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ÉVERLY PEGORARO DIZERES EM CONFRONTO A REVOLTA DOS POSSEIROS DE 1957 NA IMPRENSA PARANAENSE

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Éverly Pegoraro

Dizeres em confronto

a revolta Dos Posseiros De 1957

na imPrensa Paranaense

Universidade Estadual do Centro-Oeste

Guarapuava - Irati - Paraná - Brasil

www.unicentro.br

Éverly Pegoraro

Dizeres em confronto

a revolta Dos Posseiros De 1957 na

imPrensa Paranaense

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

UNICENTRO

Catalogação na PublicaçãoRegiane de Souza Martins -CRB9/1372

Biblioteca Central Campus Guarapuava

Copyright © 2008 Editora UNICENTRO

Conselho Editorial

Presidente: Marco Aurélio RomanoBeatriz Anselmo OlintoCarlos Alberto KühlHélio SochodolakLuciano Farinha WatzlawickLuiz Antonio Penteado de CarvalhoMarcos Antonio QuinaiaMaria Regiane TrincausOsmar Ambrosio de SouzaPaulo Costa de Oliveira FilhoPoliana Fabíula CardozoRosanna Rita SilvaRuth Rieth Leonhardt

Editora UNICENTRO

Direção: Beatriz Anselmo OlintoAssessoria Técnica: Andréa do Rio Alvares, Carlos de Bortoli, Oséias de Oliveira e Waldemar FellerDivisão de Editoração: Renata DaleteseDivisão de Revisão: Rosana GonçalvesSeção de Revisão Lingüística: Níncia Cecília Ribas Borges TeixeiraCorreção: Denise Gabriel WitzelDiagramação: Andréa do Rio Alvares, Anna Júlia Peccinelli Minieri e Eduardo Alexandre Santos de Oliveira. Diagramadora: Andréa do Rio AlvaresCapa: Fernanda P. M. Guevara MalvestitiImpressão: Gráfica UNICENTRODireção: Lourival GonschorowskiMapas: Mafalda Francischett

Reitor: Vitor Hugo Zanette Vice-Reitor: Aldo Nelson Bona

Pegoraro, Éverly

Dizeres em confronto: a Revolta dos Posseiros de 1957

na imprensa paranaense / Éverly Pegoraro. – – Guarapuava:

Unicentro, 2008.

243 p.: il.

Bibliografia

ISBN 978-85-89346-93-1

1. Paraná – História. 2. Paraná – Francisco Beltrão –

História. 3. Revolta dos Posseiros. 4. Revolta dos

Posseiros – Aspectos Jornalísticos. I. Título.

CDD 981.62

P376d

Para minha família e amigos,

com todo amor.

Agr

adec

imen

tos

agraDecimentos

À minha orientadora, professora Ismênia, por toda a

ajuda durante o meu mestrado.

À Unicentro e a Universidade Federal Fluminense, pela

oportunidade de desenvolver uma pesquisa que traz em si um

pouco de minha própria história e do povo de minha região, o

Sudoeste do Paraná.

Aos professores Sitillo Voltolini, Márcia Motta, Beatriz

Olinto e Verônica Secreto, pois sua ajuda foi fundamental para a

realização desse trabalho.

Aos meus depoentes, por compartilharem comigo

memórias tão preciosas.

À Mafalda Francischett, pela sua disponibilidade em

elaborar os mapas que aqui se encontram.

À Fernanda Pacheco, pelo desenvolvimento de uma arte

tão criativa para a capa do livro.

A meus pais, irmão e amigos, pela compreensão e pelo

apoio.

Não poderia deixar de registrar um agradecimento

especial a Rogério e Janaína, amigos tão queridos que me

acolheram todas as vezes que precisei de hospedagem em

Curitiba.

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Também deixo meus agradecimentos a todos os demais

que, mesmo não mencionados aqui, sabem que ajudaram a

tornar esse livro uma realidade.

Finalmente, agradeço a Deus, a quem devo tudo que sou

e tudo que tenho.

[...] os falares diferem de grupo para grupo, e

cada homem é prisioneiro de sua linguagem: fora

da sua classe, a primeira palavra marca-o, situa-o

inteiramente e expõe-no com toda a sua história. O

homem é oferecido, entregue pela sua linguagem,

traído por uma verdade formal que escapa

às suas mentiras interesseiras ou generosas.

Roland Barthes

Sum

ário

sumário

Prefácio............................................................................. 13

Apresentação ................................................................... 17

A Revolta dos Posseiros de 1957 ...................................... 25

A voz de um conflito: a Rádio Colméia na Revolta dos

Posseiros de 1957 .............................................................99

As palavras de um conflito: discursos sobre a Revolta

dos Posseiros de 1957 nas páginas da imprensa

paranaense ..................................................................... 143

Considerações Finais .......................................................223

Referências ......................................................................229

Lista de siglas .................................................................. 241

Pref

ácio

Prefácio

Um país de dimensões continentais como o nosso, no

campo historiográfico, sofre, inevitavelmente, as conseqüências

das generalizações produzidas a partir dos centros hegemônicos,

político-econômicos e, naturalmente, culturais.

A história local e regional conheceu um grande

desenvolvimento, no Brasil, a partir de 1980, com a consolidação

e a multiplicação dos programas de pós-graduação nas

universidades públicas, federais e estaduais.

A implantação de cursos de mestrado e doutorado,

praticamente em todos os Estados da União, propiciou condições

objetivas para o desenvolvimento material das pesquisas.

Paralelamente à produção de novos conhecimentos, colocou-se a

necessidade da preservação das fontes e a questão da organização

e da disponibilização dos acervos públicos e privados.

Não se tratava mais, porém, da velha história regional,

vassala dos ufanismos e, sim, de um esforço sério e sistematizado

de pesquisa. Assim, o sentido da história local e regional não

se aprisiona nos seus limites geográficos, mas se articula,

devidamente, com as estruturas mais amplas em que se insere.

Dessa forma, as realidades menores, recortadas pelo

historiador, buscam, na maioria das vezes, respostas específicas

para questões gerais, produzindo realidades mais amplas,

regionais, nacionais e, até mesmo, internacionais, sobretudo

nessa conjuntura do capitalismo globalizado.

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O trabalho de Éverly Pegoraro é exemplar nessa

perspectiva.

Dominando o debate historiográfico sobre o tema,

sustentada por adequado instrumental teórico-metodológico,

lançou-se à pesquisa, incorporando novas fontes e utilizando

abordagens originais, sem, na verdade, se afastar dos pressupostos

fundadores do conhecimento histórico.

Docente da Área de Comunicação, enfrentou o desafio

de cursar o Mestrado em História, em um dos programas mais

qualificados nesta área, no Brasil.

Ainda que a escolha do tema e, sobretudo, seu tratamento

através do discurso jornalístico revelem sua procedência

acadêmica, apreendeu e repassou, no seu texto, a noção do

processo histórico, o peso das dominações de classe e a matriz

explicativa dos conflitos.

A Revolta dos Posseiros de 1957 constitui-se em um dos

capítulos dos conflitos agrários no país, e, sem dúvida, o mais

expressivo da história recente do Paraná, estado que, desde

o início do seu povoamento, foi cenário de inúmeras disputas

de terras. A autora propôs uma abordagem inteiramente

original para recuperar aspectos praticamente inexplorados na

historiografia anterior.

O objetivo principal da pesquisa era realizar o estudo

comparativo do discurso jornalístico, produzido pelos periódicos

Gazeta do Povo e O Estado do Paraná, acerca daquele conflito.

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Valeu-se de um recorte cronológico, que compreendia os

meses de deflagração do movimento e de sua culminância.

A análise do material revela sua perspicácia no

desvendamento do sentido atribuído à Revolta pelos dois órgãos

da imprensa local, selecionados de maneira ideal, uma vez que

representavam grupos de interesses diferentes. Inventariou, de

forma exaustiva, as matérias dos dois periódicos, articulando-as

criticamente.

Seu texto oferece uma competente comparação do

discurso dos dois jornais paranaenses. No entanto, muito mais

que isso foi captado, uma vez que todos os sujeitos da ação,

colonos, posseiros, companhias grileiras e políticos, são alçados

à cena, evidenciando os que ganharam espaço e os que foram

silenciados nas matérias jornalísticas.

Como pesquisadora bem formada, foi às fontes com

suas questões, mas demonstrou ser atenta e competente para

perceber os novos problemas que delas brotavam. Assim, por

exemplo, o papel do rádio no conflito e na articulação comunitária

tornou-se uma questão relevante.

Constatando que a Rádio Colméia, que participou da

revolta em Pato Branco e em Francisco Beltrão, não tinha

preservado seus arquivos, lançou mão da história oral para

recuperar não apenas o papel da emissora naquela conjuntura,

mas também a memória do conflito.

Valeu-se deste método com maestria, consciente de que

é impossível recuperar a voz do passado, pois o que nos chega é

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uma voz mediada pelo depoente e também pelo pesquisador. No

entanto, as possibilidades que apresenta, criando e recuperando

informações, são da maior importância e preenchem lacunas de

outros corpos documentais.

Finalmente, é importante ressaltar que o texto, que

ora se publica, constituiu-se como Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Interinstitucional em História UFF/

UNICENTRO, como requisito para obtenção do Grau de Mestre

– Área de Concentração: História Social.

A banca examinadora, que tive o prazer de presidir, foi

integrada pelas Professoras Doutoras Marcia Maria Menendes

Motta, da Universidade Federal Fluminense, e Maria Verônica

Secreto de Ferreras, da Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro, ambas especialistas de grande projeção. O parecer

exarado, naquela oportunidade, destacou, entre muitos outros

méritos, que o trabalho de Éverly Pegoraro constituía-se em

contribuição expressiva para a História dos Conflitos Agrários no

Brasil. Não posso imaginar maior elogio para uma autora que se

dedicou a um estudo regional!

Niterói, 10 de julho de 2008

Profª. Ismênia de Lima MartinsPós-Doutora pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences

Sociales, EHESS, França.

Apr

esen

taçã

oaPresentação

De espingarda, de facão à cinta e empunhando a bandeira nacional,

os colonos se levantaram em governos populares

O Cruzeiro, 2 de novembro de 1957.

Como a imprensa media e colabora para a construção

histórica de um conflito de terras? Essa é uma das perguntas que

perpassa toda essa pesquisa. Entende-se que a imprensa assumiu

um papel significativo na construção da narrativa histórica

contemporânea, já que os meios de comunicação tomam para

si o papel de intermediários para que o acontecimento marque

agora a sua presença. Entretanto, o discurso jornalístico é

construído através de uma série de intervenções e interesses.

Essas intenções, traduzidas em estruturas textuais e perceptíveis

no contexto da produção discursiva, confirmam o papel ativo da

linguagem na construção histórica de um conflito.

Não é minha pretensão afirmar que a versão transmitida

por um ou outro jornal seja mais ou menos verdadeira. Afinal, se

a história pode ser contada de inúmeras maneiras, fornecendo

diferentes interpretações aos assuntos, dotando-os, então,

de sentidos diversos, os jornais, ao optarem por uma forma

discursiva, uma maneira de selecionar os fatos e apresentá-los

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ao leitor, também fornecem um ângulo peculiar para a escrita

da história1.

Entender como as idéias são transmitidas e como os

meios pelos quais se dá a sua transmissão interferem na própria

compreensão das mensagens, além de refletir sobre como o

contato com essa palavra afeta o comportamento de um sujeito

histórico, inserido em um tempo e lugar determinados, fazem

parte dos argumentos que justificam a pertinência do estudo do

discurso jornalístico2.

Partindo-se desses pressupostos, esta pesquisa analisa

como a imprensa paranaense construiu o discurso jornalístico

sobre a Revolta dos Posseiros de 1957 no Sudoeste do Paraná,

apontando possíveis interesses dos veículos de comunicação

analisados, perceptíveis na forma como eles expressam o conflito

em suas narrativas. O levante envolveu posseiros, companhias

de terras e o governo estadual. O início das disputas de terras

se deu em 1940 e perdurou por mais de 20 anos. Em outubro

de 1957, posseiros e colonos se organizaram em um conflito

armado, tomaram as suas cidades e expulsaram as companhias

de terras e os jagunços por elas contratados.

1 BARBOSA, Marialva. Por uma história dos sistemas de comunicação. In: Revista

Contracampo. Nº 1. Julho/Dezembro 1997.

2 Ibid., p. 78.

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Nos anos 50 do século XX, como o Sudoeste iniciava seu

processo de ocupação incentivado pelo governo federal, ainda

não possuía periódicos impressos que possam servir como fonte

de pesquisa. Entretanto, contava com uma emissora de rádio,

a Rádio Colméia, presente nos municípios de Pato Branco e

Francisco Beltrão, que realizou uma mediação significativa durante

o conflito, resgatada neste trabalho a partir de depoimentos orais

de radialistas, lideranças locais e ouvintes.

O discurso jornalístico impresso é analisado através dos

periódicos paranaenses Gazeta do Povo e O Estado do Paraná,

em suas edições de setembro, outubro e novembro de 1957.

Os dois primeiros meses representam o período mais intenso e

violento do conflito, culminando com a Revolta dos Posseiros,

em 10, 11 e 12 de outubro de 1957.

Nessa pesquisa, procurei analisar como se deu a

produção de sentido da revolta nos dois veículos; comparar o

discurso dos dois jornais paranaenses, focalizando para o modo

com que o levante foi mostrado e para os sujeitos que ganharam

voz e para os que foram silenciados nas matérias jornalísticas;

retomar alguns aspectos dos dois periódicos em análise, que irão

ajudar a definir a linha editorial que cada jornal seguiu; analisar o

papel do rádio como espaço de ligação comunitária na revolta, já

que a Rádio Colméia, tanto em Pato Branco como em Francisco

Beltrão, participou do conflito; fazer um levantamento dos

principais autores que já discorreram sobre o assunto e levantar

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informações que possam contribuir para a história da imprensa

paranaense, assunto que ainda está em seus contornos iniciais.

No primeiro capítulo do livro, apresento a Revolta dos

Posseiros de 1957. Explico o início da colonização no Sudoeste

do Paraná, como se deu a chegada de posseiros, colonos e

companhias grileiras na região e a contextualização dos conflitos

que surgiram a partir disso. Para essa etapa, utilizo sobretudo

fontes bibliográficas, pois minha intenção principal de pesquisa

não é discorrer a respeito da Revolta dos Posseiros em si, motivo

que pretende justificar a não utilização de fontes comprobatórias.

Inicio o 1º capítulo justamente mostrando os principais autores

que estudaram o levante e os debates de interpretações que

se abriram. Além disso, aponto a contextualização política do

período e informações sobre o governador do Paraná, Moysés

Lupion, tendo como fontes históricas as mensagens apresentadas

à Assembléia Legislativa do Estado por ocasião da abertura das

Sessões Ordinárias de: 1948; 1957; 1958; 1959 e 1960, alguns dos

anos em que esteve à frente da administração pública do Estado.

“As revoluções no Paraná se fazem pelo rádio”, já dizia

a revista O Cruzeiro3. Dessa forma, não poderia deixar de falar

sobre a intercessão das emissoras da Rádio Colméia, em Pato

Branco e Francisco Beltrão, no levante. Ambas tiveram papel

importante na intervenção a favor dos colonos. Único veículo

3 MORAES, Mário de. Sangue no Paraná. O Cruzeiro, p. 5, 12 out. 1957.

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de comunicação no Sudoeste, em meio a uma população em

sua grande maioria analfabeta, o rádio desempenhava a função

de informador, mediador e conselheiro. Nessa época, seus

radialistas eram tidos em grande consideração pelos ouvintes,

eram verdadeiros artistas. Foi dessa forma que Ivo Thomazoni,

radialista da Colméia em Pato Branco, foi gradativamente

assumindo o papel de uma das lideranças do levante. Já em

Francisco Beltrão, eram os próprios acionistas da emissora que

tomaram partido a favor dos colonos, utilizando o rádio como

megafone de luta.

Essas informações são trazidas no segundo capítulo.

Em sua parte inicial, falo sobre a participação e a influência

da imprensa enquanto poder simbólico formador de discurso

histórico. É também nesta etapa do trabalho que trago algumas

reflexões sobre a relação entre imprensa e história. Sou jornalista

por formação, e esses conceitos foram primordiais para adentrar

no território dos historiadores.

Além disso, apresento algumas características do

rádio que permitem compreender a força que esse veículo de

comunicação tinha em uma região como o Sudoeste do Paraná.

As duas emissoras não apenas forneciam informações para o

seu público ouvinte, mas também alimentavam a imprensa

da capital, pois somente no mês de outubro de 1957 alguns

veículos de comunicação enviaram repórteres para cobrir in loco

o levante. Entre eles, cita-se O Estado do Paraná, O Cruzeiro e

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Manchete. Foi interessante observar como posicionamentos

diferentes construíram discursos diferentes sobre a mesma

revolta. Enquanto a imprensa da capital, distante do cotidiano

de luta, abordava principalmente o aspecto político do conflito,

a imprensa regional tomava parte direta no confronto, embora

sem abandonar os seus interesses partidários.

As principais fontes de pesquisa para esse capítulo são

orais. Infelizmente, as duas emissoras não possuem arquivos

sonoros que pudessem servir como fontes históricas. Para

suprir essa falta, utilizei-me da História Oral. Para compreender

a participação da Rádio Colméia de Pato Branco, conversei com

Inelci Pedro Matiello e Ivo Thomazoni, os quais trabalhavam

na emissora no ano de 1957. Também conversei com Jácomo

Trento, o vendedor de equipamentos que percorria o interior

do Sudoeste e alimentava com informações a Rádio Colméia de

Pato Branco. Sobre a Rádio Colméia de Francisco Beltrão, não

foi possível conversar com os seus acionistas, pois já não vivem

mais. Entretanto, alguns ouvintes puderam delinear o perfil

que ajuda a compreender a sua importância. O caminhoneiro

Aurélio Antonio Negri, além de ouvinte, transportou colonos

até a praça de Francisco Beltrão para participarem do levante

de outubro. A outra depoente é Manoela Pécoits, esposa do

médico e um dos líderes da revolta, Walter Pécoits. Seu relato

forneceu informações relevantes sobre a construção da liderança

de seu marido e a forma como suas entrevistas no veículo de

comunicação atuavam como formadoras de opinião.

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No terceiro capítulo, apresento os dois periódicos da

capital: O Estado do Paraná e a Gazeta do Povo. Alguns aspectos

de criação e linha editorial permitem compreender a postura

adotada face ao conflito. Minhas fontes históricas serão as

primeiras edições, assim como alguns números comemorativos

históricos e os próprios exemplares a serem analisados de 1957.

Na segunda parte do capítulo, apresento a análise de

discursos jornalísticos das matérias publicadas pela Gazeta do

Povo e em O Estado do Paraná, entre os meses de setembro,

outubro e novembro de 1957. Meu principal objetivo foi

confrontar os discursos dos dois jornais paranaenses, apontando

quem ganhou voz e quem foi silenciado nas matérias jornalísticas

e analisando como se deu a produção de sentido nos textos.

O Estado do Paraná fez uma cobertura mais ampla,

enfocando principalmente o aspecto político da questão. De posição

contrária ao governo do Estado, seu discurso reiterava que o principal

culpado pelo problema de terras no Sudoeste era o governador

do Paraná. Depois que o periódico enviou repórteres para a

região, suas matérias tornaram-se mais “humanas”, no sentido

de mostrarem os próprios personagens envolvidos no conflito.

Já a Gazeta do Povo assumiu uma postura de defensora do

governo do Estado. O próprio governador era um dos acionistas

do jornal e o diretor era o Chefe de Polícia do Estado, Pinheiro

Junior. Seu principal discurso era de que a questão de terras no

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Sudoeste foi inflamada por uma oposição política interessada

em manipular a situação a seu favor.

Esta pesquisa é, portanto, o trabalho de uma jornalista

por formação, interessada em adentrar no campo da História e

em tecer relações entre duas áreas tão vinculadas entre si na

construção do discurso histórico na contemporaneidade. Um

mesmo discurso apresenta múltiplas possibilidades de leitura,

inseridas em épocas e contextos diversos. Nesta investigação,

emergem algumas dessas alternativas, que não se esgotam em

si, mas servem para apontar as relações complexas que surgem

entre o Jornalismo e a História.

Esta pesquisa é fruto de minha dissertação de Mestrado

em História Contemporânea pela Universidade Federal

Fluminense – UFF , em parceria com a Universidade Estadual do

Centro-Oeste – Unicentro. Indicada pela banca final de avaliação

para publicação, encorajei-me a transformá-la em livro. Faço dele

minha homenagem a todos aqueles que, direta ou indiretamente,

participaram da Revolta dos Posseiros de 1957. Espero, dessa

forma, contribuir para manter viva a memória de um período

importante da História do Paraná e do povo da região Sudoeste

do Paraná, do qual faço parte.