Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PEDAGOGO EMPRESARIAL E O CHOQUE PARADIGMÁTICO
ENTRE MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE
Por: Ana Isabel Guimarães de Almeida
Orientadora
Prof. Flávia Cavalcanti
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PEDAGOGO EMPRESARIAL E O CHOQUE PARADIGMÁTICO
ENTRE MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em
Pedagogia Empresarial.
Por: Ana Isabel Guimarães de Almeida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos que, solidariamente,
contribuíram para o desenvolvimento
deste trabalho, em especial à professora
Flávia Cavalcanti.
Muito obrigada.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho àqueles que, de
maneira direta ou não, contribuíram para sua
confecção.
Dedico a minha família, a quem devo minha
vida, meu ingresso no ensino acadêmico e
minha formação como pessoa.
A Jairo, pelo amor, companheirismo e
cumplicidade de sempre.
Aos meus amigos, amigas e colegas, pelas
palavras de apoio nos momentos difíceis.
E a todos que acreditam no trabalho do
Pedagogo, como enquanto profissional
comprometido com o desenvolvimento
intencional dos indivíduos nas suas
dimensões intelectual, afetiva, crítica e
cidadã .
RESUMO
Diante das críticas pós-modernas ao poder da razão no processo formativo,
domínio humano sobre a natureza, desenvolvimento contínuo da história pela
ação humana, progresso da ciência, capacidade do homem em gerir seu próprio
destino, de ter autodomínio, de pensar criticamente, de comprometer-se com o
destino da história conforme suas crenças, etc. como o pedagogo empresarial
poderá agir como profissional responsável pela formação humana?
A crítica pós-moderna precisa ser examinada pelos educadores, em favor de uma
Pedagogia Crítica afinada com as realidades contemporâneas e, especificamente,
com o projeto do que ele denomina de “democracia radical”. Nesse sentido, “os
ideais do projeto da modernidade” que vinculam memória, agência e razão com a
construção de uma esfera pública democrática precisam ser defendidos como
parte de um discurso educacional crítico no interior das condições de existência do
mundo pós-moderno e não em oposição a ele.
METODOLOGIA
O trabalho será desenvolvido através de pesquisa bibliográfica (livros, artigos e
textos) que dará suporte às argumentações do autor, durante o desdobramento de
suas ideias. Os blocos de conhecimento foram agrupados dentro de eixos
temáticos, na busca de encadeamento lógico entre os temas e a consequente
compreensão da mensagem que a autora almeja transmitir.
A divisão se apresenta nos seguintes capítulos:
Capítulo I – Modernidade e Pós-Modernidade: subdividida em dois capítulos (1.1 –
Modernidade: o homem e sua emancipação e 1.2 – Pós-Modernidade: vanguarda
ou nostalgia?), apresenta breve descrição das realidades moderna e pós-
moderna, apontando suas especificidades.
Capítulo II - Pedagogia e Pedagogo Empresarial: também se encontra subdividida
em dois capítulos: 2.1 – Pedagogia:Ciência da Educação e 2.2 - Profissional do
conhecimento inserido na Sociedade do Conhecimento. Os objetivos deste
capítulo são de descrever o papel do pedagogo, particularmente do pedagogo
empresarial; apontar os embates do pedagogo empresarial frente à realidade pós-
moderna e descrever possíveis modos de agir que visem à formação humana e
crítica dos profissionais os quais o pedagogo empresarial auxilia a desenvolver
nas organizações.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO I 10
1.1. 10
1.2. 20
CAPÍTULO II 29
2.1. 29
2.2. 33
CONCLUSÃO 40
ANEXO 1 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42
I�TRODUÇÃO
O debate acerca do papel da educação diante as mudanças econômicas,
políticas e sociais da atualidade faz repensar sobre a importância da Pedagogia -
fruto da modernidade – a partir da análise das críticas pós-modernas ao ensino
convencional.
Assiste-se atualmente a uma pedagogização da sociedade. A cada dia,
circulam abundantemente informações advindas de mídias diversas, o que torna
essencial repensar as práticas, os processos, a forma de resolver os problemas,
pelos quais as pessoas agem no seio da sociedade.
Pode-se perceber um paradoxo quando se fala que a Pedagogia, em alta
devido à propagação da educação por diversos meios que não sejam apenas a
escola (tais como movimentos sociais, meios de comunicação, sindicatos, ONGs,
partidos políticos, organizações), e que mesmo assim recebe críticas diversas,
sobretudo de profissionais do meio educacional que desconfiam de sua
importância para o desenvolvimento das gerações futuras diante do contexto
dinâmico e globalizado das sociedades.
Diante do que foi relatado acima, em que a educação tornou-se crucial
para a inserção do indivíduo no mundo contemporâneo – este que, por sua vez
pedagogiza a sociedade na medida em que apresenta uma diversidade de
práticas educativas – qual seria a intenção de se opor à Pedagogia, como o faz as
críticas pós-modernas ?
E em relação à importância da Pedagogia Empresarial, apoio para as
empresas numa época de mudanças rápidas no contexto global ? Atualmente a
competitividade das organizações depende cada vez mais da sua capacidade de
diferenciação. Essa diferenciação é concretizada por meio das pessoas que a
integram. Com isso a educação ganha reconhecimento como o grande diferencial
competitivo.O avanço tecnológico intensificou a valorização do conhecimento,
permitindo um redimensionamento das fronteiras da comunicação. A apropriação
da tecnologia pode ser percebida como forma de inserção no mercado de trabalho
em expansão.
Essas transformações provocaram uma desatualização dos saberes, que
antes eram assimilados a partir das experiências vivenciadas na prática cotidiana
do trabalho. Os saberes tácitos, assim conhecidos, passam a ganhar outro sentido
a partir da inserção das novas tecnologias.
O modelo das qualificações ancorado na negociação coletiva cedeu lugar
à gestão individualizada das relações de trabalho. Por exemplo, nas empresas, a
necessidade de manter a competitividade no mercado exige desenvolver sempre
novas competências nos funcionários. A adoção do modelo das competências
profissionais pelas gerências de recursos humanos no mundo empresarial está
relacionada, portanto, ao uso, controle, formação e avaliação do desempenho da
força de trabalho diante das novas exigências postas pelo padrão de acumulação
capitalista flexível ou toyotista: competitividade, produtividade, agilidade,
racionalização de custos. Este modelo tende a tornar-se hegemônico em um
quadro de crise do trabalho assalariado e da organização prescrita do trabalho e
do declínio das organizações profissionais e políticas dos trabalhadores.
E, pensando a capacitação de seu pessoal como diferencial competitivo,
as organizações procuram inserir um profissional da educação em seu quadro
estratégico. Logo, o papel da Pedagogia não parece esvaziar-se como bradam os
críticos, calcados nos ideais pós-modernos.
Este trabalho buscará analisar os impasses acerca do papel da Pedagogia
e da Pedagogia Empresarial, sob o tema das mudanças paradigmáticas entre
modernidade e pós-modernidade. Procurando explanar com clareza e
objetividade, a apresentação se desenvolverá seguindo uma divisão temática.
Primeiramente serão explicitados os conceitos principais sobre Modernidade e
Pós-modernidade, obviamente de maneira sucinta, sem intenções de expor
minuciosamente um tema demasiado complexo. Entrarão como suporte à teoria
algumas obras bibliográficas, sobretudo: e “História da Filosofia”, de Christoph
Helferich.
A seguir buscar-se-á descrever a Pedagogia e seu histórico até a
atualidade, representada pelo papel do Pedagogo Empresarial. Auxiliando na base
teórica, estão “O que é Pós-moderno”, de Jair dos Santos e “Pedagogia,
Pedagogos, para quê?”, de José Carlos LIBÂNEO. E, diante desses conceitos,
haverá uma paralela “amarração”, buscando uma análise crítica e, após esta
parte, uma conclusão final encerrará o desenvolvimento das ideias, objetivando
um consenso entre os pensamentos apresentados.
CAPÍTULO I
MODERNIDADE E PÓS MODERNIDADE:
ESPECIFICIDADES
O objeto da modernidade/pós-modernidade tem recebido notoriedade
entre diversos estudiosos. Várias são as abordagens e pontos de vista sobre o
tema : econômico, filosófico, sociológico, político, cultural. O enfoque deste
trabalho se atrelará à relação com a Pedagogia. A Pedagogia e seu ideário atual,
quaisquer que sejam as correntes que o norteiam, é fruto da modernidade,
sobretudo da visão iluminista da educação.
Para uma compreensão destas relações, segue uma tentativa de definição
tanto da modernidade quanto da pós-modernidade e seus aspectos relevantes
para este trabalho.
1.1 – MODERNIDADE: O HOMEM E SUA EMANCIPAÇÃO
O termo “moderno” é bastante difícil para uma única concepção ou
entendimento. Pode ser compreendido como um ideário ou visão de mundo que
está relacionada ao projeto de mundo moderno, empreendido em diversos
momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução Industrial,
logo, normalmente relacionado com o desenvolvimento do Capitalismo. Por outro
lado, na primeira metade do século XX, devido aos vários movimentos de
vanguarda que ocorreram na arte e na cultura ocidental relacionados com o
movimento moderno, costuma ser denominado de período da modernidade.
O conceito de modernidade é demasiado complexo, logo, não caberia
restringi-lo a uma ou outra circunstância. Um tentame inicial de caracterização
pode apresentá-la como um estilo, um costume de vida ou organização social,
surgido na Europa a partir do século XVII e habitualmente caracterizada como a
época do acesso do homem à maioridade, ao livre uso da razão e à consequente
autonomia em relação aos empecilhos que o impediam de escolher e de seguir
por si próprio o seu destino.
Há quem considera o século XVIII como o século do Iluminismo. É, de
fato, neste século, que ocorrem dois acontecimentos que indiciam mudanças
irreversíveis comumente associadas com a modernidade: a publicação da
Enciclopédia de Diderot e d’Alembert e a Revolução Francesa (1789). A
Enciclopédia consagrou uma nova modalidade de saber, não fundado na
autoridade política ou religiosa, mas numa comunidade de homens dotados de
razão e por isso capazes de juízo crítico. A Revolução Francesa instituiu uma
nova ordem política de homens livres, governados por uma Constituição, por uma
norma fundada, não na vontade de um soberano, mas do povo.
No entanto, estas transformações vinham sendo, desde há muito tempo
preparadas, graças a um novo espírito que se foi afirmando, no mundo ocidental,
nos mais diversos domínios da experiência, desde o fim da Idade Média e da
Renascença.
Costumam ser definidos os seguintes fatores da modernidade: o
desenvolvimento e intensificação das descobertas científica assim como a
autonomização e a fragmentação das ciências, a partir de métodos de observação
e de experimentação sistematicamente conduzidos, o incremento e a aceleração
dos processos de invenção técnica, a invenção da imprensa de caracteres móveis,
por Johannes Gensfleisch, mais conhecido por Gutenberg (1440); os ideais
críticos do livre exame implementados pela Reforma e o movimento de
reformulação do catolicismo; a partir do Concílio de Tento (1545-1549, 1551-1552,
1562-1563); o avanço das viagens marítimas que conduziram à descoberta dos
povos do Novo Mundo.
Não se deve confundir modernidade com os conceitos afins de
modernismo e de modernização. A modernidade é uma modalidade da
experiência marcada pelo rompimento com a tradição e ocorre sempre que os
fundamentos e a legitimidade da experiência tradicional, dos seus valores e das
suas normas, perdem a sua natureza indiscutível e deixam, por conseguinte, de se
impor a todos com obrigatoriedade. Pode-se dizer que a modernidade se instaura
sempre que a experiência tradicional atinge o limite. É porque o curso habitual da
experiência perde o seu sentido fundador que a tradição passa a ser encarada
como entrave à consciência crítica sobre as coisas.
O modernismo é um movimento estético e ético. No domínio estético,
corresponde a uma modalidade do gosto nos diferentes domínios da arte. Tem
como característica a sobrevalorização da experiência do presente, o imperativo
da invenção incessante de novos modelos estéticos e o predomínio da
representação do fluido e do efêmero sobre o perene e o transcendente. No
domínio ético, manifesta-se na procura constante de novos modelos e de novas
normas de comportamento que deem conta da mudança e das transformações do
presente, na sequência das inovações técnicas que interferem com a experiência
da vida. O modernismo está portanto associado aos movimentos de vanguarda
que conceberam os seus projetos a partir da ruptura para com os modelos
estéticos e para com as normas éticas aceitas.
Ilustração 1: Arte Moderna - "�ighthawks" (1942), de Edward Hopper. O pintor apresentava, com impressionante realismo, a paisagem urbano-industrial do início de século XX. �a figura, a presença de indivíduos "sozinhos na multidão". Fonte: http://www.hopper.com.br
A modernização é sobretudo um processo técnico e econômico marcado
pelo imperativo de renovação, tanto dos mecanismos produtivos como dos
procedimentos administrativos utilizados na organização da vida coletiva.
No seu começo, a modernidade associava numa mesma experiência o
modernismo e a modernização. No entanto, à medida que a modernidade foi se
generalizando e tornando princípio legitimador indiscutível da experiência, estes
conceitos ganharam certa autonomia, separando-se uns dos outros, acabando o
modernismo e a modernização por esquecer os princípios da modernidade que
estão na sua origem e lhes servem de fundamento e legitimação.
A crítica é outro tema dominante da modernidade e está associado à
natureza racional ou, pelo menos, razoável do fundamento das opiniões e das
decisões, tanto na esfera do saber como nas esferas política, estética e ética. Nos
séculos XVII e XVIII, este ideal da crítica era sobretudo baseado na livre discussão
das opiniões, dos modelos e das normas. É este espaço de livre discussão que dá
origem a uma nova categoria política que irá marcar profundamente o processo de
emancipação que caracteriza a modernidade: a categoria do espaço público
Uma das ideias centrais da modernidade, que aparece aliás já claramente
expressa por exemplo na Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, é a de que o
homem moderno não está apenas dependente das leis da natureza, mas tem
como missão adapta-la aos seus próprios projetos. Através da investigação
minuciosa das leis que a regem, o homem a supera e, deste modo, descobre os
princípios que o habilitariam a inventar utensílios e instrumentos técnicos capazes
ou de reparar os objetos naturais deficientes ou de ajustá-los a novas funções.
A modernidade está, portanto, associada, nos séculos XVII e XVIII, a uma
visão eufórica do progresso, considerando-a como a inauguração de uma época
de desenvolvimento técnico ilimitado. Os instrumentos são ainda considerados
como melhoramentos da percepção do mundo e os utensílios destinam-se a
ajudar o gesto humano na manipulação dos objetos naturais. No entanto, à
medida que foi integrando conhecimentos científicos mais elaborados, a técnica foi
adquirindo cada vez maior autonomia em relação à percepção e ao gesto
humanos. É este processo que conduzirá ao maquinismo industrial, a partir da
segunda metade do século XIX, e ao aparecimento de uma relação cada vez mais
problemática e conflitual com a técnica. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial,
o domínio da técnica adquiriu uma autonomia até agora inimaginável, ao
converter-se em sistema, acarretando consequências para a própria experiência
do mundo.
O ideal revolucionário é outra das características constantes da
modernidade. Em contraste com os valores de estabilidade que caracterizam a
experiência tradicional, a modernidade promove valores de ruptura e de mudança
contínua. A modernidade gera a procura de princípios explicativos racionais para
os fenômenos da natureza e da cultura e de normas racionalmente fundadas para
a política, para a ética e para a estética. É entendida como um ideário ou visão de
mundo que está relacionada ao projeto de mundo moderno, empreendido em
diversos momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução
Industrial. Está normalmente relacionada com o desenvolvimento do Capitalismo.
Sobre isso, afirma Saviani:
A sociedade moderna, desenvolvida a partir do advento do capitalismo, revoluciona continuamente as técnicas de produção e incorpora os conhecimentos como força produtiva, convertendo a ciência, que é potência espiritual, em potência material através da indústria. Por confronto com a sociedade medieval, a sociedade moderna operou uma modificação, uma inversão. A sociedade medieval se baseava na propriedade da terra; a classe dominante eram os senhores feudais; o trabalho dominante era a agricultura;
a forma de convivência entre os homens era de tipo rural. Assim, na Idade Média, o campo prevalecia sobre a cidade e a agricultura, sobre a indústria – que, no modo de produção feudal, limitava-se ao artesanato. Com as mudanças ocorridas a partir do século XV, inverte-se essa relação: o campo passa a se subordinar à cidade, e a agricultura, à indústria. Por estes motivos, a sociedade moderna tende a um processo de industrialização da agricultura e urbanização do campo. Ela tende a assumir crescentemente a forma urbano-industrial, porque a agricultura na sociedade moderna tende a ser crescentemente mecanizada, ou seja, industrializada. Incorporam-se as técnicas de produção industrial na própria produção agrícola. E o interior, o campo, tende a se urbanizar: as relações sociais tendem a se centrar nas formas urbanas, que passam a predominar sobre as rurais.
Ou seja, Saviani , afirma que nas sociedades baseadas na propriedade
privada dos meios de produção, toda a ciência é convertida em potência material,
ou seja, “aplicada” na produção para gerar o lucro. Como o conhecimento também
é meio de produção, logo, é propriedade dos dirigentes. E aí está uma contradição
do capitalismo: se for propriedade do capitalista, não pode ser do trabalhador. Mas
se o trabalhador não tiver acesso a este conhecimento, não haverá produção e,
conseqüentemente, o lucro. A sociedade capitalista, então, para contornar este
obstáculo, oferece a ciência ao assalariado, mas de maneira fragmentada,
parcelada, para que ele não tenha a visão do todo. “Instrução para os
trabalhadores sim, porém em doses homeopáticas” (Smith, Adam apud SAVIANI,
2003 p.138).
O autor continua:
Na sociedade moderna é que a Ciência diz respeito ao conjunto da sociedade, porque ela se converte em potência material incorporada ao trabalho socialmente produtivo. O domínio da ciência diz respeito, também, ao conjunto da sociedade, razão pela qual o currículo da escola elementar pressupõe, além dos dois elementos enunciados, os instrumentos de expressão desses conhecimentos, ou seja, o domínio da linguagem escrita. Então, o currículo básico da
escola elementar é composto pelo domínio da linguagem, da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais.
O Capitalismo, como sistema político, surgiu no fim da Idade Média, com a
desintegração das antigas corporações feudais, que não aceitavam mais a
sociedade feudal “fixa e fechada”, sem liberdade de produzir e comercializar e na
figura do rei e com todos os aspectos da vida social controlados pelos senhores
feudais. O Capitalismo se fundamenta na propriedade privada dos meios de
produção, bens de produção e bens de consumo.
Surgiu, assim, a burguesia (“burgo” quer dizer cidade, pois os donos das
empresas moravam nas cidades), que instalou empresas de propriedade privada
(individual), com operários assalariados, que fabricam manufaturados em série. A
burguesia não só questionou a origem divina do poder, como criou uma nova
sociedade (capitalista) que tem como base um “contrato” entre indivíduos livres e
iguais (A obra “O Contrato Social” de J.J. Rousseau serviu como base teórica para
a Revolução Francesa). Portanto, o indivíduo tornou-se o centro e a medida de
todas as coisas no Capitalismo. Fundamenta-se também na razão, ou seja, na
capacidade racional de o indivíduo dominar a natureza, de produzir e
comercializar riquezas (fartura) na mais plena liberdade.
O Capitalismo também se fundamenta no Liberalismo, filosofia que o
justificou e o ao longo da modernidade, defendendo a posse da propriedade
privada sem limites, a produção e comercialização de riquezas e a definição do
preço das mercadorias, sempre na mais “plena liberdade” e sem a intervenção do
Estado. A figura do Estado forte aparece apenas com a função de garantir os
direitos individuais, isto é, a propriedade privada na mais plena liberdade (livre
iniciativa). Já a figura do Estado fraco surge com a função de não intervir nos
interesses da economia, o que para os capitalistas o Estado poderia gerar
obstáculos à liberdade aos donos do capital. Deste modo, o Capitalismo realizou o
sonho da produção da riqueza com liberdade, mas não conseguiu realizar o sonho
da igualdade. Por isso, a sociedade capitalista, fundamentada na propriedade
privada e no liberalismo, é conseqüente e necessariamente uma sociedade
desigual, por isso injusta na medida em que concentra a riqueza nas mãos dos
donos do capital e socializa os prejuízos, a miséria e a exclusão nas mãos de
quem produziu a riqueza.
A desapropriação (expropriação) do homem do campo, para ser
apropriado (propriedade) pelo dono da fábrica, característica da Revolução
Industrial, é outro aspecto importante a ser analisado. Chamamos de Revolução
Industrial as transformações ocorridas no mundo moderno. Essas transformações
inicialmente se manifestaram pelo desenvolvimento da técnica da produção
industrial e das comunicações; seguido de seus procedentes que atingiram todas
as áreas sociais, causando mudanças estruturais, não somente na Europa, mas
também nas regiões por ela relacionadas. Deixando de ser dono da terra e de si, o
homem do campo migra para a cidade, para a periferia, onde, como trabalhador
assalariado, aluga a sua força de trabalho para o seu novo dono. Na fábrica o
trabalho é coletivo, mas o resultado do trabalho não é distribuído coletivamente;
este vai para o dono da fábrica, que, simbolicamente, paga o aluguel da força de
trabalho, pelo chamado salário.
Isso quer dizer que o trabalhador, além de expropriado dos seus bens, do
seu meio, da sua cultura, foi apropriado pelo dono da fábrica, para ser, agora,
também explorado e dominado. Esta “dedicação exclusiva” atinge tão
profundamente com a cultura e os valores do trabalhador, que este passa a ser a
vontade do seu patrão. O trabalhador, durante sua jornada de trabalho, onde é
forçado a realizar repetidamente a mesma atividade parcial, não tem a
possibilidade de desenvolver suas outras capacidades, ficando privado e restrito a
apenas uma parte do todo da produção. Ele participa de um fragmento do
processo, alienando-se, assim, do produto final de seu trabalho.
Como foi anteriormente citado, a ciência, subordinada ao capitalismo,
deixa de ser potência espiritual, passando a potência material, incorporando-se à
produção. Reiterando os aspectos da Revolução Industrial, podemos entender
este fato mais profundamente. A primeira Revolução Industrial (± 1760-1830)
constituiu-se em mais de setenta anos de invenções tecnológicas - sendo o tear e
a máquina os mais expressivos, devido a suas consideráveis influências na
economia (ao permitirem a introdução de usinas e manufaturas, o que acabou por
desestruturar o modo de produção artesanal).
Esta primeira revolução industrial muda as bases técnicas da produção: concentra-se capital, amplia-se a divisão do trabalho. O capital funciona, agora, sob as condições técnicas que lhe são favoráveis. A gerência científica do trabalho dá-se na perspectiva de forte domínio do capital sobre o trabalho. Do ponto de vista da qualificação, o trabalhador perde o controle do instrumento do trabalho e do saber mais global sobre o trabalho. Demanda-se uma qualificação especializada e atomizada. (Frigotto, 1991 p. 40).
A segunda Revolução Industrial teve início no final do século XIX através
do aperfeiçoamento da maquinaria e a utilização da eletricidade (também do aço,
petróleo e derivados, indústria química, etc.) para o funcionamento dos
equipamentos. É nesta fase que se observa o auge do controle e estruturação do
trabalho, ao se adotar novos métodos de produção (a linha de montagem, por
exemplo) dos quais se originou a chamada produção em série – o fordismo como
a principal.
Entende-se como fordismo a organização industrial que objetiva aumentar
sua produtividade através da padronização dos produtos e da especialização dos
operários, cada um desempenhando uma tarefa distinta. “O fordismo representa,
ao mesmo tempo, uma resposta técnica, organizacional e político-social a esta
fase do processo capitalista de produção”.
A terceira Revolução Industrial - que se iniciou por volta da década de
1960 do século XX - caracteriza-se pela entrada, nos setores industriais, da
automação, da robótica, da informática, da microeletrônica, etc. A tecnologia
torna-se, então, matéria-prima do processo produtivo. As mudanças nas relações
de trabalho e de produção se caracterizam por uma rapidez no processo
tecnológico, na centralização do capital, na organização do processo de trabalho,
e, sobretudo, na qualificação dos trabalhadores: “trata-se de uma revolução
tecnológica que possibilita a organização da produção de forma automática,
autocontrolável e auto-ajustável mediante processos informatizados, robotizados,
através de um sistema eletrônico” (Frigotto, ibid.).
Ilustração 2 – linha de montagem do Ford T. O trabalhador já não se apropriava do produto de seu
trabalho, alienando-se definitivamente daquele. Fonte: www.carroantigo.com.br
Vivemos atualmente sob o domínio do capitalismo transnacionalizado,
cuja divisão social do trabalho determina como sujeito das relações sociais o
capital. O trabalho, assim como a ciência e a tecnologia, sob a égide do
capitalismo, deixam de ter a finalidade de valor de uso para se tornar valor de
troca, cujo objetivo é gerar lucro.
A época atual caracteriza-se pela consciência aguda do esgotamento dos
projetos, romântico e futurista, da modernidade e pela consequente indiferença
perante os valores e as normas que os movimentos de vanguarda procuraram
instaurar, ao longo do seu processo de implantação. Capitalismo financeiro,
Globalização, multiculturalismo, sociedade do conhecimento: condicionantes que
põem em xeque as orientações teóricas tradicionais da modernidade: iluminismo,
autonomia, subjetividade, emancipação, em nome de uma sociedade de mercado,
livre de grandes narrativas. Seguem as peculiaridades da chamada “sociedade
pós-moderna”.
1.2 – PÓS-MODERNIDADE: VANGUARDA OU NOSTALGIA? A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem.(Eric Hobsbawm1)
Vimos anteriormente que a modernidade construiu um ambicioso e
revolucionário projeto cultural, que buscou transformar a face da Terra pela fé na
ciência e na técnica aplicadas às forças produtivas; nas relações liberais de
mercado como capazes de implementar um estado justo e próspero; na
positividade do progresso e na sua constante renovação e superação.
No entanto, o que se observou é que, ao invés dos princípios modernos
coexistirem harmoniosamente, sinergicamente, eles se sobrepuseram uns aos
outros, levando o processo a um desequilíbrio. Assim, o princípio de comunidade,
como formulado por Rousseau, baseado na igualdade entre os homens e na
organização soberana da sociedade, reduziu-se a um complexo jogo de interesses
1 Hobsbawm, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
particulares organizados dentro de um conceito empobrecido de sociedade civil,
manipulado pelas forças de mercado. Por exemplo, no período do capitalismo
liberal, houve um desenvolvimento sem precedentes do princípio do mercado,
atrofiando o princípio da comunidade e pressionando o Estado a uma
ressignificação de seu papel. Como afirmou LIBÂNEO (p. 189)
o problema da burguesia foi ficar na afirmação iluminista da verdade universal, sem querer entender que esse princípio somente ganha coerência se referir a indivíduos concretos, a particularidades concretas. Foi exatamente isso que setores do Iluminismo houveram por bem omitir. E, de fato, a ideologia burguesa nunca foi capaz de conciliar o particular e o universal, o local e o global, a diferença e a identidade. Preferiu um discurso de sujeitos universais abstratamente igualados.
No domínio do princípio da emancipação, observou-se, por exemplo, a
elitização da cultura, conjugada à idéia da existência e valorização de uma "cultura
nacional". Também houve a conversão da ciência numa força produtiva
estreitamente vinculada e a serviço do mercado.
Já no âmbito da racionalidade moral e prática, consolidou-se a micro-ética
liberal que contribuiu para a legitimação de um estado a serviço do mercado.
Assim, os vários princípios interagindo entre si não foram capazes de
cumprir com as propostas modernas que visavam, entre outros objetivos, a
prosperidade social a partir do desenvolvimento da técnica, da ciência aplicada e
do livre mercado. Se por um lado a ciência e a técnica avançaram, talvez, além do
esperado, a contrapartida de prosperidade social e cultural não se concretizou.
Avaliar se esses objetivos ainda são pertinentes e se a modernidade ainda tem
condições de cumpri-los é uma tarefa árdua que necessita ser feita, para que se
possa compreender a existência, configuração e, mesmo necessidade, de um
novo paradigma dito pós-moderno.
Afinal, o que nos revela o pós-modernismo?
Segundo LIBÂNEO:
O pós-modernismo designa um movimento de rejeição das grandes narrativas, das teorias globalizantes, das filosofias metafísicas. As condições da produção do conhecimento e da tecnologia – por exemplo, a difusão do computador, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia avançada, os textos eletrônicos – estão enfraquecendo antigos hábitos e práticas sociais da modernidade (narrativas totalizantes) em favor de novas formas de organização social, privilegiando o diverso, o local, o específico, o efêmero, o contingente, as decisões individuais sem os arrimos filosóficos tradicionais. Vivemos num mundo sem estabilidade, em que o conhecimento está constantemente mudando, sem necessidade de uma visão teleológica da história, isto é, sem superteorias que definam a finalidade da história humana, a autonomia, o destino do homem, etc. (p. 174).
Dessa forma a pós-modernidade poderia indicar uma relativa ruptura ao
pensamento moderno ao operar com o pensamento diversificado de modo teórico
e sem restrições. Essa seria, então, o ideal formativo da era das novas tecnologias
e o adeus às teorias totalizantes.
Como vimos anteriormente, a sociedade moderna possuía caráter
alinhado ao capitalismo industrial, os padrões e ideias eram rigorosos.
Trabalhadores, proletários, intelectuais, todos de alguma forma procuravam
contribuir com as mudanças sociais com o objetivo de trazer um significado à
História e, para isso, a luta em massa era um meio importante pela busca por
melhores condições de vida ou até mesmo pelo poder e influência política. Através
de sindicatos, partidos, associações de classe diversas – todas com objetivo
comum de conduzir ao progresso e à mudança do status quo vigente.
Porém, a sociedade pós-moderna se apresenta moldada pelo capitalismo
financeiro, “bombardeada” por informações diversas, coagida ao consumo
desenfreado em busca de satisfação hedonista e fugaz. Demasiada flexível nos
pensamentos e costumes, acaba-se por produzir grandes grupos humanos
fragmentados e sem ideais. Para que a pós-modernidade possa realizar-se, o
homem e o Ser devem ser repensados à luz de um modelo não-positivista, não-
metafísico. A experiência da arte, por exemplo, apresenta-se como um modelo
possível a qual deve ser compreendida, não como uma passagem da experiência
do verdadeiro ao domínio do senso comum - relativista, intimista -mas como um
campo que tem uma complexidade de sentidos que não se limita a duplicar o
existente, capaz inclusive de criticá-lo, ressignificá-lo.
A arte moderna tendia à militância política. Buscava, por exemplo,
glorificar a tecnociência como no caso do Futurismo, ou, pelo contrário, procurava
denunciar o cenário caótico da modernidade urbana do capitalismo industrial,
como nas cores fortes do Cubismo e do Fauvismo ou na cinzenta deformação da
realidade do Expressionismo Alemão. Já a arte pós-moderna renuncia a qualquer
messianismo. Não quer salvar a raça humana de possíveis catástrofes advindas
com a modernização ou propor qualquer utopia capaz de superar os resultados
desse colapso. Desse modo, o artista pós-moderno vê-se num pêndulo entre o
niilismo e o narcisismo hedonista e cínico da apologia do consumo. Isso se traduz
pictoricamente em negativos fotográficos corroídos por ácido justapostos na
parede ou nas latas de sopa Campbells de Andy Warhol.
A antiarte pós-moderna se desestetiza porque a vida se encontra estetizada pelo design, a decoração. Os ambientes atuais já são arte e assim pintura e escultura podem se fundir com a arquitetura, a paisagem urbana, tornando-se fragmentos do real dentro do real. (...) Desestetizada, desdefinida, desmateralizada, e obra sumiu, mas sobrou o artista.(...) É o máximo de fusão arte/vida como querem os pós-modernos. Pois utiliza a rua, a galeria, pessoas e objetos que estão na própria realidade para desencadear um acontecimento criativo. É uma provocação com o público, mas amplia sua percepção do mundo onde vive. (...) Muitos (...) vêem [a arte pós-moderna] decadente. Das criações grandiosas de Picasso e Joyce às brincadeiras e paródias atuais, sem força intelectual, sem regras estéticas, houve
queda ou fim de padrões. A arte agora é pastiche e ecletismo porque perdeu a originalidade, não sabe mais criar. Niilista, a desestetização levou à morte da arte. É uma [opinião]. Mas outros sentem no pós-modernismo uma praga boa e saudável. Abala preconceitos, põe abaixo o muro entre arte culta e de massa, rompe as barreiras entre os gêneros, traz de volta o passado (os modernos só queriam o novo). Democratizando a produção ele diz: que venham a diferença, a dispersão. A desordem é fértil. Pluralista, ele propõe a convivência de todos os estilos, de todas as épocas, sem hierarquias, num vale-tudo que acredita no seguinte: sendo o mercado um cardápio variado, e não havendo mais regras absolutas, cada um escolhe o prato que mais lhe agrada. Morte ou renovação, também na arte o pós-moderno flutua no indecidível. [SANTOS, pp. 51, 52; 69, 70. Grifos meus].
Ilustração 3 - Arte pós-moderna: Keith Haring (década de 1980). Uso do grafite nas ruas como manifestação artística. Apelo à sexualidade, ao uso de drogas e referências a morte: viver para e pelo presente. Fonte: www.haring.com
Ilustração 4: Arte pós-moderna. "Marilyn", de Andy Warhol. Ressignificação da arte em contraposição à vanguarda, insinuações sobre consumismo e mass-media são características peculiares à pós-modernidade. Fonte: www.warhol.org
Para uma reflexão mais abrangente, a seguir é descrita uma análise da
condição pós-moderna através das seguintes vertentes: histórica, político-
ideológica, trabalho, família e religião – eixos tão abarcados pela modernidade e
que vêm sofrendo abruptamente mudanças visíveis e profundas em suas
essências.
Na dimensão histórica, podemos perceber e comparar as contradições
marcantes entre as sociedades na modernidade e pós-modernidade. Enquanto na
modernidade a sociedade cria que a “roda da História” efetivamente rodava
através da revolução e do progresso, a massa pós-moderna não apresenta um
senso de continuidade histórica, portanto, não consegue atingir um grau de
conhecimento satisfatório relativo às tradições do passado nem um projeto eficaz
de visão de futuro. Nesta perspectiva os indivíduos cada vez mais se
hipervalorizam ao concentrar em si as preocupações outrora direcionadas ao
grupo social como um todo. Preocupações individualizadas com saúde, lazer,
aperfeiçoamento pessoal e profissional tornam-se prioridades em detrimento da
crença e atuação enérgica na História.
No campo político-ideológico é oportuno apontar a descrença, cada vez
mais acentuada, no papel do Estado como representante do povo e de seus
ideais. Posições outrora consideradas rígidas (como por exemplo, o comunismo, o
fascismo, o capitalismo selvagem) são substituídas por outras, flexíveis e
pragmáticas, com objetivos visíveis a “curto prazo”. Em consequência a sociedade
pós-moderna apresenta um considerável desprezo às causas de âmbito global,
procurando se afiliar a movimentos com metas práticas e individualizadas (de
acordo com o perfil de cada um), como a liberação sexual, o feminismo, yuppies,
etc.
Em relação ao trabalho, o foco não apresenta grandes diferenças.
Segundo Karl Marx, o trabalho é a capacidade criadora do homem, que o
faz libertar em relação à natureza, que o delineia como ser social e independente
e que o coloca acima do reino animal. Ou seja, é entendido como a interação,
intencional consciente e coletiva do homem sobre a natureza, visando satisfazer
suas necessidades. “O processo de trabalho é uma condição da existência
humana, comum a todas as formas de sociedade humana” (MOHUN, Simon. In:
Bottomore, 1988, p.299).
O trabalho aparece como o confronto do homem com a natureza, numa relação de progressivo conhecimento e controle dela, cujo estímulo é as diversas e sucessivas necessidades humanas nas diferentes etapas dessa relação e desse processo, etapas nas quais o homem se transforma (...) o trabalho é, num primeiro objetivo, o processo entre a natureza e o homem, através do qual este realiza, regula e controla, mediante sua própria ação, seu intercâmbio de matérias com a natureza².
Devido às condições impostas pelo capitalismo financeiro percebe-se uma
grande concentração de atividades no setor de serviços, tornando a atividade
humana em um constante jogo de comunicação entre indivíduos. Não se crê mais
no valor moral que o trabalho proporciona, enquanto atividade que define a
existência humana. O individualismo se estende às viagens de lazer, à busca
desenfreada por novas informações, aprendizados diversos (cursos de língua
estrangeira, de aperfeiçoamento profissional), entre outros.
No âmbito da família nota-se um deslocamento do foco da existência
individual. As instituições escolares e o mass media surgem atualmente como
delineadores das personalidades. Descobertas - como a pílula anticoncepcional -
proporcionaram mudanças significativas nas sociedades patriarcais, na medida
em que a mulher, aos poucos, encontra sua emancipação sexual.
² BOTTOMORE, Tom (ed.). Dicionário do pensamento marxista. 2ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988, p. 1249.
Na esfera da religião podem-se perceber grandes transformações em
relação à modernidade. As religiões tradicionais dão lugar a uma infinidade de
pequenas seitas na medida em que o indivíduo pós-moderno busca espaços mais
customizados às suas necessidades particulares (astrologia e yoga, por exemplo).
Portanto, a pós-modernidade nos apresenta uma nova configuração das
relações entre os indivíduos, em consequência das relações de produção
resultantes de um capitalismo globalizado e multifacetado. O que se esgotou foi
uma determinada utopia, a sociedade do trabalho, que teria perdido importância
em favor de se postular uma vida coletivamente melhor e comunicativamente mais
rica, diante da complexidade imensurável de sistemas e transmissão de
informações. É necessária uma análise crítica sobre esses processos de
transformação da vida material, refletidos nas relações e valores superestruturais.
Pois, conforme afirma LIBÂNEO:
O pós-modernismo refere-se tanto a uma teoria social (de questionamento, de crítica cultural da visão de mundo do modernismo) quanto a um conjunto emergente de condições sociais, culturais e econômicas que caracterizam a era do capitalismo e do industrialismo global, tais como: mudanças nas relações de produção, na natureza do Estado-Nação, novas tecnologias e seu impacto nas telecomunicações, na informática, nos processos de globalização e interdependência (p. 175).
O desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, vem
ocorrendo muito velozmente e influenciando a totalidade das estruturas
produtivas, sociais, culturais e políticas. Este fenômeno adquiriu notável amplitude
e força, levando à denominação para esta fase histórica que se abriu de
sociedade pós-industrial, sociedade da informação, sociedade do conhecimento.
Ora, sendo o Pedagogo o profissional cujo objeto de análise não é senão
o Conhecimento, como seu papel se apresenta nas sociedades pós-modernas?
A Pedagogia é fruto da modernidade:
O ideário pedagógico atual, na versão tradicional, renovada ou crítica, é legítimo herdeiro da modernidade (...). Numeroso contingente de educadores, de forma elaborada ou não, assenta sua prática pedagógico-docente nestes ideais: poder da razão no processo formativo, domínio humano sobre a natureza, desenvolvimento contínuo da história pela ação humana, progresso da ciência, capacidade do homem em gerir seu próprio destino, de ter autodomínio, de pensar criticamente, de comprometer-se com o destino da história conforme suas crenças (LIBÂNEO, p. 185).
Pensar a Pedagogia à luz das transformações estruturais e seus
consequentes reflexos nas relações sociais é de grande importância na medida
em que se fornecem pistas para assertividade do papel do Pedagogo - sobretudo
do Pedagogo Empresarial - frente aos impasses que podem vir à tona com essas
mudanças paradigmáticas, orientando-o, assim, a um posicionamento
questionador e crítico em suas atividades. É o que trataremos no capítulo
seguinte.
CAPÍTULO II
Pedagogia e Pedagogo Empresarial
2.1 – PEDAGOGIA: CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
A Pedagogia é o campo do conhecimento que investiga, de maneira
contextualizada com a História, a problemática educativa em todas as suas
dimensões, de modo a orientar a ação formativa em todas as esferas da
sociedade. Em seu processo de trabalho o Pedagogo analisa, investiga, critica o
caráter e os objetivos da educação em uma sociedade específica. A fonte de seus
estudos, logo, é a própria prática educativa e os ideais que a sustentam e sua
finalidade é compreender globalmente o fenômeno educativo.
A educação é um dos processos imanentes à existência humana (pois as
diversas sociedades procuram reproduzir, através da educação, os modelos de
referência às gerações mais jovens):
a educação existe [também] onde não há a escola e por toda parte pode haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida. A vida que transporta de uma espécie para a outra, dentro da história da natureza, e de uma geração a outra de viventes, dentro da história da espécie, os princípios através dos quais a própria vida aprende e ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser (BRANDÃO, 2004, p. 13).
BRANDÃO (p.32) segue seu raciocínio lembrando que
em todo o tipo de comunidade humana onde ainda não há uma rigorosa divisão do trabalho entre classes desiguais, e onde o exercício social do poder ainda não foi centralizado por uma classe como um Estado, existe a educação sem haver a escola e existe a aprendizagem sem haver o ensino especializado e formal, como um tipo de prática social separada das outras. E da vida (grifos do autor).
MANACORDA (1992, 356) afirma que no Egito antigo já era notável algo
que é considerado contínuo no contexto da história da educação, embora se
apresentando de distintas e peculiares “aparências”: a separação entre instrução e
trabalho, a discriminação entre a instrução para os poucos e o aprendizado do
trabalho para os muitos. Este processo, então inculturado, criou uma instrução,
sendo o espaço desta delineado como uma “escola” – o local onde seria passado
o saber institucionalizado, a cultura livresca, a formação dos poucos indivíduos
para as esferas governantes.
O espaço educacional, então, neste caso, “não é escolar. Ele é o lugar da
vida e do trabalho: a casa, o templo, a oficina, o barco, o mato, o quintal. Espaço
que reúne pessoas e tipos de atividade e onde viver o fazer faz o saber”
(BRANDÃO, ibid.).
O campo investigativo da Pedagogia é amplo, pois, segundo LIBÂNEO
a educação ocorre na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política. Com isso cumpre distinguir diferentes manifestações e modalidades de prática educativa, tais como a educação informal, não-informal e formal. A educação informal corresponderia a ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, e que se desenvolve por meio das relações dos indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecológico, físico e cultural, das quais resultam conhecimentos, experiências, práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma instituição, nem são intencionais e organizadas. A educação não-formal seria a realizada em instituições educativas fora dos marcos institucionais, mas com certo grau de
sistematização e estruturação. A educação formal compreenderia instâncias de formação, escolares ou não, onde há objetivos educativos explícitos e uma ação intencional institucionalizada, estruturada, sistemática. Há uma interpenetração constante entre essas três modalidades que, embora distintas, não podem ser consideradas isoladamente. Se há muitas práticas educativas, em muitos lugares e sob variadas modalidades, há, por consequência, várias pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação etc., e também a pedagogia escolar (p. 31, grifos do autor).
A Pedagogia, enquanto ciência da educação, se preocupa com a
investigação da educação intencional. Para isso procura tratar os fatores que
contribuem para o desenvolvimento dos indivíduos em contexto com suas
realidades – local e histórica. O produto desta avaliação se objetiva a orientar a
ação de todos que, de certa forma, se envolvem com atividade educativa, dando-
lhes eixos norteadores para suas ações.
As transformações na educação decorrem de necessidades e exigências
geradas pela reorganização produtiva. Como estamos inseridos em uma
sociedade cujo modo de produção é o capitalista, a educação apreende as
mudanças resultantes da e pela competitividade no âmbito das instituições
capitalistas, portanto, com um caráter economicista, tecnocrático e excludente. O
desenvolvimento tecnológico, ao elaborar meios de produção e ferramentas mais
precisos – associados ao advento da indústria e da maquinaria – ao invés de
facilitar e reduzir o tempo de trabalho, produzindo, assim, um tempo de ociosidade
no qual o trabalhador usufruiria para seu lazer e/ou aperfeiçoamento intelectual,
como visto anteriormente, tem mostrado que se volta contra o próprio trabalhador.
O capitalista utiliza estes avanços tecnológicos em benefício da aquisição
crescente de lucros, através do aumento da produtividade somada à redução de
tempo de trabalho necessário. A divisão pormenorizada do trabalho – que também
fora engendrada pelo aperfeiçoamento dos meios de trabalho - mostrou bem esta
realidade.
A divisão do trabalho, ou a propriedade privada, tornou-nos [homens] obtuso e unilaterais. A divisão cria unilateralidade, justamente, se reúnem todas as determinações negativas, assim como sob o signo oposto da onilateralidade (...) reúnem-se todas as perspectivas positivas da pessoa humana. (Manacorda, 1991, pp. 68-69).
Segundo NOSELLA (2004, p.103), Gramsci acreditava que o processo de
formação dos indivíduos caberia à vida, a sua experiência da luta, da produção e
da reprodução. Não descartando a grande importância da escola, Gramsci
entendia que esta seria algo complementar, que tentaria acelerar as capacidades
do homem, mas não as criando – o fato de “criar” se referenciaria ao próprio
indivíduo interagindo socialmente: “A escola tayloriza o saber geral, no sentido de
que organiza as partes, subdivide os pontos, interliga os atos pedagógicos de
forma que a seqüência produza um todo orgânico e superior” (ibid).
Na sociedade capitalista àquela educação de outrora, destinada àqueles
que não se ocupavam de uma atividade diretamente relacionada à produção
material, tomou lugar uma concepção que procurou perceber a educação como
um importante instrumento para a capacitação tecnológica, cultural e científica do
homem, ou seja, um elemento intrínseco à produção, na medida em que
“qualificaria” o trabalhador à nova sociedade. A educação capitalista tem o capital
como o centro de tudo, objetivando o privilégio de uma parcela mínima da
população. O papel atual da educação no Brasil tem ido ao encontro desta idéia,
reduzindo o trabalho à forma de emprego, à medida que se pretende formar mão-
de-obra para o mercado. Todos estes fatores acabam por gerar uma inversão
metodológica. Para Marx, o trabalho transcende toda a caracterização
pedagógico-didática para se identificar com a própria essência do homem. A
dificuldade causada pela não-superação da visão de trabalho como “coisa” produz
a inversão anteriormente citada: tem-se dado ênfase à educação pelo trabalho
(educação-trabalho), ou seja, voltada à produção, ao mercado e não à crítica às
relações históricas de trabalho e de produção.
Portanto, à educação, atividade estritamente humana – e que, logo, deve
implicar na humanização da sociedade em detrimento das relações excludentes e
antagonistas – implica-se caráter de emancipação na medida em que se busca a
superação das desigualdades impostas pelo modo de produção capitalista. E
esses processos formativos – de emancipação e análise crítica – constituem o
objeto de estudo da Pedagogia.
Atualmente há uma mudança profunda na relação do Homem com os
saberes e conhecimentos. Sob este aspecto, seguirá uma análise acerca do papel
do Pedagogo Empresarial, este profissional da educação inserido no espaço
engendrado no seio das estruturas capitalistas e como sua atuação poderá
abarcar os valores de emancipação e humanização, presentes desde seu
“embrião” na modernidade.
2.2 – PEDAGOGO EMPRESARIAL: PROFISSIONAL DO
CONHECIMENTO INSERIDO NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
O desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação vem
ocorrendo muito velozmente e influenciando a totalidade das estruturas
produtivas, sociais, culturais e políticas. Este fenômeno adquiriu notável amplitude
e força, levando à denominação para esta fase histórica que se abriu de
sociedade pós-industrial, sociedade da informação, sociedade do conhecimento.
O contexto econômico atual se caracteriza pela alta competitividade, pela
sofisticação dos consumidores e pela velocidade com que ocorrem mudanças. A
efetividade operacional, baseada na redução dos custos, no aumento da
produtividade e na melhoria dos produtos é, atualmente, um imperativo para que
as empresas consigam competir num mercado cada vez mais acirrado. Por outro
lado, as empresas devem ser flexíveis o suficiente para atender a sofisticação dos
consumidores, ou seja, oferecer produtos de qualidade e adequados às
necessidades e características individuais dos clientes.
Para atingir estes objetivos, as organizações devem estar continuamente
revisando seus processos produtivos, produtos, relacionamentos com clientes e
fornecedores, etc. Para isso, é necessário que haja uma constante inovação,
responsável pela velocidade com que ocorrem as mudanças nas formas de gestão
organizacional.
Pessoas e processos passaram a ser vistos como os ativos mais
importantes das organizações. Desta forma admite-se que o desenvolvimento de
habilidades pessoais, como a criatividade e a formação de competências técnicas
profissionais, permitem à organização responder por posições competitivas na
medida em que estas reconhecem que o fator “formação de competências” pode
ser um diferencial que ocupa papel de destaque para impulsionar as estratégias
de competitividade, uma vez que as mudanças atuais passaram a exigir
colaboradores do conhecimento especialistas no que fazem, e não mais o simples
funcionário de escritório ou operário manual.
Nesse sentido, as organizações têm procurado desenvolver novas formas
de trabalho, de comunicação, de estruturas e tecnologias e novos vínculos com os
diversos agentes com os quais interagem. Num ambiente turbulento como o que
se apresenta nos dias de hoje, não há vantagem competitiva sustentável senão
através do que a empresa sabe, como consegue utilizar o que sabe e a rapidez
com que aprende algo novo. Nesse contexto, nota-se que as vantagens estão hoje
centradas no conhecimento e inovação. Gerir o conhecimento de forma integrada
à estratégia organizacional é então o verdadeiro diferencial competitivo.
Na atualidade as sociedades estão inseridas em um contexto dinâmico e
globalizado, onde a competitividade das organizações depende cada vez mais da
sua capacidade de diferenciação. Essa diferenciação é concretizada por meio das
pessoas que a integram. Toda vez que acontece uma mudança radical de cenário,
na medida em que a percepção do mundo se acelera, em que as pessoas são
cada vez mais bombardeadas com informações por diversas mídias, torna-se
crucial repensar as práticas, os processos, a forma de resolver os problemas,
pelos quais as pessoas agem nas organizações. O avanço tecnológico intensificou
a valorização do conhecimento. A apropriação da tecnologia pode ser percebida
como forma de inserção no mercado de trabalho em expansão.
Essas transformações provocaram uma desatualização dos saberes, que
antes eram assimilados a partir das experiências vivenciadas na prática cotidiana
do trabalho. Os saberes passam a ganhar outro sentido a partir da inserção das
novas tecnologias. Através das que vêm ocorrendo nos últimos anos, percebe-se
a interferência das mesmas na área educacional e profissional de várias
formações. Com certa frequência alguns ofícios tradicionais são substituídos por
novas performances que exigem novos requisitos em termos de conhecimentos e
perfil profissional e com o Pedagogo não foi diferente. É necessário entender essa
dinâmica com a intenção de possibilitar aos Pedagogos a compreensão de sua
capacidade de atuação profissional em ambientes que extrapolem as delimitações
institucionais e expandir suas áreas de atuação. As grandes empresas e
corporações, para sobreviver à crise econômica mundial e atender às novas
demandas do mercado, eliminaram ou redesenharam cargos e, em muitos casos,
operações inteiras, logo os profissionais se virão obrigados a constantemente se
reciclar para manter seus conhecimentos atualizados e desenvolver outras
competências diversas. Tal diversificação apresenta um desvio do foco no
trabalho onde antes era enfatizado as atividades manuais e hoje, a atenção em
relação aos trabalhadores está centrada no intelecto.
Estes fatores são resultados da nova relação de trabalho estabelecida no
mundo contemporâneo, onde se é percebível a necessidade de um profissional
com um perfil voltado a ajudar a organização, de qualquer segmento, a atingir os
seus objetivos e metas organizacionais, portanto, atuação deste profissional
deverá estar mais pertinente a seu perfil em harmonia com a organização. Isto se
dá porque as necessidades do trabalho atualmente estão mais voltadas a uma
visão estendida do mundo.
No capítulo 2.1 foi exposto que o Pedagogo, cientista da educação,
apresenta como objeto de trabalho a investigação sobre o fenômeno educativo.
Não seria mais justo para esse profissional um destaque maior de sua atuação
diante da chamada “sociedade do conhecimento”. Análise de todo e qualquer
fenômeno educativo, sobretudo os intencionais, são aspectos relevantes no ato
investigativo do profissional da educação.
O Pedagogo Empresarial, como profissional da educação, tem grande
importância na promoção da melhoria da qualidade dos diferentes processos
organizacionais. A ele cabe analisar, investigar, pôr em prática, aperfeiçoar e
avaliar princípios com objetivo de planejar ações que desenvolvam as
capacidades humanas, através de situações de busca e troca do conhecimento.
Tudo previamente fundamentado e planejado em função dos propósitos que a
organização demanda. Ou seja, utilizar o seu conhecimento de Pedagogo e uni-lo
aos conhecimentos tecnológicos para que o conhecimento dos membros da
organização, e desta propriamente dita, venham à tona e se apresentem de
maneira clara e correta.
Sobre isso afirma Roselene Lindquist
O modelo flexível atual paradigma do setor produtivo, exige um novo perfil de trabalhador, no qual as capacidades subjetivas do indivíduo são essenciais. Este modelo apresenta uma outra lógica de utilização da força de trabalho: divisão menos acentuada do trabalho, integração mais pronunciada de funções (...) Em função da prática produtiva, da automação e flexibilização, há uma apelação para o saber fazer, principalmente para a capacidade de dominar vários segmentos de uma linha produtiva, sendo a palavra de ordem polivalência da mão-de-obra: maior versatilidade na ocupação do posto de trabalho, formação
geral ampliada, formação técnica, envolvimento com a qualidade e atenuação de barreiras entre diferentes categorias de trabalhadores. Um momento em que a capacidade manual não é mais imprescindível, mas a capacidade cognitiva e emocional são os fatores de desenvolvimento e produtividade a empresa reivindica a “mente e o coração” do indivíduo (...) A formação de uma subjetividade abnegada, moldável, competitiva, tendo como objetivo tornar eficiente e eficaz o processo de extração da mais-valia é o principal requisito. Sob o modelo da Qualidade Total (...) o Pedagogo tem um espaço, um espaço “predominantemente pedagógico”. A formação do trabalhador dentro das expectativas do mercado atual exige o reforço da equipe de recursos humanos, uma vez que são grandes as expectativas de um “novo trabalhador” (...).
No entanto, a autora menciona outras formas de atuação do Pedagogo
Empresarial dentro da dinâmica das organizações:
O Pedagogo é o agente educacional da empresa, sua função é a concretização da educação dentro dos interesses empresariais de cada momento específico. Sendo assim, é dentro do contexto da empresa flexível, dos programas de controle do processo de trabalho, do modelo das competências que o Pedagogo se estabelece na empresa como um profissional que agrega valores, pois juntamente com outros profissionais como o Psicólogo, o Administrador, o Assistente Social, a equipe de Recursos Humanos, educa e forma o trabalhador dentro das perspectivas empresariais atuais.Nas empresas esses profissionais atuam na área de Recursos humanos, em setores como: Desenvolvimento e Treinamento, Recrutamento e Seleção, Desenvolvimento Gerenciado. Eles não têm uma função específica de Pedagogo. Embora se afirme que, devido à sua formação, o seu forte seja treinamento, ele atua em várias frentes, como recrutamento, seleção e contratação.
As funções desempenhadas pelo Pedagogo dentro de uma companhia
estão em constante movimento, já que são influenciadas por diversos fatores,
como o desenvolvimento tecnológico, a competitividade e as exigências de
mercado. Atualmente o que impulsiona as ações-chave dentro das organizações
são: mudança e gestão do conhecimento. Nesse contexto, o papel do Pedagogo é
fundamental, pois todo processo de mudança exige uma ação educacional e gerir
o conhecimento é uma tarefa, antes de tudo, de modificação de valores
organizacionais.
Ao relacionar essas formas de atuação do Pedagogo Empresarial, inserido
na sociedade pós-moderna, deve-se atentar na postura pós-moderna de
questionar as orientações teóricas tradicionais da Pedagogia: iluminismo,
autonomia, subjetividade, emancipação. A Pedagogia, como já mencionado, foi
gerada dentro de padrões do Iluminismo, e por conseguinte se expressa através
destes ideais: poder da razão no processo formativo, domínio humano sobre a
natureza, desenvolvimento contínuo da história pela ação humana, progresso da
ciência, capacidade do homem em gerir seu próprio destino, de se autogerir, de
pensar criticamente, de comprometer-se com o destino da História conforme suas
vontades e necessidades.
A crítica pós-moderna precisa ser analisada criticamente, principalmente
pelos profissionais da educação. Nesse sentido, os ideais do projeto da
modernidade que entrelaçam memória e razão com o estabelecimento de uma
esfera pública efetivamente democrática precisam ser defendidos como parte de
um discurso educacional crítico no interior das condições de existência do mundo
pós-moderno e não em oposição a ele.
LIBÂNEO (p.) afirma que
o pedagogo (...) realiza uma prática humana baseada em relações de influência em que é impossível excluir o caráter de intencionalidade, isto é, uma intervenção em direção a finalidades formativas implicando um comprometimento moral com a prática educativa (...). O pedagogo não pode renunciar à busca e construção de uma racionalidade (...). Além disso, como prática social, a educação responde a exigências externas (sociais, econômicas, culturais) que vão além das necessidades e expectativas individuais ou, mesmo, de grupos particulares. (pp. 188, 189).
Por isso o Pedagogo Empresarial, enquanto agente a serviço da
construção do conhecimento dos indivíduos nas organizações, deve prezar pelo
respeito à liberdade, estima à tolerância, fomentando o trabalho em equipe para
gerar ações compartilhadas no trabalho, sempre em consonância com as
diretrizes da organização. Em gestão colaborativa visando aos avanços das
políticas sociais democráticas, o Pedagogo Empresarial deverá manter sempre
postura ética enquadrada com as responsabilidades cidadãs de um educador.
Dentro da realidade pós-moderna o Pedagogo Empresarial, enquanto
profissional comprometido com a produção de conhecimento teórico-prático,
assegurando padrões de qualidade na produtividade, necessita congregar os
avanços científicos e tecnológicos, as transformações no mundo do trabalho, as
novas práticas e movimentos sociais e locais, os fenômenos interculturais e
transnacionais, as demandas sociais pela paz, solidariedade e responsabilidade
social e ambiental objetivando uma perfeita e harmônica humanização, devendo
enriquecer-se do diálogo e da troca com outras disciplinas e outras realidades. Ou
seja, a pós-modernidade pode auxiliar o Pedagogo Empresarial em sua prática
diária, na medida em que este se compromete em exigir os princípios que a
modernidade criou mas não desempenhou eficazmente. Através do respeito às
peculiaridades locais, mas sem perder a visão da totalidade, sua postura crítica
deve se voltar à busca a na formação humana e no desenvolvimento intelectual e
afetivo dos profissionais nas organizações, permitindo-lhes o acesso ao
conhecimento científico e tecnológico e a construção dos indivíduos para a
cidadania crítica e participativa.
CO�CLUSÃO
A pós-modernidade pode ajudar o Pedagogo Empresarial, em suas
atividades diárias junto às organizações, na cobrança do que a modernidade
prometeu e não cumpriu. A modernidade, por sua vez, deve ser mantida como
valor a ser regatado e alcançado na atualidade, fortalecida e renovada com as
críticas pós-modernas e profundamente contígua às novas tecnologias às
mudanças que vêm ocorrendo em todas as esferas sociais.
O Pedagogo Empresarial, em sua postura ética de educador nas
organizações, deve apresentar um saber agir responsável em sua atividade
profissional, diante das críticas e circunstâncias impostas pela realidade pós-
moderna: respeito às diversidades individuais, à pluralidade de culturas, valores e
pensamentos, porém, sem descolar-se da totalidade, do contexto global, da
análise histórica, do respeito à tradição, conforme afirmou LIBÂNEO (p.188), a
crítica pós-moderna é aceitável às teorias globalizantes que excluem a pluralidade
de contextos, mas também propõe uma noção de totalidade
que privilegie formas de análise dessas inter-relações, interdependência e mediações entre os sistemas políticos e sociais. Ou seja, é preciso que o educador preste mais atenção às narrativas construídas pelos grupos particulares, sua experiência social e moral e visão de mundo, mas tenha referenciais para compreender as inter-relações e mediações do contexto global das práticas sociais, políticas e culturais.
Conclui-se que o Pedagogo Empresarial não pode desprezar os valores
engendrados no seio da modernidade justamente por pensar e trabalhar na
formação humana, pois foi no interior daquela que se descreveu ideais de
liberdade, igualdade, justiça e autonomia.
ANEXO 1
LISTA DE ILUSTRAÇÕES:
Fig.1 Obra de arte “Nighthawks” (1942), de Edward Hopper (1882-1967); f. 6
Fig.2 Figura retirada do site www.carroantigo.com.br, com objetivo de ilustrar uma
linha de montagem de uma fábrica fordista; f. 12.
Fig.3 Grafite do artista americano Keith Haring (1958-1990), retirado do site
www.haring.com; f.16.
Fig.4 Obra do artista americano Andy Warhol (1928-1967), retirada do site
www.warhol.org; f.17.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Ana Isabel Guimarães de. Analisando o programa “Pólos de
Educação pelo Trabalho” da Secretaria Municipal de Educação do Rio de
Janeiro. Niterói: UFF, 2006 (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em
Pedagogia).
BOTTOMORE, Tom (ed.). Dicionário do pensamento marxista. 2ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. 456p.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 43 ª ed., São Paulo:
Brasiliense, 2004.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Trabalho,conhecimento,consciência e a educação do
trabalhador : impasses teóricos e práticos. In: Trabalho e conhecimento:dilemas
na educação do trabalhador. São Paulo: Cortez Editora/ Autores Associados,
1987. 96p.,p.13-26.
____________________ Trabalho – educação e tecnologia: treinamento
polivalente ou formação politécnica? In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Trabalho,
educação e prática social: por uma teoria da formação humana. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1991.
_____________________A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida.
In FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria (orgs.) A experiência do trabalho e
a educação básica. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 144p., p.11-27.
GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê?, São Paulo, Cortez,
2008.
LINDQUIST, Roselene N. M. O pedagogo na empresa: um novo personagem nas
novas formas de sociabilidade do trabalho. In: ANPED SUL, 2004, Curitiba - PR.
Anped Sul. Curitiba : Editora da PUC/PR, 2004. v. 1. p. 1-14. Resumo apresentado
em evento.
MANACORDA, Mario A. Marx e a Pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez:
Autores Associados, 1991.
______________. História da Educação: da Antigüidade aos nossos dias. 3ª
ed., São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1992.
MARX, Karl. Divisão do trabalho e manufatura. Cap. XII, L. I, v. I. O Capital:
crítica da Economia Política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1996.
______& ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 3ª ed., São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
________________. O Manifesto Comunista. São Paulo: Autores Associados,
2002.
NAGLE, Jorge. A Educação na Primeira República. In: FAUSTO, Boris (org.).
História Geral da Civilização Brasileira III: O Brasil Republicano. 2. Sociedade
e instituições. São Paulo: Difel, 1985.
NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. 3ª ed., São Paulo: Cortez, 2004.
RODRIGUES, José. A educação politécnica no Brasil. Niterói: Eduff, 1998.