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Curso
Direito Eleitoral
CursosOnlineSP.com.br
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Conteúdo Programático: A origem do Direito Eleitoral Direitos Fundamentais (gênero) Direitos Políticos Elegibilidade: Condições e Conceitos Sistemas Eleitorais, Partidos Políticos e Sistemas Partidários Ação de Impugnação de Pedido de Registro de Candidatura Recurso contra a Diplomação Bibliografia/Links Recomendados
A origem do Direito Eleitoral
A origem do Direito Eleitoral está no Direito Constitucional. Por isso a primeira matéria que deve ser vista, quando começamos a estudar Dt.Eleitoral, é um tema de Direito Constitucional. Temos que iniciar, dentro do Dt. Constitucional, com os direitos fundamentais, para só depois estudar um tipo de direito fundamental, que a CF estabelece, o direito eleitoral.
O Direito Eleitoral dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental.
A lei eleitoral é exclusivamente federal por disposição constitucional (Art. 22, I, da CF), não podendo, desta forma, os estados e municípios disporem sobre regras de cunho eleitoral, nem mesmo supletivamente.
As Medidas Provisórias não podem conter disposições com conteúdo eleitoral e/ou partidário (Art. 62, I, “a”, da CF).
Vigora no Direito Eleitoral o Princípio da Anterioridade, ou seja, embora entrando em vigor na data de sua publicação, a lei somente será aplicada se a eleição acontecer após 1 (um) ano da data de sua vigência (Art. 16, da CF). Direitos Fundamentais (gênero)
I) Direitos Fundamentais (gênero):
1) Conceito:
São direitos da pessoa humana. São direitos inerentes à condição de pessoa
humana.
Na CF brasileira esse direito da pessoa humana se subdividem em 5 espécies:
1ª) Direitos Individuais ► Concentrados no art. 5º da CF (mas não exauridos nesse
artigo).
2ª) Direitos Coletivos ► Concentrados no art.5º da CF ( " " " " " " " ")
3ª) Direitos Sociais ►Concentrados no art.7º da CF (há outros arts. sobre o
assunto).
Existia uma dúvida se esses Direitos Sociais seriam direitos Fundamentais; em
algumas constituições como a Portuguesa não o são.
4ª) Direito à Nacionalidade ► Exauridos no art.12 da CF
5ª) Direitos Políticos ► Concentrados no art.14 da CF
Obs.: Alguns autores como o Alexandre de Morais colocam uma 6ª espécie
que são os Partidos Políticos. O professor não concorda com essa
classificação, porque partidos políticos não são direitos, são apenas
instrumentos para que os direitos políticos sejam executados.
(1) Direitos Individuais:
São os direitos da pessoa individualmente considerada.
Ex: Liberdade, Vida, Propriedade, Igualdade, etc.
Considerar a pessoa como indivíduo é o que diferencia os direitos individuais
dos direitos coletivos, embora o fundamento constitucional seja o mesmo, ou
seja, art.5º.
(2) Direitos Coletivos:
São os direitos das pessoas, coletivamente consideradas. Direitos de uma
classe, de um grupo, de uma categoria.
Ex: Liberdade de Associação; Liberdade de Reunião.
Seja o direito do homem tomado individualmente (dt. individual), seja o direito
do homem parte de um grupo (direito coletivo), e por isso estão juntos no artigo
5º da CF, são direitos primordialmente negativos; porque, em regra, são
cumpridos através de uma obrigação de não fazer – “non facere” (de abstenção).
Em regra, o Estado e o particular (porque hoje se fala muito em obrigação
horizontal) atendem aos direitos individuais ou coletivos quando não fazem
alguma coisa.
Ex: Estado atende meu direito a liberdade quando não me prende de modo
ilegal.
Estado atende meu direito de igualdade quando não faz discriminação (racial,
religiosa, etc.).
Estado e Particular atendem ao meu direito de propriedade quando não
a invadem e a tomam.
Estado atende ao meu direito a reunião quando me permite que me reúna com
meus pares com finalidade pacífica.
(3) Direito Social:
O Direito Social é, ao contrário do individual e coletivo, direito primordialmente
positivo, ou seja, é atendido por uma obrigação de fazer – “facere”. O Estado e
o particular atendem o Direito Social quando prestam alguma coisa.
Ex: Direito à Cultura → quando o Estado disponibiliza meios de cultura
Direito à Educação → quando o Estado disponibiliza meios de educação
Direito à Previdência Social → quando o Estado fornece um regime de
previdência (Geral, Especial, etc.).
(4) Direito à Nacionalidade:
Nacionalidade ► Vínculo que une a pessoa ao Estado
Portanto, direito à nacionalidade é o vínculo jurídico que une a pessoa ao
Estado. Esse vínculo pode variar de Estado para Estado, ou seja,
ser ius solis, ius sanguinis, etc.
(5) Direito Eleitoral:
Importa em espécie de direitos políticos.
Direito Político ► Direito de participação na vida política do Estado.
Uma das formas pela qual a pessoa participa, ativamente e passivamente, da
vida política do Estado é através do Direito Eleitoral.
2) Distinção entre Nacionalidade X Cidadania:
Poucos autores fazem essa distinção e atrelam erroneamente um conceito a
outro.
Verificaremos em todos os livros a seguinte afirmação, que não é de todo
correta: “Cidadania é qualificação política da Nacionalidade”; isso é afirmado
pelos autores porque todos dizem que cidadão é o nacional que exerce Direitos
Políticos. Portanto, para esses autores cidadania seria um “plus” ao conceito de
nacionalidade. Essa afirmação não está de todo correta. Podemos apenas
dizer que cidadão é, em regra, o nacional que exerce direitos políticos –
em regra, a cidadania decorre da nacionalidade. No entanto, pode
haver situações onde há nacionalidade sem haver cidadania e, situações em
que há cidadania sem nacionalidade.
Nacionalidade ► Vínculo jurídico que une a pessoa ao Estado.
≠
Cidadania ►Em regra, é a qualificação política da Nacionalidade.
Cidadão► Em regra, é o nacional que exerce Direitos Políticos.
Uma questão de prova frequente é se pode haver nacionalidade sem cidadania
e vice-versa; e a resposta é que pode haver ambas as situações, embora, em
regra, os dois conceitos estejam atrelados.
Exceções:
■ Nacionalidade sem cidadania (Nacional que não é cidadão, porque não exerce Dts. Políticos - não vota e não
é votado) Menor de 16 anos (nacional que não é cidadão) Pessoas (> 16 anos) que tem os Dts. Políticos suspensos ou perdidos com base no art. 15 da CF,
enquanto vigorar a suspensão ou perda.
Obs.: A Incapacidade, ou entra como menor (incapacidade por idade) ou por
perda dos Direitos Políticos (interdição), como no caso do doente mental. O preso tem duas hipóteses diferentes, que devem ser analisadas: Prisão Provisória → não há qualquer restrição aos seus direitos políticos. Esse
preso continua a ser cidadão. Mesmo, que já esteja cumprindo pena, se
couberem recursos, isto é, se a sentença condenatória não tiver transitado em
julgado, ele é cidadão ainda; pode votar e pode inclusive ser eleito.
Prisão Definitiva→ é causa de suspensão dos Dts. Políticos – art.15, III da CF –
após o trânsito em julgado da sentença condenatória (sentença definitiva,
enquanto durarem seus efeitos).
■ Cidadania Brasileira sem Nacionalidade Brasileira: Só existe em um caso previsto na CF, art. 12, § 1º ► Portugueses Equiparados. Portanto, por esse artigo, salvo algumas exceções previstas na CF, o
português equiparado aos brasileiros, tem direitos políticos análogos aos dos
brasileiros natos; podem votar e ser votados. Isso só é concedido ao Português (nato ou não – ex: francês naturalizado
português) e não a pessoas nacionais de países que falam idioma português
como Angolanos, Moçambicano, etc. Porque em Portugal existe a equiparação
com relação aos brasileiros que lá residem, também, há 1 ano. Podem votar e
ser votados, inclusive podem fazer parte de cargos europeus do Mercado
Comum. E bom deixar claro, que não é, como se falava erroneamente, um
caso de dupla nacionalidade, porque para o Brasil ele tem nacionalidade
portuguesa, ele apenas tem a cidadania brasileira. A Constituição Argentina e Uruguaia tem dispositivo de equiparação
com a Espanha igual a esse que existe entre Brasil e Portugal - práxis comum
entre colonizadores e colônias. Portugal, no entanto, só tem essa disposição
em relação a nos, não tem com relação a Angola, Moçambique, etc.
Direitos Políticos
1) Conceito:
Os Direitos Políticos são os direitos de participação na vida política do Estado.
E essa participação pode ocorrer de duas formas, compreendendo, portan
to, dois direitos primordiais:
■ Direito de Participação na vida política do Estado de forma ativa (“ius
sufragii”)
= Direito de Votar
■ Direito de Participação na vida política do Estado de forma passiva (“ius
honorum”)
= Direito de ser votado
Cada um desses direitos está correlato a algum tema:
Direito de votar está correlato ao tema da Alistabilidade (só vota quem e
stá alistado) ou Cidadania Ativa ou Capacidade Eleitoral Ativa.
Direito de ser votado está correlato ao tema da Elegibilidade (só é eleito quem
é elegível) ou Cidadania Passiva ou Capacidade Eleitoral Passiva.
Por isso o Direito Eleitoral tem que ser dividido em 3 partes: estudo
da Alistabilidade (quem se alista, como se alista, quando se alista), estudo
da Elegibilidade (quem se elege, como se elege, quando se elege) e, por
último, o estudo sobre oProcesso Eleitoral, a parte processual do direito eleitoral
(como se vai levar uma questão de alistabilidade ou de eventual inelegibilidade
à apreciação do poder judiciário).
2) Diferença entre Sufrágio e Voto:
Pergunta frequente de provas, até porque a CF se equivocou com relação a
isso.
Sufrágio► É o direito político em si (de votar). Por isso chamamos o direito de votar de “ius
sufragii”.
Voto►é o modo pelo qual esse direito político (sufrágio) vai ser exercitado na
Democracia Indireta (obs.: o voto é direto; instrumento da Democracia Indireta).
Esse mecanismo da Democracia Indireta, não exclui outros mecanismos
próprios da Democracia
Direta; temos 3 desses mecanismos na CF no art.14: Plebiscito (I),
Referendo (II) e Iniciativa do Povo ou Iniciativa Popular (III).
Portanto, a nossa Democracia, apesar de usar o voto como principal
instrumento, não é Indireta e sim Semi-direta, porque tem também
instrumentos próprios de uma Democracia Direta. Nossa Democracia é,
portanto, em regra Indireta, através do voto, mas possui mecanismos, e pode
lançar mão deles, de Democracia Direta; por isso Semi-Direta.
A CF cometeu um equívoco em seu art.60, § 4º, II: “Não será objeto d
e deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: II-
o voto direto, secreto, universal e periódico;” que foi corrigido pelo art.82 do
Cód. Eleitoral: ”O sufrágio é universal e direto; o voto, obrigatório e secreto”.
Esse artigo do CE deixa claro, que as 4 qualidades dadas para o voto na CF,
não são todas do voto, duas delas são do sufrágio, cujo único mecanismo é o
voto (instrumento de excelência do sufrágio).
Obs.: Existe o Sistema eleitoral de voto direto e o sistema eleitoral de voto
indireto. Isso é diferente de Democracia direta, que se trata do povo exercendo
o poder de forma direta (através do plebiscito, referendo e iniciativa popular) e
Democracia Indireta, que é o povo exercendo o poder através de
seus representantes, portanto, de forma indireta. A nossa CF, via de regra,
prevê que nossa Democracia é exercida através do sistema eleitoral de voto
direto (Democracia Indireta). Mas prevê também,que possa ser
exercida, excepcionalmente, através do voto indireto (art.81, § 1º, quando o
Congresso Nacional elege o Presidente do Brasil, ocorrendo vacância nos
últimos dois anos).
3) Alistabilidade (cidadania ativa ou capacidade eleitoral ativa):
Temos como primeira premissa desse estudo entender o que é Alistamento
Eleitoral:
Alistamento Eleitoral ► significa Procedimento Administrativo (assim como o é a licitação, o
tombamento, o concurso público, etc.) de qualificação e inscrição do próprio eleitor, com a
consequente atribuição de um título (título eleitoral).
Esse conjunto de atos administrativos tem, portanto, dupla função: primeiro
qualificar e depois inscrever; para materializar esses atos de qualificação
e de inscrição a Administração lhe confere um título. Todo esse procedimento
é o Alistamento Eleitoral.
Uma forma de conceituar Alistamento de forma mais sintética é dizer que se
trata da primeira fase do Processo Eleitoral. O Processo Eleitoral “latus sensu”,
a rigor, é composto de 4 fases: (1) Alistamento; (2) Votação; (3) Apuração; e (4)
Diplomação (ato que declara que alguém conseguiu um mandato eletivo, ou
seja, que foi eleito).
Vamos dividir o estudo de alistamento em 4 subitens: (1º) Alistamento
Obrigatório; (2º) Alistamento Facultativo; (3º) Alistamento Proibido; e (4º)
Suspensão e perda dos Direitos Políticos.
3.1) Alistamento Obrigatório:
Está previsto no art. 14, § 1º, I, da CF e nos art.4º (inteiro) e 8º caput do Código
Eleitoral. O restante dos dispositivos do Cód. Eleitoral que falam de alistamento
não foram recepcionados pela CF.
A CF prevê em seu artigo 14 § 1º duas regras para o alistamento
eleitoral obrigatório: inciso I “O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios
para os maiores de 18 anos” e inciso II “b” a contrário senso: “para os menores
de 70 anos”.
Faixa etária: ≥ 18 e ≤ 70 anos Prazo Para Alistamento Eleitoral: 1 (um) ano após aquisição da capacidade Eleitoral.
Termo inicial seria a data da aquisição da capacidade e não maioridade
eleitoral (que hoje coincide com a maioridade civil = 18 anos), porque esse
termo inicial só valeria para brasileiros natos; no caso de brasileiros
naturalizados o termo inicial do prazo de um ano seria a data da naturalização.
Obs.: O parágrafo único do art.8º do CE, que prevê um prazo de 100 dias antes
do dia anterior a eleição subsequente à data que completar 19 anos, não foi
recepcionado pela CF/88, segundo a justiça eleitoral.
Ser ano eleitoral, não tem importância para fins de alistamento, mas terá importância para
outras fixações como fixação de domicílio para concorrer numa determinada localidade.
3.2) Alistamento Facultativo:
Está previsto no art. 14, § 1º, II da CF/88 c.c o Cód. Eleitoral, art.6º, I, “b” (só
essa alínea foi recepcionada pela CF/88).
Temos 3 regras previstas na CF:
a) Analfabetos;
b) Maiores de 70 anos;
c) Maiores de 16 e menores de 18 anos ( ≥ 16 e < 18).
Reflexões sobre o tema:
(1) Não há identidade entre a data que a pessoa adquire a capacidade eleitoral,
com a data em que a pessoa adquire a capacidade civil plena, porque aos 16
anos a pessoa é relativamente incapaz na esfera civil, mas já pode ser capaz
na esfera eleitoral; tendo, é claro, a capacidade de votar, porque a capacidade
de ser votado só é obtida, hoje, aos 18 anos.
(2) Os analfabetos são, portanto, alistáveis, mas não são, em hipótese al
guma, elegíveis (não podem ser eleitos para cargo nenhum, mas podem votar).
Porque é condição de elegibilidade saber ler e escrever.
Questões de prova:
1) A parte legitimada para ação popular é o cidadão. E acabamos de ver que o maior de
16 anos pode se alistar, tendo, portanto, direitos políticos, e sendo consequentemente
cidadão. Esse menor, alistado, se quiser promover ação popular, deve estar assistido
em juízo ou não? Para efeito de direito público é cidadão (cidadania ativa), mas para
efeito de direito privado é relativamente incapaz; e diz o Cód. Civil, que os relativamente
incapazes devem ser assistidos. Como se resolve essa questão; esse menor tem
assistência necessária ou não? Porque se analisássemos a questão sob o ponto de vista
do direito público, essa assistência seria dispensável, por já se tratar de um cidadão;
mas se analisarmos sob o ponto de vista do direito privado, essa assistência seria
necessária.
R: Existe controvérsia em doutrina com relação a essa questão (quando existe
controvérsia é de bom tom dizer nome do autor, seu fundamento e sua
posição):
■1ª Posição: Rodolfo de Camargo Mancuso (grande autor, hoje).
A Assistência é imprescindível, sob pena, até, de nulidade do processo, ou,
seja o maior de 16 e menor de 18 anos tem que ser assistido na promoção de
ação popular.
Fundamento: Porque sob o ângulo do Dt. Privado, trata-se de uma pessoa
relativamente incapaz. E se não for assistida há nulidade do processo.
■ 2ª Posição: Mario Bento Martins Soares
A Assistência é dispensável.
Fundamento: Porque, sob ponto de vista do Dt. Público trata-se de um cidadão.
Para ele não há necessidade de assistência para exercer um direito político.
Essa questão nunca chegou aos tribunais, por isso ainda não temos
jurisprudência. Mas pela posição que o STF de hoje adota e pelo peso de seu
defensor
(prof. Mancuso), a tendência é que siga a 1ª posição. Há uma tendência
jurisprudencial que a assistência seja indispensável.
Obs.: A emancipação civil não afeta o Direito Eleitoral. A idade de 16 anos tem
que ser atingida para que haja possibilidade de alistamento.
2) A atual jurisprudência admite que o juiz eleitoral (de ofício) aplique teste de
verificação de alfabetização do candidato para efeito de elegibilidade?
R: É possível teste de verificação de alfabetização, aplicado de ofício pel
o juízo eleitoral, para efeito de elegibilidade. Se o juízo eleitoral tiver clara
suspeita que o postulante a candidato seja analfabeto pode executar o teste e
segundo seu resultado, se ficar comprovado o analfabetismo, indeferir o pedido
de candidatura. O ideal é que o juízo aplique o mesmo teste para todos os
candidatos suspeitos, a fim de manter um critério mais objetivo de avaliação.
Para que esse teste seja aplicado, é preciso que se avalie antes, a
razoabilidade de sua aplicação, ou seja, só deve ser aplicado se a pessoa não
traz documentos públicos de escolaridade; juntado documento de
escolaridade mínima (basta ser alfabetizado), o pedido de candidatura de
ve ser deferido (isso, no entanto, não impede que em caso de possível fraude
documental, o MP eleitoral a investigue e responsabilize criminalmente quem a
praticou).
Fundamento: Acórdão do TSE n° 12.510 de 15/02/1993.
3.3) Alistamento Proibido:
Previsto no art. 14, § 2º da CF c/c art. 5º, III e art. 6º, I, “a” do Cód. Eleitoral.
Analisando estes artigos extraímos 4 regras para o alistamento proibido:
(1) Menor de 16 anos;
(2) Estrangeiros (salvo situação do Português Equiparado – art. 12 §1º da CF);
(3) Conscrito (quem está em serviço militar obrigatório – durante esse período);
(4) Pessoas que tenham seus direitos políticos suspensos ou perdidos.
Obs¹: Os inválidos descritos no art. 6º, I, “a” seriam casos de pessoas com
seus direitos políticos suspensos.
Obs²: Quando acaba a causa da suspensão, se já tiver se alistado antes, não
precisa se realistar, mas se ainda não tiver se alistado, terá que se alistar
(alistamento nunca é automático).
No caso do jovem de 18 anos que ainda não fez seu alistamento eleitoral e vai
servir ao exército, passando, portanto, a ser conscrito, quando sair das f
orças armadas, aos 19 anos, tem o prazo de alistabilidade obrigatória
postergado em um ano, ou seja, até os 20 anos.
Questões Sobre o Tema:
(1) O estrangeiro não pode se alistar, salvo o Português Equiparado. Não estamos
falando em pessoas naturalizadas, porque essas são consideradas brasileiras,
para fins do alistamento e elegibilidade (naturalizado deixa de ser estrangeiro
e, portanto não esta incluída nesse rol).
(2) Como ficam as pessoas menores de 16 anos emancipadas pelo CC (por ex.: pelo
casamento, pela instalação de negócio próprio)? A emancipação do direito civil
repercute no direito eleitoral ou não?
R: Assunto pacífico na doutrina e na jurisprudência: Causas que cessem a
incapacidade civil (emancipação) não se aplicam ao direito eleitoral, ou seja, tem
aplicação restrita ao direito civil. Para fim de direito eleitoral só vale o critério biológico
(idade), ou seja, ter pelo menos 16 anos. Essa diferença de tratamento é explicada,
porque o direito civil nessa parte de emancipação tutela direito patrimonial e
direito eleitoral tutela direito público. Não se pode estender norma de direito
patrimonial a direito que envolve política pública. Porque tutelam bens
completamente diferentes (dt. civil tutela direito patrimonial e dt. eleitoral tutela
direito político).
Portanto, pessoa de 15 anos casada pode exercer todos os atos da vida
civil (comprar, vender, etc.), mas não pode votar ainda.
(3) Indivíduo se alista aos 16 anos e aos 18 anos ingressa no serviço militar obrigatório.
Como já possui título eleitoral, esse indivíduo pode votar durante o serviço militar ou
não? Se votar, esse voto é válido?
R: O indivíduo em serviço militar obrigatório portador de título que vota, é fato atípico,
porque a vedação constitucional é que essa pessoa (conscrito) se aliste eleitoralmente, mas não
que vote. O art. 14 § 1º fala que são obrigatórios o alistamento e o voto, mas o § 2º não fala em
vedação a votar. Não teria nenhuma sanção, para fins de direito privado e direito
público (eleitoral), se votasse. Isso não quer dizer que não possa ser aplicada a
ele uma punição disciplinar militar, se abandonar seu posto de trabalho para
votar, porque o serviço militar não tem que conceder a esses indivíduos prazo
durante o dia para votar, como outros servidores fariam jus.
3.4) Perda e Suspensão dos Direitos Políticos:
As causas de perda e suspensão são tratadas juntas no art. 15 da CF.
■ Perda► Privação Definitiva de Direitos Políticos
■ Suspensão► Privação Temporária de Direitos Políticos
Questões sobre o Tema:
(1) Existe algum efeito secundário ou acessório da Perda ou Suspensão dos direitos
políticos? Se existir, qual será?
Suponhamos que um prefeito municipal tenha os seus direitos políticos suspensos,
ele perderia seu mandato também?
R: Existe um efeito secundário importantíssimo, em regra, tanto na perda como
na suspensão dos direitos políticos, que é a perda do mandato eletivo. Esse
efeito acessório é, em regra, automático Se o suposto prefeito, durante o seu
mandato, sofrer perda ou suspensão de seus direitos políticos, ele
automaticamente perde o mandato.
Falamos que ocorre em regra, porque no executivo ocorre sempre e
automaticamente (presidente da república, governador e prefeito sempre
perdem seus mandatos). Mas no caso do poder legislativo, em casos de
condenação criminal transitada em julgado, principal causa de suspensão, essa
perda não é automática. Tanto com relação a senadores e deputados federais
e estaduais essa suspensão depende de um juízo político das casas as quais
pertencem. Nessas situações específicas o senado, a câmara e assembléia
respectivamente vão deliberar sobre a perda dos mandatos dos condenados
criminalmente em definitivo.
Fundamentos: Em relação aos deputados federais e senadores podemos citar o
art.55, § 2º da CF. O fato de não ser automática a perda do mandato é porque
nem todo o crime pode ser compatível com a perda do mandato eletivo. Por
exemplo, um deputado que foi condenado por crime de lesão corporal culposa
no trânsito, transitada em julgado, não precisaria perder seu mandato, porque é
um delito que qualquer um de nós está sujeita e não torna a pessoa
incompatível com o cargo que ocupa.
Obs.: Esse mesmo dispositivo da CF (art. 55 § 2º) é o aplicado para perda de
mandato por falta de decoro parlamentar. O § 2º, tanto faz referência ao inciso
VI, que fala em sentença penal transitada em julgado - caso citado acima,
como se refere ao inciso II, que trata da perda do mandato, quando o
procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar. Em
ambos os casos, a CF exige maioria absoluta dos votos, portanto só se perde o
mandato por 277 votos na Câmara (513 membros) e 41 votos no Senado (80
senadores), exige voto secreto e defesa ampla.
O § 1º do mesmo artigo define o que seria a quebra de decoro parlamentar:
“É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento
interno, o abuso das prerrogativas asseguradas aos membros do Congresso Nacional ou a
percepção de vantagens indevidas”.
É importante, reparar que a CF só fala em uma sanção para a quebra do
decoro, que é a perda do mandato. A nossa legislação vai mais longe,
prevendo também a inelegibilidade do candidato (perda do registro).
O art. 27 § 1º da CF estende essa possibilidade de perda de mandato aos
deputados estaduais, nos mesmos casos previstos para os deputados
federais e senadores e nos mesmos moldes do artigo 55, ou seja,
dependendo, também de juízo da casa a qual pertencem (Assembléia
Legislativa).
Poderíamos afirmar que nesse rol constitucional faltou tratar dos vereadores;
isso implica que para eles deve haver juízo político da casa ou não? Se um
vereador do RJ foi condenado por sentença definitiva, transitada em julgado,
pela pratica de crime de homicídio, o que se pergunta é se ele deixa de ser
vereador automaticamente com a sentença definitiva ou tem que ser submetido
a juízo político da Câmara Municipal do
RJ? A simetria entre deputado estadual e vereador ou não? Esse silênci
o Constitucional é uma lacuna técnica, que permitiria a analogia com os
deputados estaduais, ou se trata de silêncio eloqüente?
R: No Brasil encontraremos duas posições sobre essa controvérsia (só dois
autores tratam do assunto):
1ª Posição: Alexandre de Moraes.
Não existe juízo político; se o vereador for condenado como trânsito
em julgado, ele perde o mandato automaticamente. Porque, para esse autor,
não há simetria entre deputado estadual e vereador. Portanto, o silêncio
constitucional foi um silêncio eloqüente. Se o constituinte quisesse estender
o mesmo tratamento aos vereadores, o teria feito de forma expressa, como
fez para o deputado estadual no art. 27 § 1º.
2ª Posição: Pedro Henrique Távora Niess.
Há juízo político. Se o deputado for condenado definitivamente, sua
perda de mandato não é automática, podendo, inclusive, ser afastada
pelo julgamento político de seus pares da Câmara Municipal. Para esse autor
existe simetria entre deputado estadual e vereador e como a CF apresenta
essa lacuna técnica, ela deve ser suprida com a analogia.
Já há jurisprudência do STF sobre o tema, em acórdão recentíssimo
(RE 225019) no qual o STF excluiu o juízo político. Portanto, para a corte
suprema a perda do mandato do vereador deve ser automática devido ao
silêncio eloqüente da CF.
Temos inclusive vários dispositivos em que a CF não deu o mesmo tratamento
aos vereadores que deu aos deputados estaduais. O grande exemplo é a
imunidade
parlamentar (a dos vereadores é completamente diferente da dos deputa
dos estaduais). O vereador só tem a imunidade material no limite do município,
se a lei orgânica for expressa; enquanto que o deputado estadual tem
imunidade formal e material, sem qualquer limitação espacial, mesmo nos
estados em que não atua.
É importante gravar para provas/concursos: Presidente da República, Governador e
Prefeito (Executivo) e Vereador (Legislativo Municipal) a perda do mandato é automática,
após sentença penal condenatória transitada em julgado. Deputados Federais e
Senadores (Legislativo Federal) e Deputados Estaduais (Legislativo Estadual) é
necessário que suas respectivas casas deliberem sobre a perda do mandato, por
votação secreta, por maioria absoluta, facultada ampla defesa.
(2) A quem cumpre decretar perda ou suspensão dos direitos políticos? Pertence
ao judiciário ou executivo? É uma questão de competência (Judiciário) ou
atribuição (Executivo)?
Obs: Quando falamos em poder judiciário, não estamos nos referindo só à
justiça eleitoral. Porque no caso de uma sentença criminal transitada em
julgado, pode ser que o juízo criminal (estadual comum ou federal comum) a
aplique.
R: Já há hoje um consenso no Brasil, que é uma função do Judiciário, salvo uma única
exceção. Ou seja, cabe ao poder Judiciário, pela justiça competente para o caso
concreto, que pode não ser a justiça eleitoral, decretar perda ou suspensão dos
direitos políticos.
Só há a discussão dessa competência em uma situação, que está prevista no
art. 15, IV da CF/88: “recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º , VIII:”. Esse artigo trata do que
chamamos
deEscusa de Consciência. A escusa de consciência é um direito fundamental
individual que todo indivíduo tem de não
cumprir obrigação a todos imposta, por motivação de ordem religiosa,
filosófica ou política. O caso que mais acontece, hoje, de escusa de
consciência é das testemunhas de Jeová que se recusam a prestar serviço
militar obrigatório, por ferir sua convicção religiosa ao pegar em armas.
Obs.: É importante colocar, que o art. 15 em todos os seus incisos tem erro
técnico, inclusive no próprio inciso IV, quando fala de recusa de cumprir
obrigação ou prestação alternativa. A conjunção presente deveria ser e e
não ou. O exercício de um direito fundamental (escusa de consciência – art. 5º,
VIII e o próprio art. 15, IV da CF) não poderia ser causa de perda dos direitos
políticos; o que provoca a perda é o exercício da escusa de consciência e
o descumprimento da prestação alternativa prescrita (ex: serviço civil
alternativo – serviço à comunidade carente).
Essa situação da escusa de consciência somada ao descumprimento a
prestação alternativa (IV) é a única controvérsia na doutrina, com relação a
quem cumpre a decretação de perda ou suspensão de direitos políticos.
Porque essa questão envolve as forças armadas, e, eventualmente, o chefe
das forças armadas em guerra é o chefe supremo do Poder Executivo
(Presidente da República). Existem duas posições:
1ª Posição: José Afonso da Silva.
Deveria ser competência do Judiciário, a decretação de perda ou suspens
ão dos direitos políticos, também nessa situação, porque não há exceção.
Qualquer decretação de perda e suspensão dos direitos políticos deve ser feita
pelo Poder Judiciário.
2ª Posição: Fávila Ribeiro.
A Atribuição deveria ser do Poder Executivo porque esse caso seria
uma exceção à competência do Judiciário. Como esse caso envolve as Forças
Armadas cabe ao Presidente da República (chefe das Forças Armadas) a
decretação da perda ou suspensão dos direitos políticos.
Para esse autor, qualquer situação que envolva escusa de consciência
+ descumprimento da prestação alternativa, não só as situações envolvendo as
forças armadas (por ser a situação mais freqüente), a decretação de perda ou
suspensão dos direitos políticos é atribuição do Presidente da República,
através de uma decisão administrativa (sem necessidade de homologação).
Obs.: Essa função é exclusiva do Presidente da República, sendo, portanto,
indelegável? (pergunta em aula)
R: Se trata de uma função indelegável, por ele se tratar do chefe das Forças
armadas. As funções que o Presidente pode delegar e a quem podem ser
delegadas estão descritas no art. 84 parágrafo único da CF.
A Jurisprudência do TSE é acorde com a 2ª posição, ou seja, cabe nesse caso
do inciso IV, ao presidente da república a decretação da perda ou suspensão
dos direitos políticos (ato administrativo), todas as outras situações são de
competência do poder Judiciário – Acórdão 14.012 de 10/10/2001 do TSE.
Obs.: Por ser decisão administrativa – ato administrativo, pode haver da parte
do “lesado” pela decisão, recurso administrativo (como o Presidente é
autoridade máxima cabe apenas recurso próprio) ou questionamento judicial
(mandato de segurança ao STF – porque se trata de ato do Presidente da
República), nunca questionando a competência, mas apenas questionando
algum vício dessa decisão.
Obs.: Como ficaria a situação da Imunidade do Presidente da República, com
relação a essa possibilidade de condenação criminal?
R: Existem duas Imunidades processuais penais do Presidente da República:
(1) Não pode ser preso durante o seu mandato; e (2) não
pode ser responsabilizado, durante o seu mandato, por atos estranhos ao
exercício de suas funções (art.86, § 4º da CF). Portanto, podemos visualizar
pela 2ª imunidade, que o Presidente da República pode ser responsabilizado
por atos coerentes com sua função; pode responder por prevaricação, mas não
pode responder por seqüestro, roubo, etc. Nesse caso poderia responder a
processo de crime comum (prevaricação) junto ao STF e perderia o seu cargo
de Presidente automaticamente se fosse condenado em definitivo. Isso é
diferente de “Impeachment” (impossibilidade de exercer a função pública por 8
anos) em que a Câmara admite que o Presidente seja julgamento pelo Senado,
porque aqui não se trata de condenação penal, seria uma condenação
administrativa.
Os governadores e prefeitos têm tratamento idêntico, pelo princípio da Simetria
(a CF estende a eles vários tratamentos que dá ao chefe do executivo).
3.4.1) Perda dos Direitos Políticos:
► Privação definitiva de direitos políticos que poderão vir a ser readquiridos no futuro
por provocação do interessado (provocar o Judiciário ou o Executivo, dependendo de
quem seja a “competência”).
Está prevista no artigo 15, I e IV da CF: (I) Cancelamento da naturalização por
sentença transitada em julgado; e (IV) Recusa de cumprir obrigação a todos
imposta “ou” (e) prestação alternativa, nos termos do art.5º, VIII. Para a
doutrina dominante, apesar de não serem pacíficos, esse dois incisos
se referem à perda de direitos políticos.
O inciso primeiro é extremamente mal redigido, porque por ele dessa forma
escrito, parece que estão excluídos dessa perda os brasileiros natos, o que não
ocorre. Esse inciso deveria ser lido da seguinte forma: perda da nacionalidade
brasileira e aquisição de outra nacionalidade. Exemplo disso: se um brasileiro
nato, se naturaliza hoje espanhol, ele perde a nacionalidade brasileira.
Obs.: Pergunta que aparece freqüentemente em provas: Se a naturalização
fosse condição para permanência naquele país, esse indivíduo teria que perder
a nacionalidade brasileira?
R: Não; assunto claramente tratado no art. 12 § 4º, II “b” da CF/88. Esse artigo
exclui a perda da nacionalidade nesta condição, afastando, portanto, o art.15, I
da CF.
3.4.2) Suspensão de direitos políticos:
► Privação temporária de direitos políticos, que poderão vir a ser readquiridos no futuro,
automaticamente, cessadas às causas que deram ensejo à suspensão.
Ex: Condenado que já cumpriu sua pena, deixa de ter seus dts. políticos
suspensos.
Interditado, cessada a causa da interdição, deixa de ter, automaticamente,
seus dts. políticos suspensos.
Prevista no art. 15, II, III e V da CF/88 (para a corrente majoritária):
(II) Incapacidade civil absoluta. Aqui temos que ler, na verdade, interdição, com
consequente incapacidade civil absoluta. Porque a pessoa que tem
incapacidade civil absoluta desde o início, sequer adquiriu dts políticos,
portanto, não os poderia ter
suspensos. Não podemos confundir um estado – interdição –
com um fato, incapacidade civil absoluta. Cessada a causa da interdição
(cessado o estado), cessa a causa da suspensão de direitos políticos, que são
readquiridos, automaticamente.
Pularemos o inciso III, indo direto para o V.
(V) Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º: “Os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. Nesse artigo
temos que ler: Sentença que condena o réu com trânsito em julgado por prática de ato
de improbidade administrativa. Porque, segundo a nossa CF, a pessoa presume-
se inocente, até a sua condenação definitiva. E até porque improbidade
administrativa é apenas uma imputação, sentença transitada em julgado é um
fato.
Obs.: Alguns autores, inclusive, o Prof. Ramaiana, indicam que esse inciso V
seria uma situação de perda. Mas o professor Guilherme discorda totalmente
dessa posição. Para ele esse inciso não deixa qualquer dúvida de se tratar de
causa de suspensão, porque o próprio art. 37, § 4º, a que se refere o inciso V,
fala em suspensão de direitos políticos.
O inciso III foi deixado para o final, porque é o mais perigoso. E todas as
questões formuladas em prova, quando falam e suspensão de direitos políticos,
falam desse inciso:
(III) Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Nós já tocamos nesse assunto quando discutimos a perda de mandato eletivo,
que para deputado federal e estadual e senador, essa perda não é automática.
Esse inciso dá ensejo a 5(cinco) questões, que iremos discutir a seguir:
(1ª) A CF fala em condenação criminal, qual seria, então, a natureza jurídica da infração
penal? Trata apenas de condenação penal por crime ou pode ser condenação por
contravenção penal, também? Pois sabemos que a infração penal é gênero que
compreende duas espécies:
(1) Crime e (2) Contravenção Penal.
Se caísse, por exemplo, numa prova a seguinte questão: João da Silva foi
condenado, com sentença transitada em julgado, pela contravenção penal de
jogo do bicho; ele teria os seus direitos políticos suspensos? Aqui, não temos
uma condenação criminal, teríamos, na verdade uma condenação
contravencional.
E se for condenação por crime, que não seja apenado com prisão, seja apenado com
pena restritiva de direitos ou multa, teria seus direitos políticos suspensos?
R: Embora a CF/88 diga infração penal, se considera qualquer infração penal, seja crime
ou contravenção penal. A partir do momento que sai uma sentença penal condenatória
transitada em julgado há a suspensão dos direitos políticos. Seja aplicada pena privativa
de liberdade ou não. Mesmo que se aplique pena restritiva de direitos ou pena de
multa, há a suspensão dos direitos políticos.
Uma pessoa foi condenada por uma contravenção penal de jogo do bicho a
pagar pena de multa; no momento que essa sentença transita em julgado tem
seus direitos políticos suspensos. A questão que avém daí é até quando dura
essa suspensão, no caso da pena de multa, por exemplo.
(2ª) O que a CF quer dizer com a expressão: “enquanto durarem seus efeitos”?
Até porque o termo inicial dessa suspensão é bem tranqüilo, data em que a
sentença transitou em julgado. Por isso, como já mencionamos anteriormente,
presos provisórios (prisão em flagrante, preventiva, provisória, ou por sentença
recorrível) têm seus direitos políticos plenos (ativos=votar; passivos= ser
votado). Há inclusive, um projeto de lei, de levar a possibilidade de votar a
esses presos, ou seja, sessões eleitorais em estabelecimentos penais. Porque
o preso só não vota por impossibilidade física; e não pode exigir votar fora da
prisão, porque esse direito não é assegurado na CF como direito líquido e
certo.
Recentemente o TRE do RJ indeferiu pedido de candidaturas, no último pleito,
de pessoas acusadas em crimes; isso não poderia ser feito com base na
CF/88. Pela CF até pessoas condenadas em crimes hediondos com sentença
recorrível devem ter seus pedidos de candidatura deferidos.
R: Quanto a isso a Jurisprudência é pacífica; enquanto durarem seus efeitos significa
até a data da declaração extintiva de punibilidade ou, se houver cumprimento, até a data
da declaração de extinção da pena. Se o réu cumpriu a pena, a suspensão dos
direitos políticos dura até a declaração de extinção da pena; se o réu não
chegou a cumprir a pena, não podemos falar em pena e por isso tem seus
direitos políticos suspensos até a declaração de extinção da punibilidade.
Pouco
importando, para essa suspensão os fatos anteriores, como a declaração
de reabilitação do condenado, ou indenização
total do dano, ou estabelecimento de relação com a família (casamento com
a estuprada). É necessária para reaquisição dos direitos políticos a declaração
de extinção da punibilidade ou da pena, nenhum fato anterior tem qualquer
importância sobre isso.
O intervalo de tempo da suspensão vai da sentença de condenação transitada m
julgado até a sentença declaratória extintiva da punibilidade ou da pena. Por exemplo,
no caso de multa, no momento do pagamento integral da multa está extinta a
pena e faz jus a reaquisição de seus direitos políticos. Se o pagamento da
multa for parcelado, com o pagamento da última parcela, volta a fazer jus de
seus direitos políticos. Em relação à pena restritiva de direitos, a suspensão
dura enquanto durar a pena. Quando extinguir a pena extingue também a
suspensão.
(3ª) Se houver, eventualmente, uma medida de despenalização (os dois principais
exemplos de medidas despenalizadoras, hoje, seriam: (1) Transação penal; (2)
Suspensão Condicional do Processo (sursis processual)), como a transação penal
ou o sursis processual, ocorre suspensão dos direitos políticos dessa pessoa que
transacionou ou teve seu sursis processual?
R: Qualquer medida de despenalização (não há pena) importa em não condenação (não
se discute culpa); e como não há condenação, não há, também, suspensão de direitos políticos.
(4ª) Um incidente de execução penal (e não, como na hipótese anterior, uma
medida de despenalização), como o caso do livramento condicional ou
da suspensão condicional da pena (sursis penal), afeta a suspensão dos direitos
políticos do condenado? Por exemplo, uma pessoa condenada que está
cumprindo pena, em regime fechado, é beneficiada com o livramento
condicional ou com o sursis penal; como isso afeta a suspensão de seus
direitos políticos?
R: Não, qualquer incidente de execução penal não afeta a suspensão de direitos
políticos, que perdura enquanto durar a pena. Esses incidentes não implicam em
extinção da punibilidade ou da pena.
Obs¹: Há uma declaração de extinção de punibilidade ou de extinção da pena,
que é comunicada (por ato administrativo mínimo para dar ciência) à justiça
eleitoral e às juntas eleitorais, havendo automaticamente a cessação da
suspensão dos direitos políticos.
Obs²: A condenação civil, por não se tratar de condenação criminal, funciona
como a prisão provisória em relação aos direitos políticos, o preso pode votar e
ser votado, só não vota porque há uma impossibilidade física de sair da cadeia
para isso.
(5ª) O que significa Inelegibilidade legal? E quais seus efeitos?
R: Temos que fazer menção a Lei Complementar 64/90 (Lei das Inelegibilidades) art.1º, I,
“e”: “São inelegíveis: os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada
m julgado, pela prática de crime contra a economia popular,
a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro,
pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais (todos os crimes eleitorais), pelo prazo de 3
(três) anos, após o cumprimento da pena;”. Porque sempre que houver uma condenação criminal,
temos que ver se é por um dos crimes previstos nesse artigo. Se for, quando for declarada extinta
a punibilidade ou declarada extinta a pena, ele só vai readquirir parte de seus direitos políticos –
direito de votar (capacidade eleitoral ativa) – porque seu direito de ser votado (capacidade eleitoral
passiva) fica obstado por mais 3 (três) anos. Nesses crimes,
o condenado só volta a ser cidadão em sua plenitude, 3 anos após o cumprimento da pena.
Obs.: “Impeachment”: Fica impedido durante 8 anos de ocupar qualquer função pública, não só
mandato eleitoral.
Elegibilidade: Condições e Conceitos
4) Elegibilidade (cidadania passiva ou capacidade eleitoral passiva):
4.1) Condições de Elegibilidade:
As condições para alguém ser eleito para um cargo eletivo (elegibilidade) estão
enumeradas exaustivamente (taxativamente) no art. 14, §3º da CF/88. Estudaremos,
portanto, esse parágrafo, inciso por inciso:
I- a Nacionalidade Brasileira;
Sobre esta condição devemos frisar que o inciso fala apenas de nacionalidade
brasileira, ou seja, brasileiro nato ou não (apenas nacionalizado).
Já estudamos anteriormente, uma situação, prevista na CF, que pode ser exceção a
essa regra: a prevista no art. 12, § 1º - do Português Equiparado (fazer remissão). O português
equiparado pode ser eleito no Brasil, sem ser brasileiro (português equiparado não é sequer
naturalizado, continua sendo nacional de Portugal).
Devemos também com relação a esse inciso fazer outra remissão ao art. 12, § 3º,
porque traz como condição para ser eleito para determinados cargos (Presidente
da República e Vice-Presidente; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do
Senado; Ministro do STF; carreira diplomática; oficial das forças armadas, Ministro do
Estado de Defesa) a necessidade de ser brasileiro nato (cargos privativos de
brasileiros natos); portanto esses cargos não podem ser exercidos nem por
naturalizados nem portugueses equiparados.
Obs.: A Constituição Americana tem norma igual, exigindo que para ser Presidente e
Vice-Presidente americano a pessoa tenha que ser americano nato. Só que o Bush acabou de
apresentar uma proposta de emenda querendo acabar com isso. Só que o prazo para emendar a
Constituição Americana é o de aprovação em todas as assembléias estaduais. A última emenda à C.
Americana, Emenda 21 começou a ser votada em 1898 e acabou de ser votada em 2001 (demorou 103
anos).
Notas Importantes sobre esse artigo (CF- art. 12, § 3º):
É importante ressaltar que não é cargo privativo de brasileiro nato, cargo de deputado
federal ou senador. O brasileiro naturalizado e até o português equiparado podem ser
deputados e senadores, só não podem ser Presidentes dessas casas legislativas.
Essa exigência é feita, porque o Presidente do Senado e o Presidente da Câmara são
eventuais substitutos do Presidente da República, cargo de brasileiro nato por
excelência.
Há exigência de ser brasileiro nato para ser Ministro do STF; não existe essa
exigência para ser Ministro do STJ. Tanto é que temos um Ministro no STJ que é
alemão naturalizado brasileiro. A exigência de ser nato o Ministro do STF é, também,
porque o Presidente do STF pode ter que substituir o Presidente da República.
Obs.: O Fernando Henrique, quando nomeou a Ellen Grace, na verdade queria
nomear para ser a primeira ministra do STF, a Ada Grinover, mas não pode fazê-lo porque ela é
italiana.
Com relação aos diplomatas, todos os países fazem essa exigência que sejam natos.
Com relação aos militares a exigência de ser brasileiro nato se restringe aos
oficiais. Poderíamos, portanto, ter cabos, soldados e sargentos, naturalizados ou
portugueses equiparados.
Com relação ao Ministro de Estado da Defesa é a primeira vez que a CF se
reporta a um cargo de ministro específico. Porque sempre que ela se refere a
ministros, fala de ministros e ministérios genericamente. Portanto, o único ministro que
tem que ser brasileiro nato, é o Ministro da Defesa. Essa exigência é porque, pela
nossa CF, é o ministro da Defesa quem coordena os comandos militares; e se os
oficiais militares têm que ser natos é evidente que o Ministro Civil que os coordena,
tenha, também, que ser nato.
II) o Pleno Exercício dos direitos políticos;
Isso significa que nenhum direito político tenha sido suspenso ou perdido (vide tópicos
de suspensão e perda de direitos políticos). Temos que combinar esse artigo, portanto,
com o art.15 da CF/88.
III) o Alistamento Eleitoral;
Vide o tópico de Alistamento Eleitoral. Combinar com os art. 14, § 1º, I (alistamento
obrigatório) e II (alistamento facultativo) e art.14, § 2º (alistamento proibido).
IV) o Domicílio Eleitoral na Circunscrição;
Com relação a esse inciso temos que colocar 3 questões:
(1ª) Conceito de Domicílio Eleitoral. O Domicílio Eleitoral se confunde com
o Domicílio Civil?
R: Domicílio Eleitoral é um conceito distinto de Domicílio Civil.
■ Domicílio Civil (do CC) ►Local onde se estabelece residência com ânimo de
adjudicar (permanecer).
■ Domicílio Eleitoral ► Segundo o art.42, parágrafo único do CE”: “ Para o efeito
da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, e,
verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas”. A
Interpretação que é dada a esse artigo, hoje pela doutrina e pela jurisprudência (TRE
do RJ –
Acórdão 26.014 de 12/04/04 (eleição de Nova Iguaçu) e Acórdão 26.587(eleição
de Conceição de Macabú) são a seguinte: Para se ter um domicílio eleitoral é necessário que se verifique,
pelo menos, um de três vínculos (vínculos alternativos e não cumulativos):
1º) Vínculo Patrimonial → demonstrar que a pessoa tem patrimônio no local;
2º) Vínculo Laborativo → demonstrar que a pessoa preste trabalho no local;
3º) Vínculo Social → demonstrar que a pessoa tenha vida social no local.
Se a pessoa demonstrar apenas um desses três vínculos, ela demonstra que tem
domicílio eleitoral no local. Se não demonstrar pelo menos um desses vínculos, não
demonstra que tem domicílio eleitoral no local. Devemos reparar que o conceito é
muito mais elástico que o conceito de domicílio civil.
Antigamente se discutia se o vínculo afetivo era suficiente para demonstrar
domicílio eleitoral. Hoje não se considera o vínculo afetivo, tem que ter pelo menos vínculo social, isto é,
previamente antes da inscrição para o pleito, frequentar o local com habitualidade, ter amigos lá, etc.
Obs.: Foi por não ter quaisquer desses vínculos que a inscrição de candidatura do
Lindeberg Farias para prefeito de Nova Iguaçu foi indeferida, houve recurso para o
TRE que indeferiu também. Agora, a questão está e, julgamento pelo STE; mas
teoricamente ele não tem domicilio eleitoral em Nova Iguaçu e não poderia ter sido
eleito prefeito de lá. Provavelmente essa candidatura vai ser deferida porque logo que
assumiu como prefeito já ganhou o título de cidadão honorário de Nova Iguaçu, para
tentar demonstrar o vínculo social pretérito (discutível, até porque é posterior a ação,
mas provavelmente uma manobra que dará certo).
(2ª) O que seria Circunscrição? A Circunscrição pode variar conforme o tipo de
eleição (ex: eleição local, a circunscrição é menor, regional é maior e nacional é
maior ainda? Ou é um conceito só?)?
R: A atual jurisprudência entende que a circunscrição muda conforme o tipo de
eleição:
1) Eleição Local (Prefeito ou Vereador) ► Circunscrição significa território
do Município (tem que provar o domicílio eleitoral naquele Município).
2) Eleição Regional (sendo eleitos por um Estado:
(a) Governador; (b) Deputado estadual; (c) Deputado Federal ou(d) Senador da República) ►
Circunscrição significa o território do Estado (tem que provar o domicílio eleitoral naquele Estado).
3) Eleição Nacional (Presidente da República) ►Circunscrição significa
território brasileiro (tem que provar domicílio eleitoral no Brasil). È possível, através dessa
interpretação, que um magnata nato no Brasil, que viva no exterior, não tenha qualquer patrimônio
aqui, mas por ter família ou até amigos aqui, vir a ser Presidente do Brasil.
(3º) Há um Prazo mínimo para que se prove esse Domicílio Eleitoral? Até quando
antes do pleito pode-se mudar o domicílio eleitoral?
R: Esse prazo existe e está fixado no art. 9º “caput” da Lei 9.504/97 (Lei
Eleitoral): “Para concorrer ás eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral
na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito e
estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo”.
É importante, ressaltar que não é um ano antes da inscrição e sim um ano antes da
eleição, o que significa dizer, que o prazo contado da sua inscrição eleitoral é muito menor (6 meses). O
individuo tem que ter seu domicílio eleitoral fixado um ano antes da eleição. Esse é o mesmo prazo
exigido para a filiação á partido político. Ele tem que ter, há um ano do pleito, seu domicílio
eleitoral fixado e sua filiação partidária deferida.
Obs.: Por essa exigência legal, soa estanho que o Presidente do STJ, deixe de ser
desembargador e já concorra ás eleições para governador de seu Estado (Piauí);
porque o Presidente do STJ não pode estar filiado a partidos políticos e falta menos
de 1 ano para as eleições que ele pretende concorrer (exigência de estar filiado há 1 ano).
A mesma surpresa nos acomete ao ver o Ministro do STF querer concorrer a
Presidência da República há menos de 1 ano do pleito, se ele não pode sequer estar
filiado a partido político enquanto for Ministro.
V – a Filiação Partidária;
Aqui surgem duas situações interessantes:
1ª) Filiação Partidária é proibida pela CF para membros da Magistratura
(art.95, parágrafo único, III) e do Ministério Público (art.128, § 5º, II, “e”). E
sses membros, portanto, não dão satisfação a todas às condições de elegibilidade.
Obs.: Com relação ao MP, havia exceções (podia ter filiação com o ônus de não poder
exercer atividades eleitorais como MP, mas não podia ter atividade partidária), que foram abolidas
pela Emenda 45. Antes da Emenda a alínea “e” desse artigo era assim: “exercer atividades político-
partidárias salvo exceções previstas em lei” (poderia estar filiado por lei do próprio MP). Hoje o membro
do MP não pode sequer se filiar, e quando é aprovado no concurso, se filiado, tem que se desfiliar.
O membro do MP ou Magistratura aposentado ou exonerado, por estarem afastados de suas funções,
podem se filiar. Porque o objetivo da norma é que a pessoa prejudique sua atividade judicante por sua
atividade partidária.
Isso não quer dizer que magistrados e membros do MP sejam inelegíveis, embora na prática a
consequência seja a mesma, eles não satisfazem a todas as condições de elegibilidade existentes. Ser
inelegível e não dar satisfação a todas as condições de elegibilidade são coisas distintas, esse último
caso é muito menos grave, porque passando a satisfazer a condição podem ser eleitos.
2ª) O art. 14, §3º, V, da CF enseja um dos conflitos mais graves entre normas
constitucionais. Porque esse inciso exige, como condição de elegibilidade, que a
pessoa esteja filiada a partido político. Se conflitarmos esse artigo com o art. 142, §3º,
V da CF: “o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos
políticos;”. Combinando esses artigos chegamos à conclusão que o militar por não
poder se filiar, não preenche todas as condições de elegibilidade, não podendo,
portanto, ser eleito. Mas se formos ler o art.14, § 8º: “O militar alistável é elegível,
atendendo as seguintes condições: I- se contar menos de dez anos de serviço, deverá
afastar-se da atividade; II- se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato de diplomação, para
a inatividade”, vemos que o militar é alistável e elegível , sob algumas condições. A
solução do conflito, formulada pelo STF, entre as três normas constitucionais é a
seguinte:
Temos como vimos no esquema, dois momentos cruciais: data do registro da
candidatura e data da diplomação. Até a data que tiver seu pedido de registro de
candidatura deferido, até esse momento, o militar não pode e não deve estar filiado a
nenhum Partido Político. Nesse primeiro intervalo se aplica o art.142, § 3º, V da CF.
Na data em que o militar registrar a sua candidatura, isto é, na data em que tiver o seu
pedido de candidatura deferido, ele toma duas providencias: (1ª) se filia ao Partido
Político (portanto, é dispensado aquele prazo de filiação 1 ano antes do pleito) e (2ª)
se afasta da sua atividade. Esse afastamento vai ter duas qualidades: (1ª) Se tiver
menos de 10 anos de serviço militar, ele só se afasta da atividade (termo técnico=
afastamento da atividade = sem soldo); (2ª) se tiver mais de 10 anos, ele ficara
agregado pela autoridade superior (termo técnico= agregamento ou agregação; que é,
também, afastamento, só que com o pagamento de soldo). Nesse intervalo de tempo
se aplica, a rigor, o art. 14 § 8º, I e II parte inicial. Enquanto durar a campanha
eleitoral, ele está afastado de suas atividades militares.
Se o militar perder a eleição, ele retorna à sua atividade como militar, cancelando
(dando baixa) a sua filiação partidária, porque o art. 14, § 3º, V diz que o militar não
pode estar filiado a partido.
Se o militar ganha a eleição, ele é diplomado no cargo, e a partir dessa data se aplica
o art. 14, § 8º, II (parte final), que diz que, uma vez diplomado, o militar passa para a
inatividade, ou seja, tecnicamente ele passa a ser reformado. Basta que o militar
exerça um cargo para que seja reformado, ou seja, passe para a inatividade perpétua.
Tendo menos ou mais de 10 anos de serviço militar, ele será reformado, fazendo
diferença o tempo que permanecer nas Forças Armadas para o cálculo do valor do
seu provento como reformado (“aposentado”).
Isso é importante para que percebamos que uma condição inafastável (condição “sine
qua non”) para a elegibilidade é a filiação a Partidos Políticos, não se afastando essa
condição nem de militares. O que existe, no caso dos militares, é uma mitigação da
exigência do prazo de 1 ano de filiação antes do pleito.
Obs.: O que a CF veda é a acumulação de cargos, não a acumulação de proventos; o
militar, portanto, pode acumular seus proventos como reformado, com proventos de
aposentadoria como civil.
Precisa de 8 anos de atividade legislativa federal para se aposentar, bastando apenas
um mandato para Senador (e dois mandatos para Deputado Federal), isso é possível
porque o regime de previdência é específico e pode estipular suas regras.
VI – a Idade mínima de:
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do DF;
c) 21 anos para Deputado Federal, Estadual ou Distrital, Prefeito e Vice- Prefeito,
e Juiz de Paz;
d) 18 anos para Vereador.
Há, portanto uma idade mínima exigida que varia dos 18 aos 35 anos. É importante
perceber que a pessoa só adquire seus direitos políticos em toda plenitude
(capacidade eleitoral plena) aos 35 anos, quando pode ser eleita para qualquer cargo.
Sobre esse inciso temos algumas questões a serem colocadas:
1ª) Quando se verifica essa idade mínima exigida: no registro de candidatura ou
na posse? Menor de idade (menor de 18 anos), assistido, pode registrar
candidatura para vereador, provando que na data da posse terá 18 anos?
R: Atualmente o termo de verificação da idade é a data da posse. Isso está
previsto no art.11, § 2º da Lei 9.504/97(Lei Eleitoral): “A idade mínima consti
tucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada tendo por referência a
data da posse”. É entendido, dessa forma porque a idade mínima é condição para exercício do cargo, e
não para concorrer a ele, e exercício do cargo só passa a haver com a posse.
Portanto, o menor de 18 anos, assistido, pode formular pedido de registro de candidatura
para vereador, se provar que, se eleito, na posse terá 18 anos.
2ª) Em casos de substituição temporária, há alguma peculiaridade com relação à
idade do substituto?
R: O único autor que fala de idade mínima de substituído e idade mínima
de substituto é o prof. Joel Cândido. Esse autor afirma que na situação de substituição, a idade
mínima do substituto deve corresponder à idade mínima do substituído.
Por exemplo, para ser Presidente da República há a exigência que a pessoa tenha
idade mínima de 35 anos. O Presidente tem como seu potencial substituto o
Presidente da Câmara dos Deputados. Só que para ser deputado a idade mínima é
de 21 anos; portanto, poderia um deputado federal qualquer, maior de 21 anos, vir a ser Presidente da
Câmara e tornar-se substituto do Presidente da República? Para esse autor, para ser Presidente da
Câmara o deputado federal tem que ter no mínimo 35 anos, para não correr-se o risco do Presidente da
República vir a ser substituído por alguém com idade menor que a exigida para seu cargo. O mesmo
raciocínio deve ser empregado em nível estadual: para ser governador é preciso ter no mínimo 30 anos,
portanto, o Presidente da Assembléia Legislativa, que pode vir a substituir o Governador tem que ter no
mínimo 30 anos (sabendo-se que pode ser deputado estadual com 21 anos). E também deve ser
empregado em nível municipal, para ser presidente da Câmara dos Vereadores tem que ter no mínimo 21
anos (sabendo-se que pode ser vereador a partir dos 18 anos).
4.2) Causas de Inelegibilidade: (analise do tópico anterior sob o ponto de vista
negativo)
(ausência de Elegibilidade)
Diz a doutrina hoje, que inelegibilidade é um gênero que se divide em duas grandes
espécies: (1) Inelegibilidade Absoluta e (2) Inelegibilidade Relativa (Reflexa para
alguns autores). A Inelegibilidade absoluta ocorre em duas situações: (1) na situação
dos inalistáveis (por motivo óbvio, se a pessoa é inalistável, consequentemente é
inelegível – se não pode ter direitos políticos ativos, não pode ter direitos políticos
passivos); e (2) no caso dos analfabetos (como já vimos, analfabeto não é inalistável,
não entrando na primeira situação, porque seu alistamento não é proibido, e sim
facultativo; não obstante a isso ele é sempre inelegível).
A inelegibilidade Relativa ocorre em 4 hipóteses: (1) Mandato Eletivo (quando a
pessoa já é titular de mandato eletivo, não se discutindo a possibilidade de ser
eleito para outro mandato ao mesmo tempo); (2) Vínculo de Afinidade, Casamento, e Parentesco (causa
mais discutida nos dias de hoje); (3) Serviço Militar (o militar na ativa é inelegível); (4) Causas Legais
(previstas em lei).
Basicamente são três as diferenças entre inelegibilidade absoluta e relativa:
1ª) Inelegibilidade Absoluta se refere a qualquer cargo eletivo, não podendo
ser flexibilizada, ou seja, não podendo ser relativizada (ex: é inelegível para tal cargo, mas é elegível
para outro).
2ª) Essa Inelegibilidade Absoluta decorre de uma característica do candidato, o
candidato é que inelegível (é inalistável ou é analfabeto).
3ª) A Inelegibilidade Absoluta está enumerada exaustivamente na Constituição (não
existem, como na Relativa, as causas legais; porque as causas são todas constitucionais).
Portanto a Inelegibilidade Absoluta se refere a qualquer cargo eletivo,
decorre de uma característica do candidato e está enumerada taxativamente na
Constituição.
A contrario senso, Inelegibilidade Relativa (1ª) é relativa a apenas alguns cargos
eletivos; (2ª) decorre de uma circunstância da eleição (ex: naquela eleição a pessoa
tem um vínculo de parentesco, naquela eleição a pessoa já tem um mandato ou está na ativa no serviço
militar); (3ª) está enumerada exemplificativamente na CF, tanto é que existem causas legais(causas
que as leis fazem menção).
Os fundamentos constitucionais para essas espécies de inelegibilidade são:
■ Inelegibilidade Absoluta, tanto a por ser o candidato inalistável, quanto por ser
analfabeto → art.14 § 4º.
■ Inelegibilidade Relativa: = Mandato Eletivo → art. 14 § 5º. §7º.
= Vínculo de Afinidade, Parentesco ou casamento → art.14
= Serviço Militar → art. 14 § 8º
= Causas Legais → art. 14 § 9º c/c LC. 64/90.
Anteriormente já falamos sobre as situações de inelegibilidade absoluta (inalistáveis e analfabetos), sobre
a inelegibilidade relativa com relação aos militares e com relação às causas legais (inelegibilidade legal).
Agora falaremos sobre as duas questões pendentes, muito perguntadas em concursos: Inelegibilidade por
vínculo e inelegibilidade durante mandatos eletivos. As questões jurisprudências mais modernas
englobam essas situações. Teríamos que analisar casos concretos, como o do Governador Alckmin, que substitui
o Gov. Mario Covas, quando ficou doente, o sucedendo, depois de sua morte e depois
foi eleito Governador de São Paulo (3 mandatos consecutivos?). Teríamos que
analisar também, o caso da Rosinha, esposa do ex-governador Garotinho. E outros
casos concretos.
4.2.1) Mandato Eletivo:
Segundo o art. 14, § 5º: “O Presidente da República, os Governadores de Estado e do
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão
ser reeleitos para um único período subseqüente”, chefes do Poder Executivo Federal, Estadual, do DF e
Municipal, não só os titulares, como aqueles que os houver substituído ou sucedido poderão ser reeleitos
uma vez só. Esse art. 14 § 5º é um dos belos exemplos na Constituição de Ponderação do legislador
constitucional: porque a Constituição permite reeleição, mas permite reeleição uma vez só. Parece ter
havido nessa norma a Ponderação de dois princípios: de um lado o Princípio Republicano (todo o poder
político é temporário) e de outro lado o Princípio da Eficiência da Administração Pública (para a
Administração ter eficiência, é necessário uma certa continuidade, e talvez 4 anos seja pouco tempo para
se alcançar às metas de eficiência pretendidas). Uma reeleição só permite que o poder continue
temporário, mas com tempo suficiente para ser eficiente e cumprir suas metas.
Existem 3 questões importantes sobre esse tópico:
1ª Questão – O próprio artigo faz uma diferença entre Substituição e Sucessão:
■ Sucessão ► É sempre definitiva (só os vices são sucessores do Presidente, do
Governador e do Prefeito).
■ Substituição ► É sempre temporária (no caso do Presidente são substitutos
o Vice- Presidente, o Presidente da Câmara, do Senado e do STF; no caso
Governador são substitutos o seu vice, o Presidente da Assembléia e o Presidente do
STJ; com relação ao Prefeito são substitutos o seu vice e o Presidente da Câmara e
até o Presidente do Tribunal de Contas no RJ também o é).
Obs.: Toda a prova oral pergunta o rol de sucessores de Presidente da República.
Mas não existe rol, porque sucessor do Presidente, só o Vice-Presidente. O que existe
é rol de substitutos (Vice-Presidente, Presidente da Câmara, do senado e do STF).
2ª Questão: O STF acabou de julgar o Caso do Alckmin:
1º Mandato (?)
4 anos
2º Mandato
4 anos
3º Mandato
4 anos
----------------------------------------
-
Substituição do Covas em seu 1º Mandato
(alguns dias quando Covas fazia
tratamento)
---------------
----------------
-------Sucessão
do Covas em seu
2º Mandato
(como
seu Vice, quand
o Covas
morreu)
------------------------------
-
Eleito Governador de SP
(titular)
A questão que chegou ao STF foi a seguinte: Alckmin, como vice de Covas, o substitui
em seu primeiro em vários momentos, porque foi quando Covas se descobriu doente e
começou a fazer tratamento. Depois o sucedeu, em seu segundo mandato, quando
Covas, veio a falecer. Poderia Alckmin ter sido eleito para Governador ou essa eleição
não poderia ocorrer por se tratar de seu 3º mandado consecutivo?
R: No RE 366.488 (Caso Alckmin) o STF entendeu que embora a CF em seu art.14
§ 5º fale em substituição e sucessão, deve ser entendido apenas como
sucessão. Não se computa qualquer intervalo de tempo como substituto, para fins de mandato
para impedir reeleição, ou seja, só o período em que foi sucessor é contado como mandato.
Essa interpretação da CF não foi literal; o STF usou o princípio da razoabilidade para
interpretar, porque não seria razoável, que quem substitui o outro em apenas alguns
momentos, não podendo nessas esparsas ocasiões implementar o seu modo de
governo, não possa ter direito, se eleito, a manter sua administração por um período
de 8 anos, o que assegurado a qualquer candidato.
Portanto, o Alckmin poderia ter assumido o mandato como Governador de SP porque
o 1º Mandato em que substitui Covas não se conta. Teria, portanto, com esse último,
apenas dois mandatos consecutivos, o que é permitido pela CF. Agora, ele não pode
ser candidato ao Governo de SP (nem qualquer pleito estadual, como deputado
estadual, deputado federal ou senador), por isso quer se eleger Presidente da
República (pleito nacional). Poderia se candidatar também a Prefeito de SP (pleito
municipal).
Obs.: Se o Governador morrer assume o Vice, mas se o Vice morrer, logo após, é
realizada nova eleição (eleição indireta).
Em Niterói o Prefeito atual inicialmente sucedeu o Prefeito anterior e foi eleito,
posteriormente como titular. Nesse caso considera-se o período de Sucessão como 1º
mandato e a eleição como titular como reeleição, portanto 2º mandato (e último
consecutivo).
3ª Questão: Se exige desincompatibilização (renuncia 6 meses antes do pleito)
para fins de reeleição? O Lula se quiser ser reeleito tem que se desincompatibilizar
do cargo de Presidente 6 meses antes do novo pleito? O Alckmin teria que ter se
desincompatibilizado do cargo de Governador, para concorrer a Presidência da
República?
R: Segundo o art. 14 § 6º: “Para concorrerem a outros cargos, O presidente da
República, os Governadores de Estado e do Df e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do pleito”. Portanto, chefes do executivo,
se visam reeleição (para o mesmo cargo) não precisam abandoná-lo 6 meses antes
do pleito, mas se visam ser eleitos para outro cargo, tem que renunciar ao anterior
pelo menos 6 meses antes do pleito. O Alckmin que era Governador de São Paulo e
agora vai concorrer a outro cargo (presidência da República) tem que renunciar seis
meses antes do pleito. Já o Lula que é candidato à reeleição não precisa renunciar
antes do pleito (desincopatibilização).
Em relação ao legislativo não se exige desincompatibilização como no executivo.
Os membros do legislativo (deputado ou senador), apenas se licenciam do seu cargo,
concorre a um cargo do executivo e, se não for eleito, volta para seu cargo no
legislativo e cumpre o resto do seu mandato (ex: a Senadora Heloisa Helena
concorrendo à Presidência da República).
Com relação ao § 5º do art. 14 é interessante fazermos uma menção ao direito
comparado americano, que tem uma norma semelhante a essa, com uma importante
diferença. Pela Constituição Americana, o Presidente Americano só pode se reeleito
uma única vez. Depois dessa reeleição, ele nunca mais pode ser eleito para a
Presidência da República, ou seja, ele é vitaliciamente inelegível. No Brasil O
Presidente depois de reeleito, não pode ser novamente reeleito para mandato
subseqüente, mas pode ser eleito saltando uma eleição. Podemos ter um Presidente
da República no Brasil eleito 10, 15, 20 vezes. Isso acontece com qualquer chefe do
executivo (ex: Prefeito do RJ já foi eleito 3 x).
4.2.2) Vínculo de Afinidade, Casamento ou Parentesco:
Previsto no art.14 § 7º da CF: São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou
por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território,
do DF, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos sei meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.
Obs.: onde está escrito substituído leia-se também sucedido.
Território de Jurisdição não significa território físico. A interpretação que a
Jurisprudência dá hoje a território de jurisdição é território para o mesmo tipo de
pleito (para o mesmo tipo de pleito nacional, estadual e municipal). Mesmo que esse
pleito se realize num mesmo território físico. Ou seja, um filho de um Governador de
Estado pode se candidatar a prefeito de um município do mesmo Estado (o município
pertence ao mesmo Estado, mas o pleito é outro, um é estadual e o outro é municipal).
Esse parágrafo engloba três casos concretos:
1º Caso: Caso Garotinho► A cônjuge do ex-governador do Estado, Garotinho,
concorreu ao mesmo cargo do marido no mandato imediatamente posterior ao dele.
Ela poderia ter sido eleita? Ela poderia ser candidata a sua própria reeleição?
Porque o STJ entendeu que a Rosinha era elegível, e no mesmo pleito entendeu que o
deputado Jorge Murad, cunhado do governador do Maranhão era inelegível?
R: Pelo acórdão do TSE, o cônjuge, consangüíneo ou afim pode ser candidato para o
mesmo cargo na eleição subseqüente a do cônjuge, consangüíneo ou afim, desde que
atendidas duas condições cumulativas: (1) Que o titular tenha deixado o cargo seis
meses antes do pleito (tenha havido desincompatibilização = renúncia); (2) Que o
titular esteja no seu primeiro mandato.
No Rio o Garotinho estava no seu primeiro mandato e renunciou a ele 6 meses antes do
pleito; então a sua cônjuge foi considerada elegível. No Maranhão a governadora renunciou
6 meses antes do pleito, mas já estava no seu segundo mandato, pois havia sido reeleita; portanto
seu cunhado foi considerado inelegível.
Vai ser feito uma consulta ao TSE este mês de março, para ver se a
Governadora Rosinha é elegível para reeleição e se seus parentes consangüíneos ou afins também
o seriam. Se seguirmos o raciocínio do TSE no acórdão previamente citado, podemos deduzir que ele
negará a possibilidade da reeleição da Rosinha e de qualquer parente seu ou afim. A única interpretação
possível para o acórdão é que a Rosinha foi eleita como se o Garotinho tivesse sido reeleito. Se ele for
eleito agora nesse pleito teríamos três mandatos consecutivos desse núcleo familiar, o que é vedado
constitucionalmente – perpetuação não pode. Portanto, agora, ela ele e toda a família e
afins são inelegíveis para o pleito estadual, poderiam se candidatar para o pleito
municipal ou federal.
Obs.: D. Marisa poderia se candidatar a pleito estadual ou municipal, mesmo Lula
sendo candidato à reeleição a Presidência; porque se tratam de pleitos diversos.
2º Caso: Caso Vizeu ► Vizeu é um Município do Pará, onde a prefeita que havia sido
eleita e reeleita tinha união homo afetiva (ou homo erótica) com outra senhora, que por
sua vez, foi candidata à eleição de deputada. Poderia ter sido candidata ou não, já que
a vedação para o mesmo pleito, no caso estadual, fala em cônjuge, não citando união
estável (companheiro) e muito menos união homo afetiva (parceiro)? Qual é a
extensão dessa inelegibilidade? Poderia ser estendida tanto para a União estável
quanto homo afetivo (interpretação extensiva da Constituição)? A norma pretende
impedir que apenas a família se mantenha no poder ou que pessoas que possuam
relação de afeto permaneçam no poder?
Obs.: O STJ, na opinião do professor Guilherme, falhou ao tratar a união homo afetiva
como união estável, porque a CF em seu art. 226 § 3º fala de “união estável entre
homem e mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento”. Nos parece que a união afetiva merece a mesma tutela constitucional que
a união estável, só que a única falha do STJ foi atribuir a união afetiva a qualidade de
união estável, por serem ,como a própria constituição prova, coisas diversas. Não é
união estável, porque a CF fala entre homem e mulher e essa união não tem
diversidade de sexos; e a união homo afetiva não pode ser convertida em casamento,
objetivo do § 3º, porque o código civil impede.
É interessante que se a esposa morre o marido continua tendo vínculo parental com
os sogros. Essa relação não se rompe com a morte do elo entre os dois, a esposa.
R: Segundo o STF estende-se o conceito de cônjuge compreende também o
companheiro da união estável e o parceiro da união homo afetiva. A vedação estende-
se a todos. Interpretou o § 7º como união afetiva, mesmo que essa união afetiva não
gere vínculo familiar.
Politicamente a interpretação do STF foi perfeita, porque o que se quer impedir é
a perpetuação do poder de determinado núcleo de pessoas, que mantêm uma relação afetiva. Mas
juridicamente a interpretação foi horrorosa (absurdo jurídico), porque normas que restringem direitos
(norma que restringe direito político – participar de pleito) só podem ser interpretadas restritivamente e
nunca extensivamente. E mais extensiva que essa interpretação do STF impossível!
3º Caso: Caso de Ipubi: Ipubi é um município em que a prefeita eleita e reeleita. Em
seu segundo mandato houve separação judicial do marido, e o ex-marido passa a
concorrer como candidato a prefeito; isso é fraude? Havendo separação judicial ou
divórcio no segundo mandato, trata-se de fraude eleitoral? Porque no segundo
mandato o cônjuge já é inelegível, salvo se o vínculo de casamento for desfeito. A
presunção de fraude nesse caso é absoluta ou relativa (admite prova em contrário)?
Obs.: O STF considerou inconstitucional a aplicação da Emenda 52 art.2º (fim da
verticalização) para esse pleito. O texto da Emenda é tão ruim que nela está disposto
que a emenda se aplica a eleição de 2002. Portanto nessa atual eleição é obrigatório
a verticalização: as Alianças federais devem ser repetidas em Estados e Municípios. Isso prejudicou o
Garotinho que queria sair como candidato a Presidência da República pelo PMDB, porque se o PMDB
tiver candidatura própria para Presidente terá que ter candidato próprio para todos os estados e
municípios, prejudicando as alianças nesses locais.
Imaginemos que o Garotinho, por não poder ser mais candidato a Presidente, queira
se candidatar ao Governo do Rio, mas casado com Rosinha ele é inelegível. Então 6
meses antes do pleito eles se separam judicialmente. Ele poderia se candidato. A
presunção de fraude seria absoluta e relativa?
R: O STF quando julgou o caso Ipubi manteve sua jurisprudência numa parte e
modificou em outra. Manteve a seguinte parte: Separação de fato não rompe essa
impossibilidade de elegibilidade, ou seja, os separados de fato se mantêm
inelegíveis, como se ainda casados fossem. Essa inelegibilidade continua até que haja separação
judicial ou divorcio. Não basta ter rompido o vínculo conjugal (separação de fato), e necessário o
rompimento da sociedade conjugal.
Para o STF havendo separação judicial ou divorcio no 2º mandato, a presunção de fraude à eleição é relativa, podendo ser elidida por provas em
contrário. No caso de Ipubi a fraude foi elidida por dois motivos:
(1º) Havia prova nos autos que já havia separação de fato no fim do primeiro mandato da
prefeita; portanto, fica claro, que não era intenção deles separarem-se para viabilizar eleição (ela tinha
naturalmente direito a reeleição e ele a eleição), ou seja, a separação não tinha intenção de prejudicar o
pleito; (2º) O ex-marido concorreu à eleição com o sogro (que era inelegível por ser pai da prefeita reeleita, mas
só foi candidato porque sua candidatura não foi impugnada), eram os dois únicos candidatos à prefeitura
de Ipubi, caracterizando que a separação não foi para favorecer o ex-marido, já que prejudicaria o próprio
pai, e que o núcleo familiar não estava disputando o pleito, posto que estivesse dividido. Quem ganhou foi
o sogro.
Sistemas Eleitorais, Partidos Políticos e Sistemas Partidários
4.3) Sistemas Eleitorais existentes no Brasil:
■ Sistema Eleitoral Majoritário ► É aquele em que o cargo eletivo é alcançado pelo
número de votos obtidos pelo candidato. O número de votos obtidos pelo candidato
é o fator determinante para saber se o candidato foi eleito ou não. É aquele
sistema então, em que o candidato mais votado está eleito.
Esse sistema e adequado, apesar de não ser exclusivo (existe uma exceção
no Poder Legislativo que usa esse sistema*), ao Poder Executivo. Porque é no
Poder Executivo que se leva em consideração os votos que o candidato
pessoalmente tenha obtido.
Esse sistema pode ser decomposto em maioria simples ou maioria absoluta, conforme
seja exigível ou não a maioria absoluta dos votos válidos, que se traduz no segundo
turno.
A) Sistema Eleitoral Majoritário de Maioria Simples → estamos nos referindo ao
sistema em que o candidato mais votado é eleito, não se exigindo para isso a
maioria absoluta dos votos válidos. Ou seja, o candidato é eleito, mesmo que
não tenha alcançado a maioria absoluta dos votos válidos.
Esse sistema de maioria simples só ocorre em duas situações no Brasil:
(1) Eleição de Prefeito em Municípios com menos de 200 mil eleitores →
portanto, nesses Municípios não há qualquer possibilidade de 2º turno, tenha o
prefeito alcançado ou não a maioria dos votos válidos. O turno é único.
Fundamento: CF, art.29, II, in fine (interpretado a contrário senso –
se nos municípios com mais de 200 mil eleitores há possibilidade de 2º turno,
isso é o mesmo que dizer que, nos municípios com menos de 200 mil eleitores
não há essa possibilidade).
(2) Eleição de Senador da República* é a única exceção do Sistema Legislativo que
admite eleição pelo sistema majoritário, própria do poder executivo;
e que exige apenas maioria simples dos votos, não sendo necessária a
maioria absoluta dos mesmos. Isso tem que ocorrer porque há alguns anos em
que são eleitos 2 senadores, e não apenas um, ficando impossível neste caso,
que duas pessoas obtenham maioria absoluta, ou um ou outro obtém; portanto
se exige apenas maioria simples dos votos. Fundamento: art. 46, caput da CF.
B) Sistema Eleitoral Majoritário de Maioria Absoluta → se exige a maioria absoluta
dos votos válidos em 1º turno ou se for necessário em 2º turno. Ou seja, passa
a haver, nesse sistema de maioria absoluta, a possibilidade de um 2º turno.
Obs.: Jamais devemos dizer que passa a haver um 2º turno, porque se o
candidato obtiver a maioria absoluta no 1º turno não existira um 2º turno (não é
necessário).
Obs: Voto válido significa qualquer voto salvo os votos nulos e os votos em
branco. Ou seja, tanto o voto nominal quanto o voto de legenda (partido ou
coligação) são votos válidos. Se votamos no candidato X nominalmente ou em
seu partido ou coligação partidária, estamos emitindo votos válidos.
Esse Sistema de Maioria Absoluta ocorre no Brasil em 3 situações:
(1) Eleição do Presidente da República → Se o candidato não obtiver a maioria
absoluta dos votos válidos em primeiro turno submete-se a 2º turno.
Obs: No Brasil já tivemos duas situações de Presidentes eleitos em 1º turno.
Fundamento: art.77, §2º da CF.
(2) Eleição de Governador do Estado; Fundamento: art. 28 caput, parte final, da CF.
(3) Eleição de Prefeito com mais de 200 mil eleitores. Fundamento: art. 29, II.
Esse Sistema Eleitoral Majoritário não enseja grandes problemas. O que gera
grandes problemas é o Sistema Proporcional.
■ Sistema Eleitoral Proporcional ►Cargo eletivo alcançado pela força
demonstrada pelo Partido Político.Não é então o sistema em que o candidato mais
votado está eleito; e sim, em que o Partido Político mais forte faz o maior
número de candidatos. Portanto, não é um sistema adequado ao Poder
Executivo e sim ao Poder Legislativo.
Portanto é um sistema onde o cargo eletivo é alcançado pela força
demonstrada pelo partido político, onde o partido mais forte faz o maior número
de candidatos, sendo o sistema mais adequado ao Poder Legislativo (com
exceção do cargo de senador).
Esse sistema é usado para a eleição de:
1) Deputado Federal – art.45 caput da CF;
2) Deputado Estadual – art. 27, § 1º da CF;
3) Vereador – art.29, I da CF.
Nesse sistema a figura central é o partido, enquanto no sistema majoritário é o
candidato.
Essa aferição da força partidária se dá por um instituto: coeficiente eleitoral
– que é a divisão do total de votos validos pelo número de cargos a serem ocupados.
a) Coeficiente Eleitoral:
Total de votos válidos -------------------------------> 1.000.000 voto (nominal ou
na legenda)
Total de Cargos a
serem ocupados ---------------------------------> 10 cargos eletivos
Coeficiente Eleitoral ---------------------------------> 100.000
≠
b) Coeficiente Partidário: Total de candidatos que cada partido ou cada coligação elegeu.
Para essa aferição é necessário primeiro a aferição do coeficiente eleitoral.
Depois que tivermos esse cociente eleitoral vamos determinar quantos votos
cada partido ou coligação teve. Para isso vamos somar todos os votos
nominais de candidatos de um mesmo partido ou coligação com os votos
dados a legenda do partido ou a coligação (votos de legenda). Depois vamos
dividir esse número obtido pelo coeficiente eleitoral. Esse partido ou essa
coligação, portanto, através dessa operação, vai ter feito tantos candidatos
quantas às vezes que tiver alcançado o coeficiente eleitoral. A essa regra
chama-se de coeficiente partidário.
EX: ● PT (soma dos votos em candidatos e no partido) = 375.000 votos
÷ 100.000
______________
3 deputados (e fração = desprezada)
● PSDB __________________________ = 645.000
÷ 100.000
______________
6 deputados (e fração)
Depois de cada eleição é feita uma regra específica, um ano antes da nova
eleição, determinando o que deve ser feito com relação a essa fração do
coeficiente partidário. A regra, é que o partido político que teve a fração mais
alta leva (a fração mais próxima do número inteiro) a última vaga, caso seja
número impar. No nosso exemplo o PT levaria a 10ª vaga.
Obs: O partido grande tem grande interesse de fazer coligações e ao partido
pequeno não interessa muito fazê-las, independentemente de termos
campanha verticalizada ou não. Digamos que o PT não faça coligação alguma,
neste caso ele só vai poder computar os votos dados aos seus candidatos
nominalmente ou a legenda do PT. Se ele se coliga a um partido pequeno, ele
vai somar os votos dele aos votos dados aos candidatos ou a legenda do
pequeno partido. Quase sempre os votos dados ao partido pequeno serão
importantes para que o PT alcance novamente o coeficiente partidário. Mas,
normalmente, os candidatos do partido mais fraco não conseguem estar bem
colocados nesta lista final da coligação.
Os votos que damos nominalmente a um candidato, não servem para elegê-
lo como no sistema majoritário, só servem para posicioná-lo melhor nesta
lista do partido ou da coligação. Portanto, é basicamente impossível que um
candidato de partido pequeno (com menos eleitores), por mais bem votado que
seja dentro daquele pequeno universo de eleitores, consiga ficar bem colocado
na lista para conseguir ocupar as vagas que a coligação obteve.
Ex: Lindeberg Farias na 1ª eleição que participou teve 108 mil votos nominais e
não foi eleito, porque fazia parte de um partido pequeno – PSTU – e o
coeficiente eleitoral daquela eleição foi 120 mil votos. Na outra eleição que ele
veio candidato pelo PT, teve apenas 36 mil votos e foi eleito deputado federal.
Ele era o 7º da lista do PT, que conseguiu eleger muitos deputados.
O Pita agora na eleição em SP teve sozinho 150 mil votos, o coeficiente
eleitoral foi 300 mil. Mas o Pita veio candidato pelo PSC que não conseguiu ter
pelo menos 300 mil votos para eleger pelo menos um candidato. Portanto,
com essa quantidade enorme de votos o Pita não foi eleito. Nesta mesma
eleição o Enéas do PRONA teve sozinho 1 milhão e 500mil votos, isto é, se
elegeu e elegeu mais 4 deputados pelo seu partido ( o 2º da lista do seu partido
tinha apenas 3 mil votos, o 2º 2 mil votos, o 3º 1000 votos e o 4º 532 votos).
Obs.: Atualmente, sob o ponto de vista jurídico o voto branco e o voto nulo tem
o mesmo valor – isto é, não serem computados nunca. Esses votos já tiveram
distinção jurídica, porque pela lei até 1997, os votos em branco eram
considerados votos válidos na contagem do coeficiente eleitoral. De 97 para cá
ambos nada valem juridicamente. Filosoficamente são votos diferentes, porque
o voto em branco significa abstenção, enquanto que o voto nulo representa
protesto do eleitor.
Obs.: A rigor o voto obrigatório, ou seja, o voto como direito e dever é uma
construção nossa. Que tem algumas aplicações em outros países. E apesar de
ser uma tradição brasileira muito criticada, segundo o professor Guilherme tem
pontos positivos, principalmente por fazer com que o voto seja absolutamente
igualitário. Isso as vezes é bom e as vezes não. Isso é aceito no Brasil e não
há qualquer proposta de emenda para modificar essa obrigatoriedade.
Existem hoje duas propostas de emenda a CF, que são propostas de reforma
política: uma para se manter o sistema proporcional mas atrelado a fidelidade
partidária, porque esse sistema proporcional não funciona bem a não ser que
haja fidelidade ao partido. Porque a pessoa é eleita pelo partido, mas depois
que é eleita não guarda qualquer fidelidade com esse partido que a elegeu,
podendo mudar para qualquer outro – o que é um absurdo. Aquele deputado
do Prona que recebeu míseros 532 votos, a primeira medida que tomou foi
mudar de partido.
A outra proposta de reforma política é que em certos casos o sistema
eleitoral passe a ser misto.
Essas são as duas tendências de reforma mais recentes, ou se mantêm o
sistema proporcional atrelado à fidelidade partidária, ou, abre-se mão do
sistema proporcional e se adere ao sistema misto.
■ Sistema Misto: é uma combinação do sistema majoritário com o sistema
proporcional. Por isso alguns autores falam em “voto distrital misto”. Essa seria
uma forma atécnica de se referir ao sistema misto.
Como é uma compatibilização
dos dois sistemas, ele gira em torno não do candidato, como o sistema
majoritário, nem do partido político, como é o proporcional; ele gira em torno
dos chamados distritos eleitorais.
Quando se tem esse sistema misto se divide o território em distritos eleitorais e
atribui um certo número de vagas ao sistema majoritário e um certo número de
vagas ao sistema proporcional – daí distrital misto.
Esses distritos eleitorais podem corresponder a um município ou não. Po
r exemplo, num caso de município muito pequeno, este teria que se unir a outro
para formar um só distrito. E um município muito grande que teria que ser
repartido em vários distritos.
Esse sistema é usado na Alemanha e no México. Na Alemanha, por exemplo, o
parlamento tem 50 cadeiras (50 deputados). Eles queriam atribuir metade de
cadeiras para um sistema e metade para o outro. Dividiram, então, o território
alemão em 25 distritos (metade do no de cadeiras). 25 deputados serão eleitos
pelo sistema majoritário, ou seja, um para cada distrito e 25 deputados serão
eleitos pelo sistema proporcional, ou seja, eleitos pelo todo (todo território).
Esse sistema tem vantagens e desvantagens:
●Vantagem ► Compatibilizar as grandes lideranças com as pequenas lideranças. As
grandes lideranças são eleitas pelo sistema proporcional (por todo o território)
como sempre foram; enquanto que o sistema majoritário nos distritos permitiria
a eleição de pequenas lideranças, que pelo sistema proporcional jamais se
elegeriam. Por exemplo, se Copacabana fosse considerada um distrito, ela
elegeria um deputado, que seria obviamente uma grande liderança na
localidade, mas não teria qualquer projeção nacional.
● Desvantagem ► Complicar o voto. Exige maior consciência política, já que
existem dois tipos diferentes de votos: em lideranças locais e lideranças
nacionais. Num país de analfabetos se torna num sistema quase inviável,
tamanha a confusão que provocara na hora da votação.
Notas Importantes:
● Pode haver no Brasil Eleição Indireta? O Presidente da República pode ser eleito de
modo indireto?
R: Existe uma situação no Brasil de Eleição Indireta, prevista no art. 81 §1º -
se houver vacância nos dois cargos de Presidência e de Vice-Presidência,
nos dois últimos anos do período presidencial, que é de 4 anos,a eleição é
indireta feita pelo Congresso Nacional, 30 dias depois de aberta a última vaga.
Isso tem até repercussões protocolares: Presidente e Vice nunca viajam num
mesmo vôo, porque se um morrer o outro sobrevive e evita eleições indiretas.
Porque se houver comorbiência, abre possibilidade de haver, inclusive,
eleições indiretas.
Não se aplica nenhum sistema eleitoral no caso da eleição indireta – único
caso possível no Brasil.
● Essa norma confirma uma posição que já tratamos em aulas anteriores: que o
Presidente da República só tem um sucessor, que é o Vice-Presidente; e tem 4
substitutos(Vice-Presidente, Presidente da Câmara, Presidente do Senado e
Presidente do STF). Porque, se porventura o presidente da Câmara ou do
Senado ou do STF fossem sucessores, não haveria necessidade de nova
eleição no caso de comorbiência do Presidente da República e do Vice, porque
essas pessoas assumiriam o cargo. Como com a morte do Vice-Presidente há
nova eleição, podemos perceber que a sucessão para o cargo só vai até ele.
● Caso tenhamos nova eleição pela ocorrência da situação acima descrita, ocorrerá
o “mandato-tampão”. Isso quer dizer que o novo Presidente não assume mandato
autônomo (4 anos), ele só assume o mandato restante (tempo restante para
concluir o mandato de seu antecessor). Isso está previsto no parágrafo seguinte da
norma - art.81, § 2º da CF.
Obs.: O último país que teve aplicação dessa norma foi a Argentina. Teve em
2001 uma situação caótica e deram na Argentina uma aplicação dessa norma
que é idêntica à nossa. Mas lá o sistema é um pouco diferente do nosso. Pela
CF Argentina se houver vacância dos dois últimos anos do mandato
presidencial, há nova eleição. Só que a CF Argentina exige que essa eleição
seja feita pelo Congresso, como a nossa, mas não exige que os candidatos
sejam membros do Congresso.No nosso direito apesar de não ter disposição
expressa legal, há um costume que a eleição seja feita pelo Congresso envolvendo
membros do próprio Congresso – senadores ou deputados federais (isso sempre
aconteceu no Brasil). Esses membros do Congresso que
querem concorrer habilitam suas candidaturas no mesmo Congresso e são votados
pelos demais membros.
Quando o Presidente De La Rua renunciou ao cargo presidencial na
Argentina, faltava um ano e 8 meses para o termino de seu mandato. Com isso
a Argentina conseguiu ter 8 presidentes em 6 dias. O primeiro foi um
governador de província, Carlos Alberto Sá, portanto que não era membro do
Congresso. Esse 1º presidente 1 dia depois renunciou ao cargo de Presidente.
5) Partidos Políticos (CRFB art. 17 e Lei 9.096/95)
5.1 Conceito: São entidades de intermediação entre sociedade civil e sociedade
política, na medida em que contribui para a formação da vontade do povo.
Nota 1: Diogo Figueiredo possui um livro chamado participação política, e ele
começa esse livro dizendo que o partido político é um instituto sui generis da
participação política. O que seria interessante deixar claro é que o partido
político não é o único meio de participação política, existem outros meios de
participação política nas três funções do estado (Administrativa, Legislativa e
Jurisdicional).
Na função legislativa a forma de participação política é o chamado Grupo
de Expressão, o que alguns autores chamam deLOB. Esses grupos de
expressões ou LOB’s são usados para pressionar o legislativo
para que eles produzam normas condizentes com os interesses desses
grupos de expressões.
O instituto de participação política na função administrativa, segundo
Diogo Figueiredo, são as Audiências Públicas (Conceito de audiência pública
prevista na Lei. 8.666/93 art. 39).
Há também institutos de participação política na função jurisdicional, e o Diogo
Figueiredo menciona seis: Seguindo a ordem dada pela Constituição: (1°)
Ação Popular (Art. 5°, LXXIII CRF), porque a rigor qualquer cidadão é parte
legítima;(2°) Mandado de Segurança Coletivo (Art. 5°, LXX CRFB), porque a rigor
partidos políticos e associações são partes legítimas;(3°) Ação Civil Pública (Art.
129, III CRFB); porque a rigor qualquer MP e Associações são partes
legítimas; (4°) Tribunal do Júri (Art. 5°, XXXVIII CRFB), porque é o Cidadão que
participa do conselho de sentença; (5°) Responsabilização do Presidente da República
(Art. 85 CRFB), pois cabe a qualquer cidadão; (6°) Quinto Constitucional (Art. 94
CRFB), um quinto das vagas dos Tribunais são restritos a membros da
Advocacia e do Ministério Público.
Colocada essa premissa seria interessante agora dividir nosso estudo de
partido político em três partes: Primeiro nós iremos estudar Sistemas Partidários; O segundo
estudo importante é a Natureza jurídica dos partidos políticos; E finalizando, nós
estudaremos Autonomia Partidária.
5.2 SISTEMAS PARTIDÁRIOS :
Existem basicamente três sistemas partidários. (1°) UNIPARTIDARISMO, aqui
há uma distinção que os autores não fazem, ou seja, o Unipartidarismo se
divide em Simples e Básico; (2) BIPARTIDÁRISMO, também se divide em
simples e básico; (3°) PLURIPARTIDARISMO. Vide gráfico.
1° Uni-Partidarismo – O nome é auto-aplicável, agora, é necessário que se faça
uma distinção entre unipartidarismo simples e unipartidarismo básico.
No Unipartidaismo Simples só existe de fato um partido (ex: Cuba).
NoUnipartidarismo Básico só existe um partido predominante, ou seja, há
vários partidos, mas predominante, com chance de chegar ao governo só
existe um (Ex. México).
2° Bi-Partidarismo – Aqui deve usar a mesma idéia. Bipartidarismo Simples de
fato só existem dois partidos (Ex. Uruguai). No Bipartidarismo Básico dois
partidos são predominantes (Ex: Estados Unidos).
3° Pluripartidarismo – É evidente que aqui existem vários partidos, e vários com
chance de chegar ao poder (Ex. Brasil).
Nota 1: Considerando nosso sistema pluripartidário perguntaria o seguinte: É
constitucional a cláusula de barreira? (Cláusula de barreira significa sujeitar
ou condicionar a existência de um partido político à um número mínimo de
votos válidos, hoje, 5%) Ex: PSOL hoje está sujeito a clausula de barreira, pois
ele só continuará a ser partido político se alcançar 5% dos votos válidos na
atual eleição.
Quando o STF conheceu dessa questão ele declarou a Constitucionalidade
dessa Cláusula de barreira. Segundo posição do STF a cláusula de barreira
não atenta contra o pluripartidarismo, ela Atende ao pluripartidarismo, pois a
rigor ela permite que só subsistam partidos políticos viáveis, ou seja, o
pluripartidarismo não quer dizer que exista qualquer partido político, quer dizer
que existam partidos políticos viáveis, que tenham uma chance concreta de se
chegar ao poder (Adin 1354).
5.3 NATUREZA JURÍDICA
Partido Político é pessoa jurídica de direito privado ou é pessoa jurídica de
ireito público?
No Brasil, pela atual legislação (Lei Orgânica dos Partidos Políticos – Lei
n° 9.096/95), os Partidos políticos são pessoas jurídicas de direito Privado, inclusive a lei
é expressa quanto a isso.
Agora vamos botar uma coisa que a lei não diz. Sabemos nós que as pessoas
jurídicas de direito privado adquirem personalidade jurídica quando arquiva
seus atos constitutivos no registro competente. Aqui o que eu posso dizer é
que o Partido político vai adquirir sua personalidade
jurídica quando arquivar seu ato constitutivo no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas.
Obs.: Para que o partido Político exista enquanto pessoa jurídica de direito
privado
basta o arquivamento de seus atos constitutivos no Registro Civil de Pes
soas Jurídicas, agora, a lei orgânica dos partidos políticos e a CRFB (art. 17, §
2°) fazem menção ao registro do Estatuto dos Partidos no TSE visando com
isso quatro finalidade: (1°) Participar do Processo Eleitoral; (2°) Acesso gratuito a
rádio e televisão; (3°) Participação no Fundo Partidário; (4°) Exclusividade sob
nome, símbolo e sigla.
5.4 AUTONOMIA PARTIDÁRIA
Significa impossibilidade de controle ideológico do Partido Político pelo Estado,
de uma outra forma, há uma reserva estatutária de estrutura e funcionamento
do Partido Político, ou seja, a estrutura e funcionamento do Partido ficam
reservada a seu estatuto, não havendo nenhuma ingerência do Estado quanto
a isso.
Nota 1: Um dos grandes exemplos de matéria sujeita a autonomia partidária
citados pelos autores é Coligação partidária. A Coligação sempre esteve
regulada no art. 17, § 1° da CRFB, e a redação desse dispositivo, desde a sua
forma originária, sempre teve a seguinte redação: “É assegurado aos partidos
políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento, devendo seus estatutos regular normas de fidelidade e
disciplina partidária”. Bom, a novidade agora é que esse art. 17, § 1° acabou de
ser modificado pela Emenda Constitucional n° 52, que passou a
dar a seguinte redação ao art. 17, § 1°: “É assegurado aos partidos polí
ticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento
e para adotar o critério de escolha e regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional,
estadual, distrital e municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária”. Ou seja, a novidade da EC n° 52 é que ela
põe fim à regra da verticalização de campanhas eleitorais.
Com relação a isso, o STF conheceu da Constitucionalidade do art. 2° da EC
n° 52 que possui a surreal redação que diz o seguinte: “Essa emenda
Constitucional entre em vigor na data de sua publicação, aplicando às eleições
que ocorrerão em 2002”, ou seja, as normas agora não só possuem erro jurídico,
mas também erro de português, pois o verbo está no futuro e o tempo no
passado. Isso ocorreu porque essa proposta de emenda foi apresentada em
2001, porém fora rejeitado, dessa forma, como sabemos, proposta de emenda
rejeitada só poderá ser novamente apresentada no ano seguinte,
como no ano seguinte era eleição, e para evitar uma possível discussão
sobre a aplicabilidade da norma, o governo achou por bem tirar a votação da
emenda de pauta. Pois bem, em 2005 o atual governo colocou novamente em
pauta essa proposta de emenda, tendo sido aprovada na câmara e no senado,
que optaram por não emendar a proposta de emenda, porque isso demandaria
mais tempo. Assim sendo, discutia-se que a parte final do art. 2° da EC n° 52
deveria ser interpretada com a seguinte redação: “...aplicando às eleições
que ocorrerão em 2006”. Essa questão foi submetida ao STF que acabou de
entender pela inconstitucionalidade da parte final do art. 2° da EC n° 52, pois
viola o art. 16 Caput da CRFB. Esse art. 16 faz menção ao chamado Princípio
da Anualidade eleitoral, ou seja, as normas de direito eleitoral só podem ser
alteradas no ano anterior ao da eleição.(Adin 3.685 – Informativo 420 STF).
Com isso nós fechamos toda a parte Material de Direito Eleitoral. Agora
começaremos a segunda parte do curso onde trataremos da parte Processual
do
Direito Eleitoral, que, considerando a atual composição da banca do Mini
stério Público, é a parte mais importante.
IMPUGNAÇÕES ELEITORAIS
Vamos utilizar o termo impugnação eleitoral, pois é mais genérico, não utilize o
termo ações eleitorais, porque algumas delas não são ações.
Nós podemos começar dizendo o seguinte: Impugnações eleitorais, no Brasil,
hoje, são quatro:
(1°) AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DO PEDIDO DE REGISTRO DE
CANDIDATURA;
(2°) INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL;
(3°) RECURSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO;
(4°) AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO.
Bom, todas essas formas de impugnação estão previstas ora na legislação ora
na
Constituição. A ação de impugnação do pedido de registro de candidatur
a está prevista na Lei Complementar n° 64/90, especificamente nos seus arts.
3° a 15; A investigação judicial eleitoral está prevista na mesma lei (LC n°
64/90), só que agora
nos seus arts. 19 à 23; O Recurso contra a diplomação é a única form
a de impugnação eleitoral prevista no código eleitoral, então seria Código
Eleitoral, especificamente no seu art. 262; e a Ação de impugnação de
mandado eletivo é a única das impugnações que não está prevista em lei, esta
prevista na Constituição Federal art. 14, §§ 10 e 11.
Como que a gente vai entender isso aqui bem? – Nós só vamos entender isso
aqui bem se nós utilizarmos um gráfico.
Há dois momentos cruciais no processo, (1°) Registro de Candidatura, ou seja,
alguém formulou um pedido de candidatura e esse pedido foi deferido pelo
órgão competente; (2°) Diplomação, ou seja, alguém foi eleito e vai ser
diplomado no cargo.
Se você fizer esse gráfico você pode dizer o seguinte:
(A) Ação de Impugnação de Pedido de Candidatura, reparem, eu estou
impugnando o pedido, eu não estou impugnando o registro em si, estou
impugnando antes disso. Dessa forma você pode dizer que essa ação será
cabível para fatos ocorridos antes do registro da candidatura. O prazo dessa ação
será de 5 dias e seu termo inicial será a data de publicação do pedido de
registro da candidatura.
(B) Investigação Judicial Eleitoral, você pode dizer que ela é cabível
PRIMORDIALMENTE para fatos ocorridos após o registro da candidatura. Não
possui prazo, desde que seja instaurada, a qualquer momento, entre o registro
da candidatura e a diplomação, ou seja, durante a campanha eleitoral.
(C) Recurso contra a Diplomação, se eu estou discutindo recurso contra a
diplomação é evidente que ele ocorre depois da diplomação, dessa forma você
diz: É cabível PRIMORDIALMENTE para fatos ocorridos após a diplomação. O
Prazo é de 3 dias e seu termo inicial é a data da sessão de diplomação.
(D) Ação de Impugnação do mandato eletivo, como é uma ação que visa impugnar
o mandato como o todo ela possui maior abrangência, dessa forma você diz:
Essa ação é cabível, PRIMORDIALMENTE, para fatos ocorridos a qualquer
momento. O Prazo é de 15 dias e seu termo inicial é o mesmo do recurso
contra a diplomação, ou seja, data da sessão de diplomação.
Visto isso, nosso gráfico ficaria assim:
Nota: Por quê da segunda forma de impugnação em diante nós fizemos
questão de usar a expressão “PRIMORDIALMENTE”?
Isso aqui é uma questão doutrinária. Nós fizemos questão de utilizar essa
expressão, pois a doutrina construiu uma idéia de preclusão temporal com
base em dois artigos do código eleitoral (art. 223, § 3° e art. 259) que devem
ser combinados com o art. 3° da Lei Complementar n° 64/90. O que eu quero
dizer com isso? – Quando você fala em preclusão temporal, para fins de
cabimento das impugnações, deve ser feito uma distinção entre toda matéria
Constitucional e toda a matéria Legal, ou seja, você vai ter que distinguir
causas de inelegibilidade Constitucional e causa de inelegibilidade Legal.
Com base nos dispositivos citados, às causas de inelegibilidade legais estão
sujeitas a preclusão temporal, ou seja, devem ser argüida num primeiro
momento, na ação de impugnação do registro da candidatura, sob pena de
preclusão temporal. Agora, as causas de inelegibilidade Constitucionais não
estão sujeitas a preclusão temporal, dessa forma pode ser argüida a qualquer
tempo, ou seja, na primeira, segunda, terceira ou até mesmo na quarta
impugnação, em outras palavras, você pode argüir uma eventual inelegibilidade
Constitucional até 15 dias após a diplomação, superado esse prazo há a
preclusão definitiva . Por isso que da segunda forma de impugnação em diante nós batemos na
mesma tecla “Cabimento Prioritário”, porque além daquele cabimento principal
vai haver um resíduo ainda, ou seja, p. ex., a investigação judicial eleitoral além
de poder discutir fatos ocorridos durante a campanha pode conter também
eventual argüição de causa de inelegibilidade Constitucional, que não foi
argüida antes, mas pode se argüida agora. Obs: Com relação a distinção entre meteria constitucional e matéria legal, o
TSE foi mais além pra dizer que a matéria constitucional pode ser conhecida de
ofício pelo Juiz, ao passo que matéria legal deve ser argüida. (Acórdão 1.385
TSE 22/09/98).
Ação de Impugnação de Pedido de Registro de Candidatura
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE PEDIDO DO REGISTRO DA CANDIDATURA
(Lei Complementar n° 64/90 arts. 3° a 15)
1 – Hipótese de Cabimento:
Aqui você pode afirmar com toda certeza, a ação de impugnação de registro de
candidatura só cabe em duas hipóteses que a própria lei menciona.
(1°) Inexistência de Condição de Elegibilidade, ou seja, não foram observadas às
condições de elegibilidade prevista na Constituição (Ex.: Falta de Domicilio
Eleitoral);
(2°) Existência de Causa de Inelegibilidade (Ex.: Condenação por quebra de decoro
parlamentar).
2 – Objeto:
Essa ação possui dois objetos, um objeto é invariável, e o outro objeto muda
conforme o instante em que a ação venha a ser julgada definitivamente.
1° Declaração de Inexigibilidade, esse objeto é invariável, ou seja, seja qual for o
momento em que a ação venha ser julgada o candidato será declarado
inelegível.
2° O segundo objeto é variável, ou seja, ele se modifica conforme o momento
em que a ação venha a ser julgada, sendo certo que a ação deve ser proposta
antes do registro de candidatura, mas não necessariamente será julgada nesse
momento, podendo ser julgada durante a campanha eleitoral e até mesmo
após a diplomação do candidato. Diante disso, o segundo objeto poderá ser de
três formas:
(A) Se a ação for julgada antes do registro da candidatura, além da
declaração de inelegibilidade a sanção será a Negação do registro de
Candidatura.
(B) Se a ação vier a ser julgada entre o registro da candidatura e a
diplomação, ou seja, durante a campanha eleitoral, além da
declaração de inelegibilidade a sanção será o Cancelamento do Registro.
(C) Se a ação vier a ser julgada depois da diplomação, além da
declaração de inelegibilidade a sanção será a Declaração de nulidade da
Diplomação.
3 – Competência:
Aqui iremos utilizar uma premissa que servirá para todas as demais formas de
impugnação.
Quando se fala em competência deve ser levado em conta a natureza da
eleição,ou seja, se a eleição é local, regional ou nacional. Quando eu digo Eleição
Nacionaleu quero dizer eleição para escolha do Presidente da República, pois
somete este é eleito em âmbito nacional. Quando se diz Eleição Regional, nós
estamos falando de quatro eleições possíveis: (1°) Eleição de Governador do
Estado; (2°) Eleição de Senador da República; (3°) Eleição de Deputado
Federal; (4°) Eleição de Deputado Estadual; todas essas pessoas citadas
acima são eleitas no âmbito do estado. Quando eu digo Eleição Local eu estou
falando de duas eleições: (1°) Eleição de Prefeito; e (2°) Eleição de Vereador;
essas dus pessoas são eleitas dentro do âmbito do Município.
Assim sendo, dependendo da natureza da eleição a competência muda.
Vamos parar e pensar:
Se for uma situação de eleição local (Prefeito e Vereador) competente será
o Juízo Eleitoral, só lembrando que juízo eleitoral é uns dos órgãos que compõe
a Justiça Eleitoral.
Se for uma situação de eleição regional (Governador, Senador,
DeputadoEstadual e Federal) competente será o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Se for uma situação de eleição nacional (Presidente da República) competente
será o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
4 – Legitimação:
Aqui mencionaremos uma regra que será comum a quase todas impugnações
eleitorais, que é a seguinte:
A legitimação para as impugnações eleitorais costuma ser aferida à quatro
pessoas ou órgãos:
(1°) Qualquer Candidato –
(2°) Partido Político –
(3°) Coligação Partidária –
(4°) Ministério Público Eleitoral -
Obs.1: Qualquer Candidato pode ajuizar ação de impugnação de registro de
candidatura só em relação ao seu pleito, ou seja, o candidato só pode
impugnar a candidatura de terceiro se o terceiro participar da mesma eleição
que ele participa, pois só assim ele terá interesse processual. Se um candidato
tentar impugnar o registro de candidato que participa de outra eleição faltará a
ele interesse processual (Ex: O candidato Lula pode impugnar a candidatura do
candidato Geraldo Alckimim, pois eles participam da mesma eleição
(Presidente da República), mas não poderá impugnar a candidatura, p. ex., do
Sérgio Cabral, pois ele participa da eleição de Governador).
Obs.2: O partido político só pode promover essa ação se não estiver coligado.
Caso o partido esteja coligado quem terá legitimidade ativa para promover a
ação será a coligação (essa questão foi perguntada na última prova do
Ministério Público RJ), caso o partido político coligado venha promover a ação
está será extinta, pois o partido político coligado é parte ilegítima.
Obs.3: Ministério Público Eleitoral não é uma instituição, Ministério Público
Eleitoral é uma função, a rigor exercida pelo Ministério Público Federal e pelo
Ministério Público Estadual (essa questão foi perguntada no 23° Concurso do
MP-RJ). Se vocês repararem a Constituição, art. 128, vocês vão perceber que
ela não menciona o ministério público eleitoral, a Constituição apenas faz
menção ao Ministério Público Federal, Estadual, Militar e do Trabalho.
Se você quiser ser mais específico aqui você pode dizer o seguinte: Há três
níveis hierárquicos no Ministério Público Eleitoral, um deles ocupado pelo MP
Estadual, e dois deles ocupados pelo MP Federal. Em 1° Instância, ou seja, no
Juízo Eleitoral, atua o Promotor Eleitoral, que é membro do Ministério Público
do Estado. Perante os Tribunais Regionais Eleitorais atuam os Procuradores
Regionais Eleitorais, que são membros do Ministério Público Federal. Perante
o Tribunal Superior Eleitoral, atua o Procurador Geral Eleitoral, que também é
membro do Ministério Público Federal.
Bizu: Por isso é que o Ministério Público do Estado só faz pergunta sobre o
pleito local(Prefeito e Vereador), pois só nessa eleição é que ele atua.
5 – Decisão:
Decisão é uma re-leitura do objeto. Vamos parar e pensar o seguinte: Nós já
dissemos que existe um objeto invariável, que é a declaração de
inelegibilidade, e existe outro objeto que varia conforme o momento em que a
ação é julgada, podendo ser negação do registro da candidatura, cancelamento
do registro de candidatura ou declaração de nulidade da diplomação.
Se for anterior ao registro de candidatura nós verificamos que há duas
conseqüências: Declaração de Inelegibilidade do candidato e Negação do
Registro de Candidatura, então a rigor nós temos uma decisão meramente
declaratória e uma decisão condenatória, porque nós vamos declarar o
candidato inelegível, e vamos condenar o Estado a não conceder o registro
(obrigação de não fazer).
Se for posterior ao registro de candidatura e anterior a diplomação nós
verificamos que há duas conseqüências: Declaração de Inelegibilidade do
candidato e Cancelamento do Registro de Candidatura, então a rigor nós
temos uma decisãomeramente declaratória e uma decisão constitutiva, porque
nós vamos declarar o candidato inelegível, e vamos desconstituir o registro que
foi dado (Constitutiva negativa).
Se for posterior a diplomação nós verificamos que há duas conseqüências:
Declaração de Inelegibilidade do candidato e Declaração de Nulidade da
Diplomação, então a rigor nós temos uma decisão duplamente declaratória,
porque nós vamos declarar o candidato inelegível, e vamos declarar nula a
diplomação.
Nota 1: Lei Complementar n° 64/90, art. 3°, § 2° - “Não poderá impugnar o
registro de candidato o representante do Ministério Público que nos quatro
anos anteriores tenha disputado cargo eletivo, integrado diretório de partido ou
exercido a atividade político- partidário”. Confrontem esse dispositivo com a Lei
Complementar n° 75/93, (Lei Orgânica do Ministério Público da União), art. 80
“A filiação a partido político impede o exercício das funções eleitorais por
membros do Ministério Público até dois anos do cancelamento”. Reparem que
as leis estipulam prazos diferentes, uma fala em quatro anos e a outra fala em
dois anos, reparem ainda que uma é mais ampla que a outra, pois a primeira
fala que não pode postular ação e a segunda fala que não poderá exercer
atividade eleitoral. Pergunta-se: Qual lei aplicar? Só lembrando que a partir da
Emenda Constitucional n° 45 a atividade partidária por membro do MP está
completamente vedada (art. 128, § 5°, II, alínea “e” CRFB). Visto isso, em
prova eu faria a seguinte pergunta:
Membro do Ministério Público que cancelou sua filiação à três anos pode
promover a ação de impugnação ao registro de candidatura?
Resposta: O membro do Ministério Público poderá ser designado Promotor
Eleitoral, pois já transcorreu o tempo mínimo (2 anos) exigidos na LC n° 75/93
para que ele exerça atividade eleitoral. Agora, enquanto Promotor Eleitoral,
quanto a possibilidade de promover a ação de impugnação ao registro de
candidatura há uma controvérsia envolvendo os dois principais autores de
direito eleitoral.
O Prof° Emerson Garcia (Titular Banca Eleitoral - MP) entende que o promotor
que tiver cancelado sua filiação a três anos não pode promover essa ação, pois
ele aplica a LC n° 64/90, art. 3°, § 2° por ser mais específica que a outra
(Princípio da Especialidade). Dessa forma, para esse professor o membro do
MP poderia ser nomeado Promotor Eleitoral, mas ficaria durante o tempo que
falta para completar dois anos numa situação intermediária, pois poderia
ajuizar qualquer outra forma de impugnação, menos a ação de impugnação do
registro de candidatura, pois se presume que dentro dos quatro anos ele ainda
esteja ligado ao partido, dessa forma não seria imparcial.
O Prof° Joel Cândido entende que após dois anos o membro do MP poderia
exercer plenamente a função eleitoral, inclusive podendo postular a ação de
impugnação do registro de candidatura. Ele fundamenta sua posição na Lei
Complementar n° 75/93, art. 80. Portanto, ele não fundamenta no critério da
especialidade, ele fundamenta no critério cronológico, ou seja, malgrado não
seja a norma mais específica é a norma mais nova.
Jurisprudência no sentido do Prof° Emerson Garcia (Resolução TSE n° 20.100
de 1998, art. 22, § 3°)
Nota 2: Reparem que foi dito que qualquer candidato é parte ativa legítima,
porém antes do registro da candidatura não há candidato ainda, todos são
pretendentes acandidato. Dessa forma perguntaria o seguinte: Pretendente a
candidato é parte legítima?
Resposta: Vocês vão encontrar aqui uma situação em que o Emerson Garcia e
oJoel Cândido entendem da mesma forma, porém há quem entenda diferente:
O Prof° Pávila Ribeiro entende que pretendente a candidato não é parte
legítima, pois pra ele Candidato é aquela pessoa que já teve seu pedido de
registro de candidatura deferido no passado, e no momento da propositura da
ação de impugnação do pedido de registro ninguém teve seu pedido deferido
ainda, pois o que se visa impugnar é o pedido de registro e não o próprio
registro. Dessa forma, o que o prof° Pávila quer dizer é que, para essa ação,
somente serão partes legítimas o Partido Político, a Coligação e o Ministério
Público Eleitoral.
Emerson Garcia e Joel Cândido entendem que o pretendente a candidato é
parte legítima, pois eles interpretam extensivamente o termo candidato para
dizer o seguinte: Candidato não é só aquele que já teve seu pedido de registro
deferido no passado, é também aquele que pode ter seu pedido deferido no
futuro.
Atual jurisprudência acolhe a posição do Emerson Garcia e Joel Cândido, TSE
Acórdão 5.698, entendeu que pretendente a candidato é parte legítima.
Nota 3: Existe litisconsórcio passivo necessário nessa ação, ou seja, a ação
deve ser proposta em face do candidato e do partido político ou, se houver,
coligação?
O Prof° Emerson Garcia entende que há um litisconsórcio necessário, ou seja,
a ação deve ser proposta em face do candidato e do partido político ou
coligação partidária.
O Prof° Joel Cândido entende que é uma situação de litisconsórcio facultativo,
ou seja, para ele basta que a ação seja proposta em face do candidato ou em
face do partido político (ou coligação partidária se houver), não é necessário
que a ação seja proposta em face dos dois.
A Jurisprudência hoje entende que nessa ação há um litisconsórcio facultativo,
privilegiando a posição do Prof° Joel Cândido. Ou seja, basta que a ação seja
proposta em face do candidato ou em face do partido político. A razão desse
entendimento é lógica, qualquer defesa apresentada será aproveitada pelo
outro. (TSE Acórdão 12.583 de 17/10/1995 e Acórdão 18.151 de 12/12/2000).
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
(Lei Complementar n° 64/90 arts. 19 a 26)
1 – Hipótese de Cabimento:
As duas últimas provas do Ministério Público perguntaram sobre isso aqui. A
rigor essa forma de impugnação possui duas hipóteses de cabimento. A
primeira hipótese é o Abuso de Poder econômico ou político; A segunda hipótese
é a CapitaçãoIlegal de Sufrágio.
Entre uma coisa e outra há quatro diferenças:
1° Abuso de Poder Econômico ou Político se dá em favor do Candidato, Partido
ou Coligação, ou seja, qualquer abuso do poder econômico ou político visa
favorecer o candidato, o partido ou a coligação. Ao passo que a Capitação
ilegal se sufrágio ocorre entre candidato e eleitores. Isso é uma outra situação!
O abuso de poder político ou econômico ocorre em favor do candidato, partido
ou coligação, enquanto que a capitação ilegal de sufrágio só ocorre entre
candidato e eleitor.
2° No abuso do poder econômico ou político possui potencialidade lesiva, ou
seja, ele quer ter potencialidade lesiva sobre o pleito, desse modo, para que
alguém seja condenado por abuso do poder econômico mister se faz que seja
demonstrada a potencialidade lesiva sobre a eleição. Ao passo que a
Capitação ilegal de sufrágio não possui potencialidade lesiva, dessa forma eu
não preciso demonstrar a potencialidade lesiva sobre o pleito, pois não tutela a
eleição em si, tutela a vontade do eleitor, dessa forma basta que a vontade do
eleitor seja alterada, mesmo que a eleição não seja, para que alguém responda
por capitação ilegal de sufrágio.
3° O abuso do poder político ou econômico protege a normalidade do pleito, ao
passo que a capitação ilegal de sufrágio protege a vontade do eleitor.
4° Abuso de poder econômico ou político vai ensejar duas sanções (posição da
banca do MP): (1°) Declaração de inelegibilidade; (2°) Cancelamento do
Registro de Candidatura. A declaração de inelegibilidade é possível, pois trata-
se de matéria prevista na lei complementar 64/90 e A Constituição prevê que
cabe a lei complementar dispor sobre às causas de inelegibilidade. Ao passo
que na Capitação ilegal de sufrágio eu não posso declarar ninguém inelegível,
pois essa matéria não está em lei complementar, está em lei ordinária, Lei n°
9.840/99, dessa forma em caso de procedência nós teremos as seguintes
sanções: (1°) Condenação ao pagamento de multa; (2°) Cancelamento do
Registro de Candidatura, ou se a ação vier a ser julgada após o candidato
eleito poderia dar ensejo a uma eventual Declaração de nulidade da
diplomação.
Nota 1: A Capitação ilegal de sufrágio só pode se dar entre candidato e eleitor,
ou seja, só quem é candidato pode ser autor de capitação ilegal de sufrágio,
quem não é candidato não pode ser sequer partícipe da capitação ilegal de
sufrágio. Por conta desse motivo foi que o TRF, de forma correta, entendeu
que a Governadora Rosinha e o Garotinho não teriam praticado capitação
ilegal de sufrágio na eleição Municipal de Campos, eles não eram candidatos,
mas sim estavam atuando em favor de candidato, o que me parece claro abuso
de poder econômico ou político, todavia o Ministério Público de forma
inteligente optou pela capitação ilegal de sufrágio (depois eu vou explicar por
quê.)
Nota 2: No 27° Concurso do MP, na prova específica, se perguntou o seguinte:
Capitação ilegal de sufrágio precisa de demonstração de potencialidade lesiva
sobre o pleito?
Não, pois o que se protege não é a normalidade da eleição, o que se protege é
a vontade do eleitor. Mesmo que essa capitação ilegal de sufrágio não tenha
nenhuma repercussão sobre o pleito, o simples fato de ela ter a possibilidade
de alterar a vontade do eleitor configura a capitação de sufrágio.
Nota 3: A ação que tenha como causa de pedir a capitação ilegal de sufrágio é
muito mais efetiva do que a ação que tem como causa de pedir o abuso de
poder político ou econômico, por quê isso?
Segundo jurisprudência do STF a ação que tenha como cauda de pedir o
abuso do poder econômico corre o sério risco de não dar em nada, pois
segundo a lei complementar 64/90, uma vez julgado o pedido procedente, o
candidato será declarado inelegível por 3 (três) anos, e a jurisprudência
entende que a contagem desse prazo não é prospectiva, mas sim retroativa, ou
seja, três anos retroativamente a data do pleito. É a única ação do mundo que
vai se exaurido com a ação proposta, pois, se por ventura ela vier a ser julgada
três anos após o pleito a sanção morre. Assim sendo, da data do transito em
julgado você retroage três anos para verificar se há sanção ou não. (Ex:
Deputado Federal é condenado por essa ação 2 anos após o pleito, dessa
forma, retroagindo três anos a partir do transito em julgado, na data da eleição
ele era considerado inelegível, dessa forma, perderá o mandato.)
Isto posto, se essa ação vier a ser julgada após três anos da data da eleição
não há mais qualquer sanção, por isso que o Ministério Público, sempre que
pode, evita essa ação.
Por quê não há mais sanção?
1° Não se pode mais falar em registro de candidatura, porque ele não é mais
candidato. Ou porque foi eleito, e portanto diplomado, ou porque, mesmo que
não tenha sido eleito não há mais eleição.
2° Conforme jurisprudência do STF, na data que transitar em julgado a decisão
você retroage e caso consiga alcançar a data da eleição o candidato perde o
mandato, pois nesta data ela era considerado inelegível, todavia se ao retroagir
você não conseguir alcançar a data da eleição considera-se que na data da
eleição ele era elegível, dessa forma poderá possuir um cargo e
conseqüentemente não perderá o mandato.
Por todo exposto é que a ação que tenha como causa de pedir a capitação
ilegal de sufrágio é muito mais efetiva, porque aqui além da possibilidade de
cancelamento do registro há a possibilidade de se declarar a declarar a
nulidade da diplomação, mesmo que a ação seja julgada 3, 6 anos depois do
pleito, muito embora você não possa cancelar o registro (pelos motivos
expostos acima), você ainda poderá declarar a nulidade da diplomação e o
autor da capitação ilegal de sufrágio perderá o mandato.
Mesmo que a ação venha a ser julgada quatro anos depois do pleito, ou seja,
depois de exaurido o mandato, essa ação ainda terá uma efetividade mínima,
pois ainda será possível a condenação em multa.
Por tudo isso é que no caso da Rosinha e do Garotinho na eleição de Campos
é que o Ministério Público optou pela causa de pedir capitação ilegal de
sufrágio.
Nota 4: Vários autores mencionam que não há no Brasil um exemplo de lei de
iniciativa popular, mas existe sim. A lei 9.840/99 é de iniciativa popular, é o
único exemplo existente hoje no Brasil.
2 – Objeto:
O objeto dessa ação já foi visto por nós. Se for caso de abuso de poder
econômico ou político terá dois objetos possíveis: Declaração de Inelegibilidade
e Cancelamento do Registro de candidatura. Se a situação for de capitação
ilegal de sufrágio os objetos possíveis serão: Condenação ao pagamento de
multa, e Cancelamento do Registro de candidatura ou Declaração de nulidade
da diplomação, dependendo do momento em que a ação venha a ser julgada.
O que é interessante colocar aqui é que, quando for caso de abuso de poder
econômico ou político, sem prejuízo de uma eventual declaração de
inelegibilidade do candidato e eventual cancelamento do registro de
candidatura essa ação também servirá como pré-constituição de prova para
efeito de eventual Recurso contra a Diplomação. Isso porque o recurso contra
a diplomação exige prova pré-constituída que pode ser formada por qualquer
meio disponível ao requerente, inclusive na investigação judicial eleitoral que
verse sobre abuso do poder econômico ou político, pois sendo caso de
capitação ilegal se sufrágio não caberá recurso contra a diplomação, desse
modo, beste caso, a investigação judicial eleitoral não poderia ser usada como
prova pré-constituída.
3 – Competência:
Também aqui na Investigação Judicial Eleitoral a natureza da eleição é
primordial para a fixação da competência.
Se for uma situação de eleição local (Prefeito e Vereador) a Competência será
igual a da ação de impugnação do pedido de registro de candidatura, ou seja, a
competência será do Juízo Eleitoral.
Agora, nas eleições regionais (Governador, Senador, Deputado Federal e
Deputado Estadual) e nas eleições acionais (Presidente) há mudanças. Se for
uma situação de eleição regional competente será a Corregedoria Regional Eleitoral,
que é um órgão do Tribunal Regional Eleitoral, e não o TER em si, como na
ação de impugnação do pedido de registro da candidatura. Se a situação for de
eleição nacional competente será a Corregedoria Geral Eleitoral, que é um órgão do
Tribunal Superior Eleitoral, e não o próprio TSE como acontece na ação de
impugnação do pedido de registro de candidatura.
4 – Legitimação:
É exatamente igual a ação de impugnação do pedido de registro da
candidatura, ou seja, há quatro legitimados ativos: Qualquer Candidato, Partido
Político, Coligação Partidária e Ministério Público Eleitoral, valendo para cá
todas as considerações que foram feitas sobre o tema. Ou seja, (1°) qualquer
candidato, desde que participante da mesma eleição do investigado; (2°) O
partido político só será legitimado se não estiver coligado, pois se estiver
coligado o legitimado será a coligação; e (3°) O Ministério Público Eleitoral não
existe enquanto Instituição, ele é uma função exercida ora pelo MP Estadual
ora pelo MP Federal.
Só lembrando que a questão do pretendente a candidato aqui não é discutida,
pois todos já são candidatos.
5 – Decisão:
Bom, a decisão depende de qual é a causa de pedir. Se a causa de pedir é o
abuso de poder econômico ou político nós temos duas sanções: (1°)
Declaração de Inelegibilidade; e (2°) Cancelamento do Registro de
Candidatura. Com relação a declaração de inelegibilidade nós temos uma
decisão meramente declaratória, e no que tange ao cancelamento do registro da
candidatura a decisão é Constitutiva, ou melhor dizendo, constitutiva negativa,
pois está desconstituindo um registro que já foi concedido.
Se a causa de pedir for capitação ilegal de sufrágio nós temos as seguintes
sanções: (1°) Condenação ao pagamento de multa, que é evidentemente uma
decisão Condenatória; e (2°) Cancelamento do Registro de candidatura ou
Declaração de nulidade da diplomação, dependendo do momento em que essa
ação venha a ser julgada. Desse modo, se ação vier a ser julgada entre a
homologação do pedido de candidatura e a diplomação uma eventual decisão
de procedência dessa ação terá como sanção o cancelamento do registro de
candidatura, assim essa decisão será constitutiva negativa. Agora, se a ação vier a
ser julgada depois da diplomação a sanção possível será a declaração de
nulidade da diplomação que possui natureza de decisão meramente declaratória.
Nota 1: Natureza Jurídica da Investigação Judicial Eleitoral?
O que eu quero perguntar aqui é o seguinte: A investigação judicial eleitoral é
jurisdicional ou não? E aqui vocês vão encontrar duas posições:
Emerson Garcia entende que investigação judicial eleitoral tem natureza
jurídica administrativa. Ele entende que, a rigor, investigação judicial eleitoral é
direito de petição, sendo assim, fundamentada no art. 5°, XXXVI CRFB.
Pedro Henrique Távora Niess entende que a natureza é jurisdicional. Para ele
aqui não há direito de petição, há direito de ação com fundamento no art. 5°,
XXXV CRFB.
Não há jurisprudência que diga claramente se investigação judicial eleitoral tem
natureza administrativa ou jurisdicional. Agora, eu posso adiantar que há uma
tendência no Brasil a se entender que tem natureza administrativa, não quer
dizer que seja direito de petição, há uma tendência em se entender que não é
uma ação. (TSE Acórdão 15.275 de 19.03.99)
Nota 2: Pode ser instaurada investigação judicial eleitoral antes da abertura do
prazo para registro de candidatura?
Joel Cândido entende que não existe a possibilidade de instauração de
investigação judicial eleitoral antes da abertura do prazo de campanha eleitoral.
Ele entende que a investigação judicial eleitoral só pode ser instaurada durante
a campanha, mesmo que diga respeito a fatos ocorridos anteriormente à ela. O
argumento utilizado por Joel Cândido é que antes do registro de candidatura
não existe tecnicamente campanha eleitoral e investigação judicial eleitoral só
pode ser instaurada durante a campanha.
Emerson Garcia admite que a investigação judicial eleitoral seja instaurada
antes de iniciada a campanha eleitoral, pois ele entende que, não obstante não
haja campanha eleitoral há propaganda institucional, ou seja, há uma
promoção pessoal que pode configurar abuso do poder econômico ou político
ou capitação ilegal de sufrágio.
Não há posição majoritária na doutrina e na jurisprudência.
Nota 3: É possível aplicar a sanção de declaração de nulidade da diplomação na
ação que tenha como causa de pedir o abuso do poder econômico ou político?
Emerson Garcia (majoritária) entende que a sanção de declaração de nulidade
da diplomação não se aplica para o caso de abuso de poder econômico ou
político.
Emerson Garcia fundamenta sua posição da Lei Complementar 64/90 art. 22,
XIV e XV, argumentando que em nenhum momento os mencionados
dispositivos falam em uma eventual declaração de nulidade da diplomação. José Antônio Fithtner (minoritária) entende que a sanção de declaração de
nulidade da diplomação se aplica para os casos de abuso de poder econômico
ou político, pois assim evitaria uma eventual inefetividade dessa ação, e para
fundamentar isso ele vai até o art. 15 da Lei Complementar 64/90 que prevê a
nulidade do diploma na sua parte final, que tecnicamente é norma aplicada
para ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura, a aplica
analogicamente a investigação judicial eleitoral. A atual posição do TSE não admite a sanção de declaração de nulidade da
diplomação quando a impugnação judicial eleitoral tem como causa de pedir o
abuso do poder econômico ou político, acolhendo a posição do Emerson
Garcia. (TSE Recurso Ordinário n° 18 de 19.06.98, Rel. Maurício Correia e
Agravo na Petição n°1.313 de 28.03.03, Rel. Sepúlveda Pertence).
Recurso contra a Diplomação
RECURSO CONTRA A DIPLOMAÇÃO
(Código Eleitoral art. 262)
1 – Hipótese de Cabimento:
Já falamos que as hipóteses de cabimento do Recurso contra a Diplomação
está previsto no art. 262 da Lei 4.737/65 (Código Eleitoral) que prescreve o
seguinte: “Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos seguintes
casos:”
Então gente, reparem que o artigo começa a falar agora das hipótese de
cabimento, vocês vão verificar que são quatro, e aqui nós vamos colocar uma
nota em relação a cada uma delas.
Nota 1: (I) Inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato: Qual a nota que pode ser
colocada aqui importante?
É evidente que essa causa de inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato
deve ter sede Constitucional, ou seja, deve advir de matéria Constitucional,
pois se possui apenas sede legal já houve a preclusão. vide CRFB art. 14, §§
3°, 4°, 5°, 7° e 8°, porque esses dispositivos falam ora sobre inexistência de
condições de elegibilidade ora sobre a existência de eventual causa de
inelegibilidade, todas Constitucionais.
Nota 2: (II) errônea interpretação da lei quanto à aplicação do sistema de representação
proporcional;
Aqui seria interessante que fosse feito outra remissão (vide Código Eleitoral
art.105 a 113). O que eu quero dizer com isso? Essa causa diz respeito ao
sistema proporcional, ela não alcança o sistema majoritário, por isso fez-se
menção aos artigos 105 a 113 do Código Eleitoral, pois esses artigos regulam
o sistema proporcional.
Nota 3: (III) erro de direito ou de fato na apuração final, quanto à determinação do quociente
eleitoral ou partidário, contagem de votos e classificação de candidato, ou a sua contemplação
sob determinada legenda;
Nesse inciso deve ser feita a seguinte remissão (vide Código Eleitoral art. 169).
Citado o art. 169 a gente quer dizer textualmente que, nessa hipótese, só
existe a possibilidade de ser interposto Recurso Contra a Diplomação com
esse fundamento (art. 262, III Código Eleitoral) se tiver havido impugnação
imediata perante a junta eleitoral, ou seja, durante a apuração houve
impugnação imediata junto a junta eleitoral, então feita a impugnação se abriu
a possibilidade de depois impetrar o recurso.
Essa hipótese foi praticamente abolida, pois nós não temos mais apuração
manual, mas se por ventura uma máquina não funcionar e a apuração tiver que
ser feita manualmente poderá haver discussão sobre a validade de um voto,
sendo cabível recurso contra a diplomação por esse motivo desde que haja
impugnação imediata do respectivo voto junta a junta eleitoral no momento em
que o voto estiver sendo apurado.
*Dúvida Aluna: Qual a diferença do erro de direito do erro de fato?
Erro de fato é erro de contagem, ou seja, se contou errado o voto (Ex. tem 500
votos e conta só 400). Agora, Erro de Direito é o erro na fixação do coeficiente
eleitoral ou partidário, ou seja, as normas foram aplicadas de modo errado,
houve uma contabilização errada (ex: Para fixar o coeficiente eleitoral foi
levado em conta o número de votos dados, incluindo branco e nulos, e não
apenas os votos válidos, que excluem brancos e nulos, como a lei determina)
Nota 4: (IV) concessão ou denegação do diploma, em manifesta contradição com a prova dos
autos, nas hipóteses do art. 222 e do art. 41-A da lei 9.504/97.
Aqui não precisa haver remissão, porque o próprio inciso faz a remissão
devida. Só sublinhe ai “art. 41-A da Lei 9.504/97” pra deixar claro o seguinte: A
hipótese do inciso IV contempla questionamento sobre capitação ilegal de
sufrágio. É nesse art. 41-A da 9504/97 que está contemplado, aquilo que nós
estudamos, como capitação ilegal de sufrágio.
Agora, aqui gente peço muito cuidado pelo seguinte: O que a lei diz não é que
vai haver rediscussão da capitação ilegal de sufrágio agora, até porque o
momento adequado para se discutir capitação ilegal de sufrágio já está
ultrapassado, a gente já verificou que a capitação ilegal de sufrágio é uma das
hipótese de cabimento de uma eventual investigação judicial eleitoral, ou seja,
a discussão sobre a autoria e materialidade da capitação ilegal de sufrágio já
teve seu momento adequado. Esse inciso está mencionando capitação ilegal
de sufrágio por outro motivo, o que ele esta dizendo ai é que houve concessão
do diploma na hipótese de capitação ilegal de sufrágio.
P. Ex. Alguém foi condenado por capitação ilegal de sufrágio na investigação
judicial eleitoral, mas mesmo assim se concedeu o diploma a essa pessoa. Ou
alguém foi absolvido na investigação judicial eleitoral e mesmo assim se negou
o diploma.
2 – Objeto:
Recurso contra a diplomação tem dois objetos possíveis: (1°) Concessão
do Diploma; ou (2°) Denegação do Diploma.
Ou seja, alguém não foi diplomado e você pede que seja concedido o diploma
a ele, ou alguém foi diplomado e você postula que seja denegado o diploma a
ele.
Quem assistiu a prova oral do Ministério Público pode perceber que o Prof°
Robson Godini perguntou para todos os candidatos que sortearam esse ponto
a seguinte pergunta: Recurso Contra a Diplomação, o nome está certo?
Reparem só, há dois objetos possíveis, concessão ou denegação da
diplomação, dessa forma o nome está equivocado, porque às vezes não é
recurso “contra” é recurso “a favor” da diplomação. Ou seja, o recurso é contra
quando você possui denegação, agora, o recurso é em favor quando você
postula concessão. Nós colocamos recurso contra a diplomação por questão
de praxe, até porque o código menciona isso.
3 – Competência:
Aqui nós já vamos colocar uma questão polêmica para depois analisarmos
melhor. Verifiquem que nós estamos diante de um recurso, inclusive de índole
administrativa, não estamos diante de uma ação. Então vamos para e pensar o
seguinte: Nós já estudamos que na situação de uma eleição local (Prefeito e
vereador) a competência para a diplomação é do Juízo Eleitoral; numa eleição
regional (Governador, Senador, Deputado Estadual e Federal) a competência
para diplomação é do TER; numa eleição nacional (Presidente) a competência
para a diplomação é do TSE.
Bom, vamos parar e pensar juntos. Nós não estamos diante de uma ação
autônoma, nós estamos diante de um recurso. Dessa forma, se numa eleição
local quem diploma é o juízo Eleitoral quem terá competência para julgar o recurso
contra adiplomação será o TER, pois nós estamos entrando com um recurso contra
uma decisão do Juízo eleitoral.
No caso de eleição regional competente para a diplomação é o TER, logo
o TSE será competente para processar e julgar o recurso contra diplomação no caso de
eleição regional.
Se for uma situação e eleição nacional a competência para a diplomação é do
TSE. Então, a posição que o Prof° Emerson Garcia tem (depois nós vamos
verificar as
outras) é que nessa situação a decisão é irrecorrível, não havendo para
quem submeter o recurso dentro da seara da justiça eleitoral.
Essa posição do Emerson Garcia me parece mais correta pelo seguinte: Diz o
art. 121, § 3° da CRFB “São irrecorríveis as decisões do TSE, salvo as
que contrariarem essa Constituição e as que negarem Habeas Corpus e
Mandado de Segurança”. Depois nós vamos verificar os autores que pensam o
contrário, mas a posição preponderante hoje é que a decisão é irrecorrível.
4 – Legitimação:
Tudo que foi dito quanto as duas outras impugnações é aplicado aqui, a
legitimação é absolutamente igual. Nós verificamos que são quatro legitimados
ativos:
(1°) Qualquer Candidato;
(2°) Partido Político;
(3°) Coligação Partidária; e
(4°) Ministério Público Eleitoral.
Também se aplica aqui todas aquelas advertências que nós já fizemos. (1°)
Qualquer candidato em relação ao pleito ao qual participa, sob pena de não
dispor de interesse processual em relação aos demais pleitos. (2°) Nós
também dissemos que se for uma situação de coligação partidária o legitimado
ativo para promover o recurso será a coligação e não o partido. O partido só
será legitimado quando não estiver coligado; (3°) Também foi dito que o
Ministério Público Eleitoral não existe enquanto instituição, mas sim existe
enquanto função, função esta que será exercida ora por membro do Ministério
Público Estadual, Promotor Eleitoral nas Eleições locais ora pelo Ministério
Público Federal, Procurador regional Eleitoral nas Eleições Regionais e
Procurador geral eleitoral nas Eleições Nacionais.
5 – Decisão:
Vamos parar e pensar aqui o seguinte: Os objetos possíveis são
dois, Concessão ou Denegação do diploma, dessa forma a decisão só pode
ser uma: Constitutiva, ou seja, a decisão aqui obrigatoriamente será constitutiva,
ou constitutiva positiva se o objeto é concessão de diplomação, ou constitutiva
negativa se o objeto é denegação da diplomação.
Então gente, os cinco critérios do recurso contra a diplomação foram
colocados. Agora vamos seguir o mesmo roteiro e colocar as questões
polêmicas, que aqui são três:
Nota 1: Nós colocamos que na situação de eleição nacional não cabe recurso
contra a diplomação do Presidente da República. Nós dissemos que a posição
do Prof° Emerson Garcia é majoritária, mas não é a única, então nós vamos
agora especificar melhor a questão da irrecorribilidade da diplomação
do Presidente da República colocando as outras posições existentes quanto
ao tema.
Nessa hipótese nós temos hoje no Brasil três correntes, uma corrente já foi
citada, do Prof° Emerson Garcia que entende que a diplomação do Presidente
da República é irrecorrível, seu fundamento é o art. 121, §3° CRFB.
Prof° Joel Cândido entende que caberia Recurso Extraordinário para o STF. O
fundamento que ele dá é o fundamento do recurso extraordinário, art. 102, III
da CRFB. Ele não indica qual alínea.
Prof° Tito Costa entende que caberia Mandado de Segurança dirigido ao STF. Ele
fundamenta sua posição com o art. 102, I da CRFB.
Sinceramente nós não temos jurisprudência, até porque nunca houve um
recurso contra a diplomação do Presidente da República, agora, me parece
muito mais correta a posição do Emerson Garcia.
Obs.: O fato de não caber recurso não quer dizer que não caiba nenhu
ma impugnação, a questão poderá ser discutida através da ação
de impugnação do mandato eletivo, que é mais abrangente.
Nota 2: Essa questão nós vamos chamar de antecedente. Há alguma condição
para que o recurso seja regularmente interposto?
Me parece interessante citar aqui o art. 262, IV do Código Eleitoral. Eu quero
dizer com isso é que o recurso Contra a Diplomação pressupõe Prova Pré-
Constituída, ou seja, não existe a possibilidade de dilação probatória no curso
desse recurso, de uma outra forma, todas as provas devem estar produzidas
no momento em que se oferece a petição inicial. Não há a mínima
possibilidade de produção de prova no curso do recurso, é por isso que a
jurisprudência admite que essa pré-constituição de prova advenha de numa
investigação judicial eleitoral inconclusa.
Nota 3: Essa questão nós vamos chamar de conseqüente. Há algum efeito da
interposição desse recurso? Em outras palavras, esse recurso tem algum efeito
suspensivo ou devolutivo?
Aqui deve-se ter cuidado, pois o Recurso Contra a Diplomação só possui efeito
devolutivo, não possui efeito suspensivo, ou seja, se ele não possui efeito
suspensivo ele não impede a posse no Cargo. Mas aqui só tem um detalhe que
os livros não falam:
O recurso em si não tem efeito suspensivo, no entanto o TSE vem adm
itindo concessão desse efeito suspensivo.
Olha o Cuidado! Só se admite no TSE recurso contra a diplomação com efeito
suspensivo se estiverem presente as seguintes codições: (1°) Se for requerida
através de medida cautelar inominada perante o tribunal ad quem, que é o
próprio TSE; (2°) ainda que o recurso não tenha sido admitido pelo juízo a quo,
que é o TER.
O que eu quero dizer com isso? Assim como o recurso extraordinário e o
recurso especial, o recurso contra diplomação não possui efeito suspensivo,
contudo, tanto STF quanto o STJ e o TSE admitem que esse efeito suspensivo
seja concedido através de liminar em ação cautelar inominada proposta
perante eles. Todavia o STF só admite a concessão do efeito suspensivo
desde que o recurso tenha sido admitido no tribunal ad quem (no caso o TJ), ou
seja, desde que o recurso tenha passado pelo juízo de admissibilidade. Porém
o STJ e o TSE admitem a concessão de efeito suspensivo mesmo ainda que
não tenha sido realizado sobre o recurso o juízo de admissibilidade, ou seja,
segundo jurisprudência desse tribunais é admitida a concessão de medida
liminar ao recurso especial e ao recurso contra a diplomação ainda que esses
não tenham sido ainda admitidos pelo tribunal a quo, no caso, respectivamente,
TJ ou TER.
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO
(Constituição Federal art. 14, §§ 10 e 11)
Já foi colocado que a ação de impugnação de mandato eletivo tem seu
fundamento na Constituição, e ela é cabível para fatos ocorridos a qualquer
tempo. Ela possui um prazo mais dilatado, 15 dias, e o termo inicial desse
prazo é a partir da sessão de diplomação.
Vocês reparem que essa é a única das impugnações que não está prevista em
lei, ela só esta prevista na Constituição Federal. Prescreve o art. 14, § 10 “O
Mandato eleito poderá ser impugnado ante a justiça eleitoral no prazo de 15
dias contados da diplomação, instruída a ação com prova do abuso do poder
econômico, corrupção ou fraude”, e completando § 11 “A ação de impugnação
de mandato eletivo tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na
forma da lei, se temerária ou manifesta má-fé”.
Esses são os dois únicos dispositivos no pais que tratam da impugnação de
mandato eletivo. Daí já surge a primeira discussão sobre essa ação, que é a
seguinte: A norma do art. 14, §§ 10 e 11 são de eficácia plena? De outra forma,
Essa ação é auto aplicável? Pode ser aplicada faltando legislação que a
regule? E mais, caso seja admitida sua aplicação qual o rito que ela terá?
Prof° Fábio Konde Comparatto entende que a norma do art. 14, §§ 10 e 11 são
inaplicáveis, ou seja, é uma norma Constitucional de eficácia Limitad
a. A conseqüência para quem pensa assim é que essa ação não pode ser
deflagrada até que surja uma lei que regule o tema. (não é a posição
majoritária) Prof° Djalma Pinto entende que a norma do art. 14, §§ 10 e 11 são auto
aplicáveis. Agora, Djalma Pinto entende que a ação é auto aplicável, contudo
deve-se utilizar o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.
Prof° Fávola Ribeiro entende que a norma é de eficácia plena, ou seja, a ação
é
auto aplicável. Todavia para o citado Prof° essa ação será processada p
elo procedimento especial da Lei Complementar 64/90.
Cuidado aqui, pois se vocês forem ler o livro do Emerson Garcia ele vai dizer
que a posição do TSE é a segunda (e era mesmo), só que o TSE acabou de
modificar sua posição, e a atual posição do TSE é a terceira, ou seja, essa
ação é auto aplicável devendo ser utilizado o procedimento especial da LC
64/90 arts. 3° a 15. (Resolução TSE 21.634/05)
1 – Hipótese de Cabimento:
A Constituição diz quais são às hipóteses de cabimento no art. 14, § 10 “O
Mandato eleito poderá ser impugnado ante a justiça eleitoral no prazo de 15
dias contados da diplomação, instruída a ação com prova do abuso do poder
econômico,corrupção ou fraude”.
Então percebam que há três hipóteses: Abuso do Poder Econômico, Corrupção
ou Fraude.
Aqui gente seria interessante uma nota, que é a seguinte: A Constituição fala
em provas, mas aonde está escrito “provas” leia-se “indícios”, ou seja, não
obstante a Constituição fale em provas entenda-se indícios. Por quê? Porque
há possibilidade de dilação probatória no curso do processo tendo em vista a
aplicação da lei Complementar 64/90 que admite a dilação probatória.
2 – Objeto:
O objeto dessa ação é outro ponto controvertido. Um objeto é pacífico o outro
objeto é discutido. O objeto pacífico é aDeclaração de Nulidade da Diplomação, com
a conseqüente perda do mandato eletivo (isso ninguém discute). Agora, há
discussão sobre uma outra possibilidade, que é a seguinte: Também existiria a
possibilidade de declaração de inelegibilidade do candidato impugnado?
Em outras palavras, o art. 1°, I “d” da LC 64/90 (“São Inelegíveis: (I) para
qualquer caso, (d) os que tenham contra sua pessoa representação julga
da procedente, pela justiça eleitoral, transitada em julgada em processo de
apuração de abuso do poder econômico ou político, para eleição que
concorrerem ou tenham sido diplomado, bem como as que se realizarem nos
três anos seguintes”) se aplica à impugnação de mandato eletivo por
analogia?
Prof° Teori Albino Zavascki (Min. STJ) entende que não existe nessa ação a
declaração de inelegibilidade, ou seja, o art. 1°, I “d” da LC 64/90 não se aplica
ao caso. (posição minoritária). A conseqüência para quem pensa assim é a
seguinte: se o pedido vier a ser julgado procedente só há um objeto
possível, a declaração de nulidade da diplomação.
Prof° Marco Aurélio Denise de Oliveira entende que poderá haver declaração
de inelegibilidade do Candidato, ou seja, aplica-se ao caso, analogicamente, o
art. 1°, I “d” da LC 64/90, dessa forma, para quem pensa assim, essa ação terá
dois objetos possíveis, a declaração de nulidade da diplomação e a declaração
de inelegibilidade do candidato.
Jurisprudência pacífica o sentido de que há possibilidade de se declarar o
candidato inelegível e que o art. 1°, I “d” se aplica analogicamente ao caso.
Agora só um detalhe, a jurisprudência entende que esse dispositivo é aplicado,
mas consagra uma idéia que nós já havíamos colocado, produzindo efeitos ex
tunc, ou seja, é a única ação do mundo cuja sanção vai se exaurido enquanto a
ação venha a ser julgada, tendo a possibilidade de ao final não ter
conseqüência nenhuma, pois o prazo de 3 anos é contado a partir da eleição
na qual ocorreu o fato. (Acórdão TSE n° 510 de 06.11.2001)
3 – Competência:
Nos já colocamos que se aplica a ação de impugnação do mandato eletivo o
procedimento especial da LC 64/90dessa forma tudo que foi dito quanto
a competência na ação de impugnação do pedido de registro de candidatura se
aplica aqui.
Nós havíamos colocado na ação de impugnação do pedido de registro de
candidatura que em uma situação de eleição local competente será o Juízo
eleitoral. Numa situação de eleição regional, competente será o TRE. Numa
situação de eleição nacional, competente será o TSE. Dessa forma, como a
norma é a mesma, aplica-se essa regra de competência à ação de impugnação
do mandato eletivo.
Nota 1: Há possibilidade de foro especial por prerrogativa de função nessa
ação? Não, pois a competência aqui é do órgão competente para a
diplomação, e
não do órgão competente para julgar essas autoridades em crime comum
e de responsabilidade. Para e pensa, se houvesse foro especial para essa
ação nas eleições locais para prefeito competente seria o tribunal de justiça,
nas eleições regionais para Governador competente seria o STJ e nas eleições
nacionais para Presidente competente seria o STF.
4 – Legitimação:
Em nenhuma das ações que nos falamos o cidadão é parte legítima, em todas
elas os legitimados são: Candidato, Partido Político, Coligação e Ministério
Público Eleitoral. Assim sendo faria a seguinte pergunta: Aqui nós poderíamos
admitir que o Cidadão seja parte legítima? Só lembrando que aqui não há
norma nenhuma que regule o tema, que permita e muito menos que proíba, e
aqui nós temos a última impugnação eleitoral. Ou seja, ultrapassada essa
impugnação não há mais como se questionar nada.
Já falamos que se aplica analogicamente a essa ação às regras da ação de
impugnação do pedido de registro de candidatura, deste forma, tudo que foi
dito quanto a legitimação da ação de impugnação do pedido de registro de
candidatura se aplica aqui, inclusive com todas as advertências feitas. Porém
aqui surge a seguinte dúvida ante a ausência de norma específica: Haveria a
possibilidade de essa ação ser impetrada por Cidadão, que não é candidato,
que não é membro de partido ou coligação partidária e que não é membro do
Ministério público Eleitoral?
Prof° Tito Costa e José Antônio Fitner admitem que o Cidadão promova ação
de impugnação de mandato eletivo. O fundamento que eles utilizam é simples:
“não há norma específica que proíba”. Dessa forma, para ambos, a rigor essa
ação terá 5 legitimados e não apenas 4 como as demais ações.
Prof° Emerson Garcia e Joel Cândido entendem que o cidadão não é parte
legitima para promover ação de impugnação de mandato eletivo. O fundamento
que eles utilizam é simples: “não há norma específica que autorize”. Dessa
forma para os citados doutrinadores em todas as formas de impugnação os
legitimados ativos serão
sempre os mesmo (Candidato, Partido Político, Coligação e Ministério Pú
blico Eleitoral).
A jurisprudência hoje, acolhendo a posição do Emerson Garcia e Joel Cândido,
entende que o cidadão é parte ilegítima, ou seja, nas quatro impugnações
eleitorais os quatro legitimados ativos são sempre os mesmos.
Vamos parar e pensar aqui, se o cidadão não é parte legítima o que resta a ele
fazer? A única saída para ele é exercer o Direito de Petição com base no art.
5°, XXXIV da CRFB e representar a algum legitimado ativo para que o faça.
Aliás esse inciso cai como uma luva aqui, pois diz ele textualmente que
qualquer cidadão pode Levar ao conhecimento do Poder Público ilegalidade
(leia-se fraude ou corrupção) ou abuso de poder (leia-se abuso do poder
econômico). É óbvio que quando fala em poder público
está mencionando apenas o Ministério Público Eleitoral, pois candidato, p
artido político e coligação não integram o poder público. (TSE Acórdão 11.835
de 09.06.1994)
Só lembrando que a representação deve ser dirigida ao membro do Ministério
Público que tenha atribuição para ação de impugnação de mandato eletivo, ou
seja, se o cidadão questiona eleição local a representação será dirigida ao
Promotor Eleitoral, se o que está se questionando é eleição regional a
representação deve ser dirigida ao Procurador Regional Eleitoral, agora se o
que se questiona é a eleição nacional a representação deve ser dirigida ao
Procurador Geral Eleitoral.
5 – Decisão:
Qual a natureza da decisão em uma ação de impugnação de mandato eletivo?
Vamos parar e pesar, a rigor possui dois objetos, um pacífico que é a
declaração de nulidade da diplomação, e o outro controvertido que é a d
eclaração de inelegibilidade do candidato. Porém não importa qual será o
objeto, pois a natureza será sempre declaratória, ou seja, a decisão de
procedência na ação de impugnação de mandato eletivo terá sempre natureza
meramente declaratória, seja qual for o objeto da ação.
A discussão do objeto só é importante, pois se você entender que não há
declaração de inelegibilidade ela será declaratória uma vez só, agora se você
entender que há a possibilidade de declaração de inelegibilidade ela será
duplamente declaratória.
Nota 1: Quais são as diferenças entre ação de impugnação de mandato eletivo
e Recurso contra a diplomação?
Basicamente são três diferenças:
1° Recurso contra a diplomação (o nome já diz) é um recurso, então a
competência é recursal, ao passo que na ação de impugnação do mandato
eletivo nós temos uma ação, então a competência é originária; 2° No Recurso contra a diplomação deve haver prova pré-constitiída, portanto
exige-
se uma prova. Na ação de impugnação de mandato eletivo não há essa
exigência, ou seja, não se exige aqui provas, exige-se meros indícios; 3° O termo inicia da contagem de prazo é o mesmo (data da sessão de
diplomação) porém os prazos para interposição das impugnações
são diferentes, porque no Recurso contra a diplomação o prazo é de 3 dias,
enquanto que na ação de impugnação de mandato eletivo o prazo é de 15 dias. Bibliografia/Links Recomendados
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_eleitoral
- http://www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-eleitoral/roteiros-de-direito-eleitoral
- http://jus.com.br/revista/direito-eleitoral