Witold Kula - Teoria Economica Do Sistema Feudal (Livro)

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  • 5/14/2018 Witold Kula - Teoria Economica Do Sistema Feudal (Livro)

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    WITOLD KULA

    ,TEOR IA ECONOM ICA DOSISTEM A FEUDAL

    EDITORIAL PRESENQA LIVRARIA MARTINS FONTESPORTUGAL BRASIL

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    Capitulo I

    A QUE PERGUNTAS DEVE RESPONDER UMA TEORIAECON6MICA DO FEUDALISMO?

    Reservados todos os dlrettospara a lingua portuguesa I i i .EDITORIAL PRESEN(JA, LDA.Rua Augusto Gil, 35-A- LISBOA

    Diz Engels, no Anti-DUhring, que quem tentasse redu-zir a Economia Politica da Terra do Fogo as mesmas leisq~e regem hoje _R economia da Inglaterra nada conseguiriapor a claro a nao ser uns tantos lugares comuns da maisvulgar trivialidade '.Pode perguntar-se se esta afirmacao nao contradiz osfundamentos do legado cientifico de Marx e Engels. Haefectivamente na teoria por eles elaborada muitas tesesque, por urn lado, tanto se referem a . economia da Terrado Fogo como a da Inglaterra des mead os do seculo XIX,e que, por outro lado, nao sao nem nunea foram lugarescomuns para os seus criadores ou para 0mundo da cienciada sua epoca. Pertenee a esta categoria a tese de que asrelacoes economicas dependem das forcas produtivas e queas alteracoes dessas foreas revolucionam aquelas relacoes,a teoria da mutabilidade e da sucessao ordenada das estru-turas socioeconomicas, a ideia de que essa sucessao e aecm-panhada por uma produtividade creseente do trabalho, e

    muitas outras ainda. Para que a frase de Engels, atrascitada, fosse congruente com a essencia do legado dos cria-dores do socialismo cientifico, teriamos de aceitar quetodas essas teses de aplicacao universal pertenceriam nao iteconomia politica, rna'S ,sim it area correspondents da fila-sofia (0 rnaterialismo hist6rico). Nesse caso, na economiapolitica propriamente dita, caberiarn apenas teses validasno maximo para a area de uma unica formacao socioecon6-mica. 0 que implicaria uma concepcao particular dos limitesda filosofia e uma concepcao particular das. dependencias

    Titulo original TEORlA EKONOMICZNA USTROJU FEUDALNEGOPROBA MODELU Copyright by PAnstwawe Wydawnictwo Naukawe,Varsovla, 1962Tradulio de MARIA DO CARMO CARY

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    e das relacoes entre as diferentes disciplinas especializadas(neste easo, a economia political e a filosofia.Seja como for que solucionemos 'esta dificuldade, e evi-dente - e mesmo urn lugar-comum - que das muitas teses'que se podem formular sabre a actividade economica huma-na, nao poucas tern graus de aplicacao cronol6gica e geogra-fica diferentes, e que quanto mais vasto e 0campo de aplica-gao dessas teses, mais restrito e 0 seu conteudo. Embora, se-gundo parece, os criadores da econornia classica nao tenhamrelevado esta verdade, os economistas ocidentais dos nossosdias conseguiram compreende-la nao so atraves das suas in-vestigacoes sobre a economia dOBpaises socialistas, comotambem na economia contemporanea dos paises subdesenvol-vidos, semifeudais ou dos povos primitivos. A nota espeeificado marxismo no que se refere a esta materia pode resumir-seem duas affrmaeoes: L) existem relativamente poucas tesesgerais de aplicaqao universal, sendo multo mais numerosasas teses de aphcaeao limitada no tempo e no espaco (prin-cipio que deriva da coneepcao da mutabilidade absoluta dosfen6menos soeia is em todas as suas form as, incluindo osfenomenos da vida economical e 2) a limitacao no espacoe no teml?o da maior parte das teses econ6micas e definidapelos Iimites dos proprios sistemas socioeconomicos (dado caracter integrante destes ultimos na vida social).Na sua forma extrema, a tese de que as leis economicasmudam em simultaneo com a mudanca das estruturas socio-economic as desempenhou, como se sabe, determinada eimportante func;ao ideologica no periodo estalinista, Estaconeepcao iria impedir completamente a utilizacfio de leiseconomicas unrversais (mesmo as de apllcacao mais ampla,inclusive as marxistas) na analise da sociedade sovietica,Por isso e que, em nossa opiniao, e de grande transcendenciacientlfica e social afirmar que h a no marxismo (ao contrariodo que nos CllZ a frase de Engels) atras citada) toda umaserie de teses de Importfincia fundamental e nada trlviais,que sao de aplicagao universal a actividade econ6mica huma-na, ainda que convencionalmente as circunscrevamos aocampo da economia politica ou ao da filosofia. Seria suma-mente util para a ciencia que se pudesse codificar 2, emcerta medida, 0 alcance dessas teses, seleccionando as queresistiram a prova das investlgacoes cientificas pos-marxia-nas e especialmente a prova da experiencia historica pos--marxiana; dando-Ihes tambem, para evitar os perigos dodogmatismo,a forma de indicacdes metodol6gicas, mais doque de leis.

    Apesar de tudo 0 que acabamos de dizer, parece-noscerta, no momento, a tese marxista de que a maior partedas leis econ6micas e justamente as de conteudo mais rico,tern um alcanee espacial e temporal limitado, geralmentecircunscrito a um determinado sistema socioeconomico,Neste sentido Marx criou a sua teoria do sistema capitahsta,enquanto Engels tentou criar uma teoria economicado sistema da comunidade primitiva it altura da eienciada sua epoca. No que se refere a formacao de uma teoriaeconomica do sistema socialista, ela foi impedida por feno-menos bern conhecidos que travaram 0 desenvolvimento dopensamento cientifico marxista, obrigando-o a enveredarpela via empirica e pragmatica e impondo-lhe 0 metododas aproximacees sucessivas, que esperavam em vao poruma sintese teorica, S o hoje e possivel vislumbrar uma vira-gem neste campo.Por outro lado, a teoria do sistema feudal foi a que,ate agora, menos atraiu a atencao dos investigadores mar-xistas 3. 0 problema e , no entanto, importante, tanto doponto de vista teorico, como do ponto de vista pratico,E importante do ponto de vista teorico, em viriude da uni-versalidade sui generi8 do feudalismo (no sentido mar-xisia. do termo). Com efeito, todas as sociedades que u1tra-passaram ja a etapa da comunidade primitiva passam poruma quafquer forma de feudalismo, enquanto a faltade universalidade do regime esclavagista e uma verdadecomummente admitida pela cieneia marxista, depois do triun-fo alcancado por B. D. Grekov na sua pugna homerica comPokrovski. 0 capitalismo surgiu de uma maneira esponta-nea, ou seja, sem que se tenha feito sentir a influenciade algum .capitalismc preexistente uma -(mica vez na his-toria da humanidade. 0 mesmo se pode dizer do socialismo.Conhecemos, porem, no Mundo diferentes feudalismos, sur-gidos em sociedades e epocas diferentes. independentes unsdos outros 4.

    A teoria do sistema feudal e tambem importante doponto de vista pratico, devido as suas numerosas e fortessobrevivenclas em muitas naeoes: sobreviveneias que pesamainda hoje na economia e no conjunto da vida social damaioria dos paises a que se costuma chamar subdesenvol-vidos e cujos esforcos no sentido deavanear pelo caminhodo progresso econ6mico transformam, perante os nossosolhos, a face do mundo, Daf 0 interesse despertado pelofuncionamento de economias deste tipo tanto entre os inves-tigadores dos pafses do Terceiro 1i'Lundo (a India l. como8 9

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    entre os dos paises avancados (E. U.A., Inglaterra, Franca,Alemanha, etc., e URSS).A elaboraeao de uma teoria econ6mica do sistema feu-dal tern grande importancla para a Investigacao historlca.Por urn lado, 0 historiador do feudalismo - se a reflexaometodologica Ihe nao e totalmente alheia - sente eomo e

    inadequada a teoria econ6mica do capitalismo ao abordaro objecto da sua investigacao ~; por outro lado, D seu conhe-cimento dos feudalismos antlgos (menos acessiveis emboraa investigacao, devido as muitas lacunas das fontes. masque tem a vantagem de serem puros, independentes dasinfluencias do capitalismo, do imJerialismo e do socialismo)permite-lhe dar uma contrlhuic;ao insubstituivel para estatare fa ~'.

    Tem-se observado ultimamente, no Ocidente, uma recru-descencia de interesse pela investigacao comparada dofeudalismo. A obra precursora neste aspecto e , sem diivida,La 'societe feodale 7 de Marc Bloch, e a ultima palavrada ciencia nesta materia e - pelo menos ate este memento- a obra colectiva dirigida por R. Coulborn 8.Na Uniao Sovietica, a interesse te6rico pelo feudalismoaumentou muito a partir do momento em que Estaline publi-

    cou os seus Problemas econ6micos do socialismo na URSS.Como e sabido, Estaline f'ormulou nessa obra aquila a quechamou leis fundamentals do sistema capitalista e socia-lista. 0 que implicava que, entre as muitas leis que e possi-vel descobrir e que regem, 0 funcionamento da economia decada urn dos sistemas, uma e so uma tern caracter funda-mental. Nao se sabe ao certo 0 que e que Estaline entendiapor caracter fundamental. 'I'ratar-se-ia de um elementode definicao do sistema (echamamos capitalismo au socia-lismo a um sistema regido por esta ou por aquela lei}? Outalvez esse caracter fundamental assentasse na superio-ridade destaou daquela lei relativamente a outras naofundamentais, que derivariam em certa medida dessa leifundamental ? 9 Seja como for, os historiadores sovieticos(e tambem os de outros paises soeiallstas) reagiram e puse-ram-se a procura de uma lei fundamental do feudalismo.A revista Voprosi Istorii abriu as suas paginas a umapolemica proiixa sobre este tema e, como acontece fre-quentemente na ciencia,apesar do ponto de partida e dosobjectivos serem falsos, acabaram por aparecer, no decursodesse debate, observacoes e generalizacoes interessantes eacertadas '0. 0 pressuposto em que se baseava a viagem de

    Colombo era falso, mas a America que descobriu era ver-dadeira n.Se quisermos raciocinar sabre a teoria econ6mica feudal,teremos de esclarecer primeiro a que perguntas deve res-ponder uma teoria desta natureza, qual deve ser 0seu ambitoefectivo, a que perguntas deve responder qualquer teoriaecon6mica de qualquer sistema; e, finalmente, e precisovel' se 0 caracter especifico de cada sistema implica que asua teoria deva responder a certas perguntas tambem espe-cificas, inaplicaveis na analise de outros sistemas.De tudo 0 queanteriormente se disse pode depreender--se que nao e necessario incorporar na teoria econ6mica deurn determinado sistema teses relativas a teoria geral daeconomia (ou teses do materialismo hist6rico sobre a acti-vidade economica humana). Incluimos tambem nesta cate-goria a propria definicao de sistema (neste caso, 0 feuda-lismo), Dizer, por exemplo, que 0 feudalismo e urn sistemaassente na grande propriedade rural e em relacoes de depen-dencia pessoal entre 0 produtor directo e 0 proprietariolatifundista significa dar uma definieao de feudalismo,mas esta definiqao pertence a teoria das formacoes socio-econ6micas, ou seja, a urn aspecto da ciencia geral da acti-vidade ,humana. Alem disso, a formulacfio de proposiccesdeste tipo sob a forma de leis cientificas (

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    Capitulo II

    A CONSTRUCAO DO MODElO

    A elaboraeao de uma teoria requer a construcao previade urn modelo '. Esta questao gera muitos mal-entendidosnas ciencias humanas em geral, e na historiaeconomica emparticular.A grande maioria dos historiadores nao sente qualquerneeessidade de construir urn modelo, e quando um deles 0constroi, os eolegas indignam-se. 0 mito da historia comociencia do concreto, como ciencia do aeontecimento unico,o mito da historia descritiva e narrativa, a que so interessao individual, tern conduzido ao alheamento e ate a hosti-lidade para com a construcao de modelos. Nao vale a penacitar exernplos. Ate nas investigacoes sabre a historia dosprecos houve autores que consideravam como uma fontehistorica utilizavel a noticia de que em tal dia fulana tinhacomprado uma quantidade X de arrobas de centeio a este ouaquele preco, enquanto 0 registo oficial dos precos doscereals (H. Hauser) au nao era considerado como tal, DUpelo menos nao interessava ao historiador. A eonccpcao ideo-grafica da historia nao implica apenas urn metcdo de inter-pretacao dos dados; e uma atitude que determina todos oselementose etapas do trabalho do historiador, a comecarpela critica das fontes e pela seleccao dos factos. A cienciamarxista, que em principia e contraria a hietoria ideografica,na pratica identificou-se mais de uma vez com essa atitudena investigacao de epocas passadas. Concebida dogmatica-mente, a tese correcta de que a verdade deve ser concretaimpediu muitas vezes a proeura de novas leis.Par outro lado,encontramos tambem na hist6ria daciencia uma atitude que peca por urn extremismo de sentido

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    contrario, No Congresso de Heidelberga de 1903, Sombart,irritado com as criticas mesquinhas a primeira parte (quetratava da Idade Media) do seu Der moderne Kapitalis-mU8~exclamou: Para tornar compreensivel a vida econo-mica contemporanea, criei uma eonstrucao chamada IdadeMedia. '1!:-meabsolutamente indiferente a maneira como ascoisas se apresentavam realmente nessa epoca. Querer inva-lidar as minhas teorias com objeeeoes extraidas de traba-lhos historicos e absurdo 2. Nao tomemosestas palavras atetra, como expressao da atitude metodol6gica de Sombart,mas antes como uma exclamaeao laneada no fervor da dis-cussao: constituem, no entanto, uma expressao da atitudeque referimos.Para que a teoria a construir possa ser mais do que umjogo Inteleetuat, 0 Sistema de premissas deve correspondera rel:a.~s realmente existentes nas sociedades que sao 0objecto do nosso interesse. A teoria construida so seravalida por refereneia a sociedades (conhecldas ou a desco-nrir no futuro) nas quais aparecam efectivamente os ele-mentos que introduzimos no nosso modelo. Quanto maior fora quanti dade de elementos Ineorporados no mode l e , tantomais rlca podera ser a teorla construida, mas tanto menorsera tambem 0 mimero de sociedades por ela abrangidas.Para os objectives que pretendemos ating1r, devemosconsiderar aqui as possibilidades de construcao de modelosdeste tipo a partir da observaeao de sociedades ore-capita-listas do passado, e da lnvestigaeao das sociedades pre--industriais atrasadas de hoje, cuja economia apresentaum baixo grau de comercializaeao.Nas Investlgaeoes sobre os paisesatrasados de hoje,o modelo mais generalizado e de maior utilidade (se bernque nao esteja formalizado) e 0 de Lewis a. Este modeleassenta na delimitacao de dois sectores: capitalist ede suh8i.

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    -relativamente avancado de deslntegracao. Existiam efecti-vamente possibilidades llimltadas de orerta de miio-de-obr!,por exemplo, na Pol o n i a , antes da ultima guerra, mas naoas ha, pelo contrario, no Mexico de hoje 1}. Alem disso. nemsempre e certo que essa. oferta de mao-de-cora ;o_incidacom factores Institucionats que mantenham os salarios dosector comercializado aeima do nivel determinado. pela oferta,Unde essa oferta ilimitada existe efectivamente e nao apenasem teoria, como, par exemplo, naPolonia de antes da guerra,os salaries tendem a baixar, embora semantenham sempreacima dos rendimentos medios da pequena exploracao agri-cola. Por outro lado, os salaries mantem-se a alto nivelnos paises onde factores institucio~is e economleos obs~ma transformaeao da oferta potencial em oferta efechva.De resto, quando se constr6i urn modelo, e difieil abstrairde urn fenomeno tao slgnifieativo e tio difundido na econo-mla dos palses subdesenvolvidos como e a enorme ampli-tude do espectro sal arial , que chega ao P?nto ~e se poderfalar de dois mercados de trabalho. Esta afirmacao refere-sesobretudo ao trabalho qualificado (geralmente muito caronesses paises) e ao tmbalho nao qualificado (geralmentemuito barato). Em muitos palses, essa divisao e refor~adapor diferencas etnicas e privllegios instituciona~ conce~ldosa trabalhadores imigrantes ebrancoss em relacao aos eindi-genas. E possivel observar certosaspectos d~e fenomenona Polonia do seculo XIX. e - dos comecos do secufo XX, porexemplo, na regiao de Lodz au na AI~ Silesia, nas condi-c;Oesrespectivas do trabalhador alemao e palaeo, Nalgunspaises subdesenvolvidos d~ noss?S te~pos e essa uma dasmanifestaqoes de economia dualista ,Finalmente, levanta tambem objec~oes. 0 postulado ~eque 0 sector natural e totalmente estavel " . Se assimfosse, a r,erspecti~ do desenvofYimento ,eCOnOmi$Olessespaises serra mats triste do._Que 0~ na realHia.ae~Nao e eert.Qque a pequena exploracao agricola nunea tenha POSSI-bilidades de reprodul;[o alargada, de investimento e deaumento ciaprodutividade do trabalho. Na Birmania, 0StateAgrimdtuml Marketing Boa:rd~ao garantir aos a~icul~oresa venda de qualquer quanti dade de arroz a preco fixo (infe-rior embora ao preeo mundial), deu origem a urn aurnento, , ~ 4 9 ~da produeao da ordem dos 10% no decurso de anos. ~sabido que toda a reforma agraria liberta gran~es_ PDSS~-bilidades de crescimento. E tambem nao se pode introduzirno modele 0 fluxo da mao-de-obra do sector natur~~ .parao comercializado, nezando ao mesmo tempo a possibilidade

    de desenvolvimento das pequenas explara~aes agrfcolaa;justamente quando estas se libertam do Iastro dos ebracossuperfluos, elevam 0grau de comerelallzaeao e aeumulacao,comecam a ter possibilidades de investtr e, por conseguinte,de aumentar a produtividade do trabalho e da terra; passama constituir urn mereado de venda para a . industria, ou seja,para 0sector comercialfzado. etc.Por ultimo, Lewis considera como urn fenomeno positivotoda a transferencia do sector natural para 0 comerciali-zado, uma vez que a produtividade marginal do trabalhono primeiro - devido ao excesso de populaeao - e igual azero, Dado. que esta premissa e impugnavel no caso dealguns paises subdesenvolvidos, tambem a conclusao nemsempre sera valida.Nao 'Be pode afastara limine a existencia de factoresde crescimento no sector minifundista de um pais subde-senvolvido. Esses factores s a o . muitas vezes insignificantes

    e actuam lentamente, e geralmente muito dificil fazer urnregisto estatistico dos mesmos mas, quando actuam emescala maciea, desempenham frequentemente urn papelimportante na vidaeconomiea do pais.A historia eeonomica, e especialmente a hist6ria econo-mica marxista, compreendeu ha muito 0papel da capitaliza-i_;;ao,da cornercializaqao e da intensificacao da agriculturano periodo de emergeneia da sociedade industrial. Sabe-mas alguma coisa quantoa este ponto tanto a respeito daInglaterra, como da Europa Central ou da Russia, 0 histo-riador da economia da-se perfeitamente conta das dificul-dades ingentes que 0 estudo dessa problematica encerra.: m por isso que a eolaboraeao entre 0 investigador da econo-mia dos paises subdesenvolvidos e 0 historiador da economiapode ser mutuamente proveitosa.

    Retenharnos entao, do modelo de Lewis, sobretudo adivisao em dois sectores, eoncebendo-a de uma forma umpouco diferente. A nosso ver, essa divisao e 0 ponto departida da analise economlea de qualquer sociedade pre--industrial, Retenhamos tambem da critica que fizemos aLewis a dlstineao entre os paises em que a desintegracaoda soeiedade rural tradicional esta avancada, em que aoferta efectiva de mao-de-obra e praticamente ilimitada eo seu preeo e baixo, e os paises em que, apesar de haverurn excesso de populacao na agricultura, se obsen:a u~amobilidade muito fraca da mao-de-obra e os salaries saomuito mais elevados.

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    Podemos citar como exemplo da construcao de ummodelo deste tipo, feito, neste caso, por urn historiador e comfinalidades de investigacao historiea, a tentativa de F.Mauro 10. 0 autor constroi 0modele para elaborar uma teoriado funcionamento da economia da Europa Oeidental, e parti-cularmente da Franca, nos seculos XVI-XVIIl, que, segundoele, constituem 0 periodo do capitalismo mercantil, ou seja,o periodo no qual a direceao e DS lucros da produeao estaonas maos dos comerciantes e no qual- embora, como enatural, nem toda a vida economica se reduza a isso-o ca-pital mercantil e 0 sector motriz em torno do qualgravita a totalidade da vida economiea do pais.

    Os trabalhos de Labrousse e dos seus sucessores sao, pa-ra Mauro, a base sobre a qual constroi uma teoria da dinamicaeconomica do capitalismo mercantil it escala macroeconomica,Deve-se-Ihe seguir uma Dutra fase, de investigaqao micro-econ6mica; estudos sobre a contabilidade das empresas, arelaeao preeos-custos, 0 calculo dos investimentos, a distri-buigao dos rendimentos, etc.

    Dada a sua aversao as generallzacoes teoricas, tao difun-dida entre os histori adores , Mauro julga necessario demons-trar a justeza dos seus postulados, afirmando que 0 estabe-lecimento de correlaeoes constantes permitira ao historiadorcompreender os casas em que nao ha documentacao histo-rica, ligar os elementos conhecidos num todo coerente e,principalmente, estabelecer eomparaeoes com as leis queactuam no periodo seguinte (a que da 0nome de capitalismoindustrial) e compreende-las, portanto, melhor, uma vezque para compreender a economia do presente e precisecompreender a economia do passado.

    Mauro divide as leis economteas em:

    Segundo Mauro, 0metodo de analise adequado ineluitres etapas: 1) macroanalise estatica: 2) microanalise ;3) macroanalise dinamica 12. Daqui poderia deduzir-se queo elemento impulsionador da economia social reside, segundoele, na actividade de entidades economleamente operantes(eempresas ). Mas nao e assim, porque no seu esquema arnicroanalise sucede it macroanalise estattea, de maneiraque e esta ultima que deve proporcionar 0 sistema socialde referencia apto a explicar a actividade das empresas,Mauro eonstroi 0 modelo propriamente dito a partirdos seguintes elementos: 1} predomfnio quantitative daagricuitura na economia do pais; 2) tendencia ,para 0esgotamento dessa agricultura ; 3) elevado grau de eomercia-Izaga 0, que proporeiona aos comerciantes enormes possibi-lidades de acc;ao; 4) influencia da actividade comercial sobrea vari~ incessante dos factores do caleulo economico dasempresas agricolas e Industriais, que dependem grande-mente da comereializaeao, devido ao significado desta; 5)penetraeao gradual do ca-pital mercantil na -produgao. Paraos nossos onjectivos, este modele pode sarvir apenas comomodelo de eontraste.Dada a falfa de experlencia neste sentido naciencia actual, resolvemos encarar a nossa tarefa deuma forma relativamente Iimitada, construindo urn esque-ma de funcionamento da economia a partir do exemplo con-creto das relac,:oes econ6micas Que prevaleciam na Pol6nianos seeulos XVI-XVTII, OU seja, na epoca em que predo-minava 0 sistema do dominic sennorial assente na servi-dao. Este esquema sera aplicaveI,aa menos parcialmente,na analise de outras entidades historicas? Nao esta provadoque 0 nao seja (par exemplo, para a caso da Hungria ouda RUssia), mas deixemos esta questao para uma Investi-gac;ao ulterior.Do conjunto das relag5es que prevaleciam na Polonia

    dessa epoca, incorporaremos no modelo, sob uma ferma sim-plificada, os seguintes elementos: 1) 0 predominio avassa-Iador da agricultura na economia; 2) 0 facto de a terranao ser uma mercadoria, principalmente devido ao mono-polio da propriedade rustica exercido pela nobreza, mastambem porque a taxa de jura dos emprestimos em nume-rario supera a rentabilidade da exploraeao agricola; 3)distribuieio da totalidade das foreas produtivas na agricul-tura entre a aldeia e a reserva senhorial; 4) barreiras ins-titucionais eficientes contra a mobilidade social e geogra-fica, especialmente dos camponeses (servidao da gleba) :

    1) leis universalmente valldas, que se aproximam mui-to das leis da logica;2) leis que se manifestam universalmente num dadosistema socioecon6mico, v. gr. 0 mecanismo do lucro comoelemento inerente ao sistema capitalista; ,

    3) mecanismos proprios daquiIo a que chamamos umaestrutura definida, como por exemplo 0 capitalismo mer-cantil no sentido atras referido, ou seja, urn sistema derelacoes que se manifesta em mats de urn pais, mas dentrode Iimites temporais e espaciaie multo mais restritos do queos dos grandes sistemas socioeconomicos 11.

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    5) a maior parte das presta!;Oes do campesinato assume~ forma de trabalho; 6) produeao artesanal e industrialintegrada quer ~a grande propriedade rural, quer em orga-mzaeoes gremiars: 7) ausencia de restrigoes juridicas queIimitem a opeao econ6miea da nobreza; 8) forte propensao~a nobreza para ~c ons~o de luxo, .deta:ninada por factoresm~rentes ao ~glDle soc~; 9) eXlSWnCl'8.de paises econo-micamente mars desenvolvidos num raio aeessivel it comuni-cacao: 10) ausencia de interveneao do Estado na vida econo-mica (nem sequer por intermedio de taxas proteccionlstasou medldas semelhantes).

    zir os limites no tempo e no espaco, Mas onde situa-Iosentao? Sera talvez preferivel nao 0 fazerm os, e declararmossimplesmente que nos propomos abordar os aspectos domi-nantes da historia economica da Polonia na ldade Modema.A lista de elementos do nosso modelo poderia ser tam-bern multo mais extensa, Mas nessa altura seria necessarioinvestigar Be a incorporagao dos elementos omitidos altera-ria os resultados da nossa analise, apontando para urn fun-cionamento diferente do modelo. E ao pormos 0 problemadessa maneira, estou certo. de que verificariamos que os ele-mentos enumerados eram suficientes.Como se processa, neste quadro, a vida eeon6mica equais as suas regularidades? ~ 0 que nos propomos mos-trar no nosso trabalho. E se0nosso racioeinio tiver de assen-tar, em mais de urn caso, em bases empiricas relativamentefracas, isso deve-se ao facto de que 0 abundante materialcientifico relativo a historia econ6mica da Polonia nos seeu-los XVI-XVlll nao foi compilado do ponto de vista dosnurnerosos problemas que nos interessam. No caso de inves-tigagCies ulteriores invalidarem alguma das nossas hip6teses,sera para nOs motivo de satisfagao 0termos contribuido paraeselarecer como e que as coisas se passaram na realidade.

    0 gosto do manjar conheee-se ao comer, 0 mesmoacontece na construcao de urn modele. Permitam-me poisque cozinhe 0 manjar... e 0 leitor que aprecie 0 sabor, eque diga se a minha tentativa foi ou nao feeunda.

    A seleccao e conveniencia destes postuladoa e sobre-tU.doa sua formulaeao categoric a, poderiam discuUr-se inter-mmave.lmente. ~. certo qu: houve na Po.lonia aldeias perten-centes ~ bur~esla, mas nao so eram multo pouco numerosas,como ainda nao e certo que 0 proprietario burgues as admi-nistrasse de forma diferente do nobre. Por outro lade sabe-mos com todaa certeza que os elementos de calculo quetanto 0 burgues como 0 nobre tinham de ter em conta eramos mesmos (flutuaeao das colheitas, nivel e flutuaeao dosprecos, custos de transporte, ete.). ~ certo que havia naPoloni_!Lnina classe, a que se chamava a pequena nobreza,que nao possuia servos, mas esse fenomeno, sendo emboranumericamente significative, sO apareeia em regi6es bemdelimitadas e duvi~o que a sua introduqao no modele pudessealterar alguma COlSa. l!:: certo que houve na Polonia campo-neses isentos de prestaeoes, mas ninguem podera afirmarque foi urn fenomeno tipico. Tambem e certo que havia nascidades artesfios nao integrados nas corporagi5es, mas e natu-ral (se bem que a hist6ria da actividade artesanal na Pol6niaesteja pouco desenvolvida) que eles estivessem, por urn lado,frequentemente sujeitos a uma dependencia pessoal, e que,por outro, tal como 0 outsiJer face ao trus~ DaO atentassem,ate no seu proprio interesse, contra 0monop6lio das corpora-gOes, aproveitando-se dele para venderem os seus produtos aurn Pr!;O inferior - se bern que nao muito inferior - aoe~tabeleeido por aquelas .~oderiam multiplicar-se as objec-!;oes, mas deixemos ao cnticos 0 emus p rObamd i.,Estes postulados poderiam tambfun ser discutidos do~nto de ~ta da sua. limitaC}io geografica e cronologiea.Nao se aplicam com toda a certeza aos territ6rios periferi-cos. (Pomerania, ll,criinia) nem a periodos extremos (pri-metra meta de do seculo XVI e, possivelmente, segunda me-tade do XVIII). 0 medo da critica poderia induzir-nos a redu-22 23

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    Capi tulo Ir rDINAMICA DE CURTO PRAZO

    o calcu/o economico da empresa feudalAfirma!;oes como: Cada epoca tern as suas proprias leis

    econ6micas ou Para investigar uma rea1idade diferentesa o necessaries instrumentos de investigacao tambem dife-rentes sao frequenteroente repetidas, sem que se faga umareflexao critica sobre 0 seu conteudo exacto. Estas afirma-!;Oes sao no entanto correctas, e 0 facto de nero semprese lhes dar a devida atencao tern originado muitos erros.

    Surgem grandes dificuldades, de que as vezes nao nosdamos conta, sobretudo na analise do funcionamento econ6-mico da empresa feudall, A analise da empresa devia, emprincipio, proporcionar-nos respostas para as seguintes duasperguntas:

    1) Quai~ sao os resultados objectives da actividadeda empresa, ou seja, os produtos por ela elaborados repre-sentam ur n valor-major do que a soma dos bens utilizados nasua produeao?

    2) Quais os motivos e a orientacao da actividade dosujeito econ6mico observado (e portanto, muito provavel-mente, tambem da dos sujeitos analogos}? Neste sentido,a analise de empresa e urn metodo que pode e deve seraplicado a qualquer sistema econ6mico a investigar. Paroutro lado, nao se pode - como 0 veremos mais adiante-aplicar, na analise da empresa feudal, metodos elaboradospara a analise da empresa capitalista.

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    Os metodos de analise da empresa capitalists. foramfrequentemente utilizados na analise de empresas nao capi-talistas, tanto na Pol6nia como noutros paises, e tanto emrelaeao a material hist6rico como a paises contemporaneoseconomicamenteatrasados, 0 resultado,porem, foi sempreuma reductio ad absurdwm,Para explicarroos este ponto, passamos a apresentar osdados do balango econ6mico de uma propriedade senhorialmedia do sui da Po16nia, que compreendia tres unidades deexploracao, nos anos de 1786-1798 (em zlotys: 1 zloty=30 grosz) ".

    mas produz an1l:almente um lucro Jiquido de 16,479 zl. 8 gr.Acrescente-se amda que os gastos em dinheiro no consumopessoal da familia do proprietario sao reduzidissimos umavez que ~ca:dem apenas a 1.948 ~l. 2 gr. por ano a. 'A sltua~~o apresenta-se, porem, de uma maneira com-p~etamente dlfer:nte quando a considerarmos do ponto devista do campones. Os encargos anuais do campones equi-valem a quase 0 dobro do lucro anualliquido do senhor. Oscamponeses perdem portanto muito mais do que aquiloque 0 senhor ganha! 0 que acontece entao ao resto?~lculando 0 custo social de produeao daquelas trespropriedades segundo regras capitalistas, teriamos de incluirpelo menos os gastos do senhor destinados a produeao e 0valor do trabalho com que os camponeses contribuem. 0total ascende a 35.824 zl. 4 gr., enquanto as receitastotals em ~eiro s6 represent:mt 28.195 zl. e 20 gr. l ! ' : : certoque a propriedade dava tambem urn lucro nao monetario,sob~e~udo na forma de consumo proprio do senhor e dafamilia, mas, por outro lado, DaOincluimos nos custos diver-sos investimentos nao monetarios realizados tanto pelosenhor como - sobretudo - pelos camponeses.Do ponto de vista do senhor, a propriedade e muitoret;tavel, ja q,,!-edeixa mais d~ 16.479 zl. 8 gr. de lucro liquido(dizemos mars de, porque nao podemos determinar a ordemde grandeza dos lucros monetarios) , Mas se incluirmos custo do trabalho dos camponeses utilizado na produeao, 0balance a~u~ra um~ perda ~ual de 7.618 zl. 14 gr., que narealidade e ainda maier, mas nao estamos em condic;:5esde de-terminar 0valor dos investimentos nao monetarios (por exem-plo, a conservacao dos utensilios de trabalho e do gado nasexploraeoes camponesas). E finalmente, se incluirmos 0valordas outras prestaqdes dos camponeses (alem do trabalho),a perda anual atingira os 12.782 zl. 27 gr.Apesar disso esta eempresa funciona durante anos e naoabre falencia, nem coisa que se pareca, 0 seu proprletarioleva uma vida luxuosa 'e njio limita os seus gastos monetarios.Tern a area chela de dinheiro (nela entram anualmente16.478 zI. 8 gr. de lucro Jiquido em dinheiro, enquanto osseus gastoa em dinheiro para fins de consumo atingem apenasos 1.948 zl. 2 gr.). Nada indica tambem que a propriedade sev a desvalorizando (, Pode naturalmente admitir-se que severifica uma pauperizacao das exploracoes camponesas-as fontes nada nos dizem sobre isto -, mas sao certamentemais frequentes os casos em que ela se nao verifica. 0 senhorpode vender a sua propriedade em qualquer momento, e 0

    6&80,034373,062606,274180,24330,154511,0961000,-4,3%51 %

    13826,203988,149838,0612703,103533,0416236,14160000,-6,2%24 %

    7388,273354,224034,057223,181290,248514,12

    Receitas em dlnheiro ., .Despesas em dlnheiro .Luero em dinhelro .Pre.staQOes pessoais (corvelas)OutrasprestaQOes dos eamponesesSoma das prestaQOes dos .camponeses ,' .Valor dapropriedade .Luera em dlnheiro em % do valorTaxa de monetarizacao s ........1 zloty gasto anualmente produzum lucro anual de .Gastos do senhor em dlnheiro .Contdbw!;ao das prest.aes pes-soars , ..

    32%O,6zl.4373,06

    4180,24

    1,2z.J3354,222,5zl.3988,1412703,10 7223,18

    Soma dos custos de producao(mnnmo) , , .Receitas do senhor em dinheirc10578,107388,27

    8554,-6980,0316691,2413826,201573,27189,13065,04erdas , ,.

    Como vemos, esta empresa e rentavel, e em alto grau,seja qual for 0 ponto de vista que presida a elaboraeao docalculo.As duas reservas senhoriais, cujo preco de compraconhecemos, rendem anualmente mais de 5%, e se acreseen-tarmos a esse rendimento as prestacoes dos eamponeses emespeciee em dinheiro, mais de 7%. Cada zloty gasto nodecurso do ana rende quase 1,5 zloty, ou seja- 50% dosgastos correntes em dinheiro. 0 capital circulante e relati-vamente reduzido (11.716 zlotys 12 grosz por ano, enquantoduas das tres propriedades custaram 221.000 zlotys!)

    RelaQao percentual entre os gastos em dlnheiro e a soma dosgastos em dinhelro.j.valor das p~ pessoais,26 27

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    pre!;o que recebera por ela dependera unicamente do jogo daoferta e da procura de propriedades rurais nesse moment~.Ao procurarmos indices adequados ao earacter especi-fico da empresa analisada, aplicamos, como se pode ver,alguns coeficientes inusitados:1) Caleulamos a relacao entre os gastos monetarioscom fins produtivos e 0 lucro monetario liquido, au seja,ealculamos 0 lucro anual liquido produzido por urn zloty

    gasto com fins ,'produtiv?S; ,2) Calculamos aquilo a que chamamos taxa de mopetarlzaeao da producao, ou seja, 0indiee que nos mostra a im-portancla dos gastos produtivos em dinheiro dentro doconjunto dos gastos produtivos, e, como nos era impossivelcaloula-lo com uma exactidao absoluta, consideramos ~Olpoaproximaeao verosimil a relaeao entre os gastos mOI_letarlOse a soma destes mais 0 valor das prestaeoes pessoais.o primeiro destes indices e relativamente veridico, umavez que a eontabilidade dos nobres - despreocupada emmateria de investimentos nao monetarios - regista escrupu-Iosamente as receitas e despesas monetarias, 0 segundo

    destes indicese com toda a certeza exagerado, uma vez queconhecemos com bastante exaetidao os gastos monetarios,enquanto as gastos produtivos globais. erat? certamentemaiores do que a soma dos gastos em dinheiro e do val.ordo trabalho prestado pelos eamponeses. Da?o que h~v.la,porem, em todas as proprieda~e~ gastos n~o monetariospara alem do trabalho, este eoeficiente mantem 0seu valorinformativo.Convem insistir no facto de que os dados apresentadossugerem que existe uma rela!;ao inversa !lao so entre ? graude monetarizacao do processo de produeao e a rentabilidademonetaria (0 que nan e de estranhar, uma vez. que tal sedepreende do proprio pressuposto}, como tambem entre .0grau de monetarizacao e a rentabilidade em geral. 0 coefi-ciente de monetartzacao da producao e de 51% em M?czera~y,mas apenas de 24% em Izdebki, porem urn zloty m,,:es~ldona producao rende em Izdebki 2,5 zl. de lucro hqUld?,enquanto em Moezerady reI_lde apenas 0,6 z1., e 0 rendi-mento produzido pelo capital mveshdo. na compra dapropriedade equivale a 6,2% em Izdebki, enqu~nto .emMoezerady e s6 de 4,3%. Esta importante questao eXIg~,evidentemente, uma verifica!;ao assente em material marsamplo ~.

    Voltemos porem ao problema da rentabllidade da em-pre sa. No exemplo citado, a empresa mostrou-se altamenterentavel quando conaideramos apenas 0 aspecto monetario,e elaramente deficitaria quando incluimos no calculo umaavaliacao dos custos nao monetarios, Pode considerar-se esteurn resultado tipico ". Ao analisarmos uma empresa feudal,obtemos quase sempre resultados semelhantes.Este problema, que aparentemente tern a ver com ateeniea de Investigacao, e, na realidade, muito mais vastoe toea em questoes te6ricas fundamentais. Por urn lado dizrespeito a todo tipo de empresas cuja aetividade naoassenta no trabalho assalariado 1. Por outro lado, toeanuma questao de caracter essencial: 0calcU-':oeconomico e_aracionalidade das decisoes eeonomteas em Sistemas que naoassentem no livre jogo dos fen6menos de mercado.Teremos ocasiao de, mais adiante, voltar a todas essasquestoes.A dificuldade referida nao respeita POI'em apenas aoaspecto do trabalho obrigatorlo; pode aplicar-se a todos oselementos da produeao nao adquiridos no mercado.Tomemos exemplo da madeira. Em 1785 um tal To~-zewski publicou, em Berdyczaw, urn manual polaco de.fabri-co de vldro 8. Esse manual, redigido sob a forma de dialogo,comeca com uma ceua em que Alcalde (simbolo dop~o-prietario fundiario abastado) elogia, perante ? ~enho: wia-domski (porta-voz do autor}, 0modo de administracao queintroduziu nas suas propriedades. Menciona como a mawrvantagem do sistema aplicado, a auto-suficiencia d~'S.suaspropriedades (nao precisa de eomprar quase na~a). Dmge:sea Wiadomski pedindo-lhe conselho numa unlea questao:como aprovettar os muitos bosques que possul, onde asarvores crescem sem qualquer proveito e a madeira se des-perdiea? Wiadomski apresenta-Ihe en.tao 0 projecto ~e cons-trucao de uma fabrica de vidros em CUJosfornos poderia apro-veitar a madeira como combustive1. :m interessante 0 factode Wiadomski justificar 0 seu projecto com 0 argumento deque existe um mercado local para artigos de vidro 9; por .ou?,olad0, a manelra como 0 Alcalde formula 0 problema indleaque, nesse periodo, nao havia, nessa regiao, possibilidadede vender madeira em bruto. Para 0Alcaide, essa madeirae de momenta imitil e, portanto, desprovida de valor. Aceitacom grande alegria a projecto de a queimar numa fabrica devidros.

    Que ligao podemos tirar deste breve dialogo, certam~n!erealista? A situacao descrita nesta cena indica que a decisao28 29

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    econ6mica de utilizar a madeira como combustivel n~afabric a nao e uma op~o economical uma vez que 0 Alcaldenao tern, ou, pelo menos, nao vislumbra nenh:una. outrapossibilidade. A maneira de formular esta tese e eVl~ente-mente urn tanto ou quanto paradoxal, A construqao ~afabrica de vidros pelo Alcaide e , ao fim e ao cabo, umaopeaoeconomic&. 0 que este dialogo inegavelmente demonstra,e que se pretendessemos fazer 0balance da fabric a de vid:osatrlbuindo a madeira nela queimada 0 preeo que 0 Alcaldeou 0 seu vizinho teriam de pagar para a comprar, obteria-mos resultados exorbitantes. 0 proprietario de um bosquesituado nas margens de urn rio navegavel, antes de construir,por exemplo, uma fabrica de vidros, tem de caI,cular se ganhamais transportando a. madeira a flutuar a!e ao porto ouvendendo 0 vidro obtido mediante a combustao dessa mesmamadeira (tendo em conta a diferenqa de outros custos rela-cionados com ambas as opera~s). Mas 0Alcaide do ,~anualde Torzewski nao raeiocinava nestes termos. Que instru-mentos de ealculo devemos pois aplicar as suas decisoesecon6micas 1A plena possibilidade de eseolha ~o x}ste num mer-cado perfeito. Mas 0 mercado _perfelto e uma .abstr~c-gao teoriea da qual se afasta em dlferente~ pontos, inclusivea propria realidade capitalist a liberal. Aplicar essa abstrac-~ao ao estudo da economia feudal e urn anacronismo cras~o.Mas numa economia pre-

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    na hist6ria do latifundio polaco, a degradac;ao da proprie-dade, tantas vezes motive de acusacoes aos admi-nistr adores e aos rendeiros. Traduzida em linguagemecon6mica, a degradac;ao significa a diminuicao da eapa-cidade produtiva que essa propriedade representa potencial-mente. Como se sabe, os processes por degradagao eramextremamente confusos e era muito dificil provar au refutara. acusacao- 0 que nao e de estranhar. A contabilidade deentao tinha regras elaboradas e uniformes apenas no que sereferiaao aspecto monetario das receitas e das despesas,mas em geral nao tomava em conta 0 valor da propriedadeou as mudangas que podiam dar-se nela 11. 0 facto njio cons-titui uma men expressao da falta de sentido de ealculo aude conhecimentos econ6mico-rnatematicoS. A avaliacao detodos os bens (m6veis au imoveis) que constituiam a proprie-dade a precos de mercado correntes teria sido uma operaeaoinjustificada, inclusive teoricamente, nas condicoes econ6-micas da epoca 12. E ainda que se procedesse a uma avalia-gao desse tipo, seria impossivel reduzir a urn denorninadorcomum as alteraeoes do potencial produtivo da propriedadeem determinado periodoeconomico: edificios e utensilios,mimero de cabegas de gado, superficie dos bosques, etc,Por todas estas raz5es era objectivamente tnsoluvel a ques-tao de saber se a degradagao se tinha verificado cfcctiva-mente e, no caso afirmativo, a determinagao das suas dimen-soes (0 que conferia a nobreza po1aca, conheeida pelo sellgosto pelos process os judiciais, possibilidades verdadeira-mente fantasticas).Na economia de dois sectores (monetario e natural), 0sector natural e, em principio, primordial para 0 camponese 0 monetarie, para 0 nobre. Tudo 0 que possa aumen-tar as reeeitas em dinheiro e visto com agrado pelo nobre.Nao se pode, no entanto, saber com exactidao, no sis-tema vigente, se esse acrescimo foi conseguido a expensas dopatrimonio da propriedade. Dai a contradiga.o entre a ansiade aumentar as receitas em dinheiro e 0 desejo de evitar aedegradacao .De qualquer maneira, se abstral'Ssemos dos elementosnao adquiridos e utilizados na producao, poderiamos consi-derar rentavel uma manufactura cujo funcionamento redu-zisse consideravelmente noutros aspectos 0 potencial pro-dutivo da propriedade. Tyzenhaus, administrador dos bens dacoroa na Lituania nos anos 1768-1780, construiu rnanufac-turas que aumentaram muitissimo as receitas do rei, mas

    tambem e_verdade que esses dominies sofreram uma gr ddegradagao durante esse periodo 13. an eo problema complica-se mais em virtude de urn 1 tdici I d dificil . - e emen 0a iciona e I ICI avaliaeao. Suponhamos 0 c drna uf t ( fab . . aso e uman ac ura como a a rica de vidro do exemplo anterior)que devasta as bosques de uma determinada . d dA 1 -.... ,. propria a e,ava iacao economl:a deste fenomeno esta dependente dofact~ ?~haver ou nao, nesse lugar e nessa epoca, outraspos~lblhdades de aproveitamento da madeira par exemplenvlando-a por flutuacao ate uma cidade po;tuaria 0 q 0,como sabemos,. n~~ sem pre era possivel. No caso' de : a ~haver essa p?s~lblhdade, a queima des bosques nos fomosd,e~~a fm;d~gao de ferro ou de urna fabrica de vidros cons-tituiria a ':lntca for;ma economicamente correcta e, de qual-quer ma~el~a, rentavel de utilizar essa madeira., Raciocinando ~m te:mos ~imples de oferta e procuraa.esca!a da economia naclOl!al, e pe~fei~amente possivel umasituacao ~ que a oferta sejasuperior a procura no conjuntoda ecor:oI?la, enquanto no sector comercializado se verifieao contrarIO:. a proeura e superior it oferta.'I'raduzmdo esta situacao em linguagem grafica:

    , , - t ? ? @ 3 ~ : . . u : ; . . .d . . . . . _ _ j 1 Oferta~"" ' '' ' '' - l .L .L .LL .. f . : . .:L . __ _ j1 Proeura

    A zona rrscada representa a o!erta e a procura no mercado,

    ~ra assim que sem duvida se apresentava nos finsdo sec~lo XVIII 0 problema do. factor mais importante daproduc;~o, a saber, a mao-de-obra, Par outro Iado temosC0!lh~clmento de numerosos exemplos de desperdicio demao- c-obra camponesa na economia latifundista e oroutro lado, ~s precos da mao-de-obra livre atingem,' no' m~r~cado, urn myel relativamente alto H Atendendo a 'que aavas~aladora maioria dos brae os existentes no pais estiiomametados pela s~rvidao, aparece no mercado de trabalhouma parte proporcionalmente insignificante de mao-de-obra:c?~pa;ada c.om ela, a reduzida procura de trabalho assala:ria 0 e relativamente consideravel. Se avaliarmos entao aos~regos elevados do mercado toda a mao-de-obra empregada naIeserva, che.g~r;~os forcosamente it conclusao de queesta era deflcitaria e de que nfio poderia subsistir sem a

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    servidao, Aparentemente davam-se situac;,:6esanalogas rela-tivamente a muitos outros factores economicos.A avaliacao monetaria - a preeos de mercado - dOBelementos que entram no processo de produqao sem passa-rem pelo mercado, ou dos frutos da produeao que nao saooferecidos no mercado, assenta em varies pressupostos quepecam inegavelmente por falta de realismo:1) Pressupoe-sea existencia de urn preco de mercado

    relativarnente uniforme para eada urn destes elementos,e em primeiro lugar para a mao-de-ohra ;2) Pressupoe-se que todos 00elementos e todas as cate-gorias da mao-de-obra possuem urn valor eeon6mico e urnpreco que permite medir esse valor;3) Pressupde-se que 0 empresario, organizador daactividade econ6mica e proprietario dos meios de producao,tern sernpre a possibilidade de eseolher entre vender urn dadoartigo no mercadoa preco corrente e utilizar esse artigono proeesso de producao, Alem disso pressupoe-se ainda queso tomara a decisao definitiva quando tiver razoes fundadaspara esperar urn lucro maior da producao,Por outras palavras, reconstituir 0 calculo economicode uma empresa signifiea, de certa maneira, verificar a raeio-nalidade das decisoes do empresario. 0 calculo dO'Scustostern por objectivo reconstituir a soma das perdas sofridasna producao, Nesse calculo 0 valor monetario da madeirautilizada na producao, mas nao eomprada, so pode ser consi-derado como uma perda se essa madeira pudesse ter sidovendida por um dado preco. Mas realmente teria sidopossivel faz(;-lo? Incluir nos custos 0 valor das prestacoespessoais so teria sentido se, ao renunciar a producao, fossepossivel vender essas prestaedes a um determinado preco,Mas seria possivel faze-lotQuem seguiu outro processo de investigaeao, podera

    apresentar a seguinte objecgao. Podera dizer concretamenteque, ao inclulr-se, no calculo dos custos, 0 valor estimadodos artigos nao provenientes do mercado, procura-se naotanto reconstituir 0 calculo dos lucros e das perdas doempresario, quanta reconstituir os lucros e perdas socials.Mas esta objec~ao tambem e suseeptivel de refutaeao. Qual-quer utiIizagao produtiva de uma madeira que se nao podevender e rentavel do ponto de vista social, uma vez queaumenta 0 rendimento nacional, ainda que em infimo grau.o unieo limite perceptivel neste ponto sera a deterioraeao da

    propriedade e da sua capacidade produtiva futura. 0 con-ceito ~e degradac;,:a_od?S benss de.setnpenhava, e com todaa razao, uma fun~ao importants no raciocinio econ6micoda nobreza polaca HTem muito. i~teresse neste particular a analise do sis-te~a .de cOl:ta~lhdade das res~rvas ~enhoria~s. Gostomski,cuja Importil.ncl~ n~ca e demats assinalar, da os seus con-selhos ao proprietarlo da reserva tambem nesta materia '"EIe.-segundo 0diz Gostomski no ano de 1588-devi~

    abrir uma conta separada para cada urn dos elementos mate-riais e monetarios que constituiam. a produeao e 0 consumo~ reserva: para 0 centeio e as cenouras, as ma~s e' 0 car-va0, os pregos e 0$ aros de barril. os direitos de peageme as multas cobradas aos camponeses, etc. No total, 156~ontas ?e .valores mate~ais, todas separadas e, 0que e mais,Irredutlveis a um denommador comum! Se todas essas contasderem lucro, a c.onclusi~ sera irrefutavel: a propriedade dalucro. ~. quem tiver duvtdas quanta a esta interpretagao dac.ontablhdade recomendada por Gostomski, encontrara no seuIivro urn enunciado que a confirma exprea8>is verbis: ,,0encarregado ... deve zelar niio 26 por que na~ haja qualquerf~lta, mas sobretudo ~em de se preocupar por que haja cres-cimento em ooda cOt8U H Mas como apreciar a aetivi-dade da reserva quando aumentam as quanUdades de trigo3:rmazenadas no celeiro, e diminui simultaneamente a quan-tidade de ma~ na dispensa?

    A. prlmeira impressiio que se colhe da leitura de Gos-tO~S~l ou de qualquer das numerosas instrugoes da epocar~dlgIdas pelos grandes proprietarios para uso dos admi~mstradores d.DSseus bens, e a de que todos eles defendemuma .econom!_Rmultifacetada, ou seja, a policultura, : mum~ rmpresseo superficial. Na realidade trata-se de umapohcultura ao servico da monocultura. A maioria dos arti-goo a produzir nao sao para vender, mas aim para niio terde os comprar 18, ou seja, para aproveitar melhor 0dinheiroobtido pelos tinieos produtos que interessam verdadeira-mente; os produtos exportaveis. Tudo tem de estar subordi-na~o a monocultura do centeio e do trigo, e 0 dinheiroobtido por esse centeio e esse trigo sera gasto exdusivamentena compra d~ artigos que nao podem ser produzidos nareserva s:m dlSp~ndio monetario. Neste sentido sera rentavela produgao de qualquer coisa, desde que essa producao sefaca c0!ll 0 que se tem e sem exigir gastos de dinheiro B. Ate agora referimo-nos prlneipalments a analise econo-mica da reserva. Infelizmente, a falta de fontes impede que

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    procedamos a uma analise semelhante da exploracao feudalcamponesa, mas tudo indica que 0 resultado seria analogo.Indicam-no-Io antes de mais nadaos resultados de investi-gac;i5es levadas a cabo em paises economica.mente atrasadosdos nossos dias, principalmertte na india, onde este pontotern sido objecto de urn amplo debate (que lembra, em maisdo que um aspecto, os debates economieos na Polonia deantes da guerra).A analise te6rica da exploracao camponesa pre- ousemi-eapitalista como tipo de empresa> reveste-seactualmente de grande significado. A grande actualidadecientifica deste problema resulta do facto de se relacionarcom urn problema candente no mundo dos nossos dias, emque a maioria da populacao vive em paises subdesenvolvidos,e a maioria da populaeao destes vive precisamente em peque-nas explorac;i5es camponesas de tipo familiar, pouco vincu-ladasao mercado, que trabalham principalmente para satis-fazer as suas proprias neeessidades de consumo 20.A explo-rac;ao camponesa autarqulca (se nos autorizam este termoconvencional) e sem qualquer sombra de duvida a formamais difundida de organizacao da actividade produtivanomundo. Poder-se-a chamar-lhe empresa? Pod,er-se-a utili-zar na investigagao os criterios da analise da actividadeecon6mica da empresa ~1? E se nao for possivel utillza-los,em que plano deveremos entao analisa-la ? A eiencia actualesta longe de ter encontrado respostas para estasperguntasfundamentais.Os metodos tradicionais de analise da empresa foramaplicados vezes sem conta a este tipode exploragao. Conhe-eemos ja, em termos gerais" os resultados que deles pode-mos esperar. Liroiterno-nos a citar urn exemplo muito elo-quente: urn estudo de 600 explorac;5es, levado a cabo em1937-1938 em 21 aldeias hindus,22 demonstrou que essasexploracoes produziam, em media, 88 rupias de lucro annal,a precos de mercado e sem ter em conta ocusto da mao--de-obra familiar e a amortizacao do capital. Incluindo,pelo eontrario, 0 eusto da mao-de-obrasegundo os salariespagos, nesse Iugar e nessa epoca, !lOS jornaleiros e acrescen-tando uma percentagem de 3% de amortlzacao do capital,as referidas exploracdes eram altamente deficitarias (90rupias de defice annal).Lembremos que 0 Instituto de Pulawy, nas suas inves-tigacoes sobre 0miniffmdio campones, efectuadas no ano de1932 23, obteve resultados analogos para 0 campo polaco,

    reduzido ao primitivismo econ6mico numa epoca de erisemundial.Lembremos tambeID:. que obtivemos praticamente 0mesmo resu~tado (rentahilidade quando Be exclui dos custoso valor ~s:n:na)do do ~balho nao adquirido, e defice nocaso co~ _:arlO 3 ;0 analisarmos uma reserva tipica assentena servidao e' muitas manufacturas feu dais.C0ID:~ s~ pode v:e::,0problema e de grande Importancia,. A ciencia tradicional nao encontraria dificuldades demaior !l~ste ponto. Responderia que 0 campones medio naocontablhza 0custo do trabalho da sua familia nem ati - d . I . am or-izaeao 0 caI?lta, por ignorar eases conceitos e por naos~ber fazer calculos correctos, Responderia ainda que 0calculo ,c~rreeto d~ve tomar em. eonta e~tes dois factores,que a umca maneira-deos avahar consiste emaplicar osprecos de mer:ado ~o Ingar e da epoca em questao e queessas expl?ra~o.es sao _na ~alidade deficitarias, embora osseus proprietaries 0 nao saibam,A conclusao. ~e que metade da humanidade esta empe-nha?~ numa ach!"ldade produtiva defieitaria constltui umaes_pecle de reduotio ail absurdum. Seria igualmente absurdoafirmar que todas as reservas senhoriais e todas as par-celas dos camponeses servos da gleba na Po16nia foram per-manen~emen~ deficitarias ao longo dos quatro seculos dasua existencia,Por outro 1000, este metodo niio resiste a critiea nem~9~er do pon~ .de vista da. ciencia tradieional. Se paraimciar um~ actiVldade, ~rodu.hva sao neeessarios, por hip6-tese, A, ~U1I~ d~ materta-prima e B dias de .trabelho, e 0emp::esario dispfie de A kg de materia-prima e de B maisX dias de ~rabalho, e ao mesmo tempo nao ha nenhumaoutra manerra deaproveitar a mao-de-obra excedente 0valor de toda a. f.orc;a de trabalho incorporada na produgaorl:eve ser c?Dtablb~ado como equivalente a zero. Neste sen-tido poderiamos dizer que 0 eampones-proprietario faz urnuso correcto da teoria marginalista 24.Po:em: ~ _evidente que em certas condieoes, e perfeita-mente justifieavelfazer 0balance eeon6mico da exploraeaocamp?nesa seguindo rigorosamente os metodos capitalistas(avaha~do ~ trabalho familiar a preeos de mercado, incluindoa amortizacao do capital, etc).tal ,Para 0 hist

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    1) que 0 produtor calcula em unidades naturais;2) que os precos de mercado nao sao validos neropara os factores de producao (eujo valor geral-mente exageram), nem para os produtos;3) que 0produtor nao reage, em principio, aos esti-

    mulos do mereado (aumentos e baixas de precos).

    . ~6 quando a exploracao camponesa comeca a reagirpositivamente aos estimulos do Mercado (maior venda nocaso d~ .subida _d ~ precos e vice-versa) e que os metodos dec.ontablhdade capitalista podem passar a ser aplicados a estebp~ de empresa. Por outras palavras, so entao a explo-racao se tr~sforma nU,ma empresa propriamente dita. Estar~acc;ao .p?~lhva aos esti~ul6s do mercado s6 aparece quandoha possibilidades de opcao no aproveitamento dos meios deproducao existentes (sobretudo quando 0 trabalho utilizadona exploracao agricola pode ser vendido no mercado nocaso desta ser pouco rentavel, e quando a terrapode r~pre-sentar urn investime?-to de capital como qualquer outro).Em resume: aphcar uma contabilidade de tipo capita-Iista (ou seja, aquela que avalia a preeos de mercado os bense .servicos na? a~quiridos .nem vendidos) a relac;OeS econ6-mlc~s pr~-caplt~llstas, equivale a proceder anacronicamente.Aplicar a totalld~de da producao de u r n . pais os precos demercado - atraves do qual passa apenas uma infima partedos bens e services produzidos - conduz forgosamente aoabsurdo. Este metodo e partieularmente perigoso quandoaplicado a mao-de-ohra, uma vez que 0mercado do trabalhono regime feudal e ex deJinitione extremamente reduzidorealmente marginal. Como a parte fundamental da mao-de~-obra nao tern 0 direito de se oferecer no mercado e naturalque 0 preqo da mao-~e-obra seja, regra geral, e~traordina-riamente elevado (ainda que possa haver excepcoes). Senos basearmos, pols, nesse prec;o para avaliar as preetacoes~os camponeses em favor da reserva, ou 0 trabalho por elesmveshdo nas suas proprias parcelas, MO poderemos estra-n~ar 0exagero dos resultados quando fazemos os respectivoscalculos dos custos.

    de urn tema vastissUno; aqui nao podemos ir alem dumasugestao,Em nossa opiniao, poder-se-ia adoptar como criterioa forma de que se revest em os encargos exteriores da explo-racao, Referimo-nos a.s prestaes pagas ao Estado (impas-tos) e ao latifundiario (renda feudal e, por vezes, rendacapitalista). Podem incluir-se ainda, na mesma categoria,as formas de credito, Quando os impostos, as prestacoesao senhor e os emprestimos forem pagos em Specie (emtrabalho ou em produtos), nao tera senti do urn balance daexploraeao camponesa feit-o em obediencia a normas capita-Iistas e dara quase sempre resultados semelhantes aos queatras descrevemos (defice quando Be inclui 0 custo do traba-Iho DaO assalariado e a amortizacao; rentabilidade no caso denao serem incluidos). Nesta situacao verifica-se:

    Sempre que 0 regime socioecon6mico impoe 0 paga-mento em dinheiro dos impostos estatais, das prestacoesao senhor (proprietario da terra) e do credito, a situacaosofre uma alteraeao radical. Aparece entao urn fenomenoa que poderiamos chamar ecomercializaeao forgada, 0eampones precisa de vender a fim de obter 0dinheiro neeessa-rio para satisfazer todas essas obrigag3es, pois, caso contra-rio, arrlsca-se a perder a sua terra. A sua reaceao aosestimulos do mercado e contraria as hip6teses da cienciaecon6mica burguesa, Quando os precos aumentam vendemenos; e quando os precos descem, tern justamente de vendermais, Os encargos que tern de suportar sao geralmenterigid os, pelo que as quantidades que vende (frequente-mente a expensas do seu proprio consume) e 0 nivel docprecos sao grandezas inversamente proporeionais. Em maisde urn easo, 0 alto nivel dos precos ocasiona urn regressoparcial dessas exploracoes a economia natural e vice-ver-sa 2~. INo comportamento economico do campones, '0 sectornatural prevaleee sobre 0monetario, e os precos de Mercadosao inadequados para reconstruir as suas modalidades decalculo ou avaliar os resultados da sua aetividade produtiva.

    A economia do dominio feudal

    Apesar . de os estudos hlstorteos sobre 0 agro polaco;- tan~ all;tIg~, c?mAo:ecent~s - podere~ apresentar nume-os~ e m~lscutivelS exitos, nao e tarefa facH proceder a uma;:aJlse, amd.a que aproxirnada, da economia do dominiou al e, mUlt? menos, da economia eamponesa.No que diz respeito ii reserva, esta afirmagao podeparecer par~doxal, se se considerar a grande quantidadede ~on~flas e de fontes publicadas (e antes de mais nadaos Inventanos e as ill'Stru~s) de que se pode dispor.38 39

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    1) que 0 produtor calcula em unidades naturais;2) que os precos de mercado nao sao validos neropara os factores de producao (eujo valor geral-mente exageram), nem para os produtos;3) que 0produtor nao reage, em principio, aos esti-

    mulos do mereado (aumentos e baixas de precos).

    . ~6 quando a exploracao camponesa comeca a reagirpositivamente aos estimulos do Mercado (maior venda nocaso d~ .subida _d ~ precos e vice-versa) e que os metodos dec.ontablhdade capitalista podem passar a ser aplicados a estebp~ de empresa. Por outras palavras, so entao a explo-racao se tr~sforma nU,ma empresa propriamente dita. Estar~acc;ao .p?~lhva aos esti~ul6s do mercado s6 aparece quandoha possibilidades de opcao no aproveitamento dos meios deproducao existentes (sobretudo quando 0 trabalho utilizadona exploracao agricola pode ser vendido no mercado nocaso desta ser pouco rentavel, e quando a terrapode r~pre-sentar urn investime?-to de capital como qualquer outro).Em resume: aphcar uma contabilidade de tipo capita-Iista (ou seja, aquela que avalia a preeos de mercado os bense .servicos na? a~quiridos .nem vendidos) a relac;OeS econ6-mlc~s pr~-caplt~llstas, equivale a proceder anacronicamente.Aplicar a totalld~de da producao de u r n . pais os precos demercado - atraves do qual passa apenas uma infima partedos bens e services produzidos - conduz forgosamente aoabsurdo. Este metodo e partieularmente perigoso quandoaplicado a mao-de-ohra, uma vez que 0mercado do trabalhono regime feudal e ex deJinitione extremamente reduzidorealmente marginal. Como a parte fundamental da mao-de~-obra nao tern 0 direito de se oferecer no mercado e naturalque 0 preqo da mao-~e-obra seja, regra geral, e~traordina-riamente elevado (ainda que possa haver excepcoes). Senos basearmos, pols, nesse prec;o para avaliar as preetacoes~os camponeses em favor da reserva, ou 0 trabalho por elesmveshdo nas suas proprias parcelas, MO poderemos estra-n~ar 0exagero dos resultados quando fazemos os respectivoscalculos dos custos.

    de urn tema vastissUno; aqui nao podemos ir alem dumasugestao,Em nossa opiniao, poder-se-ia adoptar como criterioa forma de que se revest em os encargos exteriores da explo-racao, Referimo-nos a.s prestaes pagas ao Estado (impas-tos) e ao latifundiario (renda feudal e, por vezes, rendacapitalista). Podem incluir-se ainda, na mesma categoria,as formas de credito, Quando os impostos, as prestacoesao senhor e os emprestimos forem pagos em Specie (emtrabalho ou em produtos), nao tera senti do urn balance daexploraeao camponesa feit-o em obediencia a normas capita-Iistas e dara quase sempre resultados semelhantes aos queatras descrevemos (defice quando Be inclui 0 custo do traba-Iho DaO assalariado e a amortizacao; rentabilidade no caso denao serem incluidos). Nesta situacao verifica-se:

    Sempre que 0 regime socioecon6mico impoe 0 paga-mento em dinheiro dos impostos estatais, das prestacoesao senhor (proprietario da terra) e do credito, a situacaosofre uma alteraeao radical. Aparece entao urn fenomenoa que poderiamos chamar ecomercializaeao forgada, 0eampones precisa de vender a fim de obter 0dinheiro neeessa-rio para satisfazer todas essas obrigag3es, pois, caso contra-rio, arrlsca-se a perder a sua terra. A sua reaceao aosestimulos do mercado e contraria as hip6teses da cienciaecon6mica burguesa, Quando os precos aumentam vendemenos; e quando os precos descem, tern justamente de vendermais, Os encargos que tern de suportar sao geralmenterigid os, pelo que as quantidades que vende (frequente-mente a expensas do seu proprio consume) e 0 nivel docprecos sao grandezas inversamente proporeionais. Em maisde urn easo, 0 alto nivel dos precos ocasiona urn regressoparcial dessas exploracoes a economia natural e vice-ver-sa 2~. INo comportamento economico do campones, '0 sectornatural prevaleee sobre 0monetario, e os precos de Mercadosao inadequados para reconstruir as suas modalidades decalculo ou avaliar os resultados da sua aetividade produtiva.

    A economia do dominio feudal

    Apesar . de os estudos hlstorteos sobre 0 agro polaco;- tan~ all;tIg~, c?mAo:ecent~s - podere~ apresentar nume-os~ e m~lscutivelS exitos, nao e tarefa facH proceder a uma;:aJlse, amd.a que aproxirnada, da economia do dominiou al e, mUlt? menos, da economia eamponesa.No que diz respeito ii reserva, esta afirmagao podeparecer par~doxal, se se considerar a grande quantidadede ~on~flas e de fontes publicadas (e antes de mais nadaos Inventanos e as ill'Stru~s) de que se pode dispor.38 39

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    o problema consiste em que essas fontes e os trabalhosnelas baseados apresentam series inconvenientes , quando sepretende investigar este aspecto da economia, qu~ ~ exacta-mente 0 mais importante numa eeonomia especIahzada: 0.sllfuncionamento.As antigas investigaqees sabre a hist6ria agr3.riaapoiavam-se prineipalmente em fontes de tipo no~ativo,eomecando pela legisla!;8.0 historiea e acabando nas. instru-~5es eos administradores das grandes propnedades.Rutkowski, cujos estudos marcaram uma viragem, descon-fiava manifestamente desse tipo de fontes. E tinha toda arazao. Negava-se a tirar conclusoes acerca de como foi apartir de uma fonte que dizia como devia ser. D~ que,para Rutkowski, 0 tipo preferido de fontes fossem os mven-tarios (incluindo a categorla especial constitufda pelasactas de inspecgao): descricso positiva do estado decoisas em cada propriedade num dado mom ento.Dissemos ja, noutro trabalho, que Rutkowski niio aten-dia suficientemente a presenea de elementos normativos nosinventarios 1. Mas neste memento nao e isso que nosinteressa. 0 aspecto que aqui nos interessa principalmentee 0 earacter por assim dizer representativo das infer-maci>es proporcionadas pelo inve!ltario. ~ nalgunscasos e possivel reunir um certo numero de lnventariosrelativos a mesma aldeia e contar por conseguinte com umaserie de amostras representativas, entre a muttiplleaeao ~asamostras e a eompreensao da dlnamica das transform~goesvai uma grande distancia '2. l 1 . : evidente que a comparaqao deduas amostras nos informa sobre 0 rumo das alteracoes:mas a interpretacao causal ou funcional desse rumo so epossivel em conexao com 0 nosso conhecimento geral daepoca. E ai reside todo 0perigo do metodo, Se compararmosos inventarios anteriores ao ano de 1648 com os posteriore sao ano de 1655, veremos em que direcgao foi evoluindo asituacao no agro. Mas como sabemos, por outro lado, qu.ehouve entretanto na Polonia guerra'S devastadoras e aangui-narias, poderemos estabelecer uma relagao de causa e efeitoentre essas alteracoes e essas guerras.A grande vantagem dos Inventarios, particularmenteapreciada por Rutkowski, reside na sua abundancia, 0 quepermite uma elaboracao estatistica dos dados que facuItam.Mas, como dissemos ja, 0metodo estatistico, apesar de tod~sas suas qualidades, nao s e r a suficientemente frutuoso se na.ofor acompanhado por analises individuais. Da mesma manei-

    ra, ~ mais frutuosos estudos macroanaliticos nao retiramo interesse aos estudos microanaIiticos.------Epor Isso 'queuoS atrevemos a sugerir-que se fagaagora um esforco especial no sentido da investigaeao dasfontes ate aqui menos exploradas, a saber, as contas dasres:ervas. :E__? e : ! ' t o que ainda falta muitopara explorar devida-mente osinventan:6S;-para'"eliiborar estatisticamente e ana-lisar emgrandeesealao s e ll . c Q nleiid6com fins macroecono-ri1lcQ~.Mas 0 caminho ja -fol -aberto, sobretudo pelo proprioRutkowski, e ainda pelas numerosas publicaeoes de fon-tes no pos-guerra. Mas no que se refere a s contas das- reservas, a experiencia metodologica e -extraordinariamentepobre 3. So 0estudo de series continuas de contas (aindaque abranjam periodos curtos) permitira analisar 0 funcio-namento da economia da reserva. S6 elas podem mostrarefectivamente como era administrada a reserva, qual erao seu ealculo eeonomico, como reagia as mudaneas de situa-gao, as variacoes nas colheitas e nos precos, e que alterna-tivas escolhia. : I t : nisso justamente que consiste a gestaeeconomica,Dado que as publicacoes existentes nos nao proper-cionam estudos, sequer parciais, de grandes sueessoea deeontas desse tipo, as consideraedes que se .sguem apoiam-seem bases muito frageis. 'E muito provavel que investigacdesfuturas deitem par terra mais do que uma das nossas hipo-teses. Apesar disso, atrevemo-nos a proper aqui um modelede economia do dominic feudal tal como a concebemosneste momento, sem inteneao de 0 apresentar como algo deduradoiro, mas apenas com a esperance de que futuramentese venha a elaborar, e em comum, urn outro modelo maisadequado e melhor fundado.Em prineipio, a reserva feudal apliea uma economiaextensiva, 0 seu rendimento e fungao da area cultivada.Quando a area da propriedade era maior do que a que podiaser cultivada pelos servos - a extensao do cultivo dependiado nfunero de brag os- , parte da 'terra fieava por lavrar 4.No caso contrario, quando 0mimero de calma'S era 'Superioras necessidades de mao-de-obrs (caso que ocorria multoraramente), surgiam fenomenos como a venda de presta-goes pessoais a reservas vizinhas ou a venda livre do traba-Iho pelo proprio servo, que redimia assim a prestaeao, comoacontecia no suI daPolonia s. Se bem que a venda de pres-tagoes pessoais a reservas vizinhas - caso pouco frequentena Polonia - equivalesse apenas a urna transferencia demao-de-obra de uma propriedade para outra, podemos afir-

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    mar ue de uma maneira geral, e com algumas excepcoese o~ca importancia (v. g. 0 sistema de censos), 0 nume:o~e Pbra~os disponiveis determinava 0 volume d_a producaoa Icola (incluindo a cria~ao d~ gado, a oxploragao flor~stal,efc:). Toda uma aerie de fen~m~nos, 0 sl~teI?a destmadorevenir a fuga de servos proprros, aadmleeao e estabele-~i!ento de servos alheios em fuga,.o ~s~questro de servos 6,a referencia concedida aDSmatrimomos em que uma, d~spa~tes fosse urn servo alheio transferive.!. pa~a 0 propriodominio a admissao da servidao evoluntaria , a fomentada colon'iza~aO (os chamados eholandeses> 8), em ~urna, t~daa politic a demografica da grande proprledade s~ se explicaem fun~ao do facto de a producao ser determmada pel~.numero de servos e. naturalmente, pela grandeza dos encargos que lhes eram impostos 9.Chamemos limite fisiol6gico a quantidade de trab;U!.l.0ue se ode conseguir dos camponeses em reg:i:~e de 'Se:Vld~o~em osPconduzir a ruina: e claro que esse litmte se:a m~tm-givel devido a resisrencia dos camponeses. Por 1'SSOe d.eintroduzir um outro coneeito, a qu~ ~han:a:en;o~ 0 coef!-ciente de opressao praticavel. 0 _lImlte~1S;ologICO,modI_-ficado pelo coeficiente de opressao praticavel, dar-nos-acomo resultado 0 limite social, que represen~ os encargosque e possivel impor ao campones em det~rmmadas condi-~5es institucionais, tendo em c0Il:t~ 0 rendimento ~o traba-iho, a eorrelaeao das foreas SOCialSe as possibilidades desabotagem e de fuga. . .Na pratica, segundo parece, MO se atingia sequer.olimite social. 0 ritmo sazonal dos trabalhos a_grlColas faziaque, nos meses de Inverno, a pro.cura de ma_?-d:-obra nareserva fosse relativamente redusida. A tende.?Cl~ para amonocultura Ctlrealifera tinha como consequenCla a re-serva quase nao precisar do trabalho das m~lheres ~ d.ascriancas. Temos portanto de ter em con~a, .alem do ~h~ltefisio16gico e do limite social, urn elimite tecnologtco~~As instrueoes das grandes propnedades e os ~rat:ado~ agricolas da epoca estao cheios de conselhos e lndtcacoes decomo elevar 0 limite tecno16gico, para 0 aproxlmar. dolimite social. A recuperaeao dos dias de trabalho obriga- -torios do lnverno em perlodos de tarefas agricolas urgentesera urn proeesso bastante frequente ..se .bem .que f?sse consi-derado ruinoso, 'Pais ameacava a propria eXlstencla do cam-pones que nao ficava assim com tempo para lavrar a suapr6pria terra. Procurava-se de preferencia e na medida d~possivel, concentrar no lnverno os trabalhos de desbaste da

    florestas para 0 abastecimento de madeira para todo 0 ano,os transportes, as ob;8:s de manutencao, as reparaeoes, apreparaeao de materiais para a construqao, etc. As manu-facturas proporcionavam simultaneamente possibilidades deintensifieaqa do aproveitamento do trabalho das mulherese das crianeas camponesas. A redueao da superflcie dasparcelas camponesas, nao afectando 0 limite fisiol6gico,deixava mais tempo livre a familia eamponesa, elevando porconseguinte 0limite social.Seja como for que abordemos 0 problema, e evi-dente que 0 limite maximo da produgao era definido pefaquantidade de trabalho que nele se podia investir. Na pra-tlca, a produeao so podia tender para esse limite nos anosnormais, isto e, nos anos de paz e de boa colheita, que naoerammuito normais na epoca feudal. As flutuacoes daprodueao global (que costumam ser enormes ) eram geral-mente, a curto praao, 0 resultado de factores extra-econo-micos, tais como guerras ou ealamidades naturais. 0 fimda actividade econ6mica eonsistia justamente na adaptaeaoa tais [email protected] se pode, no entanto, per de parte a possibilidade de.que 0 limite superior da producao agricola do pais fossedeterminado nao tanto pela quantidade de trabalho humano,como sobretudo pela quantidade disponivel de fo~a de trac-~iio animal.: : indubitavel que 0 problema do gada era, em certassituacoes, 0 ponto de estrangulamento da economia feudal.A cria~o de gada em grande escala deparava entao, pelomenos na maior parte do territ6rio polaco, com grandesdificuldades tecnicas e sociais. Entendemos por dificul-dades tecnicas 0problema da forragem, 0problema da ali-mentacao do gado durante 0 lnverno. Os anos de seea cau-savam assim grandes estragos no gada. As difieuldadessocials eram de varios tipos. Por urn lade as guerras, que naepoca feudal eram tao mortiferas para os seres humanoscomo hoje, eram-no tanto ou mais para 0 gado. Asguerras dos soldados do pais contra 0 gado e as aves decapoeira foram descritas de .forma muito expressiva nasatira e na literatura de eircunstaneia to. Por outro lado,eo que era mais importante ainda, 0 sistema que trans-feria para a exploraeao do servo a parte essencial das fun-!;Besde reposicao da capacidade produtiva da propriedade -refiro-me a alimentaeao do gado - criava as piorescondi-!;Oespara 0 seu desenvolvimento. A negligencia com que oscamponeses tratavam 0 gado, do qual beneficiava 0 senhor e

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    nao eles, era motivo de preocupa!;ao constant;e para aqueleou para 0 seu administrador. Em anos de m~ colheltas, ?campones via-se par vezes perante a alternativa de se all-mentar a si mesmo ou ao gado. : m facil deduzir q~al er.aa op!;ao. 0 reduzido rendimento do trabalho dos bois obri-gava a manter muitos animais de trabalho, 0 que agravavaainda rnais 0 problema forrageiro. Todos estes fact.orestecnicos e sociais fizeram que 0p:abl~a da traecao animalconstituisse, nessa epoca, urn o~st.aculo importante ao desen-volvimento da actividade economlCa. .. .Parece, no entanto, que este factor restring~a e~ecttva-mente a produ!;8.o apenas ,em momentos ~xcepclOnaJ.s, pre-cisamente em caso de catastrofes natural.s ou de devasta-!;oes belicas. Tanto mais que para remediar a ascassez dogado era sempre possivel recorrer aos bois, que eram objectode um trafico internaciona.l intenso, cuja .rota ,passava ,peloterrit6rio polaco, das estepes suI-orientals ate para la daSiIesia. Em caso de falta de animals de trac!;ao, parte dessegado podia ser adquirido em transito.Urn sistema de economia assente na reserva e no tra-balho obrigat6rio implica urn regime ag~ario. no qual aexplora!;ao camponesa nao passa, ;m ~TlnCiplO, de umaparcela de subsistencia 11 ; mas tl!:"m~emnao pode ~r ~en.osdo que isso. A parcela do camp ones tinha de prod~z.lr 0indis-pensavel para satisfazer as suas necessldad~s basicas, ale;ndo necessario para a continua~o da.exploraga? (

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    . re resente uma dilapidagao evide~te,a reserva, alnda que d o eonduzir os camponeses a I 1 ; 1 1 ! _ l a .pelo men~. en

    car que 0 senhor investisse mais em epocas em que as con-diQOes de troca eram mais vantajosas para ele.Em determinadas epocas, a situaQao podia diferir, nesteaspeeto, do esquema apresentado. Por exemplo, tem quehaver alguma relacao entre os Investimentos extensivos doperiodo de desenvolvimento da reserva assente na corveia(seeulo XV-XVI) - investimentos que se manifestam naexpansao da area eultivada - e as possibilidades vantajosasde colocaeao dos frutos da terra (condigoes de troea). PorDutro Iado, nos fins do seculo xvn e na primeira metade doseculo XVIII, epoca em que as eondiQoes de troca sao menosfavoravels, os esforeos da nobreza no senti do de manter 0seu enivel de luxo ameaeado manifestam-se quase exclusi-vamente sob a forma de uma luta para modificar, a seufavor, a distribuicao do rendimento naeional, 0 que - comoja dissemos - conaistla em aiterar a proporeaoentre a areada reserva e a area das exploracoes camponesas, em detri-mento destas ultimas.Quando a reserva investe, fa-l0 de uma forma naoonerosa 19. as seus investimentos exigem certas materlas--primaa de produeao propria (e em primeiro Iugar a madeira)e principalmente eerta quantidade de mao-de-obra, utilizan-do-se para esse efeito a parte das prestacoes pessoais naoaproveitada nas tarefas correntes, ou ainda impondo novoseneargos aDS eamponeses. A deeisao de efectuar esses inves-timentos nao tinha nada a ver com a situaeao do mercado,e, quando havia alguma relaeao, era de earacter multopeculiar. Niio eonstitui qualquer absurdo 0 facto de 0 nobredecidir investir nao porque as eondieoes do mereado tivessemmelhorado (como aeonteceria no capitalism 0) mas antesporque essas condicoes tinham piorado, vendo-se portantoobrigado a aumentar a produeao global para compensar asperdas e para poder manter 0 seu myel de vida e a suaposiQao social.Esse nivel de vida e essa posicao eram determinados pordois faetores: 0 volume da produeao comercial da exploraeaoe as condicoes de troea desta por outros artigos. Uma vezque 0 senhor feudal nao tlnha qualquer influencia sobre 0segundo factor 20, restava-lhe apenas tentar aumentar a pro-dugao eomereializavcl.Se se pode portanto falar aqni deeestfmulos ao investimento originados pelo mercado, estes- ao contrario do que aconteee no eapitalismo - so podemser negativos; 0 agravamento das eondleoes de troca esti-mula 0 produtora eompensar as perdas, vendendo mais,Como 0 sabemos, na pratiea procurava-se preeisamente 0

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    ., vel Este objective constitui,increme.nto ~o vol~:i~o:~~~iz do calculo eco~6mico e dapor assim dizer, a 1, nseguir recorria-se _ peloorganiza~ao. do dOIn;mo. p~;~~iante _ nao a investim~n-menos dos fms do se~ulo X tes a transferencias na dis-tos, ainda que exterunvo~, m~ a:etrimento do campones,tribui~ao do. P!oduto S O C ~ : ~ ~ :m materia de investimen~osAs deeisoes da no d ndem apenas em multonao depend em, portan~o, ou ; ~ emercado, que provocam,pequeno grau, dos f:nomen~. as Essas decisoes parecemquando mu~to, reaceoes n~ga/va.ilits das flutuaeoes da P~o-estar tambem totalmenu; es ~~ boa colheita). Nada indicadu~ao global (po~ exemp o~Udisposta a investir em periodosque a reserva estivesse .mats, uceder 0 contrario: urn anade boas colh~itas, Podia a~ri: rnenor quantidade de mao-de mas colheitas, que req~ rincipalmente na debulha,-de-obra nos trabalhos agrl(:olas~_~bra utilizaveis em ob:_aBlibertava e:cedentes~:a~draulicas ou de constru~ao.de reparacao de canu 'roblema da elasticidade das dife-Consideremos agora 0p , .'fa despesas do dominio. . r trentes rree! s e . , od - 0 do dominic e ex raor-A parte comerciavel da pr uea d forma muito claradinariamente flutuante. Isto ,aparec: n~a tem de estranho,

    e 'Sistematica nos dados empmcos, be regista, nessa epoea,o rendimento agricola, como se sao 0 consumo interne doenormes oscila~6es dea~o para a:r~ndeza constante, Podedominic e , pelo contr~lob~:olheita os servos se alimen-supor-se que, num anoe vam' no ano seguinte urntavam urn POllCO melhor e senhmeal'dosugerem que is to nao. as os dados co ec . 0 dePOllCO mal'S, m . taneia pratica. So no casse revestia de qualq?er 1:mporte abundante especialmenteuma eolheita parhcuI~~~rante varies ~os sueessivos,quando 0 facto se repe t _ venda pareee aumentaro volume dos pr~utos pos o : a r a Tratar-se-a de esforcosmenos do _9ue_se ;Ia ~e esr me~cado, de formar _:eserv! lsde adaptacdo a sltua~ao d i nte a melhor preco? Nao. cre:o.para as vende: 1 ! 0 ano se~ ssivel colocar quantidad~~ taoo que aconteeia e que era impo dados em que nos apoiamosgrandes no mercado local (os._ tipicamente exportadoraaqui nao prOCedemblde ~:q:~IacOontudo, investig~ao ulte-de cereals). 0 pro ema ,rior. . im ressiio (tentaremos f!1nda-Por outro Ia?o, tem-~ a . Pt neste mesmo capitulo)mentar esta hipotese mars adladn ~e cereais-que represen-de que as receitas a titulo de v_en \ tais d. a reserva n_saotam a . maior parte das receitas 0

    muio mais fun gao da colheita do que dos fenomenos demercado (cota~ao dOB cereais) , Por outras palavras: numa.no de r n a . colheita 0 aumento dos pregos eompensa empoueo a diminui~ao da quantidade comerciilVel de cereal.E possfvel que algumas reservaa, tais como as que per-tenciam. it cidade de Poznan, soubessem (ou pudesselll) apro,veitar as oscila~Oes de pregos da temporada, vendendo o s s eu sprodutos nos meses de ,alta 22. mas geralmente era muttodificil especular sobre as oscilag6es a longo prazo, devidoas dificuldades e aos perigos inerentes an armazenamentodo grao durante VaMOsanos, Apesar de Gostomski admitirque 0born administrador pode, por vezes, guardar a colheitade urn ano propicio a . espera de urn ano maus, as possibili-dades eram.. neste aspecto, muito limitadas (no maximourn ou dois anos) eo ri'Sco era grande u.

    Se estas generaIiza~Oes sao eertas, ainda e mais certoque a reserva tipica - e com mam razao ainda 0 campones- depende nao do nivel dos preecs,. mas antes do niveJ dascolheitas (no que toea as oscil~5es a curto prazo, pois asituagao e diferente no que diz respelto as tendencias alongo prazo, ponto que abordaremos mais adiants), ~ tam-bern evidente que a reserva que exporta a sua produgao atra.ves do porto de Gdansk nao podera aproveitar _ nem sequerdentro dos Jimites em que 0 fazem OS dominios de Poznan- as oseila~5es da temporada, uma vez que 0 cereal terade ser despachado juntamente com todo 0 cereal da regiao,ou seja,quando 0 estado dos rios 0 permite 2f. 0 camponesainda menos podera aproveitar as oscila~es da temporada;pelo contrario, e ele, devido ao caracter sazonal da ofertados seus produtos, 0 principal responsavel pelo fenomenode oscilaCao dos pregos,

    A fraea influencia dos fen6mEmos de mercado, ou seja,dos pre~as - cuja oscilagio, aparentemente llluito forte,e , no entanto, mutto menosacentuada do que a flutu3gaOdas colheitas 25 - cria uma situagao diametralmente opostaa que obsenramos no sistema capitalista. Neste Sistema, 0"Rivem dos pre~os - que depende principalmente da con-juntura e na~ das colheitas - exercs uma influencia pode-rosae ate decisiva sabre as receitas monetarias do campo-nes. A significa.;;ao deste fenomeno e tanto maior, quantaneste sistema a importancia das receitas monetarias (uma

    vez que os Hnpostos e os creditos sao pagos em dinheiro)e ineomparavelmente maior, tanto nara 0 bem--estar docampones, como para as suas possibilidades de produgao e,finaltnente, para a propria sobrevivencia da sua explora!;ao.4849

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    Se os anos de pre~os altos sao propicios para 0 produtorcamp ones numa eeonomia capitalista, 0 facto deve-se aduas causas: 1) a existencla de recursos poteneiais de pro-du~ao cujo aproveitamento S O se torna rentavel gracas it altados precos: 2) a exisrencia de urn sistema de eredito quepossibilita esse aprowitamento. No sistema feudal essasduas eondigoes nao se verificam. 0 factor limitativo aqui ea quantidade' de mao-de-obradisponlvel, que constitui umavariavel independente no que se ref-ere ao movimento dosprecos. De tal modo que,abstraindo de casos particulares(anos de guerra, por exemplo), na o ha aqui rcservas depotencial produtivo que a alta de preeos possa por em acgao,enquanto 0 eredito - devido aos juros ,elevadissimoS'-nao tem caracter produtivo. Para 0 agro feudal- ao con-trario do que aconteee em relaeao ao agro capitalista - osanos de preens baixos sao, pois, precisamente os anos bons.Finalmente, no sistema capitalista. em caso de alta dospregosagrlcolas, aetua tambem mecanisme de transmis-sao: 0 agricultor, ao gastar as suas reeeitas acrescidas,ocasiona 0 incremento das receitas de outros grupos pro-fissionais, a accionamento de eapacidades latentes de outrossectores da producao, etc. No regime feudal eases faetoresniio entram em jogo: nao ha reservas nos outros sectoresda producao, e ainda que elas existissem, 0 aumento daprodueao nao as movirnen.ta~a, devido it poIitica ~onopo-Iista dos gremios. Mas prmclpalmente, e como 0 dissemosja, em easo de alta de pre~os as receitas monet3.rias do cam-pones nao aumentam, mas antes diminuem, arrastadas porurn outro factor mais potente, 0 volume da colheita, que serenercute com redobrada forga sabre a parte comerciavelda produeiio. .Vern a prop6sito recordar que a alta conjuntural dosprecos numa economia capitalista esta ligada funciona.lmentsobretudo a . descida do rendimento medio do trabalho (acti-vagao de omoresas que nao seriam rentavels com u~ myelde preeos baixo, ou seja, empresas de menor rendlmento)e a . descida do salario medio real (se bern que a classe opera-ria, no seu coniunto, ganhe com essa situa~ao, uma vezque a descida do salano real e rnais do que .compensada.pela redueao do desernprego). No regime feudal, a alta deprecos implica tambem uma diminuigao do rendimento dotrabalho (nao importa que isso obede.;a a causae extraeco-n6micas, por exemplo, meteoroI6gicas), mas essa diminui-

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    0. myel dos preeos. Se assim for, a afirmac;ao. aplicar-se-a commuito mais razao a exploraeao camponesa, quanto mais naoseja devido ao facto de os seus contactos com 0 mercadoterem uma Importaneia incomparavelmente menor.A questao merece um exame mais demorado, uma vezque, como sabemos, 0. contacto com 0mercado - ain~a queseja insignificante em maneros absolutes ou relatlvos-pode em certas condieoes converter-se num factor determi-nante, devido a sua importancia marginal. Em caso de alta deprecos (rna colheita) , 0campones vulgar, ou seja, aquele quetern urn contacto limitado com 0 mercado, pode permitir-sereduzir, ainda que numa medida muito restrita, a quantidadede dinheiro que vai buscar ao mercado, uma vez que s6 pre-elsa desse dinheiro para pagar 0tributo e para uma ou outracompra indispensavel. Obtera a soma necessaria para pagar0. tributo sacrificando uma menor quantidade de produtosdo que num ano de boa colheita. Mas como a flutuaeao dascolheitas e mais acentuada do que ados precos, e atendendoao baixo nivel de vida (em eseala absoluta) do camponese, eonsequentemente, ao grande valor marginal de eadaarroba de trigo no caso de a colheita global diminuir, 0saeri-ficio dessa quantidade menor num ana mau pode ser - e egeralmente - mais penoso do que 0 sacrificio de uma quan-tidade maior num ano born. Ese 0 campones, ap6s tel' pagoo tribute, tiver ainda de fazer algumas compras indispensa-veis no mercado (sal, uma foice, etc.), que nao possa adiarpara urn ano de melhor colheita, a sua situac;ao sera piordo que no easo do tributo, Porque 0 tributo e uma quantianominal fixa, enquanto os preeos dos artigos adquiridosna cidadeaumentam em easo de carestia geral (se bern que,como e evidente, nao tao depressa como os dos artigasalimentares) .o eampones tambem nao pode tirar vantagem da alta depreeo dos seus nrodutos num ana de rna colheita, dado queo ponto eulminante dessaalta sobrevem na temporada se-guinte. : m que 0 campones nao pode geralmente esperar poresse momento e tern de vender os produtos da sua colheita,mesmo inferior, no momento em que a baixa da produeao,regional ou nacional, mal eomeea a repercutir-se sobre ospre~os.Os poucos dados empiricos de que dispomos e a analiselogica indicam-nos que a flutuaeao do produto global eramais intensa do que a dos precos, fen6meno natural, dadoque a baixa da produeao afectava muitos produtores Iso-lados, que ofereciam os seus produtos a poucos consumido-

    res. bern organizados. Se isto e certo, podemos partir do rincip~o ~e que aflutua~ao do produto comerci'alizado era a1nd~mais mtensa, Tan;hem neste caso 0mecanisme funcionaria afavor do cons~dor urbane, em detrimento do campon~s.As ~endenClas,.que se fazem sentirna economia Impri-mem, pois, os segulDtes rumos a actividade da reserva:

    esforeo para aumentar a populaeao adscrita a gleba.Podemos ignorar este factor, uma vez que naod~mpenha. qualquer func;ao a Scala macroecon6-~ca: as mlgrac;oes compensam-se tanto ao nivellD~rno (as fugas d,,: ~ervos prejudicam umas pro-priedades .mas .beneflclam outras) como ao interna-clonal, POLSa uuigrac;ao compensa a fuga de cam-poneses para outros paises;lD?remento quantitativo da parte da producso apro-priada pelo senhor, 0 que pode eonseguir-se me-dlantea) al teraedes na distribuic;a.o das terras:b)agravamento, ~as pre.stac;~es pessoais (possi-vel e necessarto devido a transferencia dasterras d O ' S camponeses para 0 dominio) :monocultum de trigo e cent