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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA ARRECADAÇÃO DE RECURSOS EM CAMPANHA E PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL
LARISSA MARIA CORREIA
DECLARAÇÃO
“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.
ITAJAÍ (SC),10 de Novembro de 2010.
___________________________________________ Professor Orientador: Jeferson Custódio Próspero
UNIVALI – Campus Itajaí-SC
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
DA ARRECADAÇÃO DE RECURSOS EM CAMPANHA E PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL
LARISSA MARIA CORREIA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Direito. Orientador: Professor Msc. Jeferson Custódio Próspero
Itajaí, Novembro de 2010.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado o privilégio de participar de
uma experiência tão gratificante, e por ter me dado
toda a base que precisei para enfrentar os
obstáculos.
A minha família, a base maior que Deus me deu,
que me estimulou, me apoiou, me deu força e garra
para chegar até aqui.
Ao meu Orientador Prof. Jeferson Custódio Próspero
quem me deu incentivo e me auxiliou nas
discussões e nas atividades que deram andamento
à esta Monografia de Conclusão de Curso e que
compartilhou comigo sua presteza e simpatia.
Aos meus amigos e colegas que fizeram parte dessa
importante caminhada compartilhando informações e
materiais em uma linda demonstração de
solidariedade, especialmente aqueles que me
apoiaram tanto na faculdade quanto fora dela e que
vou levar, com certeza, para sempre em minha vida.
Aos demais idealizadores, coordenadores e
funcionários da UNIVERSIDADE DO VALE DO
ITAJAÍ - UNIVALI.
A todos os professores pelo carinho, dedicação e
entusiasmo demonstrado ao longo do curso.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu pai Geraldo à minha
mãe Cleci e ao meu irmão Lucas que foram meu
suporte em tudo, foram meu incentivo e me
inspiraram a sonhar, com quem eu compartilho a
minha felicidade de ter chego até aqui.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, 10 de Novembro de 2010.
Larissa Maria Correia
Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduando Larissa Maria Correia, sob o título
ARRECADAÇÃO DE RECURSOS EM CAMPANHA E PRESTAÇÃO DE CONTAS
AO TRIBUNAL, foi submetida em ____/____/2010 à banca examinadora composta
pelos seguintes professores: Jeferson Custódio Pereira (Orientador e Presidente da
Banca), ___________________________ (membro) e _______________________
(membro), e aprovada com a nota ______ (_______________).
Itajaí , 10 de novembro de 2010
Jéferson Custódio Próspero
Orientador e Presidente da Banca
Antonio Augusto Lapa
Coordenação da Monografia
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias consideradas estratégicas à compreensão do
seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Abuso de Poder1
O abuso de poder constitui conceito jurídico indeterminado, fluido e aberto, cuja
delimitação semântica só pode ser feita na prática, diante das circunstâncias que o
evento apresentar. Portanto, em geral, somente as peculiaridades do caso concreto
é que permitirão ao intérprete afirmar se esta ou aquela situação real configura ou
não abuso.
Campanha eleitoral2
A campanha eleitoral é inteiramente voltada à captação de votos. Em sua
consecução, a propaganda é instrumento indispensável, de importância primordial.
Sem ela, é praticamente impossível alcançar a vitória no certame eleitoral.
Captação de Votos3
A captação de votos é a conquista ou a atração de votos, que em todos os casos
devem ser obtidos através de meios lícitos. Para tanto, é necessário que o político,
hora candidato, e os que o apoiam, se sujeitem às normas ético-jurídicas, previstas
em nosso ordenamento.
Direito Eleitoral4
1 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 5ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. p. 260.
2 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 257.
3 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 257.
4 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. São Paulo: Atlas, 2010. p.08.
É “o ramo do Direito Público que regula todo o processo eleitoral, desde o
alistamento do eleitor até a diplomação dos candidatos eleitos, além das ações,
medidas e garantias que visam à legitimidade do pleito.”
Elegibilidade5
Elegibilidade traduz a capacidade individual e jurídica do pré-candidato para ser
votado como candidato, isto é, sua aptidão para receber os votos do eleitor. A
elegibilidade é também conhecida na doutrina jurídica como capacidade eleitoral
passiva (direito de ser votado), a qual se contrapõe à capacidade eleitoral ativa
(direito de votar), que é própria do eleitor, que a exerce mediante a expressão de
seu voto.
Escrivão Eleitoral6
Os Escrivães Eleitorais são responsáveis pelos cartórios eleitorais onde são
gerenciados os registros de candidaturas, cabe a ele o recebimento e conferência de
documentos apresentados pelos partidos.
Inelegibilidade7
A inelegibilidade consiste no obstáculo posto pela Constituição ou por lei
complementar ao exercício da cidadania passiva, por certas pessoas, em razão de
sua condição ou em face de certas circunstâncias. É a negação do direito de ser
representante do povo no Poder.
Juízes Eleitorais8
5 TÁVORA, Pedro Henrique. Direitos Políticos: condições de elegibilidade e inelegibilidade. 2ed. Edipro, 2000. p. 23.
6 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.125
7 TÁVORA, Pedro Henrique. Direitos Políticos: condições de elegibilidade e inelegibilidade. p. 23.
8 COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 253.
[...] o juiz eleitoral é o juiz de direito que exerce, por empréstimo, as funções
eleitorais naquelas comarcas em que funciona a sede da zona eleitoral [...] exerce a
função eleitoral enquanto responder pela titularidade daquela comarca a que
corresponde à sede da zona eleitoral, se desvestindo dessas atribuições tão logo
ingresse em férias, ou licença, ou mesmo seja promovido para uma outra comarca
na qual não haja sede de zona eleitoral.
Juntas Eleitorais9
As juntas eleitorais são órgãos deliberativos constituídos 60 (sessenta) dias antes do
pleito, apenas atuam nos anos eleitorais, ajudando os juízes no processo eleitoral,
cabe a ela apurar, no prazo de 10 (dez) dias, as eleições realizadas nas Zonas
Eleitorais sob sua Jurisdição, resolver as impugnações e demais incidentes
verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração, expedir os boletins de
apuração contendo o resultado de cada seção, expedir diploma aos eleitos para
cargos municipais.
Justiça Eleitoral10
Justiça Eleitoral é o órgão jurisdicional, concebido com a finalidade de cuidar da
organização, execução e controle dos processos de escolha dos candidatos e
mandatos eletivos (eleições), bem como dos processos de plebiscito e referendo.
Não está a Justiça Eleitoral inserida como apêndice do poder executivo, nem
tampouco submetida à esfera de atuação do poder legislativo.
Mesas Receptoras11
É o local onde o eleitor vota. É formada por servidores públicos temporais da Justiça
Eleitoral. São reconhecidos como agentes honoríficos e exercem uma função
9 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.125.
10 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 251.
11 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 251.
pública obrigatória e sem remuneração, sob pena de responder por infração
administrativa, conforme art. 124 do Código Eleitoral.
Ministério Público Eleitoral12
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
Prestação de contas13
[...] a prestação de contas de campanha eleitoral pode ser descrita como um instituto
que tem como finalidade primordial, emprestar transparência às campanhas
eleitorais, através da exigência da apresentação de informações, legalmente
determinadas, que têm o condão de evidenciar o montante , a origem e a
destinação doa recursos utilizados nas campanhas de partidos e candidatos,
possibilitando a identificação de situações que podem estar relacionadas ao abuso
do poder econômico, além de prever sanções pelo desrespeito aos dispositivos que
o regulam.
Propaganda Político-Eleitoral14
A propaganda política caracteriza-se por veicular concepções ideológicas com vistas
à obtenção ou manutenção do poder estatal. Ela é voltada para a polis, aí
compreendido tudo o que se refere à cidade, ao Estado, ao modo de governá-lo.
Tem em vista a conquista do poder, a prevalência de uma posição em plebiscito,
referendo ou eleições para preenchimento de cargo eletivo, em que há manutenção
ou substituição de integrantes do governo.
Registro de Candidatura
12
Art. 127, caput, da CRFB/88
13 LIMA, Sídia Maria Porto. Prestação de Contas e Financiamento de Campanhas Eleitorais. 2.ed. Curitiba: Jaruá, 2009. P. 90.
14 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 5ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. p. 299.
Registro de candidatura é o ato através do qual a Justiça Eleitoral habilita um
cidadão a concorrer à eleição para ocupar um cargo público. É através do registro
que se formaliza a pretensão de candidatar-se.
Zonas Eleitorais15
São regiões geograficamente delimitadas dentro de um Estado, gerenciadas pelo
cartório eleitoral, que centraliza e coordena os eleitores ali domiciliados. Podem ser
compostas por mais de um município, ou por parte dele. Normalmente, seguem a
divisão de comarcas da Justiça Estadual.
15
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.128
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................... XIV
INTRODUÇÃO .................................................................................. 15
1 DA JUSTIÇA ELEITORAL E AS LEIS ELEITORAIS
GENERICAMENTE ........................................................................... 17
1.1 CONCEITO E ASPECTOS HISTÓRICOS ..................................................... 17
1.2 A FUNÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL. ........................................................ 19
1.3 DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL. ......................................... 21
1.3.1. Do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .................................................... 233
1.3.2 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) ..................................................... 26
1.3.3 Dos Juízes Eleitorais................................................................................. 29
1.3.4. Do Escrivão Eleitoral e Juntas Eleitorais ............................................. 311
1.3.5 Das Zonas Eleitorais ................................................................................. 32
1.3.6 Das Mesas Receptoras ........................................................................... 333
1.3.7 Do Ministério Público Eleitoral ................................................................. 33
1.4 Das Fontes da Justiça Eleitoral .................................................................. 34
2 PROCESSO ELEITORAL ............................................................ 366
2.1 ELEGIBILIDADE E A INEGIBILIDADE: CARACTERIZAÇÃO ................... 366
2.2 REGISTRO DE CANDIDATURA ................................................................. 388
2.2.1 da Impugnação do Registro ................................................................... 411
2.3 A CAMPANHA ELEITORAL ........................................................................ 422
2.3.1 Da Captação de Votos............................................................................. 433
2.3.2 Do Abuso de Poder nas Campanhas Eleitorais .................................... 433
2.4 A PROPAGANDA POLÍTICO-ELEITORAL ................................................. 466
2.4.1 Propaganda Institucional ........................................................................ 499
2.4.2 Propaganda Partidária ............................................................................ 499
2.4.3 Propaganda Intrapartidária ....................................................................... 50
2.4.4 Propaganda Eleitoral................................................................................. 50
2.5 DAS ELEIÇÕES ............................................................................................. 52
2.6 DA DIPLOMAÇÃO ......................................................................................... 54
3 DO FINACIAMENTO DA CAMPANHA ELEITORAL E DA
PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL ..................................... 57
3.1 FINANCIAMENTO DA CAMPANHA ELEITORAL ........................................ 57
3.2.1 Do Financiamento Público ....................................................................... 61
3.2.2 Do Financiamento Privado ....................................................................... 62
3.2.2.1 Do limite de doações para pessoas físicas e jurídicas. ...................... 64
3.2.3 Dos Gastos Eleitorais. .............................................................................. 65
3.3 DA PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL. .......................................... 66
3.3.1 Da evolução das Normas regulamentadoras da Prestação de Contas. 67
3.3.2 Da Apresentação da Prestação de Contas à Justiça Eleitoral. ............. 69
3.4 DA ANÁLISE E JULGAMENTO DAS CONTAS E SANÇÕES APLICÁVEIS AOS
RESPONSÁVEIS PELA PRESTAÇÃO DE CONTAS ......................................... 73
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 77
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 82
Resumo
O direito eleitoral se constitui em um conjunto de normas que, sobretudo, tem o dever de proteger e garantir ao cidadão o direito que a Constituição Federal de 1988 lhe conferiu, de votar e ser votado. Em razão disso, com o objetivo de garantir a legitimidade do pleito eleitoral, a cada ano em que é realizado, existem as normas específicas que devem ser seguidas por todos os que, de alguma maneira, se envolvem no processo eleitoral. O processo eleitoral, no Brasil, passou por diversas modificações se apresentando, atualmente, como um dos mais modernos do mundo. Contudo, para tamanha evolução, foi e é necessário um controle extremo por parte da Justiça Eleitoral órgão destinado a fazer todo controle do processo eleitoral, e que no âmbito de suas funções, também tem o dever o fiscalizar os atos dos partidos políticos e candidatos, tão quanto, analisar e aprovar, ou não, as contas apresentadas. Esse controle é necessário para garantir a legitimidade e a justiça durante todo o período eleitoral, quem envolve desde o registro da candidatura até a prestação de contas realizada perante o Tribunal Eleitoral, independentemente do candidato ser, ou não, o vencedor. Ora tendo em vista, tamanha desigualdade social registrada em nosso Estado, é necessário um forte controle, para que o poderio econômico de alguns não afete o resultado das eleições, considerando que se isso acontecesse não estaríamos diante de um processo justo e democrático, garantido pela Constituição Federal de 1988, lei maior de nosso ordenamento jurídico.
15
Introdução
A presente Monografia tem como objeto a Arrecadação de recursos
realizada para a campanha eleitoral e a conseqüente prestação de contas ao
Tribunal.
O seu objetivo é apontar o funcionamento do processo eleitoral em
nosso país, tendo em vista que, o mesmo, por ser um processo democrático, tem
forte participação da população, que muitas vezes não possui informações sobre
acerca de sua normatização.
Para tanto, principia–se, o Capítulo 1, tratando da justiça eleitoral e as
leis eleitorais genericamente, onde são abordados o conceito e aspectos histórico, a
função da justiça eleitoral em nosso país, como ela se organiza, a divisão em
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunais Regionais Eleitorais (TRE), os Juízes
Eleitorais, o Escrivão Eleitoral e as Juntas Eleitorais, as Zonas Eleitorais, as Mesas
Receptoras, o Ministério Público Eleitoral, além de apresentar as fontes da Justiça
Eleitoral.
No Capítulo 2, tratar-se-á de todo o processo eleitoral desde o Registro
da Candidatura, citando a campanha eleitoral, que é devidamente explicada no
capítulo 3, explicando a propaganda eleitoral, indo até a fase final que são as
eleições.
No Capítulo 3, tratar-se-á sobre o tema principal do presente trabalho,
que é a arrecadação de recursos em campanha e a prestação de contas ao tribunal,
explicando o processo envolvendo a campanha eleitoral, a captação do voto do
eleitor, tratando do abuso de poder nas campanhas eleitorais, bem como explicando
como funciona a arrecadação de recursos através dos financiamentos público e
privado e por fim como é realizado o processo de prestação de contas ao Tribunal
Eleitoral, demonstrando as sanções aplicadas aos candidatos e partidos políticos
pelas prestações não aprovadas.
16
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações
Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da
estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a Arrecadação de
recursos em campanha e prestação de contas ao Tribunal.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses:
O Brasil é o único país do mundo que possui uma Justiça Eleitoral e está
historicamente estruturado para atender às necessidades de um processo
eleitoral;
O processo eleitoral está devidamente aparelhado para atender, desde o
registro da candidatura até o processo de prestação de contas, quando se
encerra a primeira fase das eleições, antes da diplomação dos eleitos;
O processo de prestação de contas, criado pela Lei 9504/97, atende à
necessidade de fiscalização pelo poder público, quanto à recepção e
utilização dos recursos recebidos pelos candidatos para realizar sua
campanha eleitoral.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação16 foi utilizado o Método Indutivo17, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano18, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do
Referente19, da Categoria20, do Conceito Operacional21 e da Pesquisa
Bibliográfica22.
16
PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.
17 PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.
18 LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
19 PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.
20 PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.
21 PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.
22 PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.
17
Capítulo 1
1 DA JUSTIÇA ELEITORAL E AS LEIS ELEITORAIS GENERICAMENTE
1.1 CONCEITO E ASPECTOS HISTÓRICOS
Entende-se direito eleitoral, aquele conjunto de normas, que tem como
objetivo regular os deveres do cidadão em suas relações com o Estado para sua
formação e atuação. Estado aqui entendido no sentido de governo, administração.
O Direito Eleitoral pode ser conceituado como o ramo do Direito
Público que regula todo o processo eleitoral, desde o alistamento do eleitor até a
diplomação dos candidatos eleitos, além das ações, medidas e garantias que visam
à legitimidade do pleito.23
O Direito Eleitoral é um dos poucos ramos do Direito que, em nosso
país, dispõe de uma justiça especializada, a Justiça Eleitoral, no mundo, é a única.
A Justiça Eleitoral é o órgão jurisdicional, concebido com a finalidade
de cuidar da organização, execução e controle dos processos de escolha dos
candidatos e mandatos eletivos (eleições), bem como dos processos de plebiscito e
referendo. Não está a Justiça Eleitoral inserida como apêndice do poder executivo,
nem tampouco submetida à esfera de atuação do poder legislativo.24
Trata-se de órgão de natureza jurisdicional, que faz parte da estrutura
do poder judiciário, consoante prescreve o art. 92, inc. V, da Constituição Federal de
1988, a seguir transcrito:
23
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.08.
24 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. p.251.
18
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A - o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios; § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional.
Foi instalada, no Brasil, em razão dos ideais da Revolução de 1930,
tendo em vista, a desconfiança dos revolucionários, que pensavam que o processo
eleitoral, até então vigente no país era viciado, servindo apenas para manutenção do
poder das oligarquias da chamada Primeira República, que esteve no poder durante
os anos de 1889 e 1930.25
A Revolução de 1930 foi um movimento político-militar que resultou da
união dos políticos e dos tenentes que haviam sido derrotados nas eleições de 1930,
que culminou com a renúncia de Presidente Washington Luís e com a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder no plano federal.26
O fato é que a Revolução de 1930 instituiu, em 1932, através do
Decreto nº 21.076, o Código Eleitoral, que criava a estrutura da Justiça Eleitoral e
dava a esta a responsabilidade por todos os trabalhos eleitorais, desde o
alistamento à eleição e proclamação dos vitoriosos, regulando as eleições em todos
os níveis da federação.27
A Justiça Eleitoral foi constitucionalizada no ano de 1934, quando
passou a conceder o voto às mulheres e estabelecer o sufrágio universal e secreto.
25
ANGELIM, Augusto N. Sampaio. Justiça Eleitoral: passado e futuro. Acesso em: 27 de Abril de 2010.
26 ANGELIM, Augusto N. Sampaio. Justiça Eleitoral: passado e futuro. Acesso em: 27 de Abril de 2010.
27 ANGELIM, Augusto N. Sampaio. Justiça Eleitoral: passado e futuro. Acesso em: 27 de Abril de 2010.
19
Foi extinta no período de vigência do Estado Novo (1937 e1945), e ressurgiu em
1946, quando, enfim, passou a ser regulada em todos os textos constitucionais.
A criação de uma justiça especializada para reger o processo licitatório
de escolha entre candidatos a cargos eletivos, se deu em virtude da realidade
brasileira. As funções designadas para a Justiça Eleitoral poderiam ser confiadas,
pela Constituição Federal, aos poderes executivo e legislativo, dando a um deles, ou
a ambos, a atribuição de fiscalizar, organizar e executar o prélio eleitoral, porém, tal
decisão traria uma grave suspeição sobre a seriedade e isenção do processo
eleitoral, considerando a natureza política do acesso aos principais cargos desses
dois poderes.
É natural que aqueles que estejam no poder, nele vão querer
permanecer, por isso a criação da Justiça Eleitoral. Não existindo a natureza política
de acesso aos cargos, diminuem-se as possibilidades dos resultados do certame
serem influenciados, ou do processo de eleição ser conduzido em proveito de
alguém.
Em contrapartida, também não era, e continua não sendo
aconselhável, a criação de um órgão apenas para a condução das eleições,
desvinculado dos poderes políticos, tendo em vista, a complexidade de sua estrutura
e o alto custo ao erário da nação. Daí, a solução adotada através do Decreto nº
21.076 de 21 de fevereiro de 1932, instituindo a Justiça Eleitoral Brasileira.
1.2 A FUNÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL.
A Justiça Eleitoral, em nosso país foi construída pacientemente, para
se tornar, como observamos hoje, a guarda das regras de procedimento para
formação das decisões coletivas. Pois bem, passou pelo devido processo de
modernização e hoje seu sistema de informatização configurara-se como um dos
mais eficientes no âmbito mundial. Esses fatores contribuem para o eficaz
desempenho de suas funções.
20
A Justiça Eleitoral tem por finalidade a proclamação da verdade
eleitoral e que vem contribuindo, de forma positiva, para a moralização do ambiente
político-partidário no país e para a afirmação da vocação democrática dos povos
livres.28
Desenvolve funções típicas e atípicas: típicas em dizer o direito em
cada caso concreto, tendo suas decisões protegidas pela coisa julgada depois de
certo tempo; e atípicas que não ostentam cunho jurisdicional contencioso,
consubstanciando-se em atos preparatórios para realização das eleições, como, por
exemplo, as tarefas necessárias para o alistamento e o registro eleitoral.29
Com fundamento no princípio da moralização do voto, a Justiça
Eleitoral tem a função de lutar contra o abuso do poder econômico, contra violação
de regras legais, contra a corrupção e fraude, e contra todas e quaisquer
irregularidades que venham a prejudicar a autenticidade da escolha popular.
Salientando-se que a função não é intervir no processo político e sim zelar pelo
cumprimento da legislação vigente e pela fiscalização das eleições em nosso país.
São duas as principais vertentes de atuação da Justiça Eleitoral. Uma,
de índole eminentemente administrativa, de funcionamento de agência reguladora,
planejadora e executora das eleições. A outra, de caráter jurisdicional, dedicada a
dirimir os contenciosos eleitorais.30
A Justiça Eleitoral atua ao mesmo tempo como Poder Judiciário e
como Poder Executivo das eleições, tendo em vista a característica administrativa,
jurisdicional e cartorial atribuída à sua função, o que retira dela o caráter de inércia
própria dos outros ramos do Poder Judiciário.
28
PEREIRA, Paulo Henrique Barbosa. A Função da Justiça Eleitoral. Acesso em: 28 de Abril de 2010.
29 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.114.
30 PEREIRA, Paulo Henrique Barbosa. A Função da Justiça Eleitoral. Acesso em: 28 de Abril de 2010.
21
Portanto, conforme o exposto no Art. 1º do Código Eleitoral de 1965,
compete à Justiça Eleitoral assegurar a organização e o exercício de direitos
políticos precipuamente os de votar e ser votado.
1.3 DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL.
Consoante o Art. 118 da Constituição Federal de 1988, são órgão da
Justiça Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral, os tribunais regionais eleitorais, os
juízes eleitorais e as juntas eleitorais, como observa-se:
Art. 118 - São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; II - os Tribunais Regionais Eleitorais; III - os Juízes Eleitorais; IV - as Juntas Eleitorais.
Os presentes órgãos da Justiça Eleitoral se submetem ao princípio da
periodicidade da investidura das funções eleitorais, ou seja, não existem
magistrados permanentemente investidos nas atribuições de juiz eleitoral, sendo
elas exercidas temporariamente.
De fato, o juiz eleitoral é o juiz de direito que exerce, por empréstimo,
as funções eleitorais naquelas comarcas em que funciona a sede da zona eleitoral,
pois há comarcas que são eleitoralmente termos de outras comarcas, vale dizer,
fazem parte do território da zona eleitoral, que tem por sede a comarca mais
importante. Logo, o juiz exerce a função eleitoral enquanto responder pela
titularidade daquela comarca a que corresponde à sede da zona eleitoral, se
desvestindo dessas atribuições tão logo ingresse em férias, ou licença, ou mesmo
seja promovido para uma outra comarca na qual não haja sede de zona eleitoral.
Outrossim, os membros dos tribunais regionais e do Tribunal Superior Eleitoral são
todos eles periodicamente mudados, de maneira que o corpo de juízes eleitoral é
temporário e alternado.31
31
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 253.
22
O Art. 121, §2º, da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, doravante denominada apenas CRFB/88, positiva esse princípio, ao dispor em
seu texto que os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por
dois anos, no mínimo, e nunca por mais de quatro anos consecutivos, como verifica-
se a seguir:
Art. 121 - Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. § 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis. § 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria. § 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança. § 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando: I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.
O art. 14, § 1º, do Código Eleitoral, esclarece que o cômputo do biênio
será ininterrupto, sem desconto de qualquer afastamento, nem mesmo licença,
férias ou licença especial. Apenas pode interrompido o cômputo no caso de
impedimento decorrente de candidatura a cargo eletivo, seja do próprio magistrado,
do seu cônjuge, parente consangüíneo legítimo ou ilegítimo, ou afim, até o 2º grau (§
3º do art. 14 de CE).32
32
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. 3ed. Editora Revista dos Tribunais: 2010. p. 940.
23
1.3.1. Do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Nos termos do art. 119 da CRFB/88, o Tribunal Superior Eleitoral, terá sua
sede no Distrito Federal e sua jurisdição é em todo o território nacional.
O Tribunal Superior Eleitoral, doravante denominado apenas TSE, será
composto de, no mínimo, sete membros, limite base, fixado pelo art. 119 da
CRFB/88, sendo que a possibilidade de aumentar o número de membros depende
de autorização de Lei Complementar, como demonstrado na transcrição do referido
artigo:
Art. 119 - O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único - O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
A escolha dos membros do TSE é feita através de eleição, pelo voto
secreto, três juízes, dentre os ministros do Supremo Tribunal federal e de dois
juízes, dentre os ministros do Superior Tribunal de Justiça. Ainda são nomeados
pelo Presidente da Republica dois juízes, que serão escolhidos dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo
Tribunal Federal.
O presidente e o vice-presidente do TSE, serão eleitos pelos próprios
membros desse Tribunal, dentre os ministros de STF. Por sua vez, o corregedor
eleitoral é eleito dentre os juízes do STJ. O Código Eleitoral elenca em seu art. 16,
§1º, as pessoas vedadas de fazer parte do TSE:
Art. 16. Compõe-se o Tribunal Superior Eleitoral: (Alterado pela L-007.191-1984) I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de três juizes, dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; e
24
b) de dois juizes, dentre os membros do Tribunal Federal de Recursos; II - por nomeação do Presidente da República, de dois entre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. § 1º Não podem fazer parte do Tribunal Superior Eleitoral cidadãos que tenham entre si parentesco, ainda que por afinidade, até o 4º (quarto) grau, seja o vínculo legítimo ou ilegítimo, excluindo-se neste caso o que tiver sido escolhido por último. (Alterado pela L-007.191-1984) § 2º A nomeação que trata o inciso II deste artigo não poderá recair em cidadão que ocupe cargo público de que seja demissível ad nutum; que seja diretor, proprietário ou sócio de empresa beneficiada com subvenção, privilégio, isenção ou favor em virtude de contrato com a administração pública; ou que exerça mandato de caráter político, federal, estadual ou municipal. (Alterado pela L-
007.191-1984).33
Portanto, qualquer relação civil de parentesco impede a presença de
dois ministros na mesma composição do TSE, independentemente se provenham da
magistratura ou da advocacia.
Observando o preceito acima mencionado, em especial o parágrafo
segundo, nota-se as condições de habilitação para os membros provenientes da
advocacia, portanto, o advogado apenas estará habilitado para ser nomeado pelo
presidente da Republica, quando no ato da nomeação não estiver exercendo as
funções acima citadas. Se a desincompatibilização for promovida após a nomeação
do advogado este ato será nulo.
Aspecto importante diz respeito ao quórum necessário para as
deliberações do TSE. Segundo o art. 19 do Código Eleitoral, a deliberação será por
maioria de votos, em sessão pública, com a maioria de seus membros. Entretanto,
há quatro hipóteses em que a deliberação deverá contar necessariamente com a
presença de todos os seus membros, em quórum qualificado: I) quando houver
necessidade de interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição Federal;
II) quando se discutir cassação de registro de partido político; III) quando houver
qualquer recurso importando a anulação geral das eleições; IV) quando houver
33
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 940.
25
recurso que importe perda do diploma do candidato eleito. Vejamos em breves
linhas tais espécies.34
A competência jurisdicional e administrativa do Tribunal superior
Eleitoral está prevista, respectivamente, nos artigos 22 e 23 do Código Eleitoral.
No que diz respeito a competência administrativa destacamos algumas
funções de relevante importância, a Justiça Eleitoral é quem prepara e organiza todo
o processo eleitoral, sendo responsável pelo alistamento de eleitores, transferência
de domicílios eleitorais, administração do cadastro eleitoral, atos preparatórios à
votação e à sua realização; apuração e totalização dos votos, proclamação dos
resultados das eleições, e expedição de diplomas aos eleitos.
Em relação a competência jurisdicional cabe a Justiça Eleitoral julgar
os casos referentes ao processo eleitoral, tais como: os pedidos de registro de
candidatos, as representações sobre propaganda eleitoral; as ações para apuração
dos crimes eleitorais, das condutas vedadas a agentes públicos e de captação ilícita
de sufrágio, entre outros – de maneira a solucionar os conflitos de interesses,
zelando pela uniformidade das decisões da Justiça Eleitoral.
No que tange a competência jurisdicional, um fator que merece ser
destacado é o disposto no art. 121, § 3º, da CF, que diz que as decisões do TSE são
irrecorríveis, exceto as que contrariarem a Constituição Federal, que serão objeto de
Recurso Extraordinário, e as decisões denegatórias de habeas corpus ou mandado
de segurança.
Cabe salientar que o TSE e os Tribunais Regionais Eleitorais têm a
atribuição de responder a questionamentos formulados, em tese, por pessoas
legitimadas para esclarecimento sobre matéria eleitoral. O TSE tem a competência
de expedir Resoluções com instruções para a fiel execução da legislação eleitoral.
34
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 255.
26
Nos anos em que acontecem as eleições, o TSE poderá expedir todas
as instruções necessárias para sua fiel execução até o dia 05 de Março do referido
ano, e só serão aplicadas as resoluções publicadas até essa data. Porém se os
partidos políticos ou o Ministério Publico notarem uma extensão demasiada na
regulamentação da matéria, esses têm direito ao controle, assim como, cabe
mandado de injunção, caso for detectada a ausência de norma sobre matéria
eleitoral.
O TSE expede resoluções temporárias, que se referem a determinada
eleição, com curta duração e especifica aplicabilidade, e resoluções permanentes ou
com feição de maior durabilidade temporal, pois não são alteradas em função de um
calendário eleitoral das eleições.35
1.3.2 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs)
Os TREs são distribuídos pelo país, sendo localizados um em cada
estado federado e um no Distrito Federal, foram constituídos para que pudessem
fazer a fiscalização, a execução e a organização do processo eleitoral no âmbito de
sua jurisdição.
Os Tribunais Regionais Eleitorais são localizados na capital de cada
Estado, sendo um no distrito Federal. Atualmente existem 27 TREs no Brasil, cada
um é composto por 7 juízes, a composição é fixada, mediante eleição, de dois
juízes, dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça, de dois juízes de Direito,
escolhidos elo Tribunal de Justiça, de um juiz federal, indicado pelo Tribunal
Regional Federal, ,além de dois advogados, nomeados pelo presidente da República
dentre seis advogados de notável sabe jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
tribunal de Justiça, conforme artigos 120 da CRFB/88 e 25 do Código Eleitoral.36
35
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.119.
36 COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 261.
27
O presidente e vice-presidente serão eleitos pelo Tribunal Regional
Eleitoral, dentre dois desembargadores indicados pelo Tribunal de Justiça. O cargo
de corregedor Regional é geralmente ocupado pelo vice-presidente ou pelo juiz
federal.
A competência do TRE é fixada pelos artigos 29 e 30 do Código
Eleitoral, com as alterações previstas pelo Constituição federal. Dentre elas
podemos destacar o dever de processar e julgar originariamente o registro e o
cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos políticos,
bem como de candidatos a Governador, Vice-Governadores, e membro do
Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas, os conflitos de jurisdição entre
juizes eleitorais do respectivo Estado, a suspeição ou impedimentos aos seus
membros ao Procurador Regional e aos funcionários da sua Secretaria assim como
aos juizes e escrivães eleitorais, os crimes eleitorais cometidos pelos juizes
eleitorais.37
Ainda cabe ao TRE julgar o habeas corpus ou mandado de segurança,
em matéria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam perante os Tribunais
de Justiça por crime de responsabilidade e, em grau de recurso, os denegados ou
concedidos pelos juizes eleitorais, ou, ainda, o habeas corpus quando houver perigo
de se consumar a violência antes que o juiz competente possa prover sobre a
impetração e os recursos interpostos dos atos e das decisões proferidas pelos juizes
e juntas eleitorais, das decisões dos juizes eleitorais que concederem ou denegarem
habeas corpus ou mandado de segurança.
Para garantir a agilidade dos atos processuais, as decisões dos TREs
somente serão passíveis de recurso ao TSE quando ocorrer alguma das situações
elencadas no art. 121, § 4º, da CF.
Art. 121 - Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. [...] § 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:
37
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 944.
28
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.
Ainda o art. 30 do Código Eleitoral dispõe sobre a competência
administrativa dos TREs, tudo o que for relativo à organização interna dos TREs
cabe a eles administrar, como por exemplo elaborar o seu regimento interno,
organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Regional provendo-lhes os cargos na
forma da lei, e propor ao Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal Superior a
criação ou supressão de cargos e a fixação dos respectivos vencimentos, conceder
aos seus membros e aos juizes eleitorais licença e férias, assim como afastamento
do exercício dos cargos efetivos submetendo, quanto aqueles, a decisão à
aprovação do Tribunal Superior Eleitoral.38
Porém é importante destacar, no âmbito da competência
administrativa, algumas funções extremamente relevantes para o andamento do
processo eleitoral como: a fixação da data das eleições de Governador e Vice-
Governador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e juizes de
paz, quando não determinada por disposição constitucional ou legal, a constituição
das juntas eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição, a indicação ao
tribunal Superior das zonas eleitorais ou seções em que a contagem dos votos deva
ser feita pela mesa receptora, a apuração com os resultados parciais enviados pelas
juntas eleitorais, dos resultados finais das eleições de Governador e Vice-
Governador de membros do Congresso Nacional e expedir os respectivos diplomas,
remetendo dentro do prazo de 10 (dez) dias após a diplomação, ao Tribunal
Superior, cópia das atas de seus trabalhos.
VIII - responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político; IX - dividir a respectiva circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas zonas, à aprovação do Tribunal Superior;
38
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 944.
29
X - aprovar a designação do Ofício de Justiça que deva responder pela escrivania eleitoral durante o biênio; XII - requisitar a força necessária ao cumprimento de suas decisões solicitar ao Tribunal Superior a requisição de força federal; XIII - autorizar, no Distrito Federal e nas capitais dos Estados, ao seu presidente e, no interior, aos juizes eleitorais, a requisição de funcionários federais, estaduais ou municipais para auxiliarem os escrivães eleitorais, quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço; XIV - requisitar funcionários da União e, ainda, no Distrito Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos respectivos quadros administrativos, no caso de acúmulo ocasional de serviço de suas Secretarias; XV - aplicar as penas disciplinares de advertência e de suspensão até 30 (trinta) dias aos juizes eleitorais; XVI - comprir e fazer cumprir as decisões e instruções do Tribunal Superior; XVII - determinar, em caso de urgência, providências para a
execução da lei na respectiva circunscrição [...].39
Os TREs devem ainda, organizar os fichários eleitorais de cada estado,
podendo, se for o caso, e de acordo com regras pré-estabelecidas, suprimir os
mapas de apuração e totalizadores.
1.3.3 Dos Juízes Eleitorais
A Justiça Eleitoral não possui em seu quadro seus próprios juízes,
portanto faz uso dos magistrados da Justiça Comum, que por um certo período de
tempo, exercem cumulativamente as funções de um juiz eleitoral.40
Cada juiz de direito em efetivo exercício é responsável pela jurisdição
de cada uma das zonas eleitorais e, ocorrendo a falta deste, a responsabilidade
cabe ao seu substituto legal que goze das prerrogativas da magistratura.
Os juízes eleitorais são magistrados togados, pertencentes à carreira
da Justiça Estadual. Exercem a função eleitoral quando lotados em comarcas de
única vara, que sejam sede de zona eleitoral, ou quando sejam designados pelo
TER, no caso de comarca com mais de uma vara. O exercício da função eleitoral
39
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 945.
40 COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.p. 263.
30
deve ser feita por magistrado de posse de todas as garantias constitucionais da
investidura no cargo, sendo exercida contemporaneamente à atividade jurisdicional
comum, nada obstante, em data fixada no calendário eleitoral, devam os primeiros
feitos ter preferência sobre os últimos.41
O art. 35 do Código Eleitoral42, estipula quais são as competências dos
juízes eleitorais, porém dentre elas podemos destacar a o dever de cumprir e fazer
cumprir as decisões e determinações do Tribunal Superior e do Regional, a função
de processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos,
ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais,
de decidir habeas corpus e mandado de segurança em matéria eleitoral, desde que
essa competência não esteja atribuída privativamente à instância superior.
Ainda é de competências dos juízes eleitorais fazer as diligências que
julgar necessárias à ordem e presteza do serviço eleitoral, quando tomado
conhecimento de reclamações que forem feitas verbalmente ou por escrito, é dever
do magistrado reduzi-las a termo, e determinar as providências que cada caso exigir.
A lei ainda determina aos juízes a função de dirigir os processos
eleitorais e determinar a inscrição e a exclusão de eleitores, expedir os títulos
eleitorais e conceder transferência de eleitor, dividir a zona em seções eleitorais,
ordenar o registro e cassação do registro dos candidatos aos cargos eletivos
municipais e comunicá-los ao Tribunal Regional.
Nos anos em que ocorrem as eleições o magistrado deve, até sessenta
dias antes do dia das eleições, designar os locais das seções, nomear, em audiência
pública anunciada com pelo menos cinco dias de antecedência, os membros das
mesas receptoras, instruir os membros das mesas receptoras sobre as suas
funções, providenciar para a solução das ocorrências que se verificarem nas mesas
41
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 263.
42 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 946.
31
receptoras e tomar todas as providências ao seu alcance para evitar os atos viciosos
das eleições. 43
Das decisões tomadas pelos juízes eleitorais, será cabível recurso, que
deverá ser encaminhado ao Tribunal Regional Eleitoral.
1.3.4. Do Escrivão Eleitoral e Juntas Eleitorais
Os Escrivães Eleitorais são responsáveis pelos cartórios eleitorais
onde são gerenciados os registros de candidaturas, cabe a ele o recebimento e
conferência de documentos apresentados pelos partidos.
Não podem servir como escrivão eleitoral os membros de diretórios de
partido político, candidatos, cônjuges e parentes consanguíneos e afins até o
segundo grau dos juízes eleitorais daquela zona eleitoral, onde exerçam jurisdição
eleitoral.44
As juntas eleitorais são órgãos deliberativos constituídos 60 (sessenta)
dias antes do pleito, apenas atuam nos anos eleitorais, ajudando os juízes no
processo eleitoral, cabe a ela apurar, no prazo de 10 (dez) dias, as eleições
realizadas nas Zonas Eleitorais sob sua Jurisdição, resolver as impugnações e
demais incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração,
expedir os boletins de apuração contendo o resultado de cada seção, expedir
diploma aos eleitos para cargos municipais.
Na apuração das eleições, o julgamento sobre a validade do voto dado
pelo eleitor é de competência das juntas eleitorais, compostas de três a cinco
membros, sempre sob a presidência do juiz eleitoral. A junta eleitoral, de
conseguinte, é o juízo próprio perante o qual se impugna o voto reputado nulo e
43
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 263.
44 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.125
32
contra o qual se interpõe recurso parcial, em caso de decisão contrária à
impugnação. Sua razão de ser e funcionamento se cinge a essa oportunidade,
ficando sua função sobremaneira apoucada com a introdução das urnas eletrônicas,
vez que a discussão sobre a nulidade dos votos inexiste.45
A competência das juntas eleitorais, estipuladas acima, foi delineada
no art. 40 do Código Eleitoral.
Art. 40. Compete à Junta Eleitoral; I - apurar, no prazo de 10 (dez) dias, as eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição. II - resolver as impugnações e demais incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração; III - expedir os boletins de apuração mencionados no Art. 178; IV - expedir diploma aos eleitos para cargos municipais. Parágrafo único. Nos municípios onde houver mais de uma junta eleitoral a expedição dos diplomas será feita pelo que for presidida pelo juiz eleitoral mais antigo, à qual as demais enviarão os
documentos da eleição.46
1.3.5 Das Zonas Eleitorais
As Zonas Eleitorais são comandadas por um Juiz de Direito, que é o
responsável pela sua jurisdição. Podemos comparar a zona eleitoral a comarca de
Juiz de Direito, porém no âmbito eleitoral.
As Zonas Eleitorais são compostas de seções eleitorais que por sua
vez são compostas por grupo de eleitores.
São regiões geograficamente delimitadas dentro de um Estado,
gerenciadas pelo cartório eleitoral, que centraliza e coordena os eleitores ali
domiciliados. Podem ser compostas por mais de um município, ou por parte dele.
Normalmente, seguem a divisão de comarcas da Justiça Estadual. 47
45
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 264.
46 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 947.
47 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.128
33
1.3.6 Das Mesas Receptoras
É o local onde o eleitor vota. É formada por servidores públicos
temporais da Justiça Eleitoral. São reconhecidos como agentes honoríficos e
exercem uma função pública obrigatória e sem remuneração, sob pena de
responder por infração administrativa, conforme art. 124 do Código Eleitoral.
É composta por um presidente, um primeiro mesário, um segundo
mesário e um secretário. A nomeação desses membros é feita 60 (sessenta) dias
antes da data das eleições. Os cidadãos intimados para exercer algumas dessas
funções tem 05 dias, contados da data da intimação, para fazer reclamação contra a
nomeação ou apresentar recusa, devidamente justificada. Os partidos também
podem apresentar reclamação contra as nomeações, porém, se não apresentadas,
no prazo, as reclamações, não poderá ser argüida pelo partido a nulidade da seção.
1.3.7 Do Ministério Público Eleitoral
Não existe lei instituindo o Ministério Público Eleitoral, porém ao
interpretarmos o art. 127, caput, da CRFB/88 que diz que ”O Ministério Público é
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”.
Porém o art. 37 da LC nº 75/93 trata genericamente das funções
eleitorais, pois dispõe que o Ministério Público Federal exercerá suas funções nas
causas de competência dos tribunais e juízes eleitorais.
Não nos resta dúvida da suma importância, que tem a atuação do
órgão, permanentemente, junto à Justiça Eleitoral.
Sua organização e função é abordada no texto da Lei Complementar
75/93, é composto do Procurador Geral Eleitoral, que é o próprio Procurador Geral
34
da República, ou seu substituto legal; do Procurador Regional Eleitoral que são os
Procuradores Regionais da Republica nos Estados e no Distrito Federal; e do
Promotor Eleitoral, que são os promotores de justiça.
Tem a função de atuar em todas as fases e instâncias do processo
eleitoral, na tutela de interesses extrapartidários ou suprapartidários. Suas principais
atribuições são; acompanhar o alistamento eleitoral, fiscalizar os atos preparatórios
da eleição, acompanhar os processos de registro de candidaturas, fazendo as
impugnações necessárias, fiscalizar a propaganda dos candidatos, partidos políticos
e coligações, propor, quando for o caso, as ações típicas previstas na legislação
eleitoral, interpor recursos eleitorais, e também cabe ao MP a propositura da Ação
de Decretação de Perda de Cargo Eletivo, quando esta não for proposta pelos
legitimados.48
1.4 Das Fontes da Justiça Eleitoral
Sobre as fontes da Justiça Eleitoral, Angelim49 assevera
A expressão fontes do Direito diz respeito à sua origem e, geralmente, a doutrina classifica as fontes em materiais e formais. Fonte formal é o fato jurídico, ou seja, o acontecimento da vida que é regulado pelo direito, como por exemplo, uma fraude no alistamento, seja porque o agente não tem a idade mínima ou, como é mais era mais comum antigamente, por duplicidade de inscrição eleitoral. Outro fato material que poderia servir de exemplo para ilustrar o que seria a fonte material, é a transferência fraudulenta do domicílio eleitoral. A fonte formal é o próprio dispositivo legal.
São fontes diretas da Justiça Eleitoral, a Constituição Federal de 1988,
as Leis Eleitorais de competência privativa da União, dentre elas a Lei nº 4.737/65 –
Código Eleitoral50; Lei Complementar nº 64/90 – Lei das Inelegibilidades51; Lei nº
9.504/97 – Lei das Eleições52, que sofreu alteração pela Lei 12.034/0953; Lei nº
48
COSTA, Adriano Soares Da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 264.
49 ANGELIM, Augusto N. Sampaio. Justiça Eleitoral: passado e futuro. Acesso em: 27 de Abril de 2010.
50 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 938.
51 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 989.
52 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
35
9.096/95 – Lei dos Partidos Políticos54; e as resoluções do Tribunal Superior
Eleitoral, destacando para a presente pesquisa a resolução nº 23.217 de 02 de
março de 2010.
Possui, também, como fontes indiretas, a doutrina, a jurisprudência e o
estatutos partidários, que só são válidos se devidamente registrados perante a
Justiça Eleitoral.
53
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1050.
54 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 997.
36
Capítulo 2
PROCESSO ELEITORAL
2.1 ELEGIBILIDADE E A INEGIBILIDADE: CARACTERIZAÇÃO
O registro pode ser entendido como o ato jurídico-administrativo que
formaliza a elevação do pré-candidato à condição legal de candidato.
Para tanto, é condição essencial o acatamento dos requisitos
estabelecidos em sede constitucional e legal, em especial as condições de
elegibilidade.
As condições de elegibilidade estão relacionadas nos §§ 3º ao 9º do
art. 14 da CRFB/8855. Assim, a nacionalidade brasileira, o pleno exercício dos
direitos políticos, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição, a
filiação partidária, a condição de alfabetizado e a observância do limite mínimo de
idade para ascensão e posse do cargo pleiteado são as principais condições de
elegibilidade estabelecidas em sede constitucional.
Elegibilidade traduz a capacidade individual e jurídica do pré-candidato
para ser votado como candidato, isto é, sua aptidão para receber os votos do eleitor.
A elegibilidade é também conhecida na doutrina jurídica como capacidade eleitoral
passiva (direito de ser votado), a qual se contrapõe à capacidade eleitoral ativa
(direito de votar), que é própria do eleitor, que a exerce mediante a expressão de
seu voto.56
Em síntese, a elegibilidade é direito subjetivo de disputar cargo público.
A elegibilidade diz respeito, portanto, à capacidade eleitoral passiva, de ser eleito.
55
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 937.
56 TÁVORA, Pedro Henrique. Direitos Políticos: condições de elegibilidade e inelegibilidade. p. 23.
37
Mesmo que preenchidas as mencionadas condições de elegibilidade,
no entanto, pode existir determinada situação, prevista na Constituição ou em lei
complementar, relacionada com o cargo ocupado, a função exercida e a condição da
pessoa, que a tornam inelegível, exigindo-lhe a desincompatibilização no prazo
assinalado pela lei para concorrer às eleições.57
Trata-se da inelegibilidade, assim conceituada por Távora58:
A inelegibilidade consiste no obstáculo posto pela Constituição ou por lei complementar ao exercício da cidadania passiva, por certas pessoas, em razão de sua condição ou em face de certas circunstâncias. É a negação do direito de ser representante do povo no Poder.
Já Costa59, ao conceituá-la, destaca que a inelegibilidade pode ocorrer
antes ou depois do registro:
Chama-se inelegibilidade a ausência ou perda da elegibilidade. Se o nacional não preenche os pressupostos legais, não é elegível. Se registrada a sua candidatura, lhe é irrogada a prática de algum ato ilícito, vindo a perdê-la, torna-se inelegível. Há inelegibilidade inata (originária) e inelegibilidade cominada (ocasional).
Direitos políticos, para Ferreira Pinto60, podem ser definidos como
“prerrogativas, atributos, faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos no
governo de seu país, intervenção direta ou só indireta, mais ou menos ampla,
segundo a intensidade do gozo desses direitos”.
Cumpre salientar a limitação imposta à Justiça Eleitoral, no tocante à
competência desse Poder, conforme ensina Ramayana61:
[...] a competência da Justiça Eleitoral está cingida dentro das fases elencadas pela doutrina. A doutrina majoritária entende que à Justiça Eleitoral compete processar e julgar causas que estejam
57
CASTRO, Edson de Resende. Teoria e Prática do Direito Eleitoral. 4ed. Mandamentos, 2008. p. 163.
58 TÁVORA, Pedro Henrique. Direitos Políticos: condições de elegibilidade e inelegibilidade. p. 23.
59 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. p. 91.
60 PINTO FERREIRA. Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno. 6ed. São Paulo: Saraiva, 1983, p. 53.
61 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 5ed. Niterói: Impetus, 2006. p. 77.
38
compreendidas entre o alistamento e a diplomação dos candidatos eleitos, e, por força de ação de natureza constitucional, que é a ação de impugnação ao mandato eletivo (art. 14, § 10), ainda possui competência para decidir essas ações que são ajuizadas no prazo decadencial de 15 dias, contados da diplomação. Fora desse prazo legal, não haverá mais competência da Justiça Eleitoral, devendo as questões serem dirimidas pela Justiça Comum.
Quanto a esse quesito, é importante observar que, na suspensão dos
direitos políticos, a pessoa fica temporariamente privada tanto da capacidade
eleitoral ativa quanto da passiva. Já na perda dos direitos políticos, a privação é
definitiva.62
2.2 REGISTRO DE CANDIDATURA
Conforme já citado anteriormente, e previsto no Texto constitucional,
uma das condições fundamentais de elegibilidade é a de estar o cidadão filiado a um
Partido Político, isto porque no Brasil não se admite a "candidatura avulsa", sendo
impossível um candidato sem Partido (art. 9º da Lei nº 9.504/97-LGE). De fato, é
através do Partido que será processado, junto ao órgão competente da Justiça
Eleitoral, o registro de candidatura daquele que pretenda concorrer a cargo político
eletivo.
Assim, uma vez filiado a um Partido Político, com antecedência mínima
de um (01) ano da data das eleições, o cidadão que queira poderá submeter seu
nome a uma "eleição interna" do Partido, o qual irá escolher quais dentre seus
filiados, "candidatos a candidato", concorrerão ao cargos públicos eletivos naquele
pleito eleitoral. Essa eleição interna ocorre durante as chamadas Convenções
Partidárias.
Registro de candidatura é o ato através do qual a Justiça Eleitoral
habilita um cidadão a concorrer à eleição para ocupar um cargo público. É através
do registro que se formaliza a pretensão de candidatar-se. Para tanto o Partido
62
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 9ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 246.
39
encaminhará o nome de cada filiado escolhido na Convenção à exame dos
necessários requisitos (atender às condições de elegibilidade e não incorrer em
hipóteses de inelegibilidade). Importante ressaltar que a autuação dos pedidos de
registro de candidatura apresentados pelo Partido ou pela Coligação será feita em
tantos processos quantas forem as candidaturas apresentadas.
Nos termos da legislação, os Partidos ou Coligações poderão solicitar
os registros dos candidatos à Justiça Eleitoral até as 19:00h, do dia 05 de julho, do
ano das eleições. Na hipótese do Partido ou da Coligação não promover o pedido de
registro, o próprio candidato, desde que indicado na Convenção, poderá fazê-lo,
pessoalmente, até dia 07 de julho, também até às 19:00h, na forma do § 4° do art.
11:
Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições. […] § 4º Na hipótese de o partido ou coligação não requerer o registro de seus candidatos, estes poderão fazê-lo perante a Justiça Eleitoral nas quarenta e oito horas seguintes ao encerramento do prazo previsto no caput deste artigo.
Uma vez constatado pela Justiça Eleitoral que o "candidato a
candidato" é elegível, isto é, repita-se, atende a todas as condições de elegibilidade
e não incorre em qualquer hipótese de inelegibilidade, procederá a mesma ao
competente registro, incluindo o nome do candidato ao dos concorrentes naquele
pleito e promoverá a publicação de edital para conhecimento de terceiros,
facultando-se, no prazo de 5 dias dessa publicação, a possibilidade de impugnação
do registro; são legitimados para impugnar o registro de candidatura qualquer
Partido Político, Coligação, os candidatos e o Ministério Público.
Caso tenha sido constatado, pelo órgão eleitoral, qualquer omissão que
possa ser sanada, serão efetuadas diligências, com prazo de 72 horas (art. 11, § 3°
da LGE) e, encerrado o prazo do edital sem que tenha havido impugnação, será
dado vista dos autos ao Ministério Público Eleitoral para se manifestar. De fato, o
Ministério Público deve atuar em todos as fases do processo eleitoral.
40
Cabe ressaltar que, na forma do art. 3º e seguintes da LC n° 64/9063,
todos os recursos sobre pedido de registro de candidatos deverão estar julgados e
publicadas as respectivas decisões até o dia 20 de setembro do ano da eleição.
Foram criados dois formulários para os pedidos de registro, que já vêm
sendo usados desde as eleições municipais de 2004, que são o Demonstrativo de
Regularidade de Atos Partidários – DRAP – e o Requerimento de Registro de
Candidatura – RRC.64
Conforme ensina Ramayana65
[...] a finalidade do DRAP é conter dados específicos dos partidos políticos, inclusive sobre as coligações formadas para cada pleito eleitoral, especialmente com o preenchimento do endereço completo, correio eletrônico, telefones e fax.
Além disso, deve constar nesse documento a data das convenções, o
nome do representante do partido ou coligação e de seus delegados, a listagem
contendo os nomes, os números e os cargos pleiteados pelos candidatos, além dos
valores máximos de gastos que o partido político fará por cargo eletivo em cada
eleição a que concorrer. Se coligação, cada partido que a integra fixará o valor
máximo de gastos. Acrescente-se que a via impressa do formulário Demonstrativo
de Regularidade de Atos Partidários deve ser apresentada com a cópia da ata da
convenção.66
O Requerimento de Registro de Candidatura deverá conter a
autorização do candidato, o número de fax ou endereço no qual o candidato
receberá intimações, notificações e comunicados da Justiça Eleitoral, dados
pessoais (como o número do título de eleitor, nome completo, data de nascimento,
local de nascimento, sexo, estado civil, número da carteira de identidade, número do
CPF e números de telefone), além de dados do candidato, como o nome do partido
político ao qual é filiado, o cargo pleiteado, o número com o qual deverá concorrer,
63
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 993.
64 Resolução do TSE nº 21.608, de 2004.
65 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. p. 240.
66 Resolução do TSE nº 22.717, de 2008, arts. 26 e 27.
41
se se trata de reeleição, se é ocupante de cargo eletivo e a quais eleições já
concorreu.67
2.2.1 da Impugnação do Registro
Candidato, partido político ou coligação e Ministério Público poderão
impugnar o registro de candidato, no prazo de 05 (cinco) dias contados da
publicação do edital relativo ao pedido de registro, em petição fundamentada
contendo os meios de prova aptos a demonstrar a veracidade do alegado e o rol de
testemunhas, se for o caso.68
Sobre o assunto Ramayana69 assevera,
A finalidade desta ação impugnativa é indeferir o pedido de registro de candidatos que não possuam condições de elegibilidade, sejam inelegíveis (hipóteses de não-desincompatibilização) ou, ainda, estejam privados definitiva ou temporariamente dos direitos políticos (perda e suspensão dos direitos políticos – art. 15 da Constituição da República Federativa do Brasil).
A ação de impugnação ao pedido de registro tem por objetivo impedir o
prosseguimento de candidaturas ilegais, porque incidentes no descumprimento dos
requisitos constitucionais legitimadores da elegibilidade. Assim, sua missão jurídico-
eleitoral é tutelar a normalidade e a legitimidade das eleições.
O procedimento nessa ação vem disciplinado nos arts. 39 ao 44 da
Resolução do TSE nº 22.717, “que dispõe sobre a escolha e o registro de candidatos
nas eleições municipais de 2008”.
Outrossim, o indeferimento do registro não está condicionado à ação
de impugnação do pedido de registro: “o registro de candidato inelegível ou que não
67
Resolução do TSE nº 22.717, de 2008, art. 28
68 Lei Complementar nº 64, de 1990, art. 3º, “caput” e § 3º.
69 RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. p. 240.
42
atenda às condições de elegibilidade será indeferido, ainda que não tenha havido
impugnação”. É o que determina o art. 46 da resolução destacada.
A data fatal para a decisão e a publicação dos pedidos de registro de
candidatos, inclusive os impugnados, é o dia 16 de agosto de 2008.70
2.3 A CAMPANHA ELEITORAL
Como já citado no capítulo anterior, a campanha eleitoral faz parte do
processo empregado pelo candidato para obtenção de votos na data do pleito. Aliás
o objetivo principal, podemos dizer único, da campanha eleitoral é a captação do
voto dos eleitores, para se obter êxito na disputa de cargo público-eletivo.
A campanha eleitoral é inteiramente voltada à captação de votos. Em sua consecução, a propaganda é instrumento indispensável, de importância primordial. Sem ela, é praticamente impossível alcançar a vitória no certame eleitoral. Com efeito, é pela propaganda que o político torna pública sua candidatura, levando ao conhecimento geral os projetos que defende e as ações que pretende implementar; com isso, sua imagem, suas idéias e propostas adquirem grande visibilidade perante o leitorado.71
A campanha eleitoral inicia-se no primeiro dia após a protocolização
dos pedidos de registro de candidatura na Justiça Eleitoral, no Brasil essa data
corresponde ao dia 6 de julho do ano em que se realizam as eleições, antes disso a
legislação veda a propaganda eleitoral e atos de campanha, que não sejam aqueles
direcionados aos convencionais.
70
Resolução nº 22.717, de 2008, art. 54, que remete ao art. 3º e seguintes da Lei Complementar nº 64/90.
71 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 257.
43
2.3.1 Da Captação de Votos
A captação de votos é a conquista ou a atração de votos, que em todos
os casos devem ser obtidos através de meios lícitos. Para tanto, é necessário que o
político, hora candidato, e os que o apoiam, se sujeitem às normas ético-jurídicas,
previstas em nosso ordenamento.72
Infelizmente, em nossa realidade, ocorrem diversas ilicitudes,
sobretudo para a captação do voto do eleitor. Tendo em vista que o candidato
depende da captação de votos para obter o cargo almejado, é comum verificar-se o
abuso de poder nas eleições, o que consiste em prática severamente reprimida pela
legislação brasileira.
2.3.2 Do Abuso de Poder nas Campanhas Eleitorais
O abuso de poder ocorre sempre que o detentor deste faz uso
excessivo da própria força. É a concretização de ações que demonstram o mau uso
de recursos detidos por um indivíduo.
O abuso de poder constitui conceito jurídico indeterminado, fluido e aberto, cuja delimitação semântica só pode ser feita na prática, diante das circunstâncias que o evento apresentar. Portanto, em geral, somente as peculiaridades do caso concreto é que permitirão ao intérprete afirmar se esta ou aquela situação real configura ou não abuso. O conceito é elástico, flexível, podendo ser preenchido por fatos ou situações tão variados quanto os seguintes: uso nocivo de meios de comunicação social, fornecimento de bens e serviços, alimentos, medicamentos, utensílios de uso pessoal ou doméstico, material de construção, oferta de tratamento de saúde, contratação de pessoal em período vedado, percepção de recursos de fonte vedada.73
A Lei Complementar 135 de 4 de Junho de 2010 dispões que se a
ofensa praticada atinge o processo eleitoral, resultando no comprometimento da
legitimidade das eleições, o reconhecimento do abuso poderá acarretar na
72
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 257.
73 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 260.
44
inelegibilidade do agente ou do candidato para as eleições a se realizarem nos 8
(oito) anos subseqüentes às eleições onde foi verificado o abuso.
Na esfera econômica o abuso de poder pode decorrer do emprego
abusivo de recursos patrimoniais, como do mau uso de meios de comunicação
social ou do descumprimento de regras atinentes à arrecadação e ao uso de fundos
de campanha. Ou seja, configura-se abuso de poder econômico sempre que
ofertado ao eleitor produtos ou serviços diversos, como atendimento médico ,
hospitalar, dentário, fornecimento de remédios, gasolina, cestas básicas, materiais
de construção, entre outros.
Além disso o art. 41- A da Lei 9.504/97, Lei das Eleições, veda ao
candidato, “doar, oferecer, prometer ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o
voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição (...)”.
Também caracteriza abuso de poder econômico quando empregado,
na campanha, recursos diversos àqueles declarados à Justiça Eleitoral, oriundos de
“caixa dois”, ilicitamente arrecadados, ou então a realização de gastos que superem
a estimativa apresentada por ocasião do registro.
Entende José Jairo Gomes74 que “[...] o conceito de abuso de poder é
uno, conquanto possa plasmar-se a diferentes situações concretas e ensejar efeitos
diversos”. Portanto, entende-se que, independe se o fato tem ou não capacidade
para afetar o processo eleitoral, ele é por sua natureza abusivo. Porém havendo
potencialidade de influir nas eleições, o fato é considerado mais grave, exigindo uma
sanção mais severa, que pode ser, conforme já dito, a decretação da inelegibilidade
do candidato que foi beneficiado com o evento.
Observa-se que, na hipótese em que é exigida potencialidade lesiva, é irrelevante que o fato patrocinado com o mau uso do poder influencie concretamente a vontade do eleitor. Até porque, essa influencia seria de impossível demonstração prática, já que o voto é secreto. Na verdade, contenta-se a lei com a potencialidade e a
74
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 263.
45
probabilidade de ocorrência de dano ao bem protegido, isto é, à normalidade e legitimidade do processo eleitoral.75
No tocante do abuso de poder político, podemos dizer que é aquele
praticado pelos agentes públicos, ou seja, quem exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos
órgãos ou entidades da administração pública direta, indireta ou fundacional,
conforme esclarece o artigo 73, §1º da Lei de Eleição.76
Os agentes públicos devem sempre obedecer aos princípios
constitucionais regentes de sua atividade, dentre eles o principio da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, licitação e concurso público,
todos eles elencados no artigo 37 da Constituição Federal de 1988. A ação do poder
estatal deve necessariamente regular-se ao atendimento do interesse público, não
podendo, portanto, a máquina administrativa ser colocada a serviço de candidaturas
no processo eleitoral.
No Brasil, é de conhecimento público, a vista das notícias que
diariamente são publicadas, que agente políticos se valem de suas posições para
angariar benefícios para candidaturas, citando como exemplo o grande volume de
obras sendo inauguradas em períodos eleitorais e a intensificação das campanhas
publicitárias, que podem ser feitas em beneficio próprio ou de terceiros.
Ocorre que tal evento fere o principio constitucional da isonomia,
considerando, que nem todos os candidatos tem o poder público a seu favor,
desencadeando assim um grande desequilíbrio na campanha eleitoral.
Visando proteger o processo eleitoral, a Lei 9.504/9777 em seus artigos
73 a 78, elencou algumas condutas vedadas aos agentes públicos. Essas razões,
por motivos óbvios, também configuram improbidade administrativa, portanto, o
75
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 263.
76 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1026.
77 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
46
agente que praticar alguma conduta prevista nos artigos acima citados responderá
perante a Administração Pública, podendo acarretar a suspensão dos direitos
políticos do agente por até 10 anos, por configurar conduta ímproba.
Segundo tem entendido o TSE: a) o abuso de poder político é “condenável por afetar a legitimidade e normalidade dos pleitos e , também, por violar o princípio da isonomia entre os concorrentes, amplamente assegurado na Constituição da República” (TSE – ARO n. 718/DF – DJ 17/06/2005); b) “caracteriza-se o abuso de poder quando demonstrado que o ato da Administração, aparentemente regular e benéfico à população, teve como objetivo imediato o favorecimento de algum candidato” (TSE – Respe n. 25.074/RS – DJ 28/10/2005).78
Em um grande número de casos, ocorre a presença tanto do abuso de
poder político quanto do abuso de poder econômico, esse fenômeno pode ser
chamado de abuso de poder político-econômico.
Cabe salientar que a configuração do abuso de poder, em qualquer
espécie, independe do nexo de causalidade, isto é, o candidato não precisa ser
eleito para responder pelo abuso, ele responde em qualquer uma das situações,
vitorioso ou não.
O abuso de poder, em todas modalidades, com já dito anteriormente,
configura ato ilícito eleitoral, portanto cabe ao Estado afirmar a responsabilidade
pelo ato praticado bem como a imposição de sanção quando devida, podendo,
conforme o caso, acarretar na cassação do registro ou do diploma e na declaração
de inelegibilidade do agente ou beneficiário.
2.4 A PROPAGANDA POLÍTICO-ELEITORAL
A propaganda, genericamente falando, constitui-se na difusão de uma
mensagem de caráter informativo e persuasivo, através das quais, são
78
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoralp. 266.
47
disseminadas idéias e crenças, objetivando a adesão dos expectadores, fazendo
com que estes se tornem defensores destas idéias.79
Ainda para Vasconcelos80 “a propaganda política se faz importante
meio de divulgação seja do ideário de um partido, seja das propostas de um
candidato, seja das realizações de um governo.”
Para Gomes81
A propaganda política caracteriza-se por veicular concepções ideológicas com vistas à obtenção ou manutenção do poder estatal. Ela é voltada para a polis, aí compreendido tudo o que se refere à cidade, ao Estado, ao modo de governá-lo. Tem em vista a conquista do poder, a prevalência de uma posição em plebiscito, referendo ou eleições para preenchimento de cargo eletivo, em que há manutenção ou substituição de integrantes do governo.
Cândido82 define propaganda eleitoral como "uma forma de captação
de votos usada pelos Partidos Políticos, Coligações e Candidatos, em época
delimitada por lei, através da divulgação de suas propostas, visando a eleição a
cargos eletivos".
A propaganda política é apenas o gênero onde existem ainda, as
espécies propaganda institucional, propaganda partidária, propaganda intrapartidária
e a propaganda eleitoral.
Na forma preconizada pelos incisos do artigo 45 da vigente Lei dos
Partidos Políticos, o direito ao acesso gratuito ao rádio e à televisão corresponde a
uma garantia constitucional disponibilizada às agremiações para (I) difusão de
programas partidários, (II) transmissão de mensagens sobre a execução do estatuto,
atividades e eventos partidários aos filiados e (III) divulgação da posição do partido
relativamente aos temas político-comunitários.
79
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.76.
80 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.76.
81 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 299.
82 CÂNDIDO, Joel. Direito Eleitoral Brasileiro. 9ed. Bauru: Edipro, 2001. p. 153.
48
As profundas influências das inovações tecnológicas também já se
fizeram sentir na propaganda política. Possuir informações importantes e controlar
meios de comunicação significa hoje, e sempre, ter influência no processo de
decisão da população.
Sobre o tema Gomes83 assevera:
Conquanto nos lares brasileiros existam muito mais aparelhos de rádio e televisão do que computadores, a verdade é que na nova geração predomina a tendência de buscar informações na internet, dada sua agilidade e interatividade. Segundo dados do IBOPE, no final de 2008 havia 50 milhões de pessoas com acesso à internet no Brasil; em 2009, o país liderava o uso de blogs e redes sociais. Não se pode olvidar que os formadores de opinião acessam a rede, e dela se valem para construir discursos e articular as forças políticas nas comunidades.
Que a propaganda política exerce algum efeito sobre a intenção de
voto dos eleitores para nós não resta nenhuma dúvida.
É importante salientar ainda que, com a tecnologia possibilitou-se a
pluralização dos patrocinadores de campanha, o que enfraquece os candidatos
menos favorecidos, além de influir na decisão das eleições.
Releva destacar que segundo dados do IBGE, a televisão (90,0%) é o
meio de comunicação mais difundido no Brasil, ultrapassando o rádio (87,8%) nas
áreas urbanas e superando, com isso, as publicações impressas e tornando
estratégicos os programas partidários no cenário da comunicação audiovisual.
Gomes84 ainda ensina:
[...] preocupa o fato de o controle das grandes redes de comunicacionais estar nas mãos de poucos grupos empresariais. Não há dúvida de que as instâncias do poder político-econômico podem se valer desse poderio em seu próprio benefício, para influenciar eleitores em benefício de determinado candidato.
83
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 300.
84 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 302
49
Então, verifica-se que a propaganda partidária situa-se na fronteira
entre a promoção de natureza pessoal e a divulgação política, questão que envolve
os temas políticos e comunitários e o direito de crítica.
2.4.1 Propaganda Institucional85
A propaganda institucional também é conhecida por propaganda oficial
e busca difundir os atos, programas, obras e serviços realizados ou patrocinados
pela Administração Pública.
Este tipo de propaganda deve ser autorizada pelo agente público e
custeada pelo Poder Público. Caso contrário deixa de ser institucional e pode
ensejar a caracterização da improbidade administrativa.
2.4.2 Propaganda Partidária86
A propaganda partidária pode ser conceituada como a divulgação
genérica e exclusiva do programa e da proposta política do partido, em época de
eleição ou fora dela, sem menção a nome de candidatos a cargos eletivos, exceto os
partidários, visando angariar adeptos ao partido.
Suas regras estão previstas nos arts. 45 a 49 da Lei 9096/95 (lei dos
Partidos Políticos), sendo que no rádio e na televisão, ela fica restrita aos horários
gratuitos disciplinados.
A propaganda partidária gratuita pode gravada ou ao vivo, efetuada
mediante transmissão por rádio e televisão para difundir os programas partidários,
transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos
85
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.77.
86 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p. 77.
50
eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido e divulgar a
posição do partido em relação a questões político-comunitários.
É proibida, porém, a participação de pessoa filiada a partido que não o
responsável pelo programa, a divulgação de propaganda de candidatos a cargos
eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos, além da utilização
de imagens ou cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer outros
recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação.
2.4.3 Propaganda Intrapartidária87
É a propaganda realizada por partidários, antes da convenção, visando
convencer os demais partidários em uma eleição interna, seja para uma candidatura
política ou para cargos internos de presidência ou relacionados.
Este tipo de propaganda não pode ser veiculado na mídia, seja rádio
ou televisão, podendo apenas ser utilizadas faixas no local da convenção.
2.4.4 Propaganda Eleitoral88
A propaganda eleitoral pode ser definida como uma forma de captação
de votos utilizada pelos partidos políticos, coligações e candidatos, em época
determinada por lei, através de divulgação de suas propostas, visando à eleição a
cargos eletivos.
De acordo com Gomes89:
Denomina-se propaganda eleitoral a elaborada por partidos políticos e candidatos com a finalidade de captar votos do eleitorado para investidura em cargo público-eletivo. Caracteriza-se por levar ao conhecimento público, ainda que de maneira disfarçada ou
87
VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.78.
88 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral: Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. p.77.
89 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 313.
51
dissimulada, candidatura ou os motivos que induzam à conclusão de que o beneficiário é o mais apto para o cargo em disputa.
E ainda
A propaganda eleitoral distingue-se da partidária, pois, enquanto esta se destina a divulgar o programa e o ideário do partido político a eleitoral enfoca os projetos dos candidatos com vistas a atingir um objetivo prático e bem definido: o convencimento dos eleitores e a
obtenção de vitória no certame.90
A lei fixa um limite temporal a partir do qual a propagando eleitoral
pode ser veiculada e, se for exposta antes deste limite temporal, poderá, de acordo
com o caso, ser considerada como extemporânea ou antecipada. Este prazo inicia-
se no dia 05 de julho do ano das eleições e vai até o dia em elas se realizem.91
A propaganda eleitoral pode ser veiculada em bem particular, desde
que seu proprietário consinta por escrito, espontaneamente e gratuitamente, sem
que haja a necessidade de licenças municipais e judiciais.92
Poderão ser distribuídos panfletos e outros tipos de impressos, desde
que o partido, coligação ou candidato se responsabilizem. Este material deverá
conter o CNPJ ou o CPF do responsável, de quem contratou, bem como, a
respectiva tiragem.93
A propaganda político-eleitoral em si, constitui-se de matéria vasta e de
farta interpretação e análise, que poderá ser realizado em estudo posterior, não
ensejando neste momento, assunto de vital importância dentro do tema do presente
trabalho.
90
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 313.
91 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 317.
92 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 324.
93 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 325.
52
2.5 DAS ELEIÇÕES
Visando garantir a normalidade das eleições o legislador criou regras
que vão desde atos preparatórios até o dia da eleição propriamente dito.
Sobre o tema Gomes94 assevera:
Antes do dia marcado para o pleito, a justiça eleitoral promove intenso trabalho de organização e preparação. Sem isso, impossível seria lograr-se êxito nas eleições. Entre outras providências preliminares, desenvolve e prepara os sistemas de informática a serem empregados, fixa os locais de votação, constitui as mesas receptoras de votos e justificativas, prepara as urnas, o material de votação e de justificativas.
Os locais de votação devem ser sempre em prédios públicos, somente
recorrendo a particulares, em casos excepcionais.
A votação ocorre nas seções eleitorais e cada seção corresponde a
uma mesa receptora. É importante, que estas não fiquem muito distantes das
residências dos eleitores, evitando com isso, grandes deslocamentos e contribui
para a ordem.
Cada mesa ou seção é constituída por um presidente, um primeiro e
um segundo mesário, dois secretários e um suplente. Em alguns TREs, o segundo
secretário e o suplente tem sido dispensados.
Conforme dispõe o art. 120, § 1º do Código Eleitoral:
§ 1º Não podem ser nomeados presidentes e mesários: I - os candidatos e seus parentes ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem assim o cônjuge; II - os membros de diretórios de partidos desde que exerça função executiva; III - as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no desempenho de cargos de confiança do Executivo; IV - os que pertencerem ao serviço eleitoral.
94
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 395.
53
Determina ainda o referido artigo que os mesários serão nomeados, de
preferência entre os eleitores da própria seção, e, dentre estes, os diplomados em
escola superior, os professores e os serventuários da Justiça, nomeados através de
publicação em jornal oficial, onde houver, e, não havendo, em cartório, as
nomeações que tiver feito, e intimará os mesários através dessa publicação, para
constituírem as mesas no dia e lugares designados.
No dia da votação, o presidente da mesa é a pessoa incumbida de
zelar pela ordem e regularidade da votação e, para isso, detém poder de polícia,
sendo-lhe facultado dispor de força pública necessária para a manutenção desta
ordem. 95
O presidente deve estar presente ao ato de abertura e de
encerramento da eleição, salvo força maior, comunicando o impedimento aos
mesários e secretários pelo menos 24 (vinte e quatro) horas antes da abertura dos
trabalhos, ou imediatamente, se o impedimento se der dentro desse prazo ou no
curso da eleição.
Aos mesários cabe identificar o eleitor, entregar-lhe o comprovante de
votação, conferir o preenchimento da justificativa e dar o recibo, bem como cumprir
as demais obrigações que forem atribuídas pelo presidente.
Os secretário devem distribuir as senhas aos eleitores, lavrar a ata da
mesa receptora, em modelo previamente elaborado pelo TSE e ainda auxiliar nas
demais tarefas que lhe forem atribuídas.
É importante frisar que no interior das seções é proibida a utilização de
qualquer vestimenta ou objeto que contenha propaganda política. Somente aos
fiscais e delegados de partidos é permitida a identificação através de crachás com a
sigla e seu partido, além de vestuário padronizado.96
95
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 398.
96 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 399.
54
O eleitor, no dia da eleição, poderá ingressar nas seções eleitorais
ostentando propaganda de seu candidato, desde que seja silenciosa e individual,
porém, não é permitida a entrada na cabine de votação, com celular, máquina
fotográfica, filmadora ou qualquer outro tipo de equipamento semelhante.97
Sobre o tema Vasconcelos98 afirma
Na votação eletrônica, primeiramente vota-se nos candidatos às eleições proporcionais (deputado federal, estadual e distrital e vereadores), após, nos candidatos majoritários (presidente da república, governador, senador e prefeito). Se o eleitor não desejar votar em nenhum dos candidatos, poderá votar em branco ou nulo.
Em qualquer hipótese os trabalhos encerram-se às 17h e havendo fila
neste momento, serão entregues senhas aos presentes, conferindo-lhes, antes, o
documento de identidade e de votação.
Finalizados os trabalhos, as urnas deverão ser lacradas e entregues à
Justiça Eleitoral, juntamente com a ata e os documentos de votação assinados.
Neste momento, emite-se um boletim eletrônico de votação.
2.6 DA DIPLOMAÇÃO
É a formalidade que torna apto para a posse no cargo em que se
sagrou vencedor na eleição aquele candidato proclamado eleito. A diplomação é de
competência da Justiça Eleitoral.
Stoco99 sobre o tema ensina:
[...] a diplomação é o ato formal e solene através do qual a Justiça Eleitoral declara o candidato eleito e apto para o exercício do cargo. É o credenciamento do titular e do suplente, habilitando-os a assumir e exercer os respectivos mandatos. Tem-se então que a diplomação é pressuposto para a posse e o exercício do cargo.
97
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 395.
98 VASCONCELOS, Clever Rodolfo Carvalho; VISCONDE, Giovanna Gabriela. Direito Eleitoral:
Série Leituras Jurídicas Provas e Concursos. São Paulo: Atlas, 2010. p.103.
99 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 103.
55
O Código Eleitoral, no seu art. 215, determina que a diplomação,
embora seja um ato formal, trata-se da solenidade pública onde os vencedores do
pleito e primeiros suplentes da proporcional recebem o Diploma expedido pela
Justiça Eleitoral na presença de autoridades e da comunidade.
Ela é considerada a última fase do processo eleitoral, na qual os
candidatos eleitos e seus suplentes, se houver, recebem o diploma assinado pelo
presidente do respectivo tribunal onde foi realizada a eleição.
São dois os pré-requisitos legais para a diplomação dos candidatos
eleitos. O primeiro é a apresentação das contas de campanha. O segundo
corresponde a apresentação do Certificado de Quitação Militar, no caso, para os
homens com idade igual ou inferior a 45 anos.
Nenhum candidato poderá ser diplomado até que as contas tenham
sido julgadas. As regras estão disciplinadas em Resolução do TSE. A lei eleitoral
obriga que a decisão que julgar as contas dos eleitos deve ser publicada em sessão
até oito dias antes da diplomação (parágrafo 1º do artigo 30 da Lei 9.504/97).100
Não há uma data específica prevista em lei para a realização da
diplomação. O TSE, entretanto, no exercício de seu poder regulamentar, mediante
Instrução de Calendário Eleitoral, sempre determina uma data limite para esse ato,
em geral coincidente com o último dia útil antes do recesso natalino do Poder
Judiciário.101
A data da diplomação é um marco de referência importante, a partir do
qual se inicia ou se finaliza a contagem do prazo para interposição de algumas
demandas judiciais-eleitorais importantes: as representações eleitorais, as ações de
Investigação Judicial Eleitoral, os recursos contra a Diplomação e a propositura da
Ação de Impugnação ao Mandato Eletivo.
100
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
101 Res. TSE 23.089, de 1.7.2009
56
A diplomação dos vencedores compete ao TSE, nas eleições para
Presidente; aos TREs, nas eleições para Governador, Senador, Deputado Federal e
Deputado Estadual ou Distrital (CE, arts. 30, VII e 215); às Juntas Eleitorais, nas
eleições para Prefeito e Vereador (CE, arts. 40, IV e 215).
57
Capítulo3
DO FINANCIAMENTO DA CAMPANHA ELEITORAL E DA PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL
3.1 FINANCIAMENTO DA CAMPANHA ELEITORAL
Considerando a excepcional importância da campanha eleitoral para o
candidato, entende-se o enorme investimento feito, sobretudo quando se disputa um
cargo de chefia do Poder Executivo, o custo da campanha eleitoral é altíssimo,
levando os candidatos à busca de financiamento no setor privado e no Poder
Público, que também empenha recursos nesse setor, encaminhando verbas ao
Fundo Partidário, que custeiam a propaganda partidária eleitoral.
Destarte, o financiamento das campanhas eleitorais nada mais é do
que os recursos materiais empregados pelos candidatos, visando a captação de
votos dos eleitores. Não há como organizar uma campanha eleitoral sem que sejam
disponibilizados recursos para tanto, mesmo que pouco. Porém, o que ocorre em
nosso país é o gasto de somas elevadas, como já dito, principalmente nas eleições
majoritárias do Poder Executivo.
O financiamento da campanha tem suas regras, pois conforme o
exposto é induvidoso que o terreno econômico é onde mais se configura o abuso de
poder, por isso o legislador intervém no processo de financiamento, conferindo o
equilíbrio do certame. Ora tem-se que impedir que a riqueza de alguns interfira, de
forma decisiva, no resultado das eleições. 102
De acordo com sua classificação, o financiamento pode ser público,
privado ou misto, porém o financiamento privado gera diversas discussões,
considerando que uma pessoa, física ou jurídica, que contribui financeiramente para
uma campanha sempre esperará retorno por parte do agraciado, colocando em
dúvida a conveniência dessa espécie de financiamento.
102
Conceito elaborado pela autora do trabalho.
58
Em tese a única maneira de existir um retorno para o doador é a
própria representação democrática, ou seja, não há problema se a promoção dos
ideais político-sociais de seus apoiadores coincidirem com os interesses da
comunidade. Contudo, a lei veda qualquer tipo de desvio de sentido da
representação, tendo em vista, a interpretação errônea por parte da própria
sociedade, que entende que a doação de campanha, nada mais é que um
investimento e este, portanto, merece um retorno econômico- financeiro, daí se
origina a corrupção, presente em nosso Estado a tantos anos.
Em diferentes situações, o candidato eleito, usa de suas atribuições
para favorecer, junto ao poder público, as empresas ligadas ao doador, ou seja, de
uma maneira ou de outra o doador acaba recebendo em dobro o “investimento” que
fez na campanha.
Em virtude dessa enorme discussão, existem os defensores do
financiamento público total, pois acreditam que dessa forma a corrupção seria menor
e a desigualdade entre as campanhas eleitorais praticamente não existiria, fazendo
com que as eleições se tornassem um processo mais justo.
Pois bem, em tese parece funcionar, mas isso não acabaria com o
tráfico privado. Os candidatos “bem dotados” não deixariam de usar os recursos que
estão, à eles, disponíveis. Sem contar que o Poder Público brasileiro tem outras
prioridades, como saúde e educação, que precisam de grandes investimentos
oriundos deste setor, destinar verba pública para financiar totalmente uma
campanha não seria uma medida adequada.
No que tange à regulamentação da arrecadação de recursos, a
mesma, para o pleito eleitoral de 2010, está prevista nas Resoluções nº 23.217 e nº
23.216, ambas do Tribunal Superior Eleitoral. A resolução nº 23.217 em seu artigo 1º
elenca quais os requisitos a serem atendidos pelos partidos para que possam dar
início a arrecadação de recursos.
Art. 1º Sob pena de desaprovação das contas, a arrecadação de recursos e a realização de gastos por candidatos, inclusive dos seus
59
vices e dos seus suplentes, comitês financeiros e partidos políticos, ainda que estimáveis em dinheiro, só poderão ocorrer após a observância dos seguintes requisitos: solicitação do registro do candidato ou do comitê financeiro, conforme o caso; inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ); abertura de conta bancária específica para a movimentação financeira da campanha; emissão de recibos eleitorais. (...)
Bem como junto com o artigo 14 o próprio artigo 1º estabelece quais os
tipos de recursos aceitos nas campanha eleitorais do presente ano.
[...] § 1º São considerados recursos, ainda que fornecidos pelo próprio candidato: cheque, transferência bancária, boleto de cobrança com registro, cartão de crédito ou cartão de débito; título de crédito; bens e serviços estimáveis em dinheiro; Depósitos em espécie devidamente identificados. § 2º São considerados bens estimáveis em dinheiro fornecidos pelo próprio candidato apenas aqueles integrantes do seu patrimônio em período anterior ao pedido de registro de candidatura. § 3º Os bens e/ou serviços estimáveis doados por pessoas físicas e jurídicas devem constituir produto de seu próprio serviço, de suas atividades econômicas e, no caso dos bens permanentes, deverão
integrar o patrimônio do doador.103
Quanto ao limite de gastos a Lei das Eleições (Lei 9.504/97)104 em seu
artigo 17 – A estabelece que cabe à lei fixar até o dia 10 de junho do ano em que
ocorrem as eleições, o limite máximo dos gastos da campanha para os cargos em
disputa, porém se a lei citada não for editada até a data fixada, os partidos políticos
deverão, na ocasião do registro de candidatura, fixar os limites de gastos para cada
candidato e respectivo cargo. Após registrado na Justiça Eleitoral, esse valor só
pode ser alterado com autorização do relator do processo, mediante solicitação
devidamente justificada, no caso de ocorrerem fatos que eram impossíveis de
prever.
O artigo 15 da mesma resolução elenca diversas entidades e órgão
que são impedidos de doar, qualquer que seja o tipo de recurso, para as campanhas
eleitorais, dentre eles se encaixam os governos estrangeiros as entidades de
103
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
104 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
60
utilidade pública os sindicatos as entidades beneficentes e religiosas dentre outras.
O uso desse recursos gera irregularidade insanável e acarreta na desaprovação das
contas da campanha.
Para legitimar a arrecadação dos recursos é necessário que o
candidato tenha os recibos eleitorais, que são documentos oficiais, recebem
numeração seriada e são fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.
O órgão, dentro do partido, responsável pela arrecadação dos recursos
é o Comitê Financeiro do Partido Político, é constituído pelos membros indicados
pelo partido, sem limite de número de componentes. Sua constituição se dá até 10
dias após a escolha dos candidatos, o partido pode optar por um único comitê
responsável pelas eleições em toda uma circunscrição ou um comitê para cada
eleição que o partido apresente um candidato próprio.
Os comitês financeiros recebem a função de angariar recursos e
aplicá-los na campanha eleitoral, cabe a eles também orientar os candidatos sobre
as regras para a arrecadação dos recursos bem como encaminha à Justiça Eleitoral
a prestação de contas dos candidatos.
É obrigatória para o candidato, comitê financeiro e partidos políticos,
que optem por arrecadar recursos e realizar gastos na campanha eleitoral, a criação
de uma conta bancária específica, na Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou
qualquer outra instituição financeira com carteira comercial reconhecida pelo Banco
Central, que deverá estar no nome do candidato e onde será registrado todo o
movimento financeiro da campanha, inclusive a entrada de recursos oriundos do
próprio candidato, de comercialização de produtos e realização de eventos.
Salientando que deverá ser uma conta que restrinja depósitos realizados sem
identificação, tendo em vista, ser exigido pela lei a identificação do doador.
Os recursos aceitos pela Justiça Eleitoral com o fim de financiamento
da campanha são os recursos próprios, as doações de pessoas físicas, doações de
pessoas jurídicas, doações de outros candidatos, comitês financeiros ou partidos
61
políticos, repasse de recursos provenientes do Fundo Partidário ou a receita
decorrente da comercialização de bens ou da realização de eventos.
A Lei eleitoral brasileira estabelece um limite temporal, para a
arrecadação e aplicação dos recursos que se inicia após cumpridos todos os
requisitos expressos em lei e termina no dia das eleições.Para estudarmos melhor
dividiremos os recursos em públicos e privados, para serem melhor entendidos.
3.2.1 Do Financiamento Público
Não existe norma específica que regule o financiamento público na
campanha eleitoral, mesmo sendo esta uma determinação do artigo 79 da Lei
9.504/97105, que diz que o financiamento público deverá ser regulado por lei própria.
A contribuição feita pelo financiamento público é suportada pelos
recursos provenientes do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos
Políticos, conhecido como Fundo Partidário, que é regulamentado pelo artigo 38 da
Lei 9, Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP).
Art. 38 - O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário) é constituído por: I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas; II - recursos financeiros que Ihe forem destinados por lei, em caráter permanente ou eventual; III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas, por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário; IV - dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, cada ano, ao número de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto 1995.
Além disso existe o custeio tanto, da propaganda partidária gratuita,
quanto da propaganda eleitoral gratuita, em ambos os casos ás emissoras de rádio
ou televisão que cedem o respectivo horário é resguardado o direito a compensação
105
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
62
fiscal, conforme dispõe os artigos 45 e 52 Parágrafo Único da LOPP e o artigo 99 da
Lei 9504/97.106
Destarte o recurso pertencente ao Fundo Partidário não tem destinação
determinada para o financiamento da campanha, tendo em vista que seu objetivo é
auxiliar os partidos políticos em seu gastos cotidianos. Tão quanto a propaganda
partidária não é voltada para a campanha política (como a propaganda eleitoral),
porém tanto o Fundo Partidário quanto a propaganda partidária são utilizados pelos
partidos como importante fonte de promoção perante o eleitorado.
Por fim, como já citado anteriormente, o financiamento público é
defendido por alguns, para ser a única forma de financiamento de campanha, porém
essa corrente esbarra no entendimento de que os gastos com campanhas eleitorais
são extremamente excessivos não sendo possível ser custeado apenas por verbas
públicas.
3.2.2 Do Financiamento Privado
Essa modalidade de financiamento é oriunda das doações feitas ao
candidato e partidos durante a campanha eleitoral, é bastante polêmica pois aqui se
escancara a possibilidade do poder econômico influenciar o resultado do pleito
eleitoral, além de que muitas vezes gera um compromisso entre o doador e o
donatário, que se eleito, com certeza, terá que de alguma forma compensar a ajuda
recebida no período da campanha eleitoral.
No que concerne as regras do financiamento privado, é importante
ressaltarmos que este é regido pelo princípio da transparência, ou seja, o eleitores
devem saber, ou deve estar disponíveis à eles, informações sobre a origem dos
recursos utilizados nas campanhas políticas, no caso de recursos de origem não
identificada, estes não poderão ser usados pelos partidos políticos ou comitês
financeiros e deverão ser transferidos ao Tesouro Nacional através de uma Guia de
106
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
63
Recolhimento da União (GRU), no prazo de até 5 dias após a decisão definitiva que
julgar a prestação de contas. Sobre isso ressalta José Jairo Gomes:
Nesse diapasão, a arrecadação de recursos – quaisquer que sejam eles- de pessoas físicas e jurídicas submete-se a complexo regramento legal, havendo controle estrito quanto á origem, montante que cada pessoa pode doar, gestão e destino que lhes é dado. Além disso, os beneficiários são obrigados a prestar contas minuciosas à Justiça Eleitoral. Tudo com vistas a cercear o abuso de poder econômico nas eleições.107
O financiamento privado deve seguir todas as regras acima
apresentadas acerca da arrecadação de recursos em campanhas eleitorais, sob
pena de desaprovação das contas do candidato. Dentre os recursos privados se
encaixa a modalidade denominada pela lei como “recursos próprios” que são as
doações feitas pelo candidato para sua própria campanha, que neste caso podemos
chamar de investimento tendo em vista, que é em beneficio próprio.
A Lei dos Partidos Políticos permite ao partido injetar recursos próprios
na campanha de seus candidatos. O § 5º, do artigo 39 da Lei dia que em ano
eleitoral os partidos políticos podem aplicar ou distribuir pelas diversas eleições os
recursos financeiros recebidos de pessoa físicas ou jurídicas, desde que observadas
as diretrizes que tratam do mesmo tema.
O artigo citado não faz menção ao limite dessas doações, portanto o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se pronunciou, no sentido de que as doações feitas
aos partidos no ano das eleições e no ano anterior a elas devem limitar-se a 10% do
rendimento bruto no caso de pessoa física e 2% no caso de pessoa jurídica.
No que diz respeito a comercialização de bens e realização de eventos,
a Justiça Eleitoral impõe que o evento seja comunicado à ela com a antecedência
mínima de 5 dias, para que esta possa fazer a devida fiscalização, além de ter que
comprovar sua realização junto a prestação de contas. Todos os valores
arrecadados com a comercialização ou com o evento se equiparam as doações,
então estão sujeitos aos limites que serão expostos logo a seguir. Para que possas
sem utilizados os recursos angariados é necessário que antes sejam depositados na
107
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. p. 271.
64
conta bancária aberta para a campanha, pois só assim poderá ser demonstrada a
movimentação financeira.
No que concerne às doações feitas por terceiros destinadas
exclusivamente às campanhas, que vem a ser a principal forma de angaria recursos
na modalidade de financiamento privado, estas podem ser feitas por pessoas físicas
e jurídicas, aplicadas na conta bancária aberta para a campanha através de
depósitos devidamente identificados, cheques cruzados e nominais, transferências
bancárias, ou ainda bens e serviços estimáveis em dinheiro.
Na maioria dos casos, as doações de terceiros representam uma
grande parte dos recursos disponíveis ao candidato para realização de sua
campanha, e por conta disso fez com o legislador fixasse limites para as doações
prevenindo assim a influencia decisiva do poder econômico no resultado das
eleições.
3.2.2.1 Do limite de doações para pessoas físicas e jurídicas.
Conforme já exposto anteriormente, existe um limite de gastos para as
campanhas eleitorais, que deverá ser fixado por lei ou, quando não feito por esta,
deverá ser realizado pelos partidos políticos e registrado junto à Justiça Eleitoral, no
ato do registro da candidatura. Para tal fixação não existem critérios a serem
adotados, cada partido deverá observar a sua necessidade e conveniência.
Lembrando os gastos registrados são relativos ao cargo eletivo, incluídos nesse
valor os vices e suplentes.
A Lei das Eleições (9.504/97)108, visando conter o abuso de poder
econômico nas campanhas eleitorais, fixou limites à serem respeitados pelos
doadores. A pessoa física que realizar doação deve limitar o valor do recurso á 10%
dos seus rendimentos brutos auferidos no anos anterior à eleição, com exceção às
doações estimáveis em dinheiro, bens móveis ou imóveis, que não poderá
108
STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 1006.
65
ultrapassar o valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), que serão avaliados
conforme o valor do mercado.
No Brasil, assim como na maioria dos Estados estrangeiros estudados, as doações efetuadas por particulares, pessoas física e jurídicas, encontram-se legalmente sujeitas a limites, com a finalidade de reduzir o grau de influência que os doadores poderão exercer sobre os candidatos eleitos, assim como, o grau de comprometimento desses segundos, com relação aos seus financiadores.109
No caso de pessoas jurídica, o repasse não pode ser superior a 2% do
faturamento bruto do ano anterior às eleições, e para que seja aceito o rendimento
da empresa tem que ter sido declarado à Receita Federal do Brasil. As empresas
que passaram a existir no ano do pleito eleitoral estão impedidas de doar, para que
não haja possibilidade de fraude, considerando que as pessoas jurídicas são
responsáveis pela injeção de grandes somas nas campanhas eleitorais.
Os limites fixados em lei, não atingem as doações feitas entre partidos
políticos, comitês financeiros ou candidatos, desde que, no caso dos candidatos os
recursos doados não façam parte de seu patrimônio particular, caso sejam recursos
próprios então deverão respeitar o limite para doação.
Os doadores, pessoa física o jurídica, que injetarem valos superiores
ao limite fixado por lei estarão sujeitos a pagar multa, cujo valor será de cinco a dez
vezes a quantia em excesso, e de acordo o artigo 16 da Resolução 23.217/2010,
sem prejuízo de o candidato responder por abuso de poder econômico, nos termos
do artigo 22 da Lei Complementar 64/90110.
3.2.3 Dos Gastos Eleitorais
Com o intuito de esclarecer onde podem ser aplicados os recursos
arrecadados pelo candidato, comitês financeiros ou partidos políticos, a resolução
109
LIMA, Sídia Maria Porto. Prestação de Contas e Financiamento de Campanhas Eleitorais. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2009. p. 109.
110 STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. p. 989.
66
23.217/2010 elencou em seu artigo 21 todas as situações que se equiparam aos
gastos eleitorais e que, portanto, estão sujeitas ao registro e limites fixados em lei.
Salientando que o eleitor que quiser apoiar algum candidato de sua preferência
poderá realizar gastos de até R$ 1.064,10 (hum mil e sessenta e quatro reais e dez
centavos), que não estarão sujeitos à contabilização, desde que não sejam
reembolsados.
A relação de todos casos equiparados a gastos eleitorais, é
indispensável para que possa ser calculado o valor gasto na campanha eleitoral, que
não poderá ultrapassar aquele registrado na Justiça Eleitoral no ato do registro da
candidatura., condição esta prevista para a aprovação das contas do candidato.
3.3 DA PRESTAÇÃO DE CONTAS AO TRIBUNAL
Conforme já exposto no presente trabalho, a preocupação com a
organização da Justiça Eleitoral e com a legalidade de todo o processo eleitoral não
é nova, cabendo ao Poder Judiciário desde 1916 a responsabilidade pela
cumprimento das lei eleitorais.
No Brasil, a prestação de contas de campanha eleitoral pode ser descrita como um instituto que tem como finalidade primordial, emprestar transparência às campanhas eleitorais, através da exigência da apresentação de informações, legalmente determinadas, que têm o condão de evidenciar o montante , a origem e a destinação doa recursos utilizados nas campanhas de partidos e candidatos, possibilitando a identificação de situações que podem estar relacionadas ao abuso do poder econômico, além de prever sanções pelo desrespeito aos dispositivos que o regulam.111
Atualmente a análise da prestação de contas, bem como a aplicação
de sanções aos candidatos e partidos que infrinjam as normas relacionadas à
movimentação financeira das campanhas é feita pela Justiça Eleitoral, dentro da
111
LIMA, Sídia Maria Porto. Prestação de Contas e Financiamento de Campanhas Eleitorais. p. 90.
67
qual existem unidades especializadas que emitem pareceres contábeis, acerca da
prestação de contas apresentada.
3.3.1 Da evolução das Normas regulamentadoras da Prestação de Contas
A primeira norma a prever a prestação de contas no ordenamento
jurídico brasileiro foi a Resolução 00 de 30/06/1945, baixada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, regulava os Partidos Políticos que tinha acabado de serem reabertos e
regulava também a Justiça Eleitoral que voltava a exercer suas funções, através do
Decreto lei 7.586/45.
A Resolução 00 previa em seu texto o cancelamento do registro de
qualquer partido político, quando se provasse que esse havia recebido contribuição,
independente da espécie, de Estado estrangeiro, ainda que fosse em forma de
publicações em jornais pagas.
Em 1950 a Lei 1.164 instituiu o Código Eleitoral que trouxe diversas
restrições e obrigações a serem cumpridas pelo candidato e seu partido,
destacando-se a obrigação de colocar nos estatutos do partido o limite de recursos
próprios que o candidato poderia utilizar em sua campanha. Em 1965 as disposições
acerca do estatuto dos partidos e todas as normas que o regulamentam saíram do
Código Eleitoral e passaram a fazer parte da Lei 4.740/65 a Lei Orgânica dos
Partidos Políticos, esta também criou o Fundo Partidário já explicado anteriormente.
Também foi apenas em 1965 com o novo Código Eleitoral que a
prestação de contas por parte dos partidos políticos e comitês passou a ser
obrigatória e deveria ser registrada na Justiça Eleitoral sempre com o encerramento
de cada campanha eleitoral. Salientando que a prestação de contas dos recursos
oriundos do Fundo Partidário, deveria ser apresentada todo ano junto ao Tribunal de
Contas da União. Porém a responsabilidade pelas contas não era do candidato e
sim dos dirigentes do partido, incluindo o tesoureiro, que poderia, se fosse o caso,
responder civil e criminalmente pelas irregularidades constatadas, tendo em vista
que só eles podia receber e aplicar os recursos em campanha.
68
Os candidatos eram impedidos de realizar despesas de caráter político
ou eleitoral, ou alistamento, propaganda enfim qualquer ação que, de alguma forma
se relacionasse com os gastos da campanha, caso isso acontecesse o candidato
corria o risco de ter seu registro cassado.
Portanto, quem fazia a prestação de contas dos candidatos eram os
próprios partidos e comitês financeiros. As contas eram remetidas aos comitês
interpartidários de inspeção, ou ainda às comissões parlamentares de inquérito que
fizessem solicitação.
Os comitês interpartidários eram compostos de três membros de cada
organização partidária que fizesse parte processo eleitoral do ano, esses membros
eram indicados por um juiz eleitoral e, no caso de eleição municipal o a comissão
diretora municipal do partido era quem indicava os membros.
A Justiça Eleitoral, nessa época, era detentora da responsabilidade de
garantir a publicidade de pareceres e relatórios expedidos em face de
procedimentos envolvendo prestações de contas apresentadas.
Pois bem, a partir de 1965 o Tribunal Superior Eleitoral passou a editar
resoluções especificas para cada pleito eleitoral e, mantiveram nessa resoluções a
determinação de obrigatoriedade da prestação de contas feita pelo comitês
financeiros dos partidos aos comitês interpartidários.
Ocorre que, analisando o texto das normas editadas naquela época, o
papel desempenhado pela Justiça Eleitoral relacionado às contas das campanhas
não ia além do que a função de assegurar a publicidade das informações colhidas e
analisadas por membros dos próprios partidos políticos.
Apenas em 1976 com a resolução do Tribunal Superior Eleitoral
nº10.050, que regulamentava as eleições de 1978 é que surgiu a primeira exigência
de que, antes de iniciar a campanha partidária o partido deveria comunicar ao Juiz
Eleitoral o limite máximo de gastos que seriam realizados em campanha, bem como,
69
o teto para o valos das doações. A partir dessa resolução o candidato passou a
responder junto com o partido político e comitês financeiros pela prestação de
contas, que caso não fosse apresentada no prazo estipulado, os candidatos teriam
seus registros e diplomas, caso já concedidos, cassados. Os dirigentes ainda
responderiam conforme as outras legislações já previam.
Mas foi com a Lei 8.713 de 1993 que o candidato passou,
devidamente, a responder pelas despesas de campanha eleitoral. Foi aberta a
possibilidade de o próprio candidato efetuar suas despesas eleitorais. O candidato,
se tornou o único responsável pela veracidade dos fatos expostos na prestação de
contas de sua campanha. Para tanto, o próprio candidato deveria assinar sua
prestação de contas, que passou a ser enviada para Justiça Eleitoral, que passou a
ser a responsável pela análise da prestação de contas e também pela aplicação de
sanções quando eram necessárias.
As resoluções foram sofrendo modificações para se adequarem cada
vez mais ao processo eleitoral de nosso país, atualmente a prestação de contas se
encontra regulamentada na Lei 9504/97, e já que estamos em ano de eleições, na
Resolução 23.217/2010 do Tribunal Superior Eleitoral. Ambas estabelecem regras
para a arrecadação e utilização dos recursos em campanha eleitoral, possibilitando
a análise de toda a movimentação financeira.
3.3.2 Da Apresentação da Prestação de Contas à Justiça Eleitoral
As prestações de contas devem ser apresentadas à Justiça Eleitoral,
até o trigésimo dia após a data da realização das eleições e, no caso de acontecer
segundo turno, até o trigésimo dia após a data da realização do pleito, conforme
expõe o artigo 29, incisos III e IV da Lei 9.504/97 e artigo 26 e parágrafos da
Resolução 23.217/2010. Os candidatos, partidos políticos e comitês que não
prestarem contas no prazo estipulado em lei serão notificados para fazê-lo no prazo
de 72h e se não o fizerem a contas serão julgadas como não prestadas.
70
As prestações de contas deverão ser encaminhadas por intermédio dos
comitês financeiros quando o candidato concorrer a cargo majoritário ficando
endereçada ao Tribunal Eleitoral competente e quando o candidato disputar eleições
proporcionais a prestação de contas deve ser encaminhada para o Tribunal Regional
Eleitoral pelo próprio candidato ou através de seu comitê financeiro.
As informações são prestadas junto à Justiça Eleitoral, através de um
formulário que acompanha as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral para cada
pleito eleitoral. Além dos candidatos, vices, suplentes, comitês financeiros e partidos
políticos, o artigo 25 da Resolução 23.217/2010, expõe outras pessoas que também
devem prestar contas à Justiça Eleitoral, ou seja, o candidato que renunciar a
candidatura ou tiver seu registro indeferido pela Justiça Eleitoral e o candidato
falecido que deverá ter suas contas prestadas pelo seu administrador ou pela
direção partidária.
Como os candidatos passaram a administrar junto com os comitês
suas próprias campanhas, estes também responde solidariamente pêra veracidade
das informações financeiras e contábeis de sua campanha, devendo ambos
assinarem a prestação de contas.
O fato de não haver movimentação de recursos na campanha, sejam
eles financeiros ou estimáveis em dinheiro, não faz com que os comitês, partidos
políticos ou candidatos não tenham que prestar contas, eles deverão apresentar os
extratos bancários que comprovem essa ausência de movimentação.
Para as eleições de 2010 o artigo 29 da Resolução 23.217 estabelece
quais os documentos que deverão ser apresentados na prestação de contas, dentre
eles destacam-se o relatório de despesas efetuadas, o demonstrativo dos recibos
eleitorais, demonstrativo dos recursos arrecadados, demonstrativo de doações
efetuadas a candidatos ou a comitês financeiros, demonstrativo de receitas e
despesas, entre outros. O rol é taxativo e extenso, pede-se todo o tipo de
documento que possa demonstrar qualquer movimentação financeira na campanha,
não importando o seu valor, se pequeno ou valoroso.
71
Como o sistema de prestação de contas é informatizado, o candidato
ou o responsável pela elaboração da prestação de contas, apenas deverá preencher
os campos que aparecem na tela, o próprio sistema alerta quando não preenchidos
campos obrigatórios, ou preenchido incorretamente, quando os números de CNPJ
ou CPF não coincidem, bem como o próprio sistema efetua as operações aritméticas
avisando no caso de extrapolação de limites.
O próprio sistema gerará um número de controle, e se na prestação de
contas impressa esse número for divergente, do que está na mídia, ou simplesmente
não aparecer a prestação de contas não será aceita pela Justiça Eleitoral. É
importante que a prestação de contas seja minuciosamente conferida, pois se forem
verificadas ausência de dados ou qualquer falha que impeça a recepção eletrônica
das contas na base de dados da Justiça Eleitoral, a prestação de contas será
considerada como não recebida.
Todos os documento, inclusive os preenchidos no sistema e impressos,
e demonstrativos apresentados na prestação de contas devem ser,
obrigatoriamente, assinados pelo candidato e seu administrador financeiro de
campanha, caso ele exista, pelo presidente do comitê financeiro e pelo tesoureiro do
partido político, tendo em vistas serem eles os responsáveis pela veracidade dos
fatos demonstrados na prestação de contas.
Além disso devem acompanhar a prestação de contas o extrato
bancário, demonstrando a movimentação financeira ou ausência dela no curso da
campanha eleitoral, a guia de depósito comprovando o recolhimento das sobras
financeiras, que quando existentes devem ser declaradas na prestação de contas e
transferidas à respectiva direção partidária ou à coligação para nesse caso ser
dividida entre os partidos, por isso deve conter também a declaração partidária de
recebimentos das sobras financeiras.
Dentre os demonstrativos exigidos pela Justiça Eleitoral, devem ser
apresentados pelos candidatos, a ficha de qualificação do candidato, onde constarão
os dados pessoais do candidato, o limite de gastos registrados pelo seu partido, os
dados da conta bancária aberta para movimentar os recursos da campanha, a
72
indicação da sigla do partido ao qual o candidato pertence o cargo eletivo a que ele
está concorrendo. O demonstrativo dos recibos eleitorais recebidos, que é uma
forma de controle que Justiça Eleitoral encontrou para registra a entrada de cada
recurso na conta do candidato. A demonstração dos recursos arrecadados, o
demonstrativo das despesas pagas após a eleição e o relatório de despesas
efetuadas e um dos mais importantes que é a demonstração da origem dos recursos
e das aplicações.
Já os comitês financeiros devem apresentar a ficha de qualificação do
comitê financeiro, onde contam os dados do comitê, como o partido que ele
representa, endereço da sede, telefone, relação das contas bancárias destinadas à
campanha, bem como os dados de seus componentes. A demonstração do limite de
gastos, a demonstração dos recibos eleitorais distribuídos, demonstração de
transferências financeiras, demonstração financeira consolidada e a demonstração
consolidada do limite de gastos, esta apenas é necessária no caso de prestação de
contas feita pela Direção Nacional do Partido.
A comprovação dos recursos arrecadados apenas se dá mediante
apresentação dos recibos eleitorais e do extrato bancário, no caso da arrecadação
de bens e serviços estimáveis em dinheiro, a comprovação se dá através dos
canhotos de recibos eleitorais impressos da nota fiscal de doação de bens ou
serviços, quando o doador for pessoa jurídica e , no caso de pessoa física dos
documentos fiscais emitidos em nome do doador ou o próprio termo de doação
firmado por ele. Quando o bem for cedido temporariamente através do termo de
cessão ou algum documento equivalente.
O candidato deve manter em seu poder, por pelo menos 180 dias após
o julgamento das contas, toda a documentação que comprove a movimentação das
contas da campanha, pois a Justiça Eleitoral pode solicitar esclarecimentos e
comprovações.
Enfim, toda e qualquer movimentação de recursos econômicos com fins eleitorais,
tem que estar registrada na prestação de contas da campanha, tendo vista as regras
previstas na Lei das Eleições 9.504/97 e na Resolução do Tribunal Superior
Eleitoral, editada para as eleições de 2010.
73
3.4 DA ANÁLISE E JULGAMENTO DAS CONTAS E SANÇÕES APLICÁVEIS AOS RESPONSÁVEIS PELA PRESTAÇÃO DE CONTAS
A Justiça Eleitoral é o órgão competente para realizar a análise e o
julgamento da prestação de contas apresentadas pelos partidos candidatos ou
comitês financeiros. No entanto, de acordo com o exposto no artigo 34 da Resolução
23.217 do Tribunal Superior Eleitoral, esta pode requisitar técnicos do Tribunal de
Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como de Tribunais e
Conselhos de Contas dos Municípios, por quanto tempo for necessário.
No Brasil, análise técnica das prestações de contas encontra-se sob a responsabilidade das coordenadorias de controle interno dos Tribunais Regionais Eleitorais, operacionalizadas através de comissões nomeadas pela Justiça Eleitoral, entre servidores dos Tribunais Regionais Eleitorais (para as eleições gerais) e dos cartórios eleitorais ( para as eleições municiais), as quais incluem, muitas vezes, técnicos dos Tribunais de Contas do Estado ou da União, requisitados exclusivamente para auxiliar nos trabalhos.112
No momento da analise, se forem constatadas pelo relator
irregularidades, ou indícios dela, na prestação de contas, este poderá requerer
diretamente ao candidato, comitê financeiro ou partido político informações
adicionais, ou mesmo determinar que sejam feitas diligencias com o objetivo de
complementação dos dados ou até mesmo para saneamento das falhas. Nesta fase
de exames técnicos o prazo máximo para cumprimento das circularizações
determinadas pelos agentes competentes é de 72h.
Se não forem apresentadas as informações solicitadas pelo relator, ou
não forem corrigidas as falhas, então será emitido o parecer conclusivo acerca da
prestação de contas.
Neste ponto de análise, é importante observar que a própria Justiça Eleitoral, regulamentando o procedimento fixado pela Lei das Eleições, dispõe que os Tribunais devam se pronunciar sobre as
112
LIMA, Sídia Maria Porto. Prestação de Contas e Financiamento de Campanhas Eleitorais. p. 147.
74
contas no sentido de : Aprová-las; aprová-las com ressalvas; rejeitá-las.113
No caso de emissão de parecer técnico observando pela desaprovação
ou aprovação com ressalvas das contas o relator abrirá vistas dos autos ao
candidato, comitê financeiro ou partido político, para que estes possam se
manifestar no prazo de 72h, contados a partir da intimação por fac-símile.
Já, na hipótese se serem constatadas novas irregularidades das quais
os responsáveis não foram notificados para manifestação será aberta novas vistas
com igual prazo. Após receber vistas dos autos da prestação de contas o Ministério
Público Eleitoral tem 48 horas para emitir o seu parecer.
Existem os que rejeitam a possibilidade de aprovação das contas com
ressalvas, defendendo que as contas apenas podem ser aprovadas ou rejeitadas,
contudo existem falhas que não são de gravidade suficiente para desaprovar uma
prestação de contas.
Não há imperfeição na redação do dispositivo, por viabilizar aprovação com ressalvas. É que o exame das contas, de natureza essencialmente técnica, permite que se detectem falhas, que estas falhas sejam examinadas no aspecto técnico e de mérito e sobre elas se possa concluir se tem o condão de macular, ou não, as contas a ponto de rejeitá-las.114
Após feitas as análises, emitidos pareceres tanto dos relatores quanto
do Ministério Público Eleitoral, e analisadas manifestações dos comitês, partidos
políticos e candidatos, o Tribunal Eleitoral verificará a regularidade das contas e
decidirá pela aprovação, desaprovação ou aprovação com ressalvas da prestação
de contas apresentadas. Ressaltando que aprovação com ressalvas só é possível
se as falhas verificadas não comprometerem a regularidade do processo.
113
SCHLICKMANN, Denise Goulart. Financiamento de Campanhas Eleitorais. 4ed. Curitiba: Juruá, 2008. p. 303
114 SCHLICKMANN, Denise Goulart. Financiamento de Campanhas Eleitorais. p. 304.
75
O Tribunal Eleitoral pode também decidir pela não prestação, ou seja,
expor que as contas não foram prestadas, pelo fato de não terem sido apresentadas
no prazo estipulado, ou por não ter sido apresentada toda a documentação
necessária. As contas podem ser apresentadas depois de serem julgadas não
prestadas, porém não serão julgadas novamente a apresentação apenas irá servir
para divulgação de regularização junto ao Cadastro Nacional no término da
legislatura.
As decisões que julgarem desaprovadas ou não prestadas as contas ,
serão remetidas pela Justiça Eleitoral ao Ministério Público Eleitoral que tomará as
medidas cabíveis, no caso de desaprovação das contas o candidato que agora é
responsável, poderá ter seu diploma ou registro cassados ou ter inelegibilidade
declarada por tempo determinado, no caso de ainda não ter sido diplomado, não o
será. Sanções estas reconhecidas no direito eleitoral como severas, tendo em vista
a nova lei editada conhecida como lei da Ficha Limpa, que julga um candidato que
sofreu alguma dessas sanções acima citadas como um candidato com a ficha suja,
proibindo este de participar do processo eleitoral.
É importante ressaltar que esta sanção ocorre mesmo que o erro não
tenha sido cometido pelo candidato, atualmente ela é responsável solidariamente
pela prestação de contas.
Quando as contas forem julgadas não prestadas o candidato sofrerá
sanção de impedimento para obter certidão de quitação eleitoral durante o curso do
mandato ao qual concorreu, persistindo esses efeitos até a apresentação das
contas, quanto ao partido político, em relação às suas contas e as contas dos
comitês financeiros a ele vinculado, é determinada a perda do direito ao recebimento
da quota do Fundo Partidário, por todo o ano seguinte ao da decisão.
Os candidatos, partidos políticos e comitês financeiros tem direito de
recorrer das decisões que não aprovarem suas contas, para tanto deverão entra
com Recurso Especial perante o Tribunal Superior Eleitoral, no prazo de 3 dias, que
são contados da data da publicação da decisão no Diário da Justiça Eletrônico.
76
Conforme o exposto a prestação de contas tem de ser minuciosamente
detalhada, tendo em vista o severo processo de analise, determinado em nossa
legislação. Sem contar que a partir do momento que o candidato passou a
responder junto pela prestação de contas apresentada as sanções não são mais
severas, mas atingem de uma maneira notória a esfera partidária, considerando que
ter um de seus membros, normalmente os mais fortes politicamente com o mandato
cassado ou inelegível causa um grande impacto perante o eleitorado.
77
Considerações Finais
A realização de eleições para a escolha dos representantes do povo
para os cargos eletivos dos Poderes Legislativo e Executivo, é sem dúvida uma
grande vitória da democracia em nosso país. É dever do Estado garantir que a
vontade do eleitorado seja cumprida, cabendo a ele a função de impedir que fatores
estranhos ao processo eleitoral possam interferir, de alguma forma, no resultado das
eleições.
O abuso de poder econômico se destaca entre as modalidades que
acabam por dominar o processo eleitoral, tendo em vista que todas as formas de
convencimento do eleitorado estão ligadas ao dinheiro, considerando que os
eleitores se baseiam nas propagandas eleitorais e na divulgação dos candidato
através da mídia.
Além disso, infelizmente, se verifica, por hora bem menor do que já
visto, o descaso tanto por parte dos partidos políticos, comitês financeiros e
candidatos, quanto da própria Justiça Eleitoral, em relação à prestação de conta, ou
seja, os responsáveis, notoriamente, fingem que prestam contas e a Justiça Eleitoral
finge que as analisa, e esse processo vergonhoso ocorre em virtude da influencia
que o poder econômico exerce perante as autoridades estatais.
Verificou-se através do presente trabalho que separar a realidade
social e política do sistema jurídico não é a medida mais adequada a ser tomada
para solucionar as questões relacionadas com o comando do estado. Ora, se faz
necessário o controle jurídico, que deve, por sua vez, nascer de estudos sobre o
contexto social e político em que vive o país, pois só assim será possível garantir
direitos políticos aos cidadãos.
No 1º Capítulo observou-se toda a evolução pela qual o direito eleitoral
brasileiro foi submetido até a criação da Justiça Eleitoral, bem como foi exposta sua
função e a divisão desta em órgãos para que consiga efetivamente fazer a
regulamentação e fiscalização do processo eleitoral brasileiro. O Brasil é o único
78
país do mundo que possui um Justiça Eleitoral, o que mostra o quão desenvolvido
se encontra nosso país nesse aspecto. Ter um órgão destinado exclusivamente para
regulamentar e fiscalizar o pleito eleitoral o transforma em um processo mais serio e
justo.
No 2º Capítulo observou-se o funcionamento de todo o processo
eleitoral partindo do registro da candidatura até o dia das eleições, constatando-se a
grande quantidade de normas que regem todo esse período, tendo em vista que,
nele é que se configura a grande maioria dos crimes eleitorais, que, como visto no
presente trabalho geralmente são fruto do abuso do poder econômico.
No 3º Capítulo observou-se que a Justiça Eleitoral brasileira foi muito
exigente quanto as regras que regem a prestação de contas da campanha eleitoral,
pois conforme exposto no capítulo 2º o dinheiro afeta o processo de uma maneira
que acaba influenciando o resultado final das eleições. Para que tal abuso seja
controlado a Justiça Eleitoral impôs regras aos candidatos, sujeitando as contas da
campanha à análise e julgamento dos juristas competentes. A exigência de
prestação de contas demonstra um grande avanço na regras editadas pela Justiça
Eleitoral, considerando que através dela é possível comprovar a veracidade dos atos
de campanha de um candidato.
Não há que se discutir o uso de dinheiro nas campanhas eleitorais,
mesmo sendo ele oriundo do setor privado. Partindo do ponto de que é importante
que sejam empregados recursos nas campanhas, pois com eles é que se consegue
realizar uma campanha capaz de disseminar idéias, posições defendidas pelos
candidatos e até mesmo divulgação de programas de governo apresentados por
partidos e candidatos. O que, sem dúvida deve acontecer é o controle desses
recursos, para que seja mantida a igualdade entre as campanhas e não ocorra o
abuso de poder econômico.
Constata-se que a legislação eleitoral brasileira é extremamente
coerente no diz respeito às suas exigências, considerando normas como a fixação
de limites para gastos com campanhas eleitorais e a obrigatoriedade da prestação
79
de contas, que como vimos, em tese, é avaliada em seus mínimos detalhes, que
ajudam a garantir a legalidade do pleito eleitoral.
O fato de o candidato passar a responder solidariamente pelas contas
apresentadas á Justiça Eleitoral, constitui um avanço considerável em nossa
legislação, porque se fizermos uma análise o processo inteiro, na maioria das vezes
os partidos escolhem para ser seus candidatos as pessoas mais influentes
politicamente, aquelas que obviamente tem mais chance de alcançar um resultado
positivo nas eleições, portanto, nenhum partido arriscaria, em tese seu homem mais
forte politicamente falando, muito menos sua imagem por uma prestação de contas
feita de maneira irregular. Então de uma forma ou de outra essa norma é mais eficaz
no concerne à prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral.
Porém, mesmo que constatados avanços na legislação eleitoral, e
foram muitos, ela está longe de ser um processo desenvolvido, para isso é
necessária a mudança de todo um comportamento histórico de nossa sociedade,
pois verificamos que os próprios eleitores não conseguem enxergar a seriedade de
um processo eleitoral. Basta verificarmos os absurdos ocorridos nas eleições de
2010, onde dentre os candidatos com maior número de votos temos um cidadão que
está sendo investigado por não ter comprovado sua alfabetização. O eleitor não
votou nele pensando em demonstrar sua indignação com o processo eleitoral, mas
votou nele simplesmente por não entender a complexibilidade do processo eleitoral.
Temos sim muitos retrocessos no que tange à legislação eleitoral,
como a possibilidade de o próprio partido fixar os limites a serem gastos em
campanha, se a Justiça Eleitoral tem legitimidade para fazê-lo por que dar
oportunidade para outro órgão que não levará nada mais em conta a não ser sua
própria conveniência, necessidade e comodidade. Porém, acredito que temos
legisladores de extrema competência e que a legislação não é o berço do maior
problema enfrentado pelo direito eleitoral, pelo contrário é talvez através dela que
chegaremos mais perto de um processo justo e democrático.
Assim, após as considerações restaram-se as hipóteses pesquisadas:
80
Pergunta:
A estrutura criada pela Justiça Eleitoral Brasileira é suficiente para
atender a necessidade de fiscalização das eleições?
Hipótese:
O Brasil é o único país do mundo que possui uma Justiça Eleitoral e
está, historicamente estruturada para atender as necessidades de um processo
eleitoral lícito, ético e célere.
De acordo com o conteúdo utilizado para a pesquisa a presente
hipótese restou-se confirmada, considerando que, conforme o exposto no presente
trabalho, a Justiça Eleitoral possui um estrutura visivelmente capaz de satisfazer
todas as necessidades de um processo eleitoral, tendo em vista que sua divisão em
vários órgãos, visa atender o pleito eleitoral desde a esfera municipal até a esfera
federal, garantindo a legalidade do pleito em todo território nacional.
Pergunta:
A legislação reguladora do processo eleitoral atende satisfatoriamente
todos os atos necessários para a realização do pleito, desde o registro de
candidatura até o dia das eleições e sua apuração?
Hipótese:
O Processo Eleitoral está devidamente aparelhado para atender desde
o registro das candidaturas até o processo de prestação de contas, quando se
encerra a primeira fase das eleições, antes da diplomação e posse dos eleitos.
Conforme o apresentado no presente trabalho a hipótese restou-se
comprovada, tendo em vista que as normas editadas pela Justiça Eleitoral atendem
todas as fases do processo eleitoral. As normas são rígidas e específicas para cada
fase fazendo com a legalidade do pleito seja garantida desde o registro da
candidatura até o momento da apuração dos votos.
Pergunta:
A prestação de contas criada pela lei eleitoral, efetivamente fiscaliza a
81
aplicação e percepção de recursos recebidos e utilizados pelos candidatos na
campanha eleitoral?
Hipótese:
O processo de prestação de contas, criado pela Lei 9.504/97, atende a
necessidade de fiscalização pelo poder público quanto a recepção e utilização dos
recursos recebidos pelo candidato para fazer sua campanha eleitoral.
A presente hipótese restou-se comprovada, pois, após análise da
legislação verificou-se que as normas sobre a prestação de contas são detalhistas e
minuciosas, exigindo do candidato detalhes sobre suas contas, fazendo com que o
poder econômico não influencie o resultado do pleito eleitoral. Sem dúvida as regras
para a prestação de contas apresentadas pela Lei das Eleições (9.504/97) vem a ser
a maneira mais eficaz que a Justiça Eleitoral tem para fazer o controle dos recursos
arrecadados e utilizados pelos candidatos em campanha.
É importante esclarecer que o presente trabalho não pretende esgotar
o assunto, mas, servir de base inicial para aprofundamento da discussão que
envolve o tema.
82
Referência das Fontes Citadas
ANGELIM, Augusto N. Sampaio. Justiça Eleitoral: passado e futuro. Acesso em: 27 de Abril de 2010.
CÂNDIDO, Joel. Direito Eleitoral Brasileiro. 9ed. Bauru: Edipro, 2001. CASTRO, Edson de Resende. Teoria e Prática do Direito Eleitoral. 4ed.
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Lumen Juris, 2009. GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 5. Ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5ed. São Paulo: Revista dos
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Eleitorais. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2009. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 9ed. São Paulo: Atlas, 2001. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed.
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de Abril de 2010. PINTO FERREIRA. Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno. 6ed.
São Paulo: Saraiva, 1983. RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 5ed. Niterói: Impetus, 2006. SCHLICKMANN, Denise Goulart. Financiamento de Campanhas Eleitorais. 4ed.
Curitiba: Juruá, 2008. STOCO, Rui. Legislação Eleitoral Interpretada. 3ed. Editora Revista dos Tribunais: 2010. TÁVORA, Pedro Henrique. Direitos Políticos: condições de elegibilidade e
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