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Auto da Barca do InfernoCena do Frade
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Auto da Barca do InfernoQuestões de Diálogos 9, Porto Editora
Cena 6 (Frade) – p. 117 – 121
Educação literária e Leitura
1. Embora o Frade da ilustração use um hábito, este não parece fazer dele um verdadeiro frade. Com efeito, a personagem apresenta-se com uma rapariga pela mão, parecendo dançar, e com acessórios inadequados à sua condição.
2.1. Os objetos com que o Frade se apresenta em cena são, desde logo, marcas de cortesão: a espada, o escudo e o capacete. O Frade faz-se ainda acompanhar de Florença, a amante, evidenciando o seu carácter mundano e contrário ao que seria de esperar de um membro do clero, que assim quebra os votos de pobreza e de castidade a que estava obrigado.
2.2. O Frade não esconde nenhum facto da sua vida mundana, pelo contrário, há momentos em que os exibe orgulhosa- mente, pois acredita que o hábito que enverga é garantia de salvação, isto é, que sendo frade poderia fazer tudo o que quisesse. Cf. v. 392 “E este hábito não me vale?” e v. 406 “Não ficou isso na avença.” (Ir para o Céu é um direito garantido, por contrato, aos frades).
3. O cómico de situação está presente na forma como o Frade entra em cena, cantando e dançando, com a moça pela mão, e na lição de esgrima que dá ao Diabo.
O cómico de carácter mani- festa-se na maneira como se veste e na sua prosápia, já que se tem a si mesmo em alta consideração (cf. vv. 398-400 “eu hei de ser condenado? / Um padre tão namorado / e tanto dado à virtude!...”; v. 422 “Sabê que fui da pessoa!”; vv. 470-473 “Há lugar cá / pera Minha Reverença? / E a senhora Florença / polo meu entrará lá!”).
4.1. Por exemplo: Sendo membro do clero, e tendo, portanto, a obrigação de dar o exemplo, os pecados do Frade adquirem particular gravidade. Por isso, o Anjo, representante de Deus, nem sequer lhe dirige a palavra.
5. O Parvo acusa o Frade de não cumprir o voto de castidade.6.1. Referimo-nos aos versos 383--385: “E não vos punham lá grosa, / no vosso convento santo? / E eles
fazem outro tanto!”
Curiosidade:Não deixa de ser curiosa a naturalidade com que se encara a questão de os frades terem amantes e,
conforme se diz no texto de António José Saraiva e Óscar Lopes, de terem até “mulher e prole”.