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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Curso de Licenciatura em Ciência Política Trabalho de Licenciatura Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de Saúde Prestados nos Hospitais Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-2016). Alzira Pinto Camacho Maputo, Setembro de 2017

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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Curso de Licenciatura em Ciência Política

Trabalho de Licenciatura

Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de Saúde Prestados nos

Hospitais Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-2016).

Alzira Pinto Camacho

Maputo, Setembro de 2017

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

II Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Autor: Alzira Pinto Camacho

Monografia apresentada ao Departamento de Ciência Política e Administração Pública da

Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, como requisito

para a obtenção do grau de Licenciatura em Ciência Política.

Mesa do Júri

___________________________________

O presidente

___________________________________

O supervisor

____________________________________

Oponente

_______________________________

Maputo, Setembro de 2017

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

I Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus pais Pinto Luís Mundonela Camacho e Isabel Maria Cossa (em

memória), ao meu tio Eugénio Rafael Cossa e aos meus irmãos Pinto, Mimi, Quitosa, Clarinha e

Lulú.

Amo-vos muito.

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

II Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar à Deus, por ter-me iluminado desde os primeiros anos da minha vida

até hoje, e em segundo lugar ao Silvino Mário da Silva Tovela que custeou meus estudos com

tanto sacrifício.

Ao meu supervisor, Dr. Armindo Manhiça, pela orientação, sugestões durante as nossas aulas,

paciência, disponibilidade e apoio moral durante a elaboração deste trabalho. Muito obrigada

professor.

Expresso igualmente os meus profundos agradecimentos aos colegas da Academia, Amândio

Sabela (Administração Pública) Fidel Terenciano (Ciência Política) e Lázaro Nhachengo (Física)

e também ao Edson Cortez (CIP) por terem-se predispostos em ler e apresentar valiosos

comentários no momento da elaboração deste trabalho.

Não posso esquecer-me de agradecer a todos que aceitaram participar no meu inquérito, bem como

em disponibilizar a documentação necessária para a elaboração do trabalho: Dra. Dina (Enfermeira

chefe do Banco de Socorros do HGJM), Dra. Liliana (Chefe do laboratório do HGJM), a Dra.

Emília (Chefe do gabinete do utente do HGJM) e a Técnica Ivanêa (Departamento de estatística

do HGJM).

O meu obrigado alarga-se aos meus familiares, especialmente as minhas tias Alzira, Bélia, Elisa e

Ana Camacho, a minha prima querida Ana Gracinda Camacho, a minha segunda mãe Esperança

António Macia, e por último aquele que tenho como meu pai desde 1997 e como mãe desde 2002,

mesmo residindo longe nunca deixou de prestar-me apoio em todas situações da minha vida,

Eugénio Rafael Cossa. Aos meus colegas da turma de Ciência Política ano de ingresso 2012, em

especial ao meu grupo Lelita Folege, Helena Chambal, Patrícia Jaieia, Alíria Zita e Mónica Relvas,

meninas vocês tornaram-se minha segunda família.

À Mayra minha maior inspiração desde o meu ventre até hoje!

Em fim, a todos que directa ou indirectamente contribuíram na minha caminhada académica.

KHANIMAMBO.

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

III Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Declaração de honra

Declaro por minha honra que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado, na sua essência,

para a obtenção de qualquer grau, e que ele constitui o resultado da minha investigação pessoal,

estando indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei para a sua materialização.

A Candidata

______________________________________________

(Alzira Pinto Camacho)

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

IV Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Epígrafe

“Sem o combate sério da corrupção, sem acusações e condenações regulares, ou seja, sem a

actuação dos tribunais, em tempo útil, nos casos que se justifiquem, a democracia é o nome

pomposo de qualquer coisa que não existe” MORGADO, Maria José. (2003:1), Congresso da

Justiça.

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V Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

LISTA DE ACRÓNIMOS E SIGLAS

CEEI: Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais

CIP: Centro de Integridade Pública

CMAM: Central de Medicamentos e Artigos Médicos

CRM: Constituição da República de Moçambique

GCCC: Gabinete Central de Combate a Corrupção

HGJM: Hospital Geral José Macamo

IESE: Instituto de Estudos Socias e Económicos

IGS: Inspecção Geral da Saúde

IRC: Indíce de Rotação de Cama

MISAU: Ministério da Saúde

OMS: Organização Mundial da Saúde

PESS: Plano Estratégico do Sector da Saúde

PNGC: Pesquisa Nacional Sobre Governação e Corrupção

PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PQG: Plano Quinquenal do Governo

RMC: Rendimento Médio de cama

RMC: Rendimento Médio de Cama

SNS: Serviço Nacional de Saúde

SUR: Serviços de Urgência e Reanimação

TMM: Taxa de Mortalidade Materna

TMOR: Taxa de Mortalidade

TOC: Taxa de Ocupação de Cama

UNODC: Escritório das Nações Unidas Sobre Droga e Crime

USAID: Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

VI Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Resumo

A prestação dos cuidados de saúde deve, de acordo com a legislação Moçambicana, ser

independente da condição sócio-económica dos indivíduos, por forma a garantir igual utilização

destes para iguais necessidades clínicas. O Serviço Nacional de Saúde é essencialmente público,

com um custo monetário relativamente baixo para o acesso aos cuidados de saúde por parte de

todos. Contudo um estudo realizado em 2006 pelo Centro de Integridade Pública, sobre a

corrupção no sector da saúde, fez-nos questionar sobre as implicações deste fenómeno sobre a

qualidade dos cuidados de saúde prestados a nível dos Hospitais públicos, em especial o Hospital

Geral José Macamo. Portanto, foi objectivo deste trabalho explicar os impactos que a corrupção

tem na qualidade dos cuidados de saúde prestados no Hospital referido. Face aos objectivos

pretendidos neste, servimo-nos de dados recolhidos por via documental e entrevistas realizadas no

Hospital Geral José Macamo afim de observamos as condições dentro das quais os actores

envolvidos realizam esta prática, e aferimos que a mesma tem tido consequências

significativamente negativas para todos utentes, mas principalmente para indivíduos

desfavorecidos economicamente, visto que, estes se deparam com problemas como a

indisponibilidade de matérias, equipamentos e medicamentos e assim, não conseguem obter os

serviços de que necessitam pois são obrigados a pagar uma percentagem maior do que seus

rendimentos para ter acesso a serviços que por lei deveriam ser prestados a título gratuito ou a um

valor mais baixo.

Palavras-chave: Corrupção, Qualidade, Saúde, e Prestação dos Cuidados de saúde.

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

VII Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Indíce Páginas

Dedicatória.................................................................................................................................. I

Agradecimentos ......................................................................................................................... II

Declaração de honra .................................................................................................................. III

Epígrafe ................................................................................................................................... IV

Resumo .................................................................................................................................... VI

Lista de figuras........................................................................................................................... X

Lista de gráficos ......................................................................................................................... X

Lista de tabelas........................................................................................................................... X

1. CAPÍTULO .........................................................................................................................1

1.1 Introdução .....................................................................................................................1

1.2 Contextualização do Estudo ..........................................................................................3

1.3 Tema .............................................................................................................................4

1.4 Delimitação do Tema ....................................................................................................4

1.5 Justificativa ...................................................................................................................4

1.6 Problemática .................................................................................................................5

1.7 Hipótese ........................................................................................................................7

1.8 Objectivos do Estudo ....................................................................................................8

1.8.1 Geral ......................................................................................................................8

1.8.2 Específicos .............................................................................................................8

2. CAPÍTULO: METODOLOGIA ..........................................................................................9

2.1 Quanto à natureza .........................................................................................................9

2.2 Quanto aos objectivos ou fins ........................................................................................9

2.3 Quanto aos procedimentos tècnicos ...............................................................................9

2.4 Quanto à forma de Abordagem.................................................................................... 10

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

VIII Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

2.5 Teorias de base ........................................................................................................... 11

2.5.1 Enquadramento Teórico ....................................................................................... 11

3. CAPÍTULO: REVISÃO DA LITERATURA .................................................................... 15

3.1 Revisão da Literatura .................................................................................................. 15

3.2 Definição dos Termos ................................................................................................. 15

4. CAPÍTULO: ESTRUTURA E ORGANIZAҪÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

19

4.1 O Serviço Nacional de Saúde ...................................................................................... 19

4.2 Estrutura Física e Administrativa do HGJM ................................................................ 21

4.2.1 Breve Historial do Hospital Geral José Macamo .................................................. 21

4.2.2 Localização Geográfica do HGJM ....................................................................... 22

5. CAPITULO: A PROBLEMÁTICA DA CORRUPÇÃO NO HGJM E SEU IMPACTO NA

PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE. ........................................................................... 25

5.1 Elementos que concorrem para o alastramento da corrupção no HGJM ....................... 25

5.2 Natureza das Estruturas de Incentivos e Motivação ..................................................... 27

5.2.1 Baixa Capacidade Institucional do SNS ............................................................... 28

5.2.2 Baixos salários ..................................................................................................... 29

5.2.3 Fraca Presença de Inspecções e Sanções .............................................................. 31

5.3 As contravenções identificadas no HGJM ................................................................... 31

5.3.1 O suborno/Cobranças Ilícitas ............................................................................... 33

5.3.2 Desvio e Roubo de Medicamentos ....................................................................... 34

5.3.3 Utilização Indevida de Recursos Públicos ............................................................ 36

5.4 Consequências da Corrupção....................................................................................... 37

6. CAPÍTULO: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM UMA UNIDADE

HOSPITALAR- O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSЀ MACAMO ..................................... 41

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

IX Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

6.1 Indicadores de Qualidade dos Cuidados de Saúde prestados em Unidades Hospitalares

41

6.1.1 Tipos de Indicadores ............................................................................................ 42

6.2 Qualidade na Prestação de Serviços de Saúde na Perspectiva dos Utentes do HGJM ... 48

7. CAPÍTULO: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................... 53

7.1 Conclusões .................................................................................................................. 53

7.2 Recomendações .......................................................................................................... 54

Apêndice ................................................................................................................................... 63

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

X Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Lista de figuras

Figura 1: Imagem do Hospital Geral José Macamo……………………………………………..21

Figura 2: Mapa da localização geográfica do HGJM e sua área de saúde……………………….23

Lista de gráficos

Gráfico 1: Taxa de Ocupação de cama do Hospital Geral José Macamo…………………….43

Gráfico 2: Taxa de Indíce de Rotação de cama do Hospital Geral José Macamo……………44

Gráfico 3: Taxa de Rendimento Médio por Cama do Hospital Geral José Macamo…………45

Gráfico 4: Taxa de Mortalidade Hospitalar 2014-2016….……………..……………………..46

Gráfico 5: Taxa de Mortalidade Materna por 100.000 nados vivos 2015-2016………………47

Lista de tabelas

Tabela 1 Triagem Manchester ………………………………………………………………..49

Tabela 2 Indicadores de Eficiência, Qualidade e produtividades ………………………………52

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

1 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

1. CAPÍTULO

1.1 Introdução

As transições políticas ocorridas na maioria dos países da África subsaariana na década 90,

trouxeram mudanças significativas no que respeita a institucionalização democrática em diferentes

quadrantes do mundo. Com efeito, como refere Carothers apud Forquilha e Orre (2010:35) a partir

dos anos 1970 e 1990 começa-se a verificar a queda de regimes autoritários no sul da Europa, a

substituição das ditaduras militares por governos civis eleitos na América latina e o declínio de

regimes de partido-único na África subsaariana, etc.

Para o caso de Moçambique essas mudanças, foram marcadas essencialmente pela introdução de

uma nova constituição em 1990 e o fim da guerra civil em 1992, culminando com a realização das

primeiras eleições multipartidárias em 1994, o que permitiu a abertura do espaço político e a

criação de novas instituições.

Assim, como sublinha Cortez (2005:7) na sua análise sobre Corrupção “ a transição democrática

em Moçambique e o estabelecimento de uma nova ordem política e económica deu maior

visibilidade ás práticas corruptas no seio do sector público e na sociedade no geral, na medida

em que, após a independência o modelo de economia vigente não tolerava as manifestações destas

práticas ".

Ainda segundo o autor, com as novas mudanças foram introduzidas reformas económicas e

políticas1, bem como a redefinição do papel do Estado na gestão da coisa pública, e

consequentemente os sectores da função pública começaram a revelar fraca capacidade

institucional por forma a responder as novas exigências advindas do processo de transição, e esta

lacuna tornava-se mais expressiva devido à conjuntura política, social, económica mas também

1 Algumas das reformas aplicadas faziam parte de um conjunto de condicionalismos impostos pelo Banco Mundial

e o Fundo Monetário Internacional para que o país desfrutasse da ajuda externa (Abrahamsson & Nilson apud

Cortez 2005:8).

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

2 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

pelo elevado grau de dependência da ajuda externa ao país e deste modo foram surgindo espaços

para a ocorrência de práticas corruptas (Cortez:2005:8).

Estes argumentos são reforçados por Hanlon (2002:8) ao afirmar que a redefinição do papel do

Estado provocou cortes nos gastos públicos, como é o caso dos salários dos funcionários, o que

acabou tornando-se numa das diversas causas que abriu espaços para a busca desenfreada de outras

formas de rendimento, trazendo os ingredientes necessários para aparecimento e o firmamento de

práticas corruptas no sector público e mesmo na sociedade em geral.

E ainda agravado ao facto de uma economia de mercado, surgimento de muitas empresas privadas,

elevado nível de consumo da sociedade, o baixo salário do sector público comparado com o

privado, factores que foram condicionando o incremento da corrupção na função pública. Assim,

aos poucos foi-se assistindo o aumento gradual da corrupção no sector público, com mais

notabilidade naquelas instituições que pelo carácter das actividades que exercem encontram-se em

permanente contacto com o público, como é o caso do sector que constitui nosso objecto de estudo

(Saúde).

Por razões organizacionais e metodológicas, o trabalho está estruturado da seguinte forma: no

primeiro capítulo procede-se com a introdução, seguida pela contextualização, logo depois a

delimitação do tema, a justificativa que reflecte as motivações que instigaram a escolha deste,

posteriormente a problemática, a hipótese e os objectivos do trabalho. O capítulo II, destina-se à

apresentação dos procedimentos metodológicos, precedida pelo enquadramento teórico este, que

dará ênfase a duas teorias sobre as quais se espelhará nosso trabalho. Por sua vez o capítulo III se

propõe a expor a revisão da literatura e a definição dos conceitos tomados como fulcrais para a

compreensão deste estudo. Por sua vez no capitulo IV iremos a examinar a organização do Serviço

Nacional de Saúde (SNS), onde, descrevemos a sua caracterização funcional, seus objectivos,

composição e organização. Posteriormente, a configuração física e administrativa do hospital em

análise. Já no Capítulo V, debruçamos sobre a problemática em volta do fenómeno da corrupção

no Hospital Geral José Macamo (HGJM). O principal foco, neste ponto do trabalho, será o estudo

da natureza das estruturas de incentivo e motivações, as contravenções identificadas no HGJM e

suas consequências. No penúltimo capítulo, dedicamo-nos ao estudo dos indicadores de qualidade

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

3 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

na prestação de cuidados de saúde e, por último, o capítulo VII com a conclusão que de forma

breve, retratará o assunto debatido ao longo do trabalho.

1.2 Contextualização do Estudo

Um estudo realizado pela Ética Moçambique (2001:23) apontou o sector da saúde como aquele

que apresenta maiores índices da ocorrência de prácticas corruptas, seguido pelo sector da

Educação e pela polícia. O estudo revelou ainda, que a corrupção neste sector tem sido dominada

pela pequena corrupção, apontando os Enfermeiros e Médicos como protagonistas deste fenómeno

colocando em risco a qualidade dos cuidados de saúde prestados. Outro estudo, feito pela Agência

Norte Americana para o Desenvolvimento (USAID), revelou que não obstante o facto da

corrupção ser um fenómeno relativamente recente alastrou-se rapidamente nos últimos anos,

chegando a atingir practicamente todos sectores, funções e níveis do Governo. No sector da saúde

em particular, actos corruptos tem sido tolerados devido a resignação, medo, ou simplesmente o

espírito do deixa andar2 (USAID, 2005: 6).

Segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), a pequena corrupção ocorre ao nível da

implementação de políticas, onde os funcionários públicos se encontram directamente com o

público (CIP, 2009:12). No sectore estudo, esta pequena corrupção envolve modestas quantias de

dineiro onde os beneficiários dos cuidados de saúde pagam subornos com vista a receber um

tratamento especial ou motivar o funcionário a realizar seu trabalho. Refira-se, que a importância

da qualidade na prestação dos cuidados de saúde está reflectida no Millennium Development

Goals3 (MDG), este documento considera que a satisfação com a qualidade dos cuidados de saúde

é um importante indicador subjectivo do bem-estar humano, e dos oito objectivos plasmados no

MDG três estão directamente relacionados à área da saúde, como o acesso aos medicamentos por

parte dos países em via de desenvolvimento, os desafios contra à epidemia do HIV/SIDA e a

insuficiência dos orçamentos destinados à saúde (Mosse & Cortez, 2006:5). Estes problemas acima

2 Este termo tem vários significados, dependendo do contexto, mas no nosso trabalho significa permitir que uma

certa situação continue. 3 Os ODM surgem no documento “Road Map towards the implementation of the United Declarationˮ aprovados na

56ͦ sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2001, sendo actualmente considerados o mais bem sucedido

esforço de combate à pobreza.

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

4 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

são resultantes da deterioração das condições económicas e consequentemente uma carência

generalizada no fornecimento dos medicamentos, um inadequado pagamento de salários aos

funcionários deste sector e uma fraca qualidade dos cuidados de saúde em muitos países em via

desenvolvimento resultando na deterioração destes no seu todo e um aumento da corrupção em

todos níveis do sistema de saúde, a partir deste cenário a corrupção torna-se uma preocupação

mundial principalmente em países em via de desenvolvimento devido a escassez de recursos

(Ktitgaard, 2000:13).

1.3 Tema

Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de Saúde Prestados nos Hospitais

Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-2016).

1.4 Delimitação do Tema

Segundo Gil (2008:56), a delimitação do tema obedece a dois critérios, nomeadamente: i) critério

espacial e ii) critério temporal. Entretanto, com relação ao primeiro o nosso estudo realizou-se

numa das instituições do Serviço Nacional de Saúde4 especificamente no Hospital Geral José

Macamo, tendo compreendido um período de 2014-2016.

1.5 Justificativa

Consideramos relevante debruçar sobre corrupção no sector da saúde, particularmente, o impacto

que este fenómeno tem na qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM. Trata-se de um

assunto de extremo interesse social, porém pouco debatido no seio dos académicos e dos órgãos

de comunicação social. Estudos feitos pela USAID e Centro de Integridade Pública (CIP), apontam

o sector da saúde como um dos sectores onde a corrupção encontra-se enraizada, e também como

um dos sectores mais vulneráveis à ocorrência de prácticas corruptas pelo carácter dos serviços

que oferecem, ou seja, encontram-se em permanente contacto com o público.

4 Caracterizaremos o Serviço Nacional de Saúde mais adiante, para melhor compreensão.

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ANÁLISE DO IMPACTO DA CORRUPÇÃO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS

NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

5 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

No que tange a escolha do HGJM como campo de pesquisa, a mesma deveu-se a proximidade

geográfica deste Hospital ao bairro onde reside a autora, aliada a limitação de recursos financeiros

para deslocações, todavia o HGJM reúne condições mais favoráveis para a recolha dos dados. Em

relação ao horizonte temporal, a pesquisa compreendeu um período de três anos (2014-2016),

primeiro porque acreditamos que o facto de ser um período curto poderá facilitar a análise dos

dados recolhidos, em segundo lugar por ser um período em que estudos nacionais e internacionais

(CIP, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais do Instituto Superior de Relações

Internacionais, USAID, e o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), sobre corrupção

revelaram aumento de casos deste fenómeno em todos os sectores do Governo, com particular

destaque para os serviços públicos que pela natureza das suas actividades lidam com o público no

dia-a-dia, tal sucede com o sector em da saúde.

Por forma a termos o nosso campo de análise delimitado, escolhemos o HGJM, que è o hospital

de referência dentro das unidades sanitárias de nível secundário. No entanto, sendo este um

hospital de grandes dimensões, decidimos levar a cabo a nossa pesquisa em alguns departamentos,

especificamente a Maternidade, o Laboratório e os Serviços de Urgência e Reanimação (SUR)

também conhecidos como Banco de Socorros, a escolha destes deveu-se ao facto destes manterem

um contacto directo e permanente com os utentes, o que os torna mais vulneráveis à ocorrência de

actos ilícitos.

É desta forma que considerou-se relevante a realização de um estudo que debruçasse acerca do

impacto que a corrupção tem sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM, a fim

de testar as diferentes opiniões bem como procurar trazer soluções possíveis para o problema em

destaque.

1.6 Problemática

Segundo um estudo feito pelo Escritório das Nações Unidas Sobre Droga e Crime (UNODC) a

corrupção é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento económico e social a nível mundial.

Este aponta ainda, que a cada ano são gastos cerca de USD 1 trilhão em subornos, enquanto cerca

de USD 2,6 trilhões são desviados pela corrupção, uma soma equivalente a mais de 5% do PIB

mundial UNODOC (2015:1). Por sua vez, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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(PNUD) afirma que países em via de desenvolvimento, como Moçambique, a quantia de fundos

desviados de seus destinos pela corrupção chega a ser dez vezes maior ao destinado à assistência

oficial ao desenvolvimento (melhoria dos serviços de saúde, educação, transportes, etc. (PNUD,

2014:5).

Outro estudo, realizado pelo Centro de Estudos Estratégicos em 2011 (CEEI) afirmou que os sinais

da existência da corrupção no sector público são claros e os factores que concorrem para a sua

prática assentam numa infinidade de aspectos, sendo de destacar o nível baixo salarial de

funcionários e agentes do Estado, ausência de um sistema eficaz de denuncia de prácticas da

corrupção, ausência de órgãos de comunicação independentes e eficazes, ausência de um sistema

judicial independente e eficaz, falta de mecanismos eficazes de incentivos para funcionários,

aspectos ligados a razões culturais, falta de transparência e por fim a falta de prestação de contas

no processo político (CEEI, 2011:13 ).

Importa referir, que o sector em estudo encontra-se incluído no cenário acima, dado que os baixos

salários e as más condições de trabalho dos funcionários da saúde, principalmente a nível dos

enfermeiros e serventes os tornam mais propensos a envolverem-se em actos de corrupção. Assim,

como refere o mesmo estudo, os desafios no âmbito da qualidade na prestação de cuidados de

saúde estão relacionadas por um lado ao mau atendimento, longas filas de espera, falta de pessoal

qualificado, poucos Médicos por utente, burocracia excessiva e por outro aos baixos salários, como

já foi referido, aliada ganância de alguns funcionários públicos e fraca capacidade institucional do

SNS em solucionar os problemas de saúde dos utentes (CEEI, 2011:14).

Note-se que, apesar da Constituição da República de Moçambique (CRM:2004) no seu Artigo 89,

estabelecer que:

“ Todos os cidadãos tem direito à assistência sanitária e médica. Nos termos da lei, bem como o

dever de promover e defender a saúde pública” e

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010:6) defender que todas as pessoas devem poder

atingir o seu potencial máximo de saúde, sem que as circunstâncias económicas e sociais de cada

um determinem a consecução deste objectivo, no Hospital Geral José Macamo ainda se convive

com uma realidade desigual e excludente no acesso ao SNS, ignorando-se o facto da CRM e OMS

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7 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

assegurarem a saúde enquanto direito universal a ser garantido pelo Estado a um custo sem

descriminação com base na cor da pele, condição económica, social nem religiosa.

Ademais, o Plano Quinquenal do Governo (PQG 2015-2019) assenta os seguintes objectivos para

o sector da saúde:

Promover a melhoria do estado de saúde do povo, garantindo cuidados de saúde de

qualidade aceitável, gratuitos ou a um preço comportável cada vez maior proporção de

Moçambicanos (objectivo geral do PQG).

Melhorar a gestão de recursos humanos, elevando o nível de humanização dos serviços

com ênfase no atendimento com qualidade e na satisfação das necessidades dos utentes

(objectivo específico do PQG).

Do acima exposto resulta a nossa pergunta de partida:

Em que medida a corrupção praticada no HJGM afecta a qualidade dos cuidados de saúde

prestados aos utentes daquela unidade hospitalar?

1.7 Hipótese

A partir da pergunta de partida, avançamos a seguinte hipótese:

A corrupção afecta significativamente na qualidade dos cuidados de saúde prestados no

HGJM, na medida em que prejudica os utentes, particularmente a camada pobre, por sinal

a maioria da nossa população, isto é, a corrupção cria vantagens injustas para alguns e

reduz as perspectivas para os pobres, já que promove a desigualdade no acesso aos

cuidados de saúde.

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8 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

1.8 Objectivos do Estudo

1.8.1 Geral

Explicar o impacto da corrupção sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados no

Hospital Geral José Macamo.

1.8.2 Específicos

Identificar as causas da corrupção no sector da saúde;

Apresentar as formas de manifestação da corrupção no hospital Geral José Macamo;

Discutir as consequências da corrupção no hospital Geral José Macamo. e

Descrever os indicadores de qualidade na prestação de cuidados de saúde.

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9 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

2. CAPÍTULO: METODOLOGIA

Neste capítulo, apresentaremos os procedimentos metodológicos, que auxiliaram a materialização

deste estudo, e em seguida o enquadramento teórico. Deste modo, a nossa pesquisa pode ser

classificada :

2.1 Quanto à natureza

Destacam-se a pesquisa básica e aplicada. Entretanto, a nosso estudo basear-se-à numa pesquisa

aplicada, já que objectiva gerar conhecimentos para aplicação pràctica dirigida à resolução de

problemas específicos, envolvendo assim verdades e interesses locais" (Silva, 2014: 14), no caso

relacionados ao problema da corrupção no sector da saúde, concretamente no HGJM.

2.2 Quanto aos objectivos ou fins

Segundo Gil (2008:28) este tipo de pesquisa pode ser classificada em exploratória, descritiva e

explicativa. Portanto, para a elaboração deste estudo vamos privilegiar a pesquisa exploratória,

visto que, este tipo tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o problema, como

forma de torná-lo mais explícito. Na maioria dos casos envolve entrevistas com pessoas ligadas ao

problema estudado e o levantamento bibliográfico.

2.3 Quanto aos procedimentos tècnicos

No que diz respeito a este tipo, podemos identificar oito tipos de de pesquisa, nomeadamente:

pesquisa bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso, participante, de

acção e finalmente a pesquisa ex-post-facto (idem). Importa referir, que neste trabalho far-se-à o

cruzamento da pesquisa bibliogràfica e do estudo de caso. A primeira tècnica consiste no uso do

material já publicado, constituído por livros e artigos alguns disponíveis na internet (onde usamos

para este trabalho os relatórios obtidos da internet, no HGJM (2014, 2015 e 2016), no CIP, USAID,

e do PNUD), e o estudo de caso, consiste num estudo empírico que investiga um fenómeno actual

dentro do seu contexto da realidade (Yin, 2005:32). Contudo, para alem de priviligiar a pesquisa

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10 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

bibliogràfica e o estudo de caso, tambem usaremos um raciocíonio dedutivo que parte do geral ao

particular, (Gil, 2008:29).

2.4 Quanto à forma de Abordagem

Destacam-se duas formas de abordagem numa pesquisa: a pesquisa qualitativa e quantitativa. A

primeira defende que tudo è quantificàvel, e geralmente apoia-se no uso de recursos e de tècnicas

estatísticas, a segunda, considera que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,

ou seja, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito, não

podendo isto ser quantificàvel (idem). Assim, durante a recolha de dados utilizaremos a abordagem

qualitativa aliada a anàlise de dados de natureza quantitativa, na medida em que, vamos privilegiar

a realização de entrevistas com alguns funcionários do HGJM bem como os utentes do mesmo

afim de testar as experiências vividas por ambas partes. Deste modo, a recolha de dados será feita

em três departamentos e os entrevistas sob a condição de anonimato, tanto por parte de alguns

funcionários do HGJM e dos utentes. Nestes departamentos, realizaremos por via do questionário

estruturado, sessenta e uma entrevistas, sendo um total de cinquenta utentes, nove funcionários, e

finalmente dois académicos do CIP e do Gabinete Central do Combate à Corrupção (GCCC), para

a consecuçção deste objectivo serviremo-nos da amostragem por conveniência5 que segundo

Mulenga (2014:90), é geralmente utilizada nas investigações de opinião pública onde os

entrevistados são escolhidos tendo em conta a sua disponibilidade, por exemplo pacientes

atendidos em um hospital, etc.

Refira-se que este estudo, teve muitas limitações devido ao facto do nosso tema envolver muito

secretismo, o que causou enormes dificuldades na realização das entrevistas mesmo apresentando

os documentos legais que justificavam nossa presença no HGJM alguns interlocutores recusavam-

se a abordar a problemática da corrupção, pois receiavam futuras represálias. Outro aspecto que

limitou nossa pesquisa deveu-se ao local para a realização das entrevistas, pois algumas entrevistas

com os funcionários eram dentro dos consultórios (onde não tínhamos privacidade) o que

5 Técnica de amostragem em que a amostra a ser estudada é identificada por conveniência, elementos são incluídos

na amostra sem probabilidades previamente especificadas ou conhecidas de eles serem selecionados. Tem a

vantagem de permitir que a recolha de dados sejam relativamente fácies.

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11 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

impossibilitou que estes pudessem falar abertamente e sem pressão do tempo, por último o

episódio em que um dos funcionários do hospital tentou nos aliciar a mudar de tema sob a ameaça

de não conseguirmos dados.

2.5 Teorias de base

2.5.1 Enquadramento Teórico

A necessidade da interpretação e compreensão da realidade social exige que optemos por um

referencial teórico e, por forma a encontrar suporte para a análise do nosso tema iremos recorrer a

teoria da Cultura Política e do Neo-institucionalismo da Escolha Racional. Decidimos cruzar estes

dois primos teóricos por considerar que ambas têm elementos que se enquadram na realidade

Moçambicana, mas também acreditamos que um só não seria suficiente para explicar o

comportamento corrupto dos indivíduos.

2.5.1.1 Teoria da Cultura Política

Esta teoria surge nos Estados Unidos durante os anos 60, e teve seu marco fundador a publicação

em 1963 da obra The civic culture de Almond e Verba. A inovação desta corrente foi a de

considerar a cultura como uma variável digna para compreender o comportamento corrupto

(Gomes, 2010: 25). No entanto, a teoria da cultura política enfatiza o papel dos padrões culturais

que vigoram em uma sociedade como fenómenos macrossociais que podem viabilizar ou

inviabilizar a intensidade de comportamentos corruptos.

Na perspectiva de Putnam (2006:16) em sociedades onde os laços pessoais são muito fortes, as

normas impessoais típicas do capitalismo moderno são com frequência violadas. Esta constatação

mostra que no contexto acima é frequente a sobreposição do interesse pessoal sobre o público,

facto que vai desencadear a corrupção.

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12 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

A este propósito Gomes (2010:33) defende que na maioria das vezes isso acontece quando o

desenvolvimento económico, político e institucional não ocorre ao mesmo ritmo com o

desenvolvimento cultural, pois, as leis deparam-se com inúmeros obstáculos de efectivação, na

medida em que, não encontram legitimidade na opinião pública o que consequentemente torna sua

violação rotineira e por isso a corrupção torna-se cada vez mais frequente.

2.5.1.2 Teoria do Neo-institucionalismo da Escolha Racional

Esta teoria surge, de acordo com Hall & Taylor (2003:196), no contexto do estudo de

comportamentos dos indivíduos no interior dos Estados Unidos durante a década de 1970 e tinha

como enfoque o estudo comportamental dentro das instituições. No entanto, para explicar como

as instituições afectam o comportamento dos indivíduos, o Neo-institucionalismo da escoha

racional fornece duas concepções desgnadas por: perspectiva calculadora e a perspectiva cultural.

2.5.1.3 A Perspectiva calculadora

Esta abordagem dá ênfase aos aspectos do comportamento humano que são instrumentais e

orientados no sentido de um cálculo estratégico. Assim, advoga que os indivíduos buscam

maximizar seus rendimentos com referência a um conjunto de objectivos definidos por uma função

de preferência dada e que, ao fazê-lo, adoptam um comportamento estratégico, mas, antes da

escolha, os indivíduos examinam previamente todas as escolhas possíveis para seleccionar aquelas

que oferecem um benefício maior ( idem:197).

Neste caso, afirmamos que o comportamento corrupto dos funcionários e utentes do HGJM faz

parte de um cálculo estratégico, fortemente influenciado pelas suas expectativas com relação ao

comportamento vindouro de outros actores.

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2.5.1.4 Perspectiva cultural

Enfatiza o facto de que, os individuos recorrem com frequência a modelos de comportamentos já

conhecidos para atingir seus objectivos, pois considera os indivíduos como satisficers mais do que

como optimizers em busca da maximização dos seus interesses particulares (idem:189).

Para Shepsle (1989) apud Victorino (2014:25), o Institucionalismo de Escolha Racional considera

as instituições como um contexto que estrutura as oportunidades das escolhas estratégicas, assim,

as instituições atendem a função da redução da incerteza, uma vez que permitem a minimização

dos custos da transacção e garantem a rentabilidade da cooperação.

Esta teoria, apresenta segundo Cartier-Bresson (1997) apud Gomes (2010:38) um conjunto de

causas para a ocorrência de prácticas corruptas, que apresentamos de seguida:

A fraca capacidade institucional associada aos baixos salários auferidos nos sectores

públicos, orçamentos disfuncionais de governos, atrasos na libertação de fundos do

orçamento, incluindo pagamentos e perda de objectivos organizacionais, factores que

criam desmoralização nos funcionários públicos.

Optamos pela teoria da Cultura Política e do Neo-institucionalismo da Escolha Racional pois estas

trazem um arcabouço que se espelha na realidade moçambicana que é caracterizada por laços

pessoais muito fortes. Por um lado, percebemos que na teoria da cultura política o indivíduo tende

a reproduzir comportamentos aprendidos no seu contexto cultural, o meio em que o indivíduo

encontra-se inserido conta fortemente no seu tipo de comportamento, uma vez que o indivíduo

tende a reproduzir o contexto cultural que vivencia. Por outro lado, no neo-institucionalismo de

escolha racional percebemos que o indivíduo é frequentemente movido pelos beneficios pessoais

para cada actividade em que se encontra envolvido, onde este pretende atingir objectivos

particulares tendo em conta a maximização de seu interesse. Entretanto, percebemos que a

corrupção não é só uma questão de racionalidade do indivíduo mas a cultura é um elemento que

nos dá também subsídios para olhar a corrupção. Ora, nós somos seres individualizados e, ao

mesmo tempo colectivos, somos influenciados pela sociedade a partir das relações culturais com

os outros. O indivíduo enquanto um ser social, desenvolve-se num contexto multi-cultural, em que

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temos regras, padrões, crenças, valores, identidades muito diferenciadas. Assim, a cultura é o

intercâmbio entre indivíduos, grupos e a sociedade. Estas duas teorias, espelham a realidade

moçambicana e tem um impacto directo no fomento da corrupção a nível institucional.

No caso concreto da corrupção no HGJM, deparamo-nos com situações em que tanto os

funcionários como utentes reproduzem comportamentos vivenciados no dia-a-dia. O funcionário

corrompe ou deixa-se corromper porque o ganho que ele tem cometendo a infracção é maior

quando comparado ao risco ou possibilidade de ser apanhado, existe uma fraca responsabilização

dos indivíduos que se envolvem em casos de corrupção. Hermenegildo Timana6 fez referência a

um fenómeno que chamou de actuação em rede, em que o servente participa de uma "bolada7" a

ser dividida com o Enfermeiro, este por sua vez com Técnico de saúde ou mesmo o Médico. Os

funcionários estão num contexto em que a probabilidade de serem apanhados é quase nula, pois a

maioria está envolvido no esquema, "ninguém denuncia ninguém", ele faz justificando-se pelo

baixo salário que aufere, vendo assim nos esquemas a oportunidade de ter uma vida melhor já que

a maioria dos funcionários com os quais mantivemos contacto disseram-nos claramente que não

era possível viver do salário que auferem na saúde. Por outro lado, "o utente corrompe porque já

está acostumado a corromper, os utentes já não olham para a corrupção como um acto deplorável

e por outro lado o próprio funcionário faz cobrança ilícita sem vergonha nenhuma, e finge que

esconde do seu chefe que por sua vez é mais corrupto" (Entrevista com um utente, no Banco de

socorros, 19 de Fevereiro de 2017 as 18h43).

Dos comentários expostos é possível identificar elementos da racionalidade no indivíduo corrupto

e corruptor, bem como perceber que o contexto cultural de ambos fornece padrões e regras

aprendidas no contexto das actividades grupais. Apesar do indivíduo ser único, ele é modelado

pela cultura e pela sociedade em que vive (Lane, 2006:133).

6 Assessor da Directora do Gabinete Central de Combate a Corrupção.

7 O termo bolada refere-se a um negócio envolvendo uma quantia considerável de dinheiro.

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3. CAPÍTULO: REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Revisão da Literatura

O debate acerca do aumento de casos de práticas corruptas no sector público moçambicano, foi

evidenciado pelo estudo realizado pela Ética Moçambique (2001), a partir de então começam as

interrogações a nível da sociedade sobre as razões para a difusão destes casos no sector público.

No entanto, no quadro da implementação da Estratégia global da reforma do sector público, o

Governo de Moçambique, comissionou a realização, em 2004 e 2010, da primeira e segunda

Pesquisa Nacional Sobre Governação e Corrupção com vista a avaliar a percepção dos cidadãos

em relação à governação, às practicas corruptas e a qualidade dos serviços prestados pelo sector

público no país (CEEI, 2011:4).

Os resultados dessas pesquisas, revelaram que os sectores da educação, da saúde e da polícia de

trânsito lideravam os índices da corrupção, no entanto, a falta de transparência, salários baixos

para funcionários públicos, ausência de sistemas eficazes de denúncias destas practicas foram

apontadas como causas da corrupção no sector público (idem:37). No sector da saúde em

particular, os aspectos ligados a qualidade da prestação de cuidados de saúde são os mais

problemáticos, e estão associados ao mau atendimento resultante de longas filas de espera,

burocracia excessiva, incumprimento de prazos, falta de pessoal e absentismo.

3.2 Definição dos Termos

Nesta secção vamos privilegiar a definição de alguns conceitos fulcrais no nosso trabalho,

nomeadamente: Corrupção, Qualidade, Saúde e Prestação de Cuidados de saúde.

Definir corrupção, à semelhança da maioria dos fenómenos sociais não é tarefa fácil, contudo

procuraremos defini-lo tendo como base os objectivos que pretendemos alcançar neste trabalho.

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16 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Bobbio (1998:301) designa por corrupção, o fenómeno pelo qual um funcionário público é levado

a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em

troca de recompensa.

Por sua vez, Huntigton (1975:74) a define como sendo um comportamento de autoridades públicas

que se desviam das normas socialmente aceites a fim de servir interesses individuais. Na sua

definição podemos encontrar dois critérios através dos quais o autor faz análise da corrupção, as

normas legais e o interesse público.

Mosse (2004:6), faz menção à duas tipologias de corrupção, onde podemos destacar a corrupção

política (grande corrupção) e a corrupção burocrática (pequena corrupção).

A corrupção política acontece nos altos níveis da autoridade política (chefes do Estado,

Ministros, Governadores e oficias de topo) e

Corrupção burocrática, aquela que acontece ao nível da Administração Pública ao lado da

implementação de políticas, a que nos interessa explicar neste trabalho.

Portanto, quando falamos da corrupção no sector da saúde referimo-nos a corrupção burocrática,

aquela que os cidadãos sofrem no seu dia-a-dia nomeadamente nos serviços como escolas,

hospitais, tribunais, polícias de trânsito, etc. os meios usados para o efeito são ajustadas às

condições locais, é por isso que a corrupção burocrática é também chamada de rotineira (Santos,

2013:10).

Para o presente trabalho, escolhemos o conceito de corrupção na perspectiva do Bobbio, pelo facto

de acharmos que esta dá-nos mais subsídios, levando em conta o nosso objecto de estudo.

Segundo Carneiro et al (2010:11) a preocupação com a qualidade surge na década sessenta, tendo

sido disseminado a partir da indústria, por autores como Deming, Juran, Ishikawa e adoptado a

área da saúde por Avedis Donabedian. Entretanto, a preocupação com a qualidade dos cuidados

de saúde atravessa toda história da medicina, remontando desde Hipócrates, passando por Florence

Nightingale e Ernest Codman. Na área da indústria, a qualidade foi conceituada como a satisfação

dos requisitos dos consumidores em relação a esse produto ou serviço (Ishikawa), já na área da

saúde apesar da definição de qualidade estar sempre dependente da perspectiva de valores de quem

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17 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

a define é crucial uma formulação que sirva de referência, assim na óptica de Mezomo (2001:110)

para definir o termo qualidade na saúde devemos ter em conta três aspectos fundamentais: missão

(objectivos da instituição), serviços (produtos) e satisfação do utente. Assim, podemos a conceituar

como adequação dos serviços à missão da organização comprometida com o pleno atendimento

das necessidades dos seus utentes (Mezomo, 2001:111).

Na visão de Palmer apud Fereira (1991:96), a qualidade refere-se à tornar o mais efectivos possivel

os cuidados prestados, melhorando o estado de saúde e satisfação da população, dentro dos

recursos que a sociedade e os indivíduos decidiram gastar com tais cuidados. Adoptaremos no

trabalho, as definições de qualidade segundo a perspectiva de Mezomo e do Palmer, pois ambas

englobam algumas características que mais adiante usaremos como indicadores de qualidade dos

cuidados de saúde prestados no HGJM.

A Lei nº26/91 de 31 de Dezembro, define prestação de cuidados de saúde como sendo toda

actividade que consiste na prevenção da doença, assistência médica, reabilitação e promoção de

saúde (artigo nr 2).

Também podemos defini-la como a modalidade de actuação realizada pela equipa de saúde junto

à população, na promoção, proteção da saúde, na recuperação e reabilitação de doentes

(Arcoverde, 1985:11).

O conceito de prestação de cuidados de saúde que usaremos neste trabalho é o da lei nº26/91 de

31 de Dezembro, pelo facto de ser o mais adequado para o objectivo por nós traçado neste trabalho.

Por fim, vamos definir saúde, tradicionalmente conceituado pela OMS, como estado de completo

bem- estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença ou enfermidade (Constituição

da OMS, 1946:1).

Para Carneiro et al (2010:9) esse conceito trazido pela OMS tem sido amplamente criticado por

diversos autores, na medida em que segundo estes não se enquadra no pensamento actual e também

por ser considerado dicotómico, utópico e irrealista, estes defendem que o mesmo é mais

condizente a noção de felicidade e sugerem a necessidade da sua redefinição. Portanto, a partir das

críticas feitas surgem autores como Bircher (2005) apud Carneiro et al (2010:11) a propor defini-

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18 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

lo como um estado dinâmico de bem-estar, caracterizado por um potencial físico e mental que

satisfaz as necessidades vitais de acordo com a idade, cultura e responsabilidade individual.

Contudo, optamos por nos basear no conceito trazido pela OMS, na medida em que acreditamos

que se adequa ao contexto actual, e não só, é um conceito generalista, pois não devemos olhar para

a saúde só na vertente de enfermidade, mas também devemos basear-nos em aspectos sociais tal

como referência a OMS.

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4. CAPÍTULO: ESTRUTURA E ORGANIZAҪÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE

SAÚDE

Neste capítulo iremos apresentar a organização do Serviço Nacional de Saúde, sua composição,

função e objectivos. Descreveremos também, a estrutura e organização do HGJM, que é o local de

estudo deste trabalho.

4.1 O Serviço Nacional de Saúde8

O SNS foi criado em 1975 através do decreto-lei nº 5/75, de 10 de Agosto, este é dependente do

Ministério da Saúde (MISAU), tem como principal objectivo colocar a saúde ao alcance de todos

Moçambicanos e de forma não discriminatória, refira-se que a mesma lei foi revogada pela actual

lei nº 25/ 91.

Assim, como refere o Artigo 2 da Lei nº25/91 o SNS:

Por composição, è o conjunto das unidades sanitárias de formação e outras, dependentes do

MISAU, incluindo as que foram nacionalizadas em conformidade com o Decreto-lei nº 5/75 datado

de 10 de Agosto, que concorrem para assistência sanitária à população.

O SNS prossegue os seus objectivos através de acções promotivas, preventivas, assistências e de

reabilitação recorrendo à formação e pesquisa como meio para o seu desenvolvimento contínuo.

As instituições do SNS tem funções de supervisão, fiscalização e de apoio técnico ás unidades que

lhes são de nível inferior, sejam elas do sector privado ou público e, na sua função de fiscalização

e inspecção, as instituições de SNS recebem delegação dos órgãos centrais, províncias ou locais

do MISAU.

8 O SNS foi criado no fim do regime colonial português, quando o Governo viu a necessidade de criar serviços de

saúde que fossem mais extensivos e inclusivos, que pudessem no entanto, chegar a todos pontos do país para que

todos moçambicanos pudessem se beneficiar dos serviços e estruturas do mesmo, já que antes da independência o

direito à saúde beneficiava aos colonialistas portugueses (Cortez, 2005: 22).

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De acordo com MISAU (2007:24), o SNS encontra-se organizado, por ordem crescente de

dimensão, em quatro níveis, designadamente: a) O nível primário, constituído pelos Centros e

Postos de saúde divididos em urbanos e rurais; b) O nível secundário, no qual encontramos os

Hospitais Distritais, Rurais e Gerais; c) O nível terceário, composto por Hospitais Províncias e

finalmente d) nível quaternário, representado pelos Hospitais Centrais da Beira, Nampula e de

Maputo. Fazem ainda parte do SNS os Centros de Higiene e Exames Médicos, Instituições de

Formação Profissional, Laboratórios especializados e Instituições de Pesquisa, bem como outras

instituições que venham a ser criadas ao abrigo do Diploma Ministerial n˚127/2002.

O Hospital em estudo enquadra-se no nível secundário, apoiando o nível primário quer quanto aos

problemas técnicos como organizacionais, cabe a este nível resolver os problemas mais

complexos, remetendo para os outros níveis de atenção (terciário e quaternário) a solução de todas

situações que ultrapassem o âmbito da sua competência. (Cortez, 2005:23).

Segundo Mosse e Cortez (2016:9), hospitais do nível secundário diferem das outras unidades

sanitárias do seu nível inferior, pelo facto destes servirem de referência para os seus níveis

inferiores, estes constituem o primeiro nível de referência para os doentes que não encontram

solução para as suas doenças nos centros de saúde das suas zonas influência.

No decurso da nossa recolha de dados, apercebemo-nos de que o HGJM tem mais

responsabilidades não só em relação aos níveis inferiores bem como dos outros Hospitais do

mesmo nível, na medida em que, quando estes níveis não conseguem responder com eficiência aos

problemas de saúde dos utentes, transferem seus utentes para o HGJM acrescentando-lhe maiores

responsabilidades quando comparado com os outros Hospitais da mesma categoria. Nosso

argumento é sustentado pelo relatório de 2016, da seguinte maneira:

"O HGJM desempenha funções do seu nível superior (terceário), quer pelas especialidades

existentes, quer pelo volume das actividades realizadas, quer ainda pelo número de utentes que

presta serviços" (pág:5).

Actualmente, como refere o MISAU (2001:16), prestação de serviços de saúde em Moçambique,

é feita por quatro tipos de prestadores:

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O sector público, agrupado no SNS é o mais abrangente geográfica e tecnicamente;

O sector privado, que divide-se em lucrativo, de presença quase exclusiva em zonas

urbanas, e não lucrativo constituído por organizações não-governamentais nacionais e

internacionais, com fortes ligações com o sector público;

Os prestadores de serviços ao nível das comunidades, cobrindo parcialmente as

necessidades básicas nas áreas sem a presença do SNS; e

Os praticantes da Medicina Tradicional, de grande aceitação ao nível das zonas rurais

(idem:2).

4.2 Estrutura Física e Administrativa do HGJM

4.2.1 Breve Historial do Hospital Geral José Macamo

O Hospital Geral José Macamo existe desde o ano de 1922, período em que foi edificado o primeiro

bloco. Em 1944, o mesmo foi ampliado com a construção de dois novos edifícios e dotado de uma

sala de operações e posteriormente inaugurado como Hospital privado sob tutela da Igreja

Católica, com o nome de Hospital de São José de Lhanguene (HGJM/ relatório anual das

actividades realizadas; 2016:5). Com o advento das nacionalizações em 1976, o hospital passou

para a gestão estatal e, passou a ser classificado como unidade sanitária de nível secundário

passando já a designar-se Hospital Geral José Macamo (HGJM/ relatório anual das actividades

realizadas; 2016:6).

Figura 1: Imagem da fachada principal do Hospital Geral José Macamo.

Fonte: digitalnoindico.blogspot.com (acessado no dia 12 de Agosto de 2017)

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Entretanto, o HGJM desenvolve actividades além do nível da sua classificação (nível terciário),

medindo pelas especialidades existentes, número de actividades realizadas e número da população

que serve. Recentemente, esteve em curso o processo de reabilitação do Hospital, cujas obras

tiveram início no mês de Maio de 2007. Paralelamente, estiveram igualmente a decorrerem obras

de ampliação do Centro de Saúde José Macamo, que foram concluídas e entregues em Janeiro de

2009 (HGJM/ relatório anual das actividades realizadas; 2015:5).

4.2.2 Localização Geográfica do HGJM

O Hospital, está localizado em Moçambique, na cidade de Maputo, Distrito Municipal

Nhlamaculo, Avenida OUA, número 1003. Com uma área de abrangência sanitária de 52km2 é

limitada no Norte pela Província de Maputo, concretamente a localidade de Michafutene e Distrito

de Marracuene; a Sul pela Baía de Maputo e Distrito de Matutuine- Bela Vista; a Este pelos Bairros

de Chamanculo, Xipamanine, Aeroporto, Mavalane, Albazine e Mahotas e por fim à Oeste pelo

Vale de Influlene. (HGJM/ relatório anual das actividades realizadas, 2016:5).

O HGJM é unidade sanitária de referência para nove centros de saúde e dois hospital gerais

(Hospital Geral de Chamanculo e de Infulene), distribuídos em vinte e quatro bairros que

correspondem a quatro zonas sanitárias, o hospital ainda presta assistência aos centros de

Bagamoyo, do Zimpeto, da Catembe, de Magoanine, Inhagoia, Incassane, Mutsécua e

Chamissava. Para além destas unidades, em função da sua localização também assiste a pacientes

provenientes de unidades sanitárias da província de Maputo e Matola (Idem, pág. 6).

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Figura 2: Mapa da localização geográfica do HGJM e sua área de Saúde.

Fonte: Imagem retirada do relatório anual das actividades de 2016, página 6.

Actualmente, o Hospital tem uma capacidade de internamento de 369 camas distribuídas da

seguinte forma: 70 na Medicina, 55 na Pediatria, 48 na Neonatologia, 70 na Cirurgia, 24 na

Ginecologia, 68 na Maternidade. Para além das referidas existem 34 camas nos serviços de

urgência que não são contabilizadas como camas de internamento (Idem, pág: 4).

No atendimento geral do Hospital, realizam-se consultas externas somente durante os dias úteis

da semana. Entretanto, os serviços de internamento compreendem várias especialidades tais como:

consultas de Medicina, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia, Otorrinolaringologia,

Dermatologia, Oftalmologia e Estomatologia.

Refira-se que estas consultas são assistidas por Médicos de clínica geral e especializados, o

Hospital oferece ainda, consultas de Psiquiatria, Fisioterapia e Nutrição, assistidas por Técnicos

especializados nas respectivas áreas. (Relatório das actividades de 2015:5). No que diz respeito a

caracterização das actividades, até 2016 o Hospital cobria uma população estimada de 446.125

habitantes. Contudo, para além destes, o HGJM continua a assistir utentes da província de Maputo,

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principalmente dos distritos localizados na zona sul da província e dos bairros que fazem limite

com a área de saúde do Hospital. (Relatório das actividades de 2016:7).

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5. CAPITULO: A PROBLEMÁTICA DA CORRUPÇÃO NO HGJM E SEU IMPACTO

NA PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE.

O capítulo 4, relativo à apresentação dos resultados. Este capítulo, compreende especificamente

a interpretação dos resultados obtidos no trabalho de campo, destacando os elementos que criam

oportunidades para ocorrência da corrupção, as causas, as manifestações e consequências da

corrupção.

5.1 Elementos que concorrem para o alastramento da corrupção no HGJM

Após a apresentação da estrutura organizativa do SNS, neste capítulo discutir-se-á as causas da

corrupção no sector em estudo, mas antes pretendemos trazer alguns elementos que concorrem

para os factores que facilitam o alastramento deste fenómeno no sector.

Portanto, a USAID (2005:6) defende que uma das razões que concorrem para a propagação da

corrupção no país tem a ver com a insuficiência da responsabilização por parte do Governo perante

os cidadãos envolvidos em actos de corrupção, um sistema que é facilitado por uma falta de

fiscalização dos órgãos competentes aliada a um sistema judicial que tende a colocar a política

acima da lei e, finalmente, pela falta da transparência na gestão da coisa pública.

Na mesma abordagem, Jardim (2013:10) realça que a cultura de impunidade vigente na maioria

dos países, onde a justiça é morosa e indivíduos que podem pagar bons advogados não passam

muito tempo presos ou mesmo não são punidos acaba facilitando a ocorrência e práctica da

corrupção. É evidente, que para estes autores a manutenção dos elevados índices de corrupção

resulta da certeza da impunidade dos que praticam actos fraudulentos, já que raramente estes casos

são punidos. Assim, entendemos que existe um excesso de oportunidades para envolver-se em

actos corruptos aliada a certeza da impunidade e falta de moral tanto por parte dos utentes como

dos funcionários do HGJM.

Uma das perguntas patentes no nosso inquérito, era ligada a essa questão das punições aos

funcionários quando fossem denunciados ou flagrados, as respostas dos dois lados não deixaram

dúvidas de que existia falta de responsabilização. Uma enfermeira geral afecta na Maternidade

focou neste aspecto de falta de responsabilização nos seguintes termos:

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" Alguns colegas metidos nestes esquemas, são por muitos de nós conhecidos, mas nada acontece

com eles, eu mesma pelo facto de um colega ter feito uma cobrança a um familiar meu (sem

conhecimento) chamei-lhe atenção e comentei com a chefe da equipa, mas nada lhe aconteceu,

nem suspenso foi" (Entrevista de 25 de Abril, as 13h45).

Hermenegildo Timana, também falou-nos da falta de responsabilização dos que praticam, da

actuação em rede e da predisposição do funcionário em fazer a cobrança ilícita aliada a

predisposição do utente em pagar o suborno, acrescentou ainda o problema da fraca capacidade do

Estado em melhorar os salários dos funcionários públicos, e por último a fraca formação dos

prestadores dos serviços de saúde que acaba prejudicando a qualidade dos serviços que nos

prestam como coeficientes que facilitam o alastramento da corrupção (Entrevistado no dia 11 de

Maio as 13horas, no GCCC).

E finalmente Edson Cortez9, mencionou a falta de exemplos dentro do próprio sistema "…A falta

de exemplo faz com que alguns funcionários tenham a percepção de que os seus superiores usam

seus cargos para proveito pessoal e consequentemente os valores de toda cadeia começam a

desvirtuar-se" (Entrevistado a 8 de Junho de 2017).

A lei nº 6/2004 de 17 de Junho (Lei Anti-corrupção) faz referência especial à duas formas de

corrupção: i) a corrupção passiva para acto ilícito e a ii) corrupção activa para acto ilícito, portanto,

na situação descrita pela enfermeira, estamos diante da corrupção passiva, que é a ofensa cometida

pelo funcionário que recebe o suborno, em contrapartida, quando a corrupção parte do utente,

estamos perante a corrupção activa para acto ilícito, que seria a ofensa cometida pela pessoa que

promete ou oferece o suborno.

Recorremos então, aos relatórios do HGJM a fim de nos inteirar dos números relativos ás punições

de casos corruptos onde foram aplicadas medidas disciplinares como advertências, repreensões,

demissões e expulsões aos infractores, constatamos que em 2014 houve um total 12 medidas

disciplinares contra 13 e 8 de 2015 e 2016 respectivamente.

9 Investigador associado do Centro de Integridade Pública (CIP).

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Quando questionamos a chefe do SUR sobre o tratamento de casos envolvendo corrupção,

respondeu-nos:

"Situações contrárias ao regulamento em vigor neste Hospital são encaminhadas a Direcção do

Hospital e dependendo da gravidade do caso, encaminhamos aos Recursos Humanos de lá saem

decisões como advertências e repreensões, quando o caso for grave os Recursos Humanos

passam-no á Direcção de Saúde da Cidade de Maputo daí pode resultar em demissão ou expulsão

do aparelho do Estado" (Enfermeira Dina, entrevistada a 21 de Abril de 2017).

5.2 Natureza das Estruturas de Incentivos e Motivação

Após identificar os factores que explicam o alastramento deste fenómeno, vamos asseguir discutir

os factores precedentes, ou seja, as circunstâncias dentro das quais manifesta-se a corrupção no

sector da Saúde, e consequentemente no HGJM.

Num estudo sobre avaliação da corrupção em Moçambique, a USAID considerou que uma das

causas da corrupção no sector da saúde está ligada à falta de controlo e fiscalização por parte dos

órgãos competentes, associado a falta de transparência e acesso limitado a informação. O

documento, faz também menção à cultura de impunidade que reina sobre a corrupção, já que este

fenómeno é visto como sendo uma actividade de baixo risco mas de grande recompensa pelos

praticantes (USAID, 2005:1).

Por sua vez, Klitgaard (2000:34) considera que a corrupção é resultado do monopólio do poder,

mais o poder discricionário10 dos funcionários, menos a responsabilização. Entendemos que esta

expressão enquadra-se no contexto Moçambicano, na medida em que:

O poder discricionário dos funcionários públicos não é controlado, as leis são pouco

respeitadas;

10 Segundo Bobbio et all (1998), refere-se a prerrogativa legal conferida à Administração Pública para a prática de

determinados actos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. Em

outras palavras, trata-se da liberdade de acção na Administração pública dentro dos limites estabelecidos por lei.

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O poder encontra-se altamente concentrado num único partido e poucos grupos da

sociedade são razoavelmente capazes a ponto de contestar o poder desse partido; e

Assiste-se pouca responsabilização dos funcionários perante os cidadãos (Klitgaard,

Maclean-Abaroa e Parris, 2000:23).

Macuane (2006:7), reforça a ideia defendida por Klitgaard ao resumir as causas da corrupção na

seguinte equação:

C (corrupção) = M (monopólio) +Discrição – A (accountability)

A equação mostra também que a corrupção depende do monopólio e do poder discricionário que

os funcionários públicos possuem, combinados a existência de fracos mecanismos de prestação de

contas, tais como: sistemas administrativos e financeiros frágeis assim como instituições e

agências de controlo, fiscalização e supervisão ineficientes.

Finalmente, Jean-F-Médard (1998) apud Cortez (2005:19) defende que a principal causa para

ocorrência da corrupção em África é a falta de distinção entre a esfera pública e privada, e esta faz

com que aqueles que estão incumbidos de gerir o bem público tenham por vezes a propensão de

usar estes bens para proveito próprio. A partir desta constatação, surge o discurso segundo o qual

a corrupção floresce em África devido ao neo-patrimonialismo, já que o detentor do poder olha

para o Estado como sua propriedade privada.

No sector da saúde, em particular no HGJM, segundo as informações que colhemos com os

funcionários bem como com os utentes, as práticas corruptas são explicadas através dos seguintes

factores:

5.2.1 Baixa Capacidade Institucional do SNS

Segundo Cortez (2005:7), a baixa capacidade institucional constitui uma importante dimensão na

fragmentação do Estado, o que estimula uma má governação, na medida em que os funcionários

públicos a partir dessa fraqueza institucional criam sempre mecanismos para tirar vantagens ao

seu benefício em pequena e grande escala, isto é, a fraca institucionalização ao nível do Estado,

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contribuí no geral para a desmoralização dos funcionários públicos levando a que alguns deles

escolham a corrupção como alicerce para a sua sobrevivência. No caso do HGJM, essa fraqueza

institucional evidenciada pelo SNS reflete-se numa infinidade de problemas, sendo de destacar as

dificuldades de ordem material, humana e financeiras. O relatório do HGJM de 2015, confirma o

nosso argumento acima ao apontar problemas como: insuficiência de pessoal (Médicos,

Enfermeiros e pessoal serventuário), insuficiências de recursos materias e medicamentos e

consequentemente demora na transferência de doentes, chegando a ficar em estado crítico

impossível de reverter e finalmente falta de macas e cadeiras de rodas para doentes (pág. 39). Essas

situações descritas, evidentemente que criam condições para o utente procurar aliciar o funcionário

a fim de ver sua situação resolvida o mais breve possível.

5.2.2 Baixos salários

Jackman e Mantinola (2002) apud Power e González (2003:65) atribuem o aumento do

comportamento corrupto na função pública aos baixos salários auferidos, na sua acepção estes

criam incentivos para o envolvimento em práticas corruptas. Na mesma ordem, a USAID

(2005:33), afirma que os baixos salários11 estão na origem da extorsão dos doentes e de pedidos

de pagamentos ilícitos, o facto de o MISAU pagar incentivos e bónus a alguns funcionários acaba

criando uma variação extrema na remuneração total dos Técnicos de saúde. Notamos, que durante

as nossas entrevistas 77% dos funcionários focou repetidamente neste aspecto, a título de exemplo

uma servente revelou-nos:

"Eu recebo menos de 4.000, 00 Mt aqui, tenho 3 filhos que estudam, precisam vestir e comer, Acha

que um paciente ou familiar quiser-me oferecer alguma gratidão por causa do meu trabalho devo

negar? Nós aceitamos dinheiro dos pacientes aqui porque recebemos pouco, as vezes o paciente

dá-nos sem termos pedido. As vezes esse pouco demora, hoje é dia 30 e salário ainda não recebi"

(Entrevista com uma enfermeira geral afecta no Banco de socorros, 30 de Maio de 2017 as 08h43).

11 Não conseguimos ter acesso a tabela salarial do HGJM, mas segundo uma enfermeira afecta no Banco de

socorros, um Servente recebe aufere 3.000 meticais, um Enfermeiro básico 5.000, um médio 7.000 meticais e um

Médico especialista cerca de 30.000 meticais (entrevista a 19 de Outubro de 2017).

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As alegações dos baixos salários auferidos na função pública tem muito consenso a nível dos

escalões inferiores da estrutura administrativa, mas o mesmo não se pode dizer com relação ao

outro escalão, isto é, a classe superior aos Serventes e Enfermeiros refuta a ideia que relaciona os

baixos salários à corrupção, vejamos o seguinte testemunho de um dos chefes do banco de

socorros:

"Há indivíduos aqui gananciosos, que gostam de um padrão de vida que não se adequa a sua

realidade financeira, acabando por criar vícios que nem o próprio salário suporta. Então penso

que o baixo salário auferido não só na saúde como ao nível de toda função pública não deve ser

encarado como dinamizador da corrupção, se não todos aqui seríamos corruptos, mas temos uma

deontologia profissional que temos que seguir".

E finalmente Hermenegildo Timana comentou sobre esta questão nos seguintes termos:

" Essa desculpa de baixos salários para justificar actos ilícitos prefiro substituir por falta de

patriotismo, falta de ética e postura profissional. Só um individuo com ambição desmedida se

envolve em actos assim de incumprimento da lei".

No dia 13 de Junho de 2017 o jornal electrónico @verdade Mobile12, escreveu que em

Moçambique as categorias mais mal pagas, eram curiosamente dos sectores mais importantes

(Agricultura, Educação e Saúde). Evidentemente, o sector em estudo consta na lista e o mais

curioso é que quem mais trabalha pouco ganha, o aspecto relacionado às condições físicas da

estrutura hospitalar e às condições de trabalho, foi durante as entrevistas muito relatado pelo que

percebemos que existia muita precariedade nas condições de trabalho, bem como falta de

equipamentos e de matérias para realizar determinados procedimentos tais como material para

fazer curativos nos doentes.

12 @verdade Mobile acessado a 08 de Agosto de 2017.

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31 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

5.2.3 Fraca Presença de Inspecções e Sanções

Em Moçambique, a instituição central de prestação de contas no SNS é o MISAU, e dentro deste

existe a Inspecção Geral da Saúde (IGS). Este órgão, de acordo com MISAU (2013:110), tem

como função garantir a fiscalização do funcionamento do SNS, particularmente no que respeita a

legalidade dos actos, a eficiência e rendimento dos serviços. Compete igualmente a IGS, estimular

a melhoria da qualidade de prestação dos serviços aos diversos níveis de atenção médico-sanitária,

através da promoção da implementação das normas de garantia de qualidade, participar na

fiscalização do exercício das profissões médicas, farmacêuticas e paramédicas. Portanto,

entendemos que a IGS contribuiu significativamente para melhoria da prestação de serviços de

saúde, então a sua fraqueza põe em risco a eficácia do seu desempenho, podendo desencadear a

corrupção. Entretanto, note-se que a fraqueza institucional a que nos referimos antes, é um

calcanhar de Aquiles para este órgão. O Plano Estratégico do Sector da Saúde (PESS), refere-se a

este aspecto nos seguintes termos:

…" a fraca capacidade institucional resultante da escassez de recursos humanos, quer qualitativa

quer quantitativa, a falta de instrumentos adequados de trabalhos e as deficiências no quadro

legal do sector, emperram o desempenho eficaz da IGS, consequentemente, a IGS concentra-se

somente nos aspectos administrativos…" (MISAU, 2013:95).

No sector em estudo, os actos tendentes a corrupção são frequentes, ganhando mais prática devido

a falta de uma fiscalização eficaz, em diversos sub-sectores que o compõem. Pois os funcionários

o praticam com uma ligeira segurança, já que os funcionários sabem que as chances de serem

flagrados são poucas.

5.3 As contravenções identificadas no HGJM

Nesta secção, a pergunta que procuramos responder é:

De que maneira é praticada a corrupção no HGJM, e atendendo o facto de que o tema envolve

algum secretismo tentamos abordá-lo com os nossos entrevistados com certa suavidade. Como

mencionamos anteriormente, existe a corrupção activa e passiva e ambas existem no HGJM,

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32 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

constatamos que de 2014 à 2016 o Gabinete do utente fez o registo de um total de dez reclamações

em 2014, cinco em 2015 e dezasseis em 2016 de casos envolvendo corrupção aliado ao mau

atendimento hospitalar segundo explicou-nos a Técnica Emília13 (Entrevistada 06 de Junho de

2017).

Reiterar, que notamos uma disparidade entre a informação dada pela Técnica e a que constava no

livro de reclamações, pois, a Técnica revelou-nos um total de cinco reclamações registadas em

2015, mas constatamos doze quando tivemos acesso ao livro referente a esse ano, do qual

extraímos a seguinte reclamação:

"Aqui somos mal tratados e atendidos tarde, principalmente quando não temos o dinheiro de

refresco…quem paga até parece que está numa clínica" outra reclamação do mesmo ano e

coincidentemente mesmo dia, dizia: " ficamos horas e horas numa fila que não anda, enquanto

eles conversam dentro dos gabinetes ou mexem celulares…não se importam se tem alguém aqui

a gemer ou não…falta humanismo no atendimento neste centro".

A Técnica Emília abordou a questão referente as reclamações acima do seguinte modo: "o

problema dos utentes quando chegam aqui é de quererem ser atendidos imediatamente, por

exemplo nos feriados e finais de semana o fluxo de utentes é maior quando comparado com outros

dias, as vezes só estão de serviço 2 Técnicos e 1 Médico no consultório, e para atender muitos

utentes em pouco tempo fica complicado", refira-se que segundo a nossa entrevistada o SUR é o

departamento mais reclamado (entrevista do dia 02 de Junho de 2017, as 13h00).

Das informações que obtivemos no Gabinete do utente, um problema que tem servido de ponte

para as oportunidades e manifestações da corrupção no HGJM despertou-nos atenção, que é o da

insuficiência de Médicos, problema descrito como constrangimento nos relatórios de 2014 à 2016

respectivamente. Entretanto, notamos que a insuficiência de Médicos tem estado na origem das

longas filas, acabando por criar condições para que enfermeiros e serventes se aproveitem da

situação da morosidade para se envolverem em situações de cobrancas ilícitas com os utentes

desesperados para serem atendidos.

13 Técnica afecta no Gabinete do utente do HGJM.

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

33 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

A maioria dos nossos inqueridos confirmou que existia sim corrupção naquela unidade sanitária,

e que tanto os funcionários assim como utentes estavam envolvidos, visto que quando não era o

funcionário a exigir "indirectamente" algo em troca para prestar os cuidados de saúde era o próprio

utente ou seu familiar a oferecer. Perguntamos aos funcionários se receber algo em troca de um

serviço prestado sem ter exigido era corrupção?

Dos Enfermeiros e Serventes inquiridos 77% respondeu que não consideravam corrupção, embora

reconheçam que seja errado, mas ainda assim recebem. Mas afinal quais foram as infracções

identificadas ao longo da recolha de dados?

5.3.1 O suborno/Cobranças Ilícitas

O suborno ou cobrança indevida foram as formas de corrupção mais referidas que identificamos

no campo. Refira-se que são também consideradas as mais comuns a nível do sector público

(PNGC, 2010:82).

Mosse & Cortez (2006:17) definem suborno como o pagamento (em dinheiro ou espécie) que é

feito numa relação de corrupção, trata-se de uma soma fixada sobre forma de favorecimento em

dinheiro ou espécie. Entretanto, percebemos que a corrupção manifesta-se de variadas formas

dependendo da interacção que se venha estabelecer entre os actores envolvidos (funcionário e o

utente). Assim, neste trabalho usamos o termo suborno para referir a situação na qual um utente

oferece dinheiro ao funcionário visando a obtenção de favores ilícitos, e o termo cobrança ilícita

para o caso em que um funcionário aceita dinheiro ou outras vantagens a troco de favores ilícitos.

Durante o nosso ascultamento, identificamos casos semelhantes, como foi o caso da paciente que

encontramos na fila do laboratório, que disse-nos:

"Fui diagnosticada miomas, e no Hospital informaram que precisaria de duas pessoas para doar

sangue a meu favor, procurei sem sucesso dois doadores, até que conversei com o Técnico para

ver como poderia ajudar, eis que ele disse que me poderia vender sangue a 4.000 Mt " (Utente

entrevistada no laboratório, a 14 de Fevereiro de 2017, as 15h02).

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34 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

O caso patente acima, mostra exemplos de casos muito comuns que acontecem no Laboratório do

HGJM, venda clandestina de sangue que tem sido doado por indivíduos de forma voluntária e

gratuita. Dados fornecidos no Laboratório do HGJM, davam conta de que em 2015 foram colhidos

cento e vinte e cinco mil e seiscentos e dezoito unidades de sangue, no entanto 55%

correspondentes a doações feitas voluntariamente, contra 45% de reposição, isto é, quando os

indivíduos doam para familiares ou amigos.

No entanto, questionados os pacientes porquê pagavam para terem acesso a um serviço no

Hospital, eis que um respondeu-nos nos seguintes termos:

"Eu pago para não levar o dia todo aqui no Hospital, porque por mais que cheguemos cedo sempre

demoram para nos atender, quando não pago fico o dia todo aqui e eu trabalho não posso passar

o dia no Hospital por causa de uma simples consulta". (Utente entrevistado no SUR, a 14 de

Fevereiro de 2017, as 14h00).

A paciente que encontramos no laboratório, que pagou pelo sangue, respondeu-nos que havia pago

para que seu processo fosse tramitado com maior brevidade possível, já que sem pagamentos

alguns processos são deixados para último plano, ou por vezes perdidos.

Das declarações que mencionamos acima, percebemos que em alguns casos são os utentes que

tomam a iniciativa de subornar na esperança de receber um melhor atendimento, eficiente e mais

rápido. Portanto, a maioria que confirmou que pagou suborno justificou problemas como o mau

atendimento que passam quando não pagam, morosidade no atendimento e a falta de orientação

sobre a que serviço dirigir-se como situação que tem favorecido que estes actos aconteçam com

mais facilidade, portanto a maioria encara o suborno como um mecanismo para que seus processos

clínicos tenham um devido encaminhamento.

5.3.2 Desvio e Roubo de Medicamentos

Outra forma comum que constatamos foi o desvio de medicamentos, mas importa referir que do

ponto de vista legal, como afirmam Mosse e Cortez (2006:18), o desvio de medicamento não é

considerado corrupção. Porém, decidimos incorporar esta variável no nosso trabalho devido à

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repercussão que este acto tem tido na qualidade dos serviços prestados. Muitos utentes queixam-

se da falta de medicamentos no HGJM, durante uma entrevista que fazíamos na sala da pequena

cirurgia à um enfermeiro geral, assistimos uma situação em que uma mãe que trazia sua filha

menor padecendo devido à queimaduras, teve de comprar o medicamento no técnico que a atendeu

no valor de 75 Meticais, enquanto que em norma o medicamento devia estar disponível na

Farmácia do Hospital a um custo de 5 Meticais. Eis que a senhora conta como chegou a esse ponto:

…" Cheguei aqui na madrugada da sexta -feira totalmente desesperada porque minha filha sofreu

queimaduras, fui atendida naquela sala e passaram-me a receita com 3 medicamentos, dos quais

só tive paracetamol na farmácia daqui do hospital, mas antes o enfermeiro que me atendeu tinha

dito que caso não apanhasse esses medicamentos na farmácia ele poderia ajudar" ( Mãe de uma

paciente, entrevistada a 25 de Abril, em frente à sala de pequena Cirurgia –SUR).

O que acontece é que alguns funcionários do HGJM usam a facilidade que tem no acesso ao

armazém onde são guardados os medicamentos para os desviarem e fazerem disso um negócio a

nível do hospital bem como fora do mesmo, tornando-se numa das fontes de rendimento destes,

esta prática é mais comum entre os Serventes e Enfermeiros segundo o que apuramos no campo.

O desvio de medicamentos representa grandes perdas financeiras para o SNS e afecta

negativamente na qualidade dos serviços de saúde prestados a nível dos Hospitais. Em uma visita

feita pela titular da pasta, Nazira Abdula, aos Hospitais públicos de referência na capital e a

Central de Medicamentos e Artigos Médicos (CMAM) a 31 de Maio, a Ministra reclamou

situações como medicamentos fora do prazo, quando as farmácias dos Hospitais registam

insuficiência de medicamentos, cobranças ilícitas, falta de higiene nos Hospitais, e longas filas nos

corredores resultantes de Médicos turistas14 (reportagem exibida na Miramar, na edição do fala

Moçambique, dia 31 de Maio de 2017 às 20h07). A USAID, focou este problema de desvio de

medicamento como uma indicação clara de uma grave falta de mecanismos de controlo adequados

(USAID, 2005:24).

14 Chamamos Médicos turistas, aqueles que chegam tarde aos Hospitais públicos atendem poucos utentes e vão

atender nas suas clínicas privadas.

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36 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

5.3.3 Utilização Indevida de Recursos Públicos

O uso indevido de recursos públicos, por parte dos funcionários do HGJM, principalmente os

Médicos15, foi também um dos comportamentos corruptos que constatamos ao longo da nossa

pesquisa. Este reflecte-se na utilização dos recursos existentes no Hospital público com o objectivo

de obter proveitos próprios, referimo-nos por exemplo aos recursos materias e aos medicamentos

das unidades sanitárias. Segundo Gonzalèz (2005:513), nos Países em via de desenvolvimento não

é invulgar constatar a apropriação de materias ou medicamentos do sector público para uso

diferente daquele que seria devido. Similarmente, é relativamente comum a utilização de

equipamentos públicos para prestar assistência a doentes privados em Hospitais públicos.

O cenário descrito acima, tem acontecido no HGJM, onde acompanhamos dois casos. Por um lado,

o caso de doentes que vinham sendo assistidos no privado mas que não dispondo de recursos

financeiros para continuar seu tratamento eram enviados para o Hospital público a fim de continuar

seu processo assistencial com o mesmo Médico encontrado na clínica e posteriormente no Hospital

público. Por outro lado, os doentes tem sido aliciados pelos Médicos a continuarem seu tratamento

no privado, alegando que lá poderão ter um melhor acompanhamento. Acreditamos que este

comportamento tem acontecido devido aos incentivos financeiros, quem nos explica isso é o

enfermeiro geral afecto no SUR, com o seguinte comentário:

"Os Médicos é que tem muito interesse nessa prática, principalmente porque alguns são

proprietários, sócios ou detentores de participações nas clínicas onde também trabalham, e note

que no sector público a remuneração é fixa, enquanto no privado vária em função da produção"

(entrevistado a 25 de Abril de 2017).

Entretanto, este mecanismo de natureza financeira é que tem reforçado o comportamento de desvio

de doentes do público para o privado. Quando falamos do uso indevido dos recursos públicos para

o privado, não há como não referenciar o problema do pluriemprego médico16 que está

directamente ligado a pretensão por parte dos Médicos de maximizar seus rendimentos. Segundo

15 No geral os Médicos metidos nestes actos são aqueles que trabalham em simultâneo no sector público e privado

da saúde. 16 Chama-se pluriemprego médico o desempenho pessoal em mais do que um trabalho remunerado. Mas interessa-

nos neste trabalho, focar o acúmulo de empregos na área da saúde.

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37 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

a USAID (2005:33), os Médicos podem ser funcionários em tempo inteiro do MISAU a

trabalharem em Hospitais públicos, enquanto exercem suas funções simultaneamente em clínicas

privadas, isso permite que estes recebam seus salários no sector público na totalidade, apesar do

facto de poderem estar a trabalhar em clínicas durante o seu horário de trabalho nas unidades

sanitárias estatais.

Para o PNGC (2010:33) esta política do Governo que permite o exercício simultâneo da medicina

privada e pública não tem surtido bons resultados, na medida em que tem causado problemas como

absentismo e conflito de interesses por parte dos Médicos.

Ora vejamos, acreditamos que essa opção política por parte do Governo apresenta reacções mais

negativas do que positivas. Mas importa-nos apresentar os efeitos adversos desta política, a

começar pelo facto de que os Médicos ao acumularem funções acabam provocando efeitos sobre

a oferta, os custos e a qualidade dos serviços prestados.

5.4 Consequências da Corrupção

As Consequências da Corrupção no sistema de saúde em Moçambique, particularmente no HGJM

serão arroladas neste parágrafo, mas antes gostaríamos de considerar, que segundo Guilherme

(2016:2) a origem do estado está directamente ligada com a sua finalidade, isto é, manter a ordem,

assegurar a defesa e promover o bem-estar e o progresso da sociedade, não podendo desse ideal

nunca se afastar, sob pena de não ser possível justificar sua própria existência.

A Constituição da República de Moçambique (2004) no seu artigo 11, alíneas C e E que passo a

citar, estabelece:

A edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual

e de qualidade de vida dos cidadãos;

A defesa e a promoção dos direitos humanos e a igualdade dos cidadãos perante a lei.

No entanto, tomando como base os princípios consagrados na Constituição da República, podemos

afirmar que a corrupção fere criminalmente a Lei-mãe, uma vez que afecta o bem-estar dos

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38 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

cidadãos constituindo a causa na maioria das vezes da diminuição dos investimentos destinados a

saúde e demais sectores do governo fomentando assim a exclusão e desigualdade social.

Situações como subornos e desfalques do património público propiciadas pela corrupção afectam

directamente o desenvolvimento económico, político e social da população, a qual ao invés de

crescer de forma a obter melhorias na qualidade de vida, vê-se refém da pobreza e falta de serviços

públicos básicos (Guilherme 2016:4). Importa referir, que evidentemente a corrupção não acarreta

as mesmas consequências em todos os cidadãos, já que a condição económica do indivíduo tem

uma grande influência criando uma diferenciação significativa nos danos advindos deste mal. Ao

afirmar isso, não deixamos de reconhecer as consequências nefastas que a corrupção possa ter até

para indivíduos "com dinheiro", o que queremos dizer, é que as consequências são extremamente

diferentes. Nos países pobres a corrupção acentua a desigualdade, causa ainda mais a injustiça

social e não permite que políticas públicas sejam implementadas. A esse respeito Gordillo

(1997:32) afirma que em Países chamados de modernidade tardia, a corrupção propícia

consequências ainda mais danosas já que relaciona a pobreza e a exclusão a partir da falta de acesso

a serviços públicos essências, para o autor quanto maiores os índices de corrupção menores serão

as políticas públicas de implementação nos direitos sociais.

A UNODC (2015:2), aponta a corrupção como responsável pela diminuição de serviços, visto que,

desvia fundos destinados aos serviços básicos, principalmente cuidados de saúde, educação, acesso

e água potável, saneamento e à habitação. Entretanto, a corrupção envolvendo funcionários

públicos constitui um grande obstáculo à capacidade do Governo satisfazer as necessidades

fundamentais dos cidadão e, em países como Moçambique, onde a ajuda externa deveria melhorar

a qualidade de vida, a corrupção se torna uma barreira aos esforços da comunidade internacional,

consequentemente afasta os investimentos estrangeiros que temerosos dos riscos preferem não

investir.

Uma outra abordagem sobre as consequências da corrupção, nos é trazida por Huntington

(1968:17), onde o autor chama atenção ao facto da corrupção aumentar a ineficiência e morosidade

burocrática pois, cria um estímulo para a procura de novos e mais rendas ilícitas; impedindo a

modernização burocrática ao cristalizar o nepotismo e o clientelismo na gestão da coisa pública,

por consequência aumenta a despesa pública desproporcionalmente às receitas.

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39 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

A práctica da corrupção tem consequências desastrosas no sector em estudo, tais como

descredibilidade institucional, o que por sua vez reduz os investimentos na área da saúde e baixa

a qualidade dos serviços prestados, dado que, quem paga é quem tem bom atendimento, assim,

estatisticamente a maioria é prejudicada, e também constitui um entrave ao desenvolvimento do

País pois o Estado perde dinheiro que poderia ser investido para melhorar o próprio sector

(Entrevista com Hermenegildo Timana, 11 de Maio de 2017).

A corrupção constituiu, um objecto de estudo científico da sociedade, porquanto tem efeitos

reconhecidamente negativas, existe uma concordância entre os estudiosos acerca da sua

prejudicialidade, chegando a ser comparada frequentemente a um câncer que destrói o tecido

cultural, económico e político (Pagoto, 2010:71).

Um dos utentes inquiridos no Banco de socorros focou nos efeitos da corrupção nos seguintes

termos:

"A corrupção prejudica muito a nós pobres, pois por mais que cheguemos cedo sem dinheiro

somos atendidos tardiamente…a verdade é que o pessoal da saúde está desviado daquele que

deveria ser seu comportamento como servidores público, seus actos contrariam o legado segundo

o qual os utentes devem ser atendidos sem descriminação" (21 de Fevereiro de 2017).

Outro depoimento colhido na Maternidade focou no seguinte ponto:

"Existem casos de mulheres que optam por dar a luz em casa por saber que aqui sem dinheiro na

ponta da capulana o atendimento não será dos melhores, por isso ouvimos casos de complicações

pós parto tanto para mãe ou para o recém-nascido" (Entrevistada a 17 de Julho de 2017).

E por último ouvimos:

“Ir a um hospital público é um sofrimento, pior para quem não tem como pagar. Porque se não

tens como molhar a mão de alguém daqui passas o dia todo no hospital, a maneira como o servidor

te trata é totalmente diferenciada, faz nos pensar que estamos a pedir algum favor vindo aqui ˮ

(Entrevista a 17 de Julho de 2017).

Dos comentários acima, concluímos que no caso particular do HGJM, a corrupção tem prejudicado

significativamente os serviços de saúde e a própria imagem da instituição a nível dos utentes, e

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40 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

notamos que os impactos desta práctica são ainda mais desastrosos para indivíduos desfavorecidos,

pois estes se deparam com problemas como a indisponibilidade de materias, equipamentos e

medicamentos e assim, não conseguem obter os serviços de que necessitam pois são obrigados a

pagar uma percentagem maior do que seus rendimentos para ter acesso a serviços que por lei

deveriam ser prestados a título gratuito ou a um valor mais baixo. Portanto, os utentes ficam

limitados dado que, não dispondo de dinheiro para pagar alguns tratamentos acabam pagando com

a própria vida com situações como maus tratos, amputamentos ou eutanásias, e note-se que na

maioria das vezes quem não tem condições de pagar tem sido o mais grave clinicamente. A nível

das mulheres grávidas, este fenómeno fomenta a ideia de que ir à maternidade do Hospital sem

dinheiro na ponta da capulana é o mesmo que pôr sua vida e a do seu bebé em risco, e acabam

optando pelo parto domiciliar, sem a devida assistência, as consequências destes partos são

inúmeras sendo de destacar hemorragias, lacerações devido ao material usado para o corte do

cordão umbilical, asfixia, traumatismo no recém-nascido causado pelas manobras mal feitas e no

caso mais extremo morte da mãe e/ou do recém-nascido. A falta de medicamentos causado pelo

roubo e desvio deste, faz com que alguns (aqueles que não tem condições de adquirir nas Farmácias

privadas) tenham sua situação agravada devido a não medicação apropriada o que põe em risco a

sua vida. O pessoal da saúde ao envolver-se nestes actos se desvia daquele que deveria ser seu

comportamento como servidor público engajado em salvar vidas, importa referir que este

comportamento não é generalizado mas sim de uma parte de funcionários e utentes do Hospital

Geral José Macamo.

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

41 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

6. CAPÍTULO: QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM UMA UNIDADE

HOSPITALAR- O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSЀ MACAMO

Os serviços de saúde pública e privado estão sofrendo mudanças e paradigmas, trazendo a

necessidade de optimização de processos e aumento de produtividade que resultem em melhor

atendimento e em menor custo. Porém, no sector público da saúde se tem debatido com os actos

de corrupção que de forma acentuada tem influenciado na qualidade dos serviços prestados.

Neste capítulo, procede-se a Análise do Impacto da Corrupção na Qualidade dos Cuidados de

Saúde Prestados nos Hospitais Públicos de Maputo: o caso do Hospital Geral José Macamo (2014-

2016). Para esta análise baseou-se, nos indicadores de qualidade de serviços prestados em unidades

hospitalares fornecidos pelo MISAU coadjuvados com as pesquisas bibliográficas, e nos

resultados nos inquéritos ministrados aos utentes do hospital em referência.

6.1 Indicadores de Qualidade dos Cuidados de Saúde prestados em Unidades

Hospitalares

Segundo o MISAU (2014:9), indicadores de saúde representam medidas sumárias que captam

informações, tidas em vários atributos e dimensões do estado do desempenho hospitalar, na

intenção de refletir a prestação dos serviços prestados e desempenho hospitalar.

Estes são instrumentos de avaliação que podem determinar, alterações directas ou indirectas, como

por exemplo a ocorrência de uma doença ou evento relacionado à saúde ou outro factor associado

a ele.

Portanto, existe ao nível do SNS vários tipos de indicadores, através dos quais é possivel avaliar a

qualidade dos cuidados de saúde nas unidades sanitárias, porém os indicadores gerais básicos de

avaliação são os indicadores de Estrutura e de Processo, já nos epecíficos podemos identificar:

indicadores de consulta externa, de urgência, de hospitalização, do centro cirúrgico, de serviço de

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NOS HOSPITAIS PÚBLICOS DE MAPUTO: O CASO DO HOSPITAL GERAL JOSÉ MACAMO (2014-2016).

42 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

apoio, de imagiologia, farmácia, de resultados, de desempenho das actividades cirúrgicas, de

qualidade administrativa, etc (MISAU, 2014:8).

6.1.1 Tipos de Indicadores

segundo Donabedian apud (MISAU, 2014:10), o método para avaliar a qualidade da prestação de

cuidados de saúde pode ser aplicado a três elementos básicos: estrututura, processo e resultados.

Os indicadores de qualidade da estrutura: medem como os provedores de cuidados tem

organizado os recursos humanos e materias que dispõem para melhorar a saúde dos utentes;

Os indicadores de qualidade do processo: medem directa ou indirectamente, a qualidade

das actividades realizadas durante o atendimento aos utentes; e

Os indicadores baseados em resultados ou indicadores de impacto: medem o nível de

sucesso no utente, isto é, se os procedimentos realizados atingiram os objectivos ( idem:

10).

Entretanto, vamos nesta parte do estudo, privilegiar a avaliação da qualidade dos cuidados de saúde

prestados nas unidades sanitárias, em particular no HGJM, tendo como base os indicadores

fornecidos pelo MISAU (2014:19) porém, alguns, correspondentes somente aos anos 2015 e 2016.

Assim, para a avaliação neste trabalho, iremos priviligiar os indicadores de qualidade quanto ao

processo, onde destacam-se os indicadores de eficiência hospitalar e de qualidade hospitalar.

6.1.1.1 Indicadores de Eficiência Hospitalar

Neste tipo de indicador a avaliação é feita mediante a Taxa de Ocupação de Camas (TOC) o Indíce

de Rotação da Cama (IRC) e o Rendimento Médio de Cama (RMC).

A Taxa de Ocupação de Camas (TOC) corresponde a média de camas ocupadas em cada

serviço, departamento e em todo o hospital durante um determinado período, isto é, mede

em percentagem (%) o volume de doentes internados nas enfermarias dum determinado

hospital.

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43 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Entretanto, a taxa de ocupação de camas no HGJM, correspondia em 2014 cerca de 96%, contra

71 % de 2015 e 63 % correspondente ao ano de 2016 (HGJM/relatório anual das actividades

realizadas, 2016:34). No entanto, a OMS estabelece de acordo com o MISAU (2014:28), o padrão

entre 80% e 90% como Taxa de Ocupação de Camas, assim significa, que em 2014 o HGJM

excedeu os critérios estabelecidos pela OMS, apresentando uma média superior em 6%, deste

modo a eficiência hospitalar acabou influenciando na fraca qualidade dos cuidados de saúde

prestados a nivel dos internamentos. A seguir apresentamos o gráfico correspondente a Taxa de

Ocupação de Camas no HGJM:

Gráfico 1. Taxa de Ocupação de Camas do HGJM.

Fonte: Sides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação

de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:7).

Existe no entanto, uma disparidade entre os dados patentes no gráfico elaborado pelo MISAU, e

os dados que constam da tabela dos indicadores de qualidade elaborados pelo HGJM, o que

consequentemente põe em causa a interpretação e fiabilidade dos dados.

Indice de Rotação da Cama (IRC): tempo médio que cada cama demora a ser ocupada em

cada serviço, departamento e em todo hospital durante determinado tempo, isto é, o tempo

que a cama permanece vazia entre a alta e o subsequente internamento (ocupação) na

mesma cama.

Segundo o MISAU (2014:26) a OMS estabelece como padrão pelo menos um dia de IRC. Em

seguida, apresentamos o IRC do HGJM.

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44 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Gráfico 2: Taxa do Indice de Rotação de Cama do HGJM.

Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação

de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:10).

A interpretaçao deste gráfico, mostra que com relação a este ponto, o HGJM apresenta um bom

nível de qualidade, na medida em que, não excede o padrão estabelecido pela OMS, de referir que

o MISAU guia-se pelos padrões estabelecidos pela OMS já que correspondem ao padrão usado

em todos países integrantes da OMS.

Rendimento Médio da Cama (RMC): média de doentes que passam por cada cama em cada

serviço ou departamento, mede a utilização de uma cama durante um período determinado.

Entretanto, o modelo da OMS para o RMC ronda entre 40 a 50 doentes por cama num período de

um ano, todavia a realidade no HGJM correspondia a 88 doentes que passaram por cada cama em

2014, no ano seguinte 70 doentes e em 2016 uma média de 63 doentes por cama (HGJM/relatório

anual das actividades realizadas, 2016:34). Por sua vez, o MISAU apresenta o seguinte RMC para

o HGJM:

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45 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Gráfico 3: Taxa de Rendimento Médio por Cama do HGJM.

Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação

de Monitoria e Avaliação (MISAU, 2017:16).

Notamos desta vez, convergência entre a informação fornecida pelo MISAU e pelo HGJM, relativa

aos dados númericos. Contudo, a que considerar que o HGJM não responde ao ideal traçado pela

OMS já que o número de doentes ultrapassa o estabelecido, e as implicações recaem na baixa

qualidade dos cuidados de saúde prestados a nível dos serviços de internamentos, já que são

caracterizados por superlotação e longa estadia de doentes nas camas de internamentos, o que

significa que o benefício da assitência médica não tem sido muito satisfatório para os pacientes.

6.1.1.2 Indicadores de Qualidade Hospitalar

Neste tipo de indicador a avaliação é feita através da Taxa de Mortalidade (TMOR) e da Taxa de

Mortalidade Materna por 100.000 nados vivos.

Taxa de Mortalidade (TMOR): relação percentual entre o número de óbitos que ocorreram

num determinado período, em relação ao número de pacientes que tiveram saída (por alta

clínica, abandono ou transferência, etc) no mesmo período, ou seja, quantifica o número

de óbitos numa determinada unidade sanitária.

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No documento do MISAU, não se faz referência ao padrão da TMOR para hospitais do nível

secundário, somente apresenta-se 4% para o nível terceário e ≤ 6% para o nível quaternário.

Contudo, o relatorio de HGJM, menciona 5.6% de TMOR referente ao ano de 2014, 4.3% em

2015 e finalmente 4% em 2016 (HGJM/relatório anual das actividades realizadas, 2016:34). e

por outro lado o MISAU, apresenta os seguintes dados referentes a TMOR no HGJM:

Gráfico 4: Taxa de Mortalidade Hospitalar 2014 a 2016.

Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de

Planificação de Monitoria e Avaliação (MISAU).

Consideramos a TMOR muito alta levando em consideração que o HGJM é um hospital de

nível secundário, assim devido a elevada TMOR no HGJM consideramos que neste ponto os

cuidados de saúde são de qualidade baixa. Contudo, para o MISAU (2014:28) as taxas de

mortalidades não reflectem necessariamente problemas na qualidae dos cuidados de saúde

prestados aos pacientes, mas na maioria das vezes podem ser atribuíveis aos distintos perfis de

complexidade clínicas dos pacientes admitidos, isto é, importa levar em consideração o

historial clínico do paciente.

Taxa de Mortalidade Materna (TMM) por 100.000 nados vivos: corresponde aos óbitos

maternos por 100.000 nados vivos, isto é, estima a frequência de óbitos femininos,

ocorridos até 42 dias, após o término da gravidez, atibuídos a causas ligadas a gravidez e

ao parto em relação aos nados vivos. Este indicador é usado nos serviços da Maternidade,

e comporta, por sua vez, três critérios: i) a Taxa de cesarianas ocorridas (onde se calcula o

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número de cesarianas ocorridas contra o número de partos normais); ii) as Mortes maternas

( onde o padrão estabelecido é de 190 mortes por cada 100.000 nados vivos); e iii) os Nados

mortos com foco positivo17 (este deve inferior a 20%).

No HGJM a taxa de mortalidade materna, foi de 231 mortes por 100.000 nados vivos em 2014,

contra 218 mortes por 100.000 nados vivos em 2015 e finalmente 117 mortes por 100.000 nados

vivos no ano de 2016 (HGJM/relatório anual das actividades realizadas, 2016:34). O padrão da

TMM estabelecido pela OMS corresponde a 190 mortes por cada 100.000 nados vivos, contudo o

HGJM apresentou maior número de mortes, como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 5: Taxa de Mortalidade Materna por 100.000 Nados vivos 2015-2016

Fonte: Slides fornecidos pela Direção Nacional de Assistência Médica- Unidade de Planificação

de Monitoria e Avaliação (MISAU).

Os taxas elevadas apresentadas pelo HGJM revelam baixa qualidade na prestação de cuidados de

saúde materna, pois significam que o hospital está a oferecer cuidados de partos de baixa qualidade

e que as parturientes não tem sido assistidas de forma exaustiva.

Em muitos casos as parturientes reclamam mau atendimento devido a falta de pagamento de

subornos ao pessoal afecto na Maternidade, por isso, algumas acabam optando por partos

domiciliares que na maioria dos casos resultam em complicações pós-parto ou mortes maternas.

17 Refere-se aos casos de mulheres grávidas que chegam ao hospital com algumas complicações, mas ainda com o

fecto vivo, ao serem atendidas o fecto perde a vida.

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6.2 Qualidade na Prestação de Serviços de Saúde na Perspectiva dos Utentes do HGJM

O uso dos indicadores de qualidade, para avaliar as estruturas e os processos de prestação de

serviços de saúde, sem considerar os resultados obtidos pelos pacientes, não constitui uma

avaliação conclusiva para aferir com satisfação a qualidade dos serviços prestados. Deste modo

durante o trabalho foi monitorado um inquérito aos pacientes desta instituição de saúde.

O inquérito tinha como objectivo, aferir o nível de satisfação dos pacientes com relação aos

serviços prestados nesta unidade hospitalar, onde com as respostas dadas pelos utentes, agrupámo-

las em cinco (5) indicadores:

I) Rácio – Médico por Utente

Neste indicador, focamo-nos em perceber o nº de utentes na relação com o nº de Médicos

disponíveis. Essa configura-se como sendo a primeira questão a ser compreendida quando se

analisa a qualidade da prestação de saúde, tem a ver com nº de Médicos para determinado nº de

paciente. Segundo os relatórios do HGJM, o rácio de Médico por habitantes em 2014 e 2015 era

de 46 Médicos para 440.335 mil habitantes, e em 2016 foi de 70 Médicos para 446.125 mil

habitantes.

Em uma entrevista, a Enfermeira chefe do SUR, afirmou que nesse departamento trabalham 10

Médicos para um total de 400 utentes atendidos diariamente, sendo que antes da abertura do

Hospital Provincial da Matola o mesmo recebia cerca de 600 a 700 pacientes diariamente para

igual número de Médicos (Enfermeira Dina, entrevistada 20 de Abril de 2017).

II) Tempo de Espera Para Consulta

Chamamos tempo de espera o tempo percorrido entre a chegada do utente ao Hospital até a

marcação da consulta, culminando com a entrada no consultório do médico. Quando o utente se

faz ao Hospital, para ser atendido deve antes pagar a senha, no valor de 1 Metical, neste local o

utente é feito questões como (nome, idade, bairro, doença, etc.) posteriormente é encaminhado a

fila onde deverá esperar para ser atendido.

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49 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Então, Perguntamos aos utentes quanto tempo levavam desde a marcação da consulta até a entrada

no consultório, dos cinquenta utentes entrevistados quarenta e um responderam que levavam mais

de 2 horas, significa que 82% da nossa amostra classificou o tempo de espera nas seguintes termos

(longas filas, e morosidade no atendimento). Perguntamos também, que critérios eram usados por

forma a gerir a questão do atendimento aos pacientes, e que Mário Mondlane18 respondeu-nos que

controlavam através do sistema de Triagem Manchester19. Asseguir apresentamos o sistema:

Tabela 1. Triagem Manchester

PRIORIDADE

COR

TEMPO DE ESPERA DO PACIENTE (minutos)

EMERGENCIA 0

MUITO URGENTE 15

URGENTE 60

POUCO URGENTE 120

NÃO URGENTE 240

NÃO CLASSIFICÁVEL

Fonte: Tabela adaptada da Imagem capturada na vitrina do Banco de Socorros do HGJM, a 20 de

Abril de 2017.

De acordo com um dos nossos inquiridos este sistema tem uma fraca aplicabilidade, pois, não

funciona efectivamente devido aos problemas que mencionamos acima, exceptuando casos graves

como: acidente de viação, acidente de trabalho, violência doméstica, mordedura animal, e

envenenamento. (Utente entrevistado no SUR a 20 de Abril de 2017, as 18h43).

18 Técnico de saúde afecto no Banco de Socorros, em uma entrevista a 26.04 de 2017. 19 Triagem Manchester é um sistema de triagem de prioridades que utiliza um protocolo clínico que permite

classificar a gravidade da situação de cada paciente que recorre ao SNS.

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50 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

III) Tempo Disponível para Atendimento

Neste indicador, procuramos classificar o tempo que o médico dedicava-se para cada paciente a

fim de ter um bom diagnóstico. A este propósito a OMS (2010:345) determina que o tempo médio

para cada consulta deve ser de 15 minutos, ou seja, 4 pacientes por hora.

Um sonho distante para a realidade que se vive no HGJM, pois as consultas nos gabinetes dos

Médicos não duram nem 10 minutos, o que por vezes provoca um erro no diagnóstico e

consequentemente um prescrição de remédios errada. Quando fazíamos recolha de dados no

campo, dedicamo-nos um dia a acompanhar algumas consultas no Banco de Socorros a fim de

controlar o tempo que cada doente passava no gabinete com o Médico. Os resultados foram

surpreendentes, as consultas foram tão rápidas que a maioria dos pacientes saiu do gabinete sem

ter percebido a receita, pois segundo os pacientes o Médico explica rápido que fica difícil

memorizar, também notamos que quando o atendimento é rápido o Médico não tem tempo

suficiente para avaliar com precisão necessária a receita que prescreve, acabando por prescrever

medicamentos sem ter em conta os efeitos adversos do medicamento no paciente.

IV) Acesso aos Medicamentos

A falta de medicamentos nas farmácias dos hospitais públicos constituí um problema de grande

preocupação a nível dos utentes dos mesmos pelo que o acesso aos fármacos constituí motivo de

muita alegria para quem depende destes. Incorporamos este indicador dado que foi diversas vezes

mencionado pelos nossos inquiridos, que chegaram a chamar de sorte sair do Hospital com todos

medicamentos da prescrição médica. O mais comum tem sido sair do Hospital só com paracetamol,

tendo o utente que adquirir outros em farmácias privadas, o que muitos não conseguem devido a

dificuldades financeiras, por isso que os utentes consideram o acesso aos medicamentos como

importante indicador de qualidade na prestação de serviços.

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V) Nível de Satisfação do Utente

Este critério está associado ao modo como o utente é atendido na sua generalidade, englobando

alguns aspectos já mencionados bem como outros a serem explicados asseguir.

No entanto, para atingir nosso objectivo, recorremos novamente ao inquérito por questionário, o

que permitiu avaliar o nível da satisfação do utente e o grau da qualidade apercebida na prestação

dos cuidados de saúde. Cientes de que não existe uma classificação padrão para medir o nível de

satisfação do utente usamos uma escala com a seguinte estrutura: o que acha da qualidade dos

serviços de saúde prestados neste Hospital? " Muito bons", "Bons", "Suficientes" ou "Maus".

Foi, no entanto, como já referimos, escolhida uma amostra de cinquenta utentes questionados nos

três departamentos, a avaliação da satisfação incidiu sobre as seguintes variáveis: humanização na

prestação dos serviços, tempo de espera para consulta, tempo para atendimento, acesso aos

medicamentos, as instalações físicas do HGJM, bem como a questão ligada ás condições das salas

de espera e a higiene do Hospital, em particular dos sanitários. Portanto, dos utentes nenhum

considerou os serviços do HGJM como muitos bons, mas 5% considerou como bons, 40% como

suficientes e o remanescente 50% como maus.

A partir das respostas dos utentes concluímos que o nível de satisfação do utente com relação ao

atendimento hospitalar tem de comportar aspectos como: rapidez no acesso aos cuidados, garantia

de cuidados de qualidade, instalações em boas condições de higiene, conforto, acesso aos

medicamentos, respeito pelas suas preferências, informações claras sobre a administração dos

medicamentos, apoio emocional, empatia e respeito pelas condições sociais e económicas dos

utentes. Em suma, o utente tem de ter uma resposta da pretensão que o fez ir ao Hospital e ter o

resultado que espera, esses aspectos seriam o cumprimento daquilo que o utente espera do

Hospital.

A unidade hospitalar em estudo, dispõe de uma planilha com a qual avalia o nível de satisfação

dos serviços que presta ao utentes, com a qual se tem como referência para a elaboração de

relatórios de qualidade de serviços prestados.

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Tabela 2. Indicadores de Eficiência, Qualidade e produtividades

DADOS E INDICADORES GERAIS 2014 2015 2016

POPULAÇÃO 440.435 440.435 446.125

RECURSOS

N.º Total de Camas 357 357 335

N.º Total de pessoal no Hospital 601 601 650

N.º Total de Pessoal Clínico 65 65 83

N.º Total de Pessoal Administrativo 65 65 67

N.º Total de Médicos 46 46 70

N.º Total de Enfermeiros 155 155 177

Rácio Médico/habitantes 9.575 9.575 6.374

Camas por Médico 8C/M 8C/M 5C/M

Camas por Enfermeiro 2 C/E 2 C/E 2C/E

Despesas Totais Hospital 174.553.798,92 174.553.798,92 148.257.432,00

Custo médio por cama/dia 1.891,00Mt 1.891,00Mt 1.458,52 Mt

Custo médio por DCO 180,00Mt 180,00Mt 175,05 Mt

ACTIVIDADE

N.º de Consultas Urgência 116.745 107.731 105.008

N.º de Consultas Externas 55.198 59.581 53.447

N.º Total de Altas 26.723 25.033 21.241

Dias de Camas Ocupadas (DCO) 106.439 92.295 77.498

N.º Total de Óbitos 1.498 1.069 858

N.º Total de Operações Grande Cirurgia 5.986 5.366 5.229

N.º Total de Cesarianas 4.200 3.764 3.233

N.º de Partos 13.772 12.424 9815

EFICIÊNCIA, QUALIDADE E

PRODUTIVIDADE

Taxa de Mortalidade Hospitalar 5.6% 4,3% 4%

Taxa de Mortalidade Materna (Inst) 213/100000NV 218 por 100000 NV 11/100000NV

Taxa de Ocupação de Camas 96% 71% 63%

Tempo Médio de Internamento 4 Dias 4 Dias 4 dias

Rendimento por Cama 88 d/c 70 d/c 63d/c

N.º de operações de Grande cirurgia/cirurgião 272 297 276

Fonte: Departamento de Estatística do HGJM.

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7. CAPÍTULO: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

7.1 Conclusões

Neste trabalho propusemo-nos a analisar os impactos que a corrupção tem acarretado sobre a

qualidade dos serviços de saúde prestados no Hospital Geral José Macamo, no mesmo avançamos

com a hipótese segundo a qual a corrupção afecta significativamente na qualidade dos cuidados

de saúde prestados no HGJM, visto que prejudica a camada pobre da população, criando vantagens

injustas para alguns e reduzindo as perspectivas para os pobres ao acentuar as desigualdades no

acesso aos cuidados de saúde.

Apuramos no decurso da nossa investigação que a corrupção no HGJM é uma realidade, sendo

que as causas que evidenciamos foram a fraca capacidade institucional do SNS que resume-se

numa carência ao nível de recursos materias e humanos criando constrangimentos que fomentam

a corrupção, realçamos também a questão dos baixos salários auferidos no sector e finalmente a

fraca presença de inspecções no HGJM o que dificulta que comportamentos corruptos sejam

descobertos e consequentemente sancionados.

Constatamos também, que as actuações mais comuns dos funcionários do HGJM resumiam-se em

cobranças ilícitas para acelerarem a prestação dos serviços, roubo e venda de medicamentos dentro

do hospital bem como no mercado informal criando défice para os utentes e por último o uso

indevido dos recursos públicos. Em termos de confirmação da nossa hipótese, no âmbito das

respostas obtidas ao longo da recolha de dados, verificamos que as consequências da corrupção

são realmente negativas na medida em que enfraquecem a qualidade dos serviços prestados no

HGJM, este cenário acaba criando uma certa discredibilidade na imagem do Hospital.

Reconhecemos também que para os utentes um serviço de qualidade é aquele que atende

perfeitamente, de forma confiável e no tempo certo as suas necessidades. Para medir a satisfação

dos utentes face a qualidade dos cuidados de saúde prestados no HGJM, usamos cinco indicadores,

nomeadamente, o rácio Médico por paciente, tempo de espera para consulta, tempo disponível

para atendimento, acesso aos medicamentos e o grau de satisfação do utente, aqui notamos que

existia desagrado por parte dos utentes relacionado aos cinco indicadores e que estes incidiam

directamente num menor grau de satisfação.

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54 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Os objectivos dos planos criados pelo Governo no que toca ao sector da saúde entram em

disparidade com aquilo que é a realidade no sector público da saúde, particularmente no HGJM,

os cuidados de saúde não apresentam uma qualidade aceitável e existe uma baixa humanização

dos serviços situações estas causadas pela generalizada e persistente corrupção. Por isso,

consideramos que quantos maiores os índices de corrupção menor será a qualidade dos serviços

de saúde prestados.

7.2 Recomendações

Melhoria na Gestão de Recursos Humanos no HGJM

No trabalho, mencionamos o problema da fraqueza do SNS, e uma consequência deste era a falta

de pessoal (Enfermeiros, Técnicos, e Médicos) nos Hospitais aliado também ao pluriemprego, tal

achamos que devia-se investir nos recursos humanos, aumento de pessoal que possa responder

melhor a demanda pelos serviços, ou seja, a quantidade de profissionais de saúde tem de ser ditada

pelas necessidades da saúde da população.

Mecanismos de Motivação do profissional de saúde

A satisfação dos utentes com relação a qualidade dos serviços prestados passa pela motivação do

profissional da saúde, então o Hospital precisa melhorar este aspecto relacionado a motivação

profissional, através da melhoria das condições de trabalho destes profissionais que trabalham

expostos á riscos de saúde através de subsídios e aumento salarial, pese o facto de termos

consciência de que um aumento salarial não implicaria menos corrupção, mas pensamos que um

aumento de incentivos e bónus levando em conta a dedicação e qualificação do funcionário poderia

minimizar esta situação. Uma das maneiras de diminuir a corrupção é aumentar os incentivos que

os funcionários recebem do Estado para motivar seu melhor desempenho nas suas actividades;

Introdução de práticas de gestão de recursos humanos baseadas no mérito e no desempenho para

a selecção, avaliação, promoção, e determinação do salário dos funcionários.

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Melhoria dos Mecanismos de Denúncia e Reclamações

Achamos que devia-se fazer palestras ao nível do Hospital para informar aos utentes sobre seus

deveres e direitos no que toca a saúde pública, é importante que os utentes tenham conhecimento

de que os serviços de saúde são por lei gratuitos ou de baixo preço, qualquer acto contrário a lei

por parte dos funcionários é punível nos termos da lei, mas também devem ser consciencializados

de que pagar suborno é crime também punível quando denunciado. Através destas informações os

utentes terão consciência de que é seu direito reclamar e denunciar casos que transgridem as

normas estabelecidas, pois a maioria encara a corrupção como algo normal, devem também existir

mecanismos de protecção a quem faz denúncia, seja utente contra um funcionário ou entre os

próprios funcionários, deve haver responsabilização criminal e civil.

Melhoria dos Mecanismos de Fiscalização e Controlo

Identificamos no trabalho o caso de roubos de medicamento gerando insuficiência destes nas

farmácias, para este problema achamos que deve existir um mecanismo rigoroso que controle de

stock dos medicamentos o que permitira que sua insuficiência fosse responsabilizada a quem de

direito. A supervisão nos hospitais deve ser significativamente fortalecida de modo a detectar

práticas de corrupção nas suas diversas formas isto só pode ser possível através da melhoria de

fiscalização e controlo do pessoal, do material hospitalar e medicamentos. Deve haver uma forte

presença de Inspecção Geral da Saúde bem como organizações da sociedade civil, na verdade

sugerimos inspecções clandestinas dos serviços prestados.

Sistema de Penalização e punição que funcione efectivamente

Deve-se sancionar radicalmente todo e qualquer acto de corrupção, tomando como base a

gravidade do caso para que isso se reflicta no tipo de sanção a ser aplicada ao corrupto ou corruptor.

Isso supõe a existência de um quadro legal e específico, que estabeleça critérios de

responsabilização a serem aplicadas ao corrupto ou corruptor .

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56 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Implementação de um Programa de Formação Cívica aos Funcionários sobre

Humanização dos serviços de saúde.

A humanização é um processo que dá-se em várias áreas, na saúde em particular, acreditamos que

este processo deve ser a palavra de ordem uma vez que estamos a falar de pessoas servindo pessoas

em condições de fragilidades, o objectivo deste processo é prover um melhor atendimento aos

utentes com ênfase no respeito e apoio moral aos doentes por parte dos funcionários de saúde.

Deste modo, um atendimento humanizado presume a união de um comportamento ético com

conhecimento técnico e com a oferta dos cuidados dirigidos às necessidades dos pacientes. A partir

destes pontos, achamos que o HGJM devia implementar programas de envolvimento dos

funcionários em políticas de Humanização dos serviços de saúde com vista a obter mudanças na

gestão dos sistemas de saúde e seus serviços.

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63 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

Apêndice

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65 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura

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66 Alzira Pinto Camacho Trabalho de Licenciatura