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Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio Rede São Paulo de A Estética e o Belo d05

Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Page 1: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESPEnsino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Rede Satildeo Paulo de

A Esteacutetica e o Belo d05

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2012

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

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isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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SumaacuterioA Esteacutetica e o belo 5

Beleza e Forma 11

Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte 19

Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo 27

Notas 37

Bibliografia 47

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A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica

Seraacute mesmo necessaacuterio explicar o que eacute esteacutetica Olhando assim parece ateacute que natildeohellip Em todo lugar se fala em esteacutetica e todos parecem muito seguros do que estatildeo dizendo As bancas de jornal estatildeo cheias de revistas sobre esteacutetica nas avenidas chiques da cidade haacute caras e natildeo obstante lotadas cliacutenicas de esteacutetica aquela faculdade de odontologia ali adiante oferece especial-izaccedilatildeo em esteacutetica dentaacuteria e o moccedilo da concessionaacuteria quer nos vender um carro gabando sua esteacutetica Vamos a um barzinho universitaacuterio e um freguecircs jaacute relativamente ldquoalegrerdquo tenta impres-sionar os circunstantes comparando cenho franzido e matildeos no ar a esteacutetica de Fellini com a de Pasolini Saiacutemos em viagem de feacuterias mas nem assim escapamos da palavrinha pois agora jaacute eacute o guia turiacutestico a nos informar que nas igrejas da cidade predomina a esteacutetica neo-claacutessicahellip

httpwwwhttpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599902_redefor_d05_filosofia_tema01flv

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Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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tema 1

Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 2: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

Satildeo Paulo

2012

copy 2012 by Unesp - Universidade estadUal paUlista

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

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isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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SumaacuterioA Esteacutetica e o belo 5

Beleza e Forma 11

Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte 19

Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo 27

Notas 37

Bibliografia 47

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isciplina 05TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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tema 1

A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica

Seraacute mesmo necessaacuterio explicar o que eacute esteacutetica Olhando assim parece ateacute que natildeohellip Em todo lugar se fala em esteacutetica e todos parecem muito seguros do que estatildeo dizendo As bancas de jornal estatildeo cheias de revistas sobre esteacutetica nas avenidas chiques da cidade haacute caras e natildeo obstante lotadas cliacutenicas de esteacutetica aquela faculdade de odontologia ali adiante oferece especial-izaccedilatildeo em esteacutetica dentaacuteria e o moccedilo da concessionaacuteria quer nos vender um carro gabando sua esteacutetica Vamos a um barzinho universitaacuterio e um freguecircs jaacute relativamente ldquoalegrerdquo tenta impres-sionar os circunstantes comparando cenho franzido e matildeos no ar a esteacutetica de Fellini com a de Pasolini Saiacutemos em viagem de feacuterias mas nem assim escapamos da palavrinha pois agora jaacute eacute o guia turiacutestico a nos informar que nas igrejas da cidade predomina a esteacutetica neo-claacutessicahellip

httpwwwhttpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599902_redefor_d05_filosofia_tema01flv

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tema 1

Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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tema 1

Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 3: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeOrua Quirino de andrade 215Cep 01049-010 ndash satildeo paulo ndash sptel (11) 5627-0561wwwunespbr

SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCACcedilAtildeO DE SAtildeO PAULO (SEESP) praccedila da repuacuteblica 53 - Centro - Cep 01045-903 - satildeo paulo - sp - brasil - pabx (11)3218-2000

Produccedilatildeo Graacuteficalili lungarezi

Produccedilatildeo Audiovisualpamela bianca Gouveia tuacutelio

Rede Satildeo Paulo de

Cursos de Especializaccedilatildeo para o quadro do Magisteacuterio da SEESP

Ensino Fundamental II e Ensino Meacutedio

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TEMASsumario

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edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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SumaacuterioA Esteacutetica e o belo 5

Beleza e Forma 11

Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte 19

Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo 27

Notas 37

Bibliografia 47

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tema 1

A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica

Seraacute mesmo necessaacuterio explicar o que eacute esteacutetica Olhando assim parece ateacute que natildeohellip Em todo lugar se fala em esteacutetica e todos parecem muito seguros do que estatildeo dizendo As bancas de jornal estatildeo cheias de revistas sobre esteacutetica nas avenidas chiques da cidade haacute caras e natildeo obstante lotadas cliacutenicas de esteacutetica aquela faculdade de odontologia ali adiante oferece especial-izaccedilatildeo em esteacutetica dentaacuteria e o moccedilo da concessionaacuteria quer nos vender um carro gabando sua esteacutetica Vamos a um barzinho universitaacuterio e um freguecircs jaacute relativamente ldquoalegrerdquo tenta impres-sionar os circunstantes comparando cenho franzido e matildeos no ar a esteacutetica de Fellini com a de Pasolini Saiacutemos em viagem de feacuterias mas nem assim escapamos da palavrinha pois agora jaacute eacute o guia turiacutestico a nos informar que nas igrejas da cidade predomina a esteacutetica neo-claacutessicahellip

httpwwwhttpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599902_redefor_d05_filosofia_tema01flv

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tema 1

Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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tema 1

Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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tema 1

O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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tema 1

Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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tema 1

Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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TEMASU

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oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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TEMASU

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oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 4: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASsumario

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SumaacuterioA Esteacutetica e o belo 5

Beleza e Forma 11

Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte 19

Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo 27

Notas 37

Bibliografia 47

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tema 1

A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica

Seraacute mesmo necessaacuterio explicar o que eacute esteacutetica Olhando assim parece ateacute que natildeohellip Em todo lugar se fala em esteacutetica e todos parecem muito seguros do que estatildeo dizendo As bancas de jornal estatildeo cheias de revistas sobre esteacutetica nas avenidas chiques da cidade haacute caras e natildeo obstante lotadas cliacutenicas de esteacutetica aquela faculdade de odontologia ali adiante oferece especial-izaccedilatildeo em esteacutetica dentaacuteria e o moccedilo da concessionaacuteria quer nos vender um carro gabando sua esteacutetica Vamos a um barzinho universitaacuterio e um freguecircs jaacute relativamente ldquoalegrerdquo tenta impres-sionar os circunstantes comparando cenho franzido e matildeos no ar a esteacutetica de Fellini com a de Pasolini Saiacutemos em viagem de feacuterias mas nem assim escapamos da palavrinha pois agora jaacute eacute o guia turiacutestico a nos informar que nas igrejas da cidade predomina a esteacutetica neo-claacutessicahellip

httpwwwhttpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599902_redefor_d05_filosofia_tema01flv

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tema 1

Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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tema 1

Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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tema 1

O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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tema 1

Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 5: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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tema 1

A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica

Seraacute mesmo necessaacuterio explicar o que eacute esteacutetica Olhando assim parece ateacute que natildeohellip Em todo lugar se fala em esteacutetica e todos parecem muito seguros do que estatildeo dizendo As bancas de jornal estatildeo cheias de revistas sobre esteacutetica nas avenidas chiques da cidade haacute caras e natildeo obstante lotadas cliacutenicas de esteacutetica aquela faculdade de odontologia ali adiante oferece especial-izaccedilatildeo em esteacutetica dentaacuteria e o moccedilo da concessionaacuteria quer nos vender um carro gabando sua esteacutetica Vamos a um barzinho universitaacuterio e um freguecircs jaacute relativamente ldquoalegrerdquo tenta impres-sionar os circunstantes comparando cenho franzido e matildeos no ar a esteacutetica de Fellini com a de Pasolini Saiacutemos em viagem de feacuterias mas nem assim escapamos da palavrinha pois agora jaacute eacute o guia turiacutestico a nos informar que nas igrejas da cidade predomina a esteacutetica neo-claacutessicahellip

httpwwwhttpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599902_redefor_d05_filosofia_tema01flv

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Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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tema 1

O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 6: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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tema 1

Eacute faacutecil ver o que isto tudo tem em comum em todos estes casos o termo esteacutetica diz res-peito agrave maneira como as coisas se apresentam aos nossos sentidos e agrave maneira como elas nos impressionam favoraacutevel ou desfavoravelmente pela sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes Esteacutetica poderiacuteamos entatildeo concluir tem a ver com a aparecircncia imediata das coisas em seu efeito de agrado ou desagrado sobre noacutes

Isto estaacute de acordo com o sentido original do termo grego aesthesis do qual proveacutem nosso vocaacutebulo esteacutetica Pois em grego aesthesis diz respeito agrave nossa capacidade de receber impressotildees sensiacuteveis dos objetos que nos cercam nossa capacidade de sermos afetados atraveacutes dos cinco sentidos por esses objetos Esse significado tambeacutem estaacute implicado no sentido filosoacutefico de es-teacutetica que eacute na verdade nosso alvo principal aqui ndash aliaacutes esse termo daacute a impressatildeo de ter tril-hado um caminho oposto ao percorrido por tantos outros termos filosoacuteficos ao inveacutes de haver penetrado na filosofia a partir da linguagem comum a palavra esteacutetica parece ter nas uacuteltimas deacutecadas descido das alturas filosoacuteficas para circular livremente pelas calccediladas das cidadeshellip

Mas por falar em filosofia eu que tenho caacute meus informantes sei que o distinto leitor lida com esse fascinante campo do saber humano natildeo eacute mesmo Entatildeo com certeza jaacute tem alguma familiaridade com o sentido filosoacutefico de esteacutetica Teraacute tido em matildeos compecircndios de esteacutetica em cujas paacuteginas leu coisas sobre a esteacutetica de Hegel a esteacutetica platocircnica ou a de Nietzsche Se sua graduaccedilatildeo foi em filosofia teraacute frequentado disciplinas com o nome de esteacutetica e sabe que os departamentos de filosofia costumam ter cadeiras acadecircmicas especiacuteficas de esteacutetica Sabe tambeacutem que anualmente realizam-se congressos de esteacutetica e que haacute perioacutedicos especializados nesta esteacutetica filosoacutefica Sabe portanto que esteacutetica em filosofia delimita um campo teoacuterico um terreno especiacutefico de investigaccedilatildeo filosoacutefica Esteacutetica eacute de fato uma disciplina filosoacutefica assim como a teoria do conhecimento a eacutetica a filosofia da linguagem a filosofia poliacutetica etchellip1

Aqui estaacute uma primeira e importante diferenccedila entre os sentidos filosoacutefico e popular do termo ldquoesteacuteticardquo em filosofia esse termo natildeo designa caracteriacutesticas ou propriedades das coi-sas comuns nem dos objetos artiacutesticos mas sim um campo de investigaccedilatildeo que conteacutem um conjunto de teorias questotildees e conceitos filosoacuteficos Mas haacute relaccedilotildees de proximidade tambeacutem importantes entre os dois sentidos a esteacutetica filosoacutefica (daqui em diante vamos designaacute-la como Esteacutetica) tambeacutem trata da forma como as coisas se apresentam a noacutes e da maneira como re-agimos a essa apresentaccedilatildeo e eacute exatamente a esse tema que se referem as teorias questotildees e conceitos que a compotildeem

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Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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tema 1

Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 7: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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isciplina 05TEMAS

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Como filosofia ou seja como acircmbito de investigaccedilatildeo teoacuterica e conceitual sobre nossas rea-ccedilotildees agrave forma pela qual as coisas se apresentam a noacutes a Esteacutetica fala do belo e do feio mas natildeo para me ensinar que isto eacute belo e aquilo eacute feio nem para me recomendar o belo e condenar o feio ndash muito menos para ensinar o que fazer para que as coisas que natildeo satildeo belas venham a secirc-lo Se fosse assim natildeo seria teoria mas um guia praacutetico e o que eacute mais importante jaacute daria como conhecido o sentido do termo belo quando eacute exatamente isto que se trata de determinar na Esteacutetica precisamente esse sentido estaacute em aberto e torna-se objeto de debate

Como filosofia a Esteacutetica quer saber o quecirc eacute uma coisa bela Pergunta-se pelo porquecirc de que a aparecircncia de certas coisas nos agrade ao ponto de dizermos que satildeo belas e o que estamos querendo dizer ao declararmos que o satildeo Ela quer explicitar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas

12 O belo como guia

Note bem o leitor ningueacutem falou em julgar as coisas pela aparecircncia mas em julgar a aparecircn-cia das coisas Julgar as coisas pela aparecircncia eacute ser preconceituoso mas na filosofia jaacute natildeo esta-mos mais no niacutevel do preacute-conceito jaacute nos movemos no niacutevel do conceito

A filosofia eacute de fato conceitual o que significa que ela sempre tem muito cuidado com as palavras que utiliza Ela natildeo vai simplesmente se servindo dessas palavras comuns e correntes que estatildeo aiacute jogadas no nosso cotidiano Melhor dizendo ela se serve sim das palavras comuns mas daacute outro significado a elas O significado das palavras comuns natildeo eacute suficientemente pre-ciso para a investigaccedilatildeo filosoacutefica pois estaacute sujeito a enormes flutuaccedilotildees decorrentes tanto da maneira peculiar pela qual cada um entende as palavras como das imposiccedilotildees da moda e das arbitrariedades dos meios de comunicaccedilatildeo de massa que em grande medida determinam a forma pela qual as pessoas falam e pensam Como natildeo quer ficar refeacutem do que as outras pes-soas a moda os jornais e a televisatildeo colocaram sob as palavras a filosofia cria suas proacuteprias palavras pelo menos suas palavras mais importantes que soacute na sonoridade permanecem iguais agraves comuns Essas palavras proacuteprias da filosofia satildeo os conceitos filosoacuteficos

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isciplina 05TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 8: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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O proacuteprio termo Esteacutetica jaacute eacute um conceito filosoacutefico e seu sentido jaacute foi inclusive delineado Esteacutetica dissemos eacute um campo de investigaccedilatildeo filosoacutefica que procura determinar conceitual-mente os criteacuterios pelos quais julgamos a aparecircncia das coisas Mas isto ainda estaacute por demais abstrato e assim como para se aprender a nadar eacute necessaacuterio entrar na aacutegua para entender o que eacute Esteacutetica temos tambeacutem de mergulhar nela A melhor forma para fazer isso eacute ao inveacutes de perguntarmos diretamente pelo conceito de Esteacutetica tentarmos compreender o sentido dos principais conceitos de que ela proacutepria se utiliza Precisamos entatildeo de um conceito que nos introduza na Esteacutetica que nos guie atraveacutes dos meandros desse campo teoacuterico que ela delimita

Mal acabamos de pronunciar a frase acima e jaacute se apresenta um forte candidato Pois ime-diatamente um certo conceito que jaacute haacute algum tempo se imiscuiu em nossa conversa domi-nando a cena e chamando nossa atenccedilatildeo imediatamente vem agora esse conceito novamente agrave superfiacutecie como se estivesse certo de ter todo o direito de ser o primeiro dentre todos o mais importante conceito da Esteacutetica Eacute o conceito do belo

Natildeo vamos agora discutir se satildeo justificadas tamanhas pretensotildees Mas o fato eacute que o con-ceito do belo continua sendo o que mais generosamente nos permite ingressar nessa longa (em verdade milenar) importante multifacetada e fascinante discussatildeo filosoacutefica que estamos aqui reunindo sob o nome de Esteacutetica Guiados por sua matildeo poderemos abrir caminho ateacute as prin-cipais vias que atravessam o campo da Esteacutetica e assim ganhar um vislumbre de seu desenrolar desde seu nascimento ateacute o ponto em teremos de abandonar nosso dedicado acompanhante por adentrarmos terreno onde o belo natildeo eacute mais reconhecido como cidadatildeo Mas mesmo ali ao voltar-nos as costas resignado o belo mesmo sem querer continuaraacute indicando a direccedilatildeo soacute com a sombra que projeta no caminho ignotohellip

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Assim como no caso do termo ldquoesteacuteticardquo tambeacutem no caso do termo ldquobelordquo nos deparamos com um sentido popular e outro filosoacutefico Correccedilatildeo haacute vaacuterios sentidos filosoacuteficos (assim como vaacuterios populares) Pois cada um dos pensadores que se dedicaram aos temas da Esteacutetica contribuiu para a discussatildeo com uma concepccedilatildeo proacutepria do fenocircmeno do belo Portanto cada um criou seu proacuteprio conceito de beleza de acordo com essa concepccedilatildeo

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tema 1

Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 9: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05TEMAS

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tema 1

Mas sossegue leitor natildeo vamos perseguir aqui todas as doutrinas dos principais filoacutesofos sobre a beleza coisa que dados os limites deste texto seria impossiacutevel (e dados os seus obje-tivos improdutivo) Vamos entatildeo ao inveacutes disso tentar assinalar alguns traccedilos caracteriacutesticos que estatildeo de alguma forma presentes em todos esses conceitos filosoacuteficos particulares do belo ou pelo menos nos mais importantes Isto eacute possiacutevel porque muito embora cada um destes conceitos filosoacuteficos seja em grande medida uma criaccedilatildeo de seu autor todos eles tecircm por base uma experiecircncia comum e corrente da beleza a que todos os seres humanos por princiacutepio po-dem ter acesso ndash do contraacuterio seriam totalmente desprovidos de interesse nada diriam a noacutes

Ora essa experiecircncia comum da beleza eacute a que estaacute codificada no conceito popular do belo ndash do que concluiacutemos que assim como no caso da esteacutetica o(s) significado(s) filosoacutefico(s) do belo tecircm uma relaccedilatildeo semacircntica forte com sua acepccedilatildeo corrente O problema eacute que este con-ceito comum do belo como quase todos os conceitos abstratos em nossa linguagem usual natildeo eacute suficientemente claro Falamos de belo e beleza de muitas maneiras e em muitos sentidos sem prestar muita atenccedilatildeo ao que estamos dizendo Muitos conceitos ldquoaparentadosrdquo a ele res-soam em nossa mente quando o empregamos e com todo esse ruiacutedo natildeo conseguimos ou nem mesmo tentamos compreender direito o que ele estaacute querendo nos dizer ou ainda o que noacutes estamos querendo dizer por meio dele

Proponho entatildeo que tentemos realizar uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito popular do belo para que assim nos aproximemos dos traccedilos comuns dos vaacuterios conceitos filosoacuteficos do belo Isto eacute vamos tentar explicitar o que noacutes mesmos pressupomos implicitamente quando nos servimos deste termo Entatildeo vejamos o que eacute para noacutes o belo Ou para comeccedilar qual eacute seu efeito sobre noacutes

Esta segunda pergunta eacute bem mais simples e jaacute foi ateacute mesmo parcialmente respondida O belo como jaacute dissemos nos agrada ou seja nos contenta e nos daacute prazer O belo eacute algo que nos alegra e que por isso nos ajuda a viver e a gostar disso Mas isso natildeo nos diz quase nada pois muitas outras experiecircncias possuem o mesmo efeito O proacuteprio fundamento fisioloacutegico-natural do prazer iguala neste ponto o prazer proporcionado pela beleza a todos os outros Comeccedilamos a nos aproximar de uma determinaccedilatildeo filosoacutefica do conceito do belo quando per-guntamos o que diferencia e caracteriza o prazer que temos com o belo em face agraves outras formas de prazer O belo eacute um prazer Muito bem mas que tipo de prazer eacute ele

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UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05TEMAS

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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tema 1

Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream123456789415991002_redefor_d05_filosofia_tema02flv

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 10: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Parece-me que aqui o primeiro passo teraacute de ser explicitar quais satildeo esses outros prazeres com os quais queremos contrastar o prazer do belo Imediatamente fazemos uma constataccedilatildeo os praz-eres mais intensos e os mais ardentemente buscados satildeo aqueles que proveacutem da fruiccedilatildeo direta de nossos sentidos e que por isso tecircm uma relaccedilatildeo imediata com nosso corpo Estamos aqui falan-do do prazer que uma refeiccedilatildeo bem preparada oferece ao nosso paladar do prazer que um aroma de flores ou de incenso oferece ao nosso olfato do prazer que a praacutetica esportiva proporciona a todo o corpo e tambeacutem daquele outro e dulciacutessimo prazer que o leito conjugal nos reserva Todos estes prazeres promovem um bem estar fiacutesico que se funda em nossa proacutepria constituiccedilatildeo fisi-oloacutegica como seres naturais Eles resultam do intercacircmbio direto entre nosso corpo e os outros corpos que o rodeiam do efeito imediato que esses corpos exercem sobre o nosso Seguindo uma terminologia consagrada na tradiccedilatildeo filosoacutefica chamaremos aqui esse efeito imediato dos outros corpos sobre o nosso na medida em que eacute por noacutes percebido de sensaccedilatildeo

Tais prazeres resultantes da sensaccedilatildeo em todas as suas variaccedilotildees parecem mesmo ser os mais elementares de todos os mais imediatos e por isso mesmo os mais intensos Desde sempre a sensaccedilatildeo foi nossa guia e simplesmente natildeo estariacuteamos vivos se natildeo soubeacutessemos aprender com o prazer e o desprazer que ela provoca Em nossa mais tenra idade jaacute buscaacutevamos os praz-eres da sensaccedilatildeo e eles permanecem sendo para noacutes uma espeacutecie de indispensaacutevel patildeo nosso de cada dia que sempre contamos obter parecendo constituir algo como um fundo essencial e sempre presente de toda a nossa vida psiacutequica

Tudo isso faz nascer a suspeita de que talvez todos os nossos prazeres sejam formas espe-ciais desses prazeres sensiacuteveis elementares e imediatos ou que estejam neles fundados Seraacute assim tambeacutem com o prazer que o belo proporciona Que relaccedilotildees de semelhanccedila e diferenccedila teraacute esse prazer especial que sentimos por exemplo ao contemplar um entardecer no campo ou uma pintura que o representa com os prazeres imediatamente derivados da sensaccedilatildeo Ou falando de forma mais abstrata que relaccedilatildeo tem o prazer proporcionado pelo belo com as for-mas fisioloacutegicas elementares de prazer2

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 11: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade Quando se trata do belo eacute difiacutecil fugir de alguns lugares comuns Um dos mais comuns satildeo

as flores Mas eacute compreensiacutevel flores satildeo pequenos milagres cotidianos de beleza ou como tambeacutem jaacute se disse flores satildeo sorrisos da natureza

O fato eacute que falar de flores nos seraacute uacutetil neste ponto de nossa investigaccedilatildeo e os pudores estiliacutesticos tecircm agraves vezes de se curvar ante a utilidade dos argumentos O leitor entatildeo vai me desculpar se lhe peccedilo agora para imaginar que estaacute diante de uma flor Tudo nela agrada sua forma delicada seu aroma suave a textura aveludada das peacutetalashellip Sim tudo agrada mas natildeo da mesma maneira e isso jaacute estaacute impliacutecito nas proacuteprias palavras com que expressamos nosso agrado A forma dizemos eacute bela Mas o aroma e a textura das peacutetalas natildeo os ousamos chamar de belos mas sim por exemplo de agradaacuteveis

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream123456789415991002_redefor_d05_filosofia_tema02flv

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 12: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Por que falamos assim Por quecirc podemos dizer que uma flor ou paisagem eacute bela mas natildeo podemos dizer que um perfume ou um sabor eacute belo Jaacute ouccedilo um leitor mais apressado dizen-do que a paisagem ou a flor eu vejo enquanto que o perfume ou o sabor eu apenas sinto Como assim Entatildeo uma melodia natildeo pode ser bela Nem um poema Uma faacutebula Ah podem Mas uma melodia um poema uma faacutebula eu tambeacutem natildeo vejohellip

Mas natildeo sejamos injustos a resposta natildeo eacute tatildeo ruim assim Estaacute mesmo no caminho certo Suponho de fato que o prezado amigo quis na verdade dizer que a paisagem assim como tudo o que declaro belo eu apreendo Apreender quer dizer aqui tanto discernir como divisar e com-preender Eu diviso a forma de uma aacutervore eu discirno uma melodia eu compreendo o sentido de um poema Em todos esses casos o que fica patente eacute que na experiecircncia do belo eu natildeo sou somente passivo como no caso das sensaccedilotildees eu natildeo me limito a receber impressotildees ou influecircncias dos corpos que me rodeiam mas tomo parte ativa na constituiccedilatildeo desta experiecircn-cia Aquilo a que chamo belo eu o tomo como objeto de minha consideraccedilatildeo eu o examino o inspeciono saboreio seus contornos3 e tudo o que o distingue Eu presto atenccedilatildeo agrave coisa bela e nesta atenccedilatildeo estaacute impliacutecita uma atitude que diferencia a experiecircncia da beleza daquela mera passividade que caracteriza o prazer das sensaccedilotildees Nestas meu prazer eacute passivo porque re-sulta apenas da influecircncia que os objetos exercem sobre mim das sensaccedilotildees que eles em mim provocam Minha atividade se resume aiacute no maacuteximo ao ato pelo qual me deixo influenciar pelos objetos ao ato por exemplo pelo qual levo o alimento saboroso agrave boca mas a sensaccedilatildeo prazerosa do sabor eacute um puro efeito da accedilatildeo do alimento sobre meus oacutergatildeos gustativos

Jaacute na experiecircncia do belo o que nos causa prazer natildeo satildeo propriamente as sensaccedilotildees mas sim a atividade de concepccedilatildeo ou apreensatildeo que realizo a partir das sensaccedilotildees As sensaccedilotildees apenas datildeo ensejo a esta atividade a estimulam A atividade ela mesma poreacutem tem origem em mim eacute um movimento pelo qual vou de encontro aos objetos me interesso por eles e eacute dela que deriva o prazer que experimento com a beleza Assim por exemplo ao contemplar uma flor o prazer que sinto natildeo proveacutem das sensaccedilotildees individuais das cores que percebo mas sim dessa accedilatildeo pela qual meus olhos ao mesmo tempo conduzindo minha mente e por ela sendo conduzidos percorrem calmamente todos os contornos das peacutetalas do caule e de tudo o mais que integra sua figura atentando ora para um elemento ora para outro agraves vezes fixando um detalhe agraves vezes tentando unir vaacuterios detalhes em um todo relacionando suas formas par-ticulares umas com as outras e me demorando em tudo o que reclama momentaneamente

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 13: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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minha atenccedilatildeo Jaacute ao apreciarmos uma bela peccedila musical os ouvidos tomam o lugar dos olhos e descobrem estruturas sonoras formas musicais que se compotildeem dos sons individuais Melo-dias figuras riacutetmicas encadeamentos harmocircnicos e outras formaccedilotildees sonoras satildeo o que nossa escuta atenta e ativa apreende e nosso encantamento com a muacutesica emana deste ato de escuta e natildeo das impressotildees isoladas dos sons Tambeacutem as obras literaacuterias estimulam enormemente nossas capacidade de apreender e conceber Com a poesia nosso pensamento voeja livremente por todos os ceacuteus da sensibilidade humana e os romances nos fazem experimentar com a imaginaccedilatildeo as mais distantes e remotas situaccedilotildees Ulisses Hamlet Quincas Borbahellip todos eles falam conosco e se tornam para noacutes tatildeo conhecidos como nossos vizinhos Eacute verdade que tanto num caso como noutro (poesia e prosa ficcional) natildeo satildeo exatamente as sensaccedilotildees os elementos a partir dos quais o belo se constitui mas sim as palavras Satildeo elas que ligando-se umas agraves outras por meio de suas relaccedilotildees semacircnticas sintaacuteticas ou mesmo sonoras (como no caso das rimas de um poema) datildeo ensejo e estimulam o exerciacutecio do conceber

Poreacutem mais importante do que fazer esta distinccedilatildeo eacute responder a partir do que acabamos de concluir a pergunta que nos colocamos acima acerca da diferenccedila entre o prazer derivado diretamente das sensaccedilotildees e o que tem origem na experiecircncia da beleza Pudemos jaacute perceber que o primeiro proveacutem de meu contato imediato com os objetos que me cercam do efeito fi-sioloacutegico que eles exercem sobre meu corpo enquanto que a experiecircncia da beleza envolve um prazer que noacutes causamos a noacutes mesmos a partir do ensejo dado pelos objetos e as sensaccedilotildees que nos provocam o prazer que sentimos mediante uma consideraccedilatildeo atenta distanciada e desinteressada da aparecircncia dos objetos O belo eacute alguma coisa que estimula minha capacidade de apreender e pensar oferecendo a ambas a oportunidade de se exercer de forma prazerosa Jaacute aquilo que me provoca um prazer em que sou meramente passivo eacute apenas agradaacutevel4

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

Concluiacutemos entatildeo que o prazer proporcionado pelo belo deriva de nosso ato de conceber atentamente as coisas a que chamamos belas Belo eacute aquilo que posso apreender mas o que apreendo eacute a forma Forma eacute outro dos conceitos baacutesicos da Esteacutetica tatildeo profundamente vin-culado ao de beleza que se torna quase impossiacutevel falar de um sem falar do outro Na verdade trata-se de um conceito com uma larga histoacuteria em filosofia a qual natildeo se restringe ao cam-po da Esteacutetica5 Mas como estamos aqui interessados em seu significado precisamente neste

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 14: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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campo vamos examinaacute-lo apenas segundo seu sentido esteacutetico Nossa pergunta seraacute entatildeo o que eacute a bela forma

A questatildeo da bela forma poreacutem se torna mais facilmente apreciaacutevel em seu pleno significado filosoacutefico e adquire grande parte de seu interesse e abrangecircncia quando colocada no acircmbito da reflexatildeo sobre a arte e por isso eacute esta perspectiva que estaremos priorizando aqui muito embora o que vamos dizer sobre as obras de arte possa facilmente ser aplicado a todo objeto belo

Felizmente tambeacutem neste caso a acepccedilatildeo corrente e popular pode nos auxiliar a nos aproxi-marmos da filosoacutefica Vamos entatildeo imaginar que estamos em uma exposiccedilatildeo de arte antiga admirando a ldquonobre simplicidade e grandeza silenterdquo de uma estaacutetua grega Agora vamos agrave sala ao lado e nos deparamos com uma reproduccedilatildeo moderna dela em bronze fundido O que uma experiecircncia tem a ver com a outra Tudohellipe nada Nada porque as sensaccedilotildees visuais pro-vocadas pelo bronze satildeo totalmente diferentes das provocadas pelo maacutermore O maacutermore eacute branco levemente acinzentado o bronze eacute esverdeado e escuro O maacutermore eacute fosco o bronze eacute brilhante O maacutermore eacute poroso o bronze eacute totalmente liso Mas alguma coisa se conservou idecircntica entre o original e a reproduccedilatildeo e ningueacutem teraacute dificuldade em dizer que foi a forma Pois forma em nossa linguagem cotidiana eacute exatamente o contorno do objeto eacute seu limite o que o delimita e o distingue do mundo que o rodeia

A pintura tambeacutem nos oferece imediatamente muitos exemplos semelhantes Pensemos por exemplo nas mais de trinta imagens que Monet realizou entre 1892 e 1894 da catedral de Ruatildeo todas segundo a mesma perspectiva mas tentando captar a coloraccedilatildeo especiacutefica que a construccedilatildeo apresentava em diversas eacutepocas do ano e horas do dia Apesar da grande variaccedilatildeo das coloraccedilotildees empregadas manteacutem-se constante o contorno da figura principal e a relaccedilatildeo espacial reciacuteproca de suas partes Reconhecemos a mesma forma apesar do grande cacircmbio das sensaccedilotildees individuais que compotildeem a obra

E na muacutesica teremos fenocircmenos mais ou menos correspondentes Sem duacutevida Pense em uma melodia popular famosa a ldquoGarota de Ipanemardquo por exemplo Jaacute a ouvimos cantada por inuacutemeras vozes distintas cada qual com seu timbre caracteriacutestico e em tonalidades diversas

Tambeacutem jaacute a ouvimos apresentada de maneira puramente instrumental tocada digamos por

um violino uma flauta ou um piano Se compararmos um a um os sons que compotildeem a

melodia constataremos uma enorme variedade tanto em termos de altura como de timbre

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 15: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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intensidade e mesmo duraccedilatildeo pois a melodia pode ser tocada de forma mais raacutepida ou mais

lenta Mas novamente alguma coisa se conservou em todos os casos um mesmo desenho

sonoro definido permite que reconheccedilamos em cada um deles a mesma melodia A melodia eacute

uma forma capaz de ser ldquopreenchidardquo com sons tatildeo diversos quanto as cores com que Monet pinta sua ldquoCatedral de Ruatildeordquo

Rouen Cathedral Monet 1894

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Podemos entatildeo definir forma provisoria-mente como uma estrutura que organiza de maneira caracteriacutestica um conjunto de sensa-ccedilotildees no espaccedilo e no tempo conferindo uni-dade e identidade a este conjunto Mas nada nos impede de estendermos um pouco mais esta definiccedilatildeo tornando-a mais abrangente e geral Vamos fazecirc-lo em dois passos interco-nectados Primeiramente vamos incluir aqui tambeacutem a forma literaacuteria No caso da lit-eratura como jaacute vimos o que potildee em movi-mento nossa capacidade de apreensatildeo natildeo satildeo sensaccedilotildees mas sim palavras em suas relaccedilotildees reciacuteprocas A bela forma em literatura portan-to teraacute a ver com a maneira como o escritor articula as palavras em unidades discursivas mais abrangentes como frases ou estrofes as quais por sua vez se conectam a outras frases ou estrofes formando assim contextos cada vez mais amplos como paraacutegrafos versos

contos capiacutetulos de romances ou poemas

A inclusatildeo da forma literaacuteria em nosso campo de consideraccedilatildeo nos forccedila agora a definir da bela forma como uma estrutura que conecta uma certa multiplicidade de elementos sensiacuteveis ou significativos (sensaccedilotildees ou palavras) em uma unidade dotada de unidade e identidade Mas essa inclusatildeo tambeacutem nos levou a dar mais um passo adiante ao falarmos de contos romances e poemas jaacute natildeo estamos considerando apenas formas individuais que congregam elementos

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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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baacutesicos mas sim tambeacutem de formas bem mais amplas a que se subordinam outras formas mais elementares mutuamente articuladas entre si gerando assim a unidade e a identidade do todo de uma obra de arte

Tambeacutem na muacutesica uma forma meloacutedica se articula a outras melodias que lhe sucedem precedem ou lhe satildeo simultacircneas Conecta-se tambeacutem eventualmente a uma linha de baixo a uma figura riacutetmica a acordes que de sua parte conectam-se formando progressotildees harmocircni-cas Melodias figuras riacutetmicas acordes cadecircncias harmocircnicas etchellip satildeo outras tantas formas musicais na medida em que podem ser percebidas como unidades e elas se articulam umas agraves outras formando o todo de uma peccedila musical Semelhantemente uma obra pictoacuterica ou es-cultoacuterica congrega em uma unidade vaacuterias estruturas formais particulares (contornos figuras volumeshellip) que podem ser apreciadas em si mesmas ou em sua articulaccedilatildeo reciacuteproca

Sendo assim as formas artiacutesticas poderatildeo ser entendidas tanto como estruturas que co-nectam entre si as partes constitutivas de uma obra de arte quanto aquelas que organizam e vinculam os elementos baacutesicos que compotildeem estas mesmas partes Ora a consideraccedilatildeo atenta dessas estruturas particulares em si mesmas e em sua articulaccedilatildeo muacutetua coincide com aquilo que no item anterior apontamos como a essecircncia da experiecircncia do belo e por isso podemos dizer que essa experiecircncia coincide com a apreensatildeo da forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Agraves vezes dizemos por exemplo que o som da flauta eacute belo ou que uma determinada tonali-dade de azul eacute bela Mas agora percebemos que isso eacute uma maneira imprecisa e por isso mesmo natildeo filosoacutefica de falar Um som ou uma cor satildeo sensaccedilotildees e enquanto tais natildeo podem ser belos mas apenas agradaacuteveis As cores e sons que costumamos erroneamente chamar de belos natildeo nos aparecem isoladamente como que soltos no espaccedilo e no tempo Natildeo pensamos em uma ldquobelardquo tonalidade de azul senatildeo como a cor de alguma coisa uma flor por exemplo e quando dizemos que o som de flauta eacute belo sempre o imaginamos no contexto de uma figura meloacutedica ou de uma peccedila musical Ora a aparecircncia de uma flor e uma melodia satildeo formas ou seja complexos de sensaccedilotildees interligadas Satildeo esses complexos que podemos declarar belos as sensaccedilotildees individuais que os compotildeem apenas realccedilar essa beleza torna-la mais evidente ou mais atraente (ou pelo contraacuterio podem ofuscar a beleza torna-la irreconheciacutevel) Tampouco poderemos chamar de be-

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 17: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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las as palavras elementos baacutesicos da beleza literaacuteria natildeo se quisermos preservar um sentido rig-oroso e filosoacutefico do termo belo Isoladamente considerada apenas em si mesma ou como disse Drummond de Andrade em estado de dicionaacuterio nenhuma palavra pode despertar a experiecircncia propriamente esteacutetica Elas soacute se tornam esteticamente significativas e relevantes quando co-nectadas por uma forma discursiva tal como as caracterizamos haacute pouco

Mas natildeo devemos concluir que as sensaccedilotildees ou palavras enquanto tais natildeo tenham influecircn-cia sobre a beleza ou dito de maneira mais teacutecnica que a bela forma no tocante ao efeito que ela exerce sobre noacutes seja independente da qualidade sensiacutevel dos elementos que ela integra em si Eacute claro que a qualidade especiacutefica dos elementos baacutesicos (sensaccedilotildees ou palavras) que constituem a forma bela faz parte da experiecircncia da beleza nosso agrado com estes elementos contribui para a constituiccedilatildeo desta experiecircncia No caso das artes isto eacute absolutamente claro que seria da pintura sem o prazer que as cores proporcionam E que seria da muacutesica se o som dos instrumentos natildeo nos agradasse Erraram de profissatildeo aquele pintor que eacute insensiacutevel ao efeito imediato das cores e o poeta que desconhece as potencialidades das palavras e todo compositor precisa conhecer o som dos instrumentos para poder compor para eles A questatildeo aqui eacute que embora o agrado com as sensaccedilotildees individuais faccedila parte da experiecircncia esteacutetica ele natildeo eacute suficiente para constituiacute-la Para que a beleza e sua contemplaccedilatildeo esteacutetica possam surgir eacute necessaacuterio que os elementos agradaacuteveis estejam conectados entre si atraveacutes da forma ou seja de algo que eacute passiacutevel de ser objeto de minha apreensatildeo As sensaccedilotildees estatildeo subordinadas agrave forma mas por outro lado satildeo as sensaccedilotildees que tornam a forma perceptiacutevel que a iluminam realccedilando seus contornos percebemos muito melhor e com muito mais prazer os contornos de uma estaacutetua grega em maacutermore do que sua reproduccedilatildeo em bronze e uma bela melodia concebida para a flauta soaraacute mal na tuba O agrado com as sensaccedilotildees eacute um importantiacutes-simo elemento dessa seduccedilatildeo que a forma bela exerce sobre noacutes mas mas isso eacute soacute o iniacutecio a condiccedilatildeo do encantamento Esse agrado nos convida agrave contemplaccedilatildeo da forma mas soacute produz a experiecircncia esteacutetica quando articulado por ela

Sim a sensaccedilatildeo participa da experiecircncia da beleza poreacutem de maneira bastante diversa daquela pela qual participa de nossa experiecircncia comum das coisas que nos cercam Nesta experiecircncia comum a sensaccedilatildeo desempenha uma funccedilatildeo bastante precisa e importante ou melhor uma dupla funccedilatildeo Em primeiro lugar a sensaccedilatildeo me informa sobre a presenccedila das coisas em minha redondeza Sempre que tenho sensaccedilotildees concluo que devem ter sido causadas

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 2

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 18: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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por algum objeto material Por outro lado se em um determinado lugar natildeo ouccedilo natildeo vejo e natildeo posso tocar em nada concluo que ali natildeo haacute nada Aleacutem disso as sensaccedilotildees me auxiliam a identificar as coisas que as produziram informam-me sobre a constituiccedilatildeo material e objetiva delas Satildeo as cores os sons os odores as sensaccedilotildees taacuteteis que me possibilitam distinguir entre o maacutermore e o bronze entre o gelo e o vidro a aacutegua e o oacuteleo a flauta e o violino

Em minha atitude comum portanto a sensaccedilatildeo sempre me remete agraves coisas em sua ex-istecircncia material Eacute ela que me conecta diretamente com o mundo em que vivo que me situa nele e baliza meus passos por entre as coisas que o compotildeem Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza o que me interessa natildeo satildeo as coisas mas sim a forma A sensaccedilatildeo agora me importa apenas na medida em que ilumina a forma em que me auxilia a perscrutaacute-la e me convida a consideraacute-la atentamente As sensaccedilotildees deixam de me remeter a realidades materiais a coisas existentes no mundo agora cada uma delas remete-me apenas a outras sensaccedilotildees e suas rela-ccedilotildees reciacuteprocas ou seja agraves suas vinculaccedilotildees estabelecidas pelas formas A forma agora torna-se pura aparecircncia destacada de qualquer coisa que por meio dela apareccedila

Agora o leitor jaacute atina com o sentido de nossas palavras mais acima quando dissemos que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica procura determinar conceitualmente os criteacuterios pelos quais julgamos natildeo as coisas mas sim suas aparecircncias Mas isso ainda haacute de ser mais desen-volvido quando na sequumlecircncia estivermos analisando mais detidamente a atitude esteacutetica

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tema 3

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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                                                                      1. Botatildeo 7
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                                                                      3. Botatildeo 9
Page 19: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

Eacute abril 630 da manhatilde Faz sol Do lado direito de uma rua movimentada um terreno largo e fundo parece ter milagrosamente escapado agrave fuacuteria da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Talvez pelo acentuado aclive dificultando a construccedilatildeo As aacuteguas recentes fecharam o veratildeo presenteando o outono com um verde intenso que veste galhardamente a encosta Neacutevoa esvanecente flutua ainda um pouco acima da relva e se adensa na copa de uma esbelta aacutervore a meio caminho morro acima Por entre os galhos os raios de sol desenham regiotildees douradas no ar O garoto com a mochila nas costas passa olhando na direccedilatildeo do sol e conclui que vai chegar atrasado na escola A dona-de-casa olha na mesma direccedilatildeo e avalia que ateacute o meio dia (com esse sol) a roupa jaacute vai estar toda seca no varal O topoacutegrafo da Secretaria de Planejamento Urbano aproveita a hora calma para medir com seu teodolito os acircngulos de inclinaccedilatildeo do terreno seraacute

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 20: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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mesmo viaacutevel fazer passar uma estradinha por traz do morro A mocinha pega o celular e tira uma foto rosto em primeiro plano aacutervore ao fundo achando que vai ficar bem em sua paacutegina pessoal na internet Ateacute que chega um que nada quer saber nem de paacutegina nem horaacuterio nem estrada nem de varal e se deixa ficar um pouco olhando calmamente o que se oferece agrave vista Que lindohellip fala finalmente de si para si e segue seu caminho

O belo eacute para poucos disse Nietzsche Mas natildeo eacute que seja acessiacutevel apenas a poucos nem que deva secirc-lo e sim que poucos se dispotildeem a ir em seu encontro Pois jaacute sabemos o belo natildeo se apodera simplesmente de noacutes natildeo o recebemos passivamente mas temos de buscaacute-lo de nos interessarmos por ele A beleza premia o esforccedilo de quem a procura e a verdade eacute que pou-cos se sentem estimulados a despender esse esforccedilo e isso temos de acrescentar tambeacutem por razotildees que escapam a seu controle e escolha E mesmo os que se consideram sensiacuteveis agrave beleza teratildeo de conceder que nem sempre se encontram em condiccedilatildeo de desfrutar dela por mais que ela se ofereccedila

O belo eacute para poucos e tambeacutem para poucos momentos Eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo No geral estamos atarefados demais para nos permitir esse inocente prazer de meramente contemplar a aparecircncia das coisas quase sempre temos de nos haver eacute com as proacuteprias coisas As coisas nos atraem as coisas nos ameaccedilam e eacute por entre elas que temos de encontrar nosso caminho no mundo Esse mundo das coisas tem um funcionamento e quem natildeo se inter-essa em compreender esse funcionamento e agir de acordo com ele se arrisca a ser esmagado pelas engrenagens da realidade como Chaplin naquela impagaacutevel cena de Tempos Modernos Perseguir nossos objetivos cumprir nossas obrigaccedilotildees honrar nossas responsabilidades pagar nossas contashellip agir eacute preciso contemplar natildeo eacute preciso Meramente contemplar desinteres-sadamente soacute pelo prazer de contemplar natildeo eacute isso um luxo Eacute assim hoje e natildeo eacute provaacutevel que tenha sido muito diferente em qualquer outra eacutepoca pelo menos para a grande maioria dos homens Beleza sempre foi exceccedilatildeo

Dizer que a beleza eacute uma experiecircncia de exceccedilatildeo significa dizer que ao viver esta experiecircncia eu adoto uma atitude diversa daquela que considero comum Mas qual seria entatildeo esta atitude comum Acabamos de descrevecirc-la eacute esta atitude pela qual interajo com a realidade que me cerca de acordo com meus objetivos e com as leis que governam as coisas e os homens a ati-tude na qual me comporto como sujeito praacutetico ou seja como sujeito que age no mundo

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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2

3

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 21: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 3

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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No que entatildeo a atitude esteacutetica se diferencia desta atitude comum Haacute pouco apontamos o ato de apreender e mais especificamente a apreensatildeo da forma como um elemento essencial da atitude esteacutetica Mas natildeo eacute nisso que reside a diferenccedila em relaccedilatildeo agrave atitude comum eacute evidente que para nos comportarmos como sujeitos de accedilotildees no mundo eacute necessaacuterio apreendermos os aspectos desse mundo que vatildeo balizar a nossa accedilatildeo Para agirmos temos de compreender conceber apreender inclusive apreender a forma a forma dos objetos que nos cercam por exemplo A diferenccedila estaacute na verdade na maneira pela qual nos relacionamos a este ato de apreensatildeo e agravequilo que por meio dele apreendemos Na atitude cotidiana como estamos nos relacionando com o mundo tudo o que apreendemos nos remete a ele O que vemos ouvi-mos concebemos e compreendemos vale entatildeo para noacutes como sinal que nos informa sobre os elementos que constituem isso a que chamamos realidade As aparecircncias e representaccedilotildees apontam para realidades do mundo apontam portanto para aleacutem delas mesmas Isso que vejo da minha janela natildeo eacute uma aacutervore eacute apenas a forma pela qual a aacutervore que existe no bosque em frente aparece para mim neste exato instante e sob essa perspectiva visual Mas ela pode me aparecer de muitos outros modos e sobre vaacuterias outras perspectivas A existecircncia da aacutervore se desdobra no tempo enquanto que a imagem que vejo de minha janela estaacute soacute no agora

Mas nada disso me importa na minha atitude comum e cotidiana de sujeito que age no mundo Nesta atitude toda apariccedilatildeo individual da aacutervore vale para mim apenas como algo que me informa sobre a aacutervore como algo que me recorda que ela existe e ainda estaacute aiacute Da imagem da aacutervore passo imediatamente para a aacutervore mesma pois eacute ela que me interessa e o passo eacute tatildeo imediato que nem me dou conta dele naturalmente chego a confundir a aparecircncia da coisa com a proacutepria coisa tanto que costumo dizer que vejo a aacutervore e natildeo sua aparecircncia

Ora na atitude esteacutetica eacute justamente este passo que me recuso a dar Natildeo passo mais da aparecircncia agraves coisas mas me contento com a aparecircncia e a contemplo apenas como aparecircncia Ao contraacuterio do que ocorre na atitude comum agora eacute a aparecircncia que ofusca a coisa Quando dizemos que uma flor eacute bela natildeo estamos nos interessando mais pela flor que tem essa aparecircncia mas sim por essa aparecircncia mesma por esse aparecer momentacircneo da flor Inclusive tanto faz mesmo se natildeo houver flor nenhuma se for apenas sua coacutepia em gesso ou uma fotografia holograacute-fica contanto que a reproduccedilatildeo de sua aparecircncia seja suficientemente fiel As coisas durando no tempo e o proacuteprio tempo em que se desdobram as suas existecircncias satildeo deixados de lado pois o que nos importa eacute o aqui e o agora e eacute nesse aqui e agora que queremos permanecer

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 3

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 22: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Eacute exatamente porque na contemplaccedilatildeo esteacutetica nos distanciamos das coisas que os estetas ingleses do seacuteculo XVIII a caracterizaram como desinteressada6 Pois o interesse eacute justamente aquilo que me estabelece como sujeito praacutetico que me move em meio agraves coisas em direccedilatildeo a meus objetivos Eacute o interesse o que me movimenta em direccedilatildeo ao mundo e nesse movimento as aparecircncias e representaccedilotildees satildeo apenas os pontos de apoio de que me utilizo para abrir caminho e sustentar a passada Quando passo a considerar esteticamente a aparecircncia apenas como aparecircncia e natildeo mais como signo de algo aleacutem dela corto meu viacutenculo imediato com as coisas desinteresso-me por elas Meu movimento em direccedilatildeo ao mundo eacute estancado e em verdade natildeo me limito apenas a parar dou mesmo um passo atraacutes Recolho-me retiro-me da aacuterea de influecircncia direta das coisas para poder ganhar um novo olhar sobre o mundo como se estivesse do lado de fora dele e atraveacutes de uma janela o contemplasse distanciadamente desinteressadamentehellip Eis a atitude esteacutetica7

32 O sublime e a liberdade criativa

Absolutamente envolto neste tipo de recolhimento contemplativo e distanciado que aca-bamos de caracterizar como tiacutepico da atitude esteacutetica parece estar o viandante que Kaspar David pintou em sua famosa tela que leva o mesmo nome Mas certamente natildeo eacute o doce re-frigeacuterio da beleza o que a taciturna figura foi buscar no alto da montanha (Se fosse isso por quecirc natildeo teria ficado simplesmente pelos jardins) Imoacutevel ele experimenta a seduccedilatildeo infinita do abismo desafia a vertigem ameaccediladora amparado na serena beatitude que habita todos os picos Esmagada pela imensidatildeo sua alma se torna espelho do todo e por fim a ele se iguala Sua relaccedilatildeo com o mundo mudou totalmente inverteu-se as nuvens antes emblemas do in-atingiacutevel estendem-se agora sob seus peacutes Que espeacutecie de ideacuteias audazes atravessam-lhe qual centelhas faiscantes o pensamento Provavelmente assombra-se com a pequenez do ser hu-mano diante da natureza incomensuraacutevel e ilimitada da qual um uacutenico sopro eacute suficiente para soterrar civilizaccedilotildees Pensa talvez com desgosto na existecircncia miuacuteda dos homens laacute embaixo incluindo a sua proacutepria deplora a estreiteza de suas aspiraccedilotildees a mesquinhez de suas querelas a vacuidade de seu orgulhohellipNatildeo eacute propriamente religioso mas natildeo pode evitar que uma sentenccedila do Eclesiastes lhe chegue aos laacutebios envolta em um sorriso libertador tudo eacute vatildeohellip Natildeo natildeo foi a beleza que o viandante de David buscou no alto da montanha mas o sublime

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 23: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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O sublime eacute outro dos conceitos-chave da Esteacutetica Sua histoacuteria eacute quase tatildeo antiga quanto a do belo poreacutem foi apenas muito recentemente que sua importacircncia se tornou comparaacutevel a de seu irmatildeo mais velho8 Etimologicamente sublime quer dizer elevado mas no terreno da esteacutetica o termo remete ao grandioso o colossal ao arrebatador o sublime nos amedronta e nos atrai nos ameaccedila e nos causa admiraccedilatildeo nos esmaga pela sua grandeza e forccedila mas nos eleva por fazer-nos refletir sobre nossa condiccedilatildeo A tempestade que transfigura os ceacuteus com as cores do apocalipse eacute sublime e sublime eacute o maremoto avassalador que vemos do alto de uma encos-ta a imensidatildeo do deserto e do ceacuteu estrelado satildeo sublimes assim como o eacute a forccedila inexoraacutevel do Destino agrave qual tem de sucumbir ateacute o mais destemido heroacutei no espetaacuteculo da Trageacutedia Se o belo tem na forma sua condiccedilatildeo o sublime jaacute tende ao informe Se o belo eacute aquilo que me compraz pelo ato de apreender discernir compreender o sublime eacute aquilo que desafia minha capacidade de apreensatildeo que escarnece de meus esforccedilos de compreensatildeo eacute o incompreen-siacutevel o insondaacutevel Por isso mesmo natildeo compraz mas causa primeiramente dor sofrimento que soacute satildeo mitigados quando desistimos de apreender e compreender e do reconhecimento de nossas limitaccedilotildees nasce entatildeo o conforto quase miacutestico que nos eleva acima de noacutes mesmos O sublime marca assim o primeiro limite do belo no campo da Esteacutetica conduzindo esta uacuteltima ateacute a zona fronteiriccedila em que jaacute confina com a religiatildeo e a metafiacutesica Seu significado poreacutem soacute pode ser devidamente apreciado dentro do contexto que forma com outros fenocircmenos artiacutesticos e teoacutericos que lhe satildeo contemporacircneos

Apesar de projetado a posteriori sobre Shakespeare e Milton o sublime entra efetivamente na discussatildeo esteacutetica e no fazer artiacutestico europeu na segunda metade do seacuteculo XVIII em domiacutenio britacircnico Ainda antes da virada do seacuteculo seu foco migra para a Alemanha onde en-contra fertiliacutessimo terreno especialmente no contexto do movimento Sturm und Drang (Tem-pestade e Iacutempeto) Tanto na Inglaterra como na Alemanha o interesse pelo sublime vem irma-nado a uma tendecircncia agrave valorizaccedilatildeo do sentimento compreendido como fundamento e origem de todo fazer artiacutestico E natildeo eacute em verdade apenas o sentimento que se vecirc valorizado mas sim tambeacutem as paixotildees com toda sua veemecircncia os instintos impulsos e tudo aquilo que move o ser humano naquele niacutevel mais primaacuterio de sua existecircncia e que o liga diretamente agrave natureza aquele niacutevel que permanece sempre irredutiacutevel agrave razatildeo e a seus criteacuterios Se o artista vai buscar no sublime a desmedida e o inconcebiacutevel eacute porque sente profundamente que carrega em si mesmo o irracional e o desmesurado A arte romacircntica que aqui tem nascimento quer sondar

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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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o preacute-consciente o que ainda natildeo foi elaborado nem controlado pela razatildeo (e nem pode secirc-lo) e para isso natildeo hesitaraacute em explorar os domiacutenios do devaneio do sonho e mesmo experimen-tar os limites da loucura A arte quer agora revogar quase dois milecircnios de condenaccedilatildeo cristatilde do corpo e da sensualidade como fonte do mal e trecircs seacuteculos de condenaccedilatildeo racionalista dos sentidos como fonte do erro dando vazatildeo a uma dimensatildeo humana que apesar de fundamental e inextirpaacutevel sempre foi negligenciada e oprimida pelo Ocidente culto

Por isso mesmo o novo paradigma eacute a expressatildeo e exprimir significa aqui exteriorizar tudo aq-uilo que os estreitos limites da razatildeo e da vida moderna comprimem e sufocam na alma torturada do artista O interior desta alma transforma-se entatildeo em fonte de luz que transfigura o mundo dando-lhe aspecto humano ou condenando seu aspecto desumano A torrente criativa emanada do gecircnio criativo natildeo reconhece as regras ensinadas nas academias e transborda sobre todas as formas traditadas do bem fazer artiacutestico Quando Herder pergunta quem ensinou a Homero as regras da poesia eacutepica eacute o mesmo que perguntar quem ensinou a gazela a correr Ningueacutem o ensinou ele criou suas proacuteprias regras e assim deve fazer todo verdadeiro artista Entatildeo que natildeo viessem ensinar ao poeta quantas siacutelabas devia ter seu verso e quantos versos devia ter sua estrofe Nem aplicar o metro e o esquadro ao discurso livre da muacutesica para ver se estaacute de acordo com a estrutura da forma-sonata O importante era que exprimissem a alma humana

33 Rumo agrave Filosofia da ArteTamanho arrebatamento natildeo se explica por causas puramente esteacuteticas Satildeo aspiraccedilotildees hu-

manas que aqui ganham voz e eacute a Histoacuteria que deixa suas pegadas na arte Mas conveacutem aqui deixarmos em suspenso a ldquoHistoacuteriardquo para nos concentrarmos apenas na histoacuteria da arte E justamente desta perspectiva poderemos perceber que nas aspiraccedilotildees dos romacircnticos ingleses e alematildees expressa-se pela primeira vez uma expliacutecita auto-afirmaccedilatildeo da arte cujo alcance vai muito aleacutem do contexto especiacutefico em que ocorreu bem como reivindicaccedilotildees artiacutesticas funda-mentais que atravessam os seacuteculos permanecendo ateacute hoje vaacutelidas

Em sua defesa veemente da criatividade e originalidade como uacutenica fonte legiacutetima dos criteacuterios e princiacutepios artiacutesticos eles pela primeira vez datildeo uma voz consciente agrave reivindicaccedilatildeo baacutesica da autonomia da arte Jaacute nessa ideacuteia de que a arte deve precipuamente dar vazatildeo aos conteuacutedos mais profundos da alma pode-se ver a origem de uma concepccedilatildeo da arte como livre veiacuteculo de elaboraccedilatildeo e comunicaccedilatildeo simboacutelicas da experiecircncia humana em geral da qual se nutriram em grande medida as mais variadas vanguardas artiacutesticas do seacuteculo XX

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream123456789415991202_redefor_d05_filosofia_tema04flv

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 25: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Comecemos pela autonomia Em seu sentido estrito este termo significa auto-legislaccedilatildeo ou auto-regulaccedilatildeo Aplicada ao fazer artiacutestico a ideacuteia de autonomia implica que o artista deve poder determinar livremente os princiacutepios que regem seu processo criativo Era isso que os romacircnticos reivindicavam ao afirmarem a primazia da originalidade sobre todo o poder da tradiccedilatildeo e das convenccedilotildees previamente estabelecidas E eacute tambeacutem isso que os artistas posteri-ores reivindicaratildeo ao defenderem a liberdade criativa do artista contra os ataques de todas as formas de censura e contra toas as imposiccedilotildees restritivas provenientes seja da esfera do mer-cado da poliacutetica da religiatildeo ou da moral

Mas a arte natildeo se limita ao processo de produccedilatildeo da obra de arte ela eacute um fato social de que participam necessariamente aqueles a quem a obra eacute endereccedilada o puacuteblico com o qual o artista entra em comunicaccedilatildeo Portanto a arte como praacutetica social inclui em si o proacuteprio ato pelo qual as pessoas a recepcionam a apreciam esteticamente e a julgam segundo seus meacuteritos Corre-spondentemente a ideacuteia de autonomia da arte implicaraacute tambeacutem que os criteacuterios de apreciaccedilatildeo da obra de arte sejam puramente artiacutesticos isto eacute que nasccedilam da proacutepria experiecircncia esteacutetica das pessoas com a obra de arte sem serem influenciados por quaisquer fatores estranhos a esta experiecircncia O artista cria autonomamente a obra de arte e o puacuteblico realiza autonomamente a criacutetica esteacutetica

Assim sendo a arte aparece como atividade independente que carrega em si mesma o seu sentido e os princiacutepios que governam seu desenvolvimento A arte deve entatildeo ser reconhe-cida como uma esfera especiacutefica da experiecircncia humana dotada de uma importacircncia e um significado tambeacutem especiacuteficos Depois de haver decretado sua autonomia a arte natildeo toleraraacute mais (pelo menos natildeo por muito tempohellip) a sujeiccedilatildeo a qualquer poder superior a ela nem o atrelamento a qualquer finalidade exterior a ela Natildeo mais desejaraacute ser ldquouacutetilrdquo para qualquer outra coisa mas sim valiosa em si mesma Nunca mais seraacute a mera serva da religiatildeo (pelo contraacuterio as catedrais de hoje querem antes de tudo ser apreciadas esteticamente) nem a em-belezadora dos palaacutecios natildeo mais o instrumento neutro da moral nem joguete nas matildeos do poder poliacutetico ou econocircmico

Mas exatamente ao declarar sua independecircncia exigindo guiar-se apenas por criteacuterios esteacute-ticos a arte se torna interessante para a filosofia a partir de pontos de vista que vatildeo muito aleacutem do acircmbito esteacutetico

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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Ateacute agora estivemos considerando a arte apenas do ponto de vista da Esteacutetica ou seja a partir das categorias da beleza da forma e do sublime O belo a forma e o sublime estatildeo na arte e na natureza e por isso nos foi possiacutevel ateacute aqui falar de ambos conjuntamente dando a parecer que a reflexatildeo filosoacutefica sobre a arte fosse apenas um capiacutetulo particular da Esteacutetica Mas na medida em que a arte se afirma como atividade que carrega em si mesma seu sentido e sua importacircncia ela levanta questotildees filosoacuteficas absolutamente pertinentes para cuja abor-dagem aquelas categorias meramente esteacuteticas natildeo mais satildeo suficientes De fato se a arte eacute realmente uma esfera particular da experiecircncia humana cabe entatildeo perguntar no que consiste a importacircncia especiacutefica da arte para o homem E mais como a Histoacuteria se reflete na arte e como esta se relaciona com as outras regiotildees da cultura como a ciecircncia a filosofia a religiatildeo e a poliacutetica Que papel desempenha na sociedade No que se baseia sua suposta autonomia e independecircncia Aliaacutes eacute esta independecircncia de fato real Deve mesmo ser

Satildeo perguntas que ensejam o surgimento de uma filosofia da arte como campo de investiga-ccedilatildeo que transcende o domiacutenio da Esteacutetica

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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

Quando se trata de arte contemporacircnea eacute difiacutecil fugir de alguns lugares-comuns Creio que o mais comum deles eacute o mictoacuterio Explico o mictoacuterio que Marcel Duchamp apresentou sob o tiacutetulo de ldquoA Fonterdquo em 1917 agrave comissatildeo organizadora da exposiccedilatildeo da Sociedade de artistas Independentes de Nova Yorque A comissatildeo que havia declarado a intenccedilatildeo de expor todos os trabalhos submetidos recusou a ldquoFonterdquo de Duchamp apoacutes acirrada discussatildeo sobre se aquilo era mesmo arte Um urinol natildeo eacute exatamente um milagre de beleza na verdade eacute preciso natildeo ter a cabeccedila no lugar para chamar de bela uma coisa que ateacute nos recintos mais decreacutepitos pre-cisa ficar escondida Muito menos eacute sublime E no entanto ele se nos apresenta como obra de arte ou seja como algo capaz de ser objeto de nossa consideraccedilatildeo esteacutetica Como eacute possiacutevel Ou antes eacute possiacutevel

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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                                                                      1. Botatildeo 7
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                                                                      3. Botatildeo 9
Page 28: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Sim leitor eacute possiacutevel pois conforme jaacute vimos a consideraccedilatildeo esteacutetica natildeo eacute instaurada pelo objeto que contemplamos mas pela nossa atitude diante dele e essa atitude pode em princiacutepio incidir sobre qualquer objeto Nesta atitude como tambeacutem jaacute vimos a existecircncia material do objeto sua existecircncia como coisa eacute posta em suspenso eacute ldquoesquecidardquo para que nos concentremos apenas na maneira como ele se apresenta a noacutes O objeto que consideramos es-teticamente mesmo que esteja diante de noacutes estaacute tambeacutem a uma distacircncia intransponiacutevel natildeo podemos tocaacute-lo mas soacute contempla-lo ele deixou de habitar o mundo das coisas tornou-se pura aparecircncia que solicita e estimula nossa capacidade de apreender e compreender Assim se nos depara o mictoacuterio de Duchamp O veacuteu da arte o salvou do fado ingloacuterio de seus semel-hantes natildeo eacute mais um mictoacuterio tornou-se um ponto de interrogaccedilatildeo um enigma Decerto natildeo estimula a nossa capacidade de apreensatildeo da forma mas exatamente porque se apresenta como obra de arte ele desafia nossa capacidade de compreender e pensar A regiatildeo em que se daacute a experiecircncia esteacutetica deslocou-se dos sentidos para o pensamento tornou-se conceitual9 O urinol nos interpelahellip exige natildeo dejetos mas respostas

A ldquoFonterdquo de Duchamp se apresenta diziacuteamos como obra de arte mas parece ser exatamente o oposto de tudo o que se costuma entender como arte Por isso a primeira pergunta que nos lanccedila em rosto eacute precisamente essa que eacute a arte afinal Na verdade no iniacutecio do seacuteculo XX essa pergunta jaacute se havia colocado por si mesma para todos os que lidavam com arte ou se interes-savam por ela E natildeo era apenas o cinema e as vanguardas que a punham na ordem do dia era a proacutepria histoacuteria da arte Pois o iconoclasmo vanguardista que jaacute entatildeo havia posto de cabeccedila para baixo quase tudo o que se entendia por arte natildeo era senatildeo uma consequumlecircncia histoacuterica da proacutepria afirmaccedilatildeo da autonomia das artes consolidada ainda no seacuteculo anterior se a arte almejava de fato ser livre entatildeo natildeo poderia ficar presa a nenhum padratildeo preacute-estabelecido o que a obrigava a pocircr em cheque reiterada e sistematicamente seus fundamentos

Mas tambeacutem essa reivindicaccedilatildeo de liberdade e autonomia da arte do seacuteculo XIX pode ser vista como consequumlecircncia de um longo movimento histoacuterico que tem iniacutecio com a arte grega ou diratildeo alguns com os bisotildees e mamutes pintados nas paredes das cavernas Neste decor-rer histoacuterico a arte transformou-se drasticamente tanto em seu aspecto exterior como no significado que os homens lhe atribuiacuteam tanto na funccedilatildeo que desempenhava na vida deles quanto em sua relaccedilatildeo com as outras manifestaccedilotildees do espiacuterito humano de modo que quem por volta de 1900 olhasse para o passado da arte teria de ser assaltado pela mesma pergunta

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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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que a ldquoFonterdquo de Duchamp nos colocou haacute pouco Antes do mictoacuterio a histoacuteria da arte jaacute nos indagava que eacute a arte afinal

Mas em meio a toda transformaccedilatildeo por que passou a arte durante sua histoacuteria uma coisa se preservou em todos os tempos ela mesmo sem o saber deu um testemunho sobre a experiecircn-cia humana A arte sempre foi um veiacuteculo expressivo por meio do qual os homens externaram alguma coisa de sua experiecircncia existencial A pintura rupestre a estaacutetua grega a catedral medieval o coral renacentista o quadro barroco a peccedila de Racinehellip tudo isto traz em si uma mensagem sobre o que foi ser gente em um determinado lugar e um determinado tempo Na arte os homens de todas as eacutepocas deixaram registrada sua maneira peculiar de sentir e de lidar com seus sentimentos seus amores esperanccedilas e seus temores estatildeo ali consignados registraram tambeacutem na arte sua reverecircncia agraves potecircncias sobrenaturais ou seu grito de adeus agraves divindades sua maneira de relacionar-se com a natureza e com o proacuteprio corpo Em suas obras se expressa por vezes a opressatildeo da vida sob o peso estafante do trabalho sob o laacutetego da fome e a violecircncia das tiranias Mas a arte tambeacutem pode revelar as formas pelas quais os homens conseguiam pelo menos por alguns instantes livrar-se de todas as mazelas e gozar da vida e dos prazeres que ela oferece

Isto ainda eacute assim no tempo dos ready-mades da muacutesica concreta e das instalaccedilotildees e hap-penings artiacutesticos com a diferenccedila de que o artista contemporacircneo jaacute se utiliza muito mais conscientemente do potencial revelador que a arte tem sobre a experiecircncia humana de caso pensado ele envia em suas obras uma mensagem agrave posteridade sobre o que eacute existir como ser humano na nossa eacutepoca O mictoacuterio natildeo eacute belo como uma estaacutetua grega mas no seacuteculo XXV ele poderaacute talvez revelar tanto sobre noacutes quanto a estaacutetua sobre os gregos

A arte eacute eminentemente sensiacutevel e enquanto tal oferece-se imediatamente aos sentidos de todos os homens A experiecircncia que ela proporciona soacute ela pode proporcionar eacute pessoal e intransferiacutevel Tambeacutem por ser sensiacutevel ela natildeo necessita de nenhum discurso que a explique A rigor natildeo se pode explicar uma obra de arte nem traduzi-la em palavras ou por qualquer outro meio Do contraacuterio natildeo se justificaria sua existecircncia como obra de arte sua explicaccedilatildeo jaacute seria o bastante Mas se nosso interesse eacute natildeo apenas desfrutar da experiecircncia artiacutestica mas tambeacutem aprender com ela sobre a experiecircncia humana o discurso deve vir em nosso auxiacutelio O discurso natildeo pode esgotar o sentido da obra de arte mas por isso mesmo ela estaacute sempre a

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 30: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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provocar o discurso Natildeo podemos explicar a obra de arte mas nada nos impede de falar sobre ela E precisamente falar sobre a obra de arte com o fito de apreender seu sentido humano eacute tarefa preciacutepua da filosofia da arte Ehellip o que eacute a arte Deixemos que a arte mesma o decida

42 Arte e poder

ldquoSempre que ouccedilo a palavra cultura destravo logo a pistolardquo A peacuterola costuma ser atribuiacuteda a Hermann Goumlring erroneamente ao que parece Mas eacute um daqueles casos de ldquose natildeo disse podia ter ditordquo pois a frase traduz muito bem a atitude do alto escalatildeo nazista em relaccedilatildeo agrave cultura e especialmente agrave arte A malta criminosa que tomou o poder em 1933 na Alemanha destravou natildeo soacute a pistola mas tambeacutem as portas de entrada dos campos de extermiacutenio para centenas de artistas forccedilando outros tantos agrave imigraccedilatildeo Natildeo eacute que os nazis desprezassem o poder da arte Muito pelo contraacuterio souberam muito bem utiliza-lo como meio de ma-nutenccedilatildeo de seu proacuteprio poder poliacutetico O que detestavam era somente a autonomia da arte e a liberdade de expressatildeo artiacutestica Para eles a arte devia apenas propagandear os valores e a visatildeo de mundo do regime e qualquer outra arte tinha de ser banida como ldquoarte degeneradardquo ldquobolchevistardquo ou ldquojudaicardquo

Mas nada disso foi privileacutegio alematildeo Basta lembrar os maus bocados que passou um Schostakowitch ou um Soljenitsin sob o regime sovieacutetico o qual aliaacutes chegou a produzir uma arte propagandiacutestica constrangedoramente semelhante agrave dos nazis Neste toacutepico merece menccedilatildeo tambeacutem o famoso ldquoLivro Vermelhordquo de Mao a censura salazarista em Portugal e o patrulhamento absurdo e obscurantista a que as artes nacionais estiveram submetidas durante o regime militar brasileiro Em todos os casos a foacutermula eacute a mesma uso ostensivo das virtudes propagandiacutesticas da arte e banimento de toda forma de expressatildeo artiacutestica ldquodestoanterdquo do dis-curso oficial

Assim nem eacute preciso que a filosofia se pergunte se a arte tem a ver com o poder os ditado-res jaacute o responderam claramente O que ela pode e deve perguntar eacute como se datildeo as relaccedilotildees entre arte e poder e como relaccedilotildees de poder se expressam na arte

A arte eacute uma praacutetica social Uma arte ldquoindividualrdquo ou ldquoprivadardquo natildeo passa de absurdo pois arte pressupotildee sempre interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo entre pessoas Como praacutetica social ela se in-sere no contexto geral de todas as praacuteticas sociais no ldquofuncionamentordquo do todo social de que

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 31: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 4

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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faz parte Mas este todo se sustenta sobre uma imensa rede de relaccedilotildees de poder Por meio da tecnologia a sociedade afirma seu poder frente agrave natureza dominando-a e transformando violentamente seu aspecto nesse processo ininterrupto pelo qual o trabalho preserva e recria diariamente o mundo em que os homens vivem O mundo do trabalho por sua vez tambeacutem se constitui a partir de relaccedilotildees de poder o poder do senhor sobre o escravo do nobre sobre os trabalhadores feudais e do patratildeo sobre seus assalariados Mas haacute tambeacutem o poder que um gecircnero exerce sobre outro o poder que o pai exerce sobre os filhos o que uma etnia exerce sobre outra etchellip Todas essas relaccedilotildees de poder se apoacuteiam objetivamente no Estado que com suas leis e tribunais se apresenta como encarnaccedilatildeo concreta do poder do coletivo sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem se apoacuteiam subjetivamente na proacutepria consciecircncia do indiviacuteduo que geralmente natildeo tem outra alternativa a natildeo ser aceitar o mundo tal como eacute Por isso acaba por internalizar as relaccedilotildees de poder criando formas de pensar e sentir que o possibilitam viver de acordo com a realidade exterior

Ora os homens que produzem e vivenciam a arte satildeo os mesmos que tambeacutem participam de todos esses outros aspectos da vida social e por isso eacute inevitaacutevel que as relaccedilotildees de poder que eles estabelecem entre si e com a natureza se reflitam no plano artiacutestico A mesma tecno-logia com que eles em uma determinada fase da histoacuteria dominam os processos naturais nos campos ou nas induacutestrias eacute tambeacutem a que nesta mesma fase daacute suporte agrave produccedilatildeo e veicula-ccedilatildeo da obra de arte O mesmo Estado que os disciplina e coage em suas relaccedilotildees interpessoais tambeacutem administra a vida artiacutestica e controla a seu favor em menor ou maior grau o conteuacutedo das obras a que o puacuteblico deve ter acesso As classes e setores da populaccedilatildeo que se digladiam no campo social e econocircmico tambeacutem se separam no campo artiacutestico cada qual produzindo e consumindo a sua proacutepria arte Por fim as ideacuteias que os homens expotildeem em suas obras artiacutesticas natildeo podem ser outras senatildeo aquelas por meio das quais eles compreendem o mundo em que vivem e que assim como esse mesmo mundo jaacute estatildeo marcadas por relaccedilotildees de poder

Tal espelhamento de relaccedilotildees de poder na arte pode ser notado desde a Greacutecia antiga ateacute o tempo dos regimes totalitaacuterios com a diferenccedila de que nas eacutepocas passadas isto ocorria ir-refletidamente e sem que os artistas chegassem a ter clara consciecircncia do fato enquanto que no seacuteculo XX os ditadores serviram-se conscientemente da arte como de um instrumento de propaganda e afirmaccedilatildeo do poder

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TEMASU

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oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 4

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 32: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Mas natildeo se deve concluir daqui que a arte tenha sempre de docilmente dizer amem agraves rela-ccedilotildees de poder que se estabelecem no todo social Como dissemos no toacutepico anterior a arte ex-pressa a experiecircncia humana em geral e aiacute estatildeo incluiacutedas tanto a experiecircncia dos dominantes quanto a dos dominados Prazer e sofrimento satisfaccedilatildeo e perplexidade ganham expressatildeo na vida artiacutestica tanto aceitaccedilatildeo taacutecita do poder quanto resistecircncia e protesto contra sua injusticcedila podem ali se exprimir10 A arte eacute um campo de batalha onde tendecircncias libertaacuterias e tendecircn-cias retroacutegradas se cruzam e se confrontam Tambeacutem neste campo entram em luta as forccedilas que decidem sobre os destinos do homem

No seacuteculo XX esta luta foi travada de forma consciente Pois paralelamente agrave utilizaccedilatildeo da arte como veiacuteculo de propaganda e instrumento de poder pelos governos totalitaacuterios toma corpo jaacute nas primeiras deacutecadas do seacuteculo uma concepccedilatildeo de arte que pretendia dar voz agraves rei-vindicaccedilotildees sociais das classes sociais menos favorecidas bem como difundir as ideacuteias precon-izadas pelos movimentos revolucionaacuterios que visavam a aboliccedilatildeo da estrutura classista da so-ciedade Eacute a arte engajada que vemos encarnada no teatro de Brecht na poesia de Maiakoacutewski no cinema de Eisenstein e entre noacutes por exemplo na literatura de um Graciliano Ramos na poesia de uma Patriacutecia Galvatildeo e no teatro de um Augusto Boal

A partir da segunda metade do seacuteculo XX os projetos socialistas perdem progressivamente seu poder de mobilizaccedilatildeo das massas bem como a adesatildeo de consideraacuteveis parcelas da intelec-tualidade mas a ideacuteia de uma arte engajada manteacutem-se forte e presente Seu conceito amplia-se de modo a abranger tambeacutem as mais diversas demandas e lutas sociais o que hoje em dia se apresenta como arte engajada volta-se para a defesa das minorias a denuacutencia sobre violaccedilotildees dos direitos humanos o protesto contra as opressotildees de caraacuteter eacutetnico ou nas relaccedilotildees de gecircnero e ultimamente tambeacutem a questatildeo ambiental vem ganhando apreciaacutevel espaccedilo neste campo

Tal concepccedilatildeo artiacutestica vem desde seus primeiros tempos ateacute hoje produzindo obras de in-egaacutevel valor esteacutetico e de profundo conteuacutedo eacutetico Mas nada disso a torna imune ao question-amento criacutetico de uma filosofia da arte consequente Precisamente suas realizaccedilotildees artiacutesticas e sua forccedila levantam questotildees importantes no plano filosoacutefico especialmente no que concerne ao

problema da autonomia da arte Pois o atrelamento da arte a uma causa especiacutefica por mais justa

e nobre que seja natildeo significa uma restriccedilatildeo da liberdade artiacutestica Natildeo representaraacute talvez uma

renuacutencia agrave sua sagrada independecircncia e a subserviecircncia a criteacuterios exteriores ao fazer artiacutestico

A estas questotildees deve responder natildeo soacute a proacutepria arte mas tambeacutem a filosofia da arte

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 33: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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43 A idade miacutediaNo patildeo de accediluacutecar de cada dia

Dai-nos senhor a poesia de cada dia

(Oswald de Andrade - Escapulaacuterio)

Os homens sempre tiveram de trabalhar sempre estiveram agraves voltas com necessidades pre-mentes e precisaram fazer frente agraves ameaccedilas vindas da natureza e dos outros homens Em tudo isso sempre se mostraram muito aptos dispostos e inventivos pois sua existecircncia dependia de sua eficiecircncia Mas tambeacutem tiveram em todas as eacutepocas de se haver com este outro problema o quecirc fazer quando natildeo estamos trabalhando nenhuma necessidade exige nossos esforccedilos e nada nos ameaccedila O que fazer com esse tempo deixado ldquoem abertordquo com essa vida excedente furtada agraves rotinas e preocupaccedilotildees com esse resto de liberdade que nos eacute concedido e que no fundo consiste em natildeo precisar fazer nada Uma das mais inventivas ricas e antigas respostas que os homens deram a essa questatildeo chama-se arte

A arte eacute uma forma absolutamente humana de lidar com o tempo livre eacute como disse Schil-ler um brincar mas um brincar cheio de sentido De certa forma ela eacute uma maneira de natildeo fazer nada pois como jaacute vimos a atitude esteacutetica que eacute seu pressuposto eacute aquela na qual deixo de comportar-me como sujeito de accedilotildees no mundo para entregar-me a uma pura contempla-ccedilatildeo atenta e distanciada uma atitude na qual recordando nossas palavras damos ldquohellipum passo atraacutesrdquo na qual nos recolhemos ldquohellippara poder ganhar um novo olhar sobre o mundordquo

Ao distanciar-me do mundo pela atitude esteacutetica aproximo-me de mim mesmo descubro-me Pensamentos e sentimentos soterrados pela crosta bruta do cotidiano vecircm agrave tona a arte comove e faz refletir Nisto descubro que natildeo estou sozinho outras pessoas mesmo distantes no tempo e no espaccedilo pensaram e sentiram semelhantemente no espelho da arte vejo refletida minha existecircncia e a de outros homens de minha e de outras eras A vida humana em sua riqueza e sua miseacuteria se apresenta diante de mim e por vezes parece-me que estou a ponto de captar alguma coisa do seu sentido mais profundo A arte me irmana com a humanidade me humaniza

Mas se eacute assim como explicar que a arte tenha atualmente tatildeo pouco espaccedilo no coraccedilatildeo dos homens Como explicar que diante da imensa variedade de coisas maravilhosas que a arte gerou em todas as eacutepocas e modalidades a escolha das massas atuais seja sempre tatildeo uniforme e tatildeo previsiacutevel (e tatildeo questionaacutevel) De fato natildeo eacute preciso nenhuma profunda anaacutelise soci-

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oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 34: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASU

nespRedefor bull M

oacutedulo III bull Disciplina 05

tema 4

ficha sumaacuterio bibliografia notas

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4

oloacutegica para perceber que essa escolha natildeo obedece a criteacuterios esteacuteticos mas sim estatiacutesticos recai sempre sobre o que estaacute em moda e sobre aquilo de que todo mundo gosta mesmo que seja para no mecircs que vem todos esquecerem o que eacute cultuado hoje em nome de outra novidade (que no fundo seraacute idecircntica agrave de hoje) Como enfim eacute possiacutevel ludibriar tatildeo completamente o gosto esteacutetico dos homens contemporacircneos

Poderiacuteamos aqui nos dar ares aristocraacuteticos e dizer que o homem contemporacircneo eacute indo-lente demais para a arte que a arte exige esforccedilo e que as pessoas preferem um breve entor-pecimento dos sentidos a procurar aquilo que poderia desenvolver seu intelecto e sua sensibi-lidade promovendo seu engrandecimento como seres humanos Tudo isso pode ter laacute seu gratildeo de verdade mas natildeo eacute o bastante para explicar os fenocircmenos que estamos tentando entender As massas natildeo satildeo culpadas dessa situaccedilatildeo satildeo muito mais suas viacutetimas Tambeacutem natildeo basta torcer o nariz para a ldquocultura de massasrdquo nem deplorar a qualidade dos produtos da chamada ldquoinduacutestria cultural11rdquo O importante eacute perceber que tais produtos atendem a uma demanda social os homens por todos os motivos que jaacute mencionamos precisam de arte tanto ndash ou quase tanto ndash quanto de comida pois natildeo vivemos soacute de patildeo De fato eles buscam a arte e natildeo eacute sua culpa se o que lhes oferecem eacute soacute um arremedo de arte

Haacute pouco falamos sobre como a arte pode espelhar relaccedilotildees de poder Pois aqui estaacute um claro exemplo Em nossa era o mesmo poder que domina a vida dos homens passando por cima de governos e naccedilotildees tambeacutem domina natildeo exatamente a arte mas a esfera social que deveria ser ocupada por ela Induacutestria e mercado satildeo as duas faces dessa potecircncia suprema que em nossos tempos apoderou-se do terreno da alma humana em que a arte deveria deitar suas raiacutezes Induacutestria e mercado satildeo os dois poderes que tomaram a si a tarefa de explorar comer-cialmente a demanda social pela arte a necessidade humana de arte

Aquilo que a arte deve oferecer aos homens e o que eles procuram nela eacute antes de tudo aquela jaacute mencionada possibilidade de distanciamento em relaccedilatildeo agrave vida cotidiana agraves neces-sidades responsabilidades e atribulaccedilotildees do dia a dia Nisto jaacute estaacute impliacutecito um certo prazer o deixar de agir da atitude esteacutetica jaacute eacute em si prazeroso Ora entreter os homens arrancando de seu pensamento tudo o que se refere agrave sua vida cotidiana eacute coisa que a induacutestria fonograacutefica as cadeias de raacutedio e televisatildeo e as grandes corporaccedilotildees cinematograacuteficas sabem fazer e muito bem Mas a arte natildeo se resume a isso ela tambeacutem exige que empreguemos nossas capacidades

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 35: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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de apreender conceber compreender e pensar A atitude esteacutetica como jaacute vimos soacute produz o distanciamento em relaccedilatildeo ao mundo da accedilatildeo ao estimular essas capacidades convidando-as a exercerem-se de forma prazerosa

Mas isso jaacute natildeo se enquadra na loacutegica do mercado e da induacutestria Essa loacutegica todos sabe-mos eacute a do lucro e o lucro exige produccedilatildeo e consumo cada vez mais raacutepidos Por isso mesmo os produtos que a induacutestria do entretenimento costuma apresentar como arte devem exigir o miacutenimo esforccedilo do puacuteblico a que se dirigem Nada deve entravar ou dificultar o consumo este deve ser faacutecil e imediato como faacutecil e imediato eacute o consumo de um refrigerante O produto ldquoartiacutesticordquo natildeo pode instigar nem desafiar nem estimular as capacidades de concepccedilatildeo Tudo nele tem de ser de certa forma jaacute conhecido ou jaacute esperado pois deve ser muito mais engolido do que compreendido qualquer discrepacircncia em relaccedilatildeo ao padratildeo abre espaccedilo para o concor-rente mais raacutepido e representa prejuiacutezo no balanccedilo de rendimentos A ordem eacute o miacutenimo de esforccedilo e o maacuteximo de efeito Deve-se agir sobre os homens e natildeo estimular suas potencialidades

Assim aquilo que deveria ser uma experiecircncia artiacutestica acaba revelando-se como nada mais que um divertimento passageiro que em nada nos transforma apoacutes a exibiccedilatildeo do uacuteltimo estrondoso sucesso de bilheteria as pessoas saem do cinema exatamente como entraram Ao inveacutes de um distanciamento contemplativo em que gozamos de nossa liberdade refletimos sobre nossa existecircncia e reafirmamos os laccedilos que nos unem agrave humanidade tudo o que conse-guimos eacute um breve esquecimento do mundo cotidiano como uma pausa de que necessitamos antes de sermos novamente atirados agrave rotina massacrante A induacutestria do entretenimento natildeo cria nenhuma zona de liberdade e de independecircncia em relaccedilatildeo ao mundo do trabalho e das ocupaccedilotildees cotidianas Pelo contraacuterio eacute uma peccedila integrante deste mesmo mundo e nele desempenha uma funccedilatildeo fundamental a de adaptar mais firmemente os homens agrave rotina ex-atamente ao fazecirc-los esquecer-se dela por alguns momentos

Mas talvez o mais grave de toda essa usurpaccedilatildeo da esfera da arte pela induacutestria e pelo mer-cado eacute o fato de que por meio dela a grande maioria dos homens vai sendo progressivamente espoliada de um patrimocircnio valiosiacutessimo e importantiacutessimo que de direito a eles pertence To-dos os tesouros inestimaacuteveis de beleza e sentido que a arte produziu nos milecircnios passados torna-se invisiacutevel sob a luz cegante dos holofotes da miacutedia As vozes dos mais inspirados artistas natildeo podem ser ouvidas sob o barulho estupidificante com que as empresas culturais anunciam

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 36: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASU

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os iacutedolos do dia Por isso uma filosofia da arte nos dias atuais e especialmente quando se volta agrave educaccedilatildeo da juventude natildeo pode deixar de adquirir um tom militante e mesmo alarmista Natildeo basta apenas falar sobre a arte Eacute preciso antes de tudo informar que ela (ainda) existe

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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Notas

1 A Esteacutetica como disciplina filosoacutefica tem uma data ldquooficialrdquo de nascimento mais ou menos pre-

cisa e reconhecida eacute o ano de 1750 quando Alexander Gottlieb Baumgarten publica uma obra com

esse nome dando a ele pela primeira vez o significado de uma investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre as artes e

o fenocircmeno da beleza Poreacutem apesar do meacuterito inegaacutevel que a obra possui por intentar pela primeira

vez a delimitaccedilatildeo de um campo autocircnomo de investigaccedilatildeo filosoacutefica sobre temas esteacuteticos a Esteacutetica

de Baumgarten natildeo chegou a contribuir significativamente para o desenvolvimento da disciplina cuja

ideacuteia ela mesma lanccedilou O estilo aacuterido e abstrato de sua argumentaccedilatildeo geralmente causa estranheza

ao leitor contemporacircneo familiarizado com as principais obras da Esteacutetica posteriores a essa primeira

tentativa sensaccedilatildeo essa particularmente reforccedilada pelo fato de Baumgarten considerar a beleza como

uma forma de conhecimento Com efeito ele caracteriza a experiecircncia do belo como conhecimento

inferior (e desta forma subordinado ao conhecimento superior ou seja o racional) e a Esteacutetica como a

ciecircncia da perfeiccedilatildeo deste conhecimento inferior

2 O fato de que a Esteacutetica como disciplina filosoacutefica autocircnoma haver surgido apenas no

seacuteculo XVIII natildeo quer dizer que os temas que ela aborda nunca antes houvessem recebido a

atenccedilatildeo dos filoacutesofos Arte e beleza jaacute eram temas da filosofia desde o seacuteculo IV antes de nossa

era quando Platatildeo deles tratou em diaacutelogos como Repuacuteblica Iacuteon Leis e Banquete Eacute no Ban-

quete ou Simpoacutesio que ele ataca o problema das relaccedilotildees entre beleza e prazer sensiacutevel O tema

do Banquete eacute o amor Na parte final do diaacutelogo o personagem Soacutecrates relata os ensinamentos

que teria recebido de uma estrangeira misteriosa segundo os quais o amor nada mais seria que

a busca pelo belo Essa busca comeccedilaria no plano da sensibilidade e do prazer corpoacutereo poreacutem

apoacutes um longo processo de educaccedilatildeo e espiritualizaccedilatildeo terminaria na pura contemplaccedilatildeo racio-

nal da ideacuteia do belo na qual se revelaria finalmente a essecircncia eterna e atemporal da beleza

A teoria platocircnica das ideacuteias em que se funda esta concepccedilatildeo da beleza eacute vista como marco

inicial de uma tendecircncia racionalista do pensamento ocidental que em grande medida obstacu-

lizaraacute o desenvolvimento das reflexotildees esteacuteticas Segundo esta tendecircncia a razatildeo eacute considerada

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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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ao mesmo tempo como dom supremo da humanidade e como oposta aos sentidos Como arte

e beleza estatildeo claramente vinculadas agrave esfera do sensiacutevel foram por muito tempo consideradas

como temas menores e pouco compatiacuteveis com a dignidade da filosofia Esta pensava-se de-

veria ocupar-se com o conhecimento da essecircncia das coisas e do mundo enquanto que a arte e

o fenocircmeno do belo se circunscreveriam apenas ao domiacutenio das aparecircncias Jaacute o proacuteprio Platatildeo

costuma ser mal visto pelos defensores da arte pelo fato de natildeo haver permitido a existecircncia

de poetas e artistas na cidade ideal que imagina em seu diaacutelogo Repuacuteblica Sem entrarmos

neste meacuterito podemos dizer que apenas quem natildeo o leu diretamente pode tomar Platatildeo como

ldquoinimigo da arterdquo Pois quem o fez certamente percebeu que o suposto ldquoinimigo da arterdquo eacute na

verdade um artista e de fato um dos grandes Seus Diaacutelogos aleacutem de monumentos incon-

testes do saber filosoacutefico satildeo obras literaacuterias de primeira magnitude que demonstram notaacutevel

maestria no domiacutenio de todos os gecircneros poeacuteticos existentes na sua eacutepoca sendo possiacutevel ver

neles nada menos que o protoacutetipo do gecircnero literaacuterio do romance Justamente o Banquete eacute

uma de suas mais poeacuteticas e artisticamente inspiradas obras

3 O verbo ldquosaborearrdquo parece estar deslocado aqui pois estamos exatamente tentando dife-renciar o prazer do belo dos prazeres meramente sensoriais como aquele que sinto atraveacutes do paladar Mas o termo estaacute totalmente dentro do campo semacircntico de um conceito dos mais importantes na histoacuteria da Esteacutetica o conceito de ldquogostordquo

Exatamente quando a tendecircncia racionalista da filosofia ocidental parecia estar no seu auge no iluminismo do seacuteculo XVIII a situaccedilatildeo da esteacutetica comeccedila a mudar favoravelmente Impulsionado por seus estrondosos sucessos no campo das ciecircncias naturais o pensamento racional aspira a abarcar todos os campos da experiecircncia humana Por toda parte a razatildeo se vecirc estimulada a experimentar seu poder e a conquistar novos territoacuterios Por quecirc o acircmbito do belo e da arte haveria de ficar de fora

Eacute entatildeo que alguns pensadores ingleses como Lord Shafetsbury Addison e Hutcheson mesmo anteriormente a Baumgarten passam a se debruccedilar seriamente sobre temas relaciona-dos agrave arte e agrave beleza e neste contexto vai pouco a pouco surgindo e ganhando consistecircncia o conceito esteacutetico de ldquogostordquo ateacute ser definitivamente consagrado nos escritos do escocecircs David Hume dentre os quais merece destaque seu memoraacutevel ldquoDo Padratildeo do Gostordquo

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 39: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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Apesar de sua relaccedilatildeo etimoloacutegica evidente com o sentido do paladar o conceito filosoacutefico de ldquogostordquo natildeo aponta para nenhuma confusatildeo entre os campos do prazer esteacutetico e do mera-mente sensorial pelo contraacuterio Trata-se na verdade apenas de uma metaacutefora enquanto pelo paladar sentimos fisicamente o sabor dos alimentos pelo ldquogostordquo esteacutetico percebemos espiri-tualmente a beleza dos objetos Mas a metaacutefora tem ainda outras razotildees de ser semelhante-mente ao que ocorre com o paladar imagina-se o ldquogostordquo esteacutetico como uma faculdade iner-ente a todo o ser humano e idecircntica em todos eles poreacutem passiacutevel de ser exercitada e de assim refinar-se de modo a se tornar cada vez mais precisa e acurada Daiacute a origem do bom gosto e do mau gosto tanto do fiacutesico quanto do esteacutetico Mas as semelhanccedilas acabam aiacute enquanto que o paladar eacute uma funccedilatildeo sensorial e corpoacuterea a apreensatildeo do belo atraveacutes do ldquogostordquo soacute pode ocorrer ao colocarmos em accedilatildeo nossas faculdades intelectuais e simboacutelicas como o pensam-ento e a imaginaccedilatildeo Mais precisamente pelo exerciacutecio prazeroso destas faculdades quando estimuladas por algum objeto que desperta seu interesse e atenccedilatildeo

4 Foi Kant que em sua Criacutetica da faculdade de Julgar estabeleceu com precisatildeo definitiva a distinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel Como lhe eacute caracteriacutestico Kant aborda o problema da beleza examinando os pressupostos da nossa forma usual de julgar a beleza Segundo sua proacutepria terminologia ele pergunta-se pelas condiccedilotildees de possibilidade do juiacutezo de gosto ou seja daquele pelo qual dizemos que algo eacute belo O verdadeiro juiacutezo de gosto natildeo se baseia em nenhuma experiecircncia anterior de outras pessoas natildeo eacute porque os criacuteticos de arte satildeo unacircnimes em declarar bela certa obra pictoacuterica que eu tambeacutem a declaro bela mas sim porque em sua presenccedila eu sinto um determinado prazer esteacutetico Ocorre que ao mesmo tempo me convenccedilo de que todo ser humano que a contemple sentiraacute prazer semelhante Quando afirmamos que determinada coisa eacute bela reflete Kant natildeo estamos querendo expressar qualquer relaccedilatildeo es-peciacutefica entre essa coisa e a nossa pessoa em particular mas pressupomos que essa afirmaccedilatildeo pode e deve obter a concordacircncia de todo ser humano Isso poreacutem natildeo ocorre quando se trata de prazeres meramente sensoriais Se eu provasse chocolate pela primeira vez sem saber da opiniatildeo das outras pessoas sobre essa iguaria poderia ter prazer ou natildeo dependendo da forma como eduquei meu paladar de minha constituiccedilatildeo fisioloacutegica particular e das circunstacircncias peculiares em que fiz a experiecircncia De qualquer forma natildeo teria nenhum motivo para acredi-tar que todos os seres humanos compartilhariam de minha opiniatildeo sobre o gosto do chocolate Trata-se de um prazer sensiacutevel e enquanto tal eacute meramente subjetivo privado e particular

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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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O prazer com o belo tambeacutem proveacutem de impressotildees sensoriais mas ainda assim atribuiacutemos ao juiacutezo de gosto uma validade universal Como isso eacute possiacutevel A resposta de Kant eacute que no prazer que temos com a beleza natildeo entra em cena apenas a sensibilidade mas sim tambeacutem nossas faculdades racionais ou seja aquelas mediante as quais construiacutemos nossas representa-ccedilotildees sensiacuteveis de um dado objeto em outras palavras aquelas mediante as quais podemos con-templar sua mera apariccedilatildeo diante de noacutes O belo diz Kant eacute aquilo que nos agrada meramente como objeto de nossa consideraccedilatildeo ou seja apenas em virtude da atividade de nossas capaci-dades de construir representaccedilotildees Jaacute aquilo que como o chocolate agrada apenas mediante a sensibilidade devemos chamar simplesmente de agradaacutevel Ora segundo um pressuposto baacutesico do pensamento iluminista a razatildeo eacute a mesma em todos os homens nossas faculdades intelectuais de que dependem a experiecircncia do belo pertencem agrave estrutura proacutepria da razatildeo e seu funcionamento natildeo depende em nada de minhas particularidades individuais Seria entatildeo por isso que quando dizemos que algo eacute belo temos ao mesmo tempo a convicccedilatildeo de que essa afirmaccedilatildeo natildeo deve valer apenas para mim mas pode ser estendida a toda a humanidade

5 A trajetoacuteria do conceito de forma em filosofia eacute longa e das mais ricas Sua intriacutenseca relaccedilatildeo com os temas da Esteacutetica comeccedila jaacute com a teoria das ideacuteias de Platatildeo Segundo sua etimologia o proacuteprio termo ldquoideacuteiardquo significa nada menos que forma visiacutevel ou imagem As ideacute-ias platocircnicas satildeo de fato os protoacutetipos ou formas imutaacuteveis e eternas de tudo que existe no mundo material As coisas efecircmeras que compotildeem esse mundo satildeo criadas a partir do modelo dessas formas eternas e por isso participam delas por uma relaccedilatildeo de semelhanccedila A beleza como jaacute vimos eacute para Platatildeo nada menos que uma ideacuteia e as coisas belas corpoacutereas a que te-mos acesso pelo sentido da visatildeo soacute satildeo belas porque de alguma maneira se assemelham agrave ideacuteia puramente racional da beleza Esta poreacutem soacute pode ser vista em sua verdade uacuteltima por meio de uma outra faculdade de ver a razatildeo como visatildeo pura do espiacuterito O neoplatocircnico Plotino daacute uma interpretaccedilatildeo miacutestico-religiosa agrave forma platocircnica fazendo dela uma forccedila criadora ou princiacutepio plasmador que tanto governa o desenvolvimento dos seres vivos quanto assegura a ordem e a unidade do cosmos Na formaccedilatildeo do mundo pelo Criador e no crescimento de uma aacutervore a partir de sua semente podemos ver a atuaccedilatildeo da forma em ambos os casos eacute uma unidade inicial que conteacutem potencialmente em si uma multiplicidade e nela se desdobra mantendo-se no entanto una Tambeacutem assim Plotino compreende a beleza o objeto belo eacute uma multiplicidade de elementos que se organizam intrinsecamente como uma unidade pois todos esses elementos procedem de uma uacutenica forma que inicialmente habitava apenas a

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
      1. Botatildeo 2
      2. Botatildeo 3
      3. Botatildeo 10
        1. Paacutegina 4 Off
          1. Botatildeo 11
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              1. Botatildeo 62
                1. Paacutegina 5 Off
                2. Paacutegina 6
                3. Paacutegina 7
                4. Paacutegina 8
                5. Paacutegina 9
                6. Paacutegina 10
                  1. Botatildeo 63
                    1. Paacutegina 5 Off
                    2. Paacutegina 6
                    3. Paacutegina 7
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                    6. Paacutegina 10
                      1. Botatildeo 60
                        1. Paacutegina 11 Off
                        2. Paacutegina 12
                        3. Paacutegina 13
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                        5. Paacutegina 15
                        6. Paacutegina 16
                        7. Paacutegina 17
                        8. Paacutegina 18
                          1. Botatildeo 61
                            1. Paacutegina 11 Off
                            2. Paacutegina 12
                            3. Paacutegina 13
                            4. Paacutegina 14
                            5. Paacutegina 15
                            6. Paacutegina 16
                            7. Paacutegina 17
                            8. Paacutegina 18
                              1. Botatildeo 58
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Page 41: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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mente do artista Um eco moderno e despojado de implicaccedilotildees metafiacutesicas destas concepccedilotildees plotinianas faz-se ouvir na Criacutetica da Faculdade de Julgar de Kant na qual o autor estabelece uma expliacutecita analogia entre a estruturaccedilatildeo interna dos organismos viventes e a ordenaccedilatildeo dos elementos constituintes do objeto belo Tanto em um caso como no outro tecircm-se uma relaccedilatildeo originaacuteria e absolutamente profunda de todas as partes umas com as outras de modo que cada uma delas reflete o todo e o pressupotildee No objeto belo aquilo que conecta intrinsecamente os elementos sensiacuteveis que o compotildeem eacute a forma A bela forma eacute para Kant uma unidade per-ceptiva que sintetiza em si uma multiplicidade de elementos sensiacuteveis siacutentese essa que resulta de uma cooperaccedilatildeo estabelecida entre nossa imaginaccedilatildeo e nosso entendimento A primeira eacute a nossa capacidade de formar representaccedilotildees sensiacuteveis a partir dos dados dos sentidos (sensa-ccedilotildees) e o segundo eacute a faculdade dos conceitos que usualmente prescreve as regras segundo as quais a imaginaccedilatildeo deve se exercer limitando seu campo de atuaccedilatildeo em favor da obtenccedilatildeo do conhecimento Na contemplaccedilatildeo da beleza quando natildeo buscamos nenhum conhecimento o entendimento deixa de exercer esse papel limitador e se irmana com a imaginaccedilatildeo em um livre e prazeroso vaguear pela aparecircncia do objeto buscando apenas a apreensatildeo das formas e relacionando-as umas com as outras e com o todo

6 O conceito do desinteresse como elemento fundamental da apreciaccedilatildeo esteacutetica eacute formu-lado explicitamente por Lord Shafetsbury mas a concepccedilatildeo por ele expressa tambeacutem aparece fortemente em Burke Addison Hutcheson e Hume Essa noccedilatildeo complementa a mera dis-tinccedilatildeo entre o belo e o agradaacutevel acrescentando-lhe elementos essenciais para a caracterizaccedilatildeo da atitude esteacutetica De fato o desinteresse implica natildeo somente que o prazer com a beleza se distingue daquele provocado pelo efeito imediato que determinados objetos exercem sobre meu corpo mas tambeacutem que a apreciaccedilatildeo do belo se daacute de maneira independente de todo o desejo ou apetite em relaccedilatildeo ao objeto contemplado bem como de toda consideraccedilatildeo sobre sua utilidade para mim ou para qualquer outra pessoa Isto natildeo significa que o sentimento da beleza natildeo possa ser acompanhado de desejo ou apetite mas sim que um sentimento natildeo deve ser confundido com o outro Posso ao mesmo tempo considerar bela uma fruta e desejar sen-tir seu sabor e saciar minha fome Mas eacute evidente que trata-se de sentimentos diversos pois mesmo uma fruta feia poderia despertar meu apetite e nem toda fruta bela o despertaraacute Da mesma forma posso ao mesmo tempo considerar belo um automoacutevel e desejar possuiacute-lo em virtude de seu desempenho mecacircnico e sua utilidade para a locomoccedilatildeo mas eacute claro que esse

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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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desempenho e esta utilidade nada tecircm a ver com a sua beleza pois esta diz respeito apenas agrave sua aparecircncia externa Posso mesmo desejar possuiacute-lo por causa de sua beleza a fim de poder contemplaacute-la sempre e causar a admiraccedilatildeo de meus vizinhos Mas mesmo neste caso eacute a beleza que eacute causa do interesse e natildeo o contraacuterio Tampouco se pode argumentavam os mencionados pensadores confundir a beleza com qualquer ideacuteia de uma utilidade em geral natildeo relacionada agrave minha pessoa em particular mas referida a um ser humano qualquer Algueacutem que natildeo saiba dirigir natildeo pode ter nenhum interesse em ter um automoacutevel mas pode bem imaginar sua uti-lidade para quem o sabe Entretanto esse seu ldquodesinteresserdquo natildeo eacute suficiente para transformar sua percepccedilatildeo da utilidade em sentimento de beleza Pois tudo o que ele fez foi trocar de lugar em pensamento com o possiacutevel motorista e se o motorista imaginaacuterio natildeo poderia chamar de belo o objeto uacutetil menos ainda o poderaacute chamar assim o real observador do automoacutevel De onde se conclui que a beleza eacute inuacutetil ndash o que natildeo quer dizer que natildeo seja imprescindiacutevelhellip

7 De Burke e Hume a Kant de Schiller e Nietzsche a Merleau-Ponty a apresentaccedilatildeo da experiecircncia esteacutetica como originada em uma atitude de pura contemplaccedilatildeo distanciada e ab-sorta na qual abandonamos a atitude comum e cotidiana que adotamos como sujeitos de accedilatildeo (como sujeitos que agem no mundo de forma racionalmente planejada perseguindo objetivos e interesses individuais) tornou-se quase que um lugar-comum na Esteacutetica Mas em nenhum pensador a oposiccedilatildeo entre essas duas atitudes aparece de forma mais marcada e expliacutecita (ou pelo menos mais interessante) do que em Schopenhauer Segundo este pensador alematildeo a essecircncia de todas as coisas e de noacutes mesmos eacute aquilo que ele chamou de Vontade Esta forccedila propulsora que move todas as coisas se manifesta nos seres humanos como um desejar ines-tancaacutevel e nunca satisfeito Um querer infinito sobre o qual natildeo temos controle nos lanccedila con-tinuamente em direccedilatildeo ao mundo e agraves coisas que o compotildeem de modo que tatildeo logo alcanc-emos um objeto desse querer jaacute outro objeto se apresenta tomando o lugar do primeiro e nos mantendo presos agraves malhas do desejo Ora todo desejo proveacutem de uma carecircncia de uma falta e por isso causa sofrimento e eacute expressatildeo do sofrimento Viver portanto eacute em essecircncia sofrer Soacute podemos escapar a esse sofrimento ndash cuja cessaccedilatildeo interpretamos como prazer ndash quando de alguma maneira o impeacuterio da Vontade natildeo mais tem poder sobre noacutes quando conseguimos parar de desejar Isto acontece por exemplo durante a contemplaccedilatildeo esteacutetica da beleza Esta contemplaccedilatildeo se instaura quando deixamos de considerar um objeto atraveacutes do Intelecto que nada mais eacute que um instrumento da Vontade Pelo Intelecto consideramos um objeto segundo

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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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suas relaccedilotildees com todos os outros e com o todo do mundo como uma coisa individual entre outras coisas individuais Jaacute na contemplaccedilatildeo esteacutetica toda a nossa atenccedilatildeo se concentra em um uacutenico objeto apenas ele ocupa nossa consciecircncia como se soacute ele existisse e nos hipnoti-zasse a ponto de esquecermos ou deixarmos de lado as relaccedilotildees causais e espaccedilo-temporais pelas quais ele se liga agrave realidade empiacuterica E assim como em nossa contemplaccedilatildeo o objeto ldquose destacardquo de suas relaccedilotildees com o mundo noacutes tambeacutem nos destacamos das relaccedilotildees pelas quais nosso querer nos liga a esse mundo Pois eacute pelo Intelecto que nos situamos no meio das coisas e nos afirmamos como um eu independente e separado do mundo Mas eacute precisamente esse eu individual que estaacute constantemente a desejar e a sofrer por isso Quando o Intelecto cede lugar agrave contemplaccedilatildeo esteacutetica abandonamos nossa individualidade para sentirmos profundamente nossa ligaccedilatildeo essencial com o todo Com isso abandonamos tambeacutem nossa vontade individual que eacute a fonte de nosso sofrimento A beleza eacute entatildeo o baacutelsamo que nos liberta e nos alivia do martiacuterio do querer

8 Jaacute presente na doutrina de Aristoacuteteles sobre a Trageacutedia o conceito de sublime comeccedila a ganhar espaccedilo na discussatildeo esteacutetica no seacuteculo XVI com a redescoberta de um tratado me-dieval sobre o tema e no seacuteculo XVII com sua traduccedilatildeo ao francecircs Mas eacute especialmente no seacuteculo seguinte inicialmente com Burke e Kant que o sublime assume o sentido do grandioso do imenso e do avassalador consolidando-se assim como regiatildeo esteacutetica oposta ao domiacutenio da beleza e da forma Kant de fato o associa ao informe esclarecendo poreacutem que sublimes satildeo as ideacuteias que certos objetos despertam em noacutes e natildeo esses proacuteprios objetos Jaacute Schopen-hauer consideraraacute o sublime apenas como uma modalidade especial do belo aquela na qual a contemplaccedilatildeo esteacutetica para se instalar tem de vencer o sentimento de terror inspirado pelo objeto contemplado em virtude da ameaccedila que representa agrave vida humana O conceito tambeacutem desempenharaacute um notaacutevel papel na abordagem que os autores claacutessicos e romacircnticos alematildees realizam da Trageacutedia grega merecendo destaque especial neste ponto os ensaios de Schiller sobre o sublime no teatro e a esteacutetica ldquodionisiacuteacardquo do jovem Nietzsche Esta uacuteltima como se sabe inspira-se fortemente nas concepccedilotildees artiacutesticas do compositor Richard Wagner o qual em seus tratados teoacutericos aponta a categoria do sublime como a uacutenica capaz de dar conta do significado esteacutetico da muacutesica desenvolvendo correspondentemente uma teacutecnica de com-posiccedilatildeo que rejeita a ideacuteia de forma como princiacutepio estruturante do discurso musical

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 44: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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9 Para os artistas do seacuteculo XX a livre criatividade artiacutestica natildeo mais podia restringir-se apenas agrave produccedilatildeo da obra de arte era preciso reinventar a proacutepria arte redefini-la a partir de criteacuterios novos e mais adequados agrave situaccedilatildeo histoacuterica tanto da arte como da humanidade A proacutepria ideacuteia de obra de arte foi objeto de draacutesticos questionamentos e reformulaccedilotildees com o que tambeacutem colocou-se em questatildeo o papel da arte na Histoacuteria e no contexto mais geral da existecircncia humana A ruptura com a tradiccedilatildeo foi o lema de todas as vanguardas e foi tambeacutem a palavra de ordem que ecoou em todas as revoluccedilotildees que a arte atravessou desde o iniacutecio do seacuteculo XX No cubismo no dadaiacutesmo no futurismo no surrealismo na poesia e na muacutesica concretas no teatro do absurdo e no da crueldade no atonalismo musical na muacutesica dodecafocircnica como tambeacutem em vaacuterios outros movimentos vanguardistas manifesta-se o espiacuterito inquieto e questionador da arte contemporacircnea em sua constante luta por renovaccedilatildeo e redefiniccedilatildeo Nisto ela se revela como filha legiacutetima de seu tempo pois a Histoacuteria contemporacircnea eacute o palco das mais profundas rupturas e revoluccedilotildees por que passou a humanidade O surgimento das grandes metroacutepoles a mercantilizaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo avassaladoras da vida humana o desen-volvimento de tecnologias de comunicaccedilatildeo de massa as duas Guerras Mundiais o horror das armas atocircmicas e dos campos de concentraccedilatildeo a divisatildeo do mundo em dois blocos inimigos a ameaccedila ambientalhellip tudo isso tornou nosso mundo um lugar de perplexidade e de profundos questionamentos onde todas as certezas oscilam e ameaccedilam desabar e onde tudo o que bal-izou a vida humana no passado parece perder progressivamente seu valor e sua solidez Como tal situaccedilatildeo natildeo haveria de se refletir na arte nesse espelho em que nossa civilizaccedilatildeo aprendeu a projetar sua imagem e a se mirar

10 A ideacuteia de que a arte necessariamente reflete em si relaccedilotildees de poder encontra suporte filosoacutefico adequado na interpretaccedilatildeo marxista da sociedade Segundo esta interpretaccedilatildeo o fa-tor determinante de toda vida social humana eacute o econocircmico ou seja eacute o processo pelo qual os homens criam diuturnamente as condiccedilotildees materiais que possibilitam sua existecircncia social Tal criaccedilatildeo daacute-se atraveacutes do trabalho compreendido como atividade conjunta de toda a sociedade que agindo sobre a natureza faz continuamente surgir o mundo em que os homens vivem incluindo-se aiacute tambeacutem as formas de organizaccedilatildeo social e poliacutetica Mas se eacute o trabalho que cria o mundo em que vivemos entatildeo as formas de pensamento pelas quais compreendemos esse mesmo mundo tambeacutem devem ser em alguma medida determinadas pelo trabalho e pelas re-laccedilotildees de poder que o regulam Assim sendo tais relaccedilotildees de poder haveriam necessariamente

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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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de se refletir na produccedilatildeo espiritual dos homens ou seja nas representaccedilotildees mitoloacutegicas e religiosas na filosofia nas ciecircncias e tambeacutem nas artes Uma interpretaccedilatildeo mecanicista e em-pobrecedora das teses marxistas resultante especialmente de sua utilizaccedilatildeo como instrumento de doutrinaccedilatildeo das massas pelos partidos alinhados com o antigo poder poliacutetico sovieacutetico tendia a afirmar que a arte necessariamente refletia apenas as relaccedilotildees dominantes de poder Tal interpretaccedilatildeo foi contestada pelos teoacutericos da chamada ldquoEscola de Frankfurtrdquo (entre os quais Walter Benjamin Adorno Horkheimer e Marcuse) que procuraram demonstrar que a arte poderia expressar tanto a aceitaccedilatildeo do poder vigente quanto o protesto contra ele De fato que significa por exemplo a poesia homoeroacutetica de uma Safo de Lesbos no seio de uma Greacutecia totalmente dominada pela figura masculina Quem poderaacute desconhecer o potencial libertador da arte renascentista com sua valorizaccedilatildeo do homem e sua glorificaccedilatildeo dos sentidos em uma sociedade que ainda queimava seus maiores intelectuais por heresia O teatro claacutessico francecircs do seacuteculo XVIII poderaacute eventualmente ser visto como um divertimento voltado agrave nobreza mas quem seraacute capaz de dizer que Voltaire defendia o Antigo Regime Na reivindicaccedilatildeo de liberdade artiacutestica dos romacircnticos estaacute expresso o anseio de libertaccedilatildeo de uma alma humana sufocada pela razatildeo iluminista e pela sociedade que se constituiu sob seu impeacuterio Os cantos dos escravos brasileiros que chegaram ateacute noacutes nos revelam seu sofrimento de forma muito mais direta do que qualquer tratado socioloacutegico e ningueacutem negaraacute o papel que o jazz desem-penhou na formaccedilatildeo de uma identidade cultural dos negros norte-americanos comprometida com a luta contra a opressatildeo racista

11 A expressatildeo induacutestria cultural faz sua entrada no cenaacuterio filosoacutefico contemporacircneo em 1947 com a publicaccedilatildeo da obra Dialeacutetica do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer es-crita ainda durante a Segunda Guerra Mundial O uso generalizado e descontrolado que hoje em dia se tem feito dessa expressatildeo faz com que usualmente natildeo seja percebido seu caraacuteter propositadamente contraditoacuterio e paradoxal Pois o termo cultura designa o campo da ativi-dade humana em que satildeo gerados os mais importantes conhecimentos os mais altos valores e as representaccedilotildees doadoras de sentido agrave vida humana enquanto que induacutestria refere-se agrave produccedilatildeo em seacuterie de mercadorias padronizadas atraveacutes de processos mecacircnicos Desta per-spectiva faz tanto sentido falar de uma induacutestria cultural quanto de um ciacuterculo quadrado De fato a intenccedilatildeo dos autores era denunciar a transformaccedilatildeo paulatina da arte em mercadoria no mundo contemporacircneo a crescente absorccedilatildeo de toda a esfera da atividade artiacutestica pela loacutegica

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 46: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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do mercado e da produccedilatildeo industrial com o que o proacuteprio sentido da arte se desvirtuaria Com a mercantilizaccedilatildeo da arte refletem Adorno e Horkheimer esta se rebaixaria agrave condiccedilatildeo de mero entretenimento submetendo-se docilmente agrave manipulaccedilatildeo do poder econocircmico que domina a sociedade capitalista contemporacircnea o grande capital se utilizaria das ldquomercadorias culturaisrdquo como meios suplementares de adaptaccedilatildeo dos homens agraves relaccedilotildees de trabalho escravi-zantes que caracterizam essa sociedade

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 47: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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isciplina 04TEMAS

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ReferecircnciasBibliografia Tema 1

bull ARISTOacuteTELES Poeacutetica Satildeo Paulo Ars Poetica 1992

bull BAUMGARTEN A G Esteacutetica a loacutegica da arte e do poema Petroacutepolis Vozes 1993

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull DUFRENNE Mikel Pheacutenomeacutenologie de lrsquoexpeacuterience estheacutetique Paris PUF 1953

bull DUFRENNE Mikel Esteacutetica e filosofia Traduccedilatildeo de Roberto Figurelli Satildeo Paulo Perspectiva

1981

bull JIMENEZ Marc - O que eacute Esteacutetica Satildeo Leopoldo Editora UNISINOS 1999

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

bull PLATAtildeO O banquete Satildeo Paulo DIFEL 1966

Bibliografia Tema 2

bull BAYER Raymond Histoacuteria da esteacutetica Lisboa Estampa 1998

bull HUME David Do padratildeo do gosto In HUME David Satildeo Paulo Abril Cultural 1980 (Os Pensadores)

bull JIMENEZ Marc O que eacute esteacutetica Satildeo Leopoldo UNISINOS 1999

bull KANT Immanuel Criacutetica da faculdade do juiacutezo Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1995

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull PLATAtildeO A repuacuteblica Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 1990

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ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

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TEMASficha da disciplina

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 48: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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UnespR

edefor bull Moacutedulo II bull D

isciplina 04TEMAS

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05bibliografia

ficha sumaacuterio bibliografia notas

1

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3

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Bibliografia Tema 3

bull ABRAMS M H The mirror and the lamp New York Oxford University 1953

bull GOETHE J Escritos sobre a arte Satildeo Paulo Humanitas Imprensa Oficial 2005

bull GUSDORF G Le Romantisme I Paris Payot 1993

bull MACHADO R O nascimento do traacutegico Rio de Janeiro [sn] 2006

bull NIETZSCHE F O nascimento da trageacutedia ou helenismo e pessimismo Traduccedilatildeo J Guins-

burg Satildeo Paulo Companhia das Letras 1992

bull NUNES B Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull SCHOPENHAUER O mundo como vontade e representaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jair Barboza Satildeo

Paulo Unesp 2005

bull STAROBINSKY J Os emblemas da razatildeo Satildeo Paulo Cia das Letras 1989

Bibliografia Tema 4

bull ADORNO HORKHEIMER Dialeacutetica do esclarecimento Rio de Janeiro J Zahar 1985

bull ARGAN Giulio Carlo Arte moderna Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

bull NUNES Benedito Introduccedilatildeo agrave filosofia da arte Satildeo Paulo Aacutetica 1991

bull CANDIDO Antonio Literatura e sociedade Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1985

bull LUKAacuteCS Georg Esteacutetica Traduccedilatildeo de Manuel Sacristaacuten 3 ed Barcelona Grijalbo 1974 4 v

bull SCHILLER F Cartas sobre a educaccedilatildeo esteacutetica da humanidade Traduccedilatildeo de Maacutercio Suzuki

Satildeo Paulo Iluminuras 1988

bull SZONDI P Teoria do drama moderno Satildeo Paulo Cosac amp Naify 2001

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

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edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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                6. Paacutegina 10
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Page 49: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Maacutercio Benchimol Barros (Unesp-Mariacutelia)

Professor de Esteacutetica da UNESP de Mariacutelia Graduado em Filosofia pela Uni-camp em 1992 titulou-se como mestre e doutor em Filosofia pela mesma univer-sidade em 1999 e 2006 respectivamente sempre sob orientaccedilatildeo do prof Oswaldo Giacoacuteia Jr Em 2010 realizou estaacutegio poacutes-doutoral junto agrave Hochschule fuumlr Grafik und Buchkunst de Leipzig (Alemanha) orientado pelo prof Christoff Tuumlrcke Eacute autor do livro Apolo e Dioniacutesio arte filosofia e criacutetica da cultura no primeiro Nietzsche publicado pela editora Annablume em 2003 resultante de seu trabalho de mestrado

Ficha da Disciplina

A Esteacutetica e o Belo

httpwwwacervodigitalunespbrbitstream12345678941599802_redefor_d05_filosofia_fichaflv

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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

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Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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TEMASficha da disciplina

UnespR

edefor bull Moacutedulo III bull D

isciplina 05ficha sumaacuterio bibliografia notas

1

2

3

4

Ementa

No curso seratildeo expostas noccedilotildees baacutesicas da Esteacutetica filosoacutefica tais como as de belo e sublime dando-se destaque tambeacutem ao conceito de bela forma Em um primeiro momento tais noccedilotildees seratildeo examinadas concomitantemente em relaccedilatildeo aos objetos naturais e aos artiacutesticos para em seguida passar-se a uma apreciaccedilatildeo filosoacutefica especiacutefica da arte sob o ponto de vista de sua in-serccedilatildeo nos contextos da cultura e da sociedade humanas dentro de uma perspectiva histoacuterica

Esteacutetica

Tema 1A Esteacutetica e o belo

11 Sentidos da Esteacutetica12 O belo como guia

13 Sentidos do belo ndash beleza prazer e sensaccedilatildeo

Tema 2 Beleza e Forma

21 Agrado e beleza ndash passividade e atividade

22 Breve introduccedilatildeo ao conceito esteacutetico de forma

23 Forma sensaccedilatildeo e atitude esteacutetica

Tema 3 Da Esteacutetica agrave Filosofia

da Arte

31 A Atitude Esteacutetica

32 O sublime e a liberdade criativa

33 Rumo agrave Filosofia da Arte

Tema 4 Arte e Filosofia

da arte no mundo

contemporacircneo

41 O sentido humano da arte

42 Arte e poder

43 A idade miacutedia

Palavras-chave

Esteacutetica beleza sublime forma arte

UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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UNESP ndash Universidade Estadual PaulistaProacute-Reitoria de Poacutes-GraduaccedilatildeoRua Quirino de Andrade 215CEP 01049-010 ndash Satildeo Paulo ndash SPTel (11) 5627-0561wwwunespbr

Governo do Estado de Satildeo Paulo Secretaria de Estado da EducaccedilatildeoSecretaria Estadual da Educaccedilatildeo de Satildeo Paulo (SEESP) Praccedila da Repuacuteblica 53CEP 01045-903 ndash Centro ndash Satildeo Paulo ndash SP

Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Governo do estado de satildeo PauloGovernador

Geraldo alckmin

seCretarIa estadual da eduCaCcedilatildeo de satildeo Paulo (seesP)

secretaacuterioHerman Jacobus Cornelis voorwald

unIversIdade estadual PaulIsta

vice-reitor no exerciacutecio da reitoria Julio Cezar durigan

Chefe de GabineteCarlos antonio Gamero

Proacute-reitora de Graduaccedilatildeosheila Zambello de Pinho

Proacute-reitora de Poacutes-GraduaccedilatildeoMarilza vieira Cunha rudge

Proacute-reitora de PesquisaMaria Joseacute soares Mendes Giannini

Proacute-reitora de extensatildeo universitaacuteriaMaria ameacutelia Maacuteximo de arauacutejo

Proacute-reitor de administraccedilatildeoricardo samih Georges abi rached

secretaacuteria GeralMaria dalva silva Pagotto

FundunesP - diretor Presidente luiz antonio vane

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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Page 53: Cursos de Especialização para o quadro do Magistério … · de jornal estão cheias de revistas sobre estética; nas avenidas chiques da cidade há caras e não ... aquela faculdade

Proacute-Reitora de Poacutes-graduaccedilatildeoMarilza Vieira Cunha Rudge

Equipe CoordenadoraElisa Tomoe Moriya Schluumlnzen

Coordenadora Pedagoacutegica

Ana Maria Martins da Costa SantosClaacuteudio Joseacute de Franccedila e Silva

Rogeacuterio Luiz Buccelli

Coordenadores dos CursosArte Rejane Galvatildeo Coutinho (IAUnesp)

Filosofia Luacutecio Lourenccedilo Prado (FFCMariacutelia)Geografia Raul Borges Guimaratildees (FCTPresidente Prudente)

Antocircnio Cezar Leal (FCTPresidente Prudente) - sub-coordenador Inglecircs Mariangela Braga Norte (FFCMariacutelia)

Quiacutemica Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

Equipe Teacutecnica - Sistema de Controle AcadecircmicoAri Araldo Xavier de Camargo

Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

SecretariaAdministraccedilatildeo Vera Reis

NEaD ndash Nuacutecleo de Educaccedilatildeo a Distacircncia(equipe Redefor)

Klaus Schluumlnzen Junior Coordenador Geral

Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

Coordenador de Grupo

Andreacute Luiacutes Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

Marcos Roberto GreinerPedro Caacutessio Bissetti

Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

Produccedilatildeo veiculaccedilatildeo e Gestatildeo de materialElisandra Andreacute Maranhe

Joatildeo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

Lili Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

Pamela GouveiaRafael Canoletti

Valter Rodrigues da Silva

  • Marcador 1
  • A Esteacutetica e o belo
  • Beleza e Forma
  • Da Esteacutetica agrave Filosofia da Arte
  • Arte e Filosofia da arte no mundo contemporacircneo
  • Notas
  • Bibliografia Tema 1
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                                                2. Paacutegina 38
                                                3. Paacutegina 39
                                                4. Paacutegina 40
                                                5. Paacutegina 41
                                                6. Paacutegina 42
                                                7. Paacutegina 43
                                                8. Paacutegina 44
                                                9. Paacutegina 45
                                                10. Paacutegina 46
                                                  1. Botatildeo 67
                                                    1. Paacutegina 37 Off
                                                    2. Paacutegina 38
                                                    3. Paacutegina 39
                                                    4. Paacutegina 40
                                                    5. Paacutegina 41
                                                    6. Paacutegina 42
                                                    7. Paacutegina 43
                                                    8. Paacutegina 44
                                                    9. Paacutegina 45
                                                    10. Paacutegina 46
                                                      1. Botatildeo 64
                                                        1. Paacutegina 47 Off
                                                        2. Paacutegina 48
                                                          1. Botatildeo 65
                                                            1. Paacutegina 47 Off
                                                            2. Paacutegina 48
                                                              1. Botatildeo 52
                                                                1. Paacutegina 49 Off
                                                                2. Paacutegina 50
                                                                  1. Botatildeo 53
                                                                    1. Paacutegina 49 Off
                                                                    2. Paacutegina 50
                                                                      1. Botatildeo 7
                                                                      2. Botatildeo 8
                                                                      3. Botatildeo 9