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CURSO: DURAÇÃO: 30 dias PROFESSOR: Kennyo Ismail MODALIDADE: Ensino à Distância – EaD REQUISITO RECOMENDADO: Nenhum Brasília-DF Agosto de 2016.

CURSO - noesquadro.com.br · SOBRE O CURSO O Curso de Introdução à Maçonaria, apesar de não ser obrigatório, ... simbólica dos instrumentos de trabalho dos pedreiros e por

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CURSO:

DURAÇÃO: 30 dias

PROFESSOR: Kennyo Ismail

MODALIDADE: Ensino à Distância – EaD

REQUISITO RECOMENDADO: Nenhum

Brasília-DF

Agosto de 2016.

ISMAIL, Kennyo. *** INTRODUÇÃO À MAÇONARIA *** No Esquadro ©

2 Contato: [email protected]

APRESENTAÇÃO

Prezado Irmão, meu nome é Kennyo Ismail e serei o instrutor deste curso de Introdução

à Maçonaria. Sou professor universitário, com experiência em Ensino à Distância, além de

pesquisador acadêmico, escritor e palestrante. Na Maçonaria, sou Mestre Instalado, Cavaleiro

Templário do Rito de York e 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. Se quiser saber um pouco

mais a meu respeito, acesse este link do blog “No Esquadro”.

Como se sabe, buscar uma formação maçônica complementar de qualidade é um grande

desafio, por várias razões:

Há uma escassez de livros maçônicos publicados no Brasil;

Daqueles publicados, poucos chegam às livrarias comerciais, as quais estão

localizadas apenas nas grandes cidades;

Dentre esses, poucos são os que contém referencial bibliográfico e foram

desenvolvidos com algum rigor metodológico;

Mais escassos ainda são os cursos de pós-graduação em Maçonaria, dos quais

se tem notícia apenas no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Distrito Federal e

Bahia;

Muitas vezes esses cursos têm dificuldades de formar turmas ou seus formatos

são um empecilho aos interessados que residem em outras localidades;

O custo de tais cursos, de algumas centenas de reais por mês, torna-os

inacessíveis para uma boa parcela dos irmãos;

E muitos irmãos não fizeram ou ainda não concluíram suas graduações para se

tornarem elegíveis a esses cursos, o que não diminui o interesse ou a

capacidade de aprendizagem.

Nesse contexto, o blog “No Esquadro”, que tem, desde 2010, oferecido conteúdo

maçônico de qualidade, numa linguagem de fácil assimilação, e servido de fonte de informação

e notícia a dezenas de milhares de maçons do Brasil e de todo o mundo, tornando-se, assim, o

principal blog maçônico do país, decidiu pela criação da Escola No Esquadro, que tem por

objetivo tornar o conhecimento maçônico mais acessível, em todos os sentidos, “em busca de

mais luz na Maçonaria”, como bem diz seu lema.

A Escola No Esquadro oferece diversos cursos de pequena duração, mas que juntos

formam trilhas de aprendizagem. Essas trilhas de aprendizagem são muito utilizadas atualmente

na educação corporativa, ou educação organizacional (o que a Maçonaria não deixa de ser), e

tem se mostrado um método mais eficaz do que o modelo convencional de educação, no que

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tange ao desenvolvimento dos participantes. Trata-se de um modelo mais apropriado à

aprendizagem de conhecimentos não convencionais, e quando digo “não convencionais”, refiro-

me àqueles conhecimentos que não são ensinados nos colégios e universidades típicas, como é

o caso do conhecimento maçônico.

SOBRE O CURSO

O Curso de Introdução à Maçonaria, apesar de não ser obrigatório, é expressamente

recomendado antes de se cursar qualquer outro curso disponível. No Brasil, no ensino

fundamental público, em muitos estados há uma política que dificulta a reprovação. Por essa

razão, não é raro nos depararmos com alunos que, apesar de terem concluído o Ensino

Fundamental, não dominam grande parte de seu conteúdo. E até mesmo aqueles que cursaram

o Ensino Fundamental em um sistema mais rígido apresentam certo esquecimento de uma parte

de seu conteúdo programático com o passar dos anos. Isso é natural. Na Maçonaria não é

diferente, e por essa razão recomendo que você, mesmo se for um maçom experiente e

estudioso, dedique-se a este curso. Principalmente se tem interesse em participar de outros

cursos da Escola No Esquadro, visto que os conceitos básicos apresentados neste curso serão

utilizados em larga escala em muitos de nossos cursos.

Neste curso de Introdução à Maçonaria você aprenderá:

O que realmente é a Maçonaria (e o que ela não é);

O que é moral e o que é ética;

O que é dialética e basicamente como ela funciona;

A missão, a visão e os valores da Maçonaria;

Quem pode tornar-se maçom;

Porque os maçons se reúnem em “Lojas”;

As divisões que há na Maçonaria;

O que é regularidade e o que é reconhecimento;

A diferença entre Rito e Ritual;

Um panorama da Maçonaria no mundo.

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1. O QUE É A MAÇONARIA

Há diversas e distintas definições da Maçonaria, não havendo uma que seja oficial da

instituição ou mesmo que descreva satisfatoriamente o que realmente a Maçonaria é, o que

torna a missão de defini-la desafiadora.

A definição mais comum de Maçonaria em uso em todo o mundo é a de que Maçonaria

é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos”. Essa definição

é derivada de outra, de autoria de William Preston (1867, p.37), que considera a Maçonaria “um

sistema regular de moralidade, concebido em uma tensão de interessantes alegorias, que

desdobra suas belezas ao requerente sincero e trabalhador”.

A respeitada e já citada enciclopédia maçônica, Coil’s Masonic Encyclopedia apresenta

duas definições que colaboram para uma visão mais realista da Maçonaria. A primeira apresenta

uma definição construída com base na origem e funcionamento:

A Maçonaria é uma ordem fraternal de homens ligados por juramento; decorrente da fraternidade medieval de maçons operativos, aderindo a muitas de suas antigas regras, leis, costumes e lendas, leais ao governo civil em que ela existe; que inculca as virtudes morais e sociais pela aplicação simbólica dos instrumentos de trabalho dos pedreiros e por alegorias, palestras e obrigações; cujos membros são obrigados a respeitar os princípios de amor fraternal, igualdade, ajuda mútua e assistência, sigilo e confiança; têm modos secretos de reconhecimento de para com outro, como maçons, quando viajando pelo mundo, e se encontram em Lojas, cada uma governada autocraticamente por um Mestre, assistido por Vigilantes, onde peticionários, após investigação particular em suas qualificações mentais, morais e físicas, são formalmente admitidos na Sociedade em cerimônias secretas baseadas em parte em velhas lendas da Arte Maçônica [GRIFO NOSSO] (Coil’s Masonic Encyclopedia, COIL & BROWN, 1961, p. 158).

Essa definição aponta a Loja Maçônica como organização-base da instituição maçônica,

tendo o Venerável Mestre como o dirigente de tal organização. Já a seguinte definição explora

os princípios e valores maçônicos, apresentando uma visão mais filosófica da instituição:

Maçonaria, em seu sentido mais amplo e abrangente, é um sistema de moralidade e ética social, e uma filosofia de vida, de caráter simples e fundamental, incorporando um humanitarismo amplo e, embora tratando a vida como uma experiência prática, subordina o material ao espiritual; é moral, mas não farisaica; exige sanidade em vez de santidade; é tolerante, mas não indiferente; busca a verdade, mas não define a verdade; incentiva seus adeptos a pensar, mas não diz a eles o que pensar; que despreza a ignorância, mas não reprova o ignorante; que promove a educação, mas não propõe nenhum currículo; ela abraça a liberdade política e de dignidade do

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homem, mas não tem plataforma ou propaganda; acredita na nobreza e utilidade da vida; é modesta e não militante; que é moderada, universal, e liberal quanto a permitir que cada indivíduo forme e expresse sua própria opinião, mesmo sobre o que a Maçonaria é, ou deveria ser, e convida-o a melhorá-la, se puder [GRIFO NOSSO] (Coil’s Masonic Encyclopedia, COIL; BROWN, 1961, p. 159).

Essa última definição, assim como as citadas como mais comuns, expõe os atributos

maçônicos básicos, ao apresentar a Maçonaria como um sistema de moralidade e de ética

social.

A Maçonaria está presente nos cinco continentes por meio de quase 200 Grandes Lojas

internacionalmente reconhecidas, consideradas independentes, autônomas e soberanas entre

si. É importante esclarecer que a instituição não possui um poder ou liderança mundial

constituída, como explicado por Christopher Hodapp:

Uma coisa de suma importância para entender sobre a Maçonaria é que não há um único organismo mundial que rege a fraternidade. (...) Nenhum homem fala pela Maçonaria, e nunca falará. (...) Cada Estado dos Estados Unidos, cada província do Canadá, e quase todos os países do mundo tem uma Grande Loja - muitas vezes mais de uma. Cada Grande Loja tem regras e regulamentos que regem as Lojas dentro de sua jurisdição, e cada Grande Loja tem um Grão-Mestre, que é essencialmente o presidente naquela jurisdição. Mas Grãos-Mestres não têm nenhum poder para fazer regras ou tomar decisões fora de suas fronteiras. Não existe nenhum grupo nacional ou internacional que controla ou dirige as Grandes Lojas (Freemasons for Dummies, HODAPP, 2005, p. 15).

Desse modo, os maçons se reúnem em Lojas, sendo que três ou mais Lojas de um

mesmo Distrito, Província, Estado ou Nação formam um Grande Corpo Maçônico, comumente

chamado de Grande Loja, mas que pode receber outra denominação, como Grande Oriente.

Como Hodapp bem observou, uma mesma região pode possuir mais de uma Grande Loja, seja

por origens distintas ou cisões históricas. Esse é o caso do Brasil, em que se pode encontrar até

três Grandes Organizações Maçônicas em um mesmo Estado.

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2. O QUE É UM SISTEMA DE MORALIDADE E ÉTICA (E O QUE A MAÇONARIA NÃO É)

A fórmula que bem resume os conceitos apresentados pode ser resumida como:

MAÇONARIA = MORAL (teísta) + RAZÃO (Kantiana)

Mas quando me refiro a uma moral teísta, não utilizo o termo “teísta” no sentido estrito

da palavra, como referência à filosofia teísta de que Deus age, influencia e interfere diretamente

em nossas vidas, sendo possível a revelação divina, operação de milagres, etc. Refiro-me à moral

baseada na crença em um ser supremo, ou seja, de que alguns valores morais são derivados do

“bem”, de Deus, de certa forma outorgados por Ele ao homem. Essa é a moral presente na

Maçonaria.

Qual diferença isso faz? Toda! Isso porque a moral “ateísta” seria o entendimento

contrário, de que os valores morais, mesmo os mais básicos, são apenas uma convenção social

e, portanto, passíveis de mudança conforme a sociedade se transforma. Um exemplo claro da

diferença prática entre essas duas vertentes morais: no caso da sociedade se tornar mais

violenta com o passar das décadas, matar outra pessoa pode se tornar algo moralmente

aceitável ao adepto da moral ateísta, enquanto que o princípio moral de “não matar” é imutável

ao adepto da moral teísta. E é sobre esta última que a Maçonaria foi desenvolvida e a qual ensina

aos seus membros.

Enquanto a moral maçônica é tida como originada do Grande Arquiteto do Universo,

sua prática é condizente ao conceito de moral apresentado por Kant (1986), o qual parte do

princípio do bem e necessita que o homem “de boa vontade” exerça sua razão para que a

pratique. Kant defendia que qualquer homem que parasse para pensar bem antes de agir, em

vez de se entregar aos impulsos ou a costumes e tradições (temporais), faria o que é certo, sem

necessitar de auxílio ou interferência divina para tanto. É algo extremamente similar, para não

dizer idêntico, ao que a Maçonaria ensina, e que Coil e Brown (1961) chamaram de “exige

sanidade em vez de santidade”.

Então, utilizemos um pouco dessa razão para entender o que a Maçonaria

definitivamente não é. Se Maçonaria é um “sistema de moralidade”, duma moralidade teísta

aprendida e exercida por meio da razão... ela não é originalmente um “sistema de

espiritualidade” (muito menos uma religião), um “sistema de esoterismo” (muito menos uma

seita) ou “sistema de misticismo” (muito menos uma escola de Harry Potters).

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3. COMO EXERCER A RAZÃO PARA REALIZAR ATITUDES MORAIS: DIALÉTICA

Conforme Horkheimer e Adorno, pode-se dividir a razão em instrumental e substantiva.1

A razão instrumental é aquela em defesa do discurso dominante ou majoritário. Nela, o

indivíduo não pensa por si, apenas adotando a racionalidade já pronta, vendida. Já a razão

substantiva seria uma "força ativa na psique humana que habilita o indivíduo a distinguir entre

o bem e o mal, entre o conhecimento falso e o verdadeiro, e, assim, a ordenar sua vida pessoal

e social".2 Ou seja, a razão substantiva é quando o indivíduo pensa por si próprio, livre das

amarras socioculturais.

Pode até parecer, mas fugir da razão instrumental não é missão simples. Afinal de

contas, desde nossos raciocínios primários, desenvolvemo-nos cercados pelo discurso

dominante e suas verdades absolutas. Na educação formal, de modo geral, não nos é ensinado

a questionar. E o questionamento é fundamental para uma razão substantiva, para se alcançar

uma compreensão, por si próprio, sobre determinado assunto. Quer ver um exemplo? Farei

agora uma pergunta e diga rapidamente em voz alta sua resposta:

Qual o melhor mês para se tirar férias?

Se você respondeu “Julho”, “Dezembro”, “Janeiro” ou “Fevereiro”, você utilizou de sua

razão instrumental. Esses são os meses de alta temporada no Brasil, quando as passagens de

avião, pacotes de viagens, hotéis e até mesmo os restaurantes em cidades turísticas brasileiras

estão geralmente mais caros. Caso você não tenha filhos em idade escolar que pretende levar

para viajar, qualquer um dos outros 08 meses do ano é melhor para você viajar, com mais opções

disponíveis, por preços mais baratos, e cidades turísticas menos cheias. Mas como crescemos

com férias nesses meses, fomos condicionados a, por reflexo, pensar primeiramente que esses

são os “meses de férias”.

Assim, um maçom precisa estar sempre alerta (sim, os escoteiros também) e pensar

bem antes de decidir e agir. Ele precisa se libertar da “caverna de Platão”. No entanto, um

maçom não pode se dar ao desfrute de se libertar da “caverna de Platão” (pela razão

substantiva) e não compartilhar suas descobertas, ajudando na libertação daqueles ainda

aprisionados (pela razão instrumental), mesmo que isso acarrete em riscos, como a total

rejeição de seus argumentos. Afinal de contas, é dever de todo maçom colaborar com a

felicidade da humanidade. O filósofo e sociólogo Habermas, o mais proeminente discípulo de

1 HORKHEIMER, M; ADORNO, T. W. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 2 RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações, uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1981.

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Adorno, apresenta uma solução alternativa mais eficaz para essa alegoria da caverna: por meio

do diálogo e do debate entre todos os prisioneiros, eles podem alcançar essa libertação, juntos.

Habermas chama isso de “razão comunicativa”, quando é possível constituir um palco para

debate de assuntos relevantes, no qual impera a liberdade de comunicação e igualdade de

tratamento entre os participantes.3 Inclusive, Habermas faz menção direta a essa característica

da Maçonaria, ao mencionar seu relevante papel no passado, como esfera de discussão das

ideias iluministas.4

Nesse contexto, enquanto maçons, aprendemos a conviver uns com os outros como

irmãos, mesmo eventualmente discordando em questões religiosas, políticas, sociais. O que nos

une não são nossas diferenças, e sim o que temos em comum, ou seja, o desejo de nos

desenvolvermos moralmente e, individualmente ou em grupo, colaborarmos para uma

sociedade melhor. Em busca da harmonia em Loja, ou, como alguns maçons “esotéricos”

preferem, da famigerada egrégora, evita-se a discussão durante as reuniões. Alguns rituais

possuem, inclusive, mecanismos que impedem um livre debate. Entretanto, se amamos nossa

Sublime Ordem Maçônica, precisamos discuti-la. Em templos da moral e da razão, só há

evolução por meio da discussão, da dialética.

Os catecismos, instruções e até mesmo boa parte dos rituais maçônicos mais antigos

foram construídos com base pura e simplesmente na boa e velha dialética aristotélica: diálogos

em forma de perguntas e respostas que buscam uma melhor compreensão dos tópicos

expostos. E essa melhor compreensão (síntese) só é alcançada se o tópico inicial (tese) é

devidamente questionado (antítese).

Figura: Dialética Fonte: Elaborado pelo autor

3 HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 4 HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

TESE• Ideia inicial

ANTÍTESE

• Questionamento

SÍNTESE

• Conclusão

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4. MISSÃO, VISÃO E VALORES DA MAÇONARIA

A Maçonaria enquanto instituição é anterior ao surgimento e desenvolvimento da

ciência organizacional da Administração. No entanto, isso não a isenta da necessidade de evoluir

e se organizar administrativamente de forma a garantir sua perpetuação. Afinal, é obrigação de

cada maçom garantir que os benefícios da formação maçônica sejam garantidos às próximas

gerações. A Maçonaria anglo-saxônica há anos aprendeu essa importante lição. Cada Grande

Loja dos Estados Unidos, por exemplo, possui delimitada sua missão, visão, valores, e

desenvolve seu planejamento estratégico. Não é à toa que quase 2/3 dos maçons do mundo são

norte-americanos.

Quanto a missão, visão e valores, há regras para a definição dessas e empresas pagam

caro para que consultores as auxiliem no desenvolvimento das mesmas. Ensino esse conteúdo

aos meus alunos de graduação em Administração e muitos têm dificuldades iniciais, algumas

vezes confundindo missão com visão, etc. Resumindo, de forma bem simples, missão é a razão

de existir da organização; visão é onde ela quer chegar; e valores são os princípios que seus

membros se comprometem a seguir para cumprir a missão e alcançar a visão da organização.

Como não sou bom em ganhar dinheiro, fiz a pesquisa e desenvolvi a missão, visão e

valores genéricos da Maçonaria:

Missão: Promover o aperfeiçoamento moral de homens de bem.

Visão: Colaborar para a felicidade e o bem-estar da humanidade.

Valores: Amor Fraternal, Amparo (Caridade), Verdade.

Agora talvez você esteja se perguntando: “Peraí, eu não conheço esses valores... os

valores não seriam Liberdade, Igualdade e Fraternidade?” Liberdade, Igualdade e Fraternidade

não são valores. Esse lema nem mesmo é originalmente maçônico. Para entender melhor isso,

sugiro a leitura de um artigo a respeito, neste link.

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5. QUEM PODE TORNAR-SE MAÇOM

As regras para ingresso de um candidato à Maçonaria regular variam um pouco de uma

Obediência Maçônica para outra. Em geral, são as seguintes:

Homens livres,

que creem em Deus,

maiores de idade,

dignos e idôneos,

e bem recomendados.

Por homens livres, entende-se seres humanos nascidos como homem e que

permanecem como tal. É importante esclarecer isso, já que, com o surgimento das cirurgias de

mudança de sexo, uma fêmea pode se tornar um homem e um macho pode se tornar uma

mulher. Se quiser conhecer alguns dos argumentos contrários ao ingresso de mulheres na

Maçonaria, recomendo a leitura deste post publicado originalmente no blog No Esquadro.

A exigência da crença em Deus está diretamente relacionada com o conceito de

Maçonaria como uma escola de moral teísta, como já fora explicado. O Grande Oriente da

França, outrora uma Obediência considerada regular, abriu mão dessa exigência em 1877,

perdendo assim o reconhecimento das demais Obediências regulares.

Já a exigência de que os candidatos sejam maiores de idade deve-se ao mesmo fato de

que um menor de idade não pode dirigir uma empresa: deve-se ser totalmente responsável por

seus próprios atos. A idade mínima para ingresso varia de uma Obediência para outra, entre 18

e 25 anos de idade. Além disso, a Maçonaria tem custos internos e com filantropia que os

membros precisam arcar, devendo ser, portanto, independentes financeiramente.

A questão de dignidade e idoneidade também fica clara ao observarmos o que é a

Maçonaria e qual sua missão, anteriormente apresentados. Sendo uma escola de moralidade,

faz-se necessário que seus membros sejam, no mínimo, reconhecidamente morais. Atualmente,

muitas Obediências Maçônicas exigem apresentação de certidões negativas civis e criminais

como forma de verificação.

E a boa recomendação deriva da necessidade de que um membro da Loja endosse sua

proposta de ingresso e a comissão de sindicância apresente um relatório favorável sobre seu

ingresso, antes mesmo do escrutínio.

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6. PORQUÊ OS MAÇONS SE REUNEM EM “LOJAS”

Qual maçom nunca foi questionado por um profano do porquê do termo “LOJA”?

Muitos são aqueles que perguntam se vendemos alguma coisa nas Lojas, para justificar o nome.

Alguns, fanáticos e ignorantes, chegam a ponto de indagar se é na Loja que os maçons vendem

suas almas ao diabo!

Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que, só porque “loja”, em português,

denomina um estabelecimento comercial, isso não significa que o mesmo termo em outras

línguas tem o mesmo significado. Vejamos:

“Loge”, palavra francesa, pode se referir à casa de um caseiro ou porteiro, um estábulo,

ou mesmo o camarote de um teatro. Mas os termos franceses para um estabelecimento

comercial são “magasin”, “boutique” ou “commerce”.

Da mesma forma, o termo usado na língua inglesa, “lodge”, significa cabana, casa

rústica, alojamento de funcionários ou a casa de um caseiro, porteiro ou outro funcionário. Os

termos mais apropriados para um estabelecimento comercial em inglês são “store” ou “shop”.

Já o termo italiano “loggia” significa cabana, pequeno cômodo, tenda, mas também

pode designar galeria de arte ou mesmo varanda. Os termos corretos para um estabelecimento

comercial são “magazzino”, “bottega” ou “negozio”.

Em espanhol, “logia”, derivada do termo italiano “loggia”, denomina alpendre ou

quarto de repouso. As palavras mais adequadas para estabelecimento comercial são “tienda” e

“comercio”.

Por último, podemos pegar o exemplo alemão, “loge”, que não tem apenas a grafia em

comum com o francês, mas também o significado: um pequeno cômodo mobiliado para porteiro

ou caseiro, ou um camarote. Já os melhores termos para estabelecimento comercial em alemão

são “kaufhaus”, “geschaft” ou “laden”.

Com base nesses termos, que denominam as Lojas Maçônicas nas línguas francesa,

italiana, espanhola, alemã e inglesa, pode-se compreender que as expressões se referem a uma

edificação rústica utilizada para alojar trabalhadores, e não a um estabelecimento comercial.

Verifica-se então uma relação direta com a Maçonaria Operativa, em que os pedreiros

costumavam e até hoje costumam construir estruturas rústicas dentro do canteiro de obras,

onde eles guardam suas ferramentas e fazem seus descansos. Essas simples edificações que

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abrigam os pedreiros e suas ferramentas nas construções são chamadas de “loge, lodge, loggia,

logia” nos países de língua francesa, alemã, inglesa, italiana e espanhola.

A palavra na língua portuguesa que mais se aproxima desse significado não seria “loja”

e sim “alojamento”. Nossas Lojas Maçônicas são exatamente isso: alojamentos simbólicos de

construtores especulativos. Isso fica evidente ao se estudar a história da Maçonaria em muitos

países de língua espanhola, que algumas vezes utilizavam os termos “Alojamiento” em

substituição à “Logia”, o que denuncia que ambas as palavras têm o mesmo significado.

À luz dos significados dos termos que designam as Lojas Maçônicas em outras línguas,

podemos observar que a teoria amplamente divulgada no Brasil de que o uso da palavra “Loja”

é herança das lojas onde os artesãos vendiam o “handcraft”, ou seja, o fruto de seu trabalho

manual, além de simplista, é furada. Se fosse assim, os termos utilizados nas outras línguas

citadas teriam significado similar ao de estabelecimento comercial, se seria usado em

substituição às outras palavras que servem a esse fim.

Na próxima vez que você passar em frente a um canteiro de obras e ver à margem aquela

estrutura simples de madeira compensada ou placas de zinco, cheia de trolhas, níveis, prumos

e outros utensílios em seu interior, muitas vezes equipada também com um colchão para o

pedreiro descansar à noite, lembre-se que essa estrutura é a versão atual daquelas que

abrigaram nossos antepassados, os maçons operativos, e que serviram de base para nossas Lojas

Simbólicas de hoje.

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7. AS DIVISÕES DA MAÇONARIA

Sim, a Maçonaria é uma, mas ela pode ser dividida de inúmeras maneiras. Vejamos:

Por Obediências Maçônicas

Por Ritos

Regulares e Irregulares

Reconhecidas e não-reconhecidas

7.1. Divisão por Obediências Maçônicas:

Como descrito anteriormente, no Brasil pode-se encontrar até três Obediências

Maçônicas em um mesmo Estado. Nos Estados Unidos, duas.

A organização mais antiga ainda em funcionamento no Brasil é o Grande Oriente do

Brasil - GOB, fundado em 1822 sob os moldes do Grande Oriente da França e, durante mais de

100 anos, única organização regular no país. O Grande Oriente do Brasil é uma federação

maçônica com 26 Grandes Orientes Estaduais federados, contando com mais de 2.500 Lojas e

de 80.000 membros.

Em 1927, Mário Marinho de Carvalho Behring, que havia sido Grão-Mestre do Grande

Oriente do Brasil e ocupava o posto de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do

Rito Escocês Antigo e Aceito, apoiou a fundação de Grandes Lojas Estaduais no Brasil.5 Seguindo

o formato norte-americano, de uma Grande Loja para cada Unidade Federativa, as 27 Grandes

Lojas brasileiras se reúnem em uma Confederação, a Confederação da Maçonaria Simbólica do

Brasil - CMSB, num total de mais de 2.700 Lojas e de 105.000 maçons.

Em 1973, o GOB sofreu outra grande cisão, após uma eleição conturbada para seu Grão-

Mestrado. 10 Grandes Orientes Estaduais federados ao GOB, num movimento liderado por

Minas Gerais e São Paulo, se desligaram da instituição, declarando-se independentes.6 Essa cisão

originou a Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, formada atualmente por 21 Grandes

Orientes Independentes e mais de 40.000 maçons.

5 PIRES, Joaquim da Silva. A Cisão Maçônica Brasileira de 1927. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 2015. 6 SOBRINHO, Octacílio Schüler. Uma Luz na História: o sentido e a formação da COMAB. Florianópolis: Ed. O PRUMO, 1998.

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14 Contato: [email protected]

A origem dessas três vertentes, seus desenvolvimentos, características e história serão

aprofundados no curso de “Maçonaria e História do Brasil”, a ser oferecido pela Escola No

Esquadro.

Esses três tipos de organizações maçônicas convivem fraternalmente entre si (na maior

parte do tempo e na maioria dos estados brasileiros), promovendo em muitos Estados tratados

de convivência e colaboração, sendo as únicas organizações maçônicas reconhecidas como

regulares no território brasileiro.

7.2. Divisão por Ritos e Rituais Maçônicos:

Essas Obediências adotam ritos maçônicos que, no caso do Brasil, estão concentrados

em 08 principais: Moderno, Adonhiramita, Escocês Antigo e Aceito, Ritual de Emulação, Rito de

York, Brasileiro, Schroeder, e Escocês Retificado. Com exceção do Shroeder e do Emulação, que

possuem apenas os 03 graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre, os demais

possuem mais do que isso. Porém, as Obediências Maçônicas só possuem autoridade para

administrar os três primeiros graus (os Simbólicos), estando os outros, comumente chamados

de “Altos Graus”, sob administração de outras organizações maçônicas, como Supremos

Conselhos, Conclaves, Capítulos, Priorados, etc. E essas organizações maçônicas definem de

quais Obediências aceitam membros.

A origem, princípios, história, filosofia e características desses ritos serão estudadas em

outro curso, “Os principais Ritos Maçônicos”, oferecido pela Escola No Esquadro.

7.3. Divisão por Regularidade e/ou Reconhecimento:

Quem é regular? Para alguns maçons, uma Obediência Regular é aquela que tem

reconhecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra - GLUI, visto essa ser a 1ª Grande Loja da

história, tida por isso como a Grande Loja Mãe do Mundo. Para esses, não importa se uma

Obediência possuir reconhecimento de outras 200 Obediências Regulares nos cinco continentes

ou até mesmo da própria Obediência a que eles pertencem. Se não tiver o reconhecimento da

GLUI, não é regular.

No Brasil, há atualmente apenas 05 Obediências com o tão desejado reconhecimento

da GLUI: GOB, GLESP, GLMERJ, GLMEES e GLMMS.

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15 Contato: [email protected]

O GOB conseguiu o pleno reconhecimento da GLUI em 1912, quase 100 anos após sua

fundação. Já as quatro citadas Grandes Lojas, fundadas a partir de 1927, possuem tratados mais

atuais. Como justificativa para a negativa de reconhecimento às demais, a GLUI declara que há

a necessidade de concordância prévia do GOB. No entanto, há exceções cometidas pela própria

GLUI, que há mais de cem anos reconheceu as Grandes Lojas Prince Hall sem a concordância

prévia das Grandes Lojas dos respectivos Estados norte-americanos.

Já sobre o Rito Escocês no Brasil, a história se complica um pouco mais e esse mesmo

argumento de regularidade defendido por uns cai por simples incoerência. Muitos dos maçons

reconhecidos pela GLUI, são membros de um Supremo Conselho do REAA não reconhecido pelo

Supremo Conselho “Mãe do Mundo” (São Cristóvão). Em contrapartida, muitos outros que ainda

não têm reconhecimento da GLUI, são membros do Supremo Conselho do REAA reconhecido

internacionalmente (Jacarepaguá). Acaba que aqueles que declaram que o reconhecimento da

Grande Loja Mãe do Mundo é a única regularidade válida, não se importam de serem membros

de um Supremo Conselho do REAA que não tem o reconhecimento de todos os demais

Supremos Conselhos regulares do mundo. Em resumo: muitos dos defensores da “regularidade”

nos Graus Simbólicos com base no reconhecimento são “espúrios” nos Graus Superiores do

REAA. Contraditório, não?

A bagunça já começou e ainda nem entramos na discussão mais polêmica: a GLUI, que

tem um pouco mais de 200 mil maçons, é realmente a regra? A primeira sempre manda? Aliás,

ela é realmente a primeira? Ou será que os EUA, que possuem mais de 1 milhão de maçons,

seria a regra? Aliás, a regra é realmente se balizar pelos outros? Isso não seria um tipo de

“colonialismo”? Talvez o ideal não fosse haver um Conselho, uma Confederação, algo como uma

ONU maçônica? Como ficam as já mencionadas “Prince Hall”, que têm o reconhecimento da

GLUI e muitas não têm da Grande Loja convencional de seu próprio estado? São reconhecidas

pelos estrangeiros, mas não são para muitos daqueles de seu próprio país. Ou duas Obediências

mexicanas, que não se reconhecem, mas ambas têm o reconhecimento da GLUI? São regulares

para a Inglaterra, mas não se consideram entre si. Enfim, quem é regular e quem não é?

Na verdade, regularidade e reconhecimento são coisas distintas, que não devem ser

confundidas. A regularidade é com base em regras claras de origem e de funcionamento, com

pouca variação dessas regras entre as Obediências. Regras de origem: ser constituída por uma

Grande Loja Regular ou por três Lojas Regulares, num território independente, e ser soberana

em sua administração. Regras de funcionamento: crença em um Ser Superior; sigilo; simbolismo

operativo; divisão em apenas três graus: Aprendiz Companheiro e Mestre; observar a Lenda do

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Terceiro Grau; juramento perante o Livro Sagrado; presença do Livro Sagrado, Esquadro e

Compasso; investigar a Verdade; proibição de discussões político-partidárias e religiosas. Se uma

Obediência atende a essas regras, seu funcionamento é indiscutivelmente regular. Já o

reconhecimento é um ato administrativo, de relações exteriores, e cada Obediência tem

autonomia para reconhecer ou não outra Obediência regular, assim como retirar esse

reconhecimento quando quiser.

Se uma Obediência é soberana, ela é responsável pelos seus próprios reconhecimentos,

independente de outrem. Então, quando se tratar de regularidade, preocupe-se se tal

Obediência é reconhecida pela sua Obediência, e não se é para uma ou outra Obediência. Você,

como maçom, deve seguir as decisões da sua Obediência, e somente da mesma. De idêntica

forma, a sua Obediência, seguindo os landmarks mais básicos, deve ser soberana, não se

subordinando às decisões de qualquer outra.

Enfim, quando se trata de Maçonaria Brasileira, desconfie das afirmações. Nada é tão

simples quanto parece. A aberração de ontem pode ser a tradição de amanhã e, algumas vezes,

os princípios de igualdade e fraternidade ficam à mercê da vaidade ou prejudicados por uma

história que não fomos nós que escrevemos. Mas o presente, esse sim está em nossas mãos.

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8. O QUE É RITO E O QUE É RITUAL

Rito e Ritual: costuma-se fazer grande confusão entre esses dois termos, principalmente

na Maçonaria. Alguns acreditam serem sinônimos, outros que se trata de coletivo e unidade. Há

ainda algumas explicações filosóficas complexas ou mesmo reflexões etimológicas sobre os

termos, que, muitas vezes, mais complicam do que explicam.

Ao pesquisar sobre os termos na literatura maçônica, você pode se deparar com

afirmações de que Rito é a teoria e Ritual é a prática. Ou que Rito é conteúdo e Ritual é forma.

Ou que o Rito é um conjunto de graus, sendo que cada grau é um Ritual.

Em homenagem aos doutos do direito, os quais compõem parcela significativa dos

membros da Ordem Maçônica, utilizemos de analogia com dois termos jurídicos para explicar o

que é Rito e o que é Ritual. Pois bem, se Rito fosse lei, Ritual seria instrução normativa.

Um Rito é realmente como uma lei. É um conjunto de preceitos e obrigações gerais que

produz efeitos sobre aqueles que estão sob seu alcance. Assim como uma lei, um Rito reflete

princípios que o orientam, possui elementos históricos, além de buscar um objetivo específico.

Para ilustrar essa afirmação, podemos utilizar o Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA, devido à

sua expressividade no cenário maçônico brasileiro. Da mesma forma que uma lei é desenvolvida

com base em valores de uma determinada sociedade e normas éticas oriundas desses valores,

o REAA tem por base os princípios de Fraternidade, Tolerância, Caridade e Verdade, conforme

missão declarada do Supremo Conselho do Rito Escocês “Mãe do Mundo”. Assim como uma lei

surge de uma demanda social presente em um contexto histórico específico para tratar de um

conflito ou situação que necessite ordenamento, o REAA surgiu, em maio de 1801, para trazer

ordem ao caos em que se encontrava o Rito de Heredom nos EUA, com dezenas de diferentes

autoridades conferindo os graus de diferentes formas. E assim como uma lei atende a um

objetivo específico por meio de sua observância, o REAA tem por objetivo o desenvolvimento

moral e espiritual de seus membros por meio de sua prática.

Já o Ritual é como uma instrução normativa, um manual de procedimentos que

determina e regulamenta como essa lei deve ser praticada e observada. Uma lei pode ter várias

instruções normativas, quando necessário. Como bem registrou Vincenzo Cuoco, “sem

instrução, as melhores leis tornam-se inúteis”. Do mesmo modo, o Ritual é o manual de

procedimentos que determina a prática do Rito, o qual pode ter vários rituais. E sem os rituais,

não há como praticar o Rito. O Rito está morto.

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Uma instituição que possui um sistema de ritos e rituais que podem colaborar para suas

compreensões é a Igreja Católica. A Igreja possui vários ritos: Rito Ambrosiano, Rito Bracarense,

Rito Galicano, Rito Bizantino, Rito Romano, etc. Cada um desses Ritos possui diferentes Rituais

para sua prática: missa, batismo, crisma, casamento, natal, etc. E mesmo dentro de um Rito

específico, como o Rito Romano, há variações nos Rituais, conforme país, movimentos, etc.

Retornado ao exemplo do REAA, algo similar ocorre, havendo Rituais diferentes de um

mesmo grau conforme país e Obediência Maçônica. Assim sendo, ao contrário dos

prejulgamentos inconsequentes de alguns maçons quando dizem que “o Rito Escocês deles é

diferente do nosso”, ou ainda pior, “isso não é Rito Escocês”, a variação não é no Rito e sim nos

Rituais. Essas diferenças nos Rituais são algo totalmente natural e esperado, e cuja única

consequência negativa são as ofensas que a fraternidade sofre com tal ignorância e intolerância

de alguns pelo que é diferente do que se está acostumado.

É também por esse motivo que o Ritual de Emulação é chamado de Ritual e não de Rito,

pois se refere a um manual com textos e práticas específicas, que segue estritamente as

diretrizes do sistema inglês, sistema esse que a Grande Loja Unida da Inglaterra opta por não

chamar de Rito. Há na Inglaterra outros tantos rituais diferentes: Bristol, East End, Falcon,

Goldman, Henley, Humber, Logic, Newman, Oxford, Paxton, Stability, Sussex, Taylor, Universal,

Veritas, West End, etc. Porém, todos esses Rituais, assim como o de Emulação, como boas

instruções normativas que são, também seguem as mesmas diretrizes da “lei” maçônica inglesa

pós-1813.

O próprio Rito de York, o norte-americano, não fica de fora de ter diferentes rituais. Há

nos graus simbólicos diferentes versões do Ritual de Webb, além do Ritual de Duncan e tantos

outros pouco conhecidos por grande parte dos maçons, mas todos provenientes do Antigo Rito

de York.

Enfim, como registrado anteriormente, a existência de diferentes Rituais é algo natural

e esperado em todos os Ritos Maçônicos. Entretanto, essas definições de Rito e Ritual, tão

básicas e essenciais para a Maçonaria, infelizmente não estão presentes na educação maçônica

convencional, cabendo a cada um de nós colaborar para que esse conhecimento seja

compartilhado entre nossos Irmãos.

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9. UM PANORAMA DA MAÇONARIA NO MUNDO

As informações a seguir apresentadas têm por base dados secundários coletados na

publicação List of Lodges, edições 2011 e 2016. Trata-se de uma publicação anual da Pantagraph

Printing and Stationery Company (PP&S), com sede em Illinois, nos EUA. Para que um Grande

Corpo seja incluído na publicação, faz-se necessário o reconhecimento de, no mínimo 10 (dez)

Grandes Lojas dos EUA do grupo principal, isto é, Grandes Lojas Estaduais convencionais, não

sendo considerados os reconhecimentos das Grandes Lojas Prince Hall para tal finalidade. A

única exceção a essa regra é para as próprias Grandes Lojas Prince Hall, que necessitam apenas

do reconhecimento da Grande Loja convencional de seu respectivo estado para que possa ser

incluída na publicação.

Ressalta-se que a inclusão não ocorre automaticamente. Deve o Grande Corpo ainda

não incluído, em junho, enviar à PP&S uma solicitação de inclusão, anexando a essa cópia dos

10 tratados de reconhecimento. Então a editora verificará a validade dos mesmos antes de

incluir o solicitante na publicação do ano seguinte.

Dessa forma, adianto que alguns Grandes Corpos regulares e com diversos

reconhecimentos internacionais, como alguns dos Grandes Orientes filiados à COMAB, por

exemplo, que, mesmo já filiados à Confederação Maçônica Interamericana - CMI, ainda não

figuram no List of Lodges por ainda não possuírem o reconhecimento de 10 Grandes Lojas

Estaduais norte-americanas. Apenas por essa razão, seus números não puderam ser

computados no presente estudo.

9.1. Quantidade e concentração

Temos atualmente 190 Grandes Corpos publicados no List of Lodges 2016, de 73

diferentes nações dos cinco continentes. Eis a concentração por continente:

CONTINENTE GRANDES C. %

África 8 4%

América 134 71%

Ásia 9 5%

Europa 31 16%

Oceania 8 4%

Total Geral 190 100%

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Vê-se que 71% dos Grandes Corpos encontram-se no continente americano. Isso deve-

se principalmente pelo modelo de Grandes Lojas estaduais, criado nos EUA e adotado também

no Brasil, Canadá, México e Colômbia. Esses 05 países somam 117 Grandes Corpos dos 134 do

continente americano (87%) e dos 190 do mundo (62%).

9.2. Longevidade da Maçonaria

Um dado novo neste estudo é quanto a longevidade desses Grandes Corpos ainda em

funcionamento, que apresentam média mundial de 125 anos de idade.

CONTINENTE MÉDIA IDADE

África 26

América 134

Ásia 49

Europa 139

Oceania 107

Total Geral 125

Como era de se esperar, o continente com Grandes Corpos com média de idade maior

é a Europa, berço da Maçonaria Especulativa, com 139 anos de idade, seguido proximamente

do Novo Mundo, o continente americano, com média de 134 anos. O continente cujos Grandes

Corpos têm média mais jovem é a África, com 26 anos. Vejamos os dados por século:

CONTINENTE XVIII XIX XX XXI Total

África 6 2 8

América 14 67 53 134

Ásia 7 2 9

Europa 8 8 11 4 31

Oceania 6 1 1 8

Total 22 81 78 9 190

Como se pode observar, a Maçonaria floresceu no século XVIII, século do surgimento

dos primeiros Grandes Corpos, apenas na Europa e no continente americano. Então

desembarcou na Oceania, mais precisamente na Austrália e Oceania, já no século XIX. A África

e a Ásia somente experimentaram os direitos e benefícios de seus primeiros Grandes Corpos no

século XX.

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Interessante o fato de que o continente americano é o único que ainda não consta um

novo Grande Corpo criado neste século XXI, apesar da existência em apenas 22 dos 35 países

que compõem o continente. Ou seja, ainda existe 13 nações no continente americano que,

apesar de não possuírem proibições legais ou vetos religiosos conhecidos, ainda não

enxergaram a luz da sublime ordem maçônica.

9.3. Lojas e Membros

Como se pôde ver, o continente americano concentra a maioria dos Grandes Corpos do

mundo, favorecido principalmente pelo modelo de Grandes Lojas Estaduais, presente nos EUA,

Canadá, México, Brasil e Colômbia. Mas verifiquemos se essa hegemonia persiste ao se analisar

o número de Lojas e membros:

CONTINENTE QTD LOJAS % LOJAS

África 202 0,56%

América 20542 56,89%

Ásia 945 2,62%

Europa 13044 36,13%

Oceania 1374 3,81%

Total Geral 36107 100,00%

O mundo conta com mais de 36 mil Lojas Maçônicas, das quais aproximadamente 57%

se localizam no continente americano.

CONTINENTE QTD MEMBROS % MEMBROS

África 4471 0,22%

América 1562069 77,01%

Ásia 42225 2,08%

Europa 375493 18,51%

Oceania 44070 2,17%

Total Geral 2028328 100,00%

A Maçonaria conta com mais de 2 milhões e 28 mil membros no mundo atualmente,

sendo que 77% desses maçons são do continente americano. Uma visão interessante desses

números é referente aos 10 países do mundo com maior número de membros:

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RANKING PAÍS QTD MEMBROS % MEMBROS

1 EUA 1183712 58,36%

2 Inglaterra 201286 9,92%

3 Brasil 197619 9,74%

4 Canadá 72835 3,59%

5 Austrália 36907 1,82%

6 Cuba 29110 1,44%

7 França 26335 1,30%

8 México 24882 1,23%

9 Itália 22674 1,12%

10 Índia 21035 1,04%

TOTAL 1816395 90%

Os 10 países com maior número de membros concentram aproximadamente 90% de

todos os maçons do mundo, em contraste com os demais 63 países, que juntos somam

aproximadamente 10% dos membros e, dentre estes, nenhum alcança um mínimo de 1% dos

membros do mundo.

A maior concentração ocorre nos EUA, que, sozinho, possui em torno de 58% dos

maçons do mundo. Em segundo vem a Inglaterra, seguida de perto pelo Brasil, cada um com

quase 10%. No entanto, deve-se observar que a diferença de membros entre a Inglaterra e o

Brasil é de menos de 4 mil membros. Considerando que muitos desses membros computados à

Inglaterra são de Lojas localizadas em outros países, por conta de suas Grandes Lojas Distritais,

e ainda levando em consideração o fato de que muitos Grandes Orientes Estaduais da COMAB

ainda não constam no estudo, os quais juntos somam mais de 40 mil maçons, sabe-se que o

Brasil ultrapassa a Inglaterra em número de membros em, pelo menos, 50 mil membros,

figurando como a segunda maior nação maçônica do mundo.

Ainda analisando o quadro apresentado, pode-se observar que os países em que a

Maçonaria apresenta maior volume de membros não estão restritos ao continente americano e

europeu. Na lista, a Oceania está representada pela Austrália e a Ásia pela Índia.

9.4. Membros por Loja

A média de membros por Loja no mundo atualmente é de 56 membros. O país com

maior média é a Suécia (280) e em seguida a Islândia (194). Os EUA, com maior número de

membros do mundo, apresentam uma média de 104,58 membros por Loja, com destaque para

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a Grande Loja da Pensilvânia (258); enquanto que o Brasil, segundo colocado em número

absoluto de membros, apresenta uma média de apenas 35,21; e a Inglaterra de 26,92 membros

por Loja. Outros países como Haiti, Japão e Dinamarca apresentaram médias superiores a 100

membros por Loja.

Os países com menor média de membros por Loja são a Espanha (14,25), o Equador

(15,91) e a Ucrânia (17,69). Interessante observar uma concentração de países latino-

americanos entre os com as menores médias. Além do Equador, em segundo entre as menores

médias, temos a Nicaragua em 4º lugar (17,86), seguida pela Guatemala em 5º (18,35), a

República Dominicana em 7º (19,88), o Panamá em 8º (19,9), e a Argentina em 10º (20,36).

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10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste curso, você aprendeu o que é a Maçonaria, qual sua missão, visão e valores, além

de alguns de seus conceitos básicos, mas imprescindíveis para dar continuidade aos seus

estudos maçônicos, como: rito e ritual, regularidade e reconhecimento, moral e ética, o que é

Loja. Ainda, pôde entender o método de ensino maçônico, baseado na dialética, e os números

da Maçonaria em todo o mundo.

Para que sua formação seja completa, recomendo que não deixe de assistir as vídeo-

aulas dentro do período disponível e ler a literatura complementar (links no texto) e a

recomendada, cujos detalhes podem ser conferidos na próxima página, nas referências

bibliográficas.

Quaisquer dúvidas, você pode entrar em contato comigo pelo e-mail da Escola No

Esquadro: [email protected]

Bons estudos!

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25 Contato: [email protected]

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COIL, Henry Wilson; BROWN, William M. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Ed. Macoy,1961.

HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

HODAPP, Christopher. Freemasons for Dummies. Hoboken, NJ: Wiley Publishing Inc., 2005.

HORKHEIMER, M; ADORNO, T. W. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

KANT, Emmanuel. Fundamentos da Metafísica dos costumes. Tradução de Lourival de Queiroz Henkel. Rio de Janeiro: Ediouro, 1986.

LIST OF LODGES. Bloomington, IL: Pantagraph Printing & Stationery CO., 2016.

PIRES, Joaquim da Silva. A Cisão Maçônica Brasileira de 1927. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 2015.

PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867.

RAMOS, A. G. A nova ciência das organizações, uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1981.

SOBRINHO, Octacílio Schüler. Uma Luz na História: o sentido e a formação da COMAB. Florianópolis: Ed. O PRUMO, 1998.

THE GRAND LODGE OF OHIO. Past Grand Masters. Disponível em: http://www.freemason.com/glo/past-grand-masters. Acesso em: 08/08/2016.