CUSTÓDIO Et Al. Políticas Públicas e Diversidade Cultural Nas Escolas

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    PRACS: Revista Eletrnica de Humanidades do Curso de Cincias Sociais da UNIFAP http://periodicos.unifap.br/index.php/pracs ISSN 1984-4352 Macap, n. 6, p. 165-178, dez. 2013

    Polticas pblicas e diversidade cultural nas escolas no Amap

    Elivaldo Serro Custdio1, Eugenia da Luz Silva Foster2 e Eliane Superti3 1 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Direito Ambiental e Polticas Pblicas da Universidade Federal do Amap (PPGDAPP/UNIFAP), Brasil. 2 Doutora em Educao com ps-doutorado em Educao pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Professora do curso de Pedagogia e do Mestrado em Direito Ambiental e Polticas Pblicas da Universidade Federal do Amap. 3 Doutora em Cincias Sociais com ps-doutorado em Cincia Poltica pela Universidade Federal Fluminense em parceria com a Escola Superior de Guerra. Professora do curso de Cincias Sociais e do Mestrado em Direito Ambiental e Polticas Pblicas da Universidade Federal do Amap

    RESUMO: O artigo tem como objetivo analisar como a Secretaria de Estado da Educao do Amap vem se posicionando diante da questo das polticas pblicas para a diversidade cultural no espao escolar. Trata-se de um estudo exploratrio de natureza qualitativa que adotou a pesquisa bibliogrfica, a anlise documental e a entrevista, como forma de investigao. A partir do campo das polticas pblicas, pro-curou-se observar at que ponto a diversidade cultural tem estado nas pautas como prioridade de governo. Nota-se que, apesar de as chama-das polticas de diversidade terem alcanado maior grau de institu-cionalizao, as concepes que norteiam suas aes ainda so muito dspares e apropriadas de forma fragmentada. Palavras-chave: Poltica Pblica. Diversidade Cultural. Educao. Ao afirmativa. Amap.

    ABSTRACT: Public policies and cultural diversity in education in school Amap. The article aims to analyze how the Ministry of Edu-cation of Amap is positioning itself on the issue of public policies for cultural diversity within the school. This is an exploratory qualitative research literature that has adopted, document analysis and interviews, as a form of research. From the field of public policy, we tried to ob-serve the extent to which cultural diversity has been a priority on the agendas of government. Note that, despite calls "diversity policies" have reached a higher degree of institutionalization, the conceptions that guide their actions are still very disparate and fragmented manner appropriate. Keywords: Public Policy. Cultural Diversity. Education. Affirmative action. Amap.

    1 Introduo A educao, vista pelo vis da diversidade cultural, torna-se um desafio na atualida-

    de brasileira. Sendo assim, ser obrigada a fazer o exerccio de rever os seus caminhos refletindo como ensina, e o que ensina. No sculo em que vivemos a busca da plurali-dade como tambm as lutas contra o racismo equivalem busca de um norte civiliza-dor e nos obriga a pensar novas formas de ver e fazer o/no mundo, incorporando novo saberes baseados em novos referenciais. E nesse processo, promover a sustentabilidade

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    planetria requer uma nova organizao de vida, onde, esta sustentabilidade possa es-tar aliada justia social, e a valorizao da diversidade cultural, respeitando as dife-renas.

    Neste sentido, podemos dizer que uma grande conquista para educao brasileira, foi a Lei n 10.639/2003 que determinou a incluso de estudos sobre Histria da Cultu-ra Afro-Brasileira e Africana no Currculo Escolar do Ensino Fundamental e Mdio na rede pblica e particular. Tal Lei, de certa forma, abriu mais espao para a discusso sobre a discriminao racial e incentivou o maior contato com a riqueza da cultura a-fricana e afro-brasileira. No entanto, so vrios os desafios no que tange as Polticas Pblicas (PP) de incluso de contedos referentes Histria da frica e/ou Cultura Afro-brasileira, no espao escolar.

    No Estado do Amap, de acordo com a Secretaria de Estado de Educao (SEED) possvel observar alguns esforos para que a temtica proposta pela Lei n. 10.639/2003 seja efetivada no mbito das escolas da Rede Pblica de Ensino. Neste contexto, pareceu-nos pertinente e importante pesquisar as Polticas Pblicas de Aes Afirmativas (PPAA) da SEED frente Lei Federal 10.639/2003 e Lei Estadual 1.196/2008 e seus dispositivos.

    O presente trabalho trata-se de um estudo exploratrio de natureza qualitativa que adotou a pesquisa bibliogrfica, a anlise documental e a entrevista, como forma de investigao. O artigo tem como objetivo analisar como a SEED vem fomentando PP diante da questo da diversidade cultural no espao escolar. A partir do campo das PP, procura-se observar at que ponto a diversidade cultural tem estado nas pautas como prioridade de governo.

    Nota-se que, apesar de as chamadas polticas de diversidade terem alcanado maior grau de institucionalizao, as concepes que norteiam suas aes ainda so muito dspares e apropriadas de forma fragmentada.

    O Brasil um pas que se constitui em meio diversidade. Isso significa dizer que a temtica da diversidade e da diferena no um problema indito nos estudos na rea da Educao, de modo que no se podem ignorar as importantes contribuies e teori-zaes que foram construdas a esse respeito.

    O presente trabalho inicia a discusso falando sobre PP: conceitos e percepes. Em seguida, trata das PP em educao: aes afirmativas e diversidade cultural. E por l-timo, discute sobre a Lei Federal 10.639/2003 e Lei Estadual 1.196/2008 no mbito das PP para a adversidade cultural no Amap.

    2 Polticas Pblicas: conceitos e percepes A discusso sobre PP vem ganhando espao nos ltimos anos em diversos setores.

    O assunto ganhou relevncia com a constituio de grupos de trabalho ou mesas tem-ticas. No caso do Brasil, o tema ganhou impulso no fim dos anos 80, poca em que estudos sobre a redemocratizao do pas e as novas formas de gesto do oramento pblico presentes na reforma constitucional de 1988 vieram tona.

    A poltica permeia todas as atividades humanas atravs dos tempos. A rea de estu-dos de PP no Brasil nasce com a transio do autoritarismo para a democracia. O a-

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    vano dos estudos nessa rea j pode ser considerado significativo, se for avaliado pelo nmero de livros, dissertaes, teses, papers ou artigos disponveis.

    O conceito e definio de PP muito complexo. Assim, no existe uma nica defi-nio ou qualquer consenso sobre o que seja uma PP (SOUZA, 2007; SECCHI, 2010; SUPERTI, 2011; BONETI, 2011). Pelo que se observa, a definio de uma PP um conceito abstrato que se materializa por meio de instrumentos variados, ou seja, este campo de estudo bastante complexo e multiforme, onde h espao para diferentes debates, abordagens e concepes.

    Para analisar as experincias de PP, preciso partir de uma conceituao terica so-bre o tema. Por isso, compreender o conceito de PP fundamental para avaliar uma ao assim denominada. Percebe-se que muito comum o debate sobre PP girar em torno da ao do Estado.

    Segundo Boneti (2011), a prpria academia, tradicionalmente, assim, concebe as PP, relacionando-as a aplicao dos recursos pblicos, como forma de cumprimento das obrigaes legais do Estado, isto , da materializao dos direitos sociais. Nosso autor compreende que PP representam muito mais que a ao governamental e o ge-renciamento de recursos, pois so aes que nascem do contexto social. O autor no desvaloriza a questo gerencial dos recursos pblicos e a destinao das aplicaes realizadas pelo Estado. Entende que o principal nesta discusso relaciona-se ao surgi-mento e a aplicao de uma PP.

    Isso significa dizer que o contexto de formulao de uma PP engloba o Estado, a sociedade civil organizada com os movimentos sociais em geral e as classes sociais. E na correlao de foras desses atores que as PP so definidas. Portanto, ingnuo pensar que o Estado uma instituio neutra que visa ao bem estar de toda a socieda-de, da mesma forma como no conveniente, no atual contexto poltico, econmico e cultural, gerado pela globalizao, analis-lo como ferramenta de representao da classe dominante.

    Desta maneira, entende-se que no possvel construir uma anlise da complexida-de que envolve a elaborao e a operacionalizao das PP sem se levar em considera-o a existncia de uma estreita relao entre o estado e as classes sociais (POU-LANTZAS, 1990).

    a correlao de foras existentes entre os movimentos sociais e os diversos seg-mentos da sociedade que determinam a formulao e a operacionalizao das PP. Mas importante enfatizar que, mesmo com o jogo de correlao de foras, a definio das polticas pblicas condicionada aos interesses das elites globais por fora da de-terminao das amarras econmicas prprias do modo de produo capitalista (BO-NETI, 2011, p. 14).

    Com isso, acredita-se que embora as classes dominantes sejam agentes determinan-tes na formulao e operacionalizao das PP, existem tambm outras foras represen-tadas pelos movimentos e classes sociais que atuam na contramo aos interesses dessas classes.

    Vale lembrar neste momento que as dinmicas de correlaes de formas contidas nas deliberaes sobre PP, tambm so percebidas por Castro (2001) e Heidemann (2009) que compreendem PP na mesma perspectiva que Boneti, isto , como resultado

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    da correlao de foras dos atores sociais envolvidos, inclusive, com influncia dos agentes de mbito global.

    Concorda-se com Boneti que as classes dominantes internacionais e nacionais so agentes determinantes na elaborao e implementao das PP, mas no so os nicos. Outros agentes, como as Organizaes no governamentais (ONG), movimentos soci-ais, partidos polticos, confrontam os projetos das elites e classes dominantes.

    Sendo assim, entende-se que as PP so aes governamentais dirigidas a resolver determinadas necessidades pblicas. As polticas podem ser sociais, macroeconmicas ou outras. Sobre esta questo, Souza (2007) explica que debater sobre PP implica res-ponder questo sobre o espao que cabe aos governos na definio e implementao de PP.

    Portanto, falar do papel dos governos falar de: autonomia; influncia interna e ex-terna; coalizes com grupos de interesse e movimentos sociais. Usualmente o ciclo das polticas concebido como o processo de formulao, implementao, acompanha-mento e avaliao. No h uma forma unvoca de se analisar as PP, desde a concepo e formulao at o acompanhamento e a avaliao.

    As polticas sofrem diversas influncias que condicionam a sua realizao. O passa-do histrico do Brasil nos mostra um povo moldado por sculos de colonizao. Mes-mo aps a Independncia do Brasil, durante todo o Imprio as ideologias polticas que estavam em discusso em diferentes pases pouco afetavam as realidades social e edu-cacional brasileira.

    3 Polticas Pblicas em Educao: aes afirmativas e diversidade cultural As polticas educacionais do Brasil sempre se mostraram inconsistentes, ao sabor

    dos polticos de prestgio do momento. Na verdade, a histria brasileira no registra, ao longo do perodo colonial ou Imprio, preocupao com polticas pblicas educa-cionais. Somente no sculo XX que se puderam registrar as primeiras lutas por uma escola de qualidade para todos. No entanto, a construo de PP educacionais que aten-dam aos interesses da populao no tem sito fcil para os educadores brasileiros (VALLE, 2009).

    Percebe-se que os fatos polticos ocorridos no Brasil no sculo XX, que culminaram com a abertura democrtica nos anos de 1980, levaram a educao a ocupar novos es-paos no cenrio nacional, em busca de um caminho que efetivasse o anseio da prpria populao brasileira por melhores condies de vida. E isso bastante evidente quan-do se verifica, por exemplo, a luta de representantes da sociedade civil em geral, mo-vimentos sindicais, bem como de educadores por uma escola pblica laica, democrti-ca e de qualidade.

    A histria mostra-nos a luta pelo processo de implantao do sistema capitalista, imputando sociedade diferentes concepes de educao. Esse processo foi traduzido em diferentes leis que buscaram consolidar as ideias dominantes e tambm apontaram para a compreenso de como se desenvolveram os sistemas educacionais.

    J expressa Marx (1971, p. 11), quando escrevia que os homens fazem sua prpria histria, mas no a fazem como querem, em circunstncias eleitas por eles mesmos e

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    sim, em circunstancias diretamente dadas e herdadas do passado. A tradio de todas as geraes mortas oprime como pesadelo o crebro dos vivos.

    Ao longo da histria, a escola tem estado atrelada aos interesses do Estado que tem representado a classe dominante na moldura da produo de conhecimento, garantido assim, o consenso de que a representante de toda a nao. Dessa maneira, muitas situaes polmicas tm permeado as PP educacionais da educao brasileira (VAL-LE, 2009).

    Sobre o Estado, Marx o concebe como um aparelho repressivo; como uma mquina que possibilita classe dominante, assegurar a dominao sobre outras classes, com a finalidade de submet-la a explorao capitalista.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN), Lei n 9.394/1996, em seu artigo 26-A, expressa uma das aes pblicas que busca minimizar as desigualda-des raciais e sociais valendo-se da promoo de uma educao antirracista e antidis-criminatria. Trata-se de uma poltica educacional controversa, pois exige situar-se num movimento contraditrio e complexo que comporta diferentes direes.

    Essa questo fica bem evidente quando se observa os registros e os dados estatsti-cos de pesquisas realizadas no mbito nacional que comprovam a existncia da desi-gualdade racial, onde h racismo individual e institucional.

    Uma das principais reivindicaes apresentadas pelo movimento negro no sculo passado, no mbito da Subcomisso de negros, populaes indgenas, pessoas defici-entes e minorias, foi a educao, ou seja, a proposta de que o texto da CF de 1988 a-firmasse o compromisso da educao com o combate ao racismo e todas as formas de discriminao, com a valorizao e respeito diversidade assegurando a obrigatorie-dade do ensino de histria das populaes negras do Brasil, como uma das condies para o resgate de uma identidade tnico-racial e a construo de uma sociedade plurir-racial e pluricultural (SANTOS & MACHADO, 2007 apud PEDROSO, 2010).

    Segundo o que consta na legislao brasileira, proibida toda e qualquer forma de discriminao ou preconceito. No entanto, tem-se observado que na sociedade brasilei-ra, uma realidade bastante diferente, pois estudos apontam um alto ndice de pobreza, desigualdade social e processos de escolarizao. Logo, entende-se cada vez mais, a necessidade de se discutir PPAA que garantam um pas menos desigual, com melhores condies de vida para a populao brasileira.

    Verifica-se que a aprovao do Estatuto da Igualdade Racial, representou um mo-mento decisivo no aperfeioamento da sociedade brasileira, ao garantir populao negra a igualdade de oportunidades, a preservao dos direitos tnicos individuais e coletivos e o combate intransigente a toda forma de discriminao. A nova lei consi-derada uma das mais importantes aes afirmativas em prol da comunidade afro-brasileira, no sentido de resgatar, oficialmente, sua imensa contribuio histrica constituio da nacionalidade (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2010).

    Sobre as PPAA, Valle (2009, p. 44), expressa que ao afirmativa o conjunto de polticas pblicas e privadas de combate a todas as formas de discriminao e que a ao afirmativa a expresso que denomina as medidas propostas no campo das pol-ticas pblicas para promover a igualdade entre cidados. Portanto, as PPAA, se carac-terizam pelas prticas de reconhecimento sociocultural e de igualdade de oportunida-

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    des. E numa sociedade extremamente desigual e heterognea como a nossa, as aes afirmativas e consequentemente as PP, devem desempenhar um importante papel.

    A princpio, as aes afirmativas originadas na ndia e adotadas na Europa e nos Es-tados Unidos. No caso deste ltimo, foram implementadas pelos movimentos sociais civis de comunidades negras lideradas por Martin Luther King na dcada de 1960, com objetivo de eliminar barreiras sociais e conflitos entre negros e brancos.

    Diferentemente das polticas de incluso social, as PPAA partem da compreenso de que a situao de pobreza e/ou desigualdade social em que se encontram determi-nados grupos sociais, no pode ser atribuda apenas aos indivduos isoladamente, e tampouco explorao resultante do modo de produo capitalista. As PPAA so en-tendidas como um aprimoramento jurdico em uma sociedade cujos valores so pauta-dos pelo princpio da igualdade de oportunidades na competio entre indivduos li-vres, justificando-se a desigualdade de tratamento apenas como forma de restituir tal igualdade (GUIMARES, 1999, p. 233).

    Cabe lembrar que a ao afirmativa se diferencia da reparao por considerar que o pertencimento a determinado grupo discriminado historicamente no suficiente para que algum seja beneficiado, e que devem ser levados em conta tambm critrios de mrito e qualificao. E se diferencia das polticas redistributivas por exigir que a ca-rncia socioeconmica dos indivduos seja identificada como consequncia de uma discriminao tnica, racial, sexual, de gnero (MOEHLECKE, 2009).

    Com relao ao termo diversidade e diversidade cultural, a pesquisa aponta que di-versidade propriedade da pessoa ou daquilo que diverso; diferena; desigualdade; variedade; incoerncia; oposio; incluso (ABRAMOWICZ, 2006; BERNARD, 2005; CANDAU, 2005; FLEURY, 2000; TORRES E PRES-NEBRA, 2004).

    A questo da diversidade, especialmente na ltima dcada, cada vez mais presente no debate educacional brasileiro. A expresso diversidade traz em si um conjunto mltiplo e complexo de significados. A diversidade sempre foi associada aos novos movimentos sociais, em especial aos de cunho identitrio, articulados em torno da de-fesa das chamadas polticas de diferena (GIROUX, 1999; HALL, 2003).

    A participao poltica de determinados grupos definidos a partir de uma identidade cultural em comum o aspecto mais controverso e tambm o mais difcil de ser equa-cionado. possvel identificar uma preocupao com a diversidade cultural em inicia-tivas que vem sendo tomadas no mbito das PP brasileiras, articuladas a questes co-mo gnero, raa e etnia (MOEHLECKE, 2009). Os trabalhos que analisam a diversi-dade cultural brasileira na rea de PP so relativamente recentes e escassos (MELO, 1999; SANSONE, 1998).

    J na rea da educao, essa questo est mais presente em pesquisas, pois embora o termo diversidade cultural muitas vezes no esteja presente, mas utiliza-se com frequncia conceitos de multiculturalismo, pluralismo cultural e interculturalidade para se referir aos diferentes modos de interpretar a interao entre os grupos sociais e suas

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    culturas. Hall (2003) afirma que o conceito diversidade vem sendo utilizada, especi-almente no mbito do poder pblico, como sinnimo de multiculturalismo1.

    Do ponto de vista cultural a diversidade pode ser entendida como uma construo histrica, cultural e social das diferenas, ultrapassando as caractersticas biolgicas, observveis a olho nu (GOMES, 2008, p. 17). A urgncia em trabalhar com a diversi-dade atualmente implica pensar a maneira com que a escola lida com esta questo no seu cotidiano, no seu currculo, nas suas prticas. Estamos no terreno das desigualda-des, das identidades e das diferenas (idem, p. 22).

    As polticas nascem no contexto social como conjunto de medidas para intervir na realidade social, mas elas nem sempre visam sanar uma realidade concreta, na maioria das vezes, objetivam apenas responder aos interesses das classes dominantes. Desta forma, a implantao das Polticas Educacionais (PE) para a efetivao da incluso da diversidade cultural (e racial) nos currculos e nas prticas escolares, torna-se comple-xa (ou talvez dependa de sorte), ou seja, a implementao de contedos sobre a diver-sidade cultural nos currculos escolares, precisa interessar de alguma forma s classes dominantes (BONETI, 2011).

    A contemporaneidade tem especial valor, enquanto favorece o reconhecimento das diferenas. Porm, a implementao de polticas efetivas da diversidade cultural, na educao no tarefa fcil, para isso, depender dos interesses do governo no poder, dos interesses das classes mais influentes locais, nacionais e internacionais interessa-das nos benefcios que eles tero com a implantao de um projeto, como de tantos outros fatores que podem influenciar para que um projeto seja aprovado e implemen-tado.

    Desta forma, as culturas locais, diferentes daquela etnocntrica europeia, so exclu-das, perpetuando na sociedade o padro homogeneizador, dos imaginrios coletivos e das mentalidades. Observa Filice (2011) que nos documentos polticos do governo federal, nos instrumentos normativos da educao pblica e no Plano de Desenvolvi-mento da Educao (PDE), propostos pelo MEC, que h ainda o predomnio da orien-tao universalista, sem recorte de raa e gnero.

    Na contramo dessas formas de lidar com as desigualdades, Munanga (2005) de-nuncia os limites dessa orientao neutra e universalista que desconsidera o peso da histria, da cultura e da memria coletiva nas PP. No atual contexto educacional, a diversidade nos desafia a repensar, reorganizar e reestruturar a educao para as rela-es tnico-raciais e educao em direitos humanos.

    4 A Lei Federal 10.639/2003 e Lei Estadual 1.196/2008 no mbito das polticas pblicas para a adversidade cultural no Amap

    A inteno da Lei n 10.639/2003, ao estabelecer o estudo da Histria da frica e da Cultura Afro-Brasileira no cotidiano das escolas, possibilitar aos alunos, professores e demais participantes da comunidade escolar a construo de uma conscincia que

    1 Refere-se coexistncia enriquecedora de diversos pontos de vista, interpretaes, vises, atitudes, provenien-tes de diferentes heranas culturais. Seu conceito pressupe uma posio aberta e flexvel, baseada no respeito dessa diversidade e na rejeio a todo preconceito ou hierarquia (MACHADO, 2002, p. 37).

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    valorize os negros e seus descentes na formao do povo brasileiro e no um modismo influenciado por datas do calendrio escolar como por exemplo, o Dia da Conscincia Negra (20 de novembro)2 e o Dia Nacional de Combate Intolerncia Religiosa (21 de janeiro)3 (RODRIGUES FILHO & PERON, 2011, p. 37).

    No tocante ao Amap, assim como os outros Estados da Federao, se constitui em meio riqueza da diversidade. Porm, percebe-se a existncia de situaes preconcei-tuosas, alm de processos discriminatrios de desigualdades, contradies, autorita-rismos, dentre outros, os quais so produzidos e reproduzidos nos diferentes espaos educativos. Portanto, pensar a diversidade pressupor que a pluralidade e a multiplici-dade so condies do ser humano (FRANA, 2010). Percebe-se no curso da histria brasileira que as escolas assim como outras extenses como a famlia, tm sido espa-os de reproduo de valores sociais hegemnicos.

    A educao, assim como as PP, pensada e elaborada dentro de um processo com-plexo, envolvendo organizaes burocrtico administrativas, deixando de ser atividade neutra. Em nossa sociedade a educao planejada e regulamentada de acordo com as polticas definidas por uma correlao de foras complexas, envolvendo interesses lo-cais, nacionais e internacionais e essa complexidade da esfera social, que so PP.

    Sabe-se que a tarefa de implementar a Lei n 10.639/2003 nas escolas de educao bsica difcil e complexa devido os entraves que a sociedade vem enfrentado no pro-cesso de reconhecimento de sua identidade cultural. Sendo assim, uma releitura das PE excludentes da cultura africanas no processo escolar e na formao de docentes capaci-tados (as) para reconhecer as identidades dentro das diferenas culturais seja pertinen-te. Mesmo porque a diversidade cultural como patrimnio constitui um direito funda-mental de toda a humanidade, pois se trata de uma srie de manifestaes que congre-ga variadas formas de saber, fazer e criar.

    Assim, nessa perspectiva de mudanas, o Governo do Estado do Amap, princi-palmente por fora das presses externas do movimento negro, sancionou as Leis de n 1.196/2008 e 1.519/2010.

    A Lei Estadual n 1.196/2008 torna obrigatrio o ensino da Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e mdio, oficiais e particulares. Alm de aderir ao texto original da Lei Federal n 10.639/2003, acrescen-ta uma importante inovao em seu pargrafo nico, estabelecendo a disponibilizao de curso de especializao para os professores de histria da rede pblica de ensino.

    Com o advento desta Lei, foi criado em 2008, o Ncleo de Educao tnico-Racial (NEER), que est subordinado a Coordenadoria de Educao Especfica (CEESP) da SEED. Pelo que consta nos arquivos do NEER (s/d, p.3-4), o Ncleo de Educao t-nico Racial tem vrias misses. Entre elas, destacamos algumas: a) Resgatar elemen- 2 Esta data foi estabelecida atravs da Lei n 10.639/2003. Foi no dia 20 de novembro, no ano de 1695, que mor-reu Zumbi, lder do Quilombo dos Palmares. A data considerada como uma ao afirmativa de promoo da igualdade racial e uma referncia para a populao afrodescendente dedicada reflexo sobre as consequncias do racismo e sobre a insero do negro na sociedade brasileira. 3 uma data marcante para os brasileiros que lutam pelo respeito entre os diferentes credos. A celebrao foi oficializada pela Lei n 11.635/2007, em homenagem a Gildsia dos Santos e Santos, mais conhecida como Me Gilda, do terreiro Ax Abass de Ogum, em Salvador Bahia. A religiosa enfartou aps ver seu rosto estampado na capa da Folha Universal com a manchete: Macumbeiros charlates lesam o bolso e a vida dos clientes.

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    tos ligados valorizao da cultura do negro a partir da perspectiva das relaes tni-co-raciais; b) Discutir junto comunidade escolar, estratgias de insero no currculo escolar de questes referentes histria e cultura africana; c) Desenvolver atividades voltadas para a percepo da comunidade quilombola enquanto espao organizado de afirmao da cultura afrodescendente; d) Articular o conjunto das coordenadorias da SEED e seus respectivos Ncleos e Unidades, para executar todas as aes previstas no PAR (Plano de Aes Articuladas), etc.

    Segundo o arquivo de projetos do NEER (s/d, p.2), as aes so: a) Promover ofici-nas de capacitao sobre as relaes tnico-raciais para os profissionais da educao (Gestores, tcnicos, professores, merendeira, etc..), destacando a importncia poltica, cultural e sociolgica das populaes quilombolas brasileiras - cones da presena ne-gra no Estado do Amap; b) Desenvolver palestras junto aos alunos - momentos de discusso e reflexo sobre o processo de preconceito e segregao racial - a partir dos seus variados mecanismos de reproduo do racismo (mdia escrita e televisiva, nossas prprias aes, etc..); c) Promover visitas as Escolas Situadas em Comunidades Qui-lombolas ou que atendam alunos oriundos dessas comunidades, fazendo um diagnsti-co situacional; d) Palestras, Seminrios e outras atividades, abordando os marcos le-gais (10.639/03, 1196/08, etc.), a atuao e competncias do NEER, e sugestes de atividades a serem trabalhadas com os estudantes e a comunidade escolar.

    Pelo que se percebe muitas so as atribuies do NEER/AP, no que se refere ao fo-mento da implementao da Lei que institui a obrigatoriedade do ensino da Histria e Cultura Afro-brasileira e Africana no currculo escolar dos ensinos fundamental e m-dio nos estabelecimentos oficiais e particulares.

    No entanto, verifica-se que no h uma PP eficaz que garanta esses direitos, pois desde que foi sancionada e publicada no Dirio Oficial a Lei n 1196/08, somente ago-ra em 2012, a SEED atravs do NEER iniciou o cumprimento do pargrafo nico que expressa que A Escola de Administrao Pblica do Estado disponibilizar curso de especializao para os professores de histria da rede de ensino fundamental e mdio, visando ao atendimento do ensino estabelecido no caput do art.1.

    J a Lei Estadual n 1.519/2010 institui, no mbito do Estado do Amap, o Progra-ma Amap Afro. Este programa est subordinado Secretaria Extraordinria de Polti-cas para os Afrodescendentes (SEAFRO), responsvel pela Coordenao Geral do programa e sua gesto, cabendo-lhe representar institucionalmente o Programa, e fixar, anualmente, suas diretrizes e metas, assim como coordenar as aes institucionais e os atos administrativos necessrios para sua implementao e execuo.

    O Programa tem ainda a finalidade de programar PP direcionadas reduo das de-sigualdades raciais para a populao negra e/ou afrodescendente e quilombola, propor-cionando aes exequveis para garantir melhoria das condies de vida e a consolida-o de seus direitos constitucionais de cidados. Dentre os seus colaboradores a SEED, entre outros rgos.

    Em relao as prioridades desse programa, destaca-se em especial, o Curso de Es-pecializao em Ensino de Histria e da Cultura Afro-brasileira (foco de anlise des-te trabalho) que tem como objetivo: capacitar professores licenciados da rede pblica estadual de ensino do Estado do Amap, para a organizao curricular, elaborao de

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    material didtico e para as prticas educativas que envolvem os contedos de Histria e da Cultura Afro-brasileira e Africana que foi orado no ano de 2012 em R$ 679.601,544 .

    Considera-se um grande avano para todos os amapaenses as PP de aes afirmati-vas que visem valorizar a diversidade cultural nacional e em especial, regional. Entre-tanto, verifica-se que nem sempre aquilo que se tem no papel atravs de leis que garan-tam esses direitos, colocado em prtica.

    No caso das aes educacionais para a diversidade cultural, tem-se percebido que sua execuo, ainda anda em passos muito lentos, pois embora a Lei esteja em vigor desde 2010, somente em 2012, os rgos competentes empenharam-se na execuo dos programas previstos conforme informaes do Programa Amap Afro.

    Embora a obrigatoriedade da insero em todo o currculo da educao bsica- em especial nas reas de Educao Artstica, Literatura e Histria Brasileira - dos conte-dos de Histria da frica e Cultura Afro-Brasileira e Africana e, por conseguinte, no projeto poltico-pedaggico de cada instituio de ensino esteja em vigor desde 2003, somente no ano de 2012 o Estado do Amap, atravs da Lei n. 1.519/2010, investiu em um curso de especializao em Histria e Cultura Africana e Afro-brasileira com a finalidade de cumprir com a implementao da Lei n 10.639/2003 nas escolas da Re-de Estadual de Educao.

    Percebe-se que outros programas de suma importncia deveriam estar sendo aplica-dos e que no foram executados em 2011/2012. Isso demonstra descaso e falta de compromisso com as PPAA que tratam da diversidade cultural no espao escolar ama-paense. Munanga (2008) afirma que desconhecer a Lei contribui para o fortalecimento de resistncias na aplicao da prpria lei, mas lembra de que preciso que no con-fundamos no conhecer a lei com no querer conhecer a Lei.

    Em se tratando particularmente sobre o curso de especializao que se encontra em processo de execuo e sob responsabilidade da NEER/SEED, procurou-se esta chefia, para esclarecimento de alguns pontos sobre tal poltica. Segundo informaes, o curso de especializao especfico na rea de Histria da frica e Cultura Afro-brasileira e est sendo financiado totalmente com recursos da rede pblica da Educao Bsica do Estado, onde 100 professores efetivos que se encontram em sala de aula participam recebendo todo apoio e material didtico necessrio. Dentre estes, encontram-se pro-fessores de Histria, Artes, Geografia e Pedagogia.

    Segundo ainda o chefe da NEER, o curso est sendo executado pela Faculdade Atu-al ganhadora do processo licitatrio educacional da SEED - atravs de professores mestres e doutores. Sua oferta a cada 15 dias e que o principal objetivo da NE-ER/SEED preparar os professores e demais profissionais da educao para um di-logo mais terico/metodolgico para uma educao para as relaes tnicas raciais. Ressalta o servidor, que alm deste curso, a SEED tem intenes de trabalhar com a editorao e publicao dos melhores projetos elaborados pelos alunos, projetos estes de interveno sendo ainda um requisito para a obteno do ttulo de especialista.

    4 Ver tabela completa no site oficial da SEAFRO/AP. Eixo 2: EDUCAO. Disponvel em .

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    Alm dessas aes, importante destacar que o NEER, tem desenvolvido outras a-es que visam valorizao da diversidade cultural no Amap: Encontro Estadual de Educao Quilombola: "Terra, tradio e liberdade: uma histria de vida" realizado nos dias 10 e 11 de novembro de 2011 no auditrio do Centro de Cultura Franco Ama-paense, Macap-AP; Curso sobre o kit "A Cor da Cultura" em 2012, um mecanismo oferecido que auxilia na aplicao da Lei 10.639/2003, realizado pela Fundao Futu-ra, mantenedora do Canal Futura em parceria com NEER/SEED e SEAFRO, entre ou-tros aes como reunies, palestras e discusses.

    5 Consideraes finais Ao discute-se sobre PP e diversidade cultural percebe-se logo de incio muita resis-

    tncia social, j que durante muitos anos a questo cultural esteve pautada em uma valorizao exacerbada da cultura branca europeia em detrimento da cultura africana e afro-brasileira. Sabe-se que a tarefa de implementar a Lei n 10.639/2003 nas escolas de Educao Bsica difcil e complexa devido os entraves que povo brasileiro en-frentou e vem enfrentado no processo de reconhecimento de sua identidade cultural.

    A inteno neste trabalho no que se mude de educao eurocntrica para uma educao afrocntrica, mas, sobretudo, em dispensar a devida ateno aos aspectos culturais afro-brasileiros que durante muitos anos foram discriminados e silenciados na educao nacional. E a prova de que a herana cultural africana no Brasil nunca ocu-pou posio de igualdade com outras identidades no sistema de ensino a prpria promulgao da Lei 10.639/2003.

    Sabe-se que ainda muito cedo fazer concluses sobre as PPAA que a SEED vem adotando ou fomento para o desenvolvimento de um trabalho que vise implementa-o de PP para diversidade cultural na educao escolar no Amap.

    Observa-se que o Governo do Amap tem se preocupado com leis, programas e pro-jetos que garantam o cumprimento das leis federais para a educao das relaes tni-co-raciais. Entretanto, a dvida que fica se realmente essas aes esto sendo discu-tidas e postas em prtica? Ser que os investimento na reorganizao curricular, na formao inicial e continuada de educadoras/es, na reviso das metas oramentrias e na criao de uma gesto pblica democrtica e inclusiva tem sido efetivada de forma eficaz, garantido assim os direitos ora conquistados?

    Acredita-se que uma PP eficaz que garanta a concretizao dessas aes na prtica se faz necessrio, levando-se em considerao uma maior implementao na reorgani-zao curricular, na formao inicial e continuada de educadoras/es, na reviso das metas oramentrias e na criao de uma gesto pblica democrtica e inclusiva.

    Dentro da concepo de PP de Estado e de Governo, necessrio que se faa uma releitura das polticas educacionais excludentes da cultura africanas no processo esco-lar e na formao de docentes capacitados (as) para reconhecer as identidades dentro das diferenas culturais. Mesmo porque a diversidade cultural como patrimnio consti-tui um direito fundamental de toda a humanidade, pois se trata de uma srie de mani-festaes que congrega variadas formas de saber, fazer e criar.

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    Sendo assim, preciso repensar as PPAA que esto sendo desenvolvidas para a va-lorizao da diversidade cultural no espao escolar, preciso refletir sobre esta dimen-so por meio de propostas curriculares de atividades que permitam a compreenso da dinmica e das relaes que ali se estabelecem. Portanto, acredita-se que a consolida-o de PPAA e educao para as relaes tnico-raciais no Amap de suma impor-tncia para o pleno desenvolvimento da democracia.

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