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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
_________________________________________________________________
SANDRA REGINA NANTES DOS SANTOS
INCLUSÃO EDUCACIONAL DO ALUNO SURDO: conscientização dos profissionais da educação do CEEBJA
do município de Apucarana
___________________________________________________________________LONDRINA
2011
INCLUSÃO EDUCACIONAL DO ALUNO SURDO: conscientização dos profissionais da educação do CEEBJA do município de Apucarana
Sandra Regina Nantes dos Santos1
Célia Regina Vitaliano 2
Resumo
O presente artigo descreve um procedimento de intervenção com objetivo de refletir sobre o processo de inclusão de alunos surdos e do intérprete considerando a realidade do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA) em Apucarana que desde o ano de 2003 passa a recebê-los. A inserção de tais alunos aconteceu antes da capacitação dos profissionais. Esta situação gerou inquietações em todos os envolvidos no processo. Com o objetivo de proporcionar formação aos professores que atuam diretamente com os alunos surdos e contam com a colaboração de professores intérpretes em sala de aula foi proposta a formação de um Grupo de Estudos. Este grupo desenvolveu estudos por meio de textos que reuniu diversos referenciais e fundamentação teórica capaz de orientar o grupo a enriquecer e dinamizar a prática pedagógica direcionada ao processo de inclusão de alunos surdos. O Caderno Temático trabalhado durante os estudos apresentou os temas relacionados às Filosofias: Oralismo e Bilinguísmo; Surdez na perspectiva educacional e cultural; LEI Nº 10.436/ 2002 e o decreto 5626/2005; Libras, Intérprete de Língua de Sinais e a INSTRUÇÃO N.º 008/08 da SUED/SEED/PR; O processo de inclusão de alunos surdos e o professor do ensino regular; Forma de interação com os surdos, LIBRAS; Análise e discussão do Filme O meu nome é Jonas. O trabalho desenvolvido contribuiu para a reflexão e troca de experiências entre os envolvidos de maneira que a partir desses conhecimentos os professores avaliaram que passaram a promover a inclusão de alunos surdos com mais segurança embasados em conhecimentos teóricos metodológicos e reflexões.
Palavras-chaves: Inclusão; Surdo; Intérprete.
Abstract
This article describes the procedure of intervention aimed to reflect about the process of inclusion of deaf students and the interpreter considering the reality of the Basic Education for Youngsters and Adults State Center (CEEBJA) in Apucarana that since 2003 started to receive them. The insertion of such students happened before the capacitating of professionals. This situation has caused disquiets in all the involved in the process. Aiming at minimize this disquiets and provide formation to the teachers that acts directly with deaf students and count on the collaboration of interpreter
1 Professora PDE/2009 da rede Estadual de Educação, Pedagoga, Especialista em Educação Especial Área da Surdez, Intérprete de Libras/Língua Portuguesa..
2 Professora Doutora. Universidade Estadual de Londrina.
teachers in the classroom it was proposed the formation of a Study Group. This group developed studies through texts that gathered diverse references and theoretical able to guide the group to enrich and boost the pedagogical practice directed to the process of inclusion of death students. The Thematic Dossier worked during the studies presented the themes related to the Philosophies: Oralism and Bilingualism; Deafness in the educational and cultural perspective; Law No. 10,436 / 2002 and Decree 5626/2005; Libras, Interpreter of Sign-language No. 008/08 of SUED /SEED / PR; The process of inclusion of deaf students the regular school teachers; Forms of interaction with deaf, LIBRAS; Analysis and discussion of the movie My name is Jonas. The work developed contributed to the reflection and exchange of experiences between the involved so that from this knowledge the teachers could promote the inclusion of deaf students with more safety based on theoretical methodological knowledge and reflections.
Key words: Inclusion; Deaf; Interpreter.
1 Introdução
Esse artigo originou-se das inadequações observadas no processo de
inclusão de alunos surdos e do intérprete no CEEBJA Professora Linda Eiko Akagi
Miyadi em Apucarana-PR que atualmente conta com quatro surdos incluídos no
Ensino Fundamental.
A experiência adquirida como professora regente no CAE-AS (Centro
Atendimento Especializado na Área da Surdez) de fevereiro de 1997 a dezembro de
2008 e a experiência como intérprete de LIBRAS (2003 a 2008) nesse CEEBJA
despertou o interesse em participar do Programa de Desenvolvimento Educacional
do Estado do Paraná (PDE), com o intuito de contribuir para efetiva melhoria do
processo de inclusão dos surdos e do Tradutor e Intérprete de Libras (TILS) no
contexto em questão.
A matrícula de surdos acompanhados do intérprete ocorre nesse CEEBJA
desde 2003, no entanto, o desconhecimento sobre surdez, língua de sinais,
interação professor/intérprete e critérios de avaliação diferenciada gerou angustia e
desconforto entre os professores e equipe pedagógica. No cotidiano escolar nota-se
boa vontade de alguns profissionais, pedagogos, professores ou funcionários com
tentativas de incluir o aluno surdo, usando recursos variados de comunicação e de
metodologias para que ocorra o aprendizado, porém, também observamos
profissionais que não demonstram comprometimento com a inclusão, alegando não
terem formação e que, portanto, o intérprete ou o professor especialista é quem
deve assumir a responsabilidade pelo aprendizado do aluno surdo, pois conhece as
características de aprendizagem deste aluno e a língua de sinais.
Dessa forma o contexto apresentado sinalizou a importância de oportunizar
a comunidade escolar discussões sobre: surdez, interação através da língua de
sinais, papel do intérprete, organização dos conteúdos e metodologias e critérios de
avaliação diferenciados e experiência de estudos sobre a inclusão do surdo, do
intérprete e dos mecanismos capazes de transformar a escola num ambiente
inclusivo de maneira que todos os alunos surdos ou ouvintes sejam beneficiados
com um ensino de qualidade que envolva o respeito à diversidade, a cidadania e a
aprendizagem.
Considerando este contexto elaboramos um projeto com o objetivo de
formar um grupo de estudos contando com a participação de professores para,
refletir e buscar embasamento teórico sobre as características da surdez; a forma de
interação com os surdos; a Libras; o papel de intérprete; do professor regente da
classe e a prática pedagógica adequada às necessidades educacionais especiais de
alunos surdos, considerando as adequações que devem ser realizadas na
organização dos conteúdos, bem como na metodologia de ensino e no processo de
avaliação.
Em relação ao intérprete que, por vezes desconhece o limite de sua função
e quais as suas atribuições no contexto escolar, o objetivo foi à discussão das
“funções comunicativas tradutórias”, termo utilizado por Lacerda (2006), para que
este identifique claramente seu papel em sala de aula. Cuore (2009) destaca que o
intérprete muitas vezes vai além de sua interpretação interferindo naquilo para qual
não foi lhe dado autoridade.
A implementação do projeto teve como objetivo maior contribuir para a
construção de uma escola inclusiva, segura, receptiva, colaboradora e estimulante
para todos os alunos, especialmente para os alunos surdos.
2 Fundamentação Teórica
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem característica de educação
inclusiva desde o seu surgimento “[...] as escolas para jovens e adultos recebem
alunos e alunas com traços de vida, origens, idades, vivências profissionais,
históricos escolares, ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento
completamente variado” (BRASIL, 2006, p. 4).
O Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos - Professora
Linda Eiko Akagi Miyadi recebe a participação de alunos com características
complexas, heterogêneas e com os mais diversos tipos de deficiências, seja física,
neuromotora, intelectual, cegueira, surdez.
O grande desafio enfrentado não é matricular esse aluno e sim trabalhar as
diferenças e as especificidades desse ambiente. Considerar e incentivar o convívio
diário no âmbito das relações pessoais, promover momentos de socialização é um
ganho para a escola e para os alunos, porém, a inclusão vai muito além de oferecer
oportunidade de socialização aos alunos.
As Diretrizes da Educação Especial para a construção de currículos
inclusivos da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná-SEED/PR
(PARANÁ, 2006, p. 9) dispõe que:
A compreensão da Educação Especial como modalidade que dialoga e compartilha os mesmos princípios e prática da educação geral é recente e exige das famílias, alunos, profissionais da educação e gestores das políticas públicas um novo olhar sobre o aluno com necessidades educacionais especiais.
Na busca por esse novo olhar, em que valores como compreensão,
solidariedade e crença no potencial humano superam atitudes de preconceito e
discriminação em relação às diferenças, nos apoiamos em Góes (1999, p. 48) a qual
comenta que a questão está no fato de que integrar não é só “alocar” o surdo na
sala de ensino regular. A inclusão não se efetiva ao colocarmos surdos, ouvintes e
intérpretes num mesmo ambiente é necessário encaminhamentos capazes de
promover a interação entre os envolvidos. Acreditamos que uma sociedade sem
preconceitos e discriminações faça parte da utopia de todas as pessoas
conscientes, mas, é preciso pensar no professor. Se ele está ou não preparado para
aceitar e trabalhar com as diferenças, sem discriminação ou preconceito. E se a
instituição-escola está disposta às modificações necessárias para receber e
trabalhar a diversidade, uma vez que o movimento denominado inclusão propõe que
cabe a escola adaptar-se às necessidades dos alunos e não os alunos se
adaptarem ao modelo da escola.
Segundo Góes (1999, p. 48):
[...] a inserção na escola regular, pelo menos tal como organizada neste momento, leva a acentuar discrepâncias de oportunidades e, portanto, a segregar, visto que a escola não tem na maioria das vezes estrutura física, adaptações e recursos para atender as necessidades dos alunos.
Ser uma escola inclusiva é um desafio constante, nas discussões para sua
efetivação, encontramos em Stainback apud Marques (2007, p. 136), argumentos
que destacam a importância da preparação e do apoio para professores e alunos,
A inclusão genuína não significa a inserção de alunos com deficiência em classes do ensino regular sem apoio para professores e alunos [...] o principal objetivo do processo inclusivo não é economizar dinheiro: é servir adequadamente a todos os alunos.
Encontramos em Mendes (2002, p. 64), análises semelhantes:
Para atender os alunos com necessidades educacionais com qualidade, a escola deve modificar-se, as ações de uma política inclusiva deveriam se pautar em três componentes básicos: a) O aspecto político (construção de uma rede de suportes capaz de formar pessoal e promover serviços na escola, na comunidade, na região); b). o aspecto educacional (capacidade de planejar, implementar e avaliar programas para diferentes alunos em ambientes da escola regular) e c). O aspecto pedagógico (o uso de estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e descentralize a figura do professor, o incentivo às tutorias por colegas, a prática flexível, a efetivação de currículos adaptados).
Analisando os componentes básicos citados por Mendes temos no aspecto
político o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, através da lei n°
10.436/2002 (BRASIL, 2002) e sua regulamentação pelo Decreto n° 5626/2005
(BRASIL, 2005). Em específico, o governo do estado do Paraná, desde 2003,
contrata intérprete sempre que um aluno surdo usuário de língua de sinais é
matriculado em estabelecimentos da rede pública estadual de educação. O avanço
considerável nessa esfera deu-se através do concurso público realizado pela
SEED/PR em 2006, com oferta de vagas para intérprete. Porém, a dificuldade maior
se concentra na carência de pessoal qualificado para assumir essa função uma vez
que é quase inexistente curso de formação para esse profissional.
Quanto ao aspecto educacional e pedagógico de competência da escola
deveriam ser contemplados já na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP).
Esse ideal permanece no campo das utopias, uma vez que na prática a escola
primeiro recebe o aluno surdo para depois planejar. Consideramos que a
preocupação com a inclusão deve estar presente na elaboração do PPP, através de
ações que visem parcerias com profissionais da área da surdez, tais como médicos,
fonoaudiólogos, professores especialistas, ofertando palestras para a comunidade
escolar e a formação de grupo de estudos para os professores, pedagogos e
intérpretes trabalharem currículo e possíveis adaptações, conteúdos, metodologias
de ensino, e até mesmo pesquisar metodologias e materiais pedagógicos
adequados aos processos de aprendizagem de alunos surdos, reflexões sobre as
ações em sala de aula e em outros ambientes da escola, também oferecer cursos de
Libras para toda comunidade escolar.
Atualmente a Educação de Surdos segue a proposta denominada
Bilinguísmo, que segundo Tartuci, apud Lacerda (2006, p. 163):
[...] tem como meta educacional viabilizar a presença de duas línguas no contexto escolar do aluno surdo. Entende-se que, ao valorizar e tornar acessível o uso da língua natural dos surdos, essa vivência oportunizará que ele construa uma auto-imagem positiva e, ao mesmo tempo, se desenvolva cognitiva e lingüisticamente.
O ambiente bilíngue se estabelece quando os usuários das línguas
envolvidas estão plenamente integrados e não existe preconceito ou discriminação
quanto à língua de uso minoritário e seu usuário, o respeito à diferença, não é só
quanto à educação, mas à pessoa surda, esse ambiente facilitará o aprendizado da
segunda língua, ou seja, a língua dos ouvintes.
Fernandes (2009, p. 34) em seus estudos afirma que:
Os surdos podem ser considerados bilíngües ao dominarem duas línguas legitimamente brasileiras, posto que ambas expressam valores, crenças e modos de percepção da realidade de pessoas que compartilham elementos culturais nacionais. Ocorre que uma das línguas – o português – é a língua oficial e majoritária – enquanto que a outra – a Libras – é uma língua minoritária, que não goza de prestígio social e é utilizada por um grupo restrito de pessoas.
Sempre que se inicia um processo de implementação de políticas públicas
na área de educação, as escolas passam por um período de adaptação, num
primeiro momento ocorre à rejeição, a não aceitação, os questionamentos para que?
Por quê? E por fim, a aceitação da nova realidade, momento em que a escola
percebe ser necessário partir em busca de conhecimentos que dêem conta das
implicações, adaptações e reformulações que se fazem necessárias para a
efetivação dessas políticas. Esse processo também ocorreu com a implementação
do Bilinguismo.
Vieira (2009, p. 475) analisa que a maioria das políticas públicas são
implantadas sem a participação em sua elaboração e efetivação dos educadores
responsáveis pela sua implementação na escola. Geralmente esquecem que tais
políticas requerem:
[...] uma nova escola que aprenda a refletir criticamente e a pesquisar. Uma escola que não tenha medo de se arriscar, com coragem suficiente para criar e questionar o que está estabelecido, em busca de rumos inovadores, e em resposta às necessidades de inclusão.
Segundo Vieira (2009, p. 476),
Outro aspecto que deve ser trabalhado na escola, de forma muito responsável, diz respeito à formação de professores. Constatamos que a ansiedade e a preocupação manifestas por muitos professores diante da inclusão de alunos com deficiência, geralmente, estão estreitamente relacionadas com a falta de preparo e a inexistência de experiência, [...].
Os professores não têm formação para atender esse aluno, reconhecem que
possuem dificuldades de aceitação da inclusão, não tem a compreensão do papel do
intérprete e, portanto, ao receber a informação da matricula do surdo acompanhado
do intérprete de língua de sinais, sentem-se aliviados, pois acreditam que está
resolvida a inclusão, e assim, aluno e intérpretes acabam ficando num mundo a
parte.
Segundo Pimenta apud Vieira (2009, p. 476):
[...] a profissão de professor, assim como outras, foi se transformando e adquirindo novas características. A formação inicial
proporciona ao futuro professor os saberes necessários para atuar pedagogicamente, mas requer uma formação constante, segundo as necessidades históricas e sociais.
E Vieira (2009, p. 477) complementa analisando que na prática cotidiana do
magistério: Tais saberes vão sendo redimensionados na própria prática docente, que não deve ser pautada por fórmulas e receitas previamente estabelecidas, mas por um constante processo de reflexão sobre si mesma e o desenvolvimento da habilidade de pesquisar sobre ela. Desse modo, em uma situação nova, o professor lançará mão dos saberes específicos e pedagógicos que foram adquiridos por meio da formação, bem como daqueles construídos pela experiência, podendo mobilizá-los para atuar em contextos diversificados, sendo necessário que se efetive um processo de formação continuada.
A educação inclusiva envolve um processo de preparação do professor que
considera as diferenças e as dificuldades dos alunos na aprendizagem escolar como
fontes de conhecimento sobre como ensinar e como aperfeiçoar as condições de
trabalho nas salas de aula. Carvalho (1997, p. 24), diz “a principal diferença entre
crianças surdas e ouvintes está no modo como se lhes ensina e não propriamente
nas matérias curriculares a serem aprendidas”.
Para que a escola seja inclusiva segundo Brito (1990, p. 45) “o
reconhecimento da diferença é o primeiro passo para a integração do surdo na
comunidade ouvinte que o circunda”.
O processo de inclusão de alunos surdos apresenta o desafio de equacionar
a tríade: surdo, intérprete e professor.
O intérprete de Libras é a ponte comunicativa entre os surdos e as pessoas
que lhes cercam. Seu papel em sala de aula é servir como tradutor entre indivíduos
que compartilham línguas e culturas diferentes realizando uma atividade humana
que exige estratégias mentais na arte de transferir o contexto e a mensagem de um
código lingüístico para outro.
Segundo Lacerda (2006) o intérprete de LIBRAS exercerá em sala de aula e
em todas as atividades educacionais somente as Funções Comunicativas
Tradutórias.
Quanto à inclusão do intérprete e do surdo na sala de aula, Martins (2007, p.
186), analisa que:
Estabelece-se um laço fraterno entre intérprete e aluno surdo, entendendo, segundo Koltai, essa relação fraterna, a partir de Lacan, como sendo efeito da negação do estrangeiro - das segregações que se fazem na relação do outro com a diferença -, na união das semelhanças; uma relação bem interessante que ocorre entre surdo e o intérprete, que de algum modo são os dois, um pouco, estrangeiros – cada um em sua relação fronteiriça - incluídos na sala de aula.
O professor é o modelo pedagógico para os alunos e sua preocupação é
voltada para o conteúdo, a disciplina, o saber, o conhecimento. O ideal é que o
professor se relacione de maneira igual ao prestar atendimento individual aos alunos
surdos e ouvintes, evitando o distanciamento. Neste contexto, o professor utilizará o
profissional intérprete em momentos que sua projeção seja para a turma inteira e em
momentos de atendimento individual é importante que atenda ouvintes e surdos do
mesmo modo. Para Marques (2007, p. 143):
Muitos professores mantém uma relação de distanciamento do aluno, idealizando que eles estejam entendendo tudo sem nenhuma objeção através do intérprete. Esta atitude põe em risco o processo de ensino e aprendizagem, constrói uma barreira. A situação fica como se fossem dois mundos divididos pelas águas, onde o intérprete não é como uma ponte que permite a interação entre esses dois mundos, mais sim como um sistema estéril de comunicação e transmissão de informações.
Para diminuir esse distanciamento que se estabelece entre o professor do
ensino regular e o aluno surdo, acredito que o educador precisa conhecer e respeitar
as diferenças e as especificidades do surdo incluindo a língua de sinais, ou seja, o
professor precisa de informação e formação para compreender e interagir com esse
“novo” aluno.
Outros procedimentos que facilitam a integração e a comunicação entre o
professor regente e o aluno surdo é o estabelecimento de outras formas de
comunicação que pode ser através do olhar, do uso de alguns sinais utilizados por
ouvintes, desenhos, gravuras, mais principalmente demonstrar nas suas ações que
tem consciência da presença do surdo em sala de aula e que ao planejar e preparar
suas aulas leva em consideração as especificidades inerentes ao surdo.
Para atingir esse ideal inclusivo, foram propostas as ações delineadas a
seguir.
3 Método
3.1 Caracterização do projeto
Ao pensar em quais mecanismos utilizar para explorar o tema Inclusão do
Surdo, optou-se pela formação de um grupo de estudos que foi desenvolvido por
meio de 8 encontros de 4 horas totalizando 32 horas de duração, realizados
quinzenalmente, com a participação voluntária de professores, intérpretes,
representantes da equipe pedagógica e administrativa com o intuito de, refletir e
buscar embasamento teórico e metodológico sobre o processo de inclusão de
alunos surdos no CEEBJA Professora Linda Eiko Akagi Miyadi.
Os encontros com o grupo foram divididos em momentos presenciais e não
presenciais.
Os momentos não presenciais constaram de 2 horas quinzenais, nas quais
era solicitado aos membros do grupo a realização de leitura e a síntese de cada
texto distribuído anteriormente.
Os momentos presenciais aconteceram mensalmente na segunda quarta-
feira de cada mês, com a duração de 2 horas nas reuniões de hora atividade
concentrada, previstas no calendário escolar desse CEEBJA em Apucarana.
Nesses encontros foram apresentados e discutidos os temas propostos aos
participantes, foi realizado o levantamento de questões que geravam dúvidas, além
da troca de experiência entre o grupo.
Os temas a trabalhados foram:
• Surdez: Como o ouvido funciona, prevenção, sinais de alerta,
etiologia, causas, tipos, a perda, classificação, exames, cuidados,
aparelhos e implante coclear;
• Filosofias: Oralismo e Bilinguismo; Surdez na perspectiva
educacional e cultural; LEI Nº 10.436/ 2002 e o decreto 5626/2005;
• Libras, Intérprete de Língua de Sinais e a INSTRUÇÃO N.º
008/08 da SUED/SEED/PR
• O processo de inclusão de alunos surdos e o professor do
ensino regular;
• Forma de interação com os surdos, LIBRAS;
• Análise e discussão do Filme O meu nome é Jonas
• Leitura e estudo dos textos:
• Avaliação em Língua Portuguesa para Alunos Surdos: Algumas
Considerações por Sueli Fernandes, Acesso em 09/10/2009
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1076-
4.pdf>.
• A Visão Histórica da In (Ex) Clusão dos Surdos nas Escolas de
Karin Lílian Strobel, <http://pt.scribd.com/doc/4658070/inexclusao-
Surdos>. Acesso em 10/10/2009
• Funções Comunicativas E Funções Pedagógicas. Acesso em
10/10/2009
<http://www.feneis.com.br/page/ _funcoescomunicativas.asp>.
3.2 Local de implementação do projeto
Este projeto foi desenvolvido no Centro Estadual de Educação Básica de
Jovens e Adultos - Professora Linda Eiko Akagi Miyadi de Ensino Fundamental e
Ensino Médio da rede estadual de ensino no município de Apucarana no norte do
Paraná.
3.3 Participantes
Este projeto teve início com a participação de 10 professores, porém a cada
encontro surgiam mais professores interessados em participar, ao término contava
com 20 professores atuantes no CEEBJA em questão.
3.4 Procedimentos
No primeiro encontro apresentamos o Projeto de implementação e
propusemos aos professores que atuavam nesse CEEBJA a organização de um
grupo de estudo com o título: INCLUSÃO EDUCACIONAL DO ALUNO SURDO:
CONSCIENTIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO CEEBJA DO
MUNICÍPIO DE APUCARANA
Ao iniciar o grupo de estudos distribuímos um questionário que visava obter
um panorama dos conhecimentos e necessidades de formação apresentadas pelo
grupo. As questões foram respondidas por dez participantes. Fato curioso acorreu
no transcorrer dos encontros, como a participação era voluntária após os
comentários realizados pelos participantes iniciais houve um aumento no número de
professores interessados o que ocasionou a repetição do primeiro encontro para os
novos componentes.
Após a análise das respostas percebemos que as necessidades do grupo
estavam contempladas no Caderno Temático que foi subdividido e transformado em
oito temas que foram organizados no programa Power Point. Em cada encontro um
dos temas era trabalhado, além disso, nos encontros apresentávamos um pequeno
vídeo sempre relacionado aos surdos e a Libras. Os temas foram trabalhados
através de: explanações, debates, seminários, diálogo, discussão dirigida, cochicho
e outras.
Ao finalizar o grupo de estudos reaplicamos o questionário que foi
respondido inicialmente que desta vez foi respondido por vinte professores. Sendo
dez professores que participaram inicialmente e mais 10 que se agregaram ao grupo
inicial por interesse no tema. Este procedimento teve o objetivo de avaliar os efeitos
do desenvolvimento do grupo de estudos.
A seguir apresentamos os resultados advindos da aplicação dos
questionários inicial e final, bem como dados que foram registrados no transcorrer
das atividades desenvolvidas pelo grupo.
4 Resultados e Discussão
4.1 Análises dos resultados do questionário inicial
Analisaremos inicialmente os dados decorrentes da aplicação do
questionário inicial. Estas análises nos permitiram organizar as respostas obtidas em
5 categorias, relacionadas à compreensão dos professores sobre: a inclusão
educacional; as dificuldades para incluir alunos surdos; as adaptações que devem
ser realizadas ao se trabalhar com as especificidades do aluno surdo; a gestão
escolar em relação à inclusão dos alunos surdos e; a atuação do intérprete de língua
de sinais.
4.1.1 Percepções dos participantes sobre o processo de inclusão educacional
Oito professores se referiram à inclusão educacional como uma educação
focada na inclusão da pessoa com deficiência no ambiente escolar. Dois professores
definiram que a inclusão educacional é uma educação ofertada a todos e que deve
ocorrer num ambiente livre de preconceito que estimule as potencialidades do
educando que necessite de um atendimento diferenciado, oportunizando a todas as
diferenças a igualdade e o direito a educação:
Inclusão educacional é a educação voltada para todos, não fazendo distinção, ou seja, a educação ocorrendo num ambiente livre de preconceito que estimule as potencialidades, a formação de uma consciência crítica.
Ao analisarmos as respostas observamos a necessidade de trabalhar o
conceito de inclusão educacional, pois encontramos professores que definem o
processo de incluir como alocar, visto que encontramos a seguinte resposta:
“O aluno é inserido na sala de aula com qualquer tipo de deficiência”.
É necessário que os professores percebam como bem comenta Góes (1999,
p. 48), “que a questão está no fato de que integrar não é só “alocar” o surdo na sala
de ensino regular” está muito além, é essencial prover condições para que esses
alunos possam aprender os conteúdos acadêmicos e socializar com colegas de
sala.
4.1.2 Dificuldades para incluir alunos surdos
Os professores reconhecem que sentem dificuldades ao trabalhar com o
aluno surdo, destacam que:
Gostaria de saber Libras para me comunicar e ser entendida por ele.
Nas sala superlotadas por exemplo fica difícil se trabalhar sem o auxilio do intérprete.
Minha experiência com o aluno surdo em sala de aula é pouca, do tempo que não havia intérprete, então senti muita dificuldade, principalmente ao me comunicar.
Tenho dificuldade principalmente na hora de explicar o conteúdo, procuro fazer tudo bem devagar, para melhor compreensão dos alunos.
Às vezes, quando a intérprete não está presente, é bem difícil, pois algumas vezes me esqueço de falar pausadamente e de frente para o aluno surdo.
A comunicação fica um pouco mais complicada, mas não impossível.
Sinto-me excluída de seu contexto e por isso sinto muita dificuldade.
As dificuldades assinaladas estão centradas na questão da comunicação
com os alunos surdos decorrentes da falta de conhecimento do professor sobre a
Libras e a relação percebida entre aluno surdo e intérprete o que faz com que alguns
professores se sintam excluídos dessa relação, fato narrado por Martins (2007, p.
186), “Estabelece-se um laço fraterno entre intérprete e aluno surdo”.
4.1.3 Adaptações metodológicas
Sete professores responderam que não fazem modificação na sua maneira
de ensinar, não sentem necessidade, pois já contam com o intérprete.
Três professores procuram utilizar imagens para facilitar a compreensão,
fazem gestos para chamar a atenção do aluno na tentativa de aproximação e atuam
em parceria com o intérprete para fazer a comunicação.
Observamos que os professores precisam ser alertados e estimulados para
investir na parceria com o intérprete, pois esse profissional tem importantes
contribuições a dar ao professor tais como, informar sobre: características do
aprendizado de alunos surdos, as suas dificuldades, seu potencial de aprendizagem.
Consideramos que estas informações são úteis ao professor no momento de
planejar suas aulas. Marques (2007, p. 145), diz:
O ideal seria o intérprete e o professor estarem engajados no planejamento das aulas, pois a troca de experiências será muito produtiva, estarão criando estratégias pedagógicas que mais se aproximem do jeito da pessoa surda aprender, e conseqüentemente, a interpretação se apresentará mais qualificada.
4.1.4 Gestão escolar para inclusão de alunos surdos
Nove professores responderam que entendem que o CEEBJA em questão
oferece um ambiente acolhedor ao aluno incluso e ao professor, uma vez que dispõe
de intérprete e pedagogos que apóiam a inclusão e assessoram os professores
regente. A seguir algumas respostas apresentadas pelos professores:
Além de fornecer interprete, passa segurança para os professores se sentirem confortáveis com os alunos em sala e também todo o apoio nas situações delicadas
Sim, a intérprete esclarece como é determinado aluno e suas dificuldades,
Sim, temos os professores intérpretes, que nos orientam e nos apóiam no trabalho de sala de aula.
Sim, a escola oferece um ambiente acolhedor dispondo de profissionais qualificados, os quais dão atendimento necessário aos professores da sala, uma vez que independente das diferenças existentes entre alunos, temos a tarefa de passar os conhecimentos devidos a cada um.
A resposta que considera que a atuação da escola é parcial quanto ao
assessoramento à inclusão e ao professor nesse processo não foi justificada.
De modo geral as respostas apresentadas nessa investigação são coerentes
na medida em que de 2003, até a data atual, este Centro de Educação sempre
contou com tradutor intérprete da língua de sinais (TILS) e com um professor
pedagogo especializado na Educação Especial - área da Surdez que possui
formação como intérprete de Libras.
4.1.5 Atuação do intérprete de Libras na inclusão educacional
Os dez professores concordam que a presença do interprete favorece o
trabalho e alegaram que apesar da figura do intérprete ser ainda pouco conhecida
no âmbito acadêmico esse elemento é de suma importância na inclusão de surdos.
Além disso, comentaram que este ao propiciar o acesso aos conteúdos ao aluno
surdo em Língua de Sinais, dá ao professor a possibilidade de ministrar suas aulas
sem se preocupar em como passar informação em sinais, pois o intérprete é a
melhor forma de comunicação entre o professor e o aluno, portanto ficam mais
seguros em relação ao aprendizado do surdo.
Percebemos nestes comentários certo distanciamento que se estabelece
entre o professor do ensino regular e o aluno surdo, acreditamos que o educador
precisa conhecer e respeitar as diferenças e as especificidades do surdo incluindo a
língua de sinais, ou seja, o professor precisa de informação e formação para
compreender e interagir com esse “novo” aluno.
Segundo Reily (2004, p. 125):
Mesmo na escola que conta com um intérprete [...] é de fundamental importancia que o aluno sinta que seu professor está se esforçando para se aproximar dele, tentando encontrar maneiras de interagir com ele.
O professor é o modelo pedagógico para os alunos e sua preocupação é
voltada para o conteúdo, a disciplina, o saber, o conhecimento. O ideal é que o
professor se relacione de maneira igual ao prestar atendimento individual aos alunos
surdos e ouvintes, evitando o distanciamento. Ainda segundo Reily (2004, p. 131):
Para que o aluno surdo seja considerado como parte integrante da classe, o professor precisa lhe comunicar o que é esperado dele, transmitindo regras e limites do convívio social. Para tanto o professor sentirá a necessidade de conhecer vários sinais para comunicar regras, negociar novos combinados e explicar tarefas a serem cumpridas.
4.2 Transcorrer do grupo de estudos
Durante os encontros pudemos perceber o interesse dos professores sobre
o assunto, além de dobrar o número de participantes inicias todos foram
participativos, foi necessário adaptar o cronograma inicial com a troca de datas
previstas em função de eventos realizados na escola, em razão dos professores
manifestarem o interesse em participar dos encontros, mesmo sem receberem
certificação.
No ultimo encontro foi distribuído a cada participante a versão impressa do
Caderno Temático.
A seguir retratamos alguns desses encontros.
Figura 1 – Encontros.
Fonte: A autora
4.3 Análises dos resultados do questionário final
Ao terminarmos os trabalhos reaplicamos o questionário inicial para 20
professores que terminaram o grupo de estudos com o intuito de identificarmos os
efeitos deste trabalho na percepção dos professores a respeito dos assuntos
tratados. Analisaremos novamente as mesmas 5 categorias relacionadas à
compreensão dos professores sobre: a inclusão educacional; as dificuldades para
incluir alunos surdos; as adaptações que devem ser realizadas ao se trabalhar com
as especificidades do aluno surdo; a gestão escolar em relação à inclusão dos
alunos surdos e; a atuação do intérprete de língua de sinais.
4.3.1 Percepções dos participantes sobre o processo de inclusão educacional
Observamos que houve uma evolução na compreensão dos participantes
sobre o processo inclusivo, com pequenas diferenças são unânimes em descrever a
inclusão como:
Aceitar o aprendiz com sua “limitação” e instruí-lo conforme sua necessidade e da melhor forma possível sem subestimar ou confundir sua capacidade de aprendizagem.
É quando recebemos alunos que possuem necessidades especiais e dificuldades na aprendizagem.
É incluir pessoas com necessidades especiais e também os que não tiveram oportunidades.Uma escola onde todos tenham oportunidade de espaço parta a construção do conhecimento científico.
Ofertar a todos oportunidade para desenvolver o conhecimento científico.
Promover condições de acesso ao processo de ensino aprendizagem, independente das condições contextuais do aluno.
Atender os alunos de igual para igual mesmo sabendo das dificuldades, mas o interessante é que o aluno perceba que ele é capaz, é um cidadão digno de viver em sociedade.
A inclusão educacional é aceitar as diferentes formas de “ensinar” para pessoas que têm um modo especial e peculiar e aprender.
4.3.2 Dificuldades para incluir alunos surdos
As dificuldades assinaladas continuam centradas na questão da
comunicação, ou seja, o desconhecimento do professor acerca da Língua de Sinais,
porém todos se apóiam na presença do intérprete. A seguir destaco algumas dessas
considerações.
Tenho grande dificuldade para comunicar com os alunos principalmente no momento da explicação do conteúdo.
Sim, partindo do principio de que não tenho preparo suficiente para atender ás necessidades do aluno, será difícil, porém não impossível.
A única dificuldade é que demora muito encontrar atividades pensando em todos como, por exemplo: recursos visuais e materiais, ilustrações e TV pendrive.
Os alunos surdos atendidos por mim vieram acompanhados do intérprete e estes intérpretes construíram pontes entre nós e facilitaram a interação.
Sim as maiores dificuldades seriam na hora de explicar o conteúdo, pois eu utilizo muitos gestos e tenho medo que o aluno surdo não os reconheça na ausência do intérprete.
Acredito que com o auxílio do intérprete e dos cursos ofertados pela escola (aplicação do Projeto PDE) tenhamos condições de desenvolver as atividades, onde as dificuldades serão sanadas dia a dia com o pessoal especializado.
Dezesseis pesquisados reconhecem que terão dificuldades, porém não
desanimam, concordam que não é impossível e são unânimes em destacarem a
importância da presença do intérprete. Também encontramos 4 professores que
apesar dos trabalhos realizados se mantém firmes em destacar a diferença, mesmo
já tendo trabalhado com o aluno surdo o professor destaca que não tem idéia de
como atuar junto a esse aluno.
Sim, pois eu ainda o vejo como diferente e acabo por tratá-lo diferente.
Sim dificuldade de comunicação com o aluno porque “eles” ainda se sentem discriminados e não falam diretamente conosco.
Com certeza, pois já trabalhei com aluno surdo e foram muitas as dificuldades, pois não tenho a menor noção de como trabalhar com. esse aluno.
Sim, já tive alunos surdos em sala de aula e na falta de um professor intérprete, fica difícil a construção do conhecimento. Problemas com explanação oral, filmes dublados (dependendo da idade do aluno, também dificuldade na leitura da legenda).
4.3.3 Adaptações metodológicas
Foi interessante perceber que os professores anteriormente a realização dos
estudos deixava para o intérprete a responsabilidade pelo aprendizado do aluno
surdo e que após o grupo de estudos houve uma conscientização do papel que o
professor exerce no processo de inclusão. A questão proposta dizia respeito às
adaptações metodológicas que o professor considera possível ser realizada.
Sim de acordo com a necessidade de cada um, pois ambos se apresentam com níveis de comunicação diferentes. Exemplo: o uso de materiais didáticos manipuláveis.
Uso de giz colorido para destacar assuntos mais importantes; utilização de figuras, cartazes...
Elaborando avaliações e materiais mais adequados
Procuro fazer aulas expositivas com muitas imagens e textos de apoio.
Sim, contando sempre com o intérprete, recursos áudio visuais, teatro, posicionamento no campo visual e logicamente buscar literatura para aperfeiçoamento sobre o assunto.
Sim, sem o intérprete algumas ações cotidianas podem ser realizadas, não dar as costas ao explicar conteúdos, evitar sons que não podem ser identificados, (filmes dublados, músicas sem a letra) usar bastante material iconográfico.Tento trabalhar pensando em todos os alunos, não posso constranger os surdos e nem os demais alunos, portanto modifico sem que percebam.
Procurando falar devagar, pausadamente e aprendendo os sinais básicos da língua.
Tenho sim, pois á partir do momento que atendo esses alunos, minha metodologia tem que ser modificada, de maneira que satisfaça o educando.
Dezenove professores se mostraram prontos a adaptarem sua metodologia
e um relatou que ainda se sente insegura.
“Mais ou menos ainda me sinto insegura”.
4.3.4 Gestão escolar para inclusão de alunos surdos
Para levantarmos qual a opinião dos professores sobre as ações realizadas
pela escola quanto à inclusão, definindo se recebem ou não apoio dos pedagogos e
da direção. Destaque para as respostas abaixo:
A participação no grupo de estudos me permitiu conhecer algumas características do surdo que interferem na aprendizagem e no convívio com o grupo.
Nessa escola contamos com o auxílio e o acompanhamento dos intérpretes.Não existe uma ação formal e oficial das escolas em que atuei, nesse CEEBJA contamos com um professor pedagogo com formação em educação especial que atua junto com o intérprete no suporte aos professores.
A implementação do grupo de estudos sobre a inclusão de surdos, o apoio pedagógico e o intérprete apóiam os professores nessa escola.
A presença da intérprete é primordial ao trabalhar com os surdos.
Sim nessa escola temos intérprete que auxilia todos os profissionais quando necessário.
Sim, temos intérprete e apoio pedagógico, felizmente estamos numa escola privilegiada.
Sim, nessa escola estamos munidos de profissionais que nos auxiliam muito.
Nesse universo de 20 professores encontramos 1 que respondeu
que nem sempre as escola dá o suporte necessário.
“Nem sempre, mas acredito que agora devido à inclusão que se fez tão presente, a escola deve orientar melhor os professores.”
4.3.5 Atuação do intérprete de Libras na inclusão educacional
Nesse tópico o grupo foi unânime em reconhecer que a presença do
intérprete é imprescindível uma vez que ele á a pessoa responsável por fazer a
ligação do professor x aluno surdo x alunos ouvintes.
Ele auxilia o aluno a compreender o assunto a interar-se com o professor e o conhecimento transmitido.
Favorece, pois o meu problema maior é a comunicação, ele é de primordial importância.
A presença do intérprete facilita a ação do professor junto com os outros alunos.
O intérprete me ajuda a desenvolver meu trabalho apesar de me deixar constrangida.
Ele auxilia na comunicação com o aluno surdo dando apoio ao professorA presença do intérprete justifica todo o trabalho do professor, pois repassa toda a aula em Libras para o surdo, tornando a aula compreensível.O intérprete auxilia e dá suporte para a construção da aprendizagem.
Ele facilita a ação pedagógica e favorece o sucesso escolar do surdo.
Torna o trabalho mais fácil e eficiente.
Quando não consigo entender meu aluno, é o intérprete que auxilia.
Embora todos os pesquisados reconheçam a importância do intérprete
encontramos ressalvas quanto ao trabalho desse profissional quando um professor
salienta que às vezes percebe que a transposição didática difere da realizada pelo
professor regente.
Durante o desenvolvimento do grupo de estudos foi bastante enfatizado a
necessidade de professor regente e do intérprete trabalharem juntos.
Com certeza favorece porque não estamos preparados para o trabalho.
O intérprete auxilia, porém nota-se que algumas vezes ele faz outra transposição didática diferente da feita pelo professor regente.
5 Considerações Finais
O Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) do Paraná oferta aos
professores da rede estadual de educação o retorno a Universidade dando a
oportunidade de formação continuada e desenvolvimento de projeto na área de
interesse desses educadores de acordo com as necessidades percebidas em sua
prática pedagógica. Por meio da participação neste programa foi possível um
diálogo com os professores do CEEBJA em questão para conhecer e mapear a
realidade da inclusão dos surdos e do intérprete, bem como desenvolver um
procedimento de intervenção, visando aprimorar o processo de inclusão dos
referidos alunos.
A formação de um Grupo de Estudos composto por professores, pedagogos
e direção foi o caminho proposto para aprofundar os conhecimentos teóricos e
discutir as práticas pedagógicas utilizadas na inclusão dos alunos surdos.
O mapeamento inicial mostrou as dificuldades enfrentadas pelos professores
no seu dia a dia com os alunos surdos, verificamos que estas se concentravam na
compreensão do processo de inclusão, das características da surdez, nos
procedimentos metodológicos que deveriam ser desenvolvidos com os alunos
surdos, bem como em relação ao papel do intérprete no processo de ensino e
aprendizagem dos referidos alunos.
Os estudos propiciaram conhecer e estabelecer contato com conhecimentos
teóricos atualizados sobre as peculiaridades da surdez e do surdo, qual o papel do
intérprete, do professor e da escola além da conscientização de que não basta a
inclusão da Língua de Sinais e do intérprete no ambiente escolar para que a
inclusão esteja concretizada, é preciso que se conheça é respeite as especificidades
do incluído.
Acreditamos que a experiência do grupo de estudo trouxe relevantes
benefícios para professores, pedagogos e direção que participaram, porém ficou
claro a necessidade da continuidade e da retomada destes estudos, uma vez que
esses trabalhos foram realizados no segundo semestre do ano de 2010 e ao
iniciarmos o ano letivo de 2011 foi notória a rotatividade de professores. Também
indicamos a necessidade de cursos de Libras aos professores para que este possa
aprimorar seu processo de comunicação com os alunos surdos.
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