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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
AVALIAÇÃO EM MATEMÁTICA: contextualização teórica e prática
Autora: Claudete Martins1
Orientador: José Ricardo Souza2
Resumo
O trabalho baseia-se no projeto de intervenção na escola do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE). Discute a avaliação da aprendizagem como parte integrante do trabalho escolar, avaliação que deve estar inserida a cada ação pedagógica desempenhada pelo professor. Trata-se de trabalho realizado no formato grupo de estudos com a participação de professores de matemática, professor do Programa Sala de Apoio à Aprendizagem de Matemática e professor pedagogo, da rede estadual. No primeiro encontro realizou-se uma investigação junto aos participantes visando a organização dos demais encontros objetivando discutir os temas de acordo com a necessidade levantada por meio da investigação, onde foi aplicado um questionário com questões semiabertas sobre diferentes concepções, critérios e instrumentos, e avaliação diagnóstica na perspectiva da análise do erro. Após constatar o ponto de vista de cada professor em relação aos referidos temas e sintetizar as respostas como forma de nortear o trabalho pedagógico, passou-se à leitura e à discussão dos amparos legais que norteiam o processo de avaliação da aprendizagem. Durante os demais encontros foram realizados estudos e discussões da fundamentação teórica de autores que tratam da avaliação da aprendizagem, sempre de forma crítica, relacionando as discussões com as ações do cotidiano escolar. Contou-se também com uma palestrante, que tratou da análise do erro com a finalidade de perceber melhor o conhecimento matemático do aluno. Houve momentos de estudos e de discussões sobre avaliação diagnóstica com elaboração de atividades que podem ser trabalhadas no início da quinta série com objetivo de nortear o trabalho com os conteúdos dessa série.
Palavras-chave: Avaliação em matemática; Análise do erro; Prática pedagógica.
1 Introdução
A discussão sobre avaliação é uma necessidade contínua. Esta afirmação
pode ser feita considerando que é uma questão ainda cercada de dúvidas sobre sua
real função, ou seja, avaliar é uma ação humana não completamente compreendida.
1 Professora do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. E-mail: [email protected].
2 Professor Adjunto na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus Foz do Iguaçu. E-mail: [email protected].
Se a avaliação é uma necessidade da vida humana em geral, assim o é também no
âmbito da educação.
Em educação, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional@
– LDBEN (Lei Federal nº 9.394/1996), é direito do aluno o ingresso, a permanência e
o sucesso na escola. Para que esse processo ocorra de fato é necessário que,
durante o percurso da vida escolar do aluno, alguns aspectos relevantes sejam
considerados. A escola deve proporcionar e garantir as condições para que esse
aluno evolua na aquisição dos conhecimentos. Então a avaliação em educação deve
contribuir para o cumprimento desses direitos legais dos alunos.
O processo de avaliação é uma questão preocupante, especialmente no
processo de ensino-aprendizagem da matemática, pois geralmente se limita à
aplicação de provas e de testes individuais. O que tem sido exigido do aluno como
avaliação é uma reprodução do conteúdo que foi trabalhado em aula. Trata-se de
uma reprodução para averiguar o quanto o mesmo aluno foi capaz de reter sobre o
que foi ensinado, demonstrando tal habilidade no dia da prova.
As evidências para essa preocupação acontecem quando alguns
professores de matemática acreditam ser natural que alunos reprovem, com maior
frequência, nessa disciplina. Essa crença não é muito questionada pelos próprios
alunos, pois, para eles, também parece natural um maior número de reprovações na
referida disciplina. Também os erros apresentados pelos alunos em uma avaliação
formal nem sempre são analisados criteriosamente pelo professor, justamente
quando esses erros podem ser usados como ferramentas que apontam as
dificuldades de aprendizagem e/ou que orientam uma reorganização do trabalho
pedagógico.
Diante dessas observações, propôs-se este estudo, com reflexão e
discussão sobre avaliação, restringindo, porém, o âmbito para a avaliação em
matemática na quinta série do ensino fundamental e no Programa Sala de Apoio a
Aprendizagem de Matemática. Desenvolveu-se estudo teórico sobre diferentes
concepções, critérios e instrumentos, e avaliação diagnóstica na perspectiva da
análise do erro. Em um segundo momento envolveu-se, em forma de grupo de
estudos, professores atuantes nessa série e no programa com o objetivo de
analisarmos as suas concepções acerca da avaliação do processo de ensino-
aprendizagem da matemática.
Os motivos para este estudo se orientaram pelas indagações: – Que postura
o professor de matemática da quinta série deve ter para melhorar o desempenho
dos alunos no processo de avaliação da aprendizagem, considerando que ele
precisa fazer a avaliação diagnóstica sobre o domínio dos conteúdos e dos
conceitos matemáticos que os alunos têm ao concluírem a quarta série? – Que
compreensões e concepções sobre avaliação têm os professores atuantes na quinta
série e que influências essas concepções têm para a realização da avaliação
diagnóstica em matemática? – Os critérios e o instrumento adotados revelam o nível
de aprendizagem do aluno? – O professor faz a análise dos erros do aluno
buscando verificar o aprendizado?
Essas indagações nos desafiaram a realizar esse estudo considerando o
estado de inacabilidade do entendimento da avaliação. No processo de ensino-
aprendizagem da matemática, a avaliação precisa ser melhor entendida e mais
coerente com o discurso teórico, especialmente a avaliação como ação diagnóstica.
Na quinta série, o trabalho do professor precisa ser cauteloso no sentido de
impedir que o aluno não desenvolva rejeição em relação à matemática. Para isso é
necessário estar sempre atento ao desempenho do aluno para perceber os avanços
e intervir quando necessário, fazendo com que o aluno adquira confiança no
professor e consiga desenvolver seu raciocínio matemático de forma prazerosa.
Sendo assim, o professor deve estar sempre atento a essa dimensão do trabalho
pedagógico e, essencialmente, garantir que os alunos elaborem conceitos e
aprendam significativamente os conteúdos e, nesse sentido, a avaliação na
concepção diagnóstica é um precioso instrumento a serviço do processo de ensino-
aprendizagem da matemática.
2 Reflexões teóricas a respeito da avaliação da aprendizagem
Avaliar é uma ação humana indispensável no fazer cotidiano. É um ato de
reflexão sobre as ações que nos permite analisar se estamos tendo êxito ou não
naquilo que nos propomos fazer ou, ainda, nos permite verificar se esses feitos não
podem ser aprimorados. Na interpretação de Hoffmann (1993, p. 95-96), avaliação é
juízo de valor:
Na Bíblia está que Deus estabeleceu juízos de valor sobre sua criação. Ao analisar seus feitos, considerou-os muito bons. Mas ao perceber o homem sem companheira julgou que não estava bom e imediatamente tomou providências. É histórico o sentido primeiro do juízo de valor: tomar imediatamente providências diante de juízos negativos.
Com isso, a autora deixa muito claro que a concepção de avaliação é uma
ação existente desde a criação da humanidade, sendo esse um processo contínuo e
natural aos seres humanos, uma prática realizada com o objetivo de melhorar aquilo
que foi proposto para ser feito. Essa visão se reforça com a afirmativa de
Vasconcellos (2005, p. 53), quando diz:
Avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos.
No cotidiano escolar, a avaliação deve ser um processo constante, como
uma investigação que proporciona a verificação das metas a serem atingidas e deve
ser vista como uma atividade dinâmica, que acontece durante todo o tempo,
promovendo a interação no processo de ensino-aprendizagem por meio de
intervenções baseadas nos dados obtidos durante a avaliação.
Historicamente, a avaliação educacional é tema de muito estudo e de muita
discussão na área de educação, constituindo, assim, uma literatura bastante ampla
e diversificada a respeito desse assunto.
Desde o início do século XX pesquisadores se dedicam a essa questão em
educação, no entanto a literatura da época estava mais voltada para testes que
visavam medir habilidades e aptidões.
Com o passar do tempo, o estudo sobre avaliação foi se ampliando, e as
pesquisas foram se voltando para procedimentos pedagógicos com foco no
desempenho dos alunos.
No estudo desenvolvido por Sousa (1995), ela faz um resgate histórico dos
estudos sobre avaliação em educação de autores como: Tyler (1949); Taba (1974);
Ragan (1964); Fleming (1970); Medeiros (1971); Viana (1973); entre outros. Nessa
análise, a autora, em síntese, apresenta assim as três funções básicas atribuídas à
avaliação:
– diagnosticar: verificar o grau de conhecimento do aluno (presença ou
ausência de habilidades), procurando descobrir os interesses e as necessidades,
tentando identificar as causas das dificuldades de aprendizagem apresentada desse
aluno;
– retroinformar: por meio da análise e da verificação dos resultados
alcançados no decorrer do processo de ensino-aprendizagem busca-se replanejar o
trabalho, visando sanar as dificuldades que foram detectadas. Essa, na verdade, é
uma das funções mais enfatizadas pelos autores, pois ajuda a tornar mais claros os
objetivos a serem alcançados, fornecendo bases para a tomada de decisões;
– favorecer o desenvolvimento individual: avaliar é um fator que estimula o
desenvolvimento do aluno, possibilitando-lhe conhecer-se melhor, avaliando seu
próprio progresso.
Dada a importância e a complexidade do processo avaliativo, outros
estudiosos continuaram se dedicando a essa questão. Hoffmann (1993, p. 95-96) fez
a seguinte afirmativa quanto à avaliação mediadora:
Analisar teoricamente as várias manifestações dos alunos em situação de aprendizagem (verbais ou escritas, outras produções), para acompanhar as hipóteses que vêm formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas de conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou a reformulação de hipótese preliminarmente formulada. Acompanhamento esse que visa o acesso gradativo do aluno a um saber competente na escola e, portanto, sua promoção a outras séries e graus de ensino.
Percebe-se que, para a autora, a avaliação é realizada utilizando-se de
vários instrumentos, dando oportunidade ao aluno de demonstrar seu aprendizado.
Segundo Luckesi (1999, p. 43), “[...] para não ser autoritária e conservadora, a
avaliação tem a tarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético
do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos”. A avaliação
não pode ser usada como forma de punição. Por meio da avaliação, o professor
poderá estar revendo a sua prática pedagógica, a partir do diagnóstico poderá traçar
novas metas que visem sanar as dificuldades que foram levantadas.
Para Hadji (2001), a passagem de uma avaliação normativa para a formativa
implica, necessariamente, uma modificação das práticas do professor em
compreender que o aluno é não só o ponto de partida, mas também o de chegada.
Seu progresso só pode ser percebido quando comparado com ele mesmo: Como
estava? Como está? As ações desenvolvidas entre as duas questões compõem a
avaliação formativa.
Considera-se ainda a importância da avaliação diagnóstica como atitude do
professor frente àquilo que precisa saber sobre o que o aluno já sabe e ainda não
sabe para (re)conduzir sua prática pedagógica. D’Ambrósio (1996, p. 70) afirma que
“A avaliação serve para que o professor verifique o que de sua mensagem foi
passada, se seu objetivo de transmitir idéias foi atingido – transmissão de idéias e
não aceitação e a incorporação dessas idéias e muito menos treinamento”. O
professor poderá observar se realmente está acontecendo o aprendizado.
A LDB (1996) sinaliza para uma avaliação da aprendizagem sendo “[...]
contínua e cumulativa, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos”. Avaliação contínua significa que a avaliação não deve ser realizada
em um dia específico por meio da aplicação de uma prova, mas sim continuamente
por diversos instrumentos para que o professor possa ter um maior controle do
desempenho dos alunos.
De acordo com a Deliberação n° 007/1999, do Conselho Estadual de
Educação do Estado do Paraná, no capítulo I, artigo 1°:
A avaliação deve ser entendida como um dos aspectos do ensino pelo qual o professor estuda e interpreta os dados da aprendizagem e de seu próprio trabalho, com a finalidade de acompanhar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos, bem como diagnosticar seus resultados e atribuir-lhes valor.
Vasconcellos (2005, p. 57, grifo do autor) entende que “[...] a principal
finalidade da avaliação no processo escolar é ajudar a garantir a formação integral
do sujeito pela mediação da efetiva construção do conhecimento, a aprendizagem
por parte de todos os alunos”. Percebe-se, assim, que a preocupação em relação ao
processo avaliativo é uma constante e que ela se constitui num processo contínuo e
cumulativo.
3 Avaliação em matemática
A análise de algumas tendências sobre avaliação tem por objetivo
compreender como esta ocorre no processo de ensino-aprendizagem em
matemática, buscando entender, junto aos professores atuantes nas quintas séries,
esse processo de avaliação e as divergências de concepções e de
encaminhamentos que possivelmente possam ocorrer nessa série.
Nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Estado do Paraná,
“[...] propõe-se formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que
compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que,
pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e
transformadora na sociedade” (PARANÁ, 2008, p. 31).
Assim, para que o processo de ensino-aprendizagem na disciplina de
matemática aconteça a contento, a avaliação deve estar presente em todos os
momentos da vida escolar do educando. Para isso é importante que o educador
tenha clareza do real sentido da avaliação. Segundo Luckesi (2005) e Hoffmann
(2000), a avaliação é uma “ferramenta” de caráter diagnóstico. Isto é, caminho pelo
qual o professor pode constatar o que os alunos realmente aprenderam, se eles
adquiriram os conhecimentos e as habilidades que são básicos para que, a partir
deles, ocorra aprendizagem, pois não faz sentido a constatação do que o aluno
aprendeu ou não se não houver uma ação pedagógica:
Dessa forma, o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela; mas sim como um meio de julgar a prática e torná-la estratificada. De fato, o momento de avaliação deveria ser um "momento de fôlego" na escalada, para, em seguida, ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca um ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. (LUCKESI, 2005, p. 34-35).
Em se tratando de ensino da matemática, o professor deve estar sempre
atendo em relação à compreensão dos conceitos fundamentais, pois são esses
conceitos que irão servir de base para o aprendizado da matemática durante o
percurso da vida escolar do aluno.
Na 5ª série, o aluno tem formado vários conceitos que aprendeu nas séries
iniciais e muitos deles ainda em processo de sedimentação, ou seja, na disciplina de
matemática esses conceitos são recursivos. Assim, é importante que o professor
dessa série faça inicialmente um diagnóstico para saber se realmente esses
conceitos foram elaborados para só depois dar prosseguimento aos conteúdos da
série em curso, norteando assim seu trabalho, dando prosseguimento à construção
do conhecimento pelo educando a partir do saber que ele já possui, sempre levando
em conta que
A avaliação deve ser contínua para que possa cumprir sua função de auxílio ao processo de ensino-aprendizagem. A avaliação que importa é aquela que é feita no processo, quando o professor pode estar acompanhando a construção de conhecimento pelo educando; avaliar na hora que precisa ser avaliado, para ajudar o aluno a construir o seu conhecimento, verificando os vários estágios do desenvolvimento dos alunos e não julgando-os apenas num determinado momento. (VASCONCELLOS, 2005, p. 71, grifos do autor).
Em matemática, essa ação é de fundamental importância, pois se o aluno
não compreender determinados conceitos que são pré-requisitos para a
continuidade do processo de aprendizagem, poderá ter defasagens que irão
prejudicá-lo ao longo de sua vida escolar. É sabido que a matemática é uma
disciplina que exige certa sequência. Assim, o avanço com o conteúdo pode
depender de conceitos anteriores e eles vão sendo requisitados na continuidade do
processo para a aprendizagem de novos conceitos e novos conteúdos.
Cabe ao professor direcionar seu trabalho de forma a proporcionar aos
alunos a aquisição dos conhecimentos matemáticos como instrumentos que
contribuem para a formação de sujeitos críticos, capazes de pensar e de lidar com
conceitos, argumentar e resolver problemas relacionados à vida prática e ao
prosseguimento dos estudos.
O professor de matemática tem que ter clareza em relação ao processo de
avaliação, ou seja, em relação aos critérios e aos instrumentos utilizados no ato de
avaliar. As situações-problema e demais atividades devem ser elaboradas com uma
descrição clara dos enunciados, possibilitando que o aluno interprete e desenvolva o
raciocínio matemático necessário ao que foi solicitado na atividade, permitindo ao
professor perceber se houve ou não aprendizagem. Esse procedimento orienta a
necessidade de possíveis intervenções no processo de ensino e de aprendizagem.
A avaliação deve ser um ato investigativo por meio do qual se faz o diagnóstico
sobre a condição de aprendizagem em que o aluno se encontra e quanto foi capaz
de compreender daquilo que lhe foi ensinado. Em matemática, para que esse
processo investigativo aconteça de forma produtiva, é preciso utilizar todos os
instrumentos possíveis de avaliação. Se os instrumentos forem bem elaborados e se
os critérios forem bem definidos, certamente a avaliação garantirá ao professor a
verificação do aprendizado do educando, norteando a reorganização e a retomada
sempre que necessário.
Não se pode ignorar que ainda existam professores que se utilizam somente da
prova escrita como único encaminhamento de avaliação da aprendizagem. Sabe-se
que é quase impossível verificar se houve aprendizagem utilizando-se de apenas um
único instrumento. A avaliação, nesse caso, não tem a função investigativa de
diagnosticar a dificuldade do aluno, pois visa tão somente a constatação daquilo que
não foi aprendido e transcrição do resultado em “nota” para fins de registro, fugindo,
assim, da concepção de avaliação, que é a de compreensão do processo de ensino-
aprendizagem. A avaliação, quando utilizada somente dessa forma, não valoriza o
conhecimento que o aluno possui, tornando-o um repetidor daquilo que decorou
para fazer a prova.
Os instrumentos de avaliação da aprendizagem em matemática devem ser
elaborados de forma clara e demonstrar objetividade. Assim, a diversificação desses
instrumentos se faz necessária, pois nenhum dos instrumentos é completo nem
fornece uma imagem nítida sobre toda a aprendizagem do aluno.
Os instrumentos utilizados devem possibilitar a intervenção adequada do
trabalho pedagógico. O professor precisa empenhar-se na utilização de uma
diversidade de instrumentos de avaliação coerentes com as formas como foram
trabalhadas as atividades em sala de aula. Esta, elaborada em uma linguagem clara
e objetiva, permite ao aluno expressar o que aprendeu e se a quantidade de
atividades cobradas não é excessiva ou aquém do que poderia ser cobrado.
Em relação aos critérios, estes devem ser estabelecidos em consonância
com os instrumentos de avaliação e de acordo com o nível de conhecimento
determinado pelos objetivos e pelas metodologias no plano de ensino. Esses
parâmetros devem permitir ao professor observar o nível de compreensão dos
conceitos matemáticos. Podemos dizer que os critérios norteiam e edificam uma
prática avaliativa de qualidade. A partir do momento em que se tem clareza do que
se quer verificar na aprendizagem do educando, temos clareza também nos critérios
que estabelecemos na organização do instrumento de avaliação. Para que se faça
uma análise confiável é preciso investigar questões como: – O aluno conseguiu
entender a questão da forma como foi elaborada? – O professor, ao corrigir,
conseguiu compreender qual foi o entendimento do aluno? – A atividade proposta é
coerente com os conteúdos propostos e trabalhados pelo professor?
4 Análise de erros
A análise de erros é uma forma de fazer do resultado do ato de avaliar algo
que significa muito mais que elencar erros e acertos, ou seja, algo que significa mais
um momento inovador no processo de aprendizagem do educando. A partir do
momento em que o professor passa a verificar os erros de forma investigativa, com
a finalidade de perceber o que o aluno aprendeu e o que ainda não aprendeu, faz do
processo de avaliação um ato interativo, possibilitando ao profissional fazer reflexão
sobre seu próprio trabalho.
A análise do erro nada mais é do que um processo de investigação que
permite ao professor ter clareza do direcionamento a seguir e também pode permitir
ao aluno a construção de conceitos matemáticos:
Mais do que corrigir, o professor precisa tentar entender o que está por trás dos registros – quais conhecimentos matemáticos o aluno mostra saber, quais conhecimentos ainda não sabe -, que ferramentas matemáticas ele utiliza para resolver situações em sala de aula – como lida com as informações contidas no problema. Enfim, o professor precisa fazer uma verdadeira investigação dos registros que servem como base para conversas sobre matemática com os alunos. (PEREGO e BURIASCO, 2005, p. 56).
Essas ações favorecem o desenvolvimento do aluno, dando-lhe
oportunidade de se expressar e de reorganizar suas ideias em busca de uma
solução correta, impedindo que os erros comuns do início da aprendizagem fiquem
estagnados, impossibilitando-o de avançar em sua aprendizagem.
É preciso ultrapassar a sistemática tradicional de buscar os absolutamente certos e errados em relação às respostas do aluno e atribuir significado ao que se observa em sua tarefa, valorizando idéias, dando importância às suas dificuldades, sugerindo-lhe o seu próprio prestar atenção. O respeito e a valorização de cada tarefa favorece a expressão por ele de crenças verdadeiramente espontâneas. (HOFFMANN, 1993, p. 84).
Trata-se de um momento de reflexão tanto do desenvolvimento do aluno
quanto do próprio trabalho do professor. A partir da análise do erro, o professor
poderá explorar a argumentação oral do aluno de forma a entender o raciocínio
utilizado, pois esse raciocínio nem sempre se apresenta de forma clara na escrita.
Essa investigação oral poderá permitir que, a partir do erro, o aluno refaça o
caminho para o entendimento chegando ao acerto.
A análise do erro deve ser vista sempre como um processo dinâmico,
processo esse em que o professor acompanha a construção do conhecimento do
aluno. Assim sendo, esse conhecimento deve acontecer de forma interativa com
vistas a proporcionar tanto ao aluno quanto ao professor a busca de novas
possibilidades de ensino e aprendizagem, permitindo ao professor um olhar que
busque orientar o aluno nas lacunas que ainda permeiam o erro para se chegar ao
acerto. Segundo Luckesi (2005, p. 57), “[...] quando atribuímos uma atividade a um
aluno e observamos que este não conseguiu chegar ao resultado esperado,
conversamos com ele, verificamos o erro e como ele o cometeu e reorientamos seu
entendimento e sua prática.” Com isso o aluno se sente seguro para desenvolver
seu raciocínio matemático, vê a pessoa do professor como um ponto de apoio, ou
seja, um elo que faz com que consiga construir seus conceitos matemáticos de
forma lógica, refletindo sobre sua aprendizagem. Sobre essa questão da mediação
do professor durante a análise do erro, Pinto aponta que na evidência de dificuldade,
Na análise das respostas dos alunos, o importante não é o acerto ou o erro em si - que são pontuados em uma prova de avaliação da aprendizagem –, mas as formas de se apropriar de um determinado conhecimento, que emergem na produção escrita e que podem evidenciar dificuldades de aprendizagem. (PINTO, 2007, p. 63).
Os erros podem e devem ser subsídios para o trabalho do professor porque
permite organizar uma ação pedagógica que vá ao encontro das dificuldades
observadas, favorecendo a construção do saber que vai sendo desenvolvido pelo
aluno. Segundo Cury (2007, p. 63), “[...] ao procurar entender as formas como o
aluno produziu a resposta, certa ou errada, o trabalho pode contribuir para a
construção de novos patamares de conhecimento.”
5 Encaminhamentos metodológicos
O processo de realização deste estudo compôs-se de elaboração de projeto
de pesquisa e de intervenção pedagógica na escola, além de estudos e
fundamentação teórica e da elaboração de uma unidade temática como material de
apoio. Como ação de implementação prevista no PDE, foi realizado trabalho com um
grupo de cinco professores de matemática, sendo que dois atuavam na quinta série
e no Programa Sala de Apoio à Aprendizagem e outros atuavam como pedagogo,
técnico-pedagógico e diretor, todos do município de Assis Chateaubriand, no
Paraná. O grupo teve duração de 32 horas de estudos presenciais, realizados no
segundo semestre de 2010.
Os sujeitos envolvidos neste estudo são professores que possuem
graduação em matemática, também alguns possuem especialização em pedagogia
e todos, no decorrer do grupo de estudos, demonstram grande comprometimento
em relação ao processo de avaliação da aprendizagem e, para se aperfeiçoarem no
seu trabalho, participam, sempre que possível, de cursos de formação continuada.
No grupo de estudos, para os encaminhamentos metodológicos, no primeiro
encontro aplicamos um instrumento de pesquisa visando perceber as concepções
que os participantes tinham a respeito do tema. Esse diagnóstico serviu-nos na
escolha de textos para discussão em cada encontro. Na sequência foram realizados
estudos e discussões desses textos que fundamentam o processo de avaliação com
ênfase nos procedimentos, nos critérios e nos instrumentos, na perspectiva da
avaliação diagnóstica e na análise do erro. Esses textos fazem parte da unidade
didática e outros que complementavam o debate a cada encontro, como, por
exemplo, estudos e discussões dos amparos legais que norteiam o processo
avaliativo e que entendemos deverem ser do conhecimento de todos os profissionais
da educação.
O questionário de pesquisa foi aplicado como alternativa de perceber como
os professores concebem a avaliação da aprendizagem em matemática. Esse
questionário continha questões semiabertas com o objetivo de que a análise das
respostas pudesse orientar e dar subsídio para as discussões no decorrer dos
demais encontros do grupo. As respostas foram categorizadas e analisadas
contemplando fundamentação teórica que ajudasse, no decorrer dos encontros, os
professores a revisarem as concepções reveladas no diagnóstico e esse diagnóstico
serviu de referência para o planejamento dos encontros.
6 Análise e reflexões das discussões realizadas
Nesse primeiro momento relatamos as respostas atribuídas a cada questão
de natureza investigativa do questionário aplicado aos sujeitos no início do grupo de
estudos. Esse relato sobre as respostas que os professores deram objetivou a
organização das discussões para os demais encontros. Ao serem questionados
sobre a concepção de avaliação da aprendizagem em matemática, eles
consideraram que:
(A) Avaliar é uma simples visão que temos de tudo que o aluno assimilou, embora devemos principalmente dar maior importância no seu sucesso e orientá-lo no seu fracasso. (B) Como toda avaliação, deve ser contínua, levando em consideração o conhecimento prévio do aluno e seu desenvolvimento prévio no momento em que está sendo avaliado. (C) A avaliação da aprendizagem matemática acredito ser mais uma avaliação do professor, isto é, uma verificação se a maneira trabalhada está alcançando o entendimento do aluno, é o momento de rever atitudes, metodologia e até mesmo as condutas aluno/professor, professor/aluno e família. (D) A avaliação é algo importante a ser feita, mas ela tanto pode ser feita paralela, ou seja, escrita, como participativa em sala de aula. (E) A avaliação em matemática deve ser entendida como um processo pelo qual o educando compreenda os números e sua relação com as coisas no mundo, sua importância em cada situação no qual ela contribua para seu trabalho.
Pode-se perceber que os professores expressam que a avaliação merece
sempre uma atenção especial demonstrando preocupação em relação ao
aprendizado do aluno e à orientação em relação ao trabalho deles. Podemos
enfocar aqui a concepção de avaliação segundo Luckesi (2005, p. 81), quando diz
que “[...] a avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do
estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar
decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de
aprendizagem”. Assim, a avaliação da aprendizagem é um processo que conduz a
uma melhoria na qualidade do aprendizado do aluno e essa concepção parece estar
incorporada pelos professores.
Outra questão investigativa foi em relação ao papel que desempenha a
avaliação no processo de aprendizagem do aluno, para a qual houve os seguintes
entendimentos:
(A) O principal papel da avaliação é observar até o ponto que o aluno atingiu no seu intelectual científico, como na análise vivenciada de sua prática diária. (B) É um parâmetro que o educador e educando possui para saber se está ocorrendo um aprendizado, a avaliação é mais importante para o professor do que para o aluno, pois serve de ponto norteador para o seu trabalho. (C) Na matemática a avaliação muitas vezes serve como fixação do conteúdo, o aluno acaba aprendendo algo a mais. (D) Muitas vezes a avaliação é algo onde os alunos se sentem pressionados a fazer o que já demonstraram saber, e se não fizer o mesmo não “provam” que aprenderam o conteúdo. (E) Serve para perceber, observar, medir a evolução da aprendizagem do educando e sua progressão.
Nesses relatos percebemos que os professores demonstram clareza de que
a avaliação desempenha a função de diagnosticar o nível de aprendizagem do
aluno, servindo de parâmetro para novas ações pedagógicas. O sujeito “D”
reconhece o fator psicológico interferindo na atitude do aluno e o lado perverso da
concepção de avaliação punidora que ainda se mostra presente na escola.
Como forma de melhor compreender a concepção de avaliação da
aprendizagem e qual é o papel que desempenha no processo de ensino e na
aprendizagem, que é o propósito desta implementação, apoiamo-nos no artigo “O
que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem?” (LUCKSI, 2004). Esse texto orienta
o trabalho do professor ao destacar que “[...] o ato de avaliar consiste em dois
processos: o diagnosticar e o decidir. E não há avaliação sem constatação”. Vimos,
assim, que o ato de avaliar é muito mais do que uma simples constatação do
desempenho do aluno, pois tem a função maior de orientar um trabalho, fazendo do
ato de avaliar um recurso que leva o aluno à aprendizagem significativa. Também o
texto “Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso” (LUCKESI, 2005) foi
estudado e discutido pelo grupo e levou à compreensão da importância de se
conhecer melhor cada aluno no sentido de desenvolver um trabalho que vá ao
encontro das suas necessidades para saná-las. Pela leitura desse texto (2005, p.
169) se consegue distinguir, claramente, avaliação de julgamento, especialmente
quando diz que “O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o
primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação,
para então (e só então) ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de
mudança, se necessário”.
Essa reflexão nos mostra que temos que acolher o aluno no sentido de
compreender o estágio de aprendizagem em que ele se encontra e, a partir desde
conhecimento, organizar-se pedagogicamente para dar o suporte que necessita para
o seu desenvolvimento.
Na continuidade das discussões e reflexões em grupo foi estudado o texto
“O nó: avaliação e aprendizagem significativa” (BORDONI, 2002). Essa leitura
proporcionou ao grupo detida reflexão de que o ato de avaliar exige, antes de tudo,
que os professores se conheçam como profissionais da educação, dando sentido ao
seu trabalho e visando uma atuação de inserção tanto sua, quanto dos educandos,
no sentido de formação pessoal, social, intelectual e profissional. Sendo assim,
devem-se criar mecanismos de trabalho que permitam que o aluno participe, de
forma consciente, como sujeito do processo, procurando refletir mais sobre a
qualidade do seu aprendizado. O professor deve intervir sempre de forma dinâmica,
por meio de questionamentos, levando os alunos a refletirem sobre o conteúdo que
está sendo estudado, percebendo assim seu próprio progresso. Essa discussão
levou o grupo a refletir também sobre as atitudes dos professores quanto a terem
que conhecer a si mesmos antes de tudo, para que possam desempenhar o papel
de educador.
Também o estudo do texto “Verificação ou avaliação: o que pratica a
escola?” (LUCKSI, 2005) proporcionou clareza sobre o que é verificação da
aprendizagem e o que é avaliação da aprendizagem.
A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação. (LUCKSI, 2005, 93).
Foi então visto que a avaliação é um processo que objetiva uma tomada de
decisões, ao passo que a verificação, por sua vez, é um processo que termina com
a constatação. Esse momento de discussão e reflexão em grupo foi rico porque
proporcionou uma compreensão clara sobre a função e a disfunção da avaliação.
Quando se analisa a prática docente percebe-se que ainda é muito notória a prática
da verificação ao invés da avaliação. Então se conclui que, muitas vezes, o
professor aplica uma prova, corrige, transcreve o resultado para o registro de classe,
porém não reencaminha a prática pedagógica diante de resultados negativos.
Visando um levantamento sobre a questão do diagnóstico no início da quinta
série, questionamos sobre qual deve ser a postura do professor de matemática da
quinta série, antes de iniciar o trabalho com os conteúdos da série:
(A) Na quinta série o professor será um mediador do aluno tendo uma visão de virtudes e defeitos. A sua formação de como estuda dependerá muito do seu professor na quinta série no início de cada conteúdo, primeiramente fazer uma investigação sobre sua capacidade intelectual. (B) O professor deve ter um conhecimento prévio do conhecimento de seus alunos para iniciar o trabalho com os mesmos não deixando lacunas entre o conhecimento existente e o que pretende atingir, com isto o rendimento será maior. (C) Sempre fazer um diagnóstico da turma, pois muitas vezes precisamos trabalhar um pouco os conteúdos da série anterior, para que possamos começar uma caminhada mais tranqüila. (D) No meu ver o professor deve conhecer a ficha, ou seja, aquilo que o aluno trouxe na hora da matrícula para saber se o aluno tem ou não alguma dificuldade, se foi realizado um trabalho diferenciado com o mesmo nas séries iniciais, para que possa realizar um bom trabalho. (E) Fazer um diagnóstico de cada educando, resgatar da turma os conteúdos que eles já trabalharam e o que ainda não aprenderam bem, perceber o perfil da turma e verificar se há alguma particularidade para trabalhar, cuidar da relação professor-aluno.
Nesses relatos observamos que o professor tem clareza da necessidade de
realizar uma avaliação diagnóstica no início de trabalho em cada série, e que essa
avaliação requer uma atitude investigativa. Especialmente na quinta série,
considerando que o aluno vem de outro sistema escolar, isso solicita do professor,
logo no início do trabalho da quinta série, um cuidado e um rigor com essa atividade
de modo que permita balizar seu plano de ensino.
Certamente, se quiser direcionar um trabalho de qualidade, tem-se que
diagnosticar o nível de compreensão dos conteúdos matemáticos em que o aluno se
encontra. Luckesi (2005, p. 82), ao se reportar à avaliação diagnóstica, afirma que,
“[...] para que a avaliação diagnóstica seja possível, é preciso compreendê-la e
realizá-la comprometida com uma concepção pedagógica”. Para isso é importante
que o professor observe, especialmente no início da quinta série, o comportamento
e as atitudes do aluno para conhecer como ele se relaciona em sala de aula durante
as atividades. Cabe observar se o aluno faz questionamentos ao professor, se
participa das atividades coletivas, se faz leitura em voz alta, se vai ao quadro de giz
quando solicitado, etc.
Nesse sentido, as atividades propostas para o processo de diagnóstico
inicial devem privilegiar todas essas dimensões, considerando que esse processo
pode ser realizado de várias formas. Inclusive em relação ao processo de ensino-
aprendizagem, ao se referirem à avaliação, as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica (2008, p. 31) apontam que
Essas práticas devem possibilitar ao professor verificar se o aluno: - comunica-se matematicamente, oralmente ou por escrito (BURIASCO, 2004); - compreende, por meio de leitura, o problema matemático; - elabora um plano que possibilita a solução do problema; - encontra meios diversos para a resolução de um problema matemático; - realiza o retrospecto da solução de um problema.
Sendo assim, não é qualquer atividade que possibilita um bom diagnóstico.
Temos que trabalhar com atividades diversificadas para obter o maior número de
informações possíveis sobre o conhecimento matemático que o aluno possui. Trata-
se de trabalhar com situações-problema que exijam do aluno uma reflexão para
chegar à resolução de forma compreensiva. É importante trabalhar no sentido de
levá-lo a registrar e a socializar suas conclusões. Assim, as atividades devem
privilegiar ação individual e coletiva de alunos.
Ao questionar sobre o que são critérios adotados na elaboração de uma
avaliação, os professores participantes do grupo de estudos apontaram que:
(A) Os critérios adotados deverão estar consonantes com tudo o que foi estudado para uma avaliação acessível a todos. (B) São meios adotados para acompanhar o desenvolvimento dos alunos em um determinado período, como observação, trabalhos em grupo, trabalhos individuais, provas, etc. (C) Os critérios são maneiras variadas de acordo com o potencial de cada aluno. Estabelece peso para cada questão quando escrita, ou na observação, o nível de interesse e dedicação na elaboração ou execução das atividades propostas, respeitando sempre o limite de cada aluno quando alunos com necessidades especiais. (D) É algo que possa ajudar o aluno desempenhar um ótimo trabalho em sala de aula, e que possa sanar as dúvidas, pois alguns alunos têm maneiras diferentes de aprendizado. (E) Critério penso que é o que quero definir no conteúdo que deve ser trabalhado, de que forma queremos que seja compreendido aquele conhecimento.
Os sujeitos “A” e “E” mostram ter claro o conceito de critério e a definem
como orientador para atingir objetivos de ensino. O sujeito “B” concebe critério como
instrumento; “C” interpreta critério como observação de aspectos psicológicos
envolvendo comportamento e atitudes de alunos, o que distancia do objetivo de
avaliação no sentido de acompanhamento do nível de aprendizagem. O sujeito “D”
considera a subjetividade do aluno, considerando que a avaliação deve atender à
individualidade desse aluno. Ou seja, percebemos que os critérios de avaliação
ainda são confundidos com instrumentos de avaliação ou com outros fins, o que
revela que a concepção de avaliação, na prática, ainda pode não estar se atendo
aos seus fins. Outra possibilidade é de que o professor não tenha claro o conceito
de “critério”, ou seja, essa palavra não tem significado e sentido claro. Enfim,
percebemos que, possivelmente, na prática em sala de aula, os critérios não são
entendidos como uma dimensão essencial da avaliação, como aquilo que se quer
investigar na aprendizagem do aluno, qual o grau de conhecimento que ele tem de
um determinado conteúdo. A partir dessa clareza é que se define qual forma usar
para fazer essa averiguação, como se vai organizar a avaliação e ter clareza do
objetivo que se quer atingir a partir do planejamento dos conteúdos.
Em relação aos instrumentos avaliativos destacados como relevantes para o
processo de ensino-aprendizagem, foi então questionado sobre o que determina o
tipo de instrumento que utilizado para avaliar e que tipo de instrumentos foi utilizado
para avaliar, quando os professores participantes do grupo de estudo consideraram
que:
(A) O instrumento utilizado dependerá de cada aluno, pois estamos deparando com seres heterogêneos, assim para cada um devemos utilizar instrumentos diferenciados, o que serve para um, não serve para o outro. De acordo com a visão, do conhecimento de cada aluno, utilizamos maneiras diferenciadas, analisando suas dificuldades, características, como também, sua forma de ser no ambiente escolar. (B) A avaliação poderá ocorrer por meio de observações, trabalhos em grupos, trabalhos individuais, provas, conhecimento prévio, etc. (C) De acordo com a complexidade do conteúdo, e aplicabilidade do mesmo. Podendo se dar por intermédio de provas, debates, trabalhos de classe e extraclasse, seminários, observações do desenvolvimento do aluno (alguns sabem muito, mas evoluíram pouco, outros sabem menos, mas evoluíram muito em relação ao bimestre anterior). (D) O que determina é como os alunos estão em sala de aula, como eles se desenvolvem a cada conteúdo trabalhado, isso fará com que o professor possa buscar maneiras diferenciadas de avaliar os mesmos. Participação, desempenho, avaliação teórica e descritiva. (E) A partir dos critérios, definimos os instrumentos utilizados. Testes, avaliação descritiva, oral, em grupo, seminários, pesquisas, etc.
O sujeito “A” revela maior preocupação com a subjetividade do aluno do que
a percepção da necessidade de o instrumento ser o objetivo o mais preciso possível
no sentido de ser coerente com os encaminhamentos feitos em sala e contribuir para
revelar o que o aluno sabe. O sujeito “D” parece não ter muito claro o conceito de
instrumento, pois “desempenho e participação” pode ser um critério, se bem
definido.
A partir dessas concepções, foi possível planejar e conduzir o debate no
grupo levando-os à reflexão de que os instrumentos são meios que se utilizam para
investigar a aprendizagem, quando se ressalta que os critérios e os instrumentos de
avaliação da aprendizagem devem ser claramente entendidos e percebidos como
fatores indispensáveis no decorrer do processo. Como fundamentação teórica para
uma melhor compreensão desse assunto foi realizado estudo dos textos “Avaliação
– um processo intencional e planejado” e “Critérios e instrumentos de avaliação em
matemática” (PARANÁ, 200?). Nesses textos, os instrumentos de avaliação são
concebidos como meios para a coleta de informações da aprendizagem dos
educandos e refletem sobre a importância de se terem critérios bem definidos para
poder atingir o objetivo pretendido no momento da avaliação.
Desse modo, é por meio do estabelecimento de critérios que o aluno pode
entender qual é a intenção de aprender determinados conteúdos, quais são os
conhecimentos que se espera que sejam adquiridos por ele e qual é o foco do
processo de ensino-aprendizagem. Ressaltamos que não se pode confundir o
instrumento de avaliação com o ato de avaliar em si. O instrumento é um meio que
usamos para avaliar e a avaliação deve acontecer o tempo todo durante o processo
de ensino-aprendizagem e ela deve ser um semáforo indicador das ações
pedagógicas em sala de aula. Isto é, devem-se usar de todos os instrumentos
possíveis, especialmente se eles estiveram de acordo com os encaminhamentos
das atividades realizadas em sala. Por exemplo, seria incoerente o professor
trabalhar um conteúdo usando jogo e computador e, ao avaliar o aprendizado desse
conteúdo, aplicar uma prova escrita, a menos que, intercalado a essa atividade, o
professor tenha privilegiado o registro escrito da sistematização e da síntese do
aluno. Ou seja, o instrumento deve propiciar a coleta do máximo de informações a
respeito da aprendizagem dos educandos. Todos os instrumentos, desde que
elaborados coerentemente com o trabalho desenvolvido em sala, fornecem
informações sobre a aprendizagem do aluno e todos devem ser trabalhados de
forma a obter mais subsídios para a intervenção pedagógica do professor.
Em se tratando da análise do erro na avaliação em matemática, esta é uma
tendência que ainda está sendo pouco trabalhada, porém promissora para o
processo de ensino-aprendizagem. Com essa visão, foi questionado se a análise do
erro é trabalhada de forma investigativa pelo professor e foi solicitado que
justificassem, ao que se obtiveram as seguintes respostas:
(A) Analisar o erro é muito mais difícil do que justificar o acerto, mas trabalhando de forma investigativa, podemos chegar a um denominador comum, mostrando o porquê de cada erro. (B) Com certeza, com nossos erros é que aprendemos a melhorar no nosso dia a dia e também através dos erros de nossos educando podemos melhorar nossa prática pedagógica. (C) Sim, após observar e constatar o erro o professor deve fazer uma autoanálise das causas daquele erro e como saná-lo. (D) Sim, pois através do erro dos alunos, podemos buscar maneiras diferenciadas de trabalhar, e com isso fazer com que o aluno aprenda, ou seja, compreenda o que esta sendo aplicado. (E) O erro deve ser objeto importante para avaliar também o professor, seus critérios adotados.
A expressão “análise do erro” parece autorrevelar sua concepção, o que se
evidência nos relatos dos professores, embora não fiquem evidentes as estratégias
de como eles fazem isso. O que parece ter-se revelado, até aqui, é que, para esses
professores, essas concepções confirmam a clareza da função diagnóstica e
processual da avaliação.
Na disciplina de matemática, os erros acontecem com muita frequência,
sendo eles das mais variadas formas e podem revelar o nível de dificuldade em que
o aluno se encontra. As respostas acima transcritas permitem perceber que a
tendência de análise do erro em matemática está tendo um avanço significativo, o
que é um sinal de que estamos avançando na compreensão da função da avaliação,
inclusive na análise específica dos problemas de ensino-aprendizagem da
matemática quando se percebe, por exemplo, que a análise do erro, como tendência
avaliativa em matemática, mostra sua potencialidade. Por outro lado, neste estudo
não foi possível investigar como, na prática de sala de aula, esse processo vem
acontecendo.
Também foi feito questionamento sobre qual deve ser o procedimento do
professor em relação ao erro cometido pelo aluno em uma avaliação formal, e o
entendimento foi de que:
(A) Saber explicar por que errou já é um bom motivo de entender o porquê do erro. (B) Às vezes o que o professor está passando para eles está claro mas para o aluno não, e o que devemos atingir é o aluno, afinal trabalhamos para o aprendizado dos mesmos. (C) Acredito que o professor de forma individual deve questionar o aluno para que ele próprio consiga descobrir o erro, que muitas vezes são erros por falta de atenção. (D) O professor deverá trazer o erro para a sala de aula, e procurar expor de maneira clara e objetiva, onde o aluno esclareça a dúvida sem constrangimento. (E) Reavaliar todo o seu processo de trabalho, seu PTD (Plano de Trabalho Docente), se o que está cobrando é pontual.
Somente o sujeito “E” parece entender a análise do erro apenas como um
fator de reorientação do seu trabalho, na forma de perceber precisamente onde e
por que o aluno está errando, levando-o o tomar consciência deste para
compreender o conceito.
O objetivo da avaliação, como já se viu acima, é investigar o aprendizado do
aluno para então desenvolver ações que busquem resolver as dificuldades
observadas. Assim, o erro não pode ser ignorado, e sim deve servir de referencial
para o encaminhamento pedagógico do professor no sentido de levar o aluno a se
confrontar com o seu engano e avançar na aprendizagem. Segundo Berti (2008, p.
4), “[...] se o conhecimento é compreendido como algo que se constrói, os erros são
elementos potenciais no planejamento das atividades docentes, tendo em vista que
possibilita a ação do professor pautada naquilo que o aluno precisa aprender ou
compreender”.
E ainda se questionou se o professor acha importante fazer a análise do erro
juntamente com o aluno:
(A) Simplesmente mostrar ao aluno de forma diferente utilizando o mesmo conteúdo e procurar o motivo que o erro foi efetivado. A correção do erro será muito importante ser feita juntamente com o aluno, pois uma boa análise dependerá da origem do erro. (B) Com certeza, pois é através de conceito dos erros é que aprendemos, e vemos o caminho correto onde devemos chegar. (C) Sim. Quando fazemos os apontamentos dos erros juntamente com o aluno eles dificilmente cometem novamente o mesmo erro, salvo aqueles que não têm interesse. (D) Sim, pois com isso o professor demonstra que está preocupado com o aprendizado dos mesmos, e que existe maneiras diferentes de desenvolver um certo conteúdo. (E) Deve, sim. Reaprendemos juntos.
Os professores novamente revelam um entendimento claro dessa forma de
analisar e conduzir o trabalho em sala de aula no sentido de que o erro seja
estratégia de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o erro é o caminho para o
acerto, desde que se passe a compreender o que é que está errado, pois, segundo
Luckesi (2005), o ser humano é um ser em desenvolvimento, um ser em construção
permanente. Isso ajuda a explicar por que o erro faz parte da construção do saber.
Para conduzir os estudos desse tema no grupo de estudos, foi usado, como
um dos subsídios, o texto “O erro: uma estratégia para a individualização do ensino”
(PINTO, 2004). Esse texto traz, com riqueza de detalhes, como esse trabalho com a
análise do erro em matemática pode ser conduzido pelo professor em sala de aula,
tendo como foco principal investigar a causa do erro para uma intervenção
adequada do trabalho pedagógico.
Para uma melhor qualidade do trabalho com análise do erro, o professor
deve abrir mão de todos os argumentos investigativos possíveis em relação à forma
de como o aluno compreendeu e desenvolveu o raciocínio matemático no ato de
resolver a situação proposta pelo professor, fazendo questionamentos que levem o
aluno a perceber o engano que leva a adoção de estratégias inadequadas durante a
resolução de uma atividade matemática.
A análise do erro deve ser trabalhada tanto nas atividades desenvolvidas
diariamente em sala de aula quanto nas atividades desenvolvidas nos instrumentos
de avaliação propostos, como: provas, testes, relatórios, portfólios, etc., pois o uso
dos instrumentos e dos critérios adotados só tem sentido se o professor investigar
as dificuldades apresentadas pelos estudantes. A importância do trabalho com a
análise do erro é que permite ao professor perceber como está acontecendo a
construção do conhecimento por parte do aluno. Isso faz com que o professor
perceba como direcionar sua ação pedagógica, sendo um mediador constante do
processo de ensino e aprendizagem da matemática. Esse modo de
encaminhamento pedagógico em sala de aula é de fundamental importância para a
ação docente no sentido de direcionar a aprendizagem do aluno de forma
significativa, desmistificando o ‘tabu' de que errar e ‘coisa de aluno atrasado’, pois o
erro passa a ser administrado como um conhecimento em construção. Segundo
Pinto (2004, s.n.), “[...] acredita-se na possibilidade de o erro poder tornar-se uma
valiosa alavanca para o professor enfrentar as diferenças na sala de aula e poder
acompanhar, de forma efetiva, a aprendizagem escolar”.
Ao finalizar os trabalhos no grupo de estudos, foi proporcionada a realização
de palestra com o tema “A análise do erro sob a perspectiva didático-pedagógica no
ensino aprendizagem da matemática: um estudo de caso na 5ª série” (BERTI, nov.
2010). A finalidade desse trabalho visou à compreensão, por parte dos professores,
dos fundamentos e das concepções que orientam a tendência avaliativa sobre a
análise do erro. Nesse sentido, entende-se ser importante que o professor observe o
motivo do erro, evidenciando se o professor não explicou de forma que o aluno
entendesse; se o aluno tem dificuldade em matemática; se o aluno estava distraído;
se o aluno estava com algum problema pessoal; etc. Essa postura pedagógica do
professor é imprescindível para o êxito do processo de ensino-aprendizagem, pois,
segundo Berti (2010), o ensino reflete a concepção de conhecimento e de
aprendizagem.
O professor deve atentar também para a questão da heterogenia, isto é,
verificar se o aluno está respondendo de acordo com o seu próprio raciocínio ou se
está sendo influenciado pelo colega. Outro aspecto que pode ser revelado nesse
processo é a questão do trauma com a matemática, pois há alunos que, por algum
fato ocorrido durante a escolaridade, apresentam algum tipo de trauma na forma de
aversão ou de dificuldades de compreensão da matemática. Para Luckesi (2005, p.
53), “A culpa gera uma limitação da vida e produz uma rigidez na conduta, o que, em
última instância, produz um autocontrole sobre os sentimentos, os desejos e os
modos de agir de cada um”. Para a superação desse estado, cabe ao professor
trabalhar a matemática de forma agradável, sempre atentando para os erros
cometidos por esse aluno e intervindo de forma a fortalecer sua confiança em si
mesmo. Agindo dessa forma, o professor sutilmente estará colaborando para a
superação das dificuldades do aluno. Nesse sentido, Pinto (2004, s.n) afirma que
“[...] o grande obstáculo a ser superado num trabalho de tratamento de erros é o
professor agir com inventividade e imaginação. Em matemática, isso significa propor
verdadeiras situações-problema possíveis de desestruturar esquemas já
estabelecidos, e assim mediar a construção de novos conhecimentos.”
Assim, o erro, este não pode, por uma questão de princípio educativo,
passar despercebido ou protelado pelo professor e nem pelo aluno. A ação
pedagógica deve acontecer de imediato, no momento em que o erro se apresenta,
pois o aluno se encontra em um processo de construção do conhecimento, portanto
é possível e normal que o erro aconteça, mas o professor não pode deixar o aluno
continuar com dúvidas, pois isso gera uma fragmentação na elaboração dos
conceitos e na sedimentação dos conteúdos, o que poderá prejudicá-lo daí para
frente, durante toda sua vida escolar e profissional. O erro tem de ser entendido
como algo provisório, algo que mostra até onde o aluno sabe, porém o aluno pode
superá-lo com o apoio pedagógico do professor e com o apoio dos colegas por meio
da realização de atividades coletivas.
A investigação permite ao professor ter clareza do direcionamento a seguir,
possibilitando fazer uma reflexão sobre o seu trabalho. Também pode permitir ao
aluno a construção e a reconstrução de conceitos matemáticos. Segundo Pinto
(2004, s.n.), “Trabalhar os diferentes tipos de erros dos alunos, localizando suas
variadas fontes geradoras é entrar num ensino diferenciado. Mas, para isto é preciso
envolver o aluno nessa nova utilização do erro, propondo novas alternativas de
correção e de apoio pedagógico”.
O professor precisa dar oportunidade ao aluno de se expressar e de
reorganizar suas ideias em busca de uma solução correta. Para Hoffmann (1994, p.
84), “É preciso ultrapassar a sistemática tradicional de buscar os absolutamente
certos e errados em relação às respostas do aluno e atribuir significado ao que se
observa em sua tarefa, valorizando idéias, dando importância às suas dificuldades,
sugerindo-lhe o próprio prestar atenção [...]”, ou seja, estabelecer em sala de aula
uma relação dialética com os alunos.
7 Considerações finais
No decorrer do período de realização deste trabalho do PDE e
especialmente como a participação dos professores no grupo de estudos, foi
possível confirmar a grandeza e a complexidade do processo avaliativo em
matemática. Isso reforça o entendimento de que o trabalho docente requer
discussão e reflexão teórica e diversas oportunidades de troca de experiências. O
professor não pode ficar alheio às mudanças e transformações, deve participar e ser
sujeito da dialética no sentido de inovar sua prática diária, visando sempre à
melhoria da qualidade do seu trabalho. Enfatiza-se, então, que este estudo se
mostrou relevante no sentido de proporcionar reflexões teóricas sobre as práticas
avaliativas em matemática.
Cabe observar que o momento de aplicação do questionário foi de reflexão
individual de cada professor ao responder às questões, o que suscitou neles o
interesse em aprofundar os estudos e as discussões a respeito do assunto. Todos
fizeram comentários a respeito do processo avaliativo, demonstrando preocupação
em relação ao processo e relacionando situações respondidas nas questões com os
encaminhamentos dados para a sua atuação profissional em sala de aula. As
considerações levantadas deixaram muito evidentes que esse tema é preocupante
dada a sua importância para o processo de ensino-aprendizagem da matemática.
As reflexões sobre os amparos legais que normatizam o processo de
avaliação da aprendizagem revelaram um grande desafio e responsabilidade em
relação a esse processo no cotidiano escolar. Neste estudo, no que se refere à
disciplina de matemática, conclui-se que o desafio é ainda maior no sentido de fazer
com que o educando não desenvolva apatia em relação à disciplina, até mesmo pela
exigência de que a avaliação seja traduzida em forma de notas (valor numérico) em
função dos registros exigidos pelo sistema educacional.
Os procedimentos avaliativos no início da quinta série realizados com a
função de diagnosticar o nível de conhecimento dos alunos foi uma prática cuja
necessidade ficou bastante evidente dada a sua importância para o
encaminhamento dos conteúdos no decorrer dessa série. Assim, numa perspectiva
de rupturas entre o primeiro e o segundo segmento do ensino fundamental, ou seja,
na passagem da quarta para a quinta série, o trabalho de diagnóstico é
imprescindível, isso porque proporciona a articulação dos trabalhos com os
conteúdos matemáticos a partir dos saberes que os alunos trazem, visando à
continuidade dessa modalidade com garantia de qualidade de ensino e de
aprendizagem de matemática.
A avaliação diagnóstica permite ao professor organizar o trabalho
pedagógico com base nas dificuldades de aprendizagem dos alunos e deve prever
as situações possíveis em relação ao conhecimento matemático do aluno ou da
turma. Gimeno-Sacristán e Peréz Gomes (1998, p. 327), quando se referem à
avaliação no sentido de diagnóstico, dizem que “A avaliação justifica sua utilidade
pedagógica quando é utilizada como recurso para conhecer o progresso dos/as
alunos/as e o funcionamento dos processos de aprendizagem com o fim de intervir
em sua melhora”.
Diante do desafio de que esse diagnóstico seja realizado como estratégia de
orientação do trabalho docente e no sentido de contribuir e aprimorar esse processo,
foram organizadas algumas atividades, a título de sugestão, com a finalidade de
avaliação diagnóstica, especialmente no início da quinta série, ou seja, um
instrumento orientador do trabalho do professor que permita a ele analisar que
conhecimentos cada aluno já tem e o que ainda precisa aprender. O professor deve
observar se o aluno consegue desenvolver as atividades individualmente e que
dificuldades ele apresenta ou conceitos que precisam ser elaborados ou
reelaborados, pertinentes ao nível de quarta série, para que consiga ter sucesso na
sequência dos conteúdos de matemática na quinta série.
O estudo sobre a análise do erro em matemática nos propiciou um grande
avanço em relação à compreensão dessa tendência, quando no grupo se percebeu
e se enfatizou a importância dessa prática docente na construção do conhecimento
matemático do educando.
Assim, os resultados da aprendizagem dos alunos no processo avaliativo
não podem deixar de ser investigados, visto que permitem ao professor e ao aluno
novas descobertas em relação ao avanço na sua formação. A avaliação é uma ação
educativa que leva o professor a perceber o grau de dificuldade do aluno em
assimilar o conceito matemático que está sendo trabalhado. Neste sentido, o
trabalho com a análise do erro propiciou aos sujeitos envolvidos neste estudo uma
visão da dimensão da análise do erro como potencial na construção do
conhecimento elaborado pelo aluno, defesa essa feita por Pinto (2004, s.n) quando
afirma que “Rever a função que o erro cumpre no processo de ensino-aprendizagem
faz parte de uma nova prática avaliativa”.
No decorrer dos trabalhos no grupo de estudos, os participantes puderam
dar seus depoimentos em relação à prática observada no cotidiano escolar.
Percebeu-se que ainda existe a prática da avaliação que se reduz à aplicação de
provas, de testes e de trabalhos visando somente a “nota”, distanciando-se dos
apontamentos teóricos e dos discursos sobre a prática de sala de aula. Por outro
lado, porém, o avanço, pelo menos em nível do que pôde ser observado nas
reflexões do grupo, já foi muito significativo, considerando também que esses
professores participaram de outros momentos de formação continuada sobre o tema
proporcionados pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, especialmente
no período 2003-2010, quando a avaliação foi concebida como uma prática
subsidiária do trabalho pedagógico do professor e visando à formação de sujeitos
que tenham acesso aos conteúdos social e historicamente estabelecidos.
Percebe-se um avanço de conhecimentos proporcionado pelos estudos
teóricos e pela troca de experiências entre os participantes, realizada nos momentos
de estudos e de reflexões. Essas oportunidades reforçaram a crença de que
precisam-se criar sempre novos mecanismos de avaliação, incorporando-os, de
forma dinâmica, a um processo transformador de ensino e aprendizagem da
matemática. Nesse sentido, o professor de matemática deve estar sempre em busca
de um ensino de melhor qualidade, consciente de que as condições e as
oportunidades precisam ser dadas pelo sistema educacional.
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