25
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - Operação de ... · No marxismo, (...) a cultura é um ... Sendo assim, é fundamental o papel da escola em relação ao ensino da arte e da

  • Upload
    lamkiet

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

ARTE INDÍGENA NO PARANÁ

Autor: Erotides Montini da Silveira¹ Orientador: Rosângela Célia Faustino²

Resumo

O Brasil é um dos países de maior diversidade cultural do mundo, tendo em vista o grande número de povos indígenas com suas diferentes culturas e línguas, que aqui existe. Esta diversidade, porém não é amplamente conhecida pela sociedade. O presente artigo trata da arte indígena como forma de expressão e linguagem articulada à cultura, tendo como objetivo contribuir para uma melhor compreensão deste tema. Apresenta conhecimentos específicos sobre as etnias indígenas que habitam o estado do Paraná: os Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. São abordados elementos relacionados aos hábitos e costumes, cultura material e arte. Tais informações e discussões visam aprofundar o interesse pela cultura indígena, de forma geral, bastante diferenciada da organização sociocultural da sociedade majoritária, bem como, colaborar com a afirmação étnica destes grupos visando contribuir com o desenvolvimento de relações mais equilibradas entre índios e não índios.

Palavras-chave: Arte Indígena; Cultura; Educação.

INTRODUÇÃO

1

O presente trabalho é resultado de cursos, estudos, pesquisas e Projeto de

Aplicação, desenvolvidos no âmbito do PDE – Programa de Desenvolvimento

Educacional no Paraná. A escolha do tema se deu em função de minha área de

1 Especialização em Educação especial – Metodologias Integradas, Educação Artística – Habilitação em Desenho, Colégio Estadual Unidade Pólo – Ensino Fundamental, Médio e Profissional. 2 Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil (2006), Professor Adjunto da Universidade Estadual de Maringá, Brasil.

atuação e da constatação de que, sobre cultura indígena são raros os materiais aos

quais os professores da Educação Básica têm acesso para o planejamento de suas

atividades com os estudantes. Desta forma, trabalhar com o tema Arte e Cultura

Indígena em sala de aula, se constitui num desafio, sobretudo pela falta de material

didático de apoio consistente com relação aos significados e importância da arte

indígena, no contexto da valorização da diversidade cultural na escola.

Logo no início dos estudos, com os primeiros levantamentos e orientações,

percebeu-se que, com a grande diversidade de etnias indígenas existentes no Brasil

– mais de 220 povos e 180 línguas – seria necessário, para um melhor

aprofundamento, focalizar as etnias que fizeram e fazem a história do Paraná: os

Kaingang, Xokleng, Xetá e Guarani. A oportunidade de ingresso no PDE permitiu o

desenvolvimento de um projeto que viesse ao encontro das limitações constatadas

e, assim adquirir mais conhecimento sobre os índios, suas especificidades, arte e

cultura.

O artigo expõe definições sobre arte e cultura, analisa sua importância na

escola e reúne elementos para se pensar a arte indígena julgada de extrema

relevância no contexto da valorização da diversidade cultural. Salienta-se a

dificuldade que um professor da Educação Básica encontra ao tentar trabalhar com

o tema da arte ou cultura indígena com seus alunos, uma vez que nas cidades do

interior do Estado são raros ou inexistentes os Museus, Centros Culturais, Teatros, e

outros órgãos que ajudam o professor nesta tarefa.

É reconhecido o avanço das ferramentas da Internet e a existência da TV

pen drive, em todas as escolas públicas que é, sem sombra de dúvidas, a

possibilidade de ampliação das práticas pedagógicas do professor, porém, ainda

assim, é necessário um prévio conhecimento sobre as etnias indígenas e suas

especificidades para evitar generalizações. Este conhecimento requer estudos do

professor que, ao manejar uma ampla gama de temas, e uma pesada carga horária

de trabalho, nem sempre tem condições de se dedicar ao estudo aprofundado de

todos os temas. Desta forma, acredita-se que o artigo pode contribuir para o melhor

conhecimento, reflexão e prática dos professores de ensino fundamental e médio no

Paraná na referida temática.

A importância da Arte na Escola

A arte é uma área do conhecimento e disciplina que estão intimamente

ligadas à cultura e suas diversas formas de expressão, ou seja, manifestações

simbólicas pelas quais os seres humanos expõem suas sensações, emoções,

experiências, conhecimentos e descobertas.

É importante que no processo ensino aprendizagem de arte, se proporcione

ao estudante a apreciação da produção da estética humana historicamente

produzida. Com a ampliação das linguagens, o uso de imagens, objetos, vídeos,

músicas, ilustrações e outras, a apropriação, elaboração e reelaborarão do

conhecimento se torna mais acessível, provocando mais amplo entendimento, novos

pensamentos, descobertas e criações humanas.

... o ensino de artes, na perspectiva vigotskiana, tem o caráter objetivo de proporcionar a apropriação do aspecto estético da cultura humana, produzido historicamente, pelas novas gerações. Essa objetividade intencional determina a centralidade do estudo das artes em alguns aspectos como a história da arte e o entendimento intelectual da arte como mediadores do pensamento na apropriação da dimensão estética da realidade. Nesse sentido as atividades práticas e a fruição no ensino das artes devem ser desenvolvidas com base no desenvolvimento estético da humanidade. (PAES, 2007, p.3).

Por meio da arte podemos conhecer diferentes povos, suas características

culturais, identificar a partir da estética os modos de vida, a época de sua existência,

formas sociais, situações pessoais, políticas, religiosas. Tudo isso a partir de obras,

objetos, gestos e expressões que marcam o tempo e lugar onde várias gerações

passaram e construíram suas formas de vida.

A arte faz parte do intelecto de quem à cria e estimula o intelecto do

espectador. Trata-se do estímulo às funções psíquicas superiores, ao senso de

estética que cada um, a sua maneira, a partir dos estímulos recebidos/processados,

tem de ver e de pensar a arte. Sabe-se que, “[...] para cumprir a sua função

humanizadora e satisfazer a necessidade de prazer estético, a obra de arte precisa

ser compartilhada, difundida, acrescida de muitos olhares e significados (TROJAN,

1996, p.9)”.

Por meio da arte podemos transcender a realidade, pois símbolos são

usados como forma de representação do real e do imaginário (sobrenatural).

Crenças e costumes pode ser a inspiração para a criação da arte que é manifestada

de várias formas, tais como: pintura, desenho, música, dança, teatro. Portanto, a

arte nos leva ao conhecimento cultural, pois o homem manifesta artisticamente seus

saberes e crenças. Os saberes e crenças nos remetem ao comportamento das

pessoas, a sua cultura, que por sua vez, são conhecimentos adquiridos por

gerações, transformações que ocorreram a nossa volta, no mundo.

Na atual sociedade, nem todos tem acesso à arte. Poucos são aqueles que

podem frequentar teatros, apresentações de orquestras, museus, bienais, variados

shows, ter acesso a literatura clássica, óperas, festivais, grandes bibliotecas,

arquivos públicos etc.

No marxismo, (...) a cultura é um produto coletivo da vida humana, enraizado nas condições materiais e sociais de existência, condições contraditórias marcadas pela desigualdade e opressão e pela luta por sua superação (FONTANA, 1997, p. 67).

Aqueles que têm acesso a arte, geralmente encontram elementos

provenientes das sociedades europeias ou norte americanas. É muito raro alguém

conhecer uma música indígena, uma pintura corporal, compreender seu significado,

os valores que nela se expressam, saber a função dos objetos criados, da

religiosidade, da cosmologia, enfim...

Sendo assim, é fundamental o papel da escola em relação ao ensino da arte

e da valorização da diversidade cultural humana. Acredita-se que, quanto mais

amplas forem as possibilidades de ensino, maiores serão as de aprendizagem

Na escola, o conhecimento do professor como mediador estimula a

aprendizagem do aluno mostrando diferentes culturas e sociedades, estabelecendo

uma ligação com a realidade do aluno, com questões sociais, passando assim a

interiorizar significações que possibilitarão o conhecimento sobre as diversidades

culturais, sociais e étnicas.

Conforme Fontana (1997) cabe a Pedagogia elaborar métodos de ensino

eficientes para o aprendizado da criança, difundir o saber social historicamente

elaborado. A partir do conhecimento espontâneo, juntamente com os conhecimentos

científicos, sistematizados pelas atividades desenvolvidas na escola, a criança faz a

articulação entre os conceitos adquiridos e seus pensamentos, organizando sua

própria atividade intelectual.

Segundo Vygotsky, é no curso de suas relações sociais (...) que os indivíduos produzem, se apropriam (de) e transformam as diferentes atividades práticas e simbólicas em circulação na sociedade em que vivem, e as internalizam como modos de ação/elaboração “próprios” (...), constituindo-se como sujeitos (FONTANA, 1997, p.11).

A criança reconstrói internamente o que está ao seu redor através de um

sistema de signos carregados de mensagens e formas presentes no seu cotidiano.

Eles são classificados em gestos, atos e palavras que se integram nas atividades

consolidadas de sua cultura, articulando-se num processo dinâmico entre

pensamento e linguagem.

Arte indígena e Tecnologia

O contato dos índios com os europeus no período da colonização do Brasil

provocou grandes mudanças culturais na vida dos indígenas. O drástico processo de

assimilação, devido às perdas de suas terras, doenças contagiosas, trabalhos

forçados, introdução de sal e açúcar na alimentação, imposição da religião e da

cultura europeia, causou sequelas que perduram até as gerações atuais, sem falar

na grande diminuição demográfica das populações indígenas.

A busca desenfreada dos europeus – no chamado processo de acumulação

primitiva – por terras, metais, madeira, causou a destruição vertiginosa da natureza,

provocando perdas irreparáveis como a extinção de plantas medicinais consideradas

sagradas, a diminuição da caça, frutas, raízes, ovos de pássaros, pinhões, mel,

peixes enfim, todas as fontes tradicionais de alimentação e de sobrevivência dos

índios foram sendo eliminadas.

Hoje, pode-se perceber claramente a influência da cultura europeia na vida

indígena, nas vestes, no gosto musical, na alimentação (consumo de produtos

industrializados). Porém, estudos mais aprofundados, permitem perceber a

permanência e ressignificação dos conhecimentos indígenas bem como observar

que muito de suas culturas também está incutido em nossos hábitos e costumes,

principalmente na alimentação, cuidado com os velhos e crianças, famílias mais

extensas – ao contrário da Europa – e em nomes de pessoas, objetos e lugares.

Para uma ampla compreensão dos estudantes sobre a realidade vivida,

temas relacionados à sociedade brasileira devem ser trabalhados e discutidos em

sala de aula desde os primeiros anos escolares. As questões indígenas são temas

riquíssimos que mostram a realidade dos índios desde os primeiros contatos com a

civilização europeia até os dias de hoje. É importante que estes não sejam

estudados apenas em seu passado, ou seja, como se não fizessem mais parte de

nossa sociedade.

Geralmente os livros didáticos trazem a ideia de índio estereotipado, aquela

figura com cocar e tanga sem relação com a vida atual. O indígena é apresentado

como aquele sujeito nômade que dorme na rede, mora na oca, toca tambor, tem um

pajé etc. São generalizações que não favorecem conhecimento e a reflexão sobre a

riqueza que é diversidade de crenças, valores, conhecimentos, manejo ecológico do

meio ambiente etc. É muito comum verificar que muitos não sabem nem os nomes

das etnias existentes em seu estado. Sabem menos ainda dos detalhes, das lutas,

da sobrevivência e da importância da diversidade para a vida do homem.

São temas sociais que remetem a reflexões, ao entendimento e ao respeito

às diferenças. Segundo Pereira, (1998), a educação da criança passa por agentes

socializadores, primeiro o convívio com a família, onde a criança recebe informações

e passa a interiorizar atitudes e significados que compõem uma sociedade,

estabelecendo vínculos emocionais que contribuirão para a formação de sua

identidade e personalidade.

Em relação à arte indígena os estudos permitiram perceber que representa

uma prática que está inserida no contexto social do grupo, incorporada a outras

expressões e compartilhada com todos indo além da confecção de objetos e de

materiais que os estruturam.

[...] engloba os processos sócios culturais que moldam a produção, o uso, o significado e a categorização das produções artísticas considerando sempre que, nestas sociedades, a arte serve sobretudo para ordenar e definir o universo, uma vez que é parte integrante da função cognitiva (...) (GEERTZ,1986:124 apud VELTHEM apud GRUPIONI 2005, p.84).

Objetos que fazem parte da cultura material de uma civilização estão

impregnados de marcas, são símbolos, sinais, especificações que estão

materializadas e que contam a história, as tradições e costumes de determinada

sociedade.

O contato com esses objetos, o conhecimento e entendimento sobre as

impressões e imagens que estão gravadas pode ajudar na compreensão e no

reconhecimento de sua origem.

O conhecimento pleno de um objeto requer, (...) que o consideremos em seu contexto mais amplo e em sua característica de sistema (as articulações de significações entre vários objetos que relacionados, ‘falam’ sobre as concepções de mundo do grupo social que os produziu), analisando as muitas dimensões e as múltiplas significações que, nas sociedades indígenas, nele estão sempre materializadas e resumidas (VIDAL; SILVA apud SILVA; GRUPIONI, 1995, p.372).

Muitos fatores interferem na produção desses objetos, como os recursos

naturais e a exploração do ambiente, que fornecem as matérias primas, a

organização e a execução do trabalho, a transmissão do conhecimento, a utilidade e

finalidade do objeto, levando-se em consideração os aspectos simbólicos, ligados a

religião, a estética e filosofia.

Nas comunidades indígenas os conhecimentos que envolvem a fabricação

dos objetos, ornamentos e ferramentas, bem como as manifestações artísticas, são

compartilhados com os membros do grupo. Conhecimentos estes adquiridos pela

transmissão de saberes, pela observação, experimentação, pesquisa da natureza e

da sociedade, por muitas gerações.

A Arte faz parte da coletividade, nela se encontram as várias manifestações

artísticas que representam a cultura, numa sintonia harmoniosa entre o homem e os

elementos que estão impregnados de mensagens, por exemplo, os rituais.

[...] os rituais (...), a forma mais condensada da arte indígena e da arte popular, (...) relacionada ao mítico, ao simbólico, ao sistema de poder, ao terapêutico, permeando toda a vida social. No domínio da arte, enfatiza-se o formal, a aparência, a imagem, como meio de expressão e vivência da sensibilidade (VIDAL; SILVA apud SILVA; GRUPIONI,1995, p.373).

A Arte nas sociedades indígenas está associada ao belo, ao uso e ao

simbólico, segundo as regras da cultura, da técnica e da estética estabelecida. As

representações visuais, bem como os objetos – máscara, cestaria, plumária,

cerâmica, adornos, a iconografia representada na pintura corporal e nos artefatos

revela aspectos individuais e sociais que redefinem a própria cultura e resistência

social.

[...] através da arte são transmitidas referências sobre a vida em sociedade: o sexo, a idade, o grau de parentesco, a filiação clânica, a metade exogânica de seus membros e também noções acerca do mundo não social: a natureza e a sobrenatureza (VELTHEN apud GRUPIONI, 2005, p. 87).

Conforme os estudos mencionados, a estética corporal indígena como a

pintura, plumária e máscaras, assume sentidos cognitivos como a noção de pessoa,

definindo as relações sociais do indivíduo na comunidade.

Os povos indígenas no Paraná

De acordo com a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Parellada,

(2008), os primeiros povos paleoíndios, habitantes do Paraná, supostamente já

estavam em território Paranaense entre 12.000 a 15.000 anos atrás, eram povos

nômades caçadores coletores, vindos de áreas andinas e amazônicas. Há 7.000

anos, com o clima tornando-se cada vez mais quente e úmido, outros grupos

caçadores e coletores migram para o Paraná, ocupando tanto o vale de grandes

rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o Tibagi e o Paraná, como nos topos de montanhas,

abrigos rochosos, e o litoral.

Foram encontradas pinturas e gravuras rupestres no Paraná, com datação

entre quatro mil e trezentos anos atrás, parecem estar relacionadas a grupos Jê. Os

primeiros povos agricultores e ceramistas chegaram ao Paraná há 4.000 anos,

vindos do Planalto Central brasileiro sendo ancestrais de índios da família linguística

Jê, conhecidos atualmente como Kaingang e Xokleng.

Estas populações, há 3.000 anos, teriam se separado e migrado em direção

ao Sul. Vivam em aldeias, cremavam seus mortos e faziam cemitérios em danceiros

(lugares de reuniões sociais) ou abrigos rochosos onde realizavam pinturas,

gravuras e confeccionavam artefatos em pedra. Os ancestrais dos índios Tupi e

Guarani também agricultores e ceramistas, provavelmente vindos da Amazônia,

chegaram ao Paraná, há 2.000 anos, viviam em aldeias, em grandes casas

comunais.

No Paraná quatro grupos indígenas lutaram e lutam pela sobrevivência

étnica cultural: os Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. De forma geral, a

documentação disponível, apresenta poucas informações da chegada deste último

grupo ao Paraná.

... é provável que os Kaingang e Xokleng tenham chegado primeiro ao Paraná, pois em quase todo o Estado os sítios Guarani estão próximos ou sobre sítios arqueológicos dos Kaingang e Xokleng. Com a chegada dos Guarani, (...) os Kaingang foram sendo empurrados para o centro-sul do Estado (...) e os Xokleng foram sendo impelidos para os contrafortes da Serra Geral, próximos do litoral (NOELLI; MOTA apud DIAS; GONÇALVES, 1999, p.15-16).

Esta literatura nos informa que a integração das comunidades indígenas à

sociedade foi um processo marcado por invasões dos paulistas, por meio das

bandeiras de apresamento em seus territórios e pela ocupação da bacia ocidental do

rio Tibagi pelos fazendeiros dos Campos Gerais. Extensas áreas foram invadidas,

desmatadas e transformadas em campos agrícolas. A ocupação das últimas matas

nativas no Paraná, continua no século XXI, no vale do rio Tibagi com a construção

de barragens para a geração de energia.

Os Kaingang

Conforme Tommasino, (2001), os Kaingang fazem parte do tronco Macro-Jê,

da família Jê, falam a língua Kaingang e ocupam áreas dos Estados do Paraná, Rio

Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Seus territórios compreendiam

extensas áreas de campos e florestas do Sul, viviam da caça, pesca, coleta e

agricultura, Hoje sobrevivem de roças administradas pela FUNAI, das roças

familiares, da venda de artesanato e da prestação de serviços para produtores

rurais.

A organização social Kaingang é fundamentada nas divisões exôganicas

Kamé e Kairu. O grupo familiar é formado por uma família nuclear (pais e filhos),

que fazem parte de grupos maiores, os grupos domésticos. Estes são formados por

um casal de velhos, seus filhos e filhas solteiras, suas filhas casadas, seus genros e

netos. Os casamentos devem ser realizados entre indivíduos das metades opostas.

A filiação é definida patrilateralmente, ou seja, os filhos de ambos os sexos vão

pertencer à metade do pai. O Kuiã ocupa posição importante na organização social

e política na comunidade e tem poder de curar e de ver o que irá acontecer com os

que vivem no grupo.

A mitologia Kaingang tem ligação com a terra e constitui-se como o princípio

da vida. Os primeiros humanos saíram de um buraco na terra, são: Kamé e Kairu, e

deram origem à sociedade e a divisão entre os homens e os seres da natureza.

O Kiki, ou ritual do kikikoi, culto aos mortos, consiste em reunir dois grupos

formados por pessoas pertencentes a cada metade clânica, Kamé e Kairu com a

finalidade de afastar o morto do mundo dos vivos.

Arte e cultura material Kaingang

Segundo Tomamasino (2001), os kaingang fabricavam arcos, flechas,

lanças, tecidos de fibras de urtiga brava, talas de caraguatá, cestos de taquara,

enfeites e utensílios de cerâmica e porongos (cabaças). Seus instrumentos musicais

eram a buzina de chifre de boi ou taquara, flauta de taquara, maracás e apitos de

taquara.

Os grafismos aparecem na pintura corporal, trançados, tecidos, armas,

utensílios de cabaça, cerâmica e troncos de pinheiros. A pintura corporal estava

presente no Kikikoi, eram feitas com carvão misturado com mel e água, com a seiva

pegajosa de uma trepadeira, ou com carimbo em madeira e colmos de taquara.

Geralmente na face do indivíduo, também no corpo e cobertas por penas e plumas.

Caracteriza o grupo a qual o indivíduo pertence. “Os Kamé estão relacionados ao

oeste e a pintura facial é feita de motivos compridos (rá teí). Para os Kairu,

relacionados ao leste, a pintura facial é feita de motivos redondos (rã rôr)”. (VEIGA,

1994 apud OLIVEIRA, 1996, p.14).

De acordo com Oliveira (1996), a dança para os Kaingang, ligava-se ao culto

aos mortos (kiki), realizada em época da colheita de pinhões e milho verde.

Acompanhada de cantos rituais e sons de chocalhos, os dançadores se distribuem

de acordo com a metade a que pertenciam.

Segundo o professor indígena Alcindo Curimba Cordeiro da Terra Indígena a

Ivaí, em Manuel Ribas, PR, na arte Kaingang de hoje está incorporada o costume do

não índio, mas, ainda existe a tradição da pintura corporal, do uso de adornos e

cocares em festas, como no dia do índio; nas festas religiosas como Nossa Senhora

Aparecida e outros santos e em eventos e apresentações fora da aldeia. Os músicos

Kaingang tocam violão, acordeão, guitarra elétrica, em bailes e igrejas que existem

dentro das aldeias. Existe o Grupo de Música: OS INDIANOS, onde os músicos

tocam gaita, violão, guitarra, contra baixo e teclado. As músicas preferidas são as

gauchescas, sertanejas entre outros ritmos.

Conforme Nötzold, (2009), os instrumentos musicais usados pelos kaingáng

são a flauta, feita de gomo da taquara mansa; o chocalho, feito de porongo contendo

em seu interior sementes de milho e feijão; o turú, que é feito da taquara e na ponta

usa-se um porongo ou garrafa plástica. Hoje são usados nos grupos de dança das

escolas indígenas.

De acordo com Pereira, 1998, na dança destaca-se o baile, é realizado pela

comunidade em festas juninas e julinas, dias santos, dia do índio ou quando se está

com vontade de dançar. Dançam em pares todos na mesma direção formando um

grande círculo ao redor do salão.

Nötzold, (2009) destaca que as cestarias e artesanatos são confeccionados

com a taquara mansa e o taquaruçu. As talas são preparadas e depois pintadas com

anilina artificial nas cores verde, amarelo, azul. Os chocalhos são feitos de cabaça e

ornamentados com taquara e penas de galinha, tingidas com anilina, também os

arcos e flechas e cocares. Os colares são feitos de sementes e cipó guambé.

Os desenhos dos trançados mostram padrões estéticos a ser seguidos na

confecção de balaios, cestos e peneiras. Os cestos Kaingang são divididos em “três

tipos, (...): Key – os mais altos do que amplos (paneiformes); Peñera – amplas e

achatadas; Kre – mais largos do que altos (ganeiformes)” (OLIVEIRA, 1996, p.52).

Os Xokleng

Os Xokleng, pertencentes ao Tronco Macro-Jê, da Família Jê, Língua

Xokleng, estão situados em Santa Catarina, porém existem ainda algumas famílias

dos grupos remanescentes que habitavam antigos territórios no Paraná. Esta etnia

era inimiga dos Kaingang e com eles eram travadas inúmeras guerras de disputas

por mulheres e territórios de caça e coleta.

Conforme Claudino e Farias (2009), os Xokleng viviam da caça e da coleta,

não tinham acampamentos fixos e utilizavam a cremação como parte ritual de

sepultamento. Durante a primavera e o verão consumiam o palmito, cará, frutas,

mel, larvas de insetos e caça. No outono e no inverno, coletavam o pinhão ingerindo-

o assado, frito, em forma de farofa, bolo, sopa ou cozido. Desenvolveram uma

técnica de conservação deste alimento de forma a dele dispor por grande parte do

ano.

Segundo Wiik, (1999), na mitologia Xokleng, um dilúvio fez antepassados

migrarem para os cumes das montanhas e topo das árvores, onde se alimentavam

de parasitas, folhas, larvas, insetos e frutas. Passado o dilúvio, voltaram para as

planícies e vales, mas muitos lá ficaram. Por isso, dizem, hoje existem os macacos,

filhos dos homens que ficaram nas árvores. Alguns mitos e lendas ainda são

lembrados, mas a partir de 1950, os Xokleng foram se convertendo à Assembleia de

Deus e os rituais de hoje se resumem aos cultos evangélicos.

Arte e cultura material Xokleng

Conforme Wiik, (1999), os Xokleng construíam suas habitações em

semicírculos, voltado para uma praça central, chamada pelos antropólogos de centro

da aldeia. As pinturas corporais (marcas) eram símbolo de identidade das pessoas.

Fabricavam panelas e talhas de barro cozido, decorados com riscos

gravados por impressões digitais, de cor negra ou parda; canoas e jacás de

madeira; balaios e cestos; lanças de madeira com pontas de aço; cordas de

samambaias; cintos de suspensão de pênis; colares de coco e miçangas; redes de

pesca, tangas, arcos, flechas, botoques, adornos e mantas de urtiga brava.

Hoje os Xokleng produzem tangas e colares para serem usados em

comemorações do dia do índio e para a venda. Esta produção tem grande

representatividade para o sustento das famílias. Alguns tipos de chocalhos são

confeccionados para venda e para uso próprio dos grupos em momentos de

celebrações, cantos e danças.

Os Guarani

De acordo com Almeida, (2003), os Guarani estão situados no Mato Grosso

do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Argentina e

Paraguai. Pertencentes ao grupo do Tronco Tupi, da Família Tupi-Guarani, língua

Guarani, dividem-se em subgrupos Guarani-Ñandeva, Guarani- Kaiowa e Guarani-

Mbya.

A agricultura é a principal atividade econômica. Combinam atividade de

caça, pesca, coleta e agricultura, de forma interligada e vinculada para o descanso

da terra. Na organização social, econômica e política, os Guarani estão assentados

em núcleos comunitários constituídos por 3-5 grupamentos macro familiares, isto é,

família extensa determinada por consanguinidade, composta pelo casal, filhos,

genros, netos, irmãos.

Denominam os espaços físicos em que vivem de tekoha, ou seja, a terra,

águas, animais e plantas. Os rituais são práticas cotidianas conduzidas pelos

ñanderu (lideres religiosos). Cânticos, rezas e danças se iniciam ao cair da noite e

prolongam-se por várias horas, com intenção de boa colheita e chuva.

De acordo com Souza, (1999), na cosmologia Guarani no princípio do

mundo houve a criação da primeira terra, onde os homens viviam na mesmo

condição dos deuses. As leis foram quebradas pelo incesto entre um sobrinho (Karai

Jeupié) e sua tia.

Houve então um grande dilúvio como castigo, estabelecendo o fim da

primeira terra e com ele a separação entre o humano e o divino. Neste dia a grande

água, o mar, separou a Terra prometida por Nhanderu, mítica Terra sem Mal: yvy

marã ey, terra que produz frutos em abundância, não há doenças, pobreza e é bem

diferente desta terra imperfeita em que vivem os que sobreviveram.

Arte e cultura material Guarani

Conforme Noelli e Mota (1999), a cultura material era composta de objetos

feitos com ossos, madeiras, penas, palhas, fibras vegetais, conchas, vasilhas

cerâmicas, ferramentas de pedra e corantes minerais. As vasilhas eram panelas,

frigideiras, pratos, copos e talhas para armazenar água ou preparar cauim (bebida

fermentada alcoólica). Os copos para beber o cauim e as talhas eram pintados com

desenhos geométricos vermelhos e pretos sobre fundo branco. As vasilhas que iam

ao fogo tinham as suas superfícies alisadas ou corrugadas. As panelas e talhas

poderiam servir como urna funerária. A cerâmica Guarani se caracteriza pela técnica

do roletado, os vasos eram confeccionados através de roletes de argila, ligados

sucessivamente.

Montardo, (2006), afirma que, os contos e as danças Guarani são

executados nos rituais xamanísticos, momento em que os humanos se comunicam

com os ancestrais, seres divinos e os deuses. Os rituais têm objetivo de invocação

aos deuses e pedir proteção das doenças.

Segundo Silva, 1995, o mbaraka (maracá) é um instrumento musical feito de

cabaça, usado nas danças e nos rituais xamanísticos. Além de produzir música,

pode ser entendido como a representação simbólica das vozes dos espíritos e

divindades que chegam à aldeia em momentos especiais, em que os pajés tocam

para se comunicar com os deuses e espíritos.

Conforme Souza, (1999), as esculturas zoormóficas Guarani, conhecidas

como “bichinhos ra’ngãi”, são feitas em cedro ou curticeira (RS) ou caxeta (PR). As

formas são esculpidas com uma faquinha e são representações de animais

existentes na floresta (Mata Atlântica), como: onça, jaguatirica, jacaré, tamanduá,

tatu, macaco, cobra, tucano, entre outros bichos e pássaros. Usam a técnica da

pirogravura para estampar os desenhos que caracterizam o bicho.

Esta arte é facilmente encontrada nas terras indígenas Guarani no Paraná e

também comercializada representando uma fonte de renda gerada na própria

comunidade. Observa-se, porém que o desmatamento tem produzido a escassez

das matérias primas (madeiras, sementes, plumagens) utilizadas por estes

indígenas em sua arte diária.

Os Xetá

De acordo com Silva (1998), os Xetá viviam da caça, coleta e pesca.

Comiam frutos, tubérculos, alguns insetos, larvas, ave, mel e o mate “Kukuay”.

Cultivavam o porungo para servir de vasilhas. Este grupo étnico pertencente à

família linguística Tupi-Guarani, do troco Tupi, falantes da língua Xetá. Habitavam o

noroeste Paranaense, território conhecido como Serra dos Dourados, onde fica hoje

o município de Umuarama.

Desde o final da década de 40, viviam em constantes fugas devido a

invasões de seus territórios pelos colonizadores. Os primeiros contatos com a

civilização nacional foi na década de 50, através do Serviço de Proteção ao Índio

(SPI), atual FUNAI. Com a expansão da cafeicultura no norte da Paraná, criação de

gado e agricultura e loteamento de terras, grande parte da sociedade foi dizimada

por intoxicação alimentar, doenças infectocontagiosas, extermínio com armas de

fogo e queima das aldeias e rapto de crianças.

Oito sobreviventes dos Xetá capturados das matas e criados por famílias

não indígenas cresceram constituíram famílias e lutam hoje para reaver suas terras,

revitalizar sua cultura, falar e cantar na língua Xetá.

Os remanescentes dos Xetá vivem como assalariados e agregados em

terras Kaingang e Guarani, principalmente na aldeia São Jerônimo, município de são

Jerônimo da Serra.

Segundo a memória dos sobreviventes, o seu povo era de aproximadamente

400 pessoas na época do contato com os brancos. Viviam em pequenos núcleos

familiares, junto a Casa Grande (tapuy-apoeng), onde realizavam seus rituais e

confeccionavam seus utensílios. O linguista da UnB – Universidade de Brasília –

Aryon Dall’igna Rodrigues e o cinegrafista Vladimir Kozak (1897-1979), registraram

inúmeros elementos da cultura e língua Xetá.

Esta etnia constitui-se hoje em cerca 90 pessoas no Paraná. A Universidade

Estadual de Maringá, juntamente com a SEED-PR, a UnB, a UFMT – Universidade

Federal de Mato Grosso, o povo Xetá e o Museu Paranaense, sob a coordenação do

Professor Lucio Tadeu Mota, desenvolvem um Projeto cujo objetivo e reunir,

sistematizar e publicar a produção bibliográfica e artística existente e ou produzida,

na atualidade, sobre os Xetá.

Arte e cultura material Xetá

Segundo Silva, (1998), a cultura material dos Xetá está relacionada à vida

nos agrupamentos familiares. São instrumentos, armadilhas, abrigos, objetos de uso

domésticos e adornos inseridos no cotidiano e nos seus rituais.

Antes da invasão de seus territórios, os Xetá fabricavam arco e flecha

confeccionada com cerne de ipê duro e bambu: pilões com troncos de árvore;

tembetá feito com ossos, sílex, madeira e resina de jerivá; teciam tangas e fitas em

teares de madeira com fibras de caraguatá; peneiras, cestos e esteira de palmeiras

e taquara; vasilhas de porungo para armazenar mel, água e bebidas utilizadas nos

rituais; maça, utilizada como arma e como meio de comunicação, batido contra um

tronco produzia um barulho que se ouvia longe.

A arte do povo Xetá, estava presente no dia-a-dia da comunidade: nos

rituais, na música, nas histórias narradas, nas cestarias e esteiras, na tecelagem, na

escultura de bichinhos de cera, na música, na pintura e nos adornos corporais.

A pintura facial amañtxa, era feita por uma mulher (parente) com fruta do

jatobá para o ritual de iniciação masculina. Esta e a pintura corporal eram feitas

também em ocasiões de rituais.

Esculpiam bichinhos (Mows), figuras negras zoomorfas de cera de abelhas

representando a fauna local: cobras, veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc.

Algumas tinham características antropomorfas (cabeça de animal e corpo humano).

Eram produzidas pelos adultos para as crianças brincarem.

A música Xetá, é composta de cantos que representavam e representam os

sons e movimentos dos animais. Cantavam para chamar chuva, nas festas e em

períodos de frutas quando eram realizados os rituais com ingestão de bebidas e ritos

de iniciação masculina.

Os homens entoavam o canto da jacutinga, do surucuá e do urubu. Os

instrumentos musicais eram usados para a produção de sons como apitar, alertar,

assobiar: um caramujo, o tembetá, a flauta, a flauta de pã, feita de três pedaços de

bambu de diferentes comprimentos.

A aplicação do projeto: uma experiência com a arte indígena na escola

A aplicação do Projeto na escola é um dos principais momentos do PDE,

nele o professor que estudou, pesquisou, realizou cursos, acompanhado pelo

orientador e pela instituição à qual esteve ligado, a partir das elaborações e

sistematizações que fez desenvolver um trabalho específico na escola em que atua.

Desta forma, a aplicação foi antecedida pelo Planejamento das ações que

compreenderam: escolha da turma, período de realização, atividades a serem

desenvolvidas e apresentação à apreciação da equipe pedagógica da escola.

A apresentação do projeto Arte Indígena no Paraná foi realizada na Semana

Pedagógica em agosto de 2010, no Colégio Estadual unidade Pólo, em Maringá.

Iniciei a aplicação em sala de aula em setembro nas 6ª série A e B no período da

manhã e em outubro com alguns alunos das mesmas turmas no período da tarde.

Já, em sala de aula, o projeto a ser realizado em 32 horas/aula, foi

apresentado aos alunos ocasião em que fez uma breve introdução ao tema. O início

do trabalho compreendeu a solicitação aos alunos para que expressassem seus

conhecimentos sobre os povos indígenas, por meio de desenhos.

A maioria dos alunos representou em seus desenhos, ideias bastantes

presentes nos livros didáticos, numa visão idealizada dos índios no período da

colonização do Brasil: índios nus, com cocar, tangas, arco e flechas, caçando e

pescando. Poucos alunos representaram o índio de hoje com elementos culturais

ocidentais, já incorporados no seu cotidiano.

Solicitou-se também uma entrevista dirigida com seus familiares e pesquisa

na internet sobre costumes indígenas que estão inseridos no nosso cotidiano.

Embora o trabalho tenha envolvido sessenta e três estudantes, foram

poucas as entrevistas que retornaram: somente dez realizadas pelos alunos com

seus familiares; destas, sete mencionaram a mandioca na alimentação, também a

capivara, o biju, tapioca, abóbora, milho, feijão, amendoim e o uso de algumas ervas

medicinais, como o mentruz; alguns nomes de pessoas: Nayara, Rauny, Juruna,

Yara, Tainá, Indianara e Potira; nome de cidades como: Corumbá, Goioerê, Águas

Claras, também foram citados.

Houve também um questionário direcionado aos alunos, para ser feito em

sala de aula, com as seguintes perguntas:

• Onde encontramos a arte nas sociedades indígenas? • Você já viu algum índio em Maringá? • Como os índios sobrevivem? • Como você obteve informações sobre os índios? • Qual a situação social dos índios com relação à sociedade brasileira? • Você conhece algum costume, comida, remédios, nomes, palavras que usamos e

que tem origem indígena? • Quais as transformações culturais que os índios sofreram desde a chegada dos

europeus no Brasil até hoje?

Nos questionamentos feitos aos alunos durante a aplicação do projeto, foi

possível perceber que a maioria já conhecia um pouco da cultura indígena.

Relataram a existência da arte na pintura do corpo, nos acessórios, nos vasos, no

artesanato, nas cavernas. Dos sessenta e três alunos, trinta e oito disseram já ter

visto indígenas em Maringá - no centro da cidade e nas feiras livres vendendo

artesanato.

Quanto à subsistência, apontaram ser a caça como maior fonte de

alimentação dos índios; em seguida pontuaram a venda de artesanato, a pesca,

hortas, agricultura, milho, mandioca e frutos. Indicaram a televisão como maior fonte

de informação, depois a escola, a internet, livros, casa e pais (cinquenta e quatro

alunos responderam esta questão).

No tocante a situação social dos índios no Brasil, doze alunos disseram que

os índios são pobres. Com relação aos costumes, vinte e dois alunos citaram o uso

do boldo, babosa, mentruz e hortelã na medicina; a mandioca, o milho, o feijão,

tapioca, na alimentação; a caça e a pescaria, nos costumes. Sendo que as

transformações mais visíveis nessa área (respondidas por trinta e quatro alunos)

foram o uso de roupas, a religião, a habitação e as idas ao médico.

Imagens de indígenas do passado e do presente foram apresentadas,

comparadas, textos estudados e discutidos, instigando os alunos a perceberem

diferenças e características culturais, quem é o índio na sociedade brasileira, suas

contribuições na nossa cultura, alguns problemas como a perda de suas terras,

diminuição demográfica, problemas de subsistência, geração de renda.

O estudo específico sobre a arte indígena foi realizado com texto,

cruzadinha, caça palavras, sobre as modalidades artísticas que estão inseridas no

dia-a-dia das comunidades e com slides de imagens referentes aos trançados,

pintura corporal, grafismos, plumária, cestarias, cerâmicas.

Obras de arte do artista plástico Debret relacionadas aos índios, foram

apresentadas e contextualizadas. Buscou-se a partir das imagens identificar a

influência da cultura europeia nos hábitos indígenas, já no período da colonização.

A partir da colagem de imagens da obra de Debret, os estudantes

continuaram o desenho, recriando a paisagem e motivos geométricos inspirados nos

grafismos indígenas ornamentaram as margens.

Foi apresentado o vídeo: “Vida Indígena no Paraná: Memória, Presença,

Horizontes” da Provopar, vídeos de danças e músicas Guarani e o Material Didático

Pedagógico (elaborado como requisito do PDE). Foram realizados trabalhos em

grupos sobre a história, a mitologia e a arte especificamente dos índios que habitam

o Paraná. Destas atividades resultaram cartazes, ilustrações e livretos.

Em contra turno, um grupo de mais ou menos dez alunos fizeram trançados

inspirados nos grafismos das cestarias Kaingang, em papel cartão em duas cores.

Algumas atividades foram realizadas somente por este grupo. Toda a turma foi

convidada, alguns se manifestaram espontaneamente, mas a cada encontro

compareciam alunos diferentes, poucos compareceram continuamente, o que

representou um pouco de dificuldade na sequência do trabalho.

Panelinhas de barro foram modeladas usando a técnica roletado da

cerâmica Guarani. Uma encenação foi produzida a partir do conto indígena Guarani

de Daniel Munduruku: “O roubo do Fogo” e uma dança inspirada em rituais Guarani

da parcialidade nhandewa. Desenhos com giz de cera representaram o Pinheiro do

Paraná e um painel com tinta guache representou o índio em contato com a

natureza.

Estudantes indígenas da UEM – Universidade Estadual de Maringá, das

etnias Guarani e Kaingang trouxeram algumas peças do artesanato: colares, arco e

flecha e cocar. Os alunos estavam ansiosos para ver os índios. Foi um momento rico

com transmissão de saberes relacionados à história e a cultura dos índios Kaingang

e Guarani.

Nessa visita os alunos puderam ver a confecção de peças da cestaria

Kaingang, usando material sintético, pois a taquara, banbusa vulgaris, principal

matéria prima usada na arte Kaingang, devido ao desmatamento está em falta em

todo o estado do Paraná. É uma arte complexa, que requer treino e paciência. Nas

aldeias as crianças são ensinadas desde pequenas e crescem praticando o que

restou da arte indígena a partir da ocupação dos territórios tradicionais e da

destruição do meio ambiente. Somente um aluno conseguiu fazer o trançado com a

ajuda da professora (estudante indígena kaingang do curso de Pedagogia da UEM).

Os alunos fizeram novos desenhos representando seus conhecimentos

sobre a cultura dos povos indígenas. Constatou-se uma nova visão, mais ampla,

maior relação passado/presente, sobre o índio e a inserção na sociedade

majoritária. Observou-se que novos conhecimentos foram elaborados.

A finalização do projeto ocorreu com a apresentação de uma peça teatral e

de uma dança na Casa da Cultura do Jardim Alvorada bem como, com a exposição

dos trabalhos na Mostra Cultural do colégio, realizada nos dia 17, 18 e 19 de

novembro de 2010, aberta à comunidade. Possibilitou-se assim que os pais e

familiares dos alunos envolvidos e os demais, tivessem acesso a tudo o que foi

produzido no âmbito do projeto: Arte Indígena no Paraná.

Conclusão

Ficou constatado que, Xetá e Xokleng – etnias indígenas no Paraná – eram

desconhecidas pela maioria dos alunos. Deste resultado, gerou-se um

questionamento: como é possível a gente não conhecer, e não se dar conta das

nossas próprias raízes? Não conhecer a história desses povos que são os

habitantes mais antigos dessa região e que indiretamente fazem parte da nossa

cultura?

Nas atividades, os alunos perceberam a necessidade de prática e habilidade

para a confecção das cestinhas e também no manuseio da argila para modelar

objetos. Perceberam que esta habilidade não pode ser adquirida de uma hora para

outra, e que são conhecimentos transmitidos às crianças indígenas desde muito

cedo por pessoas experientes da aldeia.

A visita dos estudantes universitários Kaingang e Guarani à escola foi de

suma importância tanto para os alunos quando para os visitantes. Para estes, a

oportunidade de mostrar e ensinar um pouco da história e da cultura do seu povo a

crianças não indígenas e estar no espaço da escola de educação básica fora das

aldeias; para os alunos o contato satisfez curiosidades: conhecer, ouvir, conversar e

perceber que os índios são pessoas como nós, com filosofias de vida diferentes,

mas com direitos e deveres que devem ser conhecidos e respeitados por todos.

As ações realizadas durante a implementação do projeto, são consideradas

importantíssimas para afirmar a interculturalidade e a inclusão social proposta pela

diversidade cultural.

Os estudos, trabalhos, exposições e diálogos realizados ao longo da

implementação do projeto, contribuíram para a conscientização sobre a necessidade

de se conhecer a cultura e luta dos índios pela sobrevivência e a importância dos

mesmos na formação do povo paranaense.

Apesar do avanço das mídias e das tecnologias, percebe-se que os valores

humanos ainda não são considerados como prioridade social. O PDE se constitui

num primeiro passo na formação continuada de valorização do profissional da

educação. É nítida a melhoria na fundamentação teórica de aprofundamento do

trabalho profissional, a troca de experiências com colegas de área, a produção de

materiais que servem como fonte de pesquisa. Em suma, aplicar o que propõe a Lei

11.645: valorização dos índios e ruptura da visão idealizada que mascara os

conflitos existentes na atualidade.

A importância do PDE pode ser constatada durante a Mostra Cultural, no

mês de novembro de 2010. Os alunos apresentaram os trabalhos desenvolvidos

durante o ano e puderam compreender melhor o tema estudado, sobretudo no

momento da apresentação às pessoas da comunidade no Centro Cultural do bairro.

REFERÊNCIAS:

DIAS, Reginaldo Benedito (org); GONÇALVES, José Henrique Rollo. Maringá e o Norte do Paraná: Estudos de história regional. Maringá – Eduem, 1999.

FONTANA, Roseli A. Cação. Mediação pedagógica na sala de aula. Editora Autores Associados, 1997.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi org. Índios no Brasil. São Paulo, 2005. Global Editora

MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. A música como “caminho” no repertório do xamanismo guarani. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 10, volume 17(1):115-134 (2006).http://pt.wikipedia.org/wiki/musica_indígena-brasileira-

NÖTZOLD, Ana Lúcia Vulfe (org.). Cipó Guambé, Taquaruçu e Anilina: Conhecendo os Artesanatos Kaingáng. Caderno de Atividades. Gráfica Agnus. São José – SC. 2009.

OLIVEIRA, Marlene de, Da Taquara ao Cesto: A arte Gráfica Kaingang. Londrina. 1996. Monografia. Orientadora Profª. Dra. Kimiye Tommasino.

PAES, Paulo César Duarte. Vigotski e o ensino de artes. Campo Grande.UFMS.2007 (mimeo).

PARELLADA, Cláudia Inês. Estética Jê no Paraná: Tradição e Mudança no Acervo do Museu Paranaense. R.cient./FAP, Curitiba, v.3, p. 219-222, jan/dez. 2008.

PEREIRA, Magali Cecili Surjus. Meninas e Meninos Kaingang: O Processo de Socialização. Londrina Ed. UEL, 1998.

SOUZA, Ana Maria Alves de. Orientadora: Prof. Ms. Cleidi M. Albuquerque. BICHINHOS RA’NGÃ i. Uma contribuição ao estudo das esculturas zoomórficas Guarani Mbyá. Florianópolis, julho de 1999. UDESC. CEART.

SILVA, Aracy Lopes da (org.). A questão indígena na sala de aula. Subsídios para professores de 1º e 2º graus. SP. Editora Brasiliense, 1987.

SILVA, Aracy Lopes da (org); GRUPIONI, Luiz Donisete Benzi. A temática indígena na escola-Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília, 1995. MEC/MARI/UNESCO.

SILVA, Carmen Lucia da. Sobreviventes do Extermínio. Uma etnografia das narrativas e lembranças da sociedade Xetá. Santa Catarina, 1998. UFSC-BU

TROJAN, Rose Meri. Arte e a humanização do homem: afinal de contas, para que serve a arte? Curitiba. Educar em Revista - Editora UFPR, n. 12. 1996. p. 87-96.

VIGOTSKY, L. S. O desenho infantil. In: La imaginacion y El arte em La infância. Akal: Madrid, Espanha, 2007. Tradução de Rosângela Faustino, a partir de obra disponibilizada on line no seguinte endereço:

HTTP://www.antorcha.net/biblioteca virtual/pedagogia/vigotsky/indice.html

SITES PESQUISADOS:

www.cimi.org.br acesso em 11/02/2009.

www.museuparhttp://pib.socioambiental.org/pt/povo/xokleng/print acesso em 05/07/2009.

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/xeta/print acesso em 26/06/2009.

anaense.pr.gov.br acesso em 23/02/2010.

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-Nandeva/print acesso em 15/07/2009.

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/print acesso em 05/07/2009.