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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...carentes de comunicação, o discurso dos alunos está cada vez mais monológico. Desse modo, é irrefutável o valor da leitura literária como

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE 2009

EDNA MARIUCIO ARANHA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

ÁREA DO PDE: Português

PROFESSORA PDE: Edna Mariucio Aranha

ORIENTADORA: Prof. Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini

CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA: Estética da Recepção

MARINGÁ

2009

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UNIDADE DIDÁTICA – PDE 2009

1 IDENTIFICAÇÃO

1.1 ÁREA: Língua Portuguesa

1.2 PROFESSOR PDE: Edna Mariucio Aranha

1.3 PROFESSORA ORIENTADORA: Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini

1.4 IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá (UEM)

SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

GÊNERO TEXTUAL: romance

ESCOLA: Colégio Estadual do Jardim Independência

SÉRIE: Ensino Médio

DURAÇÃO: 32 aulas

MARINGÁ

2009

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................04

MÓDULO I.....................................................................................................................................07

DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS.......................................................07

MÓDULO II.................................................................................................................... ................10

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS..........................................................10

MÓDULO III................................................................................................................... ...............16

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS....................................................................16

MÓDULO IV...................................................................................................................................24

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS..................................................24

MÓDULO V....................................................................................................................................26

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS...............................................................26

AVALIAÇÃO..................................................................................................................................28

REFERÊNCIAS..............................................................................................................................29

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2. INTRODUÇÃO

É consenso, a importância da leitura na formação do cidadão pensante. Por outro lado, a

ausência desta, pode comprometer o direito à apropriação do saber acumulado pela humanidade,

negando, assim, a possibilidade de transformação da sociedade. Daí a necessidade de praticá-la

assiduamente, na sala de aula, com todo o tipo de texto, para que os alunos vislumbrem, em seu

exercício cotidiano, condições de atuar autonomamente em seu meio social.

É necessário resgatar o importante papel do texto literário na formação do leitor. No

entender de Antônio Soares Amora (1970, p.54), após apontar que a literatura se diferencia da não-

literatura pelo conteúdo e pela forma, chama a atenção para o que considera fundamental através da

leitura do texto literário: “ele, leitor, pode, pela assimilação da obra de um escritor, educar sua

sensibilidade e enriquecer seu espírito”.

Como é flagrante a ausência de sensibilidade nos dias atuais e há espíritos cada vez mais

carentes de comunicação, o discurso dos alunos está cada vez mais monológico. Desse modo, é

irrefutável o valor da leitura literária como forma de resgate do discurso polifônico, característica

essencial da literatura. Nesse sentido, Bordini e Aguiar (1988, p.15) também apontam as distinções

entre os textos literários e os não literários, enfatizando a importância dos primeiros na formação do

leitor, pois,

A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Daí provém o próprio prazer da leitura, uma vez

que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá-lo

a manter-se nas amarras do cotidiano.

É imprescindível refletir acerca das condições sociais da leitura que, na sociedade, têm

valores diferenciados para as classes dominantes e para as classes dominadas, uma vez que o acesso

à cultura letrada poderá ser um meio de luta contra as desigualdades sociais. Deve-se oferecer ao

aluno o mundo da escrita e da leitura, como meios de apropriação do conhecimento já elaborado

pelo homem e como possibilidade de, também, produzir conhecimento que o possa levar à

emancipação.

Esse novo papel delegado ao leitor culmina, na década de 60, com o idealizador da Estética

da Recepção, Hans Robert Jauss, da Escola de Konstanz. Outro integrante importante dessa Escola

foi Wolfgang Iser. Segundo suas premissas teóricas, a arte literária só tem existência no momento da

leitura. Em estado inerte, engavetado, o livro não tem significado, afinal não há diálogo com os

horizontes do público. Sociologicamente, não se separa a repercussão da obra da sua produção, pois

só está acabada no momento em que repercute e atua (Cf. ROLLA, 1998, p.165).

Diante dessas contradições, certamente, deve-se pensar o ensino de língua e literatura como

práticas pedagógicas voltadas para a formação do sujeito leitor que, numa relação dialógica com o

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texto, possa reconhecer vozes sociais presentes no discurso e seja capaz de produzir sentidos sobre a

realidade de forma autônoma.

O papel do professor de português realmente é muito difícil. Uma vez que, para formar o

leitor competente, não pode negar os letramentos que o aluno possui. O trabalho deve ser realizado

de forma gradativa e conjugando leituras escolares e mundividência do aluno.

Vale destacar que a Estética da Recepção envolve dois princípios fundamentais: o da

recepção e o do efeito. Sendo o primeiro priorizado por Jauss e o segundo, por Wolfgang Iser. A

recepção está relacionada à forma como o texto literário foi assimilado pelo público em diferentes

épocas. Essa assimilação é documentada por textos da crítica especializada, ou não, e pela reação do

público. Já a questão do efeito, outro pólo da teoria, tem por parâmetro a reação de cada leitor ao

texto e à sua estrutura. Daí poder-se inferir que a recepção é um aspecto coletivo, enquanto que o

efeito é individual. Os dois estudos, portanto, completam-se.

Para Jauss, a qualidade e a categoria de uma obra literária resultam dos critérios da recepção

e do efeito, produzidos por ela quando de sua divulgação e pela evolução de sua aceitação no

decorrer dos anos. No ato de leitura, o leitor aciona seus horizontes de expectativas que dizem

respeito à sua posição social no grupo, sua cosmovisão e os valores que circulam em seu meio, além

de padrões linguísticos e literários ditados pelas normas, preferências e espaço social em que atua. A

recepção é o impacto desse texto na sociedade e na história. O efeito que é determinado pelo texto é

a resposta do leitor a esse impacto.

O romance é o gênero que ocupa um lugar central na obra de Bakhtin, porque é a expressão

do dialogismo no seu mais alto grau, uma vez que dá lugar mais destacado à diversidade, à

diferença, à heterologia. O estudo bakhtiniano do romance examina sua evolução, a partir da

percepção da linguagem e a representação do espaço e do tempo (Cf. BAKHTIN, Apud FIORIN,

2008, p.115). E torna-se campo aberto para estratégias baseadas nas teorias da Estética da

Recepção, porque incluem o leitor e, consequentemente, o efeito da leitura sobre ele.

Confirmando a importância do gênero romanesco, o filósofo russo acrescenta, ainda, que

não se trata de um gênero como qualquer outro. Seu aparecimento não está ligado à sociedade

burguesa, como defendia o filósofo marxista Giörgy Luckács. Segundo Bakhtin, o romance

perpassa toda a história da literatura ocidental, da Grécia até nossos dias.

José Luiz Fiorin, na mesma obra, fala sobre a singularidade do romance em relação aos

demais gêneros, de acordo com a visão bakhtiniana, pois incorpora todos os demais gêneros.

Apresenta alternância de estilos, diálogos, monólogos, cartas, poemas, etc. Acrescente-se ainda que

a real matéria do romance é a pluralidade de vozes, de línguas, de discursos, de variantes, de

dialetos, de jargões, de estilos de uma dada formação social (Cf. FIORIN, 2008, p.117-118).

Assim, ao se propor um trabalho de leitura do romance São Bernardo para alunos do Ensino

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Médio, espera-se que, uma vez ampliada a visão de mundo dos alunos, se materialize esse

dialogismo e se comprove a teoria do efeito. Espera-se, ainda, constatar entrecruzamentos de ideias

presentes na obra e na voz dos leitores do livro, que deixarão de ser meros apreciadores, assumindo

a categoria de coautores.

Como se pode inferir, a busca pelo leitor pleno com autonomia para selecionar, apreciar,

fazer inferências e interpretar o que lê é um desafio dos educadores deste século, assim, a

“competência nas práticas discursivas é que possibilitará a leitura crítica dos textos que circulam

socialmente, a ponto de perceber neles ideologias, valores defendidos” (DCE/SEED/Língua

Portuguesa, 2008, p.26).

Infelizmente, esse leitor crítico com autonomia para o estabelecimento de relações

estruturais e contextuais, enfim, que de fato tenha o hábito da leitura, está bem aquém da nossa

realidade. Afinal, os índices de analfabetismo funcional crescem e a realidade educacional

brasileira, nas últimas décadas, é marcada pelos baixos desempenhos dos alunos quanto aos

domínios da leitura e da escrita. Basta ver que em 2000/2001, quando o Brasil estreou sua

participação no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), o resultado não poderia

ter sido pior, atingiu a última colocação.

Nos instrumentos de avaliação nacionais os resultados negativos se repetem. Em relatórios

de 2004, o MEC revela que tanto o SAEB quanto o ENEM, apontam que 42% dos alunos da 3ª

série do ensino médio estão com sérias dificuldades quanto ao desenvolvimento de habilidades e

competências em Língua Portuguesa, principalmente em leitura e interpretação de textos.

Diante desse quadro, cabem algumas reflexões: Por que nossos alunos não leem? Os

aspectos socioculturais têm influência sobre esses baixos índices? O professor de Língua

Portuguesa é o único responsável para reverter este quadro? As demais áreas não devem também

desempenhar um trabalho mais efetivo com a leitura? E o papel da família?

É fato que num mundo pluralizado culturalmente como o que se vive, marcado pela

circulação vertiginosa de um grande volume de informações, nem sempre de qualidade, é

imprescindível que se valorize a capacidade de ler e interpretar em linguagens múltiplas.

Assim, o professor deve buscar um repertório de leituras cada vez mais diversificado a fim

de atender ao que propõem as DCES quanto à importância de se trabalhar com gêneros

diversificados, conforme segue,

Para realizar a seleção dos textos e das obras a serem trabalhadas na escola, é necessário

que o docente seja um leitor contínuo, visto que é papel da escola instrumentalizar o aluno

para que ele amadureça suas opiniões a respeito do que lê. É importante considerar o

contexto da sala de aula, as experiências de leitura dos alunos, os horizontes de expectativas

deles e as sugestões sobretextos que gostariam de ler, para, então, oferecer textos cada vez

complexos, que possibilitem ampliar as leituras dos educandos (PARANÁ, 2008, p.26).

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Buscando contribuir com a formação do leitor proficiente, esse trabalho destina-se ao ensino

médio, mais especificamente, à 3ª série, do período matutino. O objetivo principal consiste em

trabalhar a leitura do texto literário numa relação interdisciplinar e dialógica com outras áreas e com

outras linguagens. Espera-se que as atividades aqui propostas comprovem a possibilidade de um

trabalho interdisciplinar fundamentado na Estética da Recepção, formulada por Hans Robert Yauss

e Wolfgang Iser. As estratégias que serão desenvolvidas nessa sequência didática enfatizarão a

relação do leitor com o texto literário e sua realidade.

Em consonância com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura, esse

trabalho seguirá o encaminhamento metodológico sugerido pelas professoras Maria da Glória

Bordini e Vera Teixeira de Aguiar. As autoras, partindo dos fundamentos teóricos da Estética da

Recepção e da Teoria do Efeito, produziram o Método Recepcional. Esse método se divide em

cinco etapas:

- Determinação do horizonte de expectativas.

- Atendimento do horizonte de expectativas.

- Ruptura do horizonte de expectativas.

- Questionamento do horizonte de expectativas.

- Ampliação do horizonte de expectativas.

As atividades ora sugeridas serão divididas em cinco módulos, conforme as etapas do

método recepcional. Vale ressaltar que, tomando como referência essa metodologia, pretende-se

envolver os alunos quanto à temática central escolhida para a realização desse trabalho: “Texto

artístico e relações de poder”.

DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS (uma semana)

Objetivos

- apresentar o tema;

- mobilizar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema;

- sondar os hábitos de leitura dos alunos;

- debater sobre a importância da leitura;

- analisar como se manifestam as relações de poder na sociedade.

Neste módulo, seguindo o método recepcional, o objetivo é investigar os hábitos de leitura

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dos alunos e suas preferências temáticas. A professora fará um trabalho de sondagem, sobre a

importância e hábitos de leitura de cada um. Essa investigação ocorrerá através de conversas

informais e pesquisa escrita realizada pela professora. Também será realizada uma pesquisa sobre a

temática “Texto artístico e relações de poder”.

A partir desses dados serão delineados os horizontes de expectativas dos alunos. Em

seguida, serão sugeridas atividades que atendam aos seus interesses.

ETAPAS DO MÓDULO I

Objetivo

Realizar pesquisa sobre leitura e manifestações de poder.

1- Você considera a leitura importante? Por quê?

2-Você lê por prazer ou por imposição?

3- Você gosta de ler? Está lendo algum livro atualmente?

4- Quem exerce mais influência sobre seus hábitos de leitura: alguém da sua família, os

amigos ou os professores?

5- O que mais gosta de ler: romances, jornais, revistas, poesias, textos na internet, histórias

em quadrinhos, contos, crônicas, outros?

6- Quando vai realizar uma leitura quais são suas temáticas preferidas:

a- relacionamento humano;

b- temáticas sociais;

c- aventura;

d- suspense;

e- humor;

f- terror;

g- autoajuda;

h- religião;

i- esporte;

j- outras.

7- Quando vai escolher um livro ou um texto para ler, seleciona pelo título, pelo tema, pela

quantidade de páginas, pelo tamanho das letras.

8- Você considera a leitura importante para melhorar a escrita?

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Após a realização da pesquisa, a professora passará, através da TV pendrive, um depoimento

do escritor Ariano Suassuna sobre a importância da leitura e também um dvd em que a cantora

Maria Bethania comenta sobre o mesmo assunto. Em seguida, abrirá para o debate sobre os textos.

9- Seus pais exigem que você leia os livros cobrados pela escola?

10- Você realiza as leituras exigidas pelos professores ou cola resumos da internet ou de

outros meios.

1- O que é o poder?

2- Como se estabelecem as relações de poder em nossa sociedade?

3- Como ocorrem as relações de poder nas seguintes instituições ou situações sociais:

a- na escola; e- numa cidade;

b- na família; f- num país;

c- nas empresas; g- num grupo de amigos;

d- na igreja; h- no trabalho.

4- Você já vivenciou situações em que foi injustiçado por algumas das instâncias sociais

citadas acima? Comente.

5-Você considera que o domínio da linguagem também é uma forma de poder?

Comente.

6- Essa temática que aponta para relações de poder entre opressor x oprimido, injustiça

social, pode ser retratada através da arte? Se a resposta for afirmativa, em quais

manifestações artísticas abaixo você já presenciou estas relações:

a- música; d- pintura;

b- filme; e- escultura.

c- literatura;

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Após a realização da atividade acima, a professora distribuirá vários jornais e revistas para que,

em grupos, os alunos selecionem textos verbais e não-verbais que abordem a temática pesquisada

na atualidade. Em seguida, convidará os grupos para manifestarem os resultados das leituras

realizadas. Os alunos deverão exemplificar situações do nosso cotidiano que abordem as relações de

poder encontradas nos suportes dados.

1- Passar vídeo sobre a importância da leitura para o escritor Ariano Suassuna, mensagem do

escritor Luis Fernando Veríssimo disponível no link:

http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/genre.php?genreid=108 e

apresentação em DVD, em que a mesma temática é abordada pela intérprete Maria

Bethânia. Pedir aos alunos que anotem os argumentos que considerarem mais interessantes

para o debate.

2- Dividir a sala em grupos de até cinco componentes. Cada um será encarregado da análise de

textos verbais e não-verbais (textos de jornais, revistas, do livro didático, fotografias, telas)

que abordem as relações de poder.

3- Cada grupo deverá apresentar os resultados da leitura e análise dos textos para os demais. A

fim de realçar a discussão sobre as relações de poder, será passado o documentário “Maioria

Absoluta”, de Leon Hirszman, em DVD. O debate será mediado pelas professoras de

Português e História.

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS (duas semanas)

Objetivos

Ativar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema;

analisar escolhas de linguagem e efeitos de sentido;

exercitar inferências a partir da leitura e análise de poesia, música e tela;

relacionar a leitura dos textos com a mundividência de cada um;

situar o texto no contexto da realidade nacional;

identificar as possíveis intenções do autor.

Depois da realização das pesquisas e dos debates iniciais em torno das temáticas sugeridas,

nessa etapa serão apresentados, aos alunos, textos literários que atendam aos seus interesses.

Os textos selecionados para esta fase são a música “Perfeição”, da Legião Urbana, a poesia

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“No mundo há muitas armadilhas”, de Ferreira Gullar e a tela “Café”, de Candido Portinari. Todos

os textos abordam questões sociais e mostram relações de poder.

Para iniciar esta reflexão, veja o que escreveu Graciliano Ramos em carta à irmã Marili

Ramos, em 23 de novembro de 1949:

Só conseguimos deitar no papel os nossos sentimentos, a nossa vida. Arte é sangue, é carne. Além disso, não há nada. As nossas personagens são pedaços de nós

mesmos, só podemos expor o que somos (MORAES, 1996, p.238).

Leia a seguir o depoimento do escritor uruguaio Eduardo Galeano, em que ele reflete sobre

o porquê da escrita literária. Compare as duas visões sobre a arte e faça um comentário expondo sua

opinião sobre o assunto.

A gente escreve a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com

os demais, para denunciar o que dói e compartilhar o que dá alegria. A gente

escreve contra a própria solidão e a dos outros. A gente supõe que a literatura

transmite conhecimento e atua sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe; que ajuda a nos conhecermos para nos salvarmos juntos... (BRITO, José Domingos

de (Org.) Por que escrevo?). São Paulo: 1999.

Segundo os dois autores, pode-se dizer que a arte, de modo geral e, em especial a arte

literária, pode suscitar a comunhão entre os homens. Além disso, pode-se inferir que o artista, por

meio de sua criação, compartilha sua vivência pessoal com o expectador, colaborando com a

construção da nossa identidade. O que você pensa sobre isso?

A arte em suas diferentes formas de manifestação (literatura, música, dança, teatro, cinema,

pintura, escultura) pode retratar uma época, provocar a emoção do público, levar à reflexão, à

provocação, promover uma denúncia social e também nos fazer sonhar.

Conforme os depoimentos de Graciliano Ramos e de Eduardo Galeano, qual seria a função

predominante do texto literário?

Agora, vamos ler e analisar a poesia No mundo há muitas armadilhas, do escritor

maranhense Ferreira Gullar. Disponível no site:

http://literal.terra.com.br/

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Identifique qual (is) destes sentidos está (ão) presente no texto. Segue um fragmento:

ANÁLISE DO TEXTO

1- A que fato histórico o eu lírico se refere nos versos abaixo?

“Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.”

2- A jaula, no texto, tem um valor simbólico. Que significado pode ser atribuído a ela?

3- Por que, segundo o eu lírico, o ser humano vive como se estivesse numa jaula? Justifique.

4- Pode-se identificar a divisão de classes sociais presente no texto. Qual é a denúncia, feita

pelo poeta, quanto às contradições presentes na sociedade capitalista? Justifique.

5- A temática social está presente no poema? Comprove.

6- Essa poesia faz parte do livro Dentro da noite veloz, publicado em 1975. Nesse período, o

poeta estava inquieto com os rumos políticos do país. Daí a produção de uma poesia

engajada, de denúncia social. A partir desta informação, vamos realizar uma pesquisa sobre o

contexto histórico aludido na poesia.

Para tanto, a sala será dividida em 5 grupos.

a - Grupo 1 - Qual era o regime político que vigorava no Brasil em 1975? Quais

as características deste regime?

No mundo há muitas armadilhas

[...]

Estás preso à vida como numa jaula.

Estamos todos presos

nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver

de fora e nos dizer: é azul.

E já o sabíamos, tanto

que não te mataste e não vais

te matar

e aguentarás até o fim.

O certo é que nesta jaula há os que têm

e os que não têm

há os que têm tanto que sozinhos poderiam

Alimentar a cidade

e os que não têm nem para o almoço de hoje

[...]

GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

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SEGUNDO MOMENTO DA ETAPA II

Nesse momento, vamos propor a análise da música Perfeição, da Legião Urbana. Disponível

em <http://letras.terra.com.br>Inicialmente, cantaremos a música para depois analisá-la. Esta letra

possibilita uma reflexão crítica sobre a alienação e relações de poder na contemporaneidade. Segue

um fragmento da letra:

1- Interprete o título da canção a partir das informações abaixo.

a- Etimologicamente, a palavra perfeição vem do latim, perfectio, perfectionis,

Perfeição Legião Urbana Composição: Renato Russo

Vamos celebrar Todos os mortos nas estradas

A estupidez humana Os mortos por falta

A estupidez de todas as nações De hospitais...

O meu país e sua corja Vamos celebrar nossa justiça

De assassinos A ganância e a difamação

Covardes, estupradores Vamos celebrar os preconceitos

E ladrões... O voto dos analfabetos

Vamos celebrar Comemorar a água podre

A estupidez do povo E todos os impostos

Nossa polícia e televisão Queimadas, mentiras

Vamos celebrar nosso governo E seqüestros...

E nosso estado que não é nação... Nosso castelo

Celebrar a juventude sem escolas De cartas marcadas

As crianças mortas O trabalho escravo

Celebrar nossa desunião... [...]

Vamos celebrar Eros e Thanatos

Persephone e Hades

Vamos celebrar nossa tristeza

Vamos celebrar nossa vaidade...

Vamos comemorar como idiotas

A cada fevereiro e feriado

b- Grupo 2 - Como foi o governo de Ernesto Geisel?

c- Grupo 3 - Quem decretou o primeiro Ato Institucional, denominado AI 5?

Qual o significado deste Ato?

d- Grupo 4 - Como os brasileiros dessa época faziam para protestar contra o

governo? O que acontecia com quem era contrário àquele regime político?

e- Grupo 5 - Nessa época, surge a música de protesto.Quais artistas se

destacaram nesse estilo musical? Tragam exemplos de músicas de protesto.

Marcar data para apresentação das equipes. Definir o tempo de apresentação de cada

uma. A professora de História colaborará na discussão e mediação do debate.

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estado do que é exato, correto, impecável (LAROUSSE CULTURAL, 1992,

p.854).

b- Esta música foi lançada em 1993, período em que o Brasil ainda estava sob o

impacto da agitação política, provocada pela meteórica “Era Collor”.

2-Qual a figura de linguagem presente no título?

3-Pode-se observar na letra da canção uma crítica à corrupção política e ao descaso social.

Comprove com versos do texto.

4-Há também na letra uma alusão ao comportamento do povo diante dos problemas sociais. Qual a

reação dos oprimidos diante do poder? Justifique com o texto.

5- Pesquise quem são os deuses gregos citados na letra e o porquê da referência aos mesmos,

conforme a temática.

6- Destaque da letra, a inconformidade do eu lírico face à ordem estabelecida.

7- Apesar de todas as denúncias, pode-se verificar um tom otimista em determinado momento da

letra? Em caso afirmativo, comprove e comente.

8- E você, considera possível transformar esse quadro caótico da realidade brasileira aludido na

música? Como?

9- Como o texto foi estruturado? Pode-se estabelecer uma associação entre esta organização e o

ritmo da canção? Comente.

10- O eu lírico empregou que estilo de linguagem:

a- a norma culta ou a coloquial?

b- a linguagem utilizada denota a ideologia do eu lírico? Comente.

11- Agora vamos fazer uma paródia da canção usando a mesma temática, mas focalizando os

problemas da cidade de Sarandi.

12- Produza um parágrafo argumentativo, de no máximo 10 linhas, abordando a temática discutida

na música e apontando soluções para as questões sociais.

13- O artista Renato Russo, através desta letra, faz com que reflitamos sobre a realidade nacional

por meio de um discurso contundente e contestador. Em sua opinião, este estilo promove uma

postura diferente nas atitudes dos indivíduos? Comente.

TERCEIRO MOMENTO DA ETAPA II

Para finalizar esta etapa, vamos analisar a tela Café, do pintor modernista, Cândido

Portinari. Para iniciar, é importante conhecer um pouco de sua biografia. Nasceu em 30 de

dezembro de 1903, na cidade de Brodósqui, São Paulo. Faleceu no Rio de Janeiro em 06 de

fevereiro de 1962. Conquistou o prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas

Artes.

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Ficou famoso ao retratar a terra e o povo brasileiros. Com a série Retirantes em 1944,

reforçou o caráter social e trágico de sua obra. Seguem atividades sobre a tela Café (1935),

disponível no site <http:www.portinari.org.br>

1- Dividir os alunos em equipes de até cinco alunos.

2- Apresentar reproduções com algumas telas de Portinari.

3- Solicitar que os alunos expressem suas impressões sobre os quadros de Portinari. Pedir que

observem aspectos como: cor, forma, luz, sombra, composição. Em seguida, direcionar a análise

para a tela Café. Atentar para a representação física dos trabalhadores: faces, mãos, pés, corpos.

Como os trabalhadores foram representados?Quais membros foram realçados e por quê?

4-Pela análise da tela, podemos dizer que nem todos os trabalhadores são igualmente representados

.Há alguém que ocupa um posto de trabalho diferenciado dos demais. Quem seria esta figura e que

aspectos de sua representação o destaca dos outros trabalhadores?

5-Quais são as relações de poder presentes na tela? Você acredita que esse trabalho seja bem

remunerado? Você acha que estes trabalhadores tinham direitos trabalhistas garantidos pela

Constituição?

6- Em sua opinião, a representação dos trabalhadores com membros desproporcionais, foi uma

homenagem, em forma de denúncia social feita pelo artista, ou uma forma de retratá-los

pejorativamente?

7- Levando-se em conta que Portinari pintou esse quadro para denunciar a condição do trabalhador

rural, como defender essa opinião através de elementos presentes no quadro?

8- Após a correção das atividades, apresentar o depoimento do próprio Portinari em que o artista

fala sobre os motivos que o levaram a retratar os trabalhadores com braços e pernas

desproporcionais. (apresentar um fragmento) Abrir para o debate mediado pela professora.

Impressionavam-me os pés dos trabalhadores das fazendas de café. Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se com pedras e os espinhos. Pés

sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm.

Sobre a terra, difícil era distingui-los. Os pés e a terra tinham a mesma moldagem variada. Raros tinham dez dedos, pelo menos dez unhas. Pés que inspiravam

piedade e respeito. Agarrados ao solo, eram como os alicerces, muitas vezes

suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes. (apud NICOLA, 2004,

p.11)

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RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS (3 semanas)

Objetivos

- Socializar as leituras entre os alunos;

- analisar escolhas de linguagem e efeitos de sentido, estrutura composicional e temática do

romance;

- propiciar uma leitura adequada do romance, aliando fruição estética à reflexão crítica sobre a

realidade trazida pela obra;

- estimular o estabelecimento de relações intertextuais entre os gêneros textuais analisados;

- perceber a língua como forma de dominação.

A temática que já foi delineada e discutida através de diversos gêneros textuais nas etapas

anteriores, agora será aprofundada. O horizonte de expectativas dos alunos que, de certa forma, já

foi ampliado por meio das atividades desenvolvidas anteriormente, nesse momento, será

aprofundado. A professora de Português aproveitará a sugestão de leitura já solicitada pela

professora de História, uma vez que haviam definido esta leitura em planejamento no início do ano

letivo. Vale destacar que a escolha feita levou em conta a necessidade de progressão do

conhecimento que os alunos já tiveram sobre o tema estudado. A obra escolhida para esta etapa é

São Bernardo, de Graciliano Ramos. Seguem os passos para a realização da leitura e análise da

obra.

1- Inicialmente, estipular um prazo para a releitura da obra.

2- Pedir aos alunos que durante a leitura elenquem as temáticas sociais e as relações de poder

presentes na obra. Deverão registrar o capítulo a fim de justificarem, em aula posterior, as temáticas

encontradas.

3- Realizar um debate sobre o romance lido, a fim de socializar as impressões de leitura. Nesse

momento, os alunos apresentarão as temáticas encontradas durante a leitura e a professora

questionará se as mesmas ainda são recorrentes na atualidade.

4- Dividir a sala em grupos de até cinco componentes e solicitar que os mesmos pesquisem

intertextos que abordem as temáticas discutidas no romance.

5- Marcar data para apresentação das equipes. Estipular um prazo para cada uma.

6- Promover uma avaliação entre as equipes que deverão observar e comentar a coerência ou não

dos trabalhos apresentados.

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VOCÊ SABIA QUE...

O romance São Bernardo pertence à segunda geração modernista. Esta fase do Modernismo

brasileiro ocorreu de 1930 a 1945. Graciliano Ramos é considerado o mais importante romancista

desta geração.

A década de 30 foi caracterizada por transformações políticas, econômicas e sociais

marcadas pela Revolução de 30 e também pelo questionamento das oligarquias tradicionais. Cabe

ressaltar que Getúlio Vargas ascendeu ao poder através desta revolução e foi o único governante da

Nação ao longo deste período. Uma das peculiaridades do governo getulista foi a centralização do

poder. Este movimento revolucionário tinha como principal alvo a antiga “política dos

governadores”, adotada a partir do governo de Campos Sales, que eternizava, nos governos

regionais, políticos que usavam sua influência para favorecer o governo nas votações do Congresso.

Desta estratégia, derivou a chamada “política do café com leite”, que alternava na presidência

nomes ligados a São Paulo e Minas Gerais. Em 1937, Vargas cancela as eleições prometidas,

mantendo-se no governo, como ditador, até 1945.

José Hildebrando Dacanal (1982, p.11) comenta que o grupo de escritores que fazem parte

do romance de 30 não é homogêneo nem bem definido. Dele fazem parte José Américo de Almeida,

Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, José Lins do Rego, Cyro Martins, Rachel de

Queiroz, Ivan Pedro Martins e Aureliano de Figueiredo Pinto.

Ainda, conforme Dacanal (1982, p.13), o romance de 30 apresenta algumas características,

como segue:

a- O romance de 30 se atém à verossimilhança. Ou seja, o que é narrado é semelhante à

verdade.

b- A estrutura do romance de 30 é linear. Há correspondência cronológica entre a

ocorrência dos eventos narrados e o lugar que ocupam no desenrolar da narração.

c- A linguagem do romance de 30 é filtrada pelo chamado “código culto” urbano. Logo,

se distancia do artificialismo linguístico de alguns romancistas brasileiros do século

XIX. Um exemplo deste artificialismo ocorre em alguns romances de Jorge Amado,

pois o narrador usará sempre o chamado “código culto”, deixando à personagens

secundários e analfabetos o uso da linguagem “errada”.

d- O romance de 30 fixa diretamente estruturas históricas perfeitamente identificáveis

por suas características econômicas e sociais. Os personagens são integrantes destas

estruturas, aceitando-as, lutando por transformá-las ou sendo suas vítimas.

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e- Estas estruturas históricas são geralmente agrárias. Ou seja, raramente, vivem no

espaço urbano, procedem do mundo agrário, resultando conflitos centrais no

desenvolvimento do enredo.

A obra de Graciliano Ramos corresponde a este período, abrangendo grande parte destas

características. Vale destacar que o escritor, em sua adesão à crítica social, se utilizou das complexas

discussões ideológicas em voga na época: Capitalismo x Socialismo, influenciadas pelo Marxismo.

Vamos analisar como estas visões aparecem na obra São Bernardo e também as relações de poder

delas advindas.

OBSERVAÇÃO:

A contextualização histórica do romance São Bernardo será realizada pela professora de

História, que já estava trabalhando no primeiro bimestre A República do café com leite. Serão

enfatizadas as questões históricas presentes na obra, como o coronelismo, voto de cabresto a

Revolução de 30 e suas consequências, dentre outras.

A professora de Geografia poderá auxiliar abordando as características do Nordeste

brasileiro, principalmente, em relação ao clima, vegetação e à economia. Uma vez que o drama

ocorre no interior de Alagoas, poderão ser apresentados dados que mostrem ao aluno uma visão sem

discriminação sobre esta região, normalmente,destacada pela seca e miséria.

A professora de Português deverá expor as principais características do Modernismo, suas

fases e representantes, enfatizando a 2ª fase e seu maior expoente, Graciliano Ramos.Também a

professora de língua inglesa poderá participar das atividades, como por exemplo, trabalhar o resumo

da obra e sua tradução para o inglês. Esta exposição poderá ser registrada pelos alunos, em forma de

mural, que será montado gradativamente com figuras, fotos e textos que remetam ao contexto

histórico do romance, à geografia do Nordeste e ao Modernismo de Mestre Graça.

1- Descreva o narrador de São Bernardo. Qual é o seu nome, quais suas características físicas e

psicológicas. Qual o foco escolhido para a narração da história?

2- Há nos dois primeiros capítulos uma preocupação do narrador quanto à organização do livro.

Como ele resolveu este problema?

3- Pode-se observar, em relação à narração, que ocorrem dois planos: um da enunciação (em que o

narrador fala sobre o momento presente) e outro do enunciado (em que o narrador narra a si mesmo

como personagem criado no livro, no passado). Veja, a seguir, dois exemplos. Analise os tempos

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verbais e diga se correspondem ao plano da enunciação ou do enunciado. Dê outros exemplos

presentes no romance.

a- “Aqui sentado à mesa da sala de jantar, fumando cachimbo e bebendo café, suspendo às

vezes o trabalho moroso, olho a folhagem das laranjeiras que a noite enegrece, digo a mim

mesmo que esta pena é um objeto pesado. Não estou acostumado a pensar. Levanto-me, chego à

janela que deita para a horta. Casimiro Lopes pergunta se me falta alguma coisa”(RAMOS,

1986, p.10).

b- “...A verdade é que nunca soube quais foram meus atos bons e quais foram os maus. Fiz

coisas boas que me deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S.

Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las”(RAMOS, 1986, p.39).

4- A narração do romance seria totalmente diferente se o foco escolhido para narrar fosse a 3ª

pessoa. Vamos relembrar o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, e imaginar a história

sendo narrada por Capitu, que, supostamente, traiu Bentinho com o amigo, Escobar. Será que a

versão da esposa seria a mesma do marido? E quanto a São Bernardo? Podem-se observar

similaridades entre os narradores Paulo Honório e Bentinho e suas esposas, Madalena e Capitu?

Comente.

5- Paulo Honório, narrador-personagem, revela-se, através de suas ações e de seu próprio discurso,

um fazendeiro explorador e cruel. O homem que fora guia de cego na infância, ex-trabalhador

alugado, após a conquista da fazenda, transforma-se num chefe autoritário, violento, que usa da

coação e do abuso de poder para impor respeito. O sentimento de propriedade domina o seu ser.

Avalia a tudo e a todos pelo valor monetário que possuem. Resuma algumas ações do início do

romance que confirmem essa personalidade dominadora do protagonista.

6- Após a conquista do equilíbrio financeiro, surge outra necessidade para Paulo Honório: um

casamento que lhe garantisse um futuro herdeiro para a fazenda. Como foi seu encontro com

Madalena? Houve mudanças em seu comportamento quando realizou uma aproximação com a

professora, objetivando casar-se com ela? Que argumentos utilizou para desposá-la?

7- Que comportamentos de Madalena fizeram com que o marido entrasse em constantes conflitos

com ela?

8- Faça um paralelo entre as ideologias dos dois personagens protagonistas, enfatizando as

divergências de opinião entre eles.

9- A solução para este conflito ideológico, foi o suicídio de Madalena. Como este fato repercutiu na

vida de Paulo Honório? Como tentou resolver esse problema com a consciência?

10- Levando em conta o contexto histórico em que a obra foi produzida, as circunstâncias e o

mundo do autor, é possível estabelecer uma relação entre a ideologia da personagem Madalena,

com a do escritor Graciliano Ramos?

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A proposta agora é avaliar, no plano da linguagem, como se revelam as

relações de poder no romance.

a- Em São Bernardo há referências a espaços variados, como: a cidade de Viçosa, a fazenda,

a casa, o moinho, a igreja, a sala. Considerando que o narrador domina todos estes

espaços, pode-se entender este domínio também como revelador de seu poder? Comente

e justifique com o texto.

b- Analisando o tempo na narrativa e considerando que o presente e o passado se alternam

na história, é possível inferir qual foi o período de duração do romance? Justifique.

c- Ainda em relação à alternância do tempo presente e do passado, analise o uso do

pretérito e do presente nos fragmentos abaixo e diga qual deles oferece mais

dinamicidade ao romance. Além deste recurso, pode-se identificar outro. Qual?

d- No último capítulo, ocorre a atualização definitiva do discurso. Observe os fragmentos

abaixo e destaque quais classes de palavras comprovam esta atualização.

e- Leia os fragmentos abaixo e diga qual a relação de poder que se estabelece entre a visão

de Paulo Honório e a de Madalena quanto aos seguintes aspectos: a importância da leitura

e da educação para os oprimidos, a emancipação feminina, a exploração dos

empregados.

__Tenha paciência seu Paulo. Com barulho ninguém se entende. Eu pago. Espere uns dias. A

dívida só é ruim para quem deve. __Não espero nem uma hora. Estou falando sério, e você com tolices! Despropósito não! Quer

resolver o caso amigavelmente? Faça o preço na propriedade (RAMOS, 1986, p.24).

Para evitar arrependimento, levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a noite. No outro dia,

cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura. Deduzi a dívida, os juros, o preço da casa, e entreguei-lhe sete contos e quinhentos e cinquenta mil-réis. Não tive remorsos

(RAMOS, 1986, p.26).

__Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar,

fumando cachimbo e bebendo café, à hora em que os grilos cantam e a folhagem das

laranjeiras se tinge de preto (RAMOS, 1986, p.180).

__Hoje não canto nem rio. Se me vejo ao espelho, a dureza da boca e a dureza dos

olhos me descontentam” (RAMOS, 1986, P.183).

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AGORA, VAMOS OBSERVAR COMO PAULO HONÓRIO, SENHOR DO DISCURSO,

REVELA O SEU PODER EM RELAÇÃO AOS OUTROS PERSONAGENS, CONFORME

SEUS INTERESSES

►Dividir os alunos em grupos para que analisem os fragmentos selecionados ou outros que

queiram escolher. Apresentar para a classe as conclusões do grupo sobre a temática solicitada.

a- Na passagem abaixo, o narrador-personagem conversa com dona Glória, antes de se

casar com Madalena.

A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente que

mande algum dinheiro a mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente das outras, é

uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranquila. Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra mestre Caetano. Não

obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar. mandrião! (RAMOS, 1986, p.103).

A verdade é que não me preocupo muito com o outro mundo. Admito Deus, pagador

celeste dos meus trabalhadores, mal remunerados cá na terra, e admito o diabo, futuro carrasco

do ladrão que me furtou uma vaca de raça. Tenho, portanto, um pouco de religião, embora

julgue que, em parte, ela é dispensável num homem. Mas a mulher sem religião é horrível (RAMOS, 1986, p. 131).

Não gosto de mulheres sabidas. Chamam-se intelectuais e são horríveis. Tenho visto

algumas que recitam versos no teatro, fazem conferências e conduzem um marido ou coisa que o valha. Falam bonito no palco, mas intimamente, com as cortinas cerradas, dizem:

__Me auxilia, meu bem (RAMOS, 1986, P.135).

... No almoço, que teve champanhe, o dr. Magalhães gemeu um discurso.S.e.ª tornou a falar na escola. Tive vontade de dar uns apartes, mas contive-me.

Escola! Que me importava que os outros soubessem ler ou fossem analfabetos?

__Esses homens do governo têm um parafuso frouxo. Metam pessoal letrado na apanha da mamona. Hão de ver a colheita (RAMOS, 1986, p.44).

D. Glória baixou a voz para confessar que as professoras de primeira entrância tinham apenas cento e oitenta mil-réis.

__Quanto?

__Cento e oitenta mil-réis. __Cento e oitenta mil-réis? Está aí! É uma desgraça, minha senhora. Como diabo se

sustenta um cristão com cento e oitenta mil-réis por mês? Quer que lhe diga? Faz até raiva ver

uma pessoa de certa ordem sujeitar-se a semelhante miséria. Tenho empregados que nunca estudaram e são mais bem pagos. Porque não aconselha sua sobrinha a deixar essa profissão, d.

Glória?(...)

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b- Analise a passagem em que Paulo Honório discute com Marciano e Padilha, seus

empregados na fazenda:

c- Veja uma passagem entre Paulo Honório , seu Ribeiro e dona Glória, tia de Madalena.

Essa conversa, é claro, não saiu de cabo a rabo como está no papel. Houve suspensões,

repetições, mal-entendidos, incongruências, naturais quando a gente fala sem pensar que aquilo vai ser lido. Reproduzo o que julgo interessante. Suprimi diversas passagens, modifiquei outras. O

discurso que atirei ao mocinho de rubi, por exemplo, foi mais enérgico e mais extenso que as

linhas chochas que aqui estão. A parte referente à enxaqueca de d Glória (e a enxaqueca ocupou,

sem exagero, metade da viagem) virou fumaça. Cortei igualmente, na cópia, numerosas tolices ditas por mim e por d. Glória. Ficaram muitas, as que as minhas luzes não alcançaram e as que me

pareceram úteis. É o processo que adoto; extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é

bagaço. (...) (RAMOS, 1986, p.76/77).

__Isto vai mal. E gritei:

__Marciano!

Gritei em vão. Desci a ladeira, com raiva. Lá embaixo, à porta da escola, descobri Marciano escanchado num tamborete, taramelando com Padilha.

__Já para as suas obrigações, safado.

__Acabei o serviço, seu Paulo, gaguejou Marciano perfilando-se.

__Acabou nada! __Acabei, senhor sim. Juro por esta luz que nos alumia.

__Mentiroso. Os animais estão morrendo de fome, roendo a madeira.

Marciano teve um rompante: __Ainda agorinha os cochos estavam cheios. Nunca vi gado comer tanto. E ninguém

aguenta mais viver nesta terra. Não se descansa.

Era verdade, mas nenhum morador me havia ainda falado de semelhante modo.

__Você está se fazendo besta, seu corno? Mandei-lhe o braço ao pé do ouvido e derrubei-o. Levantou-se zonzo, bambeando,

recebeu mais uns cinco trompaços e levou outras tantas quedas. A última deixou-o esperneando

na poeira. Enfim ergueu-se e saiu de cabeça baixa, trocando os passos e limpando com a manga o nariz, que escorria sangue... (RAMOS, 1986, p.108).

Enfim desabafei. Num dia quatro o balancete do mês passado não estava pronto.

__Por que foi esse atraso, seu Ribeiro? Doença? O velho esfregou as suíças, angustiado:

__Não senhor. É que há uma diferença nas somas. Desde ontem procuro fazer a

conferência, mas não posso. __Por que, seu Ribeiro?

E ele calado.

__Está bem. Ponha um cartaz ali na porta proibindo a entrada às pessoas que não tiverem negócio. Aqui trabalha-se. Um cartaz com letras bem grandes. Todas as pessoas, ouviu? Sem

exceção.

__Isso é comigo? Disse d. Glória esticando-se.

__Prepare logo o cartaz, seu Ribeiro. __Perguntei se era comigo, tornou D. Glória diminuindo um pouco.

__Ora, minha senhora, é com toda a gente. Se eu digo que não há exceção, não há

exceção.

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d- Nesta passagem, humilha Padilha, motivado pelo ciúme doentio que passou a ter de

Madalena.

A PRESENÇA DE MADALENA E A INTERFERÊNCIA NO DISCURSO DE

PAULO HONÓRIO

É flagrante, no romance, o predomínio da linguagem do narrador protagonista. Porém

quando Madalena entra na história esse discurso sofre alterações. Antes, o ritmo da narrativa era

bem mais veloz, praticamente não havia pausas, nem adjetivações. João Luiz Lafetá, em seu ensaio

O mundo à revelia, menciona esse aspecto.

A diferença de linguagem quando se refere à Madalena e quando se refere à d. Marcela é

significativa. O mais importante, entretanto, é que Madalena passa a ocupar, a partir deste instante,

o lugar central dos acontecimentos. “Como o silêncio se prolongasse, repliquei ao Nogueira, quase

me dirigindo à lourinha (LAFETÁ, 1999, p.206).

► Pedir aos alunos que selecionem outros fragmentos do romance que exemplifiquem a

citação acima e destaquem as alterações ocorridas no discurso do narrador-personagem.

► Pesquisar o significado dos nomes dos personagens protagonistas, Paulo Honório e

Madalena. Analisar se há relação de similaridade ou de oposição entre o significado dos nomes e as

características dos mesmos.

__Vim falar com minha sobrinha, balbuciou d.Glória reduzindo-se ao seu volume

ordinário. __Sua sobrinha, enquanto estiver nesta sala, não recebe visitas, é um empregado como

os outros.

__Eu não sabia. Pensei que não interrompesse.

__Pensou mal. Ninguém pode escrever, calcular e conversar ao mesmo tempo”(RAMOS, 1986, p.112).

Comecei a sentir ciúmes. O meu primeiro desejo foi agarrar o Padilha pelas orelhas e deitá-lo fora, a pontapés. Mas conservei-o para vingar-me. Arredei-o de casa, a bem dizer prendi-

o na escola. Lá vivia, lá dormia, lá recebia alimentos, bóia fria, num tabuleiro.

Estive quatro meses sem lhe pagar o ordenado. E quando o vi sucumbido, magro, com o colarinho sujo e o cabelo crescido, pilheriei:

__Tenha paciência. Logo você se desforra. Você é um apóstolo. Continue a escrever os

contozinhos sobre o proletário.

O infeliz defendia-se. Com as humilhações continuadas, limitava-se por fim a engolir em seco (RAMOS, 1986, p.132).

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O romance São Bernardo põe em discussão questão importante para os modernistas: como

deveria ser escrito um livro, se com uma linguagem distante da realidade imediata das pessoas

comuns, como queria o jornalista Azevedo Gondim, ou de forma simples e coloquial como queria

Paulo Honório.

►Discutir como foi resolvida esta questão entre os personagens e qual o nível de linguagem

empregada pelo autor.

►Pode-se observar também, no romance, a marginalização daqueles que não dominavam a

linguagem e mal conseguiam articular algumas frases e sons. Esses personagens passam por um

processo de animalização. São os empregados da fazenda. Retirar exemplos que comprovem esta

afirmação.

►Madalena cometeu suicídio, por não suportar as pressões do marido, a sua brutalidade e

falta de consideração para com ela e com todos que o cercavam. Pode-se dizer que a morte da

esposa colaborou para a sua derrota econômica e também moral. Comentar.

Para concluir esta etapa e iniciar a próxima, pedir aos alunos que pesquisem em outros

gêneros textuais as temáticas estudadas na obra São Bernardo. Aqui também a atividade será

realizada em grupos de até cinco alunos, que deverão analisar as diferenças e semelhanças

estruturais e de linguagem e apresentá-las ao grande grupo.

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS (uma semana)

Objetivos

-Estimular o estabelecimento de relações intertextuais entre os gêneros estudados;

-analisar escolhas de linguagem, estrutura e temática;

-conscientizar-se de que a língua cria e veicula uma visão de mundo;

Aqui será proposta a leitura e análise da música Admirável gado novo, de Zé Ramalho,

disponível no link<http://letras.terra.com.br>

Nesta etapa, ocorrerá a comparação entre as duas anteriores. Pode ser considerada como um

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momento de reflexão em que os alunos, a partir das atividades realizadas, analisarão quais

conhecimentos obtiveram. Observarão se houve um crescimento da aprendizagem.

Assim, os alunos deverão comparar os gêneros textuais estudados nas etapas anteriores,

observando quais exigiram mais reflexão quanto às diferenças composicionais, temáticas e

linguagem empregada. Cada grupo fará sua apresentação dentro de um tempo previamente

estipulado.

- Ouvir, cantar e analisar a música Admirável gado novo.

- Organizar os alunos em grupos para que possam discutir entre si sobre as preferências quanto aos

gêneros estudados e quais tiveram maior dificuldade e por quê?

- Os alunos, de cada grupo, deverão eleger um representante para apresentar o resultado da

discussão à classe.

A análise da música Admirável gado novo, complementará as discussões sobre as temáticas

sociais presentes na arte e também possibilitará relações intertextuais com os gêneros até aqui

analisados. Segue um fragmento da letra:

1. Considere as seguintes informações sobre a música:

a- Foi escrita no final da década de 70, período da ditadura militar.

b- Em 1970, o Brasil foi tricampeão mundial de futebol.

c- Houve o chamado “Milagre Econômico”, marcado pela invasão das multinacionais em

nosso país.

A partir destes dados, que inferências se podem fazer sobre a motivação do artista para escrever

esta letra?

2- Em sua opinião, quem ele critica e por quê? Justifique com a letra.

3- Para realizar sua denúncia, Zé Ramalho utiliza alguns recursos de linguagem como o uso de

metáforas, ironias, que confirmam a ambiguidade da letra. Comprove esta afirmação com versos do

Admirável gado novo (Zé Ramalho)

Vocês que fazem parte dessa massa Ê vida de gado...

Que passa nos projetos do futuro, Povo marcado,

É duro tanto ter que caminhar Povo feliz... (...)

E dar muito mais do que receber,

E ter que demonstrar sua coragem

À margem do que possa parecer,

E ver que toda essa engrenagem

Já sente a ferrugem lhe comer.

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texto.

4- Pode-se dizer que há uma forte crítica ao modo de produção capitalista presente na letra.

Como você interpreta os versos abaixo?

a- “É duro tanto ter que caminhar

e dar muito mais do que receber,”

b-“Lá fora faz um tempo confortável,

a vigilância cuida do normal;”

5-Como você analisa a metáfora presente no refrão. Esta comparação ainda é válida para os dias de

hoje? Comente.

“Ê vida de gado...

Povo marcado,

Povo feliz...”

6-Em que versos se podem comprovar a alusão, feita pelo autor, à extinção do regime militar que

vigorava no Brasil, naquele período.

7- O contexto histórico em que se insere a música, em que a massa era manipulada pela mídia, pela

copa mundial de futebol e pelo suposto “Milagre Econômico”, levava a massa à alienação, ao

controle total dos governantes. Passados tantos anos do Regime Militar, é possível dizer que, hoje,

esta realidade está modificada? Como ocorre o domínio da massa pelos governantes, na atualidade?

8- Como conclusão, os alunos deverão pesquisar e identificar relações intertextuais que apontem

para as temáticas discutidas, como: a alienação dos trabalhadores, as relações de exploração do

trabalho, a crítica ao capitalismo. Para a realização desta atividade, deverão ser utilizados todos os

gêneros textuais estudados até aqui.

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS (uma semana)

Objetivos

-Situar o texto no contexto em que foi produzido;

- relacionar a linguagem fílmica com a do romance;

- avaliar o método recepcional com os alunos.

A partir da realização de todos os passos anteriores, espera-se que os alunos, por meio da

comparação do seu horizonte de expectativas inicial, com os interesses atuais, verifiquem que

houve crescimento de suas experiências. Conforme Bordini e Aguiar (1988, p.91), desta última

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etapa, reinicia-se todo o processo do método.

Será passado o filme São Bernardo a fim de verificar semelhanças e diferenças com o

romance.

Seguem algumas sugestões de questões para o debate comparativo final:

►Sabendo que o filme São Bernardo, dirigido por Leon Hirszman, foi rodado em 1972, em

pleno regime militar, pode-se inferir que a escolha deste romance poderia trazer algum problema

com a censura. Comente.

►Em sua opinião, a linguagem empregada no filme foi fiel à linguagem do romance?

Comente.

►E quanto aos personagens protagonistas, Othon Bastos e Isabel Ribeiro, você acha que

mantiveram as mesmas características dos personagens do romance?

► A adaptação do livro para o cinema, pode ser considerado um subterfúgio utilizado pelo

diretor para discutir temáticas sociais presentes no romance, principalmente, se for levado em conta

o momento ditatorial pelo qual vivia o Brasil? Explique.

►Como ocorre a coisificação, a desumanização de Paulo Honório na linguagem fílmica?

Seguem algumas sugestões de sites sobre literatura, letras de música, artes plásticas, livros e

documentário que têm relação intertextual com o romance São Bernardo. Estas leituras poderão ser

aproveitadas para a realização de atividades complementares:

- SITES DA INTERNET

- http://www.graciliano.com.br/index.html

- http://www.vidaslusofonas.pt/graciliano_ramos.htm

- http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar

- http://www.itaucultural.com.br

- http://www.ieb.usp.br/

- http://www.letras.mus.br

- www.adorocinema.com.br

- www.cineplayers.com.

- LIVROS

1- Dom Casmurro, de Machado de Assis.

2- Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro.

3- Penélope, de Dalton Trevisan.

4- Otelo, de Willian Shakespeare.

5- Ficção e Confissão, de Antonio Candido.

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6- João Boa-Morte, Cabra marcado morrer, de Ferreira Gullar.

DOCUMENTÁRIO

Maioria Absoluta, de Leon Hirszman.

4. AVALIAÇÃO

Como avaliação final, algumas atividades em grupo, serão sugeridas para apresentação.

a- Produção de um documentário enfatizando as questões sociais e as relações de poder

abordadas em São Bernardo.

b- Montar um painel com textos verbais e não-verbais, que abordem os fatos discutidos no

romance e ainda são recorrentes.

c - Dramatizar cenas do romance e/ou do filme que consideraram mais interessantes.

d- Produzir poesias e desenhos em banners, abordando as temáticas estudadas.

Os alunos também poderão fazer sugestões de trabalho, que serão inseridas nas formas de

avaliação final. Cabe destacar que, além destas atividades, os alunos devem ser avaliados

continuamente através de cada etapa do método recepcional proposto. Assim, a avaliação será

processual e se efetivará na medida em que os alunos se dispuserem à realização das atividades

propostas não por imposição, mas como meio de potencialização de seus horizontes de

expectativas.

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5. REFERÊNCIAS

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alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

AMORA, Antônio Soares. Teoria da literatura. São Paulo: Clássico-Científica, 1970.

ASSIS, Machado. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1999.

BAKHTIN, Michail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. De Michel de Lahud

e Yara Frateschi. 9a ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

CANDIDO, Antonio. Ficção e Confissão. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.

DACANAL, José Hildebrando. O romance de 30. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.

HIRSZMAN, Leon. Maioria absoluta (documentário). Rio de Janeiro: Leon Hirszman Produções,

1964.

HIRSZMAN, Leon. São Bernardo (filme). Rio de Janeiro: Saga Filmes, 1972.

LAFETÁ, João Luiz. O mundo à revelia. In: RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 37ª ed. Rio de

Janeiro: Record, 1981

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6a ed. São Paulo: Ática, 2008.

LAROUSSE CULTURAL. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Cultural, 1992.

GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. 6ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.

MALARD, Letícia. Ensino e Literatura no 2° Grau problemas & perspectivas. Porto Alegre:

Mercado Aberto, 1985.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

MORAES, Dênis. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. 3ª ed. Rio de Janeiro:

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ROLLA, Ângela da Rocha. Ler e escrever literatura: a mediação do professor. In: NEVES, Iara

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