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Todos os direitos reservados ao Master Juris. www.masterjuris.com.br Página1 Curso/Disciplina: Direito Eleitoral Aula: Representação por Captação e Gastos Ilícitos de Recursos Eleitorais Professor: Bruno Gaspar Monitora: Gabriela Paula Aula 34 REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO E GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS ELEITORAIS Esta ação está prevista no Art.30-A da Lei 9.504/97: Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos. São duas as hipótese de cabimento dessa representação: 1) CAPTAÇÃO ILÍCITA DE RECURSOS ELEITORAIS: É o aporte ilegal de recursos na campanha. O principal exemplo que temos desse ilícito está previsto no art. 24 da Lei 9.504/97: Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de: I - entidade ou governo estrangeiro; II - órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos provenientes do Poder Público; III - concessionário ou permissionário de serviço público; IV - entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, contribuição compulsória em virtude de disposição legal; V - entidade de utilidade pública; VI - entidade de classe ou sindical; (...) Outro exemplo seria o aporte de recursos na campanha fora da conta bancária específica que tem que ser aberta para a movimentação do dinheiro da campanha. Um terceiro exemplo seria o recebimento de doação sem recibo eleitoral. 2) GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS ELEITORAIS: O principal exemplo que a doutrina menciona para os gastos ilícitos de recursos é o uso de recursos não proveniente da conta bancária específica para pagamento de gastos eleitorais.

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Curso/Disciplina: Direito Eleitoral

Aula: Representação por Captação e Gastos Ilícitos de Recursos Eleitorais

Professor: Bruno Gaspar

Monitora: Gabriela Paula

Aula 34

REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO E GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS ELEITORAIS

Esta ação está prevista no Art.30-A da Lei 9.504/97:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

São duas as hipótese de cabimento dessa representação:

1) CAPTAÇÃO ILÍCITA DE RECURSOS ELEITORAIS:

É o aporte ilegal de recursos na campanha. O principal exemplo que temos desse ilícito está previsto no art. 24 da Lei 9.504/97:

Art. 24. É vedado, a partido e candidato, receber direta ou indiretamente

doação em dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de

qualquer espécie, procedente de:

I - entidade ou governo estrangeiro;

II - órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida

com recursos provenientes do Poder Público;

III - concessionário ou permissionário de serviço público;

IV - entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária,

contribuição compulsória em virtude de disposição legal;

V - entidade de utilidade pública;

VI - entidade de classe ou sindical;

(...)

Outro exemplo seria o aporte de recursos na campanha fora da conta bancária específica que tem que ser aberta para a movimentação do dinheiro da campanha.

Um terceiro exemplo seria o recebimento de doação sem recibo eleitoral.

2) GASTOSILÍCITOS DE RECURSOS ELEITORAIS:

O principal exemplo que a doutrina menciona para os gastos ilícitos de recursos é o uso de recursos não proveniente da conta bancária específica para pagamento de gastos eleitorais.

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Outro exemplo são os gastos acima dos limites previstos no art. 26, §1º, da Lei 9.504/97:

Art. 26. São considerados gastos eleitorais, sujeitos a registro e aos limites fixados nesta Lei: (...)

§ 1º1 São estabelecidos os seguintes limites com relação ao total do gasto da

campanha:

I - alimentação do pessoal que presta serviços às candidaturas ou aos comitês eleitorais: 10% (dez por cento);

II - aluguel de veículos automotores: 20% (vinte por cento).

Esta representação é uma ação completamente autônoma em relação ao processo de prestação de contas de campanha e em relação às demais ações eleitorais.

Sendo assim, a desaprovação das contas de campanha de determinado candidato ao processo eleitoral não quer dizer que esse candidato necessariamente vai ser réu de uma representação com base no art. 30-A da Lei 9.504, isso vai depender do fato que motivou essa desaprovação de contas. Isto porque, essa ação do art. 30-A é autônoma com relação ao procedimento de prestação de contas de campanha.

No entanto, sendo o processo de prestação um meio de aferir a regularidade da prestação de contas, da captação e dos gastos de recursos de campanha, é claro que esse procedimento é extremamente importante para o manuseio dessa representação.

Mas, para que o candidato seja punido, é necessário prova de sua responsabilidade subjetiva. Essa responsabilidade já está presumida pelo art. 17, da Lei 9.504/97:

Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos, ou de seus candidatos, e financiadas na forma desta Lei.

O bem jurídico tutelado por esta representação é a proteção das normas relativas à arrecadação e gastos eleitorais. A violação dessas normas importa quebra da isonomia que deve existir entre os candidatos, isto é, a concorrência em igualdade de condições. A partir do momento em que um dos candidatos viola essas normas, há um desequilíbrio.

Essas normas visam, justamente, a punição do candidato que violar a isonomia e tentar se beneficiar, seja através da captação ou do gasto ilícito dos recursos eleitorais.

Importante ressaltar que a incidência do art. 30-A depende da relevância jurídica do ilícito praticado, de modo que a sanção, que é a negação o cassação do diploma do candidato, seja proporcional à gravidade da conduta.

Deve, portanto, haver uma prova da relevância jurídica daquela violação à captação ou gasto dos recursos eleitorais, esse é o entendimento do TSE a respeito do tema.

PRAZOS DE AJUIZAMENTO

1 As recentes alterações feitas no dispositivo pela Lei 13.488, de 6 de outubro de 2017, substituíram o Parágrafo

Único pelos §§ 1º, 2º e 3º.

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O Art. 30-A da Lei 9.504/97 não dá um prazo inicial para o ajuizamento desta ação.

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

O dispositivo só menciona o termo final para o ajuizamento. O TSE também nunca decidiu nada a respeito do tema.

Parte da doutrina entende que a representação pode ser ajuizada a partir do registro de candidatura, como o Professo Rodrigo Zilio. Outros, como o Professor José Jairo Gomes, entendem que somente a representação só pode ser ajuizada após a data da eleição, porque antes não haveria um diploma a ser negado para o candidato eleito.

Quanto ao termo final, não há divergência, é 15 (quinze) dias após a diplomação. O que se pode inferir a partir do art. 30-A é que não necessidade de se aguardar a diplomação para ajuizar a representação, ela pode ser ajuizada antes da diplomação.

O TSE não adota qualquer distinção de prazo para o eleito e o não eleito. A doutrina, no entanto, defende que, no caso dos suplente, cujas prestações de contas, geralmente, são julgadas vários meses após a diplomação, o prazo de 15 (quinze) dias seja contado a partir do julgamento da prestação de contas, para que o prazo não se torne inócuo com relação a esses suplentes.

Em relação aos eleitos, não há essa divergência.

Repetindo: no caso dos suplentes, a Justiça Eleitoral não consegue, na maioria das vezes, julgar a prestação de contas antes da diplomação. Embora sejam ações autônomas, o procedimento de prestação de contas é um instrumento importantíssimo para você avaliar se houve a captação ou o gasto ilícito de recurso eleitoral. Então, para viabilizar o ajuizamento dessa ação também em face doa suplentes, a doutrina vem defendendo que no caso deles o prazo seria de 15 (quinze) dias contados a partir do julgamento de prestação de contas.

COMPETÊNCIA

Tal como a representação por captação ilícita de sufrágio, a competência para esta ação vem disciplinada pelo art. 96 da Lei 9.504/97, ou seja, segue a regra da circunscrição:

Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações ou representações relativas ao seu descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se:

I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais;

II - aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais;

III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.

A REGRA DA CIRCUNSCRIÇÃOpode ser sintetizada da seguinte maneira:

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Logo, teremos que:

LEGITIMADOS ATIVOS

A lei só menciona como legitimados: a coligação e o partido político. No entanto, o TSE reconhece a legitimidade do MPE para o ajuizamento da representação prevista no art. 30-A2.

LEGITIMADOS PASSIVOS

2 RO 1.540, julgado em 28/04/2009.

• Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Eleições Presidenciais

• Tribunais Regionais Eleitorais (TRE's)

Eleições Federais e Estaduais

• Juízes Eleitorias

Eleições Municipais

TSE

Pesidente

vice-Presidente

TRESenador

Deputado Federal

Deputado Estadual

Governador

vice-Governador

Juiz Eleitoral

Prefeito

vice-Prefeito

Vereador

Legitimados Ativos

Coligação Partido Político Ministério

Público Eleitoral

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Neste ponto não há nenhuma controvérsia, o legitimado passivo será o candidato que arrecadou ou gastou recursos eleitorais ilicitamente, e aqui também estão incluídos os suplente.

Em pleitos majoritários, há litisconsórcio passivo necessário entre o titular e o vice ou entre o senador e o suplente da chapa.

PROCEDIMENTO

É o procedimento previsto no art. 22, da LC 64/90, o mesmo procedimento previsto para a AIJE. No próprio art.30-A, §1º é feita uma ressalva com relação a isso:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

§ 1º Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990, no que couber.

Ocorre que o procedimento do art. 96, da Lei 9.504/97 é um procedimento sumaríssimo, normalmente aplicado para as propagandas irregulares, para os procedimentos do direito de resposta e pesquisas ilegais, cujas sanções aplicáveis restringem-se à aplicação de multa. Aqui, caso a ação seja julgada procedente, isso ocasionará a negação do diploma ao candidato ou a cassação do diploma do candidato.

É uma sanção mais grave, que torna incongruente a aplicação do rito sumaríssimo, cujas possibilidades de defesa são diminutas.

SANÇÕES

As sanções estão no art. 30-A, §2º:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

§ 2o Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado.

Aqui não há aplicação de multa, tampouco decretação de inelegibilidade. A sanção é negar diploma ao candidato, se ele ainda não tiver o obtido, ou cassação do diploma caso ele já o tenha recebido.

Tal como na captação ilícita de sufrágio, a inelegibilidade será um efeito externo e secundário da decisão que julga procedente a representação, embora não venha determinada na sentença, em razão do disposto no art. 1º, I, alínea “j” da LC 64/90. Tem-se que a procedência desta ação vai gerar uma inelegibilidade que pode ser arguida numa futura eleição.

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RECURSO

Art. 30-A, §3º da Lie 9.504/97:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

§ 3o O prazo de recurso contra decisões proferidas em representações propostas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.

O prazo para recorrer da sentença é de 3 (três) dias. O mesmo se aplica para a apresentação das contrarrazões de recurso.

É importante que se remeta o dispositivo ao art. 257, §2º, do Código Eleitoral. Introduzido pela Lei 13.165/2015 (mini reforma). Este recurso será recebido no efeito suspensivo porque, aqui, existe a perda do mandato eletivo, no caso de procedência da representação.

Art. 257, §2º, do Código Eleitoral:

Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

§ 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz

eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro,

afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será recebido pelo Tribunal

competente com efeito suspensivo.

A consequência de procedência dessa representação, tal como nas outras ações, é a anulação dos votos dados ao réu. Transitada em julgada a ação de representação, são anulados os votos dados àquele candidato, e, consequentemente, aplica-se a norma prevista no art. 224, §3º, do Código Eleitoral:

Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas

eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município

nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal

marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.

§ 3o A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a

cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito

majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições,

independentemente do número de votos anulados.