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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · A participação do aluno nos debates de sua comunidade, no trabalho que ... da estrutura feudal, ... com a economia baseada na pecuária,

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

A CONTRIBUIÇÃO DA PAISAGEM URBANA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: a percepção do aluno do ensino fundamental

Autora: Lucilene Caldeira Leite1

Orientadora: Maria das Graças de Lima2

Resumo

O artigo aqui apresentado sistematiza informações levantadas em um projeto desenvolvido na Educação Básica do Paraná, cujo principal objetivo foi a utilização de novas tecnologias nas aulas de campo, da disciplina Geografia com o intuito de analisar, refletir e interpretar criticamente o espaço geográfico, integrando teoria e prática. A proposta foi desenvolvida no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, localizado em uma região central da cidade de Maringá, Estado do Paraná. A referida escola recebe alunos de diversos bairros da cidade, possibilitando estudar diferentes paisagens, diferentes condições sociais. A proposta desenvolvida envolveu estudos teóricos e práticos sobre as temáticas tratados em sala de aula. A paisagem do ambiente dos diferentes bairros onde os alunos vivem, foi estudada por meio de uma pesquisa de campo, que foi fundamental para que os alunos tivessem a oportunidade de contribuir com seu saber e adquirir conhecimento. Os alunos atuaram em grupos, coordenados pela professora: capturaram as imagens dos espaços urbanos dos bairros onde moravam, gravadas em celulares, “pen-drive”, CDs, DVDs e máquinas fotográficas digitais. Na sala de informática “Paraná Digital”, as imagens foram arquivadas em “pen-drive” específico para a atividade. Posteriormente, foram selecionadas as melhores imagens e editadas em recurso multimídia, como no programa Windows Power Point, para serem apresentadas como recurso didático nas aulas de Geografia, cujos temas tratem a questão urbana, e para a população dos bairros tratados. A proposta de intervenção realizada favoreceu o processo de ensino e aprendizagem em Geografia ao tratar das diferentes paisagens urbanas: ruas, estabelecimentos, indústrias, transporte, praças, casas, dentre outros, dos alunos que vivem em bairros do município de Maringá/PR e estudam na escola onde foi desenvolvida a proposta. Foi possível verificar a motivação dos alunos para participar das atividades, junto às suas comunidades, compreendendo a realidade que os cercam.

Palavras-chave: Tecnologia; Espaço geográfico; Conhecimento; Urbanização.

1 Licenciada em Geografia. Professora de Geografia da Educação Básica do Paraná Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga.2 Doutora em Geografia Humana. Professora do Departamento de Geografia (DGE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora-Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PGE).

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1 Introdução

Este artigo é resultado dos estudos da formação continuada realizada pelo

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE do Governo do Estado do

Paraná, amparada pela Lei Complementar nº 103/2004, que consolida uma política

de valorização dos professores da Rede Estadual de Educação, como

pesquisadores(as) da realidade didática das salas de aula das escolas públicas.

O objetivo da proposta foi utilizar novas tecnologias nas aulas de campo, na

disciplina de Geografia, com o intuito de analisar, refletir e interpretar criticamente o

espaço geográfico, integrando teoria e prática. Mais especificamente, buscou-se

observar, registrar, e descrever as diferentes formas de apresentação da natureza

na paisagem local, para relacioná-los aos conteúdos estudados; o objetivo foi sugerir

um estudo da paisagem local e do entorno, em que o aluno vive, favorecendo o

conhecimento local, tendo como referência o contexto social de inserção dos alunos.

A proposta de intervenção foi realizada no Colégio Estadual Dr. José

Gerardo Braga, localizado em uma região central do município de Maringá/PR. A

referida escola recebe alunos de diversos bairros, possibilitando estudar diferentes

paisagens da cidade.

A participação do aluno nos debates de sua comunidade, no trabalho que

exerce, no lazer, nas decisões de transformação da paisagem, será de melhor

qualidade, desde que ele consiga pensar seu espaço de forma mais crítica,

estabelecendo relações entre o espaço próximo e o espaço regional ou global

(CAVALCANTI, 1998).

Assim, a proposta envolveu conteúdos bastante diversificados. Num primeiro

momento foram realizados estudos teóricos, utilizando-se de textos que trataram o

processo de urbanização, os principais problemas urbanos no Brasil e a formação

histórica do município de Maringá, bem como aspectos da sua localização. Para

complementar os estudos foram apresentados vídeos sobre o processo histórico de

Maringá, assim como mapas para ilustrar a localização da cidade e os bairros

estudados. Os alunos entrevistaram familiares e antigos moradores de seus bairros,

levantando informações de como se deu o processo de formação do seu bairro e da

cidade.

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Em um segundo momento, a paisagem dos diferentes bairros em que os

alunos vivem foi estudada, por meio de um trabalho de campo. Os alunos atuaram

em grupos, coordenados pela professora: capturaram as imagens dos espaços

urbanos dos bairros onde moravam, gravadas em celulares, “pen-drive”, CDs, DVDs

e máquinas fotográficas digitais. Na sala de informática “Paraná Digital”, as imagens

foram arquivadas em “pen-drive” específico para a atividade.

Em etapa anterior, os alunos foram orientados pela professora sobre o

manejo da máquina fotográfica digital, do celular e da filmadora para capturar boas

imagens, pois a fotografia, as filmagens e as entrevistas com os moradores dos

bairros, comporiam o material que resultaria no recurso didático. Após esse trabalho,

foram selecionadas as melhores imagens e editadas em arquivo multimídia, como o

programa Windows Power Point, para serem utilizadas como recurso didático em

sala de aula.

No laboratório de informática da escola as imagens capturadas pelos alunos

foram utilizadas para estabelecer relação com o conteúdo tratado, a urbanização,

auxiliando o trabalho de abordagem dos conceitos e categorias geográficos,

possibilitando diferenciar as paisagens que compõem o espaço urbano,

desenvolvendo os conceitos de território e lugar. As imagens possibilitaram leituras

importantes e significativas para a compreensão do espaço em que vive o aluno.

Com esse propósito, apresentamos os resultados da intervenção

pedagógica realizada junto aos alunos; organizadas em seis encontros, totalizando

32 horas. Nesse artigo, apresentamos uma leitura sobre o processo de urbanização

que ocorreu no Brasil e no Paraná, tratando a gênese das cidades, sua formação,

seu desenvolvimento. Na sequencia, versamos sobre os resultados da proposta de

intervenção.

1.1 Gênese das Cidades

As cidades fazem parte do espaço geográfico desde a antiguidade. Na

Mesopotâmia, as cidades surgiram às margens dos rios em razão das condições

climáticas favoráveis para o desenvolvimento da agricultura, contribuindo para

facilitar o transporte pela navegação (SPÓSITO, 1994).

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Com o decorrer do tempo, as cidades foram se tornando cada vez maiores.

Roma é exemplo de uma grande cidade da antiguidade que, no início da Era Cristã,

chegou a atingir 700.000 (setecentos mil) a 1.000.000 (um milhão) de habitantes.

Desde o início, as cidades se diferenciaram do campo, desenvolvendo o

comércio, o artesanato, a administração e o poder político e militar. Todavia, durante

a Idade Média, com o Feudalismo, a urbanização entrou em crise e as cidades

foram perdendo a sua importância. Em relação a essa questão, Spósito (1994)

afirma que:

[...] a terra passa a ser a única fonte de subsistência e de condição de riqueza. A produção artesanal, antes localizada na cidade, volta a se fazer no campo, nos limites do feudo, garantindo que toda organização social do novo modo de produção esteja assentada na posse da terra (SPÓSITO, 1994, p. 27).

O fim da Idade Média, a partir do Século XVIII foi marcado pela decadência

da estrutura feudal, com o aumento intenso do desenvolvimento do comércio como

atividade peculiar das cidades, promovendo, o renascimento urbano e o surgimento

da produção capitalista, cujo sistema econômico propiciou a expansão das mesmas

com a industrialização. Desse modo, o Capitalismo foi responsável pelo surgimento

das grandes cidades com variadas funções: administrativas, políticas, tecnológicas,

econômicas, industriais, turísticas e outras. No século XIX e XX, surgiram as

metrópoles e megalópoles, marcas desse processo de urbanização (SPÓSITO,

1994).

Tendo se iniciado com a Revolução Industrial, o processo de urbanização foi

lento até o Século XX, especialmente, nos países desenvolvidos. Esse fenômeno

avançou de forma rápida nos países subdesenvolvidos, principalmente a partir da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

No Brasil, o processo de urbanização se deu principalmente a partir de

1930, com a mudança do modelo econômico brasileiro. De forma rápida, a

população passou a engrossar as os espaços, principalmente os periféricos, das

médias e grandes cidades brasileiras, com destaque para São Paulo e Rio de

Janeiro. No Brasil, as cidades datam do início da colonização (1530);

experimentaram um momento de expansão a partir da Colônia, no século XVIII.

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De modo geral, porém, é a partir do Século XVIII que a urbanização se desenvolve e ‘a casa da cidade torna-se a residência mais importante do fazendeiro ou do senhor de engenho, que só vai à sua propriedade rural no momento do corte e da moenda da cana (BATISTE, 1978 apud SANTOS, 1998, p. 19).

No entanto, foi necessário mais um século para que a urbanização atingisse

sua maturidade no século XIX, e ainda mais um século para adquirir as

características com as quais se conhece na contemporaneidade (SANTOS, 1978).

No Estado do Paraná, a urbanização das cidades inicia-se com a ocupação

do século XVI, fundadas pelos espanhóis. Entretanto, não se desenvolveram, pois a

cidade não despertava interesse da Coroa Portuguesa. Gomes (2010) ressalta que

com a descoberta de ouro e a procura de índios para o trabalho escravo, os

portugueses e paulistas começaram a ocupar a região. Contudo, até o século XVIII

existiam apenas duas vilas na região: Curitiba e Paranaguá.

Até meados do século XIX, o Paraná pertenceu a província de São Paulo, e

com a economia baseada na pecuária, pouco desenvolveu sua área urbana,

surgindo muitos povoados, vilas, patrimônios, e distritos. Logo após a conquista de

sua autonomia, em 1853, teve início um programa oficial de imigração européia para

a região, principalmente de poloneses, alemães e italianos e, ao final do século, a

economia paranaense foi impulsionada pelo cultivo da erva-mate, seguido da

exploração madeireira e das lavouras de café (GOMES, 2010).

A expansão cafeeira nas terras do norte do Paraná proporcionou

crescimento econômico e populacional. Nesse período chegaram no Paraná

imigrantes do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Minas Gerais, de estados do

Nordeste, além de imigrantes europeus e japoneses. No entanto, foi a partir de 1940

que a cultura do café colaborou para a efetiva colonização dessa região, e

consequentemente com seu processo de urbanização.

A Urbanização no Paraná, assim como a maior parte das cidades

brasileiras, ocorreu rápida e intensamente na segunda metade do século passado, e

o norte do estado conheceu essa transformação devido à erradicação do café, como

base da economia da região, e a introdução de culturas mecanizáveis. Desde a

década de 1960, planejava-se a retirada do café e a introdução de uma agricultura

de larga escala, destinada à exportação. Neste período de modernização da

agricultura brasileira, com destaque para o Paraná, em torno de 2 milhões de

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pessoas deslocaram-se da área rural para a área urbana do Paraná ou de outros

estados.

A cidade de Maringá foi fundada em 1947, pela Companhia Melhoramentos

Norte do Paraná (CMNP), obedecendo um projeto de colonização previamente

estabelecido pela companhia. No entanto, seu plano urbanístico foi projetado pelo

engenheiro Jorge de Macedo Vieira, influenciado pelos projetos de “cidades jardins”,

comuns na Inglaterra. Praças, ruas e avenidas foram traçadas considerando as

características topográficas da área escolhida, revelando preocupação lúcida no que

se refere à proteção de áreas verdes e vegetação nativa idealizada para se tornar

um pólo regional (QUEIROZ, 2003). Mais que isso, sua intenção era deixar um

testemunho na cidade, do que fora sua vegetação nativa no início da colonização.

A cidade de Maringá, assim como as outras cidades localizadas na área de

colonização da Companhia, foi implantada no caminho, em que se construiria mais

tarde a estrada de ferro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Ferrovia e cidade

formaram-se em processo paralelo. A cidade cresceu a partir dos espaços onde a

ferrovia já havia construído uma infra-estrutura com caixas d’água e postos de

reabastecimento de lenha para suas locomotivas. Por outro lado, a estrada de ferro

só avançava por que haveria a certeza da comercialização da produção extraída dos

sítios loteados e vendidos pela CMNP (QUEIROZ, 2003).

Planejada para alcançar 200.000 habitantes em 50 anos, representou um

grande empreendimento econômico. Compôs a onda representada pela plantação

de café que se estendia das regiões paulistas até o norte do Paraná. Conforme

Queiroz (2003), com uma rapidez sem precedentes, juntamente com a cidade de

Londrina, Maringá tornou-se em poucos anos, um município com a maior produção

agrícola do país e, ao mesmo tempo, com maior grau de urbanização e incremento

demográfico do Estado.

1.2 O Contexto Educacional

No contexto das cidades temos o aluno que pouco conhece do seu meio,

pois as questões mundiais e nacionais são estudadas como se tudo isso estivesse

fora da realidade. Todos os problemas, os pontos positivos e as dificuldades

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enfrentadas nas grandes cidades, na maioria das vezes tratados de forma isolada,

permanecem fazendo parte da realidade dos alunos.

Com base nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o Ensino de

Geografia – DECs – Paraná (2006), os conteúdos de ensino e as abordagens

metodológicas, devem possibilitar ao aluno a compreensão do espaço geográfico,

suas contradições, seus conceitos referenciais de forma crítica e as relações

socioespaciais nas diversas escalas geográficas.

A aula de campo é uma importante ferramenta para o estudo do meio por

parte do aluno. As DCEs - Paraná (2006) destacam que:

A aula de campo é um rico encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo (urbano ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar, por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade local, bem delimitada para investigar sua constituição histórica e as comparações com outros lugares, próximas ou distantes (PARANÁ, 2006, p. 46).

Faz-se necessário inovar as ações em sala de aula, explorando os recursos

existentes na escola e na comunidade, por meio do trabalho de campo. Segundo

Passini (2007):

O estudo do meio, diferentemente do estudo estático baseado em livros didático, provoca ainda um maior interesse por parte dos alunos em aprender, observando e fazendo leituras do espaço geográfico com sua dinâmica, diversidade e conflitos (PASSINI, 2007, p. 173).

A importância do estudo do meio possibilita ao aluno a compreensão das

experiências concretas, para a construção de idéias abstratas, ou seja, para melhor

assimilação do conteúdo e da realidade vivenciada. Nesse processo de

aprendizagem, o aluno passa a perceber e a atuar em sociedade de maneira mais

crítica e transformadora, à medida que se apropria do conhecimento que lhe revela a

cidade.

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2 A Proposta de Intervenção

A proposta objetivou utilizar as novas tecnologias para desenvolver o

trabalho de campo com os alunos do Ensino Fundamental, a partir de estudos sobre

a temática Urbanização, que se estendeu para explicações sobre “o espaço urbano

da cidade de Maringá”, nas suas mais diversas expressões: bairros, ruas, avenidas,

comércio, dentre outros.

Para tal, em um primeiro momento, apresentamos a proposta para os

alunos, tratando da temática urbanização, com a utilização das tecnologias

disponíveis na escola e de acesso a eles. Foram utilizados equipamentos de

gravação de imagem, tais como filmadoras e câmeras fotográficas, além de

celulares. Os bairros (casas, ruas, praças) foram filmados, por meio de recurso

didático instalado no programa do computador. Algumas expressões demonstram a

recepção dos alunos:

Vai ser uma aula diferente então. Nós vamos poder sair da sala e conhecer o ambiente, conversar e fotografar. Vamos aprender coisas novas (SUJEITO 1).

[...] vai ser muito bom acompanhar a professora e aprender coisas dos moradores e do espaço (SUJEITO2).

Vai ser importante aprender coisas novas, principalmente de tecnologia. (SUJEITO 3).

Na sequencia, discutimos o processo de urbanização, abordando,

sobretudo, aspectos relevantes ao Município de Maringá, tais como questões

referentes à vegetação, relevo, crescimento urbano, diferenças entre o espaço

urbano e rural, entre outros aspectos geográficos. Os vídeos serviram de

instrumento para complementar as explicações. Os mapas contribuíram para ilustrar

a localização da cidade e de seus bairros.

Os alunos compreenderam que a urbanização consiste no processo pelo

qual a população urbana cresce em proporção superior à população rural. É um

fenômeno de concentração urbana e conseqüente crescimento e desenvolvimento

das cidades. Com base em Ballei (2009) foi explicado que uma sociedade é

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considerada urbanizada quando a população urbana ultrapassa 50%. Os países

industrializados são altamente urbanizados. Já os países subdesenvolvidos

apresentam grande crescimento populacional nas cidades, devido ao aumento da

natalidade e do êxodo rural, oriundo da migração da população interiorana para os

grandes centros urbanos.

Para fundamentar teoricamente o trabalho, procedemos a leitura e análise

de textos sobre a urbanização e seus desdobramentos no que concerne ao seu

surgimento, fatores que determinaram o processo de urbanização no norte do

Paraná, pontos positivos e negativos desse processo.

Os alunos refletiram sobre a condição precária das famílias brasileiras que

vivem em favelas e cortiços, sem acesso a saúde, moradia, educação, saneamento

básico. Compararam essas situações às condições enfrentadas nos bairros em que

moram.

A questão do transporte urbano foi a que mais interessou dada as condições

dos alunos: trabalhadores, usuários do transporte coletivo. Comentaram que: “[...] se

houvesse uma rede de transporte urbano coletivo mais eficiente na cidade,

melhoraria a circulação de veículos e a poluição do ar seria menor” (SUJEITO 4).

O lixo urbano gerou um intenso debate. Foi discutido que a quantidade de

lixo que as cidades produzem diariamente é grande, e muitas delas não possuem

um sistema de coleta eficiente, ou que dê uma destinação adequada ao lixo

coletado. Os resíduos não são reaproveitados por meio do processo de reciclagem,

e a deposição é feita de forma inadequada nos chamados “lixões” em terrenos a céu

aberto contaminando o solo, o ar, os rios e as águas subterrâneas; favorecendo a

proliferação de muitos animais transmissores de doenças e comprometendo a saúde

da população que pode ser afetada de várias formas, uma delas, pela água

contaminada Os aterros sanitários, a incineração, a compostagem, a reciclagem,

são formas de destinação final do lixo.

Sobre o processo histórico de ocupação da cidade de Maringá foi lembrado

que o lugar onde moramos é resultante de um tempo passado, um tempo histórico.

A fundação de um município exige uma organização política, social e econômica que

vai caracterizando o espaço territorial, expressão dessa organização política que é o

município.

Para fundamentar essas discussões, tomou-se como base um texto

intitulado “Formação Histórica, Aspectos Físicos e Localização de Maringá”, para o

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estudo da formação histórica da cidade. Após as explicitações serem dadas pelo

professor, ocorrerem discussões em grupo.

Além de vídeos, também foi utilizado um mapa (Figura 1) para ilustrar a

localização da cidade e dos bairros estudados.

Figura 1 – Mapa para localização da cidade e bairros estudadosFonte: Pereira (2010).

Os conteúdos (urbanização) foram trabalhados (imagem) de forma a

estabelecer relação com a vivência dos alunos (bairros). A entrevista foi um

instrumento importante nesse processo. Para o desenvolvimento da atividade, os

alunos foram divididos em grupos de acordo com o bairro onde residiam, com o

objetivo de pesquisar junto às famílias e aos moradores antigos, como se deu o

processo de formação do seu bairro.

Após, a entrevista, os alunos organizaram um texto, destacando as marcas

do passado e a configuração atual do seu bairro. O texto foi apresentado oralmente

em sala de aula, contando as principais curiosidades relatadas pelos antigos

moradores. Ficou demonstrado que, em razão da diversidade dos bairros, havia a

necessidade de trabalhar a paisagem do bairro dos alunos.

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No estudo do espaço geográfico, a utilização do trabalho de campo foi um

instrumento viável, pois possibilitou capturar as imagens observadas, com o uso de

máquinas fotográficas digitais, telefones celulares e filmadoras.

A realização das atividades envolveu a todos. Os alunos foram organizados

em três grupos, de acordo com o bairro de sua moradia. O primeiro grupo elaborou

questões para as entrevistas com os moradores de seus bairros; o segundo discutiu

o registro fotográfico, visando obter uma melhor imagem das paisagens dos bairros;

e, o terceiro grupo, ficou encarregado de discutir alguns procedimentos que seriam

utilizados para a realização das filmagens observando o ângulo, a posição da

câmara, a utilização do zoom e o que seria filmado.

De posse do material coletado nos bairros, produziu-se a edição de um

áudio com as imagens, tratadas no laboratório de informática “Paraná Digital” em

arquivo multimídia, Power Point, entre outros.

As imagens favoreceram o processo de ensino e aprendizagem, propiciando

novas leituras, interpretação e integração com o ambiente urbano. O professor

utilizou os materiais produzidos pelos alunos como recurso didático em sala de aula,

tratando as diferentes paisagens observadas pelos alunos em seus bairros.

Conforme ressalta Venture (2009, p. 109-110):

O hábito da observação, de seu registro e de sua interpretação, leva à compreensão do nosso ambiente. A importância da observação não consiste apenas em aproveitar informações visuais, que podem levar à inferência de propriedades menos aparentes do meio, mas é preciso considerar seu papel na educação do olhar a favor de uma maior conscientização sobre o ambiente que nos cerca. A observação não deve recair sobre o objeto individualizado, mas vê-lo como parte de um todo estruturado e articulado historicamente. Trata-se de considerar que o tempo da natureza aparece combinado com o tempo social, com escalas e ritmos distintos.

Pretende-se que o educando compreenda o espaço físico onde vive,

ultrapassando a concepção de paisagem que temos no senso comum, para que

conheça sua paisagem e possa intervir de forma crítica, uma vez que perceba suas

transformações.

Os alunos foram levados a perceber, com base nas suas próprias

produções, as diferenças e semelhanças entre os bairros da cidade (urbano e rural),

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pois os mesmos fazem parte de um conjunto de lugares, com suas diferentes

características ligadas por complexas relações políticas, econômicas e sociais.

Por fim, em conjunto com os alunos, professores e moradores entrevistados,

apresentou-se os recursos produzidos. Ao apresentar a sua produção, cada equipe

relatou os pontos importantes (curiosidades) observadas na paisagem do lugar onde

vivem, especialmente, as diferenças existentes entre um bairro e outro.

3 Conclusão

A proposta de intervenção realizada favoreceu o processo de ensino e

aprendizagem em Geografia ao tratar das diferentes paisagens urbanas que há nos

bairros em que vivem os alunos que freqüentam a escola em que desenvolvemos o

trabalho.

Foi possível verificar a motivação dos alunos para participar das atividades,

junto a seus bairros, compreendendo a realidade que os cercam. Os alunos tiveram

a oportunidade de procederem a uma leitura crítica do seu espaço, ultrapassando a

concepção de paisagem que se tem do senso comum, integrando teoria e prática,

percebendo suas transformações.

Para os alunos ficou a experiência vivenciada no trabalho de campo, a

fundamentação teórica, suas abordagens e o respeito à sua aprendizagem, além de

terem documentado e registrado aspectos relevantes de sua realidade.

O projeto desenvolvido foi relevante para o ensino de Geografia no contexto

do ensino fundamental. A proposta de trabalho de campo aqui sugerida diferenciou-

se do campo tradicional da disciplina, pois neste trabalho, o docente e os alunos

organizaram a temática em sua abordagem teórica desde o roteiro de trabalho inicial

até a ida ao campo (bairro dos alunos). As temáticas trataram basicamente de

assuntos pertinentes a área urbana, e, quando necessário enveredou para os

possíveis desdobramentos suscitados.

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Referências

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