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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA
COGNITIVO COMPORTAMENTAL
MIRELLE LAURET MENDES CARIM
CRENÇAS DISFUNCIONAIS DOS
ADOLESCENTES EM RELAÇÃO
AO CONSUMO DE MACONHA
São Paulo
2013
MIRELLE LAURET MENDES CARIM
CRENÇAS DISFUNCIONAIS DOS
ADOLESCENTES EM RELAÇÃO
AO CONSUMO DE MACONHA
Monografia apresentada ao Centro de Estudos em
Terapia Cognitivo Comportamental (CETCC) –
como requisito à conclusão do Curso da
Especialização em Terapia Cognitivo
Comportamental.
Orientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins
Coorientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon
São Paulo
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a minha família, que percorreram junto comigo este
longo caminho; às minhas colegas – amigas, Helena, Sílvia e Pilar, que estiveram lado a lado
nesses 2 anos de curso, possibilitando não somente o aprendizado da TCC, como também o
estreitamento dos laços de amizade.
RESUMO
A maconha é a substância ilícita mais consumida mundialmente. No Brasil, a situação
não é diferente, atingindo de maneira significativa a população adolescente. É considerado um
dos mais prevalentes problemas de saúde mental; 4% dos jovens já experimentou maconha
alguma vez na vida. A adolescência em si é um período de maior vulnerabilidade, em que o
jovem luta pela sua autonomia e está formando a sua personalidade. Esses fatores contribuem
para que ele se coloque em situações de risco, aumentando a probabilidade da experimentação
de drogas. À medida que o adolescente entra em contato com as substancias psicoativas,
crenças relacionadas ao uso podem surgir, desenvolvendo-se o que é comumente denominado
de “crenças de expectativas de uso”. Fatores que facilitam o consumo pelos adolescentes
consistem na relação entre as emoções e o sofrimento psíquico dos jovens (baixa auto-estima,
ansiedade, depressão e culpa). O objetivo deste trabalho foi investigar quais são as crenças
disfuncionais dos adolescentes (de 12 a 18 anos) frente ao consumo de maconha. A
metodologia utilizada consiste na busca de artigos publicados nas bases de dados PubMed,
Bireme, MEDLINE, SciELO, tese de mestrado e doutorado, livros especializados em
dependência química, terapia cognitivo comportamental e adolescência. De acordo com os
resultados encontrados no presente estudo, 6 autores remetem-se às expectativas de uso dos
adolescentes frente ao uso de maconha. Porém, 3 autores enfatizam somente a dimensão
positivo-negativo do consumo (Aarons et al 1987 apud Pedroso 2006; Stein et al 2003;
Jungerman; Zanelatto, 2007), enquanto que os outros 3 enfantizam as crenças em si dos
adolescentes (Alfonso; Dunn, 2007; Hawnkins, 2007; Ashton, 2001). Desta forma, conhecer
as expectativas que os adolescentes têm frente ao consumo de maconha torna-se importante
para que seja trabalhado a nível de reestruturação cognitiva e para que programas de
prevenção sejam desenvolvidos.
Palavras-chave: adolescente, maconha, expectativa de resultado.
ABSTRACT
Marijuana is the most widely consumed illicit substance globally. In Brazil, the
situation is no different, affecting significantly the adolescent population. It is considered one
of the most prevalent mental health problems; 4 % of youth have tried marijuana at least once
in life. Adolescence itself is a period of increased vulnerability, in which the young struggle
for autonomy and is forming its personality. These factors contribute to it to put at risk,
increasing the likelihood of drug experimentation. As the teenager comes into contact with
psychoactive substances, beliefs may arise related to using, developing what is commonly
called "beliefs expectations of use". Factors that facilitate consumption by adolescents consist
of the relationship between emotions and psychological distress of young (low self -esteem,
anxiety, depression and guilt). The objective of this study was to investigate what are the
dysfunctional beliefs of adolescents (12-18 years) against the use of marijuana. The
methodology consists of the search of articles published in PubMed, Bireme, MEDLINE,
SciELO, master's and doctoral thesis, specialized books on chemical dependence, cognitive
behavioral therapy and adolescent data. According to the results found in this study, 6 authors
refer to the expectations of adolescents use against marijuana use. However, three authors
emphasize only the positive-negative dimension of consumption (Aarons et al 1987 cited
Pedroso 2006; Stein et al 2003; Jungerman; Zanelatto, 2007), while the other 3 emphasize
teenagers beliefs themselves (Alfonso; Dunn, 2007; Hawnkins, 2007; Ashton, 2001).
Therefore, knowing the expectations that adolescents have against marijuana use becomes
important to be working at the level of cognitive restructuring and that prevention programs
are developed.
Keywords: teen, marijuana, expected outcome.
"só se abandona uma dependência por uma nova paixão"
Griffith Edwards
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Uso de Maconha no Brasil ...................................................................................... 13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Comparação dos resultados encontrados em 6 estudos .......................................... 24
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9
2 HISTÓRIA ......................................................................................................................... 11
2.1 A Planta ........................................................................................................................ 11
3 EPIDEMIOLOGIA ........................................................................................................... 13
4 ADOLESCÊNCIA ............................................................................................................. 14
5 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E CLASSIFICAÇÃO ................................................. 15
5.1 O Abuso de Substâncias ............................................................................................... 15
5.2 A Dependência Química ............................................................................................... 15
5.3 Efeitos ........................................................................................................................... 16
6 EXPECTATIVAS DE RESULTADO E A RELAÇÃO COM O CONSUMO DE
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS .......................................................................................... 17
6.1 Influências na formação das Expectativas de Uso........................................................ 18
7 A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL (TCC) ........................................ 19
8 OBJETIVO ......................................................................................................................... 20
9 METODOLOGIA .............................................................................................................. 21
10 RESULTADOS .................................................................................................................. 22
11 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 25
12 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 30
ANEXOS ................................................................................................................................. 33
9
1 INTRODUÇÃO
O consumo de drogas é uma prática bastante antiga na história da humanidade,
levando a sérias consequências em vários aspectos da vida do indivíduo (MARQUES et al,
2000).
De acordo com a literatura, dentre as drogas ilícitas existentes, a maconha é a
substância mais consumida mundialmente. No Brasil, este número vem crescendo
consideravelmente, principalmente entre os adolescentes. O II Levantamento Nacional de
Álcool e Drogas aponta quea população brasileira não está entre as que mais utiliza maconha
no mundo. Porém, “a percentagem encontrada de dependentes da substanciaentre os usuários
é a mesma encontrada em países com maior prevalência de uso” (LENAD 2012).
De acordo com os dados obtidos no II LENAD (2012), 7% da população brasileira já
experimentou maconha em algum momento da vida e 3% da população adulta usa a
substancia com frequência (uso no último ano). Com relação ao consumo na adolescência, 4%
da população já usou maconha pelo menos uma vez na vida. Os resultados mostram que a
taxa de consumo da substancia no último ano foi idêntica entre adultos e adolescentes. Mais
da metade dos usuários consomem maconha diariamente (entre adultos e adolescentes).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a droga como qualquer substância
não produzida pelo organismo, acarretando alterações no Sistema Nervoso Central (SNC). As
drogas modificam o humor do indivíduo,bem como sua percepção, estado emocional,
comportamento eaprendizagem.
Segundo Williams et al (2007), a adolescência é vista como uma fase de maior
vulnerabilidade, por diversos fatores, contribuindo para que o jovem se coloque em situações
de risco e aumente a probabilidade da experimentação de drogas. Com isso, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, o consumo de substâncias psicoativas
(SPA) por adolescentes tem sido um dos mais prevalentes problemas de saúde mental.
De acordo com Moraes (2013), o consumo de drogas nesta fase da vida pode trazer
graves consequências físicas e/ou psíquicas, como alterações comportamentais, baixo
rendimento escolar, maior risco de contrair DST’s e gravidez não planejada; infrações,
delitos, déficits cognitivos, problemas físicos e envolvimento em acidentes.
A pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) revela que
10
01 em cada 10 adolescentes que consome maconha é dependente químico e maisde 60% dos
usuários experimentou a substância antes de 18 anos de idade (LENAD, 2012).
Cada indivíduo enxerga a si, aos outros e ao mundo de uma determinada maneira. Ao
longo da vida, ele desenvolve crenças funcionais e disfuncionais. À medida que ele entra em
contato com as substancias psicoativas, crenças relacionadas ao uso podem surgir,
desenvolvendo-se o que é comumente denominado de “crenças de expectativas de uso”. Desta
forma, as crenças que o indivíduo tem a respeito de si relacionam-se diretamente com as
crenças relacionadas ao uso de drogas. A Terapia Cognitivo Comportamental trabalha no
sentido de identificar e modificar tais crenças a partir da reestruturação cognitiva, objetivando
a mudança de comportamento (ZANELATTO; LARANJEIRA 2013).
De acordo com o Addiction Research Foundation Group (1991), fatores que facilitam
o consumo de drogas pelos adolescentes consistem na relação entre as emoções e o
sofrimento psíquico dos jovens, dentre eles, a baixa auto-estima, a ansiedade, a depressão e a
culpa.
O consumo de substancias psicoativas leva ao rebaixamento da crítica do indivíduo.
Segundo Moraes (2013), o uso da maconha faz com que o indivíduo sinta uma diminuição do
perigo relacionado ao problema a ser enfrentado. O ato de fumar muitas vezescomeça a ser
associado a várias situações pelas quais o indivíduo passa, por exemplo: se ele está nervoso
ou tenso, fuma para relaxar, se sente depressivo fuma, se tem um problema fuma antes de
pensar em tentar resolvê-lo e assim por diante.
Dentro desse panorama, faz-se necessário estudos que possam investigar as
expectativas de resultado do uso de maconhaentre os adolescentes. Ou seja, o que os
adolescentes esperam ter como efeito do uso de maconha. A partir deste entendimento,espera-
se que o profissional de saúde compreenda melhor o funcionamento do adolescente usuário
desta substancia, possibilitando o desenvolvimento de medidas mais eficazes no que diz
respeito à programas de prevenção e/ou tratamento.
O estudo buscou realizar uma revisão bibliográfica acerca das expectativas de
resultado do uso de maconha entre os adolescentes e de que maneira as crenças interferem na
experimentação da substância e padrão de consumo.
11
2 HISTÓRIA
A maconha está entre as plantas mais antigas cultivadas pelo homem para obtenção
das fibras. O inicio deste cultivo se deu na China, há 6 mil anos (DIHEL et al 2011). A
substância já foi utilizada para diversas funções, dentre elas: alimentação de animais, fazer
corda, produzir óleo para pintar e como alucinógeno (JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007).
A maconha percorreu vários países com determinadas funções: chegou à Europa no
século XVIII, expandindo-se para os Estados Unidos (EUA) em 1920 devido á guerra, onde
soldados trouxeram a substância da América Central e do Caribe. Em 1937 a substância
tornou-se proibida. Com o objetivo de lidar com o clima repressivo e pessimista do pós
guerra, as drogas (principalmente maconha e alucinógenos) tornaram-se uma alternativa para
sentir paz e liberdade. O uso da maconha foi expandindo-se pela população como forma de
contestação, até nascer o movimento Hippie. Após, a maconha foi sendo difundida por todo o
Ocidente (no final da década de 1970) (JUNGERMA; ZANELATTO, 2007).
Foi na América do Sul e na África que a maconha começou a ser produzida e
comercializada, iniciando-se o processo do narcotráfico. A Holanda foi o primeiro país que
optou pela comercialização e consumo da maconha e de seus derivados. No século XX o
interesse pela substância passou a ser pela sua função medicinal (JUNGERMAN;
ZANELATTO 2007).
2.1 A Planta
A planta surgia na Ásia Central e foi cultivada por um longo período na Ásia, Europa
e China. Hoje é cultivada especialmente para a produção de Haxixe na Índia e no norte da
África.
Cannabis sativa: este é o nome da planta que dá origem à maconha. Dentre seus
princípios ativos está o delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC), considerado o mais importante.
Possui mais de 400 outros elementos, como por exemplo o alcatrão, uma das substâncias mais
nocivas da planta. A maconha disponível possui uma concentração de THC menor que 8%.
As concentrações variam de acordo com a maneira como a planta é cultivada.
12
A cannabis sativa pode ser consumida de 3 formas dependendo da parte da planta que
for utilizada: maconha (a concentração de THC varia de 1 a 3%); haxixe (concentração varia
de 10 a 15%) e o óleo de haxixe (concentração de 20 a 60%)
O fumo é a forma mais comum de consumo da maconha. Dentre as outras opções
estão: mistura-la a chás e alimentos, fumar cigarros de maconha misturados com tabaco,
cocaína ou crack (conhecido como mesclado) (JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007).
13
3 EPIDEMIOLOGIA
De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD, 2012), 7%
da população brasileira já experimentou maconha na vida, sendo que 3% da população adulta
consumiu de maneira frequente no último ano. Além disso, o estudo também mostra que 4%
dos adolescentes já usou maconha pelo menos uma vez na vida e, no último ano, 3% desta
população consumiu a substância (taxa equivalente a dos adultos). Diariamente, 1,5 milhões
de pessoas, dentre adultos e adolescentes, utilizam maconha.
Os dados do II LENAD apontam que o índice de consumo de maconha no Brasil é de
3%, enquanto que o maior índice é encontrado nos Estados Unidos (10%), Europa (5%) e
Ásia (2%). Logo, o estudo demonstra que a quantidade de usuários no Brasil é relativamente
pequena. Porém, a porcentagem de indivíduos dependentes de maconha é equivalente à
encontrada em países com maior prevalência de uso. 1 em cada 10 adolescentes é dependente
da substância.
Figura 1 – Uso de Maconha no Brasil
Fonte: UNIFESP
14
4 ADOLESCÊNCIA
A idade de experimentação é um indicador importante pois está associada com o
desenvolvimento de dependência bem como com o abuso de outras substâncias. Mais de 60%
dos usuários de maconha experimentaram a droga pela primeira vez antes dos 18 anos de
idade (LENAD, 2012).
Sabe-se que é nessa etapa que o individuo está formando sua personalidade, sua
imagem e papel social sendo influenciado não somente pelas orientações dos pais, mas
também pela relação que constrói com o grupo social no qual está inserido (principalmente
grupo de amigos). É também neste período em que o individuo tem a necessidade de sentir-se
autônomo e “especial”, se colocando em situações de risco, não avaliando as consequências
de seus atos.
A adolescência é vista como uma fase especial na vida do indivíduo. É nesta fase que
os jovens desenvolvem crenças a respeito de si, dos outros e do mundo, crenças estas que
podem ser funcionais ou disfuncionais e perduram por toda a vida - se não forem trabalhadas.
Adicionando-se essas crenças aos fatores de vulnerabilidade, temos como consequência o
desenvolvimento das expectativas de resultado frente ao uso da substância.
Na atualidade, muitos são os fatores que contribuem para o desenvolvimento das
expectativas dos jovens frente aos efeitos da maconha e para a decisão pelo consumo: fácil
acesso, curiosidade, condição para pertencer a um grupo – levando em conta que os jovens
encontram sua identidade através do processo de interação social -, automedicação, estratégia
de enfrentamento, “encontrando” na maconha uma maneira (rápida e fácil) de lidar com as
dificuldades/problemas de sua vida.
15
5 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E CLASSIFICAÇÃO
5.1 O Abuso de Substâncias
É definido como um padrão mal-adaptativo do uso de determinada substância, em
função da apresentação de consequências prejudiciais decorrentes do uso repetido da
substância. Para o diagnóstico, o indivíduo deve apresentar um ou mais dos seguintes
critérios, havendo recorrência por um período de 12 meses:
Dificuldades no cumprimento de obrigações pessoais ou profissionais
Uso em situações que geram possibilidade de perigo físico
Ocorrência de problemas legais relacionados à substância
Uso contínuo da substância, mesmo vivenciando problemas sociais ou
interpessoais causados ou exacerbados pelo uso da substância (DSM-IV, 1995)
5.2 A Dependência Química
De acordo com o Manual diagnostico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV-
TR) da American Psychiatric Association, a dependência química é um padrão mal-adaptativo
do uso de substâncias, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo,
caracterizado pela presença de três ou mais dos seguintes critérios a seguir por um período de
12 meses:
Tolerância (necessidade de quantidades maiores da substância para obtenção do
mesmo efeito esperado);
Abstinência (síndrome com sinais e sintomas típicos de cada substância, aliviados
com o consumo de tal substância);
Consumo da substância por um período mais prolongado e em maiores
quantidades;
Desejo persistente do uso da substância, com incapacidade de controlar esse
desejo do uso;
16
Maior tempo gasto em atividades para se conseguir a substância;
Redução do círculo social em função do uso da substância;
Persistência do uso da substância apesar dos seus prejuízos clínicos.
5.3 Efeitos
Dentre os efeitos causados pela maconha no organismo estão as rápidas mudanças no
humor, memória, percepção de tempo além de influenciar outras funções cerebrais. Dentre os
efeitos mais desejados, temos o relaxamento, a euforia e sensação de bem estar (WASHTON;
ZWEBWM, 2009 – em Silva)
De acordo com Fligie et al (2009), a maconha também apresenta efeitos
desagradáveis. Os mais frequentes são ansiedade, disforia, pânico e paranoia. Se o consumo
ocorrer em altas doses, pode haver alucinações e delírios.
Os efeitos do uso da maconha podem ser divididos entre agudos, que ocorrem logo
após o uso e crônicos, que ocorrem após o uso prolongado da substância.Os principais efeitos
causados pelo uso agudo de maconha são: relaxamento, euforia, aumento do prazer sexual,
pupilas dilatadas/conjuntivas vermelhas, boca seca, aumento do apetite, alívio da dor, dores
de cabeça, tontura, náusea reduzida, maior risco de acidentes, cansaço. Como efeitos
psíquicos temos: ansiedade, ataques de pânico, maior risco para quadros psicóticos, mudanças
de nível de consciência. Efeitos neurológicos: atenção e memória alteradas, lentidão,
coordenação motora alterada. Respiratórios: rinite/faringite, tosse, asma. Cardiovasculares:
Palpitação, agitação, aumento da pressão arterial.
Os principais efeitos do uso crónico de maconha são: dependência, fadiga crónica e
letargia, dor de cabeça, irritabilidade, dor de garganta crónica, problemas respiratórios,
diminuição da coordenação motora, alterações na concentração, atenção e memória,
depressão, ansiedade, rápidas mudanças de humor, isolamento social, afastamento das
atividades corriqueiras, síndrome amotivacional (JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007).
A Síndrome Amotivacional é considerada o efeito negativo mais evidente dentro dos
efeitos do uso crônico da maconha, que consiste na “perda de vontade, energia e motivação
para realizar as atividades rotineiras” (JUNGERMAN; ZANELATTO, p. 16, 2007).
17
6 EXPECTATIVAS DE RESULTADO E A RELAÇÃO COM O
CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
O consumo de maconha continua sendo um problema entre os jovens. Alfonso e Dunn
(2007) apontam que as expectativas de resultado influenciam diretamente no comportamento
de uso/abuso de drogas, em crianças e adultos. Encontra-se na literatura um volume maior de
artigos relacionados à expectativa de uso de álcool, em detrimento às expectativas
relacionadas ao consumo de maconha.
Segundo Brown SA (1993 apud PEDROSO, 2006), o termo “Expectativas de
Resultado” diz respeito às cognições de aprendizado que criam uma rede de memória que
pode ser ativada por situações relacionadas à substancia. Assim que tais cognições são
ativadas, é desencadeado o comportamento aditivo. Desta forma, o indivíduo decide por fazer
uso da substância quando suas crenças antecipam a recompensa pelo uso da droga (crenças
antecipatórias).
Tolman et al (1932) propõem queexperiências passadas são armazenadas como
“representações mentais” na memória. Tais representações mentais, ou "expectativas",
consistem na relação entre o comportamento e suas consequências que são moldadas
continuamente através da experiência com estímulos semelhantes aprendidos.
As crenças que se relacionam aos efeitos de determinada substância são influenciadas
por fatores como cultura, personalidade e cognição. As experiências vividas e observadas pelo
sujeito podem fazer com que ele acredite que o uso de uma determinada substância
proporcione-lhe resultados positivos ou negativos. A partir disso, um dependente químico
pode ter as suas crenças antecipatórias ativadas independente de os efeitos reais da SPA sejam
diferentes dos efeitos esperados (PEDROSO, 2006).
O estudo publicado por Zanelato e Laranjeira (2013) discute as expectativas que os
usuários de drogas apresentam acerca da substância consumida. Os achados mostram que
existem 2 tipos de crenças relacionadas ao uso de substância:
1) Crenças facilitadoras (ou permissivas);
2) Crenças de expectativa positiva (ou antecipatória). Estudos mostram que há
relação entre as expectativas de resultado e o comportamento aditivo.
18
6.1 Influências na formação das Expectativas de Uso
De acordo com o modelo biopsicossocial, existe uma gama de variáveis que podem
influenciar na formação das expectativas de resultado, bem como explicar algumas das
diferenças observadas nas expectativas de resultado do consumo de maconha em adolescentes
(ALFONSO; DUNN, 2007).
Estudos sobre a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos no sistema de
recompensa e na habilidade de tomada de decisão relacionaram a imaturidade em regiões
específicas do cérebro (por exemplo: córtex pré-frontal) ao comportamento impulsivo e de
alto risco (OVERMAN et al, 2004;. LANÇA, 2002; TARTER, 2002 apud ALFONSO;
DUNN, 2007).
Frente a estes dados, os adolescentes que estiverem passando por alterações do
desenvolvimento neurológico podem não possuir as habilidades necessárias para utilizar
adequadamente o controle de impulsos e estratégias de tomada de decisão que impedem o uso
de drogas, tal como a maconha. Tais deficiências também podem explicar a ênfase dada pelos
usuários ao reforço imediato do consumo de maconha, bem como a falta de importância dada
às consequências negativas a longo prazo (ALFONSO; DUNN, 2007).
De acordo com Ashton (2011) a experiência com o uso de maconha serve para moldar
as expectativas referentes ao resultado do consumo da substância, o que pode,
compreensivelmente, ampliar a diferença entre as crenças de usuários e não-usuários.
Por outro lado, as expectativas de resultado dos não-usuários de maconha podem
relacionar-secom a obtenção de informações negativas através de programas tradicionais de
educação contra drogas (ex.: os pais, anúncios de serviço público). Outra possível explicação
é a de que os ambientes dos não-usuários são menos propícios para a aprendizagem social que
ocorre quando os indivíduos observam outros sob a influência de uma substancia, como a
maconha, e por isso não tem a aprendizagem vicariante dos efeitos resultantes do consumo da
substancia (ALFONSO; DUNN, 2007).
Além disso, é possível que tentativas de convencer adolescentes que resultados
negativos afligem-os/afetam-os a longo prazo, como resultado do consumo, pode ser inútil
devido a enorme ênfase no ganho a curto prazo, que é uma característica fundamental de
muitos indivíduos à medida que progridem na adolescência, e talvez até mesmo na idade
adulta (ALFONSO; DUNN, 2007).
19
7 A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL (TCC)
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) desenvolvida por Aaron Beck parte do
princípio de que uma mesma situação pode ser interpretada/avaliada de diversas maneiras por
diferentes pessoas. Logo, o que importa não é a situação em si, mas a interpretação que se faz
da situação.
Baseado neste entendimento, Beck postula que as cognições (pensamentos, imagens
mentais) influenciam diretamente as emoções e os comportamentos do indivíduo. Uma
determinada situação pode desencadear emoções e o comportamento de consumir uma
substância psicoativa (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013).
Segundo Williams et al (2007), a TCC é cientificamente a abordagem mais eficaz no
tratamento da dependência química. Faz-se necessário identificar os pensamentos, emoções e
crenças relacionadas ao consumo de substancias psicoativas. No momento do uso, o indivíduo
acaba por levar em consideração somente os efeitos positivos da substancia e as expectativas
de uso podem aparecer como imagens positivas ou sensações físicas. As expectativas de uso
da substancia se relaciona com as crenças que o indivíduo apresenta sobre si.
20
8 OBJETIVO
Investigar quais são as crenças disfuncionais que permeiam o consumo de maconha
dos adolescentes de 12 a 18 anos.
21
9 METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão de artigos publicados nas bases de dados PubMed, Bireme,
MEDLINE, SciELO, tese de mestrado e doutorado, livros especializados em dependência
química, terapia cognitivo comportamental e adolescência, com as seguintes palavras-chave:
expectativas de resultado, usuários de maconha, adolescentes, de 1980 a 2013.
Além dos artigos que mencionam propriamente as expectativas de resultado de uso de
maconha (um pequeno número), foram incluídos neste trabalho estudos que somente citam as
expectativas de resultado, não diferenciando as crenças de usuários e não usuários, assim
como pesquisas que levam em consideração não somente as crenças dos adolescentes, mas
também as dos adultos.
Foram inseridos também neste trabalho 2 artigos que mencionam as expectativas de
usuários de álcool.
22
10 RESULTADOS
Na busca às bases de dados, 147 estudos foram encontrados, mas poucos referem-se
ao tema proposto por este trabalho. Após seleção, foram incluídos no trabalho 6 artigos.
Apesar da escassa literatura sobre as crenças disfuncionais dos adolescentes em relação à
maconha, alguns autores realizaram pesquisas relevantes, que são expostas abaixo. Os dados
encontrados mostram a relevância no desenvolvimento de pesquisas sobre este assunto.
O estudo realizado por Alfonso e Dunn (2007) foi o primeiro a obter informações
referentes às expectativas do uso de maconha de crianças e adolescentes, com o objetivo de
desenvolver uma base sólida para a realização de programas de prevenção de drogas. De
acordo com a análise dos dados deste estudo, há discrepâncias entre as expectativas de uso de
maconha entre os usuários e não-usuários. Os usuários levam em consideração principalmente
se será ou não agradável consumir a substância (dimensão positivo-negativo), enquanto que
os não-usuários focam-se nos danos físicos e cognitivos (dimensões psicológica e fisiológica).
Desta forma, os indivíduos que apresentam expectativas de uso positivas em relação
ao consumo da maconha acreditam que ela os faça sentir-se relaxado, feliz e engraçado. Tais
indivíduos são mais propensos a terem utilizado a substância. Já aqueles indivíduos que nunca
experimentaram a maconha tendem a enfatizar os efeitos fisiológicos negativos, como "sentir-
se viciado", "doente" e “lentificado” (ALFONSO; DUNN, 2007).
Os usuários de maconha dão maior ênfase ao reforço imediato (por ex., descontração e
relaxamento) do que às possíveis consequências negativas a longo prazo (por exemplo,
“viciados”, “doentes”) (ALFONSO; DUNN, 2007). Já o estudo realizado por Dunn e
Goldman, (1996); Miller, Smith, e Goldman (1990), procurou investigar de que forma as
expectativas de uso de maconha influenciam no consumo de adultos. Os resultados mostram
que, semelhante às expectativas de uso do álcool, "os padrões de organização e ativação de
expectativas de maconha covariaram com os padrões de uso de maconha" (DUNN e
GOLDMAN, 1996; MILLER, SMITH, e GOLDMAN, 1990).
De acordo com os experimentos realizados no estudo de Alfonso e Dunn (2007), as
expectativas de uso mais comuns entre os não-usuários de maconha foram
"alto/superior/forte", "fome", "doentio" e "lento"; enquanto que, para os usuários da
substâncias, as crenças mais comuns foram "fome", "alto", "relaxado" e "engraçado". O
estudo realizado por Aarons et al (1987 apud PEDROSO, 2006), por sua vez, mostra que os
23
indivíduos que possuem baixas expectativas quanto aos prejuízos cognitivos e
comportamentais causados pela maconha apresentam maiores chances de fazer uso da mesma.
Stein et al (2003) realizaram um outro estudo com adolescentes usuários de maconha
que estavam em tratamento, o qual mostrou que indivíduos dessa faixa etária esperam que a
maconha tenha impacto mais positivo do que negativo em suas vidas e não mostram-se
confiantes no que diz respeito à habilidade de resistir ao seu consumo. Em um âmbito geral,
Dunn e Goldman, 1996; Miller, Smith, e Goldman (1990) identificaram que as expectativas
de uso de álcool existem antes que o indivíduo tenha uma experiência propriamente dita com
a substância. Ou seja, as expectativas de uso de maconha independem de o indivíduo ter feito
uso ou não de bebidas alcoólicas na vida.
Esses resultados são considerados consistentes - com relação aos estudos que
encontraram relação entre expectativas positivas sobre inicio e manutenção do consumo de
álcool -, em detrimento às expectativas negativas, que têm relacionando-se com a evitação ou
atraso na experimentação (JONES et al, 2001; LEIGH, 1999 apud ALFONSO; DUNN,
2007). Em uma análise realizada por Hawnkins (2007), os resultados demonstram as crenças
mais comumente acionadas, relacionadas ao consumo de maconha: expectativa de
relaxamento e diminuição da tensão; abertura da consciência e realceda percepção e da
cognição; expectativas de facilitação social e sexual.
Os adolescentes podem associar mais facilmente o álcool a efeitos fisiológicos
específicos devido ao seu impacto farmacológico sobre o corpo, de acordo com Ashton
(2001). Os jovens identificaram que os efeitos da maconha podem variar de "ansiolíticos,
sedativos, (e) analgésicos, (a) psicodélico", considerando o "prazer"como a principal razão
para o consumo da substância. A partir da identificação das expectativas que os usuários de
maconha apresentam acerca do consumo da substância, será possível compreender as
expectativas relacionadas ao consumo de outras substancias. Isso facilitará o desenvolvimento
de estratégias eficazes para a redução do consumo de maconha, oferecendo informações sobre
os processos cognitivos que podem contribuir para o uso precoce da droga (ALFONSO;
DUNN, 2007).
A tabela a seguir ilustra as expectativas de uso ou não encontradas em seis dos artigos
avaliados (Tabela 1).
24
Tabela 1 – Comparação dos resultados encontrados em 6 estudos
* Indivíduos que possuem baixas expectativas quanto aos prejuízos cognitivos e comportamentais causados pela
maconha apresentam maiores chances de fazer uso.
De acordo com os resultados encontrados no presente estudo, 6 autores remetem-se às
expectativas de uso dos adolescentes frente ao uso de maconha. Porém, 3 autores enfatizam
somente a dimensão positivo-negativo do consumo (Aarons et al 1987 apud Pedroso 2006;
Stein et al 2003; Jungerman; Zanelatto, 2007), enquanto que os outros 3 enfantizam as
crenças em si dos adolescentes (Alfonso; Dunn, 2007; Hawnkins, 2007; Ashton, 2001).
AUTOR
ANO
PUBLICAÇÃO
EXPECTATIVAS
USUÁRIOS NÃO USUÁRIOS
Aarons et
al*
1987 apud
Pedroso 2006
Enfatizam efeitos positivos;
Destacam o reforço imediato
(efeito THC)
Enfatizam efeitos negativos;
enfatizam as consequencias
negativas a longo prazo.
Stein et al 2003 Impacto positivo Impacto negativo
Jungerman
& Zanelatto
2007 Expectativas de efeito mais
positivas
Expectativas de consequencias
mais negativas
Alfonso &
Dunn
2007 “fome”, “alto”, sentir-se
“feliz”,
engraçado”descontraído
“alto”, “fome”, “doente”,
“viciado”, “lentificado”
Hawnkins 2007 “expectativa de relaxamento e diminuição da tensão; abertura
da conscienciência e realçar a percepção e cognição; facilitação
social e sexual”
Ashton 2001 “prazer”; Efeito “ansiolítico, sedativo, analgésico e
psicodélico”
25
11 DISCUSSÃO
Alguns autores evidenciam que as expectativas de resultado do uso de maconha
influenciam na experimentação e no padrão de consumo da substância, tais como Alfonso &
Dunn (2007), Aarons et al (1987 apud PEDROSO 2006). Quando nos referimos ao álcool, os
estudos de Dunn e Goldman (1996); Miller, Smith e Goldman (1990) vão contra essa idéia,
encontrando que as expectativas de uso de álcool existem antes que o indivíduo tenha alguma
experiência propriamente dita com a substância.
Os autores Alfonso & Dunn (2007) identificaram as expectativas mais comuns entre
os usuários de maconha como: "fome", "alto", "relaxado", sentir-se “feliz” e "engraçado", e
entre os não-usuários: "alto", "fome", "doente", “viciado” e "lentificado".
Alguns artigos mostram que há diferenças nas expectativas de resultado do uso de
maconha entre usuários e não usuários da substância. Os usuários enfatizam os efeitos
positivos dela, enquanto que os não-usuários enfatizam os negativos. Essa ideia é
compartilhada por Afonso e Dunn (2007), Aarons et al (1987 apud PEDROSO, 2006) e
também por Stein et al (2003), havendo uma tendência para os usuários destacarem o reforço
imediato (efeitos da substância) e os não-usuários as consequências negativas a longo prazo.
Da mesma forma, Stein et al (2003) demonstrou que os adolescentes acreditam que a
maconha tenha impacto mais positivo do que negativo em suas vidas.
Já os achados de Hawnkins (2007) e Ashton (2001) não se referem às diferenças nas
expectativas de usuários e não-usuários de maconha. Segundo a pesquisa do primeiro autor
mencionado, as crenças mais comumente relacionadas ao consumo da maconha são:
expectativa de relaxamento e diminuição da tensão; abertura da consciência e realçar a
percepção e cognição; expectativas de facilitação social e sexual -da mesma forma que no
estudo de Ashton (2001),em que os jovens buscam na maconha o “prazer” e essa sensação é a
razão principal para o consumo. Além disso, as expectativas dos jovens em relação aos efeitos
da maconha variam de “ansiolíticos, sedativos, (e) analgésicos, (a) psicodélico".
A dependência química tem se tornado uma doença prevalente no mundo e de acordo
com as pesquisas realizadas até então, é bastante comum entre os adolescentes (10% entre os
usuários), sendo apontada como a “porta de entrada” para o consumo de outras substâncias.
Além do consumo, tem ocorrido o aumento do tráfego de drogas em vários países, tendo
26
como consequência mais de 50% dos casos de delinquência juvenil. Desta forma, o público
adolescente torna-se vulnerável ao consumo de drogas ilícitas (ONU, 2004).
Um dado importante: jovens que fazem uso de drogas lícitas (cigarro e álcool)
apresentam maiores chances de experimentar as drogas ilícitas. Além disso, esse público
possui expectativas de resultado mais positivas com relação ao consumo dessas substâncias
(LAESPADA T et al, 2004). É importante considerar que a adolescência é, por si só, uma fase
conflituosa, em que o jovem está mais vulnerável devido às transformações biológicas, físicas
e psicológicas. Nesse período de maior vulnerabilidade, ao entrar em contato com as drogas, o
adolescente coloca-se em muitas situações de risco (MARQUES, 2000). Algo bastante
recorrente neste período da vida é a pressão do grupo social pelo consumo da droga. Existem
fortes indícios de que as expectativas de resultado do uso da maconha interfiram na
experimentação e manutenção do consumo.
O uso de drogas é um fenômenomultidimensional, que pode acontecer durante a
adolescência,quando também podem surgir outros transtornos psicológicos,
comportamentais e sociais. Entre as psicopatologias que maisincidem na puberdade
(depressão maior, transtorno de déficit deatenção/hiperatividade e do
comportamento disruptivo) detectam-se sinais e sintomas semelhantes àqueles
também observadoscom o uso dessas substâncias, dificultando o diagnóstico
diferencial (BUKSTEIN et al 1989 e KAMINER et al 1992 apud MARQUES
2000).
A identificação precoce das crenças disfuncionais dos adolescentes referentes ao
consumo de maconha mostra-se importante, principalmente, devido ao caráter preventivo para
a experimentação, uso abusivo ou dependência química e desenvolvimento de transtornos.
“Entre os fatores que desencadeiam o uso de drogas pelos adolescentes, os mais
importantes são as emoções e os sentimentos associados a intenso sofrimento psíquico, como
depressão, culpa, ansiedade exagerada e baixa auto-estima” (ADDICTION RESEARCH
FOUNDATION GROUP, 1991). O consumo precoce dessa substância psicoativa está
relacionado à manutenção do uso nos anos subsequentes. Além disso, quanto mais precoce for
o início, mais prejuízos o jovem apresentará (COFFEY, 2000) e maiores são as chances de
dependência e consumo abusivo de outras substâncias. Segundo LENAD (2012), mais de
60% dos usuários de maconha experimentaram antes dos 18 anos de idade.
Evidencias mostram que o uso prolongado da maconha pode acarretar em alteração
das funções cognitivas, prejuízo nas vias respiratórias, risco de acidentes, síndrome
27
amotivacional e a indução de quadros psiquiátricos como psicoses, esquizofrenia, Transtornos
de Ansiedade e Transtorno Afetivo Bipolar (DIEHL, CORDEIRO, LARANJEIRA 2011).
Além de outras vulnerabilidades (como já discutidas), a adolescência é um período de
risco para a ocorrência de um primeiro surto psicótico e para o surgimento de um quadro de
esquizofrenia. Quadros de esquizofrenia também podem ser desenvolvidos devido ao
consumo de substâncias psicoativas, como a maconha.
Existe uma relação entre o consumo dessa droga e o maior o risco de incidência de
esquizofrenia em indivíduos com ou sem predisposição. Essa associação tem se mostrado
maior em indivíduos com histórico de consumo antes dos 15 anos de idade. Indivíduos com
maior vulnerabilidade para o desenvolvimento da doença acabam antecipando ou precipitando
seu surgimento com o uso de maconha. (JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007 apud
CASTLE, MURRAY, 2004).
Há limitações no desenvolvimento deste trabalho no que diz respeito à metodologia
empregada. Devido à escassez de material relacionado ao tema proposto na população
adolescente, foram citados artigos que levaram em consideração as expectativas de resultado
de uso dos adultos com relação ao consumo de maconha e álcool.
28
12 CONCLUSÃO
Os estudos mostram que o uso de drogas tem afetado significativamente o público
adolescente e que a maconha é a substância mais consumida mundialmente, sendo ainda
considerada um grave problema de saúde mental. Devido a comprovações sobre os efeitos
adversos do uso de maconha, o interesse pelo estudo da substância vem aumentando, levando
profissionais da área de saúde a discutir e questionar sobre as consequência negativas do
consumo.
Neste ínterim, a presente pesquisa procurou investigar as crenças disfuncionais dos
adolescentes com relação à maconha, acreditando haver uma relação entre elas e o aumento
do risco para experimentação e desenvolvimento de uso abusivo ou dependência entre os
adolescentes. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica em que uma escassa literatura
sobre o tema foi encontrada e, a maioria, internacional.
Geralmente, o que motiva os adolescentes a consumirem drogas, no caso, a maconha,
relaciona-se com o efeito causado por ela. Eles comumente acreditam que sentem-se melhor e
mais confiantes em si; que eles serão melhor aceitos pelo grupo; buscam a sensação de prazer
e poder, diminuição de sintomas ansiosos e/ou depressivos; curiosidade ou para continuar
fazendo parte de um grupo. Percebe-se que a maconha é utilizada pelo jovem como uma
estratégia de enfrentamento diante de problemas emocionais e que eles esperam que a
maconha tenha um impacto mais positivo do que negativo em suas vidas.
Na pesquisa realizada, quatro dos autores mencionados demonstraram haver
diferenças entre as expectativas de resultado de usuários e de não usuários de maconha
(Aarons et al 1987 apud Pedroso 2006; Stein et al 2003; Jungerman; Zanelatto, 2007;
Alfonso; Dunn, 2007) enquanto que outros 2 autores trabalham em cima de crenças mais
comumente relacionadas ao consumo de maconha, não diferenciando usuários de não usuários
Hawnkins, 2007; Ashton, 2001).
Identificando-se as expectativas de uso de maconha dos adolescentes, haverá uma
melhor compreensão sobre seu funcionamento e sobre o consumo da substância contribuindo
para o entendimento dos fatores que influenciam e mantém o consumo. Desta forma, espera-
se que os profissionais de saúde tenham maiores condições de desenvolver estratégias
eficazes para modificar tais expectativas e consequente redução do consumo, fortalecendo os
29
fatores protetores e motivando o adolescente para ser seu próprio agente de mudança -
levando mais em consideração as consequências a longo prazo de suas escolhas.
Tendo em vista a experiência adquirida no desenvolvimento do trabalho e visando a
sua complementação, o incentivo e investimento em pesquisas na área se fazem necessários
para melhor instrumentalizar os profissionais de saúde que trabalham com o público em
questão. Além do exposto, são imprescindíveis também para criar condições para o
desenvolvimento de programas de prevenção ao uso de drogas, principalmente a maconha,
que é vista pelos jovens como uma “substância natural” e inofensiva.
30
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33
ANEXOS
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu, Mirelle Lauret Mendes Carim, afirmo que o presente trabalho e suas devidas
partes são de minha autoria e que fui devidamente informada da responsabilidade autoral
sobre seu conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de
Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o título “Crenças
disfuncionais dos adolescentes em relação ao consumo de maconha”, isentando, mediante
o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu
orientador e coorientador de quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à
"Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e
criminais decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia.
São Paulo, 10 de Dezembro de 2013.
_______________________
Assinatura do (a) Aluno (a)