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EVANGELISMO REFORMADO Estudo da evangelização reformada, centrada em Deus, em contraste com evangelização arminiana, centrada no homem, como tem sido em nossos dias. . Por JOSÉ SANTANA DÓRIA Mestrando em Teologia Curso de Ministério e Teologia Para estudantes de Licenciatura e Mestrado em Estudos Teológicos 1

CURSO SOBRE EVANGELISMO REFORMADO · Web viewIII – ANEXOS – 1 a 8 IV – BIBLIOGRAFIA ADAMS, James E. Regeneração por Decisão. São Paulo. Ed. FIEL: 1982. ALLEINE, J. Um Guia

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EVANGELISMO REFORMADO

Estudo da evangelização reformada, centrada em Deus, em contraste com evangelização arminiana, centrada no

homem, como tem sido em nossos dias.

.

Por

JOSÉ SANTANA DÓRIA

Mestrando em Teologia

Curso de Ministério e TeologiaPara estudantes de Licenciatura e Mestrado em Estudos Teológicos

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MIAMI

Brasil – Aracaju, Março de 2011

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I – EMENTAEstudo da evangelização Reformada, centrada em Deus, em contraste com

evangelização Arminiana, centrada no homem, como tem sido em nossos dias.

II – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO1. O que é evangelismo?2. Eleição, um incentivo para a evangelização;3. Deus e os meios para a evangelização;4. A mensagem da evangelização;

Pregando o evangelho de arrependimento, expiação e graça; Pregando o evangelho do novo nascimento; Pregando o evangelho do reino; Pregando um evangelho exclusivo e “ofensivo”.

5. A caricatura do evangelho de Cristo (uma crítica ao evangelismo moderno).

Um evangelho existencialista; Um evangelho de reconciliação do homem com Deus; Um evangelho de apelação; Um evangelho pragmatista; Um evangelho de evidência numérica; Um evangelho de obras; Um evangelho inofensivo.

6. A evangelização de Jesus Cristo. Pregava o caráter de Deus – Mc.10:17,18; Pregava a Lei de Deus – Mc.10:19-21a; Pregava o arrependimento – Mc.10:21b; Pregava a fé no filho de Deus – Mc.10:21c; Pregava sem uma falsa segurança de salvação – Mc.10:22; Pregava dependendo de Deus – Mc.10:23-27.

7. O sistema de apelo. Suas implicações doutrinárias. Seus perigos;

8. Características da evangelização arminiana. Uma evangelização influenciada pela teologia de Pelágio e Finney; Uma evangelização que baseia-se no pragmatismo;

9. A evangelização puritana x evangelização arminiana. Suas mensagens; Seus métodos.

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III – ANEXOS – 1 a 8IV – BIBLIOGRAFIA

ADAMS, James E. Regeneração por Decisão. São Paulo. Ed. FIEL: 1982.

ALLEINE, J. Um Guia Seguro para o Céu. São Paulo Ed. PES: 1987

ANGLADA, Paulo. Spurgeon e o Evangelicalismo Moderno . São Paulo, Ed.Os Puritanos: 1996.

BEEKE, Joel R. A Tocha dos Puritanos. São Paulo Ed. PES: 1996

BLANCHARD, J. Convite para Viver. São Paulo. Ed. FIEL: 1992.

CHANTRY, Walter J. O Evangelho de Hoje. 3a Edição, São Paulo Ed. FIEL: 1988.

KUIPER, R. B. Evangelização Teocêntrica. São Paulo Ed. PES: 1976.

JONES, M. Lloyd, A Apresentação do Evangelho (opúsculo). São Paulo Ed. PES: s/data.

-----------------------, A Pregação (opúsculo). São Paulo Ed. PES: s/data

-----------------------, A Urgente Nec. de Avivamento (opúsculo). São Paulo Ed. PES: s/data.

-----------------------, Jesus Cristo e Este Crucificado (opúsculo). São Paulo Ed. PES: s/data

MACARTHUR, Jonh. A Procura de Algo Mais (opúsculo). São Paulo Ed. PES: s/data.

MURRAY, Iain. O Sistema de Apelo. São Paulo Ed. PES: 1995

PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus. São Paulo. Ed. FIEL: 1996.

-----------------, O “Antigo” Evangelho. São Paulo. Ed. FIEL: 1986.

PINK, A. W. Deus É Soberano. 3a Edição, São Paulo Ed. FIEL: 1990.

REIDHEAD, Paris. Crentes que Precisam de Salvação. Minas Gerais. Ed. Betânia: 1992.

REISINGER, Ernest. Existe Mesmo o Crente carnal. São Paulo. Ed. FIEL: s/data.

VASCONCELOS, Josafá. O Outdoor de Deus. São Paulo, Ed. Os Puritanos: 1998.

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CAPÍTULO I

O QUE É EVANGELISMO?(John Armstrong)

Será que existe um assunto de maior interesse do que o evangelismo, para aqueles que estão vitalmente ligados a Jesus Cristo? Na verdade, mesmo aqueles pertencentes às denominações mais liberais, têm tido um interesse cada vez maior pelo assunto nas últimas décadas, isso devido ao declínio no número de membros de suas respectivas igrejas.

O interesse pelo evangelismo tem sido o foco das atenções da igreja cristã desde o seu início. Jesus não ensinou aos Seus discípulos que após a descida do Espírito Santo sobre eles: “sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”? (Atos 1:8). Nós lemos em Atos 8:4, “os que foram dispersos iam por toda parte pregando a Palavra”. Quando o Espírito Santo veio sobre a igreja incipiente, a promessa de Atos 1:8 aplicava-se a todos, não somente aos apóstolos. A obra da evangelização tem sido uma preocupação constante para a Igreja como um todo e especialmente em épocas de reforma e reavivamento derramadas pelo Espírito. Embora evangelismo e reavivamento não sejam a mesma coisa - o que se constitui em um erro comum cometido nos últimos 50 anos no movimento evangélico ocidental - não podemos orar por despertamento espiritual e permanecer desobedientes à comissão do evangelismo e das missões. Conforme escreveu John Blanchard, “nenhuma igreja é obediente, se não for evangelística”. Um evangelismo do tipo melhor e mais eficaz será uma evidência de qualquer reavivamento verdadeiro que nós possamos experimentar em nossa geração.

Mas o que é evangelismo? Por que deveríamos nos envolver com ele? Quais são os métodos que as Escrituras nos autorizam a usar para alcançar homens e mulheres com a mensagem de Cristo? O que a teologia tem a ver com o evangelismo?

Por mais de uma geração, o evangelismo no Ocidente tem sido feito dentro de um vácuo doutrinário. Muito do que tem sido exportado para outros campos da missão cristã, reflete a mesma superficialidade e confusão doutrinária. Chegou o momento de refletir seriamente sobre muito do que está sendo feito hoje, em nome do evangelismo. Se o que estamos fazendo é um evangelismo

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verdadeiro, bem estruturado, ou é somente atividade constante, ou ainda pior do que isso, uma atividade prejudicial, então precisamos questioná-lo com base no princípio da “sola scriptura”.

O resultado desse vácuo doutrinário pode ser visto em nossa preocupação com métodos evangelísticos, às expensas da exclusão virtual da compreensão e concentração sobre a questão “o que é o evangelho em si mesmo?”. Será que as mensagens que estão sendo pregadas, os padrões de apresentação e os livretos distribuídos são verdadeiramente fiéis à mensagem do evangelho? As campanhas em massa, os ministérios de longo alcance televisionados e por rádio, as numerosas agências para-eclesiásticas têm procurado conquistar as multidões para Cristo. Qual é o resultado de quase um século de tais esforços bem intencionados?

O que é, portanto, o evangelismo? Respondo da seguinte forma: “é pregar o evangelho com a intenção de conquistar verdadeiros seguidores de Cristo”. O evangelho são as boas-novas. A palavra grega para evangelho é a palavra da qual obtemos a nossa expressão “boas-novas”. O verbo usado para pregação do evangelho é o mesmo usado para designar a atividade de evangelização. O substantivo “evangelho”, ocorre mais de 75 vezes nos escritos do Novo Testamento. O verbo, “evangelidzomai” ocorre mais de 50 vezes. É freqüentemente traduzido como “pregar”. James I. Packer expande essa curta definição de evangelismo, dizendo que evangelizar é: “Apresentar Jesus Cristo aos pecadores, de modo a que eles possam vir a colocar sua confiança em Deus, através d’Ele recebê-lo como seu Salvador e servi-lo como seu Rei na comunhão de Sua Igreja”.

Essa definição deixa claro que evangelismo não equivale a apelar por decisões através de uma forma especializada ou obter resposta aos nossos apelos. Não é tão pouco reorganizar a vida familiar ou salvar o casamento com novas técnicas de aconselhamento. Não, o evangelismo pode até mesmo terminar com alguns casamentos e freqüentemente dividirá famílias, o que se tornará cada vez mais aparente à medida que nossa cultura se torna cada vez mais hostil às suas raízes cristãs. Nosso Senhor não trouxe uma espada de divisão? (Mt.10:34-39; Lc.14:25-27).

O evangelismo deve, portanto, ter um evangelho adequado. Isso é o que chamamos de teologia prática. Essa prática adequada é revelada nas palavras e obra dos apóstolos e do próprio Cristo. Não somos livres para estruturarmos nossos próprios métodos de acordo com nossos caprichos. Não é a compreensão adequada da suficiência da Palavra escrita que nos compele a deduzir a partir da

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mesma, à medida que trabalhamos pela conversão de homens e mulheres? Pessoalmente, estou convencido de que esse deve ser o tema atual entre os evangélicos, os quais praticam uma postura social e política conservadora, baseada no tipo de prática cristã popular durante as últimas décadas. Essa prática não se parece com nada que exista no Novo Testamento. O resultado é um tipo espúrio de evangelismo que tem sido muito prejudicial em nossa época.

Nós precisamos não somente de um reavivamento de poder para que vejamos as conversões se multiplicando dentro da comunidade visível da igreja, bem como na cultura de uma forma geral, mas também necessitamos de uma reforma completa de nossos métodos e maneiras de evangelização.

Ernest Reisinger está certo em acrescentar a tudo isso que necessitamos de um motivo correto. Ele escreve: “Qual é o motivo correto na evangelização centralizada em Deus? Há dois motivos corretos: 1) Amor a Deus e preocupação com a Sua glória. 2) Amor pelo homem e preocupação com seu bem estar... Como glorificamos a Deus?... fazendo Sua vontade - e é Sua vontade que tornemos conhecido Seu nome e Sua imagem de salvação...Ele nos incumbiu da tarefa de levar Sua mensagem a todo o mundo; dessa forma, nosso motivo inicial deve ser amor a Deus e preocupação com a Sua glória. Isso é expresso na obediência à Sua vontade revelada. Portanto, se formos obedientes na difusão da mensagem de Deus, Ele será glorificado, a despeito dos resultados. Os resultados estão fora de nosso alcance, de nossa habilidade e, graças a Deus, fora de nossa responsabilidade.”

Em relação ao segundo motivo, John Blanchard está certamente correto ao escrever: “o evangelismo é moralmente correto - é o pagamento de um débito”. Um débito de amor que devemos a Deus e ao homem. Se amarmos nosso próximo, então devemos nos esforçar para fazer brilhar sobre ele a luz do evangelho, de todas as maneiras possíveis. Conforme Vance Havner resumidamente coloca, “todo cristão é um agente postal de Deus. Sua obrigação é transmitir as boas-novas dos céus.”

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CAPÍTULO II

ELEIÇÃO, UM INCENTIVO A EVANGELIZAÇÃO (Pr. José Santana Dória)

INTRODUÇÃO:

Vez por outra se ouve a idéia de que a eleição torna supérflua a ação evangelizadora. Essas pessoas sempre perguntam: “Se o imutável decreto da eleição torna absolutamente certa a salvação dos eleitos, que necessidade tem eles do evangelho? Os eleitos não vão ser salvos mesmo, ouçam ou não o evangelho?”

A premissa desse argumento é inteiramente verdadeira (O imutável decreto da eleição torna absolutamente certa a salvação dos eleitos) Mas a conclusão dessa premissa (Os eleitos não vão ser salvos mesmo, ouçam ou não o evangelho) revela grave incompreensão da soberania divina como expressa no decreto da eleição.

Ilustração: Certa vez, quando William Carey, um jovem missionário cheio de amor pelos perdidos, propôs a criação de uma missão para alcançar os pagãos que nunca ouviram o evangelho, um pastor que se considerava calvinista disse: “Sente-se jovem, se Deus quiser salvar os pagãos não vai precisar de você ou de mim”. Ficou claro que este pastor nunca entendeu realmente a doutrina da eleição!

Enquanto que a eleição feita na eternidade, não se pode perder de vista a verdade de que sua concretização é um processo que se dá no tempo, ou seja, dentro da história. Muitos fatores tomam parte nesse processo. Um deles é a evangelização.

No texto de (At.18:9 -11) temos o relato de como o Senhor apareceu a Paulo numa visão, estando ele em Corinto, após a rejeição dos judeus (At 18:5, 6). O Senhor Jesus ordenou a Paulo que falasse e não se calasse, mesmo em face daquela oposição (v.9). O argumento de Cristo ao apóstolo além de assegurar-lhe sua presença, foi que “eu tenho muito povo nesta cidade” (v.10). Em outras palavras, saber que havia muitos eleitos em Corinto, que viriam a se converter, foi fonte de ânimo e incentivo para Paulo permanecer naquela cidade por um ano e meio, pregando o evangelho (v.11).

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Na aula de hoje procuraremos demonstrar que, longe de ser um obstáculo à evangelização, a doutrina da eleição se constitui um grande incentivo, em face das seguintes razões:

I – SOMENTE A ELEIÇÃO POSSIBILITA O SER HUMANO, TOTALMENTE DEPRAVADO, SER ALCANÇADO PELO EVANGELHO.

Vejamos sua condição após a Queda:

* Ele é morto espiritualmente - (Ef.2:1; Cl.2:13)* Ele é cego para as coisas do Espírito - (2Co.4:3, 4; Ef.4:18 e Jo.12:40);

*Ele é surdo para as coisas do Espírito - (Jo.8:47 e 1Jo.4:6). *Ele é de mente obscurecida pelo pecado - (Tt.1:15, 16; Cl.1:3) * Ele é de coração corrupto e mau. (Gn.6:5; 8:21; Ec.9:3; Jr.17:9;

Mc.7:21-23; Jo.3:19).* Ele é desprovido de desejo ou temor a Deus (Rm.3:11, 18; 8:7, 8).

No homem não há nenhum desejo por Deus. Não há temor de Deus no homem. Talvez ele tenha algum temor supersticioso e escravizante; mas nada de um temor reverente e salvador, que produz um desejo de honrar a Deus como Deus e caminhar humildemente pelos caminhos de Deus, com o devido senso de exaltação a Deus pela sua incomparável glória. O homem despreza o Deus que é revelado nas Escrituras. Ele se recusa a adorá-lo e amá-lo em espírito e em verdade. Recusa-se a submeter-se diariamente à Palavra de Deus e a obedecer a Cristo com amor e gratidão no coração. A inclinação natural do homem é lutar contra Deus, opor-se a Deus, correr para longe de Deus. Ele é Incapaz de se arrepender, de crer no evangelho, ou de vir a cristo. Não há poder nem vontade dentro dele para transformar a sua natureza ou prepará-lo para a salvação. (Jó.14:4; Jr.13:23; Mt.7:16-18; Jo.6:44, 5:40 e 2Co.3:5).

A queda com as suas conseqüências nos mostra claramente que, sem a eleição ninguém seria salvo. Esse é um dos grandes incentivos para evangelizar, porque temos a certeza que somente a eleição nos garante que no seu tempo todos os eleitos serão eficazmente chamados, pelo Espírito Santo, das trevas para a luz (2Tm. 2:10).

II- A SOBERANIA DE DEUS NÃO AFETA OU IMPEDE A EVANGELIZAÇÃO.

Evangelizar é uma ordem de Deus claramente prescrita nas Escrituras. Podemos não saber o número e a identidade dos eleitos, mas isto não anula nosso dever de “pregar a toda criatura” (Mc.16:15,16). Por conseguinte, podemos dizer:

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A) A crença que Deus é soberano na graça não afeta a necessidade de evangelismo Não importando o que creiamos acerca da predestinação, permanece de pé o fato que nenhum homem pode ser salvo sem o evangelho(Rm.10:12 - 17). Na parábola da grande ceia, contada por Jesus, o método pelo qual a festa se encheu foi pela ação dos servos do rei, que saíram chamando a todos que estavam no caminho (Mt.22:1-4).

B) A crença na soberania de Deus não afeta a urgência do evangelismo. Não importando o que creiamos acerca da predestinação, permanece de pé o fato que os homens estão perdidos sem Cristo, e se dirigem para o inferno (Lc.13:1-5). A necessidade deles é urgente! O fato de não podemos convertê-los, nem mesmo sabermos se são ou não eleitos, não é da nossa alçada: Cumpre-nos anunciar urgentemente o Evangelho a todos, sem exceção.

C) A crença que Deus é soberano na salvação de pecadores, não afeta a genuinidade dos convites do evangelho nem a veracidade das promessas do evangelho - Não importando o que creiamos acerca da predestinação, permanece de pé o fato que Deus, no evangelho, oferece de verdade, a Cristo e promete justificação a todos que crê (Rm.10:13 – secreto conselho de Deus). A chamada ao arrependimento é universal e o convite do Evangelho é gratuito sem limites. Ninguém é barrado da misericórdia a não ser aqueles que não crêem (Jo.6:37 - 40).

Aqui precisamos fazer uma diferenciação entre a Vontade de Desejo e a Vontade de Propósito.

A Vontade de Propósito está ligada à vontade decretiva (A vontade decretiva é aquela vontade por meio da qual Deus ordena ou decreta tudo aquilo que decide que tem que acontecer, seja por meio da agência direta dEle, ou através da agência irrestrita das suas criaturas racionais – 2Cr.22:7; Is.46:9-11; 48:14; 53:10; Dn.4:35; Rm.9:19; Ef.1:1,5,9,11; Fp.2:13Ap.4:11), enquanto que a Vontade de Desejo está, algumas vezes, ligada à vontade preceptiva (a vontade preceptiva diz respeito aos preceitos - é a regra de vida que Deus tem apontado para suas criaturas morais trilharem, indicando os deveres que elas têm que cumprir, ou que Ele impõe sobre elas. Essa vontade está revelada na lei e no evangelho – Sl.40:8; 143:8-10; Mt.7:21; 12:50; Lc.12:47,48; Jo.9:31; At.13:22; Ef.6:6,7; Cl.1:9,10; 1Ts.4:3; 5:18; 1Pe.2:15; 4:1,2; 1Jo.2:17), e expressa o prazer e o deleite de Deus em coisas que Ele gostaria que acontecesse na vida dos homens, mas que nem sempre acontecem. Ela pode e é desobedecida pelos homens. Nem tudo o que Deus requer de nós como norma de vida é

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obedecido.Você conhece a vontade de Deus? Sim, se você lê o que está escrito na Palavra de Deus. Você faz exatamente todas as coisas que Deus quer de você? Não. Esta vontade, portanto, pode e freqüentemente é resistida. Há, portanto uma grande diferença entre o que Deus prescreve para que façamos e o que Ele decide fazer. Esta vontade de desejo nem sempre está relacionada diretamente com aquilo que os homens devem fazer, mas é expressão de algo que faz parte da natureza de Deus.

Esta vontade de desejo (que é distinta da vontade de propósito) está relacionada intimamente com o prazer (deleite) que Deus tem em que certas coisas aconteçam. Este desejo, que nem sempre é satisfeito, é constitucional e não pode ser negado nEle de forma alguma. Há vários exemplos dessa vontade afirmada na Escritura: Observe a base bíblica dos nossos argumentos:

Exemplo 1 - O desejo natural e espontâneo de Deus para com todos os homens, está expresso em dois textos de Ezequiel:

Ez 33.11 - "Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho, e viva..."

Ez 18: 23 - "Acaso tenho eu prazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus; não desejo eu antes que ele se converta do seus caminhos; e viva?"

É comum, dentro de círculos calvinistas, negar em Deus este prazer, por causa do temor da violação da doutrina da expiação limitada. Não há funda-mento para esse temor, porque essa vontade de Deus, expressa nos versos acima, é constitucional nele. Deus afirma de modo claro, nos versos acima, o seu prazer de duas maneiras: uma negativa e a outra positiva. Primeiro, Deus não tem prazer na morte do perverso; segundo, Deus tem prazer na conversão do ímpio. Por não fazerem essa distinção da vontade de Deus, muitos calvinistas tentam negar o que está óbvio nas Escrituras. Faz parte da natureza constitucional de Deus não ter prazer na condenação do perverso e se comprazer na conversão deles. Ninguém pode, em sã consciência, negar essas verdades que o próprio Deus diz de si, de maneira incontestável.

Todavia, esse desejo constitucional constante em Deus nem sempre é realizado. Esse desejo constitucional é distinto da sua realização ou satisfação. Por razões desconhecidas de nós, Deus determina não satisfazer ou realizar seu próprio desejo. Está em suas mãos salvar o pecador. E ele quem efetua a regeneração nele e o ressuscita espiritualmente. E obra da soberania de Deus salvar o pecador. Ele resolveu não salvar alguns (isso tem a ver com a sua vontade de propósito, que é igual à vontade de decreto), mas o fato dele resolver não salvar alguém não elimina o outro, que ele tenha prazer em que o pecador

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se converta e não tenha prazer que ele seja condenado. Isso não é contradição em Deus (que possui uma mente infinita), pois é possível esse tipo de situação em nós próprios (que possuímos mente finita). É possível para nós termos prazer em que alguma coisa boa aconteça a alguém e, todavia, por razões suficientes a nós, resolvemos não fazer nada para que isso aconteça. Algumas vezes não fazemos por incapacidade ou impotência. Aqui está a grande diferença entre nós e Deus. Não é por incapacidade ou falta de poder que Deus resolve não salvar, mas é um ato de sua soberania que não anula a sua vontade de prazer de ver ímpios convertidos ou o seu desprazer de vê-los condenados. Afinal de contas, todos os ímpios que não são convertidos são criaturas suas, e isso explica por que ele não tem prazer na condenação deles. Deus lhes aplica a condenação porque ele é justo, mas não há qualquer sugestão de que ele se alegra na condenação deles. Pensar isso seria uma blasfêmia contra a sua natureza e uma negação de sua vontade de prazer, que lhe é constitucional.

Exemplo 2 - O desejo natural e espontâneo de Deus para com todos os homens é demonstrado positivamente em:

Lc 13:34 - "Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho, e vós não o quisestes. " (comparar com Lc 19.41-42)

Este quadro apresentado por Lucas é uma situação similar à de Ezequiel, mas o personagem, expressando a sua tristeza pela perdição do povo, é o Deus Filho encarnado. Neste verso podemos perceber um sincero prazer na salvação dos habitantes de Jerusalém. Jesus, o Deus encarnado, inquestionavelmente revelou o seu prazer em que os habitantes de Jerusalém largassem a sua incredulidade. — Isso mostra a vontade de prazer ou do deleite de Deus. Nenhum de nós pode negar essa vontade no Deus homem. Seria uma injustiça a Cristo dizer que ele se alegrava na incredulidade e na perdição de Jerusalém. As suas lágrimas indicam o seu desgosto pela situação de incredulidade e, ao mesmo tempo, o seu prazer em que Jerusalém se voltasse arrependida e em fé para ele.

Todavia, por razões desconhecidas de nós, Cristo resolveu não vencer a obstinação dos judeus, pois ele poderia fazê-lo se assim tivesse decidido, uma vez que e o autor e o consumador da fé” (Hb 12.2). A fé sempre vem por meio de Jesus (At 3.16); a fé é um dom de Jesus aos homens, uma graça eminentemente divina. Essa resolução de Jesus Cristo, de não conceder fé salvadora a todos os habitantes de Jerusalém, mostra a vontade de propósito de Deus.

Exemplo 3 - O desejo natural e espontâneo de Deus é que todos os homens sejam salvos chegando ao arrependimento e à fé. Isto está claramente

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expresso em 1Tm 2:4 e 2Pe 3:9. Isto mostra o desejo constitucional de Deus o Seu deleite.

Contudo, Ele mesmo afirma claramente em Rm 9:18 que Ele "tem misericórdia de quem quer, e que Ele endurece a quem lhe apraz." - Isto mostra o propósito de Deus.

OBS. - Na verdade, esses textos não devem ser usados como exemplos similares aos dois anteriores. Há algumas observações a serem feitas neste assunto: As expressões de 1Tm 2 “em favor de todos os homens” (v.1), “o qual deseja que todos os homens” (v. 4). assim como resgate por todos (v. 6) podem perfeitamente se referir a classes de pessoas indistintamente (como reis, pessoas em autoridade, etc., como nos mostra o v. 1), não como se referindo a cada homem, sem exceção. Todavia, se essas expressões forem entendidas com o significado de “cada ser humano, sem exceção”, então podemos aplicar com justeza o argumento acima como mais um exemplo para distinguir a vontade de prazer da vontade de propósito. somente nesse caso pode ser aplicável o exemplo, Se o entendimento é o primeiro, então o exemplo não serve, porque todas as classes de pessoas que Deus desejou salvar Ele salvou.

 Exemplo 4 - O desejo natural e constitucional de Deus era que Faraó deixasse, em paz, o povo ir para fora do Egito. Várias vezes Deus disse a Faraó: "Deixa o meu povo ir..." (Ex 7:2; 8:1, 2, 20 - O desejo de Deus era que Faraó pudesse ficar livre das pragas. Isso mostra o desejo de Deus. Mas esse desejo de Deus não foi realizado porque ele decidiu não interferir no coração de Faraó Ex 9:14,15,16). O propósito de Deus, em distinção do Seu desejo, está expresso em Ex 8:15 e 19: 4.

Deus desejou que Faraó espontaneamente concordasse em deixar o povo sair do Egito Ex 9:1), mas Deus decidiu não vencer a resistência de Faraó Ex 9:12).

Deus enviou Moisés para persuadir Faraó. Isto mostra o desejo de Deus. Mas Deus, ao mesmo tempo, informou Moisés de que a sua persuasão falharia Ex 7:14). Isto indica o propósito divino, em não vencer a obstinação de Faraó.

Este exemplos não mostram contradição em Deus, pois encontramos paralelo disso nas ações dos homens.

Por exemplo: Uma decisão de um homem (que é um Decreto de um homem em um caso particular) é freqüentemente contrária à sua inclinação natural. Um homem decide sofrer dor física e emocional na amputação de sua perna, embora ele seja constitucionalmente avesso à dor. Seu desejo natural seria escapar da dor física e emocional, mas por razões suficientes para ele, ele decide não escapar dela e submeter-se à cirurgia.

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Se há razões suficientes para um homem tomar decisões dessa natureza, o mesmo deve ser válido para Deus.

D) A crença que Deus é soberano na salvação não afeta a responsabilidade do pecador com respeito a sua reação para com o evangelho

“Por todas as Escrituras há um princípio liderante de que o homem pode perder sua própria alma, e que se vier a perder-se afinal, será por sua própria culpa e que seu sangue estará sobre sua cabeça” (Ryle). Veja Ez.18:31; Jo.3:19; 5:40. Segundo as Escrituras, algumas pessoas não serão salvas, não porque deixaram de ser eleitas, mas porque negligenciaram tão grande salvação, ou como no caso dos pagãos, porque rejeitaram a revelação geral (Rm.1:18 – 27).

III – A ELEIÇÃO INCLUI TANTO O FIM COMO OS MEIOS.

Talvez a melhor ilustração de como Deus predestina tanto o fim como os meios é o caso de Paulo e seus companheiros na tormentosa viagem a Roma (At.27:9-44).

Esta história mostra a harmonia que existe entre os decretos de Deus e os atos humanos.

O mesmo acontece na eleição para a salvação. Para conseguir esse fim, Deus emprega meios naturais e sobrenaturais. A proclamação do evangelho, a leitura da Bíblia, a celebração dos sacramentos, a audição da mensagem por parte dos pecadores, tudo isto são meios naturais. Mas a chamada eficaz, a regeneração, a justificação, etc. são meios sobrenaturais. “Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados e guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora” ( C.F.W., Cap. III, Nº 6.).

IV – A ELEIÇÃO ENCORAJA A IGREJA SER MAIS CRITERIOSA NA ADMISSÃO DE SEUS MEMBROS.

A igreja só deve admitir como membros, aqueles que dão sinais evidentes da sua eleição (1Ts.1:4 e 2Pe.1:10). Que sinais são esses:

A) Semelhança de Cristo - santidade, fé amor... - (Rm.8:29);B) Consciência e obediência ao chamado de Cristo (Rm.8:29, 30);C) Consciência da sua salvação - salvos de que, para que - (2Co.5:15).

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CONCLUSÃO:

A soberania de Deus na salvação nos fornece a única esperança de sermos bem sucedidos na evangelização, haja vista que o homem natural é totalmente depravado (morto em seus delitos e pecados, cego, surdo, aprisionado pelo pecado, filho do diabo... ) e por si só não pode aceitar este evangelho. Em face dessa gloriosa soberania devemos na evangelização ser ousados ( nenhum coração é duro demais para a graça divina ), pacientes ( Deus salva os pecadores no tempo determinado ), e acima de tudo orar, confessando a nossa impotência para converter uma simples alma, suplicando a Deus sua operação graciosa.

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CAPÍTULO III

DEUS E OS MEIOS DA EVANGELIZAÇÃO(Pr. José Santana Dória)*

A teologia cristã fala em meios de graça. A Deus apraz empregar meios para levar os pecadores à fé, como também emprega meios para edificar na fé os salvos. No primeiro caso (levar pecadores à fé), o meio é a palavra de Deus; no segundo (edificar na fé os salvos), os meios são a Palavra de Deus (1Pe.2:2) e as ordenanças divinamente instituídos.

I – A FÉ E A PALAVRA DE DEUS

É questão de suprema importância sustentar que a Palavra de Deus é o único meio indispensável pelo qual o Espírito Santo produz fé no coração dos homens. Embora não signifique que a Palavra sempre age independentemente de todos os outros fatores, nenhum outro fator serve de substituto da Palavra.

O conteúdo substancial da grande comissão é que homens de todas as nações sejam feitos discípulos de Cristo mediante o ensino da Palavra de Deus.

Quase não é preciso demonstrar pormenorizadamente que na era apostólica a evangelização era feita mediante o ensino e a pregação da Palavra. Assim era invariavelmente. Indubitavelmente, evangelização é a apresentação do evangelho, e o evangelho é a Palavra de Deus. Romanos 10:13-17 estabelece o caso de modo sumário. Depois de afirmar: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo”, o escritor inspirado continua: “Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos sãos os pés que anunciam cousas boas!...E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo”. A tarefa do evangelista é confrontar os homens com a Palavra de Deus.

O conhecimento da Palavra de Deus é requisito da fé salvadora. Mais que isso, é elemento constitutivo da fé salvadora [não existe fé salvadora sem que tenha sida gerada da Palavra de Deus. A ordem é primeiro ouvir e depois crê – cf.

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Jo.3:3; 5:24,25 – At.13:48; 18:27. Aquele que crê aplica à verdade revelada na palavra de Deus e se confia ao Filho de Deus para a salvação, mas evidentemente ele não é capaz de fazer nenhuma destas coisas sem conhecer o conteúdo da Escritura. Sem as Escrituras o pecador jamais enxergará a beleza de Cristo (Is.53:2,3). Erram dolorosamente aqueles que premiam a ignorância sugerindo que quanto menos uma pessoa conhece a Bíblia, mais simples e mais forte será a sua fé. A antítese(oposição) de conhecimento e fé é inteiramente falsa. A fé não é nem um salto no escuro nem um jogo. Todo aquele que se entrega ao salvador o faz graças ao conhecimento do Salvador, conhecimento recebido da Santa Escritura.

Costuma-se fazer distinção entre a aceitação das proposições bíblicas concernentes a Cristo e a entrega que alguém faz de si mesmo à pessoa de Cristo. A distinção é válida. Presumivelmente, uma pessoa pode aceitar proposições tais como as de que Cristo nasceu da virgem Maria, que Ele morreu pelos pecadores na cruz do Calvário, e que ressuscitou dos mortos, e ainda assim essa pessoa pode não se entregar à pessoa de Cristo para salvação. Logo, tem somente a chamada fé especulativa ou histórica, como a que Paulo atribui ao rei Agripa quando lhe perguntou se acreditava nos profetas e logo acrescentou: “Bem sei que acreditas”(At.26:27). É um caso de ortodoxismo, ou ortodoxia morta. Contudo, nem por um momento abriguemos o pensamento de que é possível crer na pessoa de Cristo sem crer no que a Bíblia ensina a respeito dele. Isso está inteiramente fora de questão. Portanto, sem pregação genuína da palavra de Deus não existe fé salvadora. A palavra é a única suficiente para levar o pecador enxergar a beleza que há em Cristo, crendo que Ele é o Filho de Deus e, crendo tenha vida eterna.

II – A PALAVRA DE DEUS E A CONDUTA EXEMPLAR

Ninguém tem direito de dizer que Deus não pode usar Sua Palavra para a salvação dos pecadores se essa Palavra é apresentada por uma pessoa não salva. Deus é soberano, e também neste ponto Sua soberania deve ser respeitada. Ele colocou uma profecia esplendidamente bela nos lábios do ímpio Balaão (Nm.24:17-19) e fez o perverso Caifás dar testemunho da expiação vicária de Cristo (Jo.11:49-51). Judas Iscariotes foi um dos doze enviados por Jesus para pregar o evangelho da verdade anunciado por um infiel ou hipócrita.

Entretanto, aquele que ensina a outros a palavra de Deus e não a pratica, não tem direito de esperar que a bênção divina repouse sobre o seu ensino. O

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que ele faz contradiz o que fala. Os homens têm toda razão de censurá-lo, dizendo: “Médico, cura-te a ti mesmo”, e de lhe lançar em rosto o dito vulgar: “o que você faz fala tão alto que não posso ouvir o que diz”.

Vale observar que Deus em soberania pode usar essa “burra” para falar a pecadores. Mas, isso não a isenta da sua responsabilidade (Mt.7:21-23).

Doutro lado, a vida do evangelista piedoso reforçara sua mensagem, como eloqüente testemunho de sua veracidade. No entanto, ninguém deve concluir que vida piedosa e conduta exemplar pode tomar o lugar do Evangelho e torna-lo supérfluo. Com freqüência essa posição é tomada, e não poucas vezes se conta piedosamente algo da vida de Francisco de Assis em apoio dela. Um dia Francisco convidou um jovem monge para acompanhá-lo a certa aldeia com a intenção de pregar o Evangelho ali. Chegando na aldeia, encontraram muitas doenças e grande pobreza. O empenho por aliviar aquela miséria os manteve ocupados o dia inteiro. Ao entardecer, o jovem monge virou-se para Francisco perguntando, preocupado, quando iam começar a pregar. Francisco respondeu: “Estivemos pregando o Evangelho o dia todo”. Se Francisco pretendeu igualar atos de misericórdia à Palavra de Deus como meio de graça, enganou-se.

Os que afirmam que um bom exemplo de piedade pode substituir o Evangelho, não tem base bíblica. Quando Jesus enviou Seus doze apóstolos às ovelhas perdidas da casa de Israel, encarregou-os: “Pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos”(Mt.10:7,8). Deveriam não só curar, mas também pregar. A pregação era, de fato, a sua primeira e primordial tarefa. Eles obedeceram: “Percorriam todas as aldeias, anunciando o evangelho e efetuando curas por toda parte”(Lc.9:6). Quem quer que esteja familiarizado com a carreira missionária de Paulo sabe que ele considerava a pregação sua vocação, e que subordinava a ela as obras de cura.

Há uma passagem da Escritura que, à primeira vista, parece ensinar que em certos casos a Palavra de Deus pode ser ignorada na evangelização, e que o comportamento exemplar pode tomar o seu lugar. O apóstolo Pedro exortou as esposas de incrédulos, dizendo: “Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vossos próprios maridos, para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas, ao observarem o vosso honesto comportamento cheio de temor”(1Pe.3:1,2). Pode-se observar que é quase inconcebível que o marido não crente de uma mulher cristã não tivesse nenhum conhecimento da Palavra de Deus. Mas há outra consideração, ainda mais ponderável. A tradução “sem a palavra”, que aparece em certas versões, não é correta. No original não consta o

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artigo definido. Está certa a tradução que aparece noutras versões: “sem palavra” ou, como a que transcrevemos acima: “Sem palavra alguma”. Portanto, esta frase não se refere à Palavra de Deus e, sim, à palavra da mulher. Numa colocação popular, por seu andar, antes que por seu falar, ela deve procurar ganhar seu marido descrente para Cristo.

É evidente que, embora o evangelista tenha o sagrado dever de reforçar sua mensagem com uma conduta cristã exemplar, a vida piedosa não substitui o Evangelho.

III – A PALAVRA DE DEUS E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

A experiência é da essência do cristianismo. O novo nascimento, sem o qual ninguém pode ver o reino de Deus (Jo.3:3), é uma experiência, embora subconsciente. A convicção do pecado, o arrependimento para com Deus, a fé em Cristo, o crescimento em santidade, são experiências conscientes e tão necessárias como à regeneração.

Contudo, a substituição do evangelho pela experiência religiosa, quer do evangelista, quer do evangelizando, é erro da maior gravidade.

É amplamente difundida e freqüentemente expressa a opinião de que em alguns casos os homens são introduzidos no reino mediante alguma experiência mais ou menos impressionante, com escassa ou nenhuma referência a Palavra de Deus. Por exemplo, dizem de pecadores que se converteram graças a uma grave enfermidade, ou a um acidente quase fatal, ou à morte de um filho querido.

Conquanto devamos insistir em que o novo nascimento é condição indispensável para o exercício da fé salvadora, não há por que negar que Deus pode empregar dessas experiências a fim de preparar psicologicamente os pecadores para receberem o Evangelho. O que é preciso negar vigorosamente é que essas experiências são outro meio de graça em acréscimo à palavra de Deus ou no lugar dela (ex. Os testemunhos atuais, teatro, louvorzão etc).

O ensino de Jesus sobre o ponto em questão é bem claro. Na parábola do rico e Lázaro, o rico, padecendo tormentos do inferno, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. Sendo recusado seu pedido de que Abraão mandasse Lázaro molhar em água a ponta do dedo e lhe refrescasse a língua, fez um apelo de suprema urgência: “Pai, eu te imploro que o mandes `a minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho a fim de não virem

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também para este lugar de tormento”. Mas Abraão respondeu: “Eles tem Moisés e os profetas; ouçam-nos. O rico insistiu: “Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. A resposta de Abraão foi categórica: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”. (Lc.16:23-31). “Moisés e os profetas” eram a Bíblia daqueles dias. É difícil imaginar experiência mais tremenda do que a visita de alguém ressuscitado dentre os mortos. A mais impressionante experiência não salvará aquele que se nega a ouvir a Palavra de Deus. Por isso, não se deve evangelizar pecadores contando o seu passado, como referencial.

IV – A PALAVRA DE DEUS E A ORAÇÃO

Às vezes se fala da oração qualificando-a como meio de graça. Pode-se pensar assim, desde que se lembre que a oração como meio de graça não deve ser igualada – e nem mesmo coordenada – com a Palavra de Deus. A Palavra de Deus e a oração são meios de graça em diferentes sentidos. Deus comunica a graça salvadora pela instrumentalidade de Sua palavra. Com freqüência o faz em resposta à oração.

Podem-se fazer aqui duas breves afirmações que deviam ser totalmente supérfluas, mas talvez não o sejam. Sua veracidade parece que não é evidente para todos.

Orar da maneira mais fervorosa pela conversão dos não salvos, esteja na china ou na casa vizinha, e não fazer nada para que eles conheçam o evangelho de Jesus Cristo, é abominação.

Ser diligente como nunca em levar o Evangelho aos perdidos, e não orar para que Deus abençoe o evangelho no coração deles, para a salvação, é o cúmulo da loucura, pois somente Deus o Espírito pode chamar efetivamente pela Palavra, os pecadores ao Arrependimento.

* Adaptado do livro “Evangelização Teocêntrica” de R.B. Kuiper

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CAPÍTULO IV

A MENSAGEM DA EVANGELIZAÇÃO(R.B. Kuiper)

Na verdade, a mensagem da evangelização é algo muito amplo. Mas, de início, devemos ter sempre em mente que ela é primordialmente cristocêntrica. Nunca em relação ao Cristo da modernidade, o qual não revela a Deus, mas, é simplesmente um bom homem. Um modelo a ser seguido. Mas o Jesus da nossa evangelização deve ser “Aquele que é o resplendor da glória e imagem da Sua substância”, (Hb 1:3).

I- EVANGELHO DE ARREPENDIMENTO

A Palavra de Deus fala muitas vezes em evangelho de arrependimento. João Batista (Mc 1:4,15), a ordem de Jesus que se pregasse arrependimento para remissão de pecados (Lc. 24:47).

É obrigatório que na evangelização, o apelo para o arrependimento deve vir primeiro do que qualquer outra coisa. Só o oprimido pelo pecado perceberá sua necessidade de um salvador.

Embora alguns psiquiatras não concordem com isso,a convicção de pecado é indispensável para que haja fé em Cristo. Para que pecadores sejam levados ao arrependimento, a lei de Deus, que é santa, justa e boa (Rm 7.12), como o próprio Deus é, deve ser pregada, pois “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”(Rm 3:20) Aquele que se olha nesse espelho, só pode desprezar-se a si mesmo.

Há duas tristezas pelo pecado: remorso e arrependimento. Calvino diz o seguinte das duas: “A tristeza do mundo é a que os homens sentem quando se desanimam em conseqüência de aflições terrenas e ficam dominados pelo pesar; enquanto que a tristeza segundo Deus é a que os homens sentem quando olham para Deus e consideram como única miséria o terem perdido o favor de Deus.” A primeira decorre exclusivamente do amor próprio e leva à morte; a segunda tem

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suas raízes na reverência para com Deus e resulta em arrependimento para a salvação.

O arrependimento sentido no coração é indispensável para a salvação, todavia não tem méritos para a salvação. É o próprio dom de Deus, (At 11:18).

Frase de Augusto Toplady “Corressem sempre lágrimas de dor por meus pecados, nunca os apagaria; só Tu me salvas, sim, só Tu, Senhor.”

II - EVANGELHO DE EXPIAÇÃO

O âmago do Evangelho não tem que ver com aquilo que Deus exige de um pecador. Isto é importante, mas não é o centro dele. Como o próprio nome indica, o Evangelho não consiste de mandamento, mas de notícia. São as boas novas que Deus em Cristo fez pela salvação dos pecadores.

Por exemplo: um criminoso está em sua cela e um amigo lhe visita dizendo: Seja bom. Que boa notícia seria essa? Contudo, essa é exatamente a única mensagem que alguns evangelistas têm para os pecadores. Isso não é boa notícia. Para o pecador, a boa notícia é que fora feita provisão para que seja libertado do pecado e do inferno.

A provisão foi feita no Calvário (Is 53:5-6). Jesus foi traspassado pelas nossas transgressões; Ele nos resgatou da maldição de Deus que merecíamos por não perseverarmos em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, fazendo-se Ele maldição por nós (Gl 3:10,13); “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”(2Co. 5:21; Rm 5:18-21).

Esse é o centro do Evangelho. Por Sua morte na cruz o Filho de Deus satisfez plenamente a justiça penal de Deus, em favor dos pecadores.

A teologia modernista torce esse significado quando tenta ensinar que a morte de Jesus visava reconciliar o homem com Deus e não Deus com o homem. Diz-nos então, que como Deus é amor, não tinha necessidade de reconciliar-se como homem, nem que o coração de Deus teria que ser abrandado com a morte do Cordeiro com antigas lendas.

O Pr. Moisés Bezeril diz que muitos pregadores tem feito uma exposição do plano salvador de Deus sempre apresentando o homem como estando distante de Deus, e precisando se reconciliar. É bem verdade que o homem está distante de Deus. Mas o problema é que essa mensagem ensina que Jesus reconciliou o homem com Deus e não Deus com o homem. Parece até que Deus estava

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implorando ao homem que ficasse com Ele, e o homem foi embora, para bem distante de Deus, mas Ele ficou em profunda nostalgia por causa desse fato, e ainda assim espera por uma reconciliação por meio do sacrifício de Seu próprio Filho que traz o homem de volta para Deus. Essa é a pregação que também afirma que Deus ama todos os pecadores igualmente para a salvação. Destitui-se assim o aspecto da ira de Deus sobre o pecador sem Cristo, e prega-se um Deus-avô que faz vista grossa para com as traquinagens dos netos. Mas a Bíblia nos ensina que na história da salvação a parte ofendida pelo pecado não foi o homem, e sim Deus. Logo, quem precisa ser reconciliado é Deus com o homem. Sua Palavra nos ensina que a Sua ira está sobre todos os pecadores que não foram amados para a salvação (Rm 5:10-11; Ef 2:3; Rm 5:9). Jesus não morreu para satisfazer a vontade do pecador, mas sim a vontade de Deus que era vingar na morte do Seu próprio Filho a hediondez do pecado que lhe ofendeu profundamente. Jesus cumpre a Lei e sofre o castigo da mesma para cumprir as exigências da Lei de Deus e não do homem.

Para Bezeril o Evangelho se torna caricatura quando em vez de apresentar um Deus que precisa ser aplacado em Sua ira pelo sangue do Cordeiro, para que o homem seja salvo pelo sacrifício expiatório de Jesus. Esse moderno evangelismo apresenta o pecador cheio de razões e exigências, e até merecendo ser reconciliado, apresentando assim a figura de um Deus que ofendeu ao homem e que espera algum dia, por meio de Jesus conquistá-lo novamente. Mas essa não é a verdade do Evangelho. O Evangelho nos ensina que Deus decretou a morte como salário pelo pecado (Gn.2:17; Rm 6:23). Desviar-se Deus um fio de cabelo da vereda da justiça perfeita seria negar-se a Si mesmo. Mas, se existe alguma coisa que Deus não pode fazer é isso (2 Tm 2:13) Assim, em vez de deixar sem punição o pecado, Ele o puniu pela morte de Seu próprio Filho. Por natureza todos os homens são “filhos das ira” (Ef 2:3). Sobre aqueles que não crêem em Jesus a ira de Deus permanece. Por outro lado, os crentes em Cristo, “sendo justificados pelo Seu sangue” são “por ele salvos da ira” (Rm 5:9).

Um aspecto muito importante do Evangelho que tem sido muito negligenciado pelos pregadores modernos é a obediência ativa de Cristo. Muitos salientam apenas a morte de Cristo, como se Deus somente exigisse um castigo pelo pecado. Mas a verdade é que além do castigo pelo pecado, Deus exige total e perfeita obediência a Sua lei para recompensar com o mérito da vida eterna. Assim, a mensagem do Evangelho não é somente a morte de Jesus, mas a sua vida de obediência ativa à lei de Deus. Cristo foi sem pecado. Somente ele poderia obedecer perfeitamente à lei de Deus, (Rm 5:18,19).

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III - EVANGELHO DA GRAÇA

A expressão “salvação pela graça” não significa outra coisa a não ser “salvação por Deus”. O Evangelho ensina que a salvação é cem por cento do Trino Deus.

Deus o Pai decreta a eleição, dos que hão de ser salvos em Cristo, antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Escolheu-os não porque previu neles algum mérito ou bem, mas por Seu amor (Ef 1:5; Rm 8:29). Esses, o Pai deu ao Filho, sendo a salvação coisa segura, ninguém pode arrebatar da sua mão, (Jo.10:28,29). Aqueles a quem o Pai amou, a esses predestinou para a salvação, (Rm 8:30).

O filho obteve merecimento da salvação. Ele pagou a dívida dos pecadores até o último centavo. Foi esmagado, abandonado em lugar de todos os criminosos merecedores do inferno. Por sua perfeita obediência ao Pai, mereceu para os pecadores a justiça, a vida eterna e glória eterna. Em conseqüência, nada resta que entre na conta dos méritos dos pecadores. Cada um deve dizer “Nada trago em minhas mãos”. O Filho não obteve somente o mérito, mas ele dá também o mérito. Cristo não morreu potencialmente pelos pecadores. Ele morreu efetivamente por eles. Ninguém é capaz de explicar ou entender como pode alguém ter morrido a morte de outra pessoa, e essa pessoa ainda assim morrer. “Espera lá! Morreu por mim ou não morreu? (ela pergunta) E como você me diz que eu ainda estou condenado à morte, se de fato não há nenhuma morte mais para mim, pelo fato de alguém ter morrido por mim?” Esta é exatamente a confusão na qual estão todos aqueles que crêem que Jesus morreu potencialmente. O filho morreu vicariamente, e não potencialmente.

O Espírito aplica a salvação aos pecadores, dando-lhes coração de carne (Ez 36:23-27). Fazendo-os nascer de novo, em conseqüência eles tomam posse de Cristo e de todos os seus benefícios salvadores. A fé salvadora é fruto da regeneração. A regeneração vem antes da fé.

A fé é ato do homem. Não podemos imaginar que Deus crê no lugar dos homens. Seria isso um absurdo. No entanto, devemos enfatizar não menos, que a fé salvadora é dom de Deus. Quando Jesus convida em Jo 6:35 “O que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”, logo em seguida ele afirma “Ninguém pode vira a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo 6:44). A fé é dom de Deus (Fp 1:29; 1 Co 12:3; Ef 2:8; At.18:27).

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Devemos então dizer aos pecadores não salvos que a fé é dom de Deus? Sim, devemos. Devemos contar-lhes toda a verdade sobre esta questão. Deixá-los embebidos no pensamento de que podem crer por um ato de sua própria volição, à parte da graça regeneradora do Espírito é coisa pior do que irresponsabilidade.

Alguns dizem que este tipo de mensagem faz com que as pessoas fiquem revoltadas contra Deus, ou que pode amedrontá-las com a terrível ira de Deus. Assim sendo, o homem não creria por amor, mas por medo.

A primeira coisa que questiono nesse argumento é a falsa idéia do homem compreender a mensagem, e em vez de ser salvo se torne revoltado. O homem natural não compreende o evangelho, e quando compreende ele se torna um salvo pela graça, e não um revoltado. O homem se revolta contra Deus não é por causa do conhecimento da mensagem, e sim porque ele é pecador e não se submete jamais a Deus, reconhecendo sua perdição, e recorrendo à graça salvadora. A causa da sua revolta é o seu pecado e não o Evangelho.

O argumento de que o homem vai a Deus por medo da Sua ira também não se encaixa no ensino do Evangelho. Não há um só texto na Palavra de Deus que nos informe de que o medo produza salvação. Nenhum homem crê em Jesus por medo da ira de Deus. Medo não converte pecador, nem tampouco muda seu coração ou mente, nem faz o homem andar nos estatutos do Senhor, pois a regeneração é obra do Espírito e não do homem.

Um outro argumento que se tem geralmente levantado é o de que a pregação dessa forma fica muito doutrinária, especificando-se assim pontos dificílimos da doutrina cristã e que certamente o pecador não vai entender. Tem que ser uma mensagem simples e de fácil compreensão ao pecador.

A este argumento respondo que o Evangelho não está disponível à capacidade intelectual do pecador. A mensagem é uma verdade espiritual que só é entendida se o Espírito de Deus abrir a mente. Portanto, mesmo que nossa mensagem seja simples e de fácil compreensão, ela só será entendida se Deus assim o quiser. Não interessa se seja ela fácil ou difícil, importa apenas que ela contenha os elementos essenciais do Evangelho com os quais Deus opera a regeneração que produz o arrependimento e a fé salvadora para sua conversão.

É preciso dizer enfaticamente ao pecador que ele tem que crer e que, se não crer, a ira de Deus permanecerá sobre ele. Não se pode imaginar pior dilema do que aquele no qual se acha o pecador não salvo. Ele tem que crer em Cristo. Senão crer estará condenado. Mas ele não é capaz de crer. É preciso cientificá-lo

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desse dilema tremendo. Se o Espírito Santo o tornar ciente disto, o pecador dirigirá o olhar para longe de si, em busca de salvação e se abandonará sem reserva à graça de Deus. É esse precisamente o ato da fé salvadora.

Em João 5:1-9, o paralítico recebeu ordem para fazer exatamente aquilo que ele não podia. Ninguém pense que ele não estava ciente de sua incapacidade. Mas ele sabia também que sua única esperança de ficar bom de saúde estava em fazer justamente aquilo. Conhecendo plenamente a sua condição, esqueceu-se de si mesmo e fixou os olhos em Jesus. Isso é fé. Pela fé ele foi totalmente curado.

IV- EVANGELHO DO NOVO NASCIMENTO

É quase comum em nossas pregações ordenarmos às pessoas que “nasçam de novo”. De fato, não há na Bíblia essa ordem. Aquele momento que Jesus teve com Nicodemos nos apresenta um indicativo, e não um imperativo. O texto de Efésios 5:14 “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos” refere-se à igreja e não à descrentes (vs. 8-11). A razão porque não há na Bíblia ordem para os mortos reviverem é que um morto não pode vivificar-se por si. Por que então ordenar-lhes que ressuscitem? Quando Jesus ordenou à Lázaro para se levantar e vir para fora, ele não estava ordenando-o que Lázaro devolvesse a si mesmo a sua própria vida. Ali estava em evidência a palavra de poder de Jesus.

Seria desnecessário então informar ao pecador que ele tem que nascer de novo? Não. Não devemos dar-lhe ordem para nascer de novo como se isso dependesse dele. Mas em nossa mensagem devemos mostrar-lhe que há necessidade de um novo nascimento operado pelo Espírito Santo, com o mesmo propósito com que Jesus disse à Nicodemos: quebrar a falsa confiança de salvação por obras. O pecador deve ser alertado de que salvação é um nascimento espiritual operado por Deus, e que ele jamais poderá fazer isso na sua própria vida, assim como um morto não pode voltar à vida.

O que se tem popularmente divulgado na tradição evangélica moderna é que o evangelho é de quem quiser. Mas o que nos diz a Palavra de Deus e a experiência do evangelismo é que a recusa do evangelho por parte do pecador não é apenas uma questão do querer ou não querer do homem. Será que há alguém nesse mundo que tendo consciência de tão terrível condenação não queira ser salvo? A verdade é que todos querem ser salvos, mesmo que não compreendam como podem ser. Mas porque nem todos são salvos? Será que não querem? É claro que querem. Mas será que entendem o significado da salvação e

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como ela opera? É claro que não. Por isso poucos se salvam. A eficácia do Evangelho não está meramente em o homem querer, mas em Deus querer, (Rm 9:6). O fato dos discípulos não quererem vir a Jesus em Jo 5:40 é simplesmente porque a eles não lhes foi revelada a verdade salvadora, por isso eles não criam (Jo 5:44-47).

O que também precisa ficar claro em nossas mentes é que a prova da regeneração não está na vida de perfeição sem pecado mas, antes, na profunda convicção de pecado que leva a pessoa a correr para o calvário, ajoelhar-se aos pés de Jesus e bradar: “Lava-me Senhor, senão eu morro!” Um exemplo disso era Nicodemos. Moralmente um bom homem, mas sem salvação, (Jo 3).

V- EVANGELHO COMPREENSIVO

O evangelho, na verdade possui muitos aspectos que não devem ser negligenciados na pregação:

1) O Evangelho é história. A história de Jesus e seu amor, a história de seu nascimento, morte e ressurreição.

2) O Evangelho é doutrina . A interpretação que Deus dá dessa história, particularmente a doutrina da pessoa divina de Cristo e de sua obra expiatória e vicária.

3) O Evangelho é convite. A oferta sincera de salvação feita por Deus a todos os que são alcançados pelo Evangelho. E entenda-se bem, esse convite é incondicional.

4) O Evangelho é promessa . A promessa de vida eterna que Deus faz a todos os que, para a salvação confiam no Cristo divino e em sua obra redentora.

5) O Evangelho é exigência . É exigência de Deus que os homens creiam em Cristo. Aqui se fundem a Lei e o Evangelho. O Evangelho se torna Lei.

6) O Evangelho é uma ordem. Dada por Deus àqueles que confiam em Cristo, para que, com igual satisfação, também O sirvam como o Rei de suas vidas.

VI - O EVANGELHO EXCLUSIVO

Os pregadores do Evangelho devem conservar em mente a total exclusividade do Evangelho de Cristo. Sem o conhecimento desse Evangelho é impossível ao homem ter alguma chance de salvação por algum atalho.

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Imaginar que pessoas sejam salvas em outras religiões sem o conhecimento desse Evangelho é admitir que Deus tenha Se revelado de uma outra forma que não o Evangelho. Muitos até afirmam que têm “irmãos” na Igreja Católica, simpatizando com alguma forma de ecumenismo cristão. Mas esse pensamento não passa de uma conjectura teológica. Só podemos concordar até onde se ensine que em todas as religiões do mundo existam eleitos que ainda não foram chamados. Estão debaixo da ira de Deus até o dia de sua justificação. A ordem da salvação ensinada no Novo Testamento é: 1)Conhecimento (uma forma de relacionamento com o eleito), 2)Predestinação, 3)Vocação, 4)Justificação, 5)Glorificação, (Rm 8:29-30)

Afirmar que na Igreja Católica Romana tem vocacionados para a salvação é perverter completamente a natureza e o caráter de Deus, e comprometer a Sua santa Lei com o pecado. Não podemos admitir que haja vocação sem reforma. A vocação corresponde à regeneração e conversão (fé, arrependimento e santificação). Onde podemos encontrar tudo isso em alguém que nem sequer crê em Jesus suficientemente para sua salvação. Pode-se então encontrar salvação naqueles que tentam outro caminho para a salvação que não Jesus? Pode-se encontrar salvação naqueles que negam a eficácia da obra de Cristo para a salvação do pecador? Pode-se imaginar um católico salvo por si mesmo através de suas próprias obras e obediência à Lei de Deus? O problema dos Católicos Romanos é que eles anulam totalmente o plano evangelístico através do qual Deus determinou salvar o homem.

Portanto, quem quer que afirme tamanha mentira, está totalmente equivocado sobre o Evangelho, nem sequer também conhece a Cristo, nunca teve experiência de salvação, e está totalmente perdido porque considera válido o caminho romano das boas obras para a salvação.

VII - O EVANGELHO OFENSIVO

Muitas pessoas estão mais preocupadas em não ofender o pecador do que com a salvação do mesmo. Tenta-se então dizer-lhes a verdade que machuca com palavras brandas. Mas não podemos correr tal risco porque mais do que não ser ofendido ele precisa ser salvo. E Deus escolheu salvar o homem por meio de palavras ofensivas ao ego do homem.

Pode-se imaginar quão duro foi aquele diálogo com Nicodemos! Naquela noite, Nicodemos esforçou-se para ir ter com Jesus. Chegou perto do mestre com palavras bonitas de elogio: “Rabi, sabemos que és mestre da parte de Deus,

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porque ninguém pode fazer os sinais que tu fazes.” Mas Jesus deu-lhe uma resposta que sei com certeza que poucos diriam: “Você é um homem perdido”.

Um outro episódio do Evangelho ofensivo está em João 6. Ali parece ser a expressão mais ofensiva do Evangelho, pois os próprios discípulos reclamaram disso: “Duro é este discurso” (v.60) e “já não andavam com ele”.

Por quais razões este Evangelho é ofensivo?

Primeiro é que o Evangelho anuncia a salvação do pecador pela graça somente. Isto é muito humilhante para o homem, o qual, amante de si mesmo, sempre tem em mente ser merecedor de algo. E certamente, o que mais lhe fere é a questão do Evangelho não reconhecer nada de bom nele, apontando-o sempre como condenado, sem nenhuma chance de salvar-se por si mesmo.

Segundo, é que o Evangelho de Cristo pretende ser exclusivo na salvação do homem. Deste aspecto do Evangelho, nem mesmo os “crentes”, dentro das igrejas evangélicas gostam. Eles detestam a afirmativa “solus Christus”, pois entendem que junto com Jesus é eficiente a obediência à lei para a salvação. E até hoje, essa é uma pregação tradicional em muitas igrejas evangélicas arminianamente históricas. Crêem os crentes que perdem e ganham salvação dependendo da obediência, e assim falham no “Solus Christus”, Jesus não é suficiente para a salvação do homem.

Nenhum crente fiel à obra de evangelizar deverá fugir do caráter ofensivo do Evangelho. A mensagem do Evangelho que não ofende o homem por constrangê-lo em seus pecados certamente não fala nada à mente e ao coração do pecador sem Cristo. Nunca deveríamos estar procurando admiradores do Evangelho (como Nicodemos), ou amigos do Evangelho. O pregador do Evangelho sempre deverá estar procurando inimigos do Evangelho, pois é com eles que Deus quer fazer a reconciliação, (Rm 5:10-11; Jo 9:39-41).

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CAPÍTULO V

A CARICATURA DO EVANGELHO DE CRISTO Moisés Cavalcanti Bezerril

A avaliação que ora passo a apresentar visa tão somente redirecionar a Igreja de Cristo ao ponto de partida da nossa tradição apostólica quanto à evangelização do pecador. Meu maior interesse aqui não é apresentar nenhuma disputa sobre qual método de evangelização produziria o maior número de convertidos para o Reino de Deus, pois isso não é a nossa primeira preocupação.

Com que estamos preocupados afinal?

Minha maior preocupação é com o rumo que estamos tomando a cada dia na tarefa de evangelizar o mundo. A questão na qual eu estou mais interessado é saber se a pregação, os meios e os métodos modernos do evangelismo hoje estão realmente produzindo os verdadeiros crentes que devem compor a Igreja de Cristo.

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO EVANGELHO MODERNO?

I - UM EVANGELHO EXISTENCIALISTA

A ordem de Jesus em Lucas 22:47 é que se pregasse o arrependimento para a remissão dos pecados.

Em todo Novo Testamento não existe sequer uma ordem para mudar essa prioridade.

No entanto, o evangelismo moderno tem concentrado esforços em oferecer algo que atraia o pecador. Na verdade parece uma armadilha para pegar um animal por meio de algo que lhe seja de extremo interesse.

Nos vários programas modernos de evangelismo, os métodos e estratégias tem sido algo de maior interesse do que a própria Palavra de Deus. Não interessa o que vai ser pregado. O que interessa é como vai ser pregado.

Mas o que queremos enfatizar ainda não é bem esse aspecto. O aspecto existencialista do evangelismo moderno é que as pessoas não entendem outra

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coisa com os termos “igreja” e “evangelho” além de “clínica” e “solução”. Tenho ouvido programas evangélicos de rádio que não passa de puro existencialismo. Todas as pessoas estão apenas interessadas em seus próprios problemas durante todo tempo. Procuram o Evangelho por causa de algum lucro, solução, ou resolução de seus próprios problemas. Os cultos não são para glorificar a Deus, mas para fazer um “negócio” com Deus. O Evangelho não oferece vida eterna, mas tão somente curas e toda espécie de solução de problemas. Assim, as igrejas que compartilham desse tipo de evangelismo estão abarrotadas, não de verdadeiros crentes que foram constrangidos pela verdadeira pregação do Evangelho, mas de pessoas que estavam sufocadas com suas próprias questões existenciais e foram atraídos pela isca do evangelho existencialista. A grande maioria das músicas desse tipo de evangelismo geralmente tem letras existenciais. Essas pessoas parecem viver tão somente para com seus próprios problemas sem fim, e fazem deles o motivo de sua religiosidade. Parece até que se não houvessem tantas questões existenciais, dificilmente alguém teria alguma razão para cultuar.

O Evangelho se torna caricatura quando ele é apresentado apenas como promessa de alívio dessas questões. O resultado desse tipo de evangelismo é que no final as pessoas não se lembram nem porque estão na igreja. O Evangelho foi apenas a isca do anzol.

II - O EVANGELHO DA APELAÇÃO

O evangelho da apelação consiste em apresentar um Deus sempre triste e magoado com o homem porque ele resiste-O de muitas formas. E assim, muitas músicas são feitas apresentando a Deus pedindo “pelo amor de Deus” que o homem Lhe dê guarida em seu coração. Não é errado que dizer que Deus faz apelo ao homem. Ele sempre o fez através dos seus santos profetas e apóstolos. O problema é o tipo de apelo que muitos ensinam que Deus faz. Jesus é apresentado como um pobre bom homem que está sempre batendo no coração do pecador e volta sempre triste e abatido porque ninguém lhe abre a porta.

O Evangelho se torna caricatura quando resulta mostrando a figura de um Deus tão fraco, pequeno e impotente quanto qualquer ser humano. Um Jesus de propósitos frustrados, e que vive a maior parte do tempo triste com o homem, pois está saturado de tanto o pecador bater-lhe a porta na cara. Nesse pensamento, a Divindade parece ser vítima inevitável da vontade soberana do homem.

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Com certeza, esse não pode ser o Deus e o Jesus do verdadeiro Evangelho que apresenta Deus como sendo o Soberano em toda a obra da salvação, (Ef 1:1-14).

III- UM EVANGELHO PRAGMATISTA

Por pragmatista entenda-se aqui “estratégico”. A forma de evangelização do pecador, por alguns movimentos modernos tem se assemelhado tão tecnicamente a uma empresa, que hoje é possível até mesmo contratar “técnicos” eclesiásticos para fazer uma “consultoria” da igreja e após cansativos cálculos e confecção de gráficos, o técnico chega exatamente ao âmago do problema que impede a igreja de crescer, e a proposta da solução para o seu crescimento.

Pensa-se o tempo todo em estratégias. Gasta-se muito apenas com aquilo foi aprovado como sendo produtivo. O importante é que haja produção. O aumento de pessoas dentro da igreja é apontado como um bom sinal de crescimento. Todas as providências quanto às estratégias a serem tomadas devem proceder como a administração de qualquer negócio bem ou mal-sucedido.

Tudo o que funciona deve ser aproveitado na tarefa de fazer a igreja crescer, independente de qualquer fundamento bíblico.

O Evangelho se torna caricatura quando os pregadores só conseguem enxergar o aspecto físico do reino de Deus, e passam a administrá-lo como suas empresas. Gastam muito tempo em estratégias e metodologias, e pouco se esmeram na Palavra de Deus. A igreja inevitavelmente, na mente desses homens se torna uma empresa. Li uma entrevista com um pastor neo-pentecostal que falava dos “lucros” e “prejuízos” de sua igreja.

A visão espiritual do Evangelho é perdida quando os pregadores não são mais profetas enviados, mas sim negociantes que sempre estão interessados no retorno dos “investimentos” feitos na “empresa”. Geralmente são os primeiros a desanimarem, quando a pregação deles não tem muito efeito de imediato. Só querem pregar quando há sinal de produção. Esses pregadores esquecem-se que Deus nos ordenou pregar o Evangelho não foi somente para a produção de convertidos. A mensagem do Evangelho é também um veredicto de condenação sobre o homem. Muitas eram essas mensagens dos profetas do Velho Testamento que saíam para pregar já sabendo que ninguém se converteria. Mas eram enviados por Deus. A mensagem do Evangelho não visa apenas colocar

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pessoas na Igreja de Cristo, mas também decretar o justo juízo de Deus sobre toda impiedade.

Ler anexo 07 ( fidelidade na evangelização – Gilson Carlos de S. Santos)

IV - UM EVANGELHO DE EVIDÊNCIA NUMÉRICA

Em nossos dias, parece haver uma concorrência em todas as áreas da vida do homem. Isso porque de certa forma a população do mundo tem aumentado, e a vida tem sido muito disputada em todos os sentidos. A mentalidade frenética de número, produção, lucro, e concorrência do mundo moderno tem afetado demasiadamente a mentalidade dos evangelistas do nosso tempo.

Geralmente conserva-se a idéia de que o número e a produtividade da igreja avaliam sua natureza e sua originalidade. Em poucas palavras: igrejas grandes é sempre sinal êxito e de aprovação de Deus.

Nos U.S.A a igreja que atualmente está com um crescimento espantoso é a dos homossexuais. O Espiritismo sempre foi a religião que mais cresce no Brasil. A Igreja Mórmon é reconhecida pela eficácia de seus missionários que em pouco tempo fundam igrejas sempre cheias. Nunca vi um Salão das Testemunhas de Jeová com pouca gente. Os movimentos neo-pentecostais mais escandalosos e que caem perfeitamente no perfil neotestamentário do falso profeta são os movimentos que mais crescem hoje em no Brasil.

Nunca foi verdade que o crescimento numérico é o aferidor da natureza da igreja de Cristo.

O Evangelho se torna uma caricatura quando os evangelistas olham para o homem como mais um número, e não como mais um pecador que carece profundamente da graça salvadora de Jesus para ser salvo. Os olhos de tais evangelistas estão mais interessados nos pecadores para preencherem seus relatórios, ou tirar lucro financeiro para sua igreja, do que movidos de compaixão pela alma perdida daquela pessoa.

V - UM EVANGELHO DE OBRAS

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É muito comum se criticar a Igreja Católica Romana pela sua pregação de salvação por obras. Mas o que dizer dos evangelistas protestantes que ensinam a mesma mentira da Igreja Romana?

A verdade é, que sem perceber, muitos evangelistas estão ensinando um caminho de obras para os pecadores igual faz a igreja de Roma. Geralmente eles ensinam que Jesus é suficiente para salvar o pecador. Mas essa idéia de suficiência em sua mente nunca se identifica com a suficiência do pensamento reformado “Solus Christus”.

O evangelho que tem sido pregado é exatamente aquele evangelho de obras em que o crente tem que obedecer para manter a sua salvação, ou se pecar termina perdendo-a . O mesmo que diz que se pecar perde a salvação, é o mesmo que diz que se obedecer torna a ganhá-la de volta. Essa mentalidade é de obras porque sempre imagina em fazer algo para obter de Deus mérito de vida eterna. Crêem que Jesus sozinho não é suficiente para salvar o pecador e mantê-lo salvo. Esses crentes imaginam que estão ajudando a Jesus em sua mediação por nós. Nunca descansam somente em Jesus pela fé para sua salvação. Ao contrário, agonizam diariamente na luta com seus próprios pecados, sempre tentando escapar de perder a salvação. Os mesmos dormem salvos e acordam condenados. Não conseguem sequer passar um só minuto convictos de vida eterna, pois não sabem com certeza quando poderão pecar novamente e cair do estado graça. Pobres miseráveis que estão à mercê de suas próprias sortes!

O Evangelho torna-se uma caricatura quando ele já não consegue mais ensinar a suficiência de Jesus para a salvação. É absurdo alguém afirmar que Jesus é suficiente para sua salvação, e que foi salva pela fé em Jesus, e no entanto admite que o crente tanto pode perder quanto ganhar a salvação, dependendo de sua obediência. Alguém que pensa assim jamais conheceu o verdadeiro significado do Evangelho de Cristo. Ou melhor, jamais conheceu a Cristo, pois o Cristo que ele conhece é impotente para salvá-lo totalmente. É estranho imaginar alguém que diz ser salvo pela graça e, no entanto conserva uma mentalidade de obras.

É tremendamente difícil para eu imaginar que alguém que diga conhecer o Jesus do Evangelho e conserve uma brecha para suas próprias obras seja salvo.

Qualquer brecha para uma mentalidade de obras no plano salvador de Deus declara que o pecador ainda permanece condenado, debaixo da ira de Deus, (Gl 2:16).

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VI - UM EVANGELHO INOFENSIVO

É um evangelho inofensivo pelas seguintes razões:

a) Porque tenta agradar o ouvinte com uma mensagem que o cative no auditório, e não na Igreja. Geralmente oferecem-se cargos ou qualquer outra atividade para segurar o não convertido na igreja. É preocupante o número de pessoas que estão na igreja, que já se batizaram e até exercem cargos simplesmente porque um dia se agregaram à igreja por motivo de um passeio, pic-nic, ou qualquer interesse que as cativou ali, sem nunca terem passado por uma verdadeira conversão. A igreja entendeu que essas pessoas eram crentes e perguntou-lhes se não queriam se batizar. Ninguém deve perguntar se querem se batizar, apenas deve-se instruir sobre o significado do batismo e de sua necessidade, mas nunca forçar ou constranger alguém a desejar os sacramentos.

b) Porque tenta agradar o pecador com uma mensagem de obras, produzindo uma falsa segurança de salvação. Geralmente no apelo o pregador já vai impondo as condições de obediência dizendo-lhe sempre o que ele deve "fazer" para se manter salvo. Geralmente, essas mensagens de obras fazem os pecadores crer que podem perder a salvação a qualquer pecado, e que podem retomá-la voltando à obediência novamente. É da própria natureza do homem querer operar sua própria salvação, pois assim ele não tem que se submeter a uma vontade de alguém, mas fará a sua própria. A mensagem de obras agrada a todos porque todos operam como querem e não como Deus quer. Além do mais, dá poderes ao homem para ele decidir o que fazer e como fazer para ser salvo, podendo o mesmo operar suas obras mesmo estando em pecado. Assim, a mensagem de obras agrada porque ela é conivente com o pecado. Todo pecador gosta de pecado e jamais se agradará com uma mensagem que seja contra sua vida pecaminosa.

c) Porque tenta agradar o pecador com uma mensagem sempre de amor. A maioria dos pregadores estão mais interessados em dizer que Deus ama aquele pecador, do que dizer-lhe que ele está debaixo da ira, e conseqüentemente condenado. Ninguém que não esteja em Cristo Jesus pode ter a experiência do amor salvador de Deus. Esse amor é descrito como estando em Cristo Jesus (Rm 8:39), e só experimentam este amor aqueles que estão em Cristo Jesus. Para os pecadores que não estão em cristo Jesus, o que lhes resta é a amarga experiência da ira de Deus sobre aqueles que ainda permanecem em rebelião com Deus e são declaradamente Seus inimigos, (Rm 5:10-11). Não se deve dizer

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logo ao pecador que Deus o ama. Como poderá entender isso se ele nem sequer nasceu de novo? Uma outra pergunta que sempre faço é: Que tipo de amor pretende-se dizer quando se diz ao pecador que Deus o ama? Certamente tal pregador deve estar falando que Deus se importou com a humanidade perdida, não deixando-a à mercê de seus próprios pecados. O mesmo pregador deve pretender, com a mensagem do amor de Deus, falar a respeito da misericórdia e longanimidade de Deus, mas nunca deverá querer dizer que Deus ama o pecador e ainda assim ele permanece perdido. O amor salvador de Deus é somente para os Seus eleitos. Os não eleitos perecem exatamente porque não foram amados, mas, sobre eles permanece a ira condenadora de Deus. Além do mais, essa mensagem do amor de Deus pelo pecador sem Cristo causa no homem um certo conforto, pois o mesmo pensará que Deus, de certa forma, está satisfeito com ele, pois o ama. A mensagem do Evangelho deve provocar desconforto no homem dizendo-lhe que Deus está totalmente insatisfeito com o pecador, e que sua posição diante de Deus não é confortável, mas de total desconforto, pois ele, ainda sem Cristo, é inimigo de Deus. Só Jesus desfaz essa inimizade, estabelece a paz e torna possível o verdadeiro amor de Deus pelo pecador.

d) Porque tenta agradar o pecador com uma mensagem que não seja "escândalo" ou "loucura". Neste ponto, muitos pregadores têm tentado mudar a natureza ofensiva do Evangelho para dar certo ou com as expectativas do ouvinte, ou com suas necessidades racionais. Assim, muitos pontos do Evangelho tem sido racionalizados e contextualizados às necessidades dos pecadores, comprometendo profundamente a natureza do Evangelho. Quando Paulo afirma em I Co 1:23 que o Evangelho é loucura para os gentios e escândalo para os judeus, é porque o Evangelho frustra as expectativas próprias daqueles dois povos que queriam adornar o Evangelho de Cristo de conformidade com suas próprias vontades. Mas o Evangelho de Cristo é ofensivo em sua natureza porque sua mensagem é contrária a vontade humana. "Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." (Jo 1:13)

Todo pregador do Evangelho não deve estar preocupado em não ofender o pecador com o Evangelho. Devemos nos lembrar que a mensagem do evangelho não visa fazer "amigos" do Evangelho, mas sim inimigos, pois é com eles que Deus quer fazer a reconciliação (Rm 5:1-11).

O que temos hoje?

Uma igreja que busca a aprovação do mundo – Ler anexo 05 (apascentando ovelha ou entretendo bode - Spurgeon)

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CAPÍTULO VI

A EVANGELIZAÇÃO DE JESUS CRISTO (Mc.10:17-27)Pr. Dória*

I- PREGAVA O CARÁTER DE DEUS – Mc. 10:17, 18

O jovem descrito neste texto merece nossa admiração! Porque?

a. Era religioso e preocupado com sua vida espiritual. Ajoelhou-se diante de Jesus e queria se assegurar da sua “vida eterna”. (v.17). O seu desejo era tal que nem aguardou por um encontro a sós com Cristo, mas diante de todos pergunta o que deve fazer para herdar a vida eterna.

b. Era moralmente correto. “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v..20). Sua vida era pura, casta, era honesto com seus negócios, respeitava aos pais, não mentia, desde a infância tinha aprendido todas estas coisas e as praticava (v.19)

c. Era rico. Era bem sucedido no mundo dos negócios e “era dono de muitas propriedades” (v..22). Era um homem de posição (Lc.18:18), possuía muitas propriedades (Mc.10:22)

Não seria extraordinário ganhá-lo para Cristo? Qualquer evangelista não ficaria sonhando com sua conversão e iria divulgar isso como tendo ganho um grande troféu? Não é isso que os pregadores sentem quando uma personagem importante se converte com sua pregação? O que nós faríamos nesta circunstância? Penso que faríamos o que a maioria dos evangelistas de hoje fariam: Perguntaríamos: Você acredita que é um pecador? Que Cristo morreu por você? Você não aceita Jesus como Seu Salvador? Você não quer receber segurança de salvação agora, neste momento? Ore comigo...faça sua decisão agora... e é bem provável que ele respondesse afirmativamente. Seria uma “decisão” rápida. Faria parte da estatística dos convertidos da Igreja e logo estaríamos espalhando isso por todo canto onde fôssemos.

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Mas o que Jesus fez? Tratou-o rispidamente, começou a reprová-lo e exigiu um esforço imenso ao recomendar que cumprisse os mandamentos e por fim “perdeu o peixe”. Será que Jesus não era um bom evangelista?

A resposta de Cristo inicialmente foi dirigida, não à pergunta do jovem, mas ao tratamento que ele dispensou-Lhe: “Bom mestre”. Jesus recusou aceitar o cumprimento. Seria apenas um bom mestre? Ele ignorava que Jesus fosse de fato Deus, pois só Ele é de fato bom, essencialmente bom. Por que Jesus insiste neste ponto aparentemente sem valor? Era apenas um cumprimento respeitoso. A verdade é que Jesus aproveitou esta oportunidade para repreendê-lo, como repreende, ainda hoje, aqueles que estão prontos a elogiar homens e não possuírem reverência e temor em relação a Deus.

Aqui vemos o assunto que queremos tratar nesta primeira aula. Jesus queria honrar a Deus e estabelecer o respeito devido por Seu caráter. Jesus queria chamar a atenção do jovem para os atributos de Deus: Santidade e Bondade. Um Deus Santo!!

Jesus amava aquele jovem (v..21). Jesus chorou por Jerusalém, mesmo que não fosse um amor especial que ele tem por seus eleitos. Mas ela amou o jovem! Isso é uma condição essencial para todo evangelista: amar o pecador.

Mas esta não é a motivação suprema do evangelista, como não era de Jesus. Ele queria glorificar o Pai! Essa era a Sua vontade demonstrada em todas as Suas ações: demonstrar a glória do Pai aos homens. “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo.17:4). Este é o maior compromisso do evangelista: a glorificação de Deus! Não temos visto isso na nossa vida, temos de confessar. Antes de amarmos aos pecadores, temos de amar a Deus e por isso sermos movidos a amar os pecadores. Só assim podemos amar e ter paixão pelos pecadores.

Qual foi a mensagem de Jesus?

O rapaz estava preocupado consigo mesmo mas Jesus “virou a mesa”. O jovem fez uma pergunta e antes de respondê-la, Jesus queria esclarecer um ponto crucial: Ele viera para exaltar o Pai antes de salvar pecadores.

Isso fica demonstrado no evangelismo de Jesus e deve estar presente em todo evangelista: pregar os atributos de Deus. Jesus fez isso com a mulher samaritana quando disse que Deus é Espírito (Jo.4), e o mesmo fez Paulo no Areópago, quando começou dizendo que Deus é o Criador e mantenedor da vida, o Todo Poderoso que ressuscitou a Jesus dos mortos. Dessa forma Deus será honrado na nossa pregação. Isso é muito diferente da pregação de hoje que se

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centraliza na capacidade do homem. A pregação centrada em Deus mostra o estado decaído do homem e que a única esperança de salvação está no poder de Deus que não deixa o pecado do homem em branco, mas exige que os homens clamem por perdão aos pés do Deus Santo. O Deus com quem lidamos é triplamente Santo. Por isso tiremos os olhos de nós mesmos os fixemos no Deus Santo das Escrituras e assim nos veremos como realmente somos: miseráveis pecadores. É assim que devemos proceder ao evangelizar.

Sem saber quem é Deus o pecador não saberá a quem ofendeu e que sobre ele está a ira deste Deus Santo que não tem por inocente o culpado. Dessa forma faremos com que o pecador se sinta como Isaías no cap.6:5 - “Ai de mim que estou perecendo”. Aquele jovem rico precisava saber quem era Deus e Seus atributos. Ele era religioso, mas isso não é o suficiente, ele precisava se confrontar com a glória de Deus.

Isto está encoberto dos nossos evangelistas hoje quando apenas falam do “bem estar eterno”, mas se esquecem da pergunta crucial: “Quem é Deus?” A quem o pecador está ofendendo, a quem você está ofendendo? Os pecadores precisam saber que este Deus Santo é JUIZ! Hoje o que ouvimos é esta expressão: “Deus o ama e tem um plano maravilhoso para você, para sua vida!” Porém a Bíblia fala com muito maior freqüência da santidade de Deus do que do Seu amor. Por que? Porque os homens têm a tendência de primeiro se lembrarem dos atributos que lhe favorecem do que aqueles que podem lhes trazer ameaça.

Os liberais pregam só o amor de Deus e isso é apenas parte da verdade. É bom lembrar que uma verdade parcial, apresentada como sendo o total, torna-se uma mentira! É isso que vemos na pregação do século vinte, um Deus meloso que jamais feriria uma pessoa. Dizer que Deus está com a espada afiada da Sua ira santa apontada para os pecadores depravados e corruptos, e contra eles já armou o Seu arco com setas inflamadas (Sl.7:12-13), é algo ausente da pregação evangelística de hoje e até abominada.

Deus é amor, mas na conversa de Jesus com o jovem rico Ele não o confortou na sua ignorância a respeito de Deus, mas despertou-lhe temor ao afirmar que só Deus é essencialmente bom, e Santo. O problema é que os pecadores imaginam um Deus tão flexível que não punirá de forma alguma os homens. Quando você, na sua evangelização, pede que pecadores venham à frente, depois de lhes dar três ou quatro “regrinhas” de como ir para o céu, está enganando estas pessoas e a você mesmo. Você pode levá-las orar a Deus,

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repetindo sua oração, mas quando elas repetem a palavra “Deus”, elas estão orando a um Deus desconhecido, um Deus que elas não sabem quem é.

Por isso Paulo pergunta; “Como crerão naquele de quem não ouviram?” (Rm.10:14). Os pecadores têm de conhecer este Deus a quem têm de clamar por salvação, pois a “salvação pertence ao Senhor” (Jonas 2:9) . Não podemos eliminar a doutrina da pessoa de Deus, do Seu poder e glória no nosso evangelismo.

“Que farei para herdar a vida eterna?”, perguntou o jovem rico. Você tem de clamar a Deus, mas antes de entrar em Sua corte deve saber que Ele é Santo, Santíssimo, e que apenas um raio de Sua glória o consumiria para sempre. A Bíblia diz que “...nosso Deus é fogo consumidor” (Hb.12:29). Você tem de clamar por misericórdia e não pense que está fazendo um favor por “aceitar a Jesus” quando lhe pedem que dê uma “chance a Jesus”.

Por isso, a pregação “açucarada” de hoje não é evangelismo! Mas o que temos de fazer é apresentar todo conselho de Deus, e que Deus é criador, sábio e santo e que faz exigências ao homem: que morra para si mesmo, que clame por misericórdia, que entre pela porta estreita. Este foi o Evangelho que Cristo pregou, que Paulo pregou, que Agostinho pregou, que Calvino pregou, que John Knox pregou e que nós devemos pregar nos nossos dias.

Pregar os atributos de Deus é de relevância hoje para quebrarmos com este tradicionalismo moderno que insiste numa pregação de cinco minutos; num apelo por decisão e uma conversão imediata; que esconde a santidade de Deus e a Sua lei, necessária para mostrar a verdade do coração do homem, depravado, corrupto e totalmente impossibilitado de se salvar diante de um Deus que não perdoa o culpado, a menos que ele se dobre diante da Sua soberania e clame como o publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador”. Aprendamos com Jesus quando evangelizava este jovem rico. O seu método deve ser o nosso método. Não tenhamos receio de “perder o peixe”, mas sejamos antes fiéis a Sua Palavra. Mostre o caráter de Deus: Deus Santo.

II - PREGAVA A LEI DE DEUS – Mc. 10:19-21a

Aqui Jesus começa a responder a pergunta do jovem rico. Também começa a ficar mais marcante a diferença do evangelismo de Jesus com o evangelismo moderno.

Depois de falar sobre o caráter santo de Deus, Jesus passa a falar sobre a Lei, os Dez Mandamentos, a lei moral. Esta revela o caráter de Deus. Jesus usa a

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lei para levar o jovem a refletir sobre o seu pecado - ele “quebrava” os primeiros mandamentos.

Mas Jesus começa responder ao jovem citando os mandamentos da segunda tábua, os cinco mandamentos seguintes. Ele havia, num certo sentido, apresentado os quatro primeiros quando o adverte quanto ao caráter de Deus, que é santo e por isso não devemos adorar outros deuses e de como devemos adorar o verdadeiro Deus. É a relação do homem para com Deus. É claro que Jesus não estava afirmando que ele poderia ser salvo pelas obras. Não é o que diz Gálatas 2:16. Então, porque esta atenção com a Lei?

Jesus era um grande evangelista e sabia que a Lei é um elemento essencial na pregação do Evangelho, porque é por ela que “vem o conhecimento do pecado” (Rm.3:20). Pregar a lei não tem sido comum nos nossos dias.

Enquanto Jesus recomendava a obediência à Lei, o jovem devia esta se auto-absolvendo, pois não era adúltero, não matava não roubava etc... Isso muita gente pensa. Mas Jesus continuou pressionando até que no final os olhos do jovem são abertos, e pela Lei pode ver que era um terrível pecador.

O que é pecado? É qualquer transgressão da Lei de Deus. É o que João diz em I Jo.3:4 - Iniqüidade é uma palavra grega que significa transgressão. É necessário se pregar a Lei e se expor com isso a gravidade do pecado. Hoje no nosso evangelismo temos a tendência de ir o mais depressa possível à cruz. Mas a cruz fora do contexto da lei não tem significado. Por que? Sem a Lei o sacrifício de Jesus não é nada mais do que alguma coisa trágica (apenas) e não se percebe que sua obra expiatória na cruz é exatamente a justiça divina sendo satisfeita, quando o Pai derrama Sua ira contra a quebra da Sua lei. E fez isso, não sobre nós, como merecíamos, mas sobre o Filho. A quebra da Lei nos levaria a morte eterna como “salário”. Mas Cristo foi colocado como substituto nosso, como propiciação, porque quebramos a Lei e nada podíamos fazer para desviar a ira de Deus.

Para o jovem moralista era necessário perceber quem de fato era. Isso a Lei lhe mostraria, não de uma forma superficial como é comum hoje em dia. O pecador precisa entender o quão grave é o pecado, o quão grave é transgredir a Lei a ponto de levar Cristo, o Filho de Deus a ser cravado em uma cruz. E isso Ele fez para poder salvar pecadores depravados e sem qualquer possibilidade de salvação. Tudo isso desperta no pecador o desejo pela misericórdia e graça de Deus.

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Paulo afirma que “não conheci o pecado senão pela Lei” (Rm.7:7). A Lei faz o pecador clamar por misericórdia, pois vê que está perdido. Mas os púlpitos estão ignorantes do capítulo 20 de Êxodo. O diabo tem conseguido convencer os pregadores de que a LEI é incompatível com a graça, incompatível com o AMOR. Mas a Bíblia nos ensina o oposto, pois há afinidade entre os dois: Leia Mt.22:37, 39,40. A Lei elucida as exigências do amor. “Se me amardes guardareis os meus mandamentos” (Jo.14:15), “Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo.14:21).

É verdade que a salvação é pela graça, por meio da fé, mas a Lei deve ser apresentada “para que toda boca esteja fechada e todo mundo seja condenável diante de Deus... Porque pela Lei vem o conhecimento do pecado” (Rm.3:19, 20). A Lei traz ao pecador a convicção de pecado. Um puritano (Samuel Bolton), disse que quando nós notarmos os homens feridos pela lei, então está na hora entregar o bálsamo do Evangelho.

O jovem precisava aprender que a Lei é “espiritual”, e que assim nos leva a exigências mais profundas em relação aos pensamentos e intenções do coração, por isso Jesus usa-a para ferir a alma dos pecadores. Ele não dá explicações da Lei como fez no sermão do monte, mas quando diz ao jovem: “... vende tudo que tens e dá-os aos pobres”, Jesus pregava o décimo mandamento - “Não cobiçarás”. Este pecado estava encoberto aos olhos daquele jovem. Quando o Senhor Jesus faz essa exigência, a Lei de Deus, como um dardo, perfurou a consciência daquele príncipe pela primeira vez.

Perceba a sabedoria de Jesus. Se Ele tivesse dito: “Não cobiçarás”, o jovem responderia que nunca desejou a riqueza de ninguém, que estava satisfeito com o que tinha. O que Jesus faz é traduzir de forma prática, através desse teste, o décimo mandamento ao exigir que o mesmo se desfizesse das suas riquezas. Aqui vem o grande problema: o jovem amava mais suas riquezas do que a Deus e a Seu Filho. Por isso se foi triste, mas completamente sabedor de que era um pecador cobiçoso, pois amou mais as riquezas do que a Deus.

É necessário que os pregadores saibam como declarar a Lei espiritual de Deus para ferir as consciências e depois passar o bálsamo do Evangelho. Temos de ferir os pecadores com a Lei e não ficar satisfeitos em pregar apenas o amor de forma superficial. Temos de pregar o caráter de Deus que é santo e temos de pregar a Lei santa aplicando-a aos corações, às consciências, ao homem interior. Dessa forma o nosso evangelismo vai gerar pecadores convictos de seus pecados e clamando por misericórdia ao verem sua miserável condição de perdidos.

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Preguem a lei de Deus! Mostrem um Deus santo ofendido pelo pecado. Jesus fez isso. (Vide cap. IV, inciso II – O Evangelho da Expiação).

III - PREGAVA O ARREPENDIMENTO. - Mc.10:21a

O jovem rico ouviu de Jesus qual era o caráter de Deus: só Ele é bom e santo. Que é necessário observar a Lei para se perceber de fato quem é o homem: corrupto e pecador.

Dessa forma o jovem estava sendo preparado para receber o apelo do Evangelho. Jesus insistiu na Lei ao determinar que ele vendesse tudo o que tinha e desse aos pobres. Com isso a Lei revelava que ele era cobiçoso e que necessitava esquecer as riquezas dando preferência ao Senhor. Se o jovem assim fizesse daria mostras de que estava arrependido.

“Arrependimento”, no grego, significa uma “mudança de pensar”. O homem precisa mudar de pensamento. Por isso Paulo disse que considerava todas as coisas como esterco para poder ganhar a Cristo (Fp. 3:8). Ele teve de desprezar aquilo que antes dava valor, teve de mudar de pensamento. Jesus queria isso do jovem, que ele revertesse suas prioridades. Se voltasse do ídolo (as riquezas) para Deus.

Quando o jovem rico correu para Jesus, não sabia das exigências do Evangelho. Temos nos acostumado a ouvir os pregadores convidarem pessoas a aceitarem Jesus como seu salvador pessoal (coisa que não vemos nas Escrituras), mas não mostram a exigência fundamental que é o arrependimento. Jesus é amor, mas exige arrependimento: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15). Exigiu isso de Zaqueu, da mulher samaritana e agora estava, da mesma forma, exigindo deste jovem.

Os apóstolos exigiram arrependimento. (Mc.6:12; Atos 2:38; Atos 3:19; Lucas 24:46,47). Em Atenas Paulo pregou: “Deus... anuncia agora a todos os homens e em todo lugar que se arrependam” (At.17:30).

O jovem tinha de esquecer seu apego às coisas do mundo e não apenas reconhecer que era pecador. “Ninguém pode servir a dois senhores...Não podeis servir Deus e às riquezas” (Mt.6:24). A pessoa que confessar os seus pecados e os deixar, alcançará misericórdia de Deus (Pv.28:13).

Agora podemos entender porque devemos evangelizar como Jesus. Como uma pessoa pode se converter a um Deus que ela não conhece? Por isso devemos falar do caráter de Deus: santo. Como uma pessoa pode se converter

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dos seus pecados se ela não consegue enxergá-los se não lhes falarmos da Lei de Deus. A Lei aponta-lhe os pecados cometidos.

Podemos, na nossa pregação, levar pecadores a ficarem cheios de remorso ou temerosos da condenação eterna e prepará-los para “se decidirem a aceitar Jesus como salvador pessoal”. Mas quando lhes falamos que precisam se arrepender, eles perguntam: de que? Por isso precisamos falar da Lei de Deus que lhes mostra exatamente o que eles “quebraram” e do que têm de se arrepender. Com isso saberão que ofenderam a um Deus santo que não tem por inocente o culpado e chegam a conclusão que são criaturas condenadas e não podem ajudar a si próprios. Com isso prantearão e chorarão suas misérias. Dessa forma saberão que necessitam de mudar de vida e verão que é impossível realizarem esta mudança. Por isso clamarão a Deus: “Sê propício a mim pecador”.

Se não fosse assim, sem a exigência de arrependimento, o jovem rico teria “aceito a Jesus” para receber a garantia do céu. Ele veio correndo para Jesus mas não estava disposto a esquecer as suas riquezas.

É triste dizer, mas as Igrejas estão cheias de pessoas que “aceitaram a Cristo”, mas nunca nasceram de novo, nunca se converteram e continuam mundanas, cheias de amor aos prazeres carnais. O lazer e as riquezas são seus objetivos de vida. São “crentes carnais”. Muitos pensam que estes “carnais” são crentes verdadeiros, mas estão enganados pois “crente carnal” não é crente! “Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade” (I Jo.2:4). O jovem rico poderia ser um crente carnal, mas Jesus não aceita isso. Ele disse: “Qualquer de vós que não renunciar a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lc.14:33). O jovem rico, ou se convertia das suas riquezas terrestres para as celestiais, ou se apegaria às terrestres, para sua perdição.

Não temos hoje um Evangelho diferente? Não é triste ver mensagens, pregações e literaturas que não enfatizam o arrependimento? Aí está a fragilidade da pregação de hoje. Vamos confrontar os pecadores com o ultimato de Jesus: arrependei-vos ou perecereis nas mãos de um Deus santo cuja Lei vós desprezaste criminosamente.

O filho pródigo não podia voltar enquanto estava nos braços das meretrizes, nem pode você entrar nos céus enquanto se apega ao mundo e suas riquezas.

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IV- PREGAVA A FÉ NO FILHO DE DEUS - Mc. 10:21O arrependimento e a fé caminham juntos. No nosso evangelismo devemos

fazer como Cristo. Exigir fé (em Cristo) e arrependimento do pecado.

O jovem estava com o pensamento fixo nas riquezas, seu livre arbítrio estava inclinado a escolher as coisas do mundo. Jesus exigiu que ele se arrependesse abandonando esta prioridade de vida, ou nunca teria “um tesouro nos céus”. A conversão envolve fé ou será apenas um desvio para uma situação grave.

Jesus chamou graciosamente o jovem: “vem, segue-me”. É um convite feito a um pecador preso às suas concupiscências. A sua situação é descrita por Paulo a Timóteo (I) no capítulo 6:10 - “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Quando Jesus exigia que O seguisse, estava exigindo que cresse nEle. Não basta apenas chamar Jesus de mestre, como fez o jovem, temos de segui-lo, de obedecê-lo. “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu digo?” (Lc.6:46).

No evangelismo moderno, os sermões dão uma idéia de que Jesus é apenas um salvador pessoal para ajudar as pessoas a se livrarem das dificuldades e perigos. Não se enfatiza que Ele deve ser seguido e obedecido. A porta da vida eterna é estreita e é necessário entrar por ela para que Jesus seja o “socorro bem presente nas tribulações” (Sl.46:1). As pessoas precisam saber que Jesus não será o Salvador de homem algum que se recusa a dobrar-se a Ele como Senhor. Não é uma questão de opção, como se percebe no evangelismo moderno. O apelo de Jesus é uma exigência: “Vem, segue-me”. Seguir a Jesus é demonstração da nossa fé de que Ele é o Senhor da nossa vida. “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm.10:9).

Crer e obedecer são palavras tão intercambiáveis e paralelas que o Novo Testamento não faz distinção entre elas. Aqui há algo importante em relação ao significado das palavras no original grego. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo.3:36). Crê, aqui, é, no grego, a palavra pisteô. Mas na segunda parte do versículo lemos: “... mas aquele que não crê no Filho não verá a vida”. Crê, aqui, no grego é apeitheô, que significa desobedecer. (Rm.2:8; 11:30-31; 15:31). Portanto, na Bíblia, crê é obedecer. Sem obediência é impossível se chegar ao céu.

O jovem queria a vida eterna, mas Jesus lhe exige: Se você me seguir, eu lhe darei a vida eterna. Você precisa se tornar meu servo e submeta-se aos meus

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ensinos pois eu sou o Grande Profeta. Dobre-se aos meus mandamentos, Eu sou o rei e somente assim você será salvo! A Bíblia seria um livro diferente se Jesus aceitasse pessoas que fazem uma confissão intelectual apenas. Se Jesus oferecesse ao jovem tesouros no céu sem a exigências de segui-lo, João não teria escrito: “Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade” (I Jo.2:4). A fé não é apenas um balançar de cabeça à uma série de fatos, mas é obediência, libertação dos pecados, evidenciados no seguir a Jesus.

Esta forma de pregar soa estranha nos dias de hoje. Ouvi de certo pastor, que ao ouvir uma mensagem como essa, dizer ao pregador: “Você está pregando salvação pelas obras”. Muitos pensam que ao se pregar isso, virá a cisão, a divisão e é melhor amordaçar o Evangelho em prol da unidade. Será que estamos dispostos a adocicar a doutrina da fé apenas para manter o tradicionalismo evangélico e a unidade, passando por cima da verdade?

Esta é uma questão muito importante. O Evangelho de hoje com a prática de convidar a ir à frente ou levantar a mão e fazer uma oração de confissão, considerando este pecador como convertido e afirmando que ele basta crer em Jesus e será salvo, é o que Dietrich Bonhoeffer chamou de “graça barata”. Ele dizia: “Graça barata é a pregação do perdão sem a exigência do arrependimento, batismo sem disciplina na igreja, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem cruz...” É deixar que o “cristão viva como o resto do mundo, deixe que se amolde aos padrões do mundo em todas as esferas da vida, e não tenha a presunção de aspirar viver uma vida diferente... da sua antiga vida debaixo do pecado”. Em outras palavras é querer Jesus como Salvador mas sem querer segui-lo nas suas exigências. Sem isso não haverá vida eterna. Por isso Jesus disse: “Segue-me”. Seguir é ter fé! Eu creio, por isso O sigo incondicionalmente.

“Graça barata” também é pregar o evangelho convidando pessoas com problemas para virem a Jesus para solução dos seus problemas, dizendo que “sua vida vai mudar”. É apresentar Jesus como um super-psicólogo que irá colocar sorriso nos lábios dos necessitados. Mas ninguém apresenta o seguir a Jesus e muito menos o quanto isso custa, e quanto é doloroso. (Vide cap. V, inciso II – O Evangelho da Apelação).

“Graça barata” é “Fé fácil”! Sem exigências! E não é de se estranhar que muitos “convertidos” logo abandonam o Evangelho, voltando ao mundo como a porca volta à lama. Eles constatam que foram iludidos. Dessa forma, as igrejas que receberam estas pessoas, entram em triste confusão e frustração. O que

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precisamos é apresentar o Evangelho como Cristo apresentou. Que os ouvintes devem carregar a cruz, que meçam o preço de ser crente, que “sentem-se e considerem o ato de seguir a Cristo”, em vez de “levantem-se e venham à frente”. (Lc.14:25-33)

Não existe evidência de que o jovem tenha chegado a confiar em Cristo arrependendo-se dos seus pecados. Mas Jesus o confrontou com o verdadeiro Evangelho e suas implicações. O jovem não foi enganado com técnicas de apelos psicológicos. Quando o jovem se retirou ele sabia claramente da resposta à sua pergunta inicial: Segue-me, creia, arrependa-se, renuncie, mude de vida, tome sua cruz, entre pela porta estreita!

É esse o Evangelho que devemos pregar hoje: arrependimento e fé.

A salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo quanto temos – Ler anexo 06 ( o custo de seguir a Cristo – J. C. Ryle)

V- PREGAVA SEM UMA FALSA SEGURANÇA DA SALVAÇÃO – Mc.10.22Muitos evangelistas procuram, na sua pregação moderna, levar segurança

de salvação às pessoas. Isso está implícito quando eles convidam os pecadores a “virem à frente” para aceitar Jesus ou quando a pessoa repete uma oração de confissão de pecados e súplica de perdão. Esta idéia está também presente quando o pregador pede que o penitente agradeça a Deus por “Jesus ter entrado em sua vida”.

Além disso, o obreiro ou conselheiro, neste momento afirma ao “decidido” que ele agora está salvo e que nunca duvide disso, pois seria chamar Deus de mentiroso, pois Ele prometeu tudo aquilo ao que crer.

Este estilo evangelístico nunca foi usado por Cristo, muito menos com este jovem rico. Na verdade, é uma forma anômala de evangelizar, pois não leva em conta a santidade de Deus, não prega a Sua Lei, não exige arrependimento e a fé é colocada como uma mera “aceitação de Cristo”. Além disso, garantem que agora o pecador já tem segurança de salvação.

Outra forma de se cometer este equívoco é achar que não se deve duvidar da salvação das pessoas que fizeram à classe de catecúmenos e professaram a sua fé, a não ser que tenham cometido algum pecado escandaloso. E se o professo estiver com alguma dúvida, isso é considerado apenas pobreza de entendimento doutrinário. Em outras palavras, o mero entendimento intelectual da doutrina garante a salvação, sem uma fé experimental de mudança de vida.

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Jesus amou aquele jovem rico, mas, não agiu como os evangelistas modernos, pois exigiu mudança radical, arrependimento e fé. Não temos dúvida de que o jovem “viria à frente” se lhe fosse feito um convite de aceitar a Jesus e seria considerado como nascido de novo. O jovem creu e se entristeceu, mas continuou perdido. Assim é com o diabo, que crê na verdade, na sã doutrina e até treme, mas está condenado (Tg. 2.19).

Na verdade o jovem “foi à frente”, publicamente, pediu por vida eterna, mas não recebeu esta dádiva. Ele se comoveu com a mensagem de Cristo, mas não se converteu e se estivesse numa classe de catecúmenos teria se saído muito bem. Estas coisas não dão segurança de salvação. Essa falsa paz, essa falsa segurança é pregada no evangelismo moderno e é isso que os missionários, pastores e evangelistas estão fazendo hoje.

Vemos isso de forma clara em Jeremias 6:13-14, em relação aos falsos profetas. Eles curam superficialmente a ferida do povo ao dizerem que está tudo bem. Que há “paz, paz, quando não há paz”. Quem coloca segurança nos corações é o Espírito de Deus. Os métodos de hoje nunca foram usados pelos grandes pregadores e evangelistas do passado. Tenho visto uma tendência em ser criativo na evangelização, mas sem base Bíblica para este métodos criativos. São inovações, acréscimos que Lloyd-Jones chamava de “volta ao catolicismo”.

Cremos que a Confissão de Fé de Westminster tem algo muito importante a nos dizer no capítulo XVIII. (vide anexo Nº 01)

Muitas vezes é mais honesto que as pessoas retornem às suas casas entristecidos, mas perfeitamente conscientes das suas condições, a voltarem com uma falsa certeza de salvação por terem “vindo à frente”, ou respondido a orações de confissão. Estes são atos externos apenas. O que ele necessita é de conversão verdadeira reconhecendo o senhorio de Cristo em Sua vida.

É o Espírito Santo que deve dar esta segurança ao crente: Romanos 8.16 e I João 3:24. Ele dá a certeza de pecados perdoados aos que se examinam à luz da Palavra (II Co.13.5 e João 14.23). Jesus exige, purificação, santificação, mudança completa ao dizer “vende tudo que tens e dá-o aos pobres... vem e segue-me”. A recusa do jovem o impediu de ter “um tesouro nos céus”.

É claro que não devemos olhar para os sinais externos de moralidade como demonstração de que uma pessoa possui a vida eterna. O jovem era moralmente correto. O que precisamos é penetrar na intimidade da nossa alma e ver se estamos alegres à submissão à Palavra de Deus e que Ele dirige agora nossas

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vontades; que Deus é o objeto supremo de nosso amor e o espírito da lei é guardado.

O entusiasmo religioso não é prova de nossa aceitação por parte de Deus. O jovem rico era assim, e creio que sua vida exemplar envergonharia muitos crentes, mas não era convertido. Jesus não recebeu dele lealdade completa e por isso não podia ser seu discípulo.

Ao chegar ao fim da conversa este jovem tinha ouvido tudo que necessitava. Cremos que ele aceitou o que Cristo disse: “Deus é santo e eu cobiçoso; tenho de negar o meu dinheiro para ganhar a vida eterna; devo seguir a Jesus totalmente se quiser um tesouro no céu”. Mas a compreensão intelectual não é suficiente, mas é necessário devoção, aprovação íntima, alegria íntima no Evangelho que se manifestaria numa transformação exterior.

Ter certa dúvida se preenchemos as condições para nos considerarmos herdeiros das promessas é compreensível por termos corações enganosos (Jr.17:9). Mas, sem dúvida percebemos que ir “à frente”, o levantar a mão e a repetição de uma oração não é garantia de fé salvadora.

Quantas pessoas já foram levadas a uma confiança vã por fórmulas evangelísticas feitas por pregadores equivocados? Muitos são enviados de volta para casa iludidos; muitas crianças, na Escola Dominical, recebem a segurança daquilo que não possuem. O jovem rico foi para casa em pecado, mas pelo menos existia uma consciência ferida que tirava seu conforto e isso poderia um dia ser importante para uma volta a Cristo em arrependimento. Ele não foi iludido por Jesus. Mas o evangelismo moderno mata precocemente a convicção de pecado, pois oferece ao pecador a segurança de salvação de forma prematura e manipulada pelo homem.

Nos lembramos do atalho escolhido por Abraão, o caminho carnal para conseguir um herdeiro. Ele produziu Ismael, um “jumento selvagem” (Gn.16:12). Em Romanos 9:8, lemos: “...estes filhos de Deus não são propriamente os da carne...”. Abraão poderia dizer que era seu filho amado, mas Deus o desconsiderou como filho da promessa. O evangelho moderno está enchendo as igrejas de “Ismaéis” ao produzirem “convertidos” por causa de sua pressa em chamá-los filhos de Deus. Mas Deus procura por “Isaques”, que podem demorar e vir, mas virão de forma irresistível, pois estes é que são os filhos da promessa.

Jesus é nosso mestre em evangelismo e Ele sem dúvida condena estas práticas modernas de evangelização. Ele deixou o jovem rico ir-se triste, mas não enganado.

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O problema dos nossos dias é que no intuito de se pregar essa falsa segurança de salvação, prega-se uma mensagem inofensiva (Vide Cap. V, inciso VI – O Evangelho Inofensivo).

VI – PREGAVA DEPENDENDO DE DEUS – Mc.10-23-27.Quando os evangelistas vão embora após uma “campanha” em que pessoas

fizeram sua “decisão” por Cristo, os pastores locais se deparam com a triste realidade de que os “decididos”, não estão convertidos e aos poucos abandonam a igreja. Temos de mudar esta prática evangelística e quebrar com este tradicionalismo do evangelicalismo moderno.

Creio que Jesus ao dizer que era difícil um rico entrar no reino de Deus, estava dizendo que era, também, difícil um adúltero, ou um ladrão, ou um desobediente entrar no céu. Jesus usou um pecado específico (a cobiça) para exemplificar uma verdade de cunho geral.

Quando Jesus afirmou que era “mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”, ele estava dizendo que é impossível ao homem ser salvo por seus esforços. Os discípulos compreenderam isso, tanto é que disseram: “Quem poderá salvar-se?”. Podemos até imaginar Jesus balançando a cabeça e dizendo: “É verdade, vocês entenderam o que Eu quis dizer - para os homens é impossível!”. Quão diferente é o que dizem os evangelistas modernos: “É fácil, só depende de vocês... creiam!”.

Jesus estava dizendo aos discípulos que o que Ele pedia ao jovem rico era o impossível. Ele não podia se desfazer de tudo que tinha, pois para isso era necessário se arrepender e crer. Mas o jovem estava escravo de Satanás, a sua vontade estava presa, pois sua natureza, como a de todos os homens, é corrompida e oposta às exigências do Evangelho. Por isso Jeremias (13:23) pergunta: “Pode o Etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as sua manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal?”. A resposta a esta indagação é: Nenhum pecador tem a capacidade de se converter, se arrepender e crer no Senhor Jesus.

Este encontro de Jesus com o jovem rico nos mostra esta verdade. Jesus exigiu arrependimento e fé, mas ele tinha o coração corrompido (Gn.6:5) e era um “morto em delitos e pecados” (Ef.2:1). Ele não obedeceu porque não podia, mas isso não o fazia inocente!! Quando Jesus disse: “segue-me”, Ele sabia que “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo.6:44). Este jovem estava tão incapacitado de vir, que por estar morto, necessitava NASCER

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DE NOVO. A Bíblia diz claramente que todos os que crêem em Jesus, não nasceram “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo.1:13). De fato para o homem “é impossível!!”.

O evangelismo moderno tem sido apresentado como se Deus já tivesse feito tudo que podia para salvar o homem e agora está de braços cruzados esperando que o homem faça alguma coisa, use seu livre arbítrio para ir em busca de Deus, em direção a Jesus, como se a salvação dependesse agora exclusivamente dele. Esquecem os evangelistas modernos de que é o Espírito Santo que trabalha no coração dos homens, convencendo-os do pecado, da justiça e do juízo; que lhes revela Jesus e regenera os pecadores para que possam crer e se arrepender.

Ora, como pode o homem caído, corrupto, cego e entenebrecido no entendimento, com uma natureza que o leva a se afastar de Deus, que odeia a este Deus, agora, por sua espontânea vontade, ir em busca de Jesus? Como pode uma pessoa vender tudo que tem, dar aos pobres para depois querer seguir a Jesus? Não, isto é impossível!! Seu livre arbítrio o leva para longe de Deus, o leva para o inferno naturalmente (Whitefield). O evangelismo moderno insiste cegamente que o homem possui a habilidade de seguir a Cristo. Esta habilidade estaria apenas adormecida, e que basta a persuasão do apelo para despertar esta habilidade e levá-lo ao arrependimento e à fé. Mas Jesus concordou com os discípulos que isso é “IMPOSSÍVEL”!

“Quem poderá, pois, salvar-se?”, perguntam os discípulos. Jesus responde de forma bem clara dizendo que ao homem é impossível, mas a Deus tudo é possível. É Deus que age, Ele não está parado esperando que o homem tenha capacidade de fazer esta obra, mas Ele atua mudando o coração do homem fazendo com que ele venda tudo que tem e siga a Cristo. Só Deus pode dar ao homem um novo coração: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo” (Ez:36:26). Só assim, regenerado e transformado pode o homem crer e se arrepender. Lembre-se que fé é um ato de um coração que foi vivificado pelo poder soberano de Deus (Ef.2:8-10). Fé é o resultado da regeneração operada pelo Espírito. Por isso Jesus disse a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo”.

O mesmo se diz para o arrependimento: é uma dádiva de Deus (Atos 5:31; 11:18; II Tm.2:25). Para um pecador se arrepender, Deus tem de quebrar-lhe o coração de pedra e dar-lhe um coração de carne. Pedir a um homem não regenerado que se arrependa e a um coração cobiçoso que venda tudo e dê aos pobres, é pedir o impossível. E foi isso que Jesus exigiu. Só Ele pode fazer esta

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obra no coração dos homens. Se é assim, o que o homem tem de fazer é clamar a Deus para que Ele faça o que os homens não podem fazer por si mesmos.

Pregar o evangelho a descrentes é pregar a mortos e exigir que eles saiam dos túmulos; é pregar a ossos secos. Quando evangelizamos, temos de lembrar que as pessoas estão em total incapacidade de atender ao chamado e às exortações apresentadas. Nossa esperança reside apenas e exclusivamente em Deus e não na vontade humana ou no seu livre arbítrio. Porém a Bíblia diz que Deus se alegra em ressuscitar pecadores mortos em seus delitos e pecados pela “loucura da pregação”. O método é a pregação.

Quando Jesus mandou que Lázaro saísse do túmulo, Ele estava mostrando que a doutrina do livre arbítrio é absurda. Como pode um morto, um cadáver que cheira mal, obedecer e desejar sair. É verdade que Lázaro obedeceu e exercitou sua vontade, mas só após Jesus tê-lo ressuscitado, após receber vida nova que lhe foi dada pela soberania de Deus. Somos chamados a pregar a “ossos secos”. Em Ezequiel lemos que Deus mandou o profeta profetizar sobre eles. Aqueles ossos não tinham vontade, não tinham livre arbítrio. Mas quando Deus soprou sobre eles, receberam vida e se tornaram um grande exército. Só assim esses “ossos secos” podem se levantar e seguir ao Cordeiro louvando a glória de Sua graça soberana e poderosa. O jovem rico tinha sua vontade morta, seu livre arbítrio escravo do pecado e por isso ele não atendeu ao mandado de Cristo. (Vide Cap. IV, inciso III – O Evangelho da Graça).

Assim, temos de nos voltar em humildade para Deus. Só Ele pode nos assistir e não podemos depositar nossa esperança em técnicas psicológicas, em entretenimento, em sabedoria humana. Não são três ou quatro passos que os pecadores devem tomar, exigidos pelos pregadores modernos, que os farão convertidos, mas só Deus, pelo Seu Espírito, pode converter, dar nova vida. É isso que vemos em 2Tm.2:24-26. Só “se” Deus lhes conceder arrependimento... Esta é a nossa esperança! Por isso, quando pregamos, temos de exigir com amor, que os pecadores clamem, peçam, implorem, orem, dizendo : “Senhor, tem misericórdia de mim. Converte-me, dá-me fé, salva-me por Tua graça”. (Vide Cap. IV, inciso IV e VI – O Evangelho da Apelação e o Evangelho Exclusivo).

CONCLUSÕES:

1. Na nossa evangelização o importante é o âmago da mensagem. Ele deve mostrar claramente os atributos de Deus, a Sua Lei, arrependimento, fé, reconhecimento de Cristo como Senhor, que a salvação pertence a Ele, que a

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vida cristã é uma batalha até o fim e que o reino de Deus é conseguido com esforço. Não devemos iludir as pessoas com promessas de falsa segurança de salvação.

2. Observe com cuidado o quanto estamos longe desta evangelização que Cristo praticou.

3. A maioria, esta baseada nos seus resultados pragmáticos, não quer voltar à mensagem pura do Evangelho, presumindo que a tradição evangélica está correta.

4. A nossa evangelização deve estar repleta de doutrina e ensino. O método bíblico de evangelizar é explicativo e aplicativo. O Evangelho deve entrar pela mente e descer ao coração. Por isso devemos pregar todo conselho de Deus sem receio de que estejamos “afugentando” os pecadores. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”, disse Jesus. Não há o que temer, temos de ser fiéis na evangelização.

5. Vamos evangelizar com as verdades bíblicas e “batalhando pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3).

*Adaptado do livro “O Evangelho de Hoje” de Walter Chantry

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CAPÍTULO VII

O SISTEMA DE APELO SUAS IMPLICAÇÕES DOUTRINÁRIAS E SEUS PERIGOS

(Pb. Manoel Canuto)

Quando surgiu esta prática? Por que é tão comum nos nossos dias? Qual a base bíblica para o apelo? Creio que você já ouviu expressões como esta: “Se o senhor tivesse feito um apelo teria havido muitas decisões”. Outros chegam ao ponto de afirmar que o sermão não foi completo por não ter sido feito um apelo por decisões. Certa vez um presbitério (da Igreja Presbiteriana do Brasil) convidou certo pastor para ser o pregador em uma cruzada evangelística, mas ela foi suspensa em virtude de o pregador afirmar que não fazia apelo para que pessoas se decidissem. Além de ser suspensa a cruzada, o pastor contrário à prática do apelo foi chamado de radical. Na verdade, sejamos sinceros, quem neste caso, foi o radical? O apelo por decisões seria uma prática apenas “cultural”, sem nenhum fundamento doutrinário?

O Dr. Martin Lloyd-Jones nos conta em seu livro “Pregação e Pregadores”, que certo pregador foi convidado para falar em um programa que seria transmitido pelo rádio e onde haveria um intervalo de meia hora para que alguns hinos fossem cantados. No final da mensagem, este pregador fez seu tradicional apelo. Como não conseguira muitas “decisões”, sua explicação foi: “Os hinos atrapalharam as conversões”.

Conta-nos, ainda, o Dr. Lloyd-Jones, que certo dia, enquanto pregava, um homem, que era alcoólatra inveterado, parecia muito tocado pela mensagem, pois chorava copiosamente. No final do sermão o “doutor” apenas se despediu dele apesar de vê-lo chorando. Na noite seguinte, quando Lloyd-Jones se dirigia à igreja para o culto de oração, aquele homem se aproxima e diz: “Pastor, sabe de uma coisa, se o senhor tivesse me convidado na noite passada, eu teria atendido” (ele se referia ao apelo). O “doutor”, então, o convidou para ir com ele à igreja. Porém o homem argumentou que infelizmente a ocasião havia passado, mas se tudo tivesse sido feito naquela noite, ele teria se convertido. Lloyd-Jones respondeu: “Meu caro amigo, se aquilo que aconteceu na noite passada não

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perdurou por 24 horas, então não me interessa. Se você não está preparado para vir comigo agora como estava na noite passada, então você não tem a coisa verdadeira...você, de fato, não percebeu ainda sua necessidade de Cristo”.

Temos de voltar à história e observar quando isso começou. Não precisamos dizer que o apelo nunca foi uma prática dos apóstolos, nem da igreja primitiva, nem dos grandes pregadores que o mundo conheceu como George Whitefield, John Wesley, Spurgeon, Asahel Nettleton, os puritanos, etc. Esta prática foi “inventada” na década de 1820 pelo pelagiano Charles Finney, quando deu início ao chamado “assento dos ansiosos” e apelava às pessoas a que se decidissem naquele instante por Cristo.

Há uma questão teológica por trás de tudo isso. Finney, seu inventor, tinha uma visão distorcida e limitada da soberania de Deus. Ele afirmava: “É inútil falar da onipotência de Deus para impedir o pecado”. Dizia que Deus era soberano no mundo físico mas não no reino moral e que Ele se encontra limitado pelo livre-arbítrio do homem, de tal forma que Seu poder sobre o homem fica reduzido apenas à persuasão. Defendia que a graça torna possível a salvação para todos os homens, mas não é eficaz para ninguém. O Espírito Santo tem a função de “cativar a mente” sendo que não existe uma obra direta e imediata do Espírito sobre ela. Seria sempre uma ação externa. O Espírito estaria sempre mantendo o impacto da verdade para afastar as más intenções e os pecadores seriam persuadidos a aceitarem a verdade. A mesma técnica de lavagem cerebral usada pelos comunistas no passado. Finney defendia que a obra do Espírito Santo era apenas externa e que nossa mente é neutra e os desejos somente são pecaminosos quando são transformados em ação. Negava que a natureza do homem precisasse de regeneração, mas somente as escolhas por ela efetuadas é que necessitavam. Não aceitava o pecado original, pois o homem nasce inocente e se torna pecador devido o ambiente em que vive que corrompe a sua inocência original.

Dessa forma o novo nascimento não é uma regeneração interior do coração, mas simplesmente uma mudança de escolha. O pecador regenera-se a si mesmo, porém a palavra de Deus mostra-lhe como fazê-lo; o pecador converte-se a si mesmo, mas o Espírito o persuade a fazê-lo. Sua opinião de que o homem é capaz de fazer aquilo que Deus ordena (“arrependei-vos e crede”), levou Finney a criticar as orações que pediam a Deus que fizesse com que os pecadores se arrependessem e cressem no Evangelho. Segundo Finney, fazer isso seria um insulto a Deus. Para ele, o homem é perfeitamente capaz de, sem a ajuda de Deus, criar um novo coração para si mesmo.

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Podemos ver claramente porque Finney fazia apelo: porque o homem pode responder ao chamado de Deus por sua livre iniciativa, por seu livre-arbítrio. Ou seja, o apelo está fundamentado num conceito teológico e não cultural. Ele era Pelagiano (seguidor de Pelágio) que defendia a vontade humana desassistida como a base da salvação e tudo depende da vontade do homem. Pelágio foi um herege!

Quais os perigos do apelo por decisões? Lloyd-Jones responde mais ou menos assim:

1) Incentivar algo que não é incentivado na Bíblia.Os evangelistas usam muito o texto “Qualquer que me confessar diante dos

homens, Eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus”, para concluir que Jesus fez apelo para se vir à frente. Isso não é ser honesto com o texto. Jesus conclamou homens a que viessem para Ele (mesmo sabendo que os homens não podem vir se o Pai não trouxer estas pessoas), mas nunca quis apelar a que viessem à frente como uma forma de decisão por Ele, ou como forma de aceitá-lo. Muitos ficam revoltados quando dizemos que o homem não pode vir à Cristo pelo seu livre arbítrio. Mas lembro que esta foi a mesma reação dos judeus, quando Jesus pronunciou estas palavras: “Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai, não lhe for concedido”. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele” (Jo 6:65-66).

O sistema de apelo institui uma condição para a salvação que Cristo nunca mencionou. Ele dá a aparência de uma ordem divina, algo louvável para Deus. Quanto que o inverso parece ser uma desobediência a Deus e um entristecer do Espírito Santo. (o texto em itálico é acréscimo meu).

2) O perigo de provocar uma resposta emocional baseada na personalidade do evangelista ou na persuasão do apelo.

Há um elemento psicológico no apelo. Todos os ouvintes são convocados a orar, baixarem suas cabeças e uma palavra auto-sugestiva é dita para que as pessoas vão à frente em busca de paz, felicidade e amor .... Os conselheiros espalhados por toda a audiência procuram incentivar os presentes a saírem dos seus lugares e a tensão aumenta a ponto de as pessoas não suportarem e vão. O pior é que, saem dali informados de que agora são cristãos, mesmo sabendo que não mudaram nada. Isso pode gerar ceticismo ou falso cristianismo. Há o perigo de um pregador usar a sua personalidade, o seu poder e sua capacidade para

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exercer domínio sobre os outros. Dessa forma seu apelo poderá ser respondido sob a força da personalidade do pregador que pode levar as pessoas a desejarem ser como ele. Isso é cobiça !

Aqui é necessário que se fale das formas de usar o emocional para se produzir decisão e resposta ao apelo: Usar histórias comoventes e a música. Tudo isso pode ser lícito como ilustração e louvor, porém nunca como motivador para gerar decisões. Isso tem sido usado com muita freqüência no evangelismo moderno.

Ilust. – Há uma enorme confusão entre “vir a Cristo” e “vir a frente”. (o texto em itálico é acréscimo meu) - Ler anexo 08 (quanto ao vir a Cristo – Ernest Reisinger)

3) O risco de apenas mencionar o Evangelho e não pregá-lo e esperar que algo “mágico” aconteça.

Alguma reunião musical ou mesmo uma cantata ou uma pregação “telegráfica”, não explicativa, pode ficar dissociada do apelo e o pregador e os crentes esperarem uma resposta positiva e sincera (“mágica e espúria”) dos “decididos”. Creio que é necessário lembrar que é muito freqüente se fazer apelo após uma mensagem que em si está totalmente desvinculada do apelo. São dois momentos distintos no culto. É comum se vê pastores que não sabem terminar o sermão se não fizerem um apelo.

4) O risco de esperar que os pecadores tenham poder inerente de “fazer uma decisão por Cristo”.

O versículo em I Co. 2:14 desfaz esta pretensão condenável. “...o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Não há poder inerente nas pessoas para fazerem “decisão por Cristo”, elas estão obscurecidas no entendimento.

5) O risco do evangelista manipular uma obra que é reservada ao Espírito Santo.

Hoje estamos vendo os organizadores de eventos evangelísticos preverem os resultados, algo que pertence só a Deus. Isso é grave. Há até alvos de se plantarem tantas igrejas até o fim do século, ou até o ano tal... O mesmo vemos

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nas cruzadas evangelísticas. Já ouvi alguém dizer: “Com a pregação deste pastor, todo este lugar aqui na frente vai ficar tomado de decididos”.

6) Este método tende a produzir uma superficial convicção de pecado (se é que produz).

As pessoas respondem positivamente quando lhes são oferecidos certos benefícios. Certo homem foi à frente no apelo quando o pastor disse: “Se alguém não quiser “perder o barco”, venha à frente. Este homem foi à frente e considerado como convertido. O próprio Wesley, que era arminiano, mas não fazia apelo, não se interessava por resultados imediatos e visíveis e sim na obra regeneradora do Espírito Santo. Os reformados e puritanos pensavam assim, e, dessa forma queriam ver primeiro os frutos para depois afirmar que a pessoa estava convertida (“produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” Mt 3:8).

Às vezes sou inclinado a pensar que uma grande parte do avivalismo moderno tem sido mais uma maldição do que uma bênção, porque tem conduzido milhares a um tipo de paz antes que conheçam a sua miséria. Buscam restaurar o pródigo à casa do Pai sem antes fazer com que ele afirme “Pai pequei!”. Você acha que um fazendeiro obterá uma colheita de sem antes ter limpado, gradeado e arado a terra? Assim é a alma convertida...não vem sem convicção de pecado. (o texto em itálico é acréscimo meu).

7) O risco de encorajar as pessoas a pensar que o ato de vir à frente ou levantar a mão as salvará.

Isso aconteceu com aquele homem que agora estava “no barco”. Não parece tudo isso uma desconfiança na ação do Espírito Santo como se Ele precisa de ajuda ? Isso é muito grave ! A obra do Espírito é completa e eficaz. A regeneração, a convicção de pecado, a fé, e o arrependimento estão nas mãos do Espírito Santo. Não é necessário que alguém se identifique indo à frente para que a salvação torne-se visível e sim pelo que acontecerá na vida das pessoas: novo nascimento não depende ou se ver num levantar de mão. Certo pregador do Congo fazia todo tipo de apelo para que as pessoas se convertessem, mas nada acontecia. Quando viajou e outro pastor pregava em seu lugar, irrompeu um grande avivamento. Ele não gostou quando sua esposa o escreveu sobre o fato, pois ele não estava ali, tudo não havia sido feito por ele. Havia orgulho e disso somos tentados. Quando voltou, e ao começar a expor as Escrituras, as pessoas se quebrantaram em profunda convicção de pecado. Ele tentara isso por 20 anos e não conseguia. Por que? Porque é obra exclusiva do Espírito Santo.

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Não podemos pisar em terreno que é dEle. Infelizmente essa é a mentalidade de Billy Grahan. Ele diz nas suas campanhas: “Eu vou pedir que você venha a frente. Lá em cima e aqui em baixo, vou pedir que você venha. Deve vir agora, rapidamente. Não permita que a distância o separe de Cristo. O caminho é longo, mas Cristo percorreu todo o caminho até a cruz porque amou você. Certamente você deve dar esses poucos passos e entregar sua vida a Cristo...”

Uma disposição do não convertido para vir à frente pode ser motivada por várias razões: 1) Amor próprio natural buscando felicidade; 2) Uma consciência perturbada buscando alívio por meio de um ato religioso; 3) A influência condicionadora de uma grande reunião onde outros respondem, e assim por diante, não passa de uma questão psicológica - a multidão sempre nos atrai. Pergunto: em que o apelo beneficia as pessoas? Aqueles chamados eficazmente não perderiam nada se o apelo fosse omitido. (o texto em itálico é acréscimo meu).

8) O pelo incentiva a pessoa a pensar que pode se “decidir por Cristo”.

O pecador não “se decide por Cristo”, mas ele “foge” para Cristo em total desamparo e desespero, clamando por misericórdia : “...Converte-me e serei convertido, porque tu és o Senhor meu Deus” (Jr. 31:18). É como alguém que está se afogando e não simplesmente se “decide” a pegar a corda que o salvará, mas agarra-se a ela pois é a única escapatória, a única esperança . “Se decidir por Cristo” é uma expressão imprópria.

Trata-se de uma idéia perniciosa pensar que qualquer homem pode ser salvo se ele reconhecer a Cristo de uma forma genérica, tipo Rm.10:9 (falar sobre o contexto dessa afirmação) ou At.2:21. Observe que em Atos o texto diz “todo aquele que invocar o nome do senhor será salvo”. O texto não diz: “Aquele que invocar o Senhor...”. Mas sim, “Aquele que invocar o nome do Senhor”. Por “nome do Senhor” entende-se tudo aquilo que nos é revelado nas Escrituras sobre o Senhor Jesus. Significa que, qualquer que receber, reconhecer e adorar a Cristo de acordo com o que as Escrituras revelam e testificam acerca dele, será salvo. Spurgeon diz que você pode crer que Jesus Cristo morreu por você e ao mesmo tempo acreditar naquilo que não é verdadeiro. (o texto em itálico é acréscimo meu).

8) Risco de dar segurança àqueles que permanecem sem se converter.

Muitos podem ficar com a impressão de que agora “acertaram as coisas com Deus”, mesmo que continuem na prática de pecados grosseiros e nunca

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nasceram de novo. No dia do juízo ouvirão as duras palavras de Jesus : “...Nunca vos conheci...” (Mt.7:23).

Sempre que condenamos este método estranho às Escrituras, as pessoas nos apresentam o argumento “pragmático”: ... mas, e os resultados, esse método não tem dado certo? Se fosse pelos resultados, teríamos de concordar com as trapaças de Jacó, a desobediência de Moisés ao ferir a rocha por duas vezes (jorrou água que matou a sede do povo), com Abraão e Isaque que mentiram a respeito de suas mulheres. Os resultados não são sinal de aprovação e para isso é só ler Mateus 7, quando Jesus condena aqueles que pregaram em Seu nome, expulsaram demônios em Seu nome e realizaram milagres em Seu nome. Eles mostraram resultados e isso não era garantia de que tudo estava certo. Jesus dirá para eles que eles praticaram a iniqüidade (Mt 7).

Lloyd - Jones diz que este é um argumento dos jesuítas de que os fins justificamos meios. Ele disse que esta prática criou “uma nova espécie de mentalidade, uma carnalidade que se expressa na forma de um doentio interesse pelos números. Isso também tem criado um desejo pelo que é emocionante, uma quase impaciência diante da mensagem, porquanto todos estão esperando pelo “convite”, após a pregação, para que vejam os resultados”.

O QUE FAZER ENTÃO ?1.Precisamos confiar no poder da Palavra para convencer e mudar vidas.

Ela “é o poder de Deus...”2.Precisamos chamar urgentemente a todos os homens para virem a

Cristo.

MAS COMO ?

Lloyd-Jones nos responde: “O apelo deve fazer parte integrante da própria Verdade, da própria mensagem. ... O apelo deve estar implícito ao longo de todo o corpo do sermão, bem como em tudo quanto o pregador faz.”

Ele diz que a exposição e aplicação do sermão é um apelo e que se sentir do Espírito o desejo de fazer um apelo distinto do sermão, nunca será convidando pessoas à frente, mas se dispondo a conversar no final da reunião ou em qualquer outra ocasião. Disse ele: “Confesso que já vi casos de pessoas que, depois de estarem a meio caminho de casa, voltaram para conversar comigo na igreja, por não poderem tolerar o senso de convicção de pecado e de infelicidade; a agonia delas era grande demais”.

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Spurgeon, o grande pastor batista calvinista, e que condenava esta prática do apelo para vir à frente, sendo que, na sua época esta prática ainda estava tão comum como hoje, dizia que um animal ferido (em convicção de pecado) longe de se expor, procurava um lugar solitário para sofrer suas dores.

Esta prática do apelo tem sido muito comum nos nossos dias, inclusive nas igrejas de confissão reformada (pelo menos nominalmente). Também, o apelo aos crentes para orar, para se consagrar, para chorar, para clamar... é fruto de uma mentalidade “Finneyana” e tem os mesmos riscos e equívocos doutrinários do apelo aos não convertidos.

Precisamos ter a coragem de quebrar este tradicionalismo e romper com estes “paradigmas” que descansam em bases doutrinárias equivocadas e sermos verdadeiros evangélicos como foram, Knox, Calvino, Lutero e os Puritanos, que defendiam com todo vigor SOLA SCRIPTURA e por isso foram às últimas conseqüências para serem fiéis a Palavra.

Deus nos dê da Sua força !! Amém.

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CAPÍTULO VIII

A EVANGELIZAÇÃO ARMINIANA (Michael Horton)

I – UMA EVANGELIZAÇÃO INFLUÊNCIADA POR PELÁGIO E FINNEY

Jerry Falwell denomina-o de “um dos meus heróis e um herói para muitos evangélicos, inclusive Billy Graham”. Lembro-me passeando pelo Billy Graham Center alguns anos atrás, observando o lugar de honra dado a Finney na tradição evangélica, reforçado pela primeira aula de teologia que tive numa faculdade evangélica, onde exigia-se a leitura da obra de Finney. O reavivalista nova-iorquino era o celebrado e sempre citado campeão do cantor evangélico e líder da JOCUM (Jovens Com Uma Missão), Keith Green. Finney é especialmente estimado tanto pela Direita como pela Esquerda evangélica, tanto por Jerry Falwell quanto por Jim Wallis (revista Sojourner’s); as suas marcas podem ser vistas em movimentos aparentemente opostos, mas que, na verdade, são herdeiros do seu legado. Desde os movimentos da Videira (Vineyard) e Crescimento de Igrejas até às cruzadas sociais e políticas, tele-evangelismo, e Guardadores da Promessa. Como aclamava entusiasticamente um ex-presidente do Wheaton College: “Finney continua vivo!”.

Isto deve-se ao impulso moralista de Finney que visionava uma igreja que era, em grande parte, uma agência da reforma social e pessoal em vez de uma instituição na qual os meios de graça, Palavra e Sacramentos, são colocados à disposição dos crentes que então levam o evangelho ao mundo. No século dezenove o movimento evangélico tornou-se crescentemente identificado com causas políticas — da abolição da escravatura e leis sobre o trabalho infantil aos direitos da mulher e proibição de bebidas alcoólicas. Na virada do século, com uma afluência de imigrantes católicos que já deixava pouco a vontade os evangélicos americanos, o secularismo começou a arrancar das mãos dos protestantes as instituições (faculdades, hospitais, instituições de caridade) que estes haviam criado e mantido. Num esforço desesperado para recuperar este poder institucional e a glória da “América Evangélica” (uma visão que sempre é

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poderosa na imaginação, mas é ilusória após a desintegração da Nova Inglaterra puritana) o establishment protestante da virada do século lançou campanhas morais para “americanizar” os imigrantes, reforçar a instrução moral e a “educação do caráter”. Os evangelistas conduziam seu evangelho americano nos termos da sua utilidade prática para o indivíduo e para a nação.

É por isso que Finney é tão popular. Ele é o ponto mais alto na mudança da ortodoxia reformada, evidente no Grande Despertamento (sob Edwards e Whitefield), para o evangelismo Arminiano (na verdade pelagiano), evidente no Segundo Grande Despertamento até aos dias presentes. Para demonstrar o débito do evangelicalismo moderno a Finney, temos que observar primeiro seus princípios teológicos. Por causa deles Finney tornou-se o pai dos pressupostos de alguns dos maiores desafios no meio das igrejas evangélicas, nominalmente: o movimento de Crescimento de Igrejas, o Pentecostalismo e o reavivamento político.

A) QUEM É FINNEY?

Numa reação contra o penetrante calvinismo do Grande Despertamento, os sucessores daquele grande movimento do Espírito de Deus, volveram-se de Deus para os homens; volveram da pregação de conteúdo objetivo (i.e. Cristo e Ele crucificado) para a ênfase em levar uma pessoa a “fazer uma decisão”.

Charles Finney (1792-1875) ministrou no surgimento do “Segundo Despertamento”, como fora chamado. Finney, um advogado presbiteriano, um dia experimentou “um poderoso batismo do “Espírito Santo” que “como uma corrente elétrica traspassando-me repetidamente... parecia vir em ondas de amor líquido”. Na manhã seguinte ele informou ao primeiro cliente do dia: “recebi um adiantamento do Senhor Jesus Cristo para advogar a Sua causa, e não posso aceitar a sua”. Recusando-se freqüentar o Seminário de Princeton (ou qualquer outro), Finney começou a promover avivamentos no interior do estado de Nova York. Um de seus sermões mais populares foi “Pecadores Compelidos a Mudarem Seus Próprios Corações”.

A pergunta de Finney para qualquer ensinamento era: “é útil para converter pecadores?”. Um dos resultados do reavivalismo de Finney foi a divisão dos presbiterianos da Filadélfia e Nova York nas facções Arminiana e Calvinista. Sua “Novas Medidas” incluíam o “banco do aflito” (precursor da Chamada do Altar, de hoje), táticas emocionais que levavam ao desmaio e ao choro, e outros “estímulos” como os chamava Finney e seus seguidores. Finney tornou-se

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paulatinamente hostil ao presbiterianismo, referindo-se, na introdução de sua Teologia Sistemática, muito criticamente à Confissão de Westminster e aos seus elaboradores, como se eles tivessem criado um “papa de papel”, e tivessem “elevado a Confissão de Fé e o Catecismo deles ao trono papal no lugar do Espírito Santo”. Finney demonstra, notavelmente, quão perto o reavivalismo Arminiano, em seus sentimentos naturalistas, tende para um liberalismo teológico menos refinado, pois ambos escondem-se no Iluminismo e em sua veneração pela razão humana e pela moralidade: “Que o instrumento elaborado por aquela assembléia no século dezenove deveria ser reconhecido como padrão da igreja, ou de uma ala de sua inteligência, não é apenas surpreendente, mas devo dizer que é altamente ridículo. É tão absurdo em Teologia quanto seria em qualquer outro ramo da ciência. É melhor ter um Papa vivo que um morto”.

B) O QUE HÁ DE TÃO ERRADO COM A TEOLOGIA DE FINNEY?

Primeiro, não é necessário ir além do índice de sua Teologia Sistemática para entender que toda teologia de Finney girava em torno da moralidade humana. Os capítulos de um a cinco são sobre governo moral, obrigação, e unidade da ação moral; capítulos seis e sete são “Obediência Total”, assim como os capítulos de oito a quatorze discutem os atributos do amor, egoísmo, e virtudes e vício em geral. Não é senão no capítulo vinte e um que se lê algo de interesse especialmente evangélico: expiação. A isto segue-se uma discussão sobre regeneração, arrependimento e fé. Há um capítulo sobre justificação seguido de seis sobre santificação. Noutras palavras: Finney na verdade não escreveu uma Teologia Sistemática, mas uma coletânea de ensaios sobre ética.

Mas isso não significa que a Teologia Sistemática de Finney não possua declarações teologicamente significativas.

Primeiro, em resposta à pergunta: “Um crente deixa de ser crente, sempre que cometer um pecado?”, Finney responde: “Sempre que pecar ele deixa, por enquanto, de ser santo. Isto é evidente. Sempre que pecar, ele tem que ser condenado; tem que incorrer na penalidade da Lei de Deus... Se se diz que o preceito ainda prevalece sobre ele, mas que, quanto ao cristianismo, a penalidade é posta de lado para sempre, ou ab-rogada, replico pois que ab-rogar a penalidade é rejeitar o preceito, porque um preceito sem penalidade não é lei, é conselho ou advertência. Portanto o crente não é mais justificado pelo que obedece, e deve ser condenado quando desobedece; ou o Atinominianismo é

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verdade… Neste aspecto, então, o crente pecador e o pecador não convertido estão precisamente no mesmo terreno. (pág.46)

Finney acreditava que Deus exigia perfeição absoluta, mas em vez disso levá-lo à sua perfeita justificação em Cristo, ele concluiu que “…obediência total é uma condição de justificação. Mas novamente, quanto à questão, o homem pode ser justificado enquanto nele permanece o pecado? Certamente que não, nem pelos princípios legais nem pelo evangelho, a menos que a lei seja rejeitada… Mas ele pode ser perdoado e aceito, e justificado, no sentido do evangelho, enquanto o pecado, qualquer grau de pecado, permanece nele? Certamente que não”. (pág.57)

Tendo em vista a Confissão de Westminster, Finney declara, quanto à fórmula da Reforma “simultaneamente justificado e pecador”: “Temo que este erro tenha morto mais almas do que todo o universalismo que já amaldiçoou o mundo”. Pois, “sempre que um crente peca ele está sob condenação, e tem que arrepender-se e fazer suas primeiras obras, ou estará perdido”. (pág.60).

Retornaremos à doutrina da justificação de Finney, mas deve-se notar que ela repousa sobre a negação da doutrina do pecado original. Este ensinamento bíblico, sustentado tanto pelos católicos romanos quanto pelos protestantes, assevera que todos nascemos neste mundo herdeiros da culpa e corrupção de Adão. Estamos, portanto, presos à uma natureza pecaminosa. Como disse alguém: “Pecamos porque somos pecadores”; a condição do pecado determina os atos do pecado, e não ao contrário. Mas Finney seguia Pelágio, herege do quinto século, que foi condenado por mais concílios da igreja do que qualquer outro na história, por negar esta doutrina.

Em vez disso, Finney cria que os seres humanos eram capazes de escolher se seriam ou não de natureza corrompida ou redimidos, referindo-se ao pecado original como um “dogma antibíblico e sem sentido” (pág.179). Finney negava, claramente, a noção de que os seres humanos possuíam uma natureza pecadora (ibid.). Portanto se Adão nos introduz no pecado, não por herdarmos sua culpa e corrupção, mas por seguirmos seu mau exemplo, isto leva logicamente à visão de Cristo, o segundo Adão, salvando pelo exemplo. É precisamente daí que Finney tira sua explicação sobre a expiação.

A primeira coisa que devemos notar sobre a expiação, diz Finney, é que Cristo não podia ter morrido pelos pecados de ninguém senão pelos seus próprios. Sua obediência à Lei e sua perfeita retidão eram suficientes para salvá-Lo, mas não poderiam ser legalmente aceitas em benefício de outros. Vê-se ver

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neste ponto que toda a teologia de Finney era levada por uma paixão pelo aperfeiçoamento moral: “Se Ele [Cristo] tivesse obedecido à Lei como nosso substituto, por que deveria nossa própria obediência pessoal ser uma condição sine qua non para nossa salvação?” (pág.206). Em outras palavras, por que Deus insistiria que nos salvamos por nossa obediência se a obra de Cristo foi suficiente? O leitor deve lembrar-se das palavra de São Paulo quanto a isso: “Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que Cristo morreu em vão” (Gal.2:21). Pareceria que a réplica de Finney é de concordância. A diferença é que ele não tinha dificuldade em crer nestas duas premissas.

Isto não é totalmente razoável, é claro, porque Finney cria que Cristo morreu por algo — não por alguém, mas por alguma coisa. Noutras palavras: Ele morreu por um propósito, mas não por pessoas. O propósito daquela morte era restabelecer o governo moral de Deus e conduzir-nos à vida eterna pelo exemplo, assim como o exemplo de Adão nos motivou a pecar. Por que Cristo morreu? Deus sabia que “A expiação apresentaria às criaturas os maiores motivos possíveis para a virtude. O exemplo é a maior influência moral que pode ser exercida… Se a benevolência manifestada na expiação não subjugar o egoísmo dos pecadores, o caso deles é desesperado” (pág.209). Não somos, portanto, pecadores que precisam ser redimidos, mas pecadores caprichosos que necessitam de uma demonstração de abnegação tão comovente que nos motive a abandonar o egoísmo. Finney não somente acreditava que a teoria da “influência moral” da expiação era o meio principal para compreendermos a cruz, mas negava explicitamente a expiação substitutiva que “…assume a expiação como um pagamento literal de um débito que não é consistente com a natureza da expiação… É verdade que a expiação, nela mesma, não assegura a salvação de ninguém” (pág.217).

Há, então, o tema relativo à redenção. Jogando fora a ortodoxia calvinista dos antigos Presbiterianos e Congregacionais, Finney contendia energicamente contra a crença de que o novo nascimento é uma dádiva divina, afirmando que “a regeneração consiste em o pecador mudar sua escolha suprema, intenção, preferência; ou em mudar do egoísmo para a bondade”, levado pela influência moral do exemplo comovedor de Cristo (pág.224). “Regeneração física, pecaminosidade original ou constitucional, e todos os dogmas resultantes e similares, são igualmente subversões do evangelho, e repulsivos à inteligência humana”(pág.236).

Nada tendo a fazer com o pecado original, a expiação substitutiva, e o caráter sobrenatural do novo nascimento, Finney continua atacando “o artigo

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pelo qual a igreja fica de pé ou cai” — justificação só pela graça e através da fé somente.

Os reformadores protestantes insistiam, com base em textos bíblicos claros, que justificação (na língua grega “declarar justo”, e não, “tornar justo”) era um veredicto forense (i.e. “legal”). Noutras palavras, enquanto os católicos romanos mantinham que a justificação era o processo de melhorar uma pessoa má, os Reformadores argumentavam que era uma declaração ou sentença que tinha a justiça de outro (i.e., a de Cristo) como sua base. Era, portanto, um veredicto, perfeito e definitivo, de justificação no começo da vida cristã, não no meio ou no fim dela.

As palavras chave da doutrina evangélica são “forense” (significando “legal”) e “imputação” (debitar na conta de alguém, em oposição à idéia da “infusão” de uma justiça dentro da alma de uma pessoa). Conhecendo tudo isto, Finney declara: “Mas pronunciar pecadores como judicialmente justos, é impossível e absurdo… Como veremos, há muitas condições, mas apenas um fundamento, para justificação de pecadores… Como já foi dito, não pode haver justificação no sentido legal ou jurídico, exceto no âmbito da universal, perfeita e ininterrupta obediência à Lei. Isto, é claro, é negado por aqueles que sustentam que a justificação do evangelho, ou a justificação do pecador penitente, é da natureza de uma justificação judicial ou forense. Firmam-se na máxima legal de que aquilo que um homem faz por outro ele o faz por si mesmo, e portanto a Lei considera a obediência de Cristo como nossa obediência, pela razão de que Ele obedeceu por nós”.

A isso Finney replica: “A doutrina de uma justiça imputada, ou de que a obediência de Cristo à Lei foi tida como nossa obediência, está fundamentada numa disparatada e falsa suposição”. Além de que, a justiça de Cristo, “não podia fazer mais do que justificar a Ele mesmo. Jamais ser-nos imputada… era naturalmente impossível, então, que Ele obedecesse em nosso lugar”. Esta “representação da expiação como fundamento para a justificação de pecadores tem sido a triste causa do tropeço de muitos” (pág.320-322).

Finney afirma que a visão de que a fé é a única condição para a justificação é a “visão antinominiana”. “Temos que ver que a perseverança na obediência até o fim da vida é também uma condição de justificação”. Além de que “a presente santificação, no sentido da presente consagração total a Deus, é um outra condição… de justificação. Alguns teólogos fizeram da justificação uma condição de santificação, em vez de fazerem da santificação uma condição de

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justificação. Mas veremos que esta é uma visão errada sobre este assunto” (pag.326-327). Cada ato de pecado requer “uma nova justificação” (pág.331).

Referindo-se aos “elaboradores da Confissão de Fé de Westminster”, e à posição deles quanto a uma justiça imputada, Finney admira-se, “Se isto não for antinominianismo, eu não sei o que é” (pág.332). Este negócio legal não é razoável para Finney e portanto ele conclui: “considero estes dogmas tão fantasiosos que mais se adequam a um romance que a um sistema teológico” (pág. 333). Assim conclui nesta seção contra a Assembléia de Westminster: “São obvias as relações entre a justificação e a depravação, dos pontos de vista da velha escola. Eles sustentam, como vimos, que toda parte e faculdade da constituição humana é pecaminosa. Claro, um retorno a uma santidade pessoal presente, no sentido de total conformidade com a lei, não pode ser, juntamente com isso, uma condição de justificação. Eles precisam ter uma justificação mesmo estando ainda em algum nível de pecado. Isto só pode ser produzido pela justiça imputada. O intelecto revolta-se ante uma justificação em pecado. Portanto é inventado um plano para tirar os olhos da Lei, e dAquele que dá a Lei, de sobre o pecador para o seu substituto, que obedeceu perfeitamente à Lei”. (pág.339)

Ele chama isso de “outro evangelho”. Insistindo que o relato realista de Paulo sobre a vida cristã em Romanos 7 referia-se, na verdade, à vida do apóstolo antes de experimentar a “inteira santificação”. Finney supera Wesley quando teima na possibilidade de um crente alcançar santificação nesta vida. John Wesley sustentava que era possível ao crente alcançar completa santificação, mas quando reconhecia que o mais santo dos crentes peca, ele acomodou sua teologia a este fato empírico singelo. Fez isso ao dizer que a experiência da “santificação cristã” é um assunto do coração, não de ações. Em outras palavras: um crente pode ser aperfeiçoado em amor, de modo que o amor seja agora a única motivação de suas atitudes, embora cometa erros ocasionalmente. Finney rejeita esta posição e insiste que a justificação é condicionada à completa e total perfeição, isto é: “conformidade com toda a Lei de Deus”, e o crente não é capaz apenas disso; quando ele ou ela transgride em qualquer ponto requer-se uma nova justificação.

Como assinalou tão eloqüentemente o teólogo B. B. Warfield, de Princeton: ao longo de toda a história existem apenas duas religiões: o paganismo — do qual o pelagianismo é uma expressão religiosa — e a redenção sobrenatural. Juntamente com Warfield, e com aqueles que com tanta seriedade advertem seus irmãos e irmãs destes erros de Finney e de seus sucessores, nós também

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precisamos reconhecer e saber lidar com a feroz pressão heterodoxa do protestantismo americano. Com raízes no reavivalismo de Finney, talvez o liberalismo evangélico e protestante não sejam tão distantes apesar de tudo. As “Novas Medidas” de Finney, assim como o movimento de Crescimento de Igrejas dos dias presentes, fizeram das emoções e da escolha humana o centro do ministério da igreja, ridicularizaram a teologia, e substituíram a pregação de Cristo pela pregação da conversão.

É sobre o moralismo naturalista de Finney que as cruzadas políticas e sociais cristãs edificam sua fé na humanidade e nos seus recursos da auto-salvação. Sem parecer nem um pouquinho deísta Finney declarou: “Na religião não há nada além dos poderes ordinários da natureza. Ela consiste inteiramente no correto exercício dos poderes da natureza. É apenas isto e nada mais. Quando os homens tornam-se verdadeiramente religiosos, eles não são habilitados a exercitarem aquilo que não eram capazes antes. Eles apenas exercem faculdades que possuíam anteriormente, de uma forma diferente, e as usam para a glória de Deus”.

Portanto, assim como o novo nascimento é um fenômeno natural, o reavivamento também o é: “Um reavivamento não é um milagre, nem depende de um milagre, em nenhum sentido. É apenas um resultado puramente filosófico do uso correto dos meios constituídos — tanto quanto qualquer outro efeito produzido pela aplicação de métodos”. É pernicioso crer que novo nascimento e reavivamento dependem necessariamente da ação divina. “Nenhuma doutrina”, diz ele, “é mais perigosa do que esta para o crescimento da igreja, e nada é mais absurdo” (Reavivamentos da Religião pág.4-5).

Quando os líderes do movimento de Crescimento de Igrejas proclamam que a teologia entrava o caminho do crescimento e insistem que não importa o que uma igreja em particular creia: o crescimento é uma questão da aplicação de princípios apropriados, e estão demonstrando seu débito a Finney. Quando os membros do Movimento da Videira louvam este empreendimento sub-cristão e latir, rugir, gritar, gargalhar, e outros fenômenos estranhos com o argumento de que “funciona” e que deve-se julgar sua verdade pelos seus frutos, eles estão seguindo a Finney além do pai do pragmatismo americano, William James, que declarou que a verdade tem de ser julgada na base “de sua contabilidade em termos de experiências”.

Portanto, na teologia de Finney, Deus não é soberano; o homem não é pecador por natureza; a expiação não é o verdadeiro pagamento pelo pecado; justificação imputada é um insulto à razão e à moralidade; o novo nascimento é

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simplesmente o efeito de técnicas bem sucedidas, e o reavivamento é um resultado natural de campanhas inteligentes. Em sua recente introdução à edição do bicentenário da Teologia Sistemática de Finney, Harry Conn recomenda o pragmatismo de Finney: “Muitos servos de nosso Senhor devem estar procurando diligentemente por um evangelho que “funcione”, e estou feliz em dizer que eles podem achá-lo neste volume”. Como documentou cuidadosamente Whitney R. Cross em O Distrito de Burned-Over: A História Intelectual e Social da Religião Entusiástica na Nova York Ocidental, 1800-1850 (The Burned-Over District: The Social and Intellectual History of Enthusiastic Religion in Western New York 1800-1850 — Cornell University Press, 1950), a região na qual os reavivamentos de Finney foram mais constantes foi também o berço dos cultos perfeccionistas que empestaram aquele século. Um evangelho que, por um momento, “funciona” para perfeccionistas zelosos cria meramente os super-santos desgastados e desiludidos de amanhã.

É desnecessário dizer que a mensagem de Finney é radicalmente diferente da fé evangélica, assim como a orientação básica dos movimentos que vemos hoje ao nosso redor que trazem a sua marca: reavivalismo (ou seu rótulo moderno: “movimento de crescimento de igrejas”), emocionalismo e perfeccionismo pentecostal, triunfalismo político baseado no ideal da “América Cristã”, as tendências anti-intelectuais e anti-dotrinárias do evangelicalismo e fundamentalismo americanos. Foi através do “Movimento da Vida Superior” (Higher Life Movement) do final do século dezenove e começo do século vinte que o perfeccionismo de Finney veio a dominar o nascente movimento dispensasionalista sob os auspícios de Lewis Sperry Chafer, fundador do Seminário de Dallas e autor de Aquele Que é Espiritual. É claro que Finney não é tão-somente responsável, ele é mais causa que causador. Contudo, é penetrante a influência que exerceu e ainda exerce até hoje.

O reavivalista não abandonou apenas o princípio material da Reforma (a justificação), fazendo-se um renegado do cristianismo evangélico; ele repudiou doutrinas, tais como a do pecado original e da expiação vicária, igualmente aceitas por protestantes e católicos romanos. Portanto Finney não é meramente um Arminiano, mas um Pelagiano. Ele não é apenas um inimigo do Protestantismo evangélico, mas do Cristianismo histórico do mais amplo tipo.

Não é com prazer que aponto estas coisas, como para denunciar alegremente os heróis dos evangélicos americanos. Entretanto, é sempre melhor, quando alguém perde algo de valor, voltar pelo caminho para determinar quando e onde pela última vez o teve em sua posse. É este o propósito deste exercício,

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encarar honestamente o sério distanciamento do cristianismo bíblico que ocorreu através do reavivalismo americano. Se não encararmos esta mudança, perpetuaremos um curso distorcido e perigoso.

De uma coisa Finney estava absolutamente certo: o Evangelho sustentado pelos teólogos de Westminster, a quem atacou diretamente, e verdadeiramente mantido por todo os evangélicos, é um “outro evangelho” distinto daquele proclamado por Charles Finney. A pergunta agora é: ficaremos do lado de qual evangelho?

II – UMA EVANGELIZAÇÃO QUE BASEIA-SE NO PRAGMATISMO RELIGIOSO

A Inglaterra, que uma vez já foi conhecida pela sua vitalidade espiritual, agora está mergulhada numa letargia espiritual e a visão missionária dos Estados Unidos está substituindo aquilo que a Inglaterra deixou de lado. Além disso, muita coisa do que Deus está fazendo hoje está acontecendo fora desses dois países. Eu espero que a Igreja no Brasil esteja em constante oração para que, a partir do Brasil, uma outra reforma e um grande despertamento venha e tome conta do mundo.

Não sabemos o que Deus vai fazer no mundo, mas seria muito emocionante se pudéssemos fazer parte daquilo que Ele deseja fazer no Brasil. É maravilhoso ser um cristão e saber que Deus tem todas as coisas debaixo do Seu controle. Todos nós sabemos da necessidade de um grande avivamento, mas ao mesmo tempo existe uma grande polêmica nesses dias sobre a questão. Sem sombra de dúvidas, se convidássemos as pessoas para uma reunião de avivamento, muitas delas viriam com conceitos diferentes do que é avivamento. Assim sendo, faz-se necessário ter uma definição clara em nossa mente do significado desse termo. Qual a diferença entre avivamento e avivalismo, se assim podemos chamar?

Avivalismo e Pragmatismo - Avivalismo, especialmente na tradição deixada por Carlos Finney, é, na realidade, um fenômeno americano e queremos tratar de parte desse fenômeno. Não somente porque é um produto feito na América, mas porque muitos dos movimentos que estão vindo dos Estados Unidos para outras partes do mundo têm essa visão característica de entender avivamento segundo o modelo de Carlos Finney.

Esse modelo tem como base o que nós chamamos de pragmatismo. Se você for abrir um negócio você tem que ser pragmático e se você vai criar uma família, existe uma série de considerações práticas que você precisa sempre ter

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em mente; e, certamente, o mesmo se aplica quando nós estamos fundando uma Igreja e queremos desenvolvê-la.

Todos sabemos que há preocupações práticas que devemos considerar, mas o pragmatismo é uma filosofia que empurra para a periferia uma série de princípios fundamentais e elege, como único fator relevante, a questão: “Isso funciona?”

Quais os perigos do pragmatismo? Voltando para o texto de 2Tm.3:1-9, consideraremos primeiramente os aspectos relativos à nossa chamada para o ministério. Vejamos, então, o contexto do nosso ministério. Paulo se refere a esse contexto como sendo o dos “últimos dias”. Sabemos que os “últimos dias” começaram com o tempo dos apóstolos, e terminarão com a segunda vinda do nosso Senhor. Portanto, estamos vivendo nos “últimos dias”, como, também, Timóteo estava vivendo nos “últimos dias”. Qual é o contexto, então, do ministério nesse período entre as duas vindas de Cristo? Paulo diz, em primeiro lugar, que nos últimos dias os homens serão amantes de si mesmos.

Narcisimo e Auto-Estima - Christen Lash, um sociólogo americano bastante conhecido, escreveu um livro sobre a cultura americana cujo título é: “O culto do Narcisismo”. Essa é uma acusação difícil de se fazer, porque o que ela implica é que a cultura americana é uma cultura onde as pessoas se endeusam. E como vocês se lembram “Narciso” é o nome daquele jovem da lenda grega que costumava admirar o seu próprio reflexo no espelho das águas. Mas isso não somente é parte da nossa cultura, como também se tornou parte das nossas igrejas. Muitos dos movimentos que se entitulam “avivados”, em nossos dias, simplesmente estão reavivando o narcisismo, ou seja: a adoração do “eu”. Isso pode ser visto na declaração de um desses pastores que afirmou: “A Reforma errou porque foi centralizada em Deus e não no homem, como devia ser”. Esse pastor escreveu um livro cujo título é: “Crendo no Deus Que Crê em Você”. Uma certa ocasião, trouxemos esse cidadão para falar no nosso programa de rádio. Então eu li essa passagem, onde Paulo diz que as pessoas serão amantes de si mesmas, e perguntei-lhe: “Como você pode dizer às pessoas que a salvação começa com o amor próprio, quando Paulo diz que nos últimos dias as pessoas serão amantes de si mesmas? Não estaria ele dizendo que isso é uma coisa errada, e que nós não devíamos ser amantes de nós mesmos? E como Deus vai nos fazer felizes com esse falso evangelho narcisista?”

O que está acontecendo é que a piedade e a santidade deixaram de ser os referenciais pelos quais julgamos se um movimento é ou não é do Espírito. Assim, o critério que tem sido adotado é: “Funciona? Vai me fazer feliz? Vai me

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ajudar a criar minha família? Vai consertar o meu casamento?”. Todas essas questões são importantes, à luz das Escrituras, mas não são as mais importantes.

Em segundo lugar, Paulo diz que eles serão amantes do dinheiro. Porque as pessoas amam excessivamente a si mesmas, elas criam o evangelho da auto-estima; e porque as pessoas amam excessivamente o dinheiro, elas criam o evangelho da prosperidade.

Rebeldia, desprezo pelo passado e busca do prazer - Paulo diz ainda que haverá muito orgulho e revolta contra as autoridades. Haverá pessoas desobedientes aos pais. Uma geração não se preocupará com a geração anterior. O cantor Bob Marley escreveu uma música sobre a cultura americana dizendo: “Povo do futuro, onde está o teu passado? Povo do futuro, quanto tempo vocês vão durar?” O povo que não tem passado também não tem futuro. Não sei se Bob Marley era crente, mas com certeza esses versos refletem um ponto de vista bíblico ao tentar se segurar naquilo que pede o seu passado.

Eu quero lhes garantir que se levarem a doutrina bíblica a sério, muitos irmãos e irmãs vão lhes dizer que vocês não estão andando nos passos do Espírito; vão lhes dizer que o Espírito Santo hoje quer fazer uma coisa inteiramente nova, tal como nunca fez no passado. E o que vocês vão falar? Vão falar sobre os grandes avivamentos do passado, sobre a Reforma? Qual o valor disso para os amantes de si mesmos e materialistas? Eles responderão que Deus está fazendo algo completamente diferente nos dias de hoje. Mais uma vez eu quero lembrar que isso faz parte do narcisismo que diz o seguinte: - “eu é que sou importante e aqueles da minha geração é que são importantes e não os que vieram antes de nós”.

E ele diz também que as pessoas serão hedonistas, amantes do prazer, nos últimos dias; como ele diz no verso 4, serão mais “amigos dos prazeres que amigos de Deus”. Mais uma vez queremos enfatizar: Se você perguntar em uma Igreja: “Vocês concordam com o hedonismo?” Creio que ninguém vai responder sim a essa pergunta. Mas se você entrar numa livraria evangélica, se ouvir uma emissora de rádio evangélica, se prestar atenção a muitos sermões evangélicos, você ouvirá mensagens afirmando que o Cristianismo é a melhor maneira para você se auto-realizar. Quantos testemunhos temos visto que funcionam como comerciais de televisão? Nos Estados Unidos, temos aquelas propagandas de dieta que mostram uma pessoa antes e depois da dieta. Muitas vezes, os testemunhos dos crentes são assim: “Antes eu era triste, agora sou feliz; antes eu era deprimido, mas agora eu estou extremamente motivado para viver”.

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Esses são benefícios maravilhosos, mas, por vezes, a verdade é que nós, como cristãos, nos tornamos tristes. Algumas vezes, o caminho da cruz é o caminho do sofrimento, e nem sempre estamos tão entusiasmados a respeito disso. Apesar de tudo isso, a perspectiva que predomina nos nossos dias é que temos que viver para satisfazer a nós mesmos.

Moralidade sem piedade - No verso 5 do texto destacado, Paulo diz: “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Veja bem! O que Paulo está dizendo é que pode haver uma moralidade sem Deus. Existem pagãos que tem uma vida moral excelente, e há ímpios que acreditam ser errado você trair sua esposa. Há pessoas não cristãs que têm famílias muito boas. Mas será que este é o propósito do cristianismo? Consertar tudo aquilo que está moralmente errado no mundo, ou será que o foco está em Deus, nos Seus mandamentos justos, e no Evangelho pelo qual nós devemos viver?

É esse o contexto do nosso ministério. Então respondamos à pergunta: Qual o nosso chamado para o ministério? O exemplo de Paulo é alguma coisa que temos de imitar nesse sentido. Mas agora perguntamos: Como, historicamente, essa filosofia do pragmatismo dominou o pensamento moderno? A figura mais destacada no cenário evangélico, neste sentido, é a de Carlos Finney. Quantos de vocês já ouviram falar de Carlos Finney? Quase todo mundo. Isso é significante porque Finney é uma pessoa muito importante para aqueles que são proponentes do movimento de crescimento da Igreja e do movimento de sinais e prodígios.

Evangelho ou Pragmatismo? - Carlos Finney era presbiteriano, mas atacou a Confissão de Fé de Westminster que ele próprio subscrevera. Ele a chamou de: “um papa de papel”. Ele dizia, no século XIX em que viveu: “Nós já somos pessoas muito ilustradas e racionais para acreditar em todas essas coisas aí que a Confissão de Fé está dizendo”. Vejam algumas das coisas que Carlos Finney escreveu: “Quando o homem se torna religioso - disse Finney - ele não recebe um poder que não tinha antes, ele simplesmente muda a sua vontade, e resolve seguir, agora, numa direção moral. Religião é obra do homem, não é um milagre e nem depende de um milagre em qualquer sentido; é simplesmente um resultado filosófico do uso correto de técnicas. O homem já possui, por natureza, toda a habilidade necessária para prestar perfeita obediência a Deus, portanto o objetivo do ministro é emocionar as pessoas até que se disponham a tomar essas decisões.”

Foi dessa filosofia que nasceu o que ficou chamado naquela época de “novas medidas introduzidas por Finney”. Por exemplo: O sistema de apelo para

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que as pessoas se manifestem fisicamente e caminhem até à frente em resposta à pregação nasceu com Carlos Finney, nesse período. Em sua Teologia Sistemática, Finney nega explicitamente a doutrina do pecado original. Ele diz ainda que a doutrina da substituição vicária de Cristo é uma ficção, e que a justificação pela graça, por meio da fé somente, é “outro evangelho”. Com certeza, é um evangelho diferente daquele que Finney estava pregando.

É isso que Paulo diz a Timóteo, quando fala de pessoas que têm forma de piedade mas negam, entretanto, o seu poder. Afinal de contas, onde reside o poder da piedade? É o poder de Deus para a salvação! E que poder é esse? É o evangelho de Jesus Cristo! Somente o Evangelho pode nos capacitar a viver a vida cristã. Portanto, é possível ter moralidade sem piedade; e esse é o resultado do pragmatismo.

Mais tarde, tornou-se conhecida a idéia de D.L. Moody. Ele disse no século XIX que não faz nenhuma diferença como você leva alguém a Deus; se você conseguir fazer isso, não importa o meio. O importante é levar, de qualquer maneira, a Deus.

Uma vez perguntaram a Moody: Qual é a sua teologia? Ele disse: “Minha teologia? nem sei se eu tenho uma!”. Vejam bem! Moody era um vendedor de sapatos, e um dia ele disse que ao se tornar evangelista não mudou de profissão, o que ele havia feito era trocado de produto.

Como abordamos o pragmatismo corporativo da nossa cultura? Alguns dizem que a contribuição distinta da América para a história da filosofia foi a criação do pragmatismo. Um dos grandes pais do pragmatismo e quem o transferiu da esfera religiosa para a esfera secular foi William James. Ele era filho de pastor; pastor, ele próprio, e também professor da Universidade de Harward. Ele disse: “Faça a seguinte pergunta: Como é que você define que determinada verdade é o que você deve crer?” E acrescentou: “A resposta é que você tem que determinar o seu valor em termos de experiência e resultado”. Então, com princípios pragmáticos, analisou a doutrina de Deus dizendo o seguinte: “Se a doutrina de Deus funciona, então é verdade. O pragmatismo tem que adiar questões dogmáticas porque no começo nós não sabemos qual reivindicação doutrinária vai produzir resultado”.

Acredito que quase ninguém iria marcar essas coisas num exame tipo teste dizendo que acredita nelas, mas, na prática, o que acontece é que esse é o credo do evangelicalismo mundial hoje. Um evangelista americano famoso disse: “Não tente entender, simplesmente comece a desfrutar, porque funciona; eu já

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tentei”. Ele estava falando a respeito da meditação transcendental da Nova Era. Na década de 50 do nosso século, esse pragmatismo se desenvolveu em termos de pensamento positivo. Foi então publicado um livro chamado “A Mágica do Crer”. Esse livro propõe que há uma certa qualidade mágica no simples ato de crer. Porém, a verdade é outra. No cristianismo, o que salva não é o ato da fé, mas sim o objeto da fé. Nós não somos salvos pela fé, não somos justificados pela fé; nós somos justificados pela justiça de Cristo que nos é imputada. Mas hoje em dia, desenvolveram essa equação de que fé é igual a pensamento positivo. Na realidade, essa última frase que mencionei foi uma citação de Peter Wagner. Ler anexo 03 (o pensamento jesuíta – “os fins justificam os meios” – Pb. Manoel Canuto)

Deus como objeto de consumo - Muito bem! Esses conceitos funcionam numa sociedade materialista, que está satisfeita e centralizada no ego; pode funcionar muito bem na América do final do século XX, pode ser até que funcione em São Paulo também, e pode funcionar em Londres. Mas imagine o seguinte quadro: Você vai a um cristão do século I e diz a ele que a razão principal pela qual ele está indo para a boca dos leões é porque o Cristianismo funcionou melhor do que as outras religiões!

Os testemunhos que temos no Novo Testamento são muito diferentes dos testemunhos que nós vemos hoje em dia. No Novo Testamento temos a palavra de testemunhas oculares, que é muito mais importante que o nosso próprio testemunho. O que é que Paulo disse em I Cor. 15? Ele disse: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e é vã a vossa fé... Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Ele não diz “pelo menos vocês têm uma vida feliz e saudável!”. E ele também não está dizendo “Bem! o que é que você pode perder?” Por que Paulo não fez isso? porque ele não era um pragmático. Paulo fundamentava todas as reivindicações da fé cristã no Evangelho verdadeiro.

Temos que nos perguntar: “Será que não estamos usando a Deus? Será que, finalmente, não embarcamos nesse consumismo da nossa sociedade? Será que não estamos tratando a Deus como tratamos um produto?” São perguntas muito importantes que devem ser feitas a nós mesmos. “Será que Deus está nos usando ou nós estamos usando a Deus?”

Reavivamento e Reforma não virão à Igreja até que a mentalidade dos crentes seja desviada desse egoísmo humano, da centralização no homem que Paulo descreve, para o verdadeiro Evangelho e para Deus.

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Nos Estados Unidos, temos um adesivo que diz: “Jesus é a resposta”. Os incrédulos fizeram um outro adesivo para retrucar a esse: “Qual é a pergunta?” Considere, agora, o que diz o pragmatismo: “Eu não sei qual é o seu problema, mas qualquer que seja, Deus pode resolver. O seu carro está enguiçado? A sua vida familiar não está progredindo como devia? Deus pode consertar em um piscar de olhos!”. Assim, passamos a consumir a Deus. Nós usamos a Deus, ao invés de amá-Lo, servi-Lo e honrá-Lo. Ler anexo 04 ( discípulos ou consumidores – Augusto Nicodemos)

Muito bem! Então qual é o propósito do nosso ministério? Vejamos o que diz Paulo: “Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento, propósito, fé longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, - que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção para a educação na justiça. a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, que não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério (II Tim. 3:10-4:5)

O modelo apostólico - Em primeiro lugar, o propósito do nosso ministério é seguir o modelo apostólico. Paulo menciona aqui o seu ensino, a sua maneira de viver, o seu propósito, a sua fé, a sua paciência, o seu amor, e a sua perseverança diante das tribulações. Perseguições? Sim! É o que ele diz no verso 12. Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Será que é isso o que estamos ouvindo hoje? Ou será que estamos ouvindo outra mensagem? Algumas vezes você vai pensar que não está dando certo, que as coisas não estão funcionando como deveriam, como lemos em

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Romanos, capítulo 7. Nós sofreremos como cristãos, e ainda vamos sofrer com os nossos pecados.

A proclamação da Lei e do Evangelho - Além de seguir o seu exemplo, Paulo quer que Timóteo também se firme naquelas verdades que aprendeu quando era jovem. Veja que Paulo, ao invés de nos levar à questão do pragmatismo: “Será que funciona?”, ele nos conduz para as Escrituras. Ele diz: “prega a Palavra”, com muita paciência instruindo as pessoas. Porque haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina. Ao contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como quem sente coceira nos ouvidos (4:3).

Vejam! sempre temos coceira nos ouvidos. Pragmatismo não é uma coisa nova. Na realidade já foi praticado desde o jardim do Éden. Quando Eva viu que a árvore era agradável para se ver, para descobrir o conhecimento e desejável para trazer entendimento; então ela tomou do fruto e comeu. O que significa para nós “pregar a Palavra”? O que Paulo quer dizer no verso 5 “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista”?. O que ele quer dizer com isso, “pregar a Palavra”? Vez após vez, Paulo e os demais escritores bíblicos nos dizem que isso é a proclamação da lei. Na verdade, é pela proclamação da lei santa de Deus que nós somos tocados e feridos. A lei de Deus vem até nós e ela não vem dizendo assim: “Eu vou transformar a tua vida numa vida feliz!”, ela não vem dizendo: “Vou te dar prosperidade!”. Na realidade, a lei vem para nos dizer exatamente aquilo que Deus tem dito que requer de nós. A lei nos confronta com a glória de Deus e a nossa pecaminosidade torna isso aterrorizante!

Finalmente, o Evangelho vem e causa também impressão em nós. Há uma Igreja no Estado do Arizona, cujo pastor, numa entrevista que foi publicada na revista Newsweek, disse: “As pessoas hoje em dia não estão preocupadas com doutrinas como justificação, salvação ou expiação. Nos dias de hoje, ninguém entende esses termos. O que nós precisamos fazer é atender as necessidades das pessoas!”

Imaginem um professor! Vocês não acham que seria muito estranho se o professor chegasse dizendo assim: “Não posso ensinar o alfabeto para esta criança porque ela ainda não sabe português”. Esse é o tipo de argumento que esse pastor estava apresentando. Tanto que o que hoje se passa com o nome de pregação, na realidade, não é pregação da Palavra. Porque não apresenta nem a Lei nem o Evangelho. Esses pastores começam decidindo o que é que as pessoas de sua igreja desejam ouvir. Quais são os pontos que estão em moda hoje? Quais

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são as necessidades das pessoas dos dias de hoje? E aí, então, eles vão às Escrituras e procuram e acham passagens que podem ser usadas para apoiar essa necessidade, ao invés de, indo ao texto, perguntarem primeiro como a santidade de Deus nos convence do nosso pecado e como o Evangelho de Cristo pode ser tão claro que até pecadores como nós podem se arrepender e crer.

Mas vocês, irmãos e irmãs ouçam o que Paulo diz, sejam sóbrios em todas essas coisas, preguem a palavra, suportem as aflições, façam o trabalho de evangelista, e cumpram cabalmente o ministério. Ler anexo 02 ( tentando agradar a homens uma prática cheia de perigos – George M. Bowman)

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CAPÍTULO IX

A EVANGELIZAÇÃO PURITANA x EVANGELIZAÇÃO ARMINIANA

(Pr. José Santana Dória)

INTRODUÇÃO:Dois conceitos e tipos distintos de evangelismo tem sido desenvolvidos

durante o curso da história protestante. Podemos chamá-los de Evangelismo Puritano e Evangelismo Moderno. – Estamos tão acostumado com o Tipo moderno, que olvidamos o Evangelismo Puritano. A fim de apreender mais sobre o Evangelismo Puritano, quero pô-lo aqui em contraste com o Evangelismo Tipo Moderno. Que em nossa era predomina.

I – O EVANGELISMO MODERNO E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS -DEFICIÊNCIAS

Comecemos caracterizando o evangelismo Tipo Moderno:

Um evangelismo que tem o caráter de uma campanha periódica de recrutamento – Trata-se de uma atividade extraordinária e ocasional (reuniões especiais com pregadores especiais), adicional e complementar ao funcionamento regular de uma congregação local. ( Reuniões vistas como uma ação separada e distinta da adoração a Deus). São encontros, que fazem de tudo para garantir, da parte dos perdidos um ato de fé imediato, consciente e decisivo em Jesus Cristo. No fim das reuniões...Solicitados virem a frente, levantar a mão, preencherem um ficha, aconselhadas e arroladas como novos decididos e brevemente como membros comungantes. Esse tipo de evangelismo foi criado por Charles G. Finney, durante a década de 1820 ( Advogado e Pastor Presbiteriano). Finney criou novas medidas como o assento dos ansiosos (reuniões com muita emoção), gabinete de aconselhamento e no fim dos seus

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sermões costumava dizer “Aqui está o assento dos ansiosos; venha à frente e tome a resolução de passar para o Senhor”

A evangelização dos nossos dias é o prolongamento das medidas criadas por Finney – Sequer percebemos que este tipo de evangelização é uma inovação na história da Igreja Cristã. – e como ela esta distante da realidade bíblica. Tanto Finney, quanto a evangelização moderna, cometeram alguns erros básicos em diferentes aspectos das Escrituras. Citarei apenas quatro áreas em que eles se afastaram dos princípios bíblicos.

1 – Aceitação do pelagianismo – Finney era confessadamente um pelagiano ( Pelágio foi um herege do século IV que sofreu dura oposição de Agostinho). Ele negava que o homem caído fosse incapaz de se arrepender, de crer ou de fazer qualquer coisa espiritualmente boa sem o concurso da graça renovadora. – Negava a influência do pecado original na vida humana. Assim como, negava os Cinco pontos Calvinistas.

Dizia que cada pessoa tem a liberdade e a vontade livre de arrepender-se e voltar-se para Deus.

Que cada pecador pode resistir ao chama do Espírito Santo, e que este espírito apenas apresenta-lhe razões pelas quais ele deve ir a Deus. Entretanto ele é livre para aceitar ou rejeitar as razões apresentadas.

O Espírito Santo apenas persuadia moralmente – O homem teria sempre essa liberdade para rejeitar a persuasão “os pecadores podem ir para o inferno apesar de Deus”.

Quanto maior a persuasão, maior possibilidade de aceitação – Razões porque o clima emocional teria que prevalecer – Quanto mais o sistema nervoso fosse solicitado...

2 – Colocação de pressão indevida sobre a vontade humana – Se a vontade humana, pecadora, é livre... A pregação deve ser reduzida simplesmente a uma batalha entre a vontade dos ouvintes e a vontade do pregador. – Todos os meios que o pregador usar para persuadir torna-se lícitos – mesmo que seja baseado no excesso de emocionalismo do auditório – O que importa é a decisão imediata – Inverso Jo.1:13.

3 - Reduzem o processo de conversão a um espaço de curto tempo - A Bíblia apresenta a conversão como sendo por vezes demorado – Perderam o conceito de conversão como uma obra miraculosa Jo.3:8 – Passou essa responsabilidade para o homem.

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4 - Grande parte dos resultados da evangelização moderna é questionável. Se a doutrina de Finney sobre o estado natural do homem pecaminoso está certa, então seus métodos de evangelização também precisam ser considerados corretos – Da mesma forma o inverso...

A maioria dos convertidos de Finney desviou-se e apostatou – o que não é diferente daqueles que foram conseguidos (nos dias atuais) utilizando-se dos métodos de Finney

Esses métodos tem uma tendência natural de produzir uma colheita de falsos convertidos, o que, inegavelmente, tem acontecido na realidade.

A Bíblia diz que Deus pode fazer com que uma vara torta se torne reta. Entretanto, esse fato não nos isenta da responsabilidade em apresentar aos

nossos ouvintes uma evangelização bíblica, saudável e teocêntrica. É isso que descobrimos quando nos voltamos para o método puritano.

II – O EVANGELISMO PURITANO E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS.O evangelismo puritano, era e continua sendo uma expressão coerente, das

convicção puritana que a conversão de um pecador é uma obra soberana e graciosa do poder divino. Quero esclarecer.

Os puritanos usavam as palavras “conversão”, “novo nascimento” e “regeneração” como sinônimo do termo técnico chamada eficaz – Rm.8:30; 2Ts.2:14; 2Tm.1:9. O adjetivo “eficaz” foi adicionado para distinguir da chamada externa e ineficaz, mencionada em Mt. 22:14

A Confissão de Fé de Westminster no Capítulo X, Item I. Diz o seguinte: “Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, somente a esses Ele se agrada, no tempo por Ele determinado e aceito, chamá-los eficazmente, por meio de Sua Palavra e Espírito, tirando-os daquele estado de pecado e morte no qual se acham por natureza, para a graça e a salvação por meio de Jesus Cristo.”

O Breve Catecismo de Westminster , em sua resposta 31, oferece a seguinte análise: “A chamada eficaz é aquela obra do Espírito de Deus mediante a qual, convencendo-nos do nosso pecado e miséria, iluminando-nos a mente quanto ao conhecimento de Cristo e renovando a nossa vontade, Ele nos persuade e nos capacita a aceitar a Jesus Cristo, o qual nos é gratuitamente oferecido no evangelho.”

Acerca dessa chamada eficaz, três coisas precisam ser ditas, se tivermos de entender o ponto de vista puritano.

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a) Ela é uma obra da graça divina. Não se trata de algo que o indivíduo possa fazer por si mesmo ou por outrem. – é uma obra da Trindade. O PAI elege incondicionalmente, O FILHO redime objetivamente os eleitos e O ESPÍRITO SANTO aplica eficazmente a redenção ao coração daqueles por quem Cristo morreu.

b) Ela é uma obra do poder divino . Ela é efetuada pelo Espírito Santo, o qual age na mente e no coração do pecador restaurando-lhe todas as suas faculdades... fazendo-o capaz e disposto a responder positivamente ao convite do evangelho.

John Owen diz o seguinte : “O ato de regeneração do Espírito é infalível, vitorioso, irresistível, ou seja, sempre eficaz, esse ato remove todos os obstáculos, vence toda oposição e produz de forma infalível, o efeito tencionado”

Thomas Watson diz o seguinte : “Os ministros batem à porta dos corações dos homens, o Espírito Chega com uma chave e abre a porta.”

Michael Horton : “Nosso papel é colocara isca no anzol, fisgar depende do Senhor.”

A razão pela qual os puritanos magnificavam o poder vivificante de Deus é que eles entendiam a situação do homem depois da queda: Morto espiritualmente, escravizado pelo pecado, espiritualmente impotente... O pecado exerce um poder tal, afirmavam eles, que somente o autor da vida pode ressuscitar mortos. (2Co.4: 6, 7; Is.55:11). A incapacidade total requer total soberania para que seja vencida.

c) Ela é uma obra da liberdade divina . Só Deus pode torná-la realidade (Rm.9:16 “Assim, pois, não depende do que quer, ou de quem corre, mas de Deus usar a sua misericórdia”). Há mais dois textos, que expressam bem esta verdade. Vejamos Mt.11:20 – 24 e At.16:9

O evangelho é enviado a alguns, mas não a outros. No primeiro Texto Mt.11 – Vimos que aquelas pessoas poderiam se

arrepender... No segundo Texto At. 16 - O Senhor restringe que o evangelho seja

pregado na Ásia ou Bitínia – Assim, como ainda hoje continua restringindo em várias regiões do mundo.

Pergunto? Por que essa discriminação? Por que somente alguns ouvem o evangelho? E quando o evangelho é ouvido, por que somente uns poucos crêem. João e não Judas. Simão Pedro e não Simão Mago.

Porque quem determina quando um pecador eleito será salvo, nunca é o homem, e sim, Deus.

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2.1 – PRINCÍPAIS CARACTERÍSTICAS EVANGELÍSTICAS DOS PURITANOS1 - Apresentavam sermões evangelísticos (aliás todos os seus

sermões eram evangelísticos e doutrinários...) extensamente baseado nas Escrituras. Para o pregador puritano o texto não estava no sermão, mas o sermão estava no texto. Por isso um membros de uma igreja puritana podia dizer: “Ouvir um sermão, para mim, é como estar dentro da Bíblia.” O sermão puritano era dentro do contexto, permanecendo de acordo com a doutrina que estava sendo ensinada. Eles eram profundamente bíblicos, seus sermões eram textual, expositivo, prático e aplicativo. Os sermões evangelísticos de hoje Citam as Escrituras, mas, superficialmente e repetidamente. O resto do tempo passam manipulando as consciências; usam os textos bíblicos intercalados com anedotas; Pregações egocêntricas (eu, eu, eu...).

2- A pregação evangelística tinha cunho doutrinárioa) O pregador puritano não temia pregar todo o conselho de Deus para o povo. b) Pregavam sem medo, a doutrina do pecado – Chamavam pecado de

pecado. Mostravam todas as conseqüências do pecado original. Hoje há muita pouca convicção de pecado entre os não salvos – Temos muitos membros de igrejas, fruto do evangelismo moderno, que nunca se arrependeram de seus pecados.

A evangelização moderna – tem uma visão superficial do pecado; fala tão pouco de um assunto que a Bíblia tanto menciona.

A evangelização moderna – tem medo de falar às pessoas as verdades a respeito delas mesmas; tem medo de perdê-las. Ensina que não devemos ofender as pessoas, e sim, sempre conquistá-las.

A evangelização moderna – não nega algumas doutrinas básicas: Ef.2:1; Rm.8:7; 1Co.2:14 – porém não as aplica – “como poderemos ganhar pessoas se dissermos que elas não podem salvar-se a si próprio.”A razão humana diz que não vamos ganhar pessoas se falarmos do pecado.

c) Pregavam a Doutrina de Deus – Mostravam que todas as coisas são preparadas, iniciadas, projetadas e feitas para glória de Deus. Os puritanos achavam que não podia contar uma história qualquer, sem que esta tivesse doutrina. Pregavam a verdade de Deus como um homem que estava morrendo a outros que estão morrendo.

O evangelista puritano mostrava aos seus ouvintes, não salvos, Que eles precisavam se arrepender, precisavam parar de fazer o mal, precisavam ser santo como Deus é, precisavam amar a Deus de todo o coração, precisavam

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entrar pela porta estreita. Eles mostravam claramente a incapacidade do homem para salvar-se a si mesmo. Em primeiro lugar eles mostravam as suas necessidades (ser salvo) mostrava a sua impossibilidade (eu não posso ser salvo).

Como foi que Jesus evangelizou Nicodemos ( você precisa nascer de novo), Como Ele evangelizou o Jovem Rico ( você precisa guardar os mandamentos) – NÃO POSSO!

Os puritanos pregavam a lei para que os pecadores se sentissem culpado – depois pregavam a Cristo na Sua plenitude, mostrando que Ele é o fim da lei.

d) Proclamavam de forma completa e plena a doutrina de Jesus Cristo – Recusavam separar os benefícios que advêm de Cristo, da própria Pessoa de Cristo. Eles entendiam que os verdadeiros convertidos não aceitam apenas as recompensas de Cristo, mas a própria obra de Cristo. Não amam apenas os benefícios de Cristo, e sim também o “fardo” de Cristo. São participantes do pão e do cálice. Eles rejeitavam a graça barata – Um Cristo que tira os nossos pecados, mas não exige negação do “EU” - Um pé no céu outro no inferno. Os puritanos nunca deixou de apresentar Jesus como Senhor e Salvador. Eles diziam assim: “O pregador que é seu melhor amigo, é aquele que vai dizer mais verdade sobre você mesmo.”

e) Pregavam com detalhes a doutrina da Santificação – A vida inteira do crente era para ser colocada aos pés de Deus. Isso nos traz a terceira característica.

3) A pregação evangelística puritana, era experimentalmente prática. A ausência de uma pregação experimental e prática é uma das grandes falhas no culto e na evangelização de hoje. O que significa uma pregação experimental? – A palavra experimental vem da palavra experiência. Em termos de cristianismo, a religião experimental significa que a palavra de Deus e suas doutrinas precisam ser recebidas não apenas na mente, mas também precisam ser experimentadas e vividas no coração Pv.4:23. Para os puritanos os pensamentos precisam fluir das Escrituras e as experiências do coração, fluem do ensino da doutrina e das Escrituras. Dessa forma a experiência não é alguma coisa mística, separada da Bíblia. De sorte que os puritanos acreditavam que, o ouvinte deveria trazer suas experiências as Escrituras. Para os puritanos a doutrina seria algo vazio sem a experiência (ortodoxia sem ortopraxia). Toda experiência verdadeira leva a uma experiência pessoal com Cristo. Por isso é necessário a pregação da pessoa de Cristo e esta pregação será honrada pelo Espírito santo, porque Ele toma estas coisas e aplica aos pecadores.

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Os puritanos na sua pregação incluíam o que chamavam de “marcas de um auto exame”, eram sinais que distinguiam a igreja do mundo. Distinguiam os verdadeiros crentes daqueles que eram nominais.

Os puritanos faziam distinção entre fé salvadora e fé temporária. Eles não estavam preocupados em criar crentes nominais.

Fé e Arrependimento são dons de Deus operados na alma através da obra regeneradora do Espírito Santo. (At.13:48; Ef.2:8, 9; At.5:31; 11:18; 16:14; 18:27; Fl.1:29; 2tm.2:25, 26 ).

Interferir neste campo é usurpar a obra do Espírito Santo.

CONCLUSÃO: Concluindo, diríamos que só existe um meio de evangelizar – É aquele

que prega e esclarece o evangelho de Cristo em sua totalidade, trazendo dEle (Cristo) total explicação e aplicação, glorificando a Deus, reconhecendo-o como o Senhor Soberano. E dando ao homem o seu devido lugar (com a boca no pó), em busca do favor e da graça divina. Clamando desesperadamente por Misericórdia.

ANEXOS

ANEXO Nº 01

CAPÍTULO XVIII DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTERDA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO

I.Ainda que os hipócritas e os outros não regenerados podem iludir-se vãmente com falsas esperanças e carnal presunção de se acharem no favor de Deus e em estado de Salvação, esperança essa que perecerá, contudo, os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa consciência, podem, nesta vida, certificar-se de se acharem em estado de graça e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus, nessa esperança que nunca os envergonhará.

Ref. Deut. 29:19; Miq. 3:11; João 5:41; Mat. 8:22-23; I João 2:3 e 5: 13; Rom. 5:2, S; II Tim. 4:7-8.

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II.Esta certeza não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa esperança, mas uma infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos sermos nós filhos de Deus, no testemunho desse Espírito que é o penhor de nossa herança e por quem somos selados para o dia da redenção.

Ref. Heb. 6:11, 17-19; I Ped. 1:4-5, 10-11; I João 3:14; Rom.8:15-16; Ef.1: 13-14, e 4:30; II Cor.1:21-22.

III.Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários. É, pois, dever de todo o fiel fazer toda a diligência para tornar certas a sua vocação e eleição, a fim de que por esse modo seja o seu coração no Espírito Santo confirmado em paz e gozo, em amor e gratidão para com Deus, em firmeza e alegria nos deveres da obediência que são os frutos próprios desta segurança. Este privilégio está, pois, muito longe de predispor os homens à negligência.

Ref. I João 5:13; I Cor. 2:12; I João 4:13; Heb. 6:11-12; II Ped. 1:10; Rom. 5:1-2, 5. 14:17, e 15:13; Sal. 119:32; Rom. 6:1-2; Tito 2:11-12, 14; II Cor. 7: 1; Rom. 8: 1; 12; I João 1:6-7, e 3:2-3.

IV.Por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz do seu rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que temem; contudo, eles nunca ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do dever; dessas bênçãos a certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto.

Ref. Sal. 51: 8, 12, 14; Ef. 4:30; Sal. 77: 1-10, e 31:32; I João 3:9; Luc. 22:32; Miq. 7:7-9; Jer. 32:40; II Cor. 4:8-10.

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ANEXO Nº 02

TENTANDO AGRADAR A HOMENS UMA PRÁTICA CHEIA DE PERIGOS (George M. Bowman)

Aqueles que estão no Ministério logo descobrem que podem conseguir grandes e amigáveis respostas as suas pregações, quando tentam agradar aos homens e mulheres de suas congregações. A. W. Tozer disse: "Nós que testemunhamos e proclamamos o Evangelho, não podemos pensar de nós mesmos como relações públicas enviados para estabelecer a boa vontade entre Cristo e o mundo".

O número de pregadores, evangelistas, e missionários que falam prioritariamente para agradar as pessoas tem aumentado diariamente. Esta prática, no entanto, está cheia de perigos. O perigo vem quando este esforço de agradar a homens e mulheres os leva a fazerem uma escolha errada: amando "a aprovação dos homens ao invés da aprovação de Deus" (Jo.12:43).

E quando fazem esta escolha errada, correm o risco de desagradarem a Deus.

Em meu julgamento, isto acontece porque eles acreditam que, fazendo assim, irão conseguir encher suas Igrejas mais rápido. Mas, norteando-se pelo que suas audiências desejam ouvir, eles serão obrigados a fazer mudanças que certamente hão de devastar seus ministérios.

A Bíblia sempre adverte os ministros com relação a agradar a homens, e os perigos que envolvem os que assim fazem. Você pode prevenir ou vencer estes problemas em seu ministério, identificando e evitando estes perigos. .

Esteja alerta em não estabelecer objetivos errados.

1. Buscando respeito - Freqüentemente o desejo do pastor de ganhar o respeito e a amizade do povo de sua Igreja ou comunidade é o começo de um ministério que pode desagradar a Deus. Tendo estabelecido estes objetivos, ele terá que diluir a sã doutrina que sustenta a verdade bíblica em equilíbrio.

Por exemplo, para agradar aos incrédulos, ele terá que ter em consideração o que eles gostam e o que não gostam. Isto é perigoso porque a Bíblia diz que

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eles amam o pecado e odeiam a justiça. Eles não têm interesse em um Deus que os chamará a prestar contas do que têm feito com a vida que Ele Lhes deu.

A fim de ganhar o respeito deles e sua amizade, o pastor terá que apelar à razão humana, emoções e experiência. Isto significa que ele terá de dar um "bypass" na autoridade da Bíblia. O pecador deseja um Deus que ele possa manipular e com o qual possa sentir-se confortável. A fim de agradá-los, o pastor não poderá pregar sobre o infinito, imutável e santo Deus da Bíblia.

Esta é a razão por que muitas Igrejas e missões cujas doutrinas são centradas no homem, têm mudado o conceito bíblico de Deus num deus limitado, mutável e imperfeito. Deus, dizem eles, está caminhando para uma maturação ou em processo de crescimento da mesma forma como os homens estão. Esta visão, logicamente, leva a condenar a doutrina do pecado original, a necessidade de expiação, justiça imputada e a credibilidade de Deus e Sua Palavra.

Em seu livro Batalha dos Deuses, Dr. Robert A. Morey transcreve Alan Gomes, instrutor de teologia histórica do Talbot Schoolof Theology, quando diz que estes falsos conceitos tem penetrado em grupos como Jovens Com uma Missão. Diz Morey, "Gomes cuidadosamente documenta que líderes da JOCUM, tais como Roy Elseth e Gordon Olson ensinam que Deus pode pecar, que não conhece o futuro, não está operando Seu plano no mundo, que Ele não guarda a Sua Palavra e nem cumpre as Suas promessas" (pp. 13-14).

É evidente, que os crentes modernos são como muitos descrentes. Não estão dispostos a ficar para ouvir sermões sobre todo o conselho de Deus. O seu estilo de vida superficial os faz sentirem-se desconfortáveis diante do ensino que expõe seus deslizes e hipocrisias, além de mostrar suas tagarelices como tão malignas como fornicação e assassinato. Eles não podem tolerar um Evangelho que ordena a crentes, salvos pela Graça, a negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e a seguirem a Cristo por um caminho estreito.

Para ganhar o respeito e a amizade deles, o pastor tem que adocicar a doutrina do Evangelho de Cristo. Ele tem que transformá-lo num evangelho centrado no homem de "milagres, curas e riquezas" do "poder do pensamento positivo" e da "mente que domina a matéria".

2. Buscando decisões fáceis - Um pastor irá tentar procurar agradar homens e mulheres, quando pensa que seu poder de persuasão pode produzir um regular crescimento de novos convertidos. Isto é como usurpar a ação divina que envia o Seu Espirito para operar, por meio de um avivamento, o aumento expressivo dos crentes através de genuínas conversões a Cristo. Se um pastor

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não pode esperar pelo tempo de Deus em matéria de avivamento, e deseja obter muitas "decisões fáceis para Cristo", ele terá que apresentar conversões a Cristo através de processos espúrios, que não requerem nada mais que uma mera decisão, sem contemplar as verdadeiras implicações do que significa seguir a Jesus.

Assim, se ele quer estas decisões fáceis, não poderá enfatizar todas as verdades do Evangelho bíblico. Não terá coragem de dizer que Deus chama crentes para sofrer, que fé sem verdadeiro arrependimento não é fé, que um pecador não poderá ser salvo a menos que confesse Jesus Cristo como seu Senhor, que fé sem obediência é uma fé fingida. Você não encontrará "decisionismo" entre pessoas que sabem que Deus ordena a todos os crentes a "seguirem a santificação sem a qual ninguém verá ao Senhor" (Heb. 12:l4).

O pastor que desejar conversões fáceis terá que fazer o Evangelho atrativo para o homem natural, algo que ele possa gostar neste mundo. Muitos que professam sua fé em Jesus Cristo hoje não mostram nenhuma mudança na sua maneira de viver, porque pregadores, evangelistas e missionários, querem diluir a mensagem a fim de alcançar resultados. Ávidos por registrarem uma estatística de muitas decisões por Cristo, eles têm-se afastado do que requer a Palavra de Deus.

3. Buscando grandes audiências - Um dos maiores problemas do Cristianismo hoje é o grande número de pessoas não convertidas figurando como membros de Igreja. Se um pastor busca o aumento do número de membros de sua Igreja como seu alvo principal, ele terá que utilizar algumas das técnicas de promooção que os grandes centros de entretenimentos usam, a fim de atrair pessoas. Alguns fazem disputas de Escolas Dominicais entre Igrejas. Outros oferecem prêmios para que as pessoas venham aos cultos. Eu ouvi de uma Igreja que escondia notas de dez dólares debaixo do assento do ônibus da Igreja, a fim de atrair as crianças e estimulá-las a virem à Igreja. Usam ainda jantares especiais, shows modernos, e outras formas de entretenimento. Eu não encontro esse tipo de "esperteza" no Novo Testamento. As pessoas que acorriam às reuniões da Igreja primitiva, não esperavam outra coisa exceto perseguição. Crer em Cristo, no tempo apostólico, eqüivalia a assinar sua própria sentença de morte.

Com a diluição da sã doutrina, e a acomodação do Evangelho ao que as pessoas querem, não é de admirar que muitas Igrejas estejam cheias de crentes não salvos.

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4. Buscando fugir da controvérsia - Os ministros tentam agradar a homens, procurando fugir da controvérsia. Numa conversa que eu tive com um líder batista canadense, ele descreveu um pastor amigo como um "causador de problemas". Quando eu pedi que me explicasse como um homem de Deus podia ser classificado como um causador de problemas, ele disse.. "ele sempre trás à tona questões de controvérsia".

Como alguém pode pregar o Evangelho e evitar questões de controvérsia? Há um grande conflito entre Deus e os homens, entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal. Se um pastor deseja evitar toda controvérsia, ele precisa jogar fora sua Bíblia e dar ao povo uma dieta de sermões adocicados, designados a agradar ao homem natural.

"Eu prego um evangelho positivo!" disse um pastor e "procuro ficar longe de assuntos polêmicos". Quando perguntado que assuntos polêmicos ele evitava, então respondeu: soberania de Deus, eleição incondicional, expiação limitada e aquelas doutrinas que fazem diferença entre as denominações.

Um ministro evangélico disse que, para evitar controvérsia, ele estava disposto a aceitar em sua Igreja pessoas batizadas e doutrinadas na Igreja Católica Romana.

Cuidado para não perder a aceitação do Senhor

Alguns pastores vêem o agradar aos homens como o aspecto mais importante de seus ministérios. Um pastor costumava ir constantemente aos membros de sua igreja, para perguntar o que eles estavam achando de sua pregação. Ele estava tão ansioso em agradar as pessoas, que ele queria saber se eles estavam gostando de seus sermões. Quando alguém, com sinceridade, mostrava falhas na sua pregação, ele não podia suportar. Então resignado, deixava o local do culto sem sequer dar uma palavra de despedida aos membros. Há muita imaturidade emocional entre aqueles que fazem do agradar a homens e mulheres a prioridade em seus ministérios.

1. Critério exclusivo - Eu duvido que essa espécie de pregador seja aceito diante de Deus. Paulo disse que tinha por muita pouca coisa o ser julgado em seu ministério pelo homens. "O único que me examina" disse ele, "é o Senhor" (l Cor. 4..4). Devemos usar como meio de avaliação do ministério e conduta dos homens somente a Palavra de Deus. De outra forma como saberemos que um pastor tem a aprovação de Deus quanto ao seu ministério? Não é da aprovação dos homens que o pastor necessita, mas sim da aprovação de Deus.

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2. Trabalhando em vão - Aqueles que fazem como seu alvo principal agradar a homens enveredam pelo caminho de fazer com que seus cultos agradem a todos. As pessoas acorrem para as suas reuniões a fim de serem entretidas pelo humor dos púlpitos e estórias engraçadas. Eles vêm porque esperam ver diversão, apresentações dramáticas, ventríloquos, celebridades, heróis esportistas, personalidades da televisão e as últimas novidades da música "gospel".

A congregação do pastor que guia seu ministério por tais métodos de entretenimento, pode vê-los como ministros poderosos e populares. Porém, tendo assumido esta posição de tentar agradar as pessoas, eles estarão inevitavelmente na condição de não aceitos por Deus.

O primeiro objetivo deles deveria ser agradar a Deus, manifestando a Sua glória. E a não ser que Deus os aceite com o servos, todo o seu trabalho terá sido em vão. Tudo que eles fazem, como orações, estudo bíblico, preparação de sermões, pregação, visitação, testemunho e aconselhamento, será vazio da presença, do poder e da bênção do Senhor.

Fico pensando quantos pastores e ministros têm sempre na mente que terão que prestar contas diante do trono de Cristo? Quantos deles estão realmente apercebidos do alto nível de responsabilidade que têm, não diante dos homens, mas diante de Deus? Quantos se sentiriam confortáveis com a declaração que o apóstolo faz: "E por isso que também nos esforçamos quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo" (2 Cor. 5:9-10).

3. Consciência de Deus - Quando um pastor tenta agradar a homens, ele pode deixar de Ter consciência de Deus. É muito fácil num ministério popular, procurando agradar as pessoas, alcançar tal sucesso quer resulte num esquecimento da onipresença de Deus. A não ser que um pastor esteja acuradamente cônscio da presença de Deus e O coloca sempre em primeiro lugar em todos os aspectos do seu ministério e vida, ele acabará adotando um estilo fútil de raciocínio e procedimento.

Por exemplo, ele poderá pensar que é mais importante obter direção da parte dos homens que ele está tentando agradar do que da parte de Deus e Sua Palavra. Eu não mencionaria isto se não tivesse visto e ouvido ministros colocarem a opinião de homens a frente da Palavra de Deus. Como é diferente esse tipo de raciocínio dos apóstolos!

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Confrontados por homens que tentaram forçá-los a fazer sua vontade no ministério, os apóstolos não pensaram, "qual é a melhor coisa a fazer então?" ou "quais serão as conseqüências se nos opuser-mos à vontade deles? "Ao contrário, eles responderam e disseram-lhes: "Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus" (At. 4:19). Pouco depois, quando foram ordenados pelos mesmos homens e autoridades a pararem de pregar, eles de novo os enfrentaram: "importa antes obedecer a Deus que aos homens" (At. 5:29).

4. Os testes de Deus - Quando alguém estabelece um ministério que desagrada a Deus por tentar agradar a homens, certamente ele se esqueceu que Deus testa seus servos. Não há parte em nosso ministério ou vida onde possamos deixar de lado os interesses de Deus e escaparmos impunes. Deus testa as razões que o Seu povo dá em fazerem o que estão fazendo. Especialmente isso é verdade para aqueles que estão no ministério de Sua Igreja. Paulo, o apóstolo, disse que ele e seus companheiros apóstolos firmaram o propósito de falar ao homens e mulheres, não para lhes agradar, mas para agradar a Deus. E a razão que ele dá é que ele sabia que Deus estava constantemente checando suas motivações. "Nós falamos" dizia ele, "não como quem agrada a homens, mas a Deus que examina nossos corações" (1 Ts. 2:4).

5. Abandonados por Deus - Curvando-se aos gostos e desprazeres dos homens; pode um pastor tornar-se um abandonado de Deus. Se ele se esforça por agradar a homens e mulheres do mundo; por exemplo; ele pode achar-se, ele mesmo, tão amigo e identificado com eles que chega a ser um com eles. O homem de Deus não pode ter esse tipo, de mistura com as pessoas do mundo, porque a separação do mundo é a marca do verdadeiro ministro de Cristo. "Não sabeis" pergunta Tiago, "que a amizade com o mundo se constitui em inimizade contra Deus?" (Tg. 4:4).

Cuidado para não esquecer que você está numa posição de confiança

Buscando popularidade com as pessoas, pode o pastor esquecer-se que Deus lhe confiou um grande tesouro, o Seu Evangelho da Graça. Em seu ministério apostólico, Paulo nunca se esqueceu de seu senso pessoal de mordomia. Ele repreendeu aqueles cristãos que procuravam seus líderes de acordo com sua popularidade. As pessoas deveriam julgar um ministro, ele disse, pela sua consciência de despenseiro, que vê como sua principal responsabilidade

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o ser fiel a Deus e Sua Palavra. (I Cor. 4:1-2) Ele também disse que Deus foi condescendente com os homens em permitir que fossem ministros. "Nós fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar Ele o Evangelho... " (1 Ts. 2:4).

1. Hipocrisia e falta de sinceridade - Os ministros de Deus deveriam ser como Moisés que "permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível"(Heb. 11:27). Seus olhos da fé deveriam estar sobre o invisível, o reino espiritual de Deus, não no reino deste mundo. Quando eles rejeitam esta forma de visão espiritual e começam a olhar para o que é aprazível ao homem, eles caem no mal contra o qual Paulo os adverte na sua carta aos Efésios.

Após falar sobre obediência aos pais e mestres, ele diz que tal obediência deve ser prestada "Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus" (Ef.6:6). Isto também se aplica ao ministro. Um pastor não deveria buscar o olhar de aprovação do povo a quem serve. Isto é tentar fazer seu trabalho "servindo a vista, como para agradar a homens".

Sua motivação nunca deveria ser o "ser visto" ou o "agradar a homens". Como servo de Cristo, ele deveria buscar com sinceridade fazer "de coração a vontade de Deus".

2. Edificação e Lucro - As epístolas do Novo Testamento têm muito que ensinar sobre a construção do caráter. Os apóstolos fazem do cultivo do caráter interior do homem ou a construção do caráter cristão a coisa mais importante, e é nisso que eles gastam a maior parte de suas pregações e escritos. As únicas razões legítimas e permitidas por eles para agradar aos homens eram a salvação de pecadores, o cultivo da alma e o desenvolvimento da personalidade de Cristo neles. Quando um pastor busca agradar a homens por qualquer outro propósito, ele trai sua confiança e falha em alimentar e guardar o rebanho de Deus.

"Portanto cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para a edificação"(Rom.15 :2).

Em seu trabalho evangelístico, os apóstolos também procuraram agradar aos homens para que os mesmos fossem beneficiados e, se possível até se convertessem a Cristo. Em outras palavras no intento de lhes fazer o bem é que se pode compreender essa atitude deles. Eles não faziam nada para alimentar os desejos mundanos dos incrédulos. Ao contrário, os apóstolos procuraram o proveito de todas as pessoas, sem prejuízo de quem quer que fosse, quer judeus, pagãos ou cristãos. Paulo explica isto desta maneira:

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"Assim como também eu procurei em tudo ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse mas o de muitos para que sejam salvos" (1 Cor.10:33). Mais tarde ele escreve, "Há muito pensais que nos estamos desculpando convosco. Falamos em Cristo perante Deus, e tudo, ó amados, para vossa edificação " (2 Co: 12:19).

Cuidado para não perder o senso bíblico dos valores

Os ministros do Novo Testamento sentiam que, se eles tentassem agradar a homens, eles não poderiam mais ser considerados servos de Cristo. Um pastor não pode esperar a sustentação divina em seu ministério, se ele não estiver mais qualificado como servo do Senhor Jesus Cristo. Como Esaú, ele trocou uma grande herança por um ganho temporário. Ele vendeu o dia por causa de uma hora.

1. Cristo, o Modelo - Tão logo um pastor começa a agradar às pessoas, ele perde sua ligação com o ministério de Cristo. Ele esquece que o Filho de Deus é o modelo para o seu ministério e falha em seguir o Seu exemplo. Mateus diz que mesmo os inimigos de Cristo, embora falassem com sarcasmo, sabiam que Ele não procurava agradar a homens, mas ensinava as verdades de Deus, arcando com as conseqüências.

"E enviaram-Ihe discípulos juntamente com os herodianos para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com , quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens " (Mat. 22:16).

2. Perder a Visão - Quando um pastor desagrada a Deus por tentar agradar a homens, ele pode se esquecer de que não pertence a si mesmo, pois foi comprado com preço. Pregando um Evangelho voltado para resultados e centrado no homem, pode ser levado para longe de Deus e Sua Verdade Eterna, e pode ainda diminuir sua percepção do valor de sua própria redenção. Como o homem que falha em acrescentar elementos do caráter cristão à sua fé, ele irá perder tanto sua visão escatológica como histórica.

Tal homem, diz Pedro, "...é cego, vendo só o que está perto (isto é cegueira escatológica), esquecido da purificação dos seus pecados de outrora (isto é cegueira histórica) " (2 Pedro 1:9).

3. Comparação de Valores - Agradar aos homens constantemente pode alterar a habilidade de um ministro de fazer de um modo correto uma

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comparação de valores. Paulo apresenta a redenção como uma grande razão para que nós a apresentemos diante dos homens.

"Por preço fostes comprados; não s vos torneis escravos dos homens " (1 Cor.7:23).

4. Alterando a Mensagem - Satisfazendo o interesse dos homens e mulheres, muitos ministros tem mudado a mensagem que Cristo lhes ordenou que pregassem. Receosos de receberem a desaprovação dos incrédulos e cristãos mundanos, eles dizem, com efeito, "Nós não nos atrevemos a dizer nada que lhes desagrade".

Que diferença dos apóstolos! Diante do mais alto tribunal de Jerusalém, enfrentando a ameaça de punição e mesmo a morte, eles confrontaram seus opositores com coragem e disseram, "Pois não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido " (At.4:20).

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ANEXO Nº 03

O PENSAMENTO JESUÍTA: “OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS”(Pb. Manoel Canuto)

O Dr. Martin Lloyd-Jones afirma em uma de suas palestras nas Conferências Puritanas que os jesuítas sempre agiam com uma filosofia pragmática de que os fins justificam os meios. Aliás este tem sido o enfoque de Roma há séculos e de fato é uma tendência do homem natural.

Quando olhamos para o contexto das igrejas evangélicas hoje, percebemos que isto é algo também vivido e enfocado implícita ou explicitamente no nosso meio.

Tudo isto é muito grave, pois, com esta prática, subornamos e nos deixamos subornar por estratégias condenáveis nas Escrituras as quais Deus considera abomináveis. Isso é aplicável a algumas igrejas ou lideranças que, no intuito de conseguirem seus objetivos, usam de artifícios e fecham os olhos a determinados recursos ilícitos.

Lembro-me que, quando o rei Josafá constituiu juizes sobre Judá, recomendou que eles julgassem não da parte dos homens, mas de Deus. E disse: “...seja o temor do Senhor convosco; tomai cuidado, e fazei-o; porque não há no Senhor nosso Deus injustiça, nem parcialidade, nem aceita suborno” (2 Cr. 19:7). Muitas vezes se “aceita suborno” para se atingir os fins que se quer. Até verdades confessionais são omitidas para que se ordenem pastores para comunidades ditas reformadas.

Tenho conhecimento de igrejas que elegeram presbíteros que não aceitam a doutrina da predestinação, da expiação limitada, da depravação total do homem, da cessação dos dons extraordinários (dom de apóstolo, dom de profetas, dom de variedade e línguas, dons de realizar milagres), a suficiência das Escrituras, que não aceitam batismo de criança, apenas por necessitarem de elementos para compor o número de presbíteros. Presbíteros que não são presbiterianos. O mesmo se aplica para pastores. Sei de igrejas que ordenaram pastores batistas (não reformados) e pentecostais para assumirem o pastorado de igrejas presbiterianas. O que eles vão ensinar ao rebanho? O que a igreja aprenderá com estes pastores? Qual a coerência nesta atitude? Infelizmente está

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caracterizada o pragmatismo jesuíta, a falta de zelo pelas verdades bíblicas e o amor pelo rebanho. Está em jogo os “fins” sem importar os “meios”.

Estive conversando com determinado ministro reformado sobre o fato de que alguns pastores que se dizem presbiterianos, afirmarem categoricamente com um “sim” público, no dia da sua ordenação, ao serem confrontados com a pergunta constitucional: “Recebeis e adotais sinceramente a Confissão de Fé e os Catecismos desta Igreja (Westminster), como fiel exposição do sistema de doutrina, ensinado nas Escrituras?” Eles respondem: “Recebo, sim, senhor”! E quando dizem “SIM”, estão apoiando afirmações como estas. “Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo“...Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens”. (Confissão de Fé de Westminster cap.I.I.VI)

Mas, na prática, por posições pragmáticas, interesses pessoais ou certas ofertas (“suborno”), negam o que “sinceramente” e positivamente responderam. O pior é que, antes de serem feitas as perguntas constitucionais, na ocasião da ordenação, algumas instruções são dadas aos ordenandos e que são incluídas como algo a ser aceito (é bom dizer que estas instruções são baseadas na própria Confissão de Fé de Westminster) e por isso, devem também receber o “sim” do candidato: “...Ele que é Rei e Cabeça da Igreja, havendo subido ao alto e recebido dons para os homens, dotou a Igreja com oficiais extraordinários e permanentes, para reuni-la e edificá-la. Os apóstolos, os profetas e os que possuíam o dom de línguas, de curar e fazer milagres, foram oficiais extraordinários empregados a princípio por nosso Senhor e Salvador para reunir seu povo de entre as nações, conduzindo-o à família da fé. Esses oficiais e dotes miraculosos cessaram há muito tempo ”.

Reconheço que muitos pastores não se enquadram neste raciocínio. Quero ser honesto com estes. Quando são ordenados dizendo “sim” à Confissão de Fé de Westminster e Catecismos e às instruções de ordenação de ministros, que afirmam explicitamente a cessação dos dons extraordinários, o fazem sem atentar para as implicações da sua afirmação. Outros acham que a existência de uma Confissão de Fé é irrelevante e assim fazem afirmações insinceras e contraditórias como o “sim” que pronunciaram na ocasião da ordenação. É verdade que alguns, depois do ato de ordenação, mudam de pensamento e

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convicções. Isso é possível, mas não menos estranho. No entanto a situação continuará sempre contraditória, pois estes pastores labutam em uma igreja confessional mas sem concordarem com a Confissão de Fé que a igreja considera ser baseada na própria Palavra e uma fiel exposição escriturística. Alguns mais arrojados e pretensiosos (mas coerentes por discordarem da mesma) defendem mudanças na Confissão de Fé de Westminster e nos Catecismos. Diante disso, as perguntas obrigatórias são: O que mudar? Quem irá mudar? Como mudar sem ferir as Escrituras? Como mudar certas afirmações sem ter de mudar outros pontos que a elas estão entrelaçados? Isto me faz lembrar um pensamento puritano que dizia: “É fácil dizer uma mentira; difícil é dizer só uma mentira”. Diria eu: “É fácil mudar uma afirmação da Confissão de Fé de Westminster (seria?), difícil é fazer só uma mudança”.

Pessoalmente creio que este é um tempo em que a Confissão de Fé de Westminster é de extrema necessidade para a Igreja Presbiteriana do Brasil porque:

1) Há uma necessidade de Unidade doutrinária baseada na Verdade.

2) Para termos uma forte defesa contra outros paradigmas baseados em tradições religiosas humanas.

3) Para termos armas para defesa contra inimigos teológicos.

4) Vivemos uma época de indefinição doutrinária na Igreja Presbiteriana.

5) Muitos pastores e líderes estão trilhando o caminho pragmático do experencialismo. As experiências é que ditam as doutrinas e não o inverso. A experiência é que tem sido “a regra de fé e prática”. Certo professor, ao ensinar a cessação do dom de “variedade de línguas” (1 Co 12:10; 1 Co 13), defendido pela Confissão de Fé (“tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar sua vontade...nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito”) e nas instruções no Manual de Culto Presbiteriano, na página 70, ouviu de um aluno a seguinte argumentação: “Não professor, o dom de falar línguas não cessou porque minha noiva fala” (É bom que se diga que o que ela emitia era sons ininteligíveis que não têm interpretação, nem podem ter).

6) O pluralismo religioso invadiu nosso “arraial presbiteriano”. Não mais há uma verdade a ser aceita e ensinada. Todos são donos da verdade, ou seja, todos têm a sua verdade. Aliás, ouço com freqüência pastores dizerem: “Ninguém é dono da verdade”! Acham que estão dizendo uma grande coisa. Indago destes “humildes sábios”: Você quando sobe ao púlpito diz ao seu

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rebanho: “Irmãos, o que vou dizer aqui é apenas o que acho ser a verdade. Mas talvez esteja errado e até acho que existem outras verdades. Depende da forma como cada um faz sua interpretação ou depende de certas culturas onde se vive. De modo que, vocês façam suas apreciações e decidam o que aceitar, porque não sou dono da verdade, apenas pode ser que seja verdade”; teria coragem de dizer isso?.

7) Não temos pureza doutrinária. A influência arminiana, dispensacionalista, pentecostal, mística, tem trazido impurezas ao nosso meio. Um dos meios de se defender a fé (Fl. 1:27) é pela Confissão de Fé. Nossa fé deve ser confessada.

8) A idéia de que só a Bíblia deve ser regra de fé e prática. Isto é verdade, e é exatamente o que a Confissão de Fé exige e afirma. Mas muitos têm feito esta afirmação dizendo combater uma “ortodoxia morta” e doutrinas que não têm base bíblica. Nada mais equivocado, pois os que formularam a Confissão de Fé foram homens de extremada piedade (puritanos) e profundo conhecimento bíblico. O problema é que muitos são influenciados pelo pós-modernismo que afirma que as crenças do passado foram condicionadas pela cultura da época que as produziu e por isso não serve para nós hoje. Assim, surgiu a idéia falsa de que se pode ser piedoso e sincero sem doutrina, sem um corpo teológico formulado sistematicamente. Chegam a pensar que doutrina são meras palavras e que servem apenas para dividir ou não têm aplicação prática. Já ouvi de pastores afirmações como esta: “Agradecemos muito a Calvino e todos os reformadores; as doutrinas da Reforma foram importantes para aquela época, mas temos de ficar é com a Bíblia” (Como se a “batalha” da Reforma não fosse fundamentada na Bíblia). Se é assim, não podemos fugir daquele ensino que a Reforma mais resgatou; temos de ficar com o princípio Reformado: Sola Scriptura. O problema destes líderes é que não querem ficar só com as Escrituras. Querem novas revelações (profecias, mesmo que falhas, e línguas, mesmo que ininteligíveis, que em nada edificam - e não podem edificar). O nosso problema hoje é um problema de falta de fé, não de falta de fé em Cristo, mas de fé nas Escrituras, elas não são mais suficientes. Isso acaba sendo um insulto a Cristo.

Se você não concorda com a Confissão de Fé em todas as suas partes, quero dar duas sugestões, uma grave e radical, apesar de coerente e outra menos radical mas não menos coerente.

1. Primeira sugestão: Abandonar a Igreja Presbiteriana do Brasil e não semear revolta contra nossa posição oficial, contra um documento que tem

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trazido tantos benefícios à Igreja (Não quero ser divisionista; estou falando de coerência e espero que isso nunca aconteça e sim que retroceda às verdades confessionais e bíblicas).

2. Segunda sugestão: Não ensinar nada contrário àqueles pontos doutrinários em que tem dificuldade de aceitação ou que discorda frontalmente. Falo de não ensinar coisas contrárias à Confissão de Fé, nem de púlpito, nem de forma particular, nem por qualquer material escrito. Mesmo sabendo que agindo assim roubará do rebanho o ensino de todo desígnio de Deus, o que Paulo não fez (Atos 20:27). Saiba que as ovelhas sempre estarão famintas por não se oferecer o seu alimento de que carecem para crescer. Deve também revelar esta sua dificuldade com a Confissão de Fé no seu presbitério e aceitar o julgamento dos membros conciliares e qualquer penalidade que porventura seja aplicada em vista de suas discordâncias. Seja ético, coerente e corajoso.

Digo tudo isso em virtude dos problemas que vejo na Igreja Presbiteriana do Brasil e ratifico minha posição de que a Unidade na Igreja e a necessidade de um grande despertamento espiritual, passam pela verdade da Palavra, doutra sorte poderá ser apenas uma caricatura de unidade e avivamento.

O argumento de que precisamos ver a intenção destes ordenandos, que é boa e necessária para a igreja, não justifica ou isenta do erro. Deus não quer apenas bem intencionados, mas pessoas que vivam a verdade e sejam obedientes à Palavra a todo custo, caso contrário, Jesus teria aprovado o jovem rico. Mas isso não ocorreu!

A verdade é que estes “ordenandos” nem concordam com a Confissão de Fé de Westminster e muito menos com a cessação dos dons extraordinários (bem explicitada nesta instrução do Manual de Culto e na própria Confissão de Fé). Dessa forma o pragmatismo e os interesses pessoais, a ordenação (os fins) têm justificado os meios (“o suborno”). Algumas vezes é feito o que se fez com Finney quando o seu presbitério o examinou para que recebesse licença para pregar. Duas coisas ocorreram: Primeiro os examinadores evitaram fazer perguntas que colidissem com os pensamentos teológicos de Finney. Segundo, um dos examinadores teve a coragem de perguntar se Finney aceitava a Confissão de Fé de Westminster. A resposta de Finney foi positiva sem nunca ter lido tal Confissão. Quando a leu, posteriormente, disse que aquela Confissão era “um Papa de papel”. Finney, em seus pensamentos teológicos chegava a ser, em determinados pontos (era contra a doutrina do pecado original), mais falho do que os ensinos de Roma.

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Finney parece ter sido o primeiro evangelista, pelo menos de grande influência, a sugerir que, de fato, os fins justificam os meios. Finney justificava as suas “novas medidas” pelo número de pessoas que o ouviam e “vinham à frente” (foi o inventor do apelo para decisão) nas suas campanhas evangelísticas. Finney encorajou os jovens pregadores a “serem improvisadores, anedóticos...menos doutrinários” e defendia que toda forma de emoção deveria ser usada para despertar os valores morais adormecidos do homem e assim se “decidirem” por Cristo.

O aparente sucesso de Finney afinal se revelou como um grande desastre. Um de seus obreiros vendo o resultado dos seus “avivamentos” disse: “Qual a situação dessas regiões três meses após sairmos dali? ...voltei gemendo em meu espírito ao contemplar o estado triste, frígido, carnal e contencioso em que as igrejas caíram e mergulharam logo após nossa primeira saída do meio deles”.

Finney ficou muito desanimado com o fracasso dos seus métodos e chegou a dizer: “Os convertidos do meu avivamento são uma desgraça para o cristianismo”. Disse mais: “Com freqüência fui instrumento para trazer cristãos a uma profunda convicção e a um estado temporário de arrependimento e fé... [mas] deixei de instar-lhes a se tornarem familiarizados com Cristo, e assim permanecerem nEle; por isso, logo recaíam ao seu estado anterior”.

O legado de Finney trouxe inumeráveis e grande males práticos que estão invadindo a igreja em todos os lugares. Seus pensamentos e ensinos foram um desastre para a teologia evangélica de hoje. Hoje a igreja ainda sofre dos males advindos do pragmatismo de Finney e dos jesuítas: os fins justificam os meios.

Deus nos socorra nesta hora difícil que vive a igreja brasileira.

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ANEXO Nº 04

DISCÍPULOS OU CONSUMIDORES? (Augustus Nicodemus Lopes)

A palavra "evangélicos" tem se tomado tão inclusiva que corre o perigo, de se tornar totalmente vazia de significado - R. C. Sproul.

Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter cinco mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo. Uma decisão entre muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me à multiplicação dos pães narrada em João, 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis proclamar Jesus como rei, mas Ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte, Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (Jo 6.26,30). Sua palavra acerca do pão da vida afugenta quase todos da multidão (Jo 6.60,66), à exceção dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que Ele é o Salvador, o que tem as palavras de vida eterna (Jo 6.67-69).

Jesus poderia ter satisfeito as necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei e teria o povo ao seu lado. Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos a ter uma vasta multidão que o fazia por motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.

Síndrome da porta giratória

Infelizmente, parece prevalecer entre os evangélicos em nossos dias uma mentalidade bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Muitos, influenciados pela febre de consumir (inclusive coisas supérfluas), que vem crescendo nas sociedades capitalistas, tem assumido uma postura de consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo

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encontrou a porta da igreja evangélica. Tem entrado com toda a força, e parece ter vindo para ficar.

Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as necessidades individuais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno do indivíduo, e tudo existe para satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades.

Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, físicas e materiais das pessoas. E, neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar freqüentando as igrejas.

Numa pesquisa recente feita Instituto Gallup nos Estados constatou-se que quatro a cada dez americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem semanalmente, buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidente muitos estarão em busca de uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades pessoais. De acordo com a revista Newsweek, um em cada cinco americanos sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica, esquizofrenia( etc) durante o curso de um ano. Discordo que todas estas coisas sejam problemas mentais; muita coisa tem a ver com os efeitos do pecado na consciência. De qualquer forma, os espertos se aproveitam de estatísticas assim. Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita no ano passado por Steve Rabey em Christianity Today.

Cada vez mais cresce o Marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido assustadoramente, abandonando por vez seu propósito inicial de difundir o Evangelho e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos estados Unidos pertence a

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corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram caches altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o "cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e especialmente fazelos sentir-se bem.

Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a síndrome da porta giratória". As igrejas estão repletas de pessoas buscando sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações, ou simplesmente diversão e entretenimento evangélicos; muitas delas estão simplesmente passeando pelas igrejas, como quem passeia pelas lojas de um shopping center, escolhendo produtos que lhe agradem. Assim, elas escolhem igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão, facilmente quanto entraram. As pessoas escolhem igrejas onde se sintam confortáveis, e se esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em Cristo e no amor para com os outros.

Finney e a mentalidade consumista

Ao meu ver, um dos mais decisivos fatores para o surgimento da mentalidade consumista na igreja evangélica é a influência da teologia e dos métodos de Charles G. Finney. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney tem, moldado o moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Bill Bright e de Billy Graham; é o celebrado campeão de Keith Green, do "movimento de sinais e prodígios", do movimento neopentecostal e do movimento de crescimento da igreja.

Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Crista, estimado e venerado como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney, sem qualquer crítica à sua teologia e à sua metodologia. Meu alvo, neste artigo, não é escrever extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos evangélicos hoje.

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Em sua obra de teologia sistemática (Sistematic Teology [Bethany, 1976]), escrita no final de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney abraça ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão perde sua justificação (e consequentemente, a salvação) toda vez que peca (p. 46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita a idéia da justificação com base na obra de Cristo cm lugar dos pecadores (pp. 320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana. Para ele, "regeneração consiste em o pecador mudar sua escolha última, sua intenção e suas preferências; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao morrer na cruz (p. 224).

Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, trocou a ênfase que havia à pregação doutrinária pela ênfase em fazer com que as pessoas "tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua Systematic Theology, ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos."

Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro antigo, defendido por Pelágio no Século IV, que foi condenado como herético pela Igreja. Ele tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos maiores responsáveis pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas.

Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo nascimento e produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e o

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avivamento é resultado de campanhas bem planejadas com os métodos conceitos.

Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de pecado, para então guiá-los a Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos pecadores por meios psicológicos, com receio de produzir falsas conversões. Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isso, introduziu novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a prática moderna de se fazer apelos por uma decisão imediata ao final da mensagem), o uso de quaisquer medidas que provocassem um estado emocional propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e denúncias terríveis de pecado e do juízo.

O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são tremendos. Seus sucessores têm perpetuado esses métodos e mantido as características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela teologia e pelos métodos de Finney, têm adotado táticas e práticas em que as pessoas são vistas como clientes, promovendo a mentalidade consumista.

O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a uma multidão de consumidores. É preciso reconhecer que as tendências modernas em alguns quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do homem, poderá melhorar esse estado de coisas.

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ANEXO Nº 05

APASCENTANDO OVELHA OU ENTRETENDO BODE(C.H. Spurgeon)

Um mal acontece no arraial professo do Senhor, tão flagrante na sua impudência, que até o menos perspicaz dificilmente falharia em notá-lo. Este mal evoluiu numa proporção anormal, mesmo para o erro, no decurso de alguns anos. Ele tem agido como fermento até que a massa toda levede.

O demônio raramente fez algo tão engenhoso, quanto insinuar à Igreja que parte da sua missão é prover entretenimento para o povo, visando alcançá-los. De anunciar em alta voz, como fizeram os puritanos, a Igreja, gradualmente, baixou o tom do seu testemunho e também tolerou e desculpou as leviandades da época. Depois, ela as consentiu em suas fronteiras. Agora, ela as adota sob o pretexto de alcançar as massas.

Meu primeiro argumento é que prover entretenimento ao povo, em nenhum lugar das Escrituras, é mencionado como uma função da Igreja. Se fosse obrigação da Igreja, porque Cristo não falaria dele? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Lc.16:15). Isto é suficientemente claro. Assim também seria, se Ele adicionasse "e provejam divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho". Tais palavras, entretanto, não são encontradas. Nem parecem ocorrer-Lhe.

Em outra passagem encontramos: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres"(Ef.4:11). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia, no que se refere a eles. Os profetas foram perseguidos por agradar as pessoas ou por oporem-se a elas?

Em segundo lugar, prover distração está em direto antagonismo ao ensino e vida de Cristo e seus apóstolos. Qual era a posição da Igreja para com o mundo? "Vós sois o sal da terra" (Mt.5:13), não o doce açúcar – algo que o mundo irá cuspir, não engolir. Curta e pungente foi a expressão: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos"(Mt.8:22). Que seriedade impressionante!

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Cristo poderia ter sido mais popular, se tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis a sua missão, quando as pessoas O deixaram por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, eu não O escuto dizer: "Corre atrás deste povo Pedro, e diga-lhes que teremos um estilo diferente de culto amanhã; algo curto e atrativo, com uma pregação bem pequena. Teremos uma noite agradável para eles. Diga-lhes que, por certo, gostarão. Seja rápido, Pedro, nós devemos alcançá-los de qualquer jeito!".

Jesus compadeceu-se dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca pretendeu entretê-los.

Em vão as epístolas serão examinadas com o objetivo de achar nelas qualquer traço do evangelho do deleite. A mensagem que elas contêm é: "Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!"

Eles tinham enorme confiança no evangelho e não empregavam outra arma.

Depois que Pedro e João foram presos por pregar o evangelho, a Igreja reuniu-se em oração, mas não oraram: "Senhor, permite-nos que pelo sábio e judicioso uso da recreação inocente, possamos mostrar a este povo quão felizes nós somos". Dispersados pela perseguição, eles iam por todo mundo pregando o evangelho. Eles "viraram o mundo de cabeça para baixo". Esta é a única diferença! Senhor, limpe a tua Igreja de toda futilidade e entulho que o diabo impôs sobre ela e traze-a de volta aos métodos apostólicos.

Por fim, a missão do entretenimento falha em realizar o objetivo a que se propõe. Ela produz destruição entre os jovens convertidos. Permite aos negligentes e zombadores, que agradecem a Deus porque a Igreja os recebeu no meio do caminho, falar e testificar! Permite que os sobrecarregados, que encontraram "paz" através de um concerto, não fiquem calados! Permite que o bêbado, para quem o entretenimento comovente tenha sido o elo de Deus no encadeamento de sua conversão, fique em pé! Não há contestação. A missão de entretenimento não produz convertidos.

O que os pastores precisam hoje, é crer no conhecimento aliado a espiritualidade sincera; um jorrando do outro, como fruto da raiz. Necessitam de doutrina bíblica, de tal forma entendida e experimentada que ponham os homens em chamas.

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ANEXO Nº 06

O CUSTO DE SEGUIR A CRISTO(J.C.Ryle)

Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para concluir? Lc 14: 28

 

INTRODUÇÃO:

Já se falou muito sobre a necessidade do cristão de ser santo. É uma verdade indiscutível que o genuíno cristão deve buscar a santidade, sem a qual não verá o Senhor (Hb 12: 14b). Aliás, as palavras "santo" e "santidade" são ditas com tanta freqüência e displicência no seio da Igreja que chegaram ao ponto de ser um chavão, pertencente ao "evangeliquês" que domina as igrejas cristã-evangélicas de nosso dias. Já passam desapercebidas.

Mesmo o fraco apelo para a busca da santidade já não surte tanto efeito, pois o "ser santo" ganhou contornos vagos, quase esotéricos, um ideal que contemplamos à distância, pertencente ao passado. Não é a toa que as igrejas estão cada vez mais cheias de pessoas e menos de cristãos genuínos. A santidade deixou de ser uma realidade, passou a ser uma fantasia. Não é mais um objetivo a ser atingido, mas um ideal a ser contemplado passivamente. Não é a norma que pauta a conduta moral e espiritual do cristão, mas apenas um título que lhe é outorgado no momento que passa a ser membro de uma igreja.

Há muito tempo atrás o Bp. Ryle, em seu livro "Santidade",- e muito do que vou falar hoje aprendi com este homem de Deus, e está melhor escrito em seu livro - escreveu que "Vivemos em uma época de intensa profissão religiosa,... . No entanto, nada é mais comum do que ver as pessoas receberem a Palavra de Deus com satisfação, para então, depois de algum tempo, retornarem ao mundo e aos seus pecados". Hoje eu diria que as pessoas não retornam mais ao mundo com seus pecados, mas permanecem na igreja com eles, sem terem experimentado a verdadeira transformação espiritual, o novo nascimento.

Por que? Por que tantos buscam no cristianismo uma resposta para seus anseios e não as encontram? E se as encontram, por que não perseveram? Uma parte da resposta pode ser encontrada no versículo acima (Lc 14:28): as pessoas

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que lotam templos evangélicos simplesmente não param para calcular o preço que custa assumir com coerência a vida cristã.

É muito bom encontrarmos cristãos cujo desejo do coração é uma vida santa aos olhos de Deus. Melhor ainda é quando os encontramos calculando o devido preço que deverão arcar ao buscarem este estilo de vida (que por sinal não é estilo, é uma necessidade para o cristão genuíno). Cristo nos assegurou que, se O seguíssemos teríamos nossas necessidades básicas satisfeitas (Mt 6:33) e no mundo porvir a vida eterna (Mc 10:30), mas também nos alertou que o caminho é apertado e estreita a porta que conduz a salvação (Mt 7:13,14). É insensatez fazer de conta que estas palavras não são dirigidas a nós cristãos. Se desejamos a coroa da vida (Ap 2:10) devemos estar prontos para a cruz. Não há coroa sem cruz.

No texto de Lucas, a ilustração do homem que, antes de construir se assenta primeiro a calcular os custos para ver se poderá terminar a obra, foi proferida, por Jesus, a uma multidão que O acompanhavam, provavelmente a mesma que ouviu a parábola da ceia (vs 15-24) (onde o Senhor deixou claro que muitos foram convidados, e recusaram. Todavia alguns realmente se dispuseram a aceitar o convite e esses provaram da ceia do Senhor). No vs. 26, ao voltar-se para a multidão, Jesus ensina que ninguém poderá de fato segui-lO se seu coração estiver voltado primeiramente para outros objetivos. Até mesmo a família deve estar em posição secundária no que diz respeito a devoção. No vs. 27 o discípulo é aquele que tomou a sua cruz e foi atrás de Jesus. E logo em seguida, Ele os animou a calcular o preço de seguí-lO.

Jesus não considerou aquelas pessoas como seus discípulos meramente porque elas o acompanhavam. Também não baixou as exigências para a entrada no Reino simplesmente porque aquelas pessoas aparentavam devoção. Antes reafirmou que o discípulo é aquele que renuncia a tudo quanto tem e O segue (vs. 33). Em outras palavras, Jesus estava ensinando que há um custo em ser discípulo, e que devemos refletir se estamos dispostos a arcar com esta obra.

Vejamos quanto custa ao cristão ser santo, e depois reflitamos se estamos dispostos a arcar com os custos ou apenas nos enganando a nós mesmos.

 

I. Quanto Custa Ser um Cristão Verdadeiro e Coerente com sua Fé?

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Antes de mais nada, quero deixar claro que não estou ensinando que devemos pagar pela nossa salvação. Nada podemos dar em troca que possa pagar os nossos pecados perante Deus. Esse preço já foi pago, e custou nada menos que o sangue do próprio Filho de Deus (I Co 6:20). A pergunta não é o que devo pagar para obter a salvação, mas sim o que vai me custar o fato de ser um salvo verdadeiro. A primeira indagação está centrada na causa da salvação, e esta já foi provida por Cristo, a segunda nas conseqüências da salvação, ou seja, o que o salvo deve estar disposto a abandonar caso realmente queira seguir a Jesus. Há um custo, qual? Eis uma das questões importantes que devem ser respondidas por toda criatura que sinceramente deseja seguir a Jesus.

Outro fato que merece explicação antecipada é sobre a aparência. Aquela multidão que acompanhava a Jesus não era composta somente de discípulos verdadeiros, ainda que um observador externo pudesse assim o achar. Aparentavam serem, mas não eram. Custa muito pouco para alguém manter a aparência de cristão: basta um palavreado um pouco diferente, duas ou três idas na igreja durante a semana, e uma atitude moral externa que levante a aprovação das pessoas mais próximas, em especial as da igreja em que freqüenta, e pronto! Temos um membro aprovadíssimo no quesito "ser crente". Não obstante... Tal atitude é fácil e pouco nos custará. Muitos membros de seitas cristãs e de religiões pagãs mantêm o mesmo padrão de comportamento e às vezes com mais eficiência. Convém lembrar mais uma vez que estreita é a porta.

Irmãos, custa muito ser um cristão coerente com sua fé. Nas palavras do Bp. Ryle "custa bastante ser um crente verdadeiro, se os padrões da Bíblia tiverem que ser seguidos. Há inimigos que terão de ser vencidos, batalhas que terão de ser travadas, sacrifícios que terão de ser feitos, um Egito que precisará ser esquecido, um deserto que precisará ser atravessado, uma cruz que deverá ser carregada, uma carreira que terá de ser corrida". Há um preço a pagar, um custo a arcar se desejamos ardentemente seguir ao Senhor. E estarei sendo desonesto senão vos alertar para estas verdades. vejamos esse custo:

a) Custará a Sua Justiça Própria

Que difícil! aquele que deseja seguir a Cristo deverá se desvencilhar de todo o orgulho, dos pensamentos altivos e de toda a presunção acerca de si mesmo. Como é fácil e agradável ao homem lhe parecer bom a seus próprios olhos. É uma das facetas do homem decaído das mais difíceis de ser renunciada. Que ser humano não luta com unhas e dentes quando seu orgulho, sua justiça própria é

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ferida? Mesmo na fé cristã, lá no fundo de seus corações, muitos imaginam que vão para o céu por causa de sua bondade, misericórdia, ministério exercido, sua paciência ou mesmo seu grande sacrifício em deixar a TV de lado para vir assistir a um culto.

Não! Ninguém entrará nas Bodas do Cordeiro enquanto não estiver convencido na presença de Deus de seu pecado e de sua pecaminosidade. Enquanto o homem não aceitar de verdade que merece ir para o inferno, ele não estará pronto para o Céu. Ao adentrarmos nos átrios eternos será porque a justiça de Outro nos redimiu. Nossa justiça própria, obras, cultos, promessas, de nada valerão, apenas a Justiça, a Graça e as Misericórdias de Deus Pai por meio de seu Filho Jesus. Mas alguém pode estar pensando neste momento: "Espere! se é tudo obra de Cristo, eu não tenho que fazer nada!". Ledo engano! Você está trocando a causa pela conseqüência. A causa de nossa salvação é unicamente o amor e a Graça por meio de Jesus, não nossa justiça própria. Contudo convém calcular o preço de nossa decisão de seguir a Cristo, pois as conseqüências desta decisão passam por nossa vontade.

Na verdade as conseqüências demonstram se a salvação nos foi outorgada por Cristo ou não. Aquele que não busca arcar com as conseqüências de sua decisão em vir a Cristo para ser salvo, deixa claro que nunca foi salvo. O homem que ainda se apóia em seus direitos para ir ao Céu, nunca lá pisará. Para que alguém seja realmente um crente verdadeiro deverá estar disposto a abrir mão de sua justiça própria. O cristão genuíno não mais se importa com as injustiças que são infligidas contra o seu amor-próprio, pois ele mesmo já está convencido que não possui justiça própria alguma. E como tal não está a mercê de seu ego.

b) Custará o Seu Apego ao Pecado

Um segundo item que deverá ser considerado no custo ao se buscar uma vida cristã coerente com os ensinos bíblicos é o apego a pecado. O homem que quer seguir a Cristo deve estar disposto a abrir mão de seus pecados, do mundanismo. Quando me refiro a abrir mão, não estou usando uma figura de retórica ou uma metáfora inaplicável à realidade, me refiro ao homem estar realmente disposto a desistir de seus pecados, custe o que custar. O que antes lhe agradava, e que estava contra a vontade de Deus, deverá ser realmente lançado fora.

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O desapego ao pecado é uma luta renhida, e esta luta não deve ter tréguas. Deverá ser diária. Às vezes intimamente, outras com a ajuda de irmãos. Por vezes o cristão poderá ser derrotado por algum pecado, secreto ou não, mas não deverá permanecer caído. O justo, que espera em Deus, ainda que caia sete vezes, buscará levantar-se (Pv 24:16). Enquanto não tivermos um ódio declarado contra o pecado que tenazmente nos assedia, jamais experimentaremos o peso de nossas faltas. A Palavra nos exorta em Ez 18:31,32 a lançarmos fora toda iniquidade:

"Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e criai em vós coração novo e espírito novo; pois, por que morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto convertei-vos e vivei"

Já foi dito que o pecado é como um saco de lixo que o homem leva pendurado por onde quer que vá. Também já foi dito que os homens possuem para com o pecado uma relação filial, pois os tratam como filhos mui queridos. A própria idéia de se desvencilhar do pecado já é dolorosa ao homem. É como se estivesse matando um animal de estimação muito querido, e do qual não encontra forças de se separar.

Ainda que para alguns isso soe desagradável aos ouvidos, o fato é que o cristão que se apega displicentemente aos seus pecados, está por eles apaixonado, e seu apego poderá custar-lhe a sua alma eterna. Não é a toa que Jesus ensina que é preferível lançar fora um olho ou braço que nos leve a pecar do que os tendo ser lançado no inferno (Mt 5:29,30; 18:8,9). Aliás, lançar fora um pecado querido é o mesmo arrancar um braço, dói e bastante, mas deve ser feito se quisermos servir ao Mestre.

Estamos dispostos a arcar com mais este custo? Ser cristão custará ao homem os seus pecados.

c) Custará o Seu Amor ao Conforto

O ser humano é interessante. Quando o assunto é de natureza material trabalha feito um condenado às galés para atingir certo grau de conforto. Se esforça ainda mais para subir na vida, quando vislumbra a possibilidade de uma recompensa por seus esforços. Todavia quando o assunto é espiritual raramente vemos esse esforço produtivo. Todos querem ir para o céu, contanto que isso não lhes custe mais do que algumas horas por semana em algum culto ou mesmo um

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estudo bíblico, e não lhe diminua as horas de lazer pessoal. São como criancinhas que, estando doentes, querem brincar mas não estão dispostas a tomarem o remédio que lhes parece amargo.

Conforto em si mesmo não é mau, é algo até desejável e necessário dentro de certas circunstâncias, todavia ser cristão genuíno implicará em esforço, e este por sua vez implicará em um menor tempo para as delícias do lazer pessoal. O apego ao conforto pessoal ou lazer deverá ser levado em conta por aqueles que manifestam desejo de serem discípulos de Cristo.

Como discípulos não terão muito tempo e nem deverão se dedicar com muito afinco ao conforto pessoal. Seguir a Jesus implicará em menos tempo pra o lazer (Mt 8:19,20). Jesus, em Mt 11:12, deixou claro que todos os que desejam entrar no Reino de Deus devem se esforçar. Esse esforço, de maneira resumida, implicará na prática, em:

Vigiar para não cair em tentação (Mt 26:41)

Orar sem cessar (I Ts 5:17)

Cuidar de sua conduta, em todo lugar e em toda companhia (Sl 1:1; Rm 12:16-18)

Meditar constantemente na Palavra de Deus (Sl 1:2; 119:17)

Aproveitar de maneira sábia e proveitosa o seu tempo (Ef 5:15,16)

Refrear sua língua (Tg 1:26; 3:1-12)

Buscar estar na companhia dos irmãos (Hb 10:25)

Apresentar seu corpo por sacrifício vivo, santo e agradável (Rm 6:12-13; 12:1; I Co 6:20)

Estar atento a seus pensamentos, temperamento, desejos, imaginação, etc (Rm 12:2)

Todos estes itens acima demandam tempo e esforço, e o crente zeloso deverá estar disposto a abrir mão de seu conforto e lazer para mostrar-se diligente em todos os afazeres do ofício cristão. Ser crente custará ao homem não só o seu conforto, como por tabela a sua preguiça (Pv 6:6).

Hoje em dia, muitos líderes e denominações se esforçam por ensinar que o crente não tem que fazer nada, tudo já foi feito por Cristo. Você só tem que aproveitar e relaxar. É muito cômodo viver uma religião onde outra pessoa faz

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todo o serviço pesado e apenas temos de desfrutar de bênçãos e de nossos direitos adquiridos, amarrando, exigindo, ordenando, a nosso bel prazer. É verdade que Cristo morreu em nosso lugar e ressuscitou para nos dar vida nova com Deus, mas também é verdade que ninguém conseguirá crescer na Graça de Deus se não se empenhar por desenvolvê-la. Quando a Palavra diz que o caminho é apertado, é porque é mesmo apertado. Nesta vida sempre estaremos numa posição desconfortável em relação ao mundo, a carne e o diabo. Sempre estaremos ralando as costas no muro do pecado, da tentação e da sedução. Não haverá muito descanso. É como o Peregrino de Bunyan: volta e meia encontraremos um banco aprazível para descansarmos brevemente na encosta do Morro da Dificuldade, mas não nos será permitido ali armar a nossa cama, sob pena de perdermos a alegria da salvação.

Irmãos, se queremos ser cristãos verdadeiros, que estão destinados ao Céu, devemos levar em conta o custo. Estamos realmente dispostos a arcar com mais este custo? Ser cristão custará ao homem o amor ao conforto pessoal.

d) Custará a Aprovação do Mundo

Em II Tm 3:12 está escrito: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos"

E em Tg 4:4 "Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus"

E assim temos o último e grande custo: a aprovação do mundo. Se um cristão busca sinceramente agradar a Deus deve esperar o desagrado dos homens. Não deverá temer a calúnia, a difamação, o desprezo, a incompreensão, pois elas virão naturalmente. Terá de aceitar que os homens o tenham por insensato, louco, fanático ou em quem fizeram lavagem cerebral. Pedro dissertou longamente sobre a desaprovação do cristão pelo mundo em I Pe 4:12-19, e nos exortou a nos alegrarmos "na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo". O Senhor Jesus disse algo semelhante em Jo 15:20:

"Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa"

A aprovação do mundo está diretamente ligada a noção de justiça própria. Quando o mundo nos aplaude nossa justiça própria infla e nosso ego se contorce

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de prazer. O inverso também é verdadeiro. Quando encontramos a desaprovação e/ou calúnia de nossos semelhantes, nos sentimos desprezados, inferiorizados ou injustiçados. Para muitos cristãos, receber esse tipo de tratamento lhe é demasiado caro, a ponto de dissimularem quando na presença de incrédulos. Ainda não calcularam o preço, não fizeram as contas se podem concluir a torre que começaram a construir. Têm medo de perderem a honra, a dignidade, o respeito próprio, seus direitos. São aqueles cuja semente caíram em solo rochoso, e em chegando a angústia ou perseguição por causa da Palavra logo se escandalizam (Mt 13:5,6,21).

Meus amados, assim como Jesus foi tratado tratarão os seus discípulos. Estamos dispostos a pagar semelhante preço? Ser cristão custará ao homem a sua aprovação perante o mundo.

 II – Conclusão: A Importância de Calcular o Preço

Os tópicos acima listados (justiça própria, pecados, conforto, aprovação pública) são, de modo resumido, o custo que o cristão dever estar disposto a pagar se realmente quiser ser coerente com sua fé e com sua disposição de seguir ao Senhor Jesus. São itens pesados, custam caro, mas ninguém poderá viver na presença do Senhor e ainda manter um amor próprio exacerbado, um conduta pecaminosa desenfreada, uma atitude preguiçosa e ainda por cima a aprovação do mundo.

Custa muito ser um cristão verdadeiro. Mas vale a pena o preço a pagar. O resultado é a comunhão eterna com o Senhor Deus, na presença dos irmãos em Cristo, a salvação de sua alma. O que o homem de juízo daria em troca de sua alma? Acredito que tudo, inclusive seus tesouros mais preciosos. O cristão deve estar disposto a desistir de toda e qualquer coisa que se interponha entre ele e Deus. Como dizia o Bp. Ryle: "uma religião que nada custa, nada vale". Um cristianismo barato, sem nenhuma cruz , será um cristianismo inútil, que não poderá salvar a ninguém.

Hoje é comum nas igrejas oferecerem às pessoas Cristo, como se fosse um produto miraculoso, onde a única preocupação do fiel é a de se certificar que já o adquiriu, na esperança que todos os problemas irão simplesmente porque um dia tomou a decisão de levantar o braço. estas pessoas ficam alegres em poderem ser considerados salvos. Não lhes é apresentado nenhum custo, nenhuma renúncia, nenhum arrependimento pelos pecados. Não calculam o preço, e vindo a provação logo se escandalizam.

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Tomemos cuidado para que não sejamos nós os que vivem nesta triste situação. É verdade que a salvação dada por Deus é instantânea e de graça, mas também é verdade que devemos nos arrepender de nossas práticas mundanas para que possamos receber a vida nova em Cristo. É necessário saber o que se deve esperar ao ingressar no discipulado de Jesus Cristo.

No texto-base deste estudo, vemos Jesus deixando bem claro para a multidão que O acompanhava o custo que seria seguí-lO (vs.26). Ele não os incentivou a se tornarem discípulos sem antes terem idéia do estava em jogo. em outra situação muitos daqueles que se diziam seus discípulos o abandonaram quando perceberam o custo que seria seguí-lO (Jo 6:66).

Estamos dispostos a pagar o preço exigido? Temos real idéia do que nos custará seguir ao Senhor? Já paramos para calcular os custos? Temos condições de erguer a torre, e estamos dispostos?

Irmãos, convicção de pecados (sem arrependimento) não é conversão. Sentimentos não é fé. Sensações experiências não é Graça. E flor nem sempre é promessa de fruto. Consideremos os nosso caminhos. Olhemos para os dois lados do cristianismo, para o Céu e para a Cruz, e esta última vem primeiro, e sem ela não pode vir a primeira.

Calculemos o preço!!

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ANEXO Nº 07

FIDELIDADE NA EVANGELIZAÇÃO

Gilson Carlos de S. Santos

"A palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada" (1 Pe 1.25).

Não há outra entrada para o céu, exceto a estreita passagem do novo nascimento; sem santidade, ninguém jamais verá a Deus (Hb 12.14). Deus uniu a fé e o arrependimento para serem as duas facetas de nossa resposta ao chamado do Salvador, deixando bem claro que vir a Cristo é abandonar o pecado e renegar a impiedade. "Se falharmos em manter unidas estas coisas que Deus juntou, nosso cristianismo será distorcido."1 A fé salvadora, o arrependimento, o compromisso e a obediência são todas operações divinas, realizadas pelo Espírito Santo no coração daquele que é salvo. Não há obras humanas no ato da salvação. A salvação vem unicamente pela graça, mediante a fé (Ef 2.8). Sola Gratia e Sola Fide são dois dos pilares da Reforma. Entretanto, a verdadeira salvação não pode nem deixará de produzir obras de justiça na vida do verdadeiro crente. A obra de Deus na salvação inclui uma mudança de intenção, vontade, desejos e atitudes que produz inevitavelmente o fruto do Espírito.

Por que existem atualmente igrejas tão fracas? Por que tantas conversões são anunciadas e tantos membros arrolados às igrejas, e estas têm causado cada vez menos impacto sobre a sociedade? Por que não se pode distinguir muitos crentes dos incrédulos? Não é porque muitos chamam de crentes pessoas que na verdade não são regeneradas? Não será que muitos estão tomando "forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder" (2 Tm 3.5)?

Nem todo aquele que afirma ser crente o é na verdade. Jesus declarou em solenes palavras: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mt 7.21). Incrédulos fazem falsas profissões de fé em Cristo, e aqueles que não são crentes verdadeiros podem iludir-se, pensando que estão salvos. O diabo tem produzido muitas imitações de conversão, enganando as pessoas, ora com isto, ora com

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aquilo. Ele possui tamanha habilidade e astúcia que, se possível, enganaria os próprios eleitos.

Este fato teria sido considerado como ponto pacífico, há algumas décadas; hoje, não mais. O barateamento da graça e a fé fácil em um evangelho distorcido estão arruinando a pureza da igreja. O abrandamento da mensagem do Novo Testamento trouxe consigo um inclusivismo putrefato que, com efeito, vê qualquer tipo de resposta positiva a Jesus como um equivalente para a fé salvadora. Os crentes de hoje estão dispostos a aceitar qualquer coisa, que não seja a rejeição aberta, como a autêntica fé em Cristo. O evangelicalismo moderno desenvolveu um território largo e notável, que abriga até aqueles cuja doutrina é suspeita ou cujo comportamento denuncia corações rebeldes contra as coisas de Deus.

O evangelicalismo moderno desenvolveu um território largo e notável, que abriga até aqueles cuja doutrina é suspeita ou cujo comportamento denuncia corações rebeldes contra as coisas de Deus.

O evangelho que Jesus pregou não fomentava esse tipo de credulidade. Desde o início de seu ministério público, nosso Senhor evitou adesões rápidas, fáceis ou superficiais. Sua mensagem resultou em mais rejeição do que em aceitação entre os seus ouvintes, pois recusava-se a proclamar palavras que dessem a qualquer pessoa uma falsa esperança. Suas palavras, voltadas sempre para as necessidades do indivíduo, nunca deixaram de fazer murchar a autojustiça dos que O procuravam, ou de pôr à mostra segundas intenções, ou de alertar quanto a uma fé falsa ou a um compromisso superficial.2

Nas décadas recentes, tem surgido uma geração de cristãos professos cujo comportamento raramente se distingue da rebeldia em que vive o não-regenerado. Um desdobramento do Congresso Internacional de Evangelização Mundial (realizado em 1974, em Lausanne, Suíça) já apontava para esta realidade:

Da parcela de aproximadamente um bilhão de pessoas que compõe a população cristã do mundo, sabe-se que muitos ainda precisam ser evangelizados. São os "cristãos nominais", que não se comprometeram com Jesus Cristo e não Lhe reconhecem as reivindicações sobre suas vidas...

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Talvez haja centenas de milhões de cristãos nominais entre os protestantes de todo o mundo. É impossível obter dados precisos... Ao examinarmos a nossa tarefa, duas coisas se tornaram claras. Primeiro, estamos tratando de uma importante tarefa na evangelização do mundo. Segundo, estamos sendo desafiados pelo nosso próprio incipiente nominalismo e compelidos a examinar o nível de nosso próprio compromisso cristão.3

Este relatório demonstrava que nem tudo estava bem nas igrejas e denominações evangélicas. Por trás das fachadas dos brilhantes relatórios de crescimento e das estatísticas impressionantes, existia uma convicção de que a igreja carecia de poder em seu evangelismo. Ao mesmo tempo, nunca existiram tantas novas igrejas, tantas campanhas evangelísticas e tantos crentes estudando para o trabalho de evangelismo pessoal. Nunca se realizou tantas conferências e seminários em uma tentativa de exame sério das causas e curas no ministério do evangelho. Organizações denominacionais e interdenominacionais também se lançavam em campanhas procurando transcender as barreiras das denominações em esforços evangelísticos. A verdade, porém, é que estes esforços limitavam-se também por outras barreiras:

Tendo aceito a teoria de que unidade é uma máxima para o evangelismo em larga escala, tanto a igreja quanto o indivíduo são forçados a rebaixar o seu conceito do valor da verdade. Não podendo insistir em verdades bíblicas que venham a ofender outro irmão evangélico, temos de procurar o menor denominador comum a todos os crentes. Rotula-se, então, o resto da Bíblia como "não essencial" à evangelização, pois, afinal de contas, estima-se que a unidade entre os crentes é mais importante do que a exatidão doutrinária.

As sociedades interdenominacionais nunca param a fim de perguntar: "O que é na realidade o evangelho de Cristo?"; isto poderia trazer respostas incômodas, que feririam a outros; poderia condenar a maior parte de suas próprias mensagens e metodologia e trazer à baila uma gama de opiniões diferentes. Adotar a posição de uma igreja significaria perder o apoio de cinco outras, e então todo o sistema construído sobre a premissa de unidade desmoronaria.

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A igreja local também se encontra impedida de especificar bem a verdade. Isto pode afetar a sua harmonia com a denominação ou com a associação. Definir o evangelho cuidadosamente (como apresentado na Bíblia) traria conflito com a organização de mocidade; ou talvez demonstre que as lições de escola dominical presentemente em utilização devam ser descartadas; ou mesmo que aquela campanha tenha de ser abandonada. Dar atenção ao conteúdo do evangelho pode significar atrito com outros evangélicos, e a premissa é que a unidade é chave de sucesso.4

Uma igreja sadia necessita ter entre suas características uma compreensão bíblica do evangelismo. Em todas as épocas e lugares, os servos de Cristo estão sob a ordem de evangelizar, ou seja, proclamar o evangelho. Nas páginas da Bíblia, a evangelização é algo que centraliza-se em Deus. A Escritura Sagrada exige que a evangelização seja da parte de Deus, "por meio dEle e para Ele" (Rm 11.36). É triste dizer, mas grande parte da evangelização contemporânea é antropocêntrica — centralizada no homem.5 Com excessiva freqüência, as luzes da ribalta focalizam o evangelista — sua personalidade, eloqüência, a arte com que ele dispõe os argumentos, a história de sua conversão, as dificuldades pelas quais passou, o número de pessoas que se converteram pelo trabalho dele e, em alguns casos, os milagres que alguns dizem que ele realizou. Às vezes, a atenção é posta nos que estão sendo evangelizados. Ressalta-se o grande número deles, o triste estado em que se encontram — exemplificado na pobreza, doença e imoralidade — sua suposta ansiedade pelo evangelho da salvação e, pior de tudo, fala-se do bem que existe neles e os capacita a exercitarem a fé salvadora, por sua livre vontade, embora não regenerada. E quantas vezes o bem-estar do homem — bem-estar terreno ou eterno — é a única finalidade da evangelização!

Uma igreja sadia necessita ter entre suas características uma compreensão bíblica do evangelismo. Para todos os membros da igreja, mais particularmente para os líderes que têm o privilégio e responsabilidade de ensinar, uma compreensão bíblica do evangelismo é crucial. Naturalmente, isso precisa estar intimamente relacionado a outras compreensões bíblicas, como, por exemplo, a do evangelho e a da conversão. É óbvio que a maneira como alguém compartilha o evangelho está intimamente relacionada ao modo como ele o compreende. Quando o evangelho é redefinido como algo que significa pouco mais do que uma mensagem de auto-ajuda espiritual, e a conversão degenera-se de um ato de Deus para uma mera resolução humana, a compreensão e prática da evangelização terão suas conseqüências lógicas. Por outro lado, se a mente for

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moldada pela Bíblia no que concerne a Deus, ao evangelho, à necessidade humana e à conversão, uma correta compreensão do evangelismo fluirá naturalmente.

Quando alguém herda práticas e ensinamentos que presume serem corretos na prática da evangelização, talvez nunca pense em questionar a metodologia e a mensagem com a qual está acostumado. Entretanto, este assunto é sério e afeta cada um de nós. Essas coisas devem preocupar-nos.

Lembro-me bem de quando li Evangelização e Soberania de Deus, de J. I. Packer.6 Ele foi um instrumento usado por Deus para auxiliar-me no equilíbrio do conceito bíblico de evangelização. Eu havia assumido a Cadeira de Evangelismo em um seminário batista e deparava-me com o desafio de fornecer aos alunos um conceito adequado e, portanto, bíblico de evangelização. À época, eu pensava que os cristãos evangélicos não precisavam gastar tempo em discutir este assunto. Em vista da ênfase que os evangélicos sempre deram à primazia da evangelização, seria natural imaginar que todos fossem perfeitamente unânimes sobre o que ela significa. Eu estava errado! Logo entendi que reinava grande confusão acerca deste ponto. A raiz da confusão pode ser dita numa sentença. "Trata-se de nosso generalizado e persistente hábito de definir a evangelização não em termos de uma mensagem anunciada, mas de um efeito produzido em nossos ouvintes."7 Isto significa dizer que a essência da evangelização é produzir convertidos.

Isso, entretanto, não pode ser correto. A evangelização é uma obra do homem, mas a dádiva da fé pertence a Deus. É verdade, realmente, que cada evangelista tem por alvo converter os pecadores e que nossa definição expressa perfeitamente o ideal que ele deseja ver cumprido em seu próprio ministério; porém, a questão de ele estar ou não evangelizando não pode ser resolvida simplesmente pela pergunta: "Meu ministério tem produzido conversões?" Missionários entre os muçulmanos têm labutado durante a vida inteira sem ver qualquer convertido; deveríamos concluir que não estão evangelizando? Tem havido pregadores não-evangélicos através de cujas palavras (nem sempre compreendidas no sentido pretendido) algumas pessoas foram saudavelmente convertidas; deveríamos concluir que esses pregadores estavam evangelizando? Certamente a resposta é negativa em ambos os casos. Os resultados da pregação dependem não das vontades e

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intenções dos homens, mas da vontade do Deus todo-poderoso. Essa consideração não quer dizer que devamos ser indiferentes quanto a ver ou não os frutos de nosso testemunho em favor de Cristo; se não estiverem aparecendo os frutos, devemos buscar a face de Deus para descobrir o motivo. Essa consideração, todavia, significa que não devemos definir a evangelização em termos dos resultados obtidos.

Como, pois, deveria ser definida a evangelização? A resposta dada pelo Novo Testamento é muito simples. De acordo com o Novo Testamento, a evangelização consiste apenas na pregação do evangelho, as boas novas. É uma obra de comunicação na qual os crentes se tornam porta-vozes da mensagem sobre a misericórdia de Deus para os pecadores. Todos quantos anunciam fielmente essa mensagem, sob quaisquer circunstâncias, tanto em numerosa como em pequena reunião, em um púlpito ou em conversa particular, estão evangelizando. Visto que a mensagem divina tem por clímax o apelo da parte do Criador a um mundo rebelde, para que este se volte e deposite fé em Cristo, a entrega da mensagem envolve a chamada dos ouvintes à conversão. Se não estamos procurando obter conversões nesse sentido, não estamos evangelizando. Porém, a maneira de saber se alguém está evangelizando de fato não é perguntar se o testemunho está produzindo conversões. Pelo contrário, é perguntar se o pregador está proclamando fielmente a mensagem evangélica.8

Assim, pois, de acordo com a Bíblia, evangelismo consiste em apresentar as boas novas livremente, confiando a Deus a conversão das pessoas (At 16.14). "Ao Senhor pertence a salvação" (Jn 2.9). Qualquer meio que utilizemos para forçar nascimentos espirituais será tão eficaz quanto Ezequiel tentando costurar os ossos secos ou Nicodemos procurando dar a si próprio um novo nascimento. E o resultado será semelhante. Se o número de membros de nossa igreja é notavelmente maior do que o número de presentes aos cultos, o que se entende por conversão? Que tipo de evangelismo tem sido praticado que resulta em tão grande número de pessoas com baixíssimo nível de envolvimento na vida da igreja e sem qualquer distinção dos incrédulos?

O pragmatismo tem afetado sensivelmente nossos conceitos, metodologias e práticas na evangelização.9 "Pragmatismo é a noção de que o significado ou

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valor é determinado pelas conseqüências práticas. É muito similar ao utilitarismo, a crença de que a utilidade estabelece o padrão para aquilo que é bom. Para um pragmatista/utilitarista, se determinada técnica ou curso de ação resulta no efeito desejado, sua utilização é válida. Se parece não produzir resultados, então não tem valor".10 Algo é bom desde que funcione. Os pragmáticos, portanto, definem a verdade como aquilo que é útil, significativo e benéfico.

O pragmatismo como filosofia foi desenvolvido e popularizado no final do século passado. Conquistou a alma norte-americana e espalhou-se por toda a cultura ocidental. O mais alarmante, entretanto, é que um surto irresistível de pragmatismo veio a permear o evangelicalismo. E, arrastados na torrente pragmática avassaladora, as igrejas e seus líderes retiram a teologia do seu lugar de honra e, em lugar desta, entronizam a metodologia. "Quando o pragmatismo se torna a filosofia norteadora da vida, da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, colidindo com as Escrituras".11

Livros e manuais que falam sobre Crescimento de Igreja hoje são best-sellers. Pastores e líderes estão famintos por livros que, de forma simples e prática, narrem o testemunho de líderes e outras igrejas que têm experimentado assombrosos crescimentos numéricos. Porém, de modo geral, nestes livros (bem como nos modelos e projetos por eles apresentados), sente-se falta de uma avaliação teológica dos modelos de planejamento estratégico empregados por essas igrejas e líderes. Atualmente, estão em voga as técnicas de crescimento de igreja que acriticamente absorvem a perspectiva antropológica moderna. Um exemplo: a antropologia adotada pelas correntes de planejamento estratégico está fundamentada na perspectiva de Rosseau, da bondade intrínseca do homem, levando-nos a acreditar que tudo se resolve com o método; homens bons com um método de desenvolvimento adequado significa sucesso garantido.

Sucesso genuíno é fazer a vontade de Deus apesar das conseqüências

É sob essa luz que podemos entender a rejeição e o menosprezo da metodologia tradicional — especialmente, da pregação — em favor de novos métodos. Estes, supostamente, são mais "eficazes", ou seja, atraem grandes multidões. O pragmatismo encara a pregação (particularmente, a expositiva) como antiquada. Proclamar de modo claro e simples a verdade da Palavra de Deus é visto como ingênuo, ofensivo e ineficaz. Além disso, grandes mudanças revolucionaram o culto de adoração das igrejas. Os cultos agora são planejados

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no sentido de serem mais "divertidos", adicionados de grande dose de entretenimento. "O entretenimento está rapidamente se tornando a liturgia da igreja pragmática".12 A aceitação acrítica e a celebração efusiva de psicologia popular, técnicas de aconselhamento, exagerada ênfase em contextualização, receitas de auto-ajuda, princípios de propaganda e marketing, correntes de administração e controle de qualidade, teorias de crescimento de igreja e outras tendências indicam o crescente comprometimento da igreja com o pragmatismo. Sutilmente, em vez de uma vida transformada, a aceitação por parte do mundo e a quantidade de pessoas alcançadas ou presentes aos cultos vêm se tornando o alvo maior da igreja contemporânea.

A nova filosofia é objetiva: a igreja está competindo com o mundo. O mundo é hábil em captar a atenção e os sentimentos das pessoas. A igreja, por outro lado, tende a ser muito pobre na "venda" de seu produto. Portanto, o evangelismo deve ser visto como um desafio de marketing, e a igreja deveria colocar o evangelho no mercado da mesma forma que todas as empresas modernas colocam os seus produtos. Isso requer mudanças fundamentais. O objetivo de todo marketing é "deixar o produtor e o consumidor satisfeitos"; então, tudo o que tende a deixar o "consumidor" insatisfeito precisa ser jogado fora. A pregação, especialmente a que fala sobre o pecado, a justiça e o juízo, é confrontadora demais para ser verdadeiramente satisfatória. A igreja necessita aprender a "divulgar" a verdade de forma a divertir e entreter.13

Em suma, de forma indisfarçada, o que a nova filosofia está dizendo é o seguinte: a igreja tem sido muito antipática. A igreja pode e deve omitir, ou ministrar em doses homeopáticas, os elementos da mensagem bíblica que não se encaixam no plano promocional. O "bom senso" de marketing exige que o escândalo da cruz seja minimizado.

No final, o que realmente será levado em conta não é o nosso sucesso, e sim a nossa fidelidade

A filosofia contemporânea de ministério está apaixonada pelos padrões mundanos de sucesso... qualquer um que conhece as Escrituras [sabe que] critérios exteriores tais como afluência, números, dinheiro ou reações positivas jamais foram a medida

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bíblica de sucesso no ministério. Fidelidade, piedade e compromisso espiritual são as virtudes que Deus estima; e tais qualidades deveriam ser os tijolos com os quais se constrói uma filosofia de ministério. Isto é verdadeiro tanto para as igrejas grandes como para as pequenas. Tamanho não é sinônimo da bênção de Deus; popularidade não é barômetro de sucesso... Nas Escrituras, o sucesso exterior jamais é um objetivo digno de ser perseguido.

[Sucesso] não decorre de obtermos resultados a qualquer preço. O verdadeiro sucesso não é prosperidade, poder, proeminência, popularidade ou qualquer outro conceito mundano de sucesso. Sucesso genuíno é fazer a vontade de Deus apesar das conseqüências.14

Precisamos retornar à enfase sobre a necessidade de sermos fiéis. Isso é de importância vital em nossos dias. Acima do sucesso, devemos almejar a fidelidade. Lembremo-nos de Noé. Ele é descrito no Novo Testamento como “pregoeiro da justiça”. Que tipo de sucesso ele teve? Se o avaliarmos pelos critérios das correntes pragmatistas contemporâneas, concluiremos que ele foi um evangelista antipático, repetitivo e fracassado. Quanto às conversões, exceto os de sua própria casa, ele não obteve qualquer sucesso. Porém, quando o Senhor voltar, nao dirá: “Muito bem, servo bom e bem-sucedido”. Ele dirá: “Muito bem, servo bom e fiel”. Como alguém muito acertadamente já afirmou, no final, o que realmente será levado em conta não é o nosso sucesso, e sim a nossa fidelidade.

_______________

1 J. I. Packer, na apresentação do livro O Evangelho Segundo Jesus, John F. MacArthur, Jr., Editora Fiel, 1991, Sao José dos Campos (SP), p. 5.

2 John F. MacArthur, Jr., O Evangelho Segundo Jesus, p. 41.

3 Chamam-se Cristãos, a evangelização dos povos tradicionalmente cristãos — relatório da consulta sobre a evangelização mundial (Miniconsulta sobre a Evangelização de Cristaos Nominais entre Católicos e Protestantes), realizado em Pattaya, Tailândia, em junho de 1980, sob o patrocínio da Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial. ABU Editora e Visão Mundial, 1984, pp. 9 e 53.

4 Walter J. Chantry, O Evangelho de Hoje: Autentico ou Sintético?, Editora Fiel, 1986, São José dos Campos (SP), pp. 10,11.

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5 R. B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, Sao Paulo (SP), p. 221.

6 J. I. Packer, Evangelizaçao e Soberania de Deus, Edições Vida Nova, 1990, Sao Paulo (SP), p. 85.

7 Idem, p. 28.

8 Ibid., pp. 30,31.

9 Recomendo a leitura de Com Vergonha do Evangelho.

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QUANTO AO VIR A CRISTO— Parte 1 —

Ernest Reisinger

    "Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi" (Is 55.1-3).

Vir é Comer — Crer é Beber"Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais

terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede" (Jo 6.35).Um comentário acerca de João 6.35: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade,

em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos" (Jo 6.53).

"No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba" (Jo 7.37).

O primeiro convite de nosso Senhor encontra-se em Mateus 11.28-30: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve".

O último convite dEle encontra-se em Apocalipse 22.17: "O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida".

A expressão "vir a Cristo" é boa, mas está rodeada por muita ignorância e confusão, quando se torna parte de métodos errados de evangelismo. O que esta expressão significa para os ouvintes? Com certeza, é necessário que pecadores venham a Cristo para serem salvos. Mas, quando um pregador chama os pecadores à frente da igreja, enquanto a congregação cria o ambiente com um "hino de apelo", é bem provável que a maioria dos ouvintes considerará iguais o "vir a Cristo" e o "vir à frente".

Se for questionado acerca do "vir à frente", o pregador dirá que isto não salva. Contudo, ao mesmo tempo, por sua linguagem e métodos, ele está equiparando o "vir à frente" ao "vir a Cristo", e, portanto, muitas pobres almas são enganadas.

Vir a Cristo é uma expressão boa, uma expressão bíblica. Ela é usada para descrever um ato da alma. Vir a Cristo inclui abandonar toda a auto-justiça e o

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pecado; envolve receber a justiça de Cristo para ser nossa justiça e o sangue dEle para nossa expiação. Vir a Cristo inclui arrependimento para com Deus e fé no Senhor Jesus Cristo. Vir a Cristo é o primeiro efeito da regeneração.

Quando o pregador diz: "Venha a Cristo", ao final do culto, para muitos isso significa vir à frente da igreja. O que as crianças pensam quando o pregador diz: "Venha a Cristo" e, ao mesmo tempo, as convida a virem à frente da igreja? Todo verdadeiro pregador e evangelista sabe que o vir à frente de uma igreja não equivale a vir a Cristo. Alguns podem até dizer "vir à frente não salvará você", mas continuam e "fazem o apelo", como se os ouvintes achassem que tal apelo equivale a vir a Cristo.

A expressão "vir a Cristo" é boa, mas está rodeada por muita ignorância e confusão, quando se torna parte de métodos errados de evangelismo.

Alguns pregadores não se mostram sensatos em seu suposto convite, e o resultado é que muitos dentre o nosso povo, talvez a maioria, considera como iguais o ato físico de ir à frente e o vir a Cristo. Novamente, afirmo que todo verdadeiro pregador está consciente de que não há um único caso na Bíblia, ou sequer uma linha das Escrituras, que dê apoio a essa concepção errada (o igualar o vir a Cristo e o ir à frente, ao final de um culto na igreja). Isto não apenas não se encontra na Bíblia, mas também jamais foi praticado pelo Senhor ou pelos apóstolos. Aliás, jamais foi praticado na igreja até uns 150 ou 200 anos atrás. O famoso avivalista Charles G. Finney introduziu e popularizou o uso da "sala dos decididos" e do "banco dos ansiosos". Mas ele jamais considerou iguais o "vir à sala dos decididos" e o "vir a Cristo".

O Sistema de ApeloPor que me preocupo tanto com este assunto? Porque muitos são

enganados; e ser enganado acerca da salvação é o pior engano que pode sobrevir a uma pessoa. Muitos pastores estão enganados exatamente neste ponto.

Dois textos bíblicos costumam ser usados para dar sustentação ao sistema de apelo, Marcos 1.17 e Mateus 10.32-33. Observe que eu não disse convite, mas sistema de apelo.

Marcos 1.17: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens". Os discípulos largaram suas redes e seguiram a Jesus. Ele estava ali fisicamente, e eles O seguiram fisicamente.

Suponha que hoje eu fosse a uma praia repleta de pescadores e dissesse: "Vinde após Jesus, e Ele vos fará pescadores de homens". Eu estaria querendo

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dizer que os pescadores deveriam abandonar suas redes, no sentido físico? Ou seguir a Jesus, em termos físicos? Não. Isto seria impossível, porque Jesus já não está aqui fisicamente.

O que significa seguir a Jesus hoje? Seguir a Jesus significa aprender de seus ensinos; viver sob a influência desses ensinos, aplicando-os ao nosso dia-a-dia.

Nos dias em que Jesus estava aqui, em carne e osso, segui-Lo fisicamente seria possível. Os pescadores O seguiram literalmente. Zaqueu desceu da árvore, de maneira física e literal, e seguiu a Jesus. Mas, mesmo nos dias da presença visível de Jesus, o sentido fundamental das palavras "Vinde após mim" e "Vinde a mim" era claramente uma identificação de arrependimento e fé. Portanto, Marcos 1.17 não é um texto adequado para dar sustentação a qualquer ato físico ou sistema de apelo.

O segundo texto usado para amparar esse sistema é Mateus 10.32-33: "Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus".

Analisemos com cuidado o que nosso Senhor estava dizendo. Estaria Ele afirmando que pelo ato de confessar, ou por meio de algum ato físico, nos tornamos cristãos? Ou estaria Ele ensinando que uma das marcas indispensáveis dos verdadeiros cristãos é que estes O confessam e vivem uma vida que, publicamente, O reconhece? Não deve haver qualquer dúvida quanto à resposta. Confessar a Cristo é um dever espiritual dos cristãos. Confessá-Lo não se refere a como se tornar um cristão.

Nesta passagem, Jesus não estava dizendo aos pecadores como fazerem uma decisão, não estava descrevendo a forma como ocorre o novo nascimento. Estava ensinando que confessá-Lo é um dever espiritual do cristão. Confessar a Cristo é um dever cristão. Quanto a isso, o Novo Testamento é bastante claro. Mas, pergunto eu, como isso era feito? Qual era a confissão pública?

Mesmo nos dias da presença visível de Jesus, o sentido fundamental das palavras "Vinde após mim" e "Vinde a mim" era claramente uma

identificação de arrependimento e fé.

No livro de Atos (o manual sagrado de evangelismo), encontramos, em sua maior pureza, exemplos dos apóstolos envolvidos no evangelismo. Ao ler o livro de Atos, pergunte-se: "Como as pessoas faziam esta confissão?". A resposta clara e simples é através do batismo.

O Que o Vir a Cristo Não Significa

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Voltemos à pergunta: o que significa vir a Cristo? O melhor que posso fazer com essa pergunta é, primeiramente, dizer-lhe o que vir a Cristo não significa e, depois, o que está envolvido em vir a Cristo.

Primeiro, o que não significa. Vir a Cristo não é um ato físico evidente. Cristo não está aqui presente de maneira fisica; portanto, ninguém pode vir a Ele no sentido físico. Ele não está à frente do púlpito, pairando como um fantasma. Ninguém pode vir a Cristo utilizando-se dos pés.

Consideremos um versículo muito surpreendente, um versículo ofensivo à mente natural e confuso para muitos cristãos.

"Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6.44).

Alguns descrevem o vir a Cristo como a coisa mais fácil do mundo, e, em certo sentido, isto é verdade — se você vier, será bem-vindo. Mas esse versículo nos mostra que vir a Cristo por vontade própria é impos-sível. Embora esse texto seja ofensivo à mente carnal, precisamos lembrar que ofender a mente carnal é, quase sempre, o passo inicial para vir a Cristo, num relacionamento salvífico. Tal pessoa precisa ver sua condição de perdida, antes que tenha o desejo de ser salva.

Revisemos uma pequena lição de boa educação. Um velho amigo costumava ensinar seus filhos a dizer: "O senhor permite...?". Se uma das crianças dissesse: "Posso ir lá fora, para brincar?", ele responderia: "Não sei; será que você pode?" Ele estava, obviamente, ensinando os filhos a dizer: "O senhor me permite ir lá fora para brincar?"

Observe que o versículo afirma: "Ninguém pode"; isto significa que nenhum de nós possui a capacidade. Alguém pode receber permissão para fazer algo, mas, por si mesmo, não é capaz. Esse texto ensina claramente a incapacidade humana; porém, ao mesmo tempo, ensina de maneira cristalina o atrair gracioso do Pai. O texto nos apresenta uma doce consolação — esperança no Pai.

Onde Está a Incapacidade Humana?1. Não está em qualquer defeito físico. Não significa que o homem é incapaz

de movimentar seu corpo físico, de andar com seus próprios pés. O pecador consegue fazer isso — ele é capaz de caminhar até a frente, na igreja, pois ele tem pernas. Se a questão é proferir algumas palavras numa oração — ele também pode fazer isso. Muitas pessoas não-regeneradas oram. Não há falta de poder físico no vir a Cristo.

2. A incapacidade não está na mente, no intelecto. O não-convertido é capaz de aprender intelectualmente a Bíblia, assim como pode aprender

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matemática, história, física, música, etc. Sim, ele pode crer que a Bíblia é verdadeira. Há muitos livros verdadeiros que foram escritos por pessoas não-convertidas. É possível alguém crer em cada afirmativa de Cristo, assim como poderia crer em qualquer outra pessoa. Não deveríamos dizer aos homens que eles não podem crer. Isso não é verdade — eles podem crer em cada palavra da Bíblia e ainda estarem "tão perdidos quanto um porco em dia de feijoada". A incapacidade não está no intelecto ou no corpo.

Então, onde está a incapacidade humana? Ela se encontra arraigada profundamente na natureza do homem. Através da queda e de nosso próprio pecado, a natureza do homem se tornou tão pervertida, depravada e corrupta, que é impossível ao homem vir a Cristo sem a poderosa obra de Deus, o Espírito Santo.

Vemos isso no mundo animal. Os animais agem de acordo com sua natureza. As ovelhas não comem lavagem, assim como um porco não se alimenta de grama. Não há qualquer problema físico — ambos possuem boca, dentes, orelhas e pernas. A razão pela qual a ovelha não come lavagem é sua natureza. A natureza do homem impede-o de vir a Cristo.

Dê uma faca a uma mãe e diga-lhe: "Crave-a em seu bebê". Se ela for normal, dirá: "Não posso fazer isso, não posso!" Isto significa que ela não possui força física ou capacidade para fazê-lo? Não, de modo nenhum! A natureza da mãe torna aquilo impossível.

Novamente, onde está a incapacidade de alguém vir a Cristo? Na obstinação da vontade humana. Oh! sim, os homens podem ser salvos, se quiserem. Creio que todo pecador que ainda está do lado de fora do inferno pode ser salvo, se quiser. Esta é exatamente a raiz do problema — se ele quiser.

B. B. Warfield disse: "Qual a utilidade de argumentar a respeito de quem quiser em um mundo tão repleto de ‘eu não quero’? Estamos pregando e testemunhando a um mundo de ‘eu não quero’ ".

O versículo mais pessimista da Bíblia é João 5.40: "Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida". Por esse motivo, João 6.44 é o versículo mais otimista da Bíblia. Você sabia que este é um dos mais agradáveis versículos da Palavra de Deus? Não houvesse aquela palavrinha "se" em João 6.44, todas as pessoas iriam para o inferno. Ninguém seria salvo. Abençoado "se"! "Se o Pai" — graças a Deus pelo que Ele faz. O que estou dizendo é que os pecadores precisam de um novo "querer". Onde o novo querer é outorgado, o desejo e o poder surgem como conseqüência.

O Pai Traz Pecadores a Cristo

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De que maneira o Pai traz pecadores a Cristo? Todos certamente concordarão que a pregação do evangelho é o instrumento de trazer os homens. Mas a pregação sozinha não traz ninguém. A pregação de nosso Senhor, por si mesma, não trouxe nenhum pecador.

3. Vir a Cristo não é alguma experiência mística que não se fundamenta na verdade, uma experiência divorciada da verdade das Escrituras.

4. Vir a Cristo não é meramente um ato da vontade e volição, ou seja, um ato de querer, um ato de escolha. Certamente inclui um exercício da vontade, mas não é semelhante a votar em alguém, ou seja, "eu voto em Jesus", "eu me decido por Jesus"; amanhã você poderá tomar uma decisão diferente.

Vir a Cristo não é algo físico ou puramente intelectual; vir a Cristo não é algo místico sem fundamentos na Verdade ou algo meramente volitivo

QUANTO AO VIR A CRISTO- Parte 2 -

Ernest Reisinger

No estudo anterior, comecei a falar sobre a expressão "vir a Cristo". O que um pregador tem em mente quando ele diz "vir a Cristo"?

Salientei quatro coisas que "vir a Cristo" não significa:Não é um ato físico.Não é um ato puramente mental.Não é um ato místico não alicerçado na verdade bíblica.

Não é meramente um ato volitivo, tal como votar em alguém. Jesus não precisa de quaisquer votos, Ele já está no trono.

O Que Significa "vir a Cristo"?Então, o que significa "vir a Cristo"? A melhor maneira de responder a essa

pergunta é afirmar o que está envolvido no "vir a Cristo".A primeira coisa envolvida é o reconhecimento da necessidade espiritual.

Isso é claramente visto em alguns dos convites graciosos contidos na Bíblia:Mateus 11.28-29: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e

sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma".

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Observe: o convite é feito àqueles que estão cansados e sobrecarregados, indicando que eles têm uma necessidade. Jesus não está oferecendo um jugo no sentido literal; está oferecendo descanso para a alma — "E achareis descanso para a vossa alma" — uma necessidade espiritual.

Isaías 55.1: "Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite".

Nesta passagem, Ele oferece um convite a almas sedentas — o que indica o reconhecimento de uma necessidade espiritual.

A primeira coisa envolvida no "vir a Cristo" é o reconhecimento da necessidade espiritual.

Apocalipse 22.17: "O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida".

O último convite da Bíblia é feito àqueles que desejam água, ou seja, pessoas sedentas — pessoas que reconhecem sua necessidade espiritual.

Uma segunda coisa presente no "vir a Cristo" é a revelação de Cristo ao coração, como sendo o Único adequado para suprir a necessidade. Ele precisa ser revelado ao coração, pelo Espírito Santo.

Diversas vezes me perguntaram: "Qual o maior problema no cristianismo dominical?" Minha resposta é a seguinte: "Uma multidão de pessoas que se reúne na igreja tentando adorar um Cristo não revelado". Cristo precisa ser revelado ao coração, por intermédio da Palavra e do Espírito.

Deixe-me salientar essa verdade com alguns textos bíblicos:Mateus 16.13-17: "Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou

a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus". Cristo teve de ser revelado de maneira sobrenatural a Pedro.

Gálatas 1.15-16: "Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue". Cristo foi revelado a Paulo.

Mateus 2.11: "Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram". Aquele bebê, aos olhos humanos, tinha a aparência

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de Deus, para ser adorado? Cristo precisou ser revelado ao coração dos sábios, pelo Espírito.

Então, uma segunda coisa presente no "vir a Cristo" é: Ele precisa ser revelado pelo Espírito Santo. Uma revelação sobrenatural: o cristianismo é uma religião sobrenatural.

Uma terceira coisa envolvida no "vir a Cristo" é um compromisso com Ele, sem reservas, como o Único que pode satisfazer essa necessidade da alma. Qualquer coisa menos do que isso torna uma pessoa estranha a Cristo e à verdadeira religião salvadora.

Ah! Quando alguém reconhece sua necessidade espiritual, e Cristo é revelado ao coração como o Único que pode satisfazer essa necessidade, resultando em um irrestrito compromisso com Ele, tal pessoa terá (1) algo a confessar, (2) um desejo de confessá-Lo e (3) alegria ao confessá-Lo. Essa verdade deveria explicar porque não equiparamos o "vir à frente" em um culto de domingo à noite com o "vir a Cristo".

Perigos e Erros do Sistema de ApeloO "Sistema de Apelo" está cheio de erros e perigos. A ênfase desta

expressão se encontra na palavra "sistema". Não falei "convite". Se os pregadores não convidam os pecadores a virem a Cristo, deveriam abandonar o ministério. Existe uma tremenda diferença entre o convite bíblico e o "Sistema de Apelo".

1. Por não esclarecerem o convite, os pregadores inadvertidamente instituíram um sistema ou uma condição para a salvação que, além de não ser encontrada na Bíblia, jamais foi praticada ou aprovada por Cristo e seus apóstolos. A confissão pública não é uma condição para a salvação; pelo contrário, é um resultado da salvação. Existe uma tremenda diferença entre o convite bíblico e o "Sistema de Apelo".

2. A chamada para "vir à frente" (ou "levantar uma das mãos") não é um mandamento divino, e sim um mandamento criado pelo homem. Muitas vezes, aqueles que vão à frente são levados a crer que fizeram algo recomendável diante de Deus. Vir à frente não é algo que Deus ordenou. Já ouvi pessoas sendo agradecidas por virem à frente, enquanto falsamente imagina-se estarem desobedecendo a Deus aqueles que não vieram à frente. Contudo, Ele jamais ordenou tal coisa; tampouco existe qualquer relato disso em toda a Bíblia — ou na igreja, em seus primórdios.

O sistema produz falsa segurança. "Agora que eu fui à frente, estou salvo." Quantas vezes já ouvi isso! Mas esta não é a base bíblica da segurança. Esse

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sistema também produz, freqüentemente, uma culpa falsa naqueles que não vão à frente.

3. Existe o terceiro perigo de igualar o "vir a Cristo" com o "vir à frente" da igreja. Isso tende a enganar as pessoas. É comum ouvirmos expressões do tipo "ele foi à frente para ser salvo", ou "se eles tivessem cantado mais uma estrofe, eu teria respondido ao apelo", ou "eu não pude esperar até o próximo culto, na noite seguinte, para ser salvo". Já ouvi isso inúmeras vezes. É um comentário acerca daquilo que está sendo ensinado às pessoas. Existe o perigo de igualar o "vir a Cristo" com o "vir à frente'' da igreja.

Em certa ocasião, um diácono me disse que os pecadores viriam a Cristo, se eu escolhesse outro hino na hora do apelo.

O Espírito Santo ausenta-se do culto quando a última estrofe do hino é cantada? Espero que não! Se for, desisto de pregar e do próprio cristianismo.

1 João 2.23 assevera: "Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem igualmente o Pai". Isso não é um ato físico. Você pode fazê-lo em seu lugar, não movendo sequer os olhos.

4. O quarto perigo do sistema de apelo é a inevitável confusão na consciência daqueles que não foram à frente, quando convidados pelo pregador. Em geral, eles ficam com a impressão de que se rebelaram contra Deus, quando a verdade é que não se rebelaram de maneira alguma.

Esta falsa idéia de igualar o "vir a frente" com o "vir a Cristo" tem produzido o maior recorde de estatísticas já computado na igreja ou nos negócios! O sistema é responsável por estatísticas enganosas. Falsifica o papel do pregador ou do evangelista. "Ele tem conseguido decisões?" "Quantas foram as decisões naquela reunião?"

5. Outro erro produzido por esse sistema é uma errônea apresentação da fé. A fé é representada como algo a ser feito, para se obter salvação. Sou zeloso pela expressão "somente pela graça", e não por um ato físico. Quero cantar "Maravilhosa Graça", e não "Maravilhosa Decisão" (ir à frente)!

Em que consiste a fé? Explicá-la não é a tarefa do pregador. O alvo do pregador é deixar claro o objeto da fé, Jesus Cristo. O pregador não é chamado por Deus para explicar o ato da fé.

O Exemplo de Jesus Cristo Consideremos o primeiro convite feito por nosso Senhor (suplico a Deus que

todos os pregadores evangelistas sigam o exemplo dEle).Mateus 11.28-30 "Vinde a mim, todos os que estais cansados e

sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de

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mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve".

Preciso destacar o contexto desse convite em particular. Jesus estava dirigindo estas palavras a pessoas de Cafarnaum, onde Ele havia pregado com freqüência e realizado poderosas obras - onde havia proferido os pesarosos "ais" da lei, assim como em Mateus 11.23: "Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje". Jesus estava falando claramente de um lugar em que Ele e sua pregação haviam sido rejeitados (Mt 11.22, ss.). O que Ele fez neste lugar, sob essas circunstâncias? Observe três coisas:

1. Ele orou (v. 25): "Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos." Veja novamente a ênfase sobre a Palavra revelada. O relato de Lucas afirma: "Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo".

2. Ele fez uma tremenda reivindicação a respeito da soberania de Deus (v. 27): "Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar".

3. Ele fez um convite (vv. 28-30): "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve". Ele não estava procurando uma decisão física. Por favor, observe as palavras "aprendei de mim".

O evangelho é freqüentemente retratado como algo a ser aprendido. Portanto, os pecadores precisam ser ensinados. Em seu convite, Jesus Cristo (Mt 11.28-29), nosso grande Senhor-Mestre, disse: "Aprendei de mim".

Nosso Senhor deixou isso muito claro na Grande Comissão. Aprendemos a mesma coisa de seu exemplo, encontrado no evangelho e nas instruções dEle — "Ide, portanto fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19); e, novamente: "Ensinando-os..." (Mt 28.20). Ele não afirmou: "Ajudando-os a fazerem decisões", mas: "Ensinando-os". Jesus "percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar" (Mc 6.6). "Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor" (Mc 6.34). O que Ele fez? Apelou por decisões? Não! De forma alguma! Começou a ensiná-los. "Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando" (Mt 4.23).

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Pense em nosso Senhor, depois da ressurreição, no caminho de Emaús (Lc 24). O que Ele fez? Abriu as Escrituras (Lc 24.25-27) e o entendimento dos discípulos (Lc 24.16,31,45). Desde o primeiro versículo do livro de Atos, aprendemos o método de evangelização de nosso Senhor — "Todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar" (At 1.1).

Ele jamais fez um apelo direto às emoções ou à vontade das pessoas, sem antes haver instruído as suas mentes.

Esta é uma lição que muitos pregadores e evangelistas precisam aprender. Antes de qualquer outra coisa, um apelo direto precisa ser feito à mente e à compreensão. Então, através destas, apelamos às afeições e à vontade. O evangelho é uma mensagem que contém informação; portanto, precisa ser comunicado por palavras definíveis. O evangelho contém informação e tem de ser explanado e aplicado pela Palavra, com poder. "Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção" (1 Ts 1.5).

O Manual Sagrado de Evangelismo Consideremos agora o livro de Atos, o manual sagrado de evangelismo,

onde encontramos os apóstolos utilizando o mesmo método."Logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam" (5.21).Nós os encontramos no templo evangelizando. Qual foi o método deles?

"Ensinando o povo" (5.25).De que maneira evangelizavam em Jerusalém? "Enchestes Jerusalém de

vossa doutrina" (5.28).Paulo e Barnabé estiveram evangelizando em Antioquia durante um ano

todo. Qual o método que utilizaram? "E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão" (11.26). Por favor, observe: não há uma menção sequer de pessoas se decidindo aqui ou em qualquer outra parte do livro de Atos.

Em Derbe, eles usaram o mesmo método — pregando e ensinando (14.21) — fazer discípulos. Fazemos discípulos, ao ensiná-los.

Em 15.35, novamente eles utilizaram o mesmo método: ensinando e pregando.

Paulo trabalhou em Corinto durante um ano e seis meses, evangelizando. Como? "E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus" (18.11).

Em Atos 8, temos um exemplo de evangelismo pessoal. Felipe estava evangelizando o tesoureiro etíope. Observe, por favor, o método de Felipe e a total ausência de "decisionismo". Sim, houve uma decisão, mas não

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"decisionismo". Felipe explicou as Escrituras! Esse foi o método que nosso Senhor, Pedro e Paulo utilizaram — ensinando, instruindo a mente. Em seguida, veio a decisão de confessar através do batismo o que havia acontecido no coração. A mente do tesoureiro etíope fora instruída, suas afeições moveram-se em direção a Cristo, e sua vontade respondeu à verdade que lhe veio à mente e ao coração.

Paulo ensinou Timóteo a utilizar o método centralizado em Deus. O grande apóstolo disse ao jovem Timóteo: "Faze o trabalho de um evangelista" (2 Tm 4.5). De que maneira Paulo instruiu que ele o fizesse? Não saindo por aí e levando pessoas a decidirem algo que não entendem bem. Sim, existe uma decisão envolvida no processo de fazer discípulos. Mas Paulo ensinou Timóteo a utilizar o método centralizado em Deus — "E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2.2).

Timóteo sabia como ele mesmo havia chegado à salvação: "E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15). Ele recebeu o ensino das Sagradas Escrituras.

Aprendemos nossos métodos a partir da Grande Comissão: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19). A expressão fazer discípulos é mais uma referência ao produto do que ao método de produzir. Entretanto, o método de produzir discípulos é ensinar. Um homem sincero, com sua Bíblia aberta, descobrirá algumas coisas referentes ao modo como os apóstolos apresentaram Jesus Cristo aos homens pecaminosos.

Apelo continuamente ao método do Senhor e dos apóstolos, conforme o encontramos nos evangelhos e no livro de Atos. Seria maravilhoso para todos os que se engajam no evangelismo, se abrissem suas Bíblias no livro de Atos e o estudassem tendo em mente algumas das questões importantes a respeito de seu conteúdo.

1. Qual foi a mensagem dos apóstolos? (Estude os sermões e as conversas que eles tiveram com os não-convertidos para obter a resposta.)

2. Que método eles utilizaram ao lidar com o não-convertido?Um homem sincero, com sua Bíblia aberta, descobrirá algumas coisas

referentes ao modo como os apóstolos apresentaram Jesus Cristo aos homens pecaminosos. Eles anunciavam a Cristo de tal maneira que, através do poder do Espírito Santo, os pecadores eram reconciliados com Deus, por intermédio de Cristo. Os apóstolos ensinavam o evangelho de modo que os pecadores

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recebessem a Cristo como seu Salvador — libertando-os do pecado e suas conseqüências — e servi-Lo na comunhão da igreja.

Os Convites do Evangelho são Estendidos a TodosOs convites do evangelho, embora dirigidos a todos, são variados:1. Homens que são inimigos de Deus são convidados: "Rogamos que vos

reconcilieis com Deus" (2 Co 5.20).2. Homens de corações empedernidos são convidados — Deus haverá de

lhes tirar "o coração de pedra" e lhes dar um "coração de carne" (Ez 36.26).3. Homens que vivem deleitando-se alegremente ou correndo loucamente

para o caminho que conduz à morte são convidados — Deus os chama a converterem-se: "Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer?" (Ez 33.11)

4. Homens que estão dormindo o sono da morte são convidados. Deus os chama: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará" (Ef 5.14).

5. Homens que estão famintos são convidados. Deus lhes fala acerca do pão que veio do céu. "Vinde… e comei" (Is 55.1).

6. Homens que estão sedentos também são convidados. Deus os chama à água da vida, para que jamais tenham sede. "Vem" é uma palavra de expectativa graciosa. Parece afirmar: "Estou esperando por você. Eu me assento no trono de misericórdia, esperando que você venha. Espero para ser gracioso. Portanto, venha a mim".

"Vinde a mim" — onde Ele está? Não em algum lugar geográfico. Onde Ele está? Mais próximo de você do que o púlpito à frente de uma igreja. Mais próximo do que a ponta de seus dedos. Ele está à porta de seu coração — seu ser mais interior. Ele está onde quer que haja uma lágrima de arrependimento, um soluço de tristeza produzido por Deus. Ali Ele se encontra.

Onde quer que exista uma oração sincera — ali Ele está. Onde houver um desejo sincero de orar — ali estará Jesus. Ele está onde você está — pronto, capaz e disposto a dizer: "Perdoados são os teus pecados".

A Necessidade de Vir a Cristo Agora Venham, como a pobre mulher siro-fenícia — em humildade. Tudo que ela

desejava eram as migalhas que caíam da mesa — um quadro de humildade. Ele está ali.

Venham clamando como o pobre cego Bartimeu - "Jesus, filho de Davi tem compaixão de mim!" A multidão lhe disse: "Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama". Bartimeu lançou fora a sua capa, para que nada pudesse impedi-lo —

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tudo que ele queria era receber a visão. E ele ouviu Jesus dizer: "Vai, tua fé te salvou".

Desejo convidar todos que ouvem essas palavras a virem. Sim, se você está fora do caminho — convido-o a vir. Venha a Cristo.

Gosto muito da palavra "vinde". Para mim, ela parece cheia de graça, misericórdia e encorajamento. "Vinde, pois, agora", diz o Senhor através do profeta, "e arrazoemos… ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve" (Is 1.18). "Vem" é uma palavra de encorajamento bondoso. Ela parece dizer: "Tenho tesouros para dar-lhe, se você simplesmente quiser recebê-los. Então, venha a mim".

"Vem" é a última palavra da Bíblia dirigida aos pecadores — "O Espírito e a noiva dizem: Vem!" Vem é a palavra de convite misericordioso. Ela parece dizer: "Eu quero que você escape da ira vindoura. Estou disposto a ajudar, para que ninguém pereça. Não tenho prazer na morte do ímpio. Então, venha a Mim".

"Vem" é uma palavra de expectativa graciosa. Parece afirmar: "Estou esperando por você. Eu me assento no trono de misericórdia, esperando que você venha. Espero para ser gracioso. Portanto, venha a mim".

"Vem" é uma palavra de encorajamento bondoso. Ela parece dizer: "Tenho tesouros para dar-lhe, se você simplesmente quiser recebê-los. Então, venha a mim".

Meu querido amigo, peço-lhe que ouça essas palavras e guarde-as em seu coração. Imploro em nome do Mestre. Estou escrevendo como um embaixador. Rogo-lhe que venha e seja reconciliado com Deus.

Peço-lhe que venha com todos os seus pecados, não importa quantos sejam. Se vier a Jesus, Ele os removerá. Se esperar, a oportunidade passará, a porta de misericórdia será fechada, e você morrerá em seus pecados. Venha agora. Venha a Jesus Cristo agora.

Você pode freqüentar à igreja, participar da ceia do Senhor, dirigir-se ao pastor e, assim mesmo, não estar salvo. Vir ao Salvador é realmente necessário — vir à Fonte e lavar-se no sangue da expiação. A menos que você faça isto, morrerá em seus pecados. E, como Joseph Hart o afirmou corretamente em seu hino:

Vem, pecador pobre e infeliz,Fraco e machucado, doente e entristecido;

Para te salvar, Jesus espera, amoroso,Cheio de misericórdia, bondade e perdão;

Para te salvar, Ele é todo-poderoso.Vem, necessitado, e sê bem recebido.Com verdadeira fé e arrependimento,

glorifica o dom gratuito de Deus;

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Sem dinheiro, vem a Jesus e compraas graças dEle para aproximar-Se dos seus.

Vem, cansado e sobrecarregado,pela Queda ferido e arruinado.

Se demoras, até que melhor te tornes,a Jesus nunca virás.

Não aos justos, não aos justos,E sim aos pecadores veio Jesus chamar.

Não te faça retardar a consciência,nem os teus sonhos sem fundamentos.

Ele exige que percebas: dEle tu precisas tanto.E para isto Ele provê o meio:

O brilho esclarecedor do Espírito Santo.Oh! O Deus encarnado, que subiu aos céus,

pleiteia os méritos de seu sangue.Entrega-te totalmente a Ele e a nenhum outro Senhor

Pois somente Jesus e tão-somente Elepode tornar bom o mau e pobre pecador.

********************A verdade vem de Deus, onde quer que a encontremos, e é nossa, é da

igreja... Richard Sibbes

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