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2017 SENTENÇA PENAL Fabrício Castagna Lunardi Luiz Otávio Rezende Curso de • Técnica • Prática • Desenvolvimento de habilidades

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2017

SENTENÇA PENAL

Fabrício Castagna LunardiLuiz Otávio Rezende

Curso de

• Técnica • Prática • Desenvolvimento de habilidades

APRESENTAÇÃO

A ideia de escrever a presente obra surgiu da pretensão de desenvolver um livro que oportunizasse não somente o aprendizado sobre a técnica de redação da sentença penal, mas que também permitisse o desenvolvimento da habilidade de aplicar o conhecimento jurídico exposto na prática do ato sentencial penal.

Assim, tem-se o objetivo de propor um estudo que, ao mesmo tempo, possui base teórica e dogmática por trás de cada frase escrita, mas que também é extremamente prático, com leitura fluida e direcionado a levar o leitor a desenvolver a capacidade de elaborar uma sentença técnica, bem fundamentada, objetiva e completa, no menor tempo possível, e com toda a qualidade que se exige tanto na atividade judicante quanto nos concursos públicos.

Desse modo, pretende-se que a leitura deste livro permita não somente o desenvolvimento da aptidão de interpretar e julgar o caso concreto de acor-do com os parâmetros traçados pela lei, pela jurisprudência e pela doutrina, mas que também recrudesça o juízo crítico e reflexivo, ou seja, a capacidade de enfrentar questões jurídicas inéditas, cada vez mais comuns na vida con-temporânea, diante das constantes mudanças sociais.

Para tanto, esta obra apresenta a forma de estruturação da sentença, as questões mais comuns na prática e em concursos públicos, bem ainda a forma de enfrentá-las, com modelos de redação para cada questão analisada.

De outro lado, aos candidatos à magistratura, a fim de auxiliar na ár-dua tarefa de preparação, o livro apresenta vários diferenciais, de modo que também pode ser considerado um guia, na medida em que contém valiosas orientações sobre a preparação para a prova de sentença do concurso da ma-gistratura, bem como as normativas que regem essa etapa do certame.

Além disso, a fim de desenvolver a habilidade de sentenciar – um dos objetivos principais –, o livro contém exercícios simulados com os seus res-pectivos gabaritos, que, juntamente com as sentenças reais de diversos ma-gistrados, vão permitir o acesso a inúmeros formatos e modos de redação do ato sentencial, com a finalidade de autorizar o leitor a desenvolver seu próprio estilo de escrita, e não somente seguir o dos autores do livro.

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Para instrumentalizar o magistrado e o candidato ao concurso, a obra procurou trazer ampla pesquisa prática e jurisprudencial sobre os temas es-senciais dos crimes mais comuns, adotando formato explicativo das possíveis conclusões do julgador a partir da maneira usualmente utilizada pelas partes para levantar as questões candentes dos feitos criminais (teses da acusação e defesa).

De maneira a completar a exposição do aspecto jurisprudencial aplicá-vel, o livro elenca, ademais, um rol de precedentes e de súmulas sobre direito penal e direito processual penal, tudo no intuito de otimizar o estudo e tem-po do juiz e do candidato à magistratura.

Nesse ínterim, didaticamente, o livro foi estruturado em seis capítulos.

No capítulo I, traz-se a introdução à sentença penal do concurso da ma-gistratura, com a exposição inicial do regramento geral editado pelo Conselho Nacional de Justiça, seguido de inúmeras orientações práticas específicas de preparação para a prova de sentença.

No capítulo II, apresentam-se os elementos e a estruturação da senten-ça, sempre com modelos, a fim de instrumentalizar o leitor. Desse modo, ini-cia-se abordando os requisitos da sentença e a forma de exposição dos seus elementos. A seguir, trata-se do preâmbulo e da ementa, como elementos fa-cultativos da sentença. Após, expõe-se a forma de elaboração do relatório da sentença criminal, a partir da demonstração das suas funções, das questões redacionais, inclusive quando se julga mais de um processo. Na sequência, aborda-se a fundamentação da sentença, a partir da sua definição, função, forma e estilo de redação, estruturação e conteúdo, analisando-se, inclusive, os impactos do Novo CPC na sentença penal. A seguir, abordam-se as ques-tões preliminares ao mérito mais comuns na prática e em concursos públicos, bem como a forma de enfrentá-las. Trata-se, também, da análise das questões preliminares de mérito. Na sequência, mostra-se a forma de analisar o mérito propriamente dito, bem com a estruturação da argumentação, a partir da afe-rição da materialidade, da autoria, da tipicidade, da antijuridicidade, da cul-pabilidade e das circunstâncias legais que influenciam na pena. É analisado, também, o dispositivo, dentro de toda a sua importância e complexidade, na sentença condenatória, absolutória e absolutória imprópria. Após, aborda-se a individualização da pena na sentença penal condenatória, em todas as suas fases, bem como a forma de considerar cada circunstância judicial e legal. Parte-se, então, para a fixação do regime inicial, a possibilidade de substitui-ção da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, a aplicação ou não do instituto da suspensão condicional da pena. Também são apresenta-das as disposições finais da sentença, a partir da análise dos efeitos penais

APRESENTAÇÃO

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e extrapenais da sentença e das considerações finais obrigatórias. Ao fim do capítulo, mostra-se como fazer o epílogo e o fecho (ou parte autenticativa).

O capítulo III tem como mote a exposição dos pontos essenciais dos crimes mais comuns, cuja presença no dia a dia forense e nas provas dos concursos para o ingresso na carreira da magistratura é naturalmente espe-rada. Em cada um dos itens do capítulo, buscou-se delinear os pontos de evidência – teses acusatórias e defensivas usuais, e a correta forma de reso-lução fundamentada de cada um deles, sempre tomando a jurisprudência do STF e STJ como referência, sem descurar da citação, se o caso, da doutrina correspondente. Ao final, para aprimoramento, colacionou-se pesquisa rea-lizada sobre as últimas provas de quase todos os certames da magistratura, apontando não só os crimes cobrados nos questionamentos, mas também, em alguns casos, o entendimento base reputado correto pela respectiva banca examinadora.

Por sua vez, o capítulo IV visa apresentar uma compilação da jurispru-dência consolidada do STF e STJ, que, à evidência, são os tribunais responsá-veis pela última palavra em matéria constitucional e infraconstitucional, res-pectivamente. Fez-se não só a exposição das súmulas editadas pelas citadas Cortes em matéria penal e processual penal, mas também se colacionou os julgados que ocorreram sob a sistemática da repercussão geral e dos recursos repetitivos.

O capítulo V foca em um dos principais objetivos do livro, atinente ao desenvolvimento de habilidades, uma vez que tem em seu bojo mais de uma dezena de exercícios simulados envolvendo direito penal e processual penal, todos criados para treinamento voltado a certames promovidos por vários tribunais brasileiros, de modo a permitir o contato direto do candidato com a realidade vindoura na prova futura, qual seja, a efetiva redação da sentença penal a partir da análise de um caso hipotético envolvendo a prática de um ou mais crimes por um ou mais agentes. Todos os exercícios são acompanha-dos de padrão de resposta, tudo no intuito de permitir o completo aprendi-zado com a realização do treinamento.

Por fim, e não menos importante, o capítulo VI subjaz uma ideia que en-tendemos primordial, relativa à necessidade de disponibilização de variadas técnicas de abordagem e fundamentação da sentença penal, com o objetivo claro de permitir ao leitor a escolha daquela que melhor se adeque ao seu perfil quando da redação da sentença criminal, ainda na seara de fomentar o desenvolvimento da habilidade natural para a escrita efetiva da peça, e sem impor, portanto, o formato adotado pelos autores do livro.

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Assim, o livro foi desenvolvido didaticamente no sentido de instrumen-talizar, passo a passo, o aprendizado ou o aprimoramento da técnica de sen-tença penal, bem como o desenvolvimento dessa habilidade.

Desejamos a todos uma ótima leitura!

Capital Federal, Outubro de 2016.

Fabrício Castagna Lunardi

Luiz Otávio Rezende

PREFÁCIO

Recebi com satisfação o honroso convite formulado pelos Juízes de Direito Fabrício Castagna Lunardi e Luiz Otávio Rezende para prefaciar seu Curso de Sentença Penal, voltado tanto para estudantes imbuídos da comum pretensão de vencer as difíceis etapas de um concurso público para ingresso na Magistratura, quanto para aqueles que, já investidos de jurisdição, têm a humilde percepção de que os estudos e o aperfeiçoamento funcional não podem cessar e de que é preciso, cada vez mais, legitimar, pela qualidade de suas decisões, a elevada missão de julgar seus semelhantes.

O comando inserido no art. 93, IX, da Constituição da República, acom-panhado por normas infraconstitucionais, não permite mais que se renda espaço a decisões judiciais despidas de um mínimo de justificação quanto às razões que levaram o juiz a decidir.

E tal não ocorre somente porque a Constituição da República, as leis e a jurisprudência tornaram, ao longo dos últimos anos, inafastável esse dever inerente à função judicial. Em verdade, há um reclamo crescente, pela so-ciedade, por um Poder Judiciário cada vez mais transparente, mais sujeito a controles (internos e externos), mais vinculado a normas, de sorte a imunizar a magistratura contra eventuais arbítrios e voluntarismos, características da “ditadura dos juízes”, que, no século XIX, motivou inúmeras reformas legis-lativas extremadas no direito francês, direcionadas a transformar o juiz, tal qual propugnado por Montesquieu, na “boca que pronuncia as palavras da lei, seres inanimados que não podem moderar nem a força nem o rigor das leis.”

Ainda que movido pelos mais altaneiros propósitos, e mesmo que sub-jetivamente esteja convencido da justeza e da justiça da decisão, o julgador não pode eximir-se do dever de prestar contas de seu provimento, sujeitan-do-o ao exame, interno e externo, de sua legalidade e legitimidade. Não se trata, assim, de desconfiança, de suspeita ou de demérito à nobre função jurisdicional, mas de condição necessária, posto que insuficiente, para que o jurisdicionado não duvide e não dependa, cegamente, da “bondade” dos juízes.

Já em meados do Século XIX, aliás, pontuava FRANCESCO CARRARA:

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Pode-se dizer que a sentença está para o juiz assim como a petição ini-cial está para o advogado e a denúncia, para o membro do Ministério Público. É o momento mais importante da atividade jurisdicional, pois condensa e aperfeiçoa, em um ato de vontade e de inteligência, toda a argumentação fático-jurídica desenhada ao longo do processo, com a análise das alegações, das provas e das teses que singularizaram uma dada relação processual.

Decidir se alguém é culpado ou inocente é algo sempre inquietante, mas não necessariamente trabalhoso. Sentenciar, porém, é ineludivelmente tarefa das mais árduas, mercê da série de vínculos normativos, limitações (proces-suais e éticas) e condicionantes de validade do ato judicial.

O ato decisório final não implica, assim, somente uma opção entre as provas, as teses e as alegações produzidas pelas partes; importa, na verdade, em laborioso trabalho intelectual para justificar tais escolhas, a partir da compreensão de que o ato judicial não pode se distanciar não só das normas aplicáveis à espécie, mas também de certos standards decisórios já sedimen-tados pelos tribunais superiores, incumbidos da função de, em grau de defi-nitividade, interpretar a Constituição e as leis da República.

Essa preocupação se evidencia na obra ora prefaciada, logo em sua apre-sentação, quando os Juízes de Direito Fabrício Lunardi e Luiz Otávio Rezende pontuam o objetivo de “levar o leitor a desenvolver a capacidade de elaborar uma sentença técnica, bem fundamentada, objetiva e completa, no menor tempo possível, e com toda a qualidade que se exige tanto na atividade judi-cante quanto nos concursos públicos”.

O livro, sobretudo em sua primeira parte, é um diálogo permanente e atual com os tribunais superiores e com a doutrina penal e processual penal. A cada tópico analisado, incluem-se em rodapé as correspondentes decisões proferidas principalmente pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal, assegurando ao leitor o conhecimento do direito vivo, pra-ticado no quotidiano forense das mais elevadas cortes de justiça do país.

PREFÁCIO

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Após dissecar os requisitos formais da sentença, analisando cada um dos possíveis temas com os quais o julgador usualmente se depara ao prestar jurisdição, trazem os autores à lume, de modo bem objetivo e preciso, uma série de questões de natureza prática que desafiam a inteligência do magis-trado no momento de julgar.

Não se descura a obra de ofertar orientações concretas para o ponto de maior dificuldade na tarefa de definir a causa penal, que é a individualização da pena a ser impingida ao condenado. Para tanto, apresentam-se ao leitor, sempre à luz da jurisprudência do STJ e do STF, as soluções que têm sido dadas para os inúmeros questionamentos que surgem no processo trifásico de fixação da sanção criminal.

O livro se pragmatiza com a apresentação de aspectos essenciais dos cri-mes mais cobrados nos concursos para ingresso na carreira da magistratura, bem assim com a formulação de exercícios simulados para a fixação de tudo o que se expôs até então no livro, de sorte a sedimentar o conhecimento que, amiúde, se dispersa em considerações teóricas, nem sempre adequadas ou necessárias ao ato decisório final.

É dizer, não se pode jamais cogitar de um magistrado sem preparo in-telectual e sem formação técnico-jurídica, ou sem a capacidade crítica de compreender, interpretar e aplicar os textos legais, sempre tendo como norte as diretrizes constitucionais, mas de pouco serve tal conhecimento e essa formação se não possui ele a habilidade de, no momento de dizer o direito, desincumbir-se do mister de arrostar, de modo preciso, claro e racional, as dificuldades concretas do ato formal de sentenciar.

Estou certo de que este Curso de Sentença Penal representa, entre as obras congêneres, algo de novo, não somente pelo denodado esforço e pela qualificação de seus autores, mas pela maneira criativa e inteligente de en-frentar os inúmeros temas que um juiz – ou um candidato a esse cargo – en-frenta em sua judicatura penal.

Que seja este livro um fecundo instrumento para o aperfeiçoamento da magistratura nacional!

Rogerio Schietti Cruz

Doutor e Mestre em Direito Processual pela USP.

Ministro do Superior Tribunal de Justiça.

CAPÍTULO I

ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A PREPARAÇÃO PARA A SENTENÇA PENAL DO CONCURSO

PARA INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA

(Luiz Otávio Rezende)

1. REGRAS GERAIS CONSTANTES DA RESOLUÇÃO N. 75/09 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Segundo a Resolução n. 75/09 do CNJ, os candidatos às carreiras da magistratura estadual e federal devem se submeter, obrigatoriamente, a duas provas de sentença, em dias sucessivos, sendo uma versando sobre matéria cível, e outra tratando de matéria criminal. A Justiça Militar demandará a feitura de apenas uma sentença criminal1.

A convocação dos aprovados para realizarem esta etapa deve ser feita no mínimo 15 (quinze) dias antes da data prevista para a prova, e o desaten-dimento a essa regra poderá levar à anulação da fase de sentença, desde que comprovado o prejuízo aos candidatos2-3.

1. Art. 49, II e III, da Resolução n. 75/09. A partir desta previsão, conclui-se que os Tribunais não podem mais exigir dos candidatos mais de duas provas de sentença, situação antes viven-ciada, por exemplo, nos certames do TJDFT, que, até o ano de 2008, submetia os candidatos à magistratura distrital a quatro provas de sentença de matérias variadas em dias subsequentes, cada um deles com uma nota mínima a ser alcançada para permitir a aprovação do postulante ao cargo.

2. Artigo 50 da Resolução n. 75/09 do CNJ.3. A inobservância de regra procedimental de divulgação de notas não acarreta a nulidade de

concurso público quando não demonstrado prejuízo aos concorrentes (AO n. 1395 ED / ES. Rel.

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O tempo de duração da prova não pode ser inferior a 4 (quatro) horas.

Além disso, há nota mínima a ser alcançada pelo candidato para fins de aprovação, qual seja, 6 (seis) pontos de 10 (dez) possíveis4.

As provas de sentença devem ser obrigatoriamente discursivas e rea-lizadas em dias distintos, preferencialmente nos finais de semana5, sendo afastada a possibilidade de utilização de computadores ou laptops para a feitura da prova6.

Ao candidato, poderá ser facultada a consulta à legislação desacompa-nhada de anotação ou comentário, não lhe sendo permitido, porém, a utili-zação de obras doutrinárias, súmulas e orientações jurisprudenciais durante a realização da prova7.

Noutra via, observa-se que não só o conhecimento jurídico será ava-liado, mas também a utilização correta do idioma oficial e a capacidade de exposição do candidato8.

Há de se dizer que as provas deverão ser entregues aos candidatos já impressas, sendo vedados esclarecimentos sobre o enunciado das questões ou sobre a forma de resolução dessas910.

Na elaboração do questionamento atinente à prova de sentença, cabe observar que a Banca Examinadora pode optar por determinada linha inter-pretativa do direito, desde que baseada em lei, jurisprudência e doutrina11, e

Min. Dias Toffoli. Julgamento: 24.06.2010. Órgão Julgador: Tribunal Pleno).4. Art. 54, parágrafo único, da Resolução n. 75/09.5. Artigo 52 da Resolução n. 75/09 do CNJ.6. PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS PARA AUTORIZAR TRIBUNAIS DE JUSTIÇA A PERMITIR O USO DE

COMPUTADORES NA SEGUNDA FASE DO CONCURSO DE INGRESSO PARA A CARREIRA DA MAGIS-TRATURA. IMPROCEDÊNCIA. PEDIDO PARA REALIZAR PROVA ORAL POR ARGUIÇÃO EM COMISSÕES TEMÁTICA. IMPROCEDÊNCIA. 1. O objetivo precípuo da Resolução nº 75 é “a imperativa necessi-dade de editar normas destinadas a regulamentar e a uniformizar o procedimento e os critérios relacionados ao concurso de ingresso na carreira da magistratura do poder Judiciário nacional”. 2. Autorizar os Tribunais a adaptar seus dispositivos internos em detrimento das regras da Resolução nº 75 equivale a fulminar a própria Resolução. 3. Improcedência do pedido. (PP n. 0005476-63.2011.2.00.0000. Rel. Conselheiro NEVES AMORIM. Julgado em 06.12.2011).

7. Artigo 46 da Resolução n. 75/09 do CNJ.8. Artigo 48, parágrafo único, da Resolução n. 75/09 do CNJ.9. Artigo 53, § 1º, da Resolução n. 75/09 do CNJ.10. Não há previsão no Edital ou na Resolução 75/CNJ de que a Banca Examinadora forneça aos

candidatos material de consulta. O parágrafo único do art. 46 da Res. 75 apenas estabelece que a Comissão Examinadora poderá dirimir dúvidas durante a prova, mas não a autoriza a distribuir qualquer tipo de subsídio para a sua realização. ETAPA ANULADA. (PCA n. 0005003-09.2013.2.00.0000. Rel. Conselheira Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. Julgado em 05.11.2013).

11. Em entendimento aplicável pelo Conselho Nacional de Justiça, a jurisprudência do Supremo

Capítulo I • ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A PREPARAÇÃO PARA A SENTENÇA PENAL DO CONCURSO

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respeitados os ditames estabelecidos nos artigos 489, § 1º, e 927, ambos do Novo CPC, que trazem as balizas referentes aos precedentes jurisprudenciais de observância obrigatória.

O conteúdo programático a ser utilizado para a elaboração das provas tem previsão geral na Resolução n. 75/09 do CNJ12, regramento que não im-põe, todavia, a forma como as disciplinas lá constantes devem ser abordadas pelas Bancas Examinadoras, nem a maneira como devem ser interpretadas, tampouco como serão corrigidas a partir dos questionamentos formulados1314.

Tribunal Federal e a do Superior Tribunal de Justiça são pacíficas em não caber ao Poder Judi-ciário, no controle jurisdicional de legalidade, substituir-se à banca examinadora nos critérios de correção e atribuição de notas de provas, salvo em caso de erro grosseiro ou de ilegalidade. É possível que a banca de qualquer concurso cometa erros de caráter metodológico ou cientí-fico, mas isso, dentro de certos limites, é inerente à falibilidade e à subjetividade próprias de seleções na área das ditas Ciências Humanas, como o Direito. De toda forma, não se verificou a ocorrência de erros na correção, neste caso. A adoção do princípio do livre convencimento motivado do juiz aos candidatos em concurso público é equivocada. Esse princípio diz respeito aos juízes, no exercício da função jurisdicional. A tese autorizaria a conclusão de que qualquer resposta, em prova de natureza dissertativa, aberta, desde que não teratológica, poderia ser tida por correta pela banca examinadora. Isso inviabilizaria a correção das provas e a compe-titividade inerente ao concurso público. A banca pode eleger determinada linha interpretativa do Direito, desde que amparada pela legislação, pela jurisprudência ou pela doutrina. (PCA n. 0001270-35.2013.2.00.0000. Rel. Conselheiro Wellington Saraiva. Julgado em 06.08.2013)

12. A necessidade de previsão exaustiva no conteúdo programático de todas normas e casos julga-dos que poderiam ser usados pela Banca Examinadora nos certames foi devidamente afastada pelo Supremo Tribunal Federal. Para a Corte Suprema, “havendo previsão de um determinado tema, cumpre ao candidato estudar e procurar conhecer, de forma global, todos os elementos que possam eventualmente ser exigidos nas provas, o que decerto envolverá o conhecimento dos atos normativos e casos julgados paradigmáticos que sejam pertinentes, mas a isto não se resumirá”, razão pela qual “não é necessária a previsão exaustiva, no edital, das normas e dos casos julgados que poderão ser referidos nas questões do certame, sob pena de se malferir o princípio da razoabi-lidade”. Assim, seguindo o raciocínio exarado no citado aresto do STF, o candidato deve entender que “estudar cada um dos pontos do programa do concurso deverá englobar, necessariamente, o estudo dos atos normativos e casos julgados pertinentes, e não o contrário.” (STF. MS 30860/DF. Rel. Min. Luiz Fux. Julgamento: 28.08.2012. Órgão Julgador: Primeira Turma).

13. PP n. 0000416-07.2014.2.00.0000. Rel. Conselheira Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. Julgado em 25.02.2014.

14. RECURSO ADMINISTRATIVO EM PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚ-BLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARÁ. PROVA DE SEN-TENÇA CRIMINAL. ELABORAÇÃO E CORREÇÃO. AUTONOMIA DAS BANCAS EXAMINADORAS PARA A ATIVIDADE. 1. É do entendimento deste Conselho Nacional de Justiça, com base em inúmeros precedentes, que no tocante a elaboração de provas de concursos públicos para o preenchi-mento de cargos do Poder Judiciário, bem assim a sua correção, deve-se zelar pela autonomia dos Tribunais e das respectivas bancas examinadoras, ainda que terceirizadas, cabendo a esta Casa apenas o exame de legalidade das normas previstas no edital do certame, bem como dos atos emanados da comissão responsável pela organização do concurso. 2. Excepcionalmente, somente em casos de flagrante ilegalidade ou divergência inequívoca com o que dispõe o edital, no que concerne aos atos praticados por bancas examinadoras de concursos, compete a este CNJ atuar, mormente porque dentro da competência que lhe cabe (CF, art. 103-B), não se trata este Conselho de instância superior administrativa revisora de todo e qualquer ato praticado

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No tocante à correção da prova pela Banca Examinadora, insta infe-rir que restou expressamente vedada a possibilidade de arredondamento de nota, nos termos do art. 7º, parágrafo único, da Resolução n. 75/09 do CNJ, regra essa que seguiu a orientação exarada pelas Cortes Superiores15, cujo entendimento é firme no sentido de não ser admitida tal prática com o fito de beneficiar candidato de concurso.

Também é desnecessária a explicação detalhada da nota atribuída pela Banca Examinadora (espelho pormenorizado)16, além do que não é obrigatória a divulgação do espelho de correção da prova17.

2. ORIENTAÇÕES PRÁTICAS DE PREPARAÇÃO – TÉCNICAS DE REDAÇÃO DA SENTENÇA PENAL

2.1. Início da preparação – aquisição da técnica de elaboração da sentença por meio de treinamentos com exercícios simulados

Para boa parte dos candidatos à magistratura, o início da preparação para a prova de sentença apresenta contornos de extrema dificuldade.

Como estudar para elaborar o ato sentencial sem o contato direto com a praxe forense, de modo a se inteirar sobre o adequado uso do direito penal e processual penal? Até que ponto essa falta de contato com a prática pode impedir a aprovação de um bom candidato?

Muito embora as perguntas acima declinadas deixem evidenciada uma dificuldade a princípio desafiadora, essa circunstância negativa pode ser su-perada com estudo dirigido e resolução seriada de problemas simulados.

pela banca em questão. 3. Verificado, no caso concreto, que a insurgência dos requerentes no tocante à prova de sentença criminal corresponde à elaboração, interpretação e critérios de correção, não havendo nos atos praticados pelas bancas examinadoras competentes ilegalidade ou contrariedade ao que dispõe edital, não há providência a ser tomada. Recurso Administrativo que se conhece, e a que se nega provimento. (PCA n. 0006413-39.2012.2.00.0000 Rel. Conse-lheiro Ney José de Freitas. Julgado em 02.04.2013).

15. STJ. RMS 15836 / ES. Rel. Ministra Laurita Vaz. 5ª Turma. DJ 12.04.2004. STF. MS 21408 / BA. Relator(a): Min. MOREIRA ALVES. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Julgamento: 20.03.1992. STF. MS 26302 AgR/DF. Rel. Min. Carmem Lúcia. Julgamento: 17.11.2011. Órgão Julgador: Tribunal Pleno.

16. PP n. 0006218-25.2010.2.00.0000. Rel. Conselheiro Jefferson Luis Kravchychyn. Julgado em 19.10.2010).

17. O Conselho Nacional de Justiça já se manifestou pela desnecessidade de divulgação dos critérios de correção da prova subjetiva, ou mesmo do espelho de correção da prova, como pretende o recorrente, por via transversa. Precedentes do STF e STJ. (PCA n. 0007693-45.2012.2.00.0000. Rel. Conselheiro Ney José de Freitas. Julgado em 06.08.2013).

CAPÍTULO II

ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA SENTENÇA

(Fabrício Castagna Lunardi)

1. REQUISITOS DA SENTENÇA

A palavra sentença deriva, etimologicamente, do latim “sententia”, cuja raiz é “sentire”. Desse modo, ainda que sejam impostos diversos limites pelo sistema jurídico ao julgador na sentença, ao fim e ao cabo, há uma grande margem de valoração dos fatos, da prova e do direito.

Todo o processo criminal se desenvolve para o ato decisório final do juiz, que é a sentença. Trata-se do principal ato do juiz e certamente de um dos atos mais importantes do processo, onde diversas deficiências e atipicidades processuais podem ser corrigidas, supridas, convalidadas.1 Contudo, para que este ato judicial seja legítimo e válido, é preciso que tenha sido desenvolvido argumentativamente dentro de determinados parâmetros, balizados, sobretu-do, pela Constituição Federal, pela legislação e pela jurisprudência.

A sentença criminal possui requisitos essenciais e facultativos. Os re-quisitos facultativos são os dispensáveis, ou seja, aqueles que sua ausência não enseja qualquer invalidade, nem mesmo irregularidade. De outro lado, a ausência dos requisitos essenciais enseja a nulidade absoluta da sentença.

De acordo com o art. 381 do Código de Processo Penal, a sentença de-verá conter: “I – os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II – a exposição sucinta da acusação e da

1. “Na relação processual o juiz é o eixo do procedimento penal. A lei regula sua atividade, pro-curando torná-la capital. Mesmo falha a atividade das partes principais – o Ministério Público, o réu ou seu defensor –, se o juiz cumprir realmente, com rigor, suas atribuições na relação processual, a apuração da verdade – objeto do processo – será quase sempre conseguida.” (BITTENCOURT, Edgard de Moura. O juiz. 3. ed. Campinas, SP: Millennium, 2002. p. 87)

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CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

defesa; III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV – a indicação dos artigos de lei aplicados; V – o dispositivo; VI – a data e a assinatura do juiz”.

Em termos estruturais, são requisitos facultativos: a) preâmbulo; e b) ementa.

Os requisitos estruturais essenciais são: a) relatório; b) fundamenta-ção; c) dispositivo; d) individualização da pena (para o caso de sentença pe-nal condenatória); e) disposições finais;2 e f) parte autenticativa ou fecho.3

Nos Juizados Especiais Criminais, Estaduais ou Federais, é dispensável

o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95, ou seja, o relatório é requi-sito facultativo, diferentemente das demais espécies de procedimento criminal.

No processo penal, estão em questão a pretensão punitiva estatal, de um lado, e, de outro, o direito de liberdade do réu. Por esse motivo, num sis-tema processual penal que preza por garantias constitucionais, as formas pro-cessuais ganham imenso valor, na medida em que qualquer desrespeito a elas em prejuízo ao acusado pode acarretar nulidade. Por conseguinte, conhecer os requisitos da sentença e saber aplicá-los dentro da técnica é fundamental.4

2. FORMA DE EXPOSIÇÃO DOS ELEMENTOS DA SENTENÇA

A divisão entre relatório, fundamentação e dispositivo pode ser feita em itens separados ou subentendida em um só texto. Neste caso, existem

2. Chamamos de disposições finais a parte imediatamente anterior à parte autenticativa ou fecho. Embora não seja utilizada pela maioria dos autores, essa nomenclatura é didaticamente útil, além do que auxiliará o magistrado e o candidato a concurso a não se esquecerem de que, após a indi-vidualização da pena, há diversas determinações e providências essenciais a serem adotadas pelo juiz.

3. Alguns autores como Ricardo Augusto Schmitt entendem que os elementos estruturais seriam relatório, motivação ou fundamentação, parte dispositiva ou conclusiva e parte autenticativa (SCHMITT, Ricardo Augusto. Teoria da sentença penal condenatória: teoria e prática. 9. ed. Sal-vador: Juspodivm, 2015. p. 17). Contudo, no caso da sentença penal condenatória, a individua-lização da pena é requisito essencial, além do que, ao contrário do que alguns autores afirmam, não pode ser categorizada como dispositivo. Isso porque, na individualização da pena, também há fundamentação. Além disso, a parte das disposições finais, onde constam os efeitos penais e extrapenais da condenação, dentre outras especificações, também é requisito essencial da sentença. Por todas essas razões, prefere-se dividir estruturalmente a sentença da forma que foi acima exposta.

4. “O estudo do tema, Requisitos da sentença, deve ter em vista precipuamente a preocupação em se evitarem nulidades, uma vez que a ausência de alguns destes requisitos ou mesmo a sua simples deficiência poderá ter implicações na subsistência do ato judicial.” (SOUZA, Eduardo Francisco de. Sentença criminal para concursos da magistratura. São Paulo: Edipro, 2012. p. 22)

Capítulo II • ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA SENTENÇA

57

palavras, expressões e frases que tradicionalmente caracterizam a transição de um elemento da sentença para outro.

Observem-se as formas abaixo:

Forma 1:

I. RELATÓRIO

II. FUNDAMENTAÇÃO

III. DISPOSITIVO

IV. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA

V. DISPOSIÇÕES FINAIS

Forma 2:

Trata-se de [...]

É O RELATÓRIO. DECIDO.

[...]

ANTE O EXPOSTO, [...]

Observe-se que, na última forma (forma 2), a frase “É O RELATÓRIO. DECI-DO” caracteriza a transição entre o relatório e a fundamentação, ou seja, indica que se trata do fim do relatório que se iniciará a fundamentação; a expressão “ANTE O EXPOSTO”, por sua vez, indica que se encerrou a fundamentação e que se está passando para o dispositivo. Essas frases e expressões possuem varia-ções. Por exemplo, para a transição do relatório para a fundamentação, também pode se utilizar: “É o relatório. Passo a decidir”; “É a síntese do necessário. Decido”; “É o relatório. Passo a fundamentar”. De outro lado, para indicar o dis-positivo, também se costuma utilizar expressões como: “ISSO POSTO”; “POSTO ISSO”; “ANTE TODO O EXPOSTO”; “POR TODO O EXPOSTO” etc.

Adotar um ou outro estilo – divisão em itens ou redação num texto único (sem subdivisões em itens) – é opcional. Na prática judicial, não há unanimidade entre os magistrados.

Por tais razões, aqui vale reforçar uma dica importante, exposta no ca-pítulo anterior: se o candidato tiver acesso a sentenças ou acórdãos do exa-minador, ou, de qualquer modo, conhecer o seu estilo de redação, seria de bom alvitre segui-lo (para utilizar a sistemática da subdivisão em tópicos ou a redação num texto único). Isso porque, em termos de psicologia comporta-mental, todo ser humano possui mais afeição e avalia melhor a forma a que está mais acostumado.

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Assim, se o candidato somente tiver de continuar o relatório já esta-belecido na questão, quando constar do enunciado “Trata-se de [...] É o relatório. Decido”, aconselha-se seguir um só texto sem subdivisão entre “II. FUNDAMENTAÇÃO; III. DISPOSITIVO”; IV. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA; DISPOSIÇÕES FINAIS”.

3. PREÂMBULO

O preâmbulo, também chamado por alguns autores de cabeçalho5, é a indicação sintética do órgão julgador, do número do processo, do tipo de

ação e das partes processuais.

Há autores que afirmam que também devem constar no preâmbulo o nome do representante do Ministério Público e dos advogados ou defensores do réu6, embora isso seja mais comum em decisões de tribunais.

Por não se apresentar, no Código de Processo Penal, como requisito da sentença, não gera nulidade a ausência de preâmbulo.

De qualquer forma, na praxe judicial, a colocação do preâmbulo é re-corrente, porque, mediante fácil visualização, qualquer um pode rapidamente identificar o processo.

Em alguns tribunais, o sistema informatizado já formata o preâmbulo, a exemplo do que ocorre no TJDFT. O preâmbulo formatado pelo sistema deste Tribunal é o seguinte:

“PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

PRIMEIRA VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRA-

SÍLIA-DF

Processo : 2015.04.1.036YYY-X

Classe : Ação Penal

Assunto : Dano qualificado

Autor : MINISTÉRIO PÚBLICO

Réu : FULANO DE TAL”

5. JANSEN, Euler. Manual de sentença criminal. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. pp. 9/10.6. JANSEN, Euler. Manual de sentença criminal. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. p. 10.

CAPÍTULO III

ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS

PARA O INGRESSO NA CARREIRA DA MAGISTRATURA

(Luiz Otávio Rezende)

A preparação para a prova de sentença penal passa pela compreensão dos aspectos principais atinentes aos crimes mais utilizados pelas bancas examinadoras nos certames para o ingresso na carreira da magistratura.

À evidência, a reiteração de exames nas quais houve a cobrança de casos simulados envolvendo a prática de determinados delitos permite não só o direcionamento do estudo pelo candidato, mas também autoriza que pontos de inflexão envolvendo a praxe forense e jurisprudência sejam previamente elencados, tudo no intuito de auxiliar na resolução efetiva da prova.

Assim, apresentam-se, a seguir, algumas questões relativas aos crimes cujas especificidades devem ser detidamente analisadas e conhecidas quando da feitura da sentença criminal, sobretudo por exprimirem a jurisprudência dominante e atual sobre os temas expostos1.

Ao final do capítulo, será colacionado quadro com os tipos penais cobra-dos nos últimos certames para o ingresso na magistratura estadual e federal,

1. O viés deste capítulo não é exaurir todos os temas relativos aos crimes analisados, mas apontar questões que vem sendo debatidas e cuja cobrança, numa prova real, tem maior pro-babilidade de acontecer, razão pela qual o formato de escrita segue estratégia de estudo, com a alocação da tese passível de cobrança, acompanhada dos argumentos para a resolução do problema exposto a partir da jurisprudência dos Tribunais Superiores. Nessa primeira edição, o foco será dado aos crimes clássicos tanto nas provas da magistratura estadual quanto nas da magistratura federal, sem prejuízo de, no futuro, novos delitos serem incluídos com o intuito de incrementar o auxílio aos leitores.

234

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com a alocação, no que toca a algumas provas, do espelho de correção ado-tado pela respectiva banca examinadora.

14. FURTO

A aposta na apresentação de questionamento envolvendo o crime de furto é uma das mais conservadoras a se fazer quando da preparação para a prova de sentença penal2, ainda mais ante a expressiva produção jurispru-dencial recente não só sobre a sua consumação, mas também a respeito da incidência ou não de suas qualificadoras e figura privilegiada.

Com efeito, após a devida afetação de vários recursos à sistemática dos repetitivos (CPC/73, art. 543-C; NCPC, art. 976), o Superior Tribunal de Justiça assentou várias teses jurídicas em alinhamento com a jurisprudência do STF, sendo necessário realçar que a fixação do momento consumativo do crime de furto certamente foi a mais relevante delas.

Seguindo orientação plenária do Supremo Tribunal Federal, o STJ con-solidou a adoção da teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a qual se considera consumado o delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato sobre o bem, ainda que seja possível à vítima retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata, afastando-se, assim, a obrigatoriedade de verificação da posse mansa e pací-fica ou desvigiada da res furtiva3.

Em outro julgado também importante, fixou-se a rejeição da tese de cri-me impossível para o caso de furto em localidade guarnecida por sistema de segurança e vigilância eletrônica, sob o argumento de que tais sucedâneos de proteção não implicam impedimento absoluto à prática do crime, que poderia se consumar ante falhas técnicas do equipamento ou dos responsáveis pela vigília e análise das imagens gravadas4.

2. Crime cobrado na última prova do concurso do TRF 1ª Região, com provas realizadas no ano de 2015, e no concurso promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba no ano de 2015.

3. Desse modo, quando for levantada tese defensiva no sentido de se considerar o crime em sua forma tentada pelo fato da posse mansa e pacífica da res furtiva não ter se materializado, essa deve ser rejeitada com fundamento na orientação trazida pelos Tribunais Superiores, de maneira a se considerar que a consumação do crime depende apenas da simples inversão da posse, após cessada a clandestinidade da conduta delitiva – teoria da amotio ou apprehensio (REsp 1524450/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 29/10/2015).

4. STJ. REsp 1385621/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe 02/06/2015. Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 567: “Sistema de vigi-lância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de

Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS

235

Como a aplicação do artigo 17 do CP (crime impossível) exige a inefi-cácia absoluta do meio ou a impropriedade do objeto, e o cometimento do crime de furto ainda se mostraria possível mesmo em ambientes monitorados eletronicamente (inidoneidade relativa), descabe falar em afastamento do crime narrado na hipótese descrita.

Noutro giro, também seguindo precedentes do STF, o STJ assentou tese no sentido de possibilidade de aplicação do privilégio plasmado no artigo 155, § 2º, do CP, para os casos de furto qualificado (CP, art. 155, § 4º), com a ressalva, porém, de que a qualificadora deveria ser de ordem objetiva, e acompanhada, ainda, da primariedade do réu e do pequeno valor do bem subtraído5.

Por fim, colaciona-se abaixo quadro esquemático com algumas alegações passíveis de questionamento quanto ao crime de furto, com a consequente resposta ao lado, devidamente acompanhada da citação jurisprudencial apli-cável para fins de resolução do problema.

Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução

Aplicação do princípio da in-significância ao crime de furto.

Reconhecimento, desde que a conduta do agente seja marcada pela ofensividade míni-ma ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social6.

6

estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”. De igual modo, quando a tese de crime impossível for levantada pela defesa, sua rejeição depende apenas dos argumentos acima plasmados, especialmente a falta de subsunção da hipótese à previsão legal trazida no artigo 17 do CP.

5. STJ. REsp 1193932/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, jul-gado em 22/08/2012, DJe 28/08/2012. Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 511: “ É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do artigo 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da causa e a qualificadora for de ordem objetiva”. Assim como nas hipóteses anteriormente descritas, caso a defesa apresente pedido no sentido de reconhecimento do privilégio para o delito em sua forma qualificada, o magistrado poderá deferir o pleito, fazendo uso, por certo, e à luz do caso concreto, dos argumentos e requisitos delineados pelo STJ.

6. STF. HC 128130, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 08/09/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-189 DIVULG 22-09-2015 PUBLIC 23-09-2015.

236

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Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução

Afastamento da aplicabilidade do princípio da insignificância ao furto – reincidência, habi-tualidade delitiva e presença de qualificadoras.

Análise casuística pelo magistrado para o afastamento do benefício, uma vez que a reincidência, a reiteração delitiva e a simples presença das qualificadoras do art. 155, § 4º, do CP não implicam imediato afastamento do princípio da insignificância7 – 8.

7 8

7. Agravo regimental em habeas corpus. 2. Furto. Insignificância. No julgamento conjunto dos HC 123.108, 123.533 e 123.734, o STF fixou orientação sobre a aplicação do princípio da insignificância aos casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados em 3.8.2015. Decidiu que, se a coisa subtraída é de valor ínfimo (i) a reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras do art. 155, § 4º, devem ser levadas em consideração, podendo acarretar o afastamento da aplicação da insignificância; e (ii) nenhuma dessas circunstâncias determina, por si só, o afastamento da insignificância, cabendo ao juiz analisar se a aplicação de pena é necessária. Além disso, conclui que, (iii) uma vez aplicada pena privativa de liber-dade inferior a quatro anos de reclusão ao reincidente, o juiz pode, se considerar suficiente, aplicar o regime inicial aberto, afastando a incidência do art. 33, § 2º, “c”, do CP. 3. As instâncias ordinárias têm margem larga para avaliação dos casos, concluindo pela aplicação ou não da sanção e, se houver condenação, fixando o regime. Essa atividade envolve análise do conjunto das circunstâncias e provas produzidas no caso concreto. Apenas em hipóteses excepcionais a via do habeas corpus será adequada a rever condenações. 4. Aplicação do princípio da insignificância. Subtração de aparelho celular, avaliado em R$ 72,00 (setenta e dois reais). Reincidência específica. O paciente registrava uma série de condenações e ante-cedentes, indicando que o furto em questão não fora uma ocorrência criminal isolada em sua vida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF. HC 126174 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 26/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-092 DIVULG 06-05-2016 PUBLIC 09-05-2016).

8. No STJ, vários arestos caminham em sentido oposto, no sentido de barrar a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância para o caso de furto qualificado pela escalada, des-treza, rompimento de obstáculo ou concurso de agentes, ao argumento de que a reprova-bilidade da conduta seria óbice não contornável na espécie. Nesse sentido: STJ. AgRg no AREsp 865.491/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/06/2016, DJe 01/08/2016; STJ. AgRg no AREsp 694.006/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/11/2015, DJe 13/11/2015; STJ. AgRg no AREsp 735.871/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 13/10/2015, DJe 21/10/2015. Igual argumento é utilizado pelo STJ para manter o entendimento da inviabilidade de se reconhecer a insignificância na hipótese de habitualidade delitiva e reincidência. Nesse sentido: STJ. AgRg no REsp 1558235/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 24/05/2016, DJe 06/06/2016; STJ. AgInt no AREsp 905.030/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 28/06/2016, DJe 01/08/2016. Todavia, alguns arestos já sinalizam a adoção do entendimento do STF. Nesse sentido: STJ. HC 360.863/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2016, DJe 01/08/2016.

Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS

237

Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução

Pleito ministerial de reconhe-cimento das qualificadoras do rompimento de obstáculo e escalada. Requerimento defen-sivo de desconsideração ante a falta de prova pericial.

Necessidade de prova pericial para sua cons-tatação9, sendo inviável a tal finalidade o laudo pericial indireto10.

Qualificadora do rompimento de obstáculo – afastamento na hipótese de a violência em-pregada no furto ser dirigida à própria res furtiva.

No âmbito do STJ, apresentam-se entendimen-tos dissonantes. Na 5ª Turma, há precedente no sentido de que a avaria do próprio bem subtraído não tem o condão de desconfigurar o efetivo rompimento de obstáculo11. Por ou-tro lado, julgados mais recentes da 5ª Turma sinalizam a adoção do entendimento oposto, ao argumento de que se o dano é contra o pró-prio objeto do furto, sendo o obstáculo pecu-liar à res furtiva, não incide a majorante12 – 13.

9 10 11 12 13

9. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO TENTADO. ESCALA-DA. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. RECONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA PERICIAL. FURTO SIMPLES TENTADO. CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1.No julgamento do REsp n. 1.320.298/MG, a Sexta Turma desta Corte Superior examinou a possibilidade de, em razão das particularidades do caso concreto e em respeito ao sistema de livre apreciação da prova, reconhecer a incidência da qualificadora da escalada nos delitos de furto quando sua ocorrência for incontroversa nas provas colhidas nos autos, a despeito da ausência de laudo pericial que a ateste. Na oportunidade – na qual fiquei vencido -, firmou-se o entendimento de que o exame pericial é imprescindível para a configuração da qualificadora da escalada. 2. Em relação à qualificadora do rompimento de obstáculo, não é diferente a conclusão das duas Turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça. Pre-cedentes. (AgRg no AREsp 644.717/PA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 10/05/2016, DJe 19/05/2016).

10. STJ. AgRg no AREsp 19.070/RS, Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCA-DO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 12/11/2015. Em sentido diverso, aresto também do STJ: AgRg no REsp 1544900/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 16/11/2015. Nesse caso, há de se ponderar que qualquer um dos entendimentos pode ser adotado, haja vista que a divergência jurisprudencial entre as próprias turmas do STJ autoriza a opção fundamentada por um deles.

11. STJ. REsp 1395838/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 20/05/2014, DJe 28/05/2014.

12. STJ. AgRg no AREsp 230.117/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe 03/03/2015. Nesse caso, considerando que esse entendimento é mais recen-te, e da mesma turma, sua adoção se mostra mais acertada para a hipótese.

13. Para a hipótese de quebra de vidro do veículo para o furto do aparelho de som, o STJ assentou que mostra-se aplicável a qualificadora do rompimento de obstáculo, pois o vidro danificado

238

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Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução

Aplicação da majorante do rou-bo para o caso de furto qualifi-cado pelo concurso de agentes.

Tese ofensiva ao princípio da reserva legal. O fato de o julgador entender que o legisla-dor deveria ter tipificado de forma diversa a norma não lhe autoriza a utilizar outra, por semelhança. A analogia não pode ser utili-zada para criar pena que o sistema não haja determinado14.

Reconhecimento do furto fa-mélico.

Possibilidade, com a exclusão da ilicitude do delito. Análise casuística pelo magistrado, cabendo realçar que a simples alegação de dificuldades financeiras, desemprego e pe-núria não representam hipótese automática de afastamento do crime15. Necessidade, por exemplo, de demonstração pelo agente que o crime foi cometido para saciar a fome16.

Consunção. Crime do artigo 14 da Lei n. 10.826/03. Arma sub-traída integrante dos bens da vítima.

Admissibilidade, visto se tratar de mero exau-rimento do delito (post factum impunível)17.

14 15 16 17

dificultava a ação do autor, e, ademais, não era parte integrante da res furtiva visada, no caso, o som automotivo (HC 328.896/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 15/04/2016)

14. Súmula 442 do STJ: “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo”. Nesse sentido: STJ. AgRg no REsp 981.990/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 29/05/2008, DJe 30/06/2008.

15. STJ. HC 227.474/MG, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVO-CADA DO TJ/PE), Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/04/2013, DJe 01/07/2014.

16. STJ. HC 267.447/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/06/2013, DJe 06/08/2013.

17. STJ. REsp 1503548/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/08/2015, DJe 26/08/2015.

Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS

239

Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução

Incompetência. Justiça Federal – furto contra carteiro da Em-presa de Correios e Telégrafos, e contra agência franqueada18.

No primeiro caso, resta assentada a compe-tência da Justiça Federal, pois a lesão atinge serviço fim dos Correios nos exatos termos do artigo 109, IV, da CF19. No segundo, a competência será da Justiça Estadual, já que, no contrato de franquia, a franqueada res-ponsabiliza-se por eventuais perdas, danos, roubos, furtos ou destruição de bens cedidos pela franqueadora, não se configurando, por-tanto, real prejuízo à Empresa Pública20.

Reconhecimento do furto pri-vilegiado – hipótese em que houve a devolução do bem fur-tado à vítima.

Muito embora o bem jurídico tutelado seja o patrimônio, a ausência de prejuízo à víti-ma (apreensão ou devolução da res furtiva) não é circunstância caracterizadora do furto privilegiado21, razão pela qual descabe sua admissão apenas com fundamento no retorno do bem objeto de furto à vítima.

18 19 20 21

15. ROUBO

Assim como o crime de furto, o delito de roubo também se apresenta como uma aposta mais do que segura para as provas dos certames da magis-tratura.

Todos os anos, pelo menos um certame apresenta questão problema en-volvendo a prática desse crime para resolução pelos candidatos, sendo exem-plo recente o concurso promovido no ano de 2016 pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

18. Entendimento também aplicável ao crime de roubo.19. STJ. CC 143.045/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado

em 28/10/2015, DJe 06/11/2015.20. STJ. CC 133.751/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Rel. p/ Acórdão Ministro NEFI

CORDEIRO, Terceira Seção, julgado em 24/9/2014, DJe 4/12/2014.21. STJ. REsp 77.218/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 12/03/1996, DJ

02/06/1997, p. 23864; STJ. HC 325.703/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 01/10/2015;

CAPÍTULO IV

SÚMULAS E PRECEDENTES DO STF E STJ (DIREITO PENAL

E PROCESSUAL PENAL)

(Luiz Otávio Rezende)

O presente capítulo visa fornecer aos leitores uma visão geral da juris-prudência sedimentada do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça quanto ao Direito Penal e Processual Penal.

Sem dúvida, a correta compreensão do pensamento externado na juris-prudência consolidada dos citados tribunais é o grande diferencial daquele que domina o conteúdo das áreas do direito inerentes à elaboração da peça criminal, haja vista que boa parte dos problemas processuais e de mérito vivenciados tanto na praxe forense quanto nos concursos para o ingresso na carreira são resolvidos com a aplicação das súmulas e precedentes que serão aqui expostos.

Por fim, cabe ressaltar que a organização dos itens dá prevalência às súmulas e precedentes mais recentes, que espelham discussões atuais sobre os temas tratados, razão pela qual são alvos preferenciais das bancas exami-nadoras dos concursos da magistratura.

24. ENTENDIMENTOS SUMULADOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES SOBRE DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

24.1. Superior Tribunal de Justiça

Súmula 582 – Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante o emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve período e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação

292

CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende

da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou des-vigiada.

Súmula 575 – Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, in-dependentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo.

Súmula 574 – Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação dos titulares dos direitos autorais vio-lados ou daqueles que os representem.

Súmula 567 – Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comer-cial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

Súmula 546 – A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

Súmula 545 – Quando a confissão for utilizada para a formação do conven-cimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Súmula 542 – A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Súmula 536 – A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

Súmula 522 – A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

Súmula 513 – A ‘abolitio criminis’ temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com nu-meração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, supri-mido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.

Súmula 512 – A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas.

Súmula 511 – É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem

CAPÍTULO V

PROVAS SIMULADAS

(Luiz Otávio Rezende)

Como já adiantado nos capítulos anteriores, somente a realização de exercícios simulados irá permitir a aquisição da correta técnica de redação da sentença criminal, sobretudo porque tal atividade se presta a emprestar efeito prático aos ensinamentos teóricos de direito penal e processo penal inerentes à feitura do ato.

Nos itens a seguir, serão colacionados exercícios simulados para o aper-feiçoamento acima relatado, com foco nas últimas provas dos certames da magistratura estadual realizadas nos anos de 2015 e 2016.

À evidência, a sentença penal é essencialmente prática, e, a partir do momento em que se apreende o conhecimento da ordenação da peça, torna--se muito mais fácil a resolução de qualquer prova, pois aqueles que conse-guem a aprovação para a etapa de sentença certamente têm o conhecimento técnico-jurídico necessário sobre os crimes mais comuns, cuja cobrança nos testes é naturalmente esperada.

Os espelhos dos exercícios estão alocados ao final, mas, ante a disso-nância de entendimentos entre os vários Tribunais brasileiros, não devem ser vistos como verdade absoluta, mas apenas como um norte a ser seguido, pois refletem a opinião do elaborador do texto sobre a capitulação legal passível de uso nos casos concretos expostos.

Espera-se que esse capítulo, inédito entre os manuais de elaboração da sentença penal, em sua maioria focados na reprodução singela de provas anteriores de concursos para a magistratura, sem o respectivo padrão de res-posta, possa representar um incremento no estudo das técnicas de redação da sentença criminal, permitindo aos postulantes ao cargo um treinamento sério e real antes dos testes a que irão se submeter.

Os exercícios têm variação quanto a necessidade de elaboração de rela-tório, limitação de linhas, omissão deliberada da capitulação, entre outras

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especificidades, e intentam trazer a abordagem dos crimes mais comumente apreciados tanto na praxe forense quanto nos certames para o ingresso na magistratura.

Não há nenhum exercício simulado de alta dificuldade, pois o objetivo dessas formulações é tão somente permitir treinamento qualificado aos lei-tores desse manual, visando lhes auxiliar a obter a técnica básica de feitura da peça prática penal.

1. ENUNCIADOS

1.1. Exercício 01 – Crime contra a liberdade sexual em concurso com delito contra o patrimônio1

O Ministério Público de Alagoas ofereceu denúncia contra FABIANO MAR-TINS, qualificado nos autos, como incurso nas penas do arts. 213, § 1º, c/c art. 157, § 2º, I, do Código Penal, assim descrevendo a dinâmica dos fatos:

“No dia 30 de maio de 2011, por volta das 14h40, em um sítio abando-nado nas proximidades do Motel VIP’S, no bairro de Jacarecica, nesta Capital, Fabiano Martins, mediante emprego de violência e grave ameaça com arma de fogo, praticou conjunção carnal e outros atos libidinosos contra a vítima K.J.I, de 15 anos de idade, e subtraiu o seu celular, quando ela se encontrava impossibilitada de qualquer resistência.”

Encontram-se nos autos, dentre outros, os seguintes documentos a se-rem destacados: Portaria de Abertura de IP; Ocorrências Policiais; Auto de Re-conhecimento de Pessoa; laudo de exame de corpo de delito, laudo pericial, exames de material biológico, laudo do veículo utilizado, extrato reverso do celular da vítima.

A denúncia foi recebida em 11 de abril de 2012, sendo decretada a pri-são preventiva do réu.

O acusado Fabiano foi citado e apresentou resposta pela Defensoria Pú-blica, requerendo a absolvição sumária por negativa de autoria.

Não caracterizadas as hipóteses de absolvição sumária, foi determinado o prosseguimento do feito.

1. Tribunal de Justiça de Alagoas. Exercício realizado para treinamento. Certame realizado no ano de 2015, organizado pela Fundação Carlos Chagas. Prova com limitação de linhas (120), e relatório dispensado.

CAPÍTULO VI

SENTENÇAS DE CASOS REAIS

(Luiz Otávio Rezende)

Uma das grandes dificuldades durante o aprendizado relativo à redação da sentença penal se refere ao acesso a peças reais, derivadas da análise pormenori-zada de fatos concretos submetidos à apreciação judicial.

Neste capítulo, procura-se apresentar diversas formas de elaboração do ato sentencial, sempre no intuito de aumentar o acesso efetivo à praxe forense, e sem determinar um formato único de escrita e análise como o correto, uma vez que se entende de suma importância a disponibilização de variadas técnicas de aborda-gem para que o leitor possa escolher aquela que melhor se adequa ao seu perfil quando da redação da sentença criminal.

Cabe realçar que todas as sentenças colacionadas neste capítulo são de au-toria de colegas da Justiça Federal e da Justiça do Distrito Federal e Territórios. As peças foram adaptadas para ocultar os nomes reais nelas citados, e adequadas para formatação de livro, mantendo, todavia, todas as menções de análise e avaliação tal como descritas nos casos reais.

Serão colacionadas em primeiro lugar as sentenças afetas à área federal1, e, em seguida, as proferidas por colegas da justiça estadual2, visando atender o intento de exposição comparativa acima delineado.

Espera-se que esse capítulo possa servir de auxílio a todos que procuram aprender os caminhos rumo à correta construção da peça criminal, seja com o objetivo voltado ao concurso público, seja para o dia a dia forense.

1. Vale o agradecimento aos colegas Paulo Augusto Moreira Lima, Juiz Federal da Justiça Federal da 1ª Região – TRF 1ª Região, e Sergio Fernando Moro, Juiz Federal da Justiça Federal da 4ª Região – TRF 4ª Região, que gentilmente enviaram várias peças por eles elaboradas envolvendo crimes submetidos à competência da justiça federal.

2. Quanto às sentenças cedidas da Justiça Estadual, cabe o especial agradecimento aos amigos Aragonê Fernandes, Carlos Bismark Piske de Azevedo Barbosa, Germano Oliveira Henrique de Holanda, Jorgina de Oliveira Carneiro e Silva Rosa e Paulo Rogério Santos Giordano, todos Juízes da Justiça do Distrito Federal e Territórios.

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1. ART. 334, § 1º, “C”, DO CP, E ART. 15 DA LEI N. 7.802/89

I – Relatório

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou CARLOS SILVA pela prática das condutas tipificadas nos artigos 334, § 1º, “c”, do CP, e art. 15 da Lei n. 7.802/89.

Narra a denúncia que o réu manteve em depósito, no exercício de atividade comercial, agrotóxicos de procedência estrangeira, que sabia serem produtos de introdução clandestina no território nacional.

Além disso, o réu comercializou e/ou transportou agrotóxicos, seus com-ponentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas na legislação pertinente.

Proferida decisão de recebimento da denúncia às fls. 129/130.

À fl. 151 foi juntado auto de incineração da substância entorpecente apre-endida.

Às fls. 145/167 foi apresentada resposta à acusação. Em síntese, sustentou: não individualização da conduta do denunciado; não individualização das testemu-nhas; nulidade das interceptações telefônicas; inépcia da denúncia; nulidade por ilicitude das provas; negativa do fato referente à comercialização de agrotóxicos; atipicidade da posse de agrotóxicos; a importação irregular de agrotóxico está prevista no art. 56 da Lei 9.605/98.

Indeferida absolvição sumária às fls. 170/173.

Inquiridas testemunhas de acusação e de defesa às fls. 232, 238, 245, 272 e 281.

Nas alegações finais de fls. 320/323 o MPF requereu condenação nos termos da denúncia.

A defesa do réu levantou as seguintes teses: não individualização adequada da conduta do réu, bem como ausência de descrição da participação na quadrilha investigada; a denúncia não faz menção ao que foi produzido na investigação em mais de 34 volumes; nulidade das interceptações por haverem superado o prazo de 15 dias, com sucessivas prorrogações; existência de vícios nas degravações das interceptações telefônicas visto que deveriam ter sido produzidas sem emissão de juízo e sem cortes; ilegalidade na medida de possibilitar a interceptação dos nú-meros que efetuassem chamadas ao número inicialmente interceptado; ausência de acesso aos autos durante o período de investigação; impossibilidade de incidência da alínea “c”, do § 1º, do art. 334 do CP, haja vista que o réu não desempenha-va atividade comercial atinente à venda de agrotóxicos; nulidade das provas por derivação, haja vista que no dia 07/05/2007, ocasião da prisão em flagrante, os policiais federais não possuíam mandado de prisão ou de busca e, mesmo assim, invadiram a revistaram a residência do réu; nem toda a importação de mercadoria