioseaeronavesnostermosdalei.

    2.2.6 NaoAexpresso naoderivadado latim natio,de natus,e

    quer dizer nascido. Trata-se, portanto, do conjunto de pessoasoriginadasdeummesmo lugar,deummesmoambiente cultural,procedentesdamesmaraa, compartilhando tradies,histriaeidioma,isto,aexistnciadeumvnculoumascomasoutrasque

  • as faa viverem em comunidade, formando um povoindependentementedequalquerorganizaolegal.

    2.2.7 PoderdoEstadoPodertosomenteaimposiorealporpartedeumapessoa

    outra. Elemento essencial constitutivo do Estado, o poderrepresenta sumariamente aquela energia bsica que anima aexistncia de uma comunidade humana num determinadoterritrio,conservando-aunida,coesaesolidria.[6]

    OpoderdoEstadoaoqualopovoestsujeitonadamaisqueavalidadeeeficciadaordemjurdica,decujaunidaderesultamaunidadedoterritrioeadopovo.OpoderdoEstadodeveseravalidadeeaeficciadaordemjurdicanacional,casoasoberaniadeva ser considerada uma qualidade desse poder. Porque s hsoberania quando a qualidade de uma ordem normativa nacondiodeautoridadeafontedeobrigaesedireitos.Quando,porm, fala-se dos trs poderes do Estado, o poder compreendido como uma funo do Estado, sendo distinguidastrsfunesdoEstado.[7]

    Portanto, a Constituio, objeto da anlise do direitoconstitucional, pressupe em seu texto os seguintes elementosintegrantes do Estado: povo, territrio, soberania, sociedade ePoderdoEstado.Parafacilitaroestudo,podemossistematizardaseguinteforma:

    Por fim, vale dizer que a doutrina clssica aponta comocaractersticas peculiares ou elementos essenciais do Estado tosomenteopovo,oterritrioeogovernosoberano.

  • 2.3 CONCEITODECONSTITUIOAConstituioaleimaiordoEstado,eisque,almdedispor

    sobresuaorganizao,disciplinatambmoexercciodepoder,osdireitos fundamentais e, ainda, traa os fins pblicos que devemseralcanadospelosadministradores.

    Deste modo, em sua acepo jurdica o texto constitucionalpode serdefinido comoo conjunto sistematizado, organizado, denormasprimriaseestruturantesdoEstadoedosseuspostuladosfundamentais.

    Aindanesteesteio,AlexandredeMoraesapresentaaseguinteconceituao: Constituio, lato sensu, o ato de constituir, deestabelecer,defirmar;ouaindaomodopeloqualseconstituiumacoisa,umservivo,umgrupodepessoas;organizao,formao.[8]Juridicamente,porm,Constituiodeveserentendidacomoaleifundamental e suprema de um Estado, que contm normasreferentes estruturao do Estado, formao dos poderespblicos, forma de governo e aquisio de poder de governar,distribuio de competncias, direitos, garantias e deveres doscidados.Almdisso,aConstituioqueindividualizaosrgoscompetentes para a edio de normas jurdicas, legislativas ouadministrativas.[9]

    Conquanto a expresso norma fundamental possa serinterpretadadevriasmaneiras, neste estudoentenderemosquese trata da norma formal, consolidada em um nico texto, aindaque existam posteriores modificaes (por meio das emendasconstitucionais), sistematizada e articulada, servindo comofundamento de validade para as normas que dela decorrerem,organizandoouestruturandoosistema.

    2.3.1 ObjetodaConstituioA Constituio tem como objeto nuclear os direitos

    fundamentais, a estruturao do Estado e a organizao dospoderes. Para facilitar a assimilao, podemos esquematizar da

  • seguinteforma:

    preciso ter emmente que o objeto das Constituies podevariar conforme a sociedade, o local e a poca em que ela foieditada.

    2.4 CARACTERSTICASDACONSTITUIOAConstituioFederalpossuipelomenosduascaractersticas

    que a tornam singular, diferenciando-a das demais normas, asaber:

    2.4.1 SupralegalidadeAs normas constitucionais, sem qualquer exceo, so

    revestidasdesupralegalidade,encontrando-senograumximodeeficcia, o que implica dizer que as demais normas alocadashierarquicamente abaixo devem guardar uma necessria relaodecompatibilidadecomanormafundamental,ouseja,nopodemcontrari-la,muitopelo contrrio, devemestar conformeos seuspreceitos, e por isso se diz que a Constituio norma positivasuprema.

    Ailaoquefazemosadequeasnormasinfraconstitucionaisdevem buscar seu fundamento de validade na normaimediatamentesuperior,queporsuavezbuscaarrimonanormaacima, e assim por diante, sob pena de incorrerem eminconstitucionalidade.

    E justamente dessa supremacia decorre o chamado princpiodacompatibilidadeouhierarquiaverticalcomaConstituio,que

  • preceitua que a validade da norma inferior depende de suacompatibilidadecomaConstituio.

    Esse pensamento escalonado da estrutura do ordenamentojurdico atribudo a Hans Kelsen e pode ser representado daseguinteforma:

    No cume da pirmide, esto as normas formalmenteconstitucionais, abaixo delas se encontram as demais normasintegrantesdoordenamento jurdico. importantedizerquenohfalaremhierarquiaentreasnormasformaiscontidasnobojodaConstituio;todasestonomesmopatamar,inclusiveasclusulasptreas. Outra discusso versa a respeito da existncia dehierarquia entre Lei Complementar e Ordinria; tal assunto serdevidamente tratado em tpico prprio no captulo que trata doprocessolegislativo.

    Por fim, cumpre dizer que nunca uma norma constitucionaloriunda do Poder Originrio ser declarada inconstitucional.Todavia, plenamente possvel que uma norma constitucionalnasainconstitucionalquandodecorrentedoPoderReformadorumaEmendaConstitucionalpodeserdeclaradainconstitucional.

    2.4.2 RigidezA Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988

    desfruta da chamada rigidez constitucional, que consiste no

  • procedimento mais solene e formal para as alteraes de seusdispositivos ao compararmos com o procedimento das demaisnormasprevistasnoroldoart.59.

    Perceba que no se fala em imutabilidade, muito pelocontrrio, plenamente possvel a sua mutabilidade, mas nomomento em que estudamos a sua estabilidade a classificamoscomoumaConstituio rgida, uma vez que, para ser reformada,deve-seobservaroritoespeciale rigorosoprevistonoart.60deseutexto.

    A necessidade de se adotar esse procedimento de elaboraomais solene, mais trabalhoso em relao s leis ordinrias ecomplementares,emergejustamentedaideiadesupremacia,nsitaConstituio.

    A rigidez constitucional permite a discriminao entre asobras doConstituinte e do Legislador. A segunda, encontrandooseu parmetro de validade na primeira, no pode, quer sob oprisma material, quer sob o prisma formal, atingi-la. Existe, porisso, uma relao hierrquica (relao defundamentao/derivao)necessriaentreambas.[10]

    Deste modo, podemos afirmar sem medo de errar que acaractersticada rigidez incide sobrea formademodificaodosdispositivos constitucionais, que muito mais dificultoso paraEmenda Constitucional do que para outras deliberaes quecorrempeloCongressoNacional,porexemploaaprovaodeumaLeicomplementar.

    2.5 CONCEPESAexpressoconcepodecorrentedolatimconceptio,de

    concipere, e tem a finalidade de apontar o instante em que seiniciaageraodosseres.Masessenoonicosentidoemqueaexpresso pode ser empregada; podemos dizer que conceposignifica a compreenso que se tem sobre um acontecimento ouumacoisa.

  • 2.5.1 ConcepojurdicaEm sua concepo jurdica, Hans Kelsen expe que a

    Constituio se traduz na norma fundamental hipottica,pressupostaenopostapelaautoridade,oDireitoformadocomoumaestruturanormativa,emqueaunidadeseassentananormafundamental, pois o fundamento de validade de qualquer normajurdicaavalidadedanormasuperior.

    Kelsenentendequeosistemajurdicoumsistemafechado,eque a Constituio tem dois sentidos: o lgico jurdico:preceituandoqueaConstituioanormafundamentalhipottica,aprpriaorganizaosocialantecedendoodireitopositivado;eo jurdico positivo: expondo que a Constituio a leifundamental,fontedetodasasoutrasnormas.

    Emseuestudo,soboprismadaTeoriaPuradoDireito,apontavriossignificadosdeConstituio,asaber:

    Portanto, segundo o seu entendimento, o escalonamento dasnormas jurdicas algo que salta aos olhos, em que uma normaembasa a outra, permitindo que outra surja, servindo desustentao emumahierarquia vertical que segue at alcanar aConstituio, que possui eficcia superior em relao s demaisnormas.

    2.5.2 ConceposociolgicaConforme a Concepo Sociolgica proposta por Ferdinand

    Lassalle,Constituiooconjuntodosfatoresreaisdepoderquerege uma sociedade. Para o renomado jurista alemo, aConstituio deveria corresponder aos fatores reais de uma

  • sociedade;deveexistiraidentidadereflexiva,pois,seassimnoo fosse, perderia sua identidade, no passando de uma folha depapel.

    Denadaserveoqueseescrevenumafolhadepapelsenoseajustarealidade,aosfatoresreaisdepoder.Essesfatoresreaisdepoder, entre ns, esto identificados na fora dos produtoresruraisedosmovimentosdesem-terra,nosistemafinanceiroenasfederaes empresariais, nos sindicatos e nas centrais sindicais,nascorporaesmilitaresecivis,dentreoutrasforasqueimpemaformaeocontedodaConstituio.

    Osfatoresreaisdepoderqueatuamnoseiodecadasociedadesoessaforaativaeeficazqueinformatodasasleiseinstituiesjurdicas vigentes, determinando que no possam ser, emsubstncia,anosertalcomoelasso.[11]

    2.5.3 ConcepopolticaOjuristaefilsofopolticoalemoCarlSchmittentendiaquea

    Constituioseriaofrutodadecisopolticafundamentale,pelofato de o corpo legislativo se ater a discusses e compromissos,no seria capaz de traduzir a vontade popular de forma maisefetivaquantoumditador.

    Em seus ensinamentos, realizava uma distino entreConstituioeasleisconstitucionais.

    O contedoprprio daConstituio aquilo que trata acercadaformadeEstado, formadegoverno,aosrgosdopoderedeclarao dos direitos individuais; em outras palavras, aConstituio se consubstancia em uma deciso polticafundamentaldeumEstado.

    Asdemaismatrias,enquantoinseridasformalmentenocorpodaConstituio,seriamleisConstitucionaissecundriasemrazodosassuntostratados.

    Kildare Gonalves[12] nos ensina que, segundo Schmitt, aconcepodecisionistaexpressaumadecisopolticafundamentalvlida to somente por fora do poder constituinte, e a ordem

  • jurdica, essencialmente um sistema de atos perceptivos devontade,umsistemadedecises.ParaSchmitt,hquatroconceitosbsicos de Constituio: conceitoabsoluto a Constituio comoum todo unitrio; conceito relativo a Constituio como umapluralidadede leisparticulares;conceitopositivo aConstituiocomo deciso de conjunto sobre o modo e a forma da unidadepoltica;conceitoidealaConstituiocomcertocontedo.

    2.5.4 Concepoculturalista aquela Constituio que resguarda o direito cultura,

    abarcandoadefesaeducao,aoensinoeaodesporto.Pedro Lenza, em seu livro, cita os ensinamentos de J. H.

    Meirelles Teixeira, que trata muito bem do tema: [...] umaformao objetiva de cultura que encerra, ao mesmo tempo,elementos histricos sociais e racionais, a intervindo, portanto,no apenas fatores reais (natureza humana, necessidadesindividuais e sociais concretas, raa, geografia, uso, costumes,tradies, economia, tcnicas), mas tambm espirituais(sentimentos, ideias morais, polticas e religiosas, valores) ouainda elementos puramente racionais (tcnicas jurdicas, formaspolticas, instituies, formas e conceitos jurdicos a priori) efinalmenteelementosvoluntaristas,poisnopossvelnegar-seopapeldevontadehumana,dalivreadeso,davontadepolticadascomunidades sociais na adoo desta ou daquela forma deconvivncia poltica e social, e de organizao do Direito e doEstado.[13]

    As Constituies positivas so um conjunto de normasfundamentais, condicionadas pela Cultura total, e aomesmo tempocondicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidadepoltica,ereguladorasdaexistncia,estruturae finsdoEstadoedomododeexerccioelimitesdopoderpoltico.[14]

    Portanto, a concepo culturalista culmina no conceito deConstituio Total, que, nos dizeres de Manoel Gonalves:[15]AplicandoaoEstado,otermoConstituioemsuaacepogeral

  • pode designar a sua organizao fundamental, total, quer social,querpoltica,querjurdica,quereconmica.Enaverdadetemelesido empregado s vezes para nomear a integrao de todosessesaspectosaConstituiototalouintegral.

    2.5.5 Conceposuave aquela que exprime o pluralismo social, poltico e econmico dasociedade.FoiestudadaporZagrebelsky[...].[16]

    2.5.6 ConcepojusnaturalistaA Constituio expresso e reconhecimento, no plano de cadasistema jurdico, de princpios e regras do Direito Natural,especialmentedosqueexigemrespeitodosdireitosfundamentaisdohomem; a Constituio meio de subordinao do Estado a umDireitosuperior,detalmodoqueoPoderPoltico,juridicamente,noexistesenoemvirtudedaConstituio.[17]

    2.6 CLASSIFICAESDASCONSTITUIESA seguir, examinaremos as classificaes da Constituio de

    acordo comalguns critriospreestabelecidosparaquepossamosmelhorcompreendersuasespecificidades.

    2.6.1 Quantoorigema) Democrticas, promulgadas, votadas ou ainda populares: a

    Constituiodecorrentedeummovimentoouprocessodemocrtico,sendo elaborada, votada e promulgada por uma AssembleiaConstituintecompostaporrepresentantesdopovo.

    NoBrasil,temoscomoexemplosasConstituiesde1891,1934,1946e1988.

    b)Outorgada:a impostaunilateralmentepelosoberanoaopovo;,portanto,frutodoautoritarismo.AexpressoCartaConstitucionalou CartaMagna identifica essa origem arbitrria. Assim, quandofalamos em Carta Constitucional estamos em um primeiromomento fazendo meno origem autoritria dela. Por isso,tecnicamente,aexpressodeveserevitadaquandosefizeraluso

  • ConstituioFederalde1988,eisquefoipromulgada.NoBrasil,temoscomoexemploasConstituiesde1824,1937,1967e

    1969.c) Cesarista ou bonapartista: aquela Constituio escrita sem a

    participao popular, mas que antes de entrar em vigor referendadapelopovo.NapoleoBonaparteeJulioCsarimpunhamaospasesconquistadossuasregras,queeramvotadaseaprovadas.

    d) Pactuada, dualista: nasce de um pacto entre o soberano e aAssembleia Nacional. Verdadeiramente pactuada temos comoexemplo a Constituio do Rei Joo Sem Terra, da Inglaterra, poisnestecasoasforaseramrealmenteiguais, tantoque,seanobrezainglesaquisesse,teriadepostoorei.ACartaConstitucionalde1967, segundoprevaleceamplamentenadoutrina, outorgada quanto sua origem, j que o CongressoNacional,convocadoextraordinariamentepeloAIn.4paraapreciarapropostadosmilitaresentre12dedezembrode1966e24dejaneirode 1967, no possua liberdade suficiente para alterar de formasubstancial o documento. Formalmente, contudo, o CongressoaprovouepromulgouaConstituiode1967, razoporquealguns(minoria) classificam tal Carta como sendo uma Constituiopositivadaporconveno,dualista.[18]

    2.6.2 QuantomutabilidadeNo se trata de poder ou no alterar a Constituio Federal,

    mas sim se mais fcil ou difcil alterar, quais os requisitosexigidosparasefazeremmudanasnaConstituio.

    a)Rgida:aquelaqueexigeprocedimentomaisrigoroso,maissolenepara criao ou alterao de suas normas em comparao com asdemais(porexemplo,adoBrasil).

    Ressalte-se que h o entendimento de que a CF/88 pode serconsideradacomosuper-rgida,pois,aindaqueemregrapossaseralterada por um processo legislativo diferenciado,excepcionalmente,emalgunspontoselaimutvel(CF,art.60,4clusulasptreas).[19]

    b)Semirrgidaousemiflexvel:aConstituioqueemparteexigeumprocessomaisdificultosoparaasuaalteraoeemoutraparteutiliza-se de um processomais singelo, podendo ser alterada pelo

  • mtodolegislativoordinrio.c) Flexvel: a Constituio no exige um processo solene para sua

    alterao. Omesmoprocedimento para se alterar a lei ordinria utilizadoparasealteraraConstituio.

    Na doutrina do professor Pinto Ferreira, a Constituio flexvel tambmchamadadeplstica,porquerevelaasuamaleabilidade.

    Porm,oprofessorRaulMachadoHortadenominaConstituioflexvelaquela que depende de regulamentao por parte do legisladorinfraconstitucional, o que permitiria a permanente projeo daConstituionarealidadesocialeeconmica.Emoutraspalavras,aquela que possui capacidade de adaptao ao futuro, semnecessidade de emenda Constituio. Exemplo: sigilo decomunicao. Adapta-se a todas as formas de comunicao, comonosEstadosUnidosdaAmrica.

    d) Imutveis: so incomuns. Em regra, existem em pasesconfessionais, aqueles que misturam poltica com religio. SuasConstituies, muitas vezes, so seu prprio texto sagrado, porexemploadoAfeganisto,quandosoboregimedoTaliban.

    2.6.3 QuantofunoTendo emvista as liesde Jos JoaquimGomesCanotilho, o

    professor Manoel Gonalves Ferreira Filho[20] nos apresenta asseguintesmodalidadesdeConstituio,noexcludentesentresi:

    a) Dirigente: no se satisfaz em organizar e limitar o poder, mastambmpreordenaaatuaogovernamentalpormeiodeplanosdegovernoelaboradosemdeterminadosentido.

    Os programas vinculantes so as diretrizes polticas permanentes,soasnormasprogramticas.Elaconduznessescasosaatividadedegoverno independentemente de qual seja a sua ideologia poltica;trata-sedeumafunoprospectiva.

    b)Garantia,quadroounegativa: limita-seaestabelecerumquadrodedireitosfundamentais,limitandoopoderdoEstado.

    tambmconhecidacomonegativa,porqueimpedeopoderarbitrriodo soberano; e como quadro, porque h um quadro de direitosdefinidos.

    c)Balano:aConstituiododeverser,refletindoasituaosocial,os avanos alcanados; mostra como a realidade . O modelo

  • sovitico inspirado no conceito sociolgico de Constituio (F.Lassalli); a Constituio deve refletir os fatos reais do poder,fotografiadomomentohistrico.

    Exemplo: a URSS, pois sintetiza as fases de implantao do regimesocialista,epreparaoEstadoparaafaseseguinte.AsConstituiesde1924,1936e1977registravamoavano,paranovoltaratrs.

    d)Supranacionais:tratamdodireitocomunitrio(tendncianaUnioEuropeia).

    e)Heteroconstituio:ConstituioquepartedeforaparadentrodoEstado,porexemploadaSrvia,porquecomaindependnciaaONUenviouumacomissointernacionalparaformarumaConstituio.

    2.6.4 Quantoideologiaa) Ortodoxa ou simples: a Constituio que tem por fundamento

    uma nica ideologia, por exemplo o socialismo, ideologia adotadapelaConstituiosoviticade1977.

    b)Eclticas,complexasoucompromissrias:soaquelasformadaspelaconciliaodediversasideologias.Nestecasonohumalinhapoltica bem delineada, mas sim diversas linhas equilibradas,diversosprincpios ideolgicos.AConstituiobrasileirade1988consideradaecltica.

    2.6.5 Quantoaomododeelaboraoa)Dogmtica:dogma,opontomais importantequecaracterizacerto

    sistema;determinadomodeloadotadoporquemelaborouotextoconstitucional.

    Porconseguinte,aConstituioserdogmticacasosejadecorrentedeumnicomomentoreflexivo,emqueaAssembleiaConstituintefixaosvalores ideolgicosqueseroporela incorporadosnomomentodesuaconfeco.Elanecessariamenteassumeaformaescrita.

    b)Histricas, costumeiras: so as Constituies fruto de um longoprocessohistricoqueincorporaemseutextodiversosvaloresqueatravessaram os tempos. Aqui, a Constituio assume a forma noescrita,isto,noserefleteemumtrabalhonico.

    2.6.6 Quantoformaa)Escrita:aquelaqueestconsolidadaemumtextonico,originada

  • de um momento de reflexo do constituinte originrio. Pode serclassificadaquantoasuaextensodaseguinteforma:

    Analticaouexpansivatrata-sedotextoconstitucionalquedispenoapenasdasnormasmaterialmenteconstitucionais,mastambmde matrias que no deveriam ser tratadas pela Constituio.Podemoscitarcomoexemploo2doart.242,preceituandoque:O Colgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, sermantidonarbitafederal.

    AinevitvelconsequnciadeumaConstituioquepossuiestaformaainstabilidade,poissonecessriasinmerasesucessivasmodificaes.

    Sinttica(concisa) comooprprionome jdiz, aqueprevemseubojotosomenteasnormasmaterialmenteconstitucionais,por exemplo a Constituio norte-americana, que contavainicialmente com sete artigos e foi modificada apenas 27 vezesapsmais de dois sculos de existncia. O papel que a supremacorteassumenocenriopolticoapenasextraordinrio.precisoadapt-laevoluodoscostumes,porexemplo,dosEUA.

    b) No escrita: antes de qualquer coisa, preciso saber que aConstituionoescritatambmcontmpartesescritas,masnoemum nico texto, pois suas normas e princpios se encontram demaneiraesparsaemdiversostextosenoscostumes.

    OexemploclssicodeumaConstituionoescritaainglesa.Assim,verifica-se que a principal diferena em relao Constituioescrita a forma, isto , as Constituies no escritas possuemdiversas fontes, comoos costumes,decisesdos tribunais,prticasadministrativas,sendoformadas,portanto,pormeiodeumprocessohistrico, o sistema da common law, ao passo que a Constituioescritarenetodosospreceitosemumnicotextoarticulado.

    Lus Roberto Barroso, no livro Interpretao e aplicao daConstituio, traz a separao dos polticos norte-americanos emobjetivistasesubjetivistas:Objetivistas,ouoriginalistas(conservadorismo),sustentamque,nomomentoemqueumapessoadeixadeseguiroqueestescritonalei,elanodevemaisterdireitoaosbenefciosdalei,porexemploa proteo dos direitos humanos para quem respeita direitoshumanos.Objetivistasno trabalhamcomavontadeda lei (mens

  • legis), mas com a vontade do legislador (mens legislatoris). A leiexpressa a vontade do povo, poca em que foi escrita. No hgrandesmodificaes.

    Subjetivistas,porsuavez,ponderamemcimadarealidadesocialedaevoluohistrica(menslegis).Permiteumainterpretaodasnormas.

    2.6.7 Quantoaocontedoa) Material: so as regras jurdicas que possuem contedo

    fundamentalparaaestruturaodoEstadoe,aindaqueestejamforado corpo da Constituio, so consideradas materialmenteconstitucionais. Por isso que correto afirmar que a ConstituioMaterialmaisabrangentequeaConstituioFormal,hajavistaquebastaanormaversarsobrematriaconstitucionalparaqueelasejaconsiderada materialmente constitucional, independentemente deestarounoinseridanotexto.

    So normas consideradas materialmente constitucionais as que sereferemformadeEstado,degoverno,tratamdaestruturaodosrgos do poder (Legislativo, Executivo, Judicirio), organizam oexercciodopoder,definemosdireitosfundamentais,momentoemquefixamolimitedeatuaoEstatal,entreoutras.

    Por este critrio, podemos enxergar como verdadeiras normasconstitucionais as insertas no Cdigo Eleitoral, eis que dizemrespeitoorganizaofundamentaldoEstado.

    Deste modo, chegamos concluso de que nem toda ConstituioMaterial ocupa o pice da pirmide, pois para tanto precisotambmteraformaconstitucional.

    b)Formal: todaequalquernorma inseridanocorpodaConstituiopormeio de um processomais solene considerada formalmenteconstitucional, mesmo que o seu contedo no seja consideradoconstitucional; aqui, o que tem relevncia a forma pela qual anormaingressounosistemajurdico.

    Em outras palavras, pelo conceito formal de Constituio, o que seprivilegia no o contedo, mas a maneira, o procedimento deaprovaodosartigosqueaintegram.[21]

    NoBrasil,aEmendaConstitucionaln.45acrescentouo3aoart.5,falando que os Tratados Internacionais de Direitos Humanos que

  • foremreferendadosnoCongressoemduploturno,portrsquintosdasduascasas,viramEmendaConstituioesoparmetrosparacontroleconstitucional.ochamadoblocodeconstitucionalidade,poistemnormascomforaconstitucional,queestodentroeforadaConstituio. O primeiro tratado assim votado foi a Conveno deNY,quetratadeportadoresdedeficinciafsica.

    2.6.8 Quanto concordncia das normas constitucionais com arealidade

    AclassificaoabaixolevaemconsideraoocritriopregadoporKarlLoewenstein,senovejamos:

    a)Constituionormativa: aquela que tem o condo de limitar opoderdoEstado.Elarespeitadaecumprida.

    b)Constituionominal:aquepretendelimitaropoderdoEstado,masacabapornofaz-lo,sendo,pois,descumprida.

    c)Constituiosemnticaoudefachada:aquelaque,ao invsdelimitar o poder do Estado, propicia aos detentores do poder adominaodasociedade.

    2.6.9 ClassificaodaConstituioFederalde1988AclassificaodaConstituiode1988promulgadaquanto

    origem,rgidaquantomutabilidade,dogmticaquantoaomodode elaborao, escrita quanto forma, ecltica quanto suaideologia, analtica quanto sua extenso, alm de ter funodirigenteegarantista.

    Podemosesquematizardaseguinteforma:

  • 2.7 PRINCPIOSFUNDAMENTAIS2.7.1 FundamentosdaRepblicaFederativadoBrasil

    Os fundamentos da Repblica Federativa do Brasil estocontidosnoart.1daLeimaioreso:

    ISoberania.IICidadania.IIIDignidadedapessoahumana.IVValoressociaisdotrabalhoedalivre-iniciativa,eoVPluralismopoltico.Os concursos costumam misturar o referido dispositivo

    constitucionalcomoart.3,quecarregaosobjetivosfundamentaisdoEstadobrasileiro,e,paraevitarconfuses,ooperadordodireitodeveteremmentequeosfundamentossocomandos-regra,desdelogoaplicveis,mesmoqueabstratos.Omesmonoacontececomos objetivos fundamentais que so comandos-valor, normasprogramticas,metasaseremalcanadaspeloEstado.Nota-sequesoverbos:construir,garantir,erradicar,promover.

    ISoberaniaA soberania, conforme j visto, um poder que no admite

    outro que lhe seja igual (concorrente) ou superior no mesmoterritrio. Podemos ilustrar a situao, por exemplo, com aColmbia, que invadiu o territrio do Equador para atacar asForasArmadasRevolucionriasdaColmbiaExrcitodoPovo,conhecidas pela sigla FARC ou ainda FARC EP, violando asoberania daquele pas, ou ainda o poder do narcotrfico nasfavelascariocas,estabelecendoumverdadeirogovernoparalelo.

    Nomesmo sentido, surgiu a Doutrina de Drago, que prega ainadmissibilidade da invaso armada do pas devedor pelo pascredorparaacobranadesuasdvidas.

    Tal doutrina foi idealizada por Luiz Maria Drago cominspiraonas ideiasdeCarlosCalvoeutilizadapara sustentarailegalidadedoembargonavalpromovidoporAlemanha,Inglaterra

  • eItliaVenezuelapornoterpagoassuasdvidas.AdoutrinadeDrago surgiu em resposta aos Estados Unidos, que adotavam adoutrina de Monroe, que pregava entre outras coisas a nointervenoemconflitos relacionadosaospaseseuropeus, comoguerrasentreestespasesesuascolnias.

    NoquetangedizersobreosEstados-membros,certoquepelofato de o Brasil ser uma Federao existem dentro da soberaniavrias autonomias, que so justamente os estados; assim,soberanianoseconfundecomautonomia.Estados-membrostmautonomia.

    Por fim, comaviolaodasoberania, autoriza-seodireitoderesistncia, que vai desde a desobedincia civil at a revoluoarmada.

    IICidadaniaPossuidoissignificados,asaber:a)Poltico:odireitodoadministradoemparticiparnosnegciosdo

    Estado(votar,servotado).b) Social: o direito de exigir prestaes positivas do Estado,

    usufruindodosdireitoscivisfundamentaisprevistosnaConstituioFederal(sadepblica,educao).

    IIIDignidadedapessoahumanaCuida-se do conjunto de diversos direitos fundamentais

    indeterminados;porexemplo,omnimoexistencialeaproteodoEstado a sofrimentos evitveis. Vale dizer que os direitosfundamentaissopassveisderennciadesdequenoseofendaadignidadedessapessoa.

    OprofessorFbioKonderComparatonosensinaque:todososseres humanos, apesar das inmeras diferenas biolgicas eculturaisqueosdistinguementresi,merecemigualrespeito,comonicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade ecriar a beleza [...] ningum nenhum indivduo, gnero, etnia,classesocial,gruporeligiosoounaopodeafirmar-sesuperioraosdemais.[22]

    Na prtica, podemos imaginar a seguinte situao: algum

  • impetraumMandadodeSegurana contraoSecretriodeSadedo Estado (ouministro, ou domunicpio em questo de sadeso solidrios), para liberar medicamentos caros. Usa-se estefundamento como comando-regra, pois pode ser aplicado deimediato. Conforme se ver adiante, como matria de defesa oEstado usa a Teoria da Reserva do Possvel no possvelatender a todos; cabe ao Estado determinar o que prioridade,ondeutilizarorecurso.Nocasoemtela,podemossuporquecomaverbadeapenasummedicamentooEstadopoderiaempregarestedinheiro para comprar cinco mil xaropes para tuberculosos.Todavia, atendendo s condies casusticas, geralmente oJudicirio concede ordem para o medicamento ser fornecido aoparticular.Aregradelegitimidadedosgastospblicosestligadaaoatendimentodobem-estarsocial.

    Por fim, vale dizer que as aes afirmativas so aquelas quebuscam dar condies iguais para pessoas que esto emdesigualdade,por exemploas vagasde concursoparadeficientesouaindacotasnaUniversidadeparanegros(compensaocomopassado).

    IVValorsocialdotrabalhoedalivre-iniciativaVisa criar uma relao de harmonia e de cooperao entre o

    capitaleotrabalho.Umnopodesobrepor-seaooutro.A suaorigem remonta encclicaRerumNovarum (1891), do

    PapaLeoXIII,quejpreviaumaharmonizaoentreocapitaleotrabalhocomoformadesealcanarajustiasocial.

    VPluralismopoltico a convivncia harmnica de interesses divergentes

    (tolerncia). Pluripartidarismo. No apenas relativo a partidospolticos, mas a todos os interesses divergentes; por exemplo,garante-seodireitopropriedade,massetolerantecomoMST.

    2.7.2 PoderesdaUnioOdesdobramentodoprincpiodadivisofuncionaldoPoder

    a chave de abbada da Repblica brasileira e buscou a sua

  • sistematizaonoTtuloIVdaConstituiobrasileira.[23]Dispeoart. 2 da Constituio Federal: So Poderes da Unio,independenteseharmnicosentresi,oLegislativo,oExecutivoeoJudicirio.

    Ocorreque,naverdade,opodernosereparte,poisnsitosua natureza ser uno e indivisvel. Com efeito, a expressomaisprpria para esse ttulo tripartio das funes nas quais sedivide o exerccio do poder estatal. Em outro dizer, a subdivisonoserefereaopoderpropriamentedito,massdiversasformasdemanifestao.[24]

    O Brasil uma democracia e adota a forma federativa deEstado,e,porconseguinte,oLegislativoapresenta-seestruturadodeformadiferenciada,poispossuiumaestruturabicameral,sendonecessrioatenderaosimpositivosdademocraciarepresentativaesexignciasdaFederao,consoanteodispostonoart.44,assimredigido:[25] O Poder Legislativo exercido pelo CongressoNacional, que se compe da Cmara dosDeputados e do SenadoFederal.

    Portanto, a funo legislativa consiste na atividade deelaborao de normas gerais e abstratas, que so prvias noconflitodeinteresses;afunojurisdicionalsetraduznaaplicaodessasnormasaocasoconcretosubmetidoapreciaojudicial,eoexecutivoquegerenciaosnegcios internosdoEstadoFederal,administrando, internamente, os rgos que se lhe encontramvinculados, comvistaseliminaodeproblemaspermanenteseconjeturais.[26]

    OPoderExecutivo,porsuavez, temporexcelnciaexercerasatribuies de chefia do Estado, de governo e da administrao.Desempenhatambmfunesatpicas.

    Conformejestudado,determinou-seopresidencialismocomosistemadegoverno,quetemasfunesdechefedeEstadoechefedegovernoexercidasporumanicapessoa:ochefedoExecutivooPresidentedaRepblica.

    Estabelece o art. 76 que: O Poder Executivo exercido pelo

  • Presidente da Repblica, auxiliado pelos Ministros de Estado.Nestesentido:

    Pagamento de servidores pblicos da administrao federal.Liberaoderecursos.ExignciadeprviaautorizaodoPresidentedaRepblica.Os artigos76 e84, I, II eVI,a, todos da ConstituioFederal, atribuem ao Presidente da Repblica a posio de Chefesupremo da administrao pblica federal, ao qual estosubordinadososMinistrosdeEstado.Ausnciadeofensaaoprincpiodareservalegal,diantedanovaredaoatribudaaoincisoVIdoart.84pelaEmendaConstitucionaln.32/01,quepermiteexpressamenteaoPresidentedaRepblicadispor,pordecreto,sobreaorganizaoeofuncionamentodaadministraofederal,quandoissonoimplicaraumentodedespesaoucriaodergospblicos,exceesquenose aplicam ao Decreto atacado (ADI 2.564, rel. Min. Ellen Gracie,julgamentoem8-10-2003,DJ6-2-2004).

    E,por fim,oPoder Judicirio,que fazvaleravontadeda leiaumcasoconcreto,resolvendoumacrisedecerteza,comoescopoderealizarapacificaosocial.

    Comaevoluodasinstituies,oEstadoassumiuparasi,emcarterexclusivo,aresponsabilidadededarsoluoaosconflitos,vedando que os prprios litigantes os resolvessem; tal fase eraconhecidacomoautotutela.

    Assim, uma das principais caractersticas da jurisdio asubstitutividade, que deriva de sua atividade de substituir aspartes envolvidas no conflito para dar-lhes soluo. Com isso,garante-seaexignciacontemporneadeimparcialidade.[27]

    Porfim,valedizerqueapenasosatosjurisdicionaistornam-seimutveisemaisprecisamenteodispositivoda sentena;osatosadministrativos podem ser revistos e no tm o carter dedefinitividadequecaracterizaajurisdio.[28]

    2.7.3 ObjetivosdaRepblicaFederativadoBrasilOBrasil um Estado Democrtico de Direito e no devemos

    confundi-locomoEstadodeDireito,poisnoselimitaaassegurara igualdade formal entre as pessoas e o imprio da lei; h um

  • contedosocial;existeaimposiodemetasedeveres.A Assembleia Constituinte estabeleceu os objetivos

    fundamentaisquedevemseralcanadospeloEstadonoart.3daConstituioFederal,senovejamos:

    a)construirumasociedadelivre,justaesolidria;b)garantirodesenvolvimentonacional;c) erradicar a pobreza e amarginalizao e reduzir as desigualdades

    sociaiseregionais;d)promoverobemdetodos,sempreconceitosdeorigem,raa,sexo,

    cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminao.Sonormasdecontedoprogramtico,comandos-valor,eno

    comandos-regra(aplicam-sedeimediato).AEmendaConstitucionaln.31/2000criouofundodecombate

    pobreza com recurso de 0,08% da CPMF. Com a extino dacontribuio, devero ser supridos com outros recursos. OsEstadoseosMunicpiossoobrigadosacriarseuprpriofundodecombate pobreza: Estadual aumenta 2% no ICMS de produtosnoessenciais(suprfluos)eosMunicpiosaumentam0,5%doISSdeserviossuprfluos.Humadificuldadeemsuainstituio,poisno se conseguiu definir o que suprfluo ou no essencial;depende,portanto,deleifederal.

    2.7.4 PrincpiodasrelaesinternacionaisO Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos

    seguintesprincpios(art.4):IIndependncianacional(soberania).IIPrevalnciadosdireitoshumanos.IIIAutodeterminaodospovos.IVNointerveno.VIgualdadeentreosEstados.VIDefesadapaz.VIISoluopacficadosconflitos.VIIIRepdioaoterrorismoeaoracismo.IXCooperaoentreospovosparaoprogressodahumanidade.

  • XConcessodeasilopoltico.AsfontesdoDireitoInternacionalPblico,segundooart.38do

    EstatutodaCorteInternacionaldeJustia,so:tratados,princpios,costumes,doutrinaejurisprudnciainternacionais.

    Aproveitando o ensejo, cumpre dizer que a DeclaraoUniversal dos Direitos do Homem (ONU) no um tratadointernacional;somenteumacartadeintenes,significandoqueospasesnoestoobrigadosaela.

    2.8 ELEMENTOSDASCONSTITUIESAs Constituies contemporneas discorrem sobre uma

    infinidade de assuntos dasmais variadasmatrias, tais como osdireitos Fundamentais, a Organizao do Estado, os Poderes, aOrdem Econmica e Financeira, a Ordem Social, entre outrostemas.Mas esta diversidadede assuntos assentadademaneirasistemticaeharmoniosanumcorponico.

    justamente deste emaranhado de normas que deflui oconceitodeConstituioanaltica.Adoutrinapassouaagrup-lasde acordo com a sua funo no sistema Constitucional, e oresultadofoidenominadoelementosdaConstituio.

    O professor Uadi Lammgo Bulos adjetiva a denominaodoutrinriaacima,combasenasliesdeKennethC.Wheare;paraele o correto seriam elementos mnimo-irredutveis dasConstituies,eisquenopoderiamfaltaremnenhumdocumentoconstitucional.

    No entanto, no existe um consenso acerca da caracterizaodos elementos das Constituies no que se refere estruturanormativa.Aclassificaoaseguirensinadapor JosAfonsodaSilvaepodemosresumi-ladaseguinteforma:

    a)Elementoslimitativos:taiselementos,comexceodoCaptuloII,estoalocadosnoTtuloIIdaConstituioeseconsubstanciamemregras que expressam os direitos e garantias fundamentais,acarretandoalimitaodopoderestatal.

    b)Elementosorgnicosouorganizacionais: tratamdaorganizao

  • do Estado e da diviso de Poder; esto em sua maior parte nosTtulosIII,IV,V(CaptulosIIeIII)eVI.

    c)Elementossocioideolgicos:consubstanciam-senosprincpiosdaOrdemEconmicaeSocialesoindissociveisdaopopolticadaorganizao do Estado. Esto posicionados nos Ttulos II (CaptuloII),VIIeVIII.

    d) Elementos de estabilizao constitucional: so aqueles quebuscamassegurarapacificaodeconflitosconstitucionais,adefesadoEstado,daConstituioedasinstituiesdemocrticas.Podemoscitarcomoexemplos:art.102,incisoI,alneaa;arts.34a36;art.59,incisoI;art.60;art.103;TtuloV(CaptuloI).

    e) Elementos formais de aplicabilidade: regulam a aplicao dasConstituies; so eles: o prembulo, o Ato das DisposiesConstitucionaisTransitrias, o dispositivoque contmas clusulasdepromulgaoe,porfim,enomenosimportante,odispostono1doart.5.

    2.8.1 PrembuloconstitucionaleseuvalornormativoO prembulo foi objeto de votao pela Assembleia

    Constituinte brasileira e no s integra como tambm parteintrodutria da Constituio Federal; o seu incio, expressandoporpalavrasaposioideolgicadoPoderOriginrio,refletindoosideais polticos que permeavam aquele momento. Em simplesdizeres,asntesedosistemaconstitucional.

    Por conta disto, uma verdadeira celeuma foi instaurada nointuitodeconhecerasuaforanormativaepodemosdelinearbemtrscorrentesdistintas:

    a) Apesar de ter sido votado, o prembulo no tem qualquer foranormativa; sem relevncia jurdica, segundo essa corrente se tratadeumameramanifestaosocioideolgicadosConstituintes.

    b)Justamentepelofatodeoprembulotersidovotadoeaprovadonamesma oportunidade e pela mesma assembleia, goza da mesmafora normativa do corpo constitucional, pois no parece razovelqueumapartetenhaforaeoutra,domesmotexto,no.

    c) A corrente conhecida como relevncia jurdica indireta ouespecfica entende que o prembulo, embora no tenha fora

  • normativaautnoma,oqueimplicadizerquenoparmetroparacontrole da constitucionalidade, fonte de interpretao eintegrao das Normas Constitucionais e de todo o ordenamentojurdico.Trata-sedacorrentemajoritria.

    No obstante, o Supremo Tribunal Federal, ao conhecer doassuntonojulgamentodaADIn2.076,entendeuqueoprembulono possui fora normativa, no se encontrando na esfera dodireito,esimnocampodapoltica;nosetratadenormacentraldereproduoobrigatria,nohrelevnciajurdica.

    Seno,vejamosaementadareferidadeciso:EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONSTITUIO: PREMBULO.NORMAS CENTRAIS. Constituio do Acre. I Normas centrais daConstituioFederal:essasnormassodereproduoobrigatrianaConstituio do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ouno, incidiro sobre a ordem local. Reclamaes 370-MT e 383-SP(RTJ147/404).IIPrembulodaConstituio:noconstituinormacentral. Invocao da proteo de Deus: no se trata de norma dereproduo obrigatria na Constituio estadual, no tendo foranormativa. III Ao direta de inconstitucionalidade julgadaimprocedente.

    Verifica-se que as normas centrais so de reproduoobrigatria s comunidades jurdicas parciais, so normas depreordenaodosEstados-membros.Noentanto,talentendimentono se aplica ao prembulo, pois, conforme exposto, contmapenas princpios; uma declarao poltica no reflete em umanormajurdica.

    Todavia,todotextohqueserinterpretadoemntimaconexocomasideologiasdoprembulo;emoutraspalavras,nohquesefalaremuma interpretaorealizadaalheiaaoprembulo,poisoseu contedo principiolgico norteia a correta aplicao einterpretao das leis constitucionais, elemento formal deaplicabilidade.

    Por fim, vale dizer que, para nossa melhor doutrina, oprembulopossui foranormativa,poisno teria sentidoquenoinstante em que a assembleia fosse votar a aprovao do

  • prembulo se desvestisse do poder constituinte originrio eprofessassetosomenteasuaf.

    2.8.1.1InclusodonomedeDeusAConstituioFederal,malgradosejaumEstadoleigooulaico,

    incluiu em seu prembulo o nome de Deus, confirmando umatradio no s nacional, mas de grande parte dos pases queadotamaConstituioescrita;tradioestaquesforaquebradanasConstituiesde1891e1937.

    Conquanto a Assembleia Constituinte tenha invocado o nomede Deus no prembulo, indubitvel que no foi professadoqualquer dogma, sendo mantida a neutralidade em matriaconfessional, pois ningum privado de direitos por motivo decrenareligiosaouconvicofilosfica.

    Istoassimporquenoforaenunciadaumaligaocomcertaconfissoreligiosa;nohsectarismo,hajavistaqueDeusumsersupremopresenteemtodososdogmas.

    No entanto, nem sempre foi assim. Em 1824 o impriobrasileiroeraumEstadoconfessional,isto,possuaumareligiooficial, que era a catlica apostlica romana. Era um Estadounitrio,centralizadoecomtodoopoderconcentradonafiguradoImperador, seno vejamos o art. 5 daquela Constituio: AReligioCatholicaApostolicaRomana continuar a ser aReligiodo Imperio. Todas as outras Religies sero permitidas com seucultodomestico,ouparticularemcasasparaissodestinadas,semfrmaalgumaexteriordoTemplo.

    ComaConstituiode1891,omodelo imperial forapostodelado,dando finalmente lugar Repblica, e oBrasil passoua serum Estado laico ou leigo, separando absolutamente a Igreja doEstado, colocando-se em neutralidade do sistema confessional,ocorrendoassima laicizao, conformepodemosverificarnoart.19,I,daCF.

    Portanto, o prembulo reconhece o tesmo do Estadobrasileiro, o que nos possibilita afirmar, sem medo, que a

  • sociedade poltica brasileira compactua em seus segmentos dohumanismocristo,domonotesmo.

    2.8.2 AtodasDisposiesConstitucionaisTransitriasMalgrado tenha duas partes, a Constituio uma unidade,

    compostadasdisposiespermanentes e doAtodasDisposiesConstitucionais Transitrias (ADCT), que possui numeraoprpria, amesmarigidezeeficciadasdisposiespermanentes,sendo alterado apenas por emenda constitucional, e eficciaexaurvel.

    So,portanto,normasquepermitemotrnsitodeumsistemapara outro e, por vezes, at se sobrepem s regras do corpopermanente,porexemplooart.34doADCT:OsistematributrionacionalentraremvigorapartirdoprimeirodiadoquintomsseguinteaodapromulgaodaConstituio,mantido,atento,odaConstituiode1967,comaredaodadapelaEmendan.1,de1969,epelasposteriores.

    O ADCT tambm abriga Normas Constitucionais temporrias,por exemplo o art. 78, que tratou o parcelamento do precatrio;senovejamos:

    Art.78.Ressalvadososcrditosdefinidosem lei comodepequenovalor,osdenaturezaalimentcia,osdequetrataoart.33desteAtodas Disposies Constitucionais Transitrias e suascomplementaes e os que j tiverem os seus respectivos recursosliberadosoudepositadosemjuzo,osprecatriospendentesnadatadepromulgaodesta Emenda e os que decorramde aes iniciaisajuizadas at 31 de dezembro de 1999 sero liquidados pelo seuvalor real, em moeda corrente, acrescido de juros legais, emprestaesanuais,iguaisesucessivas,noprazomximodedezanos,permitidaacessodoscrditos.

    Portanto,aConstituiode1988,aoab-rogaraanterior,atribuiao ADCT a funo de regular a transio entre as normasfundamentais e, transitoriamente, tratar de matriainfraconstitucionalatquesejaeditadaaleiespecfica.

  • 2.9RVOREJURDICA

    1CARVALHO,KildareGonalves.Direitoconstitucional: teoriadoEstadoedaConstituio.Direitoconstitucionalpositivo.12.ed.,rev.eatual.BeloHorizonte:DelRey,2006,p.2.

    2FERREIRAFILHO,ManoelGonalves.Cursodedireitoconstitucional,35.ed.,p.16.3KELSEN,Hans.TeoriageraldodireitoedoEstado.SoPaulo:MartinsFontes,2000,p.261.4MEIRELLES,HelyLopes.Direitoadministrativobrasileiro.30.ed.SoPaulo:Malheiros,2004,p.60.5PARSONS,Talcott.EncyclopaediaofSocialSciences,t.13-14,p.225.ApudBONAVIDES,Paulo.Curso

    dedireitoconstitucional,p.54.6BONAVIDES,Paulo.Cursodedireitoconstitucional,p.106.7KELSEN,Hans.TeoriageraldodireitoedoEstado,p.365.8 GUETZPEVITCH, B. Mirkine. As novas tendncias do direito constitucional. So Paulo: Editora

    Nacional,1933,p.43.ApudMORAES,Alexandrede.Direitoconstitucional.22.ed.SoPaulo:Atlas,2008,p.2.

    9CANOTILHO,J.J.Gomes;MOREIRA,Vital.FundamentosdaConstituio.Coimbra:CoimbraEditora,