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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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*Metodologia do Ensino Superior, Linguística Aplicada no Ensino da Língua Inglesa, Letras Anglo Portuguesa, Colégio Estadual Bento Mossurunga, Ivaiporã-PR. ** Doutor em Filologia Portuguesa pela USP (1990), Bacharel e Licenciado em Letras (Português e Francês) pela USP (1969), Docente de Linguística e Língua Portuguesa, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina-PR.
O ENSINO DA CRÔNICA COMO GÊNERO DISCURSIVO
Autor: Ivone Volpe Vieira * Orientador: Paulo de Tarso Galembeck **
Resumo
Este artigo aborda a necessidade de uma reflexão acerca das características da crônica, mostrando numa revisão de literatura, enquanto gênero discursivo. Apresenta os conceitos dados por críticos literários e lingüistas, e salienta a análise do gênero crônicas em contexto da lingüística numa concepção interacionista de linguagem. Explica o histórico da crônica e sua evolução no campo literário e jornalístico. Define o valor literário desse gênero. Destaca suas características e sua intertextualidade. Conclui, enfatizando a crônica enquanto gênero discursivo na metodologia de ensino de Língua Portuguesa. Os resultados demonstram que os alunos melhoram o desenvolvimento da oralidade, leitura e escrita.
Palavras chave: Crônicas; Gêneros; Características; Metodologias. Abstract
This article approaches the need of a reflection concerning the characteristics of the chronicle, showing in a literature revision, while discursive gender. It presents the concepts given by literary critical and linguists, and point out the analysis of the gender chronicles in context of the linguistics in a conception language interaction. It explains the report of the chronicle and your evolution in the literary and journalistic field. It defines the literary value of that gender. It detaches your characteristics and your intertextualidade. Is ends, emphasizing the chronicle while discursive gender in the methodology of teaching of Portuguese Language. The results demonstrate that the students improve the development of the orality, reading and writing. Keywords: Chronicles; Genders; Characteristics; Methodologies.
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1 Introdução
Esta pesquisa surgiu da necessidade de reflexão acerca das características
da crônica enquanto gênero discursivo, nela se pretendeu analisar, a Leitura e
Escrita do Gênero “Crônicas”, em turmas de alunos de 8ª série, de uma escola de
Ivaiporã-PR, a fim de melhor compreender esse gênero, e encaminhar os
educandos à produção textual.
Este texto foi produzido a partir de uma metodologia científica, dessa maneira,
ele demonstra uma fundamentação em aportes teóricos. Afinal, o que é uma
crônica? O significado da palavra “crônica”, segundo Afrânio Coutinho (1986, p.120),
“decorre de sua etimologia grega (khronos – tempo), é o relato dos acontecimentos
em ordem cronológica. A crônica, portanto, era um breve registro de eventos”.
Arrigucci ( 1987), ao iniciar o capítulo Fragmentos sobre a Crônica, afirma o
seguinte:
São vários os significados da palavra crônica. Todos, porém, implicam a noção de tempo, presente no próprio termo. Quando o crítico, após discorrer a respeito da Crônica, aborda a produção de Rubem Braga, nos diz: “A diferença essencial é que, para Braga, a crônica é a forma complexa e única de uma relação do Eu com o mundo, um modo de expressão pessoal e um meio de apreender e exprimir certos valores. (ARRIGUCCI, 1987, p.51).
Assim, os cronistas, aos poucos, deixaram de ter a intenção primeira de
comentar e de informar e passaram a assumir um caráter mais descomprometido,
cada vez mais leve e com toques humorísticos. Os textos foram deixando de lado a
preocupação argumentativa, opinativa e passaram a se aproximar mais da
subjetividade e do lirismo da poesia.
Pela leitura de Antonio Cândido, fica evidente que, por meio dos assuntos das
crônicas,
da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela
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uma inesperada embora discreta candidata à perfeição.(CÂNDIDO, 2004, p.13).
Finalmente, pode-se localizar nas reflexões de Medeiros, que
“a crônica,como dizem cronistas e críticos literários, também tem como material o cotidiano. No entanto, este aí se insere de outro modo. Em primeiro lugar, o cotidiano não significa no espaço cronístico necessariamente da atualidade. Em segundo lugar, a crônica não tem também a pretensão da novidade. A repetição, a reelaboração de um dizer ou de um tema pode vir a constituir diversas crônicas de um mesmo autor em um mesmo período ou não”. (MEDEIROS, 2004, p.115).
Nesse contexto, Bakhtin cita que,
o sujeito traz em si todas as vozes que o antecederam, um mundo que já foi articulado, compreendido diferentemente, isto é, o sujeito se constitui ouvindo e assimilando as palavras e os discursos do outro, fazendo com que essas palavras e discursos sejam processados de forma que se tornem, em parte, as palavras do outro. (BAKHTIN, 2003, p.296).
Como bases teóricas para subsidiar este artigo, foram selecionados autores
que abordam o assunto, dentro da linha interacionista. Os estudos de Bakhtin
constituem a fonte principal para direcionar os estudos, pois o ensino/ aprendizagem
de leitura e escrita só se efetiva, quando o aluno tem oportunidade de interagir pela
linguagem em situações significativas de ensino.
Como objeto de estudo, nesta pesquisa, foram selecionadas crônicas de
diversos autores e feita a comparação com notícias jornalísticas. Para isso, foi
construída uma Unidade Didática acerca de “Crônicas”, parte do material
pedagógico do PDE 2009. Em seguida, o trabalho foi implementado na referida
escola com alunos de 8ª série. Na parte analítica, verificaram-se as ações previstas
no projeto foram alcançadas e se as crônicas produzidas pelos alunos identificavam
com as características e a intertextualidade existente em crônicas enquanto gênero
discursivo.
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2 Pressupostos teóricos
2.1 Concepção de Linguagem
A concepção de linguagem deste artigo se associa às necessidades criadas
pelos PCN (1998) e, atualmente, pelas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa
para a Educação Básica (PARANÁ, 2008). Ambos os documentos assumem uma
concepção de linguagem pautada em gêneros discursivos, que atravessa os
conteúdos estruturados na dimensão objeto de conhecimento. Dessa forma,
segundo Bakthin (2003), o discurso como prática social se torna uma unidade
concreta e real da atividade comunicativa entre os sujeitos situados em contextos
históricos e sociais, o que reflete na linguagem uma atividade social e interativa.
Compreender essa relação é fundamental para que não se caia tão somente na sua
normatização, no que diz Rojo (2004), seria, portanto, um ensino que dissocia o
texto de sua realidade social.
O objeto de estudo da disciplina de língua portuguesa é a língua e o conteúdo
estruturante, portanto, é o discurso como prática social. Para isso acontecer, deve-
se propor ao aluno uma diversidade de gêneros discursivos que possibilite a
construção de significados e a transformação da prática social.
Valorizam-se as contribuições de Bakhtin (2003) para a análise do texto como
um objeto dialógico, no qual segundo ele toda enunciação envolve duas vozes, a
voz do eu e a do outro, pois não há discurso individual e todo discurso se constrói no
processo de interação e em função do outro.
Quando se assume a língua como interação, em sua dimensão discursivo-
textual, o mais importante é criar oportunidades para o aluno refletir, construir,
considerar hipóteses a partir da leitura e da escrita de diferentes textos, que se
efetiva nas diferentes instâncias sociais. Por isso, não poderia de deixar de ser
estudada neste momento: o gênero discursivo, “crônica”.
O gênero discursivo defendido por Bakhtin busca alargar a compreensão dos
diversos usos da linguagem. Para ele, o aluno deve ter contato com diversos
gêneros discursivos para perceber a possibilidade de entendimento e construção de
significados, ampliando sua percepção de mundo.
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Refletir a cerca da concepção de linguagem implica pensar também, as
contradições, as diferenças, as teorias de pensamentos contrários, que se
fundamentam, no ensino de linguagem. O sujeito da linguagem varia de acordo
com a concepção de língua que se adote. Assim, Koch afirma que,
para uma reflexão a respeito da leitura e da produção de crônicas, o ponto de partida para a elucidação das questões relativas ao sujeito, na crônica, será a partir de uma concepção sociointeracionista de linguagem. Defendendo a posição de que os sujeitos (re) produzem o social na medida em que participam ativamente da definição da situação na qual se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das representações, sem as quais a comunicação não poderia existir. (KOCH, 2002, p.15).
Galembeck, por exemplo, mostra que é necessário o papel ativo do sujeito, pois:
O processamento do texto depende não só das características internas do texto, como do conhecimento dos usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na produção/recepção do texto. A Lingüística Textual enfatiza o papel ativo do sujeito: o sujeito não é apenas aquele que capta o sentido do texto, mas aquele que cria (ou recria) o sentido ao interagir com o texto e inseri o texto nas formações discursivas da sua cultura. O sentido deixa de ser um dado prévio, mas é algo que se reconstrói com base nos elementos lingüísticos e na própria organização do texto. (GALEMBECK, 2005, p.6,11).
Com efeito, não existem textos fora do contexto, pois, o ser humano é um ser
histórico e social, as crônicas escritas diariamente pelos cronistas de jornais e
revistas têm uma intenção clara, fluindo do contexto vivenciado pelos cronistas. Nas
crônicas a seguir, a interação, é concebida através da contextualização, que assume
sua forma mais nítida, que é ressaltada através das referências sobre um
determinado espaço:
No Lotação
“Com o advento dos rádios transistores, o esporte, os fuxicos internacionais e a música popular passaram a ser nossos companheiros de viagem no ônibus e no lotação. Por isso não estranhei ao ouvir, em surdina, “areia da praia branquinha, branquinha, o vento levou o amor que eu tinha”.
(Carlos Drummond de Andrade. In: Para gostar de ler. Ática,1977)
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Ai de ti, Copacabana!
“Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e destas risadas ébrias e vãs no seio da noite”.
(Rubem Braga. In: “Ai de ti Copacabana”. Rio de Janeiro: 1960)
As crônicas citadas têm finalidades ideológico-discursivas. Nesse sentido,
observa-se que é na vinculação destes textos, a uma dada situação de interação e
espaço, que faz delas enunciados e nos indica o seu gênero discursivo. Koch
(2007), explica que fora da situação de interação (contexto, ou espaço de circulação
e ou espaço temporal), ela perde a dimensão de enunciado e muitas vezes do
próprio gênero: o que era irônico em uma determinada crônica, sendo lida hoje, e
por um interlocutor que desconhece a situação do enunciado, não conseguiria
compreender a ironia.
2.2 Interacionismo
Nessa perspectiva, Koch, com precisão, afirma que,
o sentido de um texto é construído na interação textos-sujeito e não algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. (KOCH, 2007, p.11).
Para a mesma autora, o texto tem uma existência independente do autor:
Entre a produção do texto escrito e sua leitura, pode passar muito tempo, as circunstâncias da escrita (contexto de produção) podem ser absolutamente diferentes das circunstâncias da leitura (contexto de uso), fato esse que interfere na produção de sentido. Pode acontecer também que o texto venha a ser lido num lugar muito distante daquele em que foi escrito ou pode ter sido reescrito de muitas formas, mudando consideravelmente o modo de constituição da escrita. (KOCH, 2007, p.32).
O contexto, portanto, é indispensável para a compreensão do gênero crônica,
o primeiro passo a pesquisar é a visão sócio-histórica, a relação dialógica do autor
com o assunto proposto na crônica, e no seio da esfera social onde se encontra
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inserido. Esse fato é ilustrado pelas crônicas de Drummond e Braga.
O segundo é analisar a situação de interação desse gênero: Qual o cronista?
Qual a concepção do interlocutor? Qual a sua finalidade ideológico-discursiva?
Como se dá o seu estilo? Qual a sua visão de mundo? Esses aspectos englobam a
análise de dimensão social e histórico do gênero crônica. O terceiro passo,
articulado com os anteriores, seria buscar o modo de funcionamento do gênero em
sua dimensão verbal, isto é, sua forma estrutural. Em Bakhtin, pode-se ler,
que a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 2003, p.223).
As Diretrizes Curriculares da Educação de Língua Portuguesa retomam as
idéias de Bakhtin a respeito do uso efetivo da linguagem, como ele mesmo cita:
Texto, então, envolve não apenas a formalização do discurso oral ou escrito, mas o evento que abrange o antes, isto é, as condições de produção e elaboração; e o depois, ou seja, a leitura ou a resposta ativa. Todo texto é, assim, articulação de discursos, vozes que se materializam, ato humano, é linguagem em uso efetivo. O texto ocorre em interação e, por isso mesmo, não é compreendido apenas em seus limites formais (BAKHTIN, 1999, apud DCE, 2008, p. 17).
Entende-se, portanto, que a natureza social da linguagem, o caráter dialógico
e interacional da língua, significa reconhecer os gêneros como a materialização da
interação entre os sujeitos que, por intermédio do uso da língua, elaboram formas
mais ou menos estáveis de discursos, os quais, segundo Bakhtin (1992), revelam a
esfera social à qual pertencem. Para a interação, é necessário tanto o domínio das
formas da língua quanto o das formas dos discursos.
Esses discursos, por sua vez, concretizam-se em textos que os representam,
denominados por Bakhtin (1979) de gêneros discursivos e por Bronckart (2003) de
gêneros textuais.
Simon, no texto: “O Cotidiano Encadernado: as Crônicas no Livro” percebe-
se de forma clara a relação com a concepção interacionista de Bakhtin. Segundo o
citado autor, “o material publicado dialoga com a época em que os textos foram
escritos e com o restante da obra de cada autor, proporcionando um inestimável
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objeto de pesquisa para diversas áreas do conhecimento”. (SIMON, 2004, p.8)
De acordo com Bakhtin (1979), o sujeito é social, histórico e ideologicamente
situado,
que se constitui na interação com o outro. Eu sou na medida em que interajo com o outro. È o outro que dá a medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação dinâmica com a alteridade. A crônica neste sentido, também dramatiza essa relação. Nela o sujeito interage com outros discursos, de que se apossa ou diante dos quais se posiciona para construir seu texto. A crônica, portanto, trata-se de um evento dialógico (Bakhtin), de interação entre sujeitos sociais, contemporâneos ou não, co-presentes ou não, do mesmo grupo social ou não, mas em diálogo constante.(BAKHTIN, 1979)
Koch explica quais as “pistas” que os escritores habilidosos exploram e as
escalas de recursos que utilizam para contextualizar a escrita,
e a crônica não poderia ser diferente, cita, entre estes, as aspas, para determinar ironia, ceticismo, ou distanciamento crítico; o uso de sinais de exclamação, para veicular ênfase; o uso de recursos gráficos, para distinguir tipos de conteúdo.(KOCH, 2002, p.32).
“A compreensão da mensagem é, desse modo, uma atividade interativa e
contextualizada, pois requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e
habilidades e a inserção desse saberes e habilidades na interior de um evento
comunicativo”. (GALEMBECK, 2005, p.4).
Subjacente a essa concepção interacionista, KOCH (2008, p. 63, 64) nos dá
algumas indicações dos conhecimentos sociocognitivo que os interlocutores deverão
articular:
Todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos atores sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do processo de leitura e produção de sentido. Para que duas ou mais pessoas possam compreender-se mutuamente, é preciso que seus contextos sejam, pelo menos em parte, compartilhados, uma vez que é impossível duas pessoas partilharem exatamente os mesmos conhecimentos. Vejamos quais os tipos de conhecimentos arquivados na memória necessitam ser mobilizados:
• o conhecimento linguístico propriamente dito;
• o conhecimento enciclopédico, quer declarativo (conhecimento que
recebemos pronto, que é introjetado em nossa memória “por ouvir falar”), quer episódico (“frames”, “scripts”) (conhecimento adquirido através da convivência social e armazenado em “bloco”, sobre as diversas situações e eventos da vida cotidiana;
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• o conhecimento superestrutural ou tipológico (gêneros e tipos textuais);
• o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e sua adequação às situações comunicativas);
• o conhecimento de outros textos que permeiam nossa cultura (intertextualidade).
Koch, já considerava que a produção de linguagem constituía,
atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer não apenas a mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédico), mas a sua reconstrução – e a dos próprios sujeitos – no momento da interação verbal.( KOCH, 2004, p.33).
Portanto, é impossível fazer uma leitura sem contextualizar as condições de
produção, da situação do enunciado (quem fala, com quem, quando, onde, em que
condições, com que propósito, etc.), ou seja, é um conjunto de fatores que
determinam a compreensão da produção de leitura, principalmente de crônicas,
pois, foram escritas em um jornal, em um determinado dia, e que hoje está editada
em um livro literário.
É por isso, que ressaltamos: “O poeta, afinal, seleciona palavras não do
dicionário, mas do contexto da vida onde as palavras foram embebidas e se
impregnaram de julgamentos de valor”. (BAKHTIN, 1979, p.18).
2.3 Intertextualidade
Para iniciar, o que é a intertextualidade?
Consoante os estudos de Marcuschi, “a intertextualidade é uma propriedade
constitutiva de qualquer texto e o conjunto das relações explícitas ou implícitas que
um texto ou um grupo de textos determinado mantém com outros textos”.
(MARCUSCHI, 2008, p130)
Os textos relacionam se entre si, pois nenhum texto afinal, se acha isolado e
solitário.
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Segundo (KOCH, 2007, p.75), devemos levar em conta duas novas questões:
• Quantas vezes, no processo de escrita, constituímos um texto recorrendo a outros textos?
• E quantas vezes, no processo de leitura de um texto, necessário se faz, para a produção de sentido, o (re) conhecimento de outros textos – ou do modo de constituí-los?
Para a mesma autora, entretanto, nem sempre a intertextualidade se constitui
de forma desvelada:
A produção escrita, muitas vezes tem como origem outro texto sem a fonte explicitada, porque o autor pressupõe ser do conhecimento do leitor. Assim, identificar a presença de outro(s) texto(s) em uma produção escrita depende e muito do conhecimento do leitor, do seu repertório de leitura. Para o processo de compreensão e produção de sentido esse conhecimento é de fundamental importância. (KOCH, 2007, p.78).
Conforme, a mesma autora, “A intertextualidade explicita ocorre quando há
citação da fonte do intertexto, como acontece nos discursos relatados, nas citações
e referências; nos resumos, resenhas e traduções; nas retomadas de textos de
parceiro para encadear sobre ele ou questioná-lo na conversação”. (KOCH, 2007,
p.87)
Portanto, toda argumentação desenvolvida até aqui - no que Koch colocou
sobre intertextualidade – remete - nos, explicitamente, o que se constitui a
intertextualidade:
Há casos em que ela pode se constituir de modo implícito. A intertextualidade implícita ocorre sem citação expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrases e ironias. Neste caso, exige-se do interlocutor uma busca na memória para a identificação do intertexto e dos objetivos do autor ao inseri-lo no seu discurso. Quando isso não ocorre, grande parte ou mesmo toda construção do sentido do texto fica prejudicada. (KOCH, 2007, p.92).
Então, para a compreensão de sentido do texto, o leitor deve estabelecer um
“diálogo” proposto entre os textos e a razão de recorrência implícita a outro texto.
Trata-se, pois, da presença de partes de textos prévios dentro de um texto
novo, isto é, a presença de discursos “outros” num dado discurso, que pode ser
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explicita ou implícita. Podemos dizer, então, que um determinado texto é uma
comunhão de outros discursos. O estudo da intertextualidade em um gênero como
a crônica é relevante, pois ao leitor cabe desvendar o sentido, relacioná-lo com
outros textos, distingui-lo nos entre cruzamentos intertextuais. As crônicas se
disfarçam em outros tantos textos e em situações do nosso cotidiano.
2.4 O Ensino da Crônica como Gênero Discursivo
O ensino dos gêneros, no Brasil, iniciou-se a partir de 1995, especialmente
com os referenciais nacionais de ensino de línguas (PCNs de língua portuguesa e
estrangeira), que salientam como objeto de ensino as características dos gêneros
na leitura e na produção dos textos.
É possível afirmar, pela da leitura de Marcuschi, que o estudo dos gêneros
não é novo:
A expressão “gênero” esteve, na tradição ocidental, especialmente ligada aos gêneros literários, cuja análise se inicia com Platão para se firmar com Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela Idade Média, o Renascimento e a Modernidade, até os primórdios do século XX. Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula apenas à literatura, mas é facilmente usado para referir-se a uma categoria distinta de discurso. (MARCUSCHI, 2008, p.147).
O estudo de gênero, como vimos, é muito antigo. Hoje, a análise sai dessas
fronteiras e vem para a Linguística de maneira geral, mas em particular nas
perspectivas discursivas. No Brasil, temos várias tendências no tratamento de
gêneros, com influências especialmente em torno dos estudos do Círculo de
Bakhtin, e na lingüística aplicada. Pois, as suas idéias têm impulsionado as
discussões teóricas e os desenvolvimentos pedagógicos na área de ensino de
línguas a partir de meados da década de 1980, na perspectiva sócio-histórica e
dialógica.
Segundo análise desenvolvida por Machado, que fundamenta sua discussão
em:
Os estudos que Mikhail Bakhtin desenvolveu sobre os gêneros discursivos considerando que não há classificação das espécies, mas
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o dialogismo do processo comunicativo. A partir desses estudos foi possível mudar a rota dos estudos sobre os gêneros: além das formações poéticas. Bakhtin afirma a necessidade de um exame circunstanciado não apenas da retórica, mas, sobretudo, das práticas prosaicas que diferentes usos da linguagem fazem do discurso, oferecendo-o como manifestação de pluralidade. (MACHADO, 2005, p.152).
A análise realizada pela mesma autora (p.153) verifica que “no romance,
Bakhtin situou o universo das interações dialógicas constituído por diferentes
realizações discursivas, incluindo o grande objeto de sua paixão crítica. Encontrou a
voz na figura dos homens que falam, discutem idéias, procuram posicionar-se no
mundo”.
A pesquisa desenvolvida por Rodrigues centrou-se na análise dos gêneros,
que segundo Bakhtin, refere-se que o enunciado não pode ser a de frase enunciada, que se constituiria em partes textuais enunciadas, mas de uma unidade mais complexa que “transcende” os limites do próprio texto, quando este é abordado apenas do ponto de vista da Língua e da sua organização textual. Nesta teoria, são exemplos de enunciados os romances, as cartas, as crônicas, as notícias as saudações, as conversas de salão etc. Todo enunciado constitui a partir de outros enunciados, tornando-o multiplanar. “O autor de uma obra literária (romance) cria uma obra (enunciado) de discurso único e integral. Mas ele cria a partir de enunciados heterogêneos, como quem alheios”. (RODRIGUES, 2005, p.157).
Ainda, segundo autora citada logo acima, “O gênero, na teoria do dialogismo,
está inserido na cultura, em relação a qual se manifesta como “memória criativa”
onde estão depositadas não só as grandes conquistas das civilizações, como
também as descobertas significativas sobre os homens e suas ações no tempo e no
espaço”. (MACHADO, 2005, p.159).
Os estudos desenvolvidos por Rojo centraram-se na análise crítica dos
gêneros discursivos e dos gêneros textuais. A palavra gênero tem, já desde 1929,
seu sentido bakhtiniano mais importante, e, mais ainda, aí já temos o núcleo no qual
se configurará o sentido do termo.
Disso decorre que a ordem metodológica para o estudo da língua, na
concepção bakhtiniana, com os gêneros discursivos, devem ser o seguinte:
1) As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as
condições concretas em que se realiza.
2) As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em
ligação estreita com a integração de que constituem os elementos, i.
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é, as categorias dos atos de fala na vida e na criação ideológica que
se prestam a uma determinação pela interação verbal.
3) A partir daí, exame das formas da língua em sua interpretação
lingüística habitual. (BAKHTIN, 2005, p.198).
A mesma autora (p.207) conclui que, “parece ser mais útil e necessário
explorar as características das situações de enunciação – relacionadas às marcas
lingüísticas que deixam como traços nos textos – que fazermos análises completas e
exaustivas dos textos, introduzindo uma nova metalinguagem”.
Desse modo, pode-se admitir que para compreender uma crônica em uso é
entendê-la em seus contextos. É no uso efetivo da língua, e de modo especial da
crônica em sua relação com o leitor ou ouvinte, que o sentido se constitui. Mas, é
somente pelo do reconhecimento de certas particularidades de cada um dos
gêneros que se podem tornar mais nítidos seus papéis dentro de um conjunto de
expressões. Assim, descobrir quais as características, as estratégias que se
manifestam e suas peculiaridades será um meio de analisarmos as crônicas.
2.5 Crônica: o impasse entre o jornalismo e a literatura
A história da crônica e sua existência enquanto gênero discursivo pesquisada
por meio de aportes teóricos que a geraram. Porém, não há um comprometimento
de traçar uma linha história da crônica. Mas, para Arrigucci em seu artigo,
demonstra que,
esse gênero de literatura ligado ao jornal está entre nós há mais de um século e se aclimatou com tal naturalidade, que parece nosso. Despretensiosa, próxima da conversa e da vida de todo dia, a crônica tem sido, salvo alguma infidelidade mútua, companheira quase que diária do leitor brasileiro. No entanto, apesar de aparentemente fácil quanto aos temas e à linguagem coloquial, é difícil de definir como tantas coisas simples. ( ARRIGUCCI, 1987, p. 51).
Na pesquisa de Coelho (1999, p. 157), além de se preocupar-se em realizar
uma análise sobre a crônica, esforçou-se para evidenciar sua descrição pelo crítico
e romancista Luiz Roncari, na obra: “A estampa da rotativa na crônica literária”.
Roncari afirma que:
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[...] A crônica antes de tudo tenta se diferenciar, como se fosse uma visitante ilustre num país bruto, inculto e insensível. Por isso (...) ocupa um espaço fixo, ao invés de ficar flutuando, perdida, seguindo a vontade do compositor ou diagramador; não trata dos fatos que têm importância por si mesmos, ao contrário, volta-se justamente para aquilo que passaria despercebido se não fosse o cronista (...) usa uma linguagem diferente, fora dos padrões de registro da notícia, apelando para o eu, o gosto e os caprichos pessoais; abaixa ou eleva o registro da linguagem que a circunda, respondendo à rigidez e uniformidade que se dá no jornal ao material lingüístico(...) (RONCARI,1999, p.14).
Para desvelar o tema na superestrutura da crônica, foi necessário
compreender a estrutura narrativa histórica. O tempo é a matéria - prima da crônica.
De fato, a concepção do gênero se baseia nas ações histórica, literária e jornalística.
Do ponto de vista histórico, segundo Rodrigues (1969):
Os primeiros textos históricos são justamente as narrativas de acontecimentos, feitas por ordem cronológica, desde Heródoto e César a Zurara e Caminha. A atividade dos “cronistas” vai estabelecer a fronteira entre a Logografia – registro de fatos, mesclados com lendas e mitos – e a história narrativa – descrição de ocorrências extraordinárias baseadas nos princípios da verificação e da fidelidade. ( in MELO, 1986, p.139).
“No início da colonização do Brasil, na literatura, a crônica afigura-se como
texto primário, produzido por espectadores privilegiados – os viajantes ou
epistológrafos – que traduzem para leitores distantes as suas impressões de
paisagens vistas e gentes conhecidas”. (MELO, 1986. p.140)
Como disse Manuel Bandeira:
A literatura dos países hispano-americanos começou como um capítulo colonial da literatura espanhola. O descobrimento e a conquista do novo mundo, a terra e seus habitantes são descritos em cartas-relatórios e crônicas dos soldados, dos catequistas e dos viajantes. E, assim como a carta de Pêro Vaz de Caminha inicia a literatura de língua portuguesa no Brasil, as cartas relaciones de Colombo inauguram a literatura de língua espanhola na Hispano-América. (BANDEIRA, 1960, p.15).
Ao referir-se à “crônica jornalística”, Martin Vivaldi explica, que:
A determinação se torna necessária para diferençá-la de “outras crônicas”, anteriores e posteriores ao jornalismo como atividade de comunicação social. “O característico da verdadeira crônica é a valoração do fato ao tempo em que se vai narrando. O cronista, ao relatar algo, nos dá sua versão do acontecimento; põe em sua
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narração um toque pessoal. Não é a câmara fotográfica que reproduz uma paisagem; é o pincel que interpreta a natureza, imprimindo-lhe um evidente matiz subjetivo. (VIVALDI, 1973, p.123).
Para (Melo, 1998, p. 147), “A crônica, na imprensa brasileira e portuguesa, é
um gênero jornalístico opinativo, situado na fronteira entre a informação de
atualidades e a narração literária, configurando-se como um relato poético do real”.
Entretanto, “Apesar do seu florescimento no século passado e do seu cultivo
por jornalistas-escritores do porte de Machado de Assis e José de Alencar, a crônica
brasileira somente assumiria aquela feição de gênero tipicamente nacional, neste
século”. (RONAI, 1971)
É Antônio Cândido, quem sugere seu marco histórico:
No decênio de 30 do século passado, que a crônica moderna se definiu e consolidou na Brasil, como gênero bem nosso, cultivado por um número crescente de escritores e jornalistas, com os seus rotineiros e os seus mestres. Nos anos 30 se afirmaram Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, e apareceu aquele que de certo modo seria o cronista, voltado de maneira praticamente exclusiva para este gênero: Rubem Braga. (CÂNDIDO, 1981, p.17).
Portella, leva em consideração, os entraves e as diferentes colocações de
críticos literários, a respeito deste gênero “Crônica” e afirma que:
indicam que a crônica através da constância com que vêm aparecendo, ultimamente, os chamados livros de crônicas, livros de crônicas que transcendem a sua condição puramente jornalística para se constituir em obra de arte literária, veio contribuir, em forma decisiva, para fazer da crônica um gênero literário específico, autônomo. (PORTELLA,1958, p. 111).
Como disse Antonio Cândido, apud Arrigucci:
A crônica como gênero menor é informal, e muito próximo do evento miúdo do cotidiano, o cronista de algum modo deve driblá-lo, se não quiser naufragar agarrado ao efêmero. Buscando uma saída literária, as margens de sua terra sem fim são bastante imprecisas: ele pode estender a ambigüidade à linguagem e às fronteiras do gênero, sem perder o nível de estilo adequado às pequenas coisas de que trata. Com isso, às vezes a prosa da crônica se torna lírica, como se estivesse tomada pela subjetividade de um poeta do instantâneo, que, mesmo sem abandonar o ar de conversa fiada, fosse capaz de tirar o difícil do simples, fazendo palavras banais alçarem vôo. Outras vezes, a tendência é para a prosa de ficção, pela ênfase na objetivação de um mundo recriado imaginariamente: ela pudesse
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confundir com o conto, a narrativa satírica, a confissão. Outras ainda, como em tantos casos conhecidos, constituem um texto difícil de classificar: é... a crônica.” (ANTÔNIO CÂNDIDO. 1981. in: Arrigucci, 1987, p 55,56).
Simon relata, em seu Projeto de Pesquisa, que:
os críticos reconhecem o lirismo como uma das marcas da crônica; há, contudo, em torno desse reconhecimento diferentes tipos de reservas. Essa prudência decorre de observações e de julgamentos diferenciados dos desempenhos dos cronistas, incluindo desde uma desvalorização do lirismo na crônica em comparação com sua manifestação no poema, passando pela verificação de que outras estratégias da crônica não permitem ao lirismo imperar absoluto, até se concluir que nem todos os cronistas ostentam o mesmo grau lírico. (SIMON, 2000, p.9).
Em seu livro “A Crônica”, Jorge de Sá, afirma que:
na ultrapassagem do jornal para o livro, atenua-se o vínculo circunstancial e elimina-se a referência às demais matérias e à própria diagramação. Com isso, o texto adquire maior independência, e o leitor fica estimulado a buscar, no seu próprio imaginário, todas as associações possíveis. (...) temos a sensação de que ela superou a transitoriedade e se tornou eterna. (SÁ, 1999, p.83,85).
Concluímos, então, que a “Crônica” com uma mistura de linguagens e
gêneros, “resiste, mas na maioria das vezes mais como espírito do que como forma.
É muito raro, digamos, ver um cronista descrever seu dia de caminhada sob o céu
azul do Rio de Janeiro, à maneira de um Braga”. (PIZA, 2000, p.136)
2.6 Afinal, o que é uma crônica?
A palavra “CRÔNICA” tem, na sua raiz, a palavra TEMPO (CRONOS). O
tempo, na crônica, é o dia-a-dia: baseia-se no fato cotidiano, corriqueiro. O jornal
publica um fato que aconteceu: narra o fato, fiel e ele, informando o leitor da melhor
maneira possível. O mesmo fato, que foi notícia de jornal, pode transformar-se em
uma crônica. Na crônica, não existe a preocupação de informar o leitor. O cronista
escreve, filtrando o fato através de suas emoções, de sua visão pessoal. O fato real
(notícia de jornal) é recriado. Os fatos sociais, políticos e econômicos estão aí se
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multiplicando. Uns são pitorescos, comoventes. Outros são trágicos, revoltantes.
São desses fatos do cotidiano que os cronistas geralmente extraem suas histórias,
suas crônicas.
Os críticos literários ao referirem-se a crônica, seus conceitos não mudam de
um crítico para outro, Afrânio Coutinho, por exemplo, destacou em seu Artigo:
Ensaio e Crônica, que para a crônica,
o fato só vale, nas vezes em que ela o utiliza, como meio ou pretexto, de que o artista retira o máximo partido, com as virtuosidades de seu estilo, de seu espírito, de sua graça, de suas faculdades inventivas. A crônica é na essência uma forma de arte imaginativa, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o espetáculo da vida, coisas, seres. O cronista é um solitário com ânsia de comunicar-se. Para isso, utiliza-se literariamente desse meio vivo, insinuante, ágil que é a crônica. (COUTINHO, 1986, p.136).
Acerca da informalidade e os temas das crônicas, Antonio Cândido, teceu
críticas importantes a respeito deste gênero:
Num país como o Brasil, onde se costumava identificar superioridade intelectual e literária com grandiloquencia e requinte gramatical, a crônica operou milagres de simplificação e naturalidade, que atingiram o ponto máximo nos nossos dias... o seu grande prestígio atual é um bom sintoma do processo de busca de oralidade na escrita, isto é, de quebra do artifício e aproximação com o que há de mais natural no modo de ser do nosso tempo. E isto é humanização. (CÂNDIDO, 1981, p.16).
Em “Um encontro marcado”, um capítulo do livro de Jorge de Sá, usando genericamente a designação de crônicas, diz que os escritores se revelam conscientes de que o gênero é ambíguo mesmo:
Sabino é favorecido pela possibilidade de ampliar o relato, conseguindo, assim, um maior campo de ação, pois ele costuma escrever para revistas, onde o espaço é maior que nos jornais. A crônica é uma narrativa curta por excelência, uma “conversa fiada”, como dizia Vinícius de Morais, mas que recebe um tratamento literário, mesmo que não seja considerada ficcional. O próprio cronista tem dificuldade em rotular os seus trabalhos. O tratamento de ficção que ele se refere é:
1. a construção do diálogo (inevitável, porque a simples transcrição
de uma conversa não atingiria o leitor, nem seria literatura);
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2. a construção de personagens que se afastam da matriz real uma (pessoa de carne e osso, que vive ou viveu em determinado lugar) e ganham o estatuto de seres inventados, com vida “real” apenas no contexto do relato;
3. o envolvimento mais complexo de espaço, tempo e atmosfera;
4. a perspectiva do cronista de distanciar-se do narrador, uma vez que na crônica a voz do narrador é a voz do cronista. Na crônica existe um diálogo com o leitor, mesmo que permaneça nas entrelinhas, como um suporte básico da crônica. Fernando Sabino nos revela “que tem sempre um encontro marcado com a prosa do cotidiano, através do lirismo reflexivo ou do fino humor dessa inseparável companheira de viagem, que é a crônica”. (SÁ, 1999, p. 28,29).
2.7 Como reconhecer as características de uma crônica?
Segundo Arrigucci, no Brasil, a crônica teve um desenvolvimento próprio
extremamente significativo:
A crônica é despretensiosa, próxima da conversa e da vida de todo dia, com dimensão estética e relativa autonomia, a ponto de constituir um gênero propriamente literário. Ela adquiriu a espessura de texto literário,tornando-se, pela elaboração da linguagem, pela complexidade interna, pela penetração psicológica e social, pela força poética ou pelo humor, uma forma de conhecimento de meandros sutis de nossa realidade e de nossa história. (ARRIGUCCI, 1987, p.51).
Assim, o acontecimento escolhe o cronista, segundo Neves:
A crônica moderna, todos sabem, é algo muito distinto. Seu tom é leve, e busca sempre ser acessível a todos os leitores. Sua marca de identidade é a de ser comentário quase impressionista. A escolha de seus temas é supostamente arbitrária e a liberdade preside sua construção. Sua forma é, por definição, caleidoscópica, fragmentária e eminentemente subjetiva. O conjunto das crônicas de um determinado escritor é produzido ao modo de um mosaico, cujo autor não tivesse a idéia exata seu sentido de seu produto final. (NEVES, 1995, p.20).
Segundo o texto, obtido em palestra nas turmas do PDE (UEL - 2009), existem
alguns “elementos” próprios do gênero crônicas, o que se pretende verificar é modo
de reconhecer uma crônica:
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• a escrita enquanto antídoto contra a corrosão do tempo;
• há uma transitoriedade e transcendência;
• tensão entre o circunstancial e o literário;
• o destaque da crônica é o cotidiano;
• quebra do monumental e da ênfase no cotidiano;
• fronteiras instáveis do gênero;
• aproximação com a narrativa;
• estruturalmente não há diferença entre conto e crônica;
• meio termo entre acontecimento e lirismo: lugar ideal;
• pulsação lírica;
• fórmula moderna: fato miúdo, humor e poesia;
• fato moderno: choques da novidade, fugacidade da vida
moderna, duelo com a contingência;
• há uma tensão (clímax) e o leitor fica sem saber o que vai
suscitar ao final da crônica;
• autoria e autoridade;
• o relato duplo: o que se relata e o que se esconde.(SIMON, 2009)
Quais as tipologias do gênero crônicas? Segundo Coutinho e Farias, as
crônicas são identificadas entre as seguintes categorias:
crônica narrativa: cujo eixo é uma estória ou episódio.
crônica poema: o conteúdo é lírico, mero extravasamento da
alma do artista ante o espetáculo da vida.
crônica diálogo: tom comunicativo, de conversa, a língua falada,
informalidade, de bate papo, o diálogo é permanente entre
cronista e leitor;
crônica comentário: divulga fatos e acontecimentos tecendo
ligeiros comentários pessoais, pretexto para divagações e
reflexões.
crônica metafísica: reflexões de cunho mais ou menos
filosóficos ou meditações, com o poder do paradoxo e da
fantasia.(COUTINHO , FARIAS,1986, p.133).
De modo geral, segundo Antonio Candido,
parece às vezes que escrever crônica obriga a uma certa comunhão, produz um ar de família que aproxima os autores acima da sua singularidade e das suas diferenças. É que a crônica brasileira bem realizada participa de uma linguagem geral lírica, irônica, casual, ora precisa e ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro, ou por
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uma espécie de monólogo comunicativo. (CÂNDIDO1981, p.22).
Com base em vários autores, assim se definiram as características da
crônica. Suas principais características são: uma narrativa breve, de linguagem
acessível, retratando sempre um episódio do cotidiano. Com poucas personagens
atuando num único fato e nada se informa acerca delas, além do que é referente ao
assunto. A crônica tem marcas da oralidade, por isso é simples. Lembra mais uma
conversa informal do que um texto escrito. A oralidade é um traço da língua falada,
por isso ela nos faz conferir, pensar, entender, melhor o que se passa dentro e fora
da gente, isto é, nos sugere reflexões. Normalmente, possui uma crítica indireta.
Histórias que podem ter acontecido com todo mundo _ até com você mesmo, com
pessoas de sua família ou com seus amigos. A crônica, na maioria das vezes, é um
texto curto narrado geralmente em primeira pessoa, nos dá uma sensação do
cronista estar “dialogando” com o leitor. Muitas vezes vem escrita em tom
humorístico, mas leve e descontraída, às vezes também, é irônica.
2.8 Exemplos de características presentes em trechos de crônicas
A crônica de Rubem Braga intitulada, “Rita”, o eu do cronista, retrata uma
cena familiar, trata-se de uma crônica onde estas características da
crônica ficam evidentes, narrativa breve, com um grau do eu lirismo muito
intenso, somente uma personagem, isto é, retrata o cotidiano:
“No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na
graça de seus cinco anos.”
A crônica, “Ousadia” de Fernando Sabino, verifica-se marcas de fala,
como se fosse uma conversa informal, isto é, indica a presença da
oralidade:
“_ Descarado, como é que tem coragem? Me seguiu até aqui!”
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Na crônica, “O padeiro” de Rubem Braga, percebe-se o “eu” lirismo
reflexivo, um extravasamento da alma do cronista:
“Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante
porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu
escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão
estariam bem cedinho na porta de cada lar: e dentro do meu coração eu recebi a
lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre e todos alegre; “não é
ninguém, é o padeiro!” E assobiava pelas escadas.”
A crônica, “Emergência” de Luís Fernando Veríssimo, as marcas lingüísticas
são outras, o cronista concentra sua produção para causar humor ao leitor,
escrita em tom humorístico, mas leve e descontraída:
“Acaba esquecendo a fivela e dando um nó no cinto. Comenta, com um falso riso
descontraído: “Até aqui, tudo bem”. O passageiro ao lado explica que o avião ainda
está parado, mas ele não ouve. A aeromoça vem lhe oferecer um jornal, mas ele
recusa.
-- Obrigado. Não bebo.”
É importante ressaltar que ao ler o gênero “crônicas”, o indivíduo busca as
suas experiências pessoais, os seus conhecimentos prévios, a sua formação
familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes do outro, dimensão dialógica e
discursiva, como foi teorizado pelo círculo de Bakhtin.
Sá, crítico literário, ressalta que “a função da crônica é aprofundar a notícia e
deflagrar uma profunda visão das relações entre o fato e as pessoas, entre cada um
de nós e o mundo”.
Portanto, pode-se afirmar, sob essa perspectiva, o que Silva defende: “ao
aprender a ler ou a ler para aprender, portanto, o individuo executa um ato de
conhecer e compreender as realizações humanas registradas através da escrita”.
(SILVA, 1996, p.34).
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3 Resultado e Discussões As discussões feitas a partir da revisão bibliográfica, e da crítica literária a
respeito da crônica, apontam para importância e a evolução desse gênero, que no
Brasil passa a ter uma tonalidade própria.
Para Bakhtin, a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal
concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no
psiquismo individual dos falantes. ( BAKHTIN, 1979. p.124)
Na implementação em sala de aula, refletiu-se como analisar crônicas que se
constitui na tensão entre literatura e jornalismo, explorando suas características
enquanto gênero discursivo: aproximação da oralidade, nexo entre elementos
diversos do cotidiano e o vínculo com a matéria cotidiana.
Percebeu-se que é um conjunto de fatores que determinam a compreensão
da produção de leitura, principalmente do gênero crônicas, pois, foram escritas em
um jornal, em um determinado dia, e que atualmente está editada em um livro
literário. Para tanto, realizaram-se atividades que possibilitou ao educando a leitura
e a produção oral e escrita do gênero “Crônicas”, bem como as formas de sua
composição e o uso da linguagem em diferentes situações do cotidiano, priorizando
com estas às práticas sociais.
Disso decorre que a ordem metodológica para o estudo da língua, segundo o
mesmo autor, deve ser o seguinte:
1. As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se realiza.
2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreitta com a interação de que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal.
3. A partir daí, exame das formas da língua na sua interpretaçãoo linguística habitual. ( BAKHTIN, 1979. p.124).
Considerando que todas atividades desenvolvidas em sala de aula, de acordo
com a Unidade Didática, implementada no Projeto PDE 2009 são o resultado de
uma opção metodológica, articulada a uma determinada concepção que temos
sobre a linguagem. E em virtude, que as ações previstas no projeto foram
implementadas com os alunos de 8ª série do ensino fundamental de uma escola de
23
Ivaiporã-PR.
Koch afirma que,
para uma reflexão a respeito da leitura e da produção de crônicas, o ponto de partida para a elucidação das questões relativas ao sujeito, na crônica, será a partir de uma concepção sociointeracionista de linguagem. Defendendo a posição de que os sujeitos (re) produzem o social na medida em que participam ativamente da definição da situação na qual se acham engajados, e que são atores na atualização das imagens e das representações, sem as quais a comunicação não poderia existir. (KOCH, 2002, p.15).
Diante das concepções e análises estudadas, a primeira ação programada
ressaltou leituras de diversos cronistas, colocando em relevo a reflexão crítica, o
humor implícito nestas e sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que
o cercam.
Para Galembeck, em seu artigo, “o processamento do texto depende não só
das características internas do texto, como do conhecimento dos usuários, pois é
esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na
produção/recepção do texto”.
Verificaram-se que, na primeira atividade realizada, apesar dos alunos
interagirem entre os pares, nunhum estudante conseguiu identificar se era crônica
ou outro gênero.
Segundo Koch, os sujeitos somente produzem o social na medida que
participam ativamente, sem os quais a comunicação não pode existir. Isso ficou
claro diante do resultado negativo da atividade de reconhecimento do gênero
crônica, sem os alunos terem o conhecimento prévio necessário.
Logo após, realizou-se um debate, para verificar quem diferenciava a crônica
dentre outros gêneros apresentados. Mesmo assim, ainda houve muita dificuldade
durante a discussão.
Numa próxima aula, o professor preparou uma pasta contendo mais ou
menos umas quarenta crônicas de diferentes cronistas, recortadas de revistas,
jornais e da internet. Os alunos fizeram leituras silenciosas e orais. Identificaram-se
através da leitura, com ajuda do professor, as reflexões, as críticas, as marcas de
oralidade, o humor, a ironia, o lirismo, isto é, as principais características da crônica,
e também, sua forma de composição.
A partir dessa atividade, a crônica passou a ser compreendida. Portanto,
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para haver compreensão exige-se habilidade, interação e trabalho, na verdade,
sempre que ouvimos alguém ler um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa
compreensão é a correta.
Marcuschi (2009, p. 230) afirma o seguinte, a respeito da compreensão que:
“compreender não é uma ação apenas linguística ou cognitiva. É muito mais uma
forma de inserção no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o
outro dentro de uma cultura e sociedade”.
A dificuldade de compreensão é geral entre os estudantes, pois compreender
é uma atividade colaborativa e um exercício de convivência sociocultural. Para tal,
requer um leitor inserido na realidade social, infelizmente são poucos os que leem
por prazer e principalmente fora do ambiente escolar.
Em seguida, o professor observa atentamente, que conforme os estudantes
leem as crônicas, se estas lhe causam alguma sensação, como: entusiasmo, horror,
desânimo, indignação e ou felicidade. Para a pesquisa nesse momento, o essencial
é descobrir qual emoção que cada crônica lhe traz, com seu mistério, sua harmonia
e a interação.
É interessante ressaltar o quão prazerosa esta atividade tornou-se para os
alunos e também para o professor. Os estudantes, ao lerem as crônicas, trocavam
entre si, comentavam seu gosto, a emoção que lhe causara e também, a sua opinião
a respeito do assunto. Percebeu-se, que, ao lerem, eles riam e se divertiam. Cada
crônica despertavam lhes emoções, e isso era nítido em seus olhos, com os
entusiasmos, pois, conforme liam, imediatamente buscavam outra e mais outra
crônica. A leitura tornou-se realmente envolvente para os leitores participantes do
projeto.
Segundo Marcuschi, “Atualmente a leitura vem sendo tratada em um novo
contexto teórico que considera práticas sob um aspecto crítico e voltado para
atividades, sobretudo sócio-interativas. A leitura deve ser assim uma influência
bastante clara sobre os processos de compreensão”.
Para Koch ( 2007, p.19), “por outro lado, é preciso também levar em conta os
conhecimentos do leitor, condição fundamental para o estabelecimento da interação,
com maior ou menor intensidade, durabilidade e qualidade de leitura”.
Um dos desafios que se propôs nesta pesquisa, foi a produção de crônicas
junto com os alunos acerca do nosso cotidiano, observando mais atentamente as
pessoas e as situações que fazem parte do seu dia-a-dia, construindo textos claros
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e, ao mesmo tempo, criativos.
Para se chegar a essa produção de crônicas, houve várias etapas. Na
primeira etapa produziu-se uma crônica em equipe, isto é, em conjunto.
Organizaram-se, elegeram um colega para a escrita, enquanto os outros se
debatiam entre os pares, as idéias e as propostas iam surgindo, e é claro, após
serem aprovadas por todos, o redator escrevia. A convivência em grupos, isto é, a
interação social foi fundamental. Trabalhar com idéias que não eram suas, foi
intrigante, mas ao mesmo tempo, bastante estimulante.
Para Backtin, “identificar a presença de outro(s) texto(s) em uma produção
escrita depende muito do conhecimento do leitor, do seu repertório de leitura”.
Na segunda etapa da produção dar continuidade às crônicas de cronistas
famosos, mas sem o término do mesmo. Na terceira e última etapa foi à escrita
individual de crônicas criadas por eles mesmos. E à medida que os parágrafos iam
sendo escritos, eles pediam para o professor ler, tão grande foi o envolvimento. As
crônicas escritas pelos alunos, tanto em cartazes ou em folhas de cadernos, foram
colocadas em um painel, organizado pelos alunos e professor. Este painel foi para
uma exposição realizada na escola pelo professor PDE. Além disso, uma coletânea
de crônicas escrita pelos alunos foi doada para o acervo na biblioteca da escola.
A origem dos problemas mais típicos verificados na âmbito da produção,
segundo Pécora, são:
mais especificamente , essa contradição histórica determina, primeiro, a incapacidade do processo escolar em garantir ao aluno o domínio das normas específicas da escrita; segundo, a restrição da escrita a um domínio consagrado no interior da própria escola, que acaba operando uma redução das virtuais relações entre sujeito e linguagem. (PÉCORA, 1989 p.45).
Ao realizar uma proposta de produção de gênero, considerou-se o ensino com vários recursos que se dispõe para a construção de um texto eficiente. De acordo com Menegassi,
a prática de ensino aprendizagem de língua materna esboçada numa perspectiva dinâmica de trabalho com a linguagem, com a sua produção oral e escrita, vinculando-a ao momento concreto de sua produção, levando os alunos à reflexão de seu uso de acordo com as suas intenções comunicativas. Nesse sentido, o aluno é o sujeito da ação de aprender, aquele que age sobre o objeto de conhecimento, como divulgam os PCNs (BRASIL, 1997, p.29) e o professor mediador entre sujeito e objeto, sendo este objeto a língua portuguesa. (MENEGASSI, 2010, p.110),
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Como objeto de estudo, explorou-se na oralidade das crônicas os conceitos
aprendidos, como também, os fatos do cotidiano que influenciam o desenvolvimento
dos alunos para encontrarem a forma de ver e questionar o mundo ao seu redor.
Conforme aponta Sá, “o texto adquire maior independência, e o leitor fica
estimulado a buscar, no seu próprio imaginário, todas as associações possíveis. (...)
temos a sensação de que ela superou a transitoriedade e se tornou eterna”.
É muito importante desenvolver se a oralidade em sala de aula. Essa ação foi
realizada com sucesso, porém trabalhosa. Os alunos precisam esperar a sua vez de
falar, saber pedir a palavra. Também lhes cabe, justificar seu ponto de vista com
argumentos que convencem seus colegas. E com contra argumentos em defesa de
suas idéias, pois as pessoas têm opiniões diferentes. No entanto, devem fazê-las de
forma respeitosa. Na escrita da crônica em grupo foi bastante utilizada essa
atividade da linguagem oral. As opiniões e as intervenções eram feitas em todo
momento, pelos alunos e entre os mesmos, com explicações do professor, em slides
preparados para a TV pendrive.
Para DINO PRETI, “a construção do dispositivo persuasivo argumentativo é a
forma de garantir a intercompreensão na conversação ou outro tipo de texto. Dessa
maneira, a competência do falante para produzir textos, principalmente orais, e a do
ouvinte para compreendê-los dependem, em larga medida, do conhecimento dos
processos de reformulação”.
Segundo o mesmo autor,
A sala de aula é um local onde professor e alunos, mediados pela linguagem, constroem ativamente o sentido do mundo. Nela, o individual e o social estão em contínua articulação, e os sujeitos, em constante processo de negociação. Ao professor cabe atrair e manter a atenção de seus alunos, incentivá-los a falar ou ordenar que se calem e, especialmente, motivá-los a participarem do processo ensino/aprendizado. (DINO PRETTI, 2006, p.48).
No decorrer desse estudo, além de mostrar o gênero crônica, fizeram-se
menções a concepções e metodologias do ensino de língua portuguesa. Passa-se
agora para a última parte deste trabalho, em que se espera , tal como proposto,
apontar as reflexões acerca do ensino do gênero crônicas numa concepção
interacionista de linguagem.
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4 Considerações Finais
Com esta pesquisa, espera-se que os outros inúmeros aspectos existentes, e
aqui não esmiuçados, e seus possíveis desdobramentos despertem interesses nos
professores, nos estudantes em outros estudos e pesquisas acadêmicas.
Este artigo desponta como uma oportunidade para que se reflita quanto ao
ensino da crônica como gênero discursivo. Redigir uma crônica é ter direito a
elaborar um texto livre. Ensinar, aprender e produzir uma crônica pode ser a
liberdade e ao mesmo tempo ter a chance de ver a criatividade dos estudantes.
Estudar crônica é ir além de ficções literárias ou páginas envelhecidas de jornais. É
debruçar-se sobre um fato, um problema político, uma idéia, uma simples conversa,
uma época e uma leitura subjetiva de mundo exteriorizado por um autor, que dialoga
com intimidade e liberdade ao seu leitor, mas sem deixar de discutir os problemas
sociais, políticos e ou os sucessos e principalmente, não poderia ser diferente os
fracassos humanos.
Segundo Cândido, é um meio privilegiado de apresentar ao leitor de modo
persuasivo muitos temas e assuntos que divertem, atraem, inspiram e fazem o
indivíduo amadurecer a sua visão de mundo.
As crônicas escritas pelos alunos nessa implementação do projeto PDE, nos
revelaram justamente esses dizeres. Além dessas características típicas da crônica,
observou-se também, nos alunos um grande envolvimento por parte dos mesmos.
Uma motivação, até então, inexistente em aulas de produção de textos.
Verificou-se que os alunos buscaram em suas “crônicas” as suas
experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa,
cultural, enfim, as várias vozes do outro, a dimensão dialógica e a discursiva, isto é,
os estudos teorizados pelo círculo de Bakhtin.
Portanto, espera-se que esse artigo contribua com o ensino de Língua
Portuguesa, a fim de que o professor tenha consciência sobre o tipo de reflexão que
está sendo proposto, bem como do processo de ensino aprendizagem acerca do
gênero discursivo crônica.
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