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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Curso de Licenciatura em Ciência Política
Trabalho de Licenciatura
Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de Saúde Prestados nos
Hospitais Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-2016).
Alzira Pinto Camacho
Maputo, Setembro de 2017
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
II Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Autor: Alzira Pinto Camacho
Monografia apresentada ao Departamento de Ciência Política e Administração Pública da
Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, como requisito
para a obtenção do grau de Licenciatura em Ciência Política.
Mesa do Júri
___________________________________
O presidente
___________________________________
O supervisor
____________________________________
Oponente
_______________________________
Maputo, Setembro de 2017
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
I Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais Pinto Luís Mundonela Camacho e Isabel Maria Cossa (em
memória), ao meu tio Eugénio Rafael Cossa e aos meus irmãos Pinto, Mimi, Quitosa, Clarinha e
Lulú.
Amo-vos muito.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
II Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar à Deus, por ter-me iluminado desde os primeiros anos da minha vida
até hoje, e em segundo lugar ao Silvino Mário da Silva Tovela que custeou meus estudos com
tanto sacrifício.
Ao meu supervisor, Dr. Armindo Manhiça, pela orientação, sugestões durante as nossas aulas,
paciência, disponibilidade e apoio moral durante a elaboração deste trabalho. Muito obrigada
professor.
Expresso igualmente os meus profundos agradecimentos aos colegas da Academia, Amândio
Sabela (Administração Pública) Fidel Terenciano (Ciência Política) e Lázaro Nhachengo (Física)
e também ao Edson Cortez (CIP) por terem-se predispostos em ler e apresentar valiosos
comentários no momento da elaboração deste trabalho.
Não posso esquecer-me de agradecer a todos que aceitaram participar no meu inquérito, bem como
em disponibilizar a documentação necessária para a elaboração do trabalho: Dra. Dina (Enfermeira
chefe do Banco de Socorros do HGJM), Dra. Liliana (Chefe do laboratório do HGJM), a Dra.
Emília (Chefe do gabinete do utente do HGJM) e a Técnica Ivanêa (Departamento de estatística
do HGJM).
O meu obrigado alarga-se aos meus familiares, especialmente as minhas tias Alzira, Bélia, Elisa e
Ana Camacho, a minha prima querida Ana Gracinda Camacho, a minha segunda mãe Esperança
António Macia, e por último aquele que tenho como meu pai desde 1997 e como mãe desde 2002,
mesmo residindo longe nunca deixou de prestar-me apoio em todas situações da minha vida,
Eugénio Rafael Cossa. Aos meus colegas da turma de Ciência Política ano de ingresso 2012, em
especial ao meu grupo Lelita Folege, Helena Chambal, Patrícia Jaieia, Alíria Zita e Mónica Relvas,
meninas vocês tornaram-se minha segunda família.
À Mayra minha maior inspiração desde o meu ventre até hoje!
Em fim, a todos que directa ou indirectamente contribuíram na minha caminhada académica.
KHANIMAMBO.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
III Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Declaração de honra
Declaro por minha honra que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado, na sua essência,
para a obtenção de qualquer grau, e que ele constitui o resultado da minha investigação pessoal,
estando indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei para a sua materialização.
A Candidata
______________________________________________
(Alzira Pinto Camacho)
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
IV Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Epígrafe
“Sem o combate sério da corrupção, sem acusações e condenações regulares, ou seja, sem a
actuação dos tribunais, em tempo útil, nos casos que se justifiquem, a democracia é o nome
pomposo de qualquer coisa que não existe” MORGADO, Maria José. (2003:1), Congresso da
Justiça.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
V Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
LISTA DE ACRÓNIMOS E SIGLAS
CEEI: Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais
CIP: Centro de Integridade Pública
CMAM: Central de Medicamentos e Artigos Médicos
CRM: Constituição da República de Moçambique
GCCC: Gabinete Central de Combate a Corrupção
HGJM: Hospital Geral José Macamo
IESE: Instituto de Estudos Socias e Económicos
IGS: Inspecção Geral da Saúde
IRC: Indíce de Rotação de Cama
MISAU: Ministério da Saúde
OMS: Organização Mundial da Saúde
PESS: Plano Estratégico do Sector da Saúde
PNGC: Pesquisa Nacional Sobre Governação e Corrupção
PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PQG: Plano Quinquenal do Governo
RMC: Rendimento Médio de cama
RMC: Rendimento Médio de Cama
SNS: Serviço Nacional de Saúde
SUR: Serviços de Urgência e Reanimação
TMM: Taxa de Mortalidade Materna
TMOR: Taxa de Mortalidade
TOC: Taxa de Ocupação de Cama
UNODC: Escritório das Nações Unidas Sobre Droga e Crime
USAID: Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
VI Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Resumo
A prestação dos cuidados de saúde deve, de acordo com a legislação Moçambicana, ser
independente da condição sócio-económica dos indivíduos, por forma a garantir igual utilização
destes para iguais necessidades clínicas. O Serviço Nacional de Saúde é essencialmente público,
com um custo monetário relativamente baixo para o acesso aos cuidados de saúde por parte de
todos. Contudo um estudo realizado em 2006 pelo Centro de Integridade Pública, sobre a
corrupção no sector da saúde, fez-nos questionar sobre as implicações deste fenómeno sobre a
qualidade dos cuidados de saúde prestados a nível dos Hospitais públicos, em especial o Hospital
Geral José Macamo. Portanto, foi objectivo deste trabalho explicar os impactos que a corrupção
tem na qualidade dos cuidados de saúde prestados no Hospital referido. Face aos objectivos
pretendidos neste, servimo-nos de dados recolhidos por via documental e entrevistas realizadas no
Hospital Geral José Macamo afim de observamos as condições dentro das quais os actores
envolvidos realizam esta prática, e aferimos que a mesma tem tido consequências
significativamente negativas para todos utentes, mas principalmente para indivíduos
desfavorecidos economicamente, visto que, estes se deparam com problemas como a
indisponibilidade de matérias, equipamentos e medicamentos e assim, não conseguem obter os
serviços de que necessitam pois são obrigados a pagar uma percentagem maior do que seus
rendimentos para ter acesso a serviços que por lei deveriam ser prestados a título gratuito ou a um
valor mais baixo.
Palavras-chave: Corrupção, Qualidade, Saúde, e Prestação dos Cuidados de saúde.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
VII Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Indíce Páginas
Dedicatória.................................................................................................................................. I
Agradecimentos ......................................................................................................................... II
Declaração de honra .................................................................................................................. III
Epígrafe ................................................................................................................................... IV
Resumo .................................................................................................................................... VI
Lista de figuras........................................................................................................................... X
Lista de gráficos ......................................................................................................................... X
Lista de tabelas........................................................................................................................... X
1. CAPÍTULO .........................................................................................................................1
1.1 Introdução .....................................................................................................................1
1.2 Contextualização do Estudo ..........................................................................................3
1.3 Tema .............................................................................................................................4
1.4 Delimitação do Tema ....................................................................................................4
1.5 Justificativa ...................................................................................................................4
1.6 Problemática .................................................................................................................5
1.7 Hipótese ........................................................................................................................7
1.8 Objectivos do Estudo ....................................................................................................8
1.8.1 Geral ......................................................................................................................8
1.8.2 Específicos .............................................................................................................8
2. CAPÍTULO: METODOLOGIA ..........................................................................................9
2.1 Quanto à natureza .........................................................................................................9
2.2 Quanto aos objectivos ou fins ........................................................................................9
2.3 Quanto aos procedimentos tècnicos ...............................................................................9
2.4 Quanto à forma de Abordagem.................................................................................... 10
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
VIII Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
2.5 Teorias de base ........................................................................................................... 11
2.5.1 Enquadramento Teórico ....................................................................................... 11
3. CAPÍTULO: REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 15
3.1 Revisão da Literatura .................................................................................................. 15
3.2 Definição dos Termos ................................................................................................. 15
4. CAPÍTULO: ESTRUTURA E ORGANIZAҪÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE
19
4.1 O Serviço Nacional de Saúde ...................................................................................... 19
4.2 Estrutura Física e Administrativa do HGJM ................................................................ 21
4.2.1 Breve Historial do Hospital Geral José Macamo .................................................. 21
4.2.2 Localização Geográfica do HGJM ....................................................................... 22
5. CAPITULO: A PROBLEMÁTICA DA CORRUPÇÃO NO HGJM E SEU IMPACTO NA
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE. ........................................................................... 25
5.1 Elementos que concorrem para o alastramento da corrupção no HGJM ....................... 25
5.2 Natureza das Estruturas de Incentivos e Motivação ..................................................... 27
5.2.1 Baixa Capacidade Institucional do SNS ............................................................... 28
5.2.2 Baixos salários ..................................................................................................... 29
5.2.3 Fraca Presença de Inspecções e Sanções .............................................................. 31
5.3 As contravenções identificadas no HGJM ................................................................... 31
5.3.1 O suborno/Cobranças Ilícitas ............................................................................... 33
5.3.2 Desvio e Roubo de Medicamentos ....................................................................... 34
5.3.3 Utilização Indevida de Recursos Públicos ............................................................ 36
5.4 Consequências da Corrupção....................................................................................... 37
6. CAPÍTULO: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM UMA UNIDADE
HOSPITALAR- O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSЀ MACAMO ..................................... 41
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
IX Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
6.1 Indicadores de Qualidade dos Cuidados de Saúde prestados em Unidades Hospitalares
41
6.1.1 Tipos de Indicadores ............................................................................................ 42
6.2 Qualidade na Prestação de Serviços de Saúde na Perspectiva dos Utentes do HGJM ... 48
7. CAPÍTULO: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................... 53
7.1 Conclusões .................................................................................................................. 53
7.2 Recomendações .......................................................................................................... 54
Apêndice ................................................................................................................................... 63
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
X Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Lista de figuras
Figura 1: Imagem do Hospital Geral José Macamo……………………………………………..21
Figura 2: Mapa da localização geográfica do HGJM e sua área de saúde……………………….23
Lista de gráficos
Gráfico 1: Taxa de Ocupação de cama do Hospital Geral José Macamo…………………….43
Gráfico 2: Taxa de Indíce de Rotação de cama do Hospital Geral José Macamo……………44
Gráfico 3: Taxa de Rendimento Médio por Cama do Hospital Geral José Macamo…………45
Gráfico 4: Taxa de Mortalidade Hospitalar 2014-2016….……………..……………………..46
Gráfico 5: Taxa de Mortalidade Materna por 100.000 nados vivos 2015-2016………………47
Lista de tabelas
Tabela 1 Triagem Manchester ………………………………………………………………..49
Tabela 2 Indicadores de Eficiência, Qualidade e produtividades ………………………………52
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
1 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
1. CAPÍTULO
1.1 Introdução
As transições políticas ocorridas na maioria dos países da África subsaariana na década 90,
trouxeram mudanças significativas no que respeita a institucionalização democrática em diferentes
quadrantes do mundo. Com efeito, como refere Carothers apud Forquilha e Orre (2010:35) a partir
dos anos 1970 e 1990 começa-se a verificar a queda de regimes autoritários no sul da Europa, a
substituição das ditaduras militares por governos civis eleitos na América latina e o declínio de
regimes de partido-único na África subsaariana, etc.
Para o caso de Moçambique essas mudanças, foram marcadas essencialmente pela introdução de
uma nova constituição em 1990 e o fim da guerra civil em 1992, culminando com a realização das
primeiras eleições multipartidárias em 1994, o que permitiu a abertura do espaço político e a
criação de novas instituições.
Assim, como sublinha Cortez (2005:7) na sua análise sobre Corrupção “ a transição democrática
em Moçambique e o estabelecimento de uma nova ordem política e económica deu maior
visibilidade ás práticas corruptas no seio do sector público e na sociedade no geral, na medida
em que, após a independência o modelo de economia vigente não tolerava as manifestações destas
práticas ".
Ainda segundo o autor, com as novas mudanças foram introduzidas reformas económicas e
políticas1, bem como a redefinição do papel do Estado na gestão da coisa pública, e
consequentemente os sectores da função pública começaram a revelar fraca capacidade
institucional por forma a responder as novas exigências advindas do processo de transição, e esta
lacuna tornava-se mais expressiva devido à conjuntura política, social, económica mas também
1 Algumas das reformas aplicadas faziam parte de um conjunto de condicionalismos impostos pelo Banco Mundial
e o Fundo Monetário Internacional para que o país desfrutasse da ajuda externa (Abrahamsson & Nilson apud
Cortez 2005:8).
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
2 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
pelo elevado grau de dependência da ajuda externa ao país e deste modo foram surgindo espaços
para a ocorrência de práticas corruptas (Cortez:2005:8).
Estes argumentos são reforçados por Hanlon (2002:8) ao afirmar que a redefinição do papel do
Estado provocou cortes nos gastos públicos, como é o caso dos salários dos funcionários, o que
acabou tornando-se numa das diversas causas que abriu espaços para a busca desenfreada de outras
formas de rendimento, trazendo os ingredientes necessários para aparecimento e o firmamento de
práticas corruptas no sector público e mesmo na sociedade em geral.
E ainda agravado ao facto de uma economia de mercado, surgimento de muitas empresas privadas,
elevado nível de consumo da sociedade, o baixo salário do sector público comparado com o
privado, factores que foram condicionando o incremento da corrupção na função pública. Assim,
aos poucos foi-se assistindo o aumento gradual da corrupção no sector público, com mais
notabilidade naquelas instituições que pelo carácter das actividades que exercem encontram-se em
permanente contacto com o público, como é o caso do sector que constitui nosso objecto de estudo
(Saúde).
Por razões organizacionais e metodológicas, o trabalho está estruturado da seguinte forma: no
primeiro capítulo procede-se com a introdução, seguida pela contextualização, logo depois a
delimitação do tema, a justificativa que reflecte as motivações que instigaram a escolha deste,
posteriormente a problemática, a hipótese e os objectivos do trabalho. O capítulo II, destina-se à
apresentação dos procedimentos metodológicos, precedida pelo enquadramento teórico este, que
dará ênfase a duas teorias sobre as quais se espelhará nosso trabalho. Por sua vez o capítulo III se
propõe a expor a revisão da literatura e a definição dos conceitos tomados como fulcrais para a
compreensão deste estudo. Por sua vez no capitulo IV iremos a examinar a organização do Serviço
Nacional de Saúde (SNS), onde, descrevemos a sua caracterização funcional, seus objectivos,
composição e organização. Posteriormente, a configuração física e administrativa do hospital em
análise. Já no Capítulo V, debruçamos sobre a problemática em volta do fenómeno da corrupção
no Hospital Geral José Macamo (HGJM). O principal foco, neste ponto do trabalho, será o estudo
da natureza das estruturas de incentivo e motivações, as contravenções identificadas no HGJM e
suas consequências. No penúltimo capítulo, dedicamo-nos ao estudo dos indicadores de qualidade
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
3 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
na prestação de cuidados de saúde e, por último, o capítulo VII com a conclusão que de forma
breve, retratará o assunto debatido ao longo do trabalho.
1.2 Contextualização do Estudo
Um estudo realizado pela Ética Moçambique (2001:23) apontou o sector da saúde como aquele
que apresenta maiores índices da ocorrência de prácticas corruptas, seguido pelo sector da
Educação e pela polícia. O estudo revelou ainda, que a corrupção neste sector tem sido dominada
pela pequena corrupção, apontando os Enfermeiros e Médicos como protagonistas deste fenómeno
colocando em risco a qualidade dos cuidados de saúde prestados. Outro estudo, feito pela Agência
Norte Americana para o Desenvolvimento (USAID), revelou que não obstante o facto da
corrupção ser um fenómeno relativamente recente alastrou-se rapidamente nos últimos anos,
chegando a atingir practicamente todos sectores, funções e níveis do Governo. No sector da saúde
em particular, actos corruptos tem sido tolerados devido a resignação, medo, ou simplesmente o
espírito do deixa andar2 (USAID, 2005: 6).
Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), a pequena corrupção ocorre ao nível da
implementação de políticas, onde os funcionários públicos se encontram directamente com o
público (CIP, 2009:12). No sectore estudo, esta pequena corrupção envolve modestas quantias de
dineiro onde os beneficiários dos cuidados de saúde pagam subornos com vista a receber um
tratamento especial ou motivar o funcionário a realizar seu trabalho. Refira-se, que a importância
da qualidade na prestação dos cuidados de saúde está reflectida no Millennium Development
Goals3 (MDG), este documento considera que a satisfação com a qualidade dos cuidados de saúde
é um importante indicador subjectivo do bem-estar humano, e dos oito objectivos plasmados no
MDG três estão directamente relacionados à área da saúde, como o acesso aos medicamentos por
parte dos países em via de desenvolvimento, os desafios contra à epidemia do HIV/SIDA e a
insuficiência dos orçamentos destinados à saúde (Mosse & Cortez, 2006:5). Estes problemas acima
2 Este termo tem vários significados, dependendo do contexto, mas no nosso trabalho significa permitir que uma
certa situação continue. 3 Os ODM surgem no documento “Road Map towards the implementation of the United Declarationˮ aprovados na
56ͦ sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2001, sendo actualmente considerados o mais bem sucedido
esforço de combate à pobreza.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
4 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
são resultantes da deterioração das condições económicas e consequentemente uma carência
generalizada no fornecimento dos medicamentos, um inadequado pagamento de salários aos
funcionários deste sector e uma fraca qualidade dos cuidados de saúde em muitos países em via
desenvolvimento resultando na deterioração destes no seu todo e um aumento da corrupção em
todos níveis do sistema de saúde, a partir deste cenário a corrupção torna-se uma preocupação
mundial principalmente em países em via de desenvolvimento devido a escassez de recursos
(Ktitgaard, 2000:13).
1.3 Tema
Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de Saúde Prestados nos Hospitais
Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-2016).
1.4 Delimitação do Tema
Segundo Gil (2008:56), a delimitação do tema obedece a dois critérios, nomeadamente: i) critério
espacial e ii) critério temporal. Entretanto, com relação ao primeiro o nosso estudo realizou-se
numa das instituições do Serviço Nacional de Saúde4 especificamente no Hospital Geral José
Macamo, tendo compreendido um período de 2014-2016.
1.5 Justificativa
Consideramos relevante debruçar sobre corrupção no sector da saúde, particularmente, o impacto
que este fenómeno tem na qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM. Trata-se de um
assunto de extremo interesse social, porém pouco debatido no seio dos académicos e dos órgãos
de comunicação social. Estudos feitos pela USAID e Centro de Integridade Pública (CIP), apontam
o sector da saúde como um dos sectores onde a corrupção encontra-se enraizada, e também como
um dos sectores mais vulneráveis à ocorrência de prácticas corruptas pelo carácter dos serviços
que oferecem, ou seja, encontram-se em permanente contacto com o público.
4 Caracterizaremos o Serviço Nacional de Saúde mais adiante, para melhor compreensão.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
5 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
No que tange a escolha do HGJM como campo de pesquisa, a mesma deveu-se a proximidade
geográfica deste Hospital ao bairro onde reside a autora, aliada a limitação de recursos financeiros
para deslocações, todavia o HGJM reúne condições mais favoráveis para a recolha dos dados. Em
relação ao horizonte temporal, a pesquisa compreendeu um período de três anos (2014-2016),
primeiro porque acreditamos que o facto de ser um período curto poderá facilitar a análise dos
dados recolhidos, em segundo lugar por ser um período em que estudos nacionais e internacionais
(CIP, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais do Instituto Superior de Relações
Internacionais, USAID, e o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), sobre corrupção
revelaram aumento de casos deste fenómeno em todos os sectores do Governo, com particular
destaque para os serviços públicos que pela natureza das suas actividades lidam com o público no
dia-a-dia, tal sucede com o sector em da saúde.
Por forma a termos o nosso campo de análise delimitado, escolhemos o HGJM, que è o hospital
de referência dentro das unidades sanitárias de nível secundário. No entanto, sendo este um
hospital de grandes dimensões, decidimos levar a cabo a nossa pesquisa em alguns departamentos,
especificamente a Maternidade, o Laboratório e os Serviços de Urgência e Reanimação (SUR)
também conhecidos como Banco de Socorros, a escolha destes deveu-se ao facto destes manterem
um contacto directo e permanente com os utentes, o que os torna mais vulneráveis à ocorrência de
actos ilícitos.
É desta forma que considerou-se relevante a realização de um estudo que debruçasse acerca do
impacto que a corrupção tem sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM, a fim
de testar as diferentes opiniões bem como procurar trazer soluções possíveis para o problema em
destaque.
1.6 Problemática
Segundo um estudo feito pelo Escritório das Nações Unidas Sobre Droga e Crime (UNODC) a
corrupção é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento económico e social a nível mundial.
Este aponta ainda, que a cada ano são gastos cerca de USD 1 trilhão em subornos, enquanto cerca
de USD 2,6 trilhões são desviados pela corrupção, uma soma equivalente a mais de 5% do PIB
mundial UNODOC (2015:1). Por sua vez, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
6 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
(PNUD) afirma que países em via de desenvolvimento, como Moçambique, a quantia de fundos
desviados de seus destinos pela corrupção chega a ser dez vezes maior ao destinado à assistência
oficial ao desenvolvimento (melhoria dos serviços de saúde, educação, transportes, etc. (PNUD,
2014:5).
Outro estudo, realizado pelo Centro de Estudos Estratégicos em 2011 (CEEI) afirmou que os sinais
da existência da corrupção no sector público são claros e os factores que concorrem para a sua
prática assentam numa infinidade de aspectos, sendo de destacar o nível baixo salarial de
funcionários e agentes do Estado, ausência de um sistema eficaz de denuncia de prácticas da
corrupção, ausência de órgãos de comunicação independentes e eficazes, ausência de um sistema
judicial independente e eficaz, falta de mecanismos eficazes de incentivos para funcionários,
aspectos ligados a razões culturais, falta de transparência e por fim a falta de prestação de contas
no processo político (CEEI, 2011:13 ).
Importa referir, que o sector em estudo encontra-se incluído no cenário acima, dado que os baixos
salários e as más condições de trabalho dos funcionários da saúde, principalmente a nível dos
enfermeiros e serventes os tornam mais propensos a envolverem-se em actos de corrupção. Assim,
como refere o mesmo estudo, os desafios no âmbito da qualidade na prestação de cuidados de
saúde estão relacionadas por um lado ao mau atendimento, longas filas de espera, falta de pessoal
qualificado, poucos Médicos por utente, burocracia excessiva e por outro aos baixos salários, como
já foi referido, aliada ganância de alguns funcionários públicos e fraca capacidade institucional do
SNS em solucionar os problemas de saúde dos utentes (CEEI, 2011:14).
Note-se que, apesar da Constituição da República de Moçambique (CRM:2004) no seu Artigo 89,
estabelecer que:
“ Todos os cidadãos tem direito à assistência sanitária e médica. Nos termos da lei, bem como o
dever de promover e defender a saúde pública” e
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010:6) defender que todas as pessoas devem poder
atingir o seu potencial máximo de saúde, sem que as circunstâncias económicas e sociais de cada
um determinem a consecução deste objectivo, no Hospital Geral José Macamo ainda se convive
com uma realidade desigual e excludente no acesso ao SNS, ignorando-se o facto da CRM e OMS
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
7 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
assegurarem a saúde enquanto direito universal a ser garantido pelo Estado a um custo sem
descriminação com base na cor da pele, condição económica, social nem religiosa.
Ademais, o Plano Quinquenal do Governo (PQG 2015-2019) assenta os seguintes objectivos para
o sector da saúde:
Promover a melhoria do estado de saúde do povo, garantindo cuidados de saúde de
qualidade aceitável, gratuitos ou a um preço comportável cada vez maior proporção de
Moçambicanos (objectivo geral do PQG).
Melhorar a gestão de recursos humanos, elevando o nível de humanização dos serviços
com ênfase no atendimento com qualidade e na satisfação das necessidades dos utentes
(objectivo específico do PQG).
Do acima exposto resulta a nossa pergunta de partida:
Em que medida a corrupção praticada no HJGM afecta a qualidade dos cuidados de saúde
prestados aos utentes daquela unidade hospitalar?
1.7 Hipótese
A partir da pergunta de partida, avançamos a seguinte hipótese:
A corrupção afecta significativamente na qualidade dos cuidados de saúde prestados no
HGJM, na medida em que prejudica os utentes, particularmente a camada pobre, por sinal
a maioria da nossa população, isto é, a corrupção cria vantagens injustas para alguns e
reduz as perspectivas para os pobres, já que promove a desigualdade no acesso aos
cuidados de saúde.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
8 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
1.8 Objectivos do Estudo
1.8.1 Geral
Explicar o impacto da corrupção sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados no
Hospital Geral José Macamo.
1.8.2 Específicos
Identificar as causas da corrupção no sector da saúde;
Apresentar as formas de manifestação da corrupção no hospital Geral José Macamo;
Discutir as consequências da corrupção no hospital Geral José Macamo. e
Descrever os indicadores de qualidade na prestação de cuidados de saúde.
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2. CAPÍTULO: METODOLOGIA
Neste capítulo, apresentaremos os procedimentos metodológicos, que auxiliaram a materialização
deste estudo, e em seguida o enquadramento teórico. Deste modo, a nossa pesquisa pode ser
classificada :
2.1 Quanto à natureza
Destacam-se a pesquisa básica e aplicada. Entretanto, a nosso estudo basear-se-à numa pesquisa
aplicada, já que objectiva gerar conhecimentos para aplicação pràctica dirigida à resolução de
problemas específicos, envolvendo assim verdades e interesses locais" (Silva, 2014: 14), no caso
relacionados ao problema da corrupção no sector da saúde, concretamente no HGJM.
2.2 Quanto aos objectivos ou fins
Segundo Gil (2008:28) este tipo de pesquisa pode ser classificada em exploratória, descritiva e
explicativa. Portanto, para a elaboração deste estudo vamos privilegiar a pesquisa exploratória,
visto que, este tipo tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o problema, como
forma de torná-lo mais explícito. Na maioria dos casos envolve entrevistas com pessoas ligadas ao
problema estudado e o levantamento bibliográfico.
2.3 Quanto aos procedimentos tècnicos
No que diz respeito a este tipo, podemos identificar oito tipos de de pesquisa, nomeadamente:
pesquisa bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso, participante, de
acção e finalmente a pesquisa ex-post-facto (idem). Importa referir, que neste trabalho far-se-à o
cruzamento da pesquisa bibliogràfica e do estudo de caso. A primeira tècnica consiste no uso do
material já publicado, constituído por livros e artigos alguns disponíveis na internet (onde usamos
para este trabalho os relatórios obtidos da internet, no HGJM (2014, 2015 e 2016), no CIP, USAID,
e do PNUD), e o estudo de caso, consiste num estudo empírico que investiga um fenómeno actual
dentro do seu contexto da realidade (Yin, 2005:32). Contudo, para alem de priviligiar a pesquisa
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bibliogràfica e o estudo de caso, tambem usaremos um raciocíonio dedutivo que parte do geral ao
particular, (Gil, 2008:29).
2.4 Quanto à forma de Abordagem
Destacam-se duas formas de abordagem numa pesquisa: a pesquisa qualitativa e quantitativa. A
primeira defende que tudo è quantificàvel, e geralmente apoia-se no uso de recursos e de tècnicas
estatísticas, a segunda, considera que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
ou seja, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito, não
podendo isto ser quantificàvel (idem). Assim, durante a recolha de dados utilizaremos a abordagem
qualitativa aliada a anàlise de dados de natureza quantitativa, na medida em que, vamos privilegiar
a realização de entrevistas com alguns funcionários do HGJM bem como os utentes do mesmo
afim de testar as experiências vividas por ambas partes. Deste modo, a recolha de dados será feita
em três departamentos e os entrevistas sob a condição de anonimato, tanto por parte de alguns
funcionários do HGJM e dos utentes. Nestes departamentos, realizaremos por via do questionário
estruturado, sessenta e uma entrevistas, sendo um total de cinquenta utentes, nove funcionários, e
finalmente dois académicos do CIP e do Gabinete Central do Combate à Corrupção (GCCC), para
a consecuçção deste objectivo serviremo-nos da amostragem por conveniência5 que segundo
Mulenga (2014:90), é geralmente utilizada nas investigações de opinião pública onde os
entrevistados são escolhidos tendo em conta a sua disponibilidade, por exemplo pacientes
atendidos em um hospital, etc.
Refira-se que este estudo, teve muitas limitações devido ao facto do nosso tema envolver muito
secretismo, o que causou enormes dificuldades na realização das entrevistas mesmo apresentando
os documentos legais que justificavam nossa presença no HGJM alguns interlocutores recusavam-
se a abordar a problemática da corrupção, pois receiavam futuras represálias. Outro aspecto que
limitou nossa pesquisa deveu-se ao local para a realização das entrevistas, pois algumas entrevistas
com os funcionários eram dentro dos consultórios (onde não tínhamos privacidade) o que
5 Técnica de amostragem em que a amostra a ser estudada é identificada por conveniência, elementos são incluídos
na amostra sem probabilidades previamente especificadas ou conhecidas de eles serem selecionados. Tem a
vantagem de permitir que a recolha de dados sejam relativamente fácies.
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impossibilitou que estes pudessem falar abertamente e sem pressão do tempo, por último o
episódio em que um dos funcionários do hospital tentou nos aliciar a mudar de tema sob a ameaça
de não conseguirmos dados.
2.5 Teorias de base
2.5.1 Enquadramento Teórico
A necessidade da interpretação e compreensão da realidade social exige que optemos por um
referencial teórico e, por forma a encontrar suporte para a análise do nosso tema iremos recorrer a
teoria da Cultura Política e do Neo-institucionalismo da Escolha Racional. Decidimos cruzar estes
dois primos teóricos por considerar que ambas têm elementos que se enquadram na realidade
Moçambicana, mas também acreditamos que um só não seria suficiente para explicar o
comportamento corrupto dos indivíduos.
2.5.1.1 Teoria da Cultura Política
Esta teoria surge nos Estados Unidos durante os anos 60, e teve seu marco fundador a publicação
em 1963 da obra The civic culture de Almond e Verba. A inovação desta corrente foi a de
considerar a cultura como uma variável digna para compreender o comportamento corrupto
(Gomes, 2010: 25). No entanto, a teoria da cultura política enfatiza o papel dos padrões culturais
que vigoram em uma sociedade como fenómenos macrossociais que podem viabilizar ou
inviabilizar a intensidade de comportamentos corruptos.
Na perspectiva de Putnam (2006:16) em sociedades onde os laços pessoais são muito fortes, as
normas impessoais típicas do capitalismo moderno são com frequência violadas. Esta constatação
mostra que no contexto acima é frequente a sobreposição do interesse pessoal sobre o público,
facto que vai desencadear a corrupção.
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A este propósito Gomes (2010:33) defende que na maioria das vezes isso acontece quando o
desenvolvimento económico, político e institucional não ocorre ao mesmo ritmo com o
desenvolvimento cultural, pois, as leis deparam-se com inúmeros obstáculos de efectivação, na
medida em que, não encontram legitimidade na opinião pública o que consequentemente torna sua
violação rotineira e por isso a corrupção torna-se cada vez mais frequente.
2.5.1.2 Teoria do Neo-institucionalismo da Escolha Racional
Esta teoria surge, de acordo com Hall & Taylor (2003:196), no contexto do estudo de
comportamentos dos indivíduos no interior dos Estados Unidos durante a década de 1970 e tinha
como enfoque o estudo comportamental dentro das instituições. No entanto, para explicar como
as instituições afectam o comportamento dos indivíduos, o Neo-institucionalismo da escoha
racional fornece duas concepções desgnadas por: perspectiva calculadora e a perspectiva cultural.
2.5.1.3 A Perspectiva calculadora
Esta abordagem dá ênfase aos aspectos do comportamento humano que são instrumentais e
orientados no sentido de um cálculo estratégico. Assim, advoga que os indivíduos buscam
maximizar seus rendimentos com referência a um conjunto de objectivos definidos por uma função
de preferência dada e que, ao fazê-lo, adoptam um comportamento estratégico, mas, antes da
escolha, os indivíduos examinam previamente todas as escolhas possíveis para seleccionar aquelas
que oferecem um benefício maior ( idem:197).
Neste caso, afirmamos que o comportamento corrupto dos funcionários e utentes do HGJM faz
parte de um cálculo estratégico, fortemente influenciado pelas suas expectativas com relação ao
comportamento vindouro de outros actores.
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2.5.1.4 Perspectiva cultural
Enfatiza o facto de que, os individuos recorrem com frequência a modelos de comportamentos já
conhecidos para atingir seus objectivos, pois considera os indivíduos como satisficers mais do que
como optimizers em busca da maximização dos seus interesses particulares (idem:189).
Para Shepsle (1989) apud Victorino (2014:25), o Institucionalismo de Escolha Racional considera
as instituições como um contexto que estrutura as oportunidades das escolhas estratégicas, assim,
as instituições atendem a função da redução da incerteza, uma vez que permitem a minimização
dos custos da transacção e garantem a rentabilidade da cooperação.
Esta teoria, apresenta segundo Cartier-Bresson (1997) apud Gomes (2010:38) um conjunto de
causas para a ocorrência de prácticas corruptas, que apresentamos de seguida:
A fraca capacidade institucional associada aos baixos salários auferidos nos sectores
públicos, orçamentos disfuncionais de governos, atrasos na libertação de fundos do
orçamento, incluindo pagamentos e perda de objectivos organizacionais, factores que
criam desmoralização nos funcionários públicos.
Optamos pela teoria da Cultura Política e do Neo-institucionalismo da Escolha Racional pois estas
trazem um arcabouço que se espelha na realidade moçambicana que é caracterizada por laços
pessoais muito fortes. Por um lado, percebemos que na teoria da cultura política o indivíduo tende
a reproduzir comportamentos aprendidos no seu contexto cultural, o meio em que o indivíduo
encontra-se inserido conta fortemente no seu tipo de comportamento, uma vez que o indivíduo
tende a reproduzir o contexto cultural que vivencia. Por outro lado, no neo-institucionalismo de
escolha racional percebemos que o indivíduo é frequentemente movido pelos beneficios pessoais
para cada actividade em que se encontra envolvido, onde este pretende atingir objectivos
particulares tendo em conta a maximização de seu interesse. Entretanto, percebemos que a
corrupção não é só uma questão de racionalidade do indivíduo mas a cultura é um elemento que
nos dá também subsídios para olhar a corrupção. Ora, nós somos seres individualizados e, ao
mesmo tempo colectivos, somos influenciados pela sociedade a partir das relações culturais com
os outros. O indivíduo enquanto um ser social, desenvolve-se num contexto multi-cultural, em que
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temos regras, padrões, crenças, valores, identidades muito diferenciadas. Assim, a cultura é o
intercâmbio entre indivíduos, grupos e a sociedade. Estas duas teorias, espelham a realidade
moçambicana e tem um impacto directo no fomento da corrupção a nível institucional.
No caso concreto da corrupção no HGJM, deparamo-nos com situações em que tanto os
funcionários como utentes reproduzem comportamentos vivenciados no dia-a-dia. O funcionário
corrompe ou deixa-se corromper porque o ganho que ele tem cometendo a infracção é maior
quando comparado ao risco ou possibilidade de ser apanhado, existe uma fraca responsabilização
dos indivíduos que se envolvem em casos de corrupção. Hermenegildo Timana6 fez referência a
um fenómeno que chamou de actuação em rede, em que o servente participa de uma "bolada7" a
ser dividida com o Enfermeiro, este por sua vez com Técnico de saúde ou mesmo o Médico. Os
funcionários estão num contexto em que a probabilidade de serem apanhados é quase nula, pois a
maioria está envolvido no esquema, "ninguém denuncia ninguém", ele faz justificando-se pelo
baixo salário que aufere, vendo assim nos esquemas a oportunidade de ter uma vida melhor já que
a maioria dos funcionários com os quais mantivemos contacto disseram-nos claramente que não
era possível viver do salário que auferem na saúde. Por outro lado, "o utente corrompe porque já
está acostumado a corromper, os utentes já não olham para a corrupção como um acto deplorável
e por outro lado o próprio funcionário faz cobrança ilícita sem vergonha nenhuma, e finge que
esconde do seu chefe que por sua vez é mais corrupto" (Entrevista com um utente, no Banco de
socorros, 19 de Fevereiro de 2017 as 18h43).
Dos comentários expostos é possível identificar elementos da racionalidade no indivíduo corrupto
e corruptor, bem como perceber que o contexto cultural de ambos fornece padrões e regras
aprendidas no contexto das actividades grupais. Apesar do indivíduo ser único, ele é modelado
pela cultura e pela sociedade em que vive (Lane, 2006:133).
6 Assessor da Directora do Gabinete Central de Combate a Corrupção.
7 O termo bolada refere-se a um negócio envolvendo uma quantia considerável de dinheiro.
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3. CAPÍTULO: REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Revisão da Literatura
O debate acerca do aumento de casos de práticas corruptas no sector público moçambicano, foi
evidenciado pelo estudo realizado pela Ética Moçambique (2001), a partir de então começam as
interrogações a nível da sociedade sobre as razões para a difusão destes casos no sector público.
No entanto, no quadro da implementação da Estratégia global da reforma do sector público, o
Governo de Moçambique, comissionou a realização, em 2004 e 2010, da primeira e segunda
Pesquisa Nacional Sobre Governação e Corrupção com vista a avaliar a percepção dos cidadãos
em relação à governação, às practicas corruptas e a qualidade dos serviços prestados pelo sector
público no país (CEEI, 2011:4).
Os resultados dessas pesquisas, revelaram que os sectores da educação, da saúde e da polícia de
trânsito lideravam os índices da corrupção, no entanto, a falta de transparência, salários baixos
para funcionários públicos, ausência de sistemas eficazes de denúncias destas practicas foram
apontadas como causas da corrupção no sector público (idem:37). No sector da saúde em
particular, os aspectos ligados a qualidade da prestação de cuidados de saúde são os mais
problemáticos, e estão associados ao mau atendimento resultante de longas filas de espera,
burocracia excessiva, incumprimento de prazos, falta de pessoal e absentismo.
3.2 Definição dos Termos
Nesta secção vamos privilegiar a definição de alguns conceitos fulcrais no nosso trabalho,
nomeadamente: Corrupção, Qualidade, Saúde e Prestação de Cuidados de saúde.
Definir corrupção, à semelhança da maioria dos fenómenos sociais não é tarefa fácil, contudo
procuraremos defini-lo tendo como base os objectivos que pretendemos alcançar neste trabalho.
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Bobbio (1998:301) designa por corrupção, o fenómeno pelo qual um funcionário público é levado
a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em
troca de recompensa.
Por sua vez, Huntigton (1975:74) a define como sendo um comportamento de autoridades públicas
que se desviam das normas socialmente aceites a fim de servir interesses individuais. Na sua
definição podemos encontrar dois critérios através dos quais o autor faz análise da corrupção, as
normas legais e o interesse público.
Mosse (2004:6), faz menção à duas tipologias de corrupção, onde podemos destacar a corrupção
política (grande corrupção) e a corrupção burocrática (pequena corrupção).
A corrupção política acontece nos altos níveis da autoridade política (chefes do Estado,
Ministros, Governadores e oficias de topo) e
Corrupção burocrática, aquela que acontece ao nível da Administração Pública ao lado da
implementação de políticas, a que nos interessa explicar neste trabalho.
Portanto, quando falamos da corrupção no sector da saúde referimo-nos a corrupção burocrática,
aquela que os cidadãos sofrem no seu dia-a-dia nomeadamente nos serviços como escolas,
hospitais, tribunais, polícias de trânsito, etc. os meios usados para o efeito são ajustadas às
condições locais, é por isso que a corrupção burocrática é também chamada de rotineira (Santos,
2013:10).
Para o presente trabalho, escolhemos o conceito de corrupção na perspectiva do Bobbio, pelo facto
de acharmos que esta dá-nos mais subsídios, levando em conta o nosso objecto de estudo.
Segundo Carneiro et al (2010:11) a preocupação com a qualidade surge na década sessenta, tendo
sido disseminado a partir da indústria, por autores como Deming, Juran, Ishikawa e adoptado a
área da saúde por Avedis Donabedian. Entretanto, a preocupação com a qualidade dos cuidados
de saúde atravessa toda história da medicina, remontando desde Hipócrates, passando por Florence
Nightingale e Ernest Codman. Na área da indústria, a qualidade foi conceituada como a satisfação
dos requisitos dos consumidores em relação a esse produto ou serviço (Ishikawa), já na área da
saúde apesar da definição de qualidade estar sempre dependente da perspectiva de valores de quem
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a define é crucial uma formulação que sirva de referência, assim na óptica de Mezomo (2001:110)
para definir o termo qualidade na saúde devemos ter em conta três aspectos fundamentais: missão
(objectivos da instituição), serviços (produtos) e satisfação do utente. Assim, podemos a conceituar
como adequação dos serviços à missão da organização comprometida com o pleno atendimento
das necessidades dos seus utentes (Mezomo, 2001:111).
Na visão de Palmer apud Fereira (1991:96), a qualidade refere-se à tornar o mais efectivos possivel
os cuidados prestados, melhorando o estado de saúde e satisfação da população, dentro dos
recursos que a sociedade e os indivíduos decidiram gastar com tais cuidados. Adoptaremos no
trabalho, as definições de qualidade segundo a perspectiva de Mezomo e do Palmer, pois ambas
englobam algumas características que mais adiante usaremos como indicadores de qualidade dos
cuidados de saúde prestados no HGJM.
A Lei nº26/91 de 31 de Dezembro, define prestação de cuidados de saúde como sendo toda
actividade que consiste na prevenção da doença, assistência médica, reabilitação e promoção de
saúde (artigo nr 2).
Também podemos defini-la como a modalidade de actuação realizada pela equipa de saúde junto
à população, na promoção, proteção da saúde, na recuperação e reabilitação de doentes
(Arcoverde, 1985:11).
O conceito de prestação de cuidados de saúde que usaremos neste trabalho é o da lei nº26/91 de
31 de Dezembro, pelo facto de ser o mais adequado para o objectivo por nós traçado neste trabalho.
Por fim, vamos definir saúde, tradicionalmente conceituado pela OMS, como estado de completo
bem- estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença ou enfermidade (Constituição
da OMS, 1946:1).
Para Carneiro et al (2010:9) esse conceito trazido pela OMS tem sido amplamente criticado por
diversos autores, na medida em que segundo estes não se enquadra no pensamento actual e também
por ser considerado dicotómico, utópico e irrealista, estes defendem que o mesmo é mais
condizente a noção de felicidade e sugerem a necessidade da sua redefinição. Portanto, a partir das
críticas feitas surgem autores como Bircher (2005) apud Carneiro et al (2010:11) a propor defini-
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lo como um estado dinâmico de bem-estar, caracterizado por um potencial físico e mental que
satisfaz as necessidades vitais de acordo com a idade, cultura e responsabilidade individual.
Contudo, optamos por nos basear no conceito trazido pela OMS, na medida em que acreditamos
que se adequa ao contexto actual, e não só, é um conceito generalista, pois não devemos olhar para
a saúde só na vertente de enfermidade, mas também devemos basear-nos em aspectos sociais tal
como referência a OMS.
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4. CAPÍTULO: ESTRUTURA E ORGANIZAҪÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE
SAÚDE
Neste capítulo iremos apresentar a organização do Serviço Nacional de Saúde, sua composição,
função e objectivos. Descreveremos também, a estrutura e organização do HGJM, que é o local de
estudo deste trabalho.
4.1 O Serviço Nacional de Saúde8
O SNS foi criado em 1975 através do decreto-lei nº 5/75, de 10 de Agosto, este é dependente do
Ministério da Saúde (MISAU), tem como principal objectivo colocar a saúde ao alcance de todos
Moçambicanos e de forma não discriminatória, refira-se que a mesma lei foi revogada pela actual
lei nº 25/ 91.
Assim, como refere o Artigo 2 da Lei nº25/91 o SNS:
Por composição, è o conjunto das unidades sanitárias de formação e outras, dependentes do
MISAU, incluindo as que foram nacionalizadas em conformidade com o Decreto-lei nº 5/75 datado
de 10 de Agosto, que concorrem para assistência sanitária à população.
O SNS prossegue os seus objectivos através de acções promotivas, preventivas, assistências e de
reabilitação recorrendo à formação e pesquisa como meio para o seu desenvolvimento contínuo.
As instituições do SNS tem funções de supervisão, fiscalização e de apoio técnico ás unidades que
lhes são de nível inferior, sejam elas do sector privado ou público e, na sua função de fiscalização
e inspecção, as instituições de SNS recebem delegação dos órgãos centrais, províncias ou locais
do MISAU.
8 O SNS foi criado no fim do regime colonial português, quando o Governo viu a necessidade de criar serviços de
saúde que fossem mais extensivos e inclusivos, que pudessem no entanto, chegar a todos pontos do país para que
todos moçambicanos pudessem se beneficiar dos serviços e estruturas do mesmo, já que antes da independência o
direito à saúde beneficiava aos colonialistas portugueses (Cortez, 2005: 22).
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De acordo com MISAU (2007:24), o SNS encontra-se organizado, por ordem crescente de
dimensão, em quatro níveis, designadamente: a) O nível primário, constituído pelos Centros e
Postos de saúde divididos em urbanos e rurais; b) O nível secundário, no qual encontramos os
Hospitais Distritais, Rurais e Gerais; c) O nível terceário, composto por Hospitais Províncias e
finalmente d) nível quaternário, representado pelos Hospitais Centrais da Beira, Nampula e de
Maputo. Fazem ainda parte do SNS os Centros de Higiene e Exames Médicos, Instituições de
Formação Profissional, Laboratórios especializados e Instituições de Pesquisa, bem como outras
instituições que venham a ser criadas ao abrigo do Diploma Ministerial n˚127/2002.
O Hospital em estudo enquadra-se no nível secundário, apoiando o nível primário quer quanto aos
problemas técnicos como organizacionais, cabe a este nível resolver os problemas mais
complexos, remetendo para os outros níveis de atenção (terciário e quaternário) a solução de todas
situações que ultrapassem o âmbito da sua competência. (Cortez, 2005:23).
Segundo Mosse e Cortez (2016:9), hospitais do nível secundário diferem das outras unidades
sanitárias do seu nível inferior, pelo facto destes servirem de referência para os seus níveis
inferiores, estes constituem o primeiro nível de referência para os doentes que não encontram
solução para as suas doenças nos centros de saúde das suas zonas influência.
No decurso da nossa recolha de dados, apercebemo-nos de que o HGJM tem mais
responsabilidades não só em relação aos níveis inferiores bem como dos outros Hospitais do
mesmo nível, na medida em que, quando estes níveis não conseguem responder com eficiência aos
problemas de saúde dos utentes, transferem seus utentes para o HGJM acrescentando-lhe maiores
responsabilidades quando comparado com os outros Hospitais da mesma categoria. Nosso
argumento é sustentado pelo relatório de 2016, da seguinte maneira:
"O HGJM desempenha funções do seu nível superior (terceário), quer pelas especialidades
existentes, quer pelo volume das actividades realizadas, quer ainda pelo número de utentes que
presta serviços" (pág:5).
Actualmente, como refere o MISAU (2001:16), prestação de serviços de saúde em Moçambique,
é feita por quatro tipos de prestadores:
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O sector público, agrupado no SNS é o mais abrangente geográfica e tecnicamente;
O sector privado, que divide-se em lucrativo, de presença quase exclusiva em zonas
urbanas, e não lucrativo constituído por organizações não-governamentais nacionais e
internacionais, com fortes ligações com o sector público;
Os prestadores de serviços ao nível das comunidades, cobrindo parcialmente as
necessidades básicas nas áreas sem a presença do SNS; e
Os praticantes da Medicina Tradicional, de grande aceitação ao nível das zonas rurais
(idem:2).
4.2 Estrutura Física e Administrativa do HGJM
4.2.1 Breve Historial do Hospital Geral José Macamo
O Hospital Geral José Macamo existe desde o ano de 1922, período em que foi edificado o primeiro
bloco. Em 1944, o mesmo foi ampliado com a construção de dois novos edifícios e dotado de uma
sala de operações e posteriormente inaugurado como Hospital privado sob tutela da Igreja
Católica, com o nome de Hospital de São José de Lhanguene (HGJM/ relatório anual das
actividades realizadas; 2016:5). Com o advento das nacionalizações em 1976, o hospital passou
para a gestão estatal e, passou a ser classificado como unidade sanitária de nível secundário
passando já a designar-se Hospital Geral José Macamo (HGJM/ relatório anual das actividades
realizadas; 2016:6).
Figura 1: Imagem da fachada principal do Hospital Geral José Macamo.
Fonte: digitalnoindico.blogspot.com (acessado no dia 12 de Agosto de 2017)
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Entretanto, o HGJM desenvolve actividades além do nível da sua classificação (nível terciário),
medindo pelas especialidades existentes, número de actividades realizadas e número da população
que serve. Recentemente, esteve em curso o processo de reabilitação do Hospital, cujas obras
tiveram início no mês de Maio de 2007. Paralelamente, estiveram igualmente a decorrerem obras
de ampliação do Centro de Saúde José Macamo, que foram concluídas e entregues em Janeiro de
2009 (HGJM/ relatório anual das actividades realizadas; 2015:5).
4.2.2 Localização Geográfica do HGJM
O Hospital, está localizado em Moçambique, na cidade de Maputo, Distrito Municipal
Nhlamaculo, Avenida OUA, número 1003. Com uma área de abrangência sanitária de 52km2 é
limitada no Norte pela Província de Maputo, concretamente a localidade de Michafutene e Distrito
de Marracuene; a Sul pela Baía de Maputo e Distrito de Matutuine- Bela Vista; a Este pelos Bairros
de Chamanculo, Xipamanine, Aeroporto, Mavalane, Albazine e Mahotas e por fim à Oeste pelo
Vale de Influlene. (HGJM/ relatório anual das actividades realizadas, 2016:5).
O HGJM é unidade sanitária de referência para nove centros de saúde e dois hospital gerais
(Hospital Geral de Chamanculo e de Infulene), distribuídos em vinte e quatro bairros que
correspondem a quatro zonas sanitárias, o hospital ainda presta assistência aos centros de
Bagamoyo, do Zimpeto, da Catembe, de Magoanine, Inhagoia, Incassane, Mutsécua e
Chamissava. Para além destas unidades, em função da sua localização também assiste a pacientes
provenientes de unidades sanitárias da província de Maputo e Matola (Idem, pág. 6).
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Figura 2: Mapa da localização geográfica do HGJM e sua área de Saúde.
Fonte: Imagem retirada do relatório anual das actividades de 2016, página 6.
Actualmente, o Hospital tem uma capacidade de internamento de 369 camas distribuídas da
seguinte forma: 70 na Medicina, 55 na Pediatria, 48 na Neonatologia, 70 na Cirurgia, 24 na
Ginecologia, 68 na Maternidade. Para além das referidas existem 34 camas nos serviços de
urgência que não são contabilizadas como camas de internamento (Idem, pág: 4).
No atendimento geral do Hospital, realizam-se consultas externas somente durante os dias úteis
da semana. Entretanto, os serviços de internamento compreendem várias especialidades tais como:
consultas de Medicina, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia, Otorrinolaringologia,
Dermatologia, Oftalmologia e Estomatologia.
Refira-se que estas consultas são assistidas por Médicos de clínica geral e especializados, o
Hospital oferece ainda, consultas de Psiquiatria, Fisioterapia e Nutrição, assistidas por Técnicos
especializados nas respectivas áreas. (Relatório das actividades de 2015:5). No que diz respeito a
caracterização das actividades, até 2016 o Hospital cobria uma população estimada de 446.125
habitantes. Contudo, para além destes, o HGJM continua a assistir utentes da província de Maputo,
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principalmente dos distritos localizados na zona sul da província e dos bairros que fazem limite
com a área de saúde do Hospital. (Relatório das actividades de 2016:7).
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25 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
5. CAPITULO: A PROBLEMÁTICA DA CORRUPÇÃO NO HGJM E SEU IMPACTO
NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE.
O capítulo 4, relativo à apresentação dos resultados. Este capítulo, compreende especificamente
a interpretação dos resultados obtidos no trabalho de campo, destacando os elementos que criam
oportunidades para ocorrência da corrupção, as causas, as manifestações e consequências da
corrupção.
5.1 Elementos que concorrem para o alastramento da corrupção no HGJM
Após a apresentação da estrutura organizativa do SNS, neste capítulo discutir-se-á as causas da
corrupção no sector em estudo, mas antes pretendemos trazer alguns elementos que concorrem
para os factores que facilitam o alastramento deste fenómeno no sector.
Portanto, a USAID (2005:6) defende que uma das razões que concorrem para a propagação da
corrupção no país tem a ver com a insuficiência da responsabilização por parte do Governo perante
os cidadãos envolvidos em actos de corrupção, um sistema que é facilitado por uma falta de
fiscalização dos órgãos competentes aliada a um sistema judicial que tende a colocar a política
acima da lei e, finalmente, pela falta da transparência na gestão da coisa pública.
Na mesma abordagem, Jardim (2013:10) realça que a cultura de impunidade vigente na maioria
dos países, onde a justiça é morosa e indivíduos que podem pagar bons advogados não passam
muito tempo presos ou mesmo não são punidos acaba facilitando a ocorrência e práctica da
corrupção. É evidente, que para estes autores a manutenção dos elevados índices de corrupção
resulta da certeza da impunidade dos que praticam actos fraudulentos, já que raramente estes casos
são punidos. Assim, entendemos que existe um excesso de oportunidades para envolver-se em
actos corruptos aliada a certeza da impunidade e falta de moral tanto por parte dos utentes como
dos funcionários do HGJM.
Uma das perguntas patentes no nosso inquérito, era ligada a essa questão das punições aos
funcionários quando fossem denunciados ou flagrados, as respostas dos dois lados não deixaram
dúvidas de que existia falta de responsabilização. Uma enfermeira geral afecta na Maternidade
focou neste aspecto de falta de responsabilização nos seguintes termos:
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26 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
" Alguns colegas metidos nestes esquemas, são por muitos de nós conhecidos, mas nada acontece
com eles, eu mesma pelo facto de um colega ter feito uma cobrança a um familiar meu (sem
conhecimento) chamei-lhe atenção e comentei com a chefe da equipa, mas nada lhe aconteceu,
nem suspenso foi" (Entrevista de 25 de Abril, as 13h45).
Hermenegildo Timana, também falou-nos da falta de responsabilização dos que praticam, da
actuação em rede e da predisposição do funcionário em fazer a cobrança ilícita aliada a
predisposição do utente em pagar o suborno, acrescentou ainda o problema da fraca capacidade do
Estado em melhorar os salários dos funcionários públicos, e por último a fraca formação dos
prestadores dos serviços de saúde que acaba prejudicando a qualidade dos serviços que nos
prestam como coeficientes que facilitam o alastramento da corrupção (Entrevistado no dia 11 de
Maio as 13horas, no GCCC).
E finalmente Edson Cortez9, mencionou a falta de exemplos dentro do próprio sistema "…A falta
de exemplo faz com que alguns funcionários tenham a percepção de que os seus superiores usam
seus cargos para proveito pessoal e consequentemente os valores de toda cadeia começam a
desvirtuar-se" (Entrevistado a 8 de Junho de 2017).
A lei nº 6/2004 de 17 de Junho (Lei Anti-corrupção) faz referência especial à duas formas de
corrupção: i) a corrupção passiva para acto ilícito e a ii) corrupção activa para acto ilícito, portanto,
na situação descrita pela enfermeira, estamos diante da corrupção passiva, que é a ofensa cometida
pelo funcionário que recebe o suborno, em contrapartida, quando a corrupção parte do utente,
estamos perante a corrupção activa para acto ilícito, que seria a ofensa cometida pela pessoa que
promete ou oferece o suborno.
Recorremos então, aos relatórios do HGJM a fim de nos inteirar dos números relativos ás punições
de casos corruptos onde foram aplicadas medidas disciplinares como advertências, repreensões,
demissões e expulsões aos infractores, constatamos que em 2014 houve um total 12 medidas
disciplinares contra 13 e 8 de 2015 e 2016 respectivamente.
9 Investigador associado do Centro de Integridade Pública (CIP).
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27 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Quando questionamos a chefe do SUR sobre o tratamento de casos envolvendo corrupção,
respondeu-nos:
"Situações contrárias ao regulamento em vigor neste Hospital são encaminhadas a Direcção do
Hospital e dependendo da gravidade do caso, encaminhamos aos Recursos Humanos de lá saem
decisões como advertências e repreensões, quando o caso for grave os Recursos Humanos
passam-no á Direcção de Saúde da Cidade de Maputo daí pode resultar em demissão ou expulsão
do aparelho do Estado" (Enfermeira Dina, entrevistada a 21 de Abril de 2017).
5.2 Natureza das Estruturas de Incentivos e Motivação
Após identificar os factores que explicam o alastramento deste fenómeno, vamos asseguir discutir
os factores precedentes, ou seja, as circunstâncias dentro das quais manifesta-se a corrupção no
sector da Saúde, e consequentemente no HGJM.
Num estudo sobre avaliação da corrupção em Moçambique, a USAID considerou que uma das
causas da corrupção no sector da saúde está ligada à falta de controlo e fiscalização por parte dos
órgãos competentes, associado a falta de transparência e acesso limitado a informação. O
documento, faz também menção à cultura de impunidade que reina sobre a corrupção, já que este
fenómeno é visto como sendo uma actividade de baixo risco mas de grande recompensa pelos
praticantes (USAID, 2005:1).
Por sua vez, Klitgaard (2000:34) considera que a corrupção é resultado do monopólio do poder,
mais o poder discricionário10 dos funcionários, menos a responsabilização. Entendemos que esta
expressão enquadra-se no contexto Moçambicano, na medida em que:
O poder discricionário dos funcionários públicos não é controlado, as leis são pouco
respeitadas;
10 Segundo Bobbio et all (1998), refere-se a prerrogativa legal conferida à Administração Pública para a prática de
determinados actos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. Em
outras palavras, trata-se da liberdade de acção na Administração pública dentro dos limites estabelecidos por lei.
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28 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
O poder encontra-se altamente concentrado num único partido e poucos grupos da
sociedade são razoavelmente capazes a ponto de contestar o poder desse partido; e
Assiste-se pouca responsabilização dos funcionários perante os cidadãos (Klitgaard,
Maclean-Abaroa e Parris, 2000:23).
Macuane (2006:7), reforça a ideia defendida por Klitgaard ao resumir as causas da corrupção na
seguinte equação:
C (corrupção) = M (monopólio) +Discrição – A (accountability)
A equação mostra também que a corrupção depende do monopólio e do poder discricionário que
os funcionários públicos possuem, combinados a existência de fracos mecanismos de prestação de
contas, tais como: sistemas administrativos e financeiros frágeis assim como instituições e
agências de controlo, fiscalização e supervisão ineficientes.
Finalmente, Jean-F-Médard (1998) apud Cortez (2005:19) defende que a principal causa para
ocorrência da corrupção em África é a falta de distinção entre a esfera pública e privada, e esta faz
com que aqueles que estão incumbidos de gerir o bem público tenham por vezes a propensão de
usar estes bens para proveito próprio. A partir desta constatação, surge o discurso segundo o qual
a corrupção floresce em África devido ao neo-patrimonialismo, já que o detentor do poder olha
para o Estado como sua propriedade privada.
No sector da saúde, em particular no HGJM, segundo as informações que colhemos com os
funcionários bem como com os utentes, as práticas corruptas são explicadas através dos seguintes
factores:
5.2.1 Baixa Capacidade Institucional do SNS
Segundo Cortez (2005:7), a baixa capacidade institucional constitui uma importante dimensão na
fragmentação do Estado, o que estimula uma má governação, na medida em que os funcionários
públicos a partir dessa fraqueza institucional criam sempre mecanismos para tirar vantagens ao
seu benefício em pequena e grande escala, isto é, a fraca institucionalização ao nível do Estado,
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29 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
contribuí no geral para a desmoralização dos funcionários públicos levando a que alguns deles
escolham a corrupção como alicerce para a sua sobrevivência. No caso do HGJM, essa fraqueza
institucional evidenciada pelo SNS reflete-se numa infinidade de problemas, sendo de destacar as
dificuldades de ordem material, humana e financeiras. O relatório do HGJM de 2015, confirma o
nosso argumento acima ao apontar problemas como: insuficiência de pessoal (Médicos,
Enfermeiros e pessoal serventuário), insuficiências de recursos materias e medicamentos e
consequentemente demora na transferência de doentes, chegando a ficar em estado crítico
impossível de reverter e finalmente falta de macas e cadeiras de rodas para doentes (pág. 39). Essas
situações descritas, evidentemente que criam condições para o utente procurar aliciar o funcionário
a fim de ver sua situação resolvida o mais breve possível.
5.2.2 Baixos salários
Jackman e Mantinola (2002) apud Power e González (2003:65) atribuem o aumento do
comportamento corrupto na função pública aos baixos salários auferidos, na sua acepção estes
criam incentivos para o envolvimento em práticas corruptas. Na mesma ordem, a USAID
(2005:33), afirma que os baixos salários11 estão na origem da extorsão dos doentes e de pedidos
de pagamentos ilícitos, o facto de o MISAU pagar incentivos e bónus a alguns funcionários acaba
criando uma variação extrema na remuneração total dos Técnicos de saúde. Notamos, que durante
as nossas entrevistas 77% dos funcionários focou repetidamente neste aspecto, a título de exemplo
uma servente revelou-nos:
"Eu recebo menos de 4.000, 00 Mt aqui, tenho 3 filhos que estudam, precisam vestir e comer, Acha
que um paciente ou familiar quiser-me oferecer alguma gratidão por causa do meu trabalho devo
negar? Nós aceitamos dinheiro dos pacientes aqui porque recebemos pouco, as vezes o paciente
dá-nos sem termos pedido. As vezes esse pouco demora, hoje é dia 30 e salário ainda não recebi"
(Entrevista com uma enfermeira geral afecta no Banco de socorros, 30 de Maio de 2017 as 08h43).
11 Não conseguimos ter acesso a tabela salarial do HGJM, mas segundo uma enfermeira afecta no Banco de
socorros, um Servente recebe aufere 3.000 meticais, um Enfermeiro básico 5.000, um médio 7.000 meticais e um
Médico especialista cerca de 30.000 meticais (entrevista a 19 de Outubro de 2017).
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30 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
As alegações dos baixos salários auferidos na função pública tem muito consenso a nível dos
escalões inferiores da estrutura administrativa, mas o mesmo não se pode dizer com relação ao
outro escalão, isto é, a classe superior aos Serventes e Enfermeiros refuta a ideia que relaciona os
baixos salários à corrupção, vejamos o seguinte testemunho de um dos chefes do banco de
socorros:
"Há indivíduos aqui gananciosos, que gostam de um padrão de vida que não se adequa a sua
realidade financeira, acabando por criar vícios que nem o próprio salário suporta. Então penso
que o baixo salário auferido não só na saúde como ao nível de toda função pública não deve ser
encarado como dinamizador da corrupção, se não todos aqui seríamos corruptos, mas temos uma
deontologia profissional que temos que seguir".
E finalmente Hermenegildo Timana comentou sobre esta questão nos seguintes termos:
" Essa desculpa de baixos salários para justificar actos ilícitos prefiro substituir por falta de
patriotismo, falta de ética e postura profissional. Só um individuo com ambição desmedida se
envolve em actos assim de incumprimento da lei".
No dia 13 de Junho de 2017 o jornal electrónico @verdade Mobile12, escreveu que em
Moçambique as categorias mais mal pagas, eram curiosamente dos sectores mais importantes
(Agricultura, Educação e Saúde). Evidentemente, o sector em estudo consta na lista e o mais
curioso é que quem mais trabalha pouco ganha, o aspecto relacionado às condições físicas da
estrutura hospitalar e às condições de trabalho, foi durante as entrevistas muito relatado pelo que
percebemos que existia muita precariedade nas condições de trabalho, bem como falta de
equipamentos e de matérias para realizar determinados procedimentos tais como material para
fazer curativos nos doentes.
12 @verdade Mobile acessado a 08 de Agosto de 2017.
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31 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
5.2.3 Fraca Presença de Inspecções e Sanções
Em Moçambique, a instituição central de prestação de contas no SNS é o MISAU, e dentro deste
existe a Inspecção Geral da Saúde (IGS). Este órgão, de acordo com MISAU (2013:110), tem
como função garantir a fiscalização do funcionamento do SNS, particularmente no que respeita a
legalidade dos actos, a eficiência e rendimento dos serviços. Compete igualmente a IGS, estimular
a melhoria da qualidade de prestação dos serviços aos diversos níveis de atenção médico-sanitária,
através da promoção da implementação das normas de garantia de qualidade, participar na
fiscalização do exercício das profissões médicas, farmacêuticas e paramédicas. Portanto,
entendemos que a IGS contribuiu significativamente para melhoria da prestação de serviços de
saúde, então a sua fraqueza põe em risco a eficácia do seu desempenho, podendo desencadear a
corrupção. Entretanto, note-se que a fraqueza institucional a que nos referimos antes, é um
calcanhar de Aquiles para este órgão. O Plano Estratégico do Sector da Saúde (PESS), refere-se a
este aspecto nos seguintes termos:
…" a fraca capacidade institucional resultante da escassez de recursos humanos, quer qualitativa
quer quantitativa, a falta de instrumentos adequados de trabalhos e as deficiências no quadro
legal do sector, emperram o desempenho eficaz da IGS, consequentemente, a IGS concentra-se
somente nos aspectos administrativos…" (MISAU, 2013:95).
No sector em estudo, os actos tendentes a corrupção são frequentes, ganhando mais prática devido
a falta de uma fiscalização eficaz, em diversos sub-sectores que o compõem. Pois os funcionários
o praticam com uma ligeira segurança, já que os funcionários sabem que as chances de serem
flagrados são poucas.
5.3 As contravenções identificadas no HGJM
Nesta secção, a pergunta que procuramos responder é:
De que maneira é praticada a corrupção no HGJM, e atendendo o facto de que o tema envolve
algum secretismo tentamos abordá-lo com os nossos entrevistados com certa suavidade. Como
mencionamos anteriormente, existe a corrupção activa e passiva e ambas existem no HGJM,
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32 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
constatamos que de 2014 à 2016 o Gabinete do utente fez o registo de um total de dez reclamações
em 2014, cinco em 2015 e dezasseis em 2016 de casos envolvendo corrupção aliado ao mau
atendimento hospitalar segundo explicou-nos a Técnica Emília13 (Entrevistada 06 de Junho de
2017).
Reiterar, que notamos uma disparidade entre a informação dada pela Técnica e a que constava no
livro de reclamações, pois, a Técnica revelou-nos um total de cinco reclamações registadas em
2015, mas constatamos doze quando tivemos acesso ao livro referente a esse ano, do qual
extraímos a seguinte reclamação:
"Aqui somos mal tratados e atendidos tarde, principalmente quando não temos o dinheiro de
refresco…quem paga até parece que está numa clínica" outra reclamação do mesmo ano e
coincidentemente mesmo dia, dizia: " ficamos horas e horas numa fila que não anda, enquanto
eles conversam dentro dos gabinetes ou mexem celulares…não se importam se tem alguém aqui
a gemer ou não…falta humanismo no atendimento neste centro".
A Técnica Emília abordou a questão referente as reclamações acima do seguinte modo: "o
problema dos utentes quando chegam aqui é de quererem ser atendidos imediatamente, por
exemplo nos feriados e finais de semana o fluxo de utentes é maior quando comparado com outros
dias, as vezes só estão de serviço 2 Técnicos e 1 Médico no consultório, e para atender muitos
utentes em pouco tempo fica complicado", refira-se que segundo a nossa entrevistada o SUR é o
departamento mais reclamado (entrevista do dia 02 de Junho de 2017, as 13h00).
Das informações que obtivemos no Gabinete do utente, um problema que tem servido de ponte
para as oportunidades e manifestações da corrupção no HGJM despertou-nos atenção, que é o da
insuficiência de Médicos, problema descrito como constrangimento nos relatórios de 2014 à 2016
respectivamente. Entretanto, notamos que a insuficiência de Médicos tem estado na origem das
longas filas, acabando por criar condições para que enfermeiros e serventes se aproveitem da
situação da morosidade para se envolverem em situações de cobrancas ilícitas com os utentes
desesperados para serem atendidos.
13 Técnica afecta no Gabinete do utente do HGJM.
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33 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
A maioria dos nossos inqueridos confirmou que existia sim corrupção naquela unidade sanitária,
e que tanto os funcionários assim como utentes estavam envolvidos, visto que quando não era o
funcionário a exigir "indirectamente" algo em troca para prestar os cuidados de saúde era o próprio
utente ou seu familiar a oferecer. Perguntamos aos funcionários se receber algo em troca de um
serviço prestado sem ter exigido era corrupção?
Dos Enfermeiros e Serventes inquiridos 77% respondeu que não consideravam corrupção, embora
reconheçam que seja errado, mas ainda assim recebem. Mas afinal quais foram as infracções
identificadas ao longo da recolha de dados?
5.3.1 O suborno/Cobranças Ilícitas
O suborno ou cobrança indevida foram as formas de corrupção mais referidas que identificamos
no campo. Refira-se que são também consideradas as mais comuns a nível do sector público
(PNGC, 2010:82).
Mosse & Cortez (2006:17) definem suborno como o pagamento (em dinheiro ou espécie) que é
feito numa relação de corrupção, trata-se de uma soma fixada sobre forma de favorecimento em
dinheiro ou espécie. Entretanto, percebemos que a corrupção manifesta-se de variadas formas
dependendo da interacção que se venha estabelecer entre os actores envolvidos (funcionário e o
utente). Assim, neste trabalho usamos o termo suborno para referir a situação na qual um utente
oferece dinheiro ao funcionário visando a obtenção de favores ilícitos, e o termo cobrança ilícita
para o caso em que um funcionário aceita dinheiro ou outras vantagens a troco de favores ilícitos.
Durante o nosso ascultamento, identificamos casos semelhantes, como foi o caso da paciente que
encontramos na fila do laboratório, que disse-nos:
"Fui diagnosticada miomas, e no Hospital informaram que precisaria de duas pessoas para doar
sangue a meu favor, procurei sem sucesso dois doadores, até que conversei com o Técnico para
ver como poderia ajudar, eis que ele disse que me poderia vender sangue a 4.000 Mt " (Utente
entrevistada no laboratório, a 14 de Fevereiro de 2017, as 15h02).
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O caso patente acima, mostra exemplos de casos muito comuns que acontecem no Laboratório do
HGJM, venda clandestina de sangue que tem sido doado por indivíduos de forma voluntária e
gratuita. Dados fornecidos no Laboratório do HGJM, davam conta de que em 2015 foram colhidos
cento e vinte e cinco mil e seiscentos e dezoito unidades de sangue, no entanto 55%
correspondentes a doações feitas voluntariamente, contra 45% de reposição, isto é, quando os
indivíduos doam para familiares ou amigos.
No entanto, questionados os pacientes porquê pagavam para terem acesso a um serviço no
Hospital, eis que um respondeu-nos nos seguintes termos:
"Eu pago para não levar o dia todo aqui no Hospital, porque por mais que cheguemos cedo sempre
demoram para nos atender, quando não pago fico o dia todo aqui e eu trabalho não posso passar
o dia no Hospital por causa de uma simples consulta". (Utente entrevistado no SUR, a 14 de
Fevereiro de 2017, as 14h00).
A paciente que encontramos no laboratório, que pagou pelo sangue, respondeu-nos que havia pago
para que seu processo fosse tramitado com maior brevidade possível, já que sem pagamentos
alguns processos são deixados para último plano, ou por vezes perdidos.
Das declarações que mencionamos acima, percebemos que em alguns casos são os utentes que
tomam a iniciativa de subornar na esperança de receber um melhor atendimento, eficiente e mais
rápido. Portanto, a maioria que confirmou que pagou suborno justificou problemas como o mau
atendimento que passam quando não pagam, morosidade no atendimento e a falta de orientação
sobre a que serviço dirigir-se como situação que tem favorecido que estes actos aconteçam com
mais facilidade, portanto a maioria encara o suborno como um mecanismo para que seus processos
clínicos tenham um devido encaminhamento.
5.3.2 Desvio e Roubo de Medicamentos
Outra forma comum que constatamos foi o desvio de medicamentos, mas importa referir que do
ponto de vista legal, como afirmam Mosse e Cortez (2006:18), o desvio de medicamento não é
considerado corrupção. Porém, decidimos incorporar esta variável no nosso trabalho devido à
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35 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
repercussão que este acto tem tido na qualidade dos serviços prestados. Muitos utentes queixam-
se da falta de medicamentos no HGJM, durante uma entrevista que fazíamos na sala da pequena
cirurgia à um enfermeiro geral, assistimos uma situação em que uma mãe que trazia sua filha
menor padecendo devido à queimaduras, teve de comprar o medicamento no técnico que a atendeu
no valor de 75 Meticais, enquanto que em norma o medicamento devia estar disponível na
Farmácia do Hospital a um custo de 5 Meticais. Eis que a senhora conta como chegou a esse ponto:
…" Cheguei aqui na madrugada da sexta -feira totalmente desesperada porque minha filha sofreu
queimaduras, fui atendida naquela sala e passaram-me a receita com 3 medicamentos, dos quais
só tive paracetamol na farmácia daqui do hospital, mas antes o enfermeiro que me atendeu tinha
dito que caso não apanhasse esses medicamentos na farmácia ele poderia ajudar" ( Mãe de uma
paciente, entrevistada a 25 de Abril, em frente à sala de pequena Cirurgia –SUR).
O que acontece é que alguns funcionários do HGJM usam a facilidade que tem no acesso ao
armazém onde são guardados os medicamentos para os desviarem e fazerem disso um negócio a
nível do hospital bem como fora do mesmo, tornando-se numa das fontes de rendimento destes,
esta prática é mais comum entre os Serventes e Enfermeiros segundo o que apuramos no campo.
O desvio de medicamentos representa grandes perdas financeiras para o SNS e afecta
negativamente na qualidade dos serviços de saúde prestados a nível dos Hospitais. Em uma visita
feita pela titular da pasta, Nazira Abdula, aos Hospitais públicos de referência na capital e a
Central de Medicamentos e Artigos Médicos (CMAM) a 31 de Maio, a Ministra reclamou
situações como medicamentos fora do prazo, quando as farmácias dos Hospitais registam
insuficiência de medicamentos, cobranças ilícitas, falta de higiene nos Hospitais, e longas filas nos
corredores resultantes de Médicos turistas14 (reportagem exibida na Miramar, na edição do fala
Moçambique, dia 31 de Maio de 2017 às 20h07). A USAID, focou este problema de desvio de
medicamento como uma indicação clara de uma grave falta de mecanismos de controlo adequados
(USAID, 2005:24).
14 Chamamos Médicos turistas, aqueles que chegam tarde aos Hospitais públicos atendem poucos utentes e vão
atender nas suas clínicas privadas.
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5.3.3 Utilização Indevida de Recursos Públicos
O uso indevido de recursos públicos, por parte dos funcionários do HGJM, principalmente os
Médicos15, foi também um dos comportamentos corruptos que constatamos ao longo da nossa
pesquisa. Este reflecte-se na utilização dos recursos existentes no Hospital público com o objectivo
de obter proveitos próprios, referimo-nos por exemplo aos recursos materias e aos medicamentos
das unidades sanitárias. Segundo Gonzalèz (2005:513), nos Países em via de desenvolvimento não
é invulgar constatar a apropriação de materias ou medicamentos do sector público para uso
diferente daquele que seria devido. Similarmente, é relativamente comum a utilização de
equipamentos públicos para prestar assistência a doentes privados em Hospitais públicos.
O cenário descrito acima, tem acontecido no HGJM, onde acompanhamos dois casos. Por um lado,
o caso de doentes que vinham sendo assistidos no privado mas que não dispondo de recursos
financeiros para continuar seu tratamento eram enviados para o Hospital público a fim de continuar
seu processo assistencial com o mesmo Médico encontrado na clínica e posteriormente no Hospital
público. Por outro lado, os doentes tem sido aliciados pelos Médicos a continuarem seu tratamento
no privado, alegando que lá poderão ter um melhor acompanhamento. Acreditamos que este
comportamento tem acontecido devido aos incentivos financeiros, quem nos explica isso é o
enfermeiro geral afecto no SUR, com o seguinte comentário:
"Os Médicos é que tem muito interesse nessa prática, principalmente porque alguns são
proprietários, sócios ou detentores de participações nas clínicas onde também trabalham, e note
que no sector público a remuneração é fixa, enquanto no privado vária em função da produção"
(entrevistado a 25 de Abril de 2017).
Entretanto, este mecanismo de natureza financeira é que tem reforçado o comportamento de desvio
de doentes do público para o privado. Quando falamos do uso indevido dos recursos públicos para
o privado, não há como não referenciar o problema do pluriemprego médico16 que está
directamente ligado a pretensão por parte dos Médicos de maximizar seus rendimentos. Segundo
15 No geral os Médicos metidos nestes actos são aqueles que trabalham em simultâneo no sector público e privado
da saúde. 16 Chama-se pluriemprego médico o desempenho pessoal em mais do que um trabalho remunerado. Mas interessa-
nos neste trabalho, focar o acúmulo de empregos na área da saúde.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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a USAID (2005:33), os Médicos podem ser funcionários em tempo inteiro do MISAU a
trabalharem em Hospitais públicos, enquanto exercem suas funções simultaneamente em clínicas
privadas, isso permite que estes recebam seus salários no sector público na totalidade, apesar do
facto de poderem estar a trabalhar em clínicas durante o seu horário de trabalho nas unidades
sanitárias estatais.
Para o PNGC (2010:33) esta política do Governo que permite o exercício simultâneo da medicina
privada e pública não tem surtido bons resultados, na medida em que tem causado problemas como
absentismo e conflito de interesses por parte dos Médicos.
Ora vejamos, acreditamos que essa opção política por parte do Governo apresenta reacções mais
negativas do que positivas. Mas importa-nos apresentar os efeitos adversos desta política, a
começar pelo facto de que os Médicos ao acumularem funções acabam provocando efeitos sobre
a oferta, os custos e a qualidade dos serviços prestados.
5.4 Consequências da Corrupção
As Consequências da Corrupção no sistema de saúde em Moçambique, particularmente no HGJM
serão arroladas neste parágrafo, mas antes gostaríamos de considerar, que segundo Guilherme
(2016:2) a origem do estado está directamente ligada com a sua finalidade, isto é, manter a ordem,
assegurar a defesa e promover o bem-estar e o progresso da sociedade, não podendo desse ideal
nunca se afastar, sob pena de não ser possível justificar sua própria existência.
A Constituição da República de Moçambique (2004) no seu artigo 11, alíneas C e E que passo a
citar, estabelece:
A edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual
e de qualidade de vida dos cidadãos;
A defesa e a promoção dos direitos humanos e a igualdade dos cidadãos perante a lei.
No entanto, tomando como base os princípios consagrados na Constituição da República, podemos
afirmar que a corrupção fere criminalmente a Lei-mãe, uma vez que afecta o bem-estar dos
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
38 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
cidadãos constituindo a causa na maioria das vezes da diminuição dos investimentos destinados a
saúde e demais sectores do governo fomentando assim a exclusão e desigualdade social.
Situações como subornos e desfalques do património público propiciadas pela corrupção afectam
directamente o desenvolvimento económico, político e social da população, a qual ao invés de
crescer de forma a obter melhorias na qualidade de vida, vê-se refém da pobreza e falta de serviços
públicos básicos (Guilherme 2016:4). Importa referir, que evidentemente a corrupção não acarreta
as mesmas consequências em todos os cidadãos, já que a condição económica do indivíduo tem
uma grande influência criando uma diferenciação significativa nos danos advindos deste mal. Ao
afirmar isso, não deixamos de reconhecer as consequências nefastas que a corrupção possa ter até
para indivíduos "com dinheiro", o que queremos dizer, é que as consequências são extremamente
diferentes. Nos países pobres a corrupção acentua a desigualdade, causa ainda mais a injustiça
social e não permite que políticas públicas sejam implementadas. A esse respeito Gordillo
(1997:32) afirma que em Países chamados de modernidade tardia, a corrupção propícia
consequências ainda mais danosas já que relaciona a pobreza e a exclusão a partir da falta de acesso
a serviços públicos essências, para o autor quanto maiores os índices de corrupção menores serão
as políticas públicas de implementação nos direitos sociais.
A UNODC (2015:2), aponta a corrupção como responsável pela diminuição de serviços, visto que,
desvia fundos destinados aos serviços básicos, principalmente cuidados de saúde, educação, acesso
e água potável, saneamento e à habitação. Entretanto, a corrupção envolvendo funcionários
públicos constitui um grande obstáculo à capacidade do Governo satisfazer as necessidades
fundamentais dos cidadão e, em países como Moçambique, onde a ajuda externa deveria melhorar
a qualidade de vida, a corrupção se torna uma barreira aos esforços da comunidade internacional,
consequentemente afasta os investimentos estrangeiros que temerosos dos riscos preferem não
investir.
Uma outra abordagem sobre as consequências da corrupção, nos é trazida por Huntington
(1968:17), onde o autor chama atenção ao facto da corrupção aumentar a ineficiência e morosidade
burocrática pois, cria um estímulo para a procura de novos e mais rendas ilícitas; impedindo a
modernização burocrática ao cristalizar o nepotismo e o clientelismo na gestão da coisa pública,
por consequência aumenta a despesa pública desproporcionalmente às receitas.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
39 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
A práctica da corrupção tem consequências desastrosas no sector em estudo, tais como
descredibilidade institucional, o que por sua vez reduz os investimentos na área da saúde e baixa
a qualidade dos serviços prestados, dado que, quem paga é quem tem bom atendimento, assim,
estatisticamente a maioria é prejudicada, e também constitui um entrave ao desenvolvimento do
País pois o Estado perde dinheiro que poderia ser investido para melhorar o próprio sector
(Entrevista com Hermenegildo Timana, 11 de Maio de 2017).
A corrupção constituiu, um objecto de estudo científico da sociedade, porquanto tem efeitos
reconhecidamente negativas, existe uma concordância entre os estudiosos acerca da sua
prejudicialidade, chegando a ser comparada frequentemente a um câncer que destrói o tecido
cultural, económico e político (Pagoto, 2010:71).
Um dos utentes inquiridos no Banco de socorros focou nos efeitos da corrupção nos seguintes
termos:
"A corrupção prejudica muito a nós pobres, pois por mais que cheguemos cedo sem dinheiro
somos atendidos tardiamente…a verdade é que o pessoal da saúde está desviado daquele que
deveria ser seu comportamento como servidores público, seus actos contrariam o legado segundo
o qual os utentes devem ser atendidos sem descriminação" (21 de Fevereiro de 2017).
Outro depoimento colhido na Maternidade focou no seguinte ponto:
"Existem casos de mulheres que optam por dar a luz em casa por saber que aqui sem dinheiro na
ponta da capulana o atendimento não será dos melhores, por isso ouvimos casos de complicações
pós parto tanto para mãe ou para o recém-nascido" (Entrevistada a 17 de Julho de 2017).
E por último ouvimos:
“Ir a um hospital público é um sofrimento, pior para quem não tem como pagar. Porque se não
tens como molhar a mão de alguém daqui passas o dia todo no hospital, a maneira como o servidor
te trata é totalmente diferenciada, faz nos pensar que estamos a pedir algum favor vindo aqui ˮ
(Entrevista a 17 de Julho de 2017).
Dos comentários acima, concluímos que no caso particular do HGJM, a corrupção tem prejudicado
significativamente os serviços de saúde e a própria imagem da instituição a nível dos utentes, e
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
40 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
notamos que os impactos desta práctica são ainda mais desastrosos para indivíduos desfavorecidos,
pois estes se deparam com problemas como a indisponibilidade de materias, equipamentos e
medicamentos e assim, não conseguem obter os serviços de que necessitam pois são obrigados a
pagar uma percentagem maior do que seus rendimentos para ter acesso a serviços que por lei
deveriam ser prestados a título gratuito ou a um valor mais baixo. Portanto, os utentes ficam
limitados dado que, não dispondo de dinheiro para pagar alguns tratamentos acabam pagando com
a própria vida com situações como maus tratos, amputamentos ou eutanásias, e note-se que na
maioria das vezes quem não tem condições de pagar tem sido o mais grave clinicamente. A nível
das mulheres grávidas, este fenómeno fomenta a ideia de que ir à maternidade do Hospital sem
dinheiro na ponta da capulana é o mesmo que pôr sua vida e a do seu bebé em risco, e acabam
optando pelo parto domiciliar, sem a devida assistência, as consequências destes partos são
inúmeras sendo de destacar hemorragias, lacerações devido ao material usado para o corte do
cordão umbilical, asfixia, traumatismo no recém-nascido causado pelas manobras mal feitas e no
caso mais extremo morte da mãe e/ou do recém-nascido. A falta de medicamentos causado pelo
roubo e desvio deste, faz com que alguns (aqueles que não tem condições de adquirir nas Farmácias
privadas) tenham sua situação agravada devido a não medicação apropriada o que põe em risco a
sua vida. O pessoal da saúde ao envolver-se nestes actos se desvia daquele que deveria ser seu
comportamento como servidor público engajado em salvar vidas, importa referir que este
comportamento não é generalizado mas sim de uma parte de funcionários e utentes do Hospital
Geral José Macamo.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
41 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
6. CAPÍTULO: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM UMA UNIDADE
HOSPITALAR- O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSЀ MACAMO
Os serviços de saúde pública e privado estão sofrendo mudanças e paradigmas, trazendo a
necessidade de optimização de processos e aumento de produtividade que resultem em melhor
atendimento e em menor custo. Porém, no sector público da saúde se tem debatido com os actos
de corrupção que de forma acentuada tem influenciado na qualidade dos serviços prestados.
Neste capítulo, procede-se a Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de
Saúde Prestados nos Hospitais Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-
2016). Para esta análise baseou-se, nos indicadores de qualidade de serviços prestados em unidades
hospitalares fornecidos pelo MISAU coadjuvados com as pesquisas bibliográficas, e nos
resultados nos inquéritos ministrados aos utentes do hospital em referência.
6.1 Indicadores de Qualidade dos Cuidados de Saúde prestados em Unidades
Hospitalares
Segundo o MISAU (2014:9), indicadores de saúde representam medidas sumárias que captam
informações, tidas em vários atributos e dimensões do estado do desempenho hospitalar, na
intenção de refletir a prestação dos serviços prestados e desempenho hospitalar.
Estes são instrumentos de avaliação que podem determinar, alterações directas ou indirectas, como
por exemplo a ocorrência de uma doença ou evento relacionado à saúde ou outro factor associado
a ele.
Portanto, existe ao nível do SNS vários tipos de indicadores, através dos quais é possivel avaliar a
qualidade dos cuidados de saúde nas unidades sanitárias, porém os indicadores gerais básicos de
avaliação são os indicadores de Estrutura e de Processo, já nos epecíficos podemos identificar:
indicadores de consulta externa, de urgência, de hospitalização, do centro cirúrgico, de serviço de
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
42 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
apoio, de imagiologia, farmácia, de resultados, de desempenho das actividades cirúrgicas, de
qualidade administrativa, etc (MISAU, 2014:8).
6.1.1 Tipos de Indicadores
segundo Donabedian apud (MISAU, 2014:10), o método para avaliar a qualidade da prestação de
cuidados de saúde pode ser aplicado a três elementos básicos: estrututura, processo e resultados.
Os indicadores de qualidade da estrutura: medem como os provedores de cuidados tem
organizado os recursos humanos e materias que dispõem para melhorar a saúde dos utentes;
Os indicadores de qualidade do processo: medem directa ou indirectamente, a qualidade
das actividades realizadas durante o atendimento aos utentes; e
Os indicadores baseados em resultados ou indicadores de impacto: medem o nível de
sucesso no utente, isto é, se os procedimentos realizados atingiram os objectivos ( idem:
10).
Entretanto, vamos nesta parte do estudo, privilegiar a avaliação da qualidade dos cuidados de saúde
prestados nas unidades sanitárias, em particular no HGJM, tendo como base os indicadores
fornecidos pelo MISAU (2014:19) porém, alguns, correspondentes somente aos anos 2015 e 2016.
Assim, para a avaliação neste trabalho, iremos priviligiar os indicadores de qualidade quanto ao
processo, onde destacam-se os indicadores de eficiência hospitalar e de qualidade hospitalar.
6.1.1.1 Indicadores de Eficiência Hospitalar
Neste tipo de indicador a avaliação é feita mediante a Taxa de Ocupação de Camas (TOC) o Indíce
de Rotação da Cama (IRC) e o Rendimento Médio de Cama (RMC).
A Taxa de Ocupação de Camas (TOC) corresponde a média de camas ocupadas em cada
serviço, departamento e em todo o hospital durante um determinado período, isto é, mede
em percentagem (%) o volume de doentes internados nas enfermarias dum determinado
hospital.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
43 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Entretanto, a taxa de ocupação de camas no HGJM, correspondia em 2014 cerca de 96%, contra
71 % de 2015 e 63 % correspondente ao ano de 2016 (HGJM/relatório anual das actividades
realizadas, 2016:34). No entanto, a OMS estabelece de acordo com o MISAU (2014:28), o padrão
entre 80% e 90% como Taxa de Ocupação de Camas, assim significa, que em 2014 o HGJM
excedeu os critérios estabelecidos pela OMS, apresentando uma média superior em 6%, deste
modo a eficiência hospitalar acabou influenciando na fraca qualidade dos cuidados de saúde
prestados a nivel dos internamentos. A seguir apresentamos o gráfico correspondente a Taxa de
Ocupação de Camas no HGJM:
Gráfico 1. Taxa de Ocupação de Camas do HGJM.
Fonte: Sides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação
de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:7).
Existe no entanto, uma disparidade entre os dados patentes no gráfico elaborado pelo MISAU, e
os dados que constam da tabela dos indicadores de qualidade elaborados pelo HGJM, o que
consequentemente põe em causa a interpretação e fiabilidade dos dados.
Indice de Rotação da Cama (IRC): tempo médio que cada cama demora a ser ocupada em
cada serviço, departamento e em todo hospital durante determinado tempo, isto é, o tempo
que a cama permanece vazia entre a alta e o subsequente internamento (ocupação) na
mesma cama.
Segundo o MISAU (2014:26) a OMS estabelece como padrão pelo menos um dia de IRC. Em
seguida, apresentamos o IRC do HGJM.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
44 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Gráfico 2: Taxa do Indice de Rotação de Cama do HGJM.
Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação
de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:10).
A interpretaçao deste gráfico, mostra que com relação a este ponto, o HGJM apresenta um bom
nível de qualidade, na medida em que, não excede o padrão estabelecido pela OMS, de referir que
o MISAU guia-se pelos padrões estabelecidos pela OMS já que correspondem ao padrão usado
em todos países integrantes da OMS.
Rendimento Médio da Cama (RMC): média de doentes que passam por cada cama em cada
serviço ou departamento, mede a utilização de uma cama durante um período determinado.
Entretanto, o modelo da OMS para o RMC ronda entre 40 a 50 doentes por cama num período de
um ano, todavia a realidade no HGJM correspondia a 88 doentes que passaram por cada cama em
2014, no ano seguinte 70 doentes e em 2016 uma média de 63 doentes por cama (HGJM/relatório
anual das actividades realizadas, 2016:34). Por sua vez, o MISAU apresenta o seguinte RMC para
o HGJM:
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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Gráfico 3: Taxa de Rendimento Médio por Cama do HGJM.
Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação
de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:16).
Notamos desta vez, convergência entre a informação fornecida pelo MISAU e pelo HGJM, relativa
aos dados númericos. Contudo, a que considerar que o HGJM não responde ao ideal traçado pela
OMS já que o número de doentes ultrapassa o estabelecido, e as implicações recaem na baixa
qualidade dos cuidados de saúde prestados a nível dos serviços de internamentos, já que são
caracterizados por superlotação e longa estadia de doentes nas camas de internamentos, o que
significa que o benefício da assitência médica não tem sido muito satisfatório para os pacientes.
6.1.1.2 Indicadores de Qualidade Hospitalar
Neste tipo de indicador a avaliação é feita através da Taxa de Mortalidade (TMOR) e da Taxa de
Mortalidade Materna por 100.000 nados vivos.
Taxa de Mortalidade (TMOR): relação percentual entre o número de óbitos que ocorreram
num determinado período, em relação ao número de pacientes que tiveram saída (por alta
clínica, abandono ou transferência, etc) no mesmo período, ou seja, quantifica o número
de óbitos numa determinada unidade sanitária.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
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No documento do MISAU, não se faz referência ao padrão da TMOR para hospitais do nível
secundário, somente apresenta-se 4% para o nível terceário e ≤ 6% para o nível quaternário.
Contudo, o relatorio de HGJM, menciona 5.6% de TMOR referente ao ano de 2014, 4.3% em
2015 e finalmente 4% em 2016 (HGJM/relatório anual das actividades realizadas, 2016:34). e
por outro lado o MISAU, apresenta os seguintes dados referentes a TMOR no HGJM:
Gráfico 4: Taxa de Mortalidade Hospitalar 2014 a 2016.
Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de
Planificação de Monitoria e Avaliação (MISAU).
Consideramos a TMOR muito alta levando em consideração que o HGJM é um hospital de
nível secundário, assim devido a elevada TMOR no HGJM consideramos que neste ponto os
cuidados de saúde são de qualidade baixa. Contudo, para o MISAU (2014:28) as taxas de
mortalidades não reflectem necessariamente problemas na qualidae dos cuidados de saúde
prestados aos pacientes, mas na maioria das vezes podem ser atribuíveis aos distintos perfis de
complexidade clínicas dos pacientes admitidos, isto é, importa levar em consideração o
historial clínico do paciente.
Taxa de Mortalidade Materna (TMM) por 100.000 nados vivos: corresponde aos óbitos
maternos por 100.000 nados vivos, isto é, estima a frequência de óbitos femininos,
ocorridos até 42 dias, após o término da gravidez, atibuídos a causas ligadas a gravidez e
ao parto em relação aos nados vivos. Este indicador é usado nos serviços da Maternidade,
e comporta, por sua vez, três critérios: i) a Taxa de cesarianas ocorridas (onde se calcula o
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
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número de cesarianas ocorridas contra o número de partos normais); ii) as Mortes maternas
( onde o padrão estabelecido é de 190 mortes por cada 100.000 nados vivos); e iii) os Nados
mortos com foco positivo17 (este deve inferior a 20%).
No HGJM a taxa de mortalidade materna, foi de 231 mortes por 100.000 nados vivos em 2014,
contra 218 mortes por 100.000 nados vivos em 2015 e finalmente 117 mortes por 100.000 nados
vivos no ano de 2016 (HGJM/relatório anual das actividades realizadas, 2016:34). O padrão da
TMM estabelecido pela OMS corresponde a 190 mortes por cada 100.000 nados vivos, contudo o
HGJM apresentou maior número de mortes, como mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 5: Taxa de Mortalidade Materna por 100.000 Nados vivos 2015-2016
Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação
de Monitoria e Avaliação (MISAU).
Os taxas elevadas apresentadas pelo HGJM revelam baixa qualidade na prestação de cuidados de
saúde materna, pois significam que o hospital está a oferecer cuidados de partos de baixa qualidade
e que as parturientes não tem sido assistidas de forma exaustiva.
Em muitos casos as parturientes reclamam mau atendimento devido a falta de pagamento de
subornos ao pessoal afecto na Maternidade, por isso, algumas acabam optando por partos
domiciliares que na maioria dos casos resultam em complicações pós-parto ou mortes maternas.
17 Refere-se aos casos de mulheres grávidas que chegam ao hospital com algumas complicações, mas ainda com o
fecto vivo, ao serem atendidas o fecto perde a vida.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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6.2 Qualidade na Prestação de Serviços de Saúde na Perspectiva dos Utentes do HGJM
O uso dos indicadores de qualidade, para avaliar as estruturas e os processos de prestação de
serviços de saúde, sem considerar os resultados obtidos pelos pacientes, não constitui uma
avaliação conclusiva para aferir com satisfação a qualidade dos serviços prestados. Deste modo
durante o trabalho foi monitorado um inquérito aos pacientes desta instituição de saúde.
O inquérito tinha como objectivo, aferir o nível de satisfação dos pacientes com relação aos
serviços prestados nesta unidade hospitalar, onde com as respostas dadas pelos utentes, agrupámo-
las em cinco (5) indicadores:
I) Rácio – Médico por Utente
Neste indicador, focamo-nos em perceber o nº de utentes na relação com o nº de Médicos
disponíveis. Essa configura-se como sendo a primeira questão a ser compreendida quando se
analisa a qualidade da prestação de saúde, tem a ver com nº de Médicos para determinado nº de
paciente. Segundo os relatórios do HGJM, o rácio de Médico por habitantes em 2014 e 2015 era
de 46 Médicos para 440.335 mil habitantes, e em 2016 foi de 70 Médicos para 446.125 mil
habitantes.
Em uma entrevista, a Enfermeira chefe do SUR, afirmou que nesse departamento trabalham 10
Médicos para um total de 400 utentes atendidos diariamente, sendo que antes da abertura do
Hospital Provincial da Matola o mesmo recebia cerca de 600 a 700 pacientes diariamente para
igual número de Médicos (Enfermeira Dina, entrevistada 20 de Abril de 2017).
II) Tempo de Espera Para Consulta
Chamamos tempo de espera o tempo percorrido entre a chegada do utente ao Hospital até a
marcação da consulta, culminando com a entrada no consultório do médico. Quando o utente se
faz ao Hospital, para ser atendido deve antes pagar a senha, no valor de 1 Metical, neste local o
utente é feito questões como (nome, idade, bairro, doença, etc.) posteriormente é encaminhado a
fila onde deverá esperar para ser atendido.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).
49 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Então, Perguntamos aos utentes quanto tempo levavam desde a marcação da consulta até a entrada
no consultório, dos cinquenta utentes entrevistados quarenta e um responderam que levavam mais
de 2 horas, significa que 82% da nossa amostra classificou o tempo de espera nas seguintes termos
(longas filas, e morosidade no atendimento). Perguntamos também, que critérios eram usados por
forma a gerir a questão do atendimento aos pacientes, e que Mário Mondlane18 respondeu-nos que
controlavam através do sistema de Triagem Manchester19. Asseguir apresentamos o sistema:
Tabela 1. Triagem Manchester
PRIORIDADE
COR
TEMPO DE ESPERA DO PACIENTE (minutos)
EMERGENCIA 0
MUITO URGENTE 15
URGENTE 60
POUCO URGENTE 120
NÃO URGENTE 240
NÃO CLASSIFICÁVEL
Fonte: Tabela adaptada da Imagem capturada na vitrina do Banco de Socorros do HGJM, a 20 de
Abril de 2017.
De acordo com um dos nossos inquiridos este sistema tem uma fraca aplicabilidade, pois, não
funciona efectivamente devido aos problemas que mencionamos acima, exceptuando casos graves
como: acidente de viação, acidente de trabalho, violência doméstica, mordedura animal, e
envenenamento. (Utente entrevistado no SUR a 20 de Abril de 2017, as 18h43).
18 Técnico de saúde afecto no Banco de Socorros, em uma entrevista a 26.04 de 2017. 19 Triagem Manchester é um sistema de triagem de prioridades que utiliza um protocolo clínico que permite
classificar a gravidade da situação de cada paciente que recorre ao SNS.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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50 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
III) Tempo Disponível para Atendimento
Neste indicador, procuramos classificar o tempo que o médico dedicava-se para cada paciente a
fim de ter um bom diagnóstico. A este propósito a OMS (2010:345) determina que o tempo médio
para cada consulta deve ser de 15 minutos, ou seja, 4 pacientes por hora.
Um sonho distante para a realidade que se vive no HGJM, pois as consultas nos gabinetes dos
Médicos não duram nem 10 minutos, o que por vezes provoca um erro no diagnóstico e
consequentemente um prescrição de remédios errada. Quando fazíamos recolha de dados no
campo, dedicamo-nos um dia a acompanhar algumas consultas no Banco de Socorros a fim de
controlar o tempo que cada doente passava no gabinete com o Médico. Os resultados foram
surpreendentes, as consultas foram tão rápidas que a maioria dos pacientes saiu do gabinete sem
ter percebido a receita, pois segundo os pacientes o Médico explica rápido que fica difícil
memorizar, também notamos que quando o atendimento é rápido o Médico não tem tempo
suficiente para avaliar com precisão necessária a receita que prescreve, acabando por prescrever
medicamentos sem ter em conta os efeitos adversos do medicamento no paciente.
IV) Acesso aos Medicamentos
A falta de medicamentos nas farmácias dos hospitais públicos constituí um problema de grande
preocupação a nível dos utentes dos mesmos pelo que o acesso aos fármacos constituí motivo de
muita alegria para quem depende destes. Incorporamos este indicador dado que foi diversas vezes
mencionado pelos nossos inquiridos, que chegaram a chamar de sorte sair do Hospital com todos
medicamentos da prescrição médica. O mais comum tem sido sair do Hospital só com paracetamol,
tendo o utente que adquirir outros em farmácias privadas, o que muitos não conseguem devido a
dificuldades financeiras, por isso que os utentes consideram o acesso aos medicamentos como
importante indicador de qualidade na prestação de serviços.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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51 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
V) Nível de Satisfação do Utente
Este critério está associado ao modo como o utente é atendido na sua generalidade, englobando
alguns aspectos já mencionados bem como outros a serem explicados asseguir.
No entanto, para atingir nosso objectivo, recorremos novamente ao inquérito por questionário, o
que permitiu avaliar o nível da satisfação do utente e o grau da qualidade apercebida na prestação
dos cuidados de saúde. Cientes de que não existe uma classificação padrão para medir o nível de
satisfação do utente usamos uma escala com a seguinte estrutura: o que acha da qualidade dos
serviços de saúde prestados neste Hospital? " Muito bons", "Bons", "Suficientes" ou "Maus".
Foi, no entanto, como já referimos, escolhida uma amostra de cinquenta utentes questionados nos
três departamentos, a avaliação da satisfação incidiu sobre as seguintes variáveis: humanização na
prestação dos serviços, tempo de espera para consulta, tempo para atendimento, acesso aos
medicamentos, as instalações físicas do HGJM, bem como a questão ligada ás condições das salas
de espera e a higiene do Hospital, em particular dos sanitários. Portanto, dos utentes nenhum
considerou os serviços do HGJM como muitos bons, mas 5% considerou como bons, 40% como
suficientes e o remanescente 50% como maus.
A partir das respostas dos utentes concluímos que o nível de satisfação do utente com relação ao
atendimento hospitalar tem de comportar aspectos como: rapidez no acesso aos cuidados, garantia
de cuidados de qualidade, instalações em boas condições de higiene, conforto, acesso aos
medicamentos, respeito pelas suas preferências, informações claras sobre a administração dos
medicamentos, apoio emocional, empatia e respeito pelas condições sociais e económicas dos
utentes. Em suma, o utente tem de ter uma resposta da pretensão que o fez ir ao Hospital e ter o
resultado que espera, esses aspectos seriam o cumprimento daquilo que o utente espera do
Hospital.
A unidade hospitalar em estudo, dispõe de uma planilha com a qual avalia o nível de satisfação
dos serviços que presta ao utentes, com a qual se tem como referência para a elaboração de
relatórios de qualidade de serviços prestados.
ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS
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52 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura
Tabela 2. Indicadores de Eficiência, Qualidade e produtividades
DADOS E INDICADORES GERAIS 2014 2015 2016
POPULAÇÃO 440.435 440.435 446.125
RECURSOS
N.º Total de Camas 357 357 335
N.º Total de pessoal no Hospital 601 601 650
N.º Total de Pessoal Clínico 65 65 83
N.º Total de Pessoal Administrativo 65 65 67
N.º Total de Médicos 46 46 70
N.º Total de Enfermeiros 155 155 177
Rácio Médico/habitantes 9.575 9.575 6.374
Camas por Médico 8C/M 8C/M 5C/M
Camas por Enfermeiro 2 C/E 2 C/E 2C/E
Despesas Totais Hospital 174.553.798,92 174.553.798,92 148.257.432,00
Custo médio por cama/dia 1.891,00Mt 1.891,00Mt 1.458,52 Mt
Custo médio por DCO 180,00Mt 180,00Mt 175,05 Mt
ACTIVIDADE
N.º de Consultas Urgência 116.745 107.731 105.008
N.º de Consultas Externas 55.198 59.581 53.447
N.º Total de Altas 26.723 25.033 21.241
Dias de Camas Ocupadas (DCO) 106.439 92.295 77.498
N.º Total de Óbitos 1.498 1.069 858
N.º Total de Operações Grande Cirurgia 5.986 5.366 5.229
N.º Total de Cesarianas 4.200 3.764 3.233
N.º de Partos 13.772 12.424 9815
EFICIÊNCIA, QUALIDADE E
PRODUTIVIDADE
Taxa de Mortalidade Hospitalar 5.6% 4,3% 4%
Taxa de Mortalidade Materna (Inst) 213/100000NV 218 por 100000 NV 11/100000NV
Taxa de Ocupação de Camas 96% 71% 63%
Tempo Médio de Internamento 4 Dias 4 Dias 4 dias
Rendimento por Cama 88 d/c 70 d/c 63d/c
N.º de operações de Grande cirurgia/cirurgião 272 297 276
Fonte: Departamento de Estatística do HGJM.
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7. CAPÍTULO: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
7.1 Conclusões
Neste trabalho propusemo-nos a analisar os impactos que a corrupção tem acarretado sobre a
qualidade dos serviços de saúde prestados no Hospital Geral José Macamo, no mesmo avançamos
com a hipótese segundo a qual a corrupção afecta significativamente na qualidade dos cuidados
de saúde prestados no HGJM, visto que prejudica a camada pobre da população, criando vantagens
injustas para alguns e reduzindo as perspectivas para os pobres ao acentuar as desigualdades no
acesso aos cuidados de saúde.
Apuramos no decurso da nossa investigação que a corrupção no HGJM é uma realidade, sendo
que as causas que evidenciamos foram a fraca capacidade institucional do SNS que resume-se
numa carência ao nível de recursos materias e humanos criando constrangimentos que fomentam
a corrupção, realçamos também a questão dos baixos salários auferidos no sector e finalmente a
fraca presença de inspecções no HGJM o que dificulta que comportamentos corruptos sejam
descobertos e consequentemente sancionados.
Constatamos também, que as actuações mais comuns dos funcionários do HGJM resumiam-se em
cobranças ilícitas para acelerarem a prestação dos serviços, roubo e venda de medicamentos dentro
do hospital bem como no mercado informal criando défice para os utentes e por último o uso
indevido dos recursos públicos. Em termos de confirmação da nossa hipótese, no âmbito das
respostas obtidas ao longo da recolha de dados, verificamos que as consequências da corrupção
são realmente negativas na medida em que enfraquecem a qualidade dos serviços prestados no
HGJM, este cenário acaba criando uma certa discredibilidade na imagem do Hospital.
Reconhecemos também que para os utentes um serviço de qualidade é aquele que atende
perfeitamente, de forma confiável e no tempo certo as suas necessidades. Para medir a satisfação
dos utentes face a qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM, usamos cinco indicadores,
nomeadamente, o rácio Médico por paciente, tempo de espera para consulta, tempo disponível
para atendimento, acesso aos medicamentos e o grau de satisfação do utente, aqui notamos que
existia desagrado por parte dos utentes relacionado aos cinco indicadores e que estes incidiam
directamente num menor grau de satisfação.
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Os objectivos dos planos criados pelo Governo no que toca ao sector da saúde entram em
disparidade com aquilo que é a realidade no sector público da saúde, particularmente no HGJM,
os cuidados de saúde não apresentam uma qualidade aceitável e existe uma baixa humanização
dos serviços situações estas causadas pela generalizada e persistente corrupção. Por isso,
consideramos que quantos maiores os índices de corrupção menor será a qualidade dos serviços
de saúde prestados.
7.2 Recomendações
Melhoria na Gestão de Recursos Humanos no HGJM
No trabalho, mencionamos o problema da fraqueza do SNS, e uma consequência deste era a falta
de pessoal (Enfermeiros, Técnicos, e Médicos) nos Hospitais aliado também ao pluriemprego, tal
achamos que devia-se investir nos recursos humanos, aumento de pessoal que possa responder
melhor a demanda pelos serviços, ou seja, a quantidade de profissionais de saúde tem de ser ditada
pelas necessidades da saúde da população.
Mecanismos de Motivação do profissional de saúde
A satisfação dos utentes com relação a qualidade dos serviços prestados passa pela motivação do
profissional da saúde, então o Hospital precisa melhorar este aspecto relacionado a motivação
profissional, através da melhoria das condições de trabalho destes profissionais que trabalham
expostos á riscos de saúde através de subsídios e aumento salarial, pese o facto de termos
consciência de que um aumento salarial não implicaria menos corrupção, mas pensamos que um
aumento de incentivos e bónus levando em conta a dedicação e qualificação do funcionário poderia
minimizar esta situação. Uma das maneiras de diminuir a corrupção é aumentar os incentivos que
os funcionários recebem do Estado para motivar seu melhor desempenho nas suas actividades;
Introdução de práticas de gestão de recursos humanos baseadas no mérito e no desempenho para
a selecção, avaliação, promoção, e determinação do salário dos funcionários.
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Melhoria dos Mecanismos de Denúncia e Reclamações
Achamos que devia-se fazer palestras ao nível do Hospital para informar aos utentes sobre seus
deveres e direitos no que toca a saúde pública, é importante que os utentes tenham conhecimento
de que os serviços de saúde são por lei gratuitos ou de baixo preço, qualquer acto contrário a lei
por parte dos funcionários é punível nos termos da lei, mas também devem ser consciencializados
de que pagar suborno é crime também punível quando denunciado. Através destas informações os
utentes terão consciência de que é seu direito reclamar e denunciar casos que transgridem as
normas estabelecidas, pois a maioria encara a corrupção como algo normal, devem também existir
mecanismos de protecção a quem faz denúncia, seja utente contra um funcionário ou entre os
próprios funcionários, deve haver responsabilização criminal e civil.
Melhoria dos Mecanismos de Fiscalização e Controlo
Identificamos no trabalho o caso de roubos de medicamento gerando insuficiência destes nas
farmácias, para este problema achamos que deve existir um mecanismo rigoroso que controle de
stock dos medicamentos o que permitira que sua insuficiência fosse responsabilizada a quem de
direito. A supervisão nos hospitais deve ser significativamente fortalecida de modo a detectar
práticas de corrupção nas suas diversas formas isto só pode ser possível através da melhoria de
fiscalização e controlo do pessoal, do material hospitalar e medicamentos. Deve haver uma forte
presença de Inspecção Geral da Saúde bem como organizações da sociedade civil, na verdade
sugerimos inspecções clandestinas dos serviços prestados.
Sistema de Penalização e punição que funcione efectivamente
Deve-se sancionar radicalmente todo e qualquer acto de corrupção, tomando como base a
gravidade do caso para que isso se reflicta no tipo de sanção a ser aplicada ao corrupto ou corruptor.
Isso supõe a existência de um quadro legal e específico, que estabeleça critérios de
responsabilização a serem aplicadas ao corrupto ou corruptor .
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Implementação de um Programa de Formação Cívica aos Funcionários sobre
Humanização dos serviços de saúde.
A humanização é um processo que dá-se em várias áreas, na saúde em particular, acreditamos que
este processo deve ser a palavra de ordem uma vez que estamos a falar de pessoas servindo pessoas
em condições de fragilidades, o objectivo deste processo é prover um melhor atendimento aos
utentes com ênfase no respeito e apoio moral aos doentes por parte dos funcionários de saúde.
Deste modo, um atendimento humanizado presume a união de um comportamento ético com
conhecimento técnico e com a oferta dos cuidados dirigidos às necessidades dos pacientes. A partir
destes pontos, achamos que o HGJM devia implementar programas de envolvimento dos
funcionários em políticas de Humanização dos serviços de saúde com vista a obter mudanças na
gestão dos sistemas de saúde e seus serviços.
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Apêndice
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