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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · aprender com as derrotas e vitórias, melhora da auto-estima, ... iniciativa, auto-motivação e auto-superação, socialização, ... integração

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ROBSON LUIZ VIANA BARSZCZ

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:

O ESPORTE COMO DESENVOLVIMENTO CULTURAL

FRANCISCO BELTRÃO – PARANÁ

2010

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ROBSON LUIZ VIANA BARSZCZ

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:

O ESPORTE COMO DESENVOLVIMENTO CULTURAL

Produção Didático Pedagógica apresentado à

Secretaria de Estado da Educação do Paraná,

Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE/2009 como parte dos requisitos para

obtenção do título de conclusão.

Orientadora: Ms. Lucia Terezinha Zanato Tureck

FRANCISCO BELTRÃO

JULHO - 2010

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PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO PDE 2009

PROFESSOR PDE 2009 – ROBSON LUIZ VIANA BARSZCZ

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Deficiência Intelectual: O esporte como desenvolvimento cultural

(...) é a resposta do porquê a história do desenvolvimento cultural da criança permite estabelecer a seguinte tese: O desenvolvimento cultural é a esfera principal onde é possível a compensação da deficiência (VIGOTSKI, 1997, p. 153).

INTRODUÇÃO

Este estudo, denominado Deficiência intelectual: o esporte como

desenvolvimento cultural, tem como finalidade, investigar e indagar as

possibilidades de desenvolvimento cultural em alunos de escolas especiais,

observando e analisando o envolvimento das atividades esportivas com o

crescimento cultural de seus praticantes, adquiridos em experiências esportivas

diversificadas, tendo como base e apoio em sua fundamentação teórico-

metodológica, a psicologia histórico-cultural.

Com esta intervenção temos o objetivo de explicitar a relação da educação

pelo esporte, e como consequência buscar maneiras que possam contribuir

positivamente no desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens

com deficiência intelectual, por meio da prática esportiva e assim atingir a

promoção dos valores que se constituem em competências para toda vida em

sociedade.

Assim, nossa reflexão se volta para a dignidade do ser humano e ao

estímulo que deve a educação por meio do esporte, conceder, para que as

pessoas com deficiência possam assim desenvolver sua hierarquia própria de

valores. Os valores têm seu conceito em si mesmo, é a ação, é a conduta, é o

princípio e acima de tudo o comportamento social, pois são os valores que

estabelecem as diferenças entre as sociedades: os valores éticos, morais e

sociais. Esta hierarquização dos valores significa possibilitar às pessoas com

4

deficiência intelectual, entenderem e escolherem com liberdade seus valores e

somente a educação confere condições de se fazer escolhas de valores com

princípios éticos. Desta forma, acreditamos que o esporte, em sua prática regular

e objetiva, é forma determinantemente positiva no desenvolvimento dos valores,

mas também lhe proporciona benefícios como: prevenção contra deficiências

secundárias, desenvolvimento das capacidades orgânicas e funcionais,

reativando as capacidades psíquicas e físicas e melhorando a autoconfiança.

Atualmente, vivemos em nossas escolas momentos de preocupação e

insegurança quanto ao atendimento do aluno com deficiência intelectual nas

classes do ensino regular. Preocupados, não com as aulas de Educação Física

com suas flexibilizações e adequações feitas pelos professores, pois estas

garantirão nas aulas a igualdade de condições com os demais, mas sim, na

garantia dos direitos a uma prática desportiva adequada as suas necessidades e

principalmente aos direitos e vontades de crescimento em sua prática desportiva.

Desta forma, ao apontarmos algumas das contribuições que estamos

proporcionando aos educandos, por meio da relação que se estabelece com o

esporte, não queremos ressaltar as contribuições interdisciplinares, mas sim nas

contribuições que vêem a pessoa com deficiência, como seres sociais com plenas

condições de se relacionarem nas suas famílias, sua comunidade e sonharem

com uma vida melhor.

Não há dúvidas de que o esporte é um fenômeno sócio-cultural de grande relevância em nossa sociedade; cada vez mais, diferentes grupos sociais praticam esporte, nos parques, nas ruas, como forma de lazer, distração e integração. Tal é sua importância, enquanto fenômeno social e cultural que o esporte hoje é praticado no mundo todo (FLORENTINO, 2006).

Acreditamos que o papel da Educação Física, através da vertente do

esporte, atinge plenamente o desenvolvimento cultural e social dos deficientes,

principalmente quando recebemos alunos que possuem habilidades motoras

desenvolvidas e refinadas, porém seu cognitivo não apresenta a mesma

desenvoltura, então através do esporte acontece a compensação.

Assim, nossa preocupação é de como mudar a visão de que o esporte

pode ser muito mais que um jogo, pois no próprio ambiente escolar esta teoria

5

deveria estar bem esclarecida, pois entendemos que o esporte como agente de

desenvolvimento cultural não é levado tão a sério nas escolas.

A prática do esporte seja ela qual for só tem a somar ao indivíduo, visando

nos dias atuais não somente o conforto físico, a boa forma, mas principalmente a

mudança em seu ser, em sua história de vida, ajudando-o a tornar-se uma pessoa

integra em todos os seus aspectos, descobrindo suas potencialidades

independentes de suas limitações.

Também vemos o esporte como uma forma real de inclusão da pessoa

com deficiência, pois através da prática esportiva conseguimos proporcionar

meios para o aluno demonstrar seu potencial, favorecendo a interação e

socialização.

O esporte é uma das medidas mais eficazes para que a pessoa possa se

encontrar ativa no meio social, oferecendo melhores condições para seu bem

estar, e como conteúdo estruturante da Educação Física, ao manifestar-se na

escola pode contribuir para o desenvolvimento cultural do aluno e, desta forma

promover a inclusão de alunos com deficiência.

Quando falamos em esporte sabemos que muitas são as possibilidades

que ele nos oferece: aceitação das diferenças, valorização do indivíduo,

cooperação e convivência com a diversidade, possibilita também entender e

aprender com as derrotas e vitórias, melhora da auto-estima, capacidade de

iniciativa, auto-motivação e auto-superação, socialização, controle de doenças e

outras, sendo uma alternativa para a inserção de uma inclusão consciente, pois o

esporte oferece toda essa gama de oportunidades, desde que seja trabalhado

com responsabilidade, pois as pessoas são diferentes, independente se possuem

ou não algum tipo de deficiência. Respeitar a individualidade no processo

educacional utilizando o esporte é de fundamental importância para o sucesso da

inclusão.

Observamos que mostrar aos profissionais envolvidos com os alunos, a

importância e relevância do esporte na vida dos mesmos, seja através dos

valores, dos princípios e das formas como o esporte faz a diferença, é de

fundamental importância e certamente mudará esta visão, que em muitos casos

coloca a Educação Física e o Esporte como elemento secundário na formação do

ser humano.

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Entendemos que trabalhando as práticas desportivas com os alunos, no

sentido de buscar o melhor para cada um sem negligenciar o próximo, estamos

mostrando uma forma educacional de lidar com o esporte, passando aos

educandos a sensação de como é gostoso fazer Educação Física e praticar um

esporte.

Nas atividades extracurriculares ou que não são avaliativas, os alunos

participam com mais plenitude, pois é um ambiente diferente da sala de aula, são

atividades descontraídas, de cooperação, de superação, mas também tem regras

e objetivos a serem atingidos. Nessas atividades são passadas o respeito ao

outro e consigo mesmo, respeito às regras, o aceitar seus limites e a derrota.

Quando tem competições fora da escola é visível o crescimento pessoal de cada

um: a responsabilidade de representar sua escola, querer mostrar seu melhor,

interagir com os outros atletas, observar como o outro faz, demonstrar autonomia,

aceitar o resultado, cumprimentar o vencedor, entender os comandos da

arbitragem, auxiliar o professor, ajudar com os materiais e com os seus

pertences, acatar orientações de outros professores e fazer parte de uma equipe

com atletas de outras escolas. Assim entendemos que o jogo, o esporte, utilizado

como ação pedagógica, contribui em qualidade no ensino da Educação Física

para alunos com deficiência, possibilitando aprendizagens significativas e

conscientes, sendo de suma importância a intervenção do professor para a

promoção dessa aprendizagem.

Esporte escolar: praticado pelos jovens de talento no ambiente escolar, com a finalidade de desenvolvimento esportivo de seus praticantes, sem perder de vista a formação dos mesmos para a cidadania. Tem como referência os princípios do Desenvolvimento Esportivo e do Desenvolvimento do Espírito Esportivo (TUBINO; GARRIDO e TUBINO, 2006, p. 41).

Desta forma o desenvolvimento cultural se dá pela participação do aluno

em situações que podem trazer valores referentes ao conhecimento histórico-

social, sendo que, a Educação Física tem este poder, pois oferece o esporte

como uma ponte de ligação ao desenvolvimento cultural, e quando falamos de

esporte, não podemos achar que todos nossos alunos possuem condições para

serem atletas, mas que todos têm o direito ao conhecimento, e isso o Professor

de Educação Física deve oferecer em todas as suas atividades.

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Por ser uma atividade de massa e estar presente direta ou indiretamente

na vida de qualquer pessoa, o esporte torna-se um veículo importante no

desenvolvimento social, psicológico e físico da pessoa com deficiência intelectual,

pois a prática do esporte, independente dos objetivos finais, quer sejam

competições ou diversão devem favorecer uma melhor qualidade de vida aos

seus participantes, que encontram nessas atividades novas possibilidades de

integração e desenvolvimento.

Pois é nas relações sociais construídas, que podemos fazer a diferença na

aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual, e é isso que a Educação

Física tendo em seus conteúdos o esporte pode proporcionar, um

desenvolvimento além da sala de aula, pois esta reintegra o aluno à sociedade,

assim como melhora sua capacidade motora, cognitiva e afetiva.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

- Reconhecer o contexto social e educativo que o esporte possibilita e sua

contribuição no desenvolvimento cultural do aluno com deficiência intelectual na

escola e na sociedade.

Objetivos Específicos

- Oportunizar aos professores, equipe pedagógica e profissionais da área

técnica, o conhecimento das atitudes e valores que o esporte proporciona as

pessoas com deficiência intelectual no seu desenvolvimento cultural a partir de

seu desenvolvimento natural;

- Discutir a educação do aluno com deficiência intelectual e seu

crescimento sócio-cultural a partir de uma perspectiva da prática desportiva;

- Identificar, no aluno com deficiência intelectual, pré-requisitos para

incentivar e valorizar seu desempenho no esporte;

- Subsidiar os professores, equipe pedagógica e profissionais da área

técnica, com instrumentos teóricos e metodológicos para atuarem no ensino

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especial com alunos deficientes intelectuais, entendendo todos os aspectos de

seu desenvolvimento cultural, adquiridos através da prática desportiva.

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

Este material constitui-se em um roteiro de estudos, e tem como objetivo

contribuir aos professores, equipe pedagógica e profissionais da área técnica

com conhecimentos, análises, estudos e reflexões relacionados ao tema do

projeto: Deficiência Intelectual: o esporte como desenvolvimento cultural, no

sentido de que as práticas pedagógicas dos professores, pedagogos e os

atendimentos dos profissionais técnicos, possam fundamentar-se no

reconhecimento da importância educativa que o esporte possibilita, bem como,

sua contribuição para o desenvolvimento cultural do aluno com deficiência

intelectual.

A partir destas significativas contribuições para com esta intervenção,

temos o propósito de explorar a relação da educação pelo esporte dentro da

escola, e como conseqüência buscar maneiras e atitudes que possam contribuir

positivamente no desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens

com deficiência intelectual, através da prática esportiva.

Assim, com o objetivo de aprofundar-se teoricamente e discutir uma prática

direcionada à teoria histórico-cultural, realizaremos um grupo de trabalho na

APAE de Francisco Beltrão – PR, com professores do atendimento pedagógico,

professores da área de artes e música, professores de educação física,

profissionais da área da saúde e outros que atuam diretamente com alunos com

deficiência intelectual, para estudar e refletir sobre a necessidade de uma práxis

educativa que cultive no aluno com deficiência intelectual a plena valia social

através da prática esportiva e contribua para seu processo de desenvolvimento. O

presente projeto será desenvolvido em quatro ações e cinco encontros de quatro

horas semanais, totalizando 20 horas.

Primeira ação: Inicialmente será formado um grupo de profissionais que

atuam com alunos com deficiência intelectual na Escola de Educação Especial

Mundo Colorido - APAE de Francisco Beltrão.

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Segunda ação: Será realizado junto aos professores e técnicos da Escola

de Educação Especial Mundo Colorido – APAE, análise e discussão sobre a

educação do aluno com deficiência intelectual e seu crescimento sócio-cultural a

partir de uma perspectiva da prática desportiva.

Terceira ação: Realização de oficinas com professores da APAE de

Francisco Beltrão, totalizando 20 horas. O trabalho será voltado para a

perspectiva da Teoria Histórico-Cultural Vigotskiana, a fim de que se possa

buscar suporte teórico-metodológico nos estudos e análises dos resultados

obtidos na segunda ação.

Quarta ação: Realização de cinco oficinas, cujos encontros terão duração

de quatro horas semanais para estudos das seguintes temáticas:

Primeiro Encontro: Explanação da biografia de Vigotski pelo professor

oficineiro e discussão teórica sobre a psicologia histórico-cultural, dentro de uma

perspectiva da prática desportiva.

Segundo Encontro:

Identificar e reconhecer, no aluno com deficiência intelectual, pré-requisitos

para valorizar e incentivar seu desempenho no esporte.

Trabalhar com os professores, atitudes e valores que o esporte

proporciona ao aluno com deficiência intelectual no seu desenvolvimento cultural

a partir de seu desenvolvimento natural.

Terceiro Encontro: Subsidiar os professores com instrumentos teóricos e

metodológicos para atuarem de maneira positiva na motivação do aluno com

deficiência intelectual na prática esportiva, bem como todos os aspectos que

proporciona seu desenvolvimento cultural.

Estudar, analisar e debater o relatório do Professor João Carlos Donatel,

sobre as atitudes e desempenho da aluna/atleta da Escola de Educação Especial

Mundo Colorido Anita Sutil de Oliveira (anexo).

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Quarto Encontro: Assistir vídeos de participações de alunos com

deficiência intelectual em competições esportivas, observando e abordando os

aspectos do desenvolvimento cultural, proporcionados pela prática desportiva.

Mesa redonda envolvendo professores, equipe pedagógica e técnica, pais

e funcionários da escola, promovendo e discutindo os benefícios do esporte como

desenvolvimento cultural.

Quinto Encontro: Mostra de atividades esportivas e para-desportivas

desenvolvidas na APAE, envolvendo alunos com e sem deficiência intelectual,

mediados e orientados por profissionais envolvidos no encontro.

ROTEIRO DE ESTUDOS

1. Pressupostos da teoria histórico-cultural

- Conceitos da abordagem histórico-cultural de Vigotski.

Textos de apoio:

- Maria Renata Silva Furtado. As armadilhas da educação inclusiva.

Dissertação de Mestrado. (p. 60-79). PUCMG: Belo Horizonte, 2007.

- A Formação Social da Mente. Lev Semenovich Vygotsky. Implicação

entre aprendizado e desenvolvimento – O papel do brinquedo no desenvolvimento

(p. 89-118). São Paulo: Martins Fontes, 1991.

- O desenvolvimento do psiquismo. Alexis Leontiev. Os princípios do

desenvolvimento psíquico na criança e o problema dos deficientes mentais

(p.337-352). São Paulo: Centauro, 2004.

- O desenvolvimento do psiquismo. Alexis Leontiev. O homem e a cultura

(p. 277-302). São Paulo: Centauro, 2004.

- Teorias de aprendizagem. Almir Sandro Rodrigues. As contribuições de

Lev Vygotsky (cap. 2.1). Curitiba: IESDE, 2005.

- Pessoa com deficiência: aspectos teóricos e práticos – Cap. III - Pessoa

com deficiência: Caracterização e formas de relacionamento (p. 105-134).

11

Organização do Programa Institucional de Ações Relativas às Pessoas com

Necessidades Especiais – PEE – Cascavel: EDUNIOESTE, 2006.

2. Esporte: reflexões, teoria e prática

- Esporte como um meio de promover a educação, saúde, desenvolvimento

e paz.

Textos de apoio:

- Resolução aprovada pela 58ª Assembléia Geral das Nações Unidas –

ONU. UNESCO: Paris, 2003.

- Esporte, educação e inclusão social: reflexões sobre a prática pedagógica

em Educação Física. José Florentino e Ricardo Pedrozo Saldanha. Disponível em

<http://efdeportes.com> acesso em 02/02/2010. Buenos Aires: Revista Digital,

2007.

- Novas motivações, modelos e concepções para a prática desportiva.

Jorge Olímpio Bento. Portugal: CMO, 1991.

- O esporte na vida do deficiente mental. Jorge Tadeu Juncken, Sérgio

Coelho de Oliveira, Simone Tereza Mitidieri Malta – Rio de Janeiro: Rotary RJ,

1987.

3. Vídeos: Esporte / Deficiência Intelectual

- Vídeos de participações de alunos com deficiência intelectual da Escola

de Educação Especial Mundo Colorido – Apae de Francisco Beltrão, em

competições esportivas, abordando os aspectos do desenvolvimento cultural,

proporcionados pela prática desportiva.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTO, Jorge Olímpio. Novas motivações, modelos e concepções para a prática desportiva. Oeiras / Portugal: CMO, 1991.

FORENTINO, José. O humanizar pelo esporte: a necessidade de uma pedagogia do esporte mais complexa. Disponível em <http://www.efdeportes.com> acesso em 08/07/2010. Buenos Aires: Revista Digital, 2007.

FLORENTINO, José e SALDANHA, Ricardo Pedrozo. Esporte, educação e inclusão social: reflexões sobre a prática pedagógica em educação física. Disponível em <http://www.efdeportes.com> acesso em 02/02/2010. Buenos Aires: Revista Digital, 2007.

FURTADO, Maria Renata Silva. As armadilhas da educação inclusiva. Conceitos da abordagem histórico-cultural de Vigotski. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: PUC MG, 2007.

GLAT, Rosana. A integração social dos portadores de deficiências: uma reflexão. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995.

JUNCKEN, Jorge Tadeu; OLIVEIRA, Sérgio Coelho de; MALTA, Simone Tereza Mitidieri. O esporte na vida do deficiente mental. Rio de Janeiro: Rotary RJ, 1987.

LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Centauro, 2004.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento – um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993.

ONU/UNESCO. Esporte como meio de promover a educação, saúde, desenvolvimento e paz. 58ª Assembléia Geral das Nações Unidas. Paris – França: 2003.

PADILHA, Anna Maria Lunardi. Práticas pedagógicas na educação especial: a capacidade de significar o mundo e a inserção cultural do deficiente mental. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional. Diretrizes curriculares da educação especial. Curitiba: SEED/PR, 2008.

13

RODRIGUES, Almir Sandro. Teorias de aprendizagem. As contribuições de Lev Vygotsky. Curitiba: IESDE, 2005.

ROSSETTO, Elizabeth, IACONO, Jane Peruzo e ZANETTI, Patricia da Silva. Pessoa com deficiência: caracterização e formas de relacionamento. In: Programa Institucional de Ações relativas às pessoas com necessidades especiais – PEE (org). Pessoa com deficiência: aspectos teóricos e práticos. Cascavel, PR: Edunioeste, 2006.

TUBINO, Manoel José Gomes. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010.

TUBINO, Manoel José Gomes; GARRIDO, Fernando Antônio Cardoso e TUBINO, Fábio Mazeron. Dicionário enciclopédico Tubino dos esportes. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2006.

TUBINO, Manoel José Gomes. A educação física e o esporte do ocidente no século XX. Rio de Janeiro: Arquivos em Moimento, 2005.

TUBINO, Manoel José Gomes. O que é esporte. São Paulo: Brasiliense, 1999.

TUBINO, Manoel José Gomes. As dimensões sociais do esporte. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1992.

TUBINO, Manoel José Gomes. Teoria geral do esporte. São Paulo: Ibrasa, 1987.

VIGOTSKY, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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Apêndice

Deficiência Intelectual:

O porquê do esporte como desenvolvimento cultural.

O esporte direcionado a deficientes intelectuais surgiu em 1962 nos

Estados Unidos da América, através da Fundação Kennedy com as Olimpíadas

Especiais. Entretanto na Europa, alguma atividade esportiva direcionada aos

mesmos já existia em caráter demonstrativo.

No Brasil, o esporte para deficientes intelectuais deu início em 1973,

quando a Federação Nacional das APAEs realizou a primeira Olimpíada Nacional

das APAEs no Rio de Janeiro – RJ. Em 1985, foram criadas no Brasil, as

Associações Regionais de Desportos de Deficientes Mentais (ARDEM), que

levaram a criação no mesmo ano da Associação Brasileira de Desportos de

Deficientes Mentais (ABDEM).

Em 1986, era criada na Holanda a Federação Internacional de Desportos

para Portadores de Deficiência Mental (INAS-FMH), filiada ao Comitê

Paraolímpico Internacional (IPC).

De 13 a 23 de setembro de 1992, em Madrid na Espanha, aconteceu à

primeira Paraolimpíada oficial para portadores de deficiência mental, os “I Juegos

Paralímpicos para Discapacitados Psíquicos“. Participaram 2000 atletas de 70

países em cinco modalidades: tênis de mesa, basquetebol, futebol de salão,

natação e atletismo.

A Escola de Educação Especial Mundo Colorido – Apae de Francisco

Beltrão, esteve presente com quatro atletas convocados para a Seleção Brasileira

na modalidade de tênis de mesa.

A partir desse evento, foram sucessivas participações internacionais como:

First INAS-FMH Table Tennis Championship (Charleroi-Bélgica, 1995), Juegos

Parapanamericanos (Cidade do México-México, 1999), Sydney Paralympics

Games (Sydney-Austrália, 2000), Second INAS-FMH Table Tennis Championship

(Cidade do México-México, 2003), I Global Games (Bollnäs/Söderhamn-Suécia,

2005), II Global Games (Liberec-República Tcheca, 2009), todas estas

participações tiveram a presença de alunos / atletas da Escola de Educação

15

Especial Mundo Colorido, bem como na participação de inúmeras competições

paradesportivas estaduais e nacionais.

Alunos/atletas da Apae de Francisco Beltrão são reconhecidos pela

comunidade e mídia local, em grande parte pela prática esportiva, provocando

valorização e melhorando sua auto-estima.

Vários atletas conseguiram tratamento diferenciado e foram empregados,

será que o esporte contribuiu para esta situação? Que vantagens o esporte

apresenta a seus praticantes perante sua comunidade? As viagens, o

conhecimento de várias cidades, culturas diferentes e novas amizades

favoreceram seu desenvolvimento cultural? Seria o esporte condição de uma

vida mais digna para o deficiente intelectual? Alunos/atletas com bolsas/auxílio

para a prática esportiva conseguem respeito, valorização na comunidade escolar,

na família e em sua comunidade, pois contribuem no orçamento familiar e passam

a ser modelos para os colegas.

Figura 1- Iliane Faust e Anita Sutil de Oliveira (alunas da APAE de Francisco Beltrão e atletas paraolímpicas

do Brasil na modalidade de Tênis de Mesa C-11) no II Global Games em Liberec – República Tcheca – 2009.

16

Diante destas inquietações em conhecer e compreender as reações e

relações que o esporte provoca em seus praticantes, estudando e

demonstrando os benefícios da prática do esporte, faz-se imprescindível a

reflexão e pesquisa deste tema tão relevante para inclusão e valorização do

deficiente intelectual, seja esta na escola, em sua família ou sua comunidade.

O Esporte como desenvolvimento cultural.

Da teoria em busca da prática.

Ao buscar nas literaturas esportivas, embasamento específico para meus

estudos e pesquisa, não poderia deixar sem vistas, as obras do Professor Tubino,

ainda que lembrando de sua morte no Rio de Janeiro aos 18 de dezembro de

2008, que com certeza muito entristeceu a toda comunidade da Educação Física

Brasileira e também no mundo inteiro.

Em seu livro, Estudos Brasileiros sobre o esporte – ênfase no esporte-

educação, Manoel José Gomes Tubino, o professor Tubino como era chamado

por todos, um grande intelectual na área da Educação Física no Brasil e no

mundo, nos apresenta o esporte como um dos mais importantes fenômenos

socioculturais, que tem merecido da intelectualidade e da mídia internacional uma

atenção especial, pois tem permitido aprofundamentos políticos, sociais, culturais,

educacionais, científicos e antropológicos. Para o Professor Tubino, isso faz com

que o esporte cada vez mais se torne uma das prioridades das diversas

sociedades do mundo atual. Em seu livro, relata que René Maheu, ex-secretario

da UNESCO, publicou em 1970 o texto clássico “Esporte e Educação”, no qual

ficou defendido principalmente que:

Esporte e Educação

1. As virtudes do Esporte não precisam ser demonstradas;

2. O Esporte é um fator de equilíbrio no desenvolvimento geral da pessoa;

3. O Esporte, lamentavelmente, se desenvolve fora da escola e não há

empenho dos sistemas educativos em integrar o esporte nas suas estruturas e

atividades educacionais;

17

4. Deve ser imposta uma reação no sentido de abertura recíproca e de

interpenetração dos sistemas educativo e esportivo;

5. A crise da Educação favorece as circunstâncias para a inserção do

Esporte nos seus conteúdos;

6. O conceito de Educação numa orientação intelectualista e utilitária

constitui-se num obstáculo à introdução do Esporte no meio educativo;

7. A refundição da Educação, a Educação Física e o Esporte constituem-se

em elementos para o equilíbrio e a plenitude das pessoas e oferecem à nova

pedagogia muitas possibilidades de animação ativa;

8. A sociedade será renovada se Esporte e Educação trabalharem em

conjunto, enriquecendo-se mutuamente.

No Dicionário enciclopédico Tubino do esporte, de Tubino, Garrido e

Tubino, publicado pelo SENAC em 2006 a definição para Esporte é:

Fenômeno sócio-cultural, cuja prática é considerada direito de todos, e que

tem no jogo seu vínculo cultural e na competição o seu elemento essencial, o qual

deve contribuir para a formação e aproximação dos seres humanos ao reforçar o

desenvolvimento de valores como a moral, a ética, a solidariedade, a fraternidade

e a cooperação, o que pode torná-lo um dos meios mais eficazes para a

comunidade humana (p. 37).

Grande defensor do esporte como fator educacional, e defensor de idéias

de que através de uma boa educação esportiva, ainda formaremos bons atletas,

mas com certeza formaremos grandes cidadãos, o Professor Tubino nos deixa

em suas publicações, vários subsídios para concebermos o valor do esporte na

educação, a seguir cito alguns relacionados ao tema:

Manifesto Mundial FIEP 2000 de Educação Física:

Art. 10 – A Educação para o Esporte, pelo potencial humanístico e social

que o fenômeno sócio cultural esportivo representa, deve ser estimulada e

18

promovida em todos os processos de Educação Física (Fédération Internationale

d’Education Physique).

Carta Brasileira de Esporte na Escola:

2- Que, na definição do Esporte na Escola, seja levado em consideração

não um grupo de modalidades esportivas, mas o fato de toda atividade escolar

implicar compromisso inicial com a educação, fundamentada em princípios

pedagógicos;

3- Que o Esporte na Escola seja concebido não como um mero veículo de

transmissão de conteúdos, mas como uma constante ação de criar e (re)criar a

cultura, a partir da qual são constituídos valores e propostas de sociabilidade;

4- Que o Esporte na Escola, enquanto ação criadora e (re) criadora da

cultura, na qual a criança, o jovem e o estudante desenvolvam suas capacidades

críticas, represente mais um espaço de decisões, de organização, planejamento,

estabelecimento de regras e definição de competências;

7- Que o esporte na Escola desvincule-se, definitivamente, das

competições que, superestimando o confronto entre estudantes e subvertendo o

espírito de solidariedade, buscam exclusivamente o rendimento.

Brasília – DF, julho de 1989

I Conferência de Esporte na Escola

XVIII Jogos Escolares Brasileiros

Carta Internacional de Esporte Escolar

1- O Esporte é um meio maravilhoso de Educação;

2- O Esporte oferece possibilidades excepcionais de encontros, de

comunicação, de intercâmbios, de integração comunitária;

3- O Esporte permite viver momentos maravilhosos, de provocar alegrias

intensas na competição e na vitória;

19

4- Os insucessos esportivos são também positivos. Eles levam à modéstia,

ao reconhecimento da superioridade do vencedor, à entrega em causa pessoal, à

análise das razões de sua derrota, para extrair os elementos de progressão;

5- A prática esportiva é um meio destacado de prevenção contra várias

doenças físicas, mas também mentais. Ela é um fator importante de equilíbrio e

de saúde moral e física.

Figura 2 – Equipe de Tênis de Mesa da APAE da Escola de Educação Especial Mundo Colorido – APAE de Francisco Beltrão – Paraná (Profª Fabíola, Marcos, Juliano, Profº Robson, Fernanda, Márcio, Roseli, Dione, Anita, Rosângela e Iliane).

Carta dos Direitos da Criança no Esporte

1- O direito de praticar Esporte;

2- O direito de se divertir e jogar;

3- O direito de usufruir de um ambiente saudável;

4- O direito de ser tratada com dignidade;

5- O direito de ser rodeada e treinada por pessoas competentes;

6- O direito de seguir treinamentos apropriados aos ritmos individuais;

20

7- O direito de competir com jovens que possuem as mesmas

possibilidades de sucesso;

8- O direito de participar de competições apropriadas;

9- O direito de praticar Esporte com absoluta segurança;

10- O direito de não ser campeão.

(Aprovada no 10º Congresso Internacional do Panathlon, Avignone, 1995).

Para o Professor Manoel Tubino (2005) em Educação Física e o Esporte

do Ocidente, não há menor dúvida de que as atividades físicas e principalmente

esportivas constituem-se num dos melhores meios de convivência humana.

Este conteúdo, que defende o esporte como parte integrante da Educação,

leva os profissionais da Educação Física, a repensar o esporte como meio e fator

de educação a qual certamente deveria ser mais valorizada e mais aproveitada

nos ambientes escolares.

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Anexo

COLÉGIO ESTADUAL SÃO MIGUEL

ANITA SUTIL DE OLIVEIRA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Relatório sobre a participação da Aluna Anita Sutil de

Oliveira nas aulas de Educação Física do Professor João

Carlos Rossi Donadel, no Colégio Estadual São Miguel,

com as 5ª séries do Ensino Fundamental- Séries Finais.

FRANCISCO BELTRÃO - PR 2009

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Relatório sobre a participação da Aluna Anita Sutil de Oliveira nas aulas de Educação Física do

Professor João Carlos Rossi Donadel com as 5ª Séries do Ensino Fundamental

Series Finais.

Hoje se discute muito "inclusão" nas escolas. Ao mesmo tempo em que sabemos

que a "Inclusão" se dá no momento em que recebemos alunos portadores de necessidades

especiais e damos a eles todas as condições de integração e de aprendizagem, ficamos com

certo receio de que este mesmo aluno corre o risco da exclusão, motivos de risos e outros

momentos de constrangimento.

Quando a aluna Anita Sutil de Oliveira, da Escola de Educação Especial Mundo

Colorido - APAE de Francisco Beltrão chegou ao Colégio Estadual São Miguel, para nos

auxiliar na disciplina de Educação Física, passando toda a experiência que ela têm na

modalidade de Tênis de Mesa, inclusive com diversas participações em competições

nacionais e internacionais, sentimos certo medo, medo em relação ao que nosso aluno iria

pensar? Como poderia ser a aceitação entre outras perguntas passaram por nossa mente.

Mas a aluna Anita mostrou para nós professores e para os alunos sua capacidade de

ensinar, interagir e com a maior simplicidade vem passando aos alunos das 5ª séries do

Ensino Fundamental - Séries Finais - as regras e como jogar o Tênis de Mesa, e o melhor

ela está nos ensinando como acontece a verdadeira inclusão.

Sua participação tem ainda outro fator importante que é o fato dela nos ajudar a

difundir uma modalidade ainda não muito popular em nosso meio. Outro destaque que

devemos fazer é com relação a sua iniciativa em nos procurar para se colocar a disposição

para colaborar nas aulas; conseguimos também que os alunos tivessem outra visão daquela

jovem que mora a tantos anos no bairro e muitos não sabiam quem era ela, e muito menos

suas habilidades com o Tênis de Mesa, nem de suas conquistas e viagens nacionais e

internacionais.

Ela tem vindo principalmente nas sextas-feiras e iniciou sua participação no dia 05

de Junho deste ano e a partir do dia 19 de Junho, ela tem sido acompanhada pelo aluno

Juliano Fiorentin Miranda, que estuda na mesma escola e também é praticante do Tênis de

Mesa.

No primeiro dia em que ela esteve no Colégio antes dos alunos terem um contato

formal com ela, expliquei-lhes quem estaria auxiliando nas aulas de Tênis de Mesa, onde

morava, qual seu desempenho nas competições e as competições que tinha participado.

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O fato de ela ter destaque na modalidade e ser portadora de necessidade especial

tinha lhe proporcionado conhecer diversas cidades e estados brasileiros bem como lhe

permitido realizar viagens ao exterior para representar nosso país em competições

internacionais entre elas as Paraolimpíadas.

Uma pergunta que tenho me feito constantemente e aos colegas professores,

diretores, pedagogas e funcionários que tem parado para assistir ela conversando,

explicando, corrigindo, enfim, ensinando, se ela fosse aluna de uma escola como a nossa

ela teria conseguido ter o mesmo desempenho que tem hoje? Particularmente acredito que

ela ao ter a oportunidade de estudar numa escola preparada para acolhê-la e saber como

agir para que dentro de sua necessidade ela pudesse ter o melhor desenvolvimento possível

é que fez este diferencial em sua vida.

Dentre as atividades que tenho desempenhado como professor de Educação Física

na minha longa carreira no Magistério acredito ter sido esta uma das melhores

oportunidades que tive de aprender e admirar ainda mais a aluna Anita que com sua força

de vontade pode superar obstáculos e hoje divide conosco e nos ajuda a despertar o

interesse no Tênis de Mesa em nossos alunos.

Anita, muito obrigado pela sua iniciativa e parabéns por ter conseguido transformar

o que alguns consideram "problema" numa grande oportunidade para sua vida.