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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 127 • Nº 2.159 • Fevereiro 2009 D EUS , C RISTO E C ARIDADE ISSN 1413 - 1749 100 anos de apoio da FEB à Língua Internacional Neutra, para a divulgação do Espiritismo ESPERANTO

D , C RISTO E CARIDADE Ano 127 • Nº 2.159 • Fevereiro 2009 ... · Verdade e Fé – Juvanir Borges de ... Pôncio Pilatos a Jesus, o Cristo de Deus, quando de seu julgamento

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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 127 • Nº 2.159 • Feverei ro 2009D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

R$ 5,00

ISSN 1

413

- 1

749

100 anos de apoio da FEB àLíngua Internacional Neutra, para a

divulgação do Espiritismo

ESPERANTO

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 127 / Fevereiro, 2009 / N o 2.159

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO

NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

Editorial

Cem anos com o Esperanto

Entrevista: Merhy Seba

As Campanhas estimulam ações

Presença de Chico Xavier

O culto cristão no lar – Neio Lúcio

Esflorando o Evangelho

Que pedes? – Emmanuel

A FEB e o Esperanto (Capa)

Centenário das atividades da FEB em torno do Esperanto –

Affonso Soares

Seara Espírita

Verdade e Fé – Juvanir Borges de Souza

No trabalho profilático – Benedita Fernandes

Familiares desencarnados – Richard Simonetti

A necessária mudança de princípios –

Julio Cesar de Sá Roriz

Mediunidade – Correio do mundo espiritual! –

Christiano Torchi

Em dia com o Espiritismo – Evolução do

homem na Terra – Marta Antunes Moura

Conselho Federativo Nacional da FEB

Cristianismo Redivivo – No trato com a Revelação –

Haroldo Dutra Dias

Ao Leitor

Evangelização infantil – Importância para harmonia

familiar e social – F. Altamir da Cunha

Memórias de Adriano teria sido escrito sob transe –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Salvação ou evolução? – José Passini

Retorno à Pátria Espiritual – Waldir Huguenin

Bitencourt / Emil Dario Framback

Higiene da alma – Ivone Molinaro Ghiggino

Bem-aventurados os pobres de espírito –

Jorge Leite de Oliveira

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SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Número avulso R$ 55,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

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Editorial

4 Reformador • Fevere i ro 20094422

á 100 anos, precisamente em Reformador de 15 de fevereiro de 1909, aFederação Espírita Brasileira iniciava seus primeiros contatos com o espe-ranto, através da publicação de texto oriundo dos círculos espíritas fran-

ceses, o qual incentivava a utilização da Língua Neutra para a divulgação mundialdo Espiritismo.

Vislumbraram os pioneiros espíritas de então as excelências daquele instrumen-to de comunicação universal para a obra de disseminação da Doutrina Espírita, emnível internacional, ao mesmo tempo em que reconheciam os benefícios que a vei-culação do Evangelho à luz do Espiritismo, através do esperanto, certamente trariaao próprio movimento esperantista.

Gradativamente, graças à construção de criterioso programa para a sua divulga-ção e utilização, multiplicaram-se os cursos de ensino do idioma, sempre gratuitose apoiados por rico material didático, enquanto eram editados livros espíritas, atra-vés de bem cuidadas traduções, tudo sustentado por positivas manifestações domundo espiritual em favor da fecunda iniciativa.

Hoje o esperanto se apresenta como inegável realidade nas atividades do Movi-mento Espírita, respondendo por realizações que plenamente justificam a decisãoocorrida há cem anos, dentre as quais se destaca o surgimento de obras doutriná-rias em diversos países, vertidas de traduções em esperanto para diferentes línguasnacionais, o que vem contribuindo para que se atinjam os objetivos visados tantopela Federação Espírita Brasileira como pelo Conselho Espírita Internacional, quesão os de colocar a Doutrina Espírita ao alcance e a serviço de todas as pessoas, in-dependentemente do local onde habitam ou do idioma que utilizam.

Reverenciamos, portanto, em tão feliz oportunidade, a memória do criador dalíngua da fraternidade, Lázaro Luís Zamenhof – cujo sesquicentenário de nasci-mento ocorrerá em dezembro deste ano –, bem como a dos valorosos pioneiros dadifusão do Espiritismo, os quais, impulsionados pelos mesmos ideais de fraternida-de, uniram esforços e trabalharam para que a mensagem consoladora e esclarece-dora da Doutrina, a qual proporciona ao ser humano o conhecimento da sua imor-talidade e as condições necessárias à construção da própria evolução, continue a es-palhar os seus benefícios a toda a Humanidade.

H

Cem anos como Esperanto

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5Fevere i ro 2009 • Reformador 4433

ue é a verdade?”Essa foi a pergun-

ta formulada pelogovernador romano

Pôncio Pilatos a Jesus, o Cristo deDeus, quando de seu julgamentopelos homens, naquela passagemnarrada nos Evangelhos que aindahoje tanto nos constrange.

A pergunta não obteve resposta.De que valeria qualquer répli-

ca, se o interlocutor não tinha amínima condição de entendimen-to e percepção de uma questãoque ultrapassava os conhecimen-tos comuns?

O silêncio do Mestre Incompa-rável foi mais um ensino ministra-do naquelas circunstâncias, que de-monstravam a profunda ignorânciados seus perseguidores e julgadores.

Certas ideias consideradas ex-pressões da verdade, em determi-nadas condições de tempo e de lu-gar em que são admitidas, nãosignificam que sejam sempre cor-retas e imutáveis.

Assim, uma verdade aceita emdeterminado momento, deixa desê-lo em outras épocas, já que eladepende da razão e da evolução hu-manas, essencialmente mutáveis.

Com o progresso, lei natural

ou divina, a Humanidade cami-nha na busca de novos conheci-mentos, aperfeiçoando tambémos sentimentos.

Essa evolução determina a mo-dificação do conceito de verdade,que é relativo e se modifica comas conquistas intelecto-moraisdos homens.

A esse conceito relativo da ver-dade, mutável em função das no-vas conquistas de conhecimentose sentimentos dos habitantes daTerra, contrapõe-se a Verdade, emseu sentido absoluto.

A Verdade absoluta ainda nãopode ser alcançada pelo homem,habitante da Terra, um mundoatrasado, de “expiações e pro-vas”, na classificação dos Espíri-tos reveladores.

A Doutrina Espírita ensina queos Espíritos que habitam a Terraestão longe de conhecer a Verdadeabsoluta reservada ao Criador eaos que alcançaram a condição deEspíritos puros.

Aqueles que julgam infalívelsua razão estão mais próximos doerro que da Verdade, como afirma

Verdade e Fé“Q

JU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

Jesus, perante Pôncio Pilatos, no dia do julgamento

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Allan Kardec, no item VII da “In-trodução” de O Livro dos Espíritos.

A razão humana confunde-semuitas vezes com o orgulho disfar-çado de quem se considera infalível.

Daí a necessidade de cultivar-sea humildade, juntamente com oamor a Deus e ao próximo, sínte-se de todos os deveres daquelesque já se convenceram de que oshomens estão longe de chegar aoapogeu de sua trajetória infinita.

A Verdade absoluta, eterna eimutável está acima da inteligên-cia do homem, por mais vastaque seja.

Somente Deus, eterno e imutá-vel, imaterial, único, onipotente,soberanamente justo e bom, cor-responde à ideia da Verdade abso-luta, tal como a podemos conce-ber, mas não vê-la ou defini-la.

Na questão 628 de O Livro dosEspíritos Kardec formula a seguin-te pergunta:

Por que a verdade não foi sem-pre posta ao alcance de toda gente?

A resposta dos Espíritos revela-dores é longa, mas se resume nosesclarecimentos iniciais:

“Importa que cada coisa venhaa seu tempo. A verdade é como aluz: o homem precisa habituar-sea ela, pouco a pouco; do contrá-rio, fica deslumbrado”.

O sábio ensino dos Espíritossuperiores mostra que a sabedo-ria, o crescimento espiritual decada ser são graduados, adquiri-dos pouco a pouco.

Desde sua criação, simples e ig-norante, o Espírito vai incorpo-rando aspectos variados da ver-dade, de conformidade com seus

esforços e suas experiências. Paraisso dispõe da eternidade e se sub-mete às leis divinas, sábias, perfei-tas e imutáveis.

Embora criados simples e igno-rantes, os Espíritos não são aban-donados nessas condições ini-ciais. Dispondo do livre-arbítrio,cada ser envereda pelo caminhoque escolhe.

Se a estrada escolhida é desombras e trevas, nada impedeque o Espírito mude de rumo,buscando a luz, contando para is-so com o apoio das leis divinas.

A luz é sustentada por aspectosda verdade, que se vai evidencian-do na medida dos esforços em-pregados na sua procura.

Em mundos atrasados como onosso, aspectos diversos da verda-de são assinalados não somentepelo trabalho e esforço dos seushabitantes, mas também pelas Re-velações trazidas pelos enviadosdo Alto, que assinalam períodos eépocas da história humana.

Muitas foram as Revelaçõesque beneficiaram os habitantes daTerra, proporcionando o seu pro-gresso espiritual. Na tradição domundo ocidental ficaram assina-ladas a do Antigo Testamento, comMoisés; a do Novo Testamento,com a presença pessoal do Cristode Deus; e a terceira, com o ad-vento do Consolador Prometidopor Jesus, representado pela Dou-trina dos Espíritos, codificada pe-lo missionário Allan Kardec.

Em cada uma dessas Revela-ções foram confirmadas verdadesjá conhecidas anteriormente, aolado de novos conhecimentos e de

retificações de ideias e pensamen-tos já conhecidos.

Em suma, o conhecimento daverdade é gradativo e compete acada criatura, no decorrer da eter-nidade, em obediência às leis divi-nas do amor e do progresso.

Subsiste determinada ligaçãoentre a Verdade e a Fé.

Como Deus é a Verdade abso-luta, a Fé no Criador é a convicçãoíntima da consciência individual.

A verdadeira fé não pode serimposta, seja pela força ou pelaconveniência passageira.

Somente a consciência livre e fir-me é capaz de gerar vislumbres daverdade e construir a verdadeira fé.

A plenitude da fé pressupõeque antes dela existiu a dúvida,própria dos seres imperfeitos, masestimulante da busca do progres-so e da perfeição.

Sob o ponto de vista religioso, afé baseia-se em dogmas das dife-rentes crenças, podendo ser cegaou raciocinada.

A fé cega aceita tanto o que é ver-dadeiro quanto o que é falso, semaprofundar o exame. O fanatismoé consequente desse tipo de fé.

Já a fé raciocinada baseia-seem verdades e em realidades, uti-lizando-se do raciocínio lógico pa-ra a formação do juízo e de suasconsequências.

Diversas religiões tradicionais,impondo uma fé cega em seusprincípios e dogmas, pretenden-do, desse modo, a posse da verda-de, cedo ou tarde desmoronam-seem suas bases.

6 Reformador • Fevere i ro 20094444

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A verdadeira fé conduz aqueleque a construiu em sua consciên-cia à confiança em Deus e nos seusdesígnios, cultivando a humilda-de e repelindo o orgulho, o egoís-mo e a presunção.

Cultivar essa fé significa confiarno Criador, no Cristo, GovernadorEspiritual do mundo, nos seus tra-balhadores e prepostos e nas leis di-vinas que regem tudo o que existe.

Na linguagem figurada do Cris-to, a fé transporta as montanhas,significando que todas as dificul-dades podem ser superadas poraqueles que confiam nos poderesde Deus e nas suas leis.

Realmente, não há obstáculosintransponíveis para quem não seabala em sua fé, cultivando a con-fiança e a certeza de atingir deter-minada finalidade, justa peranteas leis divinas, apesar de todas asdificuldades do caminho: doen-ças, incompreensões, pobreza, re-sistências alheias.

A perseverança é característicada fé esclarecida, capaz de vencertanto os pequenos quantos os gran-des empecilhos.

Entretanto, se porventura aque-le que cultiva a verdadeira fé nãoconsegue atingir os objetivos visa-dos, nem por isso perde a confiançae a segurança, porque compreendeque acima do alvo pretendido es-tão as leis naturais ou divinas, quedevem ser entendidas e obedeci-das em todas as circunstâncias.

A fé esclarecida tem, assim, osentido de confiança na realizaçãode determinados fins, sem que seupossuidor perca a lucidez se nãoconsegue o objetivo.

A calma, a paciência e a com-preensão fazem parte da fé since-ra, enquanto a fé vacilante sentesua fraqueza quando seus interes-ses não são atingidos.

A fé cega foi imposta por diver-sas religiões a seus adeptos.

Sem o conhecimento das revela-ções sobre a vida do Espírito após amorte do corpo físico, e com a pers-pectiva de um céu de delícias, ou deum inferno de sofrimentos eternos,as massas humanas vivem nestemundo alheias à realidade que asespera, completamente diferentedo que é ensinado pelas religiões,cujos ensinos estão ultrapassados.

Da fé cega resultou a increduli-dade e a dúvida de muitas criatu-ras, fortalecendo o materialismomultifário.

Já a fé raciocinada, apoiando-senos fatos, na realidade e na lógica,leva à compreensão e à certeza,fortalecendo o homem na buscada verdade.

Por isso, o Espiritismo, a Ter-ceira Revelação dos tempos atuaisprescreve: Fé inabalável só o é aque pode encarar de frente a razão,em todas as épocas da Humanida-de. (O Evangelho segundo o Espiri-tismo, cap. XIX, item 7.)

A Doutrina Espírita, o Conso-lador Prometido por Jesus, já seencontra entre os homens, restau-rando o Cristianismo primitivo,autêntico, e dando-lhes conheci-mento das leis divinas, da eterni-dade da vida, que se desdobra nosmundos materiais e espirituais, dadoutrina da reencarnação e da res-ponsabilidade individual pelos pen-samentos, palavras e ações, além

de muitos outros ensinos quemostram a verdade e fortalecem afé verdadeira.

Com o Consolador no mundo,têm os homens a revivência dosensinos corretos do passado, com oacréscimo de novas revelações queasseguram, aos que amam a verda-de e buscam a fé verdadeira, umaestrada segura para sua ascensão.

O servidor que confia nas leisda vida tem agora uma indicaçãocorreta e firme da direção a seguir.

Pode, assim, mesmo no nossomundo de provações e resgates, di-rigir-se com segurança no sentidocorreto, desde que se disponha aagir sempre no bem, tanto nas pe-quenas como nas grandes tarefas.

A fé esclarecida pela verdadeoferece aos que comprovam tê-lasencontrado uma nova vida comamor e sabedoria.

O Espiritismo no mundo tempor escopo orientar corretamenteo homem na busca da perfeição.

A felicidade neste mundo nãose encontra nos variados gozos ma-teriais buscados avidamente pelohomem desavisado, mas sim nacompreensão do sentido da vida eno aproveitamento das oportuni-dades sempre renovadas para aprática do bem.

À luz do Consolador, ser cris-tão, hoje, não significa martírioou imolação da própria vida, co-mo nos primeiros tempos doCristianismo, mas requer o sa-crifício do egoísmo e do orgu-lho, individuais e coletivos, paraque predomine sempre o amor aDeus e ao próximo, inspirando a féesclarecida.

7Fevere i ro 2009 • Reformador 4455

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8 Reformador • Fevere i ro 20094466

trabalho do Espiritismodirigido à Humanidade de-ve atender aos esforços da

cura da alma, mas não deverá per-der o foco quanto às lidas preven-tivas em nossa seara.

Tem sido comum a chegada degrandes levas de necessitados àsinstituições espíritas, tangidas pordramas intensos e dores pungen-tes, aguardando socorro para todagama de dificuldades que se aba-tem sobre as suas vidas.

Ergue-se, porém, a urgência detratar desses magotes de padecen-tes aproveitando o ensejo para va-cinar a todos com as medicaçõesque o Espiritismo oferece, a fim dese evitar a reincidência dolorosa.

Como é importante no seio donosso Movimento o atendimentoaos sofredores e perturbados daerraticidade, para que sejam libe-rados de tormentos e conflitos!

Será indispensável, contudo, quehaja empenho nosso para que aspopulações sejam instruídas, orien-tadas para o bem, a tal ponto quenão haja, no futuro, necessidade denovos enfermos desencarnados,tendo em vista que o Espiritismopode prevenir, no íntimo dos se-res, a eclosão das infelicidades que

os conduzem às reuniões em que ospadecentes são atendidos.

Como é indispensável o laborda evangelização da criança quan-to do jovem, de modo a termos noporvir do mundo as almas devi-damente preparadas, para os em-bates a serem superados, desde asfases iniciais da reencarnação, oque diminuirá as dores físicas emorais do Planeta!

Com esse mister evangelizador,a criança e o moço de agora logra-rão a referida vacinação, conside-rando-se a condição de carênciaespiritual em que renasce na Terraa grande massa dos Espíritos.

A profilaxia é importantíssimapara que, aos poucos, eliminemosos quadros de dores e de lágrimasde sofrimentos na Terra.

O trabalho da orientação dosmais jovens, desde a atualidade, di-minuirá a quantidade de pobresmateriais e de desditosos morais,uma vez que, embora o Espiritismonos inspire o atendimento e o so-corro a quem precisa, esclarece-nos,ao mesmo tempo, quanto às ra-zões de haverem chegado à reen-carnação com essas carências.

Somente o ensinamento do bem,iniciado no âmago dos lares e for-

tificado e emoldurado pelo traba-lho de verdadeiros bandeirantesdo amor fraterno, os evangeliza-dores, será capaz de dinamizar osplanos do Criador para as Suascriaturas terrenas, e será dessemodo que o glorioso Espiritismoatenderá, por nosso intermédio, àsua missão de consolador, semqualquer dúvida, mas, fundamen-talmente, expressará a sua marcade Verdade, que deverá acompa-nhar-nos até os tempos vindourosdo Planeta, quando seremos, en-tão, um único rebanho conduzidopor um só Pastor, que é o nossoamado Jesus.

Trabalhar, sim, para resolver osenigmáticos dramas do mundo,mas prevenir, também e princi-palmente, pois que há problemasno orbe que já não precisariammais ocorrer nesses dias venturo-sos do Espiritismo implantadoentre nós.

Benedita Fernandes

(Mensagem psicográfica recebida pelo

médium José Raul Teixeira, na Reunião

Ordinária do Conselho Federativo Nacio-

nal da FEB, no dia 8 de novembro de

2008, em Brasília, DF.)

No trabalhoprofilático

O

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9Fevere i ro 2009 • Reformador 4477

esde o falecimento de seupai, aquela senhora vinhaenfrentando crises de an-

gústia e inquietação. Ambos erammuito ligados.

Passaram-se semanas e ela con-tinuava deprimida, desalentada.

Buscou auxílio na religião. Apresença no culto, as rezas, lhetraziam algum alívio, mas preca-riamente.

O marido a levou primeiro aum psicólogo, depois ao psiquiatra.Sessões terapêuticas e medicamen-tos não resolveram o problema.

Compareceram a uma sessãode descarrego.

Reunião especializada em exor-cismos.

Atendida pelo oficiante, estepronunciou rezas e incisivamentedeterminou que as forças demo-níacas se afastassem da paciente.

Então, para espanto do mari-do, visivelmente alterada, ela co-meçou a falar em voz grossa earrastada.

Surpresa maior. Falava comose fosse o pai dela, a pedir ajuda.Sentia-se perdido e infeliz, semgoverno sobre a própria existên-

cia, sem saber o que estavaacontecendo.

O exorcista foi duro e imperati-vo com o infeliz, ordenando, emnome de Jesus, que se afastasse.

A entidade insistia no pedidode ajuda.

Ele, irredutível na sua deter-minação.

Após alguns minutos daquelainsólita situação, a mulher estre-meceu e caiu, prostrada.

Terminara a sessão.O exorcista informou aos pre-

sentes que o tinhoso fora afasta-do. Ante a estranheza do marido,em face do que vira, explicou:

– O demônio tem mil faces ecostuma enganar as pessoas,apresentando-se como se fosseum familiar morto, a fim de ga-nhar sua confiança.

Com essa explicação sumáriadeu o assunto por encerrado,proclamando que a senhora es-tava plenamente restabelecida.

Cura efêmera.Em breves dias recrudesceram

seus males.

Um amigo sugeriu que procu-rassem o Centro Espírita.

O casal submeteu-se à entre-vista fraterna.

O nome da senhora foi enca-minhado a uma reunião de ajudaespiritual. Vibrações foram feitasem seu benefício.

Na prática mediúnica repetiu--se o mesmo fenômeno ocorridona sessão de exorcismo, desta feitapor intermédio de um médium.

Este, com mais experiência e odisciplinamento oferecido pelaDoutrina Espírita, transmitia deforma mais clara e objetiva a ma-nifestação, com a entidade reve-lando a mesma perturbação e im-plorando por ajuda. Ficou evidenteque se tratava do pai desencarnado.

Reclamava que médicos e fa-miliares não lhe davam atenção.A própria filha o ignorava e pa-recia perturbar-se quando lhe pe-dia ajuda. Não entendia por que,porquanto ambos eram muitoligados.

A postura do dirigente da reu-nião foi totalmente diferente.

Conversou amigavelmente com aentidade, reconhecendo estar dian-

DRI C H A R D SI M O N E T T I

Familiaresdesencarnados

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te de um Espírito sofredor, não deuma entidade demoníaca.

Não o esclareceu a respeito desua nova situação, ciente de que arevelação de que morrera apenaso perturbaria mais. Porém, pro-curou tranquilizá-lo, explicando--lhe que estava num hospital ondese recuperaria plenamente de ummal que o acometera, colocando ospensamentos em ordem. Depoisreencontraria os familiares.

Sabendo-o religioso, recomen-dou-lhe a oração e a confiança emJesus para uma recuperação rápida.

A entidade pacificada, permeá-vel agora à ajuda espiritual, foiconduzida a uma instituição as-sistencial da Espiritualidade.

Então ocorreu o prodígio.Na manhã seguinte, como por

passe de mágica, a senhora acor-dou sem angústia ou perturba-ção, retornando à normalidade.

Episódios assim fazemparte da história de mui-

ta gente que se benefi-cia dos conhecimen-tos espíritas e acabaaderindo à Doutrina

Espírita.Para entendermos bem

situações dessa natureza épreciso considerar, em pri-meiro lugar, o despreparo

das pessoas para enfrentarema problemática da morte, porfalta de informações ou por re-

ceberem informações equivo-cadas, como a de que o Espíritodo morto vai dormir até o juízofinal, quando haverá a ressurrei-ção dos corpos.

Os Espíritos, como está em OLivro dos Espíritos, são os seres pen-santes da Criação. Não dependemdo corpo físico para conservarsua individualidade, sua capaci-dade de pensar e agir.

Acontece o contrário. A depen-dência ocorre apenas no renasci-mento. Ao reencarnarmos nos re-vestimos de um corpo de carne,que inibe nossas percepções. Sótomamos contato e temos cons-ciência daquilo que passa peloscinco sentidos – tato, paladar, ol-fato, visão e audição.

Ao morrer, livramo-nos da ar-madura de carne. Deveríamos,então, retomar a amplitude daspercepções, reintegrando-nos napátria espiritual.

Ocorre que, vinculados durantetantos anos à existência humana,acabamos nos envolvendo com

vícios, paixões, seduções e ambi-ções relacionados à jornada ter-restre, o que nos impede de per-ceber a nova situação.

Como o plano espiritual é ape-nas uma continuação, em outradimensão, do plano físico, o de-sencarnado permanece por aqui.

Procura os familiares, pede aju-da, irrita-se porque não lhe dãoatenção.

Não raro acaba perturbandoaquele familiar com o qual temmaior afinidade, não por inten-ção de fazer mal, mas como de-sesperado pedido de socorro.

Sem saber o que está acontecen-do, sente os mesmos sintomas domal que determinou sua morte, ex-perimenta suas angústias e aflições.

Nenhum médico, nenhum psi-cólogo, nenhum tratamento, ne-nhum exorcista remediará.

O único jeito é conversar como Espírito e ajudá-lo, preparando-opara ser atendido pelos mentoresespirituais.

Assim ele será afastado e osproblemas de quem sofre o seuassédio desaparecerão.

Costumo classificar tais con-ceitos como uma obsessão pacífi-ca, porquanto não é intencional.

É apenas o náufrago em deses-pero, agarrando-se a uma tábuade salvação.

A Doutrina Espírita é o ma-ravilhoso manual de natação es-piritual, preparando-nos para omergulho no infinito e habilitan-do-nos a ajudar os que não sa-bem nadar.

10 Reformador • Fevere i ro 20094488

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Reformador: Qual foi a motiva-ção para se relacionar com a di-vulgação do Espiritismo?Merhy: A minha formação aca-dêmica é toda voltada para asáreas de Marketing e Comuni-cação. Após a minha conversãopara o Espiritismo, em 1967, vin-

culei-me ao Conselho Metro-politano Espírita de São Paulo(hoje, USE-Capital), que foi umverdadeiro laboratório de ensaiono campo da comunicação pu-blicitária. Realizamos várias cam-panhas publicitárias e ministra-mos o primeiro “Curso Intensi-vo de Propaganda”, na época di-vulgado pelo Anuário Espírita

1972 (IDE); dentre essas cam-panhas, destaca-se a “Co-mece pelo Começo” apro-vada pela USE em nívelestadual, e que surgiucomo decorrência da re-percussão da entrevistahistórica de Chico Xa-

vier, no Programa “PingaFogo”, levada ao ar, pela

TV TUPI-Canal 4, em 28de julho de 1971. Foi uma

ação para popularizar asobras básicas do Espiritis-mo, aproveitando-se a at-

mosfera psíquica favorá-vel do grande

p ú b l i c o ,

em relação ao que Chico Xavierdiscorreu na TV.

O convívio com inúmerosseareiros da época, entre eles,Dr. Luiz Monteiro de Barros,Prof. José Herculano Pires, Ja-mil Salomão, Ignácio Giovine eZulmiro dos Santos, foi decisi-vo para despertar o meu inte-resse e dedicação à área de co-municação publicitária espírita.

Reformador: Então, a sua pri-meira campanha foi a “Comecepelo Começo”?Merhy: A primeira campanhafoi para o Conselho Metropoli-tano Espírita, em 1970, direcio-nada aos centros espíritas daCapital, sob o título “Unificar oquê?”. Curioso que eram res-postas que eu mesmo procuravapara entender o trabalho deunificação espírita. Outra cam-panha surgia, em 1971, para oDepartamento de Evangelizaçãoda USE: “Evangelizar, um ato deAmor”. Em seguida, a campa-

11Fevere i ro 2009 • Reformador 4499

ME R H Y SE B AEntrevista

As Campanhasestimulam ações

Merhy Seba, coordenador da Área de Comunicação Social Espírita das ComissõesRegionais do Conselho Federativo Nacional da FEB, historia e comenta a evolução

de várias campanhas que marcaram época no Movimento Espírita

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nha “Comece pelo Começo”, em1972, na Capital, depois em 1975,em nível estadual, na gestão deNestor João Masotti, como pre-sidente da USE; e, por fim, nomesmo ano, a campanha “Preen-cha o vazio em seu coração, ponhanele um livro espírita”, em favordas feiras do livro espírita.

Reformador: Quais foram asoutras campanhas efetivadas pe-la USE-SP?Merhy: Podem ser citadas: “AMissão do Centro Espírita”, em1976/77, inspirada no folheto“Carta ao Centro Espírita” que,além de folheto e cartaz, essacampanha deu origem aum audiovisual que serviude suporte didático aosexpositores. Fora do movi-mento de unificação, tam-bém em 1976, foi lançada acampanha “Ovo de Co-lombo”, por solicitação deRichard Simonetti, visandoa divulgação dos clubes delivros espíritas, no Estadode São Paulo. Depois, veioa campanha institucional do

Espiritismo “Pense Nisso. PenseAgora”, apresentada no 1o Con-gresso Espírita Mundial, em1989, com o objetivo de popu-larizar os conceitos espíritas aogrande público.

Reformador: E as campanhaspropostas e aprovadas pelo CFN?Merhy: Quanto às campanhas,aprovadas pelo Conselho Fede-rativo Nacional, podem ser ci-tadas duas: “O melhor é Viverem Família. Aperte mais esse la-ço”, em 1994, em sintonia com o“Ano Internacional da Família”,promovido pela ONU, cujo ob-jetivo foi destacar a importân-

cia da função educativa eregeneradora da família e asua contribuição à constru-ção de um mundo melhor;e a campanha “O Evangelhono Lar e no Coração”, em2008, com o objetivo de res-gatar a prática da reuniãosemanal, no lar, para estu-do e reflexão do Evangelhode Jesus.

Reformador: Como vê a pers-pectiva da recente campanha apro-vada pelo CFN sobre “O Evangelhono Lar e no Coração”?Merhy: Na minha percepção,essa campanha será implantadacom relativa facilidade nos laresespíritas, considerando-se que:1 – a campanha é conhecida pe-la maior parte dos espíritas (opróprio ESDE – Estudo Sistema-tizado da Doutrina Espírita –,há mais de duas décadas, reco-menda a prática do Evangelhono lar, quando trata da Lei deAdoração); 2 – as inúmerasoportunidades de que o CentroEspírita dispõe para divulgar acampanha aos frequentadores,

12 Reformador • Fevere i ro 20095500

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dentro da própria Casa Espíri-ta, dispensando recursos de mí-dia externa; 3 – a simplicidadede que se reveste a reunião do Evan-gelho no lar, dependendo somen-te da predisposição da famíliaem realizá-la; e, por fim, 4 – ainfluência benéfica das famílias,que já o fazem, sobre as que ain-da não fazem, quando essas últi-mas passam a avaliar os benefí-cios salutares dessa prática. Asprimeiras agem, es-pontaneamente, co-mo “advogados”e divulgadoresda ideia.

Reformador:Quais as suassugestões paraque essas cam-panhas sejamimplementadas echeguem aos cen-tros espíritas?Merhy: É papel dasfederações espíritas es-taduais agirem no sentidomacro, dando o suporte teó-rico e técnico aos centros espíri-tas (que irão trabalhar no senti-do micro), a começar pela re-produção da plataforma de cadacampanha, centrada nas per-guntas: o que divulgar?, aquem?, para quê?, onde?, quan-do?, com que recursos (huma-nos, materiais, financeiros etc.)?e a distribuição das peças bási-cas das campanhas. Um trabalhoem que a sintonia, com os cen-tros espíritas, se torna condiçãosine qua non para que os efeitos

sinérgicos sejam somados e ali-mentados entre as partes.

Atualmente, o CFN tem vá-rias campanhas em vigor, masesse fato não deve causar qual-quer embaraço à implantaçãoou à sustentação das mesmas. Érecomendável que as EntidadesFederativas e os centros espíri-tas adotem um Calendário deAtividades (anual ou bienal),

no qual as campanhas sejamdistribuídas, durante os váriosperíodos, de modo a facilitar aabordagem de cada tema ao pú-blico-alvo, a exposição do ma-terial promocional e didático,bem como preparar, com ante-cedência, equipes (pessoal dos

departamentos envolvidos) pa-ra as frentes de trabalho que ascampanhas requerem.

Cada campanha tem a sua es-pecificidade. Por exemplo: o su-cesso da campanha “O Evangelhono Lar e no Coração” dependenão só da divulgação, mas, fun-damentalmente, da formaçãode equipes de multiplicadorespara ensinar como se faz a reu-nião domiciliar, e de ações da

livraria do Centro Es-pírita, em colocar

os livros indica-dos e recomen-dados ao al-cance dos fre-quentadores.O que equi-vale a dizerque não basta

expor cartazesna parede e dis-

tribuir folhetos.

Reformador: E a rela-ção dessas campanhas com

a implantação do Orien-tação ao Centro Espírita e do

“Plano de Trabalho para o Movi-mento Espírita”?Merhy: As relações das campa-nhas publicitárias a que nos re-ferimos, com essas publicaçõescitadas, são íntimas e, sobretu-do, harmônicas, uma vez que ascampanhas refletem os objeti-vos predeterminados pelo pró-prio Conselho Federativo Na-cional. É uma questão de coe-rência, pois campanhas são es-tratégias ou caminhos para sealcançar objetivos.

13Fevere i ro 2009 • Reformador 5511

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14 Reformador • Fevere i ro 20095522

onsideremos como metá-fora a afirmativa: “transfor-mações viscerais do Espíri-

to”. Emmanuel conclama-nos a ex-trair das “entranhas” da alma oque há de ruim, mediante o auto-conhecimento e a coragem, paraque diante das convocações pos-samos nos aperfeiçoar na vida. OEspírito São Luís afirma:“Todo equalquer ato que não vise aperfei-çoar a alma, não poderá desviá-lado mal”.2 E mais: a ação no bempode sustar, momentaneamente,os sofrimentos do homem vicio-so, “[...] mas o que ela não pode édestruir o princípio mórbido resi-dente na alma”.2 (Grifo nosso.)Perguntamos: O que faz a um ho-mem residir em si um princípiomórbido? São Luís explica-nosatravés de uma comparação entre

os Espíritos primários (recém-en-trados na Humanidade) e os ou-tros, mais experientes. Os primei-ros são mais reativos; possuempoucos recursos no âmbito do en-tendimento e da reflexão. Já os se-gundos têm a possibilidade deagregar princípios às suas vidas.Entre estes últimos incluímos obom espírita, que pode ter umsentimento superior e, eventual-mente, vir a agregar para si algumprincípio mórbido que o prejudi-cará em seu processo evolutivo.

No Dicionário Caldas Aulete,princípio é um substantivo: con-junto de “proposições, opiniõesque o espírito admite como pontode partida; regra fundamental,doutrina”. Mórbido é um adjetivo:“prejudicial à saúde; que causadoença”. Princípio mórbido, por-tanto, pode ser entendido comoregra ruim que criamos para nós eque se torna fundamento de umaprejudicial doutrina pessoal. Qualserá a gênese deste mal?

Vamos ao conceito de mente:Emmanuel a considera “[...] o espe-

lho da vida em toda parte”.3 Infor-ma-nos que aparece nos seres maisprimitivos sob a ação do instinto;nas almas humanas a mente surgeentre ilusões que ultrapassam a in-teligência, para revelar-se, nos Es-píritos superiores, por brilhanteprecioso, a retratar a Glória Divina.Como estamos entre a animalida-de e a angelitude, entre a ação e areação, segundo Emmanuel, na vi-da, somos compelidos através decaracterísticas expressivas da men-te a utilizá-la como “[...] campo denossa consciência desperta [...]”.3

Daí em diante, no pleno uso da nos-sa vontade, mesmo quando influen-ciados pelo meio, decorrerá sempreuma geração de forças do pensamen-to, movimentando tudo em torno,“[...] criando e transformando, des-truindo e refazendo para acrisolare sublimar”.3 E isto não é uma teo-ria: é algo que se processa em nós,desde os reflexos instintivos, até hoje,

A necessária mudançade princípios

C

“Vemos no Cristo – divino marco da renovação humana – todo um programade transformações viscerais do Espírito.” 1

JU L I O CE S A R D E SÁ RO R I Z

1XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 2008. Cap. 20, p. 87.

2KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 2. ed.especial. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Se-gunda parte, cap. IV, item 8, p. 354.

3XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2008. Cap. 1, p. 9-10.

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quando esboçamos a emotividadee a capacidade de plasmar ideias,determinando nossas atitudes e pa-lavras. Eis aí uma experiência sin-gular que ninguém pôde, e jamaispoderá realizar por nós, porquetemos capacidade plena de fazê-la.

Somos responsáveis pelos am-bientes que criamos: “Respiramosno mundo das imagens que proje-tamos e recebemos [...]”.4 Assim,submetemo-nos ao domínio doprincípio mórbido que criamos e afe-tamos o meio-ambiente, receben-do, de retorno, o resultado da mor-bidez lançada por outrem em nos-sa direção. Neste ponto, Emma-nuel chega a dizer que, entre os se-res humanos, ocorre uma terrível“comunhão negativa de sofrimen-tos”. Inspirando-nos em suas ideias,relacionamos conceitos que podemeventualmente ajudar na elabora-ção de ações conscientes para sair-mos disso: 1) sempre há bons ca-minhos para nossas escolhas; 2) énecessário sabermos qual princípiomórbido ainda agasalhamos emnós; 3) precisamos ampliar nossas

vistas para além da escravização aosmaus pendores e nos vermos comoseres de possibilidades mais amplas;4) na escolha de nossas imagens, se“preferirmos” estacionar sob a fas-cinação de elementos ruins, estes,provisoriamente, nos escravizarão;5) optando por melhores imagensmentais, incorporaremos poderesque nos induzirão ao progresso.Trata-se, portanto, de uma ques-tão de conscientização: da necessi-dade de uma verdadeira caridadepara conosco, instrumentos úteisnas atividades doutrinárias da CasaEspírita. Mas, o que ocorrerá se nosalheamos disso tudo, para perma-necer exclusivamente em funçãodos outros? Refletindo as ideias des-ses Espíritos superiores que nosajudam a compreender esse tema,tiramos uma grande lição: não é sópor fazer um serviço do bem, que oespírita estará imune da indesejávelinternalização de um princípio mór-bido. Mesmo que possamos fazersurgirem “flores” por sobre o nosso“pântano”, isto não nos isentará danecessidade de drená-lo todo dia,em nosso próprio benefício.

No jornal O Espírita Mineiro(no 137, abril-junho/1970) há uma

belíssima reflexão de Chico Xaviersobre o assunto. Durante as ho-menagens prestadas pelos seus 40anos de mediunidade, o médiumcontou que, quando morava emPedro Leopoldo, esperava a con-dução, bem próximo de um pân-tano. Ele percebeu com o tempoque ali foram nascendo flores sil-vestres. Chico estava feliz com abeleza do manto de flores, no en-tanto, Emmanuel apareceu-lhe edisse: “[...] mas o pântano conti-nua lá”. Então, o médium pediuque não mais incentivassem suavaidade, exaltando sua mediuni-dade. E, talvez prevenindo-se dealgum princípio ruim, disse: “[...]me sinto na condição do charcoque, pela misericórdia de Deus,um dia recebeu essas flores quesão os livros, e que pertencemmuito mais a vós outros do que amim”. Por fim, sinceramente, ro-gou a todos que orassem por ele,para que conseguisse,um dia, drenar seupróprio pântano.

Princípio mórbidoé, portanto, um “pân-

15Fevere i ro 2009 • Reformador 5533

4Idem, ibidem. Cap. 1, p. 11.

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tano” que criamos negligentemen-te em nós mesmos. Ainda assim,podemos servir no bem, criando“lindas flores” através do serviçode benefício ao próximo. Enquan-to “drenamos o nosso pântano”,sirvamos no bem e até mesmo nosempolguemos com os resultadospositivos das tarefas que realiza-mos na Casa Espírita. Só não de-vemos é nos fixar demais na con-templação dessas “flores”, como sefossem garantia de drenagem domencionado pântano. Que esta in-cômoda constatação nos convo-que a uma transformação para aindispensável mudança do modode pensarmos a vida. Já temos acui-dade mental e força de vontadesuficientes para sairmos dessa ar-madilha milenar e partirmos, re-solutos, no rumo do porvir. Vejambem: a coisa é muito grave porqueninguém pode fazê-la por nós...

São Luís traz-nos noções desseporvir, confirmando que não serásó à custa de ações externas (“flores”sobre o “pântano”) que conseguire-mos evitar a influência dos princí-pios do mal internalizados por nósmesmos, ao longo dos milênios deignorância. Se permanecermos ho-mens viciosos, tornar-nos-emos“homens-pântano”, submetidos aosprincípios equivocados que estarãosempre fazendo eco, apesar da no-va posição espírita que assumimosnestes dias, perante a nossa cons-ciência. Pelo que percebemos na fa-la do Chico, não se pode combaterisso com alheamento, orgulho, vai-dade ou ostentação; nem tambémcom aparências, pois não se trata deum fenômeno restrito ao falar. Por

isso, Emmanuel cobrava de ChicoXavier uma ação coerente, estimu-lando-o sempre a criar, na própriaalma, novos princípios salutares, co-mo fundamentos benéficos de seuspensamentos e ações no bem.

São Luís diz-nos que se a al-ma, com todo o poder moral deque é capaz, não reagir, deixar--se-á dominar pelo reflexo (con-dicionado) animal:

Por sua natureza, possui o Espí-

rito uma propriedade luminosa

que se desenvolve sob o influxo

da atividade e das qualidades da

alma. [...] A intensidade da luz es-

tá na razão da pureza do Espírito:

as menores imperfeições morais

atenuam-na e enfraquecem-na.5

Como vemos, para quem traba-lha na Casa Espírita, torna-se im-portante a erradicação progressivae consciente do princípio mórbido.Não que se tenha “por natureza”uma ruindade nata. Kardec, co-mentando a fala de São Luís, dizque o estado de obscuridade hu-mana pode ser perfeitamente mo-dificado para uma luz irradiante,já que a obscuridade não é ineren-te à alma. Antes que se possa dizerque é muito difícil encontrar al-guém que tenha movimentadotais reflexões internas, eis o queEmmanuel nos apresenta:

Se o homem pudesse contem-

plar com os próprios olhos as

correntes de pensamentos, re-

conheceria, de pronto, que to-

dos vivemos em regime de co-

munhão, segundo os princípios

da afinidade.6 (Grifo nosso.)

Parece-nos, então, que precisa-mos nos aproximar mais de pessoasque demonstram vontade férrea defazer mudanças de hábito, o quenos favoreceria pela boa sintonia,ajudando-nos, assim, a drenar nos-so “pântano”. Existem coisas que sóconseguimos com a ajuda de ou-trem. No entanto, somos nós quefazemos o rompimento definitivodessa “[...] esteira de reflexos men-tais acumulados, operando cons-tante indução à rotina”.7 Esta rotinaé um dos sintomas do sistema vi-cioso, sob o domínio da ignorânciaacalentada, onde a criatura huma-na, segundo Emmanuel, “[...] pro-curando enganar-se depois do ber-ço, para desenganar-se depois do tú-mulo, aprisionada no binômio ilu-são–desilusão, com que despendelongos séculos [...]”.7 Como estamosconscientes de que não é bom es-tacionarmos nessa armadilha, crie-mos novos costumes, a fim de quenos desvencilhemos das fórmulasinferiores que fomentaram reinci-dências em erros de nosso passadoremoto. Em suma: trabalharmos nobem e, ao mesmo tempo, realizar-mos a necessária mudança de prin-cípios, quando estes sejam preju-diciais a nós e à Casa Espírita.

16 Reformador • Fevere i ro 20095544

5KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 2. ed.especial. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Se-gunda parte, cap. IV, item 8, p. 352.

6XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2008. Cap. 8, p. 37.

7Idem, ibidem. Cap. 20, p. 85-86.

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ovoara-se o firmamento de estrelas, dentro danoite prateada de luar, quando o Senhor, ins-talado provisoriamente em casa de Pedro, to-

mou os Sagrados Escritos e, como se quisesse impri-mir novo rumo à conversação que se fizera improdu-tiva e menos edificante, falou com bondade:

– Simão, que faz o pescador quando se dirige parao mercado com os frutos de cada dia?

O apóstolo pensou alguns momentos e respon-deu, hesitante:

– Mestre, naturalmente escolhemos os peixes me-lhores. Ninguém compra os resíduos da pesca.

Jesus sorriu e perguntou, de novo:– E o oleiro? que faz para atender à tarefa a que se

propõe?– Certamente, Senhor – redarguiu o pescador, in-

trigado –, modela o barro, imprimindo-lhe a formaque deseja.

O Amigo Celeste, de olhar compassivo e fulguran-te, insistiu:

– E como procede o carpinteiro para alcançar otrabalho que pretende?

O interlocutor, muito simples, informou sem va-cilar:

– Lavrará a madeira, usará a enxó e o serrote, omartelo e o formão. De outro modo, não aperfeiçoa-rá a peça bruta.

Calou-se Jesus, por alguns instantes, e aduziu:– Assim, também, é o lar diante do mundo. O

berço doméstico é a primeira escola e o primeirotemplo da alma. A casa do homem é a legítima ex-portadora de caracteres para a vida comum. Se o ne-gociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro nãoconsegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aosseus propósitos, como esperar uma comunidade se-

gura e tranquila sem que o lar se aperfeiçoe? A pazdo mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos.Se não aprendemos a viver em paz, entre quatroparedes, como aguardar a harmonia das nações? Senos não habituamos a amar o irmão mais próximo,associado à nossa luta de cada dia, como respeitar oEterno Pai que nos parece distante?

Jesus relanceou o olhar pela sala modesta, fezpequeno intervalo e continuou:

– Pedro, acendamos aqui, em torno de quantosnos procuram a assistência fraterna, uma claridadenova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela,recebes do Senhor o alimento para cada dia. Porquenão instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidadee da paz na conversação e no pensamento? O Pai, quenos dá o trigo para o celeiro, através do solo, envia--nos a luz através do Céu. Se a claridade é a expan-são dos raios que a constituem, a fartura começa nogrão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciadosobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dospastores e dos animais.

Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes elúcidos e, como não encontrasse palavras adequadaspara explicar-se, murmurou, tímido:

– Mestre, seja feito como desejas.Então Jesus, convidando os familiares do apóstolo

à palestra edificante e à meditação elevada, desenro-lou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o pri-meiro culto cristão do lar.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Luz no lar. 11. ed. 1a reimpressão.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 60.

17Fevere i ro 2009 • Reformador 5555

P

Presença de Chico Xavier

Pelo Espírito Neio Lúcio

O culto cristão no lar

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18 Reformador • Fevere i ro 20095566

mediunidade, cada vezmais, chama a atenção,sobretudo de setores tra-

dicionais da mídia que, aos pou-cos, rompendo com o preconceitoainda vigente, vêm, ultimamente,ampliando a cobertura desta te-mática. Em Atos dos Apóstolos(2:17), encontramos a passagemdo Novo Testamento que prenun-ciou a multiplicação desse fenôme-no, meio de despertamento doshomens para a realidade de suatranscendência espiritual:

Nos últimos tempos, disse o Se-

nhor, derramarei o meu Espíri-

to sobre toda a carne; os vossos

filhos e filhas profetizarão, os

mancebos terão visões, e os ve-

lhos, sonhos.

A mediunidade tem a idade dohomem, não foi criada pelo Espi-ritismo. Trata-se de uma lei naturala que todos estamos sujeitos. Elaatesta o amor de Deus para com osseus filhos, confirmando a imorta-lidade da alma, a continuidade davida e a possibilidade de intercâm-bio entre os planos visível e invisível.

“Todo aquele que sente, numgrau qualquer, a influência dos Es-píritos é, por esse fato, médium”.1

O mero ato de sintonizar, aindaque inconscientemente, a faixa depensamentos de outros Espíritos,mesmo que numa simples prece,nos liga com o mundo invisível,daí o “dizer-se que todos são, maisou menos, médiuns”1: “Quem pen-sa, está fazendo alguma coisa alhu-res”, porque “toda alma é um ímãpoderoso”.2

Os povos primitivos, quandoadoeciam, tinham os seus pajés,encarregados de realizar a medici-na empírica da época, os quais re-cebiam a intuição para a desco-berta de ervas e plantas que cura-vam e alimentavam. Muitas in-venções e criações, sustentadaspelo indispensável trabalho e es-forço humano, tiveram e conti-nuam tendo, na mediunidade, a

sua fonte inspiradora, impulsio-nando o homem rumo às estrelas.

Determinadas pessoas, além deusufruírem dessa faculdade laten-te, comum a todos nós, possuemtambém mediunidade ostensiva,que lhes permite produzir, porexemplo, efeitos físicos e/ou trans-mitir o pensamento dos Espíri-tos pela escrita ou pela palavra. Amediunidade pode desabrocharinesperadamente em qualquerpessoa, independentemente daidade, sexo, grau de inteligência,seja de que religião for, ou mes-mo que não tenha religião algu-ma, inclusive num ateu ou numincrédulo.

É uma faculdade inerente aoser humano – não se trata de pri-vilégio algum. Muito pelo contrá-rio. Não raras vezes, o Espíritoreencarna com esta faculdade os-tensiva, que lhe é outorgada pelamisericórdia divina como opor-tunidade de evolução e de reden-ção, com o objetivo de resgatardébitos do pretérito.

Allan Kardec destaca que “o fimprovidencial das manifestações é[...] dar aos crentes ideias mais

Mediunidade –Correio do mundo espiritual!

ACH R I S T I A N O TO RC H I

1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIV,item 159.

2XAVIER, Francisco Cândido. Nosso lar.Pelo Espírito André Luiz. 59. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2007. Cap. 12, p. 83.

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justas sobre o futuro”.3 Assim, re-pelir as comunicações dos Espíri-tos é um contrassenso, pois elasnos oferecem preciosos ensina-mentos quanto ao nosso futuroespiritual, além de nos proporcio-narem estudos edificantes para acompreensão das Leis Divinas.

Observando a situação moralem que se encontram os Espíritosdesencarnados, em cuja posiçãoestaremos após a morte física, po-demos extrair conclusões valiosasa respeito de como devemos pau-tar a nossa conduta, enquanto en-carnados, circunstância que podefavorecer o nosso progresso espi-ritual, se soubermos aproveitá-la.As criaturas encarnadas nunca es-tiveram abandonadas por Deus,que deixou uma fresta de comu-nicação entre o “Céu” e a Terra,uma espécie de correio do mundoespiritual, em que os médiuns po-dem ser considerados cartas vivasda Espiritualidade.

Muito da incredulidade sobretais fenômenos deve-se ao desco-nhecimento e ao mau uso que sefaz da mediunidade que, para al-guns, se transforma em fonte deexploração comercial, produzin-do consequências desastrosas pa-ra aqueles que abusam dessa su-blime concessão divina.

“Dai de graça o que de graça re-cebestes” (Mateus, 10:8), recomen-da Jesus, numa clara alusão a quetais faculdades são concedidaspelo Criador, para que sejam

utilizadas em benefício da espiri-tualização do ser humano: a me-diunidade com Jesus.

Jesus também alertou que ha-veria falsos profetas, isto é, falsosreligiosos, falsos médiuns oumédiuns que utilizariam suas fa-culdades com fins egoísticos. Damesma forma, o apóstolo Joãorecomendou que não confiásse-mos cegamente em todos os Es-píritos, muitos deles falsos pro-fetas da erraticidade:

Meus bem-amados, não acredi-

teis em todo espírito, mas expe-

rimentai se os espíritos são de

Deus, porquanto vários falsos

profetas se ergueram no mun-

do. (1a Epístola, 4:1.)

A faculdade mediúnica tam-bém não depende do desenvolvi-mento moral. O mesmo, porém,não se dá com o seu uso, quepode ser bom ou mau,conforme as qualidades domédium. Assim, as quali-dades das comunicaçõesespirituais variam de acor-do com a conduta moral domédium. Se for uma pessoaidônea, de bons princí-pios morais, estudiosa,oferece campo paraa aproximação emanifestação debons Espíritos.

Isso não quer dizer que um mé-dium aplicado, de conduta ele-vada, não possa servir de inter-mediário de Espíritos sofredoresou menos evoluídos, quando istofor necessário.

A moral dos Espíritos superio-res, de que os médiuns se fazemcanais, é a mesma do Cristo e podeser resumida na expressão: fazeraos outros o que desejamos que osoutros nos façam (Lucas, 6:31), is-to é, fazer o bem e não o mal. Neste

19Fevere i ro 2009 • Reformador 5577

3KARDEC, Allan. O que é oespiritismo. 55. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. Cap. II, item 50.

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princípio, o homem encontra umaregra universal de proceder, mesmopara as ações mais insignificantes.

O princípio da sobrevivência daalma guarda relação íntima com oda comunicabilidade dos Espíri-tos, o qual é uma decorrência na-tural daquele. É totalmente ilógicoe insensato que o Espírito sobrevi-va à morte do corpo físico e estejaimpedido de se comunicar com omundo em que estagiou, apenasporque os homens querem que as-sim seja; ou que apenas os mausEspíritos se comuniquem, com afinalidade de ludibriar os encar-nados, como apregoam de-terminados segmentosreligiosos; ou que ape-nas os “santos Espíri-tos” o façam para al-guns seres suposta-mente privilegiados.

Não há profana-ção alguma no comu-nicar-se com os de-sencarnados, quandoisso é feito com recolhi-mento e a evocação sejapraticada respeitosa e con-venientemente. Alguns reli-giosos procuram desautorizar oEspiritismo com base na Bíblia,chamando a atenção, entre outrascoisas, para a proibição mosaica deevocar os mortos (Deuteronômio,18:14).4 Em primeiro lugar, essa crí-tica contradiz-se com a afirmação deque não é possível a comunicação

com os mortos. Ora, se Moisés proi-biu a comunicação com os mor-tos é porque ela era e é possível.

Ademais, se o Velho Testamentodeve ser tão rigorosamente obser-vado neste ponto, é natural que oseja também em todos os outros.Por que a lei de Moisés seria boano tocante às evocações e não emoutras partes? Se se reconhece quea lei mosaica não está mais de acor-do com o nosso tempo e nossacultura, em certos casos, a mesma

razão procede para a proibição decomunicação com os mortos.

O uso da mediunidade requerdiscernimento. Moisés proibiu-a noseio do povo hebreu, por precaução.Essa proibição justificava-se, na-quela época, por motivos históri-cos, que hoje não mais prevalecem.O legislador hebreu queria que oseu povo, ainda rude e ignorante,

abandonasse todos os costumesadquiridos, durante séculos de cati-veiro, no seio de um povo idólatra(os egípcios), onde as evocações dosEspíritos eram praticadas indiscri-minadamente e facilitavam os abu-sos. O que Moisés reprovava, o Espi-ritismo também não recomenda,pois a evocação dos “mortos”não sepautava pelos sentimentos de res-peito, afeição ou piedade para comos Espíritos, sendo antes um recur-so para adivinhações, um meio desatisfazer às paixões humanas.

Somos, ainda, Espíritos em trân-sito da animalidade para a an-

gelitude, mais perto do pon-to de partida do que do

ponto de chegada. Seja-mos ou não médiunsostensivos, compete--nos, na construçãode cada dia, empre-gar as faculdadesdo Espírito na práti-ca do bem e no estu-

do das leis espirituais,de modo a nos conhe-

cermos melhor e a des-pertar novos níveis de cons-

ciência, expandindo, assim,nossas percepções sobre o mun-

do que nos envolve, tanto o físicoquanto o espiritual.

Encerramos estas reflexões como pensamento atribuído a Con-fúcio, que é um alerta para a ne-cessidade da vigilância de nossaconduta diária:

Quando você nasceu, todos sor-

riam, só você chorava.Viva de tal

forma que, quando você morrer,

todos chorem e só você ria.

20 Reformador • Fevere i ro 20095588

4“Porque estas nações, que hás de possuir,ouvem os prognosticadores e os adivi-nhadores; porém a ti, o Senhor teu Deus,não permitiu tal coisa.”

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21Fevere i ro 2009 • Reformador 5599

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

Que pedes?“Louco, esta noite te pedirão a tua alma.”

– JESUS. (LUCAS, 12:20.)

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Edição especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 35.

ue pedes à vida, amigo?

Os ambiciosos reclamam reservas de milhões.

Os egoístas exigem todas as satisfações para si somente.

Os arbitrários solicitam atenção exclusiva aos caprichos que lhes são próprios.

Os vaidosos reclamam louvores.

Os invejosos exigem compensações que lhes não cabem.

Os despeitados solicitam considerações indébitas.

Os ociosos pedem prosperidade sem esforço.

Os tolos reclamam divertimentos sem preocupação de serviço.

Os revoltados reclamam direitos sem deveres.

Os extravagantes exigem saúde sem cuidados.

Os impacientes aguardam realizações sem bases.

Os insaciáveis pedem todos os bens, olvidando as necessidades dos outros.

Essencialmente considerando, porém, tudo isto é verdadeira loucura, tudo fan-

tasia do coração que se atirou exclusivamente à posse efêmera das coisas mutáveis.

Vigia, assim, cautelosamente, o plano de teus desejos.

Que pedes à vida?

Não te esqueças de que, talvez nesta noite, pedirá o Senhor a tua alma.

Q

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I – Origens

Foi em Reformador de 15 de fe-vereiro de 1909 que, graças à

iniciativa do então presiden-te Leopoldo Cirne (1870--1941), surgiu a primeiramanifestação da FEB emfavor do esperanto, ao sepublicar a tradução de umartigo do espírita francês

Camille Chaigneau, enal-tecendo as virtudes do idio-

ma e o seu valor para adivulgação das ideiasespíritas:

[...] A adesão de uma coletividade ao Esperanto é

uma força de engrandecimento para esta língua,

mas, em compensação, essa coletividade goza da

força comunicativa intrinsecamente contida no

Esperanto.

Se quiséssemos procurar a gênese dessa língua, veri-

ficaríamos que ela aparece como um fato de colabo-

ração com o Invisível.

Essa impersonalidade constitui a sua superioridade;

essa assistência faz a sua força de atração.

Todos aqueles que trabalham no campo do progres-

so concorrerão para esta obra tão bela e tão fecunda

à aproximação dos homens. O Esperanto possui a

chama da fraternidade: ele viverá.

Compete aos espíritas aproveitar as suas aspirações

vivificantes e dar-lhes um reforço de vitalidade.

Em meados de 1912, a FEB inaugura uma ativida-de que permaneceria, até hoje, sem solução de conti-nuidade: têm início os cursos gratuitos do idioma,pela iniciativa e sob a condução de José MachadoTosta (1873-1929) que, do plano espiritual, em 1946,pela psicografia de Chico Xavier, referiu-se com lúcidoentusiasmo ao papel da Língua Internacional Neutrana construção da Nova Era:

[...] Espiritismo e Esperanto,

nossos dois grandes mo-

vimentos, são forças vi-

vas e atuantes da elevação

e da confraternização.

Continuemos a prestar-

-lhes nosso concurso fiel.

Unindo as criaturas entre

si e projetando-lhes o im-

pulso para o Supremo Pai,

estaremos preenchendo fi-

nalidades nobilitantes de

nossa tarefa na atualidade.1

Centenário das atividades da

FEB em torno do Esperanto

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

1Mensagem publicada em Reformador de janeiro de 1947.

Capa

Leopoldo Cirne

José Machado Tosta

22 Reformador • Fevere i ro 20096600

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Até a primeira metade dosanos 30, as atividades da Ca-sa de Ismael em torno do idealesperantista limitam-se a ar-tigos esparsos no seu órgãooficial e ao ensino da língua,quando a feliz associação dofervor de Ismael Gomes Braga(1891-1969) à clarividência doentão presidente da FEB, Luís

Olímpio Guillon Ribeiro (1875-1943), dá sólida con-sistência às atividades da FEB nesse campo promis-sor. Inaugura-se em 1937, sob a condução do mesmoIsmael, o Serviço de Propaganda do Esperanto, como que se amplia a tarefa de conscientizar os espíritassobre o valor do idioma e a suautilidade na divulgação daDoutrina. Desenvolve-seintensa atividade edi-torial, de que surgemmanuais de ensino, di-cionários, antologias,inclusive na língua es-panhola. E, para queaos operários da novaconstrução não faltasse oindispensável apoio do Al-to, é-lhes oferecida, em 19de janeiro de 1940, pelovenerando Espírito Emma-nuel, através da psicografia de Chico Xavier, belíssi-ma, fecunda exortação, exarada na mensagem “AMissão do Esperanto”, de que destacamos estes signi-ficativos trechos:

Jesus afirmava não ter vindo ao planeta para des-

truir a Lei, como o Espiritismo, na sua feição de Con-

solador, não surgiu para eliminar as religiões exis-

tentes. O Mestre vinha cumprir os princípios da lei,

como a doutrina consoladora vem para a restauração

da Verdade, reconduzindo a esperança aos corações,

nesta hora torva do mundo, em que todos os valores

morais do orbe periclitam nos seus fundamentos, assal-

tados pelas doutrinas da violência, que embriagaram

o cérebro da civilização atual, qual veneno amargo a

destruir as energias de um corpo envelhecido. [...]

Também o ESPERANTO, amigos, não vem destruir

as línguas utilizadas no mundo, para o intercâmbio

dos pensamentos. A sua missão é superior, é a da

união e da fraternidade rumo à unidade universalis-

ta. Seus princípios são os da concórdia e seus após-

tolos são igualmente companheiros de quantos se

sacrificaram pelo ideal divino da solidariedade hu-

mana, nessas ou naquelas circunstâncias.

Sim, o ESPERANTO é lição de fraternidade. Aprenda-

mo-la, para sondar, na Terra, o pensamento daqueles

que sofrem e trabalham noutros campos. Com mui-

ta propriedade digo: “aprendamo-la”, porque somos

também companheiros vossos que, havendo conquis-

tado a expressão universal do pensamento, vos deseja-

mos o mesmo bem espiritual, de modo a organizar-

mos, na Terra, os melhores movimentos de unificação.

II – A serviço do Consolador

À manifestação daquele eminente Mentor espiritualseguem-se comunicações de diversos Espíritos, prin-cipalmente através da mediunidade de Francisco Val-domiro Lorenz, por cujo intermédio surge, em 1944,publicada pela FEB, a obra Vo/oj de Poetoj el la SpiritaMondo (Vozes de Poetas do Mundo Espiritual), que seconstitui numa espécie de Parnaso de Além-Túmulodo mundo esperantista, em que desfilam renomadospoetas da Língua Internacional Neutra, incluindo-seo próprio criador do idioma, Lázaro Luís Zamenhof.

É sob os auspícios de tão consistentes manifesta-ções que a FEB inauguranova fase nos servi-ços do esperanto: adivulgação da Dou-trina através de bemcuidadas traduções,a começar pela pu-blicação, em 1946, deLa Libro de la Spiritoj(O Livro dos Espíritos),vertido do originalfrancês pelo acadêmico

Ismael Gomes Braga

Luis OlímpioGuillon Ribeiro

23Fevere i ro 2009 • Reformador 6611

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Prof. Dr. Luís da Costa Porto Carrei-ro Neto. Seguem-se-lhe os demaislivros de Allan Kardec, bem comoobras de Léon Denis, FranciscoCândido Xavier, Zilda Gama, Di-valdo Pereira Franco, entre outras.

O ano de 1959, no centenáriodo nascimento de Zamenhof, traza confirmação das origens espiri-tuais de sua genial criação através damensagem “O Esperanto como revela-ção”, que o Espírito Francisco Valdo-miro Lorenz, desencarnado em 1957,dita a Chico Xavier:

Verificando as imensas dificuldades para o intercâmbio de

tribos e povos desencarnados, especialistas espirituais

de fonética, etimologia e onomatopeia empreenderam

a formação de um idioma internacional para entendi-

mento rápido nas regiões espaciais vizinhas do Globo,

multiplicando, em vão, tentames e experiências, até

que um dos grandes missionários da Luz, consagrado à

concórdia, tomou a si o exame e a solução do problema.

......................................................................................

Cercando-se de assessores eficientes, o construtor da

unificação iniciou dilatados estudos e, conjugando

as mais conhecidas raízes idiomáticas de vários po-

vos, concretizou, em quase meio século de trabalho,

a sublime realização.

Auxiliado pelas numerosas equipes de colaborado-

res que se lhe afinavam com o ideal, o gênio da con-

fraternização humana, que conhecemos por Lázaro

Luís Zamenhof, engenhara, com a inspiração divina,

o prodígio do Esperanto, estabelecendo-se a institui-

ção de academias respectivas, nos planos espirituais

conexos às nações mais cultas do Planeta.

......................................................................................

Corporifica-se Zamenhof, em 1859, num lar da Po-

lônia, então associada ao Império Moscovita, cujos

povos congregados falavam e escreviam em quase

duzentas línguas diversas.

......................................................................................

E, ante as farpas da crítica e sob os latejos da ingra-

tidão, atormentado, incompreendido pela maioria

dos contemporâneos, ferido por muitos

e apedrejado em seus sentimentos mais

caros, recompõe o Esperanto para os

povos terrestres, encetando nova es-

trada para a unificação mundial.

.............................................................

Atendamos, desse modo, nós outros,

espiritualistas e espíritas, encarnados

e desencarnados, ao incremento do Es-

peranto, em simultaneidade com o es-

forço de restaurar as colunas do Cristia-

nismo, por santuário vivo da Religião

Universal, em bases de amor e sabedoria,

no terreno da Bondade Imensurável de

Deus e Sua Justiça indefectível.

......................................................................................

Desfraldemos, assim, o estandarte verde por símbo-

lo de união!2

Surgem novos e belos frutos da atividade dos espe-rantistas-espíritas em favor da sustentação dos ideaisde Zamenhof em seus círculos, bem como da divulga-ção das revelações espíritas no seio da coletividade es-perantista, destacando-se, entretantos, a fundação, em 1975,da Spirita Eldona SocietoF. V. Lorenz, a qual prosse-gue fiel aos objetivos deainda mais ampliar o al-cance da difusão doutriná-ria por meio do esperanto.

Em 1977, como resulta-do dos entendimentos fra-ternos entre os saudososFrancisco Thiesen e Geral-do de Aquino, têm inícioas irradiações, até hojemantidas pela Rádio Riode Janeiro, do progra-ma Espiritismo, Evange-lho, Esperanto.

2Mensagem publicada em Reformador de abril de 1959, p. 13(81)--15(83).

Lázaro Luís Zamenhof,criador do idioma

Francisco Valdomiro Lorenz

24 Reformador • Fevere i ro 20096622

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O ano de 1980 veria a sanção, por assim dizer, ofi-cial do Movimento Espírita brasileiro à semeaduraesperantista em seu seio, pela qual as casas espíritasrecebem novo incentivo a que reservem em seu pro-grama de ação um espaço para o estudo, a divulga-ção e a utilização do esperanto.

Em 1981, a FEB desenvolve, pela primeira vez, ricaprogramação no quadro do 66o Congresso Universalde Esperanto, ocorrido em Brasília (DF), o primeiroa se realizar no Hemisfério Sul, quando, entre outrositens, é lançada a obra La 0ielo kaj la Infero, versão emesperanto do livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec.A FEB voltaria a participar de um congresso mundialde esperantistas em 1987, quando em Varsóvia, Polô-nia, se comemoraria o jubileu centenário da criaçãodo Dr. Zamenhof. A partir de então, tornou-se tradi-cional a presença dos espíritas no programa desseevento máximo, anual, dos esperantistas.

No ano seguinte, a FEB lança uma campanha parao estudo sistematizado do idioma, com o que aindamais fortalece o entusiasmo pelo seu ensino, sob cri-térios em harmonia com a natureza especial das ati-vidades de uma Casa Espírita.

III – Atualidade promissora

Em 1991, por iniciativa do então presidente Juva-nir Borges de Souza, o esperanto entra na organiza-ção administrativa da FEB, com a criação de um de-partamento específico para regular suas atividadesem torno da nobre causa.

E agora, com uma folha respeitável, centenária, deserviços prestados ao tríplice ideal Evangelho – Espiri-tismo – Esperanto (EEE), os adeptos se preparam parao ingresso no seio da organização federativa do Espi-ritismo no Brasil, pela fundação, em 7 de setembro de2008, da Associação Brasileira de Esperantistas-Espí-ritas (Brazila Asocio de Esperantistoj-Spiritistoj), atravésda qual formarão entre os membros da operosa famí-lia das entidades especializadas junto ao ConselhoFederativo Nacional da Federação Espírita Brasileira.

O trabalho, não obstante a inevitável mudança decircunstâncias e ferramentas, permanece sempreorientado para o mesmo objetivo: a divulgação do

esperanto entre os espíritas do Brasil e do mundo, ea disseminação do Espiritismo, em nível internacio-nal, entre esperantistas e não esperantistas.

O poderoso instrumento de divulgação, oferecidopela rede mundial de computadores, já largamenteusado pelos esperantistas-espíritas, tem possibilitadoque os textos de nossas obras doutrinárias, vertidosna Língua Internacional Neutra, cheguem a esperan-tistas de diferentes países para que os retraduzam nassuas línguas nacionais, com o que se criam condiçõesfavoráveis à ação do Conselho Espírita Internacionalno sentido de, tanto quanto possível, levar a Doutri-na ao mundo inteiro, ao mesmo tempo que se afirmanecessária, urgente mesmo, a tarefa de traduzir parao esperanto as obras mais significativas dos autoresespíritas, encarnados e desencarnados. Sempre sobos rigorosos e seguros critérios que a têm orientadodesde a sua fundação, a Casa de Ismael agora atendea essas novas necessidades, confiando tais serviços atradutores de reconhecida competência.

Finalizamos a expressão de nossa homenagem atão belo evento, reproduzindo, uma vez mais, as sig-nificativas palavras que o Espírito Abel Gomes, atra-vés da psicografia do Chico Xavier, dirigiu a IsmaelGomes Braga, em 1948, publicadas em Reformadorde novembro daquele ano, as quais valem por per-manente incentivo a que os espíritas perseveremosno incremento do esperanto em nossas fileiras:

“Com o Evangelho, acenderemos nova luz na cons-

ciência coletiva, cooperando na missão redentora de

que o Brasil se acha investido na revivescência do Cris-

tianismo restaurado; com o Esperanto, abrimos novo

caminho de fraternidade real entre almas e povos, pa-

ra que o pensamento cristão consolide as suas diretri-

zes salvadoras nos mais variados setores do mundo,

preparando o futuro milênio em bases mais justas de

compreensão e solidariedade efetivas; e com o Espi-

ritismo, descerraremos novos horizontes à visão ge-

ral para que entendimento sadio prevaleça na men-

talidade terrestre, em todas as fases evolutivas, incli-

nando as criaturas à dignidade humana e ao conheci-

mento substancial da justiça que determina seja con-

cedido a cada um de acordo com as suas obras.”

25Fevere i ro 2009 • Reformador 6633

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m 1859, o naturalista inglêsCharles Darwin (1809-1882)argumentou em seu livro A

Origem das Espécies (On the Ori-gin of Species by Means of NaturalSelection) que as similaridadesbiológicas existentes entre maca-cos e homens apontavam para apresença de um ancestral comum.Tal declaração não foi bem acei-ta por representantes da comu-nidade científica e da sociedade,que viram nas ideias do autoruma alusão de que os homensseriam descendentes dos símios.O cientista foi alvo de zombariase declarações irônicas, ridicula-rizado e depreciado no ReinoUnido e fora dele. Entretanto, asituação foi contrabalançada pe-lo número de seguidores e de-fensores da Teoria.

Obviamente, Darwin estavafazendo referência apenas às se-melhanças físicas, não à nature-za espiritual. Neste ponto escla-rece Kardec:

Do ponto de vista corpóreo e

puramente anatômico, o ho-

mem pertence à classe dos

mamíferos, dos quais unica-

mente difere por alguns mati-

zes na forma exterior. Quanto

ao mais, a mesma composição

de todos os animais, os mes-

mos órgãos, as mesmas fun-

ções e os mesmos modos de

nutrição, de respiração, de se-

creção, de reprodução. [...]1

Os estudos de Kardec sobrehipóteses da origem do corpohumano revelam sintonia com ateoria evolutiva de Darwin, co-mo indicam as consideraçõesque se seguem, destacadas naforma de subitens para facilitara leitura.

• Da semelhança, que há, de for-

mas exteriores entre o corpo

do homem e o do macaco,

concluíram alguns fisiologis-

tas que o primeiro é apenas

uma transformação do segun-

do. Nada aí há de impossível,

nem o que, se assim for, afete

a dignidade do homem.2

• Bem pode dar-se que corpos

de macaco tenham servido de

vestidura aos primeiros Espí-

ritos humanos, forçosamente

pouco adiantados, que vies-

sem encarnar na Terra, sendo

essa vestidura mais apropriada

às suas necessidades e mais

adequadas ao exercício de suas

faculdades, do que o corpo de

qualquer outro animal. [...]2

• Vestiu-se então da pele do ma-

caco, sem deixar de ser Espíri-

to humano, como o homem

não raro se reveste da pele de

certos animais, sem deixar de

ser homem.2

• Fique bem entendido que aqui

unicamente se trata de uma

hipótese [...] apresentada ape-

nas para mostrar que a origem

do corpo em nada prejudica o

Espírito, que é o ser principal,

E

Evolução dohomem na Terra

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Em dia com o Espiritismo

26 Reformador • Fevere i ro 20096644

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e que a semelhança do corpo

do homem com o do macaco

não implica paridade entre o

seu Espírito e o do macaco.2

• [...] Melhorados, os corpos,

pela procriação, se reproduzi-

ram nas mesmas condições,

como sucede com as árvores de

enxerto. Deram origem a uma

espécie nova, que pouco a pou-

co se afastou do tipo primiti-

vo, à proporção que o Espírito

progrediu.3

• O Espírito macaco, que não foi

aniquilado, continuou a pro-

criar, para seu uso, corpos de

macaco, do mesmo modo que

o fruto da árvore silvestre re-

produz árvores dessa espécie, e

o Espírito humano procriou

corpos de homem, variantes

do primeiro molde em que ele

se meteu. O tronco se bifur-

cou: produziu um ramo, que

por sua vez se tornou tronco.3

Esclarece a Doutrina Espíritaque, assim como as mutaçõesocorridas nos antropóides –macacos destituídos de cauda,anatomicamente semelhantesao homem, como o orangotan-go, o chimpanzé, o gorila e osgibões – fizeram surgir o homemprimitivo, o aperfeiçoamento

genético e espiritual, deste, re-sultou o homem moderno (Ho-mo sapiens).

Com essa nova ordem deideias, os religiosos, em especial,passaram a dar ênfase à figurabíblica de Adão (ou raça adâmi-ca), simbolizada pelo Espiritis-mo como marco da evoluçãohumana:

Adão e seus descendentes são

apresentados na Gênese como

homens sobremaneira inteli-

gentes, pois que, desde a se-

gunda geração, constroem ci-

dades, cultivam a terra, traba-

lham os metais. São rápidos e

duradouros seus progressos

nas artes e nas ciências. [...]4

Em O Livro dos Espíritos cons-ta também que “o homem, cujatradição se conservou sob o no-me de Adão, foi dos que sobrevi-veram, em certa região, a algunsdos grandes cataclismos que re-volveram em diversas épocas asuperfície do globo, e se consti-tuiu tronco de uma das raças queatualmente o povoam”.5

A evolução do homem, pro-priamente dita, começa quando o

princípio inteligente se humaniza,mas o processo continua, ininter-rupto, marcado pela fixação decaracterísticas genéticas impres-cindíveis ao progresso da Huma-nidade. Vez ou outra surgem pe-ríodos especiais de ocorrência demarcos de evolução. Um dessesperíodos ocorreu quando os pri-mitivos habitantes do Planeta re-ceberam uma espécie de enxertiagenética, proveniente de um gru-po de Espíritos que aportaram àTerra, degredados do sistema de Ca-pela, os quais, sob o amparo deJesus, traziam, entre outros com-promissos, o de cooperar com aevolução dos terráqueos que aquiviviam. Emmanuel assim se ex-pressa a respeito:

Com o auxílio desses Espíri-

tos degredados, naquelas eras

remotíssimas, as falanges do

Cristo operavam ainda as úl-

timas experiências sobre os

fluidos renovadores da vida,

aperfeiçoando os caracteres

biológicos das raças huma-

nas. [...]6

Na atualidade, nos tempos deTransição em que nos encon-tramos, ocorre nova transfor-

27Fevere i ro 2009 • Reformador 6655

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mação evolutiva com o surgi-mento de uma geração nova. Éum período assinalado por mi-gração de Espíritos, os que che-gam mais aperfeiçoados, e osque partem da Terra, “[...] ain-da não tocados pelo sentimentodo bem, os quais, já não sendodignos do planeta transforma-do, serão excluídos, porque, se-não, lhe ocasionariam de novoperturbação e confusão e cons-tituiriam obstáculo ao progres-so. [...]”.7 Vemos, assim, que “ageração que desaparece levaráconsigo seus erros e prejuízos; ageração que surge, retemperadaem fonte mais pura, imbuída deideias mais sãs, imprimirá aomundo ascensional movimen-to, no sentido do progresso mo-ral que assinalará a nova fase daevolução humana”.8

Referências:1KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de

Guillon Ribeiro. 52. ed. 1a reimpressão.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. X, item 26.2Idem, ibidem. Cap. XI, item 15.3Idem, ibidem. Item 16.4Idem, ibidem. Item 40.5____. O livro dos espíritos. Tradução

de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1a reimpres-

são. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Comen-

tário de Allan Kardec à questão 51.6XAVIER, Francisco Cândido. A caminho

da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. III, item

Fixação dos caracteres raciais.7KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de

Guillon Ribeiro. 52. ed. 1a reimpressão.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XVIII,

item 27.8Idem, ibidem. Item 20.

28 Reformador • Fevere i ro 20096666

Conselho FederativoNacional da FEB

Nordeste1. Comissão Regional Nordeste

1.1 Cidade-sede: Aracaju (SE).1.2 Período: de 3 a 5 de abril.1.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Gestão Federativa”.

Sul2. Comissão Regional Sul

2.1 Cidade-sede: Curitiba (PR).2.2 Período: de 24 a 26 de abril.2.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Bases para melhor orien-

tação sobre a Literatura Espírita”.

Centro3. Comissão Regional Centro

3.1 Cidade-sede: Brasília (DF).3.2 Período: de 15 a 17 de maio.3.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Plano de Trabalho: desen-

volvimento e resultados junto aos centros espíritas”.

Norte4. Comissão Regional Norte

4.1 Cidade-sede: Boa Vista (RR).4.2 Período: de 11 a 14 de junho.4.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “O Dirigente Espírita como

multiplicador nos diversos níveis do Movimento Espírita – AçõesPráticas”.

Áreas EspecíficasSerão realizadas, concomitantemente, Reuniões das Áreas das Co-

missões Regionais do CFN: Atendimento Espiritual no Centro Espíri-ta, Atividade Mediúnica, Comunicação Social Espírita, Estudo Siste-matizado da Doutrina Espírita, Infância e Juventude, e Serviço de As-sistência e Promoção Social Espírita.

Calendário das Reuniõesdas Comissões Regionais de 2009

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eunidos na modesta resi-dência de Simão Pedro, emCafarnaum, comentavam

os presentes a sublimidade da no-va revelação, quando Sara, esposade um criador de cabras da região,expôs ao Mestre suas dificuldadespara vencer o egoísmo, o ciúme eo apego, não obstante reconheces-se a grandeza do Evangelho.

O Mestre, reconhecendo a legi-timidade das suas dúvidas e a sin-ceridade da sua confissão espon-tânea, utiliza elementos do coti-diano daquela nobre senhora, quevivia da venda do leite de cabras,encarecendo a necessidade de selavar, cautelosamente, o vaso emque ele seria depositado, sob penade azedume de todo o líquido, re-colhido com enorme esforço.

Transpondo o ensino para odomínio das realidades espiri-tuais, Jesus alerta os ouvintes paraa necessidade de se adotar o mes-

mo cuidado no trato com a reve-lação divina, e acrescenta:

– Assim é a revelação celeste no

coração humano. Se não purifi-

camos o vaso da alma, o conhe-

cimento, não obstante superior,

se confunde com as sujidades de

nosso íntimo, como que se dege-

nerando, reduzindo a proporção

dos bens que poderíamos reco-

lher. Em verdade, Moisés e os

profetas foram valorosos por-

tadores de mensagens divinas,

mas os descendentes do povo

escolhido não purificaram sufi-

cientemente o receptáculo vivo

do Espírito para recebê-las. É

por isto que os nossos contem-

porâneos são justos e injustos,

crentes e incrédulos, bons e

maus ao mesmo tempo. O leite

puro dos esclarecimentos eleva-

dos penetra o coração como ali-

mento novo, mas aí se mistura

com a ferrugem do egoísmo ve-

lho. Do serviço renovador da al-

ma restará, então, o vinagre da

incompreensão, adiando o tra-

balho efetivo do Reino de Deus.

....................................................

– O orvalho num lírio alvo é

diamante celeste, mas, na poei-

ra da estrada, é gota lamacenta.

Não te esqueças desta verdade

simples e clara da Natureza.2

Findo o encontro com Nicode-mos, em conversa íntima com Tia-go a respeito do escândalo e do res-gate das faltas, o Mestre voltou aotema da dificuldade humana emlidar com as revelações divinas:

O Mestre apreendeu a ampli-

tude da objeção e esclareceu aos

discípulos, perguntando:

– Dentro da lei de Moisés, co-

mo se verifica o processo da

redenção?

Tiago meditou um instante e

respondeu:

R

Cristianismo Redivivo

HA RO L D O DU T R A DI A S

“Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho novoestourará os odres, derramar-se-á, e os odres ficarão inutilizados.

Põe-se, antes, vinho novo em odres novos.” 1

No trato com a Revelação

1Bíblia de Jerusalém. 3. ed. São Paulo:PAULUS, 2004. Lucas 5:37-38.

2XAVIER, Francisco Cândido. Jesus no lar.Pelo Espírito Neio Lúcio. 37. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2008. Cap. 3, p. 21-22.

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– Também na lei está escrito que

o homem pagará “olho por olho,

dente por dente”.

– Também tu, Tiago, estás pro-

cedendo como Nicodemos – re-

plicou Jesus com generoso sor-

riso. – Como todos os homens,

aliás, tens raciocinado, mas não

tens sentido. Ainda não ponde-

raste, talvez, que o primeiro

mandamento da Lei é uma de-

terminação de amor. Acima do

“não adulterarás”, do “não cobi-

çarás”, está o “amar a Deus sobre

todas as coisas, de todo o co-

ração e de todo o entendimen-

to”. Como poderá alguém amar

o Pai, aborrecendo-lhe a obra?

Contudo, não estranho a exigui-

dade de visão espiritual com que

examinaste o texto dos profe-

tas. Todas as criaturas hão feito

o mesmo. Investigando as reve-

lações do Céu com o egoísmo

que lhes é próprio, organizaram

a justiça como o edifício mais

alto do idealismo humano. E,

entretanto, coloco o amor aci-

ma da justiça do mundo e te-

nho ensinado que só ele cobre

a multidão dos pecados. [...].3

(Grifo nosso.)

Não são raros os comentaristasque se debruçam sobre o texto deLucas, naquela passagem que tra-ta do vinho novo em odres velhos,na tentativa de opor a revelaçãodo Velho Testamento ao Evangelho,asseverando, equivocadamente,que os odres velhos representam otrabalho dos profetas.

No entanto, é preciso reconhe-cer que, sob a direção e assistênciade Jesus,“[...] os homens receberão

sempre as revelações divinas deconformidade com a sua posiçãoevolutiva”.4 Sendo assim, não háproblema com o “vinho” da revela-ção divina, nossos desafios dizemrespeito aos recipientes,“odres”, quesimbolizam o coração do aprendiz.

A misericórdia do Cristo envia,de tempos em tempos, missioná-rios e benfeitores, desde as maisremotas eras. O próprio Cristo des-ceu ao Orbe, espalhando bênçãose consolações, mas o coração hu-mano permanece atado ao egoís-mo e ao orgulho.

Os Espíritos superiores queconduziram o trabalho do Codifi-cador adotaram um emblema pa-ra a Revelação Espírita:

Porás no cabeçalho do livro a cepa

que te desenhamos, porque é o

emblema do trabalho do Criador.

Aí se acham reunidos todos os

princípios materiais que melhor

podem representar o corpo e o es-

pírito. O corpo é a cepa; o espírito

é a seiva; a alma ou espírito liga-

do à matéria é o bago. O homem

quintessencia o espírito pelo tra-

balho e tu sabes que é somente

pelo trabalho do corpo que o es-

pírito adquire conhecimentos.5

Não deve causar admiração ofato de Jesus ter escolhido o vi-

30 Reformador • Fevere i ro 20096688

4XAVIER, Francisco Cândido. O consola-dor. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 1a

reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008.Questão 271.

5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tra-dução de Evandro Noleto Bezerra. Ed. Co-memorativa. Rio de Janeiro: FEB, 2007.“Prolegômenos”, p. 71.

Imagem de umodre moderno

3XAVIER, Francisco Cândido. Boa nova.Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed.especial. 1a reimpressão. Rio de Janeiro:FEB, 2008. Cap. 14, p.118-119.

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nho para simbolizar a revelaçãoespiritual.

Urge renovar o coração, liber-tando-o das sombras do egoísmodestruidor, para que o vinho ce-leste não se transforme no vinagredas criações puramente humanas.A Doutrina Espírita é orvalho lím-pido e reluzente, ofertado peloscéus. É imprescindível, porém, pu-rificar os vasos da alma, sob penade misturarmos a bênção do Cris-to aos velhos enganos, que insis-tem em dominar nossos corações.

Expressando, talvez, sua preo-cupação com esse quadro desa-lentador, afirmou o BenfeitorEmmanuel:

Asseveram muitos que o Céu

estancou a fonte das dádivas,

esquecendo-se de que a genera-

lidade dos crentes entorpeceu a

capacidade de receber.

Onde a coragem que revestia co-

rações humildes, à frente dos

leões do circo? onde a fé que pu-

nha afirmações imortais na boca

ferida dos mártires anônimos?

onde os sinais públicos das vozes

celestiais? onde os leprosos lim-

pos e os cegos curados?

As oportunidades do Senhor

continuam fluindo, incessantes,

sobre a Terra.

A misericórdia do Pai não mudou.

A Providência Divina é invariá-

vel em todos os tempos.

A atitude dos cristãos, na atua-

lidade, porém, é muito diferen-

te. Raríssimos perseveram na

doutrina dos apóstolos, na co-

munhão com o Evangelho, no es-

pírito de fraternidade, nos ser-

viços da fé viva. A maioria prefe-

re os chamados “pontos de vis-

ta”, comunga com o personalis-

mo destruidor, fortalece a raiz

do egoísmo e raciocina sem ilu-

minação espiritual.6

Não podemos nos esquecer deque os puros de coração verão aDeus.

6XAVIER, Francisco Cândido. Vinha deluz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Riode Janeiro: FEB, 2008. Cap. 39, p. 97-98.

Agradecemos ao prezado leitor a valiosa contribuição na re-messa de livros de 1a a 5a edição. Em face da grande quantidadede livros recebidos, estamos suspendendo, temporariamente, acampanha.

Indicaremos, em outra oportunidade, os títulos e edições quefaltam para compor a reserva técnica do setor de Patrimônio doLivro da Editora da Federação Espírita Brasileira.

O trabalho de permuta por novas edições continua sem inter-rupção.

E-mail: [email protected]

Ao Leitor

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a visão espírita, podemosdefinir a família como umnúcleo de convivência en-

tre Espíritos afins ou não, sob ummesmo teto, no exercício da reci-procidade de deveres e direitos, ru-mo à perfeição. É o alicerce sobre oqual está construída a sociedade.

Apesar das afirmações irrefleti-das de alguns que a consideram,na atualidade, como uma institui-ção falida, quando analisada deforma integral (considerando osaspectos material e espiritual),conclui-se que a família apenasvive uma crise natural.

Assim podemos interpretar, jáque em seu seio reúne Espíritos devariados níveis evolutivos, credorese devedores ante as leis universais,na árdua labuta indispensável aoprocesso evolutivo.

Enfatizamos que essa reuniãode seres de variados níveis evolu-tivos não acontece aleatoriamen-te, sendo efeito de vínculos espiri-tuais gerados através dos séculos.

Cada um, em seu papel no tea-tro da vida, reabilitando-se entresi e com as leis universais, sempre,porém, sob a força de uma lei queos conduzirá, inexoravelmente, àperfeição.

Não deve causar surpresa o re-crudescimento das crises em al-guns momentos, pois esse fenôme-no é consequência do mau uso dolivre-arbítrio (rebeldia, omissãoetc.) por parte dos componentesdo núcleo familiar – reflexo do or-gulho e do egoísmo. São mazelastransitórias, para as quais as leisdivinas dispõem de mecanismosapropriados para eliminá-las.

Entretanto, não olvidemos quetoda crise resulta em aprendizado,mesmo que não seja de imediato.

As repetidas experiências nonúcleo familiar, em regime de re-ciprocidade (direitos e deveres),proporcionam importantes liçõespara o processo educativo de seuscomponentes. Os problemas co-muns resultam na lição:

A necessidade de cada um tor-na-se a necessidade de todos – es-te mecanismo gera o exercícioda solidariedade, instrumento in-dispensável (não único) para oêxito de qualquer agrupamentosocial.

A necessidade de direitos indi-viduais gera delimitações a seremrespeitadas. Apesar das dificulda-des iniciais, surgirá com o tempoo senso de justiça:

O direito de cada um termina on-de inicia o direito do outro – prin-cípio da justiça, conforme nos éensinado na questão 875 de O Li-vro dos Espíritos:

Como se pode definir a justiça?“A justiça consiste em cada um

respeitar os direitos dos demais.”É necessário que cada um

compreenda a importância des-tas lições oferecidas pela vidaem família, que ao serem trans-feridas para a sociedade in-fluenciarão positivamente aharmonia social, tendo em vista

Evangelização infantil –

Importância para harmoniafamiliar e social

NF. ALTA M I R DA CU N H A

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que eliminam duas grandes cha-gas que entravam o progresso –o orgulho e o egoísmo.

Sabedores de que todos os com-ponentes da sociedade realizamseu primeiro estágio no lar, qual-quer projeto que vise a erradica-ção dos fatores de desarmonia so-cial incorre em fracasso, se des-considera a assistência à família.

Investir em programas e proje-tos socioeducativos, que desper-tem a dignidade, o respeito e o sen-so de justiça de seus componentes,é estabelecer as bases para uma so-ciedade transformada e melhor.

Atingido esse estágio de cons-ciência sobre a importância daassistência familiar, uma questãose apresenta: qual o instrumentoa ser utilizado para tão importan-te projeto?

Sem prescindir de outros fa-tores complementares, a res-

posta em todos os tempos, em-bora esquecida e/ou confundidana prática, tem sido a mesma –educação.

É oportuno salientar que nãodevemos repetir o erro secular derestringir a educação à instrução(acúmulo de conhecimentos), massim àquela que modela o caráter edesperta a ética.

Outro questionamento com cer-teza será apresentado: como pode-mos transformar uma sociedadeconstituída de criaturas portado-ras de vícios já enraizados? Serápossível aprumar árvores que securvaram sob a ação do tempo?

Não são destituídos de lógicaestes questionamentos! Mas, a pro-posta não tem como prioridadeaprumar árvores velhas (adultos

imperfeitos), muito embora pos-samos usar escoras para que nãose curvem ainda mais e percam autilidade. As sucessivas reencar-nações se encarregarão de reali-zar a transformação necessária.

O foco principal são as plantastenras, que ainda não se curvaram– as crianças. Dirigir-lhes cuida-dos especiais, corrigindo tendên-cias negativas e estimulando aspositivas, gerando condições paraque cresçam aprumadas.

Entre tantos instrumentos pe-dagógicos disponíveis, não pode-mos olvidar, como espíritas, a evan-gelização infantil.

Finalizamos oferecendo parareflexão a sabedoria milenar: “Edu-ca a criança no caminho em quedeve andar, e, até quando envelhe-cer, não se desviará dele”. (Pro-vérbios, 22:6.)

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34 Reformador • Fevere i ro 20097722

teria sido escritosob transe

obra Memórias de Adriano,1

considerada um romancehistórico, de autoria de

Marguerite Yourcenar (1903-1987),é extremamente curiosa, pois seapresenta como uma autobiogra-fia do imperador romano Adriano(76-138 d.C.), iniciada com umacarta dirigida ao futuro impera-

dor Marco Aurélio. Yourcenar nosleva ao contexto da vida de Adria-no e a entrar no seu pensamento ena sua intimidade.

A autora, pseudônimo de Mar-guerite Cleenewerck de Crayen-cour, era uma escritora belga delíngua francesa. Na infância, estu-dou latim e grego. Foi a primeiramulher eleita à Academia Fran-cesa de Letras. Autora de váriasobras, sua Mémoires d´Hadrien(Memórias de Adriano), publicadana França em 1951, tornou-a in-ternacionalmente conhecida.

Ao lermos o capítulo “Cadernode Notas”,1 no final do livro, depa-ramo-nos, surpreso, com os depoi-mentos da autora sobre a elabora-ção da obra. Em momentos dife-

rentes de suas explicações sobre olivro, a autora se refere “[...]à elaboração de um méto-do de delírio”, em que sentia“um pé na erudição, outrona magia, nesta magia sim-

pática que consiste emnos transportarmos

em pensamento aointerior de al-

guém. [...] Adriano podia falar desua vida mais firmemente e maissutilmente do que eu”.1

Há fortes indícios de manifes-tação espiritual. Poderia ser aní-mica, em que a autora teria sido le-vada ao contexto de vida pregressa.E aí se juntaria a cultura da mesma,que dominava o latim e o grego, etambém realizou pesquisas histó-ricas sobre o tema da obra. Semdúvida, Yourcenar se transportapara o século II e confessa que esteperíodo lhe interessa “porque foi,durante muito tempo, o século dosúltimos homens livres”.1 Mas tam-bém o seu pendor investigativosobre a época e o seu preparo cul-tural poderiam favorecer algumtipo de psicografia, mesmo porquetoda a redação é feita na primeirapessoa do singular, sugerindo umautor. Continua a falar sobre o pro-cesso de elaboração da obra:

Adquiri o hábito de escrever to-

das as noites, quase automati-

camente, o resultado das longas

visões provocadas em que eu

me instalava na intimidade de

Memórias de Adriano

AAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

ImperadorromanoAdriano

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um outro tempo. [...] As passa-

gens sobre a alimentação, o

amor, o sono e o conhecimento

do homem foram escritas assim,

de um só jato. Não me lembro

de um dia mais ardente, nem de

noites mais lúcidas.1

Se não fossem seus intrigantes co-mentários sobre o processo de pro-dução da obra, até que poderia pas-sar por artifício de literatura e de sersimplesmente um romance históri-co. Aliás, Yourcenar assim se refere:

No nosso tempo, o romance

histórico, ou o que, por comodi-

dade, se admite designar como

tal, só pode ser imerso num tem-

po reencontrado, tomada de pos-

se de um mundo interior.1

Todos esses depoimentos da au-tora são compatíveis com os co-mentários de Erasto e Timóteo emO Livro dos Médiuns:

[...] quando encontramos em um

médium o cérebro povoado de

conhecimentos adquiridos na sua

vida atual e o seu Espírito rico de

conhecimentos latentes, obtidos

em vidas anteriores, de natureza

a nos facilitarem as comunica-

ções, dele de preferência nos ser-

vimos, porque com ele o fenôme-

no da comunicação se nos torna

muito mais fácil do que com

um médium de inteligência limi-

tada e de escassos conhecimen-

tos anteriormente adquiridos.2

A autora parece não desconhe-cer o tema mediunidade, pois ao

se referir a um artista italiano queretratou a Vila Adriana (construí-da por Adriano nas proximidadesde Roma), anotou:

O gênio quase mediúnico de

Piranesi pressentiu aí a alucina-

ção, os longos caminhos da me-

mória, a arquitetura trágica de

um mundo interior.3

Outro fato sugestivo sobre ospensamentos da autora é o desta-que por ela dado a uns versos deAdriano:

Pequena alma terna flutuante

Hóspede e companheira de

[meu corpo,

Vais descer aos lugares pálidos

[duros nus

Onde deverás renunciar aos

[jogos de outrora...4

Em obra sobre arte e arquitetu-ra romanas, Marco Bussagli se re-fere ao livro ora comentado:

A fascinante evocação histórica de

Marguerite Yourcenar do mun-

do mental de Adriano, do com-

portamento de Adriano...5

Quanto ao conteúdo, a obra deMarguerite Yourcenar tem respal-do histórico, e ela estabelece re-lação com algumas obras de pes-quisa no capítulo final “Nota”.A autora reconstrói um cenárioreconhecido como um tempo deconsolidação e de estabilidadedo Império Romano, pois Adria-no é considerado um dos “cincobons imperadores romanos” e

sempre foi notório o entusiasmodo mesmo pela cultura grega.

Torna-se oportuna a lembran-ça de que o enredo do romanceCinquenta Anos Depois se inicia sobo império de Adriano. HelvídioLúcius mantinha relações de tra-balho vinculadas ao Imperador.As observações de Emmanuel so-bre o reinado de Adriano são coe-rentes com o livro Memórias deAdriano, referindo-se ao Impera-dor como “liberal e justo”,6 “maiorbenfeitor das cidades antigas, ondese havia erguido o berço da cultu-ra e da civilização”,7 “caráter mori-gerado e tolerante de Adriano, quesempre fizera o possível por evitaros atritos religiosos”,7 embora co-mente também alguns deslizes re-lativos ao período, descritos no ci-tado romance.

Referências:1YOURCENAR, Marguerite. Memórias de

Adriano. Tradução Martha Calderaro. Rio

de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2005.

p. 326.2KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Tra-

dução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro:

FEB, 2007. Cap. XIX, item 225. 3YOURCENAR, Marguerite. Memórias de

Adriano. Tradução Martha Calderato. Rio

de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2005.

p. 326.4Idem, ibidem.5BUSSAGLI, Marco. Rome. Art and archi-

tecture. Cambridge: H. F. Ullmann, 2007.

p. 114.6XAVIER, Francisco Cândido. Cinquenta

anos depois. Pelo Espírito Emmanuel.

Edição especial. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Primeira parte, cap. III, p. 59.7Idem, ibidem. Cap. VII, p. 134 e 146.

35Fevere i ro 2009 • Reformador 7733

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36 Reformador • Fevere i ro 20097744

odos nós, Espíritos imortais,ao sermos criados, partimosde um mesmo ponto, rece-

bendo como herança a capacidadede progredir, em medida absolu-tamente igual, em consonânciacom a indefectível justiça de Deus.Ao longo dos milênios sucessivos,através do esforço evolutivo indivi-dual, vamos revelando a luz divinaque trazemos dentro de nós, con-forme se depreende da recomenda-ção de Jesus: “Assim resplandeça avossa luz diante dos homens [...]”.2

Jesus não teria feito essa reco-mendação se não soubesse da exis-tência dessa herança divina ima-nente em todos os seres, cantadacom o nome de amor pelo poeta:

O amor em nós, certo, existe

desde o nosso alvorecer,

remontando a priscas eras,

no esboço do nosso ser.

Em estado de latência,

no dealbar da existência,

Deus concede de antemão,

a sua herança bendita,

que a alma busca contrita

nas asas da evolução.3

A exteriorização mais ou me-nos intensa dessa herança divinaque trazemos nos torna diferentesuns dos outros. Só dentro de umaperspectiva evolutiva é que pode-mos ver um silvícola feroz e umFrancisco de Assis como filhos domesmo Deus justo, pois o que di-ferencia esses dois Espíritos não éa sua natureza, a sua origem, masapenas sua evolução. As diferençasindividuais se originam no ho-mem, não em Deus.

A evolução do Espírito se efeti-va através de inúmeras vidas su-cessivas, que lhe oferecem oportu-nidades variadas de incorporarem si as experiências que o meiolhe propicia, num processo que sepode chamar de desenvolvimentoda inteligência e das virtudes quelhe são imanentes. Essa visão da

evolução do Espírito é muito clarano Espiritismo.

Em outras religiões reencarna-cionistas, a reencarnação é vistaapenas como oportunidade de osEspíritos faltosos retornarem à Ter-ra a fim de reparar seus erros ou deconcluir aquilo que deixaram ina-cabado. Admitem, também, a reen-carnação de Espíritos mais adian-tados, que retornam ao mundo fí-sico em missão, para ensinar o ca-minho do bem. Essas religiões nãotêm a perspectiva evolutiva.

O Espiritismo não nega essasduas situações, indo, todavia, maisalém, ao ensinar que não se reen-carna só em missão ou resgate, masque a reencarnação é absolutamen-te necessária, indistintamente, a to-dos os Espíritos, por ser inerenteao processo evolutivo.

Portanto, a reparação de faltasanteriormente cometidas não é vis-ta como punição, mas como ele-mento essencial da escalada evo-lutiva rumo à perfeição, a que to-dos estamos sujeitos. Igualmente,no desempenho de missão sacrifi-cial, o Espírito superior que a leva

Salvação ouevolução?

T

“É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.”1

JO S É PA S S I N I

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 540.

2 Mateus, 5:16. 3José Soares Cardoso (Acordes espirituais).

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a efeito não está fora do processoevolutivo, porque também ele es-tá progredindo, embora nada de-va à Terra, tendo o seu retorno sidomotivado apenas pelo amor.

No Espiritismo, a reencarnaçãoocupa lugar de destaque, constituin-do-se num dos pilares básicos de to-da a sua estrutura doutrinária, con-trapondo-se frontalmente à tese sal-vacionista, ensinada por outros seto-res do Cristianismo. Em verdade, arespeito de salvação, o Espiritismovai muito além de outras religiões,pois ao nos ensinar que não existempenas eternas, leva-nos a concluirque todos estamos salvos, porquesomos cidadãos do Universo, filhosamados de Deus, habitantes da “Ca-sa do Pai”, conforme ensinou Jesus.

Em verdade, o Mestre nuncaapresentou soluções mágicas desalvação gratuita, com base apenasna fé. Pelo contrário, suas liçõessempre foram no sentido de acor-dar a criatura para a necessidadede assumir sua vida, tomando nasmãos as rédeas do seu próprio des-tino: “[...] renuncie-se a si mesmo,tome sobre si a sua cruz e siga-me”.4

São muitas as recomendaçõesdo Mestre no sentido de a criatu-ra despertar para a necessidade deprogredir: “Eu, porém, vos digo:Amai a vossos inimigos, bendizeios que vos maldizem, fazei bem aosque vos odeiam e orai pelos quevos maltratam e vos perseguem[...]”.5 E, mais adiante, continua arecomendação: “Sede vós pois,

perfeitos, como perfeito é o vossoPai, que está nos céus”.6

E por ser uma doutrina emi-nentemente evolucionista e nãosalvacionista é que o Espiritismoprioriza a oração consciente, o es-tudo, a reflexão, obediente à reco-mendação do Espírito de Verdade:“Espíritas! amai-vos, este o pri-meiro ensinamento; instruí-vos,este o segundo [...]”.7

Assim, se bem atentarmos para

a amplitude e profundidade dos en-sinamentos de Jesus, veremos que,em última análise, eles se cons-tituem numa ampla proposta deaperfeiçoamento do Espírito, numchamamento ao esforço indivi-dual, que não pode ser desenvol-vido numa só vida. Por isso, quemmedita sobre os ensinamentos eexemplos de Jesus vê o Evangelhonão como um livro sagrado quedeva ser lido de mãos cruzadassobre o peito em atitude de reve-rência, mas como um manual deevolução do Espírito, que traça umroteiro de luz, a ser seguido ao lon-go de milênios sucessivos.

4Mateus, 16:24.

5Mateus, 5:44.

6Mateus, 5:48.

7KARDEC, Allan. O evangelho segundo oespiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,2007. Cap. VI, item 5.

Desencarnou em Vitória, Estadodo Espírito Santo, Waldir Hugue-nin Bitencourt, no dia 4 de janei-ro do corrente ano, aos 85 anos.

Waldir foi tesoureiro da FEB,

na gestão do presidente FranciscoThiesen, tendo antes integrado adiretoria do Centro Espírita Be-zerra de Menezes, sediado na RuaMaia Lacerda, no Rio de Janeiro.

Retorno à Pátria Espiritual

Desencarnou no Rio de Janeiro(RJ), em 24 de dezembro de 2008,aos 77 anos, o confrade Emil DarioFramback, Diretor de Radiodifu-são da Fundação Paulo de Tarso,operadora da Rádio Rio de Janei-ro. Iniciando suas atividades espí-ritas em 1958, no Grupo EspíritaMaria de Nazaré, do Hospital Sa-natório Santa Maria, dedicou-se à

divulgação e prática da Doutrina,assim como aos trabalhos no Mo-vimento Espírita, tendo integradoas diretorias da União das Socieda-des Espíritas do Estado do Rio deJaneiro (USEERJ) e da FundaçãoPaulo de Tarso (FUNTARSO).

Aos seareiros do Consolador,em seu retorno à Pátria Espiritual,rogamos as bênçãos de Jesus.

Emil Dario Framback

Waldir Huguenin Bitencourt

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omo sabemos, somos Espí-ritos criados, por Deus, sim-ples e ignorantes, todos des-

tinados, por esforço próprio, à per-feição máxima adequada à criatura.1

Através de existências sucessivas,adquirindo experiências e a apren-dizagem delas decorrentes, exerci-tando o livre-arbítrio no bem, mui-to auxiliados pelos benfeitores ami-gos, vamos, por mérito individual,paulatinamente ascendendo a pata-mares superiores de evolução, per-correndo assim o irresistível trajetorumo à luz,à felicidade, isto é, ao Pai.

Para cada reencarnação, neces-sitamos “usar” um “uniforme deserviço”, a fim de trabalhar na Ter-ra; por conseguinte, recebemos ocorpo físico, valioso tesouro clas-sificado por Jesus como “Templodo Senhor”, e sobre o qual Joanna deÂngelis afirma: “O corpo [...] éveículo com que a Divindade honrao ser facultando-lhe a ascensão aosplanos celestes”.2 Cabe-nos, portan-to, zelar por ele, conservando-lhe oequilíbrio e o bom funcionamento.

Desse modo, aprendemos a hi-gienizá-lo diariamente, eliminandocélulas mortas e excesso de gordu-ra, evitando fungos, micoses e con-tágios vários.

Também vamos ao médicoquando sentimos que algo nele nãoestá bem. Após a consulta, esforça-mo-nos para, por exemplo: tomaros remédios indicados, nem sempreagradáveis, como injeções; passarpor cirurgias; seguir dieta alimentaradequada ao problema apresenta-do; praticar exercícios físicos es-pecíficos (ginástica, jogging, hidro-ginástica etc.); fazer uso de determi-nados aparelhos (fisioterapia, radio-terapia etc.); às vezes, utilizar próte-ses (de quadril, de joelho etc.)ou aparelhos corretivos (co-lete para coluna, aparelho or-todôntico, óculos, aparelhode surdez etc.) e seguiras indicações de repou-so ou de resguardo. Alémdisso, prevenindo proble-mas maiores, tomamosvacinas várias e fazemosexames (laboratoriais, deimagem, biópsias etc.).

Contudo, não raro, es-quecemos de cuidar de nósmesmos, Espíritos que somos,não nos higienizando e tratan-do intimamente como devería-mos. Lembremos Angel Agua-rod no livro Grandes e Peque-nos Problemas, capítulo IX:

[...] deveis procurar [...] acima

de toda higiene aconselhada pe-

los vossos profissionais, a higie-

ne da alma, que é uma vida

isenta de vícios e ao abrigo de

todas as paixões inferiores.3

Em consequência, apliquemosespiritualmente os mesmos crité-rios e providências que usamosquanto ao corpo físico: ir ao Médi-co Divino, Jesus, que nos oferece o

Higieneda alma

CIVO N E MO L I NA RO GH I G G I N O

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seu Evangelho com magníficas esalutares receitas e medicamentospara todos os problemas e situa-ções; dedicar-nos a autoconhecer--nos, fazendo seguidamente umaautoavaliação completa e leal, iden-tificando os problemas morais,facilitando dessa maneira o pró-prio tratamento; entender o reca-do da dor, aprendendo com ela,pois só há dor quando reajustes sãoindispensáveis; fazer dieta mental,alimentando-nos de ideias sadias(livros, estudos, conversação...),educando o pensamento para queele seja sempre construtivo; prati-car constantemente exercícios físi-cos (trabalho no bem) e psíquicos(controle das más inclinações); em-pregar aparelhos e próteses impres-cindíveis (“mordaça” para a male-dicência; “muletas” para mover-nosno auxílio aos semelhantes; “lentesde aumento” para enxergar melhoros outros, nossos irmãos em huma-nidade;“aparelhos auditivos”não sópara ouvi-los mais fraternalmenteem seus sofrimentos, mas tambémpara escutar os conselhos dos abne-gados benfeitores desencarnados;

“moduladores de voz” para serenar,esclarecer, consolar e perdoar ospróximos do caminho; resguardoespiritual, como atenção, vigilân-cia, prudência, bondade, a fim demantermos o equilíbrio mental...

Ademais, como medida preven-tiva e de manutenção da saúde es-piritual, vamos tomar as “vacinas”do amor e do aprendizado autên-tico da lei de Deus (previnem con-tra os erros...), ingerir vitaminase fortificantes morais (mediantemensagens e roteiros edificantes),conservar a alimentação sadia deideias elevadas conjugadas à açãoconstrutiva no bem; manter há-bitos salutares para o Espírito, aténos momentos de lazer, pois deve-mos ser espíritas verdadeiros du-rante as 24 horas do dia... E, acimade tudo, cumprir o acompanha-mento médico: seguir Jesus!

Lembremo-nos de que há inte-ração espírito–corpo físico, e que,quando infringimos as leis divinas,plantamos problemas em nossocorpo somático também.

Como fazer essa higiene da al-ma, esse tratamento essencial?

Ter paciência, perseverança,equilíbrio da vontade nesse esfor-ço para a autorrenovação!

Reconhecer, com gratidão, aajuda inestimável do Mestre e dosbenfeitores queridos, seus embai-xadores de amor, alguns deles en-carnados junto de nós para nosensinar com suas palavras e seusexemplos!

Sem dúvida, não nos é fácil agirassim... Mas só depende de nós...E certamente podemos realizá-lo!

Vamos, por conseguinte, cons-truir o bem dentro e fora de nós, en-volvidos por Jesus, nosso generosoguia e modelo, sempre ao nosso la-do, nunca desistindo de nós!...

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.

ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questões,

23, 1 e 115.2FRANCO, Divaldo P. Messe de amor. Pelo

Espírito Joanna de Ângelis. 3. ed. Salvador:

LEAL, 1995. Cap. 60, “Ante a reencarnação”.3AGUAROD, Angel. Grandes e pequenos

problemas. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2006. Cap. IX, item I, A alimentação e a

higiene, p. 305.

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m texto que deveríamos lere sobre ele refletir, diaria-mente, é o Sermão do Mon-

te, nos capítulos 5 a 8 do Evangelhode Mateus. Essa passagem de Jesusapresenta uma das mais belas pá-ginas que o mundo já ouviu, o maisperfeito, elevado e completo curso deiniciação espiritual legado à Huma-nidade. Cada bem-aventurança me-rece ser comentada em separado.Va-mos começar pela primeira:“Bem--aventurados os pobres de espírito,porque deles é o Reino dos Céus”.

Allan Kardec, em O Evangelhosegundo o Espiritismo, capítulo VII,destaca a oposição entre humildadee orgulho. A primeira é típica dosEspíritos superiores, sendo que omais elevado de todos, como Espí-rito puro, é Jesus, manso e humildede coração, consoante suas própriaspalavras em Mateus (11:28-30):

Vinde a mim, todos os que es-

tais cansados e oprimidos, e eu

vos aliviarei.

Tomai sobre vós o meu jugo,

e aprendei de mim, que sou

manso e humilde de coração, e

encontrareis descanso para a

vossa alma.

Porque o meu jugo é suave, e o

meu fardo é leve.

Pobres de espírito não são os des-providos de inteligência, diz Kardec,mas os que são humildes. Para os úl-timos é que está reservado o Reinode Deus: os que buscam o conhe-cimento, a riqueza interior. Já paraalgumas pessoas que detêm muitoestudo – nem todas, felizmente – atémesmo a ideia de Deus soa comoinfantilidade dos que consideram“pobres de espírito”. É a falsa supe-rioridade de quem apenas conheceo lado teórico das coisas. Essa é agrande diferença entre o que possuisaberes e o verdadeiro sábio. Aquele,nega a Deus, pois seu orgulho dosuposto conhecimento o faz rejeitaras mensagens do mundo invisível.Para essas pessoas, as máximas deJesus são boas apenas quando utili-zadas no controle dos atos de cria-turas simples, facilmente manipu-ladas pelos mais espertos. Um dia,porém, explica Kardec, os pretensossábios da Terra penetrarão o mun-

do invisível, que tanto negaram; jánão lhes será possível manter a em-páfia e se sentirão humilhados.

Pobres de espírito, nas palavras deJesus, não são os simplórios, os ingê-nuos, ignorantes, e sim os que pos-suem simplicidade de coração e hu-mildade de espírito. Mais vale, então,que,para a felicidade futura, sejamospobres em espírito e ricos moral-mente. Em Lucas (22:27), o Senhornos transmite esta belíssima ima-gem da grandeza espiritual que Elepossui, esperando que possamos serseus dignos discípulos: “Pois qual éo maior: quem está à mesa ou quemserve? Não será quem está à mesa?Eu, porém, sou, entre vós, comoaquele que serve”. E, em João (capí-tulo 13), o Mestre se cobre com umatoalha, enche uma bacia de água elava os pés de seus discípulos, e após,lhes recomenda que aquele que de-sejar ser o maior, que se faça o servi-dor dos demais, como Ele, nossoMestre e Senhor, o fazia.

Essas considerações levam-nos amanter uma atitude de permanentedoação, perante a vida e as pessoas.Atitude de amor incondicional,

Bem-aventuradosos pobres

de espírito

UJO RG E LE I T E D E OL I V E I R A

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principalmente àqueles que não noscompreendem; atos voltados à prá-tica permanente da humildade, semjamais nos eximirmos de ser úteis.

Podemos ser os pobres de espíri-to do Sermão do Monte, quando jánão nos julgarmos acima dos nos-sos semelhantes, por termos entra-do em contato com a sublime men-sagem do Cristo. Mas nosso orgu-lho ainda se manifesta no momen-to em que deixamos de praticar acompaixão para com os desafor-tunados, como ocorreu na históriapsicografada por Francisco CândidoXavier, no livro Boa Nova (cap. 11,Ed. FEB), que sintetizamos a seguir.

Conta-nos o Espírito Humber-to de Campos que os enfermos epobres de Corazim, Magdala, Bet-saida, Dalmanuta e outras aldeiasdas proximidades de Cafarnaumenchiam as suas ruas, na épocainesquecível da presença do Se-nhor na Terra. Os discípulos eramprocurados: Filipe, pelos doentes;Pedro, pelos pobres, que rodea-vam sua casa em busca de um le-nitivo para suas dores no mundo.

Assim, nos primeiros dias doapostolado, pequeno grupo de infe-lizes procurou Levi (Mateus),o após-tolo publicano, em sua casa con-fortável. Queriam explicações sobreo Evangelho do Reino dos Céus...

Mateus, demonstrando estranhe-za, disse-lhes que no novo ReinoJesus reuniria todos os coraçõessinceros e de boa vontade desejososde irmanar-se como filhos de Deus.Mas, perguntou-lhes o que julga-vam poder fazer, se um era aleija-do, o outro fora abandonado pelafamília e outro mais vivia aflito.

Essas pessoas entristeceram-se.Sentiram-se humilhadas pelas pa-lavras do apóstolo, as quais os fa-ziam sentir-se inúteis. No entanto,aguardariam, mais tarde, a presen-ça de Jesus, que pregaria no monte...A esperança haveria de retornaraos seus corações...

Antes, porém, de dirigir-se pa-ra o monte, onde uma multidãojá o aguardava, Jesus esteve tam-bém com Mateus e, após ouvi-losobre a recusa deste à contribui-ção dos desafortunados, esclare-ceu-lhe com carinho:

– No entanto, Levi, precisamos

amar e aceitar a preciosa colabo-

ração dos vencidos do mundo!...

Se o Evangelho é a Boa Nova,

como não há de ser a mensa-

gem divina para eles, tristes e

deserdados na imensa família

humana? (Op. cit., p. 91.)

Mateus comoveu-se, mas res-pondeu desapontado:

– Senhor, minhas observações

partiram tão-só do meu desejo de

apressar a supremacia do Evan-

gelho entre os que governam

no mundo!... (Op. cit., p. 92.)

Jesus, com bondade, tornou adizer-lhe:

– Quem governa o mundo é

Deus [...] e o [seu] amor não

age com inquietação.

....................................................

[...] os triunfadores do mundo

são pobres seres que caminham

por entre tenebrosos abismos.

[...]. (Op. cit., p. 92-93.)

É preciso atentarmos na almabranda e humilde dos vencidos, aquem Deus envia bênçãos de bon-dade infinita. Amemo-los e ajude-mo-los. Suas lágrimas adubam aTerra e a semente do Evangelhogerminará para a luz da vida como sacrifício dessas pessoas simplese esperançosas.

Os demais apóstolos chegaram,e o grupo seguiu para um dos mon-tes próximos onde Jesus pronun-ciou seu sermão.Assim, sua primei-ra frase foi esta: “Bem-aventuradosos pobres de espírito, porque de-les é o Reino dos Céus”.

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Seara Espírita

Bahia: Organização de ArquivosA II Conferência de Elementos Básicos para o Plane-jamento, Implantação e Organização de Arquivosnas Instituições Espíritas, promovida pela FundaçãoJosé Petitinga, ocorreu em 6 de dezembro de 2008,na Federação Espírita do Estado da Bahia, em Salva-dor, tendo como facilitadora Nívea Regina Salles.Informações: www.feeb.com.br

Pernambuco: Orientação à Família eEvangelho no Lar

A Federação Espírita Pernambucana promoveu,no dia 6 de dezembro, em sua sede, o XVII En-contro Estadual sobre a Família e o Evangelho noLar, com a expositora Ana Jaicy Guimarães, reali-zando também campanha em benefício das 180 fa-mílias assistidas pela FEP. Informações:www.federacaoespiritape.org

Espanha: Congressos Nacional e MundialA Federação Espírita Espanhola promoveu o XVICongresso Espírita Nacional, em Calpe, nos dias 6, 7e 8 de dezembro, com o tema central “Espiritismo:passado, presente e futuro”. Participaram como expo-sitores Divaldo Pereira Franco e José Raul Teixeira.Estiveram presentes Nestor João Masotti e AntonioCesar Perri de Carvalho, respectivamente secretário--geral e membro da Comissão Executiva do Conse-lho Espírita Internacional que, simultaneamente etambém no dia 9, atuaram em Reunião do CEI, a fimde tratar de várias programações, entre as quais ospreparativos do 6o Congresso Espírita Mundial, pro-gramado para a cidade de Valencia (Espanha), emoutubro de 2010. Informações: www.espiritismo.cce www.spiritist.org

Alagoas: Encontro da JuventudeO 2o Conselho Regional Espírita de Alagoas, em par-ceria com a Coordenação de Infância e Juventude daFederação Espírita do Estado de Alagoas, promoveuno dia 14 de dezembro o Encontro da Juventude.Participaram jovens espíritas e não espíritas, reuni-

dos no Lar São Domingos, em Mangabeiras (Ma-ceió). Informações: www.feal.org.br

Pará: Em Defesa da VidaA “Caminhada em Defesa da Família, da Vida e daPaz”, promovida pela União Espírita Paraense, reu-niu muitos participantes, no dia 14 de dezembro,na Praça Batista Campos, em Belém. O objetivodo evento foi destacar a função educadora e regene-radora da família, e afirmar que o primeiro de to-dos os direitos do ser humano é o de viver e pro-mover atitudes e ações em favor do Bem e da Paz.Informações: www.paraespirita.com.br

Uruguai: Seminário sobre MediunidadeA Federação Espírita Uruguaia promoveu o seminário“A prática mediúnica com Jesus e com Kardec”, nosdias 22 e 23 de novembro, nas dependências do CentroEspírita Hacia la Verdad, em Montevidéu. O evento foidesenvolvido por Marta Antunes de Oliveira Moura,diretora da FEB, e Esther Fregossi Gonzalez, de SantaCatarina. Informações: www.espiritismouruguay.com

Rio de Janeiro: Seminário FEB/CEERJRealizou-se na sede histórica da Federação EspíritaBrasileira (Av. Passos, 30), em 22 de novembro, oúltimo Seminário FEB/CEERJ, de 2008, com o tema“A Adequação e Multiplicação dos Centros Espíri-tas”, desenvolvido pelos expositores César Soares dosReis, presidente do Instituto de Cultura Espírita doBrasil (ICEB), Roberto Fuina Versiani e EdmilsonNogueira, assessores da Secretaria-Geral do Conse-lho Federativo Nacional da FEB.

Ribeirão Preto (SP): Seminário Médico--Espírita

O II Seminário Médico-Espírita de Ribeirão Pretorealizou-se em 22 de novembro de 2008, com o temacentral “Mente–Cérebro–Corpo”, desdobrado emvários subtemas, desenvolvidos pelos médicos espíri-tas: Marlene Nobre, Tácito Sgorlon, José de Almeida,Alessandra Graneiro e Leandro Romani.