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D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte ; a · PDF fileservir como marco de início do romantismo no Brasil, a obra "Suspiros Poéticos e Saudades" não apresenta grande

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Romantismo

Inicialmente, romântico era tudo que se opunha

ao clássico. Ou seja, modelos da Antiguidade Clássica

foram substituídos pelos da Idade Média; a arte de

caráter erudito e nobre opõe-se a uma arte de caráter

popular, que valoriza o folclórico e o nacional; o

indivíduo passa a ser o centro das atenções, apelando

para imaginação e os sentimentos, do que resulta

uma interpretação subjetiva da realidade.

A arte romântica ganha as ruas, que foi um dos

fatos mais importantes relacionados ao Romantismo, o

surgimento de um público consumidor, uma vez que a

literatura torna-se mais popular.

Quanto ao aspecto formal, a literatura romântica

se desvincula dos padrões e normas estéticas do

Classicismo. O Verso livre, sem métrica e o Verso

branco, sem rima, caracterizam a poesia romântica.

Quanto ao conteúdo, os românticos cultivavam o

nacionalismo, na exaltação da natureza pátria, no

retorno ao passado histórico e na criação do herói

nacional. A natureza assume múltiplos significados,

ora é uma extensão da pátria, ora é um refúgio da vida

atribula dos centros urbanos, ora é um prolongamento

do próprio poeta e do seu estado emocional (bucólico).

Outra característica é o sentimentalismo, a

supervalorização das emoções pessoais: é o mundo

interior que conta, o subjetivismo. A excessiva

valorização gera o egocentrismo, segundo o qual os

poetas se colocavam no centro do universo.

O choque causado pela de realidade objetiva e o

mundo interior do poeta (realidade subjetiva) produz

um estado de frustração e tédio, seguido de constantes

fugas da realidade – pelo álcool, ópio, prostíbulos,

saudade da infância, idealizações do amor, da mulher –

no tempo e no espaço, a chamada evasão romântica.

Essas fugas têm ida e volta, exceção feita somente à

maior das fugas românticas: a morte.

No Brasil, o momento não histórico em que ocorre o

Romantismo tem que ser visto a partir das últimas

produções árcades, caracterizadas pela satírica política

de Gonzaga e Silva Alvarenga, bem como as idéias de

autonomia comuns naquela época. Em 1808, com a

chegada da corte portuguesa ao Brasil fugindo de

Napoleão Bonaparte, a cidade do Rio de Janeiro passa

por um processo de urbanização, tornando-se um

campo propício à divulgação das novas influências

européias; a então colônia brasileira caminhava no

rumo da independência.

Após 1822, cresce no Brasil independente o

sentimento de nacionalismo, busca-se o passado

histórico, exalta-se a natureza da pátria; na realidade,

características já cultivadas na Europa e que se

encaixavam perfeitamente à necessidade brasileira de

ofuscar profundas crises sociais, financeiras e

econômicas. De 1823 a 1831, o Brasil viveu um

período conturbado como reflexo do autoritarismo de

D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte ; a

Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a

luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel;

a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e,

finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial

e a maioridade prematura de Pedro II. É neste

ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo

brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de

nacionalismo.

Três fundamentos do estilo romântico: o

egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de

expressão.

O egocentrismo: também chamado de subjetivismo,

ou individualismo. Evidencia a tendência romântica à

pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista

volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como

centro do universo poético. A primeira pessoa ("eu")

ganha relevância nos poemas.

O nacionalismo: corresponde à valorização das

particularidades locais. Opondo-se ao registro de

ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo

pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo

propõe um destaque da chamada "cor local", isto é, o

conjunto de aspectos particulares de cada região. Esses

aspectos envolvem componentes geográficos,

históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha

considerável espaço nas discussões intelectuais de

elite.

A liberdade de expressão: é um dos pontos mais

importantes da escola romântica. "Nem regra , nem

modelos "- afirma Victor Hugo, um dos mais

destacados românticos franceses. Pretendendo explorar

as dimensões variadas de seu próprio "eu", o artista se

recusa a adaptar a expressão de suas emoções a um

conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma,

afasta-se de modelos artísticos consagrados, optando

por uma busca incessante da originalidade.

Como decorrência da supremacia do sujeito na estética

romântica, o sentimentalismo ganha destaque especial.

A emoção supera a razão na determinação das ações

das personagens românticas. O amor, o ódio, a

amizade o respeito e a honra são valores sempre

presentes.

Na sua luta contra a racionalidade, o artista romântico

valoriza todo e qualquer estado onírico, isto é,

dominado pelo sonho, pela fantasia e pela imaginação.

São momentos de suspensão passageira ou definitiva

da razão que definem o ser humano passional, dentro

do Romantismo. Toda loucura é válida.

E se o mundo não corresponde aos anseios românticos,

o artista parte para a idealização criando um universo

independente, particular, original. Nesse universo ele

deposita suas aspirações de liberdade e à perfeição

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física. A figura da mulher amada, por exemplo, será

associada à sempre um exemplo moral a ser seguido

pelos leitores, por sua inteireza de caráter e sua

moralidade irrepreensível.

Se de um lado temos sempre a figura do herói

associada ao Bem, de outro é quase obrigatória nos

romances a presença de um vilão, que encarna o Mal.

Essa concepção moral de oposição absoluta entre Bem

e Mal recebe o nome de maniqueísmo. No

romantismo, o maniqueísmo constituiu mesmo a

espinha dorsal das narrativas.

Normalmente, associamos o Romantismo a imagens

de inocência e lirismo. Mas ele tem sua face escura e

tétrica e trágica. O pessimismo romântico aparece nas

referências à morte e no arrebatamento passional, que

às vezes conduz à loucura ou aos finais infelizes.

A Natureza, tão fundamental no Neoclassicismo,

ganhará contornos particulares no Romantismo. No

primeiro estilo, servia sempre como pano de fundo

harmoniosos para o cenário bucólico e pastoril. No

segundo, acompanha os estados de espírito do poeta ou

das personagens dos romances. Assim, momentos de

tristeza ou desilusão corresponderão a paisagens

lúgubres; bem como instantes de alegria aparecerão

sempre associados a imagens luminosas.

O romântico, ao desenvolver um mundo particular,

pode transformá-lo em seu espaço de fuga: é o

escapismo. As saídas, para o artista, são aquelas

apontadas anteriormente: o sonho, a morte, a Natureza

exótica. Ainda dentro do escapismo, destaque-se um

espaço particular de fuga: o passado. Ele pode aparecer

de forma pessoal, associado à felicidade inocente da

infância, ou de maneira mais social, nas freqüentes

alusões à Idade Média.

Características

Subjetivismo - A pessoalidade do autor está em

destaque. A poesia e a prosa romântica apresentam

uma visão particular da sociedade, de seus costumes e

da vida como um todo.

Sentimentalismo - Os sentimentos dos personagens

entram em foco. O autor passa a usar a literatura como

forma de explorar sentimentos comuns à sociedade,

como: o amor, a cólera, a paixão etc. O

sentimentalismo geralmente implica na exploração da

temática amorosa e nos dramas de amor.

Nacionalismo, ufanismo - Surge a necessidade de

criar uma cultura genuinamente brasileira. Como uma

forma de publicidade do Brasil, os autores brasileiros

procuravam expressar uma opinião, um gosto, uma

cultura e um jeito autênticos, livres de traços europeus.

Maior liberdade formal - As produções literárias

estavam livres para assumir a forma que quisessem, ou

seja, entrava em evidência a expressão em detrimento

da estrutura formal (versificação, rima etc).

Vocabulário mais brasileiro - Como um meio de

criar uma cultura brasileira original os artistas

buscavam inspiração nas raízes pré-coloniais

utilizando-se de vocábulos indígenas e regionalismos

brasileiros para criar uma língua que tivesse a cara do

Brasil.

Religiosidade - A produção literária romântica,

utiliza-se não só da fé católica como um meio de

mostrar recato e austeridade, mas utiliza-se também da

espiritualidade, expressando uma presença divina no

ambiente natural.

Mal do Século - Essa geração, também conhecida

como Byroniana e Ultrarromantismo, recebeu a

denominação de mal do século pela sua característica

de abordar temas obscuros como a morte, amores

impossíveis e a escuridão.

Evasão Indianismo - O autor romântico utilizava-se da figura

do índio como inspiração para seu trabalho,

depositando em sua imagem a confiança num símbolo

de patriotismo e brasilidade, adotando o indígena como

a figura do herói nacional (bom selvagem).

A idealização da realidade - A análise dos fatos, das

aparências, dos costumes etc era muito superficial e

pessoal, por isso era idealizada, imaginada, assim o

sonho e o desejo invadiam o mundo real criando uma

descrição romântica e mascarada dos fatos.

Escapismo - Os artistas românticos procuravam fugir

da opressão capitalista gerada pela revolução burguesa

(revolução industrial). Apesar de criticarem a

burguesia, os artistas tinham que ser sutis pois os

burgueses eram os mecenas de sua literatura e por isso

procuravam escapar da realidade através da

idealização.

As formas de escape seriam as seguinte: Fuga no

tempo, Fuga no sonho e na imaginação, Fuga na

loucura , Fuga no espaço e Fuga na morte.

O culto à natureza - Com a busca de um passado

indígena e de uma cultura naturalmente brasileira

surge o culto ao natural, aos elementos da natureza, tão

cultuados pelos índios. Passava-se a observar o

ambiente natural como algo divino e puro.

A idealização da Mulher (figura feminina)- a mulher

era a fonte de toda a inspiração. Era intocável, vista

como um anjo em que jamais poderiam desfrutar de

suas características puras e angelicais.

A POESIA ROMÂNTICA

No Brasil, a poesia romântica é marcada, num

primeiro momento, pelo teor patriótico, de afirmação

nacional, de compreensão do que era ser brasileiro, ou

pela expressão do eu, isto é, pela expressão dos

sentimentos mais íntimos, dos desejos mais pessoais,

diferente do ideal de imitação da natureza presente na

poesia árcade. Isto tudo seguido de uma revolução na

linguagem poética, que passou a buscar uma

proximidade com o cotidiano das pessoas, com a

linguagem do dia-a-dia. No poema "Invocação do

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Anjo da Poesia", Gonçalves de Magalhães diz que vai

abandonar as convenções clássicas (cultura grega) em

favor do sentimento pessoal e do sentimento patriótico.

A poesia romântica surge em meio aos fervores

independentistas da primeira metade do século XIX,

tendo como marco inicial a obra de Gonçalves de

Magalhães, "Suspiros Poéticos e Saudades". Apesar de

servir como marco de início do romantismo no Brasil,

a obra "Suspiros Poéticos e Saudades" não apresenta

grande notoriedade ou importância no cenário artístico

poético do romantismo brasileiro assim como as outras

obras de Gonçalves de Magalhães. De acordo com as

características e vertentes assumidas por cada poeta

romântico, a poesia romântica pode ser dividida em:

Primeira geração - Indianista ou Nacionalista

Influência direta da Independência do Brasil (1825)

Nacionalismo, ufanismo

Exaltação à natureza e à pátria

O Índio como grande herói nacional

Sentimentalismo

Principais poetas

Gonçalves de Magalhães

Gonçalves Dias

Segunda geração - Ultrarromantismo ou Mal do

Século

Egocentrismo

Ultrarromantismo - Há uma ênfase nos traços

românticos. O sentimentalismo é ainda mais

exagerado.

Byronismo - Atitude amplamente cultivada entre os

poetas da segunda geração romântica e relacionada ao

poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar

um estilo de vida e uma forma particular de ver o

mundo; um estilo de vida boêmia, noturna, voltada

para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do

sexo. Sua forma de ver o mundo é egocêntrica,

narcisista, pessimista, angustiada e, por vezes,

satânica.

Spleen - Termo inglês que traduz o tédio, o

desencanto, a insatisfação e a melancolia diante da

vida (significa, literalmente, "baço").

Mal do Século

Fuga da realidade, evasão - Através da morte, do

sonho, da loucura, do vinho, etc.

Satanismo - A referência ao demônio, as cerimônias

demoníacas proibidas e obscuras. O inferno é visto

como prolongamento das dores e das orgias da Terra.

A noite, o mistério - Preferência por ambientes

fúnebres, noturnos, misteriosos, apropriados aos rituais

satânicos e à reflexão sobre a morte, depressão e

solidão.

Mulher idealizada, distante - A figura feminina é

freqüentemente um sonho, um anjo, inacessível. O

amor não se concretiza e em alguns momentos o poeta

assume o medo de amar.

Principais poetas

Álvares de Azevedo

Casimiro de Abreu

Junqueira Freire

Fagundes Varela

Jorge Falleiros

Terceira geração - Condoreira

1888 - Abolição da Escravatura

1889 - Proclamação da República

Influenciada pelos acontecimentos sociais, discursa

sobre liberdade, questões sociais, o abolicionismo.

Uso de exclamações, exageros, apóstrofes.

Mulher presente, carnal.

Volta-se para o futuro, progresso.

Luta pela liberdade, temáticas sociais.

Ainda fala sobre o amor.

O condor simboliza a liberdade, por isso geração

condoreira.

Principais poetas

Castro Alves - "O Poeta dos Escravos"

Sousândrade"o Poeta da transição" considerado o

poeta "divisor de águas" entre o Romantismo e a nova

escola o Realismo.

PROSA ROMÂNTICA

A prosa romântica inicia-se com a publicação do

primeiro romance brasileiro "O filho do Pescador", de

Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa em 1843. O

primeiro romance brasileiro em folhetim foi "A

Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo,

publicado em 1844. O romance brasileiro caracteriza-

se por ser uma "adaptação" do romance europeu,

conservando a estrutura folhetinesca européia, com

início, meio e fim seguindo a ordem cronológica dos

fatos.

O Romance brasileiro poderia ser dividido em duas

fases: Antes de José de Alencar e Pós-José de Alencar,

pois antes desse importante autor as narrativas eram

basicamente urbanas, ambientadas no Rio de Janeiro, e

apresentavam uma visão muito superficial dos hábitos

e comportamentos da sociedade burguesa.

E com José de Alencar surgiram novos estilos de prosa

romântica como os romances regionalistas, históricos e

indianistas e o romance passou a ser mais crítico e

realista. Os romances brasileiros fizeram muito

sucesso em sua época já que uniam o útil ao agradável:

A estrutura típica do romance europeu, ambientada nos

cenários facilmente identificáveis pelo leitor

brasileiro(cafés, teatros, ruas de cidades como o Rio de

Janeiro).

O sucesso também se deve ao fato de que os romances

eram feitos para a classe burguesa, ressaltando o luxo e

a pompa da vida social burguesa e ocultando a

hipocrisia dos costumes burgueses. Por isso pode-se

dizer que, no geral, o romance brasileiro era urbano,

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superficial, folhetinesco e burguês. Dentre os vários

romancistas românticos brasileiros, merecem destaque:

Joaquim Manuel de Macedo

O romance "A moreninha" fez um enorme

sucesso dentre a classe burguesa brasileira que se

sentia extremamente agradada por um novo projeto de

literatura: A literatura original do Brasil. Uma

literatura que continuava a seguir os padrões das

histórias de amor européias tão populares entre a classe

burguesa, mas que ao mesmo tempo inovava ao trazer

tais histórias tão clássicas para ambientes

legitimamente brasileiros que faziam os leitores

identificarem os ambientes mencionados. Trata-se de

um escritor que estava voltado para as narrativas

urbanas e tinha como foco a cidade do Rio de Janeiro,

capital do Império do Brasil, e a alta sociedade carioca

em seus saraus e festas sociais. Seus romances em

forma de folhetim, eram como as atuais telenovelas, só

que escritos em episódios num jornal. As obras de

Joaquim Manuel de Macedo apresentam uma visão

superficial dos hábitos e comportamentos dos jovens

da época, buscando ilustrar a pompa e o luxo da alta

classe capitalista, e com isso, escondendo a hipocrisia

e a dissimulação da burguesia. A grande importância

de sua obra é em despertar no público brasileiro, o

gosto pela produção literária nacional, ambientada em

cenários facilmente identificáveis. Seus romances

posteriores a "A moreninha" seguem sua mesma

"fórmula". Dentre as principais obras de Joaquim

Manuel de Macedo estão:

A Moreninha - É a história de um rapaz burguês que

vai estudar medicina no Rio de Janeiro. Morando em

uma república estudantil, Augusto, faz vários amigos,

dentre eles Filipe que o convida para veranear na Ilha

de Paquetá. Augusto aceita o convite, e ele e seus

amigos apostam que ele não se apaixonaria por

nenhuma moça, caso o fizesse, teria de escrever

romances de amor revelando sua paixão. Augusto,

contra a aposta com seus amigos, inevitavelmente se

apaixona por Dona Carolina, irmã de Filipe, que recusa

enamorar-se com Augusto pois em sua infância havia

jurado amor eterno a um certo menino e Augusto,

curiosamente, também havia jurado amor eterno e

casamento a uma certa menina. Por fim, ao

descobrirem que um era a paixão infantil do outro,

entregam-se a esse sentimento. A pureza e discrição

dos personagens, assim como a beleza de um amor

pudico, conquistaram os leitores burgueses tornando

esse romance um dos maiores sucessos do romantismo

brasileiro.

O Moço Loiro

As vítimas-algozes

José de Alencar

José de Alencar é considerado o patriarca da

literatura brasileira. Inaugurou novos estilos

românticos e consolidou o romantismo no Brasil

desenhando o retrato cultural brasileiro de forma

completa e abrangente. E devido a essa visão ampla do

cenário brasileiro, sua obra iniciaria um período de

transição entre Romantismo e Realismo. Suas

narrativas apresentam um desenvolvimento dos

conflitos femininos da mulher burguesa do século

XIX, já que seus romances a tinha como público alvo.

Sua obra pode ser fragmentada em três categorias:

Romances Urbanos

Romances ambientados no Rio de Janeiro,

protagonizados por personagens femininos, mostravam

o luxo e a pompa das atividades sociais burguesas, no

entanto apresentavam uma critica sutil aos hábitos

hipócritas da burguesia e seu caráter capitalista. São

exemplos de romances urbanos de José de Alencar:

Senhora - Faz crítica ao casamento por interesse, à

hipocrisia, à cobiça e à soberba burguesa.

Lucíola - Critica o fato de a burguesia, que financia a

prostituição durante a noite, ter aversão às mesmas

durante o dia.

Diva - Ressalta a beleza das jovens e ricas burguesas,

o virtuosismo e a pureza e, em contrapartida, critica o

casamento por interesse financeiro.

Romances Regionalistas

Narrativas que se sucedem em centros

afastados da capital imperial, ou seja, histórias que

acontecem em lugares tipicamente brasileiros, mais

pitorescos, menos influenciados pela cultura européia.

Apesar de José de Alencar narrar seus romances

regionalistas com uma incrível fluência e suavidade, as

histórias narradas são superficiais devido ao fato de

que o autor não viajara para as regiões que descreveu,

mas pesquisara a fundo sobre elas. Basicamente, são

romances que procuram ser mais fiéis ao projeto de

brasilidade e propaganda do Brasil independente, o

objetivo é fazer propaganda aos próprios brasileiros,

expondo a diversidade do país. São Exemplos de

romances regionalistas de José de Alencar:

O Gaúcho

O Sertanejo

O Tronco do Ipê

Romances Históricos e Indianistas

Romances que revelam a preocupação de José

de Alencar em exibir o índio como herói nacional.

Enquanto os autores românticos da europa retratavam

o saudosismo através de menções à época medieval, no

Brasil, Alencar procurou buscar na cultura indígena

brasileira o passado fiel da história brasileira. Seus

romances trazem uma linguagem mais original, com

vocábulos do tupi, retratam o índio como símbolo de

bravura, de pureza e de amor ao ambiente natural.

Pode-se dizer que suas narrativas tendiam ao estilo

poético por entrelaçar o caráter básico da prosa com o

lirismo do gênero poético. Em resumo, suas obras

utilizam o indianismo como forma de revelar um

conceito mais original de brasilidade e criar um projeto

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de língua brasileira. Dentre as obras mais importantes

de José de Alencar nesse ramo do romantismo, estão:

O Guarani

Ubirajara

As Minas de Prata

Iracema

A Importância da Obra de José de Alencar

Considerado o mais importante escritor do

Romantismo brasileiro, é ele quem consegue expressar

o perfeito retrato da cultura brasileira, explorando

novas vertentes da produção literária, criando e

abrindo caminhos para a criação de uma literatura

brasileira original, ampla e de boa qualidade. E por

isso foi o autor que mais se aproximou do objetivo da

escola romântica, mesclando a idealização e o sonho

com um realismo sutil, valorizando os elementos

naturais da cultura brasileira e o índio como figura-

mãe da original cultura brasileira. Suas obras foram

capazes de inspirar nos burgueses o gosto pela leitura

nacional e também, de inspirar diversos autores a

seguir caminhos por ele traçados, concretizando assim

seu projeto nacionalista de revelar o Brasil num todo.

Bernardo Guimarães

Bernardo Guimarães, o escritor da famosa obra "A

Escrava Isaura"

Considerado um dos mais importantes

regionalistas românticos brasileiros, opta por seguir

um dos caminhos traçados por José de Alencar

ambientando suas tramas nos estados de Minas Gerais

e Goiás. Suas obras conservam o caráter linear

romântico, apresentando a estrutura folhetinesca típica

de sua época; prezam pela valorização do pitoresco e

do regional, resgatando os hábitos típicos da sociedade

imperial. Caracteriza-se por usar, por vezes, a

linguagem oral em sua obra e fazer críticas sutis aos

sistemas patriarcal, clerical e escravocrata do Brasil

Império. Entres suas principais obras, destacam-se:

A Escrava Isaura - Fez grande sucesso enquanto

livro, tão notável que foi adaptado como novela da

Rede Globo e da Rede Record. Bernardo Guimarães

tentou criticar a escravatura no Brasil, patrocinando,

através de sua obra, o abolicionismo, no entanto sua

crítica se mostrou um tanto malsucedida pois a

personagem principal, Isaura, era uma escrava branca,

e a antagonista, uma mucama negra, o que incitou nos

leitores uma raiva da personagem negra e um

sentimento de pena e compaixão da escrava branca

Isaura. Pode-se dizer que não atingiu seu objetivo

realista devido a sua crítica equivocada, mas

conquistou enorme admiração e já nos permite

identificar traços de uma literatura brasileira mais

realista. Apresenta o caráter sentimentalista romântico

das histórias de amor terminando com seu devido final

feliz.

O Seminarista - Não tão notório quanto a obra acima,

mas não por isso perdeu seu valor literário. Critica o

sistema patriarcal da época e principalmente o sistema

clerical, mencionando a inadequação do jovem à vida

religiosa imposta pela família. Assim como "A escrava

Isaura", é uma história de amor, que permite-nos

observar sentimentos em conflito com uma realidade

imposta pela sociedade (o jovem que não pode amar

pois fora forçado a ser padre por sua família). Ao

contrário da primeira obra, apresenta um final trágico

no qual o protagonista enlouquece ao saber da morte

de sua amada.

Franklin Távora

Franklin Távora, inovador e arrojado, é o

primeiro escritor brasileiro a retratar o cangaço

nordestino.

Um dos mais importantes escritores do romance

regionalista brasileiro, Franklin Távora foi o primeiro

autor romântico a escrever sobre o cangaço nordestino

e um dos mais assíduos críticos do romantismo de José

de Alencar pois acreditava num romantismo mais

realista, menos idealizado, tanto que suas obras

oscilam entre o romântico e o realista. Sua literatura

era baseada no "Projeto de uma Literatura do Norte", o

que ele fez foi explorar as regiões Norte e Nordeste do

Brasil, apoiado em sua teoria de que essas eram as

regiões mais brasileiras por serem as menos exploradas

pelos brancos europeus, conservando assim um caráter

mais típico e mais real da cultura do Brasil. Suas obras

valorizavam bastante a questão regional, prezando pelo

pitoresco e peculiar das regiões que se preocupou em

retratar, assim ele pode expressar os costumes, as

características e a realidade, até então pouco

explorados, da população do interior do Brasil de

forma detalhada e realista. Os romances de Franklin

Távora são marcados por sua objetividade,

característica do realismo, e por uma análise justa do

ambiente que procurava descrever, e devido a esses

fatores sua produção literária, pode-se dizer, que oscila

entre o romantismo e o realismo. Apesar de um grande

envolvimento com a causa realista, a obra de Franklin

Távora é considerada romântica devido ao fato de

conservar o caráter linear e a temática amorosa que

marcam a escola romântica brasileira. Dentre seus

principais romances estão:

O Cabeleira - Trata-se de seu romance mais

importante. Sua história se desenrola sobre a temática

do cangaço nordestino, tendo como protagonista o

Cabeleira, o chefe de um bando de cangaceiros

assaltantes. O Cabeleira termina por largar o

banditismo em favor de seu amor por Luizinha.

Apresenta fortes traços de realismo por ser justo e fiel

aos fatos e ao ambiente, no entanto permanece

idealizador na questão sentimental, cuja idéia principal

é que o amor quebra qualquer barreira.

Lourenço

Visconde de Taunay

Visconde de Taunay, o autor de "Inocência"

Outro importante autor da vertente regionalista

do romantismo brasileiro, que tomou por cenário de

suas narrativas a província de Mato Grosso. Sua obra

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caracteriza-se pela precisão de detalhes e pela

descrição minuciosa da paisagem mato-grossense,

abusando de detalhes sobre a flora, a fauna e o relevo

do cerrado central do Brasil. Seus romances

apresentam a habitual estrutura romântica linear e

acessórios realistas. Caracterizados por estarem

integrados à vertente sertanista, preocupando-se em

retratar de forma rica e real o ambiente particular da

região centro-oeste brasileira. Dentre as principais de

obras de Visconde de Taunay estão:

Inocência - O romance tem como protagonistas a pura

e ingênua Inocência, que é vendida pelo pai ao

fazendeiro Manecão, e Cirino, um curandeiro que se

finge de médico para ganhar a vida e que numa de suas

"consultas" cura Inocência e entrega uma carta ao pai

da moça, Seu Pereira. Inocência e Cirino se

apaixonam, e a frágil moça se torna forte em nome de

seu real amor, num de seus encontros amorosos o casal

é descoberto o que leva Seu Pereira e Manecão a

planejarem uma emboscada para Cirino. Cirino e

Inocência terminam mortos. Visconde de Taunay

inova por apresentar um desfecho infeliz com a morte

dos dois protagonistas.

A Retirada da Laguna

Manuel Antônio de Almeida

O que melhor descreve a sua importância no

romantismo brasileiro é o seu envolvimento com o

romance de costumes. Sua obra procurou retratar os

hábitos, a moda, o folclore e a religiosidade das classes

populares do início do século XIX, desmascarando

violentamente a baixa sociedade brasileira colonial, o

que a torna singular dentre as obras românticas que

procuraram tratar dos costume e dos valores da alta

sociedade imperial. Seu romance de costumes

ironizava os padrões e normas românticos, criticava a

desequilibrada baixa classe brasileira sarcasticamente e

pôs em crise a idealização romântica devido ao fato de

seus personagens serem malandros, cafajestes e

praticamente marginais. Um dos principais traços da

obra de Manuel Antônio de Almeida é o predomínio

do humor sobre o dramático, suas personagens eram

caricaturizadas, com ênfase aos seu defeitos, os

acontecimentos da trama desmentiam as aparências das

personagens (o quebra mais um padrão romântico

cujas obras apresentavam acontecimentos que

validavam as aparências das personagens). Seu

romance era Picaresco, relativo a picadeiro, ou seja,

eram romances cômicos e tendiam ao patético,

substituindo o dramático habitual do romantismo por

um humor crítico e sagaz. Sua produção apresenta uma

ausência da tragédia humana em função de quebrar

mais um cacoete romântico. Caracteriza-se como autor

precursor do realismo por sua objetividade e sua

descrença nos valores sociais, destruindo assim, o

caráter subjetivo e bajulador do romantismo. Apesar de

toda essa quebra de valores, não só a sua localização

temporal, mas também a presença da linearidade e a

proteção dos valores burgueses, encaixam a sua obra

dentro do romantismo brasileiro. Dentre as obras de

Manuel Antônio de Almeida destaca-se:

Memórias de um Sargento de Milícias - Conta a

história de Leonardo, um homem que conta as

memórias de sua vida desgraçada. Filho de Leonardo

Pataca e Maria das Hortaliças, Leonardo foi

abandonado ainda criança por sua mãe, que fugiu com

um marinheiro, e por seu pai que não o queria. Passou

a viver com o padrinho que não tinha filhos e o criara

com muita dedicação, encobrindo todas as suas

travessuras. Era um menino insuportável. Mais tarde

torna-se um boêmio arruaceiro, que quase sempre era

preso e logo depois solto teve por um bom tempo o

sargento Vidigal em sua cola. Devido a essa freqüência

na cadeia, Leonardo cria amizades no meio militar e

logo, por apadrinhamento, ganha a patente de sargento

de milícias. Após ganhar tal cargo, decide-se casar

para fazer jus à sua patente casa-se com Luisinha que

estava recém viúva e foi o primeiro amor na sua

adolescência. "Memórias de um Sargento de milícias"

causou um grande impacto no público burguês, sendo

lido principalmente por intelectuais da literatura da

época e alcançando o ápice de sucesso após a morte de

Manuel Antônio de Almeida em um naufrágio. A

narrativa é linear, apesar de "começar pelo final", é

farta de humor, e o núcleo principal caracteriza-se pela

falta de classe e de valores.

CIES – LITERATURA

Prof. Jaqueline Borges

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