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maria-alves
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Soltar palavras ao vento. Escrevê-las sem qualquer pensamento reflectido, apenas largá-las, como se tivessem presas no meu íntimo como se de mim dependessem, como se minhas fossem, mas são de toda a gente.
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Saudade
Semeio esta semente de nome saudade
Rego-a com lágrimas de sabor salgado
Abraço-a assim
Saudade,
Norteio neste desnorte
De forma desconcertante
Onde a voz não ecoa
Onde a visão não alcança.
Sinto um grito mudo da alma
Que se eleva nestas lágrimas
Pronunciando a palavra
Saudade.
Saudade de mim,
Saudade de ti,
Saudade do apenas nós.
Silêncio I
O tempo alonga-se nesta mudez,
Rotina que afastou a vontade,
Encerrando, assim, os olhos e o dia,
Proibindo a alma de abandonar o corpo.
Não tenho vontade de dormir, tenho sim,
Necessidade de sentir-te, auscultar-me em ti,
Silêncio.
Nesta ausência de frenesim,
Hipnotizo-me sob o embalar dos sonhos
Que não são nada mais do que vontades,
Necessidade de ouvir-me com quietude.
Adormece o corpo, mas não a alma.
São palavras e rodopiam entre si,
Ocupando-te, antes vazio, silêncio,
Agora repleto de sentimentos,
Mergulhaste neste espaço de rompante,
Cedendo à minha vontade de tranquilidade
E agora, que fazemos os dois?
Bailamos em segredo,
Trocamos vontades?
Sim, talvez …talvez…
Dar-te-ei a visão de um mundo,
Onde não existes.
Dar-me-ás a pausa, o descanso, a calma,
A paz interior… se disso fores capaz.
Na verdade, silêncio, se és ausente de sons,
Porque te ouço com tanta exatidão?
Pensamento ao entardecer
Quem me dera cruzar esta linha de horizonte,
Beijar o infinito como quem cheira uma flor,
Penetrar neste mistério que me atormenta
Não pelo mal mas pelo bem que me quer.
Quem me dera estender a mão e poder tocar,
Sentir o calor desta imensa chama de conforto,
Chama que me prende nos pensamentos,
Nos seres que me embalam ao entardecer,
Nas doçuras e canduras desta áurea a adormecer.
Quem me dera cruzar esta linha de horizonte,
Deixar-me enfeitiçar pelas suas histórias
Pelas suas gentes e melodias imaginárias.
Quem me dera cruzar esta linha de horizonte.
Parece tão distante e vive tão perto de mim,
Faz parte do meu ser e faz-me remoçar.
Linha em espelho, reflector da minha alma,
Onde uma áurea com mil desejos em fogo
Apazigua o desejo e o pensamento…e
Aquece o espírito inquietante que há em mim.
O Canto dos Lobos
Canto dos lobos que protegem a noite
Uivem no cimo do monte sagrado
Evoquem a fada celeste do universo
Elevem o divino da sua luz solene.
Surge agora, bela e exuberante,
Invadindo os espíritos delicados,
Usurpando os seus desejos mais íntimos
Procurando o amor que lhe é renegado.
Vampira dos sonhos mais castos,
Feiticeira de corações inocentes,
Lança encantamentos efémeros
Em busca de paixões passageiras.
Ergue-se em mitos e é desejada,
Puro feitiço quando crescente.
Amante misteriosa em lua cheia
Incerta modéstia em minguante.
Saciada em desejos mortais
Será por fim uma lua nova,
Renascendo de novos amores,
Sugando de castos corações,
Desejos, ambições e paixões.
O mistério da Lua
Mergulho neste mar de água cristalina
Protegida pelos Deuses em rochas vivas
São segredos que se guardam entre mares
São mistérios ainda por desvendar.
Correm rumores de luas escondidas
Que se encontram na noite entristecida,
A lua do céu que ilumina a noite escura, e
a lua aprisionada nas profundezas do mar .
Enlaçando-se no horizonte em forma de luar,
Provocam marés vivas de assombrar,
Ficam revoltas as águas e os seus espíritos,
Dançam os astros e as forças escondidas,
Provocam os deuses e as suas armaduras,
Lançam feitiços aos corações puros,
É o íman do amor que une este luar
É o sopro de quem honra este amar.
Quatro Elementos
Sou naturalmente,
Um ser inconstante,
Sou Terra, Água, Fogo e Ar.
Sou volúvel ao sentimento,
Viajante invisível de
Pensamentos intocáveis.
Viajo sob o vento incansável,
Ansiando ao porto chegar.
Recanto, onde largo desejos,
Ambições, sonhos e encantos,
Para uma nova lua conquistar.
Sou Terra, Água, Fogo e Ar.
Sou uma gota do universo,
Escorrego no orvalho e, vou
Salgando, num pranto, o oceano.
Fecho os olhos e navego,
No azul mistério, cor deste mar.
Recosto-me no sentir,
Na esperança, verde, verdejante,
Que me desperta a cada amanhecer.
Sou Terra, Água, Fogo e Ar.
Verto vontades abrasáveis,
Energia reflectida no alvorecer
Fogo, paixão ao entardecer.
Sou naturalmente,
Um ser inconstante,
Sou Terra, Água, Fogo e Ar.
Abismo
Corredor, este que me confunde
Entre portas e encruzilhadas
Quem se segue no meu caminho?
Não tem cor, apenas cheiros,
Odores mil que me enlouquecem,
Tormentos de alguém que me agoniza,
Sentimentos alheios, porquê em mim?
Não vos quero cheirar, muito menos sentir,
Partam almas em segredo para não me magoar.
Passagem esta que me assombra,
Será a luz que antevejo?
Não…não consigo alcançar…
Perdi-me neste abismo…
Em que porta vou entrar?
Afundarei na escuridão, ou
Renascerei noutra vida qualquer?
Respiro e transpiro este medo,
Mas não vou fraquejar!
Aquela luz vou atravessar e
E o amanhã reconquistar,
Voltarei a sentir um só cheiro,
A essência do meu Eu.
Saxofone
Fecho os olhos…agora!
Sinto o seu poder em arrepio
Uma alma preenchida sem se ver.
Desejos mergulhados algures,
Perdidos em sonhos enleados.
Lágrima que suplica e desabafa
Ao sopro afoito do saxofone.
Palavras mudas em notas amargas,
Sentimentos abrasados em despejo,
Desabafos de alguém, solitário
Que em noite nua, se desnuda,
Ao sopro afoito do saxofone.
Sob forma de pauta musical,
Encantando amores proibidos,
Arrebatando espíritos em delírio,
Enfeitiçando amantes fervorosos
Ao sopro afoito do saxofone.
…
Tempo
Devagar passa o tempo, Reflectindo-se no silêncio. Tic-tac…tic-tac…tic-tac…
Sigo o ponteiro que me guia Indicando o tempo no tempo. Tic-tac…tic-tac…tic-tac…
Viajo em silêncio profundo Não perdendo um segundo. E… Tic-tac…tic-tac…tic-tac… Dou corda no meu tempo antigo Viajando em memórias passadas, Revendo lugares, cheiros e pessoas Sentimentos esculpidos ao som Do tambor que me sustenta. Tic-tac…tic-tac…tic-tac… Tic-Tac…tic-tac…tic-tac…